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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
IMPUGNAÇÃO À EXECUÇÃO
Por: Kelly Meire Peixoto Menezes
Orientador
Prof. Jean Almeida
Rio de Janeiro
2008
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
IMPUGNAÇÃO À EXECUÇÃO
Apresentação de monografia à Universidade
Cândido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Direito
Processual Civil
Por: . Kelly Meire Peixoto Menezes
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AGRADECIMENTOS
A todos aqueles que estiveram ao meu
lado no período de elaboração da
presente monografia e no decorrer do
curso. Aos professores que ministraram
as aulas de Pós-Graduação “lato-
sensu” do Curso de Direito Processual
Civil.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a milha filha Danielle
para a qual dedico toda minha vida e que,
justifica e motiva a minha busca pelo
aperfeiçoamento e maior conhecimento.
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RESUMO
A elaboração desse trabalho apresenta uma análise sistemática das
principais alterações introduzidas pela Lei nº 11.232/2005 quanto à
impugnação à execução. Nesta monografia, a Autora realiza um estudo desde
a vigência da Lei nº 11.332/2005 na perspectiva geral do direito intertemporal,
até o julgamento e coisa julgada da impugnação. Analisa algumas questões
teóricas referentes à competência executiva e para o conhecimento da
impugnação, à natureza jurídica, casos de cabimento, efeitos sobre a
execução, de forma a dar segurança ao leitor mostrando com se conduz na
prática a impugnação à execução.
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METODOLOGIA
Para a consecução do trabalho apresentado foram utilizados alguns
instrumentos metodológicos, tais como: leitura de livros, revistas especializadas
em Direito Processual Civil, além de pesquisa de jurisprudência na internet .
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 10
CAPÍTULO I
VIGÊNCIA DA LEI Nº 11.232/2005 E DIREITO
INTERTEMPORAL.. 11
CAPÍTULO II
COMPETÊNCIA EXECUTIVA E PARA O CONHECIMENTO DA
IMPUGNAÇÃO 12
CAPÍTULO III
NATUREZA JURÍDICA 14
CAPÍTULO III
A FASE DE EXECUÇÃO DA SENTENÇA COMO
PROCEDIMENTO DE COGNIÇÃO LIMITADA 18
CAPÍTULO IV
A PENHORA COMO PRESSUPOSTO DE ADMISSIBILIDADE DA
IMPUGNAÇÃO 19
CAPÍTULO V
PRAZO 20
CAPÍTULO VI
PRECLUSÃO TEMPORAL 21
CAPÍTULO VII
LEGITIMIDADE PARA APRESENTAR A IMPUGNAÇÃO 22
8
CAPÍTULO VIII
CONTEÚDO 23
8.1. OBSERVAÇÃO INICIAL 23
8.2.FALTA OU NULIDADE DA CITAÇÃO SE O
PROCESSO CORREU À REVELIA 27
8.3.INEXIGIBILIDADE DO TÍTULO 29
8.4. DECISÃO FUNDADA EM LEI OU ATO NORMATIVO
REPUTADO INCONSTITUCIONAL PELO SUPREMO
TRIBUNAL FEDERAL 30
8.5. PENHORA INCORRETA OU AVALIAÇÃO
ERRÔNEA.. 32
8.6. ILEGITIMIDADE DAS PARTES 33
8.7. EXCESSO DE EXECUÇÃO 34
8.8. QUALQUER CAUSA IMPEDITIVA, MODIFICATIVA
OU EXTINTIVA DA OBRIGAÇÃO, COMO PAGAMENTO,
NOVAÇÃO, COMPENSAÇÃO, TRANSAÇÃO OU
PRESCRIÇÃO, DESDE QUE SUPERVENIENTE À
SENTENÇA 36
CAPÍTULO IX
HIPÓTESES DE REJEIÇÃO LIMINAR DA IMPUGNAÇÃO 37
9.1. PRECLUSÃO TEMPORAL 37
9.2. ILEGITIMIDADE DE PARTE E FALTA DE
INTERESSE PROCESSUAL 37
9.3. INADEQUAÇÃO PROCEDIMENTAL 38
9.4. AUSÊNCIA DE SEGURANÇA DO JUÍZO, PELA
PENHORA 39
9.5. ARGUIÇÃO DE MATÉRIAS ESTRANHAS AO ART.
475-L DO CPC 39
9.6. NÃO INDICAÇÃO DO VALOR DEVIDO EM EXCESSO
DE EXECUÇÃO 39
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CAPÍTULO X
DESISTÊNCIA DA EXECUÇÃO E CONSENTIMENTO DO
EXECUTADO 41
CAPÍTULO XI
EFEITOS SOBRE A EXECUÇÃO E CONCESSÃO DE EFEITO
SUSPENSIVO À IMPUGNAÇÃO 42
CAPÍTULO XII
RESPOSTA DO EXEQÜENTE À IMPUGNAÇÃO 45
CAPÍTULO XIII
JULGAMENTO E COISA JULGADA 46
CAPÍTULO XI
APLICAÇÃO NO ÂMBITO DO PROCESSO DO TRABALHO 47
CONCLUSÃO 50
BIBLIOGRAFIA 53
FOLHA DE AVALIAÇÃO 56
COMPROVANTES DE ATIVIDADES CULTURAIS 57
10
INTRODUÇÃO
A impugnação à execução está disciplinada nos artigos 475-L, 475-M e
respectivos parágrafos. Tais artigos foram acrescidos ao CPC pela Lei nº
11.232, de 22.12.05, em vigor seis meses após a sua publicação (DOU
23.12.05), ou seja, a partir de 24/06/06.
A impugnação foi concebida para o lugar anteriormente reservado aos
embargos à execução por título judicial (art. 741). Tal qual estes, ela se presta
à oposição à execução, com a diferença de que não faz surgir um novo
processo. As matérias argüíveis em sede de impugnação e embargos à
execução por título judicial são semelhantes, conforme se depreende dos
incisos dos artigos 475-L e 741.
Embora a impugnação tenha sido prevista expressamente apenas
para a execução de sentença por quantia, entende-se cabível a sua aplicação,
por analogia, às demais espécies de execução de sentença (fazer, não-fazer e
dar coisa). Isto porque, a vista da lacuna legislativa que não prevê qualquer
meio defensivo para o executado na execução dessas sentenças, a melhor
solução é aplicação analógica do regime jurídico da impugnação à execução.
Cabe aqui a ressalva de que na hipótese de execução contra a
Fazenda Pública ainda são cabíveis os embargos à execução, isto porque,
enquanto outros executados são intimados para o cumprimento da sentença,
devendo efetuar o pagamento no prazo de 15 dias e, não fazendo e nem
impugnando os cálculos, há penhora de bens bastantes para o pagamento do
débito. Em sendo devedora a Fazenda Pública, ela é citada na forma do art.
730 do CPC, podendo opor embargos à execução, uma vez que os valores
devidos pela Fazenda Pública são pagos por precatório ou requisitório de
pequeno valor (RPV).
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Cabe ainda ressaltar que, não houve qualquer alteração no processo
de execução de titulo executivo extrajudicial, a reforma introduzida pela Lei nº.
11.232 se concentrou apenas nos títulos executivos judiciais.
CAPÍTULO I
VIGÊNCIA DA LEI Nº. 11.232/2005
E DIREITO INTERTEMPORAL
A Lei nº. 11.232/2005, no artigo 8º, fixou a vacatio legis em seis
meses.
Assim, a partir de 24 de junho de 2006, os procedimentos referentes à
liquidação, ao cumprimento e à impugnação ao cumprimento de sentença,
passaram a ser regulados pelos artigos 475-A a 475-R.
Os “conflitos de lei no tempo”, neste caso, restringem-se os processos
pendentes, com ou sem execução iniciada, podendo haver as seguintes
situações:
a) Título executivo constituído sob a égide da lei antiga cuja a
execução não se iniciou – em se considerando que o cumprimento da sentença
só terá início já sob a vigência da lei nova, caberá ao credor requerê-la de
conformidade com os novos parâmetros procedimentais, previstos nos art. 475-
A a 475-R do CPC, não incidindo a multa moratória de 10% posto que não
vigorava, na época da formação do título executivo judicial, ou seja, o
cumprimento voluntário da obrigação de pagar, o qual constitui o fundamento
jurídico da penalidade ( art. 475-J, caput, do CPC).
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b) Título judicial constituído sob a égide da lei revogada, cuja liquidação
é alcançada pela vigência da lei nova - deve-se aplicar a teoria das fases
processuais, ou seja, cada etapa do processo vai ser regulada pela lei do
tempo da prática do ato determinante. Se a liquidação iniciou-se sob a
vigência da lei antiga, esta vai reger todo o processo liquidatório, desde que a
citação tenha ocorrido sob a vigência daquela, mas as etapas executórias
subseqüentes à liquidação serão reguladas pela nova lei. Assim, uma vez
determinado segundo os parâmetros da lei revogada, o quantum debeatur,
transpõe-se o rito processual para o da nova lei, dando-se início à fase de
cumprimento de sentença (art. 475-I do CPC), com a possibilidade de
incidência da multa prevista no caput do art. 475-J do CPC.
Aplicamos o mesmo raciocínio a meio de defesa do executado. Se a
nova lei passa a vigorar com a citação para pagar ou nomear bens à penhora
em 24 horas, já efetivada segundo a antiga redação do art. 652 do CPC, lógico
que todo o restante do procedimento executivo será regulado pela lei antiga,
conquanto já estabilizada a relação jurídico-processual.
c) Título judicial constituído sob a vigência da lei revogada e cuja
execução (ou liquidação) é requerida sob a lei atual mas segundo o rito da lei
revogada – no direito brasileiro vigora o princípio jura novit curia, corolário da
máxima narra mihi factum dabo tibi jus, segundo o qual incumbe às partes tão-
somente narrar os fatos, cabendo ao juiz a tarefa de identificar o direito
aplicável, declarando-o ao caso concreto. Assim, nesta situação, não seria
lícito ao juiz negar vigência à Lei nº. 11.232/2005 só pelo fato do exeqüente
ignorar sua existência competindo-lhe, determinar a adequação da execução
às normas da nova lei que disciplinou o cumprimento de sentença.
CAPÍTULO II
COMPETÊNCIA EXECUTIVA E
PARA O CONHECIMENTO DA IMPUGNAÇÃO
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A regra de competência para a execução da sentença cível em 1º grau
de jurisdição, e, por conseguinte, para conhecer e julgar a impugnação que lhe
corresponde, está disciplinada no inciso II, do art. 475-P, do CPC, que dispõe
in verbis:
“Art. 475-P. O cumprimento de sentença efetuar-se-á perante:
.............................................(omissis)........................................
II- o juízo que processou a causa no primeiro grau de jurisdição;”
Parágrafo único. No caso do inciso II do caput deste artigo, o
exeqüente poderá optar pelo Juízo do local onde se encontram bens
sujeitos à expropriação ou pelo do atual domicílio do executado, casos
em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de
origem.”
Facultou-se ao credor ingressar com a execução:
a) no juízo cível onde originalmente se processou a causa;
b) no juízo do local onde se encontram os bens sujeitos à
expropriação, ou
c) no foro do atual domicílio do executado, caso em que o juiz da
execução deverá solicitar, ao juiz da causa, o envio dos respectivos autos.
Assim, havendo o deslocamento da competência para o cumprimento
da sentença, em conseqüência, haverá a modificação de competência para o
processo e julgamento da impugnação respectiva, devendo o executado
reportar-se ao juízo no qual se processa o cumprimento de sentença, ainda
que tenha de se deslocar para foro diverso do seu domicílio posto nele se
encontrarem os bens sujeitos a expropriação.
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CAPÍTULO III
NATUREZA JURÍDICA
Em sede doutrinária muito se discute sobre a natureza jurídica da
impugnação à execução.
Basicamente são quatro as principais correntes:
a) a impugnação tem natureza jurídica de instrumento de defesa
(exceção)- Corrente defendida por Teresa Arruda Alvim Wambier1, Danilo
Knijnik e Hugo Filardi.
Essa corrente trata a impugnação como defesa, mera exceção que visa
a resistência à atividade satisfativa postulada pelo exeqüente.
Assim no entendimento de Danilo Knijnik2:
“ Ao que parece, o legislador institucionalizou, ainda que em parte, e
limitadamente às execuções por quantia certa, a praxe jurisprudencial
consagrada; doravante, cumpre ao devedor opor-se ao requerimento
executivo, em primeiro lugar, nos próprios autos; em segundo lugar,
através de simples petição, denominada impugnação.”
E Hugo Filardi3:
“ A modificação do rótulo do meio de defesa posto à disposição do
executado não foi apenas uma simples modificação de nomenclatura. 1 WAMBIER, Teresa Arruda Alvim, Breves Comentários a nova sistemática processual, Civil 2, São Paulo Revista dos Tribunais, 2005, p.150-154 2 KNIJNIK, Danilo, A nova execução, Rio de Janeiro, Forense, 2006, p. 146. 3 FILARDI, Hugo, Cumprimento de sentença: Comentários sobre a Lei 11.232/2005, Revista de Processo, Ano 32, n. 149, São Paulo, Revista dos Tribunais, julho/2007, p. 151.
15
Isso ficou mais claro com a manutenção dos embargos do executado
na Lei 11.382/2006 e a clara diferenciação dos mecanismos de defesa
entre a execução de título judicial e extrajudicial. Embargos do
executado é uma modalidade de ação, que introduz espectro de
cognição à atividade executiva. Já a impugnação é um mecanismo de
defesa processual que afere a legitimidade, legalidade e extensão do
título judicial, sem contudo, permitir uma ampliação da zona de
cognição já formulada.”
b) a impugnação tem natureza jurídica de instrumento de uma ação
incidental, semelhante substancialmente aos antigos embargos à execução de
sentença - Corrente defendida por Araken Assis e Arruda Alvim4 – para eles a
impugnação do devedor instaura uma ação incidental, proporcionando o
exercício do contraditório pelo credor; exige decisão, que ficará revestida pela
autoridade de coisa julgada. Araken5 afirma que “a finalidade defensiva e
reativa da impugnação não lhe retira o que é essencial: o pedido de tutela
jurídica do estado, corrigindo os rumos da atividade executiva ou extinguindo a
pretensão de executar”.
c) a impugnação tem natureza jurídica de instrumento de defesa ou de
ação, conforme a matéria veiculada – para Leonardo Greco6, a impugnação
com base no inciso I e no § 1º do art. 475-L, tem natureza de ação de nulidade
e, com base no inciso VI, natureza de ação declaratória de inexistência, com
base nos demais incisos, teria natureza de exceção (defesa).
4 ARRUDA ALVIM, José Manoel, Aspectos polêmicos da nova execução, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 44-50. 5 ASSIS, Araken, Cumprimento da Sentença, Rio de Janeiro, Forense, 2006, p. 314. 6 GRECO, Leonardo, “Primeiros comentários sobre a reforma da execução oriunda da Lei 11.232/05”, Revista Dialética de Direito Processual, São Paulo, Dialética, 2006, v. 36, p. 81.
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d) a impugnação tem natureza jurídica distinta da contestação e da
ação, trata-se de um instituto novo, considerando ser a impugnação um
instituto próprio sui generis . Corrente defendida por Glauco Gumerato Ramos7.
Não se trata, de discussão puramente acadêmica; porquanto, o
tratamento jurídico que será dispensado ao novo instituto em muito dependerá
da natureza jurídica que, ao cabo das discussões, vier a prevalecer na
jurisprudência.
Conforme assevera, Fredie Didier8, “em sendo considerada uma ação
autônoma, a impugnação sofrerá aplicação das disposições inerentes ao
processo de conhecimento, notadamente quanto aos requisitos da petição
inicial (art. 282 do CPC), aos ônus da sucumbência (art. 20 do CPC), ao
recolhimento prévio de custas processuais (art. 257 do CPC), à atribuição de
valor à causa (arts. 258 e 259 do CPC), etc. Todavia, diferente regramento
legal será aplicável caso venha sagrar-se vitoriosa a tese de se tratar de mero
incidente; contudo, a prevalecer o entendimento de natureza híbrida, a
impugnação ora teria tratamento típico de ação autônoma, ora de mero
incidente processual, conforme o caso versado”.
Assim, temos que a impugnação serve para a concretização do
exercício do direito de defesa; o executado não demanda, não age; ele resiste,
excepciona, se opõe. A pretensão à tutela jurisdicional, que de fato exerce o
executado, é de reação, que é elemento essencial da “exceção”, do direito de
defesa.
Aliás, já neste sentido o posicionamento jurisprudencial anterior, no que
toca à defesa do devedor quanto ao cumprimento das obrigações de fazer e
não fazer, fundado no art. 461 do CPC, como se extrai do teor do Acórdão
proferido pela 1ª Turma do STJ, no REsp 738424/DF (julgado em 19/05/2005 e
publicado bi DJ em 20/02/2006, pág. 228), em que o Ministro Teori Albino
7 RAMOS, Glauco Gumerato, Reforma do Código de Processo Civil, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 243. 8 DIDIER JR, Fredie, Curso de Direito Processual Civil, Salvador, Jus Podivm, 2007, p. 458.
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Zavascki atuou como relator. Com a reforma promovida pela Lei nº.
10.444/2002, este entendimento se alastrou para as obrigações de entregar
coisa diversa de dinheiro, prevista pelo art. 461-A do CPC, vindo a abarcar
também as obrigações de pagar quantia certa com a vigência da Lei nº
11.232/2005.
Veja-se o referido Acórdão do STJ:
“PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER,
SENTENÇA EXECUTIVA LATO SENSU ( CPC, ART 461).
DESCABIMENTO DE EMBARGOS À EXECUÇÃO. DEFESA POR
SIMPLES PETIÇÃO. ATENDIDOS OS LIMINTES DO ART. 741 DO
CPC.
1. Os embargos do devedor constituem instrumento processual típico
de oposição à execução forçada promovida por ação autônoma (CPC,
art. 726 do CPC). Sendo assim, só cabem embargos de devedor nas
ações de execução processadas na forma disciplinada no Livro II do
Código de Processo.
2. No atual regime do CPC, em se tratando de obrigação de prestação
pessoal ( fazer ou não fazer) ou de entrega de coisa, as sentenças
correspondentes são executivas lato sensu , a significar que o seu
cumprimento se opera na própria relação processual original, nos
termos dos artigos 461-A do CPC. Afasta-se, nesses casos, o
cabimento de ação autônoma de execução, bem como,
consequentemente, de oposição do devedor por ação de embargos.
3. Todavia, isso não significa que o sistema processual esteja
negando ao executado o direito de se defender em face de atos
executivos ilegítimos, o que importaria ofensa ao princípio
constitucional da ampla defesa ( CF, art. 5º, LV). Ao contrário de negar
o direito de defesa, o atual sistema o facilitar: ocorrendo
impropriedades ou excessos na prática dos atos executivos previstos
no art. 461 do CPC, a defesa do devedor se fará por simples petição,
no âmbito da própria relação processual em que for determinada a
medida executiva, ou pela via recursal ordinária, se for o caso.
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4. A matéria suscetível de invocação pelo devedor submetido ao
cumprimento de sentença em obrigações de fazer, não fazer ou
entregar coisa tem seus limites estabelecidos no art. 741 do CPC, cuja
aplicação subsidiária é imposta pelo art. 644 do CPC.
5. Tendo o devedor ajuizado embargos à execução, ao invés de se
defender por simples petição, cumpre ao juiz, atendendo aos princípios
da economia processual e da instrumentalidade das forma, promover o
aproveitamento desse ato, autuando, processando e decidindo o
pedido como incidente, nos próprios autos.
6. Recurso especial parcialmente provido.”
Devem-se destacar da decisão acima transcrita os seguintes aspectos:
1- foi proferida antes das reformar atinentes à execução – Leis nº.
11.232/2005 e 11.382/2006. Àquela época, ainda não havia a positivação da
impugnação como meio de defesa, nem a sistematização do cumprimento da
sentença como etapa do processo sincrético.
2. o item 5 da ementa evidencia que, apresentados os embargos em
vez da impugnação, deve o magistrado aproveitar o ato em homenagem os
princípio da economia processual e de instrumentalidade das formas, já que os
requisitos daqueles são mais rigorosos do que os da impugnação.
CAPÍTULO III
A FASE DE EXECUÇÃO DA SENTENÇA COMO
PROCEDIMENTO DE COGNIÇÃO LIMITADA
O procedimento de execução da sentença está estruturado em
cognição limitada e exauriente secundum eventum defesionis: a cognição
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dependerá da provocação do executado, que não pode alegar qualquer matéria
em sua defesa que tem conteúdo previsto no art. 475- L, CPC.
Importante mencionar que o contraditório no procedimento executivo é
eventual, porquanto dependa da manifestação do demandado, que não é
chamado a juízo para defender-se, mas sim para cumprir a obrigação.
CAPÍTULO IV
A PENHORA COMO PRESSUPOSTO DE
ADMISSIBILIDADE DA IMPUGNAÇÃO
Em sede doutrinária existem posições conflitantes acerca da penhora,
como pressuposto de admissibilidade da impugnação.
Estabelece o § 1º , do art. 475-J, do CPC:
“ Art. 475-J. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia
certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo de quinze(15)
dias, o montante da condenação será acrescido de multa no
percentual de dez por cento e, a requerimento do credor e observado o
disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de
penhora e avaliação.
§ 1º. Do ato de penhora e de avaliação será de imediato intimado o
executado, na pessoa de seu advogado ( art. 236 e 237) ou, na falta
deste, seu representante legal, ou pessoalmente, por mando ou pelo
correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de
quinze(15) dias.”
20
Para José Roberto dos Santos Bedaque9 a regra contida no § 1º, do
artigo 475-J, é destinada tão somente a fixar o termo a quo do prazo para
impugnação. Para ele, a impugnação pode ser apresentada
independentemente de garantia, pois não há exigência expressa dessa medida
como pressuposto de admissibilidade. Se realizada a perícia, a impugnação
deve ser deduzida em quinze dias, sob pena de preclusão.
De forma diversa defende Athos Gusmão Carneiro10, para quem a
defesa do executado, mediante o procedimento incidental de impugnação,
pressupõe a penhora e avaliação de bens, ou seja, a segurança do juízo.
CAPÍTULO V
PRAZO
Dispõe o § 1o do art. 475- J, in verbis:
“ Art. 475- J .............................................................................................
§ 1º. Do ato de penhora e de avaliação será de imediato intimado o
executado, na pessoa de seu advogado ( art. 236 e 237) ou, na falta
deste, seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou
pelo correio, podendo oferecer impugnação, querendo, no prazo de
quinze(15) dias.”
Assim, a impugnação deve ser oferecida no prazo de 15 dias,
contados da intimação do auto de penhora e avaliação (art. 475-J, § 1º , CPC).
Em se tratando de efetivação das sentenças que imponham obrigação de
9 BEDAQUE, José Roberto dos Santos, “Algumas considerações sobre o cumprimento da sentença condenatória”, In Revista do Advogado, São Paulo, n. 85, maio/2006, p. 63-76. 10 CARNEIRO, Athos Gusmão, “Do cumprimento da sentença”, Aspectos Polêmicos da nova execução, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 51-91.
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fazer, não-fazer ou de entrega de coisa, o prazo conta-se da intimação para a
efetivação da sentença.
Por força do disposto no § 1º do art. 475 –J , do auto de penhora e
avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu
advogado, ou na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por
mandado ou pelo correio.
A contagem deste prazo segue as regras comuns, iniciando-se da data
da publicação do ato no órgão de imprensa oficial ou a partir da juntada aos
autos do mandado ou do aviso de recebimento cumprido, respeitando-se o que
prevê o art. 241 do CPC.
A existência de prazo não impede que, antes do seu curso ter início, o
executado apresente a impugnação. Poderá fazê-lo, desde que respeitados os
outros requisitos para admissibilidade da impugnação.
De ressaltar, ainda, que alguns cartórios têm deixado de lavrar o termo
de penhora nos autos, por se tratar de formalidade de nenhum efeito prático.
Assim, caso a penhora de bens do executado recaia sobre ativos financeiros
disponíveis, operacionalizada via on line através do convênio BacenJud (art.
655-A do CPC), o prazo para a impugnação fluirá a partir da intimação do
respectivo bloqueio judicial, fazendo-se totalmente desnecessária a lavratura
de qualquer outro termo nos autos.
CAPÍTULO VI
PRECLUSÃO TEMPORAL
O legislador não esclareceu se há preclusão temporal do ônus de
impugnar, acaso não respeitado o prazo de 15 dias.
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A resposta variará de acordo com o conteúdo que pode ser deduzido
na impugnação, ou seja, matérias que podem ser alegadas a qualquer tempo e
as exceções substanciais supervenientes.
Não há preclusão em relação às matérias que podem ser alegadas a
qualquer tempo aplicando-se, por analogia, o disposto no art. 303, II, CPC. É o
caso da alegação de pagamento ou de defeitos que comprometam a
admissibilidade do procedimento executivo. Também não haverá preclusão em
relação a matéria que, por força de lei, podem ser alegadas a qualquer tempo,
como é o caso da prescrição (art. 193 do CPC).
Haverá preclusão, porém, do poder de alegar exceções substanciais
supervenientes (compensação superveniente, p. ex), bem como das questões
relacionadas a interesses disponíveis (como é o caso da discussão sobre a
avaliação ou excesso de execução). A preclusão é do poder de alegar tais
questões como defesa, à semelhança do que ocorre em relação a questões
que podem ser deduzidas na defesa da fase de conhecimento. Isso não
significa que o magistrado estará necessariamente vinculado ao quanto
afirmado pela exeqüente: a não manifestação tempestiva do réu não tem a
aptidão de tornar verossímil o absurdo. Cálculos absurdos, por exemplo,
poderão ser revistos posteriormente pelo magistrado.
CAPÍTULO VII
LEGITIMIDADE PARA APRESENTAR A
IMPUGNAÇÃO
O Código de Processo Civil não diz quem é autorizado a apresentar
impugnação. Limita-se a afirmar que o executado deverá ser intimado para,
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querendo, fazê-lo. É evidente que o principal interessado em deduzir
impugnação é o executado. Porém, a autorização para tanto não é apenas sua,
devendo-se aqui também aplicar a interpretação prevista para os embargos à
execução. Em paralelo ao que acontece nos embargos à execução, também se
deve autorizar ao cônjuge do executado apresentar impugnação, ainda quando
não seja parte no processo. É que a incidência da execução sobre o patrimônio
da família impõe a autorização para o cônjuge apresentar impugnação,
especialmente porque poderá vir a sofrer os efeitos concretos da execução.
Não se trata de permitir que o cônjuge venha a defender sua meação, ou seus
bens reservados ou próprios, contra eventual penhora indevida. Para tanto está
prevista a vida dos embargos de terceiro (art. 1.46, § 3º, do CPC). A
autorização para o cônjuge apresentar impugnação se presta a lhe permitir
alegar as matérias específicas arroladas no art. 475-L, simplesmente porque
sua condição particular fará com que possa sofrer faticamente, os efeitos da
execução.
O terceiro que teve seus bens penhorados na execução – porque
sujeitos à responsabilidade patrimonial – também deve ter a possibilidade de
apresentar impugnação. É evidente a sua legitimidade para apresentar
impugnação, especialmente porque, ultima ratio, é o terceiro quem vai
responder pela dívida com o seu patrimônio.
CAPÍTULO VIII
CONTEÚDO
8.1. OBSERVAÇÃO INICIAL
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O caput do art. 475-L apresenta de forma expressa o conteúdo da
impugnação anunciando tratar-se de rol exaustivo. Pelo menos à primeira vista,
se depreende da expressão “somente”. Ao interpretar o texto, parte da
doutrina entende que as hipóteses ali constantes são numerus clausus.
Corrente defendida por Danilo Knijnik11 e Hugo Filardi12
Contudo, existem doutrinadores que afirmam não ser um rol taxativo.
Esta controvérsia já existia no sistema revogado e perdura com a modificação
legislativa. Tanto a redação anterior do art. 741 (aplicável aos embargos na
execução movida contra a Fazenda Pública) como a atual dicção do art. 475-L
afirmam que a matéria estipulada nos respectivos incisos é taxativa o que
esta representado pelas locuções “só” e “somente” constantes no caput dos
respectivos comandos.
Hermes Zaneti Júnior e Rodrigo Mazzei13 explicam o alcance do art.
741, em lição também aplicável ao art. 475-L, afirmando:
“Na realidade, em sede de embargos à execução, poderá o julgador
exercer o controle de admissibilidade da execução já iniciada,
examinando todas as questões de ordem pública que envolvem a
causa. Nessas condições, inúmeras matérias (de ordem pública)
transbordam o rol do art. 741 e que podem ser alegadas via embargos
à execução. Claro que se toda questão estrutura ao processo de
execução deve ser aferida de ofício pelo juiz, com mais razão poderá
ser apontada pelo interessado, isto é pelo executado nos seus
embargos. Faz-se essa ressalva diante da possibilidade de leitura
açodada levar à suposta limitação das matérias de ordem pública
11 KNIJNIK, Danilo, A nova execução, Rio de Janeiro, Forense, 2006, p. 148. 12 FILARDI, Hugo, Cumprimento de sentença: Comentários sobre a Lei 11.232/2005, Revista de Processo, Ano 32, n. 149, São Paulo, Revista dos Tribunais, julho/2007, p. 152. 13 MAZZEI,Rodrigo, Reforma do Código de Processo Civil, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2006, p. 276.
25
dispostas no art. 741 do Código de Processo Civil, em casos que não
seria possível a restrição.(...)
Em resenha, o rol do art. 741 possui cognição horizontal limitada,
contudo merece temperamento na sua interpretação, visto que existem
outras questões de ordem pública, ligadas à admissibilidade da
execução, a merecer apreciação em sede de embargos, diante da sua
essência de indisponibilidade.”
Na mesma linha, explica Humberto Theodoro Júnior14:
“A limitação dos temas manejáveis na oposição do devedor, na
espécie, decorre da impossibilidade de se reabrir discussão sobre o
mérito da dívida declarada na sentença, visto que sobre os efeitos
desta incide a autoridade da res judicata.
É por isso que se permiti argüir nulidade da citação no processo de
conhecimento, ou inexigibilidade do título, ou acumulação indevida de
execuções, ou ainda excesso da execução e sua nulidade posterior à
penhora (CPC, art. 741, nº I a V). Em todos esses casos, ou não se
formou a coisa julgada, ou esta não abrange, no todo ou em parte,
aquilo que o credor pretende exigir em juízo.
As demais exceções, fundadas em causas extintivas próprias do direito
obrigacional, estas somente são admissíveis nos embargos à
execução da sentença quando se refere a fatos supervenientes à
condenação (CPC, art 741, VI).”
Alexandre Freitas Câmara15 entende que, além das matérias expostas
no art. 475-L, pode ser ventilada qualquer outra de ordem pública, tocante à
admissibilidade da tutela executiva, que é cognoscível de ofício inclusive.
14 THEODORO JÚNIOR, Humberto, “Os embargos do devedor após as reformas do Código de Processo Civil efetuadas pelas leis 11.232 e 11.382, Revista IOB de Direito Civil e Processual Civil, Ano VIII, n. 46, São Paulo, IOB Thompson, mar/abr/2007, p.30. 15 CÂMARA, Alexandre Freitas, A nova execução de sentença, Rio de Janeiro, Lumin Júris, 2006, p. 47.
26
Para Antonio Adonias Bastos16 o rol do art. 475-L é exemplificativo,
ficando, no entendo, restrito às limitações decorrentes da coisa julgada.
Dispõe o art. 475-L, CPC:
“Art. 475-L. A impugnação somente poderá versar sobre:
I- falta ou nulidade da citação, se o processo correu à revelia;
II- inexigibilidade do título;
III- penhora incorreta ou avaliação errônea;
IV- ilegitimidade das partes;
V- excesso de execução;
VI- qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da
obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação, ou
prescrição, desde que superveniente à sentença.”
A incompetência, o impedimento e a suspeição não estão arrolados
nos incisos do art. 475-L, porque a via adequada para sua veiculação é a
exceção e não a impugnação. E tal exceção não precisa ser apresentada
necessariamente junto com a impugnação, mas sim dentro dos quinze dias
subseqüentes ao conhecimento do fato gerador da incompetência, do
impedimento ou da suspeição (art. 305).
O rol apresentado no art. 475-L não impede e nem poderia impedir a
alegação de objeções, desde que posteriores ao trânsito em julgado da
sentença. A coisa julgada sana qualquer defeito e nulidade que pudesse existir
no processo, sendo que, com a sua formação, qualquer alegação que o réu
pudesse ter apresentado à pretensão do autor não poderá mais ser trazido à
apreciação do Judiciário ( art. 474 do CPC).
Portanto, qualquer defesa que pudesse ter sido oferecida na fase de
conhecimento, tenha ou não sido deduzida, não poderá mais ser apresentada.
16 BASTOS, Antonio Adonias, A defesa do executado de acordo com os novos regimes da execução, Salvador, Jus Podivm, 2008, p. 130.
27
Seu exame resta inviabilizado, porque a coisa julgada formada impede a sua
apreciação. Entretanto objeções processuais surgidas depois do trânsito em
julgado, como o impedimento do juiz que processa a execução, se distinto
daquele que julgou a causa, embora não incluídas no art. 475-L, certamente
devem ser admitidas.
Do mesmo modo, tratando-se de execução de decisão provisória,
todas as objeções processuais, porque não sujeitas a preclusão (art.301, § 4º,
do CPC), e as defesas de mérito que têm esta qualificação ( art. 303 e 462 do
CPC) podem ser apresentadas até o trânsito em julgado da decisão que
constitui o título executivo, porque sobre elas não hão preclusão ( art. 473 do
CPC, a contrario sensu).
8.2 FALTA OU NULIDADE DA CITAÇÃO, SE O
PROCESSO CORREU À REVELIA (ART. 475-L, I, CPC)
A impugnação tendo como fundamento o inciso I do art. 475-L
pressupõe a cumulação de dois requisitos. Não basta a ausência ou a
nulidade da citação, mas que o processo tenha corrido à revelia, isto é, o réu
não tenha participado da fase de conhecimento.
Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart17 afirmam que:
“É preciso atentar para o fato de que este defeito não tem cabimento
em qualquer forma de impugnação, mas apenas em relação àuela que
se dirige a atacar a execução fundada em sentença condenatória.
Realmente, os outros títulos – ressalvada a sentença arbitral, mas por
outra razão – não subordinam à citação prévia ou, ao menos, não tem
o juiz a competência para desfazê-los sob tal fundamento.”
De forma diversa entende Antonio Adonias Bastos18:
17 ARENHART, Sergio Cruz, Curso de Processo Civil, Execução, v. 3, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2007, p. 293.
28
“Entendemos que a matéria do art. 475-L, I, pode ser utilizada para
impugnar qualquer título judicial, já que a citação na fase cognitiva é
imprescindível a qualquer espécie de atividade jurisdicional e que a
decisão da impugnação não tem eficácia de desconstituir o título
judicial, mas de declarar a sua inexistência. Cuida-se de situação em
que o executado visa obstar execução que não está lastreada em
título.”
Vícios anteriores do processo, como o da inobservância do prazo em
dobro para contestar, não podem ser examinador por ocasião do cumprimento
da sentença.
A inocorrência da revelia desautoriza a apresentação de impugnação
fundada no inciso I, por mais deficiente que tenha sido a citação.
A coisa julgada formada sobre a sentença sana qualquer defeito
processual que pudesse haver na fase de conhecimento. Tem neste inciso uma
das raras exceções a tal efeito.
Há casos de decisão judicial existente que pode ser invalidada após o
prazo da ação rescisória. É o caso da decisão proferida em desfavor do réu,
em processo que correu à sua revelia, quer porque não fora citado, quer
porque o fora de maneira defeituosa (art, 475-L, I). Nesses casos, a decisão
judicial está contaminada por vícios transrescisórios, e esses defeitos podem
ser argüidos pelo executado, em sua impugnação. Esse inciso diz respeito a
fatos anteriores à formação do título executivo que têm relevância para
desconstituí-lo e que, pois, encapa à eficácia preclusiva da coisa julgada ( art.
474 do CPC).
18 BASTOS, Antonio Adonias, A defesa do executado de acordo com os novos regimes da execução, Salvador, Jus Podivm, 2008, p. 132.
29
A invalidação da sentença nesses casos pode ser obtida, tanto pelo
ajuizamento de demanda quanto incidentalmente, com o acolhimento da
argüição de nulidade feita pelo executado em sua defesa. Trata-se da chamada
querela mullitatis insabilis que considera inexiste o processo em que não ocorre
a citação, ou em que esta não se faz na forma prevista em lei. Ora, se o
processo é inexistente, não se pode considerar como existentes e, por
conseqüência, válidos os atos nele praticados. Por conta disto, a sentença
proferida neste processo não pode subsistir, conduzindo à inviabilidade da
execução nela assentada.
8.3. INEXIGIBILIDADE DO TÍTULO (ART. 475, L, II, CPC)
Um dos requisitos da execução é a existência de título que contenha
obrigação líquida, certa e exigível (art. 586 do CPC). Neste passo, a
exigibilidade diz respeito à pretensão obrigacional estampada no título,
vinculando-se tanto a este como àquela a um só tempo.
Será inexigível a pretensão se pender alguma condição ou termo que
iniba a eficácia do direito reconhecido na sentença (art. 572 do CPC).
Alexandre Freitas Câmara19 afirma que:
“exigibilidade diz respeito ao interesse-necessidade, pois, não há
necessidade de tutela jurisdicional quando o que se pretende é a
realização de um crédito ainda não vencido”.
Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart20 advogam que:
19 CÂMARA, Alexandre Freitas, A nova execução de sentença, Rio de Janeiro, Lumin Júris, 2006, p. 429-430. 20 ARENHART, Sergio Cruz, Curso de Processo Civil, Execução, v. 3, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2007, p. 299.
30
“A ‘inexigibilidade do título’ é expressão genérica, que fundamenta
qualquer alegação que possa negar força executiva ao título apresentado.”
Araken de Assis21 entende que o inciso refere-se à “inexigibilidade, ou
seja, à falta de título ou à ausência de seus respectivos atributos (certeza e
liquidez)”, “ inexigibilidade do título executivo impropriamente mencionada no
inciso II do art. 475 representa excesso de execução (art. 475-L, V c/c art. 743,
IV e V) e integra, portanto, a correspondente rubrica.
8.4. DECISÃO FUNDADA EM LEI OU ATO NORMATIVO
REPUTADO INCONSTITUCIONAL PELO SUPREMO TRIBUNAL
FEDERAL (ART. 475-L, § 1º , CPC)
O § 1º do art. 475- L, contém dispositivo que traz hipótese de rescisão
da decisão judicial, por motivo que pode ser anterior à formação do título
executivo:
“Para efeito do disposto no inciso II do caput deste artigo, considera-se
também inexigível o título fundado em lei ou normativo declarados
inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal, ou fundado em
aplicação ou interpretação da lei ou ato normativo tidas pelo Supremo
Tribunal Federal como incompatíveis com a Constituição Federal.”
O enunciado é reprodução quase integral do disposto no antigo
parágrafo único do art. 741, ora revogado, acrescentado inicialmente pela MP
nº 1.977-37/2000, mas que vigia por força da MP 2.180-35/2001. O texto,
agora, foi incorporado ao CPC por determinação da Lei Federal nº
11.232/2005.
21 ASSIS, Araken, Cumprimento da Sentença, Rio de Janeiro, Forense, 2006, p.321.
31
Para Fredie Diier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Oliveira22 a
aplicação do dispositivo pressupõe:
a) que a decisão do STF tenha sido anterior à formação do título
judicial;
b) que tendo sido a decisão proferida posteriormente à formação do
título judicial, o STF tenha dado eficácia retroativa, a ponto de atingir a coisa
julgada. Nesse caso, para não deixar a coisa julgada eternamente instável,
parece que é o caso de aplicar por analogia o prazo da ação rescisória e não
permitir a rescisão da sentença se essa decisão do STF ocorrer após o prazo
de dois anos contados do trânsito em julgado da decisão exeqüenda mesmo se
a ela for atribuída eficácia retroativa. O CPC nada diz sobre o assunto, mas
permitir que uma decisão judicial fique eternamente instável parece solução
que aniquila, completamente, a garantia da coisa julgada;
c) a não-incidência em relação às coisas julgadas anteriores à vigência
do dispositivo.
No entanto parece ser indiferente para a aplicação dessa regra a
circunstância de a decisão do Supremo Tribunal Federal ser anterior ou
posterior à formação do título executivo. Em qualquer das hipóteses, a
inexigibilidade do título está caracterizada. Também não há ressalva no texto
legal sobre a necessidade de a inconstitucionalidade ser pronunciada em via
direta pelo Supremo Tribunal Federal. Aplica-se a norma indistintamente aos
casos de controle concentrado e difuso, direto ou incidental,
independentemente de eventual suspensão da norma pelo Senado Federal
(art. 52, X, da CF).
Alexandre Freitas Câmara23 sustenta que a declaração de
inconstitucionalidade há de emanar do controle direto, por operar efeitos erga
22 DIDIER JR, Fredie, Curso de Direito Processual Civil, Salvador, Jus Podivm, 2007, p.466.
32
omnes, ao passo que a declaração incidenter tantum não faz coisa julgada
nem entre as partes do processo em que foi proferida, por consistir somente no
fundamento para a solução do litígio (art. 569 do CPC).
Araken de Assis e Eduardo Talamini24 entendem que aplicação do § 1º
do art. 374-L pressupõe que a inconstitucionalidade tenha sido reconhecida em
sede de controle abstrato ou de controle concreto, neste caso com a
suspensão da eficácia da lei pelo Senado, com lastro no art. 52, IX, da
Constituição Federal de 1988.
Para Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart25 o § 1º do art.
475-L é inconstitucional uma vez que nega a autoridade da coisa julgada
material e, assim um dos alicerces do Estado de Direito:
“(...) o § 1º do art. 475-L é, a nosso ver, inconstitucional, por pretender
dar à jurisdição o poder de controlar a compatibilidade das suas
própria decisões, já acobertadas pela coisa julgada material, com as
posteriores manifestações do Supremo Tribunal Federal o poder de
impor a sua decisão sobre a coisa julgada, fazendo surgir uma espécie
de controle de constitucionalidade das decisões jurisdicionais
revestidas pela coisa julgada material.”
8.5. PENHORA INCORRETA OU AVALIAÇÃO ERRÔNEA
(ART. 475-L, III, CPC)
23 CÂMARA, Alexandre Freitas, A nova execução de sentença, Rio de Janeiro, Lumin Júris, 2006, p. 430-431. 24 TALAMINI, Eduardo, “Embargos à execução de título judicial eivado de insconstitucionalidade”, Relativização da coisa julgada - enfoque crítico”, Salvador, Jus Podivm, 2006, p. 128. 25 ARENHART, Sergio Cruz, Curso de Processo Civil, Execução, v. 3, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2007, p. 300.
33
A previsão do inciso III do art. 475- L demonstra que a intimação para
a impugnação (a que alude o art. 475-J, § 1º) somente deve ocorrer após a
avaliação dos bens penhorados. Isto porque, sendo deixada a avaliação para
outro momento, é logicamente inviabilizada a alegação de “avaliação errônea”
na impugnação.
Assim, cabe ao executado, se quiser discutir o valor da avaliação,
fazê-la já na impugnação, sob pena de preclusão.
Penhora incorreta é aquela que não observa a gradação legal (art. 655
do CPC), a que incide sobre bens absolutamente (art. 649 do CPC) ou
relativamente (art. 650 do CPC) impenhoráveis, a que grava sobre bens de alto
valor, havendo outros de menor valor, suficientes à garantia do juízo, etc.; a
avaliação é errônea quando não estima corretamente o objeto avaliado,
quando o faz em desacordo com o preço corrente no mercado, etc., rendendo
ensejo à impugnação, de acordo com o art. 475-L, inc III, do CPC.
8.6. ILEGITIMIDADE DAS PARTES (ART. 475- L, IV, CPC)
Pode o executado argüir, em sua defesa, a ilegitimidade das partes.
Não se trata de ilegitimidade que poderia ter sido deduzida na fase de
conhecimento, em razão da eficácia preclusiva da coisa julgada ( art. 474 do
CPC), que protege o título judicial. A ilegitimidade, aqui, diz respeito à fase
executiva, tão-somente.
No processo executivo a legitimidade das partes constitui pressuposto
necessário para o desencadeamento válido e regular das medidas satisfativas
predispostas no ordenamento jurídico em face do devedor inadimplente.
Têm legitimidade para promover a execução, as pessoas elencadas no
art. 566, incisos I e II, do CPC: (a) o credor, a quem a lei confere titulo
executivo e (b) o Ministério Público, nos casos prescritos em lei.
34
Também podem promover a execução, ou prosseguir na que já foi
iniciada, as pessoas referidas no art. 567, incisos I a III, do CPC: (a) o espólio,
os herdeiros ou os sucessores do credor no direito resultante do título
executivo; (b) o cessionário por ato "inter vivos" e (c) o sub-rogado, nos casos
de sub-rogação legal ou convencional.
A ilegitimidade tanto pode ser da parte ativa quanto da passiva e
decorre de não ser ela (parte) o vencedor ou vencido na ação de
conhecimento, nem seu sucessor ou garante, podendo também ser ad causam
ou ad processum, conforme diga respeito à titularidade da obrigação ou à
capacidade para agir em juízo.
Em todos esses casos, ao executado é lícito argüir a ilegitimidade "ad
causam" ou "ad processum", visando excluir sua responsabilidade na
expropriação de bens tendente à satisfação do direito do credor.
Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart26 afirmam que “ se a
execução constitui apenas a fase final da ação que conduziu à sentença
condenatória, o réu apenas poderá argüir a ilegitimidade das partes a partir da
relação de adequação como o requerimento de execução e a sentença
condenatória. Ou seja, a impugnação permite apenas que se aponte defeito
nos pólos da fase executiva – sempre a partir do que restou cristalizado na
sentença condenatória-, ou porque quem requer a execução não poderia faze-
lo, ou porque o executado não responde pela dívida exigida.”
8.7. EXCESSO DE EXECUÇÃO (ART. 475-L, V, CPC)
Em sua defesa, pode o executado alegar excesso de execução, que
ocorre, de acordo com o art. 743 do CPC, nas seguintes hipóteses:
I- quando o credor pleiteia quantia superior à do título;
26 ARENHART, Sergio Cruz, Curso de Processo Civil, Execução, v. 3, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2007, p.302.
35
II- quando recai sobre coisa diversa daquela declarada no
título;
III- quando se processo de modo diferente do que foi
determinado na sentença;
IV- quando o credor, sem cumprir a prestação que lhe
corresponde, exige o adimplemento da do devedor (art. 582);
V- se o credor não prova que a condição se realizou.
Quando o executado alegar que o credor pleiteia quantia superior à do
título, é preciso atentar para dois aspectos:
a) Conforme o § 2º do art. 475-L, cabe ao impugnante declarar
de imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa
impugnação. O executado deverá demonstrar, a partir da sua memória de
cálculo, a razão do erro do exeqüente e o motivo que evidencia que o seu valor
é o correto. Não fosse assim, não teria sentido exigir do exeqüente a
discriminação da sua memória de cálculo quando do requerimento de
execução (art, 475-J e 614, II do CPC).
b) Nesses casos, há sempre uma parcela incontroversa,
situação que permite o prosseguimento da execução em relação à parcela não-
impugnada. Não obstante o silêncio normativo, permite-se o prosseguimento
da execução em relação à parcela não-impugnada.
No caso de liquidação por arbitramento ou por artigos na impugnação o
executado deverá apresentar as razões da sua irresignação, demonstrando o
erro no arbitramento havido, ou debatendo a prova apresentada na liquidação
por artigos.
Resta claro que a discussão dos termos da liquidação, pela via da
impugnação somente será possível caso não tenha ocorrido anteriormente. No
caso de o juiz ter decidido sobre a liquidação antes de iniciada a execução, a
questão resta preclusa, não podendo ser retomada através da impugnação.
36
8.8. QUALQUER CAUSA IMPEDITIVA, MODIFICATIVA OU
EXTINTIVA DA OBRIGAÇÃO, COMO PAGAMENTO, NOVAÇÃO,
COMPENSAÇÃO, TRANSAÇÃO OU PRESCRIÇÃO, DESDE QUE
SUPERVENIENTE À SENTENÇA ( ART. 475- L, VI, CPC)
Inserem-se aqui todas as causas que, por alguma razão, alteram o
conteúdo da obrigação exigida, seja para extingui-la, seja para modificar seu
conteúdo, seja ainda para impedir sua exigibilidade.
Pode o executado alegar, em sua defesa, qualquer fato impeditivo,
modificativo ou extintivo da obrigação, seja uma exceção substancial, como a
prescrição, seja uma objeção substancial, como o pagamento. O rol do inciso
VI do art. 475-L, é exemplificativo, para Araken Assis27.
Exige-se, porém, que se trate de fato superveniente ao trânsito em
julgado da decisão exeqüenda, como respeito ao comando do art. 474 do CPC,
que cuida da eficácia preclusiva da coisa julgada.
Tratando-se de fato impeditivo, modificativo ou extintivo da obrigação
exeqüenda, o ônus da prova é do impugnante, de acordo com a distribuição
clássica do ônus da prova (art. 333, inc. II, do CPC); logo, o simples silêncio do
exeqüente não importa, por si só, em acolhimento da impugnação, devendo a
causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação se cumprida
comprovada nos autos, à mercê do ônus probatório exclusivo do executado.
Parece óbvio que as causas impeditivas e modificativas são conduzirão
necessariamente à extinção da execução. O acolhimento de tais alegações
poderá resultar na paralisação da execução (em relação às causas impeditivas
ou na alteração do seu conteúdo )no caso de matérias modificativas).
27 ASSIS, Araken, Cumprimento da Sentença, Rio de Janeiro, Forense, 2006, p. 327.
37
A sentença que acolher a alegação de desaparecimento ou
impedimento da obrigação implica, necessariamente, na extinção da execução,
sendo atacável por via de recurso apelatório; no entanto, a que acolher a
alegação de mera modificação daquela enseja apenas a adequação da
execução aos limites da obrigação modificada, recorrível mediante agravo de
instrumento, nos termos do art. 475-M, § 3º, do CPC.
CAPÍTULO IX
HIPÓTESES DE REJEIÇÃO
LIMINAR DA IMPUGNAÇÃO
9.1 PRECLUSÃO TEMPORAL
Embora não o diga a lei, a impugnação obviamente haverá de ser
rejeitada de plano, quando apresentada fora do prazo legal, em virtude da
incidência do fenômeno da preclusão temporal (art. 183 do CPC).
Portanto, uma vez decorrido o prazo legal, a impugnação apresentada
a destempo deve ser liminarmente rejeitada, desafiando tal decisão agravo de
instrumento para a superior instância.
9.2. ILEGITIMIDADE DE PARTE E FALTA DE INTERESSE
PROCESSUAL
Conquanto não se cuide de ação autônoma mas de mero incidente
processual, a impugnação deve, igualmente, ser liminarmente rejeitada nas
hipóteses do art. 295, incs. II e III, do CPC, isto é, quando o impugnante for
parte ilegítima ou carecer de interesse processual.
38
De fato, para se propor ou contestar uma ação, faz-se necessário ter
interesse jurídico e legitimidade (art. 3º do CPC). O termo ação deve ser
entendido em sentido amplo, ora significando o direito público subjetivo de
pedir a tutela jurisdicional (ação stricto sensu) em todas as suas modalidades,
ora como a prerrogativa processual de opor exceções, recorrer, ingressar como
assistente e suscitar incidentes processuais. O interesse processual, por seu
turno, se consubstancia na necessidade do autor estar em juízo e na utilidade
prática que o provimento jurisdicional poderá proporcionar-lhe.
Por conseguinte, o terceiro não responsável pela execução e que não é
parte no feito nem pode pretender, a qualquer título, a posição da parte na
relação jurídico-processual executiva, não está legitimado para opor
impugnação ao cumprimento da sentença. Se, porventura, atingido em seu
patrimônio jurídico por atos executivos, poderá defender-se através de
embargos de terceiro (art. 1.046 do CPC) que são o remédio processual
próprio para repelir os esbulhos judiciais não só na execução mas em qualquer
outro procedimento.
9.3. INADEQUAÇÃO PROCEDIMENTAL
O juiz também negará seguimento à impugnação quando a petição que
lhe corresponder não estiver em termos, ou seja, quando não observar a forma
procedimental adequada, ex vi do que dispõe o art. 284 do CPC.
Dentre as impropriedades capazes de ensejar a rejeição liminar da
impugnação, pode-se catalogar: (a) a falta de instrumento procuratório,
tratando-se de patrono ainda não habilitado na causa; (b) a ausência de
capacidade postulatória do advogado do impugnante; (c) a falta de pagamento
do preparo, onde a lei de organização judiciária o exige (art. 257 do CPC); (d) a
inépcia da petição e outras irregularidades capazes de comprometer a correta
compreensão das matérias objeto de argüição pela via impugnatória.
Todavia, antes do indeferimento deve o juiz facultar ao impugnante o
prazo de dez dias para emendar ou adequar a petição impugnativa, caso em
39
que só terá lugar a rejeição quando não cumprida a diligência judicial (art. 284,
parágrafo único, do CPC).
9.4 AUSÊNCIA DE SEGURANÇA DO JUÍZO, PELA
PENHORA
À semelhança do que se dá em relação aos embargos do devedor, a
segurança do juízo, pela penhora de bens ou pelo depósito de valor, quando
admitido, se qualifica como verdadeiro requisito ou condição de admissibilidade
para a oposição e o recebimento da impugnação.
Antes da penhora de bens ou do depósito judicial do quantum
debeatur, o juízo não estará suficientemente garantido e, portanto, ausente
condição de admissibilidade a permitir a oposição e o conhecimento da
impugnação.
9.5. ARGÜIÇÃO DE MATÉRIAS ESTRANHAS AO ART.
475-L DO CPC
A impugnação deve ser rejeitada de plano quando não se fundamentar
em qualquer uma das hipóteses previstas no art. 475-L do CPC, para aqueles
que entendem envolver numeração taxativa, não se admitindo interpretação
extensiva.
9.6 NÃO INDICAÇÃO DO VALOR DEVIDO EM EXCESSO
DE EXECUÇÃO
Importante inovação introduzida pela reforma diz respeito à
impugnação fundada em excesso de execução (art. 475-L, inc. V, do CPC),
não mais se admitindo a impugnação genérica.
40
Com efeito. De acordo com a dicção literal do § 2º, a impugnação será
liminarmente rejeitada quando o impugnante não indicar, desde logo, o valor
que entende devido. Referido dispositivo legal está disposta nos seguintes
termos:
"§ 2º. Quando o executado alegar que o exeqüente, em excesso de
execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-
lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, sob pena de
rejeição liminar dessa impugnação".
Doravante, a alegação de excesso de execução deverá vir sempre
acompanhada da indicação do valor que o executado entende ser o correto,
sob pena de rejeição liminar da impugnação ou de não-conhecimento desse
fundamento específico. Trata-se, a toda vista, de salutar exigência, porquanto
irá obstar que o executado venha aduzir, de forma genérica, a ocorrência de
excesso de execução, matéria esta geralmente alegada com propósito de
protelar ao máximo a realização do direito declarado na sentença.
Ressalte-se, todavia, que a rejeição liminar da impugnação só terá
lugar quando o excesso de execução for a única alegação feita pelo executado.
Se, concomitantemente ao excesso, houver argüição de outras das matérias
tratadas no art. 475-L do CPC, restará prejudicado apenas o exame do mérito
daquela, devendo a impugnação prosseguir para posterior julgamento destas.
De resto, registre-se que rejeição liminar da impugnação, em todas as
hipóteses retratadas no presente item, se qualifica como medida preliminar e
unilateral que se faz de plano, fora do contraditório, de forma que o juiz não
tem necessidade sequer de ouvir o exeqüente impugnado.
Todas as hipóteses de rejeição liminar da impugnação compreendem
casos de indeferimento da petição "inicial" sendo, destarte, impugnáveis por via
do recurso de agravo (art. 475-M, § 3º, do CPC), posto que tais decisões, de
cunho interlocutório (art. 162, § 2º, do CPC), não extinguem a relação jurídico-
processual executiva.
41
Nesta quadra cumpre indagar se a rejeição se dará de plano, ou se o
juiz deverá facultar prazo ao impugnante para emenda da petição, já que a lei
não trata especificamente do caso.
No particular, uma solução intermediária deve prevalecer: evidente o
caráter meramente protelatório da alegação, impõe-se sua rejeição desde logo;
no entanto, havendo relevância jurídica na matéria alegada, entende-se que o
juiz deve facultar o prazo de dez dias para aditamento da petição impugnativa,
rejeitando-a somente na hipótese de inércia do impugnante, por aplicação
supletiva do disposto no art. 284, parágrafo único, do CPC.
CAPÍTULO X
DESISTÊNCIA DA EXECUÇÃO E
CONSENTIMENTO DO EXECUTADO
A execução fica à disposição do credor. Não há na fase executiva a
simetria que existe, no particular, na fase de conhecimento. A execução é feita
para atender aos interesses do exeqüente, e esse é norte que deve ser
observado pelo magistrado, respeitados, obviamente, outros princípios
processuais. Trata-se do princípio da disponibilidade da execução.
O credor pode desistir de toda execução ou de algum ato executivo
independente do consentimento do executado mesmo que tenha apresentado
embargos à execução ressalvada a hipótese de esses embargos versarem
sobre questões relacionadas á relação jurídica material (mérito da execução),
quando a concordância do executado/embargante se impõe,
Aplicado subsidiariamente esse regramento ao cumprimento da
sentença, é possível dizer que, uma vez apresentada a impugnação, o
exeqüente poderá desistir da execução, sem o consentimento do executado, se
a defesa tiver por conteúdo questões processuais; se a defesa for de mérito, o
42
consentimento do executado se impõe como condição de eficácia da
desistência do exeqüente. Se ainda não foi apresentada a impugnação, a
desistência do exeqüente independe de manifestação do executado.
Na fase executiva, o regramento da desistência é diferente daquele
previsto na fase de conhecimento, em que a concordância do demandado é
exigida sempre que houver resposta, não fazendo a lei referência a nenhum
conteúdo específica da defesa.
CAPÍTULO XI
EFEITOS SOBRE A EXECUÇÃO -
CONCESSÃO DE EFEITO SUSPENSIVO À
IMPUGNAÇÃO
No regime anterior ao sistema executivo instituído pelas Leis nºs
11.232/2005 e 11.382/2006, os embargos do executado, uma vez recebidos,
suspendia a execução. Dispunha o revogado § 1º do art. 739:”Os embargos
serão sempre recebidos com efeito suspensivo”. A sentença de improcedência
dos embargos fazia desaparecer o efeito suspensivo da execução. Eventual
interposição de apelação não reativava a suspensão da execução. Ou seja, em
caso de sentença de improcedência dos embargos, a execução prosseguia
normalmente, ainda que interposto recurso de apelação elo embargante.
O sistema executivo instituído pelas Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006
eliminou a regra da suspensividade da execução diante da apresentação de
reação – agora impugnação ou embargos do executado (art. 475-M e 739-A do
CPC).
43
O oferecimento da impugnação não suspende o procedimento
executivo automaticamente. O regramento, neste aspecto, é semelhante ao
dos embargos em execução de título extrajudicial (art. 739 do CPC).
O juiz, porém, pode a requerimento do executado, determinar a
suspensão do procedimento executivo, “desde que relevante seus
fundamentos e o prosseguimento da execução seja manifestamente suscetível
de causar ao executado grave dano de difícil ou incerta reparação” (art. 475-M,
caput, CPC) e desde que ouvido o exeqüente. Há, pois, quatro pressupostos:
requerimento do executado, manifestação do exeqüente, relevante fundamento
e perigo de grave dano de difícil ou incerta reparação.
Dessa decisão cabe agravo de instrumento. Deferido o efeito
suspensivo, a impugnação será instruída e decidida nos próprios autos e, caso
contrário, em autos apartados (art. 475-M, § 2º, CPC).
A suspensão do procedimento executivo é determinada pelo juiz e não
um efeito necessário da lei; é ope iudicis, e não ope legis. Os pressupostos
legais para a concessão do efeito suspensivo são semelhantes a outros
pressupostos legais autorizadores de medidas de urgência (art. 273, II, 461, §
3º, 558 etc).
O § 1º do art. 475-M prevê um contradireito (é uma exceção, exceptio
exceptionis, replicatio) do exeqüente, para o caso de o juiz determinar a
suspensão do procedimento executivo; é direito do exeqüente obter o
prosseguimento da execução desde que preste caução idônea, nos próprios
autos. Trata-se de uma contracautela oferecida pelo exeqüente, que impede a
suspensão do procedimento executivo. Da decisão que julgar a idoneidade da
caução, caberá agravo de instrumento.
44
Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart28 entendem que “a
suspensão da execução só é legítima quando é possível ao juiz demonstrar,
através de raciocínio argumentativo, que a relevância dos fundamentos da
impugnação e a possibilidade do dano se sobrepõem à sentença condenatória
e à normal produção dos seus efeitos.”
Para Antonio Adonias Bastos29, o verbo foi mal empregado pelo
legislador no caput do art. 475-M ao afirmar que o juiz “poderá” atribuir o efeito
suspensivo:
“Primeiramente, porque dá a idéia de que ele teria a discricionariedade
de atribuir, ou não, o efeito suspensivo, uma vez preenchidos os
requisitos legais. Como já visto anteriormente, entendemos tratar-se de
ato vinculado do magistrado, em observância ao princípio da
legalidade estrita. Em segundo lugar, porque a interpretação literal
daquele verbo também permitiria ao magistrado atuar de ofício, o que
é negado pelo § 2º do mesmo artigo de lei, que afirma que “deferido
efeito suspensivo, a impugnação será instruída e decidida nos próprios
autos e, caso contrário, em autos apartados”. Ao afirmar que o efeito
suspensivo será deferido, o legislador faz referência implícita ao
requerimento da parte, já que o juiz só pode deferir ou indeferi os
requerimentos que lhes são apresentados. Caso fosse hipótese de
atuação de ex officio, o § 2º estatuiria o seguinte: “ordenado o efeito
suspensivo” ou “determinado o efeito suspensivo...”.
Para Luiz Guilherme Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart30 embora o art.
475-M não contemple a exigência de prévia garantia do juízo para concessão
28 ARENHART, Sergio Cruz, Curso de Processo Civil, Execução, v. 3, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2007, p. 473. 29 BASTOS, Antonio Adonias, A defesa do executado de acordo com os novos regimes da execução, Salvador, Jus Podivm, 2008, p.141. 30 ARENHART, Sergio Cruz, Curso de Processo Civil, Execução, v. 3, São Paulo, Revista dos Tribunais, 2007, p.307-308.
45
do efeito suspensivo, razões de ordem sistemática impõem a sua adoção para
a concessão de feito suspensivo à impugnação:
“Não há racionalidade em exigir a prévia segurança do juízo para
outorgar efeito suspensivo aos embargos do executado (título
executivo extrajudicial) e deixar livre desta condição a concessão de
feito suspensivo à impugnação. Como é óbvio, a sentença
condenatória – por constituir o resultado de amplo debate entre as
partes e de aprofundada cognição judicial – merece maior credibilidade
que o título extrajudicial. Ora, se a lei expressamente prevê a
necessidade de garantia do juízo para outorga de efeito suspensivo
aos embargos do executado, o sistema evidentemente não deseja que
o processamento da impugnação com efeito suspensivo deixe o
exeqüente desamparado.
Portanto, a concessão de efeito suspensivo à impugnação em
princípio, depende de garantia do juízo – por penhora, caução ou
depósito idôneo. Tal garantia deve ser compatível com o valor da
execução.”
Ressalte-se que mesmo que o juiz conceda o efeito suspensivo, é
lícito ao exeqüente requerer o prosseguimento da execução, prestando caução
suficiente e idônea, nos próprios autos (art. 489-M, § 1º ). Quanto à idoneidade,
a garantia prestada pelo exeqüente pode ser real ou fidejussória. Quanto à
suficiência, deve vincular-se à extensão dos eventuais danos ao executado, e
não ao valor postulado na execução, já que ela tem a finalidade de proteger o
devedor em relação aos eventuais prejuízos que lhe possam advir do
prosseguimento da execução.
CAPÍTULO XII
RESPOSTA DO EXEQUENTE À IMPUGNAÇÃO
46
O CPC restou omisso quanto à resposta do exeqüente à impugnação
do executado e também quanto ao respectivo prazo.
Todavia, em face do princípio da bilateralidade da audiência, não paira
a menor dúvida de que se faz absolutamente necessária a intimação do
exeqüente para se manifestar sobre os termos da impugnação, em
homenagem aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa,
a menos que o juiz entenda de rejeitar de plano a impugnação, caso em que se
mostra desnecessária a oitiva da parte ex adversa, ante os princípios da
instrumentalidade das formas e da economia processual.
A intimação do exeqüente pode ser feita na pessoa do seu advogado,
por aplicação analógica do art. 316 (reconvenção).
Não havendo prazo legal, os doutrinadores divergem quanto ao
mesmo, Alexandre Câmara considera que o prazo é de cinco dias, se outro não
determinar o magistrado (art. 185 do CPC)31; Leonardo Greco32 sustenta que o
prazo é de quinze dias, em razão da isonomia, já que esse também é o prazo
para o oferecimento da impugnação.
CAPÍTULO XIII
JULGAMENTO E COISA JULGADA
O ato judicial que analisa a impugnação pode constituir decisão
interlocutória ou sentença, conforme o caso (art. 475-M, §3º, do CPC). Será
caracterizada como decisão interlocutória sempre que não acarretar extinção
31 CÂMARA, Alexandre Freitas, A nova execução de sentença, Rio de Janeiro, Lumin Júris, 2006, p. 125. 32 GRECO, Leonardo, “Primeiros comentários sobre a reforma da execução oriunda da Lei 11.232/05”, Revista Dialética de Direito Processual, São Paulo, Dialética, 2006, v. 36, p. 82.
47
da execução. Configurará decisão interlocutória se julgar improcedente a
impugnação, ou se, por exemplo excluir um dos executados do processo, ou
ainda, quando reconhecer a existência de causa impeditiva da execução.
Em todos os casos em que a solução da impugnação importar extinção
da execução, o ato judicial será caracterizado como sentença, sujeitando-se a
apelação.
Acolhida a impugnação, os efeitos variarão conforme o respectivo
conteúdo, podendo implicar ou uma invalidação do título judicial e do
procedimento executivo, com a reabertura da fase de conhecimento (art. 475-L,
I), ou uma redução do valor executado ( art. 475-L, V) ou o reconhecimento da
inexistência da obrigação (art. 475-L, VI).
Não acolhida a impugnação, a execução deverá prosseguir, assim, a
previsão do agravo de instrumento é correta e adequada, exatamente para
permitir o prosseguimento da fase executiva nos autos principais, que
continuarão no juízo a quo, enquanto pendente o processamento do recurso.
Se a impugnação for acolhida em parte, não haverá extinção da
execução e, portanto, o recurso cabível será o agravo de instrumento.
Deve por fim ser ressaltado que a caracterização do ato que julga a
impugnação como decisão interlocutória ou como sentença possui
repercussões no campo da sua estabilidade. Configurando decisão
interlocutória, sujeitar-se-á à preclusão, ficando a questão a salvo de outras
discussões no processo. Porém, caracterizando-se como sentença, receberá –
quando de mérito – a autoridade da coisa julgada, eliminando discussões a
propósito do tema decidido, mesmo fora do processo.
CAPÍTULO XIV
APLICAÇÃO NO ÂMBITO DO
48
PROCESSO DO TRABALHO
Dentre a comunidade jurídica trabalhista, muito se tem discutido sobre
a aplicabilidade das mudanças introduzidas pela Lei nº 11.232/2005 no âmbito
do processo do trabalho.
Muitos pregam que a adoção da Lei nº 11.232/2005 no processo do
trabalho é perfeitamente possível. Apesar de o processo trabalhista ser célere
por natureza, os defensores da aplicação do Código de Processo Civil baseiam
seu entendimento em dois princípios que norteiam a Justiça do Trabalho: o da
aplicação da norma mais benéfica e o da celeridade processual. Para eles, o
fato das alterações trazerem ainda mais agilidade ao processo as torna, por
conseqüência, benéficas aos trabalhadores, que teriam seus créditos
satisfeitos mais rapidamente.
Os que defendem a não-aplicação das novas regras processuais cíveis
ao processo do trabalho também têm ao seu lado argumentos jurídicos
bastante plausíveis. Para eles, as alterações do Código de Processo Civil não
podem ser extensivas ao âmbito trabalhista devido a dois preceitos contidos na
própria Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). O primeiro dispõe
expressamente que o processo trabalhista é regido pelas normas estabelecidas
na CLT. O segundo reza que apenas nos casos omissos é que o Código de
Processo Civil poderá ser utilizado, e ainda assim, somente se não houver
incompatibilidade com as regras trabalhistas.
A mais significativa influência do processo do trabalho no processo
civil, na nossa ótica, reside justamente na consagração da execução de título
judicial – passando pelas etapas da liquidação (artigos 475-A a 475-H) e
cumprimento da sentença (artigos 475-I até 475-R) – enquanto
fase/desdobramento do processo principal, desonerando a máquina judiciária e
acelerando a resolução da demanda. Mas não pára por aí.
O novo artigo 475-A do CPC ("Quando a sentença não determinar o
valor devido, procede-se à sua liquidação") buscou inspiração evidente no
49
artigo 897, § 1o da CLT, que dispõe: "Sendo ilíquida a sentença exeqüenda,
ordenar-se-á, previamente, a sua liquidação, que poderá ser feita por cálculo,
por arbitramento ou por artigos".
Em que pese a pregressa disciplina específica sobre a liquidação por
arbitramento ou por artigos, os artigos 475-C e seguintes partilham dessa
tendência para aplicação apenas da CLT, pela simples previsão de liquidação
da sentença no processo de conhecimento e não mais em uma ação específica
para o cálculo do quanto é devido; permitida, ainda, a liquidação provisória na
pendência de recurso.
Ademais, antes da Lei 11.232/2005, a Lei 11.187 – ao equiparar o
agravo retido ao protesto (tipicamente trabalhista) para evitar preclusão –
assegurou ao devedor o direito de reiterar suas razões de irresignação no
momento oportuno (apelação). É o que ocorre também na CLT: a decisão que
homologa cálculos (leia-se: a decisão que julga a liquidação) não é passível de
recurso. As razões "recursais" virão nos embargos executórios (sem natureza
recursal) e, sucessivamente, se for o caso, em agravo de petição.
Pela Lei 11.232/2005, o artigo 475-L, § 2º do CPC agora reza que
"Quando o executado alegar que o exeqüente, em excesso de execução,
pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-lhe-á declarar de
imediato o valor que entende correto, sob pena de rejeição liminar dessa
impugnação". Não terá sido mera coincidência em relação ao parágrafo 1ºdo
artigo 897 da CLT, que ao disciplinar o manejo do agravo de petição (recurso
próprio da fase de execução trabalhista), prevê que "O agravo de petição só
será recebido quando o agravante delimitar, justificadamente, as matérias e os
valores impugnados, permitida a execução imediata da parte remanescente até
o final, nos próprios autos ou por carta de sentença" .
Como se vê, o legislador preocupou-se em reproduzir na execução civil
o que dá certo na execução trabalhista, embora tenha deixado de fazê-lo por
inteiro – o que não foi por acaso, haja vista a existência de nefandos projetos
de lei – porquanto propugnados por interesses poderosos – intentando minar a
penhora on line.
50
Por via transversa, também as inovações da Lei 11.232/2005 podem
influenciar a execução trabalhista, sem que necessariamente haja novidades
substanciais.
Os artigos 475-J (agravamento da condenação pela imposição de
multa) e 475-M (restrição ao efeito suspensivo da impugnação) devem inspirar
os julgadores trabalhistas. Boas normas subsidiárias, com contornos de
aplicabilidade imediata.
O artigo 475-Q (constituição de capital para assegurar o pagamento de
prestação alimentícia), caput e parágrafos são aplicáveis em sede trabalhista,
dada a natureza alimentar do crédito trabalhista, ao contrário da caução regida
pelo artigo 475-O, III, porquanto incompatível com a hipossuficiência do
trabalhador.
CONCLUSÃO
A Lei nº 11.232/2005 trouxe mudanças substanciais ao Código de
Processo Civil, principalmente no que se refere à execução das sentenças. A
legislação revogou os artigos que abordavam esse tema como sendo um
processo autônomo e implantou uma fase denominada “do cumprimento da
sentença” dentro do processo de conhecimento.
Vale dizer, buscando tornar o processo mais rápido, a lei eliminou toda
a parte que tratava da execução das sentenças judiciais como sendo um novo
processo. Agora a execução passa a ser apenas mais uma fase do mesmo
processo que deu origem à sentença executada.
Na prática, dentre outras alterações, quando do início da execução da
sentença não haverá mais a citação na pessoa do devedor, mas a intimação na
pessoa do advogado, uma vez que era freqüente o devedor se furtar a ser
encontrado. Após a intimação, o débito deve ser pago em 15 dias, sob pena de
51
multa automática de 10%. Não havendo pagamento, expedir-se-á o mandado
de penhora e avaliação e somente após o devedor poderá ingressar com o
recurso próprio da fase de execução, que, de acordo com a lei, passou a se
chamar impugnação e não mais embargos do devedor.
A impugnação à execução serve para a concretização do exercício do
direito de defesa; o executado não demanda, se opõe. A pretensão à tutela
jurisdicional, que de fato exerce o executado, é de reação, que é elemento
essencial da “exceção”, do direito de defesa.
Para alguns doutrinadores o conteúdo da impugnação à execução
será sempre em conformidade apenas com o rol previsto no art. 475-L,
considerando por eles como exaustivo, para outros as hipóteses ali constantes
são numerus clausus, no que concordo, haja vista que além das matérias
expostos no art. 475-L, pode ser trazida qualquer outra de ordem pública,
tocando à admissibilidade da tutela executiva, que é cognoscível de ofício
inclusive.
Deve ser ressaltada, outra importante inovação introduzida pela
reforma quanto à impugnação fundada em excesso de execução (art. 475-L,
inc. V, do CPC), que não mais se admite a impugnação genérica.
O sistema executivo instituído pelas Leis nº 11.232/2005 e 11.382/2006
eliminou a regra da suspensividade da execução diante da apresentação de
impugnação ou embargos do executado (art. 475-M e 739-A do CPC).
O oferecimento da impugnação não suspende o procedimento
executivo automaticamente.
A suspensão do procedimento executivo é determinada pelo juiz e não
um efeito necessário da lei. Os pressupostos legais para a concessão do efeito
suspensivo são semelhantes a outros pressupostos legais autorizadores de
medidas de urgência (art. 273, II, 461, § 3º, 558 etc).
O ato judicial que analisa a impugnação pode constituir decisão
interlocutória ou sentença, conforme o caso (art. 475-M, §3º, do CPC).
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Por fim, acolhida a impugnação, os efeitos variarão conforme o
respectivo conteúdo, podendo acarretar:
a) uma invalidação do título judicial e do procedimento executivo, com
a reabertura da fase de conhecimento (art. 475-L, I);
b) uma redução do valor executado ( art. 475-L, V);
c) o reconhecimento da inexistência da obrigação (art. 475-L, VI).
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CONCEITO:_____________________________
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