UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
FACULDADE INTEGRADA AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
O USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA
COMUNICAÇÃO PARA PROMOÇÃO DO
CONHECIMENTO
Márcia Cristina Rodrigues de Souza
Orientadora: Profa Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
FACULDADE INTEGRADA AVM
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
O USO DAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA
COMUNICAÇÃO PARA PROMOÇÃO DO
CONHECIMENTO
Este trabalho de pesquisa atende ao requisito final para obtenção do título de Especialista em Tecnologia Educacional no curso de Pós-Graduação.
Rio de Janeiro
2011
3
AGRADECIMENTOS
- À minha orientadora Profª Mary Sue um agradecimento especial pela
paciência, generosa acolhida, tornando o “impossível possível”, na corrida
contra o tempo...
- Aos Profs. da Pós em Tecnologia Educacional pelo convívio gratificante, pelos
textos, pelas discussões, etc.
- Aos meus colegas de curso Neimar Nobre, João Paulo Voigtlaender e Cícero
Augusto Costa pela parceria.
- Aos funcionários do Instituto A Vez do Mestre, por terem sempre facilitado
minha vida, para que esta fosse realizada.
- À colega de Língua Portuguesa Profª Carolina Araújo pelas sugestões e
correções ortográficas.
- À bibliotecária Heloísa Almeida pela orientação da catalogação.
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RESUMO
Este trabalho nasceu da necessidade de se entender quais os
mecanismos que contribuem para uma prática docente eficaz a partir da
utilização de diferentes tecnologias no ambiente de ensino-aprendizagem.
Espera-se mostrar a importância de o professor estar atualizado no que diz
respeito ao manuseio dessas tecnologias, a fim de que sua utilização gere
significado ao educando, possibilitando, assim, a construção de conhecimento.
Além disso, pretende-se demonstrar como as Tecnologias da Informação e a
Comunicação (TICs) são importantes para o processo de Educação à
Distância, bem como estabelecer os problemas e os desafios dessa
modalidade de ensino. Espera-se, ainda, determinar os impactos causados
pela inserção das TICs no ambiente escolar.
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METODOLOGIA
Para realizar este trabalho, realizou-se extensa pesquisa
bibliográfica, a fim de revisar conceitos, comparar teorias e realizar uma análise
mais profunda sobre os tópicos que se pretendeu abordar neste trabalho. Para
isso, contou-se com os ensinamentos de Paulo Freire (1980 e 1996) acerca
dos fundamentos que cercam a atividade educativa, bem como no que diz
respeito à atitude e à formação do professor nos dias atuais, a fim de que se
formem alunos autônomos em relação ao próprio processo de educação. Ao
tratar das tecnologias e sua relação com a educação, utilizou-se os referenciais
de Leite et al (2004) e de Orth (1999), por exemplo. Para tratar especificamente
dos tópicos de Educação à Distância e de Tecnologias da Informação e da
Comunicação, bem como seus desdobramentos, utilizou-se o que ensinam
Pimentel (1999) e Litwin (2001), dentre outros. Além disso, também recorreu-se
às legislações pertinentes como a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional e o decreto que regulamenta o artigo 80 da referida lei, pertinente ao
ensino na modalidade à distância.
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Pela Internet
Criar meu web site
Fazer minha home-page Com quantos gigabytes Se faz uma jangada
Um barco que veleja ...(2 vezes)
Que veleje nesse informar Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki do meu orixá Ao porto de um disquete de um micro em Taipé
Um barco que veleje nesse infomar Que aproveite a vazante da infomaré Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link Num site de Helsinque
Para abastecer
Eu quero entrar na rede Promover um debate Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut
De Connecticut de acessar O chefe da Mac Milícia de Milão
Um hacker mafioso acaba de soltar Um vírus para atacar os programas no Japão
Eu quero entrar na rede para contatar Os lares do Nepal,os bares do Gabão
Que o chefe da polícia carioca avisa pelo celular Que lá na praça Onze tem um videopôquer para se jogar...
Gilberto Gil
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A EDUCAÇÃO E SUAS BASES FUNDAMENTAIS 11
CAPÍTULO II
O USO DA TECNOLOGIA NO AMBIENTE ESCOLAR 18
CAPÍTULO III
A EDUCAÇÃO À DISTANCIA E AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DO
CONHECIMENTO 21
CONSIDERAÇÕES FINAIS 40
BIBLIOGRAFIA 42
ÍNDICE 44
ANEXOS 46
8
INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como propósito investigar como o uso da
tecnologia no ambiente educacional, especialmente das Tecnologias da
Informação e da Comunicação, pode contribuir para a promoção do
conhecimento.
Ele surge da necessidade de se entender quais os mecanismos que
contribuem para uma prática docente eficaz a partir da utilização de diferentes
tecnologias no ambiente de ensino-aprendizagem. Espera-se mostrar a
importância de o professor estar atualizado no que diz respeito ao manuseio
dessas tecnologias, a fim de que sua utilização gere significado ao educando,
possibilitando, assim, a construção de conhecimento. Além disso, pretende-se
demonstrar como as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) são
importantes para o processo de Educação à Distância, bem como estabelecer
os problemas e os desafios dessa modalidade de ensino. Pretende-se,
também, discutir impactos causados pela inserção das TICs no ambiente
escolar.
O principal objetivo é investigar como a utilização das Tecnologias
da Informação e da Comunicação aplicadas à modalidade Educação à
Distância via Internet (E-learning) contribuem para a construção do
conhecimento. Além disso, espera-se responder também aos seguintes
questionamentos: 1) De que maneiras o uso das tecnologias podem
transformar o processo de ensino-aprendizagem? 2) Quais os pontos positivos
e negativos da utilização das tecnologias na educação? 3) Quais são as bases
em que se fundamentam a relação entre educação e tecnologia? 4) O que são
as Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs)? 5) Como as
Tecnologias da Informação e da Comunicação são utilizadas na modalidade
Educação a Distância (EAD)? 6) Quais são os saberes e habilidades do
professor e do tutor necessários para utilização eficaz de tecnologia no
ambiente educacional?
Acredita-se que a tecnologia educacional e seus mais variados
instrumentos (a escrita, os murais, os jogos, os computadores, etc.) devam
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estar presentes no ambiente educacional de forma democrática para
possibilitar que os educandos sejam capazes de manusear, criar e interpretar
diferentes linguagens e formas de expressão e comunicação. Sendo assim, a
utilização consciente dessas tecnologias propicia ao educando participar como
sujeito ativo do processo de aprendizagem e se tornar um ser crítico, inclusive
em relação ao uso das tecnologias que domina.
A utilização das Tecnologias da Informação e da Comunicação,
especialmente na Educação à Distância via Internet, problematiza o papel do
professor. Nessa perspectiva, aquele que antes era o detentor do saber, é visto
como “monitor”, “tutor” ou “facilitador”, nos sentidos mais amplos que essas
palavras podem assumir. Para atuar nesse processo de troca de experiências e
de aquisição do conhecimento, o professor necessita buscar uma formação
específica, já que as TICs caracterizam-se por apresentar mudanças
constantes.
No primeiro capítulo deste trabalho, abordar-se-ão alguns temas
fundamentais no processo educativo, tais como os conceitos de educação, a
importância do professor na instituição de ensino e na construção da
autonomia de seus alunos e os Quatro Pilares da Educação (aprender a
conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser), definidos
em Relatório da Comissão Internacional sobre a Educação no Século XXI,
intitulado Educação: um Tesouro a descobrir, realizado em 1996.
No segundo capítulo, o conceito e as categorias de tecnologia, a
relação entre educação e tecnologia, a importância da formação continuada, o
conceito de alfabetização tecnológica do professor e a importância da presença
de tecnologia no ambiente escolar serão tematizados e, também, os seguintes
questionamentos: 1) de que maneiras o uso das tecnologias podem
transformar o processo de ensino-aprendizagem? 2) Quais os pontos positivos
e negativos da utilização das tecnologias na educação? e 3) Quais são as
bases em que se fundamentam a relação entre educação e tecnologia?
No terceiro e último capítulo, serão trabalhados o conceito, a história
e a evolução da Educação à Distância (EaD), bem como o modo como ocorre a
construção do conhecimento nessa modalidade de ensino. Além disso, serão
tematizados o conceito de EaD via Internet (E-learning) e o papel das
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Tecnologias da Informação e da Comunicação para a construção do
conhecimento, bem como elas são utilizadas, a importância do tutor no
processo de ensino-aprendizagem e os saberes e habilidades do professor
necessários para utilização eficaz de tecnologia no ambiente educacional.
Neste último capítulo, espera-se, ainda, discutir o que são objetos de
conhecimento, bem como mostrar as diferentes mídias e plataformas que
servem a um projeto de Educação à Distância.
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CAPÍTULO I
A EDUCAÇÃO E SUAS BASES FUNDAMENTAIS
A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo. 1
Nelson Mandela
Conforme a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB)2 a
educação:
(...) abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais. (LDB, art. 1º, 1996)
O texto da lei mostra que a educação é um conceito abrangente,
mas cuja importância deve ser considerada já que faz parte da vida do homem
em um processo contínuo, favorecendo a construção de novos conhecimentos
e determinando a forma com que vê e sente o mundo que o cerca. Do texto,
compreende-se que são as experiências e os relacionamentos que ocorrem em
diversos contextos sociais os responsáveis por modificar a forma com que o
homem compreende o mundo, assim como suas ações e seus sentimentos.
A educação, então, pressupõe interação, responsável pelo
desenvolvimento de habilidades, hábitos e costumes. Como a interação
assume um papel fundamental na construção dos conhecimentos, o papel mais
importante do educador é o de ser mediador desse processo, oferecendo ao
educando oportunidades e condições de enfrentar desafios a sua
aprendizagem, visto que é ela que impulsiona o desenvolvimento.
A educação deve ter como finalidade maior a preparação para a vida
e precisa atender às necessidades e às aspirações de natureza pessoal e
social do indivíduo. O que se espera é que o processo educativo torne o 1 Nelson Mandela é um advogado, ex-líder rebelde e ex-presidente da África do Sul de 1994 a 1999. Principal representante do movimento antiapartheid, como ativista, sabotador e guerrilheiro. Considerado pela maioria das pessoas um guerreiro em luta pela liberdade, era considerado pelo governo sul-africano um terrorista. 2 Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996 - Estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
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indivíduo apto para ser sujeito atuante na sociedade. Ele deve ser capaz de
responder às transformações sociais, culturais, políticas, econômicas e
tecnológicas, de compreender suas capacidades e limitações e de respeitar as
diferenças. De acordo com Paulo Freire (1980, p. 28), "não há seres educados
e não educados. Estamos todos nos educando. Existem graus de educação,
mas estes não são absolutos".
No âmbito escolar a educação é prática pedagógica, cuja finalidade
é desenvolver competências e habilidades no educando fazendo-o sujeito da
própria história, autônomo, crítico, reflexivo e consciente de sua função na
sociedade. A escola tem a função principal de formar cidadãos e de possibilitar
que os educandos tenham plena liberdade de construir seu próprio
conhecimento. Acredita-se que a escola ideal é aquela em que educador e
educando caminham juntos para busca de novos conhecimentos. Desse modo.
os educadores devem dar espaço para que os alunos possam ter liberdade de
se expressar como seres críticos e reflexivos.
1.1 Os quatro pilares da educação
Os quatro pilares da Educação foram definidos num Relatório da
Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, realizado para a
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
(UNESCO), em 1996. Nele, estabeleceram-se pilares para uma educação que
não somente possibilite a formação de conhecimento, mas, principalmente, que
torne o educando capaz de explorar, de enriquecer e de adaptar esses
conhecimentos em um mundo em constante e rápida transformação. Para
cumprir esse propósito, a educação deve basear-se em quatro aprendizagens
fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e
aprender a ser.
O Relatório evidencia que o ensino formal – aquele que ocorre nas
instituições de ensino – pauta-se, essencialmente, se não exclusivamente, no
aprender a conhecer e, em menor dimensão, no aprender a fazer. As duas
outras aprendizagens são tidas como um prolongamento natural das duas
primeiras. A Comissão pensa que
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(...) cada um dos “quatro pilares do conhecimento” deve ser objeto de atenção igual por parte do ensino estruturado, a fim de que a educação apareça como uma experiência global a levar a cabo ao longo de toda a vida, no plano cognitivo como no prático, para o indivíduo enquanto pessoa e membro da sociedade. (EDUCAÇÃO: UM TESOURO A DESCOBRIR, 1996, p. 90)
1.1.1 Primeiro pilar: aprender a conhecer
Este primeiro pilar da aprendizagem refere-se à aquisição dos
instrumentos de compreensão do conhecimento. Ao mesmo tempo em que é
um fim da educação fornecer esses instrumentos, também é um meio, já que o
que se espera é que cada um seja capaz de compreender o mundo que o
rodeia, sendo capaz de viver, de desenvolver suas capacidades profissionais e
de se comunicar. É o acúmulo de saberes que favorece a compreensão do
ambiente sob seus diversos aspectos, o despertar da curiosidade intelectual, o
estímulo do senso crítico e a autonomia na capacidade de discernimento.
Como se sabe, não é possível conhecer tudo sobre o mundo, já que
o conhecimento é múltiplo e evolui infinitamente. É necessário um
conhecimento de cultura geral, visto que o avanço do conhecimento é
desencadeado pela interseção entre as diversas áreas do saber. Para
desenvolver este primeiro pilar, é necessário, antes de tudo, aprender a
aprender, tamanha a quantidade de informações que circulam hoje em dia.
Selecionar, avaliar e reter conhecimento depende da seleção dessas
informações. Nesse sentido, este processo de aprender a conhecer nunca está
acabado e pode ser enriquecido a qualquer tempo, com quaisquer
experiências.
1.1.2 Segundo pilar: aprender a fazer
O aprender a conhecer e o aprender a fazer são indissociáveis, mas
este segundo pilar relaciona-se diretamente à formação profissional dos
indivíduos. O objetivo, contudo, é mais amplo, no sentido de que o educando
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deve desenvolver competências que o tornem apto a enfrentar numerosas
situações do dia a dia e a trabalhar em equipe.
1.1.3 Terceiro pilar: aprender a conviver
A aprendizagem deste terceiro pilar é, hoje em dia, um dos principais
desafios da educação. A questão primordial é a seguinte: Poder-se-á conceber
uma educação capaz de evitar conflitos ou de resolvê-los pacificamente,
desenvolvendo o conhecimento dos outros, das suas culturas, da sua
espiritualidade?
O mundo atual é cheio de conflitos e perigos, que são
potencializados pelos meios de que o homem dispõe para a autodestruição.
Se, por um lado, a escola tenta ensinar soluções não violentas para resolução
de conflitos, por outro, a competição e o sucesso individual são, no mundo
atual, alavancados pela concorrência que caracteriza a atividade econômica de
cada país.
O que fazer, então para melhorar essa situação? De acordo com a
Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, reduzir o risco de
conflitos depende da descoberta progressiva do outro e da participação em
projetos comuns. Descobrir o outro, nesse sentido, é ter consciências das
semelhanças, das diferenças e da interdependência entre as pessoas. Para
descobrir o outro, é preciso descobrir a si mesmo, o que permite ao indivíduo
compreender suas reações e a se colocar no lugar do outro.
No entanto, não basta que os diferentes grupos entrem em contato e
se comuniquem. De acordo com o Relatório elaborado pela Comissão,
se, no seu espaço comum, estes diferentes grupos já entram em competição ou se o seu estatuto é desigual, um contato deste gênero pode, pelo contrário, agravar ainda mais as tensões latentes e degenerar em conflitos. Pelo contrário, se este contato se fizer num contexto igualitário, e se existirem objetivos e projetos comuns, os preconceitos e a hostilidade latente podem desaparecer e dar lugar a uma cooperação mais serena e até à amizade. (EDUCAÇÃO: UM TESOURO A DESCOBRIR, 1996, p. 90)
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1.1.4 Quarto pilar: aprender a ser
Este aprendizado tem a função de desenvolver a personalidade do
educando e de capacitá-lo para agir com autonomia, com discernimento e com
responsabilidade social. Para isso, o processo educativo deve levar em
consideração as potencialidades de cada indivíduo tais como a inteligência, a
sensibilidade, o senso estético, a espiritualidade, a responsabilidade social, a
capacidade física e a de se comunicar, com a finalidade de que elaborem
pensamentos autônomos, formulem seus próprios juízos de valor, com vistas a
poder decidir, por si mesmo, como agir nas diversas circunstâncias da vida.
1.2 A importância do professor educador nas instituições de
ensino e o desenvolvimento da autonomia dos educandos
Há, como se sabe, diversos tipos de professores nas escolas. Há o
professor que se acha detentor de todo o conhecimento, o professor inseguro,
que tem medo dos alunos e de ser rejeitado pela comunidade escolar, o
professor que reclama de tudo - da escola, dos alunos, dos colegas de
profissão, da falta de material, do currículo, etc. -, o professor que não respeita
a autonomia dos alunos, entre outros.
O professor precisa aprender a ser bem mais que um repassador de
conhecimento aos seus alunos. Ele precisa saber educar, no sentido mais
amplo da palavra. Esse é o tipo de professor que se quer nas escolas. O
professor educador é aquele que procura conhecer o universo do educando,
que permite o desenvolvimento da autonomia de seus alunos e de sua própria
autonomia em relação ao aprendizado.
Para isso, o professor precisa reconhecer que não é perfeito, que
tem muito a aprender, pois o conhecimento não é acabado ou estático; ao
contrário, está sempre em evolução e transformação. O professor que
considera sua formação como acabada nunca será capaz de revelar métodos,
de ouvir ideias e de tentar melhorar o seu fazer. Daí a importância da formação
do professor não cessar com estudos superiores ou de pós-graduação. É, pois,
16
possível dizer que a capacidade de aprendizado dos alunos depende da
capacidade de aprendizado dos professores.
A formação continuada do professor é necessária não somente para
tentar suprir lacunas da formação inicial, mas também por ser a escola um
lugar privilegiado de formação e de socialização entre professores, em que se
atualizam e desenvolvem saberes e conhecimentos docentes e se realizam a
troca de experiências. A formação continuada apresenta duas dimensões: a
que ocorre por meios de cursos de atualização, capacitação ou treinamento e a
que ocorre no espaço escolar, em diferentes momentos, em que há a troca de
experiências entre os professores e entre os diversos profissionais da
instituição de ensino.
A ação educativa não pode ser resumida a técnicas e metodologias
que faça o educando desenvolver habilidades. Para Paulo Freire,
uma das tarefas mais importantes da prática educativo-crítica é propiciar as condições em que os educandos em suas relações uns com os outros e todos com o professor ou a professora ensaiam a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva por que capaz de amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. É a “outredade” do “não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade do meu eu. (FREIRE, 1996, p. 41)
Nessa perspectiva, a autonomia é desenvolvida dialogicamente,
entre sujeitos que apresentam curiosidades epistemológicas, que agem e
refletem acerca de suas ações, para que, após essa reflexão, se conheçam e
se assumam tal como são, para, a partir daí, agirem com o propósito da
mudança, da emancipação e da criticidade.
Ainda, de acordo com o autor, "não há docência sem discência"
(FREIRE, 1996, p. 23), pois "quem forma se forma e re-forma ao formar, e
quem é formado forma-se e forma ao ser formado" (FREIRE, 1996, p.25).
Dessa forma, esclarece que o ensino não depende exclusivamente do
professor, assim como aprendizagem não é algo apenas de aluno.
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Não há docência sem discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender. (FREIRE, 1996, p. 25).
Ensinar, para Freire, requer aceitar os riscos do desafio do novo,
enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de discriminação
que separe as pessoas em raça, classes, etc. Ensinar é ter certeza de que faz
parte de um processo inacabado, apesar de saber que o ser humano é um ser
condicionado. Sendo assim, há sempre possibilidades de interferir na realidade
a fim de modificá-la.
O respeito à autonomia e à dignidade de cada um é, pois, imperativo ético e não um favor que se pode ou não conceder uns aos outros. (...) O professor que desrespeita a curiosidade do educando, o seu gosto estético, a sua inquietude, a sua linguagem, mais precisamente, a sua sintaxe e a sua prosódia; o professor que ironiza o aluno, que o minimiza, que manda que ele se coloque em seu lugar ao mais tênue sinal de sua rebeldia legítima, tanto quanto o professor que se exime do cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do aluno, que se furta ao dever de ensinar, de estar respeitosamente presente à experiência formadora do educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos de nossa existência (FREIRE, 1996, p. 66).
18
CAPÍTULO II
O USO DA TECNOLOGIA NO AMBIENTE ESCOLAR
A palavra tecnologia provém do termo grego τεχνη (técnica, arte ou
ofício) e do termo λογια (palavra, estudo ou conhecimento). Sendo assim,
podemos entender como tecnologia o conhecimento e o estudo das técnicas
que servem de base para a produção de algum trabalho ou ofício.
2.1 Tecnologias e sua relação com a educação
No ambiente educacional, a tecnologia é introduzida de forma
sistematizada nas escolas por volta da década de 1960. Nesse primeiro
momento, o uso das tecnologias se deu de forma tecnicista, já que seu uso,
acreditava-se, não só era um fator de modernização da educação, como
também a solução para todos os problemas. Nessa perspectiva, a educação é
vista como um universo fechado, sem ligação com as questões sociais. É
nesse contexto que surge a Tecnologia Educacional (TE). Se, em princípio, o
uso da tecnologia na educação apresenta uma visão tecnicista, em que se
procura enfatizar os meios sem discutir suas finalidades, por volta da década
de 1980, no entanto, a tecnologia educacional, de acordo com Leite et al (2004,
p.12), passa a ser compreendida como uma opção de se fazer educação
contextualizada com as questões sociais e suas contradições, visando ao
desenvolvimento integral do homem bem como sua inserção crítica no mundo
em que vive.
A partir desse momento, a escola tem de se preocupar em elaborar
um projeto pedagógico em que o uso das tecnologias não se torne um fim, mas
um meio de possibilitar a formação de cidadãos plenos. Para isso, não basta a
escola dispor das variadas tecnologias; é preciso, necessariamente, que tanto
educandos quanto educadores apropriem-se das tecnologias como sujeitos.
Isso significa que o professor tem de dominar saberes relativos ao
conhecimento, à utilização, à valorização e à integração delas no espaço
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educacional, para, a partir daí, conduzir a apropriação dessas tecnologias pelos
alunos.
Conforme Orth (1999) ensina, para que não haja risco de utilizar
novas tecnologias somente para transmitir informações, ensinando os alunos
de forma passiva e impessoal, estimulando o individualismo e a competição, é
imprescindível que os educadores considerem que a incorporação de novas
tecnologias pode simplesmente reforçar as velhas e questionáveis teorias de
aprendizagem e/ou produzir consequências práticas nas relações docentes,
bem como, revolucionar os processos de ensino-aprendizagem (p. 44).
O mesmo autor considera a utilização e a incorporação das novas
tecnologias é muito importante quando usada para auxiliar os alunos na
construção de novos conhecimentos. Ele entende, no entanto, que essa
construção não deve ser realizada solitariamente, visto que o ensino é um
processo compartilhado, em que o aluno, tendo o educador como mediador e
facilitador, pode se mostrar autônomo na resolução de tarefas.
A fim de tornar a utilização das tecnologias uma prática eficaz na
transformação da educação, os professores precisam compreender a
importância da formação continuada, que abrange a melhoria de suas práticas
pedagógicas em sua rotina de trabalho e em seu cotidiano escolar. É
consenso na literatura educacional de que a formação inicial dos professores,
mesmo a que ocorre em nível superior, é insuficiente para o desenvolvimento
profissional. Dessa maneira, coloca-se em destaque a necessidade de se
pensar em uma formação continuada, a fim de minimizar as lacunas da
formação inicial e de tornar o ambiente educacional em um lugar de
atualização e de troca de saberes e experiências.
A formação continuada deve ter como propósito assegurar o
complemento, aprofundamento e atualização de competências profissionais.
Considerando a temática deste trabalho, o conceito de formação continuada
está atrelado ao de alfabetização tecnológica, que, segundo Leite & Sampaio,
apud Leite et al (2004),
envolve o domínio contínuo e crescente das tecnologias que estão na escola e na sociedade, mediante o relacionamento crítico com elas. Este domínio se traduz em uma percepção
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global do papel das tecnologias na organização do mundo atual e na capacidade do/a professor/a em lidar com as diversas tecnologias, interpretando sua linguagem e criando novas formas de expressão, além de distinguir como, quando e por que são importantes e devem ser utilizadas no processo educativo. (SAMPAIO & LEITE, 1999, apud LEITE et all, 2004, p.14)
O uso das tecnologias, no entanto, apresenta pontos positivos e
negativos. Consideram-se positivos a facilidade do acesso à informação, a
criação de ambientes motivadores de aprendizagem contínua e as diversas
ferramentas e recursos existentes para a criação de conteúdos que possam
disseminar o conhecimento de forma ampla e irrestrita.
Um ponto negativo é, por exemplo, a triagem do excesso de
informação, que às vezes pode confundir os leitores sobre determinado
assunto e a dependência da tecnologia para impulsionar o processo de
aprendizagem por parte tanto de alunos quanto de professores.
As tecnologias são agrupadas por Leite et al (2004) em duas
categorias, a saber: tecnologias independentes e tecnologias dependentes.
Tecnologias independentes são aquelas que não dependem desses recursos
para sua produção e/ou utilização. Tecnologias dependentes, por outro lado,
são aquelas que dependem de um ou mais recursos elétricos ou eletrônicos
para serem produzidas e/ou utilizadas.
São exemplos de tecnologias independentes cartazes, fichas de
anotação, estudos dirigidos, gráficos, história em quadrinhos, jogos,
ilustrações, jornais, livros didáticos, entre outros. São exemplos de tecnologia
dependentes o rádio, o DVD, o CD, a internet e suas ferramentas, os slides, a
transparência para retroprojetor entre outros.
Também é exemplo de tecnologia dependente a Educação à
Distância (EaD), que é um processo educacional em que aluno e professor se
encontram em ambientes físicos separados. A EaD pressupõe a utilização de
diferentes tecnologias, tais como o rádio, a televisão, o telefone, o computador,
entre outros. Esta modalidade de ensino será tratada mais profundamente a
seguir.
21
CAPÍTULO III
A EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E AS TECNOLOGIAS DA
INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO
Num contexto de rápidas mudanças tecnológicas e de novas lógicas
de mercado, cresce a necessidade de que, cada vez mais, haja a oferta de
novas oportunidades educacionais. Na sociedade atual, a informação e o
conhecimento são fundamentais para a formação e o sucesso profissional e
pessoal dos indivíduos. Além disso, a escassez de tempo para a formação e
aperfeiçoamento contribui, sobremaneira, para o surgimento da Educação à
Distância. Essa modalidade de ensino permite que se tenha, numa sociedade
cada vez mais exigente em termos de formação, novas oportunidades de
formação e, consequentemente, de trabalho.
A Educação à Distância (EaD) está prevista na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação. Essa lei estabelece que o Poder Público deverá incentivar
o desenvolvimento e a veiculação de programas de ensino à distância em
todos os níveis e modalidades de ensino e, também, que cabe à União
regulamentar os requisitos para a realização de exames e registro de diplomas
relativos a cursos de educação a distância e credenciar as instituições que
oferecem cursos nessa modalidade de ensino.
Mas, afinal, o que é a Educação a Distância? Quais suas diferenças
em relação à educação presencial? Quais são suas peculiaridades? Quais são
suas vantagens e desvantagens? O que significa ser tutor? Quais os papéis de
um tutor no ensino a distância? Quais as suas responsabilidades?
O Decreto 56223, que regulamenta a Educação à Distância no Brasil,
caracteriza- a como uma
modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo
3 Decreto 5622, de 19 de dezembro de 2005 – Regulamenta o artigo 80 da Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as bases e diretrizes da educação nacional.
22
atividades educativas em lugares ou tempos diversos”. (DECRETO 5.622, de 19 de dezembro de 2005)
A Educação a Distância (EaD) ocorre, então, quando professor e
aluno se encontram fisicamente separados. Sendo assim, para que ela ocorra,
é preciso que haja interatividade e, para isso, alguns aspectos como materiais
didáticos, grades curriculares, formas de comunicação e tutoria presencial e à
distância merecem atenção diferenciada. Os projetos de EaD devem, portanto,
compreender aspectos pedagógicos, de recursos humanos e de infraestrutura.
São muitos os aspectos que diferem a educação presencial da
educação a distância via Internet (também conhecida como e-learning) foco
desse estudo. Primeiramente, diferem em relação aos envolvidos no processo
de educação: na educação presencial, participam do processo o coordenador
pedagógico - nem sempre -, o professor e o aluno; na educação a distância,
participa do processo uma equipe multidisciplinar, a saber:
- coordenador pedagógico, responsável por analisar as necessidades de
formação e determinar os objetivos e conteúdos do curso, além, de definir os
métodos, os critérios e as estratégias de avaliação;
- professor conteudista, responsável por elaboração dos conteúdos e seleção
da estratégias de ensino e aprendizagem juntamente com o coordenador
pedagógico;
- técnico de produtos e multimídias educativas, responsável pela escolha da
mídia, prevenção de situações de utilização e definição de plano de avaliação
da tecnologia; e
- tutor, responsável por coordenar as atividades individuais e os passos de
aprendizagem (Pimentel, 2006).
A educação presencial e a educação à distância diferem, ainda, em
relação à organização, ao funcionamento e ao desenvolvimento. Um curso na
23
modalidade à distância deve contar com uma infraestrutura organizacional –
técnica, pedagógica e administrativa – mais complexa. No ensino à distância, a
tecnologia está sempre presente, o que exige uma nova postura de professores
e alunos. Assim sendo, a organização do trabalho pedagógico deve enfatizar
aspectos teóricos que propiciem ação docente mais eficiente e condizente com
as aspirações da sociedade contemporânea.
Como se percebe, a Educação à Distância (EaD) apresenta uma
identidade própria, não estando limitada a uma concepção suplementar do
ensino presencial. Não há, contudo, um único modelo de EaD. Os projetos
podem apresentar desenhos, combinações e recursos diferenciados,
dependendo das condições de cada ambiente, sem, porém, deixar de estar
comprometido com a qualidade. Os cursos em EaD contêm características que
os diferenciam do ensino presencial tais como o material didático, a grade
curricular, as formas de comunicação e a tutoria presencial e à distância.
De modo geral, a Educação à Distância atende a uma população
dispersa geograficamente, permite liberdade para que o aluno estude de
acordo com suas possibilidades, superação das dificuldades impostas pela
distância e pelo tempo, interatividade e democratização do acesso ao
conhecimento. Além disso, promove a formalização de habilidades para um
trabalho mais independente e apresenta um custo menor se comparado a
cursos na modalidade presencial.
Na Educação à Distância, o planejamento das situações de
aprendizagem é de vital importância para qualquer tipo de curso a distância.
Em cursos tradicionais presenciais, o desenho educacional também é
importante, porém o professor e os alunos, em seus encontros face a face,
podem teoricamente ajustar o desenho mais facilmente do que em situações
de curso a distância. Por esse motivo, a construção de materiais e ambientes
virtuais de aprendizagem requer o trabalho que equipes multidisciplinares.
Embora a Educação à Distância (EaD) constitua uma forma
autônoma de estudos, o aluno não pode escolher a sequência de estudo e o
ponto a partir do qual deseja ou necessita estudar, razão pela qual os materiais
devem ser construídos de modo que o estudante acompanhe a ordem
estabelecida pelo conteudista para que se cumpram todas as exigências. A
24
EaD apresenta-se como uma mudança nas concepções pedagógicas, por meio
da qual a ênfase à transmissão de informação e o cumprimento de objetivos da
conduta foi substituída pelo apoio à construção do conhecimento.
A Educação á Distância apresenta vantagens e desvantagens. Com
vantagens destacam-se as seguintes: o aumento da oferta de cursos, de
acordo com as necessidades atuais; formação de um grande número de alunos
por um custo relativamente baixo; compatibilização do aprendizado com a vida
profissional e familiar; realização de cursos não disponíveis na área de
residência do aluno; economia de tempo e de deslocamentos.
Por outro lado, os cursos de Educação à Distância apresentam
desvantagens tais como: reduzida confiança nesse tipo de modalidade
educativa por parte de pessoas mais conservadoras e resistentes à inovação;
necessidade de alterar as práticas tradicionais de ensino; falta de possibilidade
de formação de relação humana entre professor e aluno e entre os próprios
alunos, típica de sala de aula tradicional; investimento inicial relativamente
elevado; atualização constatnte dos componentes tecnológicos.
3.1 A história e a evolução da Educação à Distância no Brasil
No Brasil, a primeira iniciativa de Educação à Distância surgiu em
1904, com o ensino por correspondência: instituições privadas ofertando
iniciação profissional em áreas técnicas, assim como outras iniciativas via
rádio. O modelo de ensino consagrou-se na metade do século, com a criação
do Instituto Monitor, do Instituto Universal Brasileiro e de outras organizações
similares, responsáveis pelo atendimento de mais de três milhões de
estudantes em cursos abertos de iniciação profissionalizante pela modalidade
de ensino por correspondência. Esta é a chamada Geração Textual
(PIMENTEL, 1999)
No início do século XX, surge a Geração Analógica (PIMENTEL,
1999), marcada pela realização de programas educacionais e dos telecursos.
No Brasil, esta geração foi marcada pela criação das TVs Educativas em
meados dos anos 60. Nessa época o ensino ocorria por meio do rádio, da
televisão, do vídeo, do fax, do telefone e do áudio.
25
A terceira geração da Educação à Distância, a Geração Digital
(PIMENTEL, 1999), é caracterizada pelo uso das novas Tecnologias de
Informação e da Comunicação (TICs), especialmente da Internet. Vive-se,
portanto, na geração dos programas de aprendizagem inovadores, baseados
na construção de comunidades de aprendizagem, na pesquisa e no
desenvolvimento de novas práticas educacionais, em que a informática, aliada
à comunicação em rede, leva a novas oportunidades educacionais.
3.2 A figura do tutor no Ensino à Distancia
Obviamente, todos os profissionais participantes do processo de
educação na modalidade à distância são essenciais, mas a figura do tutor
ganha destaque nesse contexto por ser ele o responsável por interagir com o
aluno e mediar seu processo de aprendizagem. É ele quem ajuda a montar o
percurso de formação, promove a comunicação, organiza os grupos de
trabalho, analisa as interações, motiva e facilita o uso dos recursos
tecnológicos e responde às questões individuais e/ou coletivas, bem como as
modera. A tutoria no ensino a distância pode ocorrer sob diversas formas, a
saber: a presencial, por correspondência, por fax, por telefone e pela Internet,
através de chats ou de mensagens trocadas por e-mail.
Tradicionalmente, é comum associar a figura do tutor a um “guia”, a
aquele que apóia, dirige e orienta, e a do professor a “alguém que ensina
alguma coisa”. Nesse contexto, ensinar é sinônimo de transmitir informações.
Ao tutor cabia-lhe somente a função de assegurar o cumprimento dos objetivos
(LITWIN, 2001).
Para Litwin (2001), um bom docente é também um bom tutor, visto
que
cria propostas de atividades para reflexão, apóia sua resolução, sugere fontes de informação alternativas, oferece explicações, facilita os processos de compreensão; isto é, guia, orienta, apóia, e nisso consiste o seu ensino. (LITWIN, 2001, p. 99)
26
Sendo assim, um bom tutor deve promover a realização de
atividades e apoiar sua resolução, oferecer novas fontes de informação e
favorecer sua compreensão. De modo geral, os conhecimentos para ser
professor ou tutor são os mesmos. Shulman (1995) apud Litwin (2001, p.103)
defende a ideia de que o saber básico de um docente inclui pelo menos seis
diferentes conhecimentos:
- conhecimento do conteúdo;
- conhecimento pedagógico de tipo real, especialmente no que diz respeito às
estratégias e à organização da classe;
- conhecimento curricular;
- conhecimento pedagógico acerca do conteúdo;
- conhecimento sobre os contextos educacionais; e
- conhecimento das finalidades, dos propósitos e dos valores educativos e de
suas raízes históricas e filosóficas.
Destacam-se, aqui, alguns paralelos entre as funções de professor e
de tutor, conforme se verifica na tabela a seguir.
Tabela I – Paralelo entre as Funções do Professor e do Tutor
EDUCAÇÃO PRESENCIAL EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA
Conduzida pelo Professor Acompanhada pelo tutor
Predomínio de exposições o tempo
inteiro
Atendimento ao aluno, em consultas
individualizadas ou em grupo, em
situações em que o tutor mais ouve do
que fala
Processo centrado no professor Processo centrado no aluno
Processo como fonte central de Diversificadas fontes de informações
27
informação (material impresso e multimeios)
Convivência, em um mesmo ambiente
físico, de professores e alunos, o
tempo inteiro
Interatividade entre aluno e tutor, sob
outras formas, não descartada a
ocasião para os “momentos
presenciais”
Ritmo de processo ditado pelo
professor
Ritmo determinado pelo aluno dentro
de seus próprios parâmetros
Contato face a face entre professor e
aluno
Múltiplas formas de contato, incluída a
ocasional face a face
Elaboração, controle e correção das
avaliações pelo professor
Avaliação de acordo com parâmetros
definidos, em comum acordo, pelo tutor
e pelo aluno
Atendimento, pelo professor, nos
rígidos horários de orientação e sala
de aula
Atendimento pelo tutor, com flexíveis
horários, lugares distintos e meios
diversos
Fonte: Sá, Iranita. Educação a Distância: Processo Contínuo de Inclusão Social. Fortaleza: CEC, 1998, p. 47.
A diferença entre o professor e o tutor é, como se percebe,
institucional. Essa diferença leva a consequências pedagógicas importantes.
As participações do tutor na educação à distância distinguem-se em função de
três dimensões de análise (LITWIN, 2001, p. 102), conforme a sequência.
- a dimensão do Tempo: o tutor deverá ter a capacidade de aproveitar
bem seu tempo, que é escasso. Ao contrário do professor, o tutor não sabe se
o aluno assistirá à próxima tutoria ou se voltará a entrar em contato para
consultá-lo; por isso, aumentam o compromisso e o risco da sua tarefa.
- a dimensão da Oportunidade: em uma situação presencial, o docente
sabe que o aluno retornará; sendo assim, caso o professor não encontre uma
resposta que satisfaça o aluno, ele perguntará de novo ao docente ou a seus
28
colegas. O tutor, porém, não tem essa certeza. Ele tem de oferecer a resposta
satisfatória quando tem a oportunidade de fazer isso, porque não sabe se
voltará a ter outra oportunidade
- a dimensão do Risco: O risco consiste em permitir que os alunos
prossigam com uma compreensão parcial do conteúdo, que pode se converter
em uma construção errônea sem que o tutor tenha a oportunidade de adverti-
lo. “O tutor deve aproveitar a oportunidade para o aprofundamento do tema e
promover processos de reconstrução, começando por assinalar uma
contradição”
Belloni apud Oliveira et al (2001, p. 81) propõe um novo papel do
professor na Educação a Distância: o de constituir-se em um “parceiro dos
estudantes no processo de construção do conhecimento, isto é, em atividades
de pesquisa e na busca da inovação pedagógica”. A mesma autora apresenta
também três dimensões dos saberes docentes. São elas:
- Dimensão Pedagógica: orientação, aconselhamento e tutoria
(conhecimentos do campo específico da Pedagogia).
- Dimensão Tecnológica: relações entre as tecnologias e a Educação
(produção, avaliação, seleção e definição de estratégias de uso de materiais
pedagógicos).
- Dimensão Didática: formação específica do professor em determinados
campos científicos, com necessidade constante de atualização.
Partindo dessas dimensões, Oliveira et al (2004) propõe um quadro
de saberes tutoriais e apresenta uma quarta dimensão, a dos os saberes
pessoais, conforme se verifica a seguir
29
Tabela II – Dimensões das competências tutoriais
DIMENSÕES DAS
COMPETÊNCIAS
TUTORIAIS
EXEMPLOS DE COMPETÊNCIAS
PEDAGÓGICA
Capacidade para interagir com os conteúdos e com o
material didático, difundindo-os e dinamizando-os.
Utilização de estratégias de orientação,
acompanhamento e avaliação (somativa e formativa) da
aprendizagem dos alunos, identificando as dificuldades
surgidas e tentando corrigi-las.
Demonstração de rapidez, clareza e correção na
resposta às perguntas e mensagens enviadas.
Estabelecimento regras claras e definidas para o
trabalho a ser desenvolvido.
TECNOLÓGICA
Disposição para a inovação educacional, em especial
aquela que tem suporte nas tecnologias de informação
e comunicação.
Adequação das tecnologias, e do material didático do
curso, às diferenças culturais.
Domínio das ferramentas tecnológicas empregadas
(“letramento tecnológico”).
DIDÁTICA
Conhecimento do conteúdo do curso a ser ministrado.
Capacidade de realizar intervenções didáticas com a
frequência, oportunidade e sequencialidade
necessárias.
Utilização de estratégias didáticas adequadas às
diferenças culturais, para
dinamizar discussões animadas e produtivas, para a
proposição de tarefas e esclarecimento de dúvidas.
Proposição e supervisão de atividades práticas, que
completem os conhecimentos teóricos do curso.
30
PESSOAL
Habilidade para interagir com os alunos, de forma não –
presencial, individualmente e em grupos, encorajando-
os e incentivando-os, minimizando desta forma a
evasão.
Habilidade para manter relações menos hierarquizadas
do que na educação presencial.
Habilidade para manter relações menos hierarquizadas
do que na educação presencial.
Competência para a conversação racionalmente
comunicativa (dialogicidade, no sentido explicitado por
Paulo Freire).
Fonte: Oliveira et al. A Importância da Ação Tutorial na Educação à Distância: Discussão das Competências Necessárias ao Tutor. Disponível em: http://www.niee.ufrgs.br/eventos/RIBIE/2004/comunicacao/com20-28.pdf
De maneira geral, o tutor tem o papel de promover a interação entre
os alunos, entre professor e aluno e entre aluno e conteúdo, alem de
acompanhar o desempenho individual dos alunos, esclarecer dúvidas, auxiliá-
los em suas dificuldades e facilitar e acompanhar a execução de trabalhos em
grupo. Compete ao tutor abrir e moderar discussões, estimular a motivação e o
interesse dos alunos pelo curso. O tutor também é o responsável por elaborar
relatórios e encaminhar problemas administrativos para a coordenação do
curso. De acordo com essa abordagem, a tarefa do professor-tutor consiste,
portanto, em assegurar o cumprimento dos objetivos, constituindo uma forma
de controle para o ajuste dos processos.
3.3 Tecnologias da Informação e da Comunicação
As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) surgem no
contexto da chamada Terceira Revolução Industrial ou Revolução Científica,
ocorrida na segunda metade do século XX. Essa fase caracteriza-se,
principalmente, por integrar o conhecimento científico ao processo de produção
industrial.
31
Nesse cenário marcado por mudanças, a necessidade de informação
tornou-se ainda mais vital e requisito de competitividade. O acesso a uma
ampla rede de informações e conhecimentos científicos e tecnológicos, que se
constituía numa vantagem no passado passou a ser uma necessidade
fundamental no presente.
As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) podem ser
conceituadas como um conjunto de recursos tecnológicos, utilizados de forma
integrada, com objetivos em comum. Na área educacional, as TICs são vistas
como potencializadoras do processo de ensino-aprendizagem. Além disso,
trazem possibilidade de maior das pessoas com necessidades educacionais
especiais. As novas Tecnologias da Informação e da Comunicação podem
reduzir distâncias e potencializar aprendizagens, o que possibilita a construção
de redes de conhecimento
São consideradas tecnologias da informação as câmeras de vídeo,
as webcams, os CDs, os cartões de memória, a telefonia móvel, a TV por
assinatura, a TV por antena parabólica, a internet, os scanners, a fotografia, o
vídeo, o cinema, o som, TV e o rádio digitais, bem como as tecnologias de
acesso remoto (sem fio ou wireless), o Hi-fi e o bluetooh.
.
3.3.1 Mídias de Educação à Distância
Vive-se em uma era em que a educação exige ciclos constantes e
respostas imediatas, não mais delimitadas pela sala de aula. Nesse panorama,
a incorporação de novas metodologias, técnicas e mídias à Educação à
Distância viabilizam o desenvolvimento de cursos bem elaborados, com a
intenção de superar a separação física existente entre professor e aluno e de
melhorar a interatividade entre eles.
Mídias são os suportes nos quais se registram as informações. São
mídias, portanto, os materiais impressos, o rádio, a televisão, o cinema e o
vídeo, o computador e a internet, entre outros. O computador e as redes de
comunicação se converteram em elementos fundamentais do processo de
comunicação virtual e a web surge como uma ferramenta que permite o acesso
a um sistema recheado de informações. Sendo assim, a educação não é mais
32
unidirecional; a informação circula de forma bidirecional, colaborativa e
interdisciplinar e as tecnologias quebram barreiras geográficas e temporais.
É relativamente recente o desenvolvimento de diferentes tecnologias
que permitiram o avanço da internet e, consequentemente, da World Wide Web
(www), o serviço mais conhecido e utilizado dessa tecnologia. O
compartilhamento de canais de informação, a digitalização de imagens e sons,
a possibilidade de acesso simultâneo de diversos usuários à mesma fonte de
informação, as interfaces gráficas, entre outras, forneceram a infraestrutura
necessária para a consolidação do hipertexto como principal forma de
apresentar e recuperar material didático e outro tipo de informação nos
sistemas de Educação à Distância da Internet.
O avanço das tecnologias de redes de computadores, o crescimento
das telecomunicações e a consequente convergência das duas proporcionaram
a liberação das barreiras espaço-temporais, permitindo o acesso à informação,
ao uso de documentos distribuídos pro diferentes máquinas, à replicação de
imagens nas telas dos participantes e à transmissão de caracteres, áudio e
imagem, abrindo novas possibilidades para o processo educacional.
Com as redes de comutadores, o envio e a busca de textos se fazem
com maior rapidez. A Web permite que não só seja agilizado o processos de
acesso a documentos textuais, mas também a gráficos, fotografias, sons e
vídeos, de forma não linear, usando a tecnologia de hipermídia. O correio
eletrônico permite que as pessoas se comuniquem assincronamente, enquanto
que chats ou bate-papos permitem a comunicação síncrona entre várias
pessoas. Nesse caso, as novas tecnologias permitem também a realização de
videoconferências, integrando componentes audiovisuais e textuais.
Quando se fala em mídias para a Educação à Distância (EaD), é
importante diferenciar os recursos de comunicação e as mídias a serem
usadas na elaboração do material didático. As ferramentas de comunicação
podem ser classificadas em síncronas e assíncronas, e seu uso deve ser
adequando aos propósitos da interação. A prática de EaD mostra que dentre as
ferramentas síncronas mais utilizadas em EaD figuram o chat e vídeo-
conferência. Entre as ferramentas assíncronas, destacam-se o e-mail, o fórum
de discussão, a lista de discussão e o quadro de avisos. Pode-se considerar
33
que as mídias que concentram as maiores possibilidades para a elaboração de
material didático tanto na forma impressa quanto em forma de CD-ROM e na
Web são textos, figuras, animações, vídeos, multimídia e hipermídia, realidade
virtual e objetos de aprendizagem.
A tecnologia de Realidade Virtual (RV) vem se destacando nos
últimos anos por sua versatilidade de exploração em diferentes domínios do
conhecimento. Por meio de técnicas e equipamentos específicos tais como
óculos 3D, luvas e rastreadores de posição, a tecnologia de RV permite ao
usuário o uso do comutador de uma forma mais intuitiva, criando a sensação
de estar dentro da interface. Os equipamentos captam os movimentos dos
usuários e respondem em tempo real, favorecendo uma interação mais
realística e gerando sensações próximas àquelas que utilizam a tela plana do
computador para a visualização das cenas 3D.
A Realidade Virtual (RV) pode ser utilizada na Educação à Distância
para que se possa aprender conteúdos visitando diferentes lugares, onde
jamais estar-se-ia na vida real, ou realizando atividades que seriam impossíveis
ou perigosas de serem realizadas ao vivo. Os ambientes virtuais 3D promovem
uma experiência individual, em primeira pessoa,o que facilita a aprendizagem
de novos conceitos. Atualmente, a evolução das redes e das redes e dos
equipamentos de hardware tem contribuído para ampliar o escopo das
aplicações de RV.
Vários pesquisadores vêm desenvolvendo aplicações que poderiam
ser utilizadas em cursos à distância tais como simulações de eventos físicos ou
museus virtuais.
3.3.2 Plataformas de Educação à Distância
A educação à Distância (EaD) via Internet (E-learning) utiliza as
tecnologias da Web a fim de promover a comunicação de gestores,
professores, tutores e alunos. Os ambientes virtuais de aprendizagem ou
plataformas de EaD oferecem as ferramentas que viabilizam a comunicação
entre todos os atores e trazem a expansão e a acessibilidade do conhecimento.
As plataformas virtuais podem ser conceituadas, então, como uma coleção de
34
ferramentas que permitem a criação de material educacional e o
gerenciamento das avaliações e da participação dos alunos.
Diversos ambientes para a construção, administração e
apresentação de cursos à distância têm sido elaborados em todo o mundo.
Alguns destacam-se por oferecer meios de integração e recursos textuais, de
som e de imagem, além de apoio para as interações entre os participantes.
Muitos desses sistemas se encontram restritos às instituições que os
desenvolveram; outros, no entanto, tornam-se produtos comerciais, como é o
caso do Moodle, um software educacional livre desenvolvido em 2011, que
permite a criação de cursos on-line, páginas de disciplinas, grupos de trabalho
e comunidades de aprendizagem, disponível em setenta e cinco línguas
diferentes.
As plataformas de Educação à Distância precisam oferecer o
máximo de interatividade, usabilidade, integridade e desempenho para seus
usuários. As plataformas devem não somente oferecer suporte às interações
de ensino e aprendizagem, mas também possibilitar a formação de uma
comunidade virtual que promova a convivência social e a colaboração em
grupo.
A maioria das plataformas em Educação à Distância dispõe das
seguintes funcionalidades:
- ferramentas para disponibilizar materiais didáticos virtuais para os alunos e
links para outros sites da web;
- ferramentas para avaliar o progresso e o desenvolvimento dos alunos;
- ferramentas para administrar avaliações, testes e exercícios, mantendo os
resultados armazenados e com fácil acesso;
- ferramentas para auxiliar professores e tutores a administrarem aulas e notas;
- facilidade de edição e criação de páginas na web;
35
- ferramentas de cadastro de usuários e portfólios individuais;
- grande diversidade de ferramentas de comunicação.
Ainda assim, é importante esclarecer que plataforma alguma poderá,
sozinha, abranger todas as necessidades e particularidades das instituições.
Sendo assim, os projetos de Educação à Distância devem:
- atender a diversos objetivos e concepções pedagógicas;
- apoiar os projetos à distância que utilizem a plataforma como apoio;
- contemplar modelos de avaliação diversos;
- contemplar as diferentes visões dos usuários; e
- permitir o uso flexível dos diferentes recursos e ferramentas.
No ambiente virtual não pode ser passiva, uma vez que a construção
do conhecimento é resultado de um processo coletivo. Os estudantes são
responsáveis não apenas por sua conexão, mas também por contribuir com o
processo de aprendizagem por meio de mensagens com a expressão de suas
ideias e pensamentos. Assim, verdadeiramente, cria-se uma rede de
aprendizagens, em que a ligação entre as partes se dá pela interação.
Conforme Campos e Giraffa (1999) apud Pimentel (2006), as
funcionalidades/ferramentas mais frequentemente presentes nas plataformas
de Educação à Distância via Internet são as seguintes:
- E-mail: indicado para a circulação de mensagens privadas, definição de
cronogramas e transmissão de arquivos anexados e mensagens.
36
- Chat: também denominado bate-papo, é indicado para a comunicação em
tempo real, de forma mais interativa e dinâmica. É utilizado para a realização
de reuniões, aulas virtuais, discussões sobre temáticas trabalhadas.
- Fórum: é uma ferramenta que possibilita debates. Nele, os assuntos são
dispostos de forma hierárquica, mantendo a relação entre debates assíncronos,
exposição de ideias e divulgação de diversas informações.
- Lista de Discussão: auxilia o processo de discussão por meio do
direcionamento automático das participações relativas a determinado assunto,
previamente sugerido, para a caixa de e-mail de todos os inscritos na lista. Sua
função é dar apoio aos debates assíncronos.
- Mural: local onde estudantes e professores disponibilizam mensagens
interessantes para todos da turma.
- Portfólio: espaço individual em que dispõe se armazena e expõe os trabalhos
realizados pelos estudantes; favorece a realização de comentários do professor
e dos demais alunos.
- FAQ: também conhecido por Perguntas Frequentes, é o espaço em que o
tutor/professor disponibiliza as perguntas mais frequentes. É utilizado para
divulgar instruções básicas e esclarecer dúvidas sobre conteúdos.
- Perfil: espaço quem que os ususários (professores, tutores e alunos)
disponibilizam informações pessoais para todos os participantes.
- Acompanhamento: apresenta informações que auxiliam o acompanhamento
dos estudantes pelo professor ou tutor.
- Avaliação (online): diz respeito às avaliações, que devem ser feitas ou
postadas pelos estudantes e aos recursos online para que o professor as
37
corrija. Fornece o registro das avaliações, notas e tempo gasto para as
respostas.
- Biblioteca virtual: disponibiliza a estudante e professores bibliografia básica
sobre a Web. Algumas escolas de educação à distância emprestam livros
físicos pelos correios.
3.4 Objetos de Aprendizagem
O conceito de objetos de aprendizagem relaciona-se à aplicação de
recursos digitais de Tecnologias de Informação e da Comunicação no
desenvolvimento de materiais educacionais que se utilizam da informática
(hipertextos, imagens, animações, vídeos, etc.) para facilitar a internalização do
conhecimento.
Segundo Gallota (2006) apud Garcia, objeto de aprendizagem
é uma ferramenta que permite ao professor chegar mais facilmente no mundo de interesse dos alunos. É uma nova forma de transmissão do conhecimento, mais colaborativa e com maior interação do aluno. A passagem do conhecimento deixa de ser unilateral e o aluno passa a ter um papel mais ativo no processo (GALLOTA, 2006, apud GARCIA)
Os objetos de aprendizagem separam os materiais de aprendizagem
em pequenos conteúdos, que possam ser reutilizados em diferentes ambientes
de aprendizagem. A ideia é que esses componentes educacionais sejam
disponibilizados na Web em diferentes formatos (simulação, vídeos, hipertexto,
etc.). Quem incorpora os objetos de aprendizagem pode interagir com eles,
personalizando-os e adequando-os às suas necessidades.
Os objetos de aprendizagem são vistos como essenciais para a
melhoria da qualidade do material didático e como uma solução eficiente para
os problemas de padronização e redução de custo de desenvolvimento de
conteúdo, visto que podem ser reutilizados.
De acordo com Clarck (1998) são dois os tipos de objetos de
aprendizagem: objetos de informação ou de conhecimento e objetos
38
instrucionais. Os objetos de informação ou de conhecimento são partes
apresentações, necessários à entrega de conteúdos como fatos, conceitos,
processos, procedimentos e princípios. Os objetos instrucionais correspondem
a objetivos de aprendizagem, exercícios práticos e feedback. Eles podem
também incluir simulações, materiais multimídia e jogos educativos.
Os objetos de aprendizagem agregam valor ao processo educativo,
visto que:
- dinamizam a situação de aprendizagem, tornando-a mais lúdica e
interessante;
- promovem situações de ensino e aprendizagem autônomas, uma vez que o
feedback auxilia o aluno em sua atividade, minimizando a necessidade de um
"instrutor" - quando existem feedbacks;
- promovem a prática do aluno em um determinado conteúdo (conceito,
procedimento etc.);
- permitem uma maior decodificação por parte do aluno, que visualiza alguns
conceitos altamente abstratos.
Para a criação de objetos de aprendizagem, é necessária uma
equipe composta por sub-equipes pedagógicas, tecnológicas e de design. A
equipe pedagógica dá início ao processo de criação, decidindo os temas,
descrevendo as atividades, bem como modos de abordagem e objetivos. Essas
ideias precisam ser estruturadas em um roteiro para que o Objeto de
Aprendizagem possa ser implementado pela equipe de design gráfico e
tecnológica. Somente, então, o roteiro é apresentado aos orientadores e
demais membros do grupo e inicia-se o desenho da interface do Objeto de
Aprendizagem.
A interface de um objeto de aprendizagem deve ser a mais
compreensiva possível, adequada ao seu público-alvo e conter somente as
informações imprescindíveis, evitando, assim, uma sobrecarga de informações.
39
Conforme Campos (2001, p.1) apud Lima et al, são características importantes
em uma interface: a condução, a afetividade, a consistência, o significado de
códigos e denominações e gestão de erros.
40
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As novas Tecnologias da Informação e da Comunicação têm
colocado recursos como o computador, a internet e todas as suas ferramentas
a serviço da educação. A tendência atual, de aliar tecnologia à educação, cria
uma nova realidade, tornando cada vez mais necessária a implementação de
uma nova cultura docente e discente nas instituições educacionais no Brasil.
Isso significa que os professores devem também ser guiados pelos
quatro pilares da educação abordados no primeiro capítulo deste trabalho. É
imprescindível que os professores aprendam a conhecer, a fazer, a conviver e
a ser. Na verdade, o uso crescente das tecnologias na educação demanda
uma nova postura diante dos novos desafios impostos pelo uso da tecnologia
no ambiente escolar.
A aplicação de novas tecnologias na educação implica uma
revolução tão intensa e abrangente nos paradigmas educacionais da
atualidade, que poderá levar a uma evolução na metodologia do ensino
presencial e à distância, caracterizando-se, portanto, numa oportunidade para
as instituições de ensino e seus professores pensarem a prática de ensino e
aprendizagem.
A proposta pedagógica neste novo ambiente de aprendizagem deve
ter como objetivo promover a autonomia e a reflexão crítica dos alunos. Este
novo aluno, porém, responsável pela sua própria instrução, ainda não existe e
precisa ser criado, o que requer esforço, se considerarmos que uma grande
mudança cultura estará em jogo neste processo. Por esta razão, é necessário
dar a importância adequada aos aspectos das tecnologias da informação e da
comunicação aplicadas à educação, bem como o suporte aos alunos e
professores.
Além disso, também é preciso que haja uma mudança de postura do
professor, que deve estar aberto para o aprendizado, para o diálogo e para a
troca. Professores que ainda pensam ser os detentores do conhecimento e
seus alunos apenas receptores não têm vez no novo paradigma.
41
Como se sabe, há muitas informações em circulação. O
conhecimento e a utilização delas tornam-se mais complexos à medida que
cresce a pressão por níveis de resposta e é modificado o ciclo de vida da
informação. Por isso, cresce a importância do tratamento dinâmico da
informação. Há de se notar, no entanto, que as tecnologias possuem ciclo de
vida, sofrem incompatibilidades e possuem custos (às vezes, elevado) de
manutenção.
Sendo assim, ensinar e aprender utilizando tecnologias exige
paciência e preparo dos alunos e dos docentes. Os objetivos pedagógicos
devem estar associados a uma lista de métodos agregados a atividades
presenciais aos possíveis métodos associados a atividades à distância. A
infraestrutura do curso no âmbito pedagógico, desenho do curso,
apresentação, formas de interação e ambiente de aprendizagem, associados à
qualidade do material didático, constituem a chave do sucesso para a
aprendizagem dos alunos. Por esta razão é dada muita à escolha de uma
linguagem adequada para a elaboração do material didático.
Como se percebe, a tecnologia representa uma ferramenta eficaz
para a educação, mas, ainda que se tenha a melhor e mais moderna
tecnologia, a figura humana é imprescindível para se obter êxito com a
Educação à Distância. Computadores não substituem pessoas, não forma
opinião, nem faz juízos qualitativos. Embora ajude a encontrar respostas para
as perguntas, computadores não são capazes de formular qual questão deve-
se levantar. Um sistema de informação, quando real, é composto não
somente por computadores, mas por uma série de elementos indispensáveis, a
saber: tecnologia, instituições e pessoas, todas inseridas num ambiente
externo.
A Educação à Distância, nesse contexto aparece como não somente
uma alternativa de ensino, mas como um método capaz de agregar valor
considerável. Uma vez que aprender se tornará uma atividade a ser prolongada
por toda a vida é preciso buscar desenvolver um ambiente que permita o
compartilhamento de experiências entre os envolvidos, com o intuito de criar
comunidades de aprendizagem.
42
BILBIOGRAFIA
BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. Campinas: Ed. Associados,
2001.
BRASIL. Educação à Distância. Decreto no 5622, de 19 de dezembro de 2005.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional. Lei no 9394 de 20 de
dezembro de 1996
CANDAU, Vera Maria (2001). Magistério: construção cotidiana. 4ª ed. Rio de
Janeiro: Vozes, 2001.
CLARK, R. 1998 Recycling knowledge with learning objects, Training and
development, vol. 52, p. 60-63.
Educação: um tesouro a descobrir. Relatório para UNESCO da Comissão
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
RESUMO 04
METODOLOGIA 05
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
A EDUCAÇÃO E SUAS BASES FUNDAMENTAIS 11
1.1. Os quatro pilares da educação 12
1.1.1. Primeiro pilar: aprender a conhecer 13
1.1.2. Segundo pilar: aprender a fazer 13
1.1.3. Terceiro pilar: aprender a conviver 14
1.1.4. Quarto pilar: aprender a ser 15
1.2. A importância do professor educador nas instituições de ensino e o
desenvolvimento da autonomia dos educandos 15
CAPÍTULO II
O USO DA TECNOLOGIA NO AMBIENTE ESCOLAR 18
2.1 Tecnologias e sua relação com a educação 18
CAPÍTULO III
A EDUCAÇÃO À DISTANCIA E AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DO
CONHECIMENTO 21
3.1. A história e a evolução da Educação à Distância no Brasil 24
3.2. A figura do tutor no Ensino à Distancia 25
3.3. Tecnologias da Informação e da Comunicação 30
3.3.1. Mídias de Educação à Distância 31
3.3.2. Plataformas de Educação à Distância 33
45
3.4. Objetos de aprendizagem 37
CONSIDERAÇÕES FINAIS 40
BIBLIOGRAFIA 42
ANEXOS 46
46
ANEXOS
Índice de anexos
Anexo 1 – Diploma sem sair de casa (Reportagem) 47
Anexo 2 – Embromação a distância? (Reportagem) 50
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ANEXO 1
REPORTAGEM
Diploma sem sair de casa
Muita gente no Brasil torce o nariz para os cursos de graduação a distância – mas eles podem oferecer ensino de alto nível e atrair para a universidade quem hoje está de fora
Os cursos de graduação a distância, aqueles que o aluno faz sem praticamente ir à universidade, estão no centro de uma polêmica. Enquanto proliferam no Brasil – de 40 000 matrículas, em 2002, já contam com 760 000 –, eles suscitam críticas variadas. Na última paralisação da USP, em junho, essa modalidade de ensino, que já se decidiu implantar ali, foi demonizada pelos grevistas. Eles diziam se tratar de uma graduação de "segunda categoria" que acabaria por manchar a reputação da universidade. Essa mesma ideia justificou as sucessivas negativas dadas por governos ao pleito das faculdades para regulamentar a graduação a distância no país. Na década de 80, ela chegou a ser referida em rodas de Ph.Ds. pelo pejorativo apelido de "supletivo de smoking". Parte da desconfiança em relação a tais cursos vem do próprio mercado. "É necessário mais tempo para que as grandes empresas entendam que esse diploma vale tanto quanto o outro", avalia Sofia Esteves, que faz recrutamento de estagiários e trainees. A discussão passa ao largo dos fatos. No mundo inteiro, os cursos universitários a distância funcionam muito bem. No Brasil, os primeiros resultados sobre eles indicam o mesmo. "Existe no país uma sacralização da sala de aula, o que remete às primeiras escolas do século XIX", diz Maria Inês Fini, doutora em educação. "É um apego a uma concepção de ensino que não tem mais lugar, especialmente no mundo pós-internet."
O ensino a distância surgiu no Brasil no início do século passado e, durante décadas, foi sinônimo de curso por correspondência. Os alunos liam as apostilas em casa. Enviavam e recebiam suas dúvidas e seus exames pelo correio. Certo avanço se viu nos anos 70, quando à velha fórmula se somaram aulas transmitidas na televisão – caso do tradicional Telecurso. Tudo isso, no entanto, guarda apenas uma remota semelhança com o fenômeno atual. Primeiro, porque, até 1996, nem sequer havia uma legislação no país que reconhecesse cursos a distância de nível superior. Outra mudança decisiva diz respeito à consolidação da internet, com a perspectiva de tornar tais aulas mais interativas e atraentes. "A participação dos alunos no ambiente virtual é muito maior do que na sala de aula", observa João Vianney, diretor do ensino on-line da Unisul, universidade particular de Santa Catarina e uma das pioneiras na modalidade. Além dos populares fóruns e chats, alguns dos recursos da internet usados nessas aulas ampliam, e muito, as possibilidades de um estudante universitário. Por exemplo, permitindo que os alunos de administração da Unisul simulem as atividades da bolsa de valores ou que os da Fundação Getulio Vargas executem extensos trabalhos em rede. É o que faz o engenheiro Alexandre Bittar, 38 anos, que, tarde da noite, costuma estar em casa às voltas com uma atividade pouco usual: ele ora tira dúvidas com um professor, ora debate com os colegas de classe – tudo na internet. "Foi o que tornou viável estudar um assunto que já me fazia falta no trabalho", diz Alexandre, matriculado na graduação em
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processos gerenciais da FGV. A lei exige das faculdades que contem com pelo menos um tutor por curso: alguém de plantão encarregado de dar a supervisão necessária. Na FGV, eles chegam até a entrar na rede para comentar os exercícios feitos e monitorar o número de vezes que cada aluno acessou o site.
Os cursos mencionados acima representam o suprassumo do ensino on-line no Brasil. É claro que também existem arapucas. O MEC compôs uma lista negra com 2 000 unidades de onze universidades que terão de se adequar aos padrões do bom ensino on-line. Se não melhorarem, terão de fechar. É o que se vê numa das filiais da Universidade Metropolitana de Santos, em Taboão da Serra, em São Paulo. Lá, a secretaria informa que, para falar com um tutor, é preciso marcar hora uma semana antes. Apesar de oferecer cursos de biologia e física, não há na sobreloja em que a faculdade está instalada nenhum sinal de laboratório, tampouco de biblioteca – equipamentos básicos. "Fico limitada ao que colocam na internet", queixa-se a aluna de geo-grafia Maria Alice Oliveira.
Na média, contudo, a graduação on-line já alcança notas ligeiramente melhores do que as dos cursos tradicionais, de acordo com o MEC. É verdade que a média – 47,5 numa escala de zero a 100 – não é exatamente alta, mas sua vantagem talvez seja um indicativo de algo para que os especialistas vêm chamando atenção. "Quando há mais autonomia, o estudo tende a ser mais focado, intenso e eficiente", diz João Vianney, que pesquisou o assunto. Além disso, o ensino a distância requer um plano de aulas muito bem estruturado, o que falta à maioria das faculdades. O melhor exemplo de como o modelo funciona, se bem aplicado, vem da Open University, que surgiu na Inglaterra em 1969 e só oferece cursos a distância. Nos rankings, já ombreia com as melhores universidades do país, como Oxford e Cambridge. O que falta a 90% das instituições brasileiras é aprender a explorar adequadamente as potencialidades da internet. Ela é acessada, na maioria das vezes, apenas para a leitura de textos, enquanto a interação entre professores e alunos se dá, basicamente, nas ocasiões em que os estudantes vão à faculdade, em média uma vez por semana. No lugar do contato em tempo real, proporcionado pela rede, nesses casos eles assistem, in loco, às chamadas teleaulas, gravadas e transmitidas na televisão. Perguntas são feitas depois, em geral por e-mail.
A discussão sobre usar ou não a internet no ensino tornou-se ultrapassada, uma vez que ela já se provou uma ferramenta útil em todos os níveis de ensino. Em países como Coreia do Sul e Japão, por exemplo, alunos de diferentes escolas fazem trabalhos colaborativos na rede – sistema que reproduz, em menor escala, o que se passa entre os grandes centros de pesquisa do mundo. O efeito positivo se vê nas notas. Existe um consenso de que, quanto mais velho o aluno, melhores suas condições de chegar a respostas e avançar por si mesmo, daí os bons resultados da graduação a distância. Ainda que nem sempre ofereçam toda a grade de matérias on-line – especialmente em cursos que requerem mais experiências práticas, como medicina ou biologia –, algumas das melhores universidades do mundo já começam a dar aos alunos a opção de fazer parte das disciplinas a distância.
A tendência é que isso se repita no Brasil. Em cinco anos, a previsão é que esses estudantes representem um terço do total, proporção semelhante à dos países mais ricos da OCDE. Parece realista. Hoje, 80% dos jovens brasileiros ainda estão fora da universidade. "Com mensalidades até 50% mais baixas e flexibilidade de horário, esses
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cursos serão o único caminho para muita gente voltar para a sala de aula", conclui o especialista Ryon Braga. É por meio do ensino a distância que as universidades públicas pretendem ampliar o número de vagas e os grandes grupos privados planejam expandir seus negócios. Para os que estão esparramados pelo país inteiro, compensa. Não apenas porque fazem uso de prédios em que já estão instalados como por atraírem alunos sem investir tanto em marketing, uma vez que contam com um nome consolidado. Os que conseguirem oferecer ensino de alto nível estarão dando chance para que jovens hoje fora da universidade tenham, enfim, um bom diploma.
Fonte: http://veja.abril.com.br/260809/diploma-sem-sair-casa-p-122.shtml
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ANEXO 2
REPORTAGEM
Embromação a distância?
"No seu conjunto, as avaliações não deixam dúvidas: é possível aprender a distância"
Novidade incerta? Mais um conto do vigário? Ilustres filósofos e distinguidos educadores torcem o nariz para o ensino a distância (EAD).
Logo após a criação dos selos de correio, os novidadeiros correram a inventar um ensino por correspondência. Isso foi na Inglaterra, em meados do século XIX. No limiar do século XX, os Estados Unidos já ofereciam cursos superiores pelo correio. Na década de 30, três quartos dos engenheiros russos foram formados assim. Ou seja, novo não é.
AD significa que alunos e professores estão espacialmente separados – pelo menos boa parte do tempo. O modo como vão se comunicar as duas partes depende da tecnologia existente. No começo, era só por correio. Depois apareceu o rádio – com enorme eficácia e baixíssimo custo. Mais tarde veio a TV, área em que Brasil e México são líderes mundiais (com o Telecurso e a Telesecundaria). Com a internet, EAD vira e-learning, oferecendo, em tempo real, a possibilidade de ida e volta da comunicação. Na prática, a tecnologia nova se soma à velha, não a substitui: bons programas usam livros, o venerando correio, TV e internet. Quando possíveis, os encontros presenciais são altamente produtivos, como é o caso do nosso ensino superior que adota centros de recepção, com apoio de professores "ao vivo" para os alunos.
Há embromação, como seria esperado. Há apostilas digitalizadas vendidas como cursos de nomes pomposos. Mas e daí? Que área escapa dos vigaristas? Vemos no EAD até cuidados inexistentes no ensino presencial, como a exigência de provas presenciais e fiscalização dos postos de recepção organizada (nos cursos superiores).
Nos cursos curtos, não há esse problema. Mas, no caso dos longos, o calcanhar de aquiles do EAD é a dificuldade de manter a motivação dos alunos. Evitar o abandono é uma luta ingente. Na prática, exige pessoas mais maduras e mais disciplinadas, pois são quatro anos estudando sozinhas. As telessalas, que reúnem os alunos com um monitor, têm o papel fundamental de criar um grupo solidário e dar ritmo aos estudos. E, se o patrão paga a conta, cai a deserção, pois abandonar o curso atrapalha a carreira. Também estimula a persistência se o diploma abre portas para empregos e traz benefícios tangíveis – o que explica o sucesso do Telecurso.
Mas falta perguntar: funciona? Prestam os resultados? Felizmente, houve muita avaliação. Vejamos dois exemplos bem diferentes. Na década de 70, com Lúcia Guaranys, avaliei os típicos cursos de radiotécnico e outros, anunciados nas mídias populares. Para os que conseguiam se graduar, os resultados eram espetaculares. Em
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média, os alunos levavam menos de um ano para recuperar os gastos com o curso. Em um mestrado de engenharia elétrica de Stanford, foi feito um vídeo que era, em seguida, apresentado para engenheiros da HP. Uma pesquisa mostrou que, no final do curso, os engenheiros da HP tiravam notas melhores do que os alunos presenciais. Os efeitos do Telecurso são também muito sólidos.
Para os que se escandalizam com a qualidade do nosso ensino superior, sua versão EAD é ainda mais nefanda. Contudo, o Enade (o novo Provão) trouxe novidades interessantes. Em metade dos cursos avaliados, os programas a distância mostram resultados melhores do que os presenciais! Por quê? Sabe-se que a aprendizagem "ativa" (em que o aluno lê, escreve, busca, responde) é superior à "passiva" (em que o aluno apenas ouve o professor). Na prática, em boa parte das nossas faculdades, estudar é apenas passar vinte horas por semana ouvindo o professor ou cochilando. Mas isso não é possível no EAD. Para preencher o tempo legalmente estipulado, o aluno tem de ler, fazer exercícios, buscar informações etc. Portanto, mesmo nos cursos sem maiores distinções, o EAD acaba sendo uma aprendizagem interativa, com todas as vantagens que decorrem daí.
No seu conjunto, as avaliações não deixam dúvidas: é possível aprender a distância. Cada vez mais, o presencial se combina com segmentos a distância, com o uso da internet, e-learning, vídeos do tipo YouTube e até com o prosaico celular. A educação presencial bolorenta está sendo ameaçada pelas múltiplas combinações do presencial com tecnologia e distância.
Claudio de Moura Castro claudio&moura&[email protected]
Fonte: http://veja.abril.com.br/150409/p_024.shtml