UMA ABORDAGEM SOBRE RISCO AMBIENTAL: PRINCIPAIS TRECHOS DE
RODOVIAS FEDERAIS BRASILEIRAS EM NÚMERO DE ACIDENTES COM
PRODUTOS PERIGOSOS
Emmanuel Aldano de F. Monteiro
José Soares Pires
Marcos Aurélio Antunes
Rosana Barbosa
Fabiana Serra de Arruda Universidade de Brasília
Faculdade de Tecnologia e
Departamento de Engenharia Civil e Ambiental
Programa de Pós Graduação em Transportes
RESUMO
O processo logístico de manuseio e de transporte de produtos perigosos constitui atividade risco na medida em
que a ocorrência de acidentes podem causar impactos ao meio ambiente. Com objetivo de mapear os principais
trechos de acidentes envolvendo transporte de produtos perigosos nas rodovias federais do Brasil, procurou-se
analisar a base de dados coletada na Polícia Rodoviária Federal no período entre de janeiro de 2009 a dezembro
de 2012. O risco envolvendo acidentes com substâncias perigosas é influenciado por diversos fatores, incluindo
o transporte. A probabilidade de ocorrer acidente com produto perigoso nas rodovias é muito baixa, mas quando
da ocorrência, os impactos são catastróficos. Os trechos das rodovias BR 316 em Belém-PA, e da BR 101 na
região metropolitana de Recife-PE apresentaram elevado grau de risco, sobretudo para impactos à saúde
humana. O trecho da BR 319 em Rondônia e a BR 376 no Paraná apresentaram elevado risco ambiental.
ABSTRACT
The logistical process of handling and transportation of dangerous goods is a risk activity in that the occurrence
of accidents can cause environmental impacts. Aiming to map the main parts of accidents involving the transport
of dangerous goods on federal highways in Brazil, it was tried to analyze the collected data base of the Federal
Highway Police for the period January 2009 to December 2012. The risk is configured the way the dangerous
substance is related to other factors, including transportation. The probability of an accident involving dangerous
goods on the roads is very low, but when the occurrence, the impacts are catastrophic. The stretch of highway
BR-316 in Belém-PA and BR 101 in the metropolitan region of Recife-PE showed a high degree of risk,
especially for health impacts. Excerpts from BR 319 in Rondônia and BR 376 in Paraná showed a high
environmental risk.
1. INTRODUÇÃO
No Brasil, grande parte do transporte de cargas é feito pelo modo rodoviário, inclusive o
transporte de produtos perigosos. O transporte de produto perigoso constitui uma atividade de
elevado grau de risco, podendo ocorrer diversos incidentes ou mesmo acidentes que venham
afetar o meio ambiente ou a saúde das pessoas. Eventuais ocorrências indesejadas podem
acontecer durante o carregamento, armazenagem e, principalmente, no transporte desses
produtos. Segundo o Departamento de Transportes dos Estados Unidos (DOT EUA),
materiais perigosos são definidos como qualquer substância ou material capaz de causar
danos à saúde humana, bens e ao meio ambiente. A dependência de substâncias perigosas é
um fato da vida nas sociedades industrializadas, sendo que milhares de produtos perigosos
ainda estão em uso atualmente (Erkut et al., 2007).
Vivenciam-se nas últimas décadas preocupações com a preservação do meio ambiente,
sobretudo nas localidades de preservação permanente. A grande atenção que vem sendo dada
aos impactos em decorrência do extravasamento de produtos perigosos nos ecossistemas nos
últimos anos está relacionada com a industrialização global, bem como com a crescente
utilização dos derivados do petróleo, este que constitui a principal fonte energética global
desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Por outro lado, o acelerado crescimento dos países
em desenvolvimento, caso do Brasil, fez com que o fluxo de cargas transportadas em suas
rodovias crescesse de forma abrupta.
Aliada à situação precária das rodovias no país, ocorre uma potencialização dos acidentes nas
rodovias brasileiras, inclusive com veículos transportadores de produtos perigosos, atividade
esta essencial para a indústria nacional, sobretudo para os setores de energia, petroquímica,
farmacológica, plástica dentre outras. Essa realidade vem trazendo enormes prejuízos, não
somente ao meio ambiente exposto aos eventuais acidentes com esse tipo de carga, mas
também à saúde humana, por meio de um processo cumulativo de exposição aos agentes
químicos.
O presente artigo tem como objetivo mapear os principais trechos de acidentes envolvendo
veículos transportadores de produtos perigosos no Brasil e seus possíveis riscos ambientais
por classificação de carga. Através de análise investigativa dos acidentes no período de
janeiro de 2009 a dezembro de 2012, bem como traçar uma abordagem geral acerca dos
acidentes com esse tipo de carga nas rodovias federais brasileira.
2. FUNDAMENTOS TEÓRICOS
Os acidentes no modo rodoviário envolvendo veículos que transportam produtos perigosos
adquirem uma importância especial. Por um lado esses eventos possuem uma intensidade de
risco associada à periculosidade e quantidade do material transportado, com potencialidade
para causar múltiplos danos ao meio ambiente e a saúde dos seres humanos expostos às
eventuais ocorrências. Por outro lado, de acordo com o Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT, 2005), o contínuo desenvolvimento de novas
substâncias no mercado torna cada vez mais frequente os acidentes com produtos
classificados como perigosos, principalmente nas operações de transportes. Conforme Lei no
6938/81, que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, em seu artigo 3 traz o
conceito de dano ambiental tal como
“degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente
prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população, criem condições adversas às
atividades sociais e econômicas, afetem desfavoravelmente a biota, afetem as condições
estéticas ou sanitárias do meio ambiente, lancem matérias ou energia em desacordo com os
padrões ambientais estabelecidos.”
Admite-se que a atividade de maior vulnerabilidade de ocorrência de eventos indesejáveis na
cadeia produtiva, que envolva produtos perigosos como insumo, é justamente a de transporte.
Esta atividade está sujeita a uma infinidade de fatores externos que podem acontecer em todo
o trajeto, desde o ponto de partida até seu destino. Corroborando com o exposto acima, DNIT
(2005) afirma que a principal atividade responsável pelos atendimentos relacionados a
acidentes envolvendo produtos perigosos é justamente a de transporte rodoviário de cargas.
A Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT, 2012) considera produto perigoso todo
aquele que representa risco à saúde das pessoas, ao meio ambiente ou à segurança pública,
seja ele encontrado na natureza ou produzido por qualquer processo. Já o risco é configurado
à maneira como a substância perigosa se relaciona com outro fator que pode ser: a exposição,
transporte, contato, etc.
De acordo com o DNIT (2005) a probabilidade de ocorrência de um evento acidental
envolvendo veículos transportadores de produto perigoso é muito baixa, mas quando da
ocorrência, os impactos geralmente são catastróficos, provocando impactos sociais,
ambientais e econômicos. No entanto, a infraestrutura das nossas rodovias e a precariedade da
frota de veículos transportadores de cargas e diversos outros problemas, favorecem
significativamente para o aumento do número de acidentes, constituindo-se em um sério
problema para a saúde pública.
A infraestrutura da malha rodoviária brasileira deve ser considerada de forma especial, pois a
matriz de transporte de produtos perigosos assim como a de transporte em geral está
concentrada substancialmente no modo rodoviário. De acordo com o Plano Nacional de
Logística e Transportes (PNLT, 2007), o modo rodoviário de cargas corresponde a 58% do
transporte de cargas. Não considerado o minério de ferro, esse valor chega a 68% para o
modo rodoviário.
Conforme o DNIT (2005), nas estradas brasileiras coabitam trechos em excelente estado com
trechos totalmente destruídos, tornando as viagens inseguras para os usuários e promovendo
riscos de acidentes. Apesar de haver utilização distinta das rodovias em decorrência das
condições viárias, o transporte de produtos perigosos se dá primordialmente por rodovias
federais, pois estas funcionam como corredores que integram os principais polos industriais
do país. Como o transporte de produtos perigosos é de difícil mensuração por parâmetros de
toneladas transportadas devido a grande variedade dos tipos de produtos em geral
transportados na malha rodoviária brasileira, uma forma de avaliar a participação por tipo de
carga transportada é uma análise da receita por segmento (Figura 1).
Figura 1: Percentual da receita operacional líquida das atividades de transporte em 2005.
Fonte: Adaptado de Lopes (2008)
Lopes (2008) afirma que transporte de cargas envolvendo produtos perigosos, como
explosivos e fertilizantes (denominados Outros Produtos Perigosos), é responsável por 5,5%
do volume transportado por empresas com vinte ou mais empregados. Se somados com 5,1%
de transportes de combustível e GLP (aqui considerado como produto perigoso), tem-se a
terceira principal atividade econômica transportada para o ano de 2005, se analisarmos a
receita operacional líquida das operações (ROL), conforme Figura 1.
3. METODOLOGIA
Para analisar os acidentes envolvendo produtos perigosos nas rodovias federais, foi utilizada
base de dados da Polícia Rodoviária Federal (PRF) contendo a quantidade e as características
de acidentes envolvendo produtos perigosos nas rodovias federais brasileiras no período entre
janeiro de 2009 a dezembro de 2012.
Os impactos ambientais causados pelos acidentes com produtos perigosos foram avaliados em
trechos de rodovias. Para tanto, os dados foram tratados com intuito de identificar e selecionar
os trechos com extensão de 10 km com maior número de acidentes, a fim de retratar a
probabilidade de ocorrência por meio de distribuição de probabilidade de Poisson, uma vez
que esse tipo de evento é considerado aleatório, explicado no item 4 deste artigo.
A partir da definição desses trechos, iniciou-se o processo de cruzamento de dados a fim de
investigar as características das ocorrências de acidentes em geral. Logo, foi realizada uma
abordagem sobre as causas destes acidentes, relacionando-os com a condição externa de fase
do dia.
Em seguida, foi realizada uma análise temporal e de frequência dos acidentes, separando os
dados de acordo com a Unidade Federativa, resultando em uma variação anual (2009 a 2012).
Os produtos perigosos envolvidos nos acidentes foram agrupados por classe de risco adotada
pela Organização das Nações Unidas (ONU), sob consulta à tabela de impactos da Associação
Brasileira da Indústria Química (ABIQUIM), por meio de uma abordagem sobre o perigo
envolvendo os acidentes por Unidades da Federação e os trechos que apresentaram maior
probabilidade de ocorrência, trazendo os possíveis riscos de impactos ambientais e a saúde
humana, dado o tipo de ambiente ser predominantemente florestal.
4. ANALISE DOS DADOS
4.1. Estatísticas gerais por trecho e unidade da federação
Considerando que os acidentes de trânsito são como variáveis aleatórias, mesmo admitindo
que esses eventos resultem de aspectos comportamentais humanos, caso os acidentes
pudessem ser antecipados provavelmente não ocorreriam. Assim, ao observar tal fenômeno,
espera-se um número aproximado. Por esse motivo, a modelagem de previsão deve respeitar a
lei de Poisson (Equação 1), disposição binomial para números muito grandes de tentativas,
eventos raros e independentes para ocorrência ou não em um determinado evento. Logo, para
os acidentes de trânsito os eventos são estatisticamente independentes (BASTOS apud
ELVIK et al., 2011).
(1)
em que:
x - valor que se quer calcular;
λ - média esperada;
e - base logaritmo natural (e = 2.71828...);
P - probabilidade que se quer calcular.
Assim, procurou-se levantar a probabilidade (P) de ocorrência de acidente envolvendo
produtos perigosos em um mês qualquer, no trecho de 10km determinado, utilizando a
distribuição de Poisson, sendo x igual a no mínimo 1 e λ igual a média histórica do referido
trecho (janeiro de 2009 a dezembro de 2012).
Nota-se, por meio da Figura 2, que o trecho com maior probabilidade de ocorrência de pelo
menos 1 acidente com produto perigoso em um mês qualquer é a Rodovia BR 316 no Estado
do Pará, do km 0 ao 9, com probabilidade de 28%. A Rodovia BR 376 no Estado do Paraná,
do km 670 ao 679 apresentou 19% de probabilidade de ocorrência, seguido da Rodovia BR
101, em Pernambuco, do km 80 ao 89, com a mesma probabilidade de 19%. De todos os
trechos com 10 km que tiveram acidentes nos 48 meses avaliados, 1.121 apresentaram
probabilidade menor de 10% de ocorrência de pelo menos 1 acidente. Os acidentes de
trânsito, em especial os com produtos perigosos, resultam de um somatório de fatores e causas
dos mais variados, podendo acontecer em qualquer parte do trajeto.
Figura 2: Trechos com maiores probabilidades de ocorrência de pelo menos 1 acidente em um mês qualquer
com transporte de produtos perigosos nas rodovias federais.
Fonte: Dados da PRF (2013)
De acordo com Almeida (2010), os eventos indesejados durante o transportes de produtos
perigosos estão relacionados ao condutor, à via, ao meio ambiente, ao veículo, à ação de
terceiros, à ação ou omissão do poder público e demais elementos, não obstante os acidentes
serem precedidos de uma combinação de mais de uma causa contribuinte. Dessa forma, ao
analisar a base de dados fornecida pela PRF para os anos de 2009 a 2012, tem-se a relação
entre a causa principal apontada pelo agente de polícia com a fase do dia, conforme Figura 3.
Figura 3: Maiores causas apontadas por fase do dia.
Fonte: Dados da PRF (2013)
Ao analisar as informações expostas na Figura 3, destaca-se o fato de a causa “Animais na
Pista” ser fortemente representada no período “Plena Noite”. Pode-se então deduzir que a
falta de iluminação natural e a possível falta de sinalização alertando para animais na pista,
contribuem significativamente para tal relação. Devem ser considerados, além disso, aspectos
comportamentais de espécies com hábitos noturnos, que podem ser atraídas pela luz dos faróis
ou mesmo pela retenção de calor da pista. Para as demais causas apresentadas, a distribuição
para fase do dia é relativamente similar entre elas.
Ao partir dos dados por Unidade da Federação (Figura 4), verifica-se que o Estado de Minas
Gerais corresponde ao maior número de acidentes com produtos perigosos no período
avaliado. Esse número pode estar correlacionado com sua extensa malha rodoviária federal
quando comparado aos demais estados, conforme Gráfico 4, admitindo-se que o transporte de
produtos perigosos é substancialmente operado por malhas pavimentadas dado a
especificidade e risco da atividade.
UF 2009 2010 2011 2012 Variação Ano Total Geral
AC 1 1
DF 1 1
RR 2 2
AP 2 1 3
AM 2 2 1 5
AL 1 2 2 3 8
PI 5 6 3 2 16
RN 5 8 3 2 18
SE 10 8 4 1 23
TO 5 4 11 4 24
PB 10 6 3 6 25
SC 17 11 4 8 40
PE 16 12 10 2 40
CE 12 14 11 6 43
ES 9 20 17 3 49
RO 20 19 8 3 50
MA 19 16 10 12 57
RJ 15 23 12 8 58
PA 15 21 10 16 62
GO 17 22 15 11 65
RS 23 37 22 12 94
MS 29 37 33 18 117
BA 58 41 26 19 144
MT 42 44 33 30 149
SP 44 40 43 27 154
PR 26 76 50 28 180
MG 102 82 80 46 310
Total Geral 504 552 414 268 1738 Figura 4: Volume e variação de acidentes por unidade federativa e ano.
Fonte: Dados da PRF (2013)
O Estado do Rio Grande do Sul, apesar de apresentar a segunda malha federal rodoviária
pavimentada, exibe apenas o sétimo índice geral de acidentes com produto perigoso. Já o
Estado do Paraná, embora sendo a oitava malha federal em termos de extensão, detém o
segundo posto no ranking de acidentes com produto perigoso transportados nas rodovias
federais, conforme pode ser analisado nas Figuras 4 5. Uma das razões para determinado
antagonismo pode ser a diferença de fluxo de transporte de produto perigoso nos dois estados,
ou a geografia e o relevo nas vias, questões estas que podem ser avaliadas em trabalhos
posteriores.
Figura 5: Malha rodoviária federal pavimentada.
Fonte: DNIT, 2013.
4.2. Análise de prováveis impactos ambientais e humanos dos acidentes
De acordo com o DNIT (2005), os principais impactos ambientais em consequência de
acidentes com produtos perigosos nas áreas de influência de rodovias são:
contaminação de água de rios, afluentes, lençóis subterrâneos, lagos e mar;
contaminação do ar atmosférico;
contaminação dos solos;
prejuízos a saúde humana;
destruição patrimonial publica e privada;
prejuízos às atividades econômicas direta e indiretamente envolvidas.
Ao ocorrer um acidente com veículo transportador de produto perigoso, havendo
extravasamento do conteúdo transportado, os impactos sociais e ao meio ambiente podem ser
imprevisíveis. Entretanto, podem-se agrupar os tipos de produtos perigosos em classes que
representam determinado risco.
A ANTT (2012) apresenta as propriedades dos produtos perigosos relacionado-as com seus
respectivos graus de risco, que são alocados pelas classes apresentadas na Figura 6 e Tabela 1,
para fins de transporte. Essas classes possuem padrão numérico internacional, também
conhecido como Rótulo de Risco, definido pela ONU, que representam as classes por meio de
valores numéricos (1 a 9). Esses números, relativos às classes, representam os diversificados
riscos à segurança, à saúde humana e ao meio ambiente, principalmente pela vulnerabilidade e
sensibilidade das áreas onde ocorrem os acidentes.
Depois de agrupados os produtos perigosos que foram analisados pela base de dados
fornecida pela PRF para este estudo, utilizando o manual da ABIQUIM (2011), foram
analisados os dados estatísticos por classe de risco e Unidade da Federação, bem como os
principais trechos com número de acidentes para uma possível análise de impacto ambiental e
social.
A partir dos dados expostos na Figura 6, percebe-se que existe certo padrão quanto às
proporções por Unidades da Federação acerca das Classes 2 e 3, quando observado o período
da pesquisa. Não obstante, o Estado de Minas Gerais apresentou um descolamento
significativo para Classe 4, o que indica a necessidade de um sistema de gestão de prevenção
e atendimento a sinistros que envolvam os riscos associados a tal classe, de modo a prevenir
os severos impactos ao meio ambiente e a saúde humana.
Figura 6: Classificação classe de risco ONU falta a fonte
Fonte: Dados da PRF (2013)
De acordo com o DNIT (2005) são três os grupos especializados para atendimento e resposta
de emergência de acidentes envolvendo produto perigoso, são eles:
SAMU – são equipes de socorro com equipamentos móveis para
atendimento pré-hospitalar, formadas por profissionais da saúde e institucionalizadas por
meio do SUS;
Equipe de Combate aos Produtos Perigosos (Hasmat) – consiste em
equipe profissionais especializadas na mitigação e combate ao derramamento de produtos
perigosos, não são institucionalizadas;
Equipe de Resgate e Combate a Incêndios – Composta por dois órgãos a
nível estadual, a Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros Estadual, especializadas em
atendimento e resgate de sinistros naturais e tecnológicos, e combate a incêndios.
Estes entes devem estar preparados para todos os tipos de acidentes com produto perigoso,
mas, sobretudo àquelas classes que apresentam historicamente maior frequência de
ocorrências, no intuito de prevenir possíveis impactos (Quadro 2).
Tabela 1: Quadro de impactos ambientais e à saúde por classe.
CLASSES DESCRIÇÃO
Classe 1 Explosivos
Classe 2 Gases
Classe 3 Líquidos inflamáveis
Classe 4
Sólidos inflamáveis,
substâncias sujeitas a
combustão espontânea e
em contato com água,
emitem gases inflamáveis.
Classe 5Substâncias oxidantes e
peróxidos orgânico.
Classe 6Substâncias tóxicas e
substâncias infectantes.
Classe 8 Corrosivos
Classe 9Substancias Perigosas
Diversas
A alta pressão gerada a partir de da explosão, pode
provocar danos destrutivos às edificações e às pessoas,
inclusive a morte.
Possibilidade de ocorrência de incêndios ou explosões, lançamento a
longas distâncias de partes.
Expostos a sob certas condições, podem representar
riscos de morte ao homem. Todos os gases, exceto o
oxigênio, são asfixiantes.
Perigo de fogo inclusive para os vapores inflamáveis. Materiais
comuns como ceras, tintas, combustíveis, produtos de limpeza,
solventes são exemplos de líquidos inflamáveis.
MEIO AMBIENTE SER HUMANO
-
RISCO IMPACTO
São substancias instáveis, e podem reagir com uma grande variedade
de produtos e gerar incêndios. Liberam oxigênio aumentando a
propriedade do incêndio. Em contato com água liberam gases
corrosivos e tóxicos ao ambiente. O escoamento do produto para a
rede de esgotos pode criar risco de fogo ou explosão.
Altamente oxidante, sendo a maioria irritante aos olhos,
pele, mucosas e garganta. Se ocasionar fogo produz gases
irritantes, corrosivos e/ou tóxicos.
O fogo pode produzir gases irritantes ou tóxicos, o contato
com o material pode provocar queimaduras na pelo e
olhos.
São produtos que podem incendiar em contato com o ar ou água e
causar incêndios, sendo alguns desses gases com queimam rápida
ocasionando o fogo brilhante são altamente destrutivos ao meio.
As águas de diluição residuais ou do controle do fogo podem
causar poluição inclusive em redes de esgotos.
A inalação de vapores de líquidos inflamáveis pode
afetar adversamente a saúde de várias maneiras,
irritação respiratórias , aos olhos, dores de cabeça e
náusea, desorientação, falta de coordenação e
inconsciência. Alguns líquidos inflamáveis são
corrosivos, ou seja, que causam danos ao tecido
cutâneo se entrarem em contato com ele. Se ingeridos
mesmo que diluídos causam pneumonite química.
São substâncias que, por ação química, causam severos
danos quando em contato com tecidos vivos, provocando
visíveis necroses da pele.
Apresentam elevada toxicidade para a vida aquática. Os gases
inflamáveis/tóxicos podem acumular-se em áreas confinadas (porões,
bueiros, etc.).
Pode danificar ou destruir tudo que estiver em contato com a
substância extravasada, incluindo o ambienta natural exposto.
Pode provocar a morte ou sérios danos à saúde humana
inclusive queimaduras, se ingeridas, inaladas ou por
contato com a pele, mesmo em pequenas quantidades.
Devido ao calor, os gases liberados, tais como nitrogênio, oxigênio,
expandem-se a altíssimas velocidades, provocando o deslocamento
do ar e gerando alta pressão, com possibilidade de destruição total da
região próxima ao acidente.
Fonte: Adaptado Abiquim (2011)
4.2.1. Análise de impacto social
Ao analisar de forma mais detalhada os trechos que apresentaram maior frequência de
acidentes por tipo de produto e classe, pode-se concluir que os órgãos de gestão de risco e de
atendimento emergencial devem dar prioridade às instalações mais próximas a esses trechos,
favorecendo o rápido atendimento aos sinistros.
Um exemplo à necessidade de atendimento emergencial rápido e eficiente é o caso de
extravasamento de uma substância com classe de risco 2, que pode provocar asfixia e em um
certo raio de propagação podendo inclusive atingir centros urbanos densamente povoados.
Caso da análise da Figura 7 abaixo, para os dois trechos a citar:
km 0 a 9 da BR 316 no Pará em primeiro lugar nos acidentes gerais (16 ocorrências) e
segundo lugar para a classe de risco 2 (3 ocorrências);
km 80 a 89 na BR 101 em Pernambuco segundo lugar em acidentes envolvendo produtos
perigosos em geral (10 observações) e primeiro lugar para a classe de risco 2 aqui
analisada (4 observações).
Em ambos os casos, apresenta-se elevada densidade populacional urbana às margens dos
referidos trechos.
Figura 7: Classificação dos trechos de 10 km com maiores números de acidentes com produto perigoso, por
classe e tipo de carga.
Fonte: Própria com dados da PRF (2013)
4.2.2. Análise de impacto ambiental
Os elementos da natureza impactados diretamente por vazamento de produtos perigosos são:
o solo, as matas, as capoeiras, os cursos d’água e lagos (PEDRO, 2006). Estes impactos
podem estar relacionados com o tipo de produto transportado bem como a classe de risco
associada a tal produto conforme Tabela 1.
Para uma análise de impacto ambiental, pode-se exemplificar os seguintes casos:
A Rodovia BR 319 em Rondônia, do km 20 ao 29 é uma região com elevada densidade de
floresta amazônica, trecho este que vem sendo castigado por sucessivos acidentes
envolvendo produtos perigosos, sobretudo no período avaliado, com 9 ocorrências
registradas para todos os produtos perigosos, sendo que 7 delas com produtos de classe 3,
conforme Figura 7. Relacionando essa informação com o exposto na Tabela 1, verifica-se
que o risco ambiental a que este trecho está exposto, especialmente para o risco de fogo,
pode ser potencializado pela característica do ambiente local, uma região de floresta
conforme a Figura 8;
A Rodovia BR 376 no Estado do Paraná, do km 670 ao 679, apresentou no período avaliado elevado número de acidentes compreendendo a classe de risco 8 (4 eventos), que de acordo com Tabela 1, pode destruir tudo que estiver em seu contato pelo processo de corrosão, incluindo a vegetação natural, inclusive aos efeitos potencializados na fauna e na flora de uma região caso seja difundido por rios e afluentes.
Figura 8: À esquerda trecho da BR 319 em Rondônia, do km 20 ao 29; à direita trecho da BR 376 no Estado do
Paraná, do km 670 ao 679.
Fonte: Google Maps (2013)
5. CONCLUSÃO
Com base nos dados apresentados, pôde-se demonstrar um panorama acerca dos riscos
envolvendo produtos perigosos nas Rodovias Federais e os possíveis impactos ao meio
ambiente e à população adjacente às margens das rodovias ou que nela trafegue. Por ser um
tipo de atividade com certo grau de risco, o transporte de produtos perigosos é essencialmente
realizado em Rodovias Federais que cortam os diversos pólos industriais do país. Uma vez
que o universo populacional de dados fornecido pela PRF foi composto por 1.789
observações de acidentes, distribuídos em todos os estados da federação, oportunamente
foram agrupados os acidentes em trechos de 10 km para melhor compreensão das
características de cada segmento das rodovias analisadas.
Chama-se atenção ao fato de haver certa proporcionalidade entre os eventos de acidentes
analisados por Unidade da Federação por classe de risco que em suma apresentam maiores
valores para as classes 2 e 3 (gases e líquidos inflamáveis como a gasolina e o gás liquefeito
de petróleo). Contudo, a classe de risco 4 (sólidos inflamáveis, substancias sujeitas a
combustão instantâneas que em contato com água emitem gases inflamáveis) para o Estado de
Minas Gerais apresenta descolamento com elevados números se comparados a outros Estados
da Federação. Embora os trechos da Rodovia BR 316 no Pará, do km 0 ao 9, da Rodovia BR
376, do km 670 ao 679 no Paraná, e da Rodovia BR 101 em Pernambuco, do km 80 ao 89,
apresentarem maiores probabilidades de ocorrência de acidentes com produtos perigosos,
esses não são os respectivos estados que mais impactaram quando analisadas as estatísticas
por Unidade da Federação. O Estado de Minas Gerais ficou em primeiro lugar, seguido dos
Estados do Paraná, São Paulo e Mato Grosso.
Atenção especial deve ser dada ao risco associado ao transporte de produto perigoso, pois
representa perigo constante à preservação do meio ambiente bem como o bem estar da
população. A malha rodoviária brasileira soma cerca de 1,7 milhão de quilômetros entre
estradas federais, estaduais, municipais e concessionadas, sendo o modo rodoviário
responsável por 60% da movimentação de cargas no país. Desta forma, as rodovias federais
representam papel crucial, não somente no transporte dos insumos fundamentais ao
dinamismo da indústria como vetor à economia nacional.
BIBLIOGRAFIA
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