UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: UM DIÁLOGO ENTRE
AFETIVIDADE E PROFISSIONALISMO
Por: Liliam Rangel de Assis
Orientadora
Profª. Flavia Cavalcanti
Rio de Janeiro
2009
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: UM DIÁLOGO ENTRE
AFETIVIDADE E PROFISSIONALISMO
Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do
Mestre – Universidade Candido Mendes como
requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Psicopedagogia.
Por: Liliam Rangel de Assis
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, porque as suas
misericórdias não têm fim; renovam-se
cada manhã. Aos meus amigos pelo
carinho, apoio e compreensão.
DEDICATÓRIA
Dedico ao meu pai Geraldo (in
memorian), a minha mãe Carmelita (in
memorian) e a minha irmã Carmen Lucia
(in memorian), por me ensinarem que
amar é não esperar o amanhã. O amanhã
pode não existir.
RESUMO
O trabalho tem como fundamento valorizar o profissional de ensino do século
XXI apresentando parte da trajetória da educação no Brasil, seus maiores
educadores e as influências recebidas durante todos esses anos, até os dias
atuais. Também traz algumas reflexões sobre a afetividade e o
profissionalismo mostrando através de pesquisa que para educar é preciso
conhecimento científico, mas sem afetividade a prática educativa se transforma
em transferência de conteúdos. Por sua vez, afetividade não é sinônimo de
sacrifício ou de um amor sem sentido, piegas, ou permissivo. Assim, o
equilíbrio dessa relação tão difícil entre o professor e o aluno exige preparo
técnico e equilíbrio emocional. O professor precisa ter o desejo de melhorar
sempre e esse desejo deve impulsioná-lo a buscar ajuda quando necessário,
buscar formação e informação sobre determinados assuntos, para que a sua
prática pedagógica seja alterada sempre que for preciso. Traz exemplos de
bons professores que no afã de melhorar a sua prática em sala de aula
obtiveram resultados positivos dos alunos, satisfação pessoal e
reconhecimento profissional. Nessa busca por conhecimentos, os professores
contam com a ajuda dos cursos de psicopedagogia, por ser esta uma área que
tem contribuído bastante com estudos e pesquisas relacionadas ao
desenvolvimento da aprendizagem do indivíduo. A psicopedagogia trouxe para
educação brasileira um olhar mais significativo para a aprendizagem e para as
possíveis dificuldades que possam ocorrer durante esse processo. Além disso,
através de um trabalho de prevenção e de intervenção o psicopedagogo é
capaz de identificar as dificuldades e os problemas e propor mudanças em prol
da melhoria do processo de desenvolvimento cognitivo do indivíduo.
PALAVRAS-CHAVE: afetividade, profissionalismo, formação docente,
psicopedagogia.
METODOLOGIA
Este trabalho de conclusão de curso baseia-se na investigação e para tanto, foi
realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa, descritiva e bibliográfica. Foi
utilizada uma linha de pesquisa sobre as características da educação no
século XXI e a formação dos profissionais da educação: responsabilidade
social, cidadania, ética profissional e relações intra e interpessoais. Após
coleta de dados a pesquisa foi realizada através da leitura de diversos livros,
de textos da internet e de periódicos especializados sobre o assunto. O
trabalho teve como base os autores FREIRE (1996) e MOYSÉS (1994). A
pesquisa também contou com a observação das práticas pedagógicas de
alguns professores. Essas observações foram bastante produtivas, pois
mostraram os erros e os acertos de alguns profissionais da educação.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I – Breve Histórico sobre a Educação no Brasil 11
CAPÍTULO II – Reflexões sobre Afetividade e Profissionalismo 20
2.1 – A afetividade no processo de ensino-aprendizagem 21 2.2 – Profissionalismo necessário 27 CAPÍTULO III – Bons Exemplos para a Educação 34
CAPÍTULO IV – A Importância da Psicopedagogia 37 4.1 – A psicopedagogia na relação professor-aluno 39 4.2 – A psicopedagogia e a família 40 4.3 – A psicopedagogia e a formação docente 41 CONCLUSÃO 43
BIBLIOGRAFIA 44
ÍNDICE 46
FOLHA DE AVALIAÇÃO 47
8
INTRODUÇÃO
É notória e necessária a mudança de perfil do professor no século XXI.
Pode-se constatar que a sociedade encontra-se degradada, pois a família que
é a geradora dessa sociedade, não se encontra preparada para lidar com os
desafios que surgem a cada dia. Mais uma vez, a escola é desafiada a intervir
de forma marcante e positiva nessa sociedade.
O fato de não existirem investimentos consistentes e contínuos na
educação, não exime a responsabilidade da escola, do educador e da
sociedade. Inúmeros professores mostram-se insatisfeitos com os resultados
obtidos no desenvolvimento de seu trabalho em sala de aula.
Essa insatisfação deve ser a mola propulsora para que o professor
identifique suas reais necessidades, entenda sua responsabilidade e busque
conhecimento científico e capacitação profissional para enfrentar o problema
de maneira inteligente e capaz.
O magistério, como em qualquer profissão, exige preparação,
investimento e dedicação constante. Dessa forma, o magistério não pode ser
encarado como um trabalho missionário e a relação professor-aluno não se
baseia apenas em amor incondicional ou sacrifícios e sofrimentos. Pelo
contrário, a base da função docente deve ser o profissionalismo, o
comprometimento e o amor pela profissão escolhida.
Segundo FREIRE (1996), o ato de cozinhar e de velejar exige
conhecimentos técnicos, habilidades específicas, domínio de algumas práticas
e desenvoltura para enfrentar eventuais transtornos da profissão. Essa
reflexão também deve fazer parte da relação teoria e prática no magistério.
Segundo MOYSÉS (1994), é de extrema importância que o bom
professor tenha compromisso político, que não compactue com o fracasso
escolar, que lute por uma escola de melhor qualidade, que reconheça o valor
pessoal e social de seus alunos e, sobretudo, que contribua para que esses
alunos usem o saber adquirido em defesa de uma vida mais humana e mais
digna.
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O bom professor deve ser o responsável pela formação de seus alunos,
deve possuir embasamento teórico necessário ao desenvolvimento do seu
trabalho, deve ter o foco no aluno, ou seja, na formação desse cidadão sem,
contudo, esquecer de si e de suas necessidades básicas para ter uma vida
saudável e equilibrada. Exigências pertinentes a qualquer profissão.
Há evidências de que o magistério é uma das profissões mais
importantes do século XXI. Um indivíduo pode viver por diversos anos sem ir
ao médico, ao dentista, mas não conseguirá viver sem um professor que lhe
apresente novas oportunidades.
Este trabalho tem por objetivo demonstrar que o papel do educador é de
fundamental importância na construção de uma sociedade mais justa.
Para o desenvolvimento do trabalho de conclusão foi realizada uma
pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo bibliográfica. O trabalho está
dividido em 4 capítulos. O primeiro capítulo apresenta um breve histórico sobre
a educação no Brasil, o segundo capítulo apresenta uma reflexão sobre
afetividade e profissionalismo na relação professor-aluno, o terceiro capítulo
busca apresentar exemplos bem sucedidos de professores que atuam no
magistério e o quarto capítulo apresenta a importância da psicopedagogia na
formação docente.
Como fundamentação teórica, a pesquisa baseia-se em FREIRE (1996)
que em toda a sua obra sinaliza que o educador deve estar preparado para os
novos desafios e que, portanto, esse educador precisa adquirir determinados
saberes que são essenciais à prática educativa. O educador precisa entender
definitivamente que ensinar não é simplesmente transferir conhecimentos ou
conteúdos. A troca de conhecimentos e experiências é primordial e
fundamental na relação professor-aluno. MOYSÉS (1994), afirma que ainda
hoje há quem pense que o magistério sobreviva com improvisação e
amadorismo. No entanto, o magistério exige preparação especializada e
formação sólida. Dessa forma, um professor bem preparado será capaz de
construir uma relação alicerçada no amor, na compreensão e no respeito às
diferenças.
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Sendo assim, o trabalho tem como objetivo apresentar que o magistério
é uma das profissões mais importantes do presente século e que, no momento
em que o professor entende o seu papel, sua responsabilidade na formação de
novos cidadãos, ele percebe que a mesma dedicação do cozinheiro, do
médico, do velejador ou do engenheiro, deve ser a mesma aplicada em sua
profissão – o magistério. Os profissionais acima citados, estudam, pesquisam,
buscam novas tecnologias, interagem com outros profissionais, aperfeiçoam
seus conhecimentos. Essa busca por conhecimento e aperfeiçoamento técnico
também precisa permear o magistério a fim de que o professor enfrente os
problemas apresentados em sala de aula, alterando, caso haja necessidade a
sua prática pedagógica e a sua relação com os alunos.
11
CAPÍTULO I
BREVE HISTÓRICO SOBRE A EDUCAÇÃO NO BRASIL
No sentido de iniciar as reflexões faz-se necessário um breve
comentário sobre a história da educação no Brasil. Quando a economia
mundial deixou de ser artesanal e passou a ser industrial surgiu à necessidade
de se criar uma instituição que se responsabilizasse pela educação, pois a
mesma ocorria do seio familiar.
No século passado, sob a influência da Revolução Francesa, nasce o movimento pela escola pública liberal, que tem em Rui Barbosa o seu maior representante. Rui Barbosa propunha a adoção do modelo norte-americano para a educação brasileira. A Revolução Francesa defendia uma escola pública nacional, leiga, gratuita, obrigatória e para todos, isto é, universal. (GADOTTI, 2004, p. 59)
Como pode ser observado, somente em 1901 aconteceu a primeira
formação de professores em nível superior, no Brasil. Isso ficou sob a
responsabilidade da Ordem dos Beneditinos, em São Paulo. Apenas na
década de vinte, devido às mudanças no modelo econômico e nas classes
sociais, os problemas educacionais foram alterados, pois sofriam grandes
influências dos novos ideais pedagógicos.
No Brasil, vários educadores se destacaram após a divulgação do
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, em 1932. Os que se destacaram
foram Lourenço Filho (1897-1970), Anísio Teixeira (1900-1971), Fernando de
Azevedo (1894-1974) e a poetisa Cecília Meireles (1901-1964). Grandes
humanistas e nomes importantes na história da educação brasileira.
Sob a influência de John Dewey e dos novos ideais pedagógicos, Anísio
Teixeira propõe reformas na capacitação dos professores, elevando os cursos
superiores por iniciativa do poder público. A Escola de Professores do Instituto
de Educação do Rio de Janeiro, fundada em 1932, se incorporou à
Universidade do Distrito Federal e foi precursora na formação de professores
para todos os níveis.
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A Lei 4024/61 que apresentava inspiração liberalista foi substituída pelas
leis nº 5692/71 com tendência tecnicista e que regulamentava o 1º e 2º graus e
a Lei 5540/68 que validava a Reforma Universitária. As duas estavam
preocupadas apenas com o aprimoramento técnico, a eficiência e a
produtividade.
Atualmente, a Lei 9394/96 estabelece as diretrizes e bases da educação
nacional e norteia em todas as instâncias do país a tomada de decisões
referentes aos processos educacionais. A Lei 8069/90 dispõe sobre o Estatuto
da Criança e do Adolescente e traz novas implicações nas relações
estado/família/escola/professor/aluno. Os Parâmetros Curriculares Nacionais
(PCNs) orientam a educação no Brasil e estão separados por disciplinas.
Recentemente, o governo federal aprovou o Plano Nacional de
Educação (PNE) que tem como objetivos e prioridades elevar o nível de
escolaridade da população, melhorar a qualidade do ensino em todos os
níveis, reduzir as desigualdades sociais e regionais e democratizar a gestão do
ensino público.
No século XX, a educação no Brasil recebeu influências de grandes
pensadores e também apresentou ao mundo, educadores que trabalharam
arduamente na construção e na busca de novos caminhos para a nossa
educação, ou seja, escreveram a nossa história.
Anísio Teixeira (1900-1971) propôs medidas para democratizar o
ensino. Para Teixeira (2008), a educação está em constante mudança e é
reconstruída a cada dia. Por isso, criou novos cursos de capacitação para
professores, pois na escola os alunos não se interessam apenas em aprender
os conteúdos simples, mas também em saber sobre as últimas contribuições
científicas e culturais. Anísio Teixeira influenciou Darcy Ribeiro (1922-1997) e
Florestan Fernandes (1920-1995).
Florestan Fernandes (1920-1995) foi um dos mais influentes sociólogos
brasileiros e lutou por uma educação igual para todos. Para Fernandes (2008),
as elites brasileiras do século XX queriam controlar a educação para manter a
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população alienada e longe das decisões políticas. Florestan Fernandes
elegeu-se deputado federal em 1986 e 1990 e, dessa forma, lutou
politicamente pela manutenção e ampliação do ensino público.
Paulo Freire (1921-1997) o maior educador brasileiro, defendia como
objetivo da escola, formar cidadãos, ensinar o aluno a ler o mundo e dessa
forma, transformá-lo. No ano de 1963, em Angicos (RN), Freire (2008)
alfabetizou 300 pessoas em um mês. Coordenou o Plano Nacional de
Alfabetização, criando dessa forma, o método Paulo Freire de alfabetização.
Exilou-se do país e em 1968, no Chile, escreveu o livro Pedagogia do
Oprimido, traduzido em diversos idiomas e o mais conhecido de todas as suas
obras. Organizou planos de alfabetização em países africanos e lecionou nos
EUA e na Suíça. De volta ao Brasil integrou-se à vida universitária, filiou-se ao
Partido dos Trabalhadores (PT) e foi secretário municipal de educação de São
Paulo. Por fim, foi nomeado doutor honoris causa em 28 universidades de
vários países. Suas obras foram traduzidas em mais de 20 idiomas. Paulo
Freire foi, certamente, o mais célebre dos educadores brasileiros.
A galeria dos pensadores que mais contribuíram e influenciaram na
construção da educação no Brasil é extensa. Cabe o registro de que,
atualmente, essas contribuições servem de base para o desenvolvimento da
prática educativa dos novos educadores. De acordo com a Revista Nova
Escola (2008), são eles:
ü Comte (1798-1857) – fundador do positivismo que influenciou o
Brasil e que tem como um dos fundamentos a ideia de que tudo
que se refere ao saber humano pode ser sistematizado.
ü Dewey (1852-1952) – conforme citado acima, defendia a
liberdade de pensamento para o desenvolvimento emocional das
crianças. Para Dewey (2008), o professor deve apresentar os
conteúdos em forma de problemas, sem antecipar as soluções.
ü Durkheim (1858-1917) – o professor tem a função de formar
cidadãos capazes de contribuir com a harmonia social.
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ü Decroly (1871-1932) – a criança apreende o mundo. Decroly
influenciou Célestine Freinet.
ü Wallon (1879-1962) – apresenta a criança como um todo, com
seu corpo e suas emoções. Valorizou a afetividade (emoções)
como sendo essencial para o desenvolvimento do indivíduo.
Qualquer que seja a emoção, ela deve ser valorizada: a raiva, a
alegria, o medo, a tristeza.
ü Gramsci (1891-1937) – atribuiu à escola a função de promover a
cidadania e o acesso à cultura. Teve grande influência no Brasil
nos anos 1970 e 1980.
ü Vygotsky (1896-1934) – o educador mais estudado pela
pedagogia contemporânea e seu pensamento originou a corrente
pedagógica chamada de sociointeracionismo ou
socioconstrutivismo. Afirmava que as relações sociais são
primordiais para o desenvolvimento intelectual da criança.
ü Freinet (1896-1966) – criou um projeto de escola popular,
moderna e democrática. Aulas-passeio, cantinhos temáticos,
jornal de classe, são algumas técnicas desenvolvidas por Freinet.
ü Piaget (1896-1980) – mostrou que as crianças não pensam como
os adultos e que elas constroem o próprio aprendizado
respeitando os estágios de desenvolvimento. Sensório-motor (0 a
2 anos), Pré-operacional (2 a 7 anos), Operatório Concreto (7 a
12 anos). Por volta dos 12 anos inicia-se o estágio das
Operações Formais.
ü Stenhouse (1926-1982) – mostra que o professor precisa
transformar a sala de aula em laboratório de experimentações e
utilizar estratégias diversificadas para que a aprendizagem da
turma seja garantida. Defendia a utilização da pesquisa por parte
do professor em prol de melhores resultados.
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Para Stenhouse (2008), o professor aprende enquanto ensina. Ele não
pode se comportar como autoridade e dono do saber. O professor pode
manter a autoridade, a liderança e a responsabilidade, sem, contudo, portar-se
como o “todo poderoso” em sala de aula. Uma de suas maiores preocupações
e de grande relevância é o direito do aluno ao saber, a conexão dos conteúdos
escolares com o conhecimento de mundo e a importância do diálogo como
método pedagógico.
Hoje, o professor precisa de algumas competências para ensinar, entre
essas competências estão incluídas uma postura reflexiva, a capacidade de
analisar a própria prática e a partir dessa análise efetuar ajustes e melhorias
no trabalho de sala de aula.
ü Foucault (1929-1984) – filósofo francês criticou a instituição
escolar e a comparou a prisões, quartéis, hospitais, ou seja, são
instituições que roubam o indivíduo da família por determinado
período para moldar suas condutas e comportamentos. Afirmou
que a disciplina é uma forma de adestrar e dominar o indivíduo.
ü Bourdieu (1930-2002) – sociólogo francês que passou a ser
observado quando se mostrou contrário a mídia, aos governos e
a globalização. Para Bourdieu (2008), a escola reproduz e reforça
as desigualdades sociais entre os alunos. O aluno mesmo que de
maneira inconsciente, incorpora a estrutura social que lhe é
transmitida. A escola não transforma a sociedade.
ü Morin (1921) – elaborou a pedido da Organização das Nações
Unidas uma relação de temas que não poderiam faltar para o
cidadão do século 21. Assim surge o texto Os Sete Saberes
Necessários à Educação do Futuro (1º estudo do conhecimento,
2º relevância dos conteúdos, 3º estudo da condição humana, 4º
ensinar a identidade terrena, abordando as relações humanas de
maneira global, 5º enfrentamento das incertezas, 6º aprendizado
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da compreensão, uma reforma da mentalidade para superar
males como o racismo, 7º ética global).
ü Gardner (1943) – psicólogo que causou grande impacto na área
educacional com sua teoria das inteligências múltiplas, pois
afirmou que o indivíduo possui várias aptidões intelectuais, além
do raciocínio lógico-matemático. Apresentou os sete tipos de
inteligência: lógico-matemática, linguística, espacial, físico-
cisnestésica, interpessoal, intrapessoal e musical.
No Brasil, muitas escolas se esforçaram para que através do trabalho de
Gardner (2008) se desenvolvesse uma visão completa do indivíduo. Dessa
forma, o professor valoriza a diversidade e a multiplicidade na sala de aula. O
indivíduo se desenvolve de acordo com a educação que recebe e as
oportunidades que lhes são apresentadas.
ü Ferreiro – psicolinguista argentina, revolucionou o processo de
alfabetização no Brasil. Seus estudos impactaram a educação
brasileira após a divulgação de suas obras em meados dos anos
1980. A área de alfabetização e todo o processo sofreram
influências significativas que podem ser observadas nos
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Na obra Psicogênese da Língua Escrita, Ferreiro (1984) não apresenta
nenhum método pedagógico, mas revela os processos de aprendizado da
criança. O nome de Emilia Ferreiro está relacionado ao construtivismo, campo
de estudo que foi inaugurado por Piaget (1896-1980). A investigação desses
educadores se baseia em entender e compreender de que modo a criança
aprende.
De acordo com a teoria de Ferreiro (2008), toda criança passa por
determinadas etapas até que esteja alfabetizada.
- Pré-silábica – a criança não relaciona a letra com os sons.
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- Silábica – interpreta a letra a sua maneira e atribui valor de
sílaba a cada letra.
- Silábico-alfabética – começa a identificar algumas sílabas, mas
mistura as duas etapas.
- Alfabética – domina o valor das letras e sílabas.
Ferreiro (2008) propõe que a sala de aula se transforme em um
ambiente alfabetizador. Estimula a utilização de textos variados para que o
aluno se familiarize e entenda qual a função da escrita. O termo construtivismo
começou a ser utilizado no Brasil da década de 1980. O construtivismo afirma
que o aluno não aprende em partes e que, portanto, o professor precisa estar
atento ao que cada aluno já sabe, para fazer com que avance.
Foram grandes as influências recebidas durante todo o século XX.
Atualmente, é possível afirmar que os estudos feitos no passado continuam
sendo a base para o desenvolvimento do trabalho pedagógico dos educadores
no Brasil.
Infelizmente, alguns educadores teimam em utilizar técnicas tradicionais
e ultrapassadas em sala de aula. Esquecem que seus alunos e alunas já não
são mais as mesmas crianças do passado e nem poderiam ser, pois tudo está
em constante mudança.
Com o magistério não pode ser diferente, pois ele é responsável por
preparar pessoas que sejam capazes de inovar no mundo. O educador deve
entender os conceitos, os pensamentos e as contribuições do passado e
adaptá-los aos dias de hoje, pois certamente eles se conservam bastante
atuais e não podem ser esquecidos. A educação no Brasil vem sofrendo
grandes e significativas transformações, pois sua história ainda está sendo
construída.
Por todo esse período a função docente tem sido modificada e por
vezes descaracterizada, pois alguns profissionais buscam apenas o salário
mensal, outros se preocupam apenas com os resultados das pesquisas
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realizadas pelos governos e com isso, não se incomodam com o fracasso de
seus alunos. O processo histórico da educação também não pode ser
esquecido, ou seja, a dinâmica desse processo precisa ser valorizada pelos
educadores.
Como exemplos de descaracterização da função docente têm a
burocratização do trabalho, o controle excessivo nas mãos da minoria, o
isolamento ou individualismo do professor e os riscos psicológicos que nos
dias atuais tem atormentado a muitos, resultado de frustração profissional,
pessoal e da violência escolar.
Hoje, as condições de trabalho são precárias, a violência se multiplica e
as exigências feitas aos professores se acumulam. Aqueles que deveriam
preocupar-se apenas com os conhecimentos e com todo o processo
pedagógico passam a executar tarefas que lhes são atribuídas e designadas
por terceiros que, na maioria das vezes, desconhecem as exigências e
demandas de uma sala de aula.
Atualmente, o que é visto nas escolas nada mais é que uma repetição
das aulas tradicionais do passado. O professor ainda se comporta como se
fosse um ser superior, responsável pela transmissão dos conhecimentos
necessários aos seus alunos. Essa atitude demonstra o total despreparo de
alguns professores e o resultado são aulas descontextualizadas e
desestimulantes para os alunos.
A qualificação profissional dos professores só acontecerá quando estes
conscientes de suas responsabilidades, compreenderem que os
conhecimentos que eles possuem não estão completos, sendo necessária uma
busca diária por respostas aos seus questionamentos e suas inquietações.
A educação passa por uma crise sem precedentes e algumas
estratégias são necessárias no enfretamento dos problemas que surgem
diariamente. Os alunos e os professores são os maiores prejudicados com a
falta de investimentos governamentais, do apoio da família e de profissionais
especializados.
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Sendo assim, faz-se necessário uma reflexão e apresentação de
algumas considerações relacionadas ao processo de ensino-aprendizagem.
Mostrar os entraves desse processo e apresentar propostas para que todos os
envolvidos no processo conheçam seus direitos e deveres e saibam que com
uma participação comprometida e efetiva, todos serão beneficiados.
20
CAPÍTULO II
REFLEXÕES SOBRE AFETIVIDADE E
PROFISSIONALISMO
A chegada do século XXI trouxe mudanças para diversas profissões e
proporcionou o surgimento de outras que não existiam. O mesmo não se pode
dizer do magistério. Alguns profissionais de ensino não estão preparados para
as demandas do novo século. Pelo contrário, ainda não se conscientizaram
que o magistério é uma profissão que precisa renovar e inovar diariamente.
Segundo GADOTTI (2009), “provavelmente no futuro poderemos viver
sem médicos e dentistas. Mas, não se pode conceber um futuro sem os
professores.”
O magistério é uma das profissões mais antigas. Mesmo quando os
educadores ainda não eram organizados em classes, o ato de educar já estava
presente na sociedade. Por intermédio dos ensinamentos, regras, códigos de
ética, leis, surge a sociedade organizada. Por várias gerações, o trabalho
educacional realizado foi determinante na construção da nossa sociedade.
No século passado, educar significava transferir conhecimentos de um
indivíduo para outro indivíduo. O que detinha o conhecimento ensinava. Não
existia troca, mas sim, transferência. Infelizmente, muitos professores ainda se
utilizam dessa metodologia com seus alunos. Os professores, educados dessa
maneira, entendem e acreditam que dessa forma consigam algum resultado.
Atualmente, é premente que no processo educacional o professor atue
como um mediador na construção do conhecimento do aluno e na sua
formação.
Segundo Freire (1996), “o professor aprende ao ensinar e o aluno
ensina ao aprender.” Esse diálogo é fundamental para que a aprendizagem
aconteça.
21
Percebe-se, assim, a importância do papel do educador, o mérito da paz com que viva a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não apenas ensinar os conteúdos mas também ensinar a pensar certo. Daí a impossibilidade de vir a tornar-se um professor crítico se, mecanicamente memorizador, é muito mais um repetidor cadenciado de frases e de idéias inertes do que um desafiador. O intelectual memorizador, que lê horas a fio, domesticando-se ao texto temeroso de arriscar-se, fala de suas leituras quase como se estivesse recitando-as de memória – não percebe, quando realmente existe, nenhuma relação entre o que leu e o que vem ocorrendo no seu país, na sua cidade, no seu bairro. Repete o lido com precisão mas raramente ensaia algo pessoal. Fala bonito de dialética mas pensa mecanicistamente. Pensa errado. (FREIRE, 1996, p. 27)
A educação no Brasil sempre se caracterizou por simples repetição de
conceitos e conteúdos pré-estabelecidos. As escolas recebem os alunos e os
devolve a sociedade, preparados apenas para passarem nas provas do
vestibular. Ao buscar inserção no mercado de trabalho esses mesmos alunos
são surpreendidos com uma seleção que não exige apenas conteúdos, mas
conhecimentos e habilidades que não foram apresentados na escola.
Segundo FREIRE (1996), “ensinar exige pesquisa sobre os assuntos
que serão trabalhados, exige ética, exige reflexão crítica sobre sua prática em
sala de aula, exige respeito aos saberes do educando, exige segurança,
competência profissional e generosidade por parte do professor.”
Portanto, existem alguns fatores que são fundamentais e que auxiliam o
professor na mediação dos conhecimentos que devem ser passados aos seus
alunos. A seguir, dissertaremos sobre a afetividade e o profissionalismo.
2.1 – A afetividade no processo de ensino-aprendizagem
Ao falar sobre afetividade é possível afirmar que, nos dias atuais, é
inadmissível que um professor não mantenha uma relação de afeto com seus
alunos, que não os influencie positivamente e que não se importe com o
processo educacional e de crescimento dos mesmos. Cabe ao professor
construir uma relação de afeto, baseada no diálogo e na aceitação do outro. A
criança está em processo de formação e é responsabilidade do professor
participar ativamente desse processo, para que este indivíduo cresça com
equilíbrio emocional e psicológico.
22
Segundo FREIRE (1996), “o professor amoroso, ou autoritário,
competente, ou incompetente, não passa pelos alunos sem deixar marcas.” (p.
66)
Aceitar e respeitar a diferença é uma dessas virtudes sem o que a escuta não se pode dar. Se discrimino o menino ou menina pobre, a menina ou o menino negro, o menino índio, a menina rica; (...) não posso evidentemente escutá-las e se não as escuto não posso falar com eles, mas a eles, de cima para baixo. (FREIRE, 1996, p. 120)
A construção da auto-estima dessa criança ocorrerá no seio familiar e
no ambiente escolar. Considerando que a célula mais importante da sociedade
é a família, ela será responsável pela formação do caráter desse indivíduo. Um
ambiente familiar acolhedor, para onde a criança retorna na esperança de
receber amor, orientação e respeito.
Com relação à criança, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),
em seu artigo 4º, apresenta e define as responsabilidades de todas as
instâncias da sociedade brasileira.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.
Infelizmente, isso não condiz com a nossa realidade e a escola, na
maioria das vezes, não pode contar com a família. O trabalho de parceria não
existe e a responsabilidade que seria da família recai sobre a escola. Além das
responsabilidades serem transferidas para a escola o professor também se
depara com crianças que sofrem abusos de todos os tipos no seio familiar. A
escola, nesse momento, tem papel preponderante na vida dessa criança e não
pode fingir que nada está acontecendo. O professor e toda a comunidade
escolar precisa se posicionar e tomar atitudes que ajudem a mudar esta
situação. O não cumprimento desse papel configura-se como omissão.
Portanto, esses assuntos também dizem respeito ao professor, pois algumas
crianças confiam muito mais nele do que nos próprios pais.
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As novas configurações de família também trouxeram para o professor a
tarefa de educar além da escola. Como exemplos, têm famílias comandadas
somente pela mãe ou pelo pai, famílias de pais ou mães homossexuais,
famílias ampliadas com avós morando juntos, família de pais separados com
filhos dos casamentos anteriores. Enfim, o professor precisa entender e apoiar
os seus alunos para que essas mudanças não tragam inquietações e
preocupações que prejudiquem sua aprendizagem. Querendo ou não, a escola
participa desse momento.
A relação professor-aluno deve estar alicerçada no amor e na
compreensão, mas em hipótese nenhuma isso pode transformar esse
professor em um profissional extremamente permissivo ou “piegas e meloso”
(1996, p. 10).
A tarefa de ensinar é uma tarefa profissional que, no entanto, exige amorosidade, criatividade, competência científica mas recusa a estreiteza cientificista, que exige a capacidade de brigar pela liberdade sem a qual a própria tarefa fenece. (FREIRE, 1993, p.10)
As relações humanas são fundamentais no processo educativo. Ensinar
exige relacionar-se. A afetividade deve ser a base na construção dessa relação
professor-aluno. Muitos educadores acreditam que afetividade significa
sacrifício, dor e permissividade. Amar não é sinônimo apenas de doação e
abnegação, mas também de troca de afetos, respeito mútuo e correção para o
bem do indivíduo.
O bom educador saberá que para se construir boas relações será
preciso escutar seus alunos, observar suas atitudes, respeitar suas limitações,
se sensibilizar com as suas dores e acreditar nas suas potencialidades. Sem
isso, a relação será quebrada e a comunicação não acontecerá.
É preciso que saibamos que, sem certas qualidades ou virtudes como amorosidade, respeito aos outros, tolerância, humildade, gosto pela alegria, gosto pela vida, abertura ao novo, disponibilidade à mudança, persistência na luta, recusa aos fatalismos, identificação com a esperança, abertura à justiça, não é possível a prática pedagógica-progressista, que não se faz apenas com ciência e técnica. (FREIRE, 1996, p. 120)
24
Segundo GADOTTI (2009), “o abraço é mais importante que o amor,
pois o abraço representa o companheirismo. Ser companheiro é estar lado a
lado com o outro.”
As relações de afeto exigem respeito mútuo, comprometimento e
compreensão. O professor que procede dessa maneira torna-se mais criativo,
alegre e saudável. A falta de um relacionamento consistente e equilibrado
entre o professor e seus alunos causa desconforto, irritabilidade e instabilidade
e o resultado disso tudo é um profissional estressado, ou seja, um professor
doente. Esse desequilíbrio emocional compromete não só a vida do professor,
como também a de seus alunos.
O aumento da violência nas escolas que é fruto de uma sociedade
degrada tem ocasionado verdadeiros transtornos à escola, pois esse
comportamento é refletido nas brigas constantes entre os alunos e nos atos
violentos contra os professores. Não existe ninguém que esteja isento ou livre
de sofrimentos ou que não seja afetado pela violência. A alienação e omissão
não são as melhores atitudes da escola, pois ela participa da construção dessa
sociedade.
Hoje, muitos professores sofrem com doenças emocionais, psicológicas
ou psiquiátricas e alguns não procuram ajuda de um profissional, apenas
faltam demasiadamente ao trabalho, ou se licenciam. Isso compromete e
prejudica a aprendizagem dos alunos, pois o professor não soluciona o
problema, mas apenas prolonga o sofrimento. Para que este problema seja
resolvido e o professor tenha satisfação profissional é preciso que ele se
conscientize que está doente e que precisa de tratamento. Qualquer
profissional que sofra por algum motivo deve buscar ajuda qualificada.
A falta de investimentos governamentais em educação pode ser
observada na desqualificação de alguns profissionais de ensino, no
sucateamento das escolas, com instalações precárias e sem infraestrutura.
Outro fator prejudicial são os baixos salários dos professores que ridicularizam
a função, desmotivando qualquer indivíduo que queira seguir a carreira do
25
magistério. A educação depende basicamente de um trabalho contínuo, sem
interrupções.
Hoje, mais do nunca, fica claro que os governos não investem em
educação, por saberem que esta atitude trará mudanças para o futuro político
do país. Porém, não podemos admitir que sejam apenas esses fatores os
responsáveis pelo despreparo dos professores.
De acordo com a Revista Nova Escola (2008), algumas medidas podem
ser tomadas a fim de solucionar determinados problemas e proporcionar um
salto qualitativo da educação no Brasil. Essas mudanças também promoverão
bem estar à vida do professor. São elas: gestão, formação, organização do
tempo, trabalho em equipe, relacionamento com os alunos, infraestrutura,
currículo e valorização social.
Em uma gestão democrática e participativa o professor sente que as
condições de trabalho na escola podem mudar, as informações circulam e
todos se ajudam mutuamente. Os diretores e a equipe técnico-pedagógica
auxiliam o professor no acompanhamento de sua prática pedagógica em sala
de aula.
Organizar o tempo é tarefa do professor e ele precisa planejar com
antecedência suas aulas, de tal forma, que sobre tempo para estudar e para se
divertir. Vida social e formação são muito importantes, pois a primeira renova
sua vida pessoal e a segunda renova sua vida profissional.
Trabalhar em equipe representa o momento da troca de experiências.
Essa troca é bastante produtiva, pois nessa hora um professor apresenta
novas ideias e novos materiais e o outro relata algum fato ocorrido em sala de
aula. Esse momento também pode ser de desabafo para aliviar as tensões do
dia-a-dia. O importante é que ao final dessas reuniões novas possibilidades e
alternativas surjam para o enfrentamento dos problemas.
O relacionamento com os alunos é outro fator causador de estresse
para o professor e essa relação pode melhorar a partir do momento que o
26
assunto for tratado de maneira clara na escola. Discutir o assunto com os
alunos e explicar por que existem regras que precisam ser respeitadas, traz
bons resultados.
Um currículo bem elaborado é condição para o bom desempenho do
professor em sala de aula. Quando o caminho é delimitado fica mais fácil
escolher quais meios serão utilizados para atingir o objetivo pré-determinado.
Ao apresentar um currículo abrangente e que contemple as necessidades dos
alunos, o interesse será maior principalmente se for trabalhado de maneira
transdisciplinar, ou seja, as disciplinas se integram sem que as diferenças
entre elas sejam observadas.
A infraestrutura e a valorização social promovem satisfação ao
professor, pois em um ambiente propício para desenvolver seu trabalho e o
reconhecimento profissional, certamente ele se sentirá satisfeito em estar
naquele lugar.
Não podemos admitir, porém, que sejam apenas tais fatores os que respondem pelo despreparo dos professores. Há falhas na sua formação que não podem ser esquecidas. Os movimentos organizados que hoje se fazem presentes em todo o Brasil em torno da questão da formação do educador dão testemunho não só das falhas a que nos referimos, como também das soluções que estão sendo procuradas, quer no plano pedagógico, quer no político institucional. (MOYSÉS, 1994, p. 19)
Essas medidas devem ser aplicadas e colocadas em prática em
parcerias entre as secretarias de educação, as instituições escolares e os
educadores que buscam a melhoria de seu trabalho.
A família também é peça importante nessa engrenagem que é a
educação e deve contribuir positivamente para que a relação escola-aluno-
família se fortaleça.
Cabe informar, que a escola ainda é uma das únicas instituições
valorizadas e respeitadas pelas famílias, principalmente pelas famílias de
comunidades carentes. Essas pessoas, que na maioria das vezes vivem na
ilegalidade, encontram na escola a representação da legalidade na
comunidade local.
27
Infelizmente, muitas famílias não conseguem entender que a educação
traz resultados em longo prazo. Talvez, pelo fato do próprio país não valorizar
a educação e não oferecer oportunidades aos membros dessas comunidades.
Quando essas três instituições, Estado, escola e família se relacionarem
harmoniosamente em busca de uma educação de qualidade, certamente, toda
a sociedade será beneficiada.
2. 2 – Profissionalismo necessário
De acordo com MOYSÉS (1994), “em função da humilhação que o
magistério vem sofrendo, os profissionais de ensino tem se mostrado mal-
preparados, desmotivados e descompromissados com a educação.” A
formação continuada pode não ser a única opção para a profissionalização do
professor, mas ainda é o caminho que permite melhorar o nível de
conhecimento científico dos professores.
Tradicionalmente o magistério tem se baseado em improvisações. O
educador que não respeita seus alunos, não se prepara previamente para
estar em sala de aula. Por diversas vezes, ele não sabe nem o conteúdo que
será aplicado no dia. O professor que acha que já aprendeu de tudo e não
precisa mais estudar, comete um erro gravíssimo. Os intelectuais, detentores
do saber que almejam transferir conteúdos aos seus alunos, não sobrevivem
mais nessa sociedade.
Em um mundo globalizado, o professor que não lê criticamente, que
não dialoga e não pesquisa sobre os diversos assuntos a serem abordados,
não conseguirá acompanhar o desenvolvimento de seus alunos.
Há quem pense que o magistério é algo que se improvise; no entanto, é uma atividade profissional que exige preparo especializado para atingir bons resultados. Requer formação com sólidas bases teóricas. Exige, por outro lado, que se conheça a realidade na qual e sobre a qual atua. (MOYSÉS, 1994, p.15)
Atualmente, o professor deve entender que a internet e toda a
tecnologia existente têm a capacidade de apresentar diariamente novas
informações e conhecimentos aos seus alunos. Independe se ele mora em
28
uma comunidade carente ou mora nos bairros nobres da cidade. Quando a
casa onde o aluno mora não possui acesso à internet, ele busca esse acesso
nas LAN Houses1. Quanto mais os alunos interagem com os objetos do mundo
virtual, mais as suas possibilidades são ampliadas. Para que o professor
conheça o processo de ensino aprendizagem e entenda como ele ocorre, é
preciso que ele disponha de diversos conhecimentos.
Alguns professores, ainda hoje, acreditam que seus alunos não sabem e
não se interessam por nada. Por vezes, esses mesmos educadores são
surpreendidos por questionamentos inimagináveis feitos pela turma e por
estarem totalmente desatualizados, desconhecem o assunto.
Menosprezar os alunos e não estar preparado para entrar em sala de
aula pode ser uma armadilha que atingirá certamente o próprio professor. O
aluno sabe quando o professor não domina determinado assunto. Em
determinados momentos, quando esse mesmo professor é surpreendido por
seus alunos, ele desconversa, muda de assunto, diz que aquele não é o
momento ideal para tal pergunta. Isso demonstra insegurança e falta de
preparo.
Para ensinar é preciso dedicar-se a pesquisa, ao estudo, a favor do
educando. O importante é que o educador compreenda que sem pesquisa e
estudo não há ensino e que essa ausência degrada a educação e a reduz a
reprodução e imitação.
1O termo LAN foi extraído das letras iniciais de "Local Area Network", que quer dizer "rede local", traduzindo assim uma loja ou local de entretenimento caracterizado por ter diversos computadores de última geração conectados em rede de modo a permitir a interação de dezenas de jogadores. O conceito de LAN House foi inicialmente introduzido e difundido na Coréia em 1996, chegando ao Brasil em 1998. A tradução para o português poderia ser "casa de jogos para computador". O plural é LAN Houses. (http//www.kplus.com.br/materia) acesso em 20/06/2009.
29
O livro didático pode ser uma ferramenta de auxílio ao professor. Ele
não deve ser o único objeto de ensino na aula, pois dessa forma o professor
perderá o seu significado, ou seja, a sua importância. Se o livro for mal
utilizado todo o trabalho sairá prejudicado. O professor precisa de muita
criatividade na utilização dessa ferramenta.
Para DEMO (2002), “o caminho é a biblioteca, onde é preciso munir-se
de leitura farta, para dominar posturas explicativas, entre elas escolher a mais
aceitável e a partir desta elaborar uma própria, mesmo que seja síntese.”
(p.64)
Segundo FREIRE (1996), “o professor que não se prepara
intelectualmente, não tem força moral para estar em sala de aula.” Ao agir
dessa maneira, o professor se desqualifica como pessoa, como profissional e
seus alunos não o respeitarão.
Quem educa precisa acreditar no potencial de seus alunos. O professor
deve aproveitar as experiências trazidas por eles e tentar transformá-las em
novos conhecimentos. O educador não pode subestimar seus alunos e se
superestimar, pois cada indivíduo carrega em si muitos saberes.
Por isso mesmo pensar certo coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os de classes populares, chegam a ela saberes socialmente construídos na prática comunitária – mas também, como há mais de trinta anos venho sugerindo, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. (FREIRE, 1996, p. 30)
O professor que tem uma atitude conformista e fatalista prejudica o
desenvolvimento de seus alunos. Quando ele afirma que o aluno não sabe ou
não vai aprender, ele não resolve o problema, pelo contrário, apenas agrava a
situação de desmotivação e falta de credibilidade no processo educacional
brasileiro.
O mau educador é aquele que não se compromete com seus alunos e
ainda nega suas responsabilidades frente às necessidades da comunidade em
que está inserido. Ele culpa o governo por todas as mazelas da sociedade,
30
mas não apresenta ideias inovadoras e transformadoras. Este é um educador
acomodado e o mais grave é que ele já se conformou com a situação.
Hoje, com o estudo concluído, podemos afirmar que, do nosso ponto de vista, competente é o professor que sentindo-se politicamente comprometido com seu aluno, conhece e utiliza adequadamente os recursos capazes de lhes propiciar uma aprendizagem real e plena de sentido. Competente é o professor que tudo faz para tornar seu aluno um cidadão crítico e bem-informado, em condições de compreender e atuar no mundo em que vive. (MOYSÉS, 1994, p. 15)
Observa-se também na avaliação dos alunos, um verdadeiro equívoco,
pois os professores avaliam apenas os conteúdos trabalhados. Eles não
utilizam avaliações diárias e, tampouco, acompanham o desenvolvimento da
aprendizagem dos alunos. Grande parte deles colherá fracassos ao final de
mais um ano letivo. A situação se torna ainda mais grave quando esse
educador, por não se comprometer com a aprendizagem, avança esses
alunos, visto que sua única preocupação é apresentar resultados positivos nas
estatísticas elaboradas pelo governo.
Quando o professor trata seu aluno eticamente, ele respeita suas
individualidades, seus conhecimentos prévios, suas experiências pessoais. No
processo de ensino-aprendizagem uma ferramenta que pode prejudicar a
caminhada de alguns alunos, certamente, é a avaliação. Neste momento
alguns educadores se utilizam desse instrumento para atrapalhar o
desenvolvimento de determinados alunos, que normalmente são
indisciplinados, apresentando a eles provas e testes mal elaborados. Traumas
e frustrações podem ocorrer após a realização de uma avaliação equivocada.
Esse tipo de relação professor-aluno está fadado ao fracasso.
Ser avaliado é constrangedor para qualquer pessoa, por isso o educador
precisa sentir-se responsável pelos resultados obtidos por seus alunos. Esse
processo avaliativo precisa ocorrer diariamente e o aluno precisa ser informado
sobre os critérios dessa avaliação. De posse das avaliações o professor
acompanha o desenvolvimento dos alunos e aproveita para verificar se o
trabalho desenvolvido alcançou o objetivo.
31
Parece com esse discurso que a responsabilidade pelo fracasso escolar
recai apenas sobre o professor, mas a falta de investimentos, o pouco
interesse das famílias e dos alunos pelos estudos, também contribuem
negativamente para o bom desenvolvimento da educação. O aluno e a família
também são responsáveis e precisam se comprometer e acompanhar todo o
processo de aprendizagem. Cada célula da sociedade tem deveres a serem
cumpridos e quando uma dessas células falha, ou seja, deixa de cumprir com
os seus compromissos, o resultado final estará prejudicado.
A Lei de Diretrizes e Bases (LDB 9394/96), no título II, em seus artigos
2º e 3º definem os princípios e fins da educação nacional e as
responsabilidades de alguns setores da sociedade:
Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; III – pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas; IV – respeito à liberdade e apreço à tolerância; V – coexistência de instituições públicas e privadas de ensino; VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; VII – valorização do profissional da educação escolar; VIII – gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino; IX – garantia de padrão de qualidade; X – valorização da experiência extra-escolar; XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
De acordo com GADOTTI (2009), “a escola também é responsável pelo
processo de ensino aprendizagem. Ela deve preparar um ambiente educativo e
acolhedor, oferecer aos profissionais de ensino uma formação continuada e
precisa ter um Projeto Político Pedagógico de qualidade que proporcione aos
alunos acesso a diversos conhecimentos.”
Ao final de cada dia de trabalho uma auto-avaliação do professor
também se faz necessária, pois através dela e de posse dos resultados
alcançados será possível alterar as práticas pedagógicas utilizadas, até aquele
momento. Para que essa auto-avaliação produza o efeito desejado, o
32
educador deve ser crítico consigo mesmo, deve acreditar no novo e deve se
despir de qualquer tipo de preconceito ou discriminação.
Ensinar exige um diálogo entre educador e educando e por diversas
vezes o processo avaliativo poderá proporcionar essa troca. O bom professor
saberá ouvir o que seu aluno tem a dizer, coisas boas ou coisas ruins e será
capaz de transformar tudo isso em novos conhecimentos.
Após avaliar todo o processo de ensino e aprendizagem o educador
lançará mão de técnicas pedagógicas mais apropriadas, buscará novidades e,
sem dúvida, saberá que todos são responsáveis pelo processo educativo. O
educador terá consciência que os resultados ruins não significam
incompetência profissional ou falta de compromisso dos alunos. Muitas vezes,
os resultados não são bons por falta de condições para realizar o trabalho
desejado.
A grande tarefa do sujeito que pensa certo não é transferir, depositar, oferecer, doar aos outro, tomado como paciente de seu pensar, (...). A tarefa coerente do educador que pensa certo, é exercendo como ser humano a irrecusável prática de inteligir, desafiar o educando com quem se comunica e a quem se comunica, produzir sua compreensão do que vem sendo comunicado.(..) O pensar certo por isso é diálogo (...) (FREIRE, 1996, p. 38)
De acordo com GADOTTI (2009), “o bom professor precisa ter paixão
pelo que faz, precisa ter domínio técnico pedagógico e precisa ser ético. Ter
domínio técnico não significa apenas saber as disciplinas que serão dadas,
mas sim saber discorrer sobre os assuntos com propriedade. Para que o
educador seja ético ele precisa ser compromissado com seus alunos.”
Desta forma, se o educador consciente de suas responsabilidades não
as cumpre com seriedade, ele falta com a ética e o respeito ao educando. Com
relação à ética, o educador ao aplicar o que foi previamente elaborado, a sua
fala precisa ser coerente com suas práticas pedagógicas e com as suas
atitudes. Ao observar o professor, o aluno saberá se ele está sendo coerente.
Mesmo que o professor não concorde com isso, ele sempre será um exemplo
para determinados alunos.
33
A ausência de ética pode ser observada no ambiente escolar de forma
aviltante. Os alunos possuem direitos e deveres que lhes são apresentados ao
iniciar o ano letivo da escola. No decorrer desse período esses mesmos alunos
são desrespeitados em seus direitos. Avaliações mal elaboradas, faltas do
professor sem comprovação legal, preferências por uns em detrimento de
outros, discriminações, berros e gritarias em sala de aula e nos corredores da
escola. Esses fatores prejudicam demasiadamente a aprendizagem dos
alunos. Assim, o professor recebe aquilo que dá ao seu aluno.
Segundo FREIRE (1996), “ensinar exige a corporeificação das palavras
pelo exemplo. Quem pensa certo está cansado de saber que as palavras a que
falta a corporeidade do exemplo pouco ou quase nada valem. Pensar certo é
fazer certo” (p. 34).
É possível observar que em algumas instituições os maus exemplos
podem ser vistos em toda a comunidade escolar. Os gestores, os
coordenadores e toda a comunidade ridicularizam, menosprezam e se
mostram indiferentes aos problemas apresentados pelos alunos. Sem o apoio
de todos os profissionais envolvidos nesse processo o trabalho realizado não
trará resultados positivos.
Portanto, todos os participantes do processo de ensino-aprendizagem
são responsáveis pelos resultados obtidos pelos alunos. A família, a escola, o
Estado e toda a sociedade. Apesar de tantos problemas e maus exemplos é
possível observar que alguns profissionais aceitaram a tarefa e o desafio de
educar com qualidade e dedicação.
34
CAPÍTULO III
BONS EXEMPLOS PARA A EDUCAÇÃO
Este capítulo tem por objetivo incentivar os professores na procura de
novos caminhos e novos direcionamentos para melhor desempenhar seu papel
perante seus alunos e a sociedade.
Para iniciar é necessário afirmar que bons professores possuem
características semelhantes e os resultados alcançados por eles são notórios,
ou seja, fazem a diferença na vida escolar de seus alunos e da instituição em
que trabalham.
O bom professor quando decide “ser professor” não escolhe a profissão
por falta de opção ou pela pouca exigência da mesma, mas o faz por ter a
certeza de que só dessa maneira se sentirá realizado enquanto profissional. O
bom professor, como em qualquer profissão, precisa amar e respeitar o que
faz.
O bom professor precisa estar preparado tecnicamente para exercer
essa função, mas só isso não basta, pois o conteúdo trabalhado precisa de
contextualização para que atinja o objetivo proposto. Outro fator importante é a
saúde desse profissional que também precisa de atenção, pois sem esse
equilíbrio físico e mental, além do professor, o aluno certamente será o maior
prejudicado e o processo de ensino-aprendizagem não acontecerá de maneira
satisfatória.
Segundo MOYSÉS (1994), “para a professora Kátia, o importante é criar
um clima de constante desafio. A base de seu trabalho é estimular o aluno a ir
sempre além do que já conhece e domina. Na turma da professora Alzira, o
lúdico tem seu espaço garantido.” (p. 92)
O bom professor deve despertar em seus alunos uma atitude crítica,
reflexiva e autônoma. Suas necessidades individuais precisam ser respeitadas
e dessa maneira, o objetivo que é formar para a cidadania, é alcançado.
35
Quanto à interação professora/aluno, os dados demonstraram que ela se dá de forma intensa e calorosa. De um lado, há uma professora que respeita o aluno, acredita em sua capacidade, estimula sua autonomia e aposta em seu sucesso. De outro, há um aluno que por sentir-se amado, respeitado e acreditado, tudo faz para corresponder a isso. (MOYSÉS, 1994, p.93)
Para ser um bom professor não significa que os problemas não existam,
mas eles são enfrentados com conhecimento científico, com equilíbrio e com
determinação. O professor precisa conhecer sobre o assunto para poder tratá-
lo, ele precisa ter equilíbrio emocional para separar o profissional do pessoal e
precisa ter convicção naquilo que faz. A partir daí, o aluno desde os primeiros
dias na escola, respeitará o professor, confiará nele, nas suas palavras e nas
suas atitudes.
Observando essas palavras pode-se ter a impressão errada de que isso
nunca será possível e de que esse profissional não existe. Pelo contrário,
diversos professores no Brasil buscam soluções inteligentes no enfrentamento
de problemas que ocorrem diariamente em sala de aula. Essa busca por
soluções requer dedicação e desprendimento. Dedicação, pois o professor
deve ser incansável na pesquisa por melhores resultados e desprendimento,
pois algumas mudanças vão exigir do professor uma tomada de posição.
Muitas vezes, esse processo é doloroso, pois envolve mudança de atitude e
alguns sentimentos precisam ser colocados de lado.
De acordo com MOYSÉS (1994), “o compromisso político do professor
se expressa pela sua vontade de não compactuar com o fracasso escolar, pelo
espírito de luta por uma escola de melhor qualidade, pelo reconhecimento que
faz do valor pessoal e social de seus alunos e, sobretudo, por um profundo
desejo de contribuir para que eles possam fazer uso do saber escolar em
defesa de uma vida mais humana e mais digna.” (p.54)
Para que o trabalho do professor traga bons resultados uma parceria
entre a família e a escola deve ser almejada. Existem mecanismos que podem
e devem ser utilizados para que isso aconteça. A reunião de pais precisa ser
uma ferramenta mais bem aproveitada e a escola deve abrir as suas portas
36
para a comunidade. Os responsáveis pelos alunos precisam sentir que todos
trabalham com a mesma finalidade, ou seja, o desenvolvimento desses alunos.
A escola precisa respeitar a comunidade na qual está inserida para que
a relação flua de forma produtiva, ou seja, que cada um trabalhe dentro das
suas possibilidades em busca de bons resultados e de melhorias para os
alunos.
Nessa empreitada a formação continuada é bem vinda, mas precisa ser
muito bem planejada e aplicada por profissionais capacitados que tenham
conhecimento técnico, que conheçam as necessidades dos professores e que
se interessem pela comunidade local. O diálogo entre os professores, equipe
técnica-pedagógica e equipe diretiva também pode ajudar na busca por
estratégias que melhorem a aprendizagem dos alunos.
Dessa forma, nesse contexto de formação docente a Psicopedagogia
tem sido um diferencial importante no entendimento do processo de ensino-
aprendizagem para o professor. Através de informações relevantes da área o
educador se sente mais preparado e qualificado para enfrentar os desafios e
ajudar aos alunos com dificuldades de aprendizagem.
37
CAPÍTULO IV
A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA
O que é psicopedagogia e como surgiu
Segundo a Associação Brasileira de Psicopedagogia, a ABPP, “a
psicopedagogia é um campo de atuação em Saúde e Educação que lida com o
processo de aprendizagem humana.”
A psicopedagogia surgiu na Argentina, há mais de 30 anos, e chegou ao
Brasil na década de 70 onde as dificuldades de aprendizagem eram
associadas a distúrbios neurológicos. Ainda hoje, o que pode ser observado é
que a criança quando apresenta determinada dificuldade é encaminha pela
própria escola a um atendimento médico.
A psicopedagogia, por receber contribuições de algumas áreas como
Psicologia, Pedagogia, Psicanálise, surgiu da necessidade de compreender
melhor o processo de aprendizagem humana, para desmitificar o fracasso
escolar e trabalhar na linha das habilidades cognitivas.
A psicopedagogia é uma área do conhecimento que não procura os
culpados ou os responsáveis pelas dificuldades apresentadas pelo aluno, mas
busca intervir no processo de aprendizagem, interagindo com todos os
envolvidos.
Hoje, a psicopedagogia está além de uma junção entre a psicologia e a
pedagogia, ela diz respeito a uma prática e um conhecimento voltado para a
questão da relação do psiquismo com o processo da aprendizagem humana.
Nos estudos aplicados na psicopedagogia tanto a teoria de Piaget,
quanto a teoria de Vygotsky são fundamentais para compreensão e
entendimento do desenvolvimento infantil. Na teoria piagetiana a linguagem
avalia o desenvolvimento e na teoria de Vygotsky a linguagem reflete a
interação do indivíduo com o meio.
38
Para Vygotsky (2008), o bom ensino é aquele que estimula a criança a
atingir um nível de compreensão e habilidade que ainda não domina. Ensinar
novos conteúdos implica em ampliação das estruturas cognitivas da criança.
Para Piaget (2008), transmitir conhecimentos a uma criança é limitado e
não se pode ensinar a essa criança o que ela não tem condições e nem
interesse em aprender.
A psicopedagogia busca conhecimentos que ajudem nas questões da
aprendizagem escolar, ou seja, a aprendizagem que exige domínio e
responsabilidades.
De acordo com o Código de Ética e o Estatuto da Associação Brasileira
de Psicopedagogia, no capítulo II, em seu artigo 6º, são deveres fundamentais
dos psicopedagogos:
a) Manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que
tratem o fenômeno da aprendizagem humana;
b) Zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas,
mantendo uma atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes
visões do mundo;
c) Assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado
dentro dos limites da competência psicopedagógica;
d) Colaborar com o progresso da Psicopedagogia;
e) Difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe
sempre que possível;
f) Responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma
definição clara do seu diagnóstico;
g) Preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e
discussões feitos a título de exemplos e estudos de casos;
h) Responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes;
i) Manter atitude de colaboração e solariedade com colegas sem ser conivente
ou acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia. O respeito e
a dignidade na relação profissional são deveres fundamentais do
psicopedagogo para a harmonia da classe e manutenção do conceito público.
39
4.1 – A psicopedagogia na relação professor-aluno
Ao considerar a aprendizagem, observa-se que o processo de ensino é
efetivado em função da interação na relação professor-aluno e que nessa
interação existem muitos sentimentos envolvidos.
Atualmente, percebe-se que alguns professores não estão preparados
cientificamente ou pedagogicamente para atuar em sala de aula. Preocupam-
se apenas em transmitir os conteúdos e que seus alunos aprendam o que foi
ensinado.
Para se falar em relação professor-aluno é preciso falar das relações
humanas, de alegrias, de tristezas, de angústia e até mesmo da falta de
interesse por parte dos alunos e de suas dificuldades. Cada indivíduo difere do
outro e dessa forma, cada situação de aprendizagem exige habilidades e
intervenções ou mediações de acordo com o cognitivo do aluno e o conteúdo a
ser ensinado.
Dessa forma, as relações entre professores e alunos, a maneira como
se comunicam, os aspectos afetivos e emocionais, a dinâmica em sala de aula,
tudo deve fazer parte da organização do trabalho do professor.
O psicopedagogo institucional está qualificado e apto a dar assistência
aos professores e aos profissionais das instituições escolares em busca de
melhorias no processo de ensino-aprendizagem. Este profissional também
trabalha na prevenção dos problemas de aprendizagem e intervenção através
de metodologias e técnicas específicas da área.
O psicopedagogo prepara, com os professores, um ambiente
alfabetizador, propõem a melhor metodologia e a forma de intervenção a fim
de desobstruir o processo de aprendizagem dos alunos.
Em uma escola, a atuação psicopedagógica ocorre conforme as
necessidades dos alunos e pode abranger o fracasso escolar, o currículo, o
planejamento, a avaliação da aprendizagem, os conselhos de classe, as
reuniões de responsáveis, a indisciplina dos alunos.
40
Através de um trabalho preventivo do psicopedagogo na escola e na
família os alunos que provavelmente apresentarão dificuldades poderão ser
identificados antecipadamente. Após a realização de uma investigação e da
elaboração de um diagnóstico o aluno precisa de acompanhamento e sua
evolução deve ser registrada.
Como a atuação do psicopedagogo tem caráter preventivo, ele também
pode orientar responsáveis, auxiliar professores nas questões pedagógicas,
buscar junto à direção entrosamento dos profissionais da escola e
principalmente, ajudar ao aluno que precise de auxílio individualizado ou em
grupo.
As áreas de atuação da psicopedagogia são bastante diversificadas,
pois também abrange a área social e comunitária, área organizacional ou
empresarial, área hospitalar e área clínica.
Na área clínica ela só pode ser exercida em locais específicos para um
atendimento individualizado. A psicopedagogia clínica também pode ser
desenvolvida em instituições de saúde, que mantenham atendimento a
crianças provenientes de comunidades carentes.
4.2 – A psicopedagogia e a família
Certamente o processo de aprendizagem não acontece apenas na
escola, ele é construído pela criança junto a sua família e todo o meio social
em que ela esteja inserida. Como a família é o primeiro vínculo de afeto dessa
criança ela se torna responsável pela preparação e inserção desse indivíduo
na sociedade. Também é responsabilidade dessa família educar e
acompanhar essa criança em todo o seu processo de desenvolvimento.
Nos dias de hoje, o que pode ser observado são famílias
desestruturadas e desajustadas que transferem para a escola as suas
responsabilidades. Mesmo assim, a escola não pode se omitir, pois muitos
fatores que ocorrem dentro de casa prejudicam demasiadamente a
aprendizagem do aluno. Nessa hora o psicopedagogo pode intervir junto à
41
família, a fim entender o problema existente e auxiliar o aluno. Em alguns
casos, o fracasso escolar não está associado a fatores neurológicos, mas sim,
a falta de um vínculo afetivo desenvolvido no seio familiar.
Para ESCOTT e ARGENTI (2001), o psicopedagogo precisa se
comprometer com os alunos que possuem dificuldades de aprendizagem e
esse comprometimento deve ser para evitar que esse indivíduo sofra. Ele não
pode trabalhar apenas de maneira emergencial, mas precisa traçar metas a fim
de prevenir os problemas que certamente atrapalharão o seu desenvolvimento.
Quem mais sofre com as dificuldades no processo de aprendizagem é o
aluno. Conseqüentemente, o psicopedagogo precisará conhecer todos os
entraves que envolvem esse processo e trabalhar na prevenção, pois
antevendo os problemas será muito mais fácil tratá-los.
Às vezes, a escola deixa de ser um lugar prazeroso e se torna um lugar
ruim para o aluno, pois naquele momento ele pode estar enfrentando
problemas familiares, problemas com os professores ou com os colegas de
turma e o psicopedagogo precisa estar atento a esses fatores.
4.3 – A psicopedagogia e a formação docente
A psicopedagogia na formação docente é importantíssima, pois esta
área do conhecimento propõe um novo olhar para a aprendizagem humana e
os conhecimentos psicopedagógicos são necessários aos professores para
que os mesmos sejam capazes de identificar possíveis dificuldades de seus
alunos.
Alguns temas como desenvolvimento cognitivo, inteligência, transtornos,
dificuldades de aprendizagem e distúrbios precisam fazer parte dos cursos de
formação ou de atualização para os professores. Oficinas ou cursos de curta
duração que possam esclarecer os motivos de determinadas dificuldades de
aprendizagem também são válidos.
42
As práticas pedagógicas atualizadas e a psicopedagogia devem fazer
parte da formação de professores, para que ele entenda como ocorre o
processo de desenvolvimento da aprendizagem do aluno.
Enfim, a psicopedagogia ajuda a compreender as dificuldades de
aprendizagem de determinados alunos, auxilia o professor em sua prática
pedagógica e viabiliza junto à escola recursos que promovam a melhoria dessa
aprendizagem. Quando esses fatores ocorrem a psicopedagogia consegue
atingir seus objetivos.
43
CONCLUSÃO
A temática relação professor-aluno é bastante atual e tem sido
discutido por diversos profissionais da área de ensino. Conforme descrito
nessa pesquisa, a relação professor-aluno perpassa pela afetividade e pelo
profissionalismo. Nesse sentido, não é possível construir relações humanas
sem troca de sentimentos e afetos e sem um preparo intelectual na busca de
informações relevantes para a solução de problemas que possam surgir
durante o período desse relacionamento. Torna-se, então, necessário, a
existência de um diálogo produtivo entre o professor e o aluno. Nessa relação
o educador é o responsável pelo equilíbrio, pois ele é a parte adulta e a outra
parte é um indivíduo em processo de desenvolvimento.
É fundamental valorizar o profissional da educação no século XXI e
mostrar a importância do magistério na formação de novos cidadãos. Apesar
da falta de investimentos e do despreparo de alguns professores é possível
encontrarmos bons exemplos. Educadores que buscam ajuda especializada,
preparação contínua e de boa qualidade e que, com isso, demonstram que o
trabalho pode ser mais alegre e criativo.
A psicopedagogia tem desempenhado papel importante na formação
desses educadores, pois é um campo de atuação que trabalha com o processo
de aprendizagem do indivíduo. Esses conhecimentos são fundamentais para
que os educadores entendam todo o processo e saibam lidar com as
dificuldades apresentadas por seus alunos.
Portanto, o processo educacional é bem dinâmico e para que o
educador desempenhe suas atividades de forma produtiva e prazerosa, é
necessário que ele tenha conhecimento científico, equilíbrio emocional, ética
profissional e afetividade. Somente dessa forma os resultados serão positivos
e os objetivos serão alcançados.
44
BIBLIOGRAFIA
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Cortez, 2000.
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MOYSÉS, Lucia Maria. O desafio de saber ensinar. 12. ed. Campinas, SP:
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45
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http://www.portal.mec.gov.br/seb/arquivos. Acesso em 12/07/2009.
http://www.psicopedagogia.com.br/artigos. Acesso em 10/05/2009.
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
BREVE HISTÓRICO SOBRE A EDUCAÇÃO 11
CAPÍTULO II
REFLEXÕES SOBRE AFETIVIDADE E
PROFISSIONALISMO 20
2.1 – A afetividade no processo de ensino-aprendizagem 21
2.2 – Profissionalismo necessário 27
CAPÍTULO III
BONS EXEMPLOS PARA A EDUCAÇÃO 34
CAPÍTULO IV
A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA 37
4.1 – A psicopedagogia na relação professor-aluno 39
4.2 – A psicopedagogia e a família 40
4.3 – A psicopedagogia e a formação docente 41
CONCLUSÃO 43
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44
ÍNDICE 46
FOLHA DE AVALIAÇÃO 47
47
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: IVM – INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
Título da Monografia: RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO: UM DIÁLOGO
ENTRE AFETIVIDADE E PROFISSIONALISMO
Autora: Liliam Rangel de Assis
Data da entrega: 01/08/2009
Avaliado por: Flávia Cavalcanti Conceito: