UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
Campus de Presidente Prudente
UMA CONTRIBUIÇÃO METODOLÓGICA AO ESTUDO DA
DINÂMICA DA PAISAGEM APLICADA A ESCOLHA DE
ÁREAS PARA A CONSTRUÇÃO DE ATERRO SANITÁRIO
EM PRESIDENTE PRUDENTE - SP
João Osvaldo Rodrigues Nunes
Orientador: Professor Livre Docente João Lima Sant’Anna Neto
Tese de Doutorado elaborada junto ao Curso de Pós-graduação em Geografia – Área de Concentração: Desenvolvimento Regional e Planejamento Ambiental, para obtenção do título de Doutor em Geografia.
Presidente Prudente
2002
N925c
Nunes, João Osvaldo Rodrigues.
Uma contribuição metodológica ao estudo da dinâmica da paisagem aplicada a escolha de áreas para construção de aterro sanitário em Presidente Prudente / João Osvaldo Rodrigues Nunes. - Presidente Prudente: [s.n], 2002. a
xi p., 211 p. : il. ; 29 cm. Tese (doutorado). - UNESP, Faculdade de Ciência e Tecnologia, Presidente Prudente, 2002.
Orientador: Prof. Dr. João Lima Sant'Anna Neto 1. Geografia física. 2. Geomorfologia. 3. Aterro
sanitário. 4. Resíduos sólidos urbanos - Presidente Prudente SP. I. Título.
CDD (18ª ed.) 910.02
Comissão Examinadora
- aluno -
Presidente Prudente, ______de__________________de_________.
Resultado: ____________________________________________________________
Aos meus filhos Caio e Caike e
a minha esposa Mie, pelo
companheirismo, amor, força e
união durante esta trajetória.
AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho, não se resumiu somente ao tempo decorrido de dois
anos de sua elaboração. Ele é o resultado, do acumulo de todo um processo de
aprendizagem e convívio acadêmico, desde a graduação até o momento presente.
Neste período, muitas pessoas nos ajudaram direta ou indiretamente no
constante amadurecimento, seja como profissional ligado a Geografia ou como cidadão, nas
diversas práticas do cotidiano do dia-a-dia. Sem estas pessoas, dificilmente conseguiria
realizar este e outros trabalhos. Em síntese, este trabalho é fruto de um convívio coletivo.
Neste aspecto, gostaria de destacar e agradecer o constante apoio das seguintes
pessoas:
- da amiga, colega e “eterna” orientadora, professora Doutora Dirce Maria
Antunes Suertegaray, que sempre esteve presente na minha formação profissional, mesmo
quando estive ausente do Brasil. Por acreditar no “guri”, que sempre gostou de discutir
sobre Geografia e Geomorfologia, nos corredores do Departamento de Geografia da
UFRGS;
- dos vários colegas, companheiros e professores da época de graduação da
UFRGS, sendo eles: Roberto Verdum, Rosa Medeiros, Nina, Bolinha, Álvaro, Nelson
Rego, Neiva, Nestor, Giovana, Ricardo, Gisele, Eduardo, e tantos outros;
- dos antigos colegas da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de
Presidente Prudente (biênio 1997-2000);
- do engenheiro cartógrafo José La Peruta, pelo fornecimento, sem burocracia,
dos dados cartográficos;
- dos professores do curso de Geografia, Letras, História e Matemática da
UNITINS, em especial ao amigo Luis Eduardo Bovolato e aos alunos de Geografia do 10 e
20 anos;
- do professor Doutor Otávio Freire e da amiga Cristina do Laboratório de
Sedimentologia da F.C.T. da UNESP, pela orientação na interpretação dos resultados das
amostras de solo;
- das amigas Flora e Maria, pela amizade e carinhoso que sempre recebi de
ambas, no auxílio para a elaboração das cartas temáticas;
- dos amigos Wagner e Walmir, pelo tempo disponível no auxílio dos
inúmeros problemas e dúvidas na área da computação;
- das colegas Vânia, Paula e Luiza da Estação Meteorológica, pelo
fornecimento dos dados de climatologia;
- das professoras Vera Sonia e Nadiege, pelas correções gramaticais;
- da Ana, do Marcos e da Márcia, da Secretária de Pós-graduação em
Geografia, pela atenção e esclarecimento, das diversas dúvidas burocráticas, que surgiram
ao longo da trajetória na pós-graduação;
- de todos os colegas da pós-graduação, principalmente da turma do ano 2000,
que tivemos o privilégio de convivermos juntos;
- dos professores Tadeu, Tita, César, Godoy que, desde o início do trabalho
colaboraram com as suas críticas e sugestões;
- do amigo Boin, pela sua inestimável parcela de ajuda e co-orientação em
várias partes deste trabalho;
- do amigo orientador João Lima. Pelo voto de confiança, em acreditar e
aceitar pela segunda vez, o pedido para me orientar. Pela total liberdade, que sempre tive,
de pedir auxílio e co-orientação a pessoas de outras ciências e áreas do conhecimento. E
principalmente, pelo tempo de convívio durante estes dois últimos anos;
- dos meus pais Timóteo e Tereza, que devo eterna gratidão por tudo que
fizeram e fazem por mim e minha família;
- da família Okimoto, principalmente Kyochi, Fumie, e em especial a Eite
(sogro – falecido) e Toriko (sogra), que sempre me apoiaram nestes 12 anos de vivência nas
“bandas” de Presidente Prudente;
- da minha família (Caio, Caike e Mie), especialmente a Mie, que é a pessoa
que devo todo o meu amor, carinho e gratidão por tudo que temos percorrido juntos nestes
12 anos. Que sempre teve a sabedoria orientar, para transmitindo harmonia e tranqüilidade,
em todos os momentos, principalmente nas várias vezes que estivemos ausente do convívio
familiar. A você Mie, não somente agradeço, bem como dedico de coração este trabalho.
- de todos, que direta ou indiretamente ajudaram na realização desta singela
contribuição.
Obrigado.
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS i
LISTA DE TABELAS iv
LISTA DE QUADROS vi
LISTA DE FOTOGRAFIAS vii
ABSTRACT ix
RESUMO x
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................. 01
1.1. Justificativa................................................................................................................. 07
1.2. Objetivos.................................................................................................................... 10
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO.......................................................................................... 12
2.1. A Importância do pensamento geomorfológico na análise ambiental urbana............ 12
2.1.1. A Escola Anglo-americana...................................................................................... 16
2.1.2. A Escola Alemã....................................................................................................... 23
2.1.3. A Geomorfologia no Brasil – sucinta análise evolutiva.......................................... 28
2.2. O conceito de paisagem e sua relação com os depósitos tecnogênicos...................... 34
2.3. A produção das cidades e o destino dos resíduos sólidos urbanos............................. 38
2.4. Procedimentos Metodológicos................................................................................... 52
3 O PROCESSO DE ESCOLHA DA ÁREA DO ATERRO SANITÁRIO DE
PRESIDENTE PRUDENTE-SP....................................................................................... 62
3.1. A situação dos municípios do Estado de São Paulo em relação ao tratamento dado
aos resíduos sólidos urbanos............................................................................................. 62
3.2. A situação do município de Presidente Prudente no Oeste Paulista.......................... 68
3.3. O município de Presidente Prudente e a relação com os resíduos sólidos
urbanos.............................................................................................................................. 73
3.4. Os Planos Diretores e sua relação com os resíduos sólidos urbanos.......................... 78
3.5. A Gestão Municipal de 1997/2000 e a atual administração municipal...................... 81
4 A PAISAGEM DO OESTE PAULISTA...................................................................... 93
4.1. A Geomorfologia........................................................................................................ 93
4.2. A Geologia................................................................................................................. 100
4.3. As Morfoestruturas..................................................................................................... 112
4.4. A Hidrogeologia......................................................................................................... 118
4.5. Os tipos de Solos........................................................................................................ 121
5 A MORFODINÂMICA DA PAISAGEM DO DISTRITO INDUSTRIAL DE
PRESIDENTE PRUDENTE............................................................................................. 127
5.1. Os aspectos Endógenos.............................................................................................. 128
5.2. Os aspectos Exógenos................................................................................................ 147
6 O CLIMA E SUA RELAÇÃO COM OS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS........... 168
6.1. As características do clima regional do Oeste Paulista.............................................. 168
6.2. A termopluviometria e o regime dos ventos.............................................................. 171
6.3. Fatores climáticos que influenciam, em ambiente anaeróbio, para a produção de
chorume e de odor............................................................................................................. 185
6.4. Análise integrada dos aspectos climáticos e sua aplicação na previsão de produção
de chorume e odor............................................................................................................. 192
6.4.1. O mês de janeiro de 1999........................................................................................ 194
6.4.2. O mês de julho de 1999........................................................................................... 196
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES.................................................. 198
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................. 203
ANEXOS........................................................................................................................... 212
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Etapas de implantação da disposição final dos resíduos sólidos urbanos
em aterro sanitário..................................................................................... 02
Figura 2 - Localização da área de pesquisa no município de Presidente
Prudente.....................................................................................................
06
Figura 3 - Filogênese da Teoria Geomorfológica....................................................... 14
Figura 4 - Representação gráfica do ciclo davisiano, conforme a adaptação
realizada por G.H. Dury............................................................................. 17
Figura 5 - Os três principais estágios do ciclo de erosão. Na juventude, há poucos
tributários e amplos interflúvios; na maturidade, de desenvolvimento
completo das redes de drenagem; na senilidade, interflúvios
extensivamente rebaixados e vales muito largos (adaptado de
Trewartha, Robinson e Hammond)............................................................ 17
Figura 6 - O desenvolvimento das vertentes levando a peneplanização e a
pediplanação. Na parte superior, as vertentes diminuem gradativamente
em seu conjunto; na parte inferior, há regressão paralela das mesmas e
alargamento contínuo dos pedimentos....................................................... 20
Figura 7 - Elaboração do ciclo de acordo com Penck (adaptado por Dury a partir
das obras de Von Engeln e de Wooldridge e Morgan).............................. 26
Figura 8 - Métodos operacionais utilizados para a construção de aterro sanitário..... 48
Figura 9 e
10 -
Situação Geral do Estado de São Paulo, quanto à quantidade de lixo
gerado e ao número de município.............................................................. 66
Figura 11 - Situação dos municípios quanto aos critérios de adequado, controlado e
inadequado................................................................................................. 72
Figura 12 - Situação dos municípios quanto à destinação final dos resíduos gerados. 72
Figura 13 - Demarcação das áreas de deposição de lixo em Presidente Prudente
(Mazzini, 1997), Nunes e Sant’ Anna Neto (2001)................................... 75
Figura 14 - Linha cronológica das áreas de deposição de lixo em Presidente
Prudente (Mazzini, 1997: 61).................................................................... 76
Figura 15 - Mapa Geomorfológico do Oeste Paulista.................................................. 94
Figura 16 - Mapa Hipsométrico do Oeste Paulista....................................................... 96
Figura 17 - Localização e limites da Bacia do Paraná (IPT, 1981 a: 46)..................... 101
Figura 18 - Coluna Litoestratigráfica da bacia do Paraná (IPT, 1981 a: 48)................ 103
Figura 19 - Mapa Geológico do Oeste Paulista............................................................ 104
Figura 20 - Seções Geológicas do município de Presidente Prudente – SP (Suarez,
1991).......................................................................................................... 111
Figura 21 - Mapa Estrutural de Presidente Prudente (Regional).................................. 115
Figura 22 - Mapa dos Traços Morfoestruturais de parte do Oeste Paulista................. 116
Figura 23 - Mapa de Solos do Oeste Paulista............................................................... 122
Figura 24 - Mapa dos Traços Morfoestruturais da Folha de Presidente Prudente....... 130
Figura 25 - Perfil geológico-pedológico de um corte localizado ao lado da área
escolhida pela gestão 1997-200, para o Aterro Sanitário de Presidente
Prudente – SP.............................................................................................
139
Figura 26 - Carta Geomorfológica do Distrito Industrial de Presidente Prudente–SP. 149
Figura 27 - Carta de Declividades do Distrito Industrial de Presidente Prudente–SP. 150
Figura 28 - Carta Hipsométrica do Distrito Industrial de Presidente Prudente–SP..... 152
Figura 29 - Carta de Áreas de Surgência do Lençol Freático do Distrito Industrial
de Presidente Prudente–SP........................................................................ 158
Figura 30 - Carta de Uso do Solo e Cobertura Vegetal do Distrito Industrial de
Presidente Prudente–SP............................................................................. 160
Figura 31 - Perfil Morfodinâmico do Distrito Industrial de Presidente Prudente–SP. 165
Figura 32 - Carta Morfodinâmica e síntese integrada dos compartimentos de relevo
do Distrito Industrial de Presidente Prudente–SP...................................... 166
Figura 33 - Trajetos preferenciais das massas de ar que atingem o Oeste Paulista,
inferidas da pluviosidade média de trinta anos (1967-1996)..................... 170
Figura 34 - Variabilidade da temperatura média mensal (0 C) de Presidente
Prudente (1990-1999)................................................................................ 173
Figura 35 - Variabilidade mensal das temperaturas mínimas absolutas (0 C) de
Presidente Prudente (1990-1999).............................................................. 174
Figura 36 - Variabilidade mensal das temperaturas máximas absolutas (0 C) de
Presidente Prudente (1990-1999).............................................................. 175
Figura 37 - Variabilidade mensal de precipitação(mm) de Presidente Prudente
(1990-1999)............................................................................................... 176
Figura 38 - Variabilidade das máximas de chuvas em 24 horas (mm) de Presidente
Prudente (1990-1999)................................................................................ 177
Figura 39 - Variabilidade mensal do número de dias com chuvas (mm) de
Presidente Prudente (1990-1999).............................................................. 178
Figura 40 - Variabilidade mensal da umidade relativa do ar (%) de Presidente
Prudente (1990-1999)................................................................................ 179
Figura 41 - Variabilidade anual da freqüência dos ventos (%), por direção de
Presidente Prudente (1990-1999).............................................................. 181
Figura 42 - Variabilidade anual de duração dos ventos (%), por direção de
Presidente Prudente (1990-1999).............................................................. 182
Figura 43 - Variabilidade mensal da velocidade máxima do vento (km/h) de
Presidente Prudente (1990-1999).............................................................. 183
Figura 44 - Direção predominate dos ventos, por quadrante (S, E e W), ao longo do
ano em Presidente Prudente SP e as características favoráveis ou
desfavoráveis para a construção de obra do tipo aterro sanitário.............. 184
Figura 45 - Modelo de decomposição anaeróbia de Pohland & Harper....................... 188
Figura 46 - Diagrama de Influências............................................................................ 189
Figura 47 - Efeito da temperatura no processo............................................................. 190
Figura 48 - Curso diário da temperatura média do solo em diferentes profundidades,
dia 20 a 29 de janeiro de 1985, em Ribeirão Preto.................................... 191
Figura 49 - Análise Integrada da atuação do clima e sua relação com a produção de
chorume e odor.......................................................................................... 193
LISTAS DE TABELAS
Tabela 1 - Elementos e Fatores naturais e sociais determinantes na disposição de
resíduos sólidos urbanos em aterro sanitário............................................. 05
Tabela 2 - Tempo para pipetagem da argila segundo a Lei de STOCKES................. 55
Tabela 3 - Destinação final dos resíduos sólidos no Estado de São Paulo................. 63
Tabela 4 - Geração de lixo no Estado de São Paulo................................................... 63
Tabela 5 - Valores de Coeficiente Per Capita de Produção de Resíduos Sólidos
Domiciliares em Função da População Urbana......................................... 63
Tabela 6 - Enquadramento das Instalações de Destinação Final de Lixo em Função
dos Valores de IQR e IQC......................................................................... 64
Tabela 7 - Situação Geral do Estado de São Paulo, quanto ao número de
municípios, no que se refere ao enquadramento dos municípios quanto
ao IQR – Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos-dez/2000............. 65
Tabela 8 - Situação Geral do Estado de São Paulo, quanto às quantidades de
resíduos gerados, no que se refere ao enquadramento dos municípios
quanto ao IQR – Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos-dez/2000. 65
Tabela 9 - Número de Municípios do Estado de São Paulo que assinaram TAC
com Respectivas Populações Urbanas Beneficiadas e Quantidades de
Resíduos Sólidos Domiciliares Gerados.................................................... 67
Tabela 10 - Quadro geral dos municípios que englobam a UGRHI – Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos 22 (Pontal do Paranapanema),
apresentando a atual situação ambiental relativo a destinação final dos
resíduos sólidos urbanos............................................................................ 70
Tabela 11 - Quantidade de resíduos sólidos urbanos gerados em Presidente
Prudente..................................................................................................... 76
Tabela 12 - Comparação das características dos sistemas deposicionais fluviais........ 108
Tabela 13 - Medidas das distâncias e profundidades entre os 5 pontos e o tipo de
solo baseado nas características texturais do horizonte B......................... 138
Tabela 14 - Dados analíticos dos horizontes B e C dos solos Latossolo Vermelho
Escuro e Argissolo Vermelho Amarelo do corte localizado ao lado da
área escolhida para o aterro sanitário......................................................... 140
Tabela 15 - Favorabilidade à decomposição da matéria orgânica presente nos
resíduos sólidos em ambiente anaeróbio................................................... 146
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Dados da área de implantação do Aterro sanitário de Presidente
Prudente–SP................................................................................................. 89
Quadro 2 - Principais características dos sistemas de relevo presentes na UGRHI –
22 (modificado de IPT 1981b)..................................................................... 97
Quadro 3 - Morfoestrutura e suas implicações............................................................... 117
Quadro 4 - Síntese dos Sistemas e Unidades Aqüíferas do Oeste Paulista.................... 119
Quadro 5 - Influência e relações entre os fatores geológicos, hidrogeológicos,
geomorfológicos, pedológicos e morfoestruturais do Oeste Paulista na
escolha de áreas para construção de aterro sanitário.................................... 126
Quadro 6 - Dados analíticos do perfil no 1 – Unidade Administrativa........................... 135
Quadro 7 - Dados analíticos do perfil no 2 – Unidade Administrativa........................... 135
Quadro 8 - Dados analíticos do perfil no 3 – Unidade Flamboyant............................... 136
Quadro 9 - Dados analíticos do perfil no 4 – Unidade Flamboyant............................... 137
Quadro 10- Descrição das classes de drenagem e exemplos........................................... 144
Quadro 11- Caracterização dos aspectos termopluviométricos, hídricos e do regime
dos ventos para Presidente Prudente – SP (1990 – 1999)............................ 172
Quadro 12- Vantagens do processo de tratamento aeróbio em relação ao tratamento
anaeróbio...................................................................................................... 186
LISTA DE FOTOGRAFIAS
Foto 1 - Local do Distrito Industrial onde são depositados os resíduos sólidos
domésticos. No centro, nota-se a existência de grande quantidade de
barracas de catadores/garimpeiros de resíduos sólidos (papéis, plásticos,
latas de alumínio, etc.). Ao direita, observa-se a fumaça escura que o
incinerador de resíduos hospitalares lança na atmosfera. Nunes e Boin
(2001)................................................................................................................ 71
Foto 2 - Estrutura de microestratificação cruzada acanalada, observada nos arenitos
da Formação Adamantina, em um corte de estrada (rodovia Raposo Tavares
- SP 270) no município de Álvares Machado. Nunes e Boin (2001)................
105
Foto 3 - Tubos de vermes, observado nos arenitos da Formação Adamantina,
preenchido por sedimentos síltico-argilosos. Corte de estrada (rodovia
Raposo Tavares - SP 270) no município de Álvares Machado. Nunes e Boin
(2001)................................................................................................................
109
Foto 4 - Perfil Geológico em que observam-se pequenas estruturas do tipo sinformes
(côncava) e antiformes (convexa). Corte de estrada (rodovia Raposo
Tavares - SP 270) no município de Presidente Prudente – SP. Nunes e Boin
(2001)................................................................................................................ 128
Foto 5 - Perfil estratigráfico e pedológico de um corte localizado ao lado da área
escolhida para o aterro sanitário. No centro, observa-se a divisão entre o
maciço rochoso sedimentar (Formação Adamantina-Kaiv) e o regolito ou
perfil de Latossolo Vermelho Escuro............................................................... 132
Foto 6 - Perfil estratigráfico da Formação Adamantina – unidade de mapeamento
Kaiv, localizado ao lado da área escolhida para o aterro sanitário. Nunes e
Boin (2001)....................................................................................................... 133
Foto 7 - No primeiro plano, observa-se a área escolhida para o aterro sanitário, onde
foi retirado solo (material de empréstimo). Ao fundo, visualiza-se o
predomínio dos relevos de colinas côncavo-convexas de topos suavemente
ondulado. Nunes (2000).................................................................................... 151
Foto 8 - No centro, observa-se o afloramento dos arenitos da Formação Adamantina.
Este local se situa próximo do incinerador de lixo hospitalar. Nunes (2000).. 154
Foto 9 - Na parte inferior, observam-se os depósitos de resíduos sólidos domésticos
do aterro controlado, em uma vertente com declividade superior a 20%. Na
outra encosta da colina, constatam-se processos erosivos lineares, com
início de ravinamentos. Nunes (2000).............................................................. 155
Foto 10 - Baixa vertente à jusante da área escolhida pela gestão 1997-2000, para o
aterro sanitário. Neste local, observa-se a formação de vegetação típica de
banhado (Taboa), com afloramento do lençol freático. Nunes
(2000)................................................................................................................
156
Foto 11 - Crescimento espontâneo da cobertura vegetal da área escolhida para o aterro
sanitário, através da expansão de espécies vegetais do tipo gramíneas. Nunes
(2000)................................................................................................................ 161
Foto 12 - Atual local de despejo dos resíduos sólidos domésticos do município de
Presidente Prudente-SP. Pela sua configuração morfológica, a área é
totalmente inadequada para qualquer tipo de despejo de resíduos. Nunes
(2000)................................................................................................................ 162
Foto 13 - No centro, observa-se a deposição dos materiais úrbicos (podas de galhos,
entulhos de construção, pneus, metais diversos, etc.). Ao fundo, notam-se os
prédios das empresas instaladas no Distrito Industrial. Nunes e Boin (2001).. 163
Foto 14 - Forma de relevo em cabeceira de drenagem em anfiteatro, próxima da antiga
área de depósito de lixo, cujas vertentes estão totalmente desvegetadas,
ocasionando sérios problemas de erosão remontante. Os locais escuros
significam os pontos onde ocorreram queimadas. Nunes (2000)..................... 164
RESUMO
Nas últimas décadas, uma das principais discussões, especificamente no âmbito municipal,
tem se direcionado para a questão do destino final a ser dado aos resíduos sólidos urbanos.
Estes, na maioria das vezes, são despejados a céu aberto em forma de lixões, gerando
doenças, mau cheiro e vetores de vários tipos, como insetos e roedores. Uma das alternativas
ambientalmente viáveis para resolver este problema é a construção de aterros sanitários a
partir do gerenciamento integrado dos resíduos municipais. Nesse trabalho, pretende-se
analisar a dinâmica da paisagem, a partir dos conhecimentos geomorfológicos, geológicos
(morfoestruturais e hidrogeológicos), pedológicos, climáticos e sócio-econômicos, aplicados
em uma área escolhida pela administração municipal 1997-2000, para a construção de um
aterro sanitário, objetivando o estabelecimento de critérios e procedimentos técnicos, numa
perspectiva sócio-ambiental, de escolha de áreas para a construção de aterro sanitário.
Palavras-chave: Geografia física; Geomorfologia; Aterro sanitário; Resíduos sólidos urbanos;
Presidente Prudente.
ABSTRACT
In the last decades, one of the principal discussions, specifically in the municipal ambit, has been directed to the question of the final destination to be given to the urban solid residues. These remnants are mostly thrown out under the open atmosphere as large garbage areas, causing diseases, stink and vectors of several types as insects and rodents. One of the environmentally viable alternatives to solve this problem is the construction of sanitary embankments from the integrated control of the municipal residues. In this work, the author intends to analyse the dynamics of the landscape, from the geomorphological, geological (morphostructural and hydrogeological), pedological, climatical and social-economical knowledge applied to an area chosen by the municipal administration 1997-2000, for the construction of a sanitary embankment, with the purpose of establishing technical criteria and procedures, in a social-environmental perspective, for the choice of areas for the construction of a sanitary embankment. Key-words: Physical geography; Geomorphology; Sanitary embankment; Urban solid residues; Presidente Prudente.
1
1 INTRODUÇÃO
Ao longo da história da humanidade, os homens e mulheres têm
desenvolvido produtos e mercadorias para melhorar a qualidade de vida das
sociedades. Nesse processo de desenvolvimento histórico e industrial, os avanços
econômicos, tecnológicos e sociais foram significativos. Todavia, por outro prisma, a
falta de planejamento e o uso desenfreado dos recursos naturais, têm ocasionado um
aumento de processos de degradação nos mais variados ecossistemas terrestres, além
do intenso acréscimo da produção de resíduos sólidos, líquidos e gasosos.
Os resíduos sólidos urbanos, despejados a céu aberto em forma de
lixões,· passaram a representar um dos maiores problemas a serem solucionados por
parte das administrações municipais, principalmente porque são áreas produtoras e
geradoras de doenças, mau cheiro e vetores de vários tipos como insetos e roedores.
Frutos da urbanização desenfreada e da sociedade do desperdício, os
resíduos sólidos urbanos são hoje motivo de profundas discussões, seja no campo
técnico-científico ou no político-econômico.
Nas últimas décadas, uma das principais discussões, especificamente
no âmbito municipal, tem se direcionado para a questão do destino final a ser dado
aos resíduos sólidos urbanos. Provavelmente, uma das alternativas ambientalmente
mais viáveis, seria a construção de aterros sanitários a partir do gerenciamento
integrado dos resíduos municipais, sendo este entendido como o “...conjunto
articulado de ações normativas, operacionais, financeiras e de planejamento, que
uma administração municipal desenvolve, baseado em critérios sanitários,
ambientais e econômicos para coletar, tratar e dispor o lixo da sua cidade” (Jardim
et al, 1995: 3).
De acordo com Jardim et al (1995) as fases do gerenciamento
integrado são divididas em duas etapas:
- Como fazer, no qual se inclui a 1a fase, que é a do diagnóstico de
administração;
- E o que fazer, a qual subdivide em 2a fase (serviço de limpeza), 3a
fase (disposição final) e 4a fase (tratamento).
2
Com relação à 3a fase, que trata da disposição final dos resíduos
sólidos urbanos, e que é o ponto principal desta pesquisa, na Figura 1 observam-se as
etapas de implantação de um aterro sanitário.
Figura 1. Etapas de implantação da disposição final dos resíduos sólidos urbanos em aterro sanitário.
Fonte: Jardim et al (1995: 17).
No tocante à parte que trata sobre “Fazer remediação do local para
transformação em Aterro Sanitário”, este procedimento, na maioria das vezes,
conforme a situação que se encontra o lixão ou o aterro controlado, não é realizado.
Isto deve-se, ao elevado custo operacional de reparação dos aterros, em que, quando
feito, realiza somente as obras de canalização dos gases, mas não de
impermeabilização de base, impedindo que os lixiviados orgânicos e inorgânicos
contaminem os corpos dágua superficiais e de subsuperfície.
Assim, como se observa na Figura 1, a disposição final em aterro
sanitário compreende uma das soluções técnico-financeira, em que...:
”...a adequada construção de uma disposição de resíduos urbanos pressupõe a concepção e projeto de um aterro sanitário, devidamente inserido dentro das questões sociais,
3
técnicas, econômicas e ambiental, independente de processos intermediários de tratamento ou atitudes de minimização.” (Benvenuto,1995: 552).
O conhecimento sobre aterro sanitário envolve aspectos sanitários,
ambientais, geotécnicos, político-administrativos, econômicos e educacionais. No
tópico geotécnico, em especial neste trabalho, são destacados os conhecimentos
geomorfológicos, geológicos (morfoestruturais e hidrogeológicos), pedológicos e
climáticos.
A Geomorfologia, em especial, contribui no processos de escolha de
áreas para a construção de aterros sanitários, pois envolve conhecimento a respeito
dos processos morfogenéticos atuantes em superfície e subsuperfície, ou seja,
processos endógenos e exógenos responsáveis pela modelagem do relevo.
O geógrafo que trabalha com conhecimentos ligados à ciência
geomorfológica, tem muito a oferecer neste aspecto. Cruz (1974: 9) destaca:
“A observação dos processos geomorfológicos atuais leva ao estudo e compreensão da dinâmica da paisagem. Assim nada melhor que o acompanhamento, no tempo, de determinados fenômenos para se conhecer o processo e consequentemente entender a evolução fisiológica do espaço”.
Assim, é de fundamental importância o reconhecimento prévio e
detalhado da área a que se destina a construção de um aterro sanitário. Esse
reconhecimento compreende informações sobre as formas e a dinâmica do relevo,
tais como compartimentação geomorfológica, com suas características de unidades
morfológicas que compõem o relevo (áreas de morros, planícies, encostas/vertentes);
grau de inclinação topográfica ou declividade dos compartimentos. (Jardim et al,
1995: 102).
Além dos aspectos geomorfológicos devem ser considerados os
conhecimentos ligados às formações litológicas, que se relacionam às variações
granulométricas e texturais faciológicas e sua conformação morfoestrutural, assim
como as derivações pedológicas decorrentes destes aspectos, que geram
características morfológicas e texturais do solo, adequadas ou não à implantação
deste tipo de empreendimento.
4
Destacam-se ainda, os aspectos hidrogeológicos, que auxiliam na
compreensão da dinâmica das águas subterrâneas e superficiais, dando ênfase à
profundidade dos lençóis freáticos; a localização das zonas de recarga das águas
subterrâneas; os principais mananciais, bacias e corpos d’água de interesse ao
abastecimento público, enfatizando-se o comportamento químico e dinâmico das
águas; e a localização em áreas de proteção de mananciais (Jardim et al, 1995: 103).
Nos aspectos climáticos, são importantes as informações sobre as
características térmicas e pluviométricas, além da direção e intensidade dos ventos
predominantes na área onde se construirá o aterro sanitário, objetivando-se entre
tantos itens, a gestão de produção de chorume e gases do aterro sanitário.
Outros dados importantes são encontrados na legislação ambiental
federal, na estadual e na municipal. Além destes, devem também ser mencionados os
dados socioeconômicos, que envolvem o valor da terra, o uso e ocupação dos
terrenos, a distância da área em relação aos centros atendidos, a integração à malha
viária e a aceitação da população e de suas entidades organizativas (Jardim et al,
1995: 104-05).
Todos os aspectos acima descritos estão diretamente relacionados a
uma série de fatores ambientais e sociais determinantes na disposição dos resíduos
sólidos urbanos em aterro sanitário. São esses fatores que, tomados de forma direta
ou indireta, serviram de base para esta pesquisa (Tabela1).
Neste contexto, a presente pesquisa visa, através de conhecimentos
adquiridos durante um período de trabalho na Secretaria Municipal do Meio
Ambiente da Prefeitura de Presidente Prudente, em que tivemos a oportunidade de
participar especificamente de projetos de escolha de áreas para construção de aterros
sanitários, mostrar a importância do conhecimento geográfico, tomando-se como
base os aspectos geomorfológicos, climáticos e socioeconômicos, como importantes
para a escolha de áreas para execução/construção de aterro sanitário. Destaca-se,
também, a importância dos fatos relacionados às características intrínsecas do solo,
da geologia (morfoestrutura) e da hidrogeologia. Esses aspectos foram trabalhados de
forma associada à Geomorfologia.
5
Tabela 1. Elementos e Fatores naturais e sociais determinantes na disposição de resíduos sólidos urbanos em aterro sanitário.
Elementos Naturais Fatores Naturais
Relevo Morfologia, posição, inclinação/declividade, exposição, movimento de massa, erosão.
Rochas Composição, granulação, estruturação, profundidade do lençol freático, porosidade, permeabilidade, transmissividade.
Solo Composição, granulação, estruturação, textura, porosidade. Oxigênio Drenagem, permeabilidade do solo.
Água Precipitação, distribuição, evaporação, solo, profundidade do lençol freático, drenagem (densidade e padrão), direção.
Cobertura vegetal Composição, estrutura, ausência ou presença.
Radiação solar Latitude, altitude, exposição, espessura da cobertura de solo, nebulosidade, umidade atmosférica, poluição atmosférica.
Temperatura Latitude, altitude, exposição e constituição e espessura do solo.
Vento Exposição, latitude, altitude, relevo, continentalidade, direção, duração e freqüência.
Elementos Sociais Fatores Sociais
Quantidade e qualidade de resíduos gerados
Taxa de geração por habitante, renda percapta diferenciada por classe social, hábitos da população, tipos de recicláveis (orgânicos e inorgânicos)
Doenças Proliferação de micro e macrovetores transmissores, como insetos e roedores.
Cobertura do lixo Tipo de solo, cobertura de solo, espessura do corpo de lixo.
Odor
Composição física e química dos resíduos, umidade, temperatura, precipitação, evapotranspiração, drenagem de percolados, granulometria e estruturação das rochas, grau de compactação.
Car
acte
rístic
as d
os re
sídu
os só
lidos
urb
anos
Lixiviados (chorume)
Composição física e química dos resíduos, umidade, temperatura, precipitação, evapotranspiração, drenagem de percolados, granulometria e estruturação das rochas, Morfologia do relevo, grau de compactação.
Legislação ambiental, Lei Orgânica e Plano Diretor.
Localização, distância e posição.
Dados socioeconômicos Valor, uso, aceitabilidade e distância.
Age
ntes
So
ciai
s
Escolha Política, técnica, econômica, disponibilidade de áreas. Elaborado e organizado por: Nunes e Boin (2001)
Para o desenvolvimento desta pesquisa, foi delimitada uma área
situada na porção sul do município de Presidente Prudente, no limite com o
município de Regente Feijó, de aproximadamente 15,240 km2 de extensão,
localizada entre as coordenadas de longitude 510 23’ 18” WGr e 510 20’ 30” WGr e
latitudes 220 08’ 59” S e 220 10’ 44” S (fig.2).
SEISCENTOSALQUEIRES
AMELIÓPOLIS
NOVA ITAÚNA
GLEBAMINEIRA
QUILOMETROQUARENTA
MENTOLÂNDIA
ENEIDA
FLORESTA DO SUL
CEM ALQUEIRES
TIMBURI
PRIMEIRODE MAIO
DUZENTOSALQUEIRES
PONTE ALTA
QUILOMETROSETE
MANDAGUARI
MONTALVÃO
JACUTINGA
GRAMADO
QUILOMETRONOVE
CONJ.HAB.ANA JACINTA
SP -
425
SP - 501
SP - 270
FLÒRIDA PAULISTA
FLO
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FEIJÓ
EX
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DIT
O
PRESIDENTE PRUDENTE
LEGENDA
DIVISA DE MUNICÍPIO
PERÍMETRO URBANO
ÁREA DE PESQUISA
ÁREA URBANA
ESTRADA VICINAL / RODOVIA
ED. GRÁFICA : FLORA H. SATO
FONTE : IBGE - 1990
ESCALA GRÁFICA
0 2 3 4 5 Km1
Pres.Pres.
PrudentePrudente
LOCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PRESIDENTE PRUDENTENO OESTE PAULISTA
LOCALIZAÇÃO DO OESTE PAULISTA NO ESTADO DE SÃO PAULO
Figura 2 - Localização da área de pesquisa no município de Presidente Prudente - SP
7
É nesta área que se encontra localizada a área escolhida pela
administração municipal, na gestão 1997-2000, para a construção do Aterro Sanitário
do Município de Presidente Prudente-SP. Este local serviu de área experimental para
a elaboração da análise morfodinâmica integrada entre os aspectos ligados às
dinâmicas da natureza e da sociedade, que culminaram na elaboração de
procedimentos metodológicos para escolha de áreas para a construção de aterros
sanitários.
1. 1. Justificativa
O tema da pesquisa que trata sobre a escolha de áreas para a
construção de aterros sanitários foi fruto de envolvimento profissional como
geógrafo, em um campo de trabalho basicamente dominado por engenheiros civis e
sanitaristas, geólogos e biólogos. Assim uma das contribuições, entre tantas, que o
geógrafo pode oferecer é a análise integrada da paisagem sob a ótica do estudo do
relevo.
O relevo, para alguns estudiosos como Ross (1991), apresenta-se de
modo dinâmico, sendo considerado como o palco em que o homem, como ser social,
pratica o teatro da vida. Para Grigoriev (1968), o “Estrato Geográfico da Terra”, em
que se inclui o relevo, é compreendido como “...o ambiente que permite a existência
do homem como ente biológico e consequentemente como ser social” ( Ross, 1991:
10).
Para o geógrafo, profissional que trabalha com a relação sociedade-
natureza, pesquisas como estas se justificam pela importância de se analisar as
formas de alterações ambientais que a sociedade vem provocando em determinados
espaços físicos, dando mais ênfase ao tempo dos processos morfodinâmicos do que
ao tempo dos processos morfogenéticos.
Cabe, dessa forma, alguma reflexão sobre questões que permeiam esta
pesquisa, principalmente quando tomamos a decisão de prestigiar o tempo presente
da morfodinâmica em detrimento do tempo passado da morfogênese. Questões
como:
8
- por que os geógrafos que trabalham com Geomorfologia,
basicamente pouco desenvolvem pesquisas ligadas ao estudo dos aspectos regionais,
passando a valorizar as pesquisas mais pontuais e locais, como no caso da pesquisa
em questão?
- o tempo na Geomorfologia passou a ter um enfoque mais
multidimensional, desordenado e multidirecional, sobrepondo-se ao tempo
unidimensional, ordenado e unidirecional?
Algumas respostas para estas indagações, historicamente muito
complexas, provavelmente estejam ligadas à compreensão das transformações
sociais, econômicas e ambientais que estamos vivendo no atual momento histórico.
Nele, o desenvolvimento tecnológico e científico tem levado os geógrafos a dar mais
importância à análise dos processos morfodinâmicos (curto tempo), em detrimento
dos processos morfogenéticos (longo tempo).
A valorização atual de um pensar/fazer Geomorfologia na perspectiva
da morfodinâmica sobre a perspectiva da morfogênese, tem acarretado maior
discussão sobre a importância do entendimento do tempo presente, do tempo
imediato, do tempo do diagnóstico para a atuação e intervenção imediata sobre o
relevo que será apropriado. Nesse sentido, ocorre a imposição da escala temporal
histórica sobre a escala temporal geológica, a qual privilegia o chamado tempo
profundo ou distante.
A velocidade de criação de novos equipamentos tecnológicos de
intervenção na natureza, a partir da lógica de valorização dos recursos naturais como
mercadorias, com valor de uso e de troca, tem gerado significativas
transformações/degradações no relevo. Essas transformações têm sido mais
evidenciadas nos locais de maiores concentrações populacionais, em que o capital
intensifica sua atuação com mais vigor, na busca da obtenção de maior lucratividade.
Ao mesmo tempo em que se diminuiu o tempo de extração e
acumulação/deposição dos recursos naturais, a partir do maior volume de
conhecimento sobre a dinâmica da natureza, ocorreu uma expansão territorial sobre
novos espaços sociais. O que era inatingível fisicamente, passa a ser alcançável
através do domínio maior da chamada engenharia técnica de intervenção. Assim,
9
busca-se constantemente o detalhamento da “anatomia da natureza”, para
pretensamente saber construir, destruir, reconstruir novos espaços físicos e sociais,
conforme os interesses econômicos e políticos dominantes para cada tempo histórico.
Se o momento presente favorece o estudo da intervenção local nos
estudos geomorfológicos, isto não significa que o local esteja desconectado do
regional, do nacional e do global. O local somente pode ser compreendido a partir da
análise das influências políticas, econômicas, sociais e ambientais, advindas das
outras escalas, que, dialeticamente, estão mutuamente conectadas.
Se, anteriormente, a pesquisa geomorfológica regional apresentava
uma característica de cunho mais descritivo e genético, pois era preciso conhecer os
grandes domínios morfológicos (morfogênese), atualmente, as pesquisas
geomorfológicas têm tido maior preocupação com as questões ambientais de cunho
pontual (morfodinâmica), como no caso da pesquisa em estudo, que trata da escolha
de áreas para a construção de aterros sanitários.
Em muitos casos, não existe uma preocupação em discutir o uso dos
recursos naturais, mas somente as transformações que os agentes sociais causam na
natureza, que vem sendo transformada e modificada temporal e espacialmente. Esta
reflexão leva-nos a pensar que os diferentes tempos (históricos e geológicos), sofrem
acelerado desenvolvimento científico, balizado pela intensificação de capital
tecnológico, e faz com que, no momento atual, ocorra uma sobreposição de vários
tempos. Estes, ao se sobreporem, acabam deixando marcas na paisagem, tendo como
exemplo os chamados depósitos tecnogênicos, que fazem parte de um novo período,
o Quinário.
Se o momento presente tem levado muitos geógrafos a privilegiarem a
escala local e não tanto a regional, é porque, nas cidades, de modo mais amplo, os
diversos problemas sócio-ambientais tornam-se mais visíveis e crônicos (como no
caso dos resíduos sólidos urbanos); é, porque, nas cidades, as decisões políticas, na
maioria dos casos, suplantam as decisões técnicas.
Enfim, este é o momento do tempo multidimensional, do tempo com a
preocupação da conservação para o não esgotamento rápido da mercadoria natureza,
objetivando-se a manutenção e a criação de novos processos de acumulação de
10
capital. È o tempo da resposta rápida, da criação de instrumentos de prevenção,
visando como é o caso da exigência da elaboração dos RAPs (Relatório Ambiental
Preliminar), EIA/RIMAS (Estudo de Impacto Ambiental/ Relatório de Impacto
Ambiental) e tantos outros relatórios e laudos técnicos, que são feitos seguindo-se
modelos preestabelecidos, como uma tentativa de se diminuir/controlar os problemas
ambientais.
Ao mesmo momento, pode e deve ser o tempo da reflexão da forma
como vem sendo utilizada a técnica; o tempo da reflexão teórico-metodológica; e,
principalmente filosófica, de qual é a sociedade e a ciência que queremos; o tempo
da valorização da ética, da humanidade e da consciência sobre o nosso dizer,
escrever e fazer Geografia e aplicá-la.
O resultado concreto das formas desordenadas de ocupação destes
espaços geográficos reflete-se na disposição inadequada, temporal e espacialmente
dos resíduos sólidos, líquidos e gasosos em áreas, em sua grande maioria, não
adequadas para o recebimento destes dejetos.
1.2. Objetivos
O presente trabalho não visa somente enfocar os aspectos físicos da
área, mas também compreender, a dinâmica dos agentes sociais que atuam no
município de Presidente Prudente, no processo de escolha da atual área para a
construção de um aterro sanitário e de uma Usina de Triagem e Compostagem de
lixo.
Assim, o objetivo maior desta tese de doutorado, é o estabelecimento
de critérios e procedimentos técnicos, numa perspectiva sócio-ambiental, de escolha
de áreas para a construção de aterro sanitário.
Para se atingir o objetivo geral proposto, trabalhou-se em diferentes
escalas espaciais, desenvolvendo-se os seguintes objetivos específicos:
1. Caracterização histórica dos agentes políticos e sociais atuantes, na
esfera da administração municipal, que levaram à escolha da atual área para
11
construção da Usina de Triagem e Compostagem e do Aterro Sanitário do município
de Presidente Prudente-SP;
2. Caracterização das paisagens do Oeste Paulista, a partir dos
aspectos geomorfológicos, geológicos, morfoestruturais, hidrogeológicos e
pedológicos, bem como da paisagem local (Presidente Prudente);
3. Morfodinâmica da paisagem do Distrito Industrial do município de
Presidente Prudente, onde se encontra localizada a área escolhida pela administração
municipal gestão 1997-2000, para a construção do Aterro Sanitário do município de
Presidente Prudente;
4. Análise dos parâmetros climáticos, que interessam para a escolha
de áreas para a construção de aterro sanitário, para o município de Presidente
Prudente, no intervalo de 10 anos (1990 a 1999).
12
2 REFERÊNCIAL TEÓRICO
2.1. A importância do pensamento geomorfológico na análise ambiental urbana
Para que se possa compreender o conhecimento geomorfológico no
escopo da ciência geográfica, faz-se necessário discutir historicamente as principais
tendências teórico-metodológicas que influenciaram o seu desenvolvimento.
Sob este aspecto, o estudo a respeito da importância da
Geomorfologia, como um dos critérios para escolha de áreas para aterro sanitário, é
de fundamental importância, pois exige uma caracterização ambiental da área em
que tais aspectos são de grande importância. Para tanto “não se pode entender a
dinâmica e a gênese das formas do relevo, sem que se conheça muito bem os fatores
bioclimáticos, pedológicos, geológicos e mesmo antrópicos que interferem no
dinamismo e, portanto, em sua evolução”. ( Ross, 1991:17).
Neste contexto, Ross (1991:16) destaca a importância da
compreensão do conhecimento teórico-metodológico, para a execução de estudos
visando à elaboração de diagnósticos ambientais, em que “a elaboração dos estudos
implica o conhecimento da teoria, o domínio da metodologia, bem como a
capacidade de operacionalizar o instrumental técnico de apoio”.
Com a maior diversidade de técnicas e métodos operacionais
existentes para a análise dos processos geomorfológicos atuantes na paisagem, os
profissionais que trabalham neste campo passaram a dar mais ênfase a problemas
como:
“...a ocorrência de eventos catrastróficos; os primeiros projetos que incluíam a elaboração de previsões de impactos ambientais; os diagnósticos de deseqüilíbrios ambientais; as preocupações que já se faziam sentir em relação à poluição; o reconhecimento da necessidade de recuperar áreas degradadas e de preservar a natureza” (Marques, 1995: 40).
Dentro destas observações, e considerando-se que parte dos geógrafos
que trabalham com Geomorfologia ainda enfatizam pouco esta questão, o problema
relativo à escolha de áreas para despejo de resíduos sólidos urbanos, bem como de
13
locais para a construção de aterros sanitários, vem-se tornando um tema cada vez
mais freqüente nas pesquisas geográficas.
Vários são os órgãos de pesquisa que dão destaque à importância da
análise geomorfológica como um dos critérios básicos de escolha para áreas de
aterros sanitários. É o caso dos licenciamentos prévios de unidades de disposição de
resíduos sólidos urbanos, no âmbito da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de
São Paulo, cujo objetivo principal é a verificação da viabilidade ambiental da
implantação e operação de empreendimentos como aterros sanitários. Neste aspecto
inclui-se a caracterização geológica, geomorfológica, geotécnica e hidrogeológica,
quando:
“A partir dessa caracterização regional deve-se proceder a uma caracterização local, individualizando-se, em nível de detalhe, as unidades geológicas que ali ocorrem, bem como, as características geomorfológicas do relevo local. Complementarmente a essa caracterização devem ser avaliadas as fragilidades intrínsecas dos terrenos ali existentes através da identificação e análise dos processos de dinâmica superficial predominantes na área, como por exemplo, erosão, assoreamento, rastejo, etc.” (Marques, et al, 1995: 630).
Outros órgãos importantes como o IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas-SP) e o CEMPRE (Compromisso Empresarial para Reciclagem) no
livro “Lixo Municipal: manual de gerenciamento integrado” (1995: 101-05),
descrevem no tópico sobre estudos para a viabilidade de áreas para instalação de
aterros sanitários, a importância do levantamento dos seguintes aspectos: dados
geológicos-geotécnicos; dados pedológicos; dados sobre o relevo (geomorfológicos);
dados sobre as águas subterrâneas e superficiais; dados sobre a legislação; dados
socioeconômicos.
A paisagem alterada é um espaço produzido, no qual o relevo serve
de suporte físico ou recurso, em que as diferentes formas de ocupação refletem o
momento histórico, econômico e social. Portanto, o relevo e seu modelado
representam o fruto da dinamicidade entre os processos físicos e os agentes sociais
atuantes, que ocorrem de modo contraditório e dialético a partir da análise integrada
14
das relações processuais de uma escala de tempo geológica para a escala histórica ou
humana.
Dessa forma, uma análise da bibliografia geomorfológica que trata
dos diferentes sistemas conceituais ou paradigmas indica que poucos são os autores
que tratam as questões teórico-metodológicas.
O desenvolvimento deste tópico tomou-se por base o trabalho "A
teoria geomorfológica e sua edificação: análise crítica", em que Abreu (1983)
procura fazer uma filogênese das propostas conceituais da Geomorfologia (Figura
3).
Figura 3 . Filogênese da teoria geomorfológica (Abreu, 1983)
15
De acordo com Abreu (1983: 3):
“... a teoria geomorfológica, em um sentido moderno originou-se a partir de duas fontes principais, que embora apresentando interferências uma sobre a outra, evoluem freqüentemente de maneira paralela, convergindo apenas nos últimos trinta anos para a busca de um quadro de referências mais global. O não reconhecimento deste fato cria sérias dificuldades ao estabelecimento de uma epistemologia da geomorfologia atual".
Uma destas fontes tem origem em trabalhos executados por geólogos
e engenheiros europeus e norteamericanos, tendo a publicação "The geographical
cycle" de Willian Morris Davis como o marco fundamental. A outra corrente tem
origem na Alemanha, com uma concepção mais naturalista e global a respeito das
ciências da terra. Pode-se dizer que o início do pensamento geomorfológico foi
marcado, por um lado, pelos reflexos da Revolução Industrial e, por outro, pela
conquista do oeste americano. De certa maneira:
“... se na América do Norte desde cedo valorizaram as observações que vinculam o trabalho dos rios ao modelado do relevo, o que é muito destacado nas pesquisas dos geólogos do século XIX que percorrem as áreas além - Apalaches, na Europa a evolução tem como ponto de partida outro sistema de referências, embora nem por isso se deva negar a participação de engenheiros que também se dedicam ao estudo dos rios e seu comportamento”(Abreu, 1983: 5).
A preocupação dos engenheiros alemães, entretanto, está na
exploração das riquezas carboníferas, a fim de alimentar em fonte de energia as
indústrias do Reich. Portanto, não foram somente as diferenciações fisiográficas que
balizaram os trabalhos dos geógrafos alemães, mas também os aspectos políticos e
econômicos nortearam o pensamento geomorfológico.
O contexto político de definição dos domínios territoriais mundiais
apresentava, no século XIX, uma proximidade de relações econômicas muito grande
entre a Inglaterra e a França com os Estados Unidos. Esta proximidade colocava em
16
constante confronto Berlim e as três capitais ocidentais. É neste momento histórico e
político que nascem duas correntes ou escolas bem definidas: a escola Anglo-
Americana, tendo o geólogo William Morris Davis como o seu fundador,
incorporando autores de expressão inglesa e francesa; e a escola Alemã, com autores
eslavos e escandinavos. A primeira reunia pesquisadores que estudavam, à época,
processos fluviais. A segunda trabalhava mais a dinâmica da natureza vinculada aos
processos climáticos.
2.1.1. A Escola Anglo-Americana
Apoiada no paradigma proposto por Davis em 1899, expresso no
"Ciclo Geográfico do Relevo", a corrente Anglo-americana conseguiu até a II
Grande Guerra, um rápido sucesso no mundo de língua inglesa e francesa.
Apoiado em uma concepção bergsoniana dedutivista, Davis criou
uma teoria a partir das suas observações e da enorme imaginação que tinha.
Para Marques (1995: 31) “...O ciclo geográfico, por ele idealizado,
constitui o primeiro conjunto de concepções que podia descrever e explicar, de
modo coerente, a gênese e a seqüência evolutiva das formas de relevo existentes na
superfície da Terra”
Compreendia Davis que a formação do relevo terrestre se dava a
partir de ciclos de erosão, apresentando etapas que se sucederiam do nascimento à
morte. Tais fases receberam o nome de juventude, maturidade e senilidade (Figura 4
e 5 ).
Entram como fatores principais do ciclo a estrutura geológica, os
processos operantes e o tempo, valorizando-se o aspecto histórico na formação do
modelo. Pode-se dizer que Davis foi o criador da geomorfologia estrutural.
17
Figura 4. Representação gráfica do ciclo davisiano, conforme a adaptação realizada por G. H. Dury. Fonte: Christofoletti (1980:163)
Figura 5. Os três principais estágios do ciclo de erosão. Na juventude, há poucos
tributários e amplos interflúvios; na maturidade, desenvolvimento completo das redes de drenagem; na senilidade, interflúvios extensivamente rebaixados e vales muito largos (adaptado por Trewartha, Robinson e Hammond). Fonte: Christofoletti (1980:162)
18
Uma das principais críticas que a proposta davisiana sofreu decorreu
de considerar como processo de erosão normal o escoamento das águas correntes,
caracterizando a influência do gelo e do vento como processos anormais em
comparação à erosão pela água. Segundo Tricart (1971) apud:
“...Davis havia construído sua doutrina em torno da noção do ciclo de erosão e da erosão normal que agiriam da mesma maneira em todas as regiões do globo. Davis jamais deu a menor atenção à cobertura vegetal. Para ele, o relevo modelava-se da mesma maneira nos desertos do Arizona e nas florestas do Maine. Nenhum de seus esquemas - e eles são numerosos e bem desenhados - mostra a menor moita, o menor tufo de ervas. Para todas as áreas, o agente responsável era o escoamento” (Christofoletti, 1980: 164).
Além das críticas feitas por Tricart (1971), Marques (1995:31)
destaca outros pontos importantes que foram incorporados contra o modelado
proposto por Davis, ou seja, o modelo davisiano foi construído para áreas
temperadas, além disto precisava ter a obrigatoriedade de um rápido soerguimento
precedido de um longo período de estabilidade tectônica do relevo, tendo no seu
ciclo final um equilíbrio dos fatores geomorfológicos (degradação e agradação).
A concepção evolucionista de Davis tem muito presente a perspectiva
darwiniana, que:
“...aportaba una racionalidade general capaz de interpretar positivamente todos los fenômenos del mundo viviente: las nociones de "adaptacion" y de "selección natural", con las referencias analíticas que conllevan respecto a las interrelaciones entre medio natural y funcionamientos de los seres vivos, podían ser aplicadas, en efecto, al estudio de las sociedades humanas"(Mendonza et ali, 1982: 32).
Esta influência marcante, também na Geografia (Ratzel e seus
seguidores), dominou a Geomorfologia davisiana“... que assumiria plenamente los
postulados del evolucionismo, desarrollándolos en un campo, el de las formas de
19
relieve, que se consideraba alejado por su aparente estabilidad del domínio de
aplicación de esos postulados”(Mendonza et al, 1982: 33).
Muitas foram as críticas sofridas, tanto por aquelas vindas de seus
opositores, a exemplo dos alemães - Walter Penck (1939), como de seus seguidores,
que procuraram dar uma outra conotação à teoria davisiana, tais como Arthur
Strahler (1950).
Entretanto, acima de todas as críticas sofridas, a obra do geólogo
William Morris Davis, teve como mérito“...sistematizar a sucessão das formas em
um ciclo ideal e procurar uma terminologia”(Bauling, 1950).
Após a II Guerra Mundial, uma grande parcela dos pesquisadores
americanos passaram a incorporar as críticas e as idéias dos pensadores alemães,
discutidas em um simpósio realizado na cidade de Chicago em 1939.
Como citado anteriormente, seu grande opositor foi Walter Penck que
criticou a proposta davisiana. Basicamente, a partir deste fato, os discípulos de Davis
partiram para uma reformulação teórica e técnica da Geomorfologia Anglo-
Americana. Assim, passaram a valorizar as análises espaciais associadas ao estudo
das bacias de drenagem. É o período da chamada Revolução Quantitativa, que
enfatiza sobremaneira as“...técnicas quantitativas de sofisticação crescente a
serviço de uma análise sistêmica do relevo” (Abreu, 1983: 15).
Alguns autores muito contribuíram para desenvolver esta nova
postura, tais como: Horton (1945), Strahler (1950, 1952, 1954), Crickmay (1959),
Hack (1960) e Chorley (1962). Cabe destacar, nesse momento de ruptura e de
surgimento de novos modelos e paradigmas, os trabalhos de King (1953, 1956,
1967) que, através da teoria da pediplanação, tentou incorporar o modelo penckiano
à proposta de Davis.
A teoria criada por King (pediplanação), apóia-se numa paisagem
composta por muitos pedimentos coalescentes, diferenciando-se do peneplano de
Davis pelo seu caráter multicôncavo e pela presença de relevos residuais em lugar de
formas suaves (Figura 6). Conforme descrição do próprio autor:
20
“...Según nuestro punto de vista, una vez que ha comenzado el ciclo erosivo com la incisión de las- corrientes de água sobre la superfície de un território levantado, de acuerdo con el modelo de Davis, es preciso determinar rigurosamente el valor del rebajamiento de las vertientes mediante el análisis de su inclinación, teniendo en cuenta que tiende a conseguir una pendiente estable (de acuerdo con las condiciones locales) tras el retroceso paralelo a sí mismo de sus partes más destacadas" (King, 1953: 388).
Figura 6. O desenvolvimento das vertentes levando à peneplanização e à
pediplanação. Na parte superior, as vertentes diminuem gradativamente em seu conjunto; na parte inferior, há regressão paralela das mesmas e alargamento contínuo dos pedimentos.
Fonte: Christofoletti (1980:166)
Mesmo que King se apresentasse como uma tentativa de conciliação
entre as tendências apoiadas em Penck e Davis, particularmente nos EUA, alguns
autores passaram a criticar suas idéias. Há, nesse momento, um crescente surgimento
de novos paradigmas.
Thomas Kuhn (1970) considerava esta fase como um período
revolucionário. Este período, chamado de Revolução Quantitativa, começou a
apresentar os modelos estatísticos, dando destaque aos Modelos Integrados em
21
Geografia (Chorley e Hagget, 1974) e Modelos Físicos e de Informação em
Geografia (Chorley e Hagget, 1975).
Trabalhando com a teoria dos Sistemas, John T. Hack (1960) utiliza
as idéias propostas por Grove Karl Gilbert em 1880, amplia esta proposta e formula
uma nova teoria: a do Equilíbrio Dinâmico.
Essa teoria parte do pressuposto de que o modelado terrestre é um
sistema aberto, que mantém constantes trocas de matéria e energia com os demais
sistemas de seu universo. Todos os elementos que compõem uma determinada área
apresentam-se mutuamente ajustados, modificando-se uns aos outros. Tanto as
formas topográficas como os processos atuantes na esculturação do modelado estão
em estado de estabilidade.
Para Christofoletti (1980: 168):
“O estado de estabilidade representa o funcionamento do sistema no momento em que todas as variáveis estão ajustadas em função da quantidade e variabilidade intrínseca da energia que lhe é fornecida".
Assim, caso haja uma alteração no fornecimento de matéria e energia,
o sistema se automodificará, a fim de criar uma nova estrutura, ou seja, chegar a um
novo estado de estabilidade.
Conforme Marques (1995: 33-4) as formas de relevo:
“...passam a representar o resultado contínuo de um ajuste entre o comportamento dos processos e o nível de resistência oferecido pelo material que está sendo trabalhado. As formas deixam de ser algo estático para serem também dinâmicas em suas tendências a um melhor ajuste em sintonia com o modo de atuação dos processos”.
Outra teoria que emergiu a serviço de uma análise sistêmica do relevo
foi a teoria probabilística. Entre os primeiros pesquisadores a utilizarem esta
concepção destacaram-se Luna B. Leopold e W. B. Langbein (1962). De modo
simplificado, esta teoria se baseia na utilização de métodos estatísticos e
22
probabilísticos para o estudo da paisagem como um todo, abordando a sua evolução
através de analogias simples, como a termodinâmica (entropia), ou seja:
“... a entropia de um sistema é função da distribuição da energia disponível dentro do sistema, e não uma função da energia total dentro do sistema. Desta maneira, a entropia relaciona-se com a ordem ou desordem; o grau de ordem ou desordem pode ser descrito em termos de probabilidade ou improbabilidade do estado observado”(Christofoletti, 1980: 172).
Basicamente, todas as teorias surgidas após Davis, principalmente a
teoria do Equilíbrio Dinâmico e a teoria probabilística, criaram uma nova fase para a
Geomorfologia Anglo-americana.
Para Marques (1995:35), o papel da quantificação em direção à
morfometria, associado à facilidade de obtenção de dados, tem auxiliado na maior
utilização da matemática e da estatística, em que “...as novas concepções teóricas
tem estimulado o desenvolvimento de estudos que valorizam trabalhos vinculados à
alometria (proporcionalidades de natureza geométrica) e à topologia (arranjos em
formas de distribuição)”.
Entretanto, no dizer de Abreu (1983: 16) acabaram caindo em casos
extremos de formulações e modelos "... em grande parte estéreis e de aplicação na
melhor das hipóteses, pelo menos duvidosa".
A postura de Mosley e Zimpfer (1976) e Thornes e Brunsden (1977),
na tentativa de libertar-se de conceitos anteriores...:
“...é, de certa forma, uma atitude de reflexão conciliadora, que a rigor não introduz novos paradigmas, mas que, todavia, procura reinterpretar os anteriores segundo uma posição crítica mais liberta de preconceitos, tendo os problemas de escala com baliza de referência e voltando a revalorizar as observações de campo, em boa parte eclipsadas no bojo das posturas que privilegiavam a quantificação a partir de dados obtidos, geralmente, de cartas topográficas, fotos aéreas e anuários estatísticos" (Abreu, 1983: 18).
23
E que foram característicos da Geomorfologia no auge da
matematização.
A Geomorfologia de origem Anglo-Americana passou, portanto, por
profundas modificações, principalmente com a introdução da quantificação.
Analisemos agora como se deu a evolução da escola alemã e seus principais
precursores.
2.1.2. A Escola Alemã
Enquanto a Geomorfologia Anglo-Americana teve Davis como o
grande mentor durante vários anos, a escola Alemã teve Von Richthofen e Albrecht
Penck como os pais da Geomorfologia de língua germânica. Entretanto, pode-se
dizer que a Geomorfologia alemã, teve com Von Richthofen o referencial inicial,
através do trabalho "Fuhrer fur Forschungireisende2" de 1886. Ele teve, como
predecessores, vários pesquisadores naturalistas, inclusive Goethe como seu ponto
de referência.
A herança recebida dos filósofos e naturalistas - Goethe e Humboldt -
levou Richthofen a analisar os fenômenos sob a ótica da observação, relacionando a
Geomorfologia com a Petrografia, a Química do Solo, a Hidrologia e a
Climatologia. Considerava que a ciência geográfica deveria apresentar uma
articulação harmônica entre três níveis metodológicos: o descritivo, o corológico e o
de abstração.
Quanto a Albrecht Penck, sua principal obra foi "Morphologie der
Erdoberflasche3" (1824), cuja importância foi a de sistematizar teorias e classificar
formas de relevo.
Tanto Von Richthofen como Albrecht Penck direcionaram os
trabalhos da Geografia alemã durante mais de meio século. Esta influência
certamente foi responsável pela pouca penetração da proposta davisiana,
2 Significa “Guia para o explorador”. 3 Significa “Morfologia da Superfície Terrestre”.
24
principalmente em um momento histórico, no qual a ascensão prussiana era
evidente, gerando uma onda de nacionalismo muito grande.
Albrecht Penck, em contraposição a Davis, apresentou em 1912 uma
proposta de classificação climática baseada na fisiografia, ou seja, ele procurava
estabelecer uma relação entre as formas de relevo e os cinturões climáticos do
planeta. Em síntese, Albrecht Penck estudava a superfície terrestre pelas diferentes
atuações do clima. Neste estudo a paisagem é distinguida pelas regiões climáticas, e
a precipitação dá a forma de como o clima atua na superfície terrestre.
Esse trabalho muito contribuiu para concretizar a postura
predominante na Europa Centro-Oriental e, também, para o surgimento da
Geomorfologia Climática, que basicamente direcionou as novas propostas teóricas
que surgiam. O principal conceito-chave desta transformação foi a noção de
paisagem (landschaft), que para os alemães mantém uma visão de conjunto do meio
natural. O conceito de paisagem para os alemães é compreendido como ...:
“...un objeto concreto, directamente observable, compuesto por elementos diversos más o menos variados. Constituye así un marco para conectar observaciones realizadas por distintas ramas o subramas de la ciencia y de este modo puede establecer un enlace entre ellas, contrarrestando los incovenientes de una atomización del conocimiento derivada de un desarrollo unilateral del análisis” (Tricart, 1982: 471).
Destaca-se nesse momento Sigfried Passarge com um conjunto de
obras, das quais se destaca "Morfologia das zonas climáticas ou morfologia da
paisagem?" de 1926. Neste último trabalho, Passarge analisa a morfologia terrestre a
partir da divisão das zonas climáticas, divididas conforme três fatores climáticos:
temperatura, precipitação e umidade.
O relevo seria o resultado de uma sucessão de condições climáticas
necessariamente diferentes do período atual. Basicamente, o período em que
ocorreram essas grandes modificações na morfologia terrestre foi para Passarge o
Quaternário, quando se deram as últimas glaciações.
25
No atual período, as condições climáticas diferentes, comparadas às
dos períodos passados, permitem encontrar paleo-formas escondidas sob um manto
de cobertura vegetal. Foi Passarge quem resgatou o termo Paisagem, trabalhando
com uma postura mais global, quanto às formas de relevo, e ligada a uma visão
geográfica.
Outro autor a se destacar é Walter Penck, apresentando-se como um
dos principais opositores das idéias propostas por Davis. Foi no trabalho "Die
Morphologische Analyse" (1924), que Walter Penck contrapôs-se à sucessão
progressiva e irreversível, ou seja, à de formação seguida de erosão de William
Morris Davis.
Naquele trabalho "... defendeu as interferências entre movimentos
contínuos da crosta terrestre e a ação das forças exógenas: o relevo deve ser
analisado sob todos os processos internos e externos, considerados na sua evolução
histórica" (Amaral, 1965: 8; 9).
Na opinião de Bigarella et al (1965: 89), expressa no artigo
Considerações a respeito da evolução das vertentes “...Penck teve o mérito de ter
chamado a atenção para as vertentes como unidades básicas através das quais se
faz a evolução da paisagem”.
Para Ross (1996: 307-08), Walter Penck tem o mérito de ter
desenvolvido uma fundamentação teórico-metodológica, que até o momento atual é
balizadora das pesquisas geomorfológicas.
Compreende que o entendimento das formas de relevo presente é
fruto do antagonismo entre as forças endógenas (abalos sísmicos; vulcanismos;
dobramentos; afundamentos e soerguimentos das plataformas; falhamentos e
fraturamentos), e exógenas (ação climática local, regional e zonal; processo de
meteorização; erosão e transporte de base rochosa; ação do vento e ação da água)
(Figura 7).
26
Figura 7. Elaboração do ciclo de acordo com Penck (adaptado por Dury a partir das
obras de Von Engehn e de Wooldrédge e Morgan). Fonte: Christofoletti (1980:166)
Walter Penck foi muito criticado pelos seus seguidores, pois seu
esquema explicativo da evolução da paisagem, tendo as vertentes como unidade
base, era por demais dedutivo e teórico, de difícil aplicação na prática. Entretanto,
seus estudos foram retomados por Gerassimov (1946, 1968) e Mescerjakov (1968),
que os utilizaram para desenvolver uma análise morfoestrutural e morfoescultural do
relevo, além de pesquisas correspondentes à Cartografia Geomorfológica. Ross
(1996: 308-09) explica que...:
“...todo o relevo terrestre pertence a uma determinada estrutura que o sustenta e mostra um aspecto escultural que é decorrente da ação do tipo climático atual e pretérito, que atuou e atua nessa estrutura. Deste modo, a morfoestrutura e a morfoescultura definem situações estáticas, produtos da ação dinâmica do endógeno e do exógeno”.
27
Mesmo com o problema da barreira lingüística, outros autores
destacados por Abreu (1983), utilizaram-se dos conceitos penckianos: Mescerjakov
(1968), Basenina e Trescov (1972) e Basenina, Aristarchova e Tukasov (1976).
É importante citarmos, entre tantos outros, a influência que André
Cholley exerceu nas obras de vários geógrafos, através do conceito de sistema de
erosão. No trabalho intitulado “Morfologia Estrutural y Morfologia Climatica”,
Cholley (1982: 372-76), apresenta uma síntese de sua compreensão sobre a evolução
do modelado terrestre. Ele explica que não existem duas morfologias; somente uma,
e sua gênese está ligada à ação dos fatores de erosão determinados pelo clima. Este,
quando atuante, coloca em funcionamento um complexo de agentes e fatores
combinados como um sistema de erosão.
Para Cholley (1982: 376), o termo erosão corresponde a um sistema
de fatores ligados de diversas formas, no qual a “...morfología deriva de un sistema
de erosión determinado por el clima y que se ejerce sobre territorios y relieves
diversos como consecuencia de la estructura y la tectónica”.
Tricart (1982) foi um dos geógrafos mais influenciados pelas
concepções de André Cholley. O seu grande mestre, como ele o classificava, não
recebeu merecido reconhecimento da comunidade científica francesa, por ter criado,
antes da Segunda Guerra Mundial,...:
“...el concepto de sistema de erosión. Sin duda, el término erosión es desafortunado y se explica por las impregnaciones davisianas que durante demasiado tiempo han infectado la atmósfera en Francia. Nosotros lo hemos eliminado al transformar la expresión en sistemas morfogenéticos, que engloban tanto el accionamiento como el transporte y la acumulación, los cuales no son sino tres aspectos de un mismo fenómeno, de un mismo flujo” (Tricard, 1982: 473).
Ainda dentro da perspectiva sistêmica, salientamos os trabalhos
desenvolvidos pelos soviéticos, em especial V. B. Sochava, que dedicou-se à noção
de geossistema. Esta concepção de análise da paisagem...:
28
“... deve estudar, não os componentes da natureza, mas as conexões entre eles; não se deve restringir à morfologia da paisagem e suas subdivisões mas, de preferência, projetar-se para o estudo de sua dinâmica, estrutura funcional, conexões, etc." (Sochava, 1977: 1).
Como se pôde observar, os referenciais teóricos e metodológicos
entre as escolas Anglo-Americana (Geomorfologia Estrutural) e a Alemã
(Geomorfologia Climática), apresentam uma grande diferenciação.
Assim, pode-se dizer que a trajetória de construção do pensamento da
Escola Alemã sempre esteve associado à compreensão da dinâmica da natureza,
tendo como um dos conceitos integradores o conceito de paisagem.
Portanto, a origem da preocupação ambiental, dentro da
Geomorfologia, está mais associada à linha do pensamento alemão.
No caso do Brasil, conforme o momento histórico, ambas as escolas,
tanto a do pensamento geomorfológico anglo-saxônico e a do alemão, exerceram
forte influência nos programas curriculares dos cursos de Geografia no Brasil, que
será analisada a seguir.
2.1.3. A Geomorfologia no Brasil – sucinta análise evolutiva
Como foi dito no início desse tópico, poucos são os trabalhos
elaborados que tratam da evolução do pensamento geomorfológico.
No Brasil, são raros os autores que se dedicam a fazer um estudo mais
detalhado sobre a teoria geomorfológica. Isto exigiria uma análise mais detalhada da
bibliografia, o que nem sempre é possível, devido à dispersão dos trabalhos
elaborados.
Para essa etapa, destacam-se entre outros, dois trabalhos: A
Geomorfologia no Brasil (Ab´Saber, 1958) e As tendências atuais da Geomorfologia
no Brasil (Christofoletti, 1977). Citam-se estas duas obras, porque ambas
conseguem sistematizar, através do tempo, as principais pesquisas feitas na área no
país.
29
De acordo com Ab´Saber (1958: 1-8), a história dos estudos sobre o
relevo brasileiro apresenta três grandes períodos:
a) período dos predecessores (1816-1910) - Constitui o período em
que os viajantes e naturalistas, em sua maioria geólogos, percorrem o território
nacional, desenvolvendo estudos e escritos. A principal obra que retrata o relevo
brasileiro está inserida na obra Geographia do Império do Brasil de Orville Adalbert
Derby, publicada em 1884;
b) período dos estudos pioneiros (1910-1940) - trata-se da fase dos
estudos pioneiros, tendo como precursores entre outros, Miguel Arrojado Ribeiro
Lisboa, que estuda o oeste paulista e o sul do Mato Grosso (1909), e Roderic
Crandall que analisa o nordeste oriental brasileiro (1910).
É o período em que se tentou aplicar, pela primeira vez, as idéias de
Davis no Brasil. É quando Euclides da Cunha (1909), na introdução do artigo "Rios
em abandono", procurou colocar em prática a teoria do ciclo de erosão normal na
bacia do rio Purus. Também é neste momento que os autores brasileiros passam a
utilizar o termo Geomorfologia. Ele surge no estudo de Luiz Flores de Moraes Rego
sobre a Geologia do petróleo no estado de São Paulo (1930);
c) período da implantação das técnicas modernas (1940-) - Começa
com a criação das primeiras Faculdades de Filosofia no país, com o surgimento da
Associação de Geógrafos Brasileiros e do Conselho Nacional de Geografia. Dois
pesquisadores influenciam muito este período: Emmanuel de Martonne (1940) que
escreve sobre os problemas morfológicos do Brasil Tropical Atlântico e Francis
Ruellan, como orientador de vários trabalhos aqui elaborados. Nesse período,
surgem pesquisadores como Orlando Valverde, João José Bigarella, Aziz Nacib
Ab´Saber, Antônio Teixeira Guerra, Manoel Corrêa de Andrade, entre outros.
Christofoletti (1977: 35-91), no trabalho "As tendências atuais da
Geomorfologia no Brasil", dá ênfase às duas últimas décadas (50 e 60), procurando
destacar os principais pesquisadores brasileiros, tomando por base o período de
implantação dos cursos de Geologia (1957/1958) e o surgimento da revista Notícias
Geomorfológicas (1958).
30
O autor apresenta como principais contribuições à abordagem cíclica
e morfoestrutural os trabalhos de Ab´Saber (1960;1966, 1969) e Bigarella (1961),
ambos sobre as superfícies aplainadas brasileiras; os de Christofoletti e Queiroz
Neto (1961) sobre a Serra de Santana; os de Penteado (1968), que estudou as
implicações tectônicas na gênese de cuestas da Bacia de Rio Claro; e os de Abreu
(1973), pesquisando os rebordos de maciços antigos em contato com bacias
sedimentares, etc.
Quanto às contribuições relacionadas à Geomorfologia Climática, que
procuram caracterizar as áreas morfoclimáticas e as oscilações climáticas recentes
no território brasileiro, destaca-se Tricart (1959) e seus estudos sobre o Brasil
Atlântico Central, posteriormente desenvolvidos por Ab´Saber e Bigarella; Ab´Saber
(1966, 1967, 1970, 1973), com trabalhos que analisam os diversos domínios
morfoclimáticos e Bigarella (1964, 1971), com pesquisas referentes as oscilações
climáticas recentes, entre outros.
É importante mencionar, ainda, autores que apresentaram
contribuições relacionadas com o Quaternário, com estudos feitos sobre a
Morfologia do litoral e da plataforma litorânea; com a Geomorfologia Fluvial; com
os estudos regionais de áreas pequenas; contribuições relacionadas com vertentes,
processos morfogenéticos e morfologia Cárstica; com a Geomorfologia Aplicada e
mapeamentos geomorfológicos.
Conforme Marques (1995: 38), será no final dos anos 60 e início dos
anos 70, que a Geomorfologia brasileira incorporará os postulados da Teoria Geral
dos Sistemas, principalmente a partir dos trabalhos desenvolvidos por Christofoletti
(1974) com o livro “Geomorfologia”. Neste mesmo ano, Penteado (1974) lança o
livro “Fundamentos de Geomorfologia”, que viria a se tornar, junto com o de
Christofoletti (1974), uma das principais obras didáticas no ensino de
Geomorfologia.
Cabe ainda destacar o projeto RADAMBRASIL, publicado pelo
IBGE e elaborado pelo Ministério das Minas e Energias, que ao abranger todo o
território nacional, realizou levantamentos de recursos naturais que envolveram os
31
seguintes tópicos: Geologia, Geomorfologia, solos, vegetação e uso potencial do
solo.
A fim de estabelecer uma relação da influência, que tanto os
pensadores da escola Anglo-americana como os da Alemã tiveram no Brasil, pode-
se destacar dois centros tradicionais de pesquisa e que caracterizam bem esta
distinção:
- Instituto de Geociências e Ciências Exatas da Universidade Estadual
Paulista em Rio Claro-SP, através dos trabalhos do Professor Antônio Christofoletti.
Deste autor podem-se citar: "Análise topológica de redes fluviais" (Christofoletti,
1973); "Estudos sobre a forma de Bacias Hidrográficas" (Christofolettie Filho,
1975); "Capacidade e Competência no transporte fluvial" (Christofoletti, 1976); "A
significância da densidade de drenagem para a análise geomorfológica"
(Christofoletti, 1983) que são exemplos de análises feitas sob a perspectiva
quantitativa de influência anglo-americana;
- e o Instituto de Geografia da Universidade de São Paulo, ligado em
grande parte à escola germânica e tendo como um dos principais pesquisadores Aziz
Nacib Ab´Saber, cujos principais trabalhos são: "O Domínio Morfoclimático
Amazônico" (Ab´Saber, 1966); "Superfícies Aplainadas e Terraços na Amazônia"
(Ab´Saber, 1966); "Uma gruta de abrasão interiorizada nos arredores de Torres, Rio
Grande do Sul "(Ab´ Saber, 1969); "Províncias Geológicas e Domínios
Morfoclimáticos no Brasil" (Ab´Saber, 1970); "Domínios Morfoclimáticos Atuais e
Quaternários na região dos Cerrados" (Ab´Saber, 1982), entre outros, que expressam
a influência da escola alemã.
Passadas as últimas décadas de pesquisa, atualmente o que se pode
observar nos trabalhos publicados independentes das correntes de pensamento, é
uma maior preocupação com as questões ambientais em relação aos estudos que
enfocam somente a dinâmica da natureza.
Neste aspecto concordamos com Suertegaray (1997), quando diz que
durante muito tempo a Geomorfologia se preocupou com o estudo dos processos
geomórficos, tomando como base as pesquisas sobre os depósitos correlativos na
32
perspectiva clássica e temporal ( Walter Penck, 1910). Esta concepção prestigiou a
análise da dinâmica de formação da natureza, por intermédio dos processos naturais.
Esta mudança pode ser observada nos diversos trabalhos que vêm
sendo desenvolvidos nos últimos anos, com um cunho mais sócio-ambiental e
ecológico. No dizer de Cunha e Guerra (1996: 341) sobre estas preocupações:
“A Geomorfologia Ambiental tem como tema integrar as questões sociais às análises da natureza. Deve incorporar em suas observações e análises as relações político-econômicas, importantes na determinação dos resultados dos processos e mudanças”.
Entre tantos trabalhos destacam-se: "A participação da
Geomorfologia nos Diagnósticos Ambientais" e “Geomorfologia, Ambiente e
Planejamento” (Ross, 1989 e 1991); "Algumas Considerações Hidrodinâmico-
Ambientais em Goiânia-GO” e “Elementos de Geomorfologia” (Casseti, 1989 e
1994); “A Trajetória da Natureza: Um Estudo Geomorfológico Sobre os Areais de
Quaraí-RS” (Suertegaray, 1987); etc, que são exemplos desta temática.
No trabalho "A participação da Geomorfologia nos Diagnósticos
Ambientais", Ross (1989) mostra a importância da análise geomorfológica como
instrumento de estudo do ambiente natural e do alterado pela ação antrópica.
Este autor discute a necessidade de uma maior compreensão, por
parte dos profissionais atuantes em Geomorfologia, das metodologias e teorias
propostas no decorrer da história da ciência geomorfológica. Por fim, propõe uma
cartografação alternativa do meio físico, a fim de estabelecer prognósticos, diretrizes
de uso do solo e planejamento territorial, com vistas a que sejam tomadas medidas
preventivas e ou corretivas para com o meio ambiente.
Com referência ao trabalho elaborado por Casseti (1989) “Estudo dos
efeitos morfodinâmicos pluviais no planalto de Goiânia: uma análise quantitativa de
resultados experimentais”, o autor apresenta problemas resultantes do aumento de
escoamento das águas, ocasionado pela crescente impermeabilização do solo, que
acaba gerando processos erosivos do tipo ravinamentos e voçorocamentos.
33
O autor aborda como a principal causa das alterações hidrodinâmicas
das vertentes e, conseqüentemente, dos cursos d´água, a expansão do próprio sistema
capitalista, que transforma o espaço-social em espaço-mercadoria. Outro fato
ambiental comentado é relativo às disritmias pluviométricas e térmicas, derivadas
também do acelerado crescimento urbano, evidenciado em Goiânia-GO.
Quanto ao trabalho feito por Suertegaray (1987) “A Trajetória da
Natureza: Um Estudo geomorfológico Sobre os Areais de Quaraí-RS”, esta tese faz
uma análise geomorfológica, geológica e climática a respeito do fenômeno da
arenização, estabelecendo uma seqüência evolutiva dos processos morfogenéticos
atuantes, denominados de feições de degradação (ravinas e voçorocas). Sem se
dissociar da abordagem geográfica, ela identifica, no estudo do território (Campanha
Gaúcha), as inter-relações socio-ambientais existentes entre os agentes sociais
atuantes, e a sua participação na construção da paisagem.
Tratando específicamente sobre Geomorfologia, os professores
Antônio José Teixeira Guerra e Sandra Baptista da Cunha da UFRJ (organizadores),
auxiliados por equipes multidisciplinares formadas por profissionais de diversas
áreas, elaboraram manuais/livros de Geomorfologia, que tratam desde aspectos
teórico - metodológicos até aplicações de ordem técnica, apresentando soluções para
o enfrentamento de determinadas situações provocadas pela ação antrópica na
paisagem. São os seguintes livros: “Geomorfologia – uma atualização de bases e
conceitos” (Guerra e Cunha, 1995); “Geomorfologia – exercícios, técnicas e
aplicações” (Guerra e Cunha, 1996); “Geomorfologia e meio ambiente” (Guerra e
Cunha, 1996) e “Geomorfologia do Brasil” (Guerra e Cunha, 1998).
As novas abordagens geomorfológicas caminham atualmente para a
interdisciplinariedade entre as ciências da Terra, sociais e biológicas. Neste sentido,
Suertegaray (1997) apresenta alguns trabalhos que vêm servindo como vetores
metodológicos para uma nova abordagem geomorfológica, ou seja:
- o relevo não é visto somente sob a perspectiva natural, mas também
pelas formas de ocupação e de apropriação da sociedade (Casseti, 1991);
34
- pela ótica da transformação da dinâmica da paisagem no transcorrer
do tempo geológico e histórico, sendo esta paisagem incorporada ao processo
produtivo dominante (Suertegaray, 1992);
- ou estudado na perspectiva de avaliação de riscos à população
decorrentes de processos que causem impactos socio-ambientais (De Mauro, 1995)
etc.
Em todas as abordagens citadas, observa-se a importância que a ação
dos agentes sociais representa, sendo caracterizada como um fator geomorfológico
preponderante na formação de novas formas de relevo, bem como na construção das
paisagens geográficas. Nesse sentido, faz-se necessário discutir a importância do
conceito de paisagem dentro da Geografia e como esta é apropriada como área/local
de despejo de resíduos sólidos urbanos e ou depósitos tecnogênicos. Cabe destacar,
que o conceito de paisagem (landschaft) que está sendo utilizado nesta pesquisa, foi
extraído dos referenciais teóricos da Escola Alemã.
2.2. O conceito de paisagem e sua relação com os depósitos tecnogênicos
Como foi discutido anteriormente a respeito da Escola Alemã, o
conceito de paisagem foi desenvolvido cientificamente pelos geógrafos alemães
desde meados do final do século XIX, como sendo um objeto concreto,
perfeitamente observável, que mantém uma visão de unicidade e conjunto dos
elementos e fatores que envolvem o meio natural.
No início, o conceito de paisagem surge na Geografia com uma forte
base vinda dos naturalistas, como é o caso de Humboldt. Com o passar do tempo o
conceito incorporou elementos não somente naturais mas também de ordem
antrópica.
Com uma proposta conceitual voltada para o estudo da paisagem,
dando ênfase aos problemas de ordenação ambiental do espaço, Carl Troll (1950) no
artigo "A paisagem geográfica e sua investigação", o autor caracterizou a paisagem
como o local onde se expressam todos os fenômenos observáveis da superfície
35
terrestre, sendo o espaço a sua unidade. A paisagem é concebida como uma unidade
orgânica, que deve ser estudada no seu ritmo temporal e espacial.
Também com estas preocupações, podemos citar os trabalhos
produzidos por Jean Tricart e Georges Bertrand.
Tricart (1953), no texto "A Geomorfologia e o Pensamento Marxista",
preocupado com as questões político-ideológicas, propõe que os geomorfólogos
reavaliem suas posições teóricas, objetivando transformar a Geomorfologia em uma
ciência voltada para os problemas ambientais e sociais.
Posteriormente, em uma outra fase, Tricart (1977), utilizando os
pressupostos teóricos da Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig von Bertalanffy
(1973), elabora o conceito de Ecodinâmica.
Para o autor, o principal responsável pela formação dos meios
morfodinâmicos está no balanço energético entre a atuação dos processos
pedogenéticos e morfogenéticos. Dependendo dos agentes naturais e antrópicos
atuantes, teremos três meios: os estáveis, os intergrades e os instáveis.
Neste contexto, a Geomorfologia forma parte do estudo integrado do
meio natural, incluindo desde a estrutura geológica até os seres vivos.
Nessa mesma linha de raciocínio, Bertrand (1982) expõe no artigo
"La Ciencia del Paisaje una ciencia diagonal", a necessidade de estudar a paisagem,
não abordando apenas os aspectos dos sistemas de erosão passados e atuais, mas a
influência que a ação antrópica vem acarretando na face da Terra. Propõe também o
estudo integrado com a história, a economia e a sociologia, tentando resgatar a
interdisciplinariedade entre as ciências, pois, para o autor, a Geomorfologia não
poderia ficar fora das discussões políticas e ambientais.
Bertrand (1982: 466) faz uma crítica ao descaso com que os cientistas
tratam o meio ambiente, principalmente quanto ao objeto paisagem. As
transformações que estão ocorrendo no meio físico têm evoluído mais depressa que
as ciências que o estudam. Por isso a paisagem compreendida como uma porção do
espaço material deve receber um tratamento científico próprio.
Portanto, a ciência da paisagem, na concepção de Bertrand (1982:
469), é definida como:
36
“...el estudio de los paisajes actuales en sí mismos y por sí mismo, sin que la acción antrópica sea más que un elemento entre otros dentro de la combinación ecológica. (...). Pero la ciencia del paisaje es también, y al mismo tiempo, una disciplina antropocéntrica”.
Em outro artigo, “Paisaje y Geografia Fisica Global”, Bertrand (1982:
462) destaca que a compreensão da paisagem não deve ser tomada somente pelos
seus atributos naturais, mas também por uma concepção de paisagem total, onde
incluem as ações antrópicas. Neste aspecto, a paisagem...:
“...no es simplemente la suma de unos elementos geográficos incoherentes. Es el resultado, sobre una cierta porción de espacio, de la combinación dinâmica y, por lo tanto, inestable, de elementos físicos, biológicos y antrópicos que interactuando dialécticamente los unos con los otros hacen del paisaje un conjunto único e idisociable en continua evolución. La dialéctica tipo-individuo constituye el fundamento del método de investigación”.
Posteriormente, em entrevista dada à Revista Geosul (1998: 149),
Georges Bertrand, entre tantas idéias discutidas, reafirma a importância do estudo da
paisagem como um instrumento não apenas científico, como também de diálogo,
pois a paisagem é heterogênea e diversificada. Ela é o local onde as pessoas vivem e
se identificam, e onde estão seu patrimônio, sua identidade e suas histórias.
De acordo com o que foi exposto, toma-se como principal referencial
teórico e metodológico a forma de abordagem trabalhada por Suertegaray (1992),
porque se entende que a construção da paisagem é realizada a partir da relação
histórico - dialética, em que ocorrem a continuidade e as descontinuidades no
processo de estruturação do território. Deste modo, consideramos que a apropriação
da paisagem ocorre de modo desigual, combinado e contraditório; ou seja, neste
processo, devido à sua dinamicidade atual, o tempo da morfodinâmica passa a ter
mais importância que o tempo da morfogênese. Além disto, ocorre uma valorização
37
da noção de tempo presente, associado a noção de escala histórica, sobrepondo-se a
noção de tempo profundo ou escala geológica.
Neste sentido, os depósitos de resíduos sólidos urbanos são resultados
do acúmulo de detritos em um determinado espaço e tempo, gerando sérios
problemas sócio-ambientais na paisagem urbana.
No trabalho “Geomorfologia: Novos Conceitos e Abordagens”,
Suertegaray (1997), discute as diversas concepções teórico-metodológicas existentes
na Geomorfologia. Nele, o autor enfoca a importância do estudo da dinâmica do
relevo sob a perspectiva antrópica, a partir dos conceitos de Tecnogênico e Quinário.
O primeiro refere-se aos depósitos resultantes da atividade humana, e
o segundo significa o período em que o homem passa qualitativamente a
desenvolver atividades que superam as intensidades dos processos naturais,
provocando desequilíbrios nos meios biológicos.
Outro autor a discutir o assunto é Peloggia (1998: 34), que, citando
Oliveira (1990), define o período do Quinário e ou Tecnógeno como “...o período
em que a atividade humana passa a ser qualitativamente diferenciada da atividade
biológica na modelagem da Biosfera, desencadeando processos (tecnogênicos)
cujas intensidades superam em muito os processos naturais”.
Com referência às áreas urbanas, em que os solos são altamente
influenciados pela atividade antrópica, Peloggia (1998: 73-4), citando Fanning e
Fanning (1989), classifica os depósitos tecnogênicos urbanos, conforme o seu
material constituinte, em quatro categorias. São elas:
“1 – Materiais “úrbicos” (do inglês urbic): trata-se de detritos
urbanos, materiais terrosos que contêm artefatos manufaturados pelo homem
moderno, freqüentemente em fragmentos, como tijolos, vidros, concreto, asfalto,
prego, plástico, metais diversos, pedra britada, cinzas e outros, provenientes, por
exemplo, de detritos de demolição de edifícios.
2 – Materiais “gárbicos” (do inglês garbage): são depósitos de
materiais detríticos com lixo orgânico, de origem humana e que, apesar de conterem
artefatos em quantidades muito menores que a dos materiais úrbicos, são
38
suficientemente ricos em matéria orgânica para gerar metano em condições
anaeróbicas.
3 – Materiais “espólicos” (do inglês spoil): materiais terrosos
escavados e redepositados por operações de terraplenagem em minas a céu aberto,
rodovias ou outras obras civis. Incluiríamos aqui, também, os depósitos de
assoreamento induzidos pela erosão acelerada. Seja como for, os materiais contêm
muito pouca quantidade de artefatos, sendo assim identificados pela expressão
geomórfica “não natural”, ou ainda por peculiaridades texturais e estruturais em
seu perfil.
4 – Materiais “dragados”: materiais terrosos provenientes da
dragagem de cursos d’água e comumente depositados em diques, em cotas
topográficas superiores às da planície aluvial”.
Com base nesta discussão, entende-se que os depósitos de lixo urbano
produzidos pela sociedade, encaixam-se no conceito de depósitos tecnogênicos.
Para Oliveira e Queiroz Neto (1993), os depósitos tecnogênicos, são
resultantes da atividade humana, abrangem “...tanto os depósitos construídos, como
os aterros de diversas espécies, quanto os depósitos induzidos, como os corpos
aluvionares resultantes de processos erosivos, desencadeados pelo uso do solo”
(Suertegaray, 1997). Ou, ainda, no dizer de Suertegaray (1997), o termo tecnogênico
serve “para indicar formações sedimentares novas, resultantes de fases mais atuais
da tecnificação da sociedade”.
Conforme Peloggia (1998:20), as formações sedimentares
tecnogênicas apresentam duas categorias genéricas: as “... formas criadas ou
construídas (como aquelas resultantes de terraplanagem) e formas induzidas (como
as resultantes da erosão acelerada)”.
Para este trabalho, entende-se que, na compreensão dos processos
responsáveis pela construção da paisagem, não se deve abordar somente a
caracterização dos depósitos correlativos existentes (depósitos coluviais, eluviais,
etc.), mas, também, os relevos onde estão localizados antigos depósitos construídos
do tipo depósitos de lixo, de aterros controlados e aterros sanitários.
39
Portanto, é no relevo, principalmente nas cidades, que os agentes
sociais através das suas atividades produtivas, têm causado as maiores agressões.
Esta questão será analisada a seguir.
2.3. A Produção das Cidades e o Destino dos Resíduos Sólidos Urbanos
O presente tópico tem por objetivo discutir a produção e a
transformação da natureza nas cidades, a partir da apropriação do relevo pelos
diversos agentes sociais que interagem dialeticamente no espaço geográfico. Uma
das apropriações do relevo é feita através da escolha de áreas para a construção de
aterros sanitários, que servirão como locais para a deposição dos resíduos sólidos
urbanos produzidos nas cidades. É necessário compreender que o aumento da
produção de resíduos sólidos urbanos está intimamente ligado ao desenvolvimento e
ao crescimento das cidades, onde o processo de industrialização abarcado pelo modo
de produção capitalista se deu com muito mais ênfase.
A produção da cidade perpassa por várias esferas de análise: o
político, o econômico, o cultural, o social e o ambiental. Sua base física está
estruturada a partir de um relevo, que é apropriado de forma desigual e combinada.
Sobre esse relevo, a sociedade composta pelos agentes sociais que lhe
dão dinamicidade, edifica suas realizações materiais (estradas, prédios, canalizações
de córregos, etc), que se transformam nas rugosidades temporo-espaciais (Santos,
1996: 203-12); ou seja, a produção do espaço físico das cidades é, ao mesmo tempo,
a produção de natureza transformada e modificada pelo jogo de interesses públicos e
privados que constroem, destroem e reconstroem novos espaços sociais.
Nas cidades, a apropriação da chamada natureza primária em segunda
natureza ou transformada se intensificou a partir do processo de urbanização,
precedido de uma intensa industrialização, que culminou na chamada sociedade
urbana. Conforme Lefebvre (1999:15), sociedade urbana é “...a sociedade que nasce
da industrialização. Essas palavras designam, portanto, a sociedade constituída por
esse processo que domina e absorve a produção agrícola”.
40
Historicamente, as cidades apresentavam outras configurações
geoeconômicas e políticas, anteriores as atuais cidades contemporâneas; existiam as
chamadas cidades políticas e as medievais (Lefebvre, 1999: 21-8); já a cidade
contemporânea sobre a égide do sistema capitalista cria a chamada “sociedade
burocrática de consumo dirigido” (Lefebvre, 1999:16). Esta é formada por vários
agentes sociais, que, dialeticamente, confrontam-se, interagem, dissipam-se e lutam
por espaços de poder. Neste processo, apresentam-se:
“...classes ou frações de classes dirigentes, que possuem o capital (os meio de produção) e que geram não apenas o emprego econômico do capital e os investimentos produtivos, como também a sociedade inteira, com o emprego de uma parte das riquezas produzidas na “cultura”, na arte, no conhecimento, na ideologia. Ao lado, ou antes, diante dos grupos sociais dominantes (classes e frações de classes), existe a classe operária: o proletariado, ele mesmo dividido em camadas, em grupos parciais, em tendências diversas, segundo os ramos da indústria, as tradições locais e nacionais”(Lefebvre, 1991: 14).
A luta por espaços de poder está inserida na divisão social e técnica
do trabalho manual e intelectual. Na chamada sociedade burocrática de consumo
dirigido, que é intermediada pelo capital, o solo urbano passa a ser apropriado de
forma desigual, como uma mercadoria que tem valor de uso e de troca.
A produção cada vez maior de mercadorias, a partir da apropriação
dos recursos da natureza, tem o objetivo de servir e abastecer os mercados
consumidores de produtos e serviços, que se concentram, em sua maioria, nos
grandes centros urbanos. Este aumento da produção e consumo da natureza vem
suprir as necessidades mercadológicas da também chamada sociedade do descartável
(Rodrigues, 1998: 206). Para isso, é preciso que ocorra a produção de excedentes de
produtos e mercadorias, ou seja:
“...a produção da vida material não é apenas uma atividade natural, na qual a natureza supre o sujeito, objeto e instrumento de trabalho. Em uma economia de troca, a apropriação da natureza cada vez mais é regulada por firmas e instituições
41
sociais e, destarte, os seres humanos começam a produzir mais do que o suficiente para sua subsistência” (Smith, 1988: 77).
Para o sistema capitalista, a apropriação da natureza como um recurso
é parte substancial da sua própria reprodução e sobrevivência. Nesse sentido, as
cidades são o locus de ampliação e transformação da natureza a partir do processo de
intervenção na sua dinâmica temporal e espacial. Assim, conforme descreve Smith
(1988: 87-88):
“...A reprodução da vida material fica totalmente dependente da produção do valor excedente. Para este fim, o capital se volta para a superfície do solo em busca dos recursos materiais; a natureza torna-se um meio universal de produção, de modo que ela não somente provê o sujeito, o objeto e os instrumentos de produção, mas ela é em sua totalidade um acessório para o processo de produção”.
Cabe destacar, complementando o exposto acima, que, o capital não
somente se volta para a superfície do solo em busca de recursos materiais, como
também para a subsuperfície dos extratos geológicos.
Esta busca incessante de recursos materiais ocasiona uma ampliação
na produção de mercadorias, exigindo do mercado a criação de novos produtos que
satisfaçam as necessidades da sociedade do descartável. O surgimento de novas
demandas faz com que o antigo vire sinônimo de velho e antiquado e, portanto, deve
ser descartado. Essa visão levou à criação da dita lógica da modernidade, a qual
terminou gerando o problema da ampliação da produção de resíduos líquidos,
gasosos e, principalmente, sólidos.
Entretanto, é importante frisar que, como a sociedade capitalista é
desigual, formada por diversas classes sociais, a produção de mercadorias visa
atender interesses individuais e não coletivos, conforme o exemplo expresso por
Rodrigues (1998: 116), em que:
“..., a produção automobilística - carros individuais - impõe “adequação” das estruturas internas das cidades - com amplas avenidas, etc. - , alterando, em geral, o preço da terra e
42
expulsando para a periferia a população mais pobre, aumentando as dificuldades intra-urbanas de transporte - poluição, congestionamentos e transportes, etc. Sem releitura do território que permita compreender este processo, nossos estudos acabam por seguir a fragmentação do paradigma cartesiano e evolucionista”.
Será nas cidades, que ao se fazer a “releitura do território”, que se
compreenderá como o problema dos chamados resíduos sólidos urbanos,
provenientes do modo desenfreado de produção industrial, gerará inúmeros
problemas sociais, econômicos e ambientais.
Neste debate, cabe destacar o papel da imprensa e da comunidade
científica, que, em determinados momentos, acabam não enfocando as reais causas
geradoras dos resíduos sólidos urbanos. A natureza termina sendo coberta e
esquecida na produção do espaço urbano, como se a base física (relevo), onde se
constroem as estruturas urbanas, não fosse natureza. Em relação a esse aspecto:
“..., nos últimos anos, o debate científico e a mídia têm fornecido informações sobre estas questões, embora estejam quase sempre relacionadas ao produto final, “ao consumo”, como no caso do lixo domiciliar. E, como já dito, o agente produtor não é analisado. Ou não se compreende o processo ou não há interesse no desvendamento das causas” (Rodrigues,1998: 116).
Observa-se ultimamente, principalmente após a promulgação da
resolução CONAMA no 001 de 1986, que instituiu a obrigatoriedade do Estudo de
Impacto Ambiental (EIA), e do respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA),
associado às resoluções ambientais nas esferas estatais, as administrações municipais
foram obrigadas a resolver problemas decorrentes do aumento da produção de vários
tipos de resíduos.
No dizer de Leão (1997: 213), “...Resíduo é algo que faz parte de um
processo produtivo ou não, e que eventualmente não está sendo aproveitado, mas
que apresenta ainda uma utilização em potencial”. Por outro lado, o autor se refere
ao termo lixo como sendo...:
43
“...algo inservível, que necessitaria apenas ser disposto de uma maneira atóxica e não poluente, que se possível, não seja notado pela atual e futuras gerações. Lixo seria mais rejeito que resíduo, portanto denominaremos lixo como RSU - Resíduos Sólidos Urbanos” (Leão, 1997:213) (sic).
Para Orth (1999: 27), lixo é definido como “...todo o material sólido
proveniente das atividades diárias do homem em sociedade que, por ser considerado
sem utilidade ou valor, é descartado”.
A natureza sempre foi concebida de modo externo ao homem, ou seja,
entendida como um recurso inesgotável, que serve apenas como fonte fornecedora de
matérias-primas para abastecer as sociedades humanas. Com o aumento da produção,
principalmente de resíduos sólidos urbanos, ela passa a ser também um depositório
dos dejetos produzidos pelo homem.
A apropriação indevida da natureza, sem se conhecer antes a sua
dinâmica de funcionamento, acarreta sérios problemas sócio-ambientais.
Nesse sentido, determinadas áreas periféricas urbanas, tais como
fundo de vales, várzeas de corpos d’água, vertentes de relevo dissecadas, terminam
servindo de depósitos de lixo. Esses locais, do ponto de vista ambiental, são
inadequados. Conforme Orth (1999: 28), segundo dados levantados pelo IBGE, 83%
dos resíduos sólidos urbanos das cidades brasileiras são despejados em áreas
impróprias, podendo gerar os seguintes problemas:
- “Deslizamentos dos morros onde são atirados os detritos;
- Enchentes causadas pelo assoreamento dos rios e córregos onde os
resíduos são lançados;
- Proliferação de vetores transmissores de doenças, tais como insetos
e roedores;
- Maus odores em virtude da decomposição da matéria orgânica
presente no resíduo e;
- Poluição do solo, do ar e das águas superficiais e subterrâneas”.
44
O solo das cidades, de modo geral, é extremamente impermeabilizado,
acarretando, em períodos de intensas chuvas, um escoamento maior e concentrado de
águas. Estas fluem para os córregos que, geralmente estão poluídos e assoreados por
sedimentos advindos de áreas à montante. Degradadas, estas áreas ocasionam
problemas de enchentes.
Outro detalhe a ser referido é a intensa construção e concentração de
equipamentos urbanos que, em determinadas épocas do ano, alteram o microclima
das áreas centrais das cidades.
Tem-se portanto, a síntese completa da apropriação da natureza,
como recurso para a manutenção do sistema capitalista dominante e, particularmente,
como áreas para despejo de resíduos.
Para os adeptos da abordagem sistêmica, opção teórica que não é o
fundamento desta pesquisa, o homem deve ser entendido“...como parte integrante e
até como centro do sistema ambiental, devendo participar de forma racional de seu
equilíbrio e de sua estabilidade” (Branco, 1989:108).
Para o mesmo autor, as cidades são concebidas como locais de
processamento e de consumo e não de produção. Elas passaram a ser o centro de
troca, de comércio, de recepção, de transformação e de armazenamento, tornando-se
a antinatureza por excelência. Esta visão biológica de se conceber a cidade como
antinatureza parte da visão de natureza primária/intocada. Para os geógrafos, a cidade
é produto da organização social dos agentes sociais que a compõem. Neste aspecto, a
cidade é compreendida como natureza transformada/modificada, e não como
oposição a ela.
Ainda conforme Branco (1989:109), as cidades não chegam a se
constituir em um ecossistema verdadeiro, pois não são centros de produção ou
fixação de energia primária. Ou seja:
“A cidade constitui, ao contrário, o destino final dos produtos de áreas externas, florestais, agropecuárias, marinhas ou de mineração, continuamente exploradas e provedoras de um fluxo contínuo de energia e matéria, de combustíveis, matérias-primas e alimentos”. Estes, uma vez “processados” através da atividade industrial, comercial ou biológica, geram subprodutos
45
residuais na forma de detritos sólidos, líquidos e gasosos que de certa forma condicionam o meio ambiente urbano conferindo-lhe algumas de suas características e sobrecarregam, em geral, os sistemas finais de decomposição em um processo que se convencionou denominar de poluição”.
Como foi dito anteriormente, várias administrações municipais,
através da implementação de políticas públicas associadas à iniciativa privada, vêm
enfrentando o problema de qual seja o melhor destino a ser dado para os resíduos
sólidos urbanos.
Algumas cidades desenvolvem o tratamento (em aterros sanitários) e a
reciclagem (através da coleta seletiva e compostagem do lixo) há algum tempo.
Conforme Eigenheer (1998:207) destacamos os casos de Niterói-RJ, desde 1985, que
foi a primeira experiência brasileira sistematizada e documentada de coleta seletiva
de lixo; além de Curitiba-PR; Santos-SP; Porto Alegre-RS; Belo Horizonte-MG; São
Paulo-SP; São Sebastião-SP; Florianópolis-SC; Angra dos Reis-RJ; Brasília-DF;
Campinas-SP; Embu-SP; Pitanguinha/Maceió-AL; Ribeirão Preto-SP e de várias
outras cidades do interior do Brasil.
A partir de dados levantados pelo PNSB (Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico) em 1989, editada pelo IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (1991) a respeito das formas de disposição final do lixo nos
municípios do Brasil, chegou-se à conclusão de que:
- em 76% dos municípios a disposição é feita sob a forma de lixões a
céu aberto;
- em 13%, os resíduos são despejados em Aterros Controlados;
- em 10%, eles são dispostos em Aterros Sanitários; e,
- em 1%, eles passam por processos de tratamento que envolvem a
compostagem, a reciclagem e a incineração.
Já em nova pesquisa, realizada pelo PNSB (Pesquisa Nacional de
Saneamento Básico) em 2000, editada pelo IBGE – Fundação Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (2002), que trata sobre a quantidade diária de lixo coletado,
por unidade de destino final, segundo as Grandes Regiões, Unidades da Federação,
46
Regiões Metropolitanas e Municípios das Capitais, ocorreu significativa melhoria na
forma de disposição final do lixo coletado, expresso nos seguintes resultados:
- em 21,2 % os resíduos sólidos domésticos são depositados em
vazadouros a céu aberto (lixão);
- em 0,10 % são depositados em vazadouros em áreas alagadas;
- em 37 % são destinados em aterros controlados;
- em 36,2 % eles são dispostos em aterros sanitários;
- em 4,4 % passam por estação de compostagem, estação de triagem
ou incinerador;
- em 1,24 % são destinados em locais não fixos ou outras.
Considerando-se os avanços tecnológicos e ambientais ocorridos
durante a década de 90, o universo de municípios que depositam seus dejetos em
áreas de aterros controlado e sanitário aumentou consideravelmente, indo dos
anteriores 23 % (1991) para os atuais 73,2 % (2002).
Isto mostra que, existem várias administrações municipais as quais,
por motivos variados (políticos, econômicos e de fiscalização), passaram a dar mais
importância ao tratamento dos resíduos sólidos urbanos.
Todavia algumas administrações municipais, insistem em depositar o
lixo de forma inadequada no solo, sem se preocupar com os resultados adversos que
futuramente surgirão. Assim, o depósito de lixo a céu aberto – o lixão, caracteriza-se
pelo simples fato de descarregar os resíduos no solo, sem nenhuma medida de
proteção ao meio ambiente ou à saúde pública. Isso acarreta vários problemas...:
“...à saúde pública, como a proliferação de vetores de doenças (moscas, mosquitos, baratas, ratos), geração de maus odores e, principalmente a poluição do solo e das águas superficiais e subterrâneas através do chorume ( líquido de cor preta, mal cheiroso e de elevado potencial poluidor produzido pela decomposição da matéria orgânica contida no lixo), comprometendo os recursos hídricos” (Jardim et al, 1995: 76).
Outras formas de disposição final do lixo no solo são os aterros
controlados, que se diferenciam dos lixões por que ao final do dia de trabalho, no
47
local em que o lixo foi depositado faz-se o cobrimento com material inerte (solo).
Este procedimento não contempla um sistema de coleta dos resíduos líquidos
(chorume), através de um sistema de impermeabilização dos materiais infiltrantes e,
em determinados casos, da construção de tubos canalizadores de gases. Neste caso
ocorre a poluição dos cursos d’água próximos à área do aterro, por escoamento
subsuperfícial do chorume.
O aterro sanitário é considerado por alguns profissionais como sendo
o local de decomposição do lixo, o qual não será puramente despejado em um
determinado local, mas disposto em terreno previamente escolhido, de forma a não
causar danos ao meio ambiente. Geralmente, este processo não leva em consideração
o tratamento e a reciclagem dos dejetos sólidos, que apresentam o maior volume dos
materiais que compõem a massa de lixo urbano como os vidros, as latas (ferro e
alumínio), os plásticos, o concreto, e outros materiais.
Muitas são as definições dadas para o conceito de aterro sanitário.
Conforme o projeto de normas 1: 63.01-001. de outubro de 1987, da ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), que trata da Degradação do Solo, aterro
sanitário é a ...:
“Forma de disposição final de resíduos urbanos no solo, através do confinamento em camadas cobertas com material inerte, geralmente solo, segundo normas operacionais específicas, de modo a evitar danos ou riscos à saúde pública e à segurança, minimizando os impactos ambientais”.
Ainda de acordo com a Norma Brasileira Registrada-NBR 8419, da
ABNT (1984), procedimento “Apresentação de projetos de aterro sanitário de
resíduos sólidos urbanos”, aterro sanitário refere-se à:
“Técnica de disposição de resíduos sólidos urbanos no solo, sem causar danos à saúde pública e à sua segurança, minimizando os impactos ambientais, método este que utiliza princípios de engenharia para confinar os resíduos sólidos à menor área possível e reduzi-los ao menor volume permissível, cobrindo-os com uma camada de terra na conclusão de cada
48
jornada de trabalho, ou a intervalos menores se for necessário”.
Destaca-se, ainda o conceito elaborado por Jardim et al (1995: 75),
conforme o Manual de Gerenciamento Integrado sobre tratamento de Lixo, segundo
o qual:
“Aterro Sanitário é um processo utilizado para a disposição de resíduos sólidos no solo, particularmente lixo domiciliar - que, fundamentado em critérios de engenharia e normas operacionais específicas, permite a confinação segura em termos de controle de poluição ambiental e proteção à saúde pública”.
Dependendo da escolha do local do terreno, existem basicamente três
métodos operacionais: o método de trincheira (utilizado em áreas de topografia plana
e suave); o método de rampa (utilizado em áreas de declividades pouco acentuadas,
que apresentam disponibilidade de material de cobertura) e o método de área
(utilizado em áreas baixas de topografia regular, onde o lençol freático está próximo
à superfície) (Figura 8).
Quanto ao tipo de método empregado, os resíduos sólidos são
depositados em cavas ou cortes de talude feitos no terreno, cujas alturas podem
variar de 2 a 5 metros; posteriormente, eles são compactados por um trator de esteira.
Geralmente, ao final do dia, cobrem-se os resíduos compactados com uma camada de
solo que, dependendo do teor de argila, pode variar de 30 a 50 cm de espessura.
49
Figura 8 – Métodos operacionais utilizados para a construção de aterro sanitário. Fonte: Jardim et al (1995)
Para que o funcionamento do aterro sanitário ocorra de modo seguro,
devem-se seguir criteriosamente as normas técnicas do projeto inicial, para que não
haja problemas e situações imprevistas e ou esporádicas (Jardim et al,1995: 96 )
como:
- “escorregamento de massa de lixo;
50
- ineficiência da drenagem do percolado, acarretando afloramento de
“Chorume” nas bermas e/ou taludes de massa de lixo e infiltrações no lençol
freático;
- ineficiência dos drenos de água superficiais;
- ineficiência da impermeabilidade de fundo provocando infiltração
no lençol freático;
- erosões de cobertura;
- migração de gases e “chorume” para áreas vizinhas;
- instabilização de massa ou áreas adjacentes;
- ocorrência de trincas e deformações excessivas nas regiões com
cobertura definitiva (final)”.
Assim, o aterro sanitário deve ser composto por um sistema de
drenagens de águas superficiais, de subsuperfície, de chorume e de gases. Além
destes elementos, ele deve ser cercado para evitar a entrada de catadores de materiais
recicláveis (papeis, latas, vidros, plásticos, etc.); deve ter também uma portaria, uma
balança para pesagem dos caminhões que transportam os resíduos, um pátio de
estocagem de materiais e iluminação para atividades no período noturno.
É importante destacar que o aterro sanitário produz chorume a partir
da decomposição da matéria orgânica depositada. Nesse sentido, o chorume
apresenta altas concentrações de matéria orgânica, medidas através de indicadores
como: DBO - Demanda Bioquímica de Oxigênio; DQO - Demanda Química de
Oxigênio; COT - Carbono Orgânico Total ; AGV - Ácidos Graxos Voláteis; além de
grande quantidade grande de substâncias inorgânicas - metais pesados.
Portanto, o chorume é definido por Torres et al (1997: 55) como
sendo:
“...o líquido originado em locais como aterros sanitários ou lixões, resultado da água pluvial que cai sobre essas áreas, da decomposição e da umidade dos resíduos sólidos que drenam e percolam através dos interstícios e camadas de lixo propiciando, dessa forma, uma série de reações e processos físico-químicos e biológicos de degradação “.
51
A maior ou menor produção de chorume (Torres, 1997: 55-6),
depende de uma série de fatores como:
- “condições meteorológicas do lugar (umidade, precipitação, taxa
de evaporação, temperatura e ventos);
- a geologia e geomorfologia local;
- condições de operação do aterro (conformação e cobertura das
células, grau de compactação, tipo de equipamento, recirculação do lixiviado);
- natureza dos resíduos sólidos (tipo, umidade, nível de matéria
orgânica, características);
- topografia (área e perfil do aterro);
- quantidade e qualidade de recicláveis e hábitos da população”.
A partir da discussão sobre a produção da cidade e de sua relação com
a produção de resíduos sólidos urbanos, assim como sua destinação final, pode-se
entender a natureza como um substrato material para o desenvolvimento social,
como um produto social. Como a produção da natureza apropriada é algo social, a
produção do espaço compreendido como fruto da organização social perpassa pela
instância natureza.
Nesse sentido, o espaço geográfico, pode ser tanto concebido de forma
absoluta quanto relativa, é construído concretamente sobre uma base material que,
embora sendo entendida como segunda natureza, é algo natural. Será nas cidades
que poderemos observar a materialidade da intervenção social que a natureza sofre,
tanto no espaço como no tempo.
Em muitos casos, as utilizações dos espaços físicos dentro das cidades
são regidas pela lógica do poder do capital, associado ao papel e ao jogo de
interesses e de favorecimentos que o Estado desempenha na esfera municipal. A
acessibilidade ou inacessibilidade a uma área física dar-se-á ou pela sua valorização
territorial, tendo o capital especulativo, financeiro e imobiliário como principais
agentes, ou por motivos de pressão social, como nos processoa de êxodo rural.
Neste aspecto a produção do espaço passa, obrigatoriamente, também
pela compreensão da dinâmica da natureza. Será a nossa concepção de natureza,
externa ou interna, que influenciará na forma de compreensão das cidades.
52
Se as propostas técnicas de melhor adequação, destino e confinamento
dos resíduos sólidos urbanos em aterros sanitários, usinas de reciclagem e de
compostagem, incineradores, etc, não forem precedidas de propostas de educação
ambiental, que envolvam a participação ativa da sociedade civil organizada, os
resíduos sólidos continuarão sendo concebidos e entendidos como lixo, ou seja,
produto a ser simplesmente descartável e jogado, em qualquer periferia da área
urbana.
No caso das cidades e de sua geração de resíduos sólidos urbanos, é
importante que se compreendam as formas de produção e de consumo do espaço
urbano. Devem ser enfocados, asim tanto os agentes detentores do poder de decisão e
de controle dos meios de produção, bem como o entendimento da dinâmica da
natureza nas suas diversas interfaces (geomorfológica, geológica, climática,
cobertura vegetal, etc.)
Concluindo, concordamos com Rodrigues (1998: 203), quando esta
considera que a problemática ambiental tem o mérito de trazer à tona a importância
da análise do espaço geográfico, na medida em que o espaço (natural) ficou
obscurecido pelo fator tempo. Faz-se necessário“...compreender o redesenho do
Estado para analisar-se a problemática ambiental em toda a sua complexidade e
também compreender a dinâmica da natureza e da organização societária. Para isso
é fundamental juntar as Geografias Física e Humana e realizar releituras do
território”.
53
2.4. Procedimentos Metodológicos
Para se alcançar os objetivos propostos, a presente pesquisa foi
baseada nos seguintes procedimentos:
1. Os dados utilizados para a elaboração da análise dos aspectos
históricos e sócio-econômicos, foram obtidos na Companhia Prudentina de
Desenvolvimento – PRUDENCO, na Secretaria Municipal do Meio Ambiente e na
Secretaria Municipal do Planejamento da Prefeitura Municipal de Presidente
Prudente-SP e nos Inventários Estaduais de Resíduos Sólidos Domiciliares
elaborados pela CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
(1997, 1998, 1999, 2000 e 2001).
O objetivo inicial foi compreender qual é a atual situação em que os
municípios do Estado de São Paulo se encontram, em relação ao tratamento e ao
destino dado aos resíduos sólidos urbanos produzidos, principalmente o município de
Presidente Prudente, para posteriormente, historicizar como ocorreu a escolha da
atual área para a construção do aterro sanitário e da Usina de Triagem e
Compostagem de lixo, enfocando quais os agentes sociais (prefeitura, COMDEMA –
Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente, empresas, etc.) envolvidos neste
processo.
2. A caracterização geomorfológica e geológica, foi elaborada de
acordo com os dois primeiros níveis de abordagem proposta por Ab’Saber (1969:1-
23): Compartimentação Topográfica e Estrutura Superficial da Paisagem.
O primeiro nível detalhou “...o entendimento da compartimentação da
topografia regional, assim como, da caracterização e descrição, tão exatas quanto
possíveis, das formas de relevo de cada um dos compartimentos
estudados”(Ab’Saber, 1969: 1 e 2).
No segundo nível, a Estrutura Superficial da Paisagem...:
“...procura-se obter informações sistemáticas sobre a estrutura superficial das paisagens referentes a todos os compartimentos e formas de relevos observados. Através deste estudo e da estrutura superficial, até certo ponto estáticos, obtêm-se idéia da cronogeomorfologia e as primeiras proposições interpretativas sobre a
54
seqüência dos processos paleo-climáticos e morfoclimáticos da área em estudo”(Ab’Saber,1969: 2).
Os aspectos relacionados à morfoestrutura regional e local, foram
baseados e elaborados conforme a metodologia proposta por Jiménez-Rueda et al.
(1993: 481-91) e Landim et al. (1984: 77-89).
O Mapa Morfoestrutural da Folha Presidente Prudente na escala de
1:100.000 e o Mapa dos Traços Morfoestruturais de Parte do Oeste Paulista na escala
1:250.000, foram confeccionados a partir do traçado dos prováveis e possíveis
contornos morfoestruturais sobre o sistema de drenagem. Além destes, também
foram traçadas as prováveis fraturas geológicas.
A interpretação das morfoestruturas, efetuada segundo os critérios
empregados por Landim et al (1984: 77-89), obedeceu aos principais parâmetros de
padrão de drenagem como: grau de integração; densidade; tropia; grau de controle;
sinuosidade; angularidade; ângulo de junção e assimetria, visando determinar
padrões “dômicos” e “depressões” que, estruturalmente, expressariam suaves formas
de anticlinais e sinclinais, denominadas de antiformes e sinformes respectivamente.
No processo de definição das estruturas, ainda são considerados os
arranjos e o grau de estruturação da drenagem, como elementos a definir o fator de
confiabilidade das estruturas encontradas. Assim, como sugerem Jiménez-Rueda et
al (1993: 484-85), classificaram-se as morfoestruturas em: Alto Estrutural e Alto
Topográfico (AA); Alto Estrutural e Baixo Topográfico (AB); Baixo Estrutural e
Alto Topográfico (BA); e Baixo Estrutural e Baixo Topográfico (BB).
Quanto aos aspectos pedológicos, foi elaborada uma caracterização
regional (Oeste Paulista), tomando como referência o Levantamento de
Reconhecimento dos Solos do Estado de São Paulo, elaborado pela Comissão de
Solos do Centro Nacional de Ensino e Pesquisa Agronômica (1960). Importante
destacar que, a atualização dos nomes dos respectivos tipos de solos (Latossolos e
Argissolos), tanto na escala regional como na local, foi baseado no exposto no Mapa
Pedológico do Estado de São Paulo – escala 1:500.000 elaborado por Oliveira, J.B.
et al (1999).
55
Com referênte à caracterização dos aspectos Hidrogeológicos
regionais, foi elaborada conforme estudo efetuado pelo Departamento de Águas e
Energia Elétrica (1977), denominado “Estudo de Águas Subterrâneas”.
Após as caracterizações regionais dos aspectos acima descrito, foi
elaborado um quadro de influência e relações, apresentando as condições restritivas
ou favoráveis na escolha de áreas para a construção de aterro sanitário.
3. A análise morfodinâmica da paisagem do Distrito Industrial do
município de Presidente Prudente, foi elaborada a partir do estudo integrado
expresso através dos processos endógenos (morfoestruturais e pedológicos) e
exógenos (geomorfologia, declividade, hipsometria, área de surgência do lençol
freático e uso do solo e cobertura vegetal).
Com referência aos processos endógenos, a análise morfoestrutural
foi elaborada conforme a metodologia proposta por Jiménez-Rueda et al (1993:
484-85).
Quanto ao aspecto pedológico, foi realizado um levantamento
pedológico “in loco” na área escolhida para a construção do aterro sanitário, na qual
se encontrou um corte que expõe todo o perfil de solo e parte dos sedimentos
ocorrentes no local. Neste lugar foi executada uma descrição dos perfis de solo
(horizontes) e acamamentos das rochas decompostas ali presentes (estruturais e
texturais), sendo tomada uma série de medidas para averiguar a espessura média dos
perfis de solos e de rocha existentes. Além disso, foram coletadas e analisadas no
Laboratório de Sedimentologia da Faculdade de Ciências e Tecnologia da UNESP-
Presidente Prudente, cinco amostras de solos duas foram retiradas dos horizontes 1B
e 1C do Latossolo Vermelho Escuro e as outras três foram extraídas dos horizontes
Bt, 2B e 2C do Argissolo Vermelho Amarelo.
O objetivo principal das análises foi a identificação da composição
granulométrica e da porosidade ou porosidade de aeração encontrada nos solos da
área escolhida para o aterro sanitário. Para a obtenção da porosidade (VPT) foi
necessário calcular as densidades reais (Dr) e aparente (Da) das amostras. Estas
foram elaboradas de acordo com o Manual de Edafologia de Kiehl (1979).
56
A composição granulométrica ou textural, em que se identificaram os
percentuais de areia, silte e argila das amostras, foi obtida através da seguinte
seqüência:
1. Dispersão
- Em um erlenmeyer, devidamente identificado são pesados 10g de
solo seco, destorrado e peneirado (peneira de 2mm);
- Adicionam-se 10ml de NaOH – 1N e 20ml de água destilada;
-Na mesa vibratória, a agitação acontece em média por 4 horas e 30’.
Esse procedimento desagrega o solo, separando-o em partículas individualizadas.
2. Separação das frações
- Acopla-se uma peneira de malha 0,053mm de diâmetro a um funil e
este a uma proveta de 1.000ml;
- O material é colocado na referida peneira e lavado com água
destilada. A fração areia fica retida na peneira e o silte e argila são transferidos para
a proveta, que terá seu volume acrescido com água destilada até atingir 1.000ml;
- A areia que ficou na peneira é transferida para uma placa de Petri de
tara conhecida para secar em estufa a uma temperatura de 105 a 110 0C por 24 horas.
Depois de seca, a areia é pesada em balança analítica para que seja determinada a
porcentagem;
- As provetas que contêm a argila e o silte, são depositadas em tanque
com água para que mantenham uma certa uniformidade térmica. Obtendo-se a
temperatura da solução em 0C, é determinado o tempo da pipetagem da argila (5ml à
5cm de profundidade), a partir da tabela abaixo:
Tabela 2. Tempo para pipetagem da argila segundo a Lei de STOCKES. Temperatura (0 0C) Tempo
15 4h e 19 min 16 4h e 12min 17 4h e 05min 18 3h e 59min 19 3h e 53min 20 3h e 48min 21 3h e 42min 22 3h e 37min 23 3h e 32min 24 3h e 27min 25 3h e 22min 26 3h e 18min
57
27 3h e 13min 28 3h e 09min 29 3h e 05min 30 3h e 01min
Fonte: Laboratório de Sedimentologia da FCT- UNESP – Presidente Prudente.
- A agitação é feita manualmente com um bastão de fim específico,
por 30 segundos, com intervalo de 2min;
- Após o intervalo de repouso referenciado pela tabela, inicia-se a
pipetagem da argila (2 em 2’);
- A alíquota de 5ml é colocada em uma cápsula de tara conhecida,
permanecendo por 24 horas em estufa a 110 0C. Após a secagem, realiza-se a
pesagem em balança analítica e o cálculo da porcentagem.
A densidade real, entendida como a relação existente entre a massa
de uma amostra de solo e o volume ocupado pelas suas partículas sólidas, foi obtida
através do método do Balão Volumétrico com Álcool Etílico.
Primeiramente, pesam-se 4g de solo seco (TFSA – terra fina seca ao
ar), em um balão volumétrico. Acrescentam-se 4,0ml de Álcool Etílico com um
micro bureta. Após descansar 24 horas, acrescenta-se Álcool Etílico até completar o
volume de 10ml equivalente a 8,30ml.
Através dos dados obtidos, aplica-se a fórmula:
Dr=M, onde se tem M= 4,0g (terra fina seca ao ar)
V V= 10g (volume de Álcool Etílico)
De modo geral, os valores médios de Dr para solos minerais são em
torno de 2,65 g/cm3 .
A densidade aparente, compreendida como a relação existente entre a
massa de uma amostra de solo seca a 110 0C e a soma dos volumes ocupados pelas
partículas e pelos poros, foi obtida a partir do método do Anel Volumétrico.
Este método fundamenta-se na utilização de um anel de aço,
conhecido por anel de Kopeck, de bordas cortantes e capacidade interna conhecida,
geralmente de 50cm3. O anel foi preenchido com solo em laboratório. Com uma faca
cortante, foi retirado o excesso de solo até se igualar em ambas as bocas do anel.
58
Depois, transferiu-se o volume da amostra para um recipiente, para que seja secada
e, posteriormente, pesada. A densidade aparente foi calculada a partir da fórmula:
Da= M g/cm3 M=massa em gramas e V=volume de cm3
V
De modo geral, os solos minerais apresentam Da que varia entre 1,1 a
1,6 g/cm3 , com uma porosidade de 40 a 60%.
A porosidade ou porosidade total, que compreende o volume ou
espaço do solo não ocupado pela matrix (conjunto dos componentes orgânicos e
inorgânicos), foi obtida através do método indireto, que utiliza os dados das
densidades real e aparente. Assim sendo, a fórmula para o cálculo do volume de
poros totais (VPT) do solo é:
VPT %= (Dr – Da) 100
Dr
O resultado do referido levantamento foi sintetizado por meio de um
perfil geológico - pedológico elaborado no programa Corel Draw – versão 44.
Com referência a caracterização dos processos exógenos, foi
elaborada a partir da confecção das seguintes cartas temáticas: Geomorfológia, Uso
do Solo e Cobertura Vegetal e Áreas de Surgência do Lençol Freático do Distrito
Industrial de Presidente Prudente – SP. Estas foram confeccionadas a partir da
análise estereoscópica, feita sobre as fotografias aéreas do município de Presidente
Prudente. As fotos nos 12 e 13 da faixa 04 foram produzidas pela Base – S. A, na
escala 1: 25.000, e foram tiradas em setembro de 1995.
O objetivo principal da elaboração destas cartas foi apresentar os
atributos naturais existentes na área, associados à dinâmica de atuação dos agentes
sociais.
No caso da Carta Geomorfológica, esta se apresenta como a
balizadora para a compreensão das principais feições existentes no relevo. Sobre este
relevo passou-se a identificar as formas resultantes do modo de utilização do solo e
seus impactos.
4 Corel Draw é marca registrada da Corel Corporation.
59
A carta base (escala 1: 25.000) para a confecção das cartas temáticas
foi fornecida pela Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Presidente
Prudente.
A atualização das feições extraídas das fotografias aéreas foi feita
através da imagem do satélite Landsat-7 sensor ETM Plus, nas bandas 3B, 4G, 7R,
de 24 de setembro de 1999, sendo complementada com vistorias em campo. A
elaboração gráfica das cartas foi feita no programa COREL DRAW.
Quanto as Cartas de Declividades e Hipsometria – escala 1:25. 000 foram
elaboradas da seguinte forma:
- Digitalização em tela das curvas de nível, a partir do escaneamento da
imagem do Mapa Plano-Altimétrico de Presidente Prudente, fornecido pela
Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, na escala
1:25.000, projeção UTM. Nem todas as curvas de nível puderam ser digitalizadas,
pois na base fornecida pela prefeitura, no setor SE, na divisa com o município de
Regente Feijó, não existiam as curvas de nível. Assim, o programa utilizado para a
elaboração das cartas distribuiu o problema de modo gradativo em toda área
cartografada, fato este que não gerou distorções ou erros para a área de pesquisa;
- Geração de um arquivo DXF para importação dos dados no aplicativo
SPRING (Sistema de Processamento de Informações Georeferenciadas) do INPE
(Instituto de Pesquisas Espaciais), versão 3.3;
- Criação de um banco de dados com as seguintes informações: nome
PRUDENTE; projeto Aterro Sanitário; coordenadas UTM da área X1=459960
Y1=7.547.300 X2=464590 Y2=7.550.550; DATUM UTM/Córrego Alegre,
Meridiano Central 51000’00”;
- Geração do Modelo Numérico do Terreno (MNT) a partir das curvas
de nível (isolinhas) e da grade regular e triangular;
A carta hipsométrica foi elaborada com a interpolação para a grade
regular, utilizando-se o modelo da média ponderada por cota e por quadrante. Já a
carta de declividade foi feita a partir da interpolação para a grade triangular,
utilizando-se o modelo Quíntico;
60
Para ambas as cartas, a seqüência de cores utilizadas nas classes de
declividade e altitude, foi feita conforme a estabelecida pelo círculo psicrométrico
das cores.
Como resultado da análise morfodinâmica, foi elaborada uma Carta
Morfodinâmica (escala 1:25.000) associada a um quadro de síntese integrada dos
compartimentos de relevo do Distrito Industrial de Presidente Prudente – SP. A carta
foi elaborada a partir da sobreposição de informações contidas nas cartas
geomorfológica, declividades, áreas de surgência do lençol freático, morfoestruturas
e uso do solo e da cobertura vegetal.
As bases da síntese integrada foram os compartimentos de relevo, nos
quais, para se estabelecer a morfodinâmica predominante e sua influência na escolha
de relevos adequados, inadequados, restritivos, etc, para a construção de aterro
sanitário, detalharam-se as seguintes informações: tipologia da formação do relevo,
litologia e hidrogeologia, solos, atividade antrópica – uso e ocupação e cobertura
vegetal.
Quanto à elaboração das convenções e legendas, estas foram baseadas
em quatro trabalhos de cartas e ou mapas ambientais: “Cartas do meio ambiente e
sua dinâmica: Mapa da Baixada Santista” (CETESB, 1985: 33); “Qualidade
ambiental na Bahia: Recôncavo e regiões limítrofes” (SEPLANTEC, 1987: 48),
“Mapa Ambiental de São Francisco de Assis - setor Norte” (Suertegaray e Nunes,
1990) e “Ecodinâmica” (Tricart, 1977: 97).
4. No que se refere à análise dos parâmetros climáticos, estes foram
elaborados com base nos dados fornecidos pela Estação Meteorológica da FCT/
UNESP – Presidente Prudente – SP, que se encontra localizada entre as coordenadas
geográficas de latitude 220 07’ S e longitude 510 23’ W, situada a 435 metros do
nível do mar, a aproximadamente 8 km de distância da área escolhida para a
construção do aterro sanitário.
Para o desenvolvimento deste tópico, utilizou-se uma série histórica
de 10 anos (1990-1999), em que foram verificadas as características
termopluviométricas, umidade relativa do ar, balanço hídrico e regime dos ventos.
61
As características térmicas foram analisadas conforme o comportamento
das temperaturas médias, mínimas e máximas anuais e mensais. Já as características
pluviométricas foram analisadas conforme os dados de precipitações mensais,
precipitações máximas em 24 horas e o número de dias com chuvas.
Quanto ao balanço hídrico foi elaborado conforme a metodologia
desenvolvida por Thornthwaite & Mather (1955), para a obtenção dos dados de
deficiência e de excedente hídrico em subsolo;
Com referência ao regime dos ventos foi analisado de acordo com os
dados de freqüência e duração dos ventos, associados às velocidades máximas anuais
e mensais.
Como complemento da caracterização termopluviométrica foi feita
uma análise da variabilidade da umidade relativa do ar.
Para a elaboração dos cálculos das médias de temperatura,
precipitação, umidade relativa do ar, balanço hídrico e direção e freqüência dos
ventos, além das representações gráficas, foi utilizado o programa Excel.5 A
seqüência de cores utilizadas nos gráficos de variabilidade, foi feita conforme a
estabelecida no círculo psicrométrico das cores;
A análise integrada da atuação dos aspectos climáticos e sua relação
com a produção de chorume e odor, tomando-se como base o ano de 1999, para os
mêses de janeiro (período chuvoso) e o de julho (período de menor pluviosidade), foi
elaborada a partir da inter-relação entre os fatores insolação, umidade do ar,
pluviosidade, evaporação, temperatura do ar e nebulosidade, os dados de temperatura
do solo (2, 30 e 40 cm) e do balanço hídrico (profundidade de 50 cm), associados à
atuação dos sistemas atmosféricos.
A partir da análise integrada dos elementos considerados acima
elaborou-se uma matriz de pontuação, inter-relacionando-se os aspectos climáticos e
a influência destes no solo, identificando-se prováveis índices de produção de
chorume e de odor. Os índices foram obtidos de acordo com a soma dos valores
positivos atribuídos a cada aspecto climático, ou seja, os resultados acima da média
mensal recebiam valor positivo e os abaixo da média mensal, valor negativo. Assim,
62
chegou-se à seguinte classificação: 1 e 2= baixa produção; 3 e 4= média baixa; 5 e
6= média alta e 6 e 8= alta.
Em síntese, esta pesquisa esta subdividida em 4 capítulos:
- O primeiro refere-se aos fatos políticos, econômicos e técnicos que
levaram a escolha da atual área para a construção do Aterro Sanitário do município
de Presidente Prudente e da Usina de Triagem e Compostagem de lixo, localizada no
bairro do Limoeiro anexa a Estação de Tratamento de Esgoto da SABESP
(Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo);
- O segundo, aborda as características geomorfológicas, geológicas,
morfoestruturais, hidrogeológica e pedológicas da paisagem do Oeste Paulista;
- O terceiro, a partir da análise morfodinâmica integrada dos aspectos
endógenos e exógenos, atuantes na paisagem do Distrito Industrial de Presidente
Prudente, onde encontra-se localizada à área escolhida pela administração pública
gestão 1997-2000, para a construção do aterro sanitário municipal; foi estabelecido
critérios e procedimentos técnicos para escolha de áreas para aterro sanitário;
- E o quarto capítulo, refere-se aos fatores climáticos que influenciam
na escolha de áreas para aterro sanitário, bem como na gestão qualitativa da
produção de chorume e odor produzido em um aterro sanitário.
5 Excel é marca registrada da Microsoft Corporation.
62
3 O PROCESSO DE ESCOLHA DA ÁREA DO ATERRO SANITÁRIO DE
PRESIDENTE PRUDENTE - SP
No capítulo anterior foi feito um resgate bibliográfico, enfocando-se
as escolas e as linhas de pensamento dominante na geomorfológia, mostrando-se a
importância dos estudos geomorfológicos atuais, principalmente aqueles originários
da Escola Alemã, na análise integrada dos problemas ambientais. Além disso,
discutiu-se o conceito de paisagem, a partir da ótica da apropriação desigual e
combinada do relevo e sua relação com os Depósitos Tecnogênicos (resíduos sólidos
urbanos), objetivando-se compreender como ocorre na paisagem a produção das
cidades, bem como qual é o destino dado aos resíduos sólidos urbanos.
Neste capítulo será analisada primeiramente, qual é a situação
regional dos municípios paulistas quanto ao tratamento dado aos resíduos sólidos
urbanos e como o município de Presidente Prudente se encontra neste contexto.
Posteriormente, analisar-se-á qual será a participação do poder público municipal e
dos agentes sociais atuantes, a partir dos aspectos sócio-econômicos e políticos, na
escolha da atual área onde serão construídos a Usina de Triagem e Compostagem de
lixo e, possivelmente, o Aterro Sanitário de Presidente Prudente.
3.1. A situação dos municípios do Estado de São Paulo em relação ao
tratamento dado aos resíduos sólidos urbanos.
Conforme dados fornecidos pela CETESB (1997), sobre a destinação
final dos resíduos sólidos no Estado de São Paulo e a sua geração, pode-se observar,
nas Tabelas 3 e 4, que a quantidade de aterros sanitários existentes é bem menor que
as áreas de lixões, bem como a produção de lixo dos onze maiores municípios é
maior que a soma de todos os outros juntos.
63
Tabela 3. Destinação final dos resíduos sólidos no Estado de São Paulo. TRATA MENTO/DESTINO FINAL
INSTALAÇÕES EXISTENTES (no)
POPULAÇÃO ATENDIDA (hab.)
QUANTIDADE DE LIXO (t/d)
ATERROS SANITÁRIOS 100 16.284.940 10.189,15ATERROS CONTROLADOS 12 1.150.377 617,51ATERROS EM VALAS 31 243.401 97,36USINAS DE COMPOSTAGEM 23 4.924.095 3.193,41LIXÕES 494 9.232.086 4.134,29SOMATÓRIA 660 31.834.899 18.231,72
Fonte: CETESB (1997). Tabela 4. Geração de lixo no Estado de São Paulo.
GERAÇÃO DE LIXO (t/dia)
QUANTIDADE DE MUNICÍPIOS
POPULAÇÃO (habitantes)
LIXO (t/dia) (%)
<10 483 3.528.600 1.411,44 7,710 a 25 78 3.048.295 1.219,32 6,725 a 50 34 2.769.828 1.176,24 6,550 a 100 26 3.789.231 1.894,62 10,4
100 a 200 13 3.493.137 2.095,88 11,5>200 11 15.205.808 10.434,22 57,2
SOMATÓRIA 645 31.834.899 18.231,72 100,0Fonte: CETESB (1997).
A quantidade média de lixo produzida diariamente por habitante varia
segundo diversos fatores: o nível sócio-econômico, o tamanho da população, os
aspectos relacionados à coleta, etc. Em pesagem do lixo, realizada em inúmeros
municípios de São Paulo, chegou-se aos seguintes valores (Tabela 5):
Tabela 5. Valores de Coeficiente Per Capita de Produção de Resíduos Sólidos Domiciliares em Função da População Urbana
POPULAÇÃO (mil hab.)
PRODUÇÃO DE LIXO (kg/hab. dia).
Até 100 0,4
100 a 200 0,5
200 a 500 0,6
Maior que 500 0,7
Fonte: CETESB (1997).
64
Em outra pesquisa efetuada pela CETESB – jan/1999, cujo documento
foi denominado “Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares”, das 620
instalações (aterros ou lixões e usinas de compostagem) observadas, 12 são usinas de
compostagem, e 608 são aterros ou lixões.
Na mesma pesquisa, constatou-se que a destinação dada aos resíduos
sólidos domiciliares em relação ao número de municípios apresenta: 56,4% como
inadequadas, 18,2% como adequadas e 25,4% como controladas.
Em relatório-síntese veiculado pela CETESB, também denominado
“Inventário Estadual de Resíduos Sólidos Domiciliares” – jan/2001 – volume I, que
engloba todos os dados levantados de 1997 a dezembro de 2000, os técnicos dos
Escritórios Regionais espalhados pelo interior do Estado de São Paulo, em vistoria
feita a todas as instalações (aterros e usinas de compostagem), aplicaram a elas um
formulário padronizado composto por 41 itens. Foram analisadas as condições
locacionais, estruturais e operacionais, reunindo informações para comporem o IQR
– Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos e o IQC – Índice de Qualidade de
Usinas de Compostagem.
Conforme pode-se observar na Tabela 6, o índice de avaliação das
instalações varia de 0 a 10.
Tabela 6. Enquadramento das Instalações de Destinação Final de Lixo em Função dos Valores de IQR e IQC
IQR/IQC ENQUADRAMENTO
0,0 ≤ IQR ≤ 6,0 Condições Inadequadas
6,0 < IQR ≤ 8,0 Condições controladas
8,0 < IQR ≤ 10,0 Condições Adequadas
Fonte: CETESB (2001).
65
Do levantamento feito nos 645 municípios do Estado de São Paulo,
com exceção do município de Águas de Lindóia6 que deposita seus resíduos fora do
Estado de São Paulo, chegaram à seguinte conclusão, expressa nas Tabelas 7 e 8:
Tabela 7. Situação Geral do Estado de São Paulo, quanto ao número de municípios, no que se refere ao enquadramento dos municípios quanto ao IQR – Índice de Qualidade de Aterros de Resíduos – dez/2000.
SITUAÇÃO EM 1997 SITUAÇÃO EM 1998 SITUAÇÃO EM 1999 SITUAÇÃO EM 2000
NOTA NÚMERO DE MUNICÍPIOS
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO
NÚMERO DEMUNICÍPIOS
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO
NÚMERO DEMUNICÍPIOS
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO
NÚMERO DEMUNICÍPIOS
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO0,0≤IQR≤6,0 Inadequado 502 77,8 363 56,5 324 50,4 301 46,7
6,0<IQR≤8,0 Controlado 116 18,0 163 25,3 136 21,1 146 22,7
8,0<IQR≤10,0 Adequado 27 4,2 117 18,2 183 28,5 197 30,6
TOTAL 645 100,0 643 100,0 643 100,0 644 100,0
Fonte: CETESB (2001).
Tabela 8. Situação Geral do Estado de São Paulo, quanto às quantidades de resíduos gerados, no que se refere ao enquadramento dos municípios quanto ao IQR– dez/2000.
SITUAÇÃO EM 1997 SITUAÇÃO EM 1998 SITUAÇÃO EM 1999 SITUAÇÃO EM 2000
NOTA QUANTID. DE LIXO
(t/dia)
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO
QUANTID. DE LIXO
(t/dia)
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO
QUANTID. DE LIXO
(t/dia)
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO
QUANTID. DE LIXO
(t/dia)
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO0,0≤IQR≤6,0 Inadequado 5598 30,7 4262 23,4 4144 22,7 4485 22,6
6,0<IQR≤8,0 Controlado 10647 58,4 4818 26,4 3267 17,9 4376 22,0
8,0<IQR≤10,0 Adequado 1987 10,9 9144 50,2 10813 59,3 10992 55,4
TOTAL 18232 100,0 18224 100,0 18224 100,0 19852 100,0
Fonte: CETESB (2001)
6 Até o ano de 1999, os resíduos sólidos domiciliares produzidos no município de Bananal também eram depositados fora do Estado de São Paulo.
66
Estes dados ficam mais claros (Figuras 9 e 10), quando se analisa a
sua evolução temporal, num período de quatro anos, em que, nitidamente, ocorreram
avanços nos municípios que apresentavam uma situação de inadequado, passando a
ter uma condição de adequado ou controlado.
10,9
50,2
59,355,4 58,4
26,4
17,9 22
30,723,4
22,7 22,6
0102030405060
Porc
enta
gem
Adequada Controlada Inadequada
Situação
Estado - Quantidade de Resíduos
1997 1998 1999 2000
4,2
18,2
28,5 30,6
1825,3
21,1 22,7
77,8
56,550,4
46,7
01020304050607080
Porc
enta
gem
Adequada Controlada Inadequada
Situação
Estado - Número de Municípios
1997 1998 1999 2000
Figura 9 e 10. Situação Geral do Estado de São Paulo, quanto à quantidade de lixo gerado e ao número de municípios.
Fonte: CETESB (2001).
Assim, a forma encontrada pela CETESB para que os municípios que
ainda se encontram em situação irregular (inadequado) em relação à melhor
67
destinação final dada aos resíduos sólidos, a fim de que se adeqüem às normas
ambientais previstas em 1997 no Programa Estadual de Resíduos Sólidos (controlado
ou adequado), foi a proposta de assinatura do Termo de Compromisso de
Ajustamento de Conduta – TAC.
Conforme expresso no relatório síntese da CETESB (2000, p.6), os
TAC são:
“... títulos executivos extrajudiciais que são estabelecidos em comum acordo com as administrações municipais, definindo prazos e atividades a serem realizadas por cada município, para a regularização ambiental das instalações de destinação de lixo em operação”. De forma resumida, os TACs propõem, às administrações municipais procedimentos para as usinas de compostagem, aterros e lixões, visando sua regularização ou encerramento, com a implantação de uma nova solução de caráter definitivo. Em todos os casos, as ações propostas devem possibilitar a adequação técnica e ambiental das instalações, seguidas do seu conseqüente licenciamento ambiental “.
Do total de 645 municípios existentes no Estado de São Paulo, até o
dia 31/12/2000, 433 municípios haviam assinado o TAC, representando uma
porcentagem de aproximadamente 67,1 %, conforme pode-se observar na Tabela 9.
Tabela 9. Número de Municípios do Estado de São Paulo que assinaram TAC com Respectivas Populações Urbanas Beneficiadas e Quantidades de Resíduos Sólidos Domiciliares Gerados
SITUAÇÃO EM 1998 SITUAÇÃO EM 1999 SITUAÇÃO EM 2000 TAC
ASSINADO NÚMERO DE MUNICÍPIOS
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO
NÚMERO DE MUNICÍPIOS
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO
NÚMERO DE MUNICÍPIOS
% EM RELAÇÃO
AO ESTADO
SIM 348 54,0 422 65,4 433 67,1
NÃO 297 46,0 223 34,6 212 32,9
TOTAL 645 100,0 645 100,0 645 100,0
Fonte: CETESB (2001). Obs: Em 1997, não havia TACs assinados.
Para um maior reconhecimento dos avanços obtidos através da
utilização dos índices IQR e IQC, associados à assinatura do TAC pelos respectivos
68
municípios, foi elaborada pelos técnicos da CETESB, uma tabela demonstrativa por
ordem alfabética de todos os municípios do Estado de São Paulo, apresentando a
atual situação ambiental em que o Estado se encontra. Nesta tabela entrou, a partir de
1999, um novo elemento que é o número de catadores que vivem da coleta de
materiais recicláveis em lixões.
Como fonte fundamental de dados para esta pesquisa, utilizou-se, da
tabela demonstrativa do Estado de São Paulo, somente o dado referente aos
municípios pertencentes à 22 - Unidade de Gerenciamento dos Recursos Hídricos (
UGRHI-22 Pontal do Paranapanema), no qual esta incluído o município de
Presidente Prudente-SP.
No próximo tópico será analisada a atual situação de Presidente
Prudente em relação aos demais municípios que congregam a UGRHU-22 Pontal do
Paranapanema.
3.2. A situação do município de Presidente Prudente no Oeste Paulista
Neste intervalo de quatro anos (1997, 1998, 1999 e 2000), analisando-
se os dados contidos na Tabela 10, as quais faz em parte do Relatório Síntese da
CETESB (2001), observa-se que, 21 municípios fazem parte da UGRHI-22 Pontal do
Paranapanema, em que abrange uma área total de 11.838 km2 , com uma população
de 388.785 habitantes, que geram 174,0 toneladas de lixo por dia. O município de
Presidente Prudente, comparado aos municípios do Pontal do Paranapanema, pouco
avançou no tratamento e na solução dados ao problema dos resíduos sólidos urbanos.
Neste aspecto, devem ser destacados os seguintes pontos:
a) O município que apresentou o menor índice de IQR, ou seja as
piores condições de aterro foi Euclides da Cunha com 1,9 (1997), 3,5 (1998), 4,2
(1999) e 1,5 (2000). Em seguida comparece Pirapozinho, com 3,3 (1997), 2,8 (1998),
3,7 (1999) e 1,6 (2000);
b) Presidente Prudente ficou com o 4o pior índice, com 2,0 (1998),
2,3 (1998), 2,9 (1999) e 2,8 (2000), muito abaixo de vários municípios com produção
econômica e renda per capita inferiores;
69
c) O melhor desempenho foi de Rosana, com IQR de 4,3 (1997), 7,8
(1998), 6,3 (1999) e 9,7 (2000). Depois, apareceu Sandovalina, com 2,7 (1997), 3,4
(1998), 9,3 (1999) e 9,5 (2000). E, logo após, Presidente Bernardes, com 5,3 (1997),
5,3 (1998), 3,1 (1999) e 8,9 (2000). Esse município foi o único que apresentou IQC
(7,2);
d) A maior população urbana é de Presidente Prudente 185.150
habitantes, produzindo 92,6 toneladas de lixo por dia;
e) A menor população urbana é de Nantes, com 1.660 habitantes,
produzindo 0,7 ton./dia de lixo. Este, foi o único município que apresentou IQR (10),
obtido em 1998;
f) 20 municípios assinaram o TAC, sendo que, de 1997 a 2000, em 7
não ocorreram mudanças positivas no IQR. São eles: Euclides da Cunha,
Pirapozinho, Estrela do Norte, Presidente Prudente, Iepê, Teodoro Sampaio e Nantes;
g) Somente o município de Taciba, que não assinou o TAC,
apresentou IQC nos anos de 1997 (6,4) e 1998 (6,3);
h) Presidente Prudente foi o município que apresentou o maior
número de catadores (150 pessoas), que vivem da coleta de resíduos recicláveis do
lixo (Foto 1). Destes, 42 são crianças ou adolescentes na faixa de <=14 anos;
i) Outros municípios também apresentaram um número significativo
de catadores. É o caso de Santo Anastácio, de Anhumas e de Narandiba, ;
j) Dos 21 municípios, 18 têm licença de Instalação – L.I, e apenas 7
têm licença de funcionamento – L.F, para a operacionalização de obras de
engenharia do tipo aterro controlado, aterro sanitário, usina de reciclagem e
compostagem, etc;
k) O único município que apresenta L.I e L.F sem ter assinado o TAC,
é Taciba.
70
Tabela 10. Quadro geral dos municípios que englobam a 22 - UGRHI Pontal do Paranapanema, apresentando a atual situação ambiental relativo a destinação final dos resíduos sólidos urbanos.
INVENTÁRIO N0 CATADORES
1997 1998 1999 2000 MUNICÍPIO AGÊNCIA CETESB UGRHI POP.URB.
(hab.) LIXO (t/dia)
IQR IQC IQR IQC IQR IQC IQR IQC
Obs. TAC TOTAL <=14a
ÁREA OCUPADA
(m2) L.I L.F
Euclides da Cunha CPn-PP 22 6.431 2,6 1,9 3,5 4,2 1,5 SIM 1 0 10.000,0
Pirapozinho CPn-PP 22 20.712 8,3 3,3 2,8 3,7 1,6 SIM 0 0 15.000,0 S Estrela do Norte CPn-PP 22 1.787 0,7 2,6 2,4 2,9 2,4 SIM 1 0 1.500,0 S Pres. Prudente CPn-PP 22 185.150 92,6 2,0 2,3 2,9 2,8 SIM 150 42 24.200,0 Pres. Venceslau CPn-PP 22 34.566 13,8 2,4 2,7 3,3 3,8 SIM 5 0 20.000,0 Iepê CPn-PP 22 5.959 2,4 3,9 8,4 9,0 4,8 SIM 0 0 30.000,0 S Teodoro Sampaio CPn-PP 22 15.920 6,4 6,4 3,7 5,2 4,8 SIM 1 0 24.200,0 S Taciba CPn-PP 22 4.241 1,7 6,5 6,4 7,4 6,3 6,8 5,5 0 0 10.000,0 S S Nantes CPn-PP 22 1.660 0,7 1,3 10 9,5 6,9 SIM 0 0 24.200,0 S S Tarabai CPn-PP 22 5.229 2,1 2,7 2,3 4,0 6,9 SIM 0 0 20.000,0 S Caiuá CPn-PP 22 1.769 0,7 3,1 3,3 4,1 7,2 SIM 1 0 5.000,0 S S Santo Anastácio CPn-PP 22 19.040 7,6 1,6 1,8 2,2 7,4 SIM 20 8 48.400,0 S Anhumas CPn-PP 22 2.501 1,0 2,4 2,4 2,6 7,6 SIM 10 0 1.000,0 S Mirante do Paranapanema CPn-PP 22 9.832 3,9 5,3 3,7 4,1 7,6 SIM 2 0 2.000,0 S
Regente Feijó CPn-PP 22 15.228 6,1 3,2 6,2 4,1 8,1 SIM 2 0 5.000,0 S Narandiba CPn-PP 22 2.281 0,9 3,5 3,4 5,0 8,4 SIM 10 0 2.000,0 S S Marabá Paulista CPn-PP 22 2.048 0,8 3,0 2,5 7,7 8,5 SIM 0 0 24.000,0 S Pres. Epitácio CPn-PP 22 36.331 14,5 1,8 1,8 9,7 8,6 SIM 0 0 53.025,0 S S Pres. Bernardes CPn-PP 22 10.152 4,1 5,3 5,3 3,1 8,9 7,2 SIM 0 0 24.200,0 S S Sandovalina CPn-PP 22 1.751 0,7 2,7 3,4 9,3 9,5 SIM 2 0 24.200,0 S S Rosana CPn-PP 22 6.197 2,5 4,3 7,8 6,3 9,7 SIM 0 0 43.500,0 S TOTAIS 388.785,0 174,0 20 205,0 50,0 411.425,5 18 7 IQR (Médias Anuais 3,2 4,1 5,2 6,3 COEFICIENTE PER CAPITA MÉDIO (kg/hab.dia) = 0,45
Fonte: CETESB (2001).
71
Foto 1. Local do Distrito Industrial, onde são depositados os resíduos sólidos
domésticos de Presidente Prudente. No centro, nota-se a existência de grande quantidade de barracas de catadores/garimpeiros de resíduos sólidos urbanos (papéis, plásticos, latas de alumínio, etc.). A direita, observa-se a fumaça escura que o incinerador de resíduos hospitalares lança na atmosfera. Nunes e Boin (2001)
Como resultado concreto da melhora geral dos índices obtidos pelos
municípios que compõem a UGRHI – 22 Pontal do Paranapanema, principalmente a
partir da assinatura do TAC entre as prefeituras, a CETESB e a Secretaria Estadual
do Meio Ambiente, as Figuras 11 e 12 mostram, de 1997 a 2000, como se encontra a
situação dos municípios, bem como a quantidade de resíduos gerados, conforme os
critérios de adequado, controlado e inadequado.
72
0102030405060708090
100Po
rcen
tage
m
Adequada Controlada Inadequada
Situação
Pontal do Paranapanema - Municípios
1997 1998 1999 2000
Figura 11. Situação dos municípios quanto aos critérios de adequado, controlado e inadequado. Fonte CETESB (2001).
020406080
100120
Porc
enta
gem
Adequada Controlada Inadequada
Situação
Pontal do Paranapanema - Quantidade de Resíduos
1997 1998 1999 2000
Figura 12. Situação dos municípios quanto à destinação final dos resíduos gerados.
Fonte: CETESB (2001).
Partindo-se da análise dos índices obtidos para o ano de 2000, dos 21
municípios constatou-se que 8 deles ainda se encontram na situação de inadequados:
Euclides da Cunha, Pirapozinho, Estrela do Norte, Presidente Prudente, Presidente
Venceslau, Iepê, Teodoro Sampaio e Taciba.
73
Na situação de controlada, apresentam-se 6 municípios: Nantes,
Tarabai, Caiuá, Santo Anastácio, Anhumas e Mirante do Paranapanema. E, na
situação de adequado, ocorreu um aumento, passando a ter 7 municípios: Regente
Feijó, Narandiba, Marabá Paulista, Presidente Epitácio, Presidente Bernardes,
Sandovalina e Rosana.
No próximo tópico será analisado como os resíduos sólidos urbanos,
produzidos no município de Presidente Prudente, vêm sendo tratados historicamente,
pelo poder público municipal.
3.3. O município de Presidente Prudente e a relação com os resíduos sólidos
urbanos
De acordo com os dados do censo do IBGE (2000), o município de
Presidente Prudente abrange uma área de 562 Km2, possuindo uma população total
de aproximadamente 189.186 habitantes. Destes 185.229 são do meio urbano e 3.957
do meio rural, apresentando uma densidade demográfica de 336,63 hab/km2.
Economicamente, ele é considerado a cidade mais próspera da 10a
Região Administrativa, a qual também congrega os municípios do Pontal do
Paranapanema; seus setores produtivos mais desenvolvidos são a agropecuária, o
comércio e serviços.
Mesmo com toda a importância geoeconômica do município de
Presidente Prudente para a região do Pontal do Paranapanema, as sucessivas
administrações públicas municipais não conseguiram, até o presente momento,
resolver os sérios problemas decorrentes da produção e da destinação dada aos
resíduos sólidos urbanos, em especial o doméstico.
A maioria das administrações preferiu ignorar a problemática situação
dos lixões a céu aberto. Ou seja, os resíduos domésticos, urbanos (entulhos de
construção e de varrição de ruas e avenidas) e hospitalares, sempre foram jogados em
locais periféricos da cidade como fundos de vales, de várzeas, encostas de colinas, ou
pontos de erosão (ravinas e voçorocas).
74
Desde a criação do município de Presidente Prudente até os dias
atuais, conforme levantamento feito por Mazzini (1997: 25), existem pelo menos 23
antigas áreas (bairros, vilas, etc.) de despejo de lixo a céu aberto, ou comumente
chamado de lixão.
A atual área que se localiza próximo ao Distrito Industrial é
classificada como aterro controlado, pois ocorre o recobrimento diário das camadas
de lixo.
Alguns bairros e vilas, apresenta entre duas a quatro antigas áreas de
despejo de lixo. É o caso do Parque Furquim com quatro áreas. A maioria das áreas
pesquisada pela autora, encontram-se localizadas em fundos de vales e outras em
antigos pontos de erosão (voçorocas) (Figura 13).
Além da localização dos antigos lixões, Mazzini (1997: 35-61)
preocupou-se em historicizar cronologicamente (Figura 14), as áreas de despejo dos
dejetos urbanos. Para isto, contou com a contribuição do catador de “resíduos sólidos
urbanos” José Elias de Souza.
Atualmente, estes pontos de lixão encontram-se todos desativados,
cobertos com uma camada de solo, evitando-se assim que os resíduos (plásticos, latas
e vidros), fiquem expostos à população que habita as áreas próximas.
Algumas áreas encontram-se em total abandono por parte das
autoridades municipais. Em alguns casos, transformaram-se em campinhos de
futebol ou em praças públicas mal equipadas e planejadas.
A autora também constatou, na sua pesquisa, que, em alguns locais, os
moradores ainda continuam jogando o lixo, seja por comodidade ou por estarem
acostumados a esta prática.
0 km0 km 1,5 Km1,5 Km 3,0 Km3,0 Km 4,5 Km4,5 Km
LEGENDA
ANTIGAS ÁREAS DE DEPÓSITO DE LIXO
ÁREA ESCOLHIDA PELA GESTÃO 1997-2000 PARA CONSTRUÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO
ÁREA ESCOLHIDA PELA GESTÃO 2001-2004,ONDE SERÁ CONSTRUÍDA A USINA DE TRIAGEM E COMPOSTAGEME O ATERRO SANITÁRIO DE PRESIDENTE PRUDENTE
Figura 13 - Demarcação das áreas de deposição de lixo em Presidente Prudente (Mazzini, 1997), Nunes e Sant’Anna Neto (2001).
VILA VERINHA
VILA GENI
PARQUE ALEXANDRINA
PARQUE FURQUIM
PARQUE SÃO MATEUS
JARDIM GUANABARA
JARDIM SÃO JUDAS
PARQUE WATAL ISHIBASHIHUMBERTO SALVADOR (?)
JARDIM PLANALTO
VILA BRASIL
VILA MARCONDES
VILA OPERÁRIA
DISTRITO INDUSTRIAL
VILA NOVA PRUDENTE
JARDIM PRIMAVERA
CO
OLVA
P
76
Figura 14. Linha cronológica das áreas de deposição de lixo em Presidente Prudente
(Mazzini, 1997:61).
Com referência à coleta do lixo, a PRUDENCO é a responsável pela
coleta e destino final dado aos resíduos sólidos urbanos. Ela apresenta os seguintes
dados de produção diária média de lixo em Presidente Prudente (Tabela 11).
Tabela 11. Quantidade de resíduos sólidos urbanos gerados em Presidente Prudente-SP
TIPO DE LIXO PRODUÇÃO MÉDIA DIÁRIA (kg/dia)
Domiciliar/Comercial/Especial 90.000 Particulares 30.000 Hospitais 700 Varrição/Capina 18.000 Total 138.700
Fonte: PRUDENCO (1999). Retirado do Relatório Ambiental Preliminar (setembro de 1999).
77
Do volume de lixo doméstico produzido, aproximadamente 98% é
coletado em área urbana e 100% nos Distritos Rurais (Ameliópolis, Eneida, Floresta
do Sul e Montalvão).
Como já foi comentado, atualmente os resíduos sólidos domésticos
são despejados em área anexa ao antigo lixão, localizado próximo às intermediações
do Distrito Industrial. Os resíduos hospitalares são queimados no incinerador, que
fica próximo da atual área onde se depositam os resíduos sólidos domiciliares.
No caso dos resíduos de entulho, a maioria é despejada em três áreas
especificadas/regularizadas pela Secretaria Municipal do Meio Ambiente, os
chamados bolsões de entulho, que são:
I – antigo lixão do Distrito Industrial, que permite receber acima de
1m3 , material como entulho, galhos, móveis, ferro velho etc.;
II – próximo ao SESI, no prolongamento do bairro Sete Copas,
podendo receber até 1m3 de entulho;
III – e nas proximidades do estádio de futebol PRUDENTÃO, onde
somente pode ser despejado entulho.
Todavia, em levantamento feito pelos funcionários da Secretaria
Municipal do Meio Ambiente, foi contatada a formação de 32 pontos clandestinos
de entulho, espalhados pelos bairros periféricos da cidade de Presidente Prudente.
Isto nos leva a questionar quais os motivos do surgimento destes pontos de entulhos
clandestinos. Deve-se à falta de informações por parte da população o que faz com
que não cooperem com a limpeza pública? A prefeitura não desenvolve um trabalho
específico para recolhimento deste tipo de rejeito? Ou por que a administração
pública não conhecendo as diversas leis municipais e ambientais (Código Florestal,
Código de Águas) e mesmo o que está especificado na Lei Orgânica Municipal e no
Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, não consegue exercer uma ação mais
punitiva contra os infratores que lançam tantos detritos (materiais úrbicos), como
materiais gárbicos, em qualquer local?
Assim, referente aos aspectos jurídicos, é importante descrever o que
está proposto nos Planos Diretores de Desenvolvimento Integrado de Presidente
Prudente, do ano de 1969 e do atual de 1996, bem como da atual Lei Orgânica
78
Municipal, sobre quais são as políticas ambientais a serem implementadas, para o
melhor tratamento a ser dado aos resíduos sólidos urbanos, objetivando-se verificar
se as sucessivas administrações públicas vêm implementando estas políticas.
3.4. Os Planos Diretores e sua relação com os resíduos sólidos urbanos
No primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado de
Presidente Prudente de 1969, elaborado pelo Centro de Pesquisas e Estudos
Urbanísticos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São
Paulo, não se encontra nenhum tópico, nos seus 5 volumes, que trate sobre resíduos
sólidos urbanos. A única citação sobre lixo refere-se às áreas atendidas pela coleta do
lixo domiciliar, assim expresso:
“Na prancha no 60 é apresentada a área servida pela coleta do lixo domiciliar, que abrange a parte da cidade mais adensada. Os pontos de despejo do material removido são vários, sendo parte do mesmo distribuído a chacareiros para criação e engorda de porcos” (Plano Diretor de Presidente Prudente, vol.III, capítulo cidade, 1969: 332)
Conforme Marisco (1997: 72), a elaboração do Plano Diretor teve dois
objetivos fundamentais, visando:
“- à implantação do Distrito Indústrial, relacionada à política de planejamento regional de “criação de pólos de desenvolvimento”; - à promulgação da nova Lei Orgânica dos Municípios de 1967.”
Assim, pode-se observar que o tratamento dos resíduos sólidos
urbanos (domésticos, hospitalares, entulhos, etc.) não era prioridade para os
administradores da época em questão.
No caso do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de 1996, no
volume IV, que trata do meio ambiente, no tópico sobre limpeza urbana, os resíduos
79
sólidos urbanos são classificados em: comerciais, domésticos, especiais, hospitalares,
industriais, varreduras e construção e demolição.
A administração pública é responsável pela coleta dos resíduos
domiciliares, hospitalares, das feiras, de varrição e capina e de atividades terciárias.
Este último ítem é feito em parceria com particulares.
Quanto aos resíduos sólidos industriais, não há recolhimento deste
tipo de material, por parte da prefeitura, e os resíduos de atividades terciárias e de
diversos (entulhos) são recolhidos por empresas particulares.
Conforme especificado no Plano Diretor (1996:9), o principal
problema é o destino final da coleta de lixo, em que:
“A falta de conhecimento técnico e de planejamento de longo prazo teve graves conseqüências ambientais para a cidade. Outrora, o lixo coletado, proveniente de qualquer origem, fora lançado em aterros de boçorocas nas periferias urbanas, contaminando inclusive lençóis freáticos”.
Para reduzir os problemas decorrentes da destinação final do lixo, são
propostas no Plano Diretor (1996: 9; 10 e 11), entre tantas alternativas, as seguintes
ações:
1. Coleta especial do lixo em bares, restaurantes e lanchonetes,
devido à grande quantidade de resíduos orgânicos existentes;
2. Campanhas educativas para modificar os hábitos sanitários da
população como um todo;
3. Implantação da coleta seletiva do lixo, primeiramente em escolas
públicas e bairros com melhor participação comunitária, para o aproveitamento dos
resíduos recicláveis como: plástico, papel, vidro, metal, etc.;
4. A organização dos catadores de lixo;
5. A alfabetização de trabalhadores da coleta seletiva;
6. Cursos de segurança para os trabalhadores envolvidos no serviço
de coleta, transporte e manuseio de resíduos sólidos;
7. Melhor destino final aos resíduos sólidos urbanos, para não serem
despejados em fundos de vales e erosões. Conforme a viabilidade econômica, o
80
destino final poderá ser feito em aterros sanitários, usina de reciclagem e
compostagem, além de incinerador.
8. Incineração do lixo hospitalar;
9. Reaproveitamento dos antigos lixões em fundos de vale, como
espaços para recreação, com a construção de campos de futebol.
Referente à Lei Orgânica Municipal, que foi promulgada em 5 de
abril de 1990, e alterada e atualizada em 27 de março de 1996 (resolução no 200), na
seção II do Meio Ambiente, artigo 186, parágrafo XIII, diz que:
“Cabe ao Poder Público, através de seus órgãos de Administração Direta, Indireta ou Fundacional: - autorizar o Município a criar dispositivos e instrumentos que visem ao aproveitamento de resíduos urbanos domésticos e tóxicos, através de usinas de compostagem e de incineração, de acordo com sua classificação; promover a coleta seletiva de lixo, incentivando a população a dispor os resíduos sólidos não-biodegradáveis em coletores especiais, visando à reciclagem e reaproveitamento desses materiais”.
Pode-se observar que, pelo aspecto jurídico, que envolve as leis que
definem as políticas de desenvolvimento ambiental para o município de Presidente
Prudente-SP, o Plano Diretor de 1969 não apresenta nada de substancial, que viesse
solucionar a problemática do lançamento de resíduos sólidos domésticos em áreas
inadequadas.
Quanto ao Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano de 1996, como
na Lei Orgânica de 1990, está clara a disposição de se tentar levantar sugestões para
solucionar os problemas decorrentes da produção e da melhor destinação dos
resíduos sólidos urbanos.
Provavelmente, o que esteja faltando por parte das administrações
públicas sejam vontade e decisão política de aplicação do que está proposto e
aprovado no Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e na Lei Orgânica
Municipal. Neste aspecto, a primeira administração pública municipal a tentar
solucionar o problema do despejo e do tratamento dos resíduos sólidos domésticos
em locais inadequados foi a gestão municipal 1997/2000. Isto será visto a seguir.
81
3.5. A Gestão Municipal de 1997/2000 e a atual administração municipal
Com o intuito de tentar solucionar o problema do lixo, a
administração municipal eleita para a gestão 1997/ 2000, no seu programa de
governo (registrado em cartório), estabeleceu como metas:
1. Criação da Secretaria Municipal do Meio Ambiente;
2. Construição de uma usina de reciclagem e compostagem de lixo
com capacidade para 150 toneladas;
3. Construção de um incinerador para a destruição do lixo hospitalar;
4. Realização de um estudo de viabilidade para a implantação da
coleta seletiva do lixo.
Observando-se as metas destacadas, nota-se que o plano proposto para
o melhor destino e adequação para os resíduos sólidos urbanos produzidos em
Presidente Prudente-SP, propõe a construção de uma usina de reciclagem e
compostagem de lixo, sem citar a construção de um aterro sanitário, local este que
receberia os rejeitos não aproveitáveis do processo de reciclagem e compostagem.
É importante destacar que, em relação às administrações anteriores, as
propostas apresentadas pela gestão 1997/2000, representaram um significativo
avanço para a problemática dos resíduos sólidos urbanos, visto que as gestões
anteriores pouco se importaram com o tratamento e o melhor destino dados aos
resíduos produzidos no município.
Com o agravamento do lançamento dos resíduos sólidos urbanos de
qualquer gênero, em áreas de fundo de vales, sem nenhum controle sanitário e
ambiental, a Promotoria de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo, no
dia 11 de julho de 1997, assinou com a Prefeitura Municipal de Presidente Prudente e
com a PRUDENCO, um COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO (documento em
anexo) em que a administração municipal, responsável pelos danos ambientais e à
saúde pública, se comprometeu a atender os seguintes compromissos:
1. No prazo de 90 dias, comprar um incinerador de resíduos
provenientes da área hospitalar, com capacidade para 150 kg/hora;
82
2. Adquirir, no prazo de 12 meses, uma usina de compostagem e
reciclagem de lixo;
3. No prazo de 90 dias, cercar as área, clandestinas onde vem sendo
jogado o lixo;
4. Em 120 dias, recuperar antigas áreas de lixões na Vila Angélica e
na rua Alvino Gomes Teixeira.
5. Caso os compromissados não cumpram a sua parte, ocorrerá uma
multa de 20 salários mínimos por dia.
Com a assinatura deste documento, a Promotoria de Justiça arquivou
o Inquérito Civil (documento em anexo) que vinha desenvolvendo contra a
Prefeitura Municipal de Presidente Prudente, pelo tratamento inadequado dado aos
resíduos sólidos urbanos produzidos no município.
Para aquele contexto, foi importante a participação do COMDEMA,
que, através dos seus membros representativos das esferas administrativas no âmbito
municipal (executivo e legislativo), estadual (SABESP e CETESB), e da sociedade
civil organizada (ambientalistas, OAB – Ordem dos Advogados do Brasil, imprensa
e associação de moradores de bairros), pressionaram o executivo municipal para
solucionar o problema do lixo em Presidente Prudente.
Cabe destacar que o COMDEMA foi criado a partir da Lei N0
3.660/93, conforme o disposto no parágrafo 70 do artigo 47 da Lei Orgânica
Municipal, sendo considerado como...:
“...órgão consultivo orientador e normativo do Município no
que concerne à sua política de expansão, desenvolvimento,
prevenção e defesa da sua ecologia”.
Posteriormente, em 13 de novembro de 1997, a Prefeitura de
Presidente Prudente assinou um protocolo de intenções com a Secretaria do Meio
Ambiente do Estado de São Paulo e a CETESB, objetivando a formulação de
propostas para a destinação dos resíduos sólidos urbanos e domésticos.
83
Neste documento, ficou decidido que a Secretaria Estadual e a
CETESB dariam o seguinte suporte (documento em anexo):
1. Apoio técnico para o município;
2. Informar sobre a viabilidade econômica e financeira dos sistemas
mais adequados de coleta de lixo;
3. Orientar o município quanto à melhor área para a instalação do
respectivo empreendimento e os equipamentos necessários;
4. Incentivar a educação ambiental, em geral, e especialmente, em
relação à questão do lixo.
A Prefeitura Municipal e a PRUDENCO se responsabilizariam pela
reciclagem dos resíduos sólidos urbanos e domésticos, escolhendo qual o melhor
sistema de disposição final a ser dado.
Para que realmente a Prefeitura Municipal viesse a honrar os
compromissos firmados dentro dos prazos solicitados (documento em anexo), a
CETESB e a Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo, estabeleceram em
01 de abril de 1998, um TAC. O documento apresenta nove cláusulas, entre as quais
destacamos a segunda.
Nesta cláusula, a Prefeitura se comprometeu a resolver o problema do
vazadouro municipal de resíduos a céu aberto (lixão), que se localiza em área anexa
ao Distrito Industrial. Além disto, a elaborar e a apresentar ao DAIA –
Departamento de Avaliação do Impacto Ambiental da Secretaria do Meio Ambiente
do Estado de São Paulo, o RAP – Relatório Ambiental Preliminar, relativo ao
empreendimento a ser implantado no município para a obtenção das licenças
ambientais (licença de instalação e de funcionamento).
Paralelamente às assinaturas de documentos, a Secretaria Municipal
do Meio Ambiente, contando com um reduzido número de profissionais, e dentro
das disponibilidades financeiras, apresentou uma área localizada em zona rural,
próxima às margens do Córrego do Limoeiro, para a construção e implantação de
uma Usina de Triagem e Compostagem de lixo e do aterro sanitário (Figura 13) .
A escolha deste local foi devida a sua proximidade com a área onde
está sendo construída, pela SABESP, a Estação de Tratamento de Esgoto do
84
município de Presidente Prudente. Esta proximidade facilitaria o transporte e o
tratamento do chorume na estação, sem a necessidade de construção de tanques ou
lagoas de deposição do chorume, para posterior tratamento em outros locais.
Em vistoria feita à área, a CETESB (documento em anexo) atestou
ser ela passível de implantação do referido empreendimento, tanto do ponto de vista
topográfico, dos moradores próximos e do corpo d’água existente próximo à área.
Todavia, alguns parâmetros físicos, tais como nível do lençol freático, tipo de solo,
coeficiente de permeabilidade e outros, precisavam constar em projetos a serem
aprovados pelos órgãos competentes.
Outros documentos que atestam a possibilidade de implantação de
uma usina de reciclagem e compostagem e de um aterro sanitário na área vizinha à
Estação de Tratamento de Esgoto da SABESP são: “Parecer Geológico-Geotécnico”
(Godoy, 1998) e o “Relatório sobre sondagem feita na área em que provavelmente
será construído o Aterro Sanitário e Usina de Reciclagem e Compostagem de Lixo
de Presidente Prudente” (Nunes e Batista, 1998).
O primeiro foi elaborado a partir de uma ponderação de atributos de
terreno favoráveis ou desfavoráveis à implantação do empreendimento. Baseado em
procedimentos da cartografia geotécnica, Godoy (1998: 4) distinguiu cinco classes
de condicionantes da ocupação ou uso do terreno:
“Atributo A – relacionados a potencial de risco (“hazard”) ou à
geodinâmica do meio ambiente
Atributo B – relacionado à natureza do solo e da rocha subjacente ao
solo
Atributo C – relacionado à presença da água
Atributo D – correspondentes às características do relevo
Atributo E – relacionados às áreas ou recursos naturais a serem
protegidas da ocupação”.
Analisando-se os parâmetros físicos pesquisados para a área, o autor
concluiu que os atributos A, C e E são favoráveis à implementação do
85
empreendimento. Já o B é favorável, com algumas restrições, e o D, parcialmente
favorável.
O autor salienta que o principal problema talvez seja a possível falta
de material de cobertura (solo) para ser utilizado no fechamento diário das células de
lixo. Propõe que seja utilizada parcialmente a área escolhida (155.500 m2) e que seja
complementada com outra vizinha a ela, que se situa na porção sul - sudeste próxima
do Córrego São João.
Quanto ao segundo trabalho, este foi um complemento ao parecer
feito por Godoy (1998). A área escolhida foi o setor proposto anteriormente no
parecer geológico-geotécnico.
O objetivo do relatório foi identificar as reais possibilidades de
existência de material de cobertura (solo). Para isto optou-se pela análise a partir de
pontos de sondagem (14 no total), conforme os compartimentos de relevo existentes.
Assim, identificaram-se na área, cinco compartimentos de relevo, ou seja: Topo
plano da colina; Área de embaciamento de águas pluviais; Médias vertentes
côncavo-convexas; Zona de ressurgimento de freático; e a Várzea.
Associando-se os resultados das sondagens com os referidos
compartimentos de relevo, chegou-se a três classes de espessura: alta, 5-10 metros;
média, 3-5 metros e baixa, 0-3 metros. Isso significa que os compartimentos que
apresentaram os mais espessos perfis de solo (material intemperizado) foram os
setores das médias vertentes côncavo-convexas e o da área de embaciamento de
águas pluviais.
Até aquele momento, os técnicos da Secretaria Municipal do Meio
Ambiente enfocavam mais a viabilidade técnica e financeira do projeto. O aspecto
da aceitação ou não pelas comunidades próximas à área escolhida, da construção de
uma Usina de Triagem e Compostagem de lixo e de um aterro sanitário, vizinho a
suas propriedades, ainda não tinha sido profundamente discutido, devido à urgência
de cumprimento dos prazos do TAC, que já estavam se esgotando.
Neste sentido, um dos pontos mais questionados para a não aceitação
da área, foi a existência da Usina de Beneficiamento Cooperativa de Laticínios Vale
do Paranapanema – COOLVAP, que fica a uma distância de aproximadamente 400
86
metros da área escolhida inicialmente. A alegação feita por parte dos
administradores e do advogado da COOLVAP é que o “lixão” (compreensão que os
representantes têm de um aterro sanitário) iria, entre tantos aspectos, gerar os
seguintes problemas para a Cooperativa e proprietários de terras vizinhas:
- Odores fedidos que impregnariam o leite;
- Macro e microvetores (ratos, baratas, moscas, etc.);
- Resíduos como papéis, plásticos e outros que se deslocariam com o
vento para dentro das instalações industriais;
- Maior vantagem para as empresas concorrentes ao saberem que
próximo à COOLVAP funcionaria um aterro sanitário;
- Desvalorização venal das propriedades que se situam próximas da
área escolhida.
Outro motivo refere-se ao elevado valor de venda por hectare, acima
do valor de mercado, pedido pelo proprietário da área. Por sinal, o proprietário da
área escolhida para o aterro, também era o proprietário da área onde está sendo
construída a estação de tratamento de esgoto.
Em vista destes dois problemas, principalmente o relativo à
COOLVAP, o prefeito municipal da gestão 1997/2000, acabou vetando a área em
discussão, por entender que a sua administração, caso implementasse o
empreendimento do aterro sanitário naquele local, poderia vir a sofrer sérios
problemas de desgaste político. Cabe destacar que a COOLVAP tem entre pequenos,
médios e grandes produtores de leite, aproximadamente 1.800 associados.
O veto à área do Bairro do Limoeiro, além da urgência em se
solucionar o problema dos resíduos sólidos domésticos, levaram os técnicos da
Secretaria Municipal do Meio Ambiente a concentrarem seus esforços somente para
a construção de um aterro sanitário para o município. A construção de uma Usina de
Triagem e Compostagem de lixo, mesmo sendo ambientalmente vantajosa, tornou-se
inviável, devido ao elevado custo financeiro e operacional para aquele momento.
Além da área localizada no Bairro do Limoeiro, outras quatro áreas
foram selecionadas a partir de levantamentos feitos com base em fotografias aéreas,
mapas (topográfico, rede de drenagem e zoneamento urbano) associados a saídas
87
para checagem em campo. Estes estudos foram elaborados por um grupo
interdisciplinar, do qual faziam parte dois professores da UNESP - Universidade
Estadual Paulista de Presidente Prudente, dois membros da Secretaria Municipal do
Meio Ambiente, um membro da PRUDENCO e um membro da Secretaria Municipal
do Planejamento.
Os critérios utilizados para a pré-escolha das quatro áreas seguiram
aqueles levantados pelo IPT/CEMPRE, descritos no manual “Lixo Municipal:
Manual de Gerenciamento Integrado” (1995: 278). Em todas as áreas foram
descritos, de modo sucinto, os aspectos físicos (geomorfológicos, pedológicos,
geotécnicos, hidrogeológicos, cobertura vegetal e climáticos), os sócio-econômicos
(uso e ocupação do solo, valor da terra, aceitabilidade da população, condições de
acesso, etc.) e os legais (zoneamento urbano e localização da área).
A análise elaborada entre os aspectos físicos, sócio-econômicos e
legais, associada à verificação de campo, apresentou-se três áreas localizadas na zona
nordeste e uma na zona leste do município. Esta última foi a que apresentou as
maiores vantagens, principalmente por situar-se no Bairro Gramado, próximo à
chácara Cruzeiro, que apresentava, além da estrada bem compactada, um duplo
acesso em direção ao centro da cidade, tanto pelo Jardim Itapura II ou pelo SESI.
Mesmo com a criação de um grupo interdisciplinar, formado apenas
para escolher a futura área para a construção do Aterro Sanitário de Presidente
Prudente, todas as áreas levantadas e vistoriadas foram reprovadas pela Prefeitura
Municipal. Os principais motivos foram financeiros (reparação de estradas e pontes)
e de localização das áreas (distância em relação ao centro da cidade).
Posteriormente, em 18 de maio de 1999, a pressão exercida pelo
Promotor de Justiça do Meio Ambiente de Presidente Prudente, fez com que a
Prefeitura honrasse o acordo firmado na assinatura do TAC (documento em anexo).
Assim, o Prefeito Municipal desapropriou em 01 de junho de 1999, através do
decreto no 13.462, de 22 de fevereiro de 1999 (documento em anexo), como de
utilidade pública e para fins de desapropriação, uma área pertencente ao Senhor Júlio
Peruchi ou sucessores, localizada em área anexa ao Distrito Industrial, Bairro da
Tairana, próximo ao km 30, para a construção do Aterro Sanitário do município de
88
Presidente Prudente, no valor de R$ 72.000,00 ou $ 30.638,30 dólares (1 dólar= 2,35
reais – 05/03/2002).
Com a desapropriação da área, foi escolhida, através de licitação
pública, a EMPRESA FB ASSESSORIA e CONSTRUÇÕES LTDA – CGC/MF
40229759/0001-65, para a elaboração do RAP - Relatório Ambiental Preliminar e do
projeto de aterro sanitário, cujo custo foi de R$ 29.800,00 ou $ 12680,85 (1 dólar=
2,35 reais – 05/03/2002). De acordo com o RAP feito para a área em questão,
tecnicamente o local apresentava condições físicas favoráveis para a construção e a
operação de um aterro sanitário.
Em cinco pontos de sondagem, feitos pelo sistema de percussão
mecânica, a média de profundidade, sem atingir o lençol freático, variou entre 9 a 13
metros.
Nas análises granulométricas, feitas em seis amostras coletadas
durante o trabalho de sondagem, ocorreu a predominância da fração areia fina, com
20% de argila e pouca expressão da fração silte, sendo classificadas como areia
argilosa. Associados às análises granulométricas, foram feitos outros ensaios
geotécnicos tais como: limite de liquidez; limite de plasticidade; massa específica
dos sólidos; compactação; cisalhamento direto e permeabilidade com carga variável.
Além dos aspectos físicos serem favoráveis à implementação do
empreendimento (aterro sanitário), a área se encontra localizada, conforme o Plano
Diretor de Desenvolvimento Urbano, na ZI2 – Zonas de Indústrias Potencialmente
Poluitiva. É importante destacar, que a atual área de despejo de resíduos sólidos
domiciliares, encontra-se localizada em Zona de Preservação e Proteção Ambiental –
ZPPA, sendo totalmente imprópria para qualquer tipo de uso residencial, comercial e
industrial. Este aspecto, será detalhado no capítulo que trata sobre a morfodinâmica
da paisagem do Distrito Industrial de Presidente Prudente.
De acordo com o Quadro 1, observa-se que a maior parte dos
parâmetros sócio-econômicos analisados para escolha da área, feita pela empresa
responsável pelo RAP, foram classificados como recomendáveis, e alguns poucos
como recomendáveis com restrições.
89
Quadro 1. Dados da área de implantação do Aterro Sanitário de Presidente Prudente-SP.
Parâmetros Dados Classificação Vida útil > 10 anos Recomendado Distância do centro urbano > 2 Km Recomendado Zoneamento Ambiental Sem restrições Recomendado Zoneamento Urbano Sem restrições Recomendado Distância do aeroporto > 3 km Recomendado Densidade populacional Baixa Recomendado Infra-estrutura de rede elétrica e telefonia < 100m Recomendado
Valorização da Terra Média Recomendado com restrições
Distância aos cursos d’água < 200m Recomendado com restrições
Distância a residências isoladas < 500m Recomendado com restrições
Aceitação da população e entidades ambientais não governamentais Razoável Recomendado com
restrições Uso e ocupação do solo Área devoluta e pouco utilizada Recomendada Distância a pontos de captação d’água para abastecimento urbano > 2 km Recomendada
Fonte: Retirado do Relatório Ambiental Preliminar (1999: 74).
No resultado final, a empresa responsável pela elaboração do projeto
“Aterro Sanitário do Município de Presidente Prudente, SP”, propõe a criação da
UNITRUP – Unidade de Tratamento Integrado de Resíduos Sólidos Urbanos de
Presidente Prudente. Esta seria composta por um Centro de Conscientização
Educacional e Treinamento e de um pátio de estocagem de materiais; os catadores,
que trabalham na atual área de despejo de resíduos sólidos domésticos, seriam
igualmente integrados nestes projetos. O projeto do aterro sanitário foi estimado para
10 anos de vida operacional (2000 a 2009). Com a operação de um centro de triagem
de materiais, aumentaria a sua vida útil em 20%, ou seja, 12 anos.
Todavia, alguns dados apresentados como recomendáveis ou sem
restrições no Quadro 12, não condizem com a realidade observada na área e nem
com o depoimento dado pelo Sr. Antônio Mizukoshi, proprietário do Sítio
Mizukoshi, que fica localizado ao lado da área escolhida para a construção do aterro
sanitário. Os parâmetros questionados são: zoneamento ambiental (sem restrição),
aceitação da população e entidades ambientais (razoável), distância do ponto de
captação de água para abastecimento urbano (recomendado).
Em conversa com o Sr. Antônio MizuKoshi, que mora há
aproximadamente 35 anos no mesmo local, os técnicos da EMPRESA FB
90
ASSESSORIA e CONSTRUÇÕES LTDA, nunca foram conversar ou buscar
informações sobre a área com ele. Para o proprietário, o trabalho de sondagem feito
pelo sistema de percussão mecânica não foi realizado, pois o mesmo nunca viu ou
ouviu qualquer movimentação de maquinário na área.
O proprietário mostrou-se extremamente preocupado com a possível
construção do aterro sanitário vizinho às suas terras, devido a possível contaminação
de dois poços dágua por chorume. No poço que fornece água para a subsistência da
casa, a lâmina dágua está a uma profundidade de 16,5 metros. Já o outro poço, que é
artesiano, com profundidade de 100 metros, tem a lâmina d’água a 30 metros, e
fornece água para irrigação dos diversos produtos hortifrutigranjeiros produzidos,
tais como: frutas (laranja, uva, caqui, manga); verduras e legumes (berinjela,
abobrinha, etc.).
No que se refere ao zoneamento ambiental, a área apresenta restrições
devido à proximidade com vários pontos de afloramento d’água observados no
terreno (<200 metros). A este dado associamos o da distância do ponto de captação
d’água para o abastecimento urbano. Caso ocorra contaminação por percolados
como o chorume nos lençóis freáticos suspensos (pouco profundos) e dos poços
dágua da área e entorno, as águas subsuperficiais e superficiais dos córregos
temporários e permanentes também se tornarião degradadas, como no caso da
contaminação por chorume, que vem ocorrendo no Córrego Gramado e afluentes.
Para que não ocorra problema de contaminação, a empresa
responsável pelo projeto do aterro sanitário propôs a impermeabilização das células
de lixo com camadas de solo compactado, associada a mantas impermeabilizadoras –
Geomembrana (PEAD), além da construção de um sistema de drenagem de águas
pluviais, de gases, e de poços de monitoramento das águas subsuperfíciais e de águas
superficiais.
As entidades ambientais, representantes da sociedade civil,
escolheram a primeira área (localizada no Bairro do Limoeiro), próxima às
instalações da futura Estação de Tratamento de Esgoto da SABESP, como a mais
adequada para a instalação do projeto. Esta área era também a mais aceita, segundo
avaliação dos membros do COMDEMA, principalmente pela distância e pela
91
viabilidade do transporte do chorume para ser tratado diretamente na Estação de
Tratamento de Esgotos. Entretanto houve rejeição por parte da COOLVAP.
Durante a administração anterior (1997- 2000), quando se iniciou todo
o processo de discussão para solucionar o problema da destinação dada aos resíduos
sólidos urbanos (principalmente os domésticos), e começaram a ser tomadas as
providências para a construção efetiva do aterro sanitário e outros projetos (Usina de
Triagem e Reciclagem, coleta seletiva de lixo, etc.), pouco ou nada foi realizado,
com exceção da construção do incinerador de resíduos hospitalares, instalado na área
do Distrito Industrial. Além deste problema o prazo do acordo firmado através da
assinatura do TAC entre a Prefeitura, a CETESB e a Secretaria Estadual do Meio
Ambiente também teve seu prazo vencido.
Como a Prefeitura não cumpriu o acordo na sua totalidade, ou seja, a
execução das obras e das atividades previstas no TAC, em especial os de número
3.2, 3.3 e 3.4, a mesma teria que pagar uma multa diária no valor de 20 salários
mínimos. Para que não acontecesse esta punição, a Promotoria do Meio Ambiente
estabeleceu que a Prefeitura fizesse o cercamento, com mourão e tela, de toda a área
demarcada, bem como o cascalhamento de toda a via de acesso ao aterro sanitário.
Além desta notificação, a Prefeitura recebeu várias advertências por
parte da CETESB, como se observa no auto de inspeção no 789605, processo no
120016599, com data de infração 09/08/1999 (documento em anexo).
A atual administração pública municipal, gestão 2001-2004, havia, a
princípio, escolhido para a construção do aterro sanitário, aquela área localizada no
Bairro do Limoeiro, próximo da COOLVAP. Posteriormente, esta área foi descartada
por estar situada dentro do raio de abrangência do Aeroporto Municipal. Assim, a
Prefeitura acabou recorrendo à área localizada nas intermediações do Distrito
Industrial, ou seja, a mesma área definida anteriormente pela administração
municipal 1997/2000.
Posteriormente, sem a participação dos membros do COMDEMA e de
outros agentes sociais, o poder público municipal assinou o decreto n0
14.971/2001(documento em anexo) de 24 de agosto de 2001, decretando como de
utilidade pública uma área de propriedade de Waldomiro Arigoni, localizada no
92
Bairro do Limoeiro, vizinha a ETE – Estação de Tratamento de Esgoto da SABESP.
Ou seja, a atual administração municipal definiu que a primeira área escolhida, desde
o início do processo de seleção, a área do Bairro do Limoeiro é a mais adequada para
a construção de uma Usina de Triagem e Compostagem de lixo e do aterro sanitário.
Além da desapropriação da área, foi aprovada em seção Ordinária da
Câmara Municipal, em 8 de outubro de 2001, a Lei n0 216/13 de autoria do vereador
Luiz Gomes Pedrosa, que dispõe sobre a coleta seletiva e a reciclagem dos resíduos
sólidos e de outras providências. A lei estabelece que, a coleta seletiva e a reciclagem
dos resíduos sólidos municipais serão executadas pelo poder executivo, bem como a
criação do Conselho de Gerenciamento Ambiental e Desenvolvimento Sustentável,
representado por diversos seguimentos da sociedade civil.
Enfim, analisando os diversos aspectos socioeconômicos e políticos,
chegou-se à constatação que, nem sempre os critérios técnicos são os mais
determinantes e definidores para escolha de áreas para aterro sanitário. Isto, pode ser
observado, ao longo do processo de escolha da atual área, onde em determinados
momentos, as decisões políticas e econômicas suplantaram as decisões técnicas
(físicas).
Com base nisso, pode-se dizer que, desde o início do processo de
definição de uma área, é necessário contar com a participação da população,
principalmente daquela que receberá próximo às suas propriedades, um
empreendimento do tipo aterro sanitário. No próximo capítulo, serão caracterizados
regionalmente (Oeste Paulista), os aspectos relacionados à dinâmica dos elementos
da natureza (geomorfologia, geologia, morfoestrutura, hidrogeologia e pedologia),
que foram estabelecidos como critérios básicos, para a elaboração de procedimentos
técnicos para escolha de áreas para aterro sanitário.
93
4 A PAISAGEM DO OESTE PAULISTA
Neste capítulo, serão abordados os aspectos físicos (Geomorfologia,
Geologia, Morfoestrutura, Hidrogeologia e Pedologia) presentes na paisagem
regional (Oeste Paulista) e local (Presidente Prudente).
4.1. A Geomorfologia
A primeira subdivisão do relevo do Estado de São Paulo foi
apresentada por Moraes Rego (1932), delimitando o Planalto Ocidental, à Depressão
Periférica, os relevos cuestiformes e as áreas cristalinas (IPT, 1981b: 6;7).
Posteriormente vieram os trabalhos de Deffontaines (1935), Monbeig (1949),
Ab’Saber (1956), Ab’Saber e Bernardes (1958), e Almeida (1964). Este último
serviu de base para a elaboração do Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo –
escala 1: 1.000.000, feito pelo IPT (1981b).
De acordo com o Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo
(IPT, 1981b), o Estado de São Paulo está dividido em cinco províncias
geomorfológicas que são: I – Planalto Atlântico; II – Província Costeira; III –
Depressão Periférica; IV – Cuestas Basálticas e V – Planalto Ocidental Paulista.
Geomorfologicamente, o Oeste Paulista encontra-se localizado no
Planalto Ocidental Paulista, que abrange uma área de aproximadamente 50% do
Estado de São Paulo, indo desde a província das Cuestas Arenítico - Basálticas até
ao limite norte (rio Grande), oeste (rio Paraná) e sul (rio Paranapanema) (Figura 15).
Esta província apresenta litoestruturalmente, através do espesso
pacote vulcânico-sedimentar da Bacia do Paraná “...a disposição das camadas, com
caimento suave para noroeste, e a presença de marcado horizonte de basaltos
separando as rochas paleozóicas e mesozóicas inferiores, dos arenitos cretácios
pós-basálticos (IPT, 1981b: 21)”.
321
321
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LEGENDA1-RELEVO DE AGRADAÇÃO1.1. Continentais111 Planícies Aluviais - terrenos baixos e menos planos, próximo às margens dos rios, sugeitos periodicamente a inundações.112 Terraços Fluviais - terraços horizontais ou levemente inclinados, próximo às margens dos rios, alçados poucos metros em relação às várzeas, não inundáveis.2. RELEVOS DE DEGRADAÇÃO, EM PLANALTOS DISSECADOS2.1. Relevo Colinoso ( Pred. Baixas decliv.- Até 15% - amplitudes locais inferiores a 100 metros)212 Colinas Amplas - Predominam interflúvios com área superior a 4 km, topos extensos e aplainados , vertentes com per- fis retilíneos a convexos. Drenagem de baixa densidade, padrão subdendrítico, vales abertos, planícies aluviais interiores restritas, presença eventual de lagoas perenes ou intermitentes.
2213 Colinas Médias - Predominam interflúvios com áreas de 1 a 4 km , topos aplainados, vertentes com perfís convexos a retilíneos . Drenagem de média a baixa densidade , padrão sub-retangular, vales abertos a fechados, planícies aluviais interiores restritas,presença eventual de lagoas perene ou intermitente.2.2 Relevo de Morros com Encostas Suavizadas( Pred. Baixas decliv..-até 15%- amplitudes Locais de 100 a 300 metros)
2221 Morros Amplos - constituem interflúvios arredondados com área superior a 15 km , topos arredondados a achatados, vertentes com perfis retilíneos a convexos. Drenagem de baixa densidade, padrão dendritico, vales abertos, planícies aluviais interiores restritas. Em vários locais há presença de boçorrocas.2.3. Relevo de Morretes ( predominam decliv. Médias a altas - acima de 15%- amplit. Inferiores a 100 metros)234 Morretes Alongados e Espigões - predominam interflúvios sem orientação preferencial topos angulosos a achatados, ver- tentes ravinadas com perfís retilíneos. Drenagem de média a alta densidade, padrão dendritico, vales fechados.3.RELEVOS RESIDUAIS SUPORTADOS POR LITOLOGIAS PARTICULARES3.2. Sustentados por rochas sedimentares321 Mesas Sedimentares- morros tabulares de borda escarpadas, formandop mesas isoladas , topos achatados,vertentes com perfís retilíneos, escarpadas e com exposições de rochas. Dren. de média densidade, padrão dendr.,V.fechados5.RELEVO DE TRANSIÇÃO5.1.Encosta não Escarpadas predominam declividades médias - entre 15 a 30% - amplitudes maiores de 100 metros)511 Encostas Sulcadas por Vales Subparalelos desfeitas em interflúvios lineares de topos angulosos a arredondados , vertentes de perfís retilíneos. Drenagem de média densidade, padrão subparalelo a dendritico, vales fechados.5.2. Escarpas ( predominam declividades altas - acima de 30% - amplitudes maiores que 100 metros.)521 Escarpas Festonadas - desfeitas em anfiteatros separados por espigões, topos angulosos, vertentas com perfís retilíneos.Dre- nagem de alta densidade, padrão subparalelo a dendritico, vales fechados.II- FEIÇÕES DE RELEVO SUBORDINADAS Cabeceiras de drenagem com erosão acelerada, em áreas sedimentares2 - Convenções Cartográficas
Rios Reservatórios existentes
Rodovias FerroviasCidades
Adaptado do Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo - IPT (1981)
Organizado e des. por: BOIN, M. N., 2000
Figura 15 - MAPA GEOMORFOLÓGICO DO OESTE PAULISTA
án
araP oiR
Rio Paranapanema
Rio P
araná
Ri To ietê
R i o S a n t o A n a s t á c i o
R i o d o P e i x e
R i o A g
u a p e í
R i o
T i b a
j i
Tupi Paulista
DracenaJunqueirópolis
Mirandopolis
Valparaiso
PenápolisBilac
GuararapesBirigui
Araçatuba
Pacaembu
AdamantinaLucélia
Osvaldo Cruz
Tupã
Rancharia
Martinópolis
Regente Feijó
Pirapozinho
M. Paranapanema
T. Sampaio
Presidente Prudente
Presidente Bernardes
Presidente Venceslau
Presidente Epitácio
Santo Anastácio
Paraguaçu Paulista
Quatá
Maracai
Assis
Florinia
Iepê
Palmital
Panorama
53º00´
53º00´
2121
21º00´ 21º00´
21º30´ 21º30´
22º00´ 22º00´
22º30´ 22º30´
23
23º00´ 23º00´
Escala gráfica
o 15 30 45 km
Paraná
Mato
Gro
sso d
o Sul
95
As camadas geológicas (a grande maioria delas pertencente ao Grupo
Bauru) que formam o Planalto Ocidental Paulista, apresentam um grau de caimento
em direção à calha do Rio Paraná, condicionando uma tendência à formação de
relevos estruturais (IPT, 1981b: 21). A este fato associa-se a importância da
ocorrência de processos de pedimentação neogênica também na formação do relevo
regional, muito bem caracterizado por Ab’Saber (1969) no texto “Os baixos
chapadões do oeste paulista”.
Neste trabalho, o autor caracteriza o Planalto Ocidental Paulista como
“...uma vasta extensão de chapadões areníticos de vertentes convexas suaves,
constitui uma das áreas de relevos tabuliformes de centro-de-bacia, das mais típicas
do país” (Ab’Saber, 1969:1). Mesmo tendo uma configuração topográfica regional
parecida “...em vários setores dos “espigões” dos chapadões ocidentais paulistas,
mesmo em setores de grande rebaixamento topográfico, existem relevos que
escaparam aos efeitos homogeneizantes das aplainações neogênicas” (Ab’Saber,
1969:4). Pode-se destacar, como relevos diferenciados, os planaltos interiores de
Marília-Garça-Echaporã, Monte Alto e Catanduva (IPT, 1981b: 70).
Para Sudo (1980: 2), o Planalto Ocidental Paulista se desenvolve em
uma Superfície de Reverso de Cuesta, onde suas altitudes decrescem de 900 a 1000
metros nos altos da Cuesta Arenítico-Basáltica , até 250 a 300 metros nas barrancas
do rio Paraná, conforme pode ser visto no Mapa Hipsométrico do Oeste Paulista
(Figura 16).
A maioria dos principais cursos d’água do Planalto Ocidental
Paulista, que fazem parte da região do Pontal do Paranapanema, apresenta-se como
rios conseqüentes, com um sistema de drenagem paralelo rumando em direção à
calha do Rio Paraná. Outros cursos d’água de menor porte, que deságuam no rio
Paranapanema, como os rios Pirapozinho, Laranja Doce e Anhumas, apresentam-se
como subseqüentes.
> 600 m
500 -600 m
400 - 500 m
300 - 400 m
< 300 m
Rios RodoviasReservatórios existentes Ferrovias Cidades
Elaborado e des. por: BOIN, M.N. , 2000
Figura 16 - MAPA HIPSOMÉTRICO DO OESTE PAULISTA
1. Níveis Altimétricos
LEGENDA
2. Convenções Cartográficas
Base cartográfica, Mapa Geomorfológico do Estado de São Paulo -IPT, 1981
án
araP oiR
Rio Paranapanema
Rio P
araná
Ri To ietê
R i o S a n t o A n a s t á c i o
R i o d o P e i x e
R i o A g
u a p e í
R i o
T i b a
j i
Tupi Paulista
DracenaJunqueirópolis
Mirandopolis
Valparaiso
PenápolisBilac
GuararapesBirigui
Araçatuba
Pacaembu
AdamantinaLucélia
Osvaldo Cruz
Tupã
Rancharia
Martinópolis
Regente Feijó
Pirapozinho
M. Paranapanema
T. Sampaio
Presidente Prudente
Presidente Bernardes
Presidente Venceslau
Presidente Epitácio
Santo Anastácio
Paraguaçu Paulista
Quatá
Maracai
Assis
Florinia
Iepê
Palmital
Panorama
53º00´
53º00´
2121
21º00´ 21º00´
21º30´ 21º30´
22º00´ 22º00´
22º30´ 22º30´
23
23º00´ 23º00´
Escala gráfica
o 15 30 45 km
Paraná
Mato
Gro
sso d
o Sul
97
Conforme as principais características dos sistemas de relevo
elaborados pelo IPT (1981) e presentes no Relatório Zero da 22a Unidade de
Gerenciamento de Recursos Hídricos do Pontal do Paranapanema, os relevos foram
classificados em três tipos básicos (Quadro 2):
Quadro 2. Principais características dos sistemas de relevo presentes na 22a UGRHI - Pontal do Paranapanema (modificado de IPT 1981b).
Convenção Características gerais
1. Relevos de Agradação, em Planícies Aluviais.
1.1. Relevo de planície aluvial
111 Planícies aluviais – Terrenos baixos e mais ou menos planos, junto às margens dos rios, sujeitos periodicamente a inundações.
2. Relevos de Degradação, em Planaltos Dissecados.
2.1. Relevo colinoso
212
Colinas amplas – predominam interflúvios com área superior a 4 km2, topos extensos e aplainados, vertentes com perfis retilíneos a convexos. Drenagem de baixa densidade, padrão subdendrítico, vales abertos, planícies aluviais interiores restritas, presença eventual de lagoas perenes ou intermitentes. É o sistema de relevo característico do Planalto Ocidental. Acha-se desenvolvido predominantemente sobre arenitos do Grupo Bauru.
213
Colinas médias – predominam interflúvios com áreas de 1 a 4 km2, topos aplainados, vertentes com perfis convexos a retilíneos. Drenagem de média a baixa densidade, padrão subretangular, vales abertos a fechados, planícies aluviais restritas, presença eventual de lagoas perenes ou intermitentes. Constitui um sistema de relevo encontrado restrito às cabeceiras dos rios Turvo e Pardo, sobre arenitos da Formação Adamantina. Apresenta freqüentes transições para o sistema de relevo 212 e 234.
2.2. Relevo de morros com encostas suavizadas
221 Morros amplos – constituem interflúvios arredondados com área superior a 15 km2, topos arredondados a achatados, vertentes com perfis retilíneos a convexos. Drenagem de baixa densidade, padrão dendrítico, vales abertos, planícies aluviais interiores restritas.
2.3. Relevos de morrotes
234
Morrotes alongados e espigões – predominam interflúvios sem orientação preferencial, topos angulosos, vertentes ravinadas com perfis retilíneos. Drenagem de média a alta densidade, padrão dendrítico, vales fechados. Ocorre em áreas restritas na cabeceira do ribeirão São Pedro, sobre substrato arenoso das formações Marília e Adamantina.
3. Relevos Residuais Suportados por Litologias Particulares
3.1. Sustentados por rochas sedimentares
321 Mesas sedimentares – morros tabulares de bordas escarpadas, formando mesas isoladas ou conjunto de mesas, topos achatados, vertentes com perfis retilíneos, freqüentemente escarpadas e com exposições locais de rocha. Drenagem de média densidade, padrão dendrítico, vales fechados.
Fonte: Relatório Zero da UGRHI do Pontal do Paranapanema, 1999: 46).
98
No município de Presidente Prudente, conforme IPT (1981b: 71) e
associado ao Quadro 2, as formas de relevo dominante são os Morrotes Alongados e
Espigões e as Colinas Médias.
No caso dos Morrotes Alongados e Espigões, relevo no qual situa-se
o núcleo urbano da cidade de Presidente Prudente, predominam declividades médias
a altas acima de 15%, com amplitudes locais inferiores a 100 metros.
De modo geral, predominam interflúvios sem orientação preferencial,
com topos angulosos e achatados e vertentes ravinadas com perfis retilíneos. A
drenagem é de média a alta densidade, com padrão dendrítico e vales fechados.
Estruturalmente, estes são os relevos mais acidentados, estando
associados à Formação Adamantina, que compreende arenitos com cimentação
carbonática. Tal fato será detalhado no tópico sobre a geologia regional e local.
Além disto, de modo geral, predominam nestas áreas os solos Podzólicos Vermelho
Amarelo eutróficos e Vermelho Amarelo abrúpticos (Barrios, 1995: 54).
Nas Colinas Médias, predominam as baixas declividades até 15% e
amplitudes locais inferiores a 100 metros.
Os interflúvios compreendem áreas em torno de 1 a 4 km2, cujos
topos são aplainados. As vertentes têm um perfil convexo a retilíneo, com uma
drenagem de média a baixa densidade de padrão sub-retangular. Os vales são abertos
a fechados, tendo planícies aluviais interiores restritas, com a presença eventual de
lagoas perenes ou intermitentes.
Em pesquisa elaborada por Sudo (1980), o autor, ao abordar os
aspectos da compartimentação geomorfológica observada na região do Alto Santo
Anastácio, delimitou três unidades principais de relevo:
1. Superfície de Cimeira Regional (acima de 500 metros);
2. Interflúvios Escalonados (de 480 metros até 380 metros);
3. Terraços e planícies de inundação.
O primeiro grande compartimento de relevo compreende o domínio
dos chapadões rebaixados pela erosão neogênica do extremo Oeste Paulista. De
modo geral, os chapadões ou espigões suavemente convexos, cujos topos em boa
99
parte são oriundos de formas residuais, são sustentados por camadas areníticas ainda
coerentes.
Conforme Sudo (1980: 71), o conjunto que compreende este domínio
geomorfológico forma um “...espigão maior que se comporta como divisor
principal das águas da bacia do Santo Anastácio, pelo lado oeste, das águas da
bacia do Ribeirão do Mandaguari, pelo lado norte-nordeste, e das da bacia do
Ribeirão da Laranja-Doce, a leste-sudeste”.
Neste espigão maior que está situada a cidade de Presidente Prudente,
considerado como o divisor principal de águas, que “...corresponde a um ramo
digitado da superfície cimeira regional cuja extensão mais expressiva encontra-se
na região de Martinópolis” (Sudo, 1980: 72).
O compartimento dos interflúvios colinosos escalonados
altimetricamente está localizado nas bordas da superfície de cimeira (480 m) até os
níveis de terraço (380 m). É o domínio do relevo de colinas côncavo-convexas de
topos suavemente ondulados, geralmente com colúvios de pouca espessura,
resultantes de processos morfoclimáticos oriundos de clima seco a úmido.
É este compartimento, onde se situam o Distrito Industrial e a área
escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção do Aterro Sanitário do
município de Presidente Prudente, que detalharemos no próximo capítulo.
O compartimento dos terraços e planícies de inundação se apresenta
de modo descontínuo ao longo do rio Santo Anastácio.
Outro trabalho importante analisado é o Mapa Geomorfológico do
Estado de São Paulo na escala 1: 500.000 elaborado por Ross e Moroz (1996:50). O
autor, através dos conceitos de morfoestrutura e morfoescultura do relevo,
associados aos aspectos morfoclimáticos atuais, apresenta três unidades
morfoestruturais:
I. Cinturão Orogênico do Atlântico;
II. Bacia Sedimentar do Paraná;
III. Bacias Sedimentares Cenozóicas.
Para cada uma das unidades morfoestruturais apareceram várias
unidades morfoesculturais (planaltos, depressões e planícies litorâneas e fluviais),
100
que, conseqüentemente, estão associadas a diversas formas de relevo (colinas,
morros, escarpas, etc.).
Assim, o município de Presidente Prudente encontra-se localizado na
Bacia Sedimentar do Paraná (morfoestrutura) e no Planalto Ocidental Paulista
(morfoescultura), mais precisamente no Planalto Centro Ocidental (Ross e Moroz,
1996: 50).
Após esta breve caracterização dos aspectos geomorfológicos
regionais, onde se mostrou em qual domínio morfológico se encontra o município de
Presidente Prudente, no próximo tópico serão analisadas as formações geológicas na
escala regional e a situação de Presidente Prudente neste contexto.
4.2. A Geologia
O município de Presidente Prudente encontra-se localizado na região
do Oeste Paulista que, morfoestruturalmente, pertence à Bacia Sedimentar do
Paraná, a qual é constituída por rochas sedimentares e ígneas (idade Mesozóica) e
por depósitos recentes (idade Cenozóica).
Esta unidade geotectônica, formada a partir do Devoniano Inferior
(IPT, 1981 a: 46), possui uma área de aproximadamente 1.100.000 Km2 dentro do
território brasileiro.
De acordo com alguns autores, a origem da Bacia Sedimentar do
Paraná, deveu-se a vários movimentos de caráter epirogenético ascensional pós-
cretácico da placa litosférica, associado a falhamentos de gravidade (Loczy, 1966;
In: Relatório Zero da UGRHI do Pontal do Paranapanema, 1999: 23), que geraram
condições para a deposição de lavas basálticas e, principalmente, de espesso pacote
de sedimentos (Figura 17).
101
Figura 17. Localização e limites da Bacia do Paraná (IPT, 1981 a:46).
102
Conforme a coluna litoestratigráfica da bacia do Paraná (IPT, 1981 a:
48), as formações geológicas dominantes que afloram na região do Pontal do
Paranapanema (Figura 18), pertencem ao Grupo São Bento – Formação Serra Geral-
JKsg (4,3%); ao Grupo Bauru – Formações Caiuá-Kc (28,7%), Santo Anástácio-Ksa
(2,7%), Adamantina-Ka (62,2%), e os Depósitos Cenozóicos-Qa (2,1%).
De acordo com o especificado na coluna litoestratigráfica (IPT, 1981
a: 48), a Formação Serra Geral é constituída por “...rochas vulcânicas toleíticas
dispostas em derrames basálticos, com coloração cinza a negra, textura afanítica
com intercalações de arenitos intertrapeanos, finos a médios apresentando
estratificação cruzada tangencial. Ocorrem espessos níveis vitrofíricos não
individualizados”.
Já a Formação Caiuá, pertencente ao Grupo Bauru é constituída por
“...arenitos finos a médios, com grãos bem arredondados, com coloração arroxeada
típica, apresentando abundantes estratificações cruzadas de grande a médio porte.
Localmente ocorrem cimento e nódulos carbonáticos” (IPT, 1981 a: 48).
Quanto à Formação Santo Anastácio, ela apresenta “...arenitos muito
finos a médios, mal selecionados, subordinadamente de caráter arcosiano,
geralmente maciços, apresentando localmente cimento e nódulos carbonáticos”
(IPT, 1981 a: 48).
A Formação Adamantina apresenta-se como a mais importante e
amplamente documentada, para este trabalho, pois a maioria das pesquisas
geológicas desenvolvidas na região do Pontal do Paranapanema, especialmente para
o município de Presidente Prudente, apresenta a Formação Adamantina como a de
maior expressão e representatividade. (Figura 19).
Retornando ao especificado na coluna litoestratigráfica do IPT (1981
a: 48), a Formação Adamantina é constituída por “...arenitos finos a muito finos,
podendo apresentar cimentação e nódulos carbonáticos com lentes de siltitos
arenosos e argilítos ocorrendo em bancos maciços, estratificação plano-paralela e
cruzada de pequeno a médio porte”.
103
Figura 18. Coluna litoestratigráfica da bacia do Paraná (IPT,1981a: 48).
Kc
22º00´
22º30´
Escala gráfica
Kc
Kc
Ka
Ka
Ksa
KaQi
Ksa
Ksa
Ksa
Ka
Km
Km
Km
Jksg
Jksg
Ka
Ka
KaKa
Ka
KaQi
Ksa
Esboço Geológico adapatado do Mapa Geológico do Estada de São Paulo-IPT-1981
LEGENDA
Coberturas Cenozóicas
GRUPO BAURU
Formação Marília
Formação Adamantina
Formação Santo Anastácio
Formação Caiuá
GRUPO SÃO BENTO
Formação Serra GeralJksg
Kc
Ksa
Ka
Km
Qi
Rios EstradasReservatórios existentes Ferrovias Cidades
Organizado e Des. por: BOIN, M.N. , 2000
2. Litologias
Areias, argilas e seixos
Arenitos grosseiros com cimento carbonáticos
Arenitos finos e róseos a castanho, bancos de lamitos, siltitos e arenitos lamíticos.Arenitosmarrom avermelhado a arroxeado, arenitos sil-tosos e argilitosArenitos arroxeados
Basaltos toleíticos intercalados a arenitos
Figura 19 - MAPA GEOLÓGICO DO OESTE PAULISTA
1. Estratigrafia
3. Convenções Cartográficas
án
araP oiR
Rio Paranapanema
Rio P
araná R i o S a n t o A n a s t á c i o
R i o d o P e i x e
Ri To ietê
R i o A g
u a p e í
R i o
T i b a
j i
Tupi Paulista
DracenaJunqueirópolis
PenápolisBilac
Pacaembu
AdamantinaLucélia
Osvaldo Cruz
Tupã
Rancharia
Martinópolis
Regente Feijó
Pirapozinho
M. Paranapanema
T. Sampaio
Presidente Prudente
Presidente Bernardes
Presidente Venceslau
Presidente Epitácio
Santo Anastácio
Paraguaçu Paulista
Quatá
Maracai
Assis
Florinia
Iepê
Palmital
Mirandopolis
Valparaiso
GuararapesBirigui
Araçatuba
Panorama
53º00´
21º30´ 21º30´
22º00´
22º30´
23º00´ 23º00´
o 15 30 45 km
Paraná
53º00´
2121
21º00´ 21º00´
23
Mato
Gro
sso d
o Sul
105
Conforme Godoy (1989 e 1999: 19), os arenitos da Formação
Adamantina:
“...caracteriza-se litológicamente pela ocorrência de bancos de arenito de granulação fina a muito fina, de cor rósea a castanho, com espessuras variáveis entre 2 e 20 metros e alternados com lamitos, siltitos e arenitos lamíticos, de cor castanha avermelhada a cinza castanho. Quanto à estrutura, as estratificações cruzadas são próprias dos estratos mais areníticos, ao passo que, nos termos lamíticos subordinados a eles, são mais comuns os bancos maciços ou dispostos em acamamento plano-paralelo, com a presença freqüente de marcas de ondas e microestratificação cruzada”.
Estas características podem ser observadas na Foto 2. No centro,
notam-se estruturas sedimentares, cujas marcas de ondas típicas de estratificação
cruzada acanalada de pequena escala, “...consiste de estruturas de escavação por
erosão preenchida por sedimentos com lâminas recurvadas, mergulhando das
bordas para o eixo do canal e de montante para jusante da paleocorrente...”
(Suguio e Bigarella, 1990: 54). Na parte inferior e superior, os arenitos aparecem
estruturalmente em forma de bancos maciços, com estratificação plana paralela.
Foto 2. Estrutura de microestratificação cruzada acanalada observada nos arenitos da Formação Adamantina, em um corte de estrada (rodovia Raposo Tavares - SP 270) no município de Álvares Machado. Nunes e Boin (2000).
106
As linhas de transição entre as estratificações planas paralelas e
cruzada acanalada representam as superfícies de reativação. É um indicativo de
mudança de direção do fluxo do canal, resultando em um processo migratório
momentâneo da forma do leito fluvial (Suguio e Bigarella, 1990: 54).
O estudo realizado por Almeida et al. (1981; In: Relatório Zero da
UGRHI do Pontal do Paranapanema, 1999: 39-40), na região do Pontal do
Paranapanema, analisa as diversas variações litológicas presentes na Formação
Adamantina, e os autores propõem uma subdivisão em unidades de mapeamento
denominadas de KaI, KaIV e KaV.
A unidade KaI , verificada entre os rios Paranapanema e do Peixe,
corresponde a 37% do total aflorante no Pontal do Paranapanema. É constituída por
arenitos quartzosos finos a muito finos, siltítos arenosos, arenitos finos argilosos e,
subordinadamente, de arenitos médios, com a presença de bancos de cimentação
carbonática.
A unidade de mapeamento KaIV corresponde a 20,4% da área
aflorante do Pontal do Paranapanema. Apresenta arenitos finos a muito finos,
dispostos em espessos bancos alternados, apresentando intercalações e lentes de
argilítos, siltitos e, mais restritamente, arenitos com pelotas de argilas.
A unidade KaV , que corresponde a aproximadamente 4,8% da área
aflorante, apresenta cimentação carbonática com ocorrência local de nódulos
carbonáticos.
Em estudo realizado por Godoy (1999), denominado de “Estudo
hidrogeológico das zonas não saturadas e saturadas da Formação Adamantina, em
Presidente Prudente, Estado de São Paulo”, identifica uma das unidades de
mapeamento propostas por Almeida et al. (1981), designada como KaV.
Nesta unidade, que foi anteriormente identificada no interflúvio entre
os rios do Peixe e Santo Anastácio, em área de relevo ondulado a fortemente
ondulado “... é observada a existência de uma gama ampla de estruturas
sedimentares, assim como uma concentração maior de bancos de arenito compacto,
ou seja, aquele onde o teor do cimento carbonático é relativamente elevado”
(Godoy, 1999: 21).
107
Conforme levantamento feito por Soares et al. (1980, In: Relatório
Zero da UGRHI do Pontal do Paranapanema, 1999: 38), as fácies deposicionais
observadas na Formação Adamantina indicam uma deposição “...em um extenso
sistema fluvial meandrante dominantemente pelítico a sul, gradando para psamítico
a leste e norte e parcialmente nessas regiões com transição para anastomosado”.
Isso significa que os cursos d’água com configuração pelítica são
extremamente sinuosos, desenvolvidos em planícies aluviais de agradação ou
planícies deltáicas arenosas. Apresenta uma relação lama/areia de moderada a alta,
em áreas de baixa declividade e descargas altas e uniformes (Suguio e Bigarella,
1990: 152).
Os cursos d’água de configuração psamítico são bem menos sinuosos,
predominando em área de maior declividade, com descarga de sedimentos menos
uniforme e predomínio de carga de fundo cujo material é mais heterogêneo (Suguio
e Bigarella, 1990: 152).
O sistema fluvial anastomosado predomina em áreas sob condições de
alto declive, cujos rios apresentam uma elevada quantidade de sedimentos de fundo,
com descargas altas e periódicas. Neste tipo de sistema fluvial quase não ocorre a
existência de sedimentos argilosos de fácies de transbordamento típico de sistema
pelítico (Suguio e Bigarella, 1990: 154).
Sobre o ambiente de deposição da Formação Adamantina, Suguio e
Bigarella, no mesmo relatório citado anteriormente:
“...admitem que inicialmente, para a parte inferior da Formação Adamantina, a drenagem era pouco organizada, e o ambiente deposicional de menor energia, formado por uma predominância de lagos rasos. Já para a parte superior da formação predominaria um sistema fluvial com rios de maior porte e maior energia, responsáveis pelas freqüentes estruturas hidrodinâmicas” (Relatório Zero da UGRHI do Pontal do Paranapanema, 1999: 38-9).
A Tabela 12, elaborada por Suguio e Bigarella (1990: 154), apresenta,
de forma didática, uma comparação entre as características dos sistemas
deposicionais fluviais mais representativos.
108
Tabela 12. Comparação das características dos sistemas deposicionais fluviais. Modelo ⇒
Variáveis
⇓
Meandrante
Pelítico
Meandrante
Psamítico Anastomosado
Distributário
Deltáico
Relação
Lama/Areia Moderada a alta
Moderada a
baixa Baixa Alta
Declive Moderado a
baixo
Moderado a
alto Alto Baixo
Descarga Moderada a
uniforme
Moderada
“relâmpago”
Baixa
“relâmpago” Alta uniforme
Fácies
Predominante Transbordamento Canal Canal Transbordamento
Seqüência
Vertical
Decréscimo
ascendente Homogênea Homogênea
Incipiente
decréscimo
Desenvolvi-
mento Multicíclico Multilateral Multilateral Multicíclico
Posição dos
Diques
naturais
Superpostos - - Lateral
Principal
Fácies
Barras de
meandro, diques
naturais,
rompimento de
diques, depósitos
de várzea e
canais
abandonados
Barra de
meandro
incompleta.
Barra de
corredeira e
canais
abandonados
Barras
horizontais e
transversais
Canais
distributários,
diques naturais,
rompimento de
diques, depósitos de
várzea e matéria
orgânica.
Fonte: Suguio e Bigarella (1990: 154).
Uma das características que se verifica na Formação Adamantina -
período Cretáceo Superior (Foto 3), resultante do ambiente de sedimentação flúvio-
lacustre, que provavelmente ocorreu em período quente e úmido, é a riqueza
fossilífera encontrada, composta por algas, peixes, répteis, coníferas, etc. (Barrios,
109
1995: 28). Além destes elementos, foram encontrados invertebrados do tipo
bivalves, gastrópodes, escavações e tubos de vermes.
Foto 3. Tubos de vermes observado nos arenitos da Formação Adamantina preenchido por sedimentos síltico-argilosos. Corte de estrada (rodovia Raposo Tavares - SP 270) no município de Álvares Machado. Nunes e Boin (2001).
É importante também destacarmos os trabalhos elaborados por
Fernandes (1998) e Fernandes e Coimbra (1998), que, em quadro-síntese das
características litológicas e do contexto deposicional das unidades litoestratigráficas
dos Grupos Bauru e Caiuá, citado no Relatório Zero da UGRHI do Pontal do
Paranapanema (1999: 32). Os autores, pesquisando sobre a estratigrafia e a
evolução geológica do Grupo Bauru, na sua porção oriental, passaram a denominá-lo
Bacia Bauru, abrangendo dois grupos: Caiuá e Bauru.
No Grupo Bauru, os autores reuniram as Formações Vale do Rio do
Peixe, São José do Rio Preto, Araçatuba, Marília, Uberaba, os analcimitos Taiúva e
Presidente Prudente.
Ainda segundo Fernandes e Coimbra (1998), no caso da Formação
Presidente Prudente (Kppr-Cretácio superior) apresentam-se com arenitos muito
finos a finos, de seleção moderada a má, matriz lamítica, de cores marrom-
avermelhado claro a bege, e lamitos argilosos marrom-escuro (chocolate); feições de
110
preenchimento de canais rasos, com estratificação cruzada acanalada; corpos
tabulares com estratificação sigmioidal interna, e com estratificação plano-paralela;
e estruturas de fluxo aquoso, de regime inferior dominante e maciço. O ambiente de
sedimentação deu-se sob um sistema fluvial meandrante arenoso fino de canais
rasos.
Em trabalho elaborado por Suarez (1991) que não utiliza as
classificações litoestratigráficas descritas anteriormente, as Formações Santo
Anastácio e Adamantina seriam fácies da Formação Bauru. Conforme o Mapa
Geológico das Formações Cenozóicas do Extremo Oeste do Estado de São Paulo
(Suarez, 1991: 325), expresso no trabalho “A localização das cidades no Extremo
Oeste do Estado de São Paulo (Brasil) e seus problemas”, apresenta as seguintes
formações geológicas: Formação Caiuá (Cretáceo); Formação Piquerobi (Terciário);
Formação Paranavaí (Quaternário); Depósitos Sedimentares (Quaternário).
A partir desta classificação estratigráfica, Suarez (1991:331) afirma
que, devido à constituição mineralógica, a textura e a porosidade das Formações
Paranavaí, Piquerobi e dos sedimentos intermediários (colúvios), associados às
características climáticas da região oeste do Estado de São Paulo, com períodos de
chuvas intensas; são nestas formações que surgem os maiores problemas erosivos
(ravinas e voçorocas), produzidos pelo escoamento difuso e concentrado das águas.
Para o autor, os depósitos cenozóicos formam o manto de regolito/
intemperismo existente nos topos planos a suavemente ondulados das colinas
côncavo-convexas. Estas modelam a maior parte do relevo existente no município de
Presidente Prudente, que foi delimitado e definido como Formação Piquerobi. O
autor a caracteriza como “...depósitos areno-argilosos vermelhos sobrejacentes em
discordância erosiva à Formação Bauru...”(Suárez, 1991: 327).
Segundo o autor, os depósitos arenosos se formaram em ambiente
aquoso, devido à existência de pequenos nódulos arredondados de siltitos ou
argilitos, e também pela presença de seixos quartzosos de tamanhos variados.
Através de duas seções geológicas, feitas em Presidente Prudente,
Suarez (1991:333) definiu estratigraficamente a existência das seguintes formações e
depósitos sedimentares (Figura 20):
111
380
Figura 20. Seções geológicas do município de Presidente Prudente – SP
(Suarez,1991).
- Formação Bauru (Mesozóico-Cretáceo): compreende arenitos,
siltitos, argilítos, seixos, calcários. Situa-se na base da coluna estratigráfica;
- Formação Piquerobi (Cenozóico-Terciário): arenitos mal
consolidados com seixos. Localiza-se no topo das colinas côncavo-convexas;
- Depósitos de Colúvios: (Cenozóico-Quaternário): são de cor
avermelhada, arenosos e areno-argilosos, sendo relativamente friáveis. Situam-se
nas médias e baixas vertentes;
- Depósitos de Fundo de Vale e de Várzeas: (Cenozóico-Quaternário):
formados por seixos, areias, siltes, argilas e limo. Como o próprio nome já diz,
localizam-se nos fundos de vales, mais precisamente nos leitos dos córregos que
banham o município.
Para esta pesquisa, litoestratigráficamente optou-se pela classificação
proposta pelo IPT (1981 a), por-se entender que os principais trabalhos
desenvolvidos na região do Extremo Oeste Paulista, e especialmente para o
112
município de Presidente Prudente, destacam os arenitos da Formação Adamantina
como a litologia dominante.
Neste sentido, a área definida como objeto desta pesquisa, o Distrito
Industrial de Presidente Prudente, onde está localizada a área escolhida pela gestão
1997-2000, para a construção do aterro sanitário é formada estratigraficamente
pelos:
- Depósitos Tecnogênicos (resíduos sólidos urbanos);
- Manto de regolito;
- Formações Quaternárias Aluvionares;
- e Formação Adamantina Ka IV.
A partir da caracterização das formações geológicas presentes no
Oeste Paulista, mostrou-se que a Formação Adamantina é a de maior
representatividade na região e no município de Presidente Prudente; na próxima
etapa serão analisadas as características morfoestruturais.
4.3. As Morfoestruturas
O termo morfoestrutura introduzido por Gerasimov (1946) apud Lima
(1995), foi proposto pelo autor como forma de análise geomorfológica, com a
finalidade de dividir as formas de relevo em três categorias genéticas: geotextura,
morfoestrutura e morfoescultura.
Segundo Gerasimov e Mescherikov (1968) apud Lima, op cit, as
morfoestruturas são as formas da superfície terrestre produzidas pela interação das
forças endógenas. Neste aspecto, o relevo reflete o resultado desta interação,
retratando na superfície terrestre feições como: anticlinais, bacias, domos,
arqueamentos, falhas e outros elementos topográficos formados por movimentos
tectônicos, constituindo as morfoestruturas.
Para Soares et al (1981), o termo morfoestrutura está condicionado à
definição de supostas estruturas, identificadas a partir da análise de formas de relevo
e padrões de drenagem. Assim, para este mesmo autor a finalidade da análise
morfoestrutural está em se obter informações a respeito das estruturas geológicas,
113
uma vez que se espera que, com esta técnica, a morfologia da superfície reflita,
embora de modo atenuado, as condições estruturais do embasamento rochoso.
Desta forma, adotar-se-á o termo morfoestrutura para aquelas feições
em que a forma do relevo e a drenagem estejam intrinsecamente relacionadas à
estrutura geológica, seja ela em seus elementos de dobras, falhas, fraturas ou
lineamentos.
No que se refere às estruturas em forma de dobras, domos,
depressões, o arqueamento das camadas sofre compressão (sinformes) e
descompressão (antiformes); no centro destas feições, proporcionando menor ou
maior circulação de água, ocasiona mudanças pedogenéticas significativas na
formação dos solos, dando origem à características distintas de adequabilidade de
uso.
Portanto, a descompressão gerada nos antiformes propicia maior
porosidade das rochas e do solo, facilitando maior fluxo de água e iluviação de
argilas para níveis inferiores e distantes, originando solos laterizados ou Latossolos.
Nos sinformes, a compressão ocasiona menor porosidade, o que
dificulta o fluxo d’água e concentra a argila no fundo de sua concavidade,
originando solos mais argilosos do tipo Podzólicos.
A identificação e análise morfoestruturais têm servido de ferramenta
imprescindível na solução de interpretações geológicas, estruturais, geomorfológicas
e pedológicas. Sua aplicabilidade serve desde a prospecção de gás, petróleo,
depósitos minerais, até a escolha de locais adequados à disposição de resíduos
sólidos e líquidos.
Neste aspecto, diferentes autores procuram, através dos aspectos
morfoestruturais, analisar o padrão de drenagem e relevo e identificar feições
refletidas na paisagem, que possam servir de indicadores de estruturas geológicas
que auxiliem na interpretação de seus estudos.
Conforme Jiménez-Rueda et al (1993: 483):
“As feições permitem, então, inferir a conformação estrutural da área (mesmo que virtual) pelo traçado de linhas de forma, as quais representam os contornos estruturais não cotados”.
114
O produto resultante dessa análise integrada é a caracterização morfoestrutural, ou seja, o estabelecimento de zonas estruturalmente anômalas, positivas ou altas (estruturas dômicas ou antiformas) e negativas ou baixas (depressões estruturais), ou ainda, descontinuidades estruturais (lineamentos e falhas)”.
A importância da compreensão do comportamento estrutural serve
para, entre tantos aspectos, classificarmos possíveis zonas de acumulação e zonas de
dispersão de água em subsolo.
Landim et al (1984: 77-89) no trabalho “O estudo morfoestrutural
pela análise de superfície de tendência”, utilizando-se de imagens de satélite na
escala 1:500.000, descrevem que Presidente Prudente está situado em um alto
topográfico que corresponde a estruturas morfológicas radiais e circulares, ou seja, a
anomalia constitui um alto estrutural (Figura 21).
Áreas com esta configuração são altamente dispersivas, cujas
estruturas geralmente são dômicas ou antiformes; e no caso da estrutura de
Presidente Prudente, este antiforme é reflexo de um alto estrutural, originado dos
basaltos da Formação Serra Geral, que se encontram sotopostos sobre a área de
Presidente Prudente.
Utilizando a metodologia proposta por Jiménez-Rueda et al (1993),
foi elaborado, em conjunto com o geólogo Dr. Marcos Norberto Boin, um mapa
morfoestrutural de parte do Oeste Paulista (Figura 22), apresentando os baixos
estruturais (sinformes) e os altos estruturais (antiformes).
Neste mapa, o município de Presidente Prudente encontra-se
localizado sobre um Alto Estrutural e um Alto Topográfico, identificados a partir da
delimitação dos prováveis contornos morfoestruturais, baseados no padrão de
drenagem. No caso do Alto Topográfico, isto se deve à posição topográfica em que o
município se situa, ou seja, no topo do espigão divisor de águas.
ADAMANTINA
ADAMANTINA
OSVALDO CRUZ
OSVALDO CRUZ
PRES.PRUDENTE
PRES.PRUDENTE
1
1
3
3
51°30’ 51°00’
22°00’
22°00’
2
2
4
4
6
6
5
5
A
B
B - Mapa de Morfo-estruturas de Presidente Prudente.
A - Mapa de Drenagem de Presidente Prudente.
Figura 21. Mapa Estrutural de Presidente Prudente (Regional)
Adaptado de Landim,P.M.B. et al. (1984).
LRTE
LEGENDA
Figura 22 - MAPA DOS TRAÇOS MORFOESTRUTURAIS DE PARTE DO OESTE PAULISTA
Rios RodoviasReservatórios existentes Ferrovias Cidades
2. Convenções Cartográficas
án
araP oiR
Rio Paranapanema
Rio P
araná
Ri To ietê
R i o S a n t o A n a s t á c i o
R i o d o P e i x e
R i o A g
u a p e í
R i o
T i b a
j i
Tupi Paulista
DracenaJunqueirópolis
Mirandopolis
Valparaiso
PenápolisBilac
GuararapesBirigui
Araçatuba
Pacaembu
AdamantinaLucélia
Osvaldo Cruz
Tupã
Rancharia
Martinópolis
Regente Feijó
Pirapozinho
M. Paranapanema
T. Sampaio
Presidente Prudente
Presidente Bernardes
Presidente Venceslau
Presidente Epitácio
Santo Anastácio
Paraguaçu Paulista
Quatá
Alinhamento de G
uapiara
Alinhamento do Rio Paranapanema
Alinhamento de São G
erônimo
Maracai
Assis
Florinia
Iepê
Palmital
Panorama
53º00´
53º00´
2121
21º00´ 21º00´
21º30´ 21º30´
22º00´ 22º00´
22º30´ 22º30´
23
23º00´ 23º00´
Escala gráfica
o 15 30 45 km
Paraná
Mato
Gro
sso d
o Sul
6076
76 70
Tupi Paulista
Dracena
Coronel
Nova
Patria
Teodoro Sampaio
Pacaembu
Ajice
21 000
PARANA
74 60
7074
8074
0
0
0
0
0
0
0
0
CONVENÇÕES
Falha provável
Prováveis contornos dasmorfoestruturas
Alto estrutural ou “Antiformes”
Sentido da drenagem
Baixo estrutura ou “Sinformes”
Alinhamentos descritos na literatura (Paulipetro)
Alinhamentos magnéticos definidos (Paulipetro)
Alinhamentos estruturais (Paulipetro)
Elaborado e Organizado por: BOIN, M.N. e NUNES, J.O.R. (2001)
117
Assim, ao se observar o Quadro 3, também proposto por Jiménez-
Rueda et al (1993), nota-se que ele apresenta as implicações pedológicas,
pedogeoquímicas, fisiográficas e de engenharia em áreas com configurações
morfoestruturais, principalmente do tipo Alto Estrutural e Alto Topográfico, como é
o caso do município de Presidente Prudente. Nestas áreas, obras do tipo Aterros
Sanitários, que envolvem emissão de efluentes líquidos e sólidos, devem ter uso
restritivo.
Quadro 3. Morfoestrutura e suas implicações. PEDOLÓGICAS
Alto Topográfico/Alto Estrutural
Baixo Topográfico/Alto Estrutural
Baixo Topográfico/ Baixo Estrutural
AltoTopográfico/ Baixo Estrutural
Intemperismo muito forte, Fertilidade atual e potencial
muito baixo
Intemperismo forte, Fertilidade atual e potencial
baixo/média
Intemperismo fraco, Fertilidade atual e potencial
muito alto
Intemperismo moderado/forte, Fertilidade atual e potencial médio alta
Pedogênese maior que morfogênese
Morfogênese maior que pedogênese
Morfogênese maior que pedogênese
Pedogênese maior que morfogênese
Oxissolos e Ultissolos Oxissolos, Ultissolos, Inceptissolos e Entissolos
Vertissolos, Entissolos, Inceptissolos, Aridissolos
Ultissolos, Alfissolos, Molissolos, Inceptissolos,
Entissolos, Aridissolos
Erosão quase nula Erosão moderada/forte (exorréica)
Erosão muito forte (endorréica)
Erosão muito forte/.moderada (exorréica)
Mecanização intensa e Circulação de água intensa
Mecanização moderada restrita e Circulação de água
média/alta
Mecanização restrita e Circulação de água alta
direcionada
Mecanização moderada restrita e Circulação de água
baixa direcionada PEDOGEOQUÍMICA
Minerais de argila
Argila, Caulinita, Gibsita e
Gibsita/Caulini-ta
Argila, Caulinita, Gibsita e Esmectita
Argila, Esmectita, Caulinita e Esmectita/ Caulinita
Caulinita, Esmectita e Caulinita/ Esmectita
Cobertura de alteração intempéri-
cas
Alitização, Latossolização, Ferratilização,
Ferruginização e Laterização
Alitização, Latossolitização, Laterização, Podzolização,
Melanização
Melanização, Gleização, Salinização, Solidificação e
Carbonatação
Podzolização, Latossolização
FISIOGRÁFICAS
Paisagens Geomor-fológicas
Planaltos, Colinas e Dunas
Planaltos, Morros Testemunhos, Altiplanícies, Marres de Morros, Planícies
de inundação fluvial-marinha, Falésias e Dunas
Várzeas, Diques, Lagoas/lagunas, Terraços,
Planícies de inundação fluvial-marinha, Planície de
deflação e Dunas
Colinas e Planaltos
ENGENHARIA
Civil Estradas boas e Edificações boas
Estradas boas/moderadas e Edificações moderadas
Estradas inadequadas e Edificações inadequadas
Estradas moderadas/ inadequadas e Edificações
boas/inadequadas
Sanitária Aterros, Efluentes Líquidos/ Sólidos
- Uso restritivo
Aterros, Efluentes Líquidos/ Sólidos - Uso restritivo/
inadequado
Aterros, Efluentes Líquidos/ Sólidos - Uso inadequado
Aterros, Efluentes Líquidos/ Sólidos - Uso adequado
Fonte: Jiménez-Rueda et al (1993: 484-85).
118
Este aspecto será mais detalhado no tópico que trata da
morfodinâmica da paisagem em que se situa na área anteriormente escolhida para a
construção do Aterro Sanitário de Presidente Prudente.
Associada às características morfoestruturais, a hidrogeologia é de
fundamental importância para a temática em questão, pois, além de estar relacionada
à compreensão da dinâmica do processo de circulação d’água nos meios porosos por
granulação, fissuração ou dissolução, no caso de um aterro sanitário, ela fornece
informações sobre o sistema de escoamento e de infiltração superficial e de
subsuperfície do chorume. Isto será visto a seguir.
4.4. A Hidrogeologia
Nos tópicos anteriores foram analisadas as características
morfológicas do relevo, as principais formações litoestratigráficas existentes no
Oeste Paulista e em Presidente Prudente-SP e os aspectos morfoestruturais.
Estes aspectos são importantes para a escolha de áreas para a
construção de aterros sanitários. O empreendimento será construído sobre um relevo
que tem como substrato uma formação geológica que, conforme os aspectos de
morfoestrutura (Alto e Baixo Estruturais e Topográficos) e de porosidade, permite
que o líquido que se infiltrará em subsolo contamine os aqüíferos subterrâneos.
Dessa forma, a compreensão das características hidrogeológicas (Tipo
e Ocorrência, Permeabilidade Aparente e Transmissividade Aparente) presentes em
formações geológicas é importante para se entender o processo de circulação da
água nos meio porosos por granulação, fissuração ou dissolução.
Estas informações, associadas às características morfoestruturais e
pedológicas são fundamentais para a individualização de unidades aqüíferas. É
nestas unidades que se encontram os reservatórios de água ou sistemas aqüíferos.
No caso do Oeste Paulista, conforme se pode observar no Quadro 4,
os principais sistemas aqüíferos presentes são: Bauru/Caiuá, Serra Geral e Botucatu.
119
Destes, detalharemos somente os pertencentes ao sistema
Bauru/Caiuá, por ser este o que ocupa aproximadamente 74% do Oeste Paulista,
sendo que nele é que se encontra o município de Presidente Prudente.
Quadro 4. Síntese dos Sistemas e Unidades Aqüíferas do Oeste Paulista.
Características Hidrogeológicas Litologia
Sistema Unidade Aquifera
Unidade Geológica Tipo e
Ocorrência
Permeabili-dade
Aparente (m/dia)
Transmis-sividade
Aparente (m2/dia)
Bauru Médio/Superior
Kb3–Fácies Marília
Kb2–Fácies Taciba8
-Livre a localmente confinado, porosidade granular; -Contínuo e não uniforme.
0,1 a 0,4 10 a 50
Arenitos grosseiros imaturos; com abundantes nódulos e cimento calcíticos, bancos de arenitos finos intercalados com lamitos e siltitos.
Bauru/Caiuá
Bauru Inferior/Caiuá
Kb1B–Fácies
Ubirajara
Fácies Sto.Anastá
cio Kb1A–
Formação Caiuá
-Livre a localmente semiconfinado; -granular; -contínuo e uniforme.
1 a 3 100 a 300
Arenitos finos, maciços, baixo teor de matriz; arenitos finos a médios, boa seleção
Serra Geral Basalto Ksg-
Formação Serra Geral
-Livre, fortemente anisotrópico; -porosidade de fissuras; -descontínuo.
Muito variáveis; valores mais elevados estão associados as juntas,
fraturas e arenitos interderrames; zonas
aquiferas
Basaltos toleíticos em derrames tabulares superpostos
Botucatu Botucatu
Jb-Formação Botucatu
Jp-Formação Piramboia
-Confinado, contínuo e uniforme; -granular.
1 a 4 300 a 800
Arenitos eólicos, finos, bem selecionados; níveis de lamito na parte inferior
Fonte: DAEE (1979: 109)
8 A fácies Marília atualmente é classificada como formação Marília (Km). A fácies Taciba (Kb2) atualmente é chamada de formação Adamantina (Ka) e a fácies Ubirajara e fácies Sto.Anastácio, passou a ser classificada como formação Santo Anastácio (Ksa). Fonte (IPT, 1981)
120
O sistema Bauru/Caiuá atualmente chamado de Grupo Bauru,
subdivide-se em unidade aqüífera Bauru Médio/Superior e Bauru Inferior/Caiuá. Na
parte superior compreende as unidades geológicas da formação Marília e da
formação Adamantina; e, na inferior, as formações Santo Anastácio e Caiuá.
Geralmente os limites entre as unidades aqüíferas não coincidem com
os contatos das formações geológicas, devido às diferenças entre as características
hidráulicas dos terrenos. A estas associamos as feições de altos e baixos estruturais,
que também são responsáveis por variações locais na espessura do aqüífero
sobrejacente. No caso das unidades superiores (formações Marília e Adamantina) e
da inferior (Santo Anastácio e Caiuá) do Grupo Bauru, as diferenças de índices de
Transmissividade Aparente e Permeabilidade Aparente são bem significativas.
Na unidade superior, os valores de Transmissividade Aparente variam
de 10 a 50 m2/dia, apresentando, em algumas áreas. a faixa de 10 a 30 m2/dia. Os
valores de 50 e até os maiores estão localizados em área de baixo estrutural, como é
o caso de Presidente Bernardes – Pirapozinho. Quanto aos valores de
Permeabilidade Aparente, este varia de 0,1 a 0,4, com uma Porosidade de 5%.
Já na unidade inferior, as transmissividades variam de 100 a 300
m2/dia. Os valores próximos a 300 m2/dia correspondem à área com espessuras
saturadas entre 100 e 150 metros. Com referência a permeabilidade, os coeficientes
variam de 1 a 3m/dia, com uma porosidade entre 10 a 15%. Os maiores valores estão
relacionados à Formação Caiuá. É importante destacar-se que, localmente, ocorrem
condições de formação de aqüíferos semiconfinados. Todavia, regionalmente, tanto
na unidade superior como na inferior, predominam as condições de aqüífero livre.
A restituição de água para estes aqüíferos está diretamente
relacionada com aos valores estimados de porosidade eficaz, que correspondem à
composição granulométrica associada ao grau de seleção dos sedimentos, e ao das
condições morfoestruturais (altos e baixos estruturais) e estratigráficas dos
sedimentos.
121
4.5. Os tipos de Solos
Outro aspecto importante a ser destacado no quadro regional é aquele
que se refere aos tipos de solos existentes. O solo, em um aterro sanitário, tem a
função de servir de material de impermeabilização e de cobertura para as células de
lixo. De acordo com a constituição textural, a estrutural e a mineralógica, alguns
solos são mais favoráveis à infiltração de água e de ar em subsolo, podendo tornar-se
desfavorável a sua utilização. Outros, por serem menos porosos e impermeáveis à
infiltração de água e de ar, auxiliam no processo de decomposição de lixo em
ambientes anaeróbios.
De acordo com o Levantamento de Reconhecimento dos Solos do
Estado de São Paulo, elaborado pela Comissão de Solos do Centro Nacional de
Ensino e Pesquisa Agronômica (1960), no Oeste Paulista foram identificados e
mapeados quatro tipos de solos: Podzólicos – variação de Lins e Marília, Terra Roxa
Estruturada, Latossolos Vermelho Escuro e Solos Hidromórficos (Figura 23).
Estes solos são o resultado de processos pedogenéticos ocorridos sob
rochas areníticas do Grupo Bauru (Formação Caiuá, Santo Anastácio, Adamantina e
Marília) e basálticas do Grupo São Bento (Formação Serra Geral).
Os Podzólicos – variação Marília e Lins9, são solos originários de
rochas areníticas, com cimentação calcária do Grupo Bauru.
No caso dos Podzólicos – variação Lins, estes solos estão associados
a relevos suavemente ondulados a ondulados. Os suavemente ondulados, eles se
apresentam em colinas com rampas de declives longos e topos levemente
arredondados ou achatados, com a morfologia dos vales em V muito aberto. Nos
relevos ondulados, apresentam-se em colinas menos declivosas de topos também
levemente arredondados, com vales mais fechados em V. O perfil dos solos varia
entre 2 a 3 metros de profundidade, sendo arenosos e bem moderadamente drenados,
com transição clara entre os horizontes A e B.
9 De acordo com a classificação estabelecida pelo Sistema Brasileiros de Classificação de Solos (EMPRABA, 1999) os Solos Podzolizados de Lins e Marília correspondem aos Argissolos Vermelho e Vermelho-Amarelos.
Pml
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LR
LR
LRLR
TE
TE
TE
TETE
HiHi
Hi Hi
Hi
HiHi
Hi
Hi
HiHi
Hi
Hi
LEGENDA
1. TIPOS DE SOLOS
Solos podolizados de Lins e Marília- var. Lins
Solos podolizados de Lins e Marília - var. Marília
Terra roxa estruturada
SOLOS COM HORIZONTE B LATOSSÓLICO
Terra roxa legítima
Latosol verm. escuro - fase arenosa
SOLOS HIDROMÓFICOS
Solos hidromórficos
Pin
Pml
HI
Lea
LR
TE
Adaptado da do Carta de Solos dc Estado de São Paulo C.N.E.P.A.- 1960
Figura 23 - MAPA DE SOLOS DO OESTE PAULISTA
Rios RodoviasReservatórios existentes Ferrovias Cidades
Organizado e des. por: BOIN, M.N. , 2000
2. Convenções Cartográficas
án
araP oiR
Rio Paranapanema
Rio P
araná
Ri To ietê
R i o S a n t o A n a s t á c i o
R i o d o P e i x e
R i o A g
u a p e í
R i o
T i b a
j i
Tupi Paulista
DracenaJunqueirópolis
Mirandopolis
Valparaiso
PenápolisBilac
GuararapesBirigui
Araçatuba
Pacaembu
AdamantinaLucélia
Osvaldo Cruz
Tupã
Rancharia
Martinópolis
Regente Feijó
Pirapozinho
M. Paranapanema
T. Sampaio
Presidente Prudente
Presidente Bernardes
Presidente Venceslau
Presidente Epitácio
Santo Anastácio
Paraguaçu Paulista
Quatá
Maracai
Assis
Florinia
Iepê
Palmital
Panorama
53º00´
53º00´
2121
21º00´ 21º00´
21º30´ 21º30´
22º00´ 22º00´
22º30´ 22º30´
23
23º00´ 23º00´
Escala gráfica
o 15 30 45 km
Paraná
Mato
Gro
sso d
o Sul
123
Quanto aos Podzólicos – variação Marília, o solo apresenta-se em
relevos ondulados a fortemente ondulados, localizando-se geralmente nos topos dos
espigões. Em locais de baixas altitudes, apresenta-se em relevos suavemente
ondulados, com topos ligeiramente arredondados de vertentes convexas e vales em
V abertos. O perfil dos solos é um pouco mais raso que os da variação Lins.
Todavia, apresentam a mesma seqüência de horizontes. A grande diferença está na
transição entre o horizonte A para o B, onde é clara ou abrupta devido à maior
iluviação de partículas finas do solo (argila), caracterizando o horizonte B textural.
Geralmente o horizonte A, quando seco, é mais esbranquiçado, devido à grande
quantidade de areia, que contrasta com a cor vermelha no horizonte B.
Com referência ao grau de erodibilidade dos Podzólicos ou
Argissolos, no trabalho “Erodibilidade10 de alguns solos do Oeste do Estado de São
Paulo”, elaborado por Freire, O. et al (1992: 77-87), os autores, utilizando-se do
método indireto11, relataram que os Podzólicos são solos muitos sujeitos à erosão,
apresentando valores de erodibilidade do horizonte superficial em torno de 0,051. É
importante destacar-se que a erodibilidade dos Podzólicos ou Argissolos variará
conforme o gradiente textural entre os horizontes A e B, além da sua posição em
uma topossequência e drenagem interna dos perfís.
De modo geral, os solos Podzólicos ou Argissolos, quando
encontrados em áreas com declividades superiores a 8% e espessuras inferiores a 3 -
4 metros, tornam-se impróprios para aterro sanitário (Oliveira et al, 1999: 11).
Referente à Terra Roxa Estruturada12, este tipo de solo tem como
rocha matriz as eruptivas básicas do Grupo São Bento (Formação Serra Geral).
Apresenta-se em relevos ondulados a suavemente ondulados, com declives suaves
de topos ligeiramente planos e vales abertos. Geralmente são solos férteis, argilosos 10 “ A erodibilidade é a propriedade do solo que reflete a sua maior ou menor susceptibilidade à erosão, podendo-se defini-la como a quantidade de material que é removido por unidade de área, quando os demais fatores determinantes da erosão são mantidos sob condições-padrão” (Freire, O. et al (1992: 77). 11 Conforme Freire, O. et al (1992: 78) o método indireto “...baseia-se na avaliação do fator erodibilidade por meio de equações que contém variáveis que representam parâmetros de solo ajustados, por meio de análise de regressão, com valores da erodibilidade determinados diretamente”. 12 De acordo com a classificação estabelecida pelo Sistema Brasileiros de Classificação de Solos (EMPRABA, 1999) as Terras Roxas Estruturadas correspondem aos Nitossolos Vermelhos.
124
e bem drenados, com uma espessura de aproximadamente 2,5 metros. O horizonte B
apresenta estrutura em blocos subangulares devido à cerosidade forte.
Quanto ao coeficiente de erodibilidade (K) a Terra Roxa Estruturada
ou Nitossolo Vermelho é considerado muito resistentes à erosão, geralmente com
valores médios baixos.
A Terra Roxa Estruturada ou Nitossolos Vermelhos, quando
apresentam espessa zona de aeração e declives inferiores a 10% são considerados
como adequados para aterro sanitário e outras formas de deposição de resíduos
(Oliveira et al, 1999: 83).
O Latossolo Vermelho Escuro13 – fase arenosa é desenvolvido a partir
de rochas areníticas. Apresenta-se em relevos suavemente ondulados a ondulados.
Nos suavemente ondulados, os topos são achatados com vertentes convexas pouco
declivosas, variando entre 2 a 5%. Já nos relevos ondulados, os topos são
arredondados com vertentes convexas, cujas declividades variam entre 5 a 15%. Os
perfis destes solos são espessos, com mais de 3 metros, de coloração vermelho-
escura, bem drenados, com horizonte B latossólico. A textura varia de argilosa a
média. A pequena variação de características morfológicas entre os horizontes faz
com que a transição seja gradual e difusa.
Com respeito à erodibilidade dos Latossolos, geralmente apresentam
valores médios mais baixos (0,016). Estes valores variam conforme a textura,
estrutrura e porosidade.
Nos Latossolos, principalmente os de textura argilosa, a baixa
atividade das argilas, com pouca expansividade e contratibilidade, tornam os solos
bastante apropriados para o uso em aterro sanitário (Oliveira, 1999: 52), por serem
profundos e porosos.
Os Hidromórficos14 são solos associados a relevos de várzea, nos
quais ocorre constante encharcamento de água no solo. São mal drenados,
ocasionando acúmulo de matéria orgânica e/ou processo de gleização, que consiste 13 De acordo com a classificação estabelecida pelo Sistema Brasileiros de Classificação de Solos (EMPRABA, 1999) os Latossolos Vermelho Escuro correspondem aos Latossolos Vermelhos. 14 De acordo com a classificação estabelecida pelo Sistema Brasileiros de Classificação de Solos (EMPRABA, 1999) os Hidromórficos correspondem aos Planossolos Hidromórficos, aos Gleissolos e aos Organossolos Tiomórficos.
125
na redução do oxido de ferro durante o seu desenvolvimento. Este tipo de solo é
totalmente impróprio para aterro sanitário, pela inexpressiva zona de aeração e
extremo favorecimento de contaminação do lençol freático (Oliveira, 1999: 43).
Quanto ao grau de erodibilidade, apresenta valores médios, onde K = 0,35-0,25.
A partir da caracterização dos aspectos físicos, elaborou-se um
quadro-síntese (Quadro 5) de integração entre os fatores geomorfológicos,
geológicos, morfoestruturais, hidrogeológicos e pedológicos para a região do Oeste
Paulista, objetivando-se apresentar as implicações destes fatores na escolha de áreas
para a construção de aterro sanitário.
Definidas as principais características relativas aos aspectos
geomorfológicos, geológicos, morfoestruturais, hidrogeológicos e pedológicos
regionais, no qual se inclui o município de Presidente Prudente, onde foram
apresentados quais os compartimentos de relevo mais favoráveis para construção de
aterros sanitários, no próximo capítulo, será discutida a morfodinâmica da paisagem
onde se encontra localizada a área objeto de análise desta pesquisa. Ë nesta área, que
se situa a área escolhida pela administração pública biênio 1997-2000, para
construção do Aterro Sanitário de Presidente Prudente.
126
Quadro 5 – Influência e relações entre os fatores geológicos, hidrogeológicos, geomorfológicos, pedológicos e morfoestruturais do Oeste Paulista para escolha de áreas para a construção de aterro sanitário. Elaborado e organizado por Nunes e Boin (2001).
Geologia Hidrogeologia Geomorfologia Pedologia Condições para construção de aterro
sanitário a partir das morfoestruturas.
Arenitos das Formações Marília e Adamantina ⇒ Arenito da Formação Santo Anastácio ⇒
Livre a localmente confinado; porosidade granular; continuo e não uniforme. Permeabilidade Aparente 0,1 a 0,4 m/dia e Transmissividade Aparente 10 a 50 m2/dia. Livre a localmente semiconfinado; granular; contínuo e uniforme. Permeabilidade Aparente 1 a 3 m/dia e Transmissividade Aparente 100 a 300 m2/dia.
Morrotes alongados e espigões – predominam interflúvios sem orientação preferencial, topos angulosos, vertentes ravinadas com perfis retilíneos. Drenagem de média a alta densidade, padrão dendrítico, vales fechados. Predominam declividades médias a altas – acima de 15% - amplitudes inferiores a 100 metros.
Predomínio de Solos Podzolizados de Lins e Marília. Predominio da variedade Marília. Nos topos ocorrência de Latossolo Vermelho Escuro argiloarenoso
Restrições principalmente nas áreas dômicas ou antiformes situadas em morfoestruturas do tipo Alto Estrutural e Alto Topográfico, associado aos arenitos da Formação Santo Anastácio, com predomínio de solos podzólicos e de declividade acima de 15%.
Arenitos das Formações Marília e Adamantina ⇒ Arenito da Formação Santo Anastácio ⇒
Livre a localmente confinado; porosidade granular; continuo e não uniforme. Permeabilidade Aparente 0,1 a 0,4 m/dia e Transmissividade Aparente 10 a 50 m2/dia. Livre a localmente semiconfinado; granular; contínuo e uniforme. Permeabilidade Aparente 1 a 3 m/dia e Transmissividade Aparente 100 a 300 m2/dia.
Colinas médias – predominam interflúvios com áreas de 1 a 4 km2, topos aplainados, vertentes com perfis convexos a retilíneos. Drenagem de média a baixa densidade, padrão subretangular, vales abertos a fechados, planícies aluviais restritas, presença eventual de lagoas perenes ou intermitentes. Predominam baixas declividades até 15% - amplitudes locais inferiores a 100 metros.
Predominio de Solos Podzolizados de Lins e Marília. Predominio da variedade Lins. Nos topos ocorrência de Latossolo Vermelho Escuro argiloarenoso.
Restrições nas áreas dômicas ou antiformes situadas em morfoestruturas do tipo Alto Estrutural e Alto Topográfico, associado aos arenitos da Formação Santo Anastácio com predomínio de Podzólicos Vermelho Amarelo e declividade acima de 15%. Favorável em áreas de baixo estrutural e Alto Topográfico com predomínio de Latossolo Vermelho Escuro e declividades inferiores a 15%.
Arenitos das Formações Marília e Adamantina ⇒ Arenitos das Formações Sto Anastácio e Caiuá ⇒ Rochas básicas da Formação Serra Geral ⇒
Livre a localmente confinado; porosidade granular; continuo e não uniforme. Permeabilidade Aparente 0,1 a 0,4 m/dia e Transmissividade Aparente 10 a 50 m2/dia. Livre a localmente semiconfinado; granular; contínuo e uniforme. Permeabilidade Aparente 1 a 3 m/dia e Transmissividade Aparente 100 a 300 m2/dia. Livre fortemente anisotrópico; porosidade de fissuras; descontínuo. Permeabilidade e Transmissividade Aparente muito variáveis. Os valores mais elevados estão associados a juntas, fraturas e arenitos interderrames; zonas aquiferas.
Colinas amplas – predominam interflúvios com área superior a 4 km2, topos extensos e aplainados, vertentes com perfis retilíneos a convexos. Drenagem de baixa densidade, padrão subdendrítico, vales abertos, planícies aluviais interiores restritas, presença eventual de lagoas perenes ou intermitentes. Predominam baixas declividades até 15% - amplitudes locais inferiores a 100 metros.
Predominio de Latossolo Vermelho Escuro – fase arenosa. Na porção sudeste ocorrencia de Terra Roxa Estruturada
Restrições nas áreas dômicas ou antiformes situadas em morfoestruturas do tipo Alto Estrutural e Alto Topográfico, associado aos arenitos da Formação Santo Anastácio e Caiuá e Latossolos – fase arenosa. Favorável em áreas de baixo estrutural e Alto Topográfico com predomínio de Latossolo Vermelho Escuro e declividades inferiores a 15%.
Coberturas Cenozóicas Planícies aluviais – Terrenos baixos e mais ou menos planos, junto às margens dos rios, sujeitos periodicamente a inundações.
Solos Hidromórficos Desfavorável, pois são áreas sujeitas a freqüentes inundações.
101
127
5 A MORFODINÂMICA DA PAISAGEM DO DISTRITO INDUSTRIAL DE
PRESIDENTE PRUDENTE – SP.
A análise morfodinâmica da paisagem é baseada na compreensão
dialética entre a dinâmica dos processos físicos (exógenos e endógenos) e dos
processos socioespaciais, através dos diferentes agentes sociais, no tempo presente,
que levam a um domínio maior ou menor de atuação dos processos morfogenéticos
ou pedogenéticos sobre o relevo.
Para a elaboração da análise morfodinâmica, procurou-se descrever e
inter-relacionar, através de cartas temáticas, os diversos aspectos físicos atuantes em
superfície (Geomorfologia, Hipsometria, Declividade e Áreas de Surgência do
Lençol Freático) e de subsuperfícies (Morfoestrutura e Pedologia), associados ao uso
e à ocupação do solo.
Além das cartas, foi elaborado um perfil morfodinâmico da área de
estudo (direção W-E), associado à carta morfodinâmica, onde se procurou
demonstrar espacialmente as inter-relações existentes entre as variáveis físicas e
sociais, atuantes no entorno da área escolhida para a construção do Aterro Sanitário
do município de Presidente Prudente. Associados ao perfil morfodinâmico, foram
incluídos alguns elementos climáticos (pluviosidade e temperatura), que influenciam
também os processos morfodinâmicos, responsáveis pela modelagem do relevo.
Com referência aos processos endógenos que atuam na estruturação e
na modelagem da paisagem, destacam-se as morfoestruturas (altos e baixos
estruturais) associadas aos tipos de solos predominantes (latossolos e podzólicos-
argissolos). Como visto anteriormente, estes aspectos são fundamentais para a
análise de áreas para aterro sanitário. Neste sentido, as relações entre morfoestrutura
e pedologia serão vistas na próxima etapa
128
5.1. Os aspectos Endógenos
Como observado no capítulo anterior, regionalmente o município de
Presidente Prudente está situado sobre um Antiforme ou Alto Estrutural. Nesta
escala, a identificação e a correlação com os aspectos morfoestruturais e pedológicos
nem sempre são possíveis de serem visualizados. Já na escala local, podem-se
observar em cortes de estrada de rodagem, pontos profundos de erosão linear
(ravinas e voçorocas), etc; pequenas estruturas sinformes e antiformes e suas
relações com a litologia, tipos de solos e dinâmica das águas de subsuperfície.
Neste sentido observando-se vários perfis estratigráficos (foto 4), em
alguns cortes de estrada (rodovia Raposo Tavares SP-270), na periferia da cidade de
Presidente Prudente constatou-se a existência de pequenas estruturas antiformes e
sinformes.
Foto 4. Perfil Geológico em que se observam pequenas estruturas do tipo sinformes (côncava) e antiformes (convexa). Corte de estrada (rodovia Raposo Tavares - SP 270) no município de Presidente Prudente – SP. Nunes e Boin (2001)
Em algumas estruturas sinformes, verificou-se afloramento de água
advinda de lençol freático pouco profundo. São áreas de formato côncavo, que
servem de centro de captação de águas subsuperfíciais, devido à concentração de
sedimentos argilosos na base do arenito, que dificultam a infiltração da água. Assim,
129
formam lençóis freáticos de baixa profundidade. Alguns destes lençóis freáticos
suspensos, estão situados em uma camada argilosa, de espessura entre 20 a 30 cm,
característicos da Formação Adamantina membro KaIV, observados na área
escolhida para a construção do aterro sanitário.
A partir destas observações, foi elaborado um mapa dos traços
morfoestruturais da folha de Presidente Prudente na escala 1:100.000 (Figura 24),
utilizando-se os mesmos princípios de classificação de áreas propostos por Landim
et al (1984: 77-89).
Baseado nos princípios de classificação proposto por Jiménez-Rueda
et al (1993: 484-85), apresentado no capítulo anterior, a área escolhida para o aterro
sanitário esta situada sobre um Alto Estrutural e Alto Topográfico (AA).
Áreas com esta configuração (AA) apresentam alta lixiviação, alta
percolação, alterações profundas, intensa circulação de água e baixa erosão. Isto
significa que, em áreas com AA, obras do tipo aterros de efluentes líquidos e sólidos
classificam-se como de uso restritivo.
A restrição a esta área deve-se ao grau de fraturamento do substrato
rochoso (Formação Adamantina), por situar-se em uma posição topográfica,
indicada como sendo antifórmica e/ou dômica, associado as restrições anteriormente
comentadas.
Associado ao aspecto morfoestrutural, segundo o Mapa Pedológico do
Estado de São Paulo, escala 1:500.000, elaborado por Oliveira, J.B. et al (1999), a
área do aterro e imediações pertencem à unidade de mapeamento PVA5, que é uma
associação de solos, discriminada como PVA5- ARGISSOLO VERMELHO-
AMARELO Eutrófico textura arenosa/média relevo ondulado e suave ondulado +
ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico pouco profundo textura
arenosa/argilosa relevo ondulado ambos abrúpticos A moderado.
B
B
A
B
A
A
A
B
B
A
A
A
A
B
A ?
A
B
A
B
A
445
454
486
465
466
521
524
538
529
521
470
473
469
437
458
502
536
514
508515
518
513
522
541
533
Figura 24-Mapa dos traços morfoestruturais da folha de Presidente Prudente
CONVENÇÕES
Drenagem
Estrada secondária
Prováveis fraturas
Prováveis contornos dasmorfoestruturas
Possíveis contornos dasmorfoestruturas
Alto estrutural/Alto topográfico
Alto estrutural/Baixo topográfico
Baixo estrutural/Alto topográfico
Sentido da drenagem
Área escolhida pela gestão 1997-2000 para a construção doaterro sanitário
Extraido da folha de Presidente PrudenteSF-22-Y-B-III-1-IBGE-1974
Elaborado e organizado por: Boin, M.N. ENunes, J.O.R. (2000)
Baixo estrutural/Baixo topográfico
0 2000 4000 6000 8000 m
Escala Gráfica aproximada
Presidente Prudente
Córrego da Cascata
Córrego da Cascata
Córre
go Gra
mado
Córre
go Gra
mado
Cór
rego
Gra
mada
Cór
rego
Gra
mada
Colégio Técnico AgrícolaColégio Técnico Agrícola
Córrego da Boiada
Córrego da Boiada
Có
rreg
o d
a M
em
ória
Có
rreg
o d
a M
em
ória
Cór
rego
da
Mem
ória
Cór
rego
da
Mem
ória
Rib
eirã
o M
and
ag
ua
ri
Rib
eirã
o M
and
ag
ua
ri
Córre
go d
a ja
cuting
a
Córre
go d
a ja
cuting
a
Có
rreg
o d
o A
ca
mp
am
ento
Có
rreg
o d
o A
ca
mp
am
ento
Indiana
51°20' Wgr 51°15’ WGr
22°05’ S
22°05’ SSP 425SP 425
131
Mais precisamente a 3km, a NE da área escolhida para o aterro
sanitário, Carvalho e Achá (2001), no trabalho Levantamento Semidetalhado dos
Solos do Município de Presidente Prudente, escala 1:50. 000 (em fase de conclusão),
realizaram um perfil de solo cuja descrição, após coleta e análise em laboratório o
classificaram como sendo PVAe- ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO
Eutrófico abrúptico A moderado textura arenosa/argilosa fase Floresta Tropical
Subcaducifólia relevo ondulado.
Solos deste tipo geralmente apresentam características texturais de
horizonte A arenoso e B textural areno-argiloso. O horizonte B mais argiloso se deve
à migração das argilas iluviadas dos horizontes sobrepostos. Dependendo da
declividade do terreno pode ocorrer o processo de iluviação vertical ou
deslocamento horizontal das argilas. Estas argilas, no horizonte B, ao se tornarem
saturadas, impedem a infiltração de líquidos percolantes (água), podendo também
formar pequenos lençóis d’água suspensos.
É importante destacar que os solos têm a finalidade, em uma obra do
tipo aterro sanitário, de servir de material de empréstimo para a cobertura das células
de lixo. Além disto, também é um indicativo do tipo de substrato litológico presente
na região e local do empreendimento.
Estas informações são fundamentais, pois os resíduos sólidos
destinados a um aterro sanitário geralmente são depositados sobre a rocha
decomposta/alterada, ou seja, o horizonte C e não sobre o solo (horizonte A ou B).
Além disso é no substrato rochoso que usualmente se depositam os resíduos
líquidos, como no caso de lagoas de tratamento de esgoto ou de efluentes industriais.
Na área escolhida para o aterro sanitário, foi retirada expressiva
quantidade de solo. Em observação feita em um corte que expõe todo o perfil de solo
e parte dos sedimentos ocorrentes no local (Foto 5), cuja altitude é de
aproximadamente 482 metros e declividade média entre 5 a 10%, é possível
descrever e compreender as características paleoambientais (ambiente de
sedimentação), litológicas, pedológicas e topográficas.
132
Foto 5. Perfil estratigráfico e pedológico de um corte localizado ao lado da área escolhida para o aterro sanitário. No centro observa-se a divisão entre o maciço rochoso sedimentar (Formação Adamantina-KaIV) e o regolito ou perfil do Latossolo Vermelho Escuro. Nunes e Boin (2001)
Litológicamente, foram encontrados, na base do perfil, os arenitos da
Formação Adamantina da unidade de mapeamento KaIV. Sobre os arenitos finos a
muito finos, dispostos em bancos alternados, com predominância de estratificação
plano-paralela e cruzada e depositados em ambiente de sedimentação fluvio-lacustre,
apresenta-se uma camada de argilítos de espessura entre 20 a 30 cm, cuja
declividade é de 5%. Provavelmente o paleo-ambiente de sedimentação deste
material, ocorreu em ambiente fluvial pelítico de baixo regime de fluxo d’água, ou
seja, de lagos rasos.
Observando-se a Foto 6, nota-se que sobreposta aos argilítos,
encontra-se uma camada de arenitos finos, em adiantado estado de intemperismo. Na
parte inferior, observam-se os arenitos finos com estratificação plano-paralela em
espesso pacote de sedimentos (⇓). No centro, aparecem os bancos de argilítos
compactados, os quais servem de camada impermeabilizante à água que se infiltra
em solo, podendo formar pequenos lençóis d’água. E na parte superior, surgem
novamente os arenitos finos em adiantado estado de intemperismo (⇑).
133
Foto 6. Perfil estratigráfico da Formação Adamantina – unidade de mapeamento KaIV, localizado ao lado da área escolhida para o aterro sanitário. Nunes e Boin (2001).
Foram os arenitos da Formação Adamantina - KaIV, com seus bancos
de sedimentos alternadamente areníticos e areno-silto-argilosos, que originaram os
solos locais, através de processos pedogenéticos influenciados pela morfoestrutura,
formando no topo os Latossolos e nas médias encostas os Argissolos ou Podzólicos
Vermelho-Amarelo Eutróficos da área em questão.
As características pedológicas identificadas no corte localizado ao
lado da área escolhida para o aterro sanitário são corroboradas pelo trabalho “Solos
do Colégio Técnico Agrícola Dr. Antônio Eufrásio de Toledo” de Presidente
Prudente – SP”, elaborado por Freire, O. et al. (1991: 89), em área localizada à
aproximadamente 2km de distância do local de pesquisa.
Neste trabalho foram caracterizadas cinco unidades de mapeamento,
em que foram feitos oito perfis de solos em trincheiras e cortes de estrada, cuja
classificação foi a seguinte:
- Unidade Administração: LATOSSOLO VERMELHO ESCURO
ÁLICO A moderado textura média fase relevo ondulado. Perfis 1 e 2;
134
- Unidade Flamboyant: PODZÓLICO VERMELHO EUTRÓFICO A
moderado textura arenosa/média fase relevo ondulado. Perfis 3 e 4;
- Unidade Biológica: PODZÓLICO VERMELHO-AMARELO
EUTRÓFICO A moderado textura arenosa/média fase relevo ondulado. Perfis 5 e 6;
- Unidade Abatedouro: SOLOS LITÓLICOS EUTRÓFICOS A
moderado textura arenosa fase relevo ondulado substrato arenito. Perfil 7;
- Unidade Represa: GLEI POUCO HÚMIDO DISTRÓFICO textura
média fase relevo plano. Perfil 8.
Um detalhe importante é que ambas as áreas, devido a sua
proximidade, apresentam as mesmas características morfológicas, litológicas e
topográficas.
Conforme a orientação ministrada por um dos autores do trabalho
descrito acima, o pedólogo professor da UNESP - Presidente Prudente-SP Dr.
Otávio Freire, os solos existentes na área do Colégio Técnico Agrícola são os
mesmos da área escolhida pela gestão 1997-2000 para o aterro sanitário,
principalmente o Latossolo Vermelho Escuro, que se apresentam de modo contínuo,
como um prolongamento entre as duas áreas.
Neste aspecto serão detalhadas somente as unidades de mapeamento
dos Latossolos (Unidade Administrativa) e Podzólicos (Unidade Flamboyant), que
estão aproximadamente nas mesmas cotas topográficas da área anteriormente
escolhida para o aterro sanitário, servindo assim de parâmetro para os solos
existentes na área de estudo da presente pesquisa, e também, por terem sido
reconhecidas “in loco” as mesmas características apontadas por Freire (1991).
1. Latossolos Vermelho Escuro (Unidade Administrativa)
De modo geral, apresentam-se profundos e arenosos, com transição
gradual ou difusa entre os horizontes A, B e C. No horizonte B, identifica-se
característica de latossolização, sendo profunda e de difícil delimitação entre os sub-
horizontes. A cor varia de parda avermelhada a vermelha. A textura é sempre
arenosa em todos os horizontes, com uma porcentagem de argila de 13,0 a 19,0% e
de silte não ultrapassando 3,0%.
135
Tanto no perfil 1 quanto no 2, os Latossolos foram identificados e
delimitados em topos de elevações com declividades menores de 2% e altitudes
entre 485 a 480m. Conforme se observa nos Quadros 6 e 7, dos respectivos perfis, a
fração granulométrica mais representativa são as areias médias e finas, com pouca
concentração de argilas no horizonte B, típico de Latossolo.
Quadro 6. Dados analíticos do perfil no 1 – Unidade Administrativa. Composição mecânica (%) Densidade
horizontes profundida
-de (cm) Amg15 Ag Am Af Amf Silte Argila Real Aparente
Ap 0-15 2.2 7.5 32.3 34.1 7.5 2.9 13.5 2.55 1.51
A3 15-25 2.7 7.3 32.6 32.9 8.3 3.0 13.2 2.57 1.52
Bsq 25-55 3.0 6.6 25.5 36.5 9.0 2.2 17.2 2.72 1.55
Bir1 35-90 3.3 6.8 26.6 32.0 10.0 2.8 18.5 2.75 1.57
Bir2 90-180 3.0 6.2 25.5 33.8 10.2 2.5 18.8 2.74 1.56
Fonte: Freire, O. et al. (1991: 38).
Quadro 7. Dados analíticos do perfil no 2 – Unidade Administrativa. Composição mecânica (%) Densidade
horizontes profundida
-de (cm) Amg Ag Am Af Amf Silte Argila Real Aparente
Ap 0-15 2.5 6.2 32.5 35.0 7.0 2.6 14.2 2.69 1.54
A3 15-25 2.6 3.6 32.6 33.0 7.8 3.1 17.3 2.71 1.53
Bsq 25-50 3.1 3.2 26.6 37.2 8.5 2.7 18.7 2.70 1.59
Bir1 50-105 3.4 6.1 26.4 33.0 9.5 2.8 18.8 2.70 1.56
Bir2 105-200 3.2 6.5 26.5 32.8 9.7 2.8 18.5 2.70 1.56
Fonte: Freire, O. et al. (1991: 43).
15 As abreviaturas significam: Amg (areia muito grossa); Ag (areia grossa); Am (areia média); Af (areia fina) e Amf (areia muito fina).
136
2. Podzólicos (Unidade Flamboyant)
Apresentam-se profundos, bem drenados e com definição clara entre
os horizontes A, B e C. Entre os sub-horizontes do horizonte A, a transição é clara e
entre os do B é gradual. Entre a zona de transição, entre o A e B, é gradual e, às
vezes, abrupta. No horizonte B encontra-se claro indício de argilas iluviadas, devido
ao teor ser mais elevado. Além disto, também se observou cerosidade.
A textura do horizonte A é franco-arenosa e do B franco-argilo-
arenosa. Assim, a relação entre o teor de argila do B para o A é de aproximadamente
2,5. A porcentagem de areia varia de 80% nos horizontes A a 57% nos B, ocorrendo
um predomínio da fração areia muito fina.
Geralmente estes solos ocorrem numa cota de 470 a 450m, cuja
declividade é de 6 a 12%, localizando-se nas médias encostas. Conforme se observa
nos Quadros 8 e 9, dos respectivos perfis, a fração granulométrica mais
representativa são as areias muito finas, com expressiva concentração de argilas no
horizonte B, típico de Podzólicos.
Quadro 8. Dados analíticos do perfil no 3 – Unidade Flamboyant. Composição mecânica (%) Densidade
horizontes profundida-
de (cm) Amg Ag Am Af Amf Silte Argila Real Aparente
Ap 0-15 - - 17.7 23.4 50.1 - 8.8 2.64 1.2
E 15-40 - - 15.8 22.5 51.7 1.9 8.1 2.68 1.4
Bsq 40-75 - - 15.0 21.9 47.8 2.7 12.6 2.68 1.4
Bt1 75-102 - - 12.7 18.6 41.6 2.6 24.5 2.68 1.5
Bt2 102-132 - - 12.5 17.5 38.0 1.7 30.3 2.64 1.5
Bt3 132-162 - - 14.0 20.0 44.0 1.0 21.0 2.64 1.5
Bt4 162-200 - - 14.2 21.0 43.0 1.0 20.8 2.64 1.6
Fonte: Freire, O. et al. (1991: 49).
137
Quadro 9. Dados analíticos do perfil no 4 – Unidade Flamboyant. Composição mecânica (%) Densidade
horizontes profundida-
de (cm) Amg Ag Am Af Amf Silte Argila Real Aparente
Ap 0-15 - - 3.5 34.7 39.9 9.1 10.8 2.64 1.3
E 15-25 - - 3.8 34.8 43.0 9.0 9.4 2.70 1.4
Bt1 25-45 - - 2.9 28.9 35.6 8.4 24.2 2.70 1.6
Bt2 45-75 - - 2.8 30.9 35.9 8.3 26.0 2.68 1.5
Bt3 75-110 - - 2.5 29.8 35.8 9.0 22.9 2.64 1.4
C 110- -+ - - 2.6 28.0 34.9 8.2 26.3 2.64 -
Fonte: Freire, O. et al. (1991: 54).
Como descrito anteriormente, na área escolhida para o aterro
sanitário, em alguns setores pouco sobrou do pacote de sedimentos intemperizados
(regolitos).
Com a retirada de camadas superiores dos solos, para serem utilizadas
como material de empréstimo para obras, restaram em avançado estágio de
alteração, os arenitos finos da Formação Adamantina – KaIV. Estes arenitos, em
alguns locais, apresentam-se friáveis e, em outros, compactados.
A intercalação de camadas arenosas com camadas silto-argilosas
proporciona diferenciações do fluxo de água entre as mesmas, facilitando a
infiltração nos níveis arenosos e o retardamento nos níveis argilosos.
A retenção de água em alguns níveis (silto-argilosos) origina lençóis
d’água (freático subterrâneo), que localmente são comumente suspensos e
associados às áreas com predomínio de Argissolos. Estes são observados no terço
inferior das baixas vertentes, onde o lençol freático aflora em extensas áreas de
nascentes difusas, e logo após, sob a forma de pequenos filetes, originando os olhos
d‘água ou nascentes de cabeceira de drenagem.
Nestes locais, a maior resistência das camadas silto-argilosas se faz
sentir na mudança de declividade das vertentes, que podem variar entre 10 a 20%.
138
Assim como a água, nos níveis de retardamento ou concentração do
líquido pluvial, também se concentrará aí todo o líquido contaminante ativo
(chorume) dissolvido ou não na água de percolação dos sedimentos locais.
Desta forma, caso fosse mantida a área escolhida e,
conseqüentemente, não se impermeabilizasse a cava do aterro sanitário, a água
aflorante (pontos de nascentes) poderia sofrer grande contaminação e ao aflorar
transferiria para o corpo d’água superficial a carga contaminante produzida no aterro
sanitário.
Neste aspecto, caracterizando o que foi dito anteriormente, pode-se
observar no perfil geológico - pedológico (Figura 25) feito no corte do manto de
regolito descrito nas fotos 5 e 6, a disposição estratigráfica em que se encontram os
perfís de solo e as camadas geológicas da Formação Adamantina KaIV, bem como o
local onde aflora o lençol freático suspenso.
Neste perfil, foram tomados em campo cinco pontos de medida, indo
do topo (horizonte A) até o limite superior da camada silto-argilosa (Tabela 13).
Tabela 13. Medidas das distâncias e profundidades entre os cinco pontos e o tipo de solo baseado nas características texturais e estruturais do horizonte B. Pontos de medida
Altitude média
Declividade (%)
Profundidade (m)
Distância entre os
pontos (m) Tipo de solo
Ponto 1 482 5 a 10 6,80 1 a 2 = 7,00
Ponto 2 481 5 a 10 5,00 2 a 3 = 4,50
Ponto 3 481 5 a 10 5,00 3 a 4 = 26,00
Latossolo Vermelho
Escuro
Ponto 4 479 5 a 10 3,00 4 a 5 = 30,00
Ponto 5 479 5 a 15 1,00 5 ao final do corte = 40,00
Argissolo Vermelho Amarelo
(Podzólico)
Organizado e elaborado por: Nunes (2001)
Além das medidas de espessura do manto de regolito feitas no corte
descrito anteriormente, foram coletadas cinco amostras de solos, a fim de se analisar,
através da composição granulométrica (areia, silte e argila), e das densidades real e
aparente, a porosidade ou porosidade de areação dos horizontes B e C (Tabela 14).
Figura 25 - Perfil geológico-pedológico de um corte localizado ao lado da área escolhida pela gestão 1997-2000, para o Aterro Sanitário de Presidente Prudente - SP.
139
Tabela 14. Dados analíticos dos horizontes B e C dos solos Latossolo Vermelho Escuro e Argissolo Vermelho Amarelo do corte localizado ao lado da área escolhida para o aterro sanitário.
Composição Granulométrica % Densidade Porosidade Areia
Solo Horizonte Profundida-de (cm)
Am Af Amf Total Silte Argila Real Aparente
100.(Dr – Da) Dr
VPT %
1B 25-620 3,68 45,23 51,09 69,98 6,42 23,80 2,67 1,21 2,67 1,21 54,68
Lato
ssol
o V
erm
elho
Esc
uro
1C 620-680 0,76 13,08 86,16 57,76 17,44 24,47 2,58 1,08 2,58 1,08 58,14
Bt 45-90 2,94 40,35 56,71 58,53 6,27 32,80 2,42 1,13 2,42 1,13 53,31
2B 90-250 2,40 36,21 61,39 64,91 12,69 24,13 2,42 1,20 2,42 1,20 50,41
Arg
isso
lo V
erm
elho
Am
arel
o
2C 250-350 0,77 16,56 82,67 44,07 27,93 27,00 2,50 1,03 2,50 1,03 58,80
Obs: Am (areia média), Af (areia fina), Amf (areia muito fina), Dr (densidade real), Da (densidade aparente) e VTP (volume total de poros). Organizado e elaborado por: Nunes (2001)
141
Duas amostras foram retiradas do Latossolo Vermelho Escuro
(horizontes 1B e 1C) e três amostras do Argissolo Vermelho Amarelo (horizontes
Bt, 2B e 2C).
Estes dados são importantes para relacionar qual o tipo de solo
associado à porcentagem de argila mais adequada para ser utilizada como material
de impermeabilização de base, bem como no uso para cobertura das células de lixo,
em ambiente de decomposição anaeróbio.
A descrição das características texturais e estruturais do horizonte B
Latossólico e B textural (Argissolo), foi elaborada conforme descrito no “Manual de
Descrição e Coleta de Solo no Campo” (Lemos, R. C. de e Santos, R. D. dos; 1996:
83).
Conforme se nota no perfil, associado às tabelas 13 e 14, do ponto 1
ao 3, distanciando-se aproximadamente 11,5 metros, a espessura média do perfil é
de 5,6 metros, estando a uma altitude média de 482m, cuja declividade média é de 5
a 10%.
Observou-se que o perfil do solo apresenta, um espesso horizonte 1B
de profundidade entre 25 à 620cm, cujos percentuais texturais foram de 69,98 de
areia, 6,42 de silte e 23,80 de argila. A fração areia muito fina é a predominante com
51,09%. A estrutura é prismática, com aspecto maciço, que se rompe facilmente ao
bater com o martelo geológico, em granular muito pequeno.
No mesmo perfil, o horizonte 1C, pouco profundo, de 620 a 680 cm,
também apresentou o predomínio da fração areia com 57,76%. Desta a maior
porcentagem também foi de areia muito fina, 86,16. O restante das frações
granulométricas ou texturais apresentaram 17,44 % de silte e 24,47% de argila.
De acordo com as características texturais, classificou-se o perfil
como franco-arenoso, devido à alta porcentagem de areia total (69,98%), onde
ocorre o predomínio maior da fração areia muito fina nos dois horizontes, e uma
dispersão uniforme das argilas, ao longo do espesso e profundo perfil do horizonte
1B. Solos com estas características são típicos de Latossolo.
Além dos dados da composição granulométrica, foram calculados os
dados da densidade real e da aparente para a obtenção da porosidade.
142
No horizonte 1B, a densidade real foi de 2,67 e a aparente de 1,21,
apresentando uma porosidade total de 54,68%. E, no horizonte 1C, a densidade real
foi de 2,58, a aparente de 1,08 e a porosidade total de 58,14%.
No outro perfil de solo analisado, que se situa em um ponto entre a
metade do ponto 3 até o corte final do barranco, cuja distância é de
aproximadamente 83m, a espessura média do regolito é de 2,6 metros, estando a
uma altitude média de 479m, e com declividades que variam entre 5 a 15%.
Neste perfil, identificou-se texturalmente, no horizonte Bt
(profundidade entre 45 a 90 cm), uma porcentagem de 32,80 de argila, 6,27 de silte e
58,53 de areia, sendo que 56,71% foi de areia muito fina. A textura é de média à
argilosa e a estrutura apresenta blocos subangulares, com cerosidade moderada.
No horizonte 2B, com profundidade entre 90 a 250 cm, a composição
granulométrica predominante foi areia, com 64,91%, posteriormente argila, com
24,13% e silte com 12,69%. E, no horizonte 2C, de profundidade entre 250 a 350
cm, também a fração predominante foi de areia, com 44,07%, tendo 82,67% de areia
muito fina, de silte 27,93% e argila 27,00%. Como se pode observar, das amostras
analisadas em laboratório, a única que apresentou a fração silte maior ou igual à
fração argila, foi a do horizonte 2C.
A partir das características texturais, classificou-se o perfil como
franco argiloarenoso, devido à concentração de argila iluviada, com cerosidade
média, no horizonte Bt (32,80%). Solos com estas características são típicos de
Argissolo ou Podzólico.
Quanto aos dados sobre as densidades real e aparente para a obtenção
da porosidade total, observando-se a Tabela 14 constatou-se que a maior porosidade
ocorreu no horizonte 2C (58,80%), posteriormente no Bt (53,31%) e, em menor
porcentagem, no 2B (50,41%).
Associando os dados de composição granulométrica com os de
porosidade dos solos acima descritos, constatou-se que os percentuais de porosidade
total apresentaram, entre os horizontes dos solos Latossolo Vermelho Escuro e
Argissolo Vermelho Amarelo, uma variação entre 50,41 (2B) a 58,80 (2C).
143
Geralmente, em média, solos com estes percentuais são classificados como
argilosos.
No caso do Latossolo Vermelho Escuro, este apresentou, ao longo do
horizonte 1B, percentuais médios uniformes de porosidade e distribuição de argilas.
Isto significa que, a partir da textura fina à arenosa, ele apresenta boa drenagem de
percolados líquidos e aeração de oxigênio entre os espaços porosos. Ou seja, ocorre
maior percolação de água gravitacional, fazendo com que o ar passe a ocupar os
poros não capilares.
Referente ao Argissolo Vermelho Amarelo, além do perfil ser menos
espesso e profundo, ocorreu maior concentração de argila iluviada verticalmente, ou
por deslocamento horizontal, no horizonte Bt.
A textura fina à argilosa deste horizonte dificulta a drenagem de
percolados líquidos e aeração de oxigênio nos horizontes inferiores. Por outro lado,
no estado de saturação, ele pode conter mais água que no perfil do Latossolo
Vermelho Escuro.
Como pôde ser observado, a relação entre a drenagem de percolados
líquidos e a aeração de oxigênio em subsolo, está diretamente associada à
porosidade, que se refletirá no grau de arejamento e de drenagem dos solos.
Conforme o Quadro 10, proposto por Resende (1986: 55-6) o
Latossolo Vermelho Escuro de textura média à arenosa apresenta um grau de
arejamento e drenagem forte, com uma renovação rápida em perfis permeáveis com
pequenas diferenciações.
Já no Argissolo Vermelho Amarelo de textura argilosa,
principalmente no horizonte Bt, o grau de arejamento e drenagem é moderados. A
renovação é lenta, pois o perfil permanece molhado por pequena parte do tempo. No
horizonte Bt, a camada de permeabilidade é lenta e ocorre a existência de lençol
freático suspenso.
144
Quadro 10. Descrição das classes de drenagem e exemplos. Renovação Classes de drenagem Exemplos
Muito rápida, por excessiva permeabilidade, declives muito íngremes ou ambos.
Excessivamente drenado Solos muito arenosos.
Rápida, em perfis permeáveis com pequena diferenciação. Fortemente drenado Latossolos de textura média.
Rápida, em perfis permeáveis com pequena diferenciação. Acentuadamente drenado Latossolos de textura argilosa
à média.
Fácil, mas não rapidamente, sem mosqueado de redução, exceto a grandes profundidades.
Bem drenado
Terra Roxa Estruturada, Podzólicos e Latossolos argilosos, com baixos teores de ferro e caolínticos.
Lenta, perfil permanece molhado por pequena parte do tempo, camada de permeabilidade lenta e lençol freático no horizonte B, ou logo abaixo, alto, e ou remoção lateral interna.
Moderadamente drenado Podzólicos e Cambissolos desenvolvidos de rochas pelíticas.
Lenta, perfil molhado por muito tempo, indício de gleisação nas partes baixas. Imperfeitamente drenado Vertissolos, Hidromórficos
Cinzento Planossolos.
Lençol freático à superfície ou próximo a ela uma boa parte do ano. Mal drenado Gley pouco Húmico.
Lençol freático à superfície ou próximo a ela na maior parte do ano; estagnação de água.
Muito mal drenado Orgânicos e Gley Húmico (alg), Tiomórficos.
Fonte: Resende (1986: 56)
É importante destacar que, até o presente momento, todas as análises
elaboradas nos solos Latossolo Vermelho Escuro e Argissolo Vermelho Amarelo
foram feitas em perfis não alterados. Isso significa que, ao ser definida a área para a
construção do aterro sanitário, o solo que servirá principalmente como material de
cobertura, quando remexido estruturalmente, não apresentará as mesmas
características que outrora. As porcentagens das frações granulométricas (areia, silte
145
e argila) não se alteram, mas a estrutura16 (granular, angular e prismática) se
modifica profundamente. Assim, na definição de qual o melhor tipo de solo para ser
utilizado como material de cobertura, o principal aspecto a ser observado quanto às
porcentagens de argilas que se apresentam não somente em um único horizonte,
como nos Argissolos com horizonte B textural, mas no perfíl como um todo.
Assim, a água, ao percolar nos horizontes dos solos Latossolo
Vermelho Escuro (topo da colina à média alta vertente), penetra de modo mais
rápido, e nos horizontes do Argissolo Vermelho Amarelo (média à baixa vertente),
de modo mais lento, ao atingir o substrato rochoso (Formação Adamantina KaIV).
No local onde serão depositados os resíduos sólidos e líquidos do aterro sanitário, de
acordo com as características morfoestruturais da área de pesquisa, o líquido
infiltrante circulará em um misto de meio poroso por granulação e poroso por
fissuração.
O meio poroso por granulação constitui-se em uma rocha de origem
sedimentar, que apresenta diversos depósitos estratigráficos. Estes depósitos, por
serem constituídos granulométricamente de sedimentos heterogêneos, podem
dificultar a permeabilidade vertical do fluxo de água entre as camadas geológicas.
No caso da área de pesquisa, como visto anteriormente,
estratigraficamente na Formação Adamantina - KaIV, ocorrem intercalações entre
bancos de arenitos finos à muito finos com camadas de lamitos e argilítos. As
camadas de arenitos finos a muito finos apresentam-se mais friáveis e permeáveis à
infiltração de percolados. Já as camadas de argilítos, por serem camadas
granulométricamente compostas predominantemente por argilas, ao se tornarem
saturadas apresentam-se pouco friáveis e permeáveis ao fluxo vertical de água.
Associado a um meio poroso por granulação (rocha sedimentar), o
líquido percolante também circula por um meio poroso por fissuração. Esta
associação é feita devido às características morfoestruturais presentes na área, ou
seja, por estar situada em um alto topográfico e alto estrutural, apresenta alta
lixiviação, alta percolação, alterações profundas, intensa circulação de água e baixa
16 A estrutura de um solo pode ser definida como sendo o resultado da agregação das suas particulas primárias, originando formas definidas (Kiehl, 1979: 145).
146
erosão. Estes processos são ocasionados devido ao grau de fraturamento do substrato
rochoso (Formação Adamantina), decorrentes de fatores tectônicos estruturais
anteriormente comentados. Assim, a água também circula pelas fraturas existentes
entre as camadas. Todavia, conforme o grau de meteorização das rochas, as argilas
resultantes deste processo, podem se depositar em áreas comprimidas
tectonicamente (sinformes), onde ocasionam o impedimento de infiltração de
líquidos pelas fraturas.
Com base nas características texturais ou granulométricas, na
porosidade dos solos e na circulação da água nos meios porosos, descritos na área do
aterro sanitário, foi feita uma adaptação a partir da tabela proposta por Miotto (1990:
107), que trata da relação entre a constituição textural dos solos e o grau de
permeabilidade e infiltração de água, favorável à saponificação17 de cadáveres em
ambiente anaeróbio. Na Tabela 15 (adaptada), procurou-se associar os mesmos
parâmetros utilizados por Miotto op cit , agora para a decomposição da matéria
orgânica em ambiente anaeróbio, contida nos resíduos sólidos domésticos, que são
depositados em cavas sobre a rocha decomposta/alterada em aterro sanitário.
Tabela 15. Favorabilidade à decomposição da matéria orgânica presente nos resíduos sólidos em ambiente anaeróbico.
Constituição dos solos
Potencial Hidrogeológico
(vazão específica)
Condutividade Hidráulica ou
permeabilidade (cm/s)
Coeficiente de Transmis-
sividade (cm/s)
Favorabilidade à decomposição da matéria orgânica
Solos Argilosos (superficiais) Fraco 0,010 à 0,200 0,040 à 0,800 Muito Favorável
Solos Argilosos (profundos) Muito Fraco 10-8 à 10-2 4x10-8 à 4x10-2 Favorável
Areias Finas Elevado 1,00 à 5,00 4,00 à 20,00 Desfavorável
Areias Médias Elevado 5,00 à 20,00 20,00 à 80,00 Desfavorável
Mistura de Areia Grossa e Cascalho Ótimo 100 à 1.000,00 400 à 4.000,00 Muito Desfavorável
Mistura de Argila, Areia e Cascalho. Razoável 5 à 100,00 20,00 à 400,00 Desfavorável
Fonte: Adaptado de Miotto (1990: 107).
17 Processo que transforma o cadáver em matéria de consistência untuosa, mole e quebradiça, de tonalidade amarelo-escura, com aspecto de cêra ou sabão. Este processo ocorre em solos constantemente encharcados de difícil aeração.
147
De acordo com a Tabela 15, pode-se analisar e inferir que o horizonte
1B do Latossolo Vermelho Escuro (profundidade de 25 a 620 cm), por ser
constituído texturalmente na sua maioria de areia muito fina e uma boa dispersão de
argilas ao longo do seu perfil (23,80%), mesmo apresentando um potencial
hidrogeológico (vazão específica) elevado, uma condutividade hidráulica de 1,00 a
5,00 cm/s de permeabilidade e um coeficiente de transmissividade médio de 4,00 a
20,00 cm/s, pode ser considerado como favorável para ser utilizado como material
de cobertura das células dos resíduos sólidos em ambiente anaeróbio.
Quanto ao Argissolo Vermelho Amarelo, por apresentar um horizonte
Bt superfícial (profundidade de 45 a 90 cm), texturalmente identificado como franco
argiloarenoso, mesmo apresentando um potencial hidrogeológico fraco, com uma
condutividade hidráulica de 0,010 a 0,200 cm/s e um coeficiente de transmissividade
baixo de 0,040 a 0,800 cm/s, é considerado como desfavorável para ser utilizado
como material de cobertura das células dos resíduos sólidos em ambiente
anaeróbico, pois a concentração maior de argilas encontra-se, basicamente, no
horizonte Bt textural.
Após a análise da dinâmica dos fatores físicos que atuam em
subsuperfície (endógenos), no caso os aspectos morfoestruturais e pedológicos,
serão analisados, na seqüência, os aspectos físicos exógenos, objetivando-se
compreender a morfodinâmica da paisagem na sua totalidade.
5.2. Os aspectos Exógenos
Como já foi visto no capítulo anterior, identificou-se que no
município de Presidente Prudente, predominam geomorfológicamente, relevos de
colinas côncavo-convexas de topos suavemente convexizados. Além desta forma de
relevo, existem também os Morrotes Alongados e Espigões, nos quais situa-se o
núcleo urbano da cidade de Presidente Prudente, onde predominam declividades
médias a altas, acima de 15%, com amplitudes locais inferiores a 100 metros.
Com referência à área em que foi feita a análise morfodinâmica, de
acordo com a Carta Geomorfologica do Distrito Industrial de Presidente Prudente
148
(Figura 26), foram identificados três compartimentos de relevo, que
aproximadamente se associam, topograficamente, com as seguintes formações
geológicas e pedológicas:
1. Topo suavemente ondulado das colinas convexizadas (450 a
486metros), com predomínio de formações de alteração do tipo manto de
intemperismo ou regolito. Em alguns setores, afloram os arenitos da Formação
Adamantina, com ocorrência dos topos para as médias altas vertentes de Latossolo
Vermelho Escuro e, em alguns setores, Argissolo Vermelho Amarelo (Podzólico
Vermelho Amarelo Eutrófico);
2. Domínio das vertentes convexo-côncavas e mistas (420 a 450
metros), com predomínio da Formação Adamantina e Argissolo Vermelho Amarelo
(Podzólico Vermelho Amarelo Eutrófico);
3. Fundos de vales e várzeas (380 a 420 metros), com predomínio de
Formações Aluviais Quaternárias e Neossolo Flúvico + Gleissolo Háplico.
Observando a Carta Geomorfológica, a linha divisória dos
compartimentos corresponde a um patamar de vertente estrutural, cujo substrato
geológico de sustentação são os arenitos cimentados por carbonato de cálcio da
Formação Adamantina. Além disso, a linha divisória delimita os compartimentos do
Topo suavemente ondulado das colinas convexizadas com o do Domínio das
vertentes convexo–concavas e mistas.
De modo geral, apresentam-se como a principal forma de relevo
dominante as colinas convexizadas de topos suavemente ondulados, cujas
declividades (Figura 27) variam em média de 2 a 10%. No compartimento do
Domínio das vertentes côncavo-convexas e mistas, apresentam-se declividades que
variam de 10 à maior que 20%. E, nos Fundos de Vale e Várzea, os valores
apresentam-se entre 0 a 5%.
LEGENDAS
COMPARTIMENTO DE RELEVOSCOMPARTIMENTO DE RELEVOS
Topo suavemente onduladodas Colinas Convexizadas
Domínio das vertentesCôncavo-Convexas
Fundos de Vales e Várzea
FEIÇÕES GEOMORFOLÓGICASFEIÇÕES GEOMORFOLÓGICAS
Linha de divisor d´aguas
Linha divisória de compartimentos
Vertente Côncava
Vertente Convexa
Vertente Côncavo-Convexa
Vale de Fundo Chato
Vale em U
Vale em V
Terraço
FEIÇÕES HÍDRICASFEIÇÕES HÍDRICAS
DINÂMICA AMBIENTALDINÂMICA AMBIENTAL
Curso d´agua permanente
Curso d´agua temporário
Açúde/Barragem
Área de retirada de solopara empréstimo
Ravinas
ESPAÇOS URBANIZADOS
Área Industrial
Área Residencial
Rodovias
Ferrovias
Estradas Vicinais
Curso d´agua poluído
Figura 26 - Carta Geomorfológica do Distrito Industrial de Presidente Prudente - SP
22°08'59'' S 22°08'59'' S
51°23'18'' WGr
51°23'18'' WGr
22°10'44'' S
WW EE
22°10'44'' S
51°20'30'' WGr
51°20'30'' WGr
DISTRITO INDUSTRIAL
477
426
479
446
476476
465465481481
486
449449
475475
456
CLUBE DOSTRINTA
CLUBE DOSTRINTA
SÍTIOMIZUKOCHISÍTIOMIZUKOCHI
COLÉGIOAGRÍCOLACOLÉGIOAGRÍCOLA
SÍTIOSÃO JOÃOSÍTIOSÃO JOÃO
SÍTIOPAU D'ALHOSÍTIOPAU D'ALHO
RECINTO DEEXPOSIÇÕESRECINTO DEEXPOSIÇÕES
422422
447
447
456
436 465
485
456
456
CÓRRE OG
419
462
452452
413
ADAIOB
AD
CO AIRR R. ÓD MA EM
437
436436
425425
456441441
447
445
445
453
451
447
457
BAIRRO MANDAGUARIBAIRRO MANDAGUARI
456
442
455
447
481
465
461
448
450
447
412
463
VILA NOVAVILA NOVA
PRUDENTEPRUDENTE
CÓRREGOGR ADOAM
CÓRREGO DO CEDRO
CÓRREGO DO CEDRO
432
446VILAVILA
JARDIM
JARDIMCAMBUCI
CAMBUCI
AURÉLIO
AURÉLIO
ZUL
AD.RRÓC
Área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção do aterro sanitário
Elaborado e organizado por: NUNES, J.O.R. ( 2000 )
Editoração: FLORA H. SATO
ESCALA : 1: 25 000
ESCALA GRÁFICA
0 500 1000 m
N
LEGENDAS
CLASSES DE DECLIVIDADE (%)
> 20
0 - 2
2 - 5
5 - 10
10 - 20
Estradas Vicinais
Ferrovias
Rodovias
Área Residêncial
Área Industrial
Curso d´agua poluído
Açúde/Barragem
Curso d´agua temporário
Curso d´agua permanente
Figura 27. Carta de Declividades do Distrito Industrial de Presidente Prudente-SP.
51°23'18'' WGr
22°08'59'' S 22°08'59'' S
51°23'18'' WGr
22°10'44'' S 22°10'44'' S
51°20'30'' WGr
51°20'30'' WGr
DISTRITO INDUSTRIALDISTRITO INDUSTRIAL
477
436
479
456
476
465481
486
449
475
466
CLUBE DOSTRINTA
CLUBE DOSTRINTA
SÍTIO MIZUKOSHISÍTIO MIZUKOSHI
COLÉGIOAGRÍCOLACOLÉGIOAGRÍCOLA
SÍTIOSÃO JOÃOSÍTIOSÃO JOÃO
SÍTIOPAU D'ALHOSÍTIOPAU D'ALHO
RECINTO DEEXPOSIÇÕESRECINTO DEEXPOSIÇÕES
432
457
447
466
436 465
485
456
456
CÓRRE OG
419
462
462
413
ADAIOB
AD
CO AIRR R. ÓD MA EM
437
436
425
466441
ZUL
AD.RRÓC
447
445
445
453
451
447
467
BAIRRO MANDAGUARIBAIRRO MANDAGUARI
456
442
455
447
461
465
461
448
450
447
412
463
VILA NOVAVILA NOVA
PRUDENTEPRUDENTE
CÓRREGOGR ADOAM
CÓRREGO DO CEDRO
432
446VILAVILA
JARDIM
JARDIMCAMBUCI
CAMBUCI
AURÉLIO
AURÉLIO
WWW E
Elaborado e organizado por: NUNES, J.O.R. ( 2000 )
Editoração: FLORA H. SATO
ESCALA : 1: 25 000
ESCALA GRÁFICA
0 500 1000 m
N
Área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção do aterro sanitário
151
A morfologia formada pela seqüência de relevos de colinas côncavo-
convexas possui de médios a amplos interflúvios, que se interligam com outras
colinas através de colos rasos e pouco alongados, formando pequenos espigões
desgastados pela pediplanação neogênica (Ab’ Saber, 1969:4), cujas altitudes variam
para a área de 486 metros (setor central) a 425 metros (setor leste).
Neste contexto, a área escolhida pela gestão 1997-2000, para o aterro
sanitário (Foto 7), encontra-se localizada na média alta vertente de uma colina, entre
486 a 479 metros. O local apresenta declividades pouco acentuadas, variando de 0 a
10% na sua maior parte. Somente os setores à jusante (baixa vertente) é que
apresentam declividades de 10 a 15%.
Foto 7. No primeiro plano, observa-se a área escolhida para o aterro sanitário, onde foi retirado solo (material de empréstimo). Ao fundo, visualiza-se o predomínio dos relevos de colinas convexo-côncavas de topos suavemente ondulado. Nunes (2000)
Os espigões desgastados, no quais se encontra a área escolhida para o
aterro sanitário, servem como divisores de águas entre as bacias hidrográficas dos
afluentes dos rios Santo Anastácio, a oeste, e do Peixe, a nordeste. Isso pode ser
observado na Carta Hipsométrica (Figura 28), em que os topos apresentam altitudes
que variam de 450 a 486 metros, e cuja linha de cumeada, por onde passa a estrada
de Ferro Sorocabana está no sentido NW-SE.
LEGENDAS
CLASSES HIPSOMÉTRICAS (metros)
480 - 490
440 - 450
450 - 460
430 - 440
420 - 430
410 - 420
460 - 470
470 - 480
Estradas Vicinais
Ferrovias
Rodovias
Área Residencial
Área Industrial
Curso d´agua poluído
Açúde/Barragem
Curso d´agua temporário
Curso d´agua permanente
Figura 28 - Carta Hipsométrica do Distrito Industrial de Presidente Prudente-SP.
51°23'18'' WGr
22°08'59'' S 22°08'59'' S
51°23'18'' WGr
22°10'44'' S 22°10'44'' S
51°20'30'' WGr
51°20'30'' WGr
DISTRITO INDUSTRIALDISTRITO INDUSTRIAL
477
436
479
466
476
465481
486
449
475
466
CLUBE DOSTRINTA
CLUBE DOSTRINTA
SÍTIO MIZUKOSHISÍTIO MIZUKOSHI
COLÉGIOAGRÍCOLACOLÉGIOAGRÍCOLA
SÍTIOSÃO JOÃOSÍTIOSÃO JOÃO
SÍTIOPAU D'ALHOSÍTIOPAU D'ALHO
RECINTO DEEXPOSIÇÕESRECINTO DEEXPOSIÇÕES
432
457
447
466
436 465
485
456
456
CÓRRE OG
419
462
462
413
ADAIOB
AD
CO AIRR R. ÓD MA EM
437
436
425
466441
ZUL
AD.RRÓC
447
445
445
453
451
447
467
BAIRRO MANDAGUARIBAIRRO MANDAGUARI
456
442
455
447
461
465
461
448
450
447
412
463
VILA NOVAVILA NOVA
PRUDENTEPRUDENTE
CÓRREGOGR ADOAM
CÓRREGO DO CEDRO
432
446VILAVILA
JARDIM
JARDIMCAMBUCI
CAMBUCI
AURÉLIO
AURÉLIO
W E
Elaborado e organizado por: NUNES, J.O.R. ( 2000 )
Editoração: FLORA H. SATO
ESCALA : 1: 25 000
ESCALA GRÁFICA
0 500 1000 m
N
Área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção do aterro sanitário
153
É importante destacar que, foi justamente sobre este espigão divisor
de água, que se construiu primeiramente a estrada de Ferro Sorocabana, cujos trilhos
chegaram à região de Presidente Prudente em 1917. A estrada de Ferro Sorocabana
serviu como um dos marcos históricos impulsionadores do crescimento
demográfico, urbano e econômico para a cidade de Presidente Prudente.
Posteriormente, foi construída sobre o mesmo espigão a rodovia Raposo Tavares
(SP-270).
Paralelamente à expansão da malha ferroviária, a ocupação histórica
do relevo onde se encontra localizado o sítio urbano da cidade de Presidente
Prudente, inclusive da área de pesquisa (Distrito Industrial), deu-se, inicialmente,
dos topos das colinas e espigões rasos, direcionando-se, posteriormente, para as
áreas mais baixas, os fundos de vales e várzeas.
Esta forma de ocupação do relevo ocorreu de modo semelhante em
todo o extremo Oeste Paulista, em que Barrios (1995:89), ao estudar “O
Agrossistema do Oeste Paulista”, descreve que:
“A ocupação do território representativo do agrossistema se fez, primeiramente nos espigões seguindo a estrada de ferro, para depois se espalhar em direção aos vales dos rios do Peixe e Paranapanema”.
Associada à morfologia do relevo, a litologia dominante nos Topos
das colinas e espigões é, na maioria, formada por um manto de
regolito/intemperismo de espessura variada. Já no Domínio das vertentes convexo-
cônvavas e mistas, onde predominam os arenitos da Formação Adamantina, nas
médias vertentes, o regolito se apresenta mais espesso. Em alguns setores, onde
ocorreram retiradas de material de empréstimo (materiais espólicos), ou nos pontos
de predominância de erosão linear (ravinamento), afloram os arenitos flúvio-
lacustres da Formação Adamantina. Nas várzeas, predominam os sedimentos
aluvionares e os coluvionares.
Nos compartimentos de onde se retirou solo (materiais espólicos) para
a construção das obras dos trevos de entrada para a cidade de Presidente Prudente,
154
na rodovia Raposo Tavares SP-270; e nos pontos de onde ainda se retira solo para
ser utilizado na cobertura do aterro controlado, local onde se depositam os resíduos
domésticos sem nenhum tratamento dos lixiviados orgânicos e inorgânicos, o pacote
de regolito apresenta-se, em alguns pontos, raso e, em outros pouco espessos. Nos
locais rasos, além de aflorarem os arenitos da Formação Adamantina, o solo fica
totalmente exposto, criando ambientes resistásicos favoráveis a diversos processos
erosivos (Foto 8).
Figura 8. No centro, observa-se o afloramento dos arenitos da Formação Adamantina. Este local se situa próximo do incinerador de lixo hospitalar no Distrito Industrial. Nunes (2000).
As áreas de declividade acentuada (de 10 a 20%) apresentam vários
sistemas de embaciamento de águas, com morfologia de cabeceiras de drenagem em
anfiteatros, cujo sistema de drenagem, nas áreas em que afloram os arenitos da
Formação Adamantina, é dendrítico.
Em alguns setores, observaram-se erosões em forma de sulcos e
erosões remontantes, com o sucessivo alargamento dos leitos fluviais através do
desbarrancamento das margens desvegetadas de alguns córregos. Alguns sulcos
encontram-se em processo de ravinamento (Foto 9), principalmente nas
proximidades da atual área de despejo dos resíduos sólidos domésticos (materiais
gárbicos) e, com menos intensidade, próximo da área escolhida para o aterro
sanitário.
155
Foto 9. Na parte inferior, observam-se os depósitos de resíduos sólidos domésticos
do aterro controlado, em uma vertente com declividade média de 20%. Na outra encosta da colina, constatam-se processos erosivos lineares, com início de ravinamentos. Nunes (2000).
Outro aspecto importante refere-se à relação entre a declividade e o
comprimento de rampa das vertentes, que expressam entre tantos aspectos a sua
morfologia. Esta se apresenta de forma heterogênea, ou seja, em algumas vertentes
tem-se morfologia côncava, convexa ou mista convexo-côncava. A formação deste
modelado está associada a processos morfogenéticos oriundos de clima úmido, que
ocasionaram a formação de relevos mais arredondados (colinosos) ou semi-
mamelonizados sob as antigas superfícies de cimeira, os chapadões do Oeste
Paulista (Ab’Saber,1969) e ou atuais espigões (Sudo,1980) desgastados pela erosão
neogênica. Assim, os relevos colinosos dominantes na área de pesquisa e suas
feições geomorfológicas de encosta foram descritos baseados no exposto por Moura
e Silva (1998: 143-80), no trabalho sobre “Complexos de Rampas de Colúvios”,
desenvolvido nas encostas dos relevos colinosos do Planalto Sudeste do Brasil e
adaptado à realidade observada na área de pesquisa.
Em áreas de cabeceiras de drenagem em anfiteatro, de declividades
acentuadas de 10 a 20% sem cobertura vegetal, o manto de regolito sofre processos
156
de erosão e deposição de material constituinte ao longo das vertentes, com
intensidade e direção que convergem para o eixo principal da bacia.
Neste caso, a partir da relação erosão - sedimentação, as vertentes
com morfologia convexa recuam menos, sendo consideradas as áreas como fonte
dos depósitos coluviais encosta abaixo (Moura e Silva, 1998: 150). Já as vertentes
côncavas recuam mais rapidamente e as mistas sofrem um duplo processo ao longo
do seu perfil. Neste aspecto, a morfologia das vertentes (côncavas, convexas e
mistas) está intimamente associada às modificações climáticas, à litoestratigrafia
dominante e ao uso do solo.
Conforme pôde ser observado na Carta Geomorfológica, de modo
geral, as vertentes côncavas apresentam declividades menos acentuadas, com rampas
mais longas e manto de intemperismo mais profundo. As vertentes convexas estão
geralmente associadas às vertentes mais declivosas, rampas pouco alongadas e
regolitos menos espessos. Em algumas colinas com predomínio de vertentes
côncavas, observações feitas à jusante da área escolhida para o aterro sanitário,
identificaram-se da média para a baixa vertente próximo ao contato com a várzea,
pontos de surgência do lençol freático, com o surgimento de cobertura vegetal típica
de área de banhado (Foto 10).
Foto 10. Baixa vertente à jusante da área escolhida pela gestão 1997-2000, para o aterro sanitário. Neste local, observa-se a formação de vegetação típica de banhado (Taboa), com afloramento do lençol freático. Nunes (2000)
157
Isso vem ao encontro do proposto por Moura e Silva (1998: 153-4),
em que as áreas côncavas concentram fluxos d’água subsuperficiais através do
aumento do poro-pressão, gerando também fluxos superficiais saturados que, em
períodos de maior pluviosidade, podem provocar rupturas/erosões por diferentes
processos. Este fato pode ser melhor compreendido quando se observa a Figura 29,
que apresenta uma delimitação das áreas de surgências do lençol freático. Estas
áreas representam os locais onde o lençol freático encontra-se quase aflorante. É
comum, nos períodos de maior pluviosidade, surgirem as chamadas minas dágua ou
nascentes. É a água destas nascentes que abastece os diversos córregos temporários e
permanentes da área.
No caso da área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção
do aterro sanitário, constatou-se a existência de vários pontos de surgência do lençol
freático a menos de 200 metros, como visto na Foto 10. Geralmente, estes lençóis
freáticos são chamados de suspensos, devido à sua pouca profundidade. Este
processo ocorre porque a água, ao se infiltrar no subsolo, quando encontra camadas
impermeáveis de sedimentos síltico-argilosos da Formação Adamantina – unidade
KaIV, acaba sendo confinada.
Alguns setores das áreas de surgência do lençol freático, conforme o
processo de ruptura ocasionado pela dinâmica hídrico-geomorfológica, quando
associadas à história de ocupação da paisagem, geraram, na área de pesquisa, sérios
problemas ambientais, configurados na forma de sulcos erosivos laminares e
lineares. É importante destacar que, à jusante do local da área escolhida para o aterro
sanitário, mais precisamente na baixa vertente próxima do contato com a várzea,
onde ocorre o afloramento de vários pontos do lençol freático, observaram-se
processos erosivos do tipo ravinamento, que não tendem a voçorocamento. Isto se
deve ao controle estrutural exercido pelo afloramento (em alguns pontos) do maciço
rochoso (Formação Adamantina - KaIV), já em adiantado estado intempérico. Ou
seja, neste ponto da vertente, onde os depósitos coluviais são constituídos por uma
pequena camada de material pedogeneizado, ao serem erodidos, logo provocam o
afloramento dos arenitos intemperizados da Formação Adamantina.
Figura 29 - Carta de Áreas de Surgência do Lençol Freático do Distrito Industrial de Presidente Prudente-SP.
LEGENDAS
Mata Remanecente
Áreas de Surgência do Lençol Freático
COBERTURA VEGETAL
HIDROGRAFIA
Mata Galeria
Curso d´agua permanente
Curso d´agua temporário
Curso d´agua poluído
Açúde/Barragem
22°08'59'' S
22°10'44'' S
51°23'18'' WGr
22°08'59'' S51°23'18'' WGr
22°10'44'' S
51°20'30'' WGr
51°20'30'' WGr
DISTRITO INDUSTRIALDISTRITO INDUSTRIAL
477
426
479
446
476
465481
486
449
475
456
CLUBE DOSTRINTA
CLUBE DOSTRINTA
SÍTIO MIZUKOSHISÍTIO MIZUKOSHI
COLÉGIOAGRÍCOLACOLÉGIOAGRÍCOLA
SÍTIOSÃO JOÃOSÍTIOSÃO JOÃO
SÍTIOPAU D'ALHOSÍTIOPAU D'ALHO
RECINTO DEEXPOSIÇÕESRECINTO DEEXPOSIÇÕES
422
447
447
456
436 465
485
456
456
CÓRRE OG
419
462
452
413
ADAIOB
AD
ACO IRR R. ÓD MA ME
437
436
425
456441
ZUL
AD.RRÓC
447
445
445
453
451
447
457
BAIRRO MANDAGUARIBAIRRO MANDAGUARI
456
442
455
447
481
465
461
448
450
447
412
463
VILA NOVAVILA NOVA
PRUDENTEPRUDENTE
CÓRREGOG DOR AAM
CÓRREGO DO CEDRO
432
446VILAVILA
JARDIM
JARDIMCAMBUCI
CAMBUCI
AURÉLIO
AURÉLIO
W E
Área Industrial
Área Residencial
Rodovias
Ferrovias
Estradas Vicinais
Elaborado e organizado por: NUNES, J.O.R. ( 2000 )
Editoração: FLORA H. SATO
ESCALA : 1: 25 000
ESCALA GRÁFICA
0 500 1000 m
N
Área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção do aterro sanitário
159
Ainda no mesmo setor, à jusante, devido as várias transformações
ambientais que a área sofreu (desmatamentos, ravinamentos, terraceamentos, etc.), o
material sedimentar originário de montante ao ser transportado, depositou-se em
forma de cone de dejeção, em locais deprimidos e sustentados estruturalmente pelos
arenitos da Formação Adamantina. Nestes locais, formou-se uma pequena planície
entulhada (várzea), em forma de alvéolos, que atualmente encontram-se
estabilizados pela vegetação típica de banhado (ex: Taboa).
Em outro extremo da área cartografada, no setor à montante da bacia
de drenagem do córrego Gramado, o relevo é mais dissecado. Predominam
declividades mais acentuadas (maior que 20%), com morfologia de fundo de vales
em V. Isto se deve à pouca erodibilidade dos arenitos cimentados por carbonato de
cálcio da Formação Adamantina. De modo geral, em quase toda a área cartografada,
ocorre o predomínio de vales de fundo chato ou em U, com áreas de várzeas em
setores, onde os materiais de natureza aluvio-colúvio são ora mais rasos, ora mais
espessos.
Um outro detalhe da influência litoestrutural dos arenitos da
Formação Adamantina sobre o relevo foi a identificação de feições geomorfológicas
de terraços fluviais (421 metros), na porção sul da área cartografada. Provavelmente,
constituía antigo leito fluvial do córrego da Boiada (410 metros).
Com referência à cobertura vegetal, na área dominam as gramíneas.
Em alguns pontos, ocorre a existência de resquícios de matas residuais nas encostas,
em forma de cabeceiras de drenagem, e matas galerias ao longo de alguns córregos.
É nestes capões de matas que se encontram algumas das nascentes d’água, que
alimentam os vários córregos temporários e permanentes.
Com a retirada da vegetação de porte, associada as várias atividades
sócio-econômicas desenvolvidas ao longo do processo histórico de ocupação da
paisagem, algumas áreas apresentam-se totalmente degradadas, com solo exposto,
como pode ser notado na Carta de Uso e Cobertura Vegetal (Figura 30).
Figura 30 - Carta de Uso do Solo e Cobertura Vegetal do Distrito Industrial de Presidente Prudente-SP.
LEGENDAS
Áreas em Pousio
Áreas de Cultivo Permanente ou Temporário
USO DO SOLO
Cerca divisória entre propriedades
Mata Remanecente
Reflorestamento
COBERTURA VEGETAL
HIDROGRAFIA
Gramíneas
Mata Galeria
Curso d´agua permanente
Curso d´agua temporário
Açude/Barragem
22°08'59'' S 22°08'59'' S
22°10'44'' S 22°10'44'' S
51°20'30'' WGr
51°20'30'' WGr
436
479
456
486
466
CLUBE DOSTRINTA
CLUBE DOSTRINTA
COLÉGIOAGRÍCOLACOLÉGIOAGRÍCOLA
SÍTIOSÃO JOÃOSÍTIOSÃO JOÃO
SÍTIOPAU D'ALHOSÍTIOPAU D'ALHO
RECINTO DEEXPOSIÇÕESRECINTO DEEXPOSIÇÕES
457
447
466
436 465
485
456
CÓRRE OG
419
462
413
ADAIOB
AD
CO AIRR R. ÓD MA EM
437
466441
ZUL
AD.RRÓC
447
445
445
453
451
447
467
BAIRRO MANDAGUARIBAIRRO MANDAGUARI
456
442
455
447
461
51°23'18'' WGr
51°23'18'' WGr
DISTRITO INDUSTRIAL
477
449
432
465
461
448
450
447
412
463
VILA NOVAVILA NOVA
PRUDENTEPRUDENTE
CÓRREGOGR ADOAM
432
446VILAVILA
JARDIM
JARDIMCAMBUCI
CAMBUCI
AURÉLIO
AURÉLIO
465481
SÍTIO MIZUKOSHISÍTIO MIZUKOSHI
462 436
425
476
SOCIEDADEHÍPICA DEPRESIDENTE PRUDENTE
475
CÓRREGO DO CEDRO
CHÁCARABOM JESUSCHÁCARABOM JESUS
456
W E
Estradas Vicinais
Ferrovias
Rodovias
Área Residêncial
Área Institucional
Área Industrial
POLUIÇÃO DOS CURSOS DÁGUA E FONTE POLUIDORA
Curso d´agua poluído
Afloramento de chorume
Área de retirada de solo para empréstimo
Depósito de lixo desativado
Incinerador de Resíduos Hospitalares
Depósito de lixo autorizado
Elaborado e organizado por: NUNES, J.O.R. ( 2000 )
Editoração: FLORA H. SATO
ESCALA : 1: 25 000
ESCALA GRÁFICA
0 500 1000 m
N
Área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção do aterro sanitário
161
As áreas com solo exposto, sem cobertura vegetal, foram
caracterizadas como áreas de retirada de solo para empréstimo. De forma geral, as
áreas de empréstimo estão situadas em locais topograficamente mais elevados, cujo
solo predominantemente mais utilizado é o Latossolo Vermelho Escuro, muito
propício para construção civil e aterro sanitário.
Quanto ao Uso do Solo, observou-se que o setor leste apresenta um
predomínio de áreas de cultivos permanentes ou temporários, associados à pequena e
à média propriedade, cujo relevo geralmente é mais dissecado, com declividades que
variam de 10 a maior que 20%.
Na sua quase totalidade, a área também apresenta o predomínio das
pequenas e das médias propriedades. Em algumas delas, observou-se que o solo
encontra-se em estado de pousio, ou seja, não vem sendo utilizado para fins
agrícolas.
No caso da área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção
do aterro sanitário, após a retirada de material de empréstimo (materiais espólicos),
foram construídos terraços, acompanhando as curvas de nível. Esta obra vem
propiciando o crescimento espontâneo da vegetação do local, através do surgimento
de gramíneas (Foto 11).
Foto 11. Crescimento espontâneo da cobertura vegetal da área escolhida para o aterro sanitário, através do surgimento de espécies vegetais do tipo gramíneas. Nunes (2000).
162
Quanto às áreas mais degradadas, observando-se as Carta de Uso do
Solo e Cobertura Vegetal e a Carta Geomorfológica, o setor onde se localiza o
Distrito Industrial é o mais afetado, principalmente após ter sido escolhida uma área
em forma de cabeceira de drenagem, às margens dos afluentes do córrego Gramado,
como o atual local de depósito de resíduos sólidos domésticos do município (Foto
12).
Além do local de despejo dos resíduos municipais, outros locais são
caracterizados como superfícies degradadas, pois, nos períodos de intensidade
pluviométrica, são extremamente susceptíveis à formação de sulcos erosivos.
Foto 12. Atual local de despejo dos resíduos sólidos domésticos do município de Presidente Prudente-SP. Pela sua configuração morfológica, a área é totalmente inadequada para o despejo de resíduos. Nunes (2000)
É nestes locais, caracterizados como superfícies degradadas, que, ao
sofrerem a ação de processos morfodinâmicos erosivos, ocorre um carreamento dos
sedimentos, através do escoamento superficial, para dentro dos diversos córregos
existentes, principalmente os afluentes do Córrego Gramado.
Além do aumento do nível de assoreamento, alguns afluentes do
Córrego Gramado recebem o chorume que aflora das encostas, onde se encontram os
antigos depósitos tecnogênicos de materiais gárbicos (resíduos sólidos domésticos).
163
Além disso, são despejados na área materiais úrbicos como entulhos de construção,
pneus, metais diversos e até podas de árvores e galhos, conforme pode ser observado
na Foto 13.
Foto 13. No centro, observa-se a deposição dos materiais úrbicos (podas de
galhos, entulhos de construção, pneus, metais diversos, etc.). Ao fundo, notam-se os prédios das empresas instaladas no Distrito Industrial. Nunes e Boin (2001).
Nesta mesma área, é freqüentes, observarem-se vários pontos de
queimadas nas vertentes com feições em forma de cabeceira de drenagem em
anfiteatro (Foto 14), o que potencializa a erosão laminar e linear.
Este tipo de degradação ocorre em Argissolo (Podzólico Vermelho-
Amarelo eutróficos), naturalmente susceptível e frágil a processos erosivos do tipo
ravinamento.
Estes solos têm a tendência, devido à textura arenosa predominante
no horizonte A e argilosa no horizonte B, de sofrer com mais intensidade processos
morfodinâmicos, que podem ocasionar atividades erosivas do tipo voçorocamento.
164
Foto 14. Forma de relevo em cabeceira de drenagem em anfiteatro, próxima da antiga área de depósito de resíduos sólidos urbanos, cujas vertentes estão totalmente desvegetadas ocasionando sérios problemas de erosão remontante. Os locais escuros significam os pontos onde ocorreram queimadas. Nunes (2000)
A partir da caracterização dos processos morfodinâmicos atuantes na
paisagem do Distrito Industrial, elaborou-se um perfil no sentido W – E (Figura 31),
de modo a apresentar como, morfodinamicamente, os aspectos anteriormente
descritos, atuam no modelado do relevo e as suas implicações na área escolhida, pela
gestão 1997-2000, para a construção do aterro sanitário.
Como complemento ao perfil, elaborou-se uma carta morfodinâmica
associada a um quadro de síntese integrada dos compartimentos de relevo (Figura
32), objetivando-se integrar as informações contidas nas cartas temáticas,
apontando-se a morfodinâmica predominante e sua relação com o uso para a
construção de aterro sanitário. O quadro foi construído a partir do trabalho elaborado
por Ross (1996: 331-32), com as adaptações necessárias, considerando-se as
características da área de estudo.
Plu
vio
sid
ad
eTe
mp
era
tura
do
ar
Legenda
Tipos de Solo Geologia
Hidromórfico
Latossolo Vermelho Escuro Possíveis fraturamentos
Argissolo Vermelho Amarelo
27-29
25-27
23-25
21-23
19-21
17-19
19901991
19931994
1992
19981997
1999
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
19951996
Arenitos finos a muito finos dispostosem espessos bancos alternados
Camada de Argilíto (espessura média de 20 à 30 cm)
Figura 31 - Perfil Morfodinâmico do Distrito Industrial de Presidente Prudente - Direção W - E.
Elaborado por: João Osvaldo Rodrigues Nunes e Marcos Norberto Boin (2001)
Afluentes do Córrego do Cedro
Córrego do Cedro
Rodovia Raposo Tavares (SP 270)
Estrada VicinalFerrovia Alta Sorocabana
Área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção do Aterro Sanitário de Presidente Prudente, com movimentação de terra
Afluentes do Córrego da Luz
Movimento de terra Movimento de terra
EW
400-450
350-400300-350
250-300
200-250
150-200
100-150
50-100
0-50
19901991
19931994
1992
19981997
1999
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
19951996
Uso do Solo eCobertura Vegetal
Áreas de Surgênciado Lençol Freático
Hispometria
Declividades
Geomorfologia
Áreas em Pousio
Áreas de Cultivo Permanente ou Temporário
Uso do Solo
Cerca divisória entre propriedades
Mata Remanecente
Cobertura Vegetal
Hidrografia
Gramíneas
Mata Galeria
Curso d´agua permanente
Curso d´agua temporário
Açúde/Barragem
Estradas Vicinais
Ferrovias
Rodovias
Área de retirada de solo para empréstimo
Área escolhida pela gestão 1997-2000para a construção do aterro sanitário
Mata RemanecenteÁreas de Surgência do Lençol Freático
Cobertura Vegetal
Mata Galeria
480 - 490 440 - 450 450 - 460 430 - 440 420 - 430 410 - 420 460 - 470 470 - 480
> 20 0 - 22 - 55 - 1010 - 20
Compartimento de Relevos
Topo suavemente onduladodas Colinas Convexizadas
Domínio das vertentesCôncavo-Convexas
Fundos de Vales e Várzea Linha divisória de compartimentos
Feições Geomorfológicas
Linha de divisor d´aguasVale em V
Vale de Fundo Chato
Vertente Côncavo-Convexa
Vertente Convexa
Vertente Côncava
Figura 32 - Carta Morfodinâmica e síntese integrada dos compatimentos de relevo do Distrito Industrial de Presidente Prudente - SP.
MORFOESTRUTURA – BACIA SEDIMENTAR DO PAR ANÁ
MORFOESCULTURA - Planalto Ocidental Paulista
PADRÃO DE FORMA DE RELEVO
Espigões rebaixados, constituídos por relevos de colinas côncavo -convexas, com predomínio de vales do tipo U, com decl ividade entre 0 à 20 %
COMPARTIMENTOS DE RELEVO
TIPOLOGIA DA FORMAÇÃO DO RELEVO
LITOLOGIA E HIDROGEOLOGIA
SOLOS
ATIVIDADE ANTRÓPICA –
USO E OCUPAÇÃO COBERTURA
VEGETAL MORFODINÂMICA
CLASSIFICAÇÃO PREDOMINÂNTE
Topo suavementeondulado das colinas convexizadas
Topos convexos com declividades médias de 0 a 10%
Manto deIntemperismo ou regolito e lençol freático não aflorante.
Latossolo Vermelho Escuro e Argissolo Vermelho Amarelo (Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico)
-Distrito Industrial;
-Antiga área do Aterro Sanitário;
- Área de retirada de solo para empréstimo;
-Áreas de Cultivo Permanente ou Temporário;
- Áreas em Pousio;
- Reflorestamento;
-Incinerador;
-Conjuntos residenciais;
- Estradas Vicinais;
-Rodovia SP 270;
-Ferrovia Sorocabana.
Campos de gramíneas.
Ravinamentos nas médias altas vertentes emArgissolo VermelhoAmarelo, cujo predomínio é de cobertura vegetal de Gramíneas.
Uso restrito paraconstrução de aterrosanitário, principal-mente em áreas asso-ciadas a morfoestru-turas do tipo AltoEstrutural e Alto To-pográfico.
Uso inadequado paraconstrução de aterrosanitário.
Uso totalmente ina-dequado para cons-trução de aterro sanitário.
Domínio das vertentes côncavo- convexas e mistas
-Vertente côncava com declividade a proximada de 5 a 20%.
-Vertente convexa com declividade aproximada de 10 a 20%.
-Vertente mista com declividade de 5 a 20%.
Afloramento daFormação Adamantina e Manto de Intemperismo, com áreas de surgência do lençol freático.
Argissolo Vermelho Amarelo ( Podzólico Vermelho Amarelo Eutrófico)
-Antigo depósito de lixo;
-Atual depósito de lixo;
-Superfície degradada;
-Afloramento de chorume;
-Áreas de Cultivo Permanente ou Temporário;
- Áreas em Pousio;
- Estradas Vicinais;
- Área de retirada de solo para empréstimo;
- Açúde/Barragem
Campos de gramíneas e pequenos capões de matas residuais e Galerias.
Ravinamentos em diversos setores das médias e baixas vertentes em Argissolo Vermelho Amarelo, cujo predomínio é de cobertura vegetal de gramíneas.
Fundos de Vales e Várzeas
Fundos de Vales com declividade entre 0 a 5%
Afloramento daFormação Adamantina eFormações Aluviais Quaternárias, com afloramento do lençol freático.
Hidromórficos aluviais (Neossolo
Flúvico + Gleissolo
Háplico.
.
-Assoreamento dos cursos d’água;
-Lançamento de entulho e resíduos sólidos urbanos nas várzeas dos córregos;
-Limpeza de caminhões que transportam concreto;
-Afloramento de chorume.
Mata galeriaremanescente com vegetação de banhado (Taboa).
Com a retirada das matas Galerias, a maioria dos córregos e alguns Açúdes/barragens apresentam-se assoreados.
Elaborado e Organizado: NUNES, J.O.R. ( 2002 )Editoração: FLORA H. SATO
ESCALA GRÁFICA
0 500 1000 m
N
Afloramento de chorume
Depósito de lixo desativado
Incinerador de Resíduos Hospitalares
Depósito de lixo autorizado
Área de retirada de solo para empréstimo
ESPAÇOS URBANIZADOS
Estradas Vicinais
Ferrovias
Rodovias
Área Residêncial
Área Industrial
RECURSOS HÍDRICOS
Regime Superfícial
Regime subsuperfícial
DINÂMICA AMBIENTAL
Ravinas
DECLIVIDADES (%)
> 20
0 - 2
2 - 5
5 - 10
10 - 20
Curso d´agua permanente
Açúde/Barragem
Curso d´agua temporário
Curso d´agua poluído
Áreas de surgência dolençol freático
FEIÇÕES GEOMORFOLÓGICAS
Linha de divisor d´aguas
Linha divisória entre compartimentosde relevo
Vertente Côncava
LEGENDAS
Vertente Convexa
Vertente Côncavo-Convexa
Vale de Fundo Chato
Vale em U
Vale em V
Terraço
FEIÇÕES MORFOESTRUTURAIS
Alto Estrutural eAlto Topográfico
Prováveis fraturas
Provável contorno da morfoestrutura
AAAA
51°23'18'' WGr
22°08'59'' S
22°10'44'' S51°20'30'' WGr
22°08'59'' S51°23'18'' WGr
22°10'44'' S
51°20'30'' WGr
477
436
479
456
476
465481
486
449
475
466
CLUBE DOSTRINTA
CLUBE DOSTRINTA
SÍTIOPAU D'ALHOSÍTIOPAU D'ALHO
432
457
447
466
436 465
485
456
456
CÓRRE OG
419
462
462
413
ADAIOB
AD
CO AIRR R. ÓD MA EM
437
436
425
466441
ZUL
AD.RRÓC
447
445
445
453
451
447
467
BAIRRO MANDAGUARIBAIRRO MANDAGUARI
456
442
455
447
461
465
461
448
450
447
412
463
CÓRREGOGR ADOAM
446VILAVILA
AURÉLIO
AURÉLIO
WWW E
477
426
479
446
486
456
COLÉGIOAGRÍCOLACOLÉGIOAGRÍCOLA
SÍTIOSÃO JOÃOSÍTIOSÃO JOÃO
SÍTIOPAU D'ALHOSÍTIOPAU D'ALHO
RECINTO DEEXPOSIÇÕESRECINTO DEEXPOSIÇÕES
447
447
456
436 465
485
456
456
CÓRRE OG
419
462
413
ADAIOB
AD
CO AIRR R. ÓD MA EM
437
456
447
445
445
453
451
447
457
456
442
455
447
481
465
448
450
447
412
463
432
446
ZUL
AD.RRÓC
DISTRITO INDUSTRIALDISTRITO INDUSTRIAL
461
CÓRREGO DO CED RO
VILA NOVAVILA NOVA
SÍTIOMIZUKOCHISÍTIOMIZUKOCHI
AAA
PRUDENTEPRUDENTE
CAMBUCI
CAMBUCI
JARDIM
JARDIM432
CÓRREGOGR ADOAM
Área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção do aterro sanitário
167
Após, a análise e a interação entre os aspectos exógenos
(morfoestruturais e pedológicos), e endógenos (geomorfológicos, declividade,
hipsometria, áreas de surgência do lençol freático e uso do solo e cobertura vegetal),
que expressam a morfodinâmica presente na área do Distrito Industrial, no qual esta
incluída a área escolhida pela gestão 1997-2000, para a construção do Aterro
Sanitário de Presidente Prudente, indicou-se o compartimento de relevo Topo
suavemente ondulado das colinas convexizadas, como o mais adequado (com
restrições) para a construção de um aterro sanitário. Já, referente à área pesquisada
(local escolhido para o aterro sanitário) chegou-se ao resultado de que, a área é
inadequada.
No próximo capítulo, serão caracterizados os aspectos referentes às
condições climáticas. Estas, estão relacionadas com a precipitação, a temperatura, o
balanço hídrico e a direção predominante dos ventos. Estes aspectos, são
importantes para se compreender, entre tantos fatores, como se processa a
produção/geração de chorume e de odores, a partir da decomposição dos resíduos
sólidos domésticos e suas conseqüências para o ambiente.
168
6 O CLIMA E SUA RELAÇÃO COM OS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS
No capítulo anterior, foram analisados os aspectos físicos
(geomorfologia, geologia, morfoestrutura e pedologia) ligados à morfodinâmica da
paisagem regional (Oeste Paulista) e, principalmente, local (Distrito Industrial de
Presidente Prudente), indicando-se a partir da síntese integrada, qual o
compartimento de relevo mais adequado para a construção de aterro sanitário.
Neste capítulo, primeiramente foi caracterizado o aspecto climático
regional (Oeste Paulista). Posteriormente, baseado numa série histórica de 10 anos
(1990 a 1999), calcularam-se as médias mensais e anuais dos elementos climáticos
relacionados às características termopluviométricas, incluindo-se a umidade relativa
do ar, o balanço hídrico e o regime dos ventos para o município de Presidente
Prudente. Em seguida, com base nos dados das médias diárias dos meses de janeiro
(período chuvoso) e julho (período menos chuvoso) do ano de 1999, realizou-se um
prognóstico de produção de chorume e odores (gases) em um ambiente de
decomposição anaeróbia do lixo, a partir das condições climáticas e meteorológicas
dominantes.
6.1. As características do clima regional do Oeste Paulista
Conforme especificado anteriormente, o município de Presidente
Prudente encontra-se localizado no oeste do Estado de São Paulo.
Climatologicamente, o Oeste Paulista está localizado em uma faixa de
transição climática, entre as zonas de domínio das massas tropicais e polares, além
das perturbações frontais.
Neste aspecto, uma das principais características é a variabilidade
climática existente na região. Alguns estudiosos como Serra (1938), Monteiro (1969
e 1973) e Nimer (1989), foram os responsáveis por estabelecerem o padrão da
dinâmica atmosférica para o sudeste brasileiro (Sant’Anna Neto e Barrios, 1992:65).
Assim, os sistemas tropicais “...se individualizam na Massa Tropical
Atlântica (Ta), com origem no Anticiclone Atlântico; na Massa Tropical Continental
169
(Tc), que se forma na Depressão do Chaco; e na Massa Equatorial Continental(Ec),
que se origina na Planície Amazônica” (Sant’Anna Neto e Barrios, 1992:65-6).
Já os sistemas polares “...se individualizam na Massa Polar Atlântica
(Pa), originada no Anticiclone Polar, em seu ramo Atlântico, e nos sistemas
frontológicos, tendo como descontinuidade, provocada pelo entrechoque dos
sistemas tropicais e polares, a Frente Polar” (Sant’Anna Neto e Barrios, 1992:66).
No inverno, ocorre um aumento da participação dos sistemas polares,
mas o predomínio das massas tropicais ainda prevalece. É no verão, devido ao
processo de aquecimento, que ocorre uma maior atuação das massas tropicais,
associadas aos sistemas frontais.
Em estudo feito por Sant’Anna Neto e Barrios (1992:63-76), sobre a
“Variabilidade e tendência das chuvas na região de Presidente Prudente”, foi
verificado que a distribuição das chuvas no Oeste Paulista não apresenta uma
uniformidade temporo-espacial, sobre uma topografia composta por relevos de
espigões desgastados e suaves.
Os autores verificaram que os vales dos rios Santo Anastácio, do
Peixe e Laranja Doce apresentaram os menores totais pluviométricos (1.200 e 1.300
mm anuais). Já nos topos dos espigões entre os rios Paranapanema, Paraná, Santo
Anastácio e do Peixe, por sinal, onde está localizado o município de Presidente
Prudente, a precipitação se situa entre 1.300 e 1.400 mm anuais. E, na porção sul do
vale e no Pontal do Paranapanema, as precipitações situam-se entre 1.400 e 1.500
mm anuais. Isto ocorre em função tanto da configuração do relevo (altimetria e
orientação das vertentes), quanto da direção de entrada dos sistemas atmosféricos
produtores das chuvas: a Frente Polar Atlântica.
Trabalhando com o intervalo de tempo entre 1951 e 1990 (40 anos),
os autores identificaram, conforme as estações do ano, uma tendência das chuvas
para a região do Oeste Paulista, ou seja: na primavera e no inverno ocorreu uma
tendência crescente da pluviosidade; no outono, ela manteve-se estável; e, no verão,
mesmo sendo esta a estação mais chuvosa, com 40% das chuvas anuais, ela
apresentou uma tendência decrescente.
170
Estes dados tendem a indicar que não existe uma regularidade
pluviométrica, ou seja, o que se verifica para a região oeste do Estado de São Paulo é
uma variabilidade das chuvas que, dependendo do encadeamento dos sistemas
atmosféricos atuantes ao longo do ano, pode ocasionar períodos de maior ou menor
quantidade de chuvas.
Segundo Boin (2000), analisando a pluviosidade média de trinta anos
(1967–1996), a partir da Análise Rítmica Climática proposta por Monteiro (1971),
apresentou os seguintes trajetos preferências das massas de ar que atingem o Oeste
Paulista (Figura 33).
Serras ou áreas de maiores altitudes
Oceano AtlânticoPARANÁ
SÃO PAULO
SANTACATARINA
PARAGUAI
MATO GROSSO DO SUL
MINAS GERAISGOIÁS
DF
RIO DE JANEIROTrápico de Capricórnio Rio De Janeiro
Belo Horizonte
Brasilia
Goiânia
Campo Grande
São Paulo
Curitiba
Florianópolis
R i o
P
a r
a n á
Rio Ivai
Rio Paranapanema
Rio Tietê
Rio Grande
Rio
Paranaíba
R. Aporé
Figura 33- Trajetos preferenciais das massas de ar que atingem o Oeste Paulista,inferidos da pluviosidade média de trinta anos (1967-1996)
CONVENÇÕES
Limite da bacia do rio Paraná
Rio
aTib
jí
Elaborado e desenhado por BOIN, M.N.,2000.
MASSAS DE AR
Massa Tropical Atlântica
Massa Equatorial Continental
Massa Polar Atlântica
Massa Tropical Continental
Ao determinar o deslocamento das massas de ar, o autor demonstra que as
trajetórias, principalmente a da Massa Polar Atlântica, conforme seu percurso, pode
171
gerar anos chuvosos, habituais e secos para o Oeste Paulista. Assim, ao fazer a
análise climática num período de 30 anos (1967 – 1996), o autor mostrou, a partir da
determinação dos anos-padrão de 1983, 1984 e 1985, qual o efeito causado pela
trajetória da Massa Polar Atlântica.
No caso do ano de 1983, considerado como chuvoso, ocorreu maior
atuação da Massa Tropical Atlântica e da Massa Polar Atlântica que teve uma
direção predominante de SE, ou seja, uma trajetória oceânica. Isto gerou uma
tropicalização da massa, ocasionando um aumento de temperatura e de umidade.
Para o ano de 1984, caracterizado como habitual, o trajeto da Massa
Polar Atlântica se continentalizou a partir do Uruguai e do Rio Grande do Sul,
ocasionando perda de umidade e, conseqüentemente quantidade menor de chuva. E,
para o ano de 1985, classificado como seco e frio, o fato deveu-se pela trajetória
quase predominantemente continental da Massa Polar Atlântica.
Portanto, a região do Oeste Paulista, que inclui Presidente Prudente,
devido a sua posição geográfica, apresenta uma peculiaridade comum ao regime
pluviométrico dos trópicos úmidos, ou seja, registra uma estação chuvosa e quente
(outubro a março) e outra menos chuvosa, de temperaturas amenas (abril a
setembro), muito influenciadas pela trajetória das massas de ar, principalmente a
Massa Polar Atlântica. Feita a caracterização dos aspectos climáticos regionais, serão
analisadaa a seguir, as características termopluviométricas para Presidente Prudente,
no período compreendido entre 1990 –1999.
6.2. A termopluviometria e o regime dos ventos
Para melhor compreensão da descrição e análise das características
termopluviométricas, foi elaborado um quadro climático (Quadro 11), que contempla
os gráficos de temperaturas médias, mínimas e máximas mensais, de precipitações
mensais, das precipitações máximas em 24 horas, do número de dias de chuvas, da
umidade relativa do ar, do balanço hídrico e do diagrama de velocidade e direção dos
ventos.
173
Conforme se observa no Quadro 11, a temperatura média anual, em
Presidente Prudente, durante o período de 1990-1999, foi de 23.60 C. Maio, junho e
julho apresentam as médias mais baixas, entre 19o e 20o C (mínima de 17.10 C em
julho de 1990). De outubro a março, as médias térmicas mensais oscilam entre 24o e
26o C (máxima de 27.70 C em janeiro de 1998). As menores médias mensais foram
registradas nos meses de maio (19.90 C), junho (19.10 C) e julho (17.1o C); e, as
maiores médias ficaram entre os meses de novembro (26.60 C), dezembro (26.70 C) e
janeiro (27.70 C) (Figura 34).
A circulação atmosférica regional, que se caracteriza pelo domínio das
massas tropicais (Continental e Atlântica) e das massas polares, precedidas das
Frentes Frias, determinam o regime térmico, que se distingue em dois períodos bem
definidos: um quente e chuvoso de outubro a março e outro ligeiramente menos
quente e menos chuvoso de abril a setembro.
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago Se
t
Out
Nov Dez
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
199917192123252729
MESES
17-19 19-21 21-23 23-25 25-27 27-29
Figura 34. Variabilidade da temperatura média mensal (0 C) de Presidente Prudente (1990-1999).
Com referência à temperatura mínima absoluta, o valor extremo foi
registrado em junho de 1994 (1.8 0 C) e a mínima mais elevada foi observada em
janeiro de 1995 (21.3 0 C). A média das menores temperaturas mínimas foi de 5.0 0
174
C. Ao longo dos 10 anos, as médias absolutas anuais oscilaram entre 1.8 0 C (1994) e
10.8 0 C (1995) (Figura 35).
Ja
n
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago Se
t
Out
Nov Dez
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
MESES0-4 4-8 8-12 12-16 16-20 20-24
Figura 35. Variabilidade mensal das temperaturas mínimas absolutas (0 C) de
Presidente Prudente (1990-1999).
Neste aspecto, os meses com a menor temperatura mínima registrada
foram junho (1.80 C), julho (2.10 C) e agosto (4.10 C), e os de maior temperatura
mínima foram dezembro (19.6 0 C), janeiro (21.3 0 C) e fevereiro (20.4 0 C).
No que tange às temperaturas máximas absolutas, a maior foi
registrada em outubro de 1994 (38.4 0 C) e a menor foi em junho de 1998 (29.2 0 C),
com uma média anual, ao longo dos 10 anos, de 36.7 0 C.
Os meses que registraram as maiores temperaturas máximas absolutas
foram setembro (37.7 0 C), outubro (38.4 0 C) e novembro (37.5 0 C). E os com as
menores temperaturas foram maio (29.5 0 C), junho (29.2 0 C) e julho (30.0 0 C). No
geral, as temperaturas máximas oscilaram entre 34.80 C e 38.40 C (Figura 36).
175
Jan
Fev
Mar
Abr Mai
Jun
Jul
Ago Se
t
Out
Nov
Dez
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
meses
30-32 32-34 34-36 36-38 38-40
Figura 36. Variabilidade mensal das temperaturas máximas absolutas (0 C) de Presidente Prudente (1990-1999).
Analisando-se o gráfico da precipitação média, a média no período de
10 anos foi de 1.331,1mm, oscilando entre a mínima de 938,1mm (1991) e a máxima
de 1649,0 mm (1998). Neste período a maior precipitação mensal se deu em janeiro
de 1994 (443,8 mm) e a menor precipitação mensal ocorreu no mês de agosto dos
anos de 1991, 1995 e 1999 (0,0 mm).
O trimestre mais chuvoso coincide com a estação chuvosa (outubro a
março), o qual constatou as seguintes médias: dezembro (186,4 mm), janeiro (215,6
mm) e fevereiro (177,8 mm). Já no trimestre mais seco, a média foi de (54,5 mm) em
junho, de (16,3 mm) em julho e de (39,6 mm) em agosto, que se situa no período da
estação menos chuvosa (abril a setembro) (Figura 37).
176
É interessante observar-se que, o mês de agosto apresentou, em alguns
anos, um total pluvial mensal baixo. Em alguns anos não foram registradas chuvas
(1991, 1995 e 1999), enquanto, em outros, houve elevada pluviosidade, de 134,1 mm
(1990) e 147,5 mm (1998).
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago Se
t
Out
Nov Dez
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
MESES0-50 50-100 100-150 150-200 200-250 250-300300-350 350-400 400-450
Figura 37. Variabilidade mensal de precipitações (mm) de Presidente Prudente
(1990-1999).
Quando se analisa a precipitação máxima em 24 horas, pode-se
observar que a média dos 10 anos foi de 89,0 mm de chuva, variando de 61,0 mm a
124,1 mm (valor máximo registrado no período).
A maior intensidade de chuva ocorreu no mês de janeiro de 1994
(124,1 mm). Já as menores incidências ocorreram no mês de agosto dos anos de
1995, 1998 e 1999 (0,0 mm) (Figura 38).
Outros meses apresentaram incidência de chuva maior que 100 mm.
Foram os casos de fevereiro de 1993 (110,6 mm), março de 1998 (100,8 mm), abril
de 1999 (100,6 mm) e novembro de 1996 (101,0 mm).
177
Este tipo de intensidade de chuva (> 100 mm) é extremamente
prejudicial, principalmente em áreas degradadas.
Ja
n
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
meses0-20 20-40 40-60 60-80 80-100 100-120 120-140
Figura 38. Variabilidade das máximas de chuvas em 24 horas (mm) de Presidente
Prudente (1990-1999).
Os meses que apresentaram maiores valores médios de precipitações
intensas foram novembro (53,1 mm), dezembro (52,8 mm), janeiro (57,6 mm) e
fevereiro (54,9 mm). Já os meses de junho (19,7 mm), julho (9,6 mm), agosto (12,8
mm) e setembro (28,9 mm) apresentaram as menores médias de precipitações
intensas.
Assim, o mês com a maior média de chuvas em 24 horas foi janeiro
(57,6 mm), caracterizando-se como extremamente chuvoso. E, o mês de menor
média foi julho, com 9,6 mm de chuva, sendo considerado seco.
Com relação ao número de dias com chuva, observados entre 1990-
1999, constatou-se que a média anual de dias chuvosos foi de 114 dias, dando uma
média mensal de 9,5 dias. O ano de maior incidência foi o de 1998 com 125 dias,
cuja média foi de 10,4 dias por mês. Posteriormente, 1990 com 124 dias (10,3 dias
por mês) e 1996 com 122 dias (10,2 dias por mês) (Figura 39).
178
Jan
Fev
Mar
Abr Mai
Jun
Jul
Ago Se
t
Out
Nov
Dez
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
0-5 5-10 10-15 15-20
Figura 39. Variabilidade mensal do número de dias com chuvas (mm) de Presidente Prudente (1990-1999).
O ano de menor número de dias com chuva foi 1999, com 100 dias,
tendo a média de 8,3 dias por mês. Neste ano, registrou-se a média de chuvas de
1.225,8 mm. Todavia, os anos de menor precipitação foram 1991 (938,1 mm), 1993
(1.196,4 mm) e 1995 (1.185,8 mm). No mês de agosto dos anos de 1991, 1995 e
1999 não foi registrado nenhum dia com chuva. Por sinal, agosto apresentou ao
longo dos 10 anos a menor média (3,9 dias de chuva), onde se destacou o ano de
1990 (12 dias) e 1998 (9 dias). Os meses com a maior média de dias chuvosos foram
dezembro (14,1 dias), janeiro (15,8 dias) e fevereiro (14,2 dias). E, os de menor
número de dias foram junho (6,5 dias), julho (4,4 dias) e agosto (3,9 dias).
Associando-se os dados referentes ao número de dias com chuva com
os de precipitação anteriormente comentados, em média o período de abril a
setembro apresenta os menores valores pluviométricos, e, de outubro a março,
ocorrem as maiores quantidades de precipitação.
É justamente no período de maior precipitação que temos as
temperaturas médias mais elevadas, mesmo compreendendo que, temperaturas
elevadas, podem ocorrer ao longo de todo ano, e conseqüentemente nos períodos de
menor pluviosidade as menores temperaturas médias. Ou seja, os meses mais
chuvosos (dezembro, janeiro e fevereiro), representam os meses em média com as
179
maiores precipitações em 24 horas (mm). E, nos períodos secos (abril a setembro), as
temperaturas médias são mais baixas, principalmente durante os meses de junho,
julho e agosto.
Associanda aos períodos chuvosos e de baixas precipitações, observa-
se uma expressiva variação nas porcentagens de umidade relativa do ar Figura 40).
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
MESES
40-50 50-60 60-70 70-80
Figura 40. Variabilidade mensal da umidade relativa do ar (%) de Presidente Prudente (1990-1999).
O mês com as menores médias foi agosto, com um índice de 50.7% de
umidade relativa. O valor mais baixo foi registrado em agosto de 1995 (40%),
totalizando o ano com 60.3% de umidade. Todavia, o ano com a menor média foi
1999, com 60.1%.
Os maiores valores médios foram registrados nos meses de janeiro
(70.4%) e fevereiro (71%); o mês com o maior percentual foi fevereiro (78%) de
1993, e o ano com a maior média foi 1998 (67.1%).
Isso significa que o período compreendido entre os meses de
dezembro (66.2%) a junho (64.8%) é o que apresenta os maiores índices de umidade
relativa. Este período está associado às temperaturas mais elevadas e,
conseqüentemente, aos maiores valores de precipitação. Já os meses de julho
(56.6%), agosto (50.7%) e setembro (58.3%) apresentaram os menores índices.
180
São meses que, com exceção de setembro, geralmente registram os
menores valores de temperatura e pluviosidade.
Em relação ao balanço hídrico do período de 1990-1999, observa-se
que os índices de deficiência e excedente de água no solo, variaram em média de
21,65mm de excedente a 13,86mm de deficiência. Estes dados são importantes para
relacionarmos os períodos de excedentes hídricos com maior produção de chorume e
períodos de déficit com os de menor produção.
Os anos em que ocorreram as maiores deficiências hídricas foram
1991 (354,5mm), 1995 (261,8mm) e 1999 (264,6mm). Foi justamente no ano de
1995 no mês de agosto, que se registrou o maior índice negativo (97,1mm). Além
disto, no ano de 1991, não houve excedente.
Quanto aos índices de excedente hídrico, o maior foi registrado em
janeiro de 1994 (223,9mm), totalizando o ano com 244,2mm.
Os anos que apresentaram maiores excedentes hídricos foram 1990
(203mm), 1992 (453,7mm), 1993 (160,7mm), 1996 (370,3mm), 1997 (357,6mm) e
1998 (468,1mm).
O período de maior evapotranspiração real compreende o período das
chuvas (verão) de outubro a março, quando geralmente ocorre excedente hídrico. Ou
seja, é o período de maior infiltração e reposição de água nos mananciais de
superfície e de subsuperfície.
O período de menor evapotranspiração real e, conseqüentemente, de
maior deficiência hídrica, coincide com o período seco e menos quente (abril a
setembro). Raros são os meses, neste período, que apresentam balanço hídrico
positivo. Isto foi observado no mês de maio de 1992 (143mm), e no ano de 1998,
com 61,7mm (abril) e 26,8mm (maio).
Outro aspecto importante é o relacionado ao regime dos ventos
predominantes (freqüência e duração), associado à velocidade (km/h).
Um aterro sanitário, por melhor operacionalizado que seja,
dificilmente não gerará odores, até porque o odor (gases) é produzido mesmo a
temperatura ambiente. Dependendo da situação e da localização em que se encontra,
isto pode se tornar um problema para os moradores que habitam nas proximidades da
181
área do aterro sanitário. Na área em estudo, os ventos predominantes são do
quadrante leste (E, SE, NE), representando cerca de 60% do tempo médio de atuação
e de freqüência (Figuras 41).
N NE E SE S SW W NW
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
0-5 5-10 10-15 15-20 20-25 25-30
Figura 41. Variabilidade anual da freqüência dos ventos (%), por direção de Presidente Prudente (1990-1999).
No período analisado (1990 a 1999), a direção E é a predominante,
com uma duração média de 28.5 % e freqüência de 23.4%. Posteriormente, os de NE,
com 16.1 % (duração) e 18.2% (freqüência) e os de SE com 15.3 % (duração) e 15.8
% (freqüência).
Os ventos predominantes do quadrante E (NE e SE) estão associados
ao Anticiclone Tropical Atlântico (TA), cujas temperaturas são elevadas, com baixa
umidade e velocidades médias. Estes ventos proporcionam uma razoável dispersão
dos poluentes, fumaças e odores, pois são ventos constantes ao longo do ano (60%).
Já os ventos de W e NW são os que apresentam as menores
freqüências (6.6% e 7.6%) e durações (4.4% e 4.6%) (Figura 42). Estes ventos estão
associados à Massa Tropical Continental de baixa pressão atmosférica (TC),
originária da região da depressão do Chaco (baixa do Chaco). As temperaturas são
muito elevadas, com umidade relativa do ar muito baixa, causando, nos períodos de
calmaria, enorme desconforto humano. Ventos com estas características são pouco
182
dispersores de poluentes e odores. Além disto, os períodos de calmaria apresentaram
uma média de 9.3%, cujo valor maior ocorreu em 1997 (18.8%) e o menor em 1994 e
1995 (0.9%).
N NE E SE S SW W NW
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
0-5 5-10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 35-40
Figura 42. Variabilidade anual da duração dos ventos (%), por direção de Presidente Prudente (1990-1999).
Quanto à velocidade máxima anual, a média entre 1990-1999, foi de
63.1 km/h (máxima de 68.0 km/h e a mínima de 57.3 km/h). Os meses que
apresentaram as maiores médias de velocidade foram setembro (71.1 km/h) e
outubro (72.6 km/h).
Durante este período, os ventos de maior intensidade ocorreram no
mês de fevereiro de 1994 (128.2 km/h) e de março de 1991 (108.0 km/h). Outros
períodos apresentaram ventos acima de 80 km/h, como foi o caso de outubro (93.6
km/h) de 1991; novembro (94.3 km/h) de 1993; março (86.4 km/h) de 1996; e
janeiro (84.6 km/h) e abril (97.2 km/h) de 1998 (Figura 43).
183
Jan
Fev
Mar
Abr Mai
Jun
Jul
Ago Se
t
Out
Nov Dez
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
MESES
40-50 50-60 60-70 70-8080-90 90-100 100-110 110-120
Figura 43. Variabilidade mensal da velocidade máxima do vento (km/h) de
Presidente Prudente (1990-1999).
A partir da análise dos aspectos que influenciam no regime dos ventos
(direção, freqüência e a velocidade dominante), elaborou-se a Figura 44,
objetivando-se apresentar quais os quadrantes mais favoráveis ou desfavoráveis para
a construção de empreendimentos do tipo do aterro sanitário, na cidade de Presidente
Prudente.
Neste caso, para o município de Presidente Prudente, a área mais
adequada para a construção de um aterro sanitário é o setor SW – S - SE.
Os ventos do quadrante sul apresentaram, no período de 10 anos, uma
média de 7,1% de freqüência e 4,5% de duração, estando associados ao Anticiclone
Migratório Polar Atlântico (PA), cujas temperaturas e umidade são baixas, mas de
velocidades elevadas.
Estes ventos são extremamente favoráveis à dispersão dos poluentes e
odores, pois geralmente apresentam as características de velocidade elevada
associadas à precedência de chuvas.
O que mais se verifica neste aspecto é a qualidade dos ventos e não
tanto a sua quantidade. No caso dos ventos de leste, que são os de maior predomínio
(60%), estes nem sempre são precedidos de chuvas que ajudam a dispersar e diluir as
partículas de poluentes, poeira e odores presentes na atmosfera.
ORG.: SANT’ANNA LIMA e NUNES (2001)
EDITORAÇÃO : FLORA H. SATO
FONTE : IBGE - 1990
SEISCENTOSALQUEIRES
AMELIÓPOLIS
NOVA ITAÚNA
GLEBAMINEIRA
QUILOMETROQUARENTA
MENTOLÂNDIA
ENEIDA
FLORESTA DO SUL
CEM ALQUEIRES
TIMBURI
PRIMEIRODE MAIO
DUZENTOSALQUEIRES
PONTE ALTA
QUILOMETROSETE
MANDAGUARI
MONTALVÃO
JACUTINGA
GRAMADO
QUILOMETRONOVE
SP -
425
SP - 501
SP - 270
FLÒRIDA PAULISTA
FLO
RA R
ICA
SAN
TO
ALF
RED
O M
AR
CO
ND
ES
MA
CH
AD
O
ALV
AR
ES
PIRAPOZINHO ANHUMAS
IND
IAN
A
CA
IAB
Ú
MA
RIÁ
PO
LIS
REGENTE
FEIJÓ
EX
PE
DIT
O
PRESIDENTE PRUDENTE
0 km0 km 1,5 Km1,5 Km 3,0 Km3,0 Km 4,5 Km4,5 Km
VENTOS DO SUL ( S-SE-SW )
LEGENDA
ESTAÇÃO METEOROLÓGICA
VENTOS DE LESTE (E-NE-SE)
INTENSIDADE DOS VENTOS POR QUADRANTE
VENTOS DE OESTE (W-NW)
VENTOS DE SUL (S-SE-SW)
ÁREA ESCOLHIDA PELA GESTÃO BIÊNIO 1997-2000 PARA CONSTRUÇÃO DO ATERRO SANITÁRIO
- ASSOCIADOS AO ANTICICLONE MIGRATÓRIO POLAR ATLÂNTICO;
- TEMPERATURAS BAIXAS;- UMIDADE RELATIVA DO AR BAIXA;
- VELOCIDADE ELEVADA;- MESES DE MAIOR MÉDIA DE ATUAÇÃO: FEVEREIRO ,
MARÇO, ABRIL, NOVEMBRO E DEZEMBRO;- FREQUÊNCIA 7,1 % E DURAÇÃO 4,5 %;
- CONDIÇÕES FAVORÁVEIS A DISPERSÃO DE POLUENTES E ODORES, ASSOCIADO A CHUVAS PRECEDENTES;
VENTOS DE LESTE ( E-NE-SE )
- ASSOCIADO AO ANTICICLONE SUBTROPICAL ATLÂNTICO;
- TEMPERATURAS ELEVADA ;- UMIDADE RELATIVA DO AR ALTA ;- VELOCIDADE MÉDIA DO VENTO;
- MESES DE MAIOR MÉDIA DE ATUAÇÃO: AO LONGODE TODO O ANO ( 60% );
- FREQUÊNCIA 23,4% E DURAÇÃO 28,5%;- CONDIÇÕES RAZOÁVEIS DE DISPERSÃO
DE POLUENTES E ODORES.
VENTOS DE OESTE (W-NW )- ASSOCIADOS A TROPICAL CONTINENTAL-BAIXA
PRESSÃO DO CHACO;- TEMPERATURAS MUITO ELEVADAS;
- UMIDADE RELATIVA DO AR MUITO BAIXA;- CONSTANTES PERÍODOS DE CALMARIAS;
- MESES DE MAIOR MÉDIA DE ATUAÇÃO: OUTUBRO À JANEIRO;- FREQUÊNCIA 6,6% E DURAÇÃO 4,4% ;
- PIORES CONDIÇÕES PARA DISPERSÃO DE POLUENTESE ODORES
Figura 44 - Direção predominânte dos ventos por quadrante (S, E e W), ao longo do ano em Presidente Prudente - SP e as características favoráveis ou desfavoráveis para construção de obra do tipo aterro sanitário.
ÁREA ESCOLHIDA PELA GESTÃO 2001-2004,ONDE SERÁ CONSTRUÍDA A USINA DE TRIAGEM E COMPOSTAGEME O ATERRO SANITÁRIO DE PRESIDENTE PRUDENTE
185
Feitas as caracterizações anual e mensal dos aspectos térmicos,
pluviométricos, hídricos e do regime dos ventos, compreendidas entre 1990 – 1999,
passamos a analisar, comparativamente, entre os meses de janeiro e julho de 1999, a
influência e a relação dos aspectos climáticos na produção de chorume e odor.
Todavia, antes da análise comparativa entre os dois períodos, fez-se necessário
descrever como ocorre o processo de decomposição dos resíduos sólidos,
principalmente os domésticos, em ambiente de decomposição anaeróbio,
predominante em aterros sanitários e a conseqüente produção de chorume e odor.
Isto será visto a seguir.
6.3. Fatores climáticos que influenciam, em ambiente anaeróbio, para a
produção de chorume e de gases.
Como visto no capítulo anterior, que analisou as características
morfodinâmicas presentes na paisagem que se encontra localizada a área escolhida,
pela gestão 1997-2000, para a construção do aterro sanitário, observou-se que, caso o
empreendimento não viesse a ser bem operacionalizado, através de um sistema
adequado e compatível de drenagens pluviais superficiais e de subsuperfície, nos
períodos de chuvas intensas e concentradas (aguaceiros), corria-se o risco de que
ocorressem sérios danos estruturais nas bordas das células de lixo, com o
conseqüente aparecimento de fissuras/ranhuras e o posterior afloramento dos
resíduos sólidos domésticos cobertos com solo.
Além disso é nos períodos em que ocorrem chuvas finas e
persistentes, que provocam maior infiltração de água em subsolo, associadas às
temperaturas médias elevadas, que ocorrerá maior decomposição da matéria orgânica
do lixo (em ambiente anaeróbio), com conseqüente uma produção maior de chorume
e odores (gases). Isso poderá, conforme a forma de deposição dos resíduos sólidos e
as condições de tratamento, ocasionar risco de contaminação das águas superficiais e
de subsuperfícies.
186
Com referência ao tratamento do lixo em aterro sanitário é importante
citar que, de acordo com Jardim et al (1995: 111-12), existem quatro formas de
tratamento dos resíduos sólidos domésticos, possíveis de serem feitas em um aterro
sanitário, quais sejam: tratamento por digestão anaeróbia, por digestão aeróbia, por
digestão semi-aeróbia e biológica. Destes, o mais utilizado no Brasil e nos Estados
Unidos é o tratamento por digestão anaeróbia, por ser considerado menos oneroso,
em comparação com os outros tratamentos. Todavia o que traz as maiores vantagens
para a decomposição do lixo é o tratamento por digestão aeróbia, no qual os resíduos
sólidos domésticos são decompostos em ambiente com presença constante de
oxigênio, como pode ser observado no Quadro 12.
Quadro 12. Vantagens do processo de tratamento aeróbio em relação ao tratamento anaeróbio.
FATORES DIGESTÃO
VANTAGENS DO PROCESSO AERÓBIO X ANAERÓBIO
Percolado (chorume) Menores níveis de DBO18 e DQO19 Facilitando tratamentos finais de líquidos
Formação de gases Não-formação de gases perigosos (como metano)
Decomposição do lixo Mais rápido
Drenagem de líquidos e gases Maior, com benefícios para a estabilidade mecânica.
Fonte: Jardim et al (1995: 112)
No caso do aterro sanitário que deverá ser construído em Presidente
Prudente, o processo de decomposição dos resíduos sólidos domésticos ocorrerá a
partir da decomposição anaeróbia ou digestão anaeróbia, que é compreendida como a
decomposição da matéria orgânica na ausência de oxigênio molecular, com
conversão deste material em metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2).
18 Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO): medida da quantidade de oxigênio consumida pelos microorganismos na oxidação da matéria orgânica presente na água ou na água residuária. Quanto maior o grau de poluição, maior a DBO. 19 Demanda Química de Oxigênio (DQO): medida da quantidade de oxigênio consumida na oxidação química da matéria orgânica presente na água ou na água residuária. Em geral, a DQO é maior que a DBO e nem sempre é possível correlacioná-las.
187
Conforme a Figura 45, elaborada por Pohland & Harper (1985, apud
Gomes, 1989), os autores propõem o modelo atualmente mais aceito para descrever a
decomposição anaeróbia, em um aterro sanitário, apresentando as seguintes fases:
a) 1a Fase: ajuste inicial
- Disposição e acúmulo preliminar dos resíduos;
- Sedimentação inicial e fechamento da célula;
- Início do processo de estabilização;
b) 2a Fase: transição
- Superada a capacidade de campo do lixo, inicia-se a migração do
chorume e do percolado;
- Passagem de meio aeróbio (oxidante) para anaeróbio (redutor);
- Nitrato e sulfato substituem o oxigênio como receptor primário de
elétrons;
- Surgem CO2 (no biogás formado) e ácidos orgânicos voláteis (no
percolado);
c) 3a Fase: formação de ácidos
- Persistem a hidrólise e a fermentação dos resíduos e do percolado;
- Predominância de ácidos voláteis;
- Os nutrientes liberados (nitrogênio e fósforo) são utilizados como
substrato para o aumento da biomassa;
- Detectada a presença de hidrogênio, afetando a natureza e o tipo de
produtos intermediários em formação;
d) 4a Fase: fermentação do metano
- Conversão dos produtos intermediários em CH4 e CO2;
- Potencial de oxi-redução atinge os menores valores (ambiente redutor)
e os nutrientes continuam sendo consumidos;
- Diminuição da carga orgânica do percolado;
- Aumento da produção de biogás;
e) 5a Fase: maturação final
- Estabilização da atividade biológica;
- Nutrientes diminuem e passam a limitar o processo;
188
- Restabelecimento das condições ambientais naturais;
- Quase término da produção de biogás;
- Aumento do potencial redox;
- Eventual reaparecimento do oxigênio e das espécies oxidadas.
FASEI
FASEII
FASEIII
FASEIV
FASEV
CO
MP
OS
IÇÃ
O D
O G
ÁS
(%
em
vol
ume)
AU
ME
NT
O D
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RO
DU
ÇÃ
O D
E G
ÁS
(m
3)
TEMPO DE ESTABILIZAÇÃO, DIAS
0 200 400 600
40
80
CO2
DQO
AVT
N2
O2
O2H 2
CH4
PRODUÇÃO DE GÁS
DQ
O,
g/L
AV
T,
g/L
40
20
00,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
0
Figura 45. Modelo de decomposição anaeróbia de Pohland e Harper. Fonte: SCHALCH, 1997.
Segundo Rees (1980) apud Gomes (1989: 18), de acordo com o
diagrama de influências, vários são os fatores que influenciam no processo de
digestão anaeróbio, tais como: temperatura, potencial hidrogeniônico (pH), potencial
de oxi-redução (Eh), umidade, nutrientes (Carbono, Nitrogênio, etc.),
microorganismos (metano-bactérias), composição do lixo, compactação dos resíduos
e inoculação do meio (percolados) (Figura 46).
Dos fatores citados acima, para este trabalho foi analisada, com mais
ênfase, a influência da temperatura e da umidade do ar, associadas aos índices de
evaporação, de pluviosidade e de insolação.
189
Figura 46. Diagrama de Influência. Fonte: Rees (1980) apud Gomes (1989: 18)
Em relação a temperatura medida no interior da massa de lixo, a
Figura 47, apresenta-se o efeito do processo de fermentação da matéria orgânica
presente em um aterro sanitário, onde ocasiona maior ou menor produção de gás e
chorume. As bactérias metanogênicas são algumas das responsáveis pela
decomposição da matéria orgânica em ambiente anaeróbio. De acordo com a faixa de
temperatura no interior da massa de lixo, as bactérias metanogênicas são divididas
em mesofílicas e termofílicas. As mesofílicas atuam com mais intensidade em uma
temperatura que varia entre 29 a 45 o C. Já as termofílicas são mais atuantes na faixa
de 45 a 70 o C, chegando a produzir duas vezes mais metano que na faixa mesofílica.
190
Estas variações de temperatura, com diferentes atuações das bactérias
metanogênicas, ocorrem em ambiente anaeróbio com baixo índice de oxigênio nos
interstícios da massa de lixo. Assim, quando ocorre aumento da temperatura,
consequentemente ocorrerá maior produção de gás e de aceleração na decomposição
dos resíduos orgânicos.
Figura 47. Efeito da temperatura no processo. Fonte: Deschamps in Lima (1986) apud Gomes (1989: 21)
Outro fator importante no processo de digestão anaeróbio é o teor de
umidade presente na massa do lixo. O teor de umidade é influenciado,
principalmente, pela composição do lixo, pelas condições climáticas e pelas técnicas
de coleta.
De acordo com Gomes (1989: 24), quanto maior a concentração de
umidade, maior decomposição da massa orgânica do lixo e, conseqüentemente,
maior será a produção de metano, isto porque os microorganismos existentes no local
se proliferam com mais intensidade em meio aquoso. Todavia, o excesso de
percolados na massa de lixo pode ocasionar problemas no grau de compactação das
camadas de lixo.
191
Neste aspecto, dependendo da estrutura e da textura do solo que
servirá de material impermeabilizante de base, bem como do material de cobertura
das células de lixo, tanto a temperatura como a umidade da massa de lixo sofrerão
variações que se refletirão no processo de atuação das bactérias metanogênicas,
responsáveis pela decomposição da matéria orgânica do lixo.
Além do tipo de solo, deve também ser levada em conta a espessura
do solo que cobrirá as células de lixo do aterro sanitário. A média de espessura de
solo utilizada para recobrimento das células de lixo varia entre 30 a 50 cm. Esta
variação é em função das porcentagens de areia e de argila presente no solo. Ou seja,
quanto mais argiloso o solo, menor será a espessura, e, quanto mais arenoso o solo,
maior a sua espessura.
Para melhor compreensão das relações entre espessura do solo e
temperatura do solo, pode-se observar, no gráfico elaborado por Tubelis e
Nascimento (1980) apud Resende (1986: 46), as variações de temperatura do solo,
conforme os níveis de profundidades (Figura 48).
Figura 48. Curso diário da temperatura média de solo nu a diferentes profundidades, dias 20 a 29 de janeiro de 1985, em Ribeirão Preto-SP.
Fonte: Tubelis e Nascimento (1980) apud Resende (1986: 46).
A temperatura média do solo nu, nas profundidades de 2, 5 e 10 cm,
apresenta a temperatura máxima no período compreendido entre as 14 e 16 horas, e
as temperaturas mínimas, entre as 4 e 8 horas da manhã.
20222426283032343638
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24
Horas
Tem
pera
tura
méd
ia d
o so
lo
2 cm 5 cm 10 cm 20 cm 50 cm
192
No caso da profundidade de 20 cm, a temperatura média oscilou em
torno de 2 oC ao longo do período de 24 horas. Já na profundidade de 50 cm, quase
não ocorreram alterações. Isso significa que a amplitude entre a temperatura máxima
e a mínima tende a diminuir com a profundidade. Estes valores oscilam de acordo
com a radiação solar que chega de modo diferenciado, conforme a posição
geográfica, a época do ano, a hora e o dia em que foi tirada a medida da temperatura.
Compreendido o processo de decomposição dos resíduos sólidos,
principalmente os domésticos, em um ambiente anaeróbio, bem como quais são os
fatores que mais diretamente influenciam este processo, conforme foi dito
anteriormente, elaborou-se uma análise integrada dos aspectos climáticos,
objetivando-se gerar, para a realidade local, um modelo de previsão de produção de
chorume e odor. A análise integrada foi baseada na concepção da Análise Rítmica
proposta por Monteiro (1971), tendo como finalidade mostrar a atuação diferenciada
dos fatores climáticos, na região de Presidente Prudente, tanto no período chuvoso
como no período de chuvas escassas.
6.4. Análise integrada dos aspectos climáticos e sua aplicação na previsão de
produção de chorume e odor.
A Figura 49 apresenta dois momentos bem distintos. Um compreende
o período chuvoso, no qual o mês de janeiro apresentou as maiores médias de
temperatura e precipitação; e, o outro o período de poucas chuvas, sendo o mês de
julho o que apresentou, de modo geral, as menores médias de pluviosidade e de
temperatura.
Numa primeira constatação, pode-se observar que os períodos de
maior produção provável de chorume e de gases estão geralmente relacionados aos
dias em que a maioria dos índices apresentou valores positivos; eles estavam acima
da média mensal; e conseqüentemente, os de menor geração, ocorreram nos dias em
que houve predomínio dos valores negativos, ou seja, abaixo da média mensal.
Veremos a seguir como foram estas variações nos meses de janeiro e
julho do ano de 1999.
07:00
11:00
15:00
21:00
Tem
pe
ratu
ra d
o a
r(º
C)
Tem
pe
ratu
ra d
o a
r(º
C)
Eva
po
rçã
o(m
l)
Eva
po
rçã
o(m
l)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
0
10
20
30
40
50
0
20
40
60
80
100
0
20
40
60
80
100
Plu
vio
sid
ad
e(m
m)
Um
ida
de
do
ar
(%)
Um
ida
de
do
ar
(%)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
JANEIRO DE 1999 JULHO DE 1999
Umidade diária (%)
Insolação diária (hs/déc.)
Evaporação diária (ml)
Temperatura diária (ºC)
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
Temperatura (ºC)
0 - 2 3 - 4
5 - 6
7 - 8
9 - 10VII - Nebulosidade
(decimos)
XII - PREVISÃO DE PRODUÇÃO DE CHORUME E ODOR
(qualitativo)
XI - TEMPERATURA DE ATUAÇÃO DAS BACTÉRIASMETANOGÊNICAS
Pluviosidade (mm)Total em 24 horas
SW
SE
NW
NE
IV - Evaporação
I - Insolação
II - Umidade do Ar
III - Pluviosidade diária
V - Temperatura do ar
X - Temperatura do solo
VI - Ventos
Direção do vento 0.0 a 5.0 km/h
5.1 a 10.0
10.1 a 15.0
DIREÇÃO VELOCIDADE
LEGENDA
Precipitação (mm)
Evapotranspiração Potencial
Evapotranspiração Real
IX - Balanço Hídrico
Deficiência HídricaExcedente HídricoDeficiência HídricaExcedente Hídrico
Retirada de águaReposição de águaRetirada de águaReposição de água
Inso
laç
ão
(hs/
dé
c.)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 0
2
4
6
8
10
12
14
Inso
laç
ão
(hs/
dé
c.)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 0
2
4
6
8
10
12
14
0
2
4
6
8
10
12
14
0
25 25
15 15
20 20
10 10
35 35
30 30
2
4
6
8
10
12
14
Fase Mesofílicas (29 a 45 ºC)
Fase Termofílicas (45 a 60 ºC)
Tem
pe
ratu
ra d
o s
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(a
2 c
m/ ºC
)
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cm
/ ºC
)
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pe
ratu
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o s
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40
cm
/ ºC
)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
0
10
20
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40
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0
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1105
20253035404550
101520253035404550
1520253035404550
10
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20253035404550
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 101520253035404550
101520253035404550
Quadro 49 - Análise integrada da atuação do clima e sua relação com a produção de chorume e odor.
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 VIII- Sistemas atmosféricos (S.A.)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 Vento
Nebulosidade1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 S.AMassa Polar Atlântica (Pa)
Massa Polar Velha (Pv)
Frente Reflexa (F.P.R.)
Frente Estacionária
Frente Fria
Frente Quente
Fonte de dados: FCT/UNESP - Pres. PrudenteElaborado e organizado por: Boin e Nunes (2001)
Massa Tropical Atlântica (Ta)
Plu
vio
sid
ad
e(m
m)
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 0
10
20
30
40
50
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31
0
2
4
6
8
0
2
4
6
8
Massa Tropical Atlântica Continentalizada (Tac)
Repercursão da Frente Fria (Rep.FPa)
0 a 2 - Baixa 2 a 4 - Baixa a Média
4 a 6 - Média a alta
6 a 8 - Alta
Pro
váve
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pro
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Pro
váve
l índ
ice
de
pro
duç
ão
de
cho
rum
e
e o
do
r
194
6.4.1. O mês de janeiro de 1999
O mês de janeiro apresentou, na maior parte dos seus dias, índices de
produção de chorume e odor que variaram de baixa a média e de média a alta. Esta
variação deveu-se principalmente à combinação de fatores, com valores positivos,
como insolação, umidade do ar, pluviosidade, razoável nebulosidade e balanço
hídrico, com excedente hídrico em subsolo.
Como se pode observar, no período compreendido aproximadamente
entre os dias 2 a 10, ocorreu a atuação da Massa Tropical Atlântica (TA) intercalando
com as invasões das Frentes Frias (FF) e Frentes Quentes (FQ).
No caso da TA, que se origina a partir do Anticiclone Tropical
Atlântico, localizado no Oceano Atlântico, a principal característica é a sua umidade
precedida de temperatura elevada, podendo ocasionar fortes chuvas (aguaceiros),
como no caso do dia 31. Quanto à intercalação entre os sistemas atmosféricos FF e
FQ, estes geraram uma seqüência de quase nove dias de chuvas, com exceção do dia
6. Durante este período, a maior parte dos dias apresentou-se nublado, com queda de
temperatura média. A evaporação atmosférica também apresentou o mesmo padrão
de baixa, com exceção do dia 6.
Neste período, o dia 10 apresentou valor de baixa a média até de
média a alta produção. Este fato, deveu-se à entrada de uma TA que gerou, entre
tantos fatores, a elevação da temperatura, a maior quantidade de brilho solar e a
baixa precipitação que, associados à água contida em subsolo propiciaram uma maior
quantidade de produção de chorume e odor.
Outro período com totais elevados de precipitação ocorreu entre os
dias 13 a 18. Neste período, predominaram dias de baixa a média produção de
chorume, devido à conjunção de valores acima da média, ou seja, umidade do ar,
nebulosidade e balanço hídrico. Já com índices abaixo da média predominaram a
evaporação, a temperatura do ar e do solo (profundidade de 30 e 40 cm).
Associada a estes aspectos, ocorreu, no dia 13, a entrada de uma
Massa Polar Atlântica (Pa). Esta, provavelmente, fez sua trajetória pelo Oceano
Atlântico, ou seja, veio se tropicalizando, fazendo com que o frio fosse se dissipando
195
e, ao mesmo tempo, se aquecendo e se carregando de umidade, vindo a tornar-se uma
Massa Polar Velha (Pv). Assim, do dia 15 para o dia 16, a Frente Fria ocasionou
chuvas associadas ao aumento de umidade do ar, evaporação, nebulosidade e balanço
hídrico com excedente de água em subsolo. Isto ocasionou uma pequena diminuição
da temperatura do solo nas diversas profundidades.
Já do dia 16 para o dia 17, ocorreu a entrada de uma Massa Tropical
Atlântica (Ta), que permaneceu atuante até o dia 21. Durante este período, choveu
somente no dia 17; posteriormente, até meados do dia 30, não ocorreram
precipitações.
Além da Ta, observou-se também, entre os dias 22 a 25, a atuação de
uma Pa, tendo, ao seu final, a presença de uma Frente Reflexa e, posteriormente, uma
Frente Quente.
Durante este período predominaram, dias com horas de brilho solar,
umidade do ar, evaporação, temperatura do ar e do solo nas três profundidades,
principalmente na de 2 cm, nebulosidade e ausência de precipitação. A conjunção
destes fatores ocasionou um período de predomínio de média a alta produção de
chorume e odor (dias 18 a 25), mesmo com o aumento do índice de deficiência
hídrica e a retirada de água do subsolo. Diferentemente do dia 31, que apresentou
média de alta produção, o fato deveu-se à atuação de uma TA, que gerou chuvas,
após certo período de intenso déficit hídrico em subsolo.
Outro fato que pode ser analisado é que, tanto no período dos dias 2 a
10 como dos dias 13 a 18, devido à quantidade de chuvas ocorridas, houve excedente
de água em subsolo. Este processo gerou pouca variação de temperatura do solo ao
longo dos horários compreendidos entre as 7 horas e as 21 horas, para as
profundidades de 30 e 40 cm. Já para a profundidade de 2 cm, as variações de
temperatura do solo foram extremamente diferenciadas. Ou seja, em alguns horários
do dia, quando as temperaturas do solo atingem valores entre 29 a 45 0C , criam-se
condições para que as bactérias metanogênicas – fase mesofílica, atuem com mais
intensidade no processo de decomposição da matéria orgânica, gerando, em
decorrência, chorume e odor. Já no período sem registro de precipitações, ou seja, de
19 a meados do dia 29, em determinados horários do dia (das 11 às 15 horas),
196
ocorreu uma significativa elevação da temperatura do solo, principalmente na
profundidade de 2 cm, fazendo com que houvesse uma atuação mais efetiva das
bactérias metanogênicas (fase termofílica 45 a 60 oC).
6.4.2. O mês de julho de 1999
Observa-se que, na maior parte dos seus dias, os índices de produção
de chorume e odor variaram entre baixa a baixa à média produção, apresentando
somente um dia com média a alta produção, que seria no dia 24. No período entre os
dias 23 a 24, a combinação entre valores elevados de insolação, de umidade do ar, de
pluviosidade e de excedente hídrico, em função da entrada de uma PV, gerou
elevação da temperatura.
Quanto aos períodos de baixa produção, os principais fatores
responsáveis foram as combinações entre os valores de horas de brilho solar com
baixas pluviosidades, temperatura baixa, deficiência hídrica em subsolo e elevada
evaporação. Este processo pôde ser observado ao longo de quase todo o período.
Isto deve-se ao fato que, durante razoável período do mês de julho,
ocorreu o predomínio da atuação das massas PA e PV, ocasionando geralmente dias
frios e secos, com pouca nebulosidade, acarretando uma ausência de atuação das
bactérias metanogênicas nas profundidades de 30 e 40 cm. Já para a profundidade de
2 cm, entre o horário das 11 às 15 horas, as temperaturas, por serem mais elevadas,
geram condições para a atuação das bactérias metanogênicas – fase mesofílica.
Além das massas PA e PV, outros sistemas atmosféricos também
atuaram ao longo do mês. Foi o caso da repercussão da Frente Fria, que, para o dia 5,
ao gerar chuvas, propiciou condições favoráveis a índices de baixa a média produção
de chorume e odor.
No mais, os sistemas atmosféricos atuantes no mês de julho,
diferentemente do mês de janeiro, basicamente ocasionaram uma ausência de
precipitação. Este fato, associado aos demais citados anteriormente, foi o principal
responsável pela baixa produção de chorume e odor.
197
Assim, pode-se observar, a partir da análise feita para os dois
períodos (janeiro e julho) que, entre todos os fatores utilizados na elaboração da
análise integrada, os que mais influenciaram na produção de chorume e odor foram a
temperatura do ar, a temperatura do solo, a pluviosidade e o balanço hídrico com
excedente em subsolo, associado à atuação dos sistemas atmosféricos.
Com isto, baseado na análise feita entre os meses de janeiro, que
apresenta geralmente os valores mais elevados de precipitação e temperatura e julho,
com os valores mais baixos de precipitação e temperatura, pode-se constatar que, ao
ser construído o aterro sanitário no município de Presidente Prudente e regiões
próximas, haja uma tendência, em termos climáticos e meteorológicos de que:
- nos períodos de temperatura média elevada e precipitações elevadas
(outubro a março), ocorra maior produção de chorume e odor;
- nos períodos de temperatura média baixa e pouca precipitação (abril
a setembro), ocorra menor produção de chorume e odor;
- os períodos pós-precipitação, com excedente hídrico em subsolo,
sejam os mais propícios para a produção de chorume e odor, pois a umidade contida
na massa de lixo associada a temperaturas elevadas, conforme o horário do dia,
auxiliará no aumento e na atuação das bactérias metanogênicas;
Assim, compreendendo-se a dinâmica de atuação dos sistemas
atmosféricos e sua relação com a produção de chorume e odor, é possível a
elaboração de uma análise climática que auxilie não somente na escolha do local,
quanto a critérios físicos, bem como do material que será utilizado na
impermeabilização das células onde será depositado o resíduo sólido. Poder-se-a
prever e controlar, assim, nos períodos de maior tendência à produção de chorume e
odor, a contaminação, principalmente do solo e das águas superficiais e
subsuperfíciais.
198
DISCUSSÃO DOS RESULTADOS E CONCLUSÕES
Conforme pode-se observar, é de fundamental importância, ao se escolher
uma área para a construção de um aterro sanitário, inter-relacionar os aspectos técnicos
com os aspectos políticos, econômicos e sociais. Isto ficou bem evidente no caso da área
escolhida, pela atual administração municipal gestão 2001-2004, para a construção do
Aterro Sanitário do município de Presidente Prudente, no qual fica localizada próximo da
Estação de Tratamento de Esgotos da SABESP. Constatou-se que na sua escolha, desde o
princípio, predominaram mais os aspectos de ordem política e econômica, do que técnico-
ambientais e consultivos.
Como resultado, do que foi pesquisado até o presente momento, serão
discutidos dois pontos fundamentais, sendo eles: as vantagens e desvantagens dos
procedimentos técnicos utilizados, para escolha de qual o compartimento de relevo mais
adequado para construção de um aterro sanitário, na área escolhida pela administração
anterior (1997-2000); e os problemas principalmente de ordem política, ao qual refiro-me
ao papel desempenhado pelo poder público, em relação ao equacionamento do melhor
destino a ser dado aos resíduos sólidos urbanos.
Com referência ao primeiro ponto, os critérios técnicos escolhidos como
fundamentais para a pesquisa, foram baseados nos conhecimentos geomorfológicos,
morfoestruturais, hidrogeológicos, pedológicos e climáticos.
A abordagem geomorfológica foi extremamente importante para a
identificação dos compartimentos de relevo, bem como das diversas feições geomórficas
existentes, associado aos aspectos de declividade, hipsometria, áreas de surgência do
lençol freático e ao uso do solo e da cobertura vegetal. Neste aspecto, procurou-se
compreender e representar a morfodinâmica predominante na área de pesquisa, através de
representações cartográficas, expressa em forma de um perfil morfodinâmico e de uma
carta morfodinâmica da área de pesquisa.
Ambas as representações cartográficas, tem como unidades de análise
geomorfológica principal, o compartimento de relevo. A vantagem de tomá-lo como
199
unidade principal de referencia física, para escolha de área (local) para construção de
aterro sanitário é que, no compartimento de relevo é possível identificar setores e
subsetores com características homogêneas e heterogêneas, ligadas a fatores
morfoestruturais e morfoesculturas.
Assim ao definir o compartimento mais adequado para construção do aterro
sanitário, pode-se identificar melhor a área, ou setor mais apropriado.
Neste aspecto, metodologicamente, primeiramente delimitou-se os
compartimentos de relevo, buscando entender, quais as litológias e suas variações
estratigráficas, com os tipos de solos (Latossolos e Argissolos) existentes nos
compartimentos. Posteriormente, associou-se às feições morfoestruturais (antiformes e
sinformes) e os aspectos hidrogeológicos (lençóis freáticos).
A partir da análise integrada entre estes aspectos, chegou-se as seguintes
considerações técnicas:
- parte da área escolhida pela gestão 1997-2000, apresentou uso restritivo
devido ao grau de degradação que se encontra, ocasionado pela expressiva retirada de
material de empréstimo (solo);
- morfoestruturalmente, por se encontrar em um Alto Estrutural e Alto
Topográfico, apresenta indicativos desfavoráveis, com prováveis fraturamentos no maciço
rochoso da Formação Adamantina - KaIV, que poderiam servir de canal condutor dos
possíveis lixiviados orgânicos e inorgânicos, caso se infiltrassem em subsolo;
- a presença de Latossolo Vermelho Escuro no topo é um indicativo
favorável, pois serviria de material de cobertura para as células dos resíduos sólidos
domésticos;
- com a retirada de solo de expressiva parte da área, também se retirou à
camada de argilítos e siltítos que poderia ser utilizada, com alguns cuidados, como
material impermeabilizante de base das células de lixo;
- outro problema é os vários pontos de afloramento dos lençóis freáticos, em
locais à jusante da área escolhida pela gestão 1997-2000. Este fato deveu-se às
200
características litoestratigráficas e hidrogeológicas dos arenitos da Formação Adamantina
- KaIV;
Assim, em relação ao resultado demonstrado na Carta Morfodinâmica do
Distrito Industrial e no quadro da síntese integrada dos compartimentos de relevo,
indicou-se o compartimento de relevo Topo suavemente ondulado das colinas
convexizadas, como o mais adequado para a construção de um aterro sanitário,
principalmente em áreas situadas sobre morfoestruturas do tipo Alto Topográfico e Baixo
Estrutural, associado à presença de Latossolo Vermelho Escuro, e predominância de
declividades pouco acentuadas.
Quanto à área escolhida pela gestão 1997-2000, considerou-se como
inadequada para construção de um aterro sanitário, devido principalmente aos fatores
morfoestruturais (Alto Estrutural e Alto Topográfico) e a proximidade com as áreas de
surgência do lençol freático.
Com referência aos aspectos climáticos, no que tange à direção
predominante dos ventos, a escolha da área foi correta, pois ao se encontrar no quadrante
sul, mais especificamente à sudeste da cidade de Presidente Prudente, recebe os ventos
que estão associados ao Anticiclone Migratório Polar Atlântico (PA). Estes apresentam
temperatura e umidade baixas e velocidades elevadas, favorecem a dispersão dos
poluentes e odores, sendo que geralmente são precedidos de chuvas.
Em relação à análise integrada dos aspectos do clima e sua influência na
produção de chorume e odor, ao comparar os dois momentos climatológicamente distintos
ao longo do ano de 1999, conforme representado no Quadro 49, foram estabelecidos
índices qualitativos de produção de chorume e odor. A partir destes índices qualitativos, é
possível compreender, antes da construção de um aterro sanitário, quais os período de
maior e de menor produção de chorume e odor, conforme as condições climáticas e
meteorológicas predominantes ao longo das estações do ano.
Estas informações servem de parâmetro para que, após a construção do
empreendimento, ocorra um melhor acompanhamento, através de poços de
201
monitoramento, um controle quantitativo da produção de chorume e odor, evitando
possíveis contaminações do solo e das águas de superfície e de subsuperficiais.
É importante destacar que, os critérios técnicos escolhidos para esta
pesquisa, devem ser analisados de modo integrado, pois um é resultante e efeito do outro.
Quanto as vantagem da utilização dos critérios técnicos escolhidos, na área
de estudo, apresentaram resultados bem expressivos, principalmente o aspecto da
identificação das morfoestruturas, ou seja, os Altos e Baixos Estruturais.
As maiores dificuldades surgiram para a elaboração da carta morfodinâmica.
Várias foram às tentativas de sobreposição das cartas temáticas, para chegar a um
resultado que expressasse a dinâmica da paisagem e, sua relação com os compartimentos
de relevo mais adequados para a construção de um aterro sanitário.
Quanto aos aspectos socioeconômicos e políticos, estes devem ser
prioritariamente destacados, principalmente em relação à participação dos diversos
agentes sociais, que direta ou indiretamente são afetados no processo de escolha da área.
A problemática dos resíduos sólidos urbanos, gerados no município de
Presidente Prudente, não será resolvida somente com a escolha de uma área para
construção de um aterro sanitário, pois o processo de produção e destino dos resíduos
sólidos, devem ser compreendidos na sua totalidade, ou seja, desde a geração (fontes) até
o local de despejo (formas de disposição). Isto significa, inserir no processo, de forma
digna, os principais responsáveis pela coleta seletiva dos resíduos sólidos, que são os
catadores ou garimpeiros, que, no caso do município de Presidente Prudente, não tem
nenhum projeto em vigor, por parte do poder público, que faça o gerenciamento integrado
dos resíduos sólidos de modo correto.
Para tanto, a administração pública deve assumir a problemática dos resíduos
sólidos como uma das prioridades municipais. Deve incentivar, não somente a viabilidade
de construção de uma Usina de Triagem e Compostagem e de um aterro sanitário, mas
também a formação de cooperativas de catadores de resíduos comercializáveis, e da coleta
seletiva do lixo em diversos setores e locais da cidade, principalmente na tentativa de
conscientizar a população, para a diminuição da quantidade de lixo produzido. Além disto,
202
incentivar campanhas de conscientização e preservação dos diversos recursos ambientais,
já estabelecidos no Plano Diretores de Desenvolvimento Urbano, na Lei Orgânica
Municipal, e nas diversas leis ambientais estaduais e federais, bem como respeitando e
referendando as decisões do COMDEMA, na participação das administrações municipais.
Todavia, para que se possa viabilizar a execução dos projetos acima
descritos, e necessário à manutenção de um quadro de técnicos, principalmente na
Secretaria Municipal do Meio Ambiente, que independente de mudanças de gestão
administrativa, tenham condições políticas, financeiras e instrumentais para executar e dar
continuidade aos diversos projetos na área de resíduos sólidos urbanos.
Neste aspecto, é importante destacar o projeto de políticas públicas, que esta
sendo realizado por professores da UNESP de Presidente Prudente-SP, que trata sobre a
problemática do lixo em Presidente Prudente.
Portanto, espera-se que este trabalho, possa contribuir metodologicamente,
para o estudo da dinâmica da paisagem, objetivando a escolha de áreas para a construção
de aterro sanitário, bem como também, na discussão política – ambiental, referente ao
modo como, a problemática dos resíduos sólidos urbanos vem sendo tratada pelo poder
público municipal.
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