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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
CURSO DE FOTOGRAFIA – TECNOLOGIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO II
BIANCA DICKEL CAMPANHER
IMAGEM PARA AS MÃOS: TRANSFORMANDO FOTOGRAFIA EM MAQUETE
TÁTIL
CAXIAS DO SUL
2016
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BIANCA DICKEL CAMPANHER
IMAGEM PARA AS MÃOS: TRANSFORMANDO FOTOGRAFIA EM MAQUETE
TÁTIL
Trabalho de Conclusão – TCC do Curso
Fotografia – Tecnologia da Universidade
de Caxias do Sul – UCS, apresentado
como requisito básico para obtenção de
Grau de Tecnólogo em Fotografia.
Orientadora: Prof. Ma. Myra Adam de
Oliveira Gonçalves
CAXIAS DO SUL
2016
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BIANCA DICKEL CAMPANHER
IMAGEM PARA AS MÃOS: TRANSFORMANDO FOTOGRAFIA EM MAQUETE
TÁTIL
Trabalho de Conclusão – TCC do Curso
Fotografia – Tecnologia da Universidade
de Caxias do Sul – UCS, apresentado
como requisito básico para obtenção de
Grau de Tecnólogo em Fotografia.
Orientadora: Prof. Me. Myra Adam de
Oliveira Gonçalves
Aprovada em ___/___/ 2016.
Banca Examinadora
________________________________________
Prof. Me. Myra Adam de Oliveira Gonçalves
Universidade de Caxias do Sul
________________________________________
Prof. Me. Edson Luiz Scain Corrêa
Universidade de Caxias do Sul
________________________________________
Prof. Dra. Silvana Boone
Universidade de Caxias do Sul
3
AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer, primeiramente, ao diretor do Instituto Memória
Histórica e Cultural, Anthony Beux Tessari, e ao fotógrafo Aldo Toniazzo por me
disponibilizarem e aceitarem o uso do acervo fotográfico para realizar este trabalho,
e por disponibilizarem um local onde será exposta a maquete tátil junto à fotografia
original.
A minha orientadora, Prof. Me. Myra Adam de Oliveira Gonçalves, por me
ensinar tanto e me fazer querer aprender muito mais sobre fotografia, por me
orientar durante o TCC, e por mostrar interesse no meu trabalho.
A todos os professores que me passaram os seus conhecimentos e me
ajudaram a crescer ao longo do curso.
Agradeço a todos os meus colegas de trabalho e amigos que me ajudaram ao
longo deste momento tirando minhas dúvidas e me fornecendo dicas para tornar o
meu trabalho melhor.
Ao Eduardo por me dar apoio e ter tanta paciência nesse momento importante
da minha vida e por ter sido meu ajudante diversas vezes durante a confecção da
maquete. Agradeço também à família dele por ter me disponibilizado a casa para
que eu pudesse conseguir produzir a maquete e por não terem se importado de eu
deixar uma bagunça enorme durante dois meses.
E agradeço também minha mãe e meu pai pela paciência, pelas dicas e pela
ajuda.
4
“Para que servem todos os satélites de
observação se não sabemos mais olhar além
de nosso pequeno cotidiano visível?”
Evgen Bavcar
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo a transformação de fotografias
bidimensionais em maquetes táteis, a fim de estimular a percepção da fotografia
através de outros sentidos além da visão, ampliando e diversificando o público
visitante, com foco nos deficientes visuais, do acervo do Instituto Memória Histórica
e Cultural – IMHC pertencente à Universidade de Caxias do Sul. A maquete foi
produzida com materiais de fácil acesso encontrados normalmente em papelarias e
ficará exposta junto com a Mostra Fotográfica “Patrimônio Cultural e Sociedade
Sustentável” localizada no Bloco 46 da Universidade. A inclusão de métodos de
acessibilidade é essencial para oportunizar a experiência de visitação a um acervo e
aprofundar o conhecimento do patrimônio histórico e cultural da cidade de Caxias do
Sul e sua região.
Palavras-chave: Maquete tátil. Fotografia. Deficiência Visual. Acessibilidade.
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ABSTRACT
The present work aims the transformation of two-dimensional photographs into
physical, tactile models, with the intent to stimulate the perception of photography
through senses other than vision, amplifying and diversifying the audience, with a
focus on the vision impaired, of the collection of the Instituto Memória Histórica e
Cultural - IMHC, belonging to the University of Caxias do Sul. The model was
produced by the student with easy-to-access materials, usually found in brick-and-
mortar stores, and will be in exposition together with the Photography Exhibition
“Cultural Heritage and the Sustainable Society” at the Block 46 of the University. The
inclusion of accessibility methods is essential to provide the opportunity of the visiting
experience to a collection, and deepen the knowledge of the historical and cultural
heritage of the city of Caxias do Sul and its region.
Keywords: Tactile model. Photography. Vision impairment. Accessibility.
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 9
2. PROJETOS EM FOTOGRAFIA AUTORAL ........................................................ 12
2.1 A FOTOGRAFIA EM PROJETOS PARA DEFICIENTES VISUAIS ................... 14
2.1.1 O que é deficiência visual? ...........................................................................14
2.1.2 Alguns apontamentos sobre inclusão ........................................................ 15
2.1.3 Projetos para pessoas com deficiência visual ........................................... 16
2.2 UMA EXPERIÊNCIA TÁTIL .................................................................................18
2.3 A MAQUETE .......................................................................................................19
3. FOTÓGRAFOS CEGOS ...................................................................................... 22
4. INSTITUTO MEMÓRIA HISTÓRICA E CULTURAL E O PROJETO ECIRS ...... 27
5. METODOLOGIA .................................................................................................. 33
5.1 A CONSTRUÇÃO DA MAQUETE: PASSO A PASSO ...................................... 34
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 44
REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 46
FONTES CONSULTADAS ...................................................................................... 49
APÊNDICES ............................................................................................................. 51
APÊNDICE A – FOTOGRAFIA DA MAQUETE ........................................................ 52
APÊNDICE B - ESBOÇO DA CAIXA DE SUPORTE EM MADEIRA ....................... 53
APÊNDICE C - ESBOÇO DA CASA ........................................................................ 54
APÊNDICE D - ESBOÇO DA RODA D’ÁGUA ......................................................... 55
APÊNDICE E - ESBOÇO DA MAQUETE VISTA DE CIMA ..................................... 56
8
APÊNDICE F - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA A UTILIZAÇÃO DE IMAGEM
ASSINADO PELO FOTÓGRAFO ALDO TONIAZZO ............................................... 57
APÊNDICE G - TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA A UTILIZAÇÃO DE IMAGEM
ASSINADO PELO DIRETOR DO IMHC ANTHONY BEUX TESSARI .................... 58
APÊNDICE H - TERMO DE RESPONSABILIDADE ASSINADO PELO DIRETOR DO
IMHC ANTHONY BEUX TESSARI ........................................................................... 59
APÊNDICE I - TABELA DE GASTOS ...................................................................... 60
APÊNDICE J – CD CONTENDO O MAKING OF DA CONSTRUÇÃO DA MAQUETE
E AS FOTOGRAFIAS APRESENTADAS DURANTE O TRABALHO ...................... 61
APÊNDICE K – TCC 1 ............................................................................................. 62
ANEXOS .................................................................................................................. 77
ANEXO A - FOLDER DE DIVULGAÇÃO DO INSTITUTO MEMÓRIA HISTÓRIA E
CULTURAL ............................................................................................................... 78
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1. INTRODUÇÃO
Ao visitarmos um museu ou acervo, as obras em geral como pinturas,
fotografias e esculturas são, em sua maioria, orientadas a serem vistas de longe. O
toque e o manuseio são proibidos. A pintura pode ficar danificada, a escultura pode
perder sua forma original, a fotografia pode deteriorar-se. Um acervo histórico é
tratado com todo o cuidado em relação a este assunto. Os objetos pertencentes ao
acervo devem ser manuseados obrigatoriamente com luvas, sempre cuidando para
não se perder informações que podem ser únicas em nossa história. A fotografia,
completamente visual, deve ser vista sem ser tocada, para que não fiquem marcas
de digitais nelas. Como é possível a apresentação destas obras e acervos para
pessoas com deficiência visual, já que eles possuem os mesmo direitos que
qualquer outra pessoa, inclusive em âmbito cultural?
A proposta deste trabalho consiste em, como o próprio título diz, a
transformação da fotografia bidimensional, puramente visual, em maquete tátil, a fim
de disponibilizar o conhecimento da mesma por pessoas portadoras de baixa visão
ou cegueira. Diferentemente das obras citadas no parágrafo anterior, esta maquete
pode e deve ser manuseada com as mãos, sendo possível o reconhecimento dos
objetos representados através do tato e da textura, sem que haja a necessidade da
visão como fonte de informação.
A ideia para este projeto surgiu a partir da vontade de criar texturas táteis em
fotografias, sem o intuito da acessibilidade. Para acrescentar ao trabalho um
propósito com conteúdo, foi pensando em direcionar estas fotografias aos
deficientes visuais, acrescentando a inclusão como parte essencial do projeto. Por
ser estagiária do Instituto Memória Histórica e Cultural (IMHC) da Universidade de
Caxias do Sul (UCS), e estar em constante contato com o seu acervo fotográfico,
com a ajuda do Anthony Beux Tessari, diretor do IMHC, decidi utilizar uma das
fotografias pertencentes ao acervo como referência para a construção da maquete.
A fotografia utilizada é um registro de uma casa em sua maioria de madeira e
pedras, com uma roda d’água do lado e ambas rodeadas de vegetação, e ela
pertence à Mostra Fotográfica “Patrimônio Cultural e Sociedade Sustentável”.
O objetivo deste trabalho foi criar uma maquete tátil a partir da fotografia
escolhida que pudesse ser tocada tanto por deficientes visuais quanto por videntes e
que fosse possível o reconhecimento total do cenário através das formas e texturas
10
dos objetos representados. Acredito que seja de grande importância a criação de um
projeto de acessibilidade e inclusão dentro do acervo para que seja possível a visita
de deficientes visuais a um ambiente tão rico de informações e cultura como é o
caso do IMHC.
Como metodologia, foi utilizada a pesquisa em internet, baseando-se no texto
de Yamaoka (2014) em que ela problematiza a pesquisa virtual e nos ajuda a fazer
escolhas. A partir disto foi possível encontrar artigos, sites e reportagens sobre
cartografia tátil, maquetes táteis e sonoras, documentários e projetos já aplicados
em âmbito nacional sobre maquetes táteis e deficientes visuais. Outro método,
usando Stumpf (2014) como base, foi a pesquisa bibliográfica, utilizando como
referências livros sobre deficiência visual, o direito dos deficientes, sobre a
construção da maquete convencional, entre outros. O método utilizado para a
construção da maquete em si, além da pesquisa em internet, a bibliográfica e a
pesquisa em arte, foi a experimentação, ou como é chamado por Zamboni (2012),
“método da desordem experimental”, ou seja, descobrindo por conta própria os
melhores materiais a serem utilizados. Como parte integrante do trabalho, foram
produzidos um passo a passo da construção da maquete tátil e um making of que
pode ser visto no CD localizado nos apêndices.
Para uma melhor funcionalidade deste trabalho, ele foi dividido em quatro
partes. No capítulo 2, “Projetos em Fotografia Autoral”, são descritas as etapas para
a realização de projetos autorais, é esclarecido qual o conceito de deficiência visual,
são apresentados fragmentos da Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência, e são citados alguns projetos para pessoas com deficiência visual que já
foram aplicados e que foram utilizados como referência para a realização deste
trabalho. Ainda neste capítulo é citado o objetivo e o contexto de utilização da
Cartografia Tátil e qual foi a importância dela neste trabalho enquanto projeto, o que
é a maquete, e ainda pode ser visto a lista de materiais utilizados para a construção
da maquete tátil. No capítulo 3, intitulado “Fotógrafos Cegos”, são apresentados três
grandes fotógrafos com cegueira ou baixa visão presentes no documentário “Luz
Escura: A Arte dos Fotógrafos Cegos”, e o artista e filósofo esloveno Evgen Bavcar.
No quarto capítulo, é explicado o que é o Instituto Memória Histórica e Cultural,
acervo ao qual foi utilizada a fotografia como referência para a maquete tátil, quais
são os seus setores, e o que cada um deles tem a nos oferecer como conteúdo
11
histórico. No quinto capítulo são explicadas as metodologias utilizadas neste
trabalho e, por último, o passo a passo detalhado da construção da maquete tátil.
Podemos concluir que através dos comentários e críticas dos colegas de
trabalho do IMHC e do próprio fotógrafo Aldo Toniazzo que, com um venda no rosto,
conseguiu identificar sem ajuda todos os elementos presentes, foi possível construir
uma maquete funcional, acreditando que isto só será realmente comprovado quando
forem realizadas visitas de pessoas com deficiência visual ao acervo. Esperamos
que este trabalho obtenha ótimos resultados e que possa ser aproveitado da
maneira como ele foi planejado.
12
2. PROJETOS EM FOTOGRAFIA AUTORAL
A fotografia possui muitas vertentes, usos e funções, e em qualquer uma
delas, para o profissional conseguir se destacar e possuir um diferencial é
necessário um pouco de criatividade. Uma das vertentes existentes é a da fotografia
autoral, que acredito ser uma área que possui uma dualidade, na qual o projeto a ser
criado pode ser considerado mais fácil e agradável por ser elaborado totalmente ou
quase do ponto zero, ou em contrapartida, mais difícil e desafiador exatamente pelo
mesmo motivo citado. Logo, a realização de projetos autorais requer muita
criatividade, conhecimento e pesquisa em diversas áreas.
Não é raro ouvirmos que não existem ideias originais e inovadoras, que
atualmente tudo já foi criado por outra pessoa e estamos apenas transformando e
evoluindo conceitos já existentes. A fotografia autoral surge a partir da essência de
cada um, de nossa personalidade, nossas vivências, experiências, conhecimentos,
do nosso olhar observador ao meio em que vivemos e de tudo o que já foi
pesquisado por nós até o presente momento, e como é dito por Fox e Caruana,
a pesquisa e a exploração são elementos fundamentais da prática do fotógrafo. Juntas, elas compõem o processo de realização dos projetos fotográficos. Os fotógrafos podem fazer suas pesquisas de muitas maneiras diferentes, mas, essencialmente, desenvolvem uma obra fotográfica pelo conhecimento adquirido ao explorar o meio: pesquisando narrativas e teorias da fotografia, observando o mundo, lendo e ouvindo, participando de debates, reflexão crítica, e inúmeras outras atividades (2013, p.6).
Segundo Fox e Caruana (2013), os passos para a realização de projetos
autorais são divididos em etapas. O primeiro passo, o planejamento, consiste em
pesquisar o contexto do assunto, suas teorias e os motivos pelo qual o projeto está
sendo criado. É importante também elaborar um cronograma de atividades e um
orçamento para tornar o trabalho mais concreto e aplicável. O segundo passo é o
desenvolvimento de ideias por meio de pesquisas. A pesquisa não só é possível ser
realizada em arquivos pessoais como livros, revistas, fotografias e também em
bibliotecas, museus, internet, como em tantos outros lugares como o jornal local do
dia, as redes sociais, uma conversa com o vizinho, uma palestra, um filme, uma
música, uma coreografia. Segundo Fox e Caruana, “Todas as séries fotográficas são
concretizadas como base em pesquisas – da pesquisa acadêmica a captar uma
conversa ouvida no ônibus” (2013, p.11). O terceiro passo é a prática fotográfica
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como pesquisa. Muitas vezes imaginamos e elaboramos uma ideia durante muito
tempo em nosso imaginário e só vamos descobrir que existem barreiras práticas na
hora de testar o projeto. A maquete tátil criada, que será apresentada em um
capítulo posteriormente, é um bom exemplo a ser citado, pois, como não era de meu
total conhecimento todos os materiais utilizados e seus possíveis empecilhos, foi
apenas testando, errando e tentando consertar estes erros que consegui chegar a
um resultado final satisfatório. O quarto passo é a compilação de suas pesquisas, no
qual as autoras expõem que é essencial fazer um registro organizado de seus
materiais de pesquisa para futuras consultas e até mesmo consultas de outros
possíveis pesquisadores. Manter um diário pode ser um ótimo meio para uma futura
pesquisa (FOX; CARUANA, 2013, p.144), registrando o progresso de todo o
desenvolvimento desde a investigação até a prática. Esta compilação pode ser feita
em pastas físicas, por exemplo, ou até mesmo, para garantir uma maior durabilidade
do material, pode ser digitalizada e armazenada em pastas de trabalhos digitais e
compartilhadas em um blog, tornando a sua pesquisa pessoal disponível ao mundo
inteiro. Qualquer fonte ou ideia não utilizada em algum momento pode se tornar
muito útil futuramente. “Não mantenha seu plano inflexivelmente – ele é apenas um
guia. Não descarte fonte de pesquisas” (FOX; CARUANA, 2013, p.11).
Após todo o trabalho de investigação e observação, chegamos ao passo de
colocar a pesquisa em prática. Neste momento é quase impossível conseguirmos
separar tudo o que foi aprendido com o que será criado, porém, é possível também
que ainda haja falhas a serem descobertas e que será necessário descobrir modos
de consertá-las, pois,
desde o momento em que você começa a testar a relevância de seu trabalho, a determinar seu público, e a se dar tempo para ver seus resultados a partir de novos ângulos até as decisões finais de produção sobre a apresentação do trabalho, sua pesquisa informará continuamente sua prática (FOX; CARUANA, 2013, p.121).
O último passo é o impacto da pesquisa. Acredito que nenhum bom projeto
deva ser realizado apenas pelo fato de o artista querer, é necessário que haja uma
vontade de evolução, seja qual for motivo, pessoal ou profissional, o fotógrafo deve
levar ao público uma história, um conhecimento a mais, uma visão do mundo
diferente. As exposições fotográficas podem exercer um papel fundamental na
divulgação dos trabalhos artísticos, mas o público muitas vezes se limita a mesma
14
comunidade frequentadora de galerias e museus (FOX; CARUANA, 2013, p.143).
Mas, felizmente, com a atual tecnologia é possível divulgarmos nossas criações em
exposições online, blogs e redes sociais, possibilitando o acesso do nosso trabalho
ao mundo inteiro.
2.1 A FOTOGRAFIA EM PROJETOS PARA DEFICIENTES VISUAIS
Para uma melhor compreensão deste trabalho, acreditamos que sejam
necessários alguns esclarecimentos sobre alguns fatores, tais como: quais são
exatamente os conceitos de deficiência e deficiência visual; quais são os direitos que
os deficientes possuem em meio à sociedade; e a exemplificação de alguns projetos
para as pessoas com deficiência visual que já estão sendo aplicados pelo Brasil e
pelo mundo.
2.1.1 O que é deficiência visual?
Em um conceito mais amplo, diz-se que deficiência é uma significativa
restrição sensorial, mental ou física e não pode ser confundida com incapacidade,
pois, a incapacidade para a elaboração de alguma atividade (como andar, ver, ouvir,
etc.) é considerada como uma consequência da deficiência, não implicando na
incapacidade de outras atividades (FÁVERO, 2004, p.24). Para um esclarecimento
legal,
considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas (Art. 2º da Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015).
A deficiência visual caracteriza-se pela perda definitiva da resposta visual,
normalmente causada por doenças congênitas ou hereditárias. Os portadores de
males como astigmatismo, hipermetropia e miopia não são incluídos nessa
classificação, pois essas condições podem ser tratadas através de óculos, lentes ou
cirurgias. A pessoa com deficiência visual não precisa necessariamente ser cega
(Associação Baiana de Cegos, 2009). Segundo a OMS, Organização Mundial da
Saúde (1972), os diferentes graus de visão podem ser classificados em: Baixa Visão
15
(leve, moderada ou profunda), compensada com o uso de lentes de aumento, lupas,
telescópios, com o auxílio de bengalas e de treinamentos de orientação; Próximo à
Cegueira, quando a pessoa ainda é capaz de distinguir luz e sombra, mas já
emprega o sistema braile para ler e escrever, utiliza recursos de voz para acessar
programas de computador, locomove-se com a bengala e precisa de treinamentos
de orientação e de mobilidade; e Cegueira, quando não existe qualquer percepção
de luz. O sistema braile, a bengala e os treinamentos de orientação e de mobilidade,
nesse caso, são fundamentais. Segundo ainda a OMS, estima-se que cerca de 1%
da população mundial seja portadora de algum desses níveis de deficiência.
A fotografia é uma área voltada totalmente para a estética visual. Aprendemos
sobre enquadramento, disposição de luzes, fotometria, tudo baseado no que
enxergamos e no que vai ser mais agradável visualmente. Como é dito por
Amiralian,
o ver parece ocupar, cada vez mais, um lugar de destaque em nossa vida. Os educadores consideram que 80% de nossa informação é recebida pela visão: a televisão, os outdoors, a vitrine, substituem o rádio e a propaganda sonora. Vivemos hoje mergulhados em um mundo de cores e sombras. E os sujeitos cegos, como ficam neste mundo predominantemente visual? (1997, p.23).
2.1.2 Alguns apontamentos sobre inclusão
As pessoas com deficiência merecem ser respeitadas e possuem o direito de
não serem discriminadas, assim como qualquer outra pessoa, com deficiência ou
não. Porém, casos de discriminação e preconceito existem e acontecem todos os
dias, por isso, para garantir a igualdade e os direitos de inclusão e acessibilidade, foi
sancionada em 6 de Julho de 2015 a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com
Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Nesta lei, diz-se que é
considerada discriminação por causa da deficiência toda e qualquer forma de
exclusão, distinção ou restrição (por ação ou omissão) que tenha como objetivo ou o
efeito de impedir, prejudicar ou anular o reconhecimento dos direitos e da liberdade
da pessoa com deficiência, e isso inclui a rejeição de “adaptações razoáveis e de
fornecimento de tecnologias assistivas” (Art. 4º, § 1º).
16
Todos possuem o direito à educação, à saúde, ao trabalho, à moradia, à
segurança e ao lazer, e para as cidadãos com deficiência, é necessário que haja
acessibilidade para que tais direitos sejam realmente cumpridos e usufruídos, e
segundo o Artigo 3º, acessibilidade é a
possibilidade e condição de alcance para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como de outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privados de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou com mobilidade reduzida (Lei nº 13.146, de 6 de Julho de 2015).
Em relação aos direitos de acesso a ambientes culturais, que é o caso dos
acervos pertencentes ao Instituto Memória Histórica e Cultural (que será
apresentado posteriormente), o Capítulo IX da lei sancionada garante o direito à
cultura, ao esporte, ao turismo e ao lazer, e nele é dito que é garantido o acesso a
“bens culturais em formato acessível”, a “atividades culturais em formato acessível” e
a “monumentos e locais de importância cultural e a espaços que ofereçam serviços
ou eventos culturais” (Art. 42).
A discriminação existe e é de grande importância que as pessoas com
deficiência sejam vistas como portadoras dos mesmos direitos que qualquer outra
pessoa pertencente à sociedade. Como é dito por Eugênia Augusta Gonzaga
Fávero, “a principal barreira a ser derrubada é a barreira da atitude”, a barreira
que faz com que os programas de acessibilidade sejam destinados apenas a locais que alguns consideram bons para quem tem deficiência, mas esquecendo que esses cidadãos também querem ir em boates, motéis, praticar esportes, entre outros. A barreira que determina que apenas alguns programas de rádio, televisão, sítios eletrônicos (normalmente sobre seus direitos) estejam adaptados para pessoas com deficiência sensorial, esquecendo=se de que elas querem e têm o direito de acesso a qualquer tipo de programação (2004, p.182).
O processo de inclusão é contínuo e progressivo, e ainda existem muitos
aspectos a serem melhorados, tanto físicos quanto sociais.
2.1.3 Projetos para pessoas com deficiência visual
É necessário serem citados alguns projetos que foram utilizados como
referência para a elaboração deste trabalho e da confecção da maquete tátil.
Utilizando a tecnologia de impressão 3D, devemos citar o incrível experimento
“Touchable Memories” (Memórias Tocáveis, em português), criado pela Agência
17
LOLA para a empresa sediada em Singapura, Pirate3D. Este projeto se dispõe a
ajudar as pessoas cegas e com baixa visão a se recordarem de memórias visuais
imprimindo em 3D recordações de família e fotografias pessoais de seus respectivos
passados (CARVALHO, 2014). Também é possível citar a reportagem do G1 sobre o
caso brasileiro da mãe Tatiana Guerra, que por causa de uma esclerose múltipla aos
17 anos possui apenas 8% da visão. Ao fazer o exame de ultrassom aos cinco
meses de gestação de seu segundo filho, ela conseguiu ver o seu rosto devido à
impressão 3D do exame seguido de um recado em braile que dizia “Eu sou seu filho”
(ROSSI, 2015).
Intitulada A Arte de Sentir, a exposição de maquetes táteis coordenada pelo
Instituto AME, foi criada a partir de um projeto integrando arte, arquitetura, design e
comunicação, utilizando materiais interativos e multisensoriais, estimulando o
público a utilizar todos os cinco sentidos. Além das maquetes, a mostra oferecia
filmes com audiodescrição, audioteca, atividades com textura e práticas em braile,
informática acessível, entre outros, e sua intenção é “disseminar a informação,
sensibilizar e conscientizar sobre questões de acessibilidade para a população”
(Instituto AME, 2011). As maquetes táteis presentes na exposição são de autoria da
designer Dayse Tarricone, Formada pela Faculdade de Desenho Industrial da
Universidade Mackenzie e especializada em projeto e execução de maquetes e
esculturas táteis, réplicas articuláveis, kits didáticos e adaptações de obras
bidimensionais em tridimensionais.
O Projeto Ver Com as Mãos, uma das primeiras referências utilizadas,
nasceu, segundo a coordenadora do projeto Diele Pedrozo, a partir da necessidade
observada em sala durante as aulas de Artes, em que foi possível perceber que a
maioria dos alunos não sabia utilizar o desenho como forma de comunicação, não
participando, assim, de uma forma efetiva das aulas. Durante o projeto é possível
também participar de oficinas de arte, música, expressão corporal, e conviver em
espaços que são pouco utilizados por quem possui baixa visão ou cegueira, como é
o caso dos museus (2012).
Também foram utilizados artigos e reportagens online sobre maquete táteis e
maquetes táteis sonoras, comumente utilizadas no ensino de Geografia em sala de
aula, que podem ser consultadas na lista de referências no final do trabalho.
18
2.2 UMA EXPERIÊNCIA TÁTIL
“O olhar físico que quer ver não é aquele olhar da verdade, pois a presença
de um objeto só pode ser confirmada pelo toque físico. Por essa razão, o tato
permanece [...] o único órgão da verdade” (BAVCAR, 2000, p.18).
As pessoas videntes vinculam diariamente o que aprendem em sala de aula
ou no dia-a-dia com o cenário em que vivem. As pessoas com deficiência visual, por
não terem essa possibilidade de vínculo imagético acabam muitas vezes não
conseguindo conectar as informações recebidas umas com as outras. Como é dito
por Custódio, Nogueira e Chaves:
as pessoas com deficiência visual, devido à inexistência de facilitadores que possibilitem sua interação com o meio onde estão inseridas e as barreiras encontradas no processo de escolarização, deparam-se com grandes dificuldades de acesso às informações. Esses entraves, muitas vezes, impedem as pessoas com deficiência visual de unir suas experiências cotidianas com o saber apreendido em sala de aula, resultando na formação de conceitos totalmente desvinculados da realidade (2011, p.580).
Com isso houve a necessidade da criação de um artifício de ensino que
pudesse atender também os alunos portadores de cegueira ou baixa visão, e apesar
de a Cartografia Tátil ser pesquisada a mais de cem anos pelo mundo, esse tema
ainda é muito recente entre os brasileiros.
O ensino da geografia local é essencial para essas pessoas e existem
diversos projetos espalhados pelo Brasil que visam criar mapas táteis a fim de
auxiliar as pessoas com deficiência visual a se locomoverem sem o auxílio de outros
pela sua cidade ou região. Existem situações em que a descrição oral não é
suficiente para a total compreensão da informação que se está tentando passar,
logo, a Cartografia Tátil geralmente é utilizada em salas de aula no ensino de
Geografia, disponibilizando o conhecimento mais aprofundado dos relevos do país
ou em espaços públicos, ajudando o indivíduo na sua localização dentro de um
espaço físico.
Ao pensar sobre isso, podemos nos questionar sobre coisas que nunca antes
passaram em nossa cabeça. Questões que podem ser cotidianas para quem é ou
convive com quem possui esse tipo de condição, mas que para quem é vidente e
não possui esse convívio, é algo extremamente curioso, pois é compreensível em
nossa mente egocêntrica raramente imaginarmos um mundo pelo qual não
19
pertencemos. Estamos cansados de ver fotografias de pôr do sol na praia e
pássaros voando no céu, que para nós se tornam banais com o tempo e que pra
eles pode ser uma paisagem que nunca será vista como ela realmente é. Podemos
nos questionar sobre qual a noção das pessoas com deficiência visual sobre escala,
se elas possuem noção da altura da casa ou do prédio onde moram, da altura e do
comprimento de ônibus, trens e pontes. É difícil compreender como é viver sem ter
total noção dos objetos e construções ao nosso redor, que apesar de pertencerem
ao nosso dia-a-dia não é fácil conhecermos apenas pela descrição oral ou a
imaginação.
Pois é justamente de todas estas referências que foi possível retirar as ideias
para a construção da maquete tátil.
Comumente são utilizados diversos materiais na confecção de maquetes e
mapas táteis como tecidos, vidros, massas de modelar, telas, EVA, entre outros,
sempre buscando o melhor aproveitamento dos materiais para cada situação. Para
um maior entendimento do conteúdo pela pessoa com deficiência, as maquetes,
gráficos e mapas táteis devem ser mais generalizados, sem muitos detalhes, devem
apresentar cores fortes e estarem em escrita convencional e em Braille, para poder
atender tanto cegos quanto pessoas com baixa visão (ALMEIDA, 2011).
2.3 A MAQUETE
A maquete é um instrumento de representação em três dimensões do que,
normalmente, já foi elaborado antecipadamente em duas dimensões. É o projeto em
menor escala que tem como objetivo levar ao cliente ou ao público em geral o
conteúdo a ser realizado, tornando-o mais “concreto e palpável”. “A maquete deve
revelar capacidade de síntese para conseguir representar a essência do projeto na
redução de escala” (CONSALEZ, 2001, p. 4).
A escolha dos materiais a serem utilizados depende do objetivo a ser
buscado. Segundo ainda Consalez (2001), a maquete feita para ser usada como
objeto de estudo é construída com cartolina ou cartão pluma, que facilitam possíveis
correções e possibilitam uma rapidez na execução, enquanto na maquete de
apresentação, usada como produto final, são utilizados materiais sólidos e de
qualidade, como madeira maciça e metais, que permitem a realização de uma
maquete cuja imagem e duração é superior.
20
Como o objetivo deste trabalho era uma maquete não somente visual, mas
que promovesse uma participação tátil ativa dos visitantes, buscou-se objetos
resistentes ao toque e que não oferecessem danos físicos aos usuários. Uma das
ideias inicias era a produção da maquete a partir da tecnologia de impressão 3D,
porém resolvi utilizar materiais que chegassem o mais perto possível de sua textura
original para ajudar na identificação dos elementos, como, por exemplo, palitos de
madeira para as paredes de madeira, cascalho para a base da casa, um pedaço de
galho para representar o tronco da árvore, etc.
A lista completa de materiais utilizados e suas respectivas funções na
maquete podem ser vista abaixo:
(continua)
21
(conclusão)
A tabela de gastos com a especificação do produto e seu valor pode ser vista
no APÊNDICE I.
Será disponibilizado junto à maquete um cartaz em braile com a explicação
do projeto para ampliar ainda mais as estratégias de acessibilidade para as pessoas
portadoras de deficiência visual.
22
3. FOTÓGRAFOS CEGOS
É difícil imaginarmos como uma profissão que requer tanto o sentido da visão
possa ser exercida exatamente por quem tem baixa visão ou cegueira. O
documentário da HBO Dark light: The art of blind photographers, traduzido em
português para Luz escura: A arte dos fotógrafos cegos, nos apresenta a mostra
fotográfica Sight Unseen, a primeira grande mostra já realizada que reúne os
fotógrafos com deficiência visual mais talentosos do mundo.
Segundo o curador da mostra, Douglas McCulloh, “A maioria das pessoas
acha que os fotógrafos operam através dos olhos, visualmente, mas os fotógrafos
sabem que operam através da mente. E como estes fotógrafos não têm visão, estas
fotografias são unicamente composições visuais” 1(00:02:27). Ele conta que
começou a se envolver com fotografia para cegos depois de se interessar em
fotografia circunstancial, e que na época não tinha percebido, mas que na verdade
estes fotógrafos são verdadeiros artistas, pois não trabalham com o acaso e a falta
de controle sobre a obra.
Pete Eckter, um dos fotógrafos participantes da mostra, perdeu sua visão
depois de ter retinite pigmentosa, que é um conjunto de doenças hereditárias que
causam a degeneração da retina. Ele usa um medidor de luz adaptado com um leitor
de braile para ajudar a compor suas fotografias que já são construídas previamente
(e às vezes podem levar meses) em seu imaginário. “Eu não faço mesmo uma
fotografia convencional. Eu poderia, mas por que mostrar o mundo da visão? Eu não
faço mais parte do mundo da visão. O mundo que eu tento mostrar e o mundo ao
qual pertenço agora é o mundo dos cegos” (00:16:58) diz Eckter.
Pete seguidamente utiliza a técnica fotográfica do lightpainting, ele gosta de
ter total controle do seu trabalho e não envolve ninguém que seja capaz de
enxergar, pois acredita que se envolvesse alguém que enxerga ele estaria
fraudando a imagem.
1 Devido a fonte do texto ser um documentário, acredita-se que utilizar a minutagem foi o jeito mais
apropriado de citar a referência.
23
Figura 1 – Fotografia de autoria de Pete Eckert
Fonte: http://peteeckert.com/portfolio/gallery/
Henry Butler teve glaucoma infantil e além de ser fotógrafo é conhecido
mundialmente por ser um renomado pianista. Quando faz seus passeios
fotográficos, leva uma acompanhante pelas ruas para poder fazer perguntas sobre o
cenário presente, a distância dos objetos, suas cores, sobre a disposição do sol, o
que as pessoas estão usando e fazendo, entre outros questionamentos que acredita
serem importantes para ele. Henry diz que gosta de fotografar pessoas porque às
vezes é possível sentir suas diferentes expressões faciais. “Eu gosto do improviso
da fotografia como gosto do improviso da música” (00:23:48), comenta, “Não é uma
questão de como eu visualizo ou como eu enxergo com os olhos físicos, mas como
eu sinto a energia quando ela vai e vem” (00:27:20).
24
Figura 2 – Fotografia de autoria de Henry Butler
Fonte: http://henrybutler.com/photography_gallery_01/
Bruce Hall nasceu com um nervo ótico não desenvolvido, ou seja, não há
conexão e envio de informações entre os olhos e o cérebro, tenho somente 5% da
visão em relação a uma pessoa normal. Praticava mergulho perto de onde morava e
não conseguia explicar para as pessoas o que ele conseguir ver, decidindo assim
aprender a fotografar. Bruce faz fotografias subaquáticas há mais de 25 anos, ele
gosta de praticar mergulho noturno, pois o único lugar onde se sente completamente
confortável é em baixo d’água. McCulloh explica que Bruce pode ver em terra o que
não consegue ver enquanto mergulha, apesar de os objetos estarem bem à sua
frente. “Eu uso câmeras para ver como qualquer fotógrafo que usa a óptica para ver.
Eu preciso usá-las. Preciso delas” (00:09:50), comenta o fotógrafo.
Hall tem um projeto incrível em que fotografa seus dois filhos gêmeos ambos
portadores de autismo. “O que eu acho interessante, é que essas imagens
combinam dois níveis de caos e desordem. Eles combinam um fotógrafo que não
pode ver fotografando um tópico fora de controle” (00:10:10), diz o curador da
mostra Sight Unseen, “Os filhos dele são maravilhosos, mas eles não falam com
você. Você não pode dizer ‘pare e sorria’. Eles estão sempre em movimento”
(MCCULLOH, 00:10:23) comparando assim, o trabalho do fotógrafo com a fotografia
de rua, que tenta capturar cenas em alta velocidade e fora de controle. O artista fala
25
que a fotografia o ajuda a entender e a lidar com a situação, o ajuda como se fosse
uma terapia para aceitar que seus filhos basicamente não têm futuro como crianças
normais. “Eu tenho uma lista de perguntas caso um dos dois fale algum dia, o que é
questionável a essa altura” (00:11:30), diz ele.
Bruce gosta de fazer macro fotografia, utilizando um fotômetro subaquático
com um monitor grande o suficiente para poder enxergar em baixo da água. Se há
algo que ele realmente precisa ver ele utiliza uma lupa também. Quando está em
casa, ele amplia as fotografias no computador para conseguir visualizar. “Quando eu
chego em casa é sempre como se eu visse pela primeira vez. É sempre uma
surpresa” (HALL, 00:26:26).
Figura 3 – Fotografia de autoria de Bruce Hall
Fonte: http://www.visualsummit.com/Image.asp?ImageID=1904609&apid=1&gpid=1&ipid=1&AKey=GJXBH5T9
Evgen Bavcar é um famoso fotógrafo e filósofo que ficou cego na sua infância
em consequência de dois acidentes, um em cada olho.
Nelson Brissac cita que há uma descrição muito bonita em que Evgen diz
que fotografa contra o vento, pois fotografar contra o vento faz com que ele recorte a
posição dos objetos, faz com que ele indique o perfil das coisas e onde elas se
encontram, traz com ele os cheiros e os ruídos. “O vento faz ver” (2000, p. 41). Para
Bavcar, a ação de enxergar movimenta todos os seus sentidos (NOVAES, p.29).
26
Não é somente quando Evgen usa suas mãos para tatear o objeto a ser
fotografado que ele introduz o artifício tátil, ele utiliza-o em todas suas fotografias,
pois ele entende o mundo como um universo ao redor dele, e não um universo para
ser visto à distância (BRISSAC, p.42)
No documentário Janela da Alma (JARDIM; CARVALHO, 2001) Bavcar diz
que as pessoas não são mais videntes clássicos, diz que todos somos igualmente
cegos “[...] porque, atualmente, vivemos em um mundo que perdeu a visão. A
televisão nos propõe imagens prontas e não sabemos mais vê-las, não vemos mais
nada, porque perdemos o olhar interior, [...] vivemos em uma espécie de cegueira
generalizada” (00:08:08). Em sua experiência própria, a câmera fotográfica não
passa de um acessório no qual ele tenta exprimir sua existência (2000, p.17), e
se as minhas imagens existem para mim através da descrição dos outros, isto não me impede em nada a possibilidade de vivê-las pela atividade mental. Elas existem mais para mim quanto mais elas possam se comunicar também com os outros (BAVCAR, 2000, p. 24).
Bavcar utiliza um pequeno espelho preso em como um broche em sua lapela
para a pessoa que esteja sendo fotografada possa se olhar caso a ausência do olhar
do fotógrafo seja frustrante para o fotografado.
Figura 4 – Fotografia de autoria de Evgen Bavcar
Fonte: http://evgenbavcar.com/
27
4. INSTITUTO MEMÓRIA HISTÓRICA E CULTURAL E O PROGRAMA ECIRS
O Instituto Memória História e Cultural – IMHC localiza-se no primeiro andar
do Bloco 46 da Universidade de Caxias do Sul – UCS. Atuante nos cuidados e no
estudo da memória particular e grupal da região, seus principais focos de pesquisa e
de ação são o patrimônio cultural material. O IMHC é dividido em cinco setores:
CEDOC - CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO2
O Centro de Documentação tem como objetivo a preservação do acervo
histórico e documental da UCS, de suas práticas acadêmicas, da Cultura Regional e
de outros documentos classificados como de grande importância histórica,
disponibilizando-os para a pesquisa. Assim, atua como um local de ensino e
aprendizagem à comunidade em geral, aos alunos e aos professores.
Figura 5 – Acervo do CEDOC
Fonte: Acervo pessoal
2 As informações contidas neste capítulo foram retiradas do folder de divulgação do Instituto Memória
Histórica e Cultural que pode ser visto no ANEXO A
28
CMRJU – CENTRO DE MEMÓRIA REGIONAL DO JUDICIÁRIO
O CMRJU procura, entre outros objetivos, contribuir em atividades de
pesquisa, de conservação e de divulgação do acervo documental histórico sobre a
identidade e a memória do Poder Judiciário. Ele foi criado em dezembro de 2001 por
meio da assinatura do Termo de Convênio entre o Tribunal de Justiça do Estado do
RS e a Universidade de Caxias do Sul.
Figura 6 – Acervo do CMRJU
Fonte: Acervo pessoal
IRIS – INVESTIGAÇÃO E RESGATE DA IMAGEM E DO SOM
O IRIS, além de caracterizar-se como um projeto de investigação e resgate da
imagem e som de inclusão acadêmica, também possui vastas possibilidades de
atuação externa e de colaboração e convênio com instituições de pesquisa e
fomento à produção audiovisual da região de Caxias do Sul e do Brasil. Como é dito
em sua própria sigla, o Projeto IRIS apresenta como meios centrais de sua
composição: a imagem e o som como formas de documentação, a investigação e a
pesquisa, o resgate, e inclusive a produção de novos acervos.
29
Figura 7 – Acervo do IRIS
Fonte: Acervo pessoal
LEPAR – LABORATÓRIO DE ENSINO E PESQUISAS ARQUEOLÓGICAS
O LEPAR é um ambiente de educação relacionado à ampla área do
conhecimento arqueológico. Ele exerce um apoio às disciplinas do Curso de História
da UCS, e promove o conhecimento com a realização de escavações arqueológicas
para os alunos, cursos de extensão e oficinas.
Figura 8 – Acervo do LEPAR
Fonte: Acervo pessoal
30
ECIRS – ELEMENTOS CULTURAIS DA IMIGRAÇÃO ITALIANA NO NORDESTE
DO RIO GRANDE DO SUL
O ECIRS tem se dedicado desde o ano de 1978 à classificação sistemática
das propriedades e importâncias culturais das comunidades rurais da região de
Caxias do Sul, servindo como ponto inicial para o resgate, a preservação e a
valorização da cultura da imigração italiana. As entrevistas, o levantamento e a
caracterização de ambientes arquitetônicos, os registros fotográficos, e entre outras
ferramentas de investigação antropológica, são usados possibilitando a prática
dessa atividade.
Figura 9 – Acervo do ECIRS
Fonte: Acervo pessoal
A fotografia utilizada como referência para a maquete tátil pertence à Mostra
Fotográfica “Patrimônio Cultural e Sociedade Sustentável”, com a curadoria de Luiza
Horn Iotti, Anthony Beux Tessari e Hiram Fadanelli Fros, e com fotografias de autoria
de Aldo Toniazzo, Ary Trentin (in memoriam) e Joel Jordani (in memoriam) que está
em exposição permanente na sala 105 do Instituto Memória Histórica e Cultural.
31
Figura 10 – Abertura da Mostra Fotográfica “Patrimônio Cultural e Sociedade Sustentável”
Fonte: Acervo ECIRS/IMHC/UCS disponível em https://biblioteca.ucs.br/gallery3/index.php/IMHC/Ecirs/mostra-patrimonio/abertura_alta
32
Figura 11 – Fotografia utilizada como referência para a maquete tátil
Fonte: Acervo ECIRS/IMHC/UCS disponível em https://biblioteca.ucs.br/gallery3/index.php/IMHC/Ecirs/mostra-patrimonio/URBAL-1696-PD
33
5. METODOLOGIA
Segundo Silvio Zamboni, existem passos que são comuns em quase todas as
pesquisas, como: a definição do objeto a ser estudado; a identificação de um
problema; a inserção da questão dentro de um quadro teórico; o levantamento de
hipóteses; a observação; o processo de trabalho; a interpretação e os resultados e
conclusões. Zamboni diz que “O processo de trabalho, principalmente em arte, não é
algo linear, é um processo de idas e vindas, de intuição e de racionalidade que se
interpõem no caminho da construção representativa de uma realidade.” (2001, p.67).
Toda e qualquer pesquisa precisa de um método para alcançar seus
objetivos. Pode haver diversos caminhos, mas sempre existirá o mais adequado a
ser trilhado (ZAMBONI, 2012, p.43). A pesquisa na internet foi um método muito
adequado, já que não foi possível encontrar livros ou publicações sobre maquetes
táteis na biblioteca da Universidade. A abundância da internet como fonte de
pesquisa e informação não depende dos motivos e objetivos da busca. “Ela
materializa algumas das marcantes características da nossa era, como a sobrecarga
informacional, a fragmentação da informação e a globalização” (YAMAOKA, 2014, p.
146). Com a pesquisa online, foi possível encontrar artigos sobre Cartografia Tátil e
maquetes táteis já publicados; reportagens de canais televisivos sobre os assuntos
citados anteriormente; documentários sobre fotógrafos cegos e pessoas portadores
de cegueira e baixa visão; a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência
(Lei nº 13.146, de 6 de julho de 2015); e, foi na internet também que foi possível
descobrir projetos já aplicados sobre mapas táteis, maquetes táteis e maquetes
sonoras utilizados como referência.
Durante o processo, outras formas de buscar o conteúdo para o trabalho
foram utilizadas, entre elas uma visita guiada à APADEV (Associação dos Pais e
Amigos dos Deficientes Visuais) de Caxias do Sul e pesquisas em livros sobre
maquetes convencionais, deficiência visual, fotografia autoral e sobre os direitos das
pessoas com deficiência. A pesquisa bibliográfica segundo Stumpf (2014) é o
planejamento de pesquisa para um trabalho que vai desde a identificação, a
localização e a obtenção da bibliografia relacionada sobre o assunto em questão,
até a apresentação do texto, em que é apresentada toda a bibliografia examinada
34
pelo aluno, evidenciando o conhecimento do autor somado às próprias opiniões e
ideias do aluno (p.51).
O método de descoberta utilizado na construção da maquete em si foi a
experimentação, que segundo Zamboni pode ser chamado de “método da desordem
experimental. Este, no entanto, não é considerado um método de pesquisa, porém
não pode se dizer que não é um processo válido (2012, p.45). Apesar de alguns
materiais, como a madeira balsa, por exemplo, terem sido bem pesquisados no
processo de elaboração da maquete, outros materiais foram utilizados sem pesquisa
prévia, podendo ser visto o resultado apenas no momento de utilização do material
em si. É possível verificar essas situações durante a leitura do passo a passo da
construção da maquete tátil, podendo citar como exemplo a utilização da tinta
têmpera guache na roda d’água, que após um teste de funcionamento foi percebido
que a tinta saia em contato com a água.
5.1 A CONSTRUÇÃO DA MAQUETE: PASSO A PASSO
A seguir será apresentada uma descrição detalhada de todo o processo de
construção da maquete tátil até a sua conclusão. Também como forma de
apresentar visualmente a construção do trabalho, foi produzido um making of que
pode ser visto no CD apresentado como APÊNDICE J.
Dia 17 de Março de 2016: Cortei a madeira balsa nas medidas que eu precisava e
colei elas com cola para madeira. Percebi que a quantidade de madeira que eu tinha
comprado era insuficiente.
Dia 22 de Março de 2016: Após comprar mais duas unidades de madeira balsa,
cortei elas na medida que precisava e colei umas nas outras, montando assim a
caixa base da maquete.
35
Figura 12 – Caixa de madeira
Fonte: Acervo pessoal
Dia 24 de Março de 2016: Cortei com estilete a madeira balsa de espessura 1,5mm
para fazer o centro da roda d’água. Pintei com tinta tempera guache marrom alguns
palitos de picolé para fazer as paredes na casa. Colei as três chapas de isopor
50x50cm uma em cima da outra para servir de base para a casa e o jardim.
Dia 25 de Março de 2016: Cortei o isopor com uma faca de cozinha aquecida no
fogo nas medidas certas para o encaixe na caixa de madeira. Com tesoura, cortei
alguns palitos de picolé para fazer a roda d’água e depois pintei-os com tinta
tempera guache marrom. Removi uma das camadas externas de um pedaço de
papelão para utilizar sua parte interna ondulada como telhado da casa.
36
Figura 13 – Corte do isopor com faca aquecida no fogão
Fonte: Acervo pessoal
Figura 14 – Remoção de uma das camadas externas do papelão
Fonte: Acervo pessoal
37
Dia 26 de Março de 2016: Terminei de montar a roda d’água. Montei todas as bases
para a parte inferior da casa com palitos de picolé. Colei com cola quente todas as
pedras necessárias para fazer a parede de pedra da casa.
Figura 15 – Roda d’água
Fonte: Acervo pessoal
Dia 27 de Março de 2016: Montei todas as paredes da casa com os palitos de picolé
e pintei elas com tinta tempera guache marrom. Colei com cola para madeira as
paredes de pedra com as paredes de madeira. Fiz os retoques necessários com
tinta tempera guache marrom e verde.
Dia 01 de Abril de 2016: Cortei os palitos de picolé nos formatos e tamanhos
desejador para fazer a parte superior da casa e depois pintei-as com tinta tempera
guache marrom.
Dia 02 de Abril de 2016: Colei as paredes superiores da casa nas paredes inferiores
de madeira.
38
Figura 16 – Parede da casa vista por fora
Fonte: Acervo pessoal
Figura 17 – Parede da casa vista por dentro
Fonte: Acervo pessoal
39
Dia 04 de Abril de 2016: Pintei os pedaços de papelão que servirão de telhado com
tinta vermelha.Encaixei todas as paredes da casa no isopor e fiz os retoques
necessários (pintei com tinta tempera guache marrom os cantos de encontro entre
as paredes e colei com cola quente mais algumas pedras para tapar os buracos).
Após medir, cortei a toalha no tamanho necessário para fazer a grama. Retoquei a
pintura da roda d’água.
Figura 18 – Pedaços de papelão pintados que foram usados como telhado da casa
Fonte: Acervo pessoal
Dia 09 de Abril de 2016: Preenchi internamente as brechas da casa com palitos de
picolé. Pintei a toalha que servirá de grama com tinta verde para tecido. Cortei um
pedaço da espuma e pintei-a com tinta tempera guache verde para fazer a copa da
árvore. Preenchi com isopor o resto da maquete que estava faltando (cantos do
lago) e colei com cola para isopor. Após testar a roda d’água, me dei conta de que a
tinta tempera guache sai em contato com a água.
40
Figura 19 – Toalha sendo pintada com tinta verde para tecido
Fonte: Acervo pessoal
Dia 12 de Abril de 2016: Após a roda d’água secar totalmente, pintei-a com tinta
verniz marrom para janelas.
Dia 16 de Abril de 2016: Colei toda a toalha na maquete com cola para isopor. Cortei
as partes que estavam sobrando e retoquei com tinta verde para tecido algumas
partes que estavam falhadas e nas emendas dos tecidos. Forrei a parte interna da
casa com papel pintado com tinta tempera guache marrom para tapar as emendas
de madeira e pintei o chão da casa com a mesma tinta. Recortei do tamanho certo o
telhado e colei na casa com cola quente. Fiz os retoques necessários com tinta
vermelha. Com a madeira balsa, montei um suporte para colar a roda d’água na
casa. Primeiro pintei com tinta tempera guache marrom, esperei secar, e depois com
tinta verniz marrom para janelas, como eu tinha feito anteriormente com a roda.
Colei com cola quente as pedras para o suporte da roda d’água.
41
Figura 20 – Telhado da casa sendo colado com cola quente
Fonte: Acervo pessoal
Dia 21 de Abril de 2016: Afiei com o estilete as duas pontas de um pedaço de galho
para fazer o tronco da árvore da maquete. Uma das pontas eu encaixei na copa da
árvore e a outra no isopor. Cortei e colei os palitos de picolé e de churrasco para
fazer a calha da roda d’água e depois a pintei com tinta tempera guache marrom.
Após a secagem total da tinta, pintei uma camada com tinta verniz para madeira.
Depois de seco, fixei a calha no isopor da maquete. Com lixa própria para madeira,
lixei a caixa que serve de base para a maquete. Colei com cola quente três pedras
ao redor da árvore e três pedaços de esponja pintados com tinta tempera guache
verde para simular plantas. Colei com cola quente pedras ao redor do lago.
42
Figura 21 – Fixação da calha na maquete
Fonte: Acervo pessoal
Dia 22 de Abril de 2016: Cortei com tesoura mais um pedaço de esponja para fazer
um arbusto. Pintei-o com tinta tempera guache verde, esperei secar e colei na
maquete com cola quente.
Dia 24 de Abril de 2016: Encontrei um problema ao testar a roda d’água: a bomba,
mesmo na velocidade mais baixa, estava liberando água muito rápido, fazendo com
que molhasse a maquete. Colei com fita isolante dois filtros de bomba de chimarrão
no filtro da bomba. Amenizou um pouco a velocidade mas não o suficiente, então
com uma pinça coloquei pedaços pequenos de madeira balsa no buraco do centro
da roda para travá-la um pouco. Após alguns testes, esperei a roda d’água secar e
colei a mangueira com cola quente na calha. Depois de mais alguns testes percebi
que a fita isolante usada para segurar os filtros de bomba de chimarrão acabaram
caindo, por isso usei dois elásticos de borracha como substitutos.
Dia 29 de Abril de 2016: Levei a maquete ao IMHC a fim de apresentar à orientadora
Myra Gonçalves, e após deixar a roda d’água ligada por algum tempo, percebi que a
toalha ao redor ficou bastante molhada devido aos respingos, fazendo com que as
pedras ao redor do lago que tinham sido coladas com cola quente caíssem.
Apresentei aos colegas de trabalho do Instituto a maquete tátil e recebi muitos
43
feedbacks positivos. O fotógrafo autor da imagem utilizada, Aldo Toniazzo, foi
convidado a usar uma venda nos olhos e com as mãos ver pela primeira vez o
trabalho pronto. Fiquei muito satisfeita pois ele conseguiu reconhecer através do tato
todos os elementos representados: a grama, a árvore, a casa, as pedras e a roda
d’água.
Dia 10 de Maio de 2016: Pintei a casa da maquete com uma camada de tinta verniz
para janela e mais outra camada na roda d’água, já que alguns pingos de água
estavam atingindo uma das paredes da casa.
Dia 14 de Maio de 2016: Através do editor Wondershare Video Editor, juntei as
gravações feitas por mim durante o processo de criação da maquete e criei o vídeo
do Making Of, salvo na resolução 1280 x 720 em formato .AVI.
Dia 25 de Maio de 2016: Pintei mais uma camada de tinta verniz na casa da
maquete. Colei com adesivo instantâneo as pedras ao redor do lago que tinham sido
coladas com cola quente e acabaram caindo por causa da água.
44
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O desenvolvimento deste trabalho despertou a reflexão sobre um cenário ao
qual a maioria da população não pertence, o dos deficientes visuais, e, durante todo
o seu processo de elaboração, foi possível aprender muitas coisas e somar muito no
meu crescimento pessoal. Com ele foi possível ampliar o conhecimento sobre a
deficiência visual e as dificuldades diárias passadas por aqueles que a possuem, e
também conhecer projetos de acessibilidade e artistas incríveis que possuem
cegueira ou baixa visão, como Evgen Bavcar e Bruce Hall, que com certeza vão ser
levados como referência no futuro.
Após a produção da maquete tátil ser concluída, foi feito um teste com o
fotógrafo autor da imagem, Aldo Toniazzo, que ainda não tinha conhecimento de
como a maquete tinha ficado, colocando-o uma venda nos olhos. Segundo ele, foi
possível reconhecer todos os elementos presentes no trabalho (grama, árvore, casa,
etc.) através da textura e das formas sentidas através do tato, e perceber também a
presença da água através do som dela caindo da roda d’água no lago.
A partir das críticas dos colegas do IMHC e do fotógrafo Aldo Toniazzo sobre
o resultado da maquete, tanto em sua composição visual quanto em sua eficiência
tátil, acreditamos que o objetivo deste trabalho tenha sido alcançado, pois a
maquete tátil está apta a ser utilizada em exposição permanente junto à sua
fotografia original na exposição “Patrimônio Cultural e Sociedade Sustentável”, no
Bloco 46 da Universidade de Caxias do Sul, aumentando as possibilidades de
inclusão e acessibilidade ao acervo do Instituto Memória Histórica e Cultural.
Por questões de tempo, não foi possível haver uma visita de uma pessoa ou
um grupo de pessoas com deficiência visual ao acervo para um completo resultado
do trabalho, logo, só será possível saber se a maquete cumpre a sua funcionalidade
ou não a partir do momento que for possível realizar estas visitas ao IMHC.
Como projetos futuros, estão sendo pensados meios de como tornar o resto
de toda a exposição “Patrimônio Cultural e Sociedade Sustentável” acessível e de
como tornar também acessível a página da rede social Facebook do Instituto
Memória Histórica e Cultural.
A facilidade que temos de locomoção e comunicação em nosso dia a dia só é
percebida quando existem situações que façam com que a gente perca
momentaneamente essas facilidades, como a perda da voz, por exemplo, ou uma
45
fratura de algum osso. Dificilmente nos colocamos no lugar de pessoas que
possuem essas limitações todos os dias, pois normalmente nossos pensamentos e
questionamentos estão voltados somente a nós e as pessoas mais próximas.
Imaginar uma vida inteira de barreiras físicas e culturais, em que o indivíduo poderá
não conseguir ir a todos os lugares que deseja pois muitos desses espaços não
possuem acessibilidade é frustrante. Com todas as tecnologias que possuímos
atualmente é nossa obrigação propormos cada vez mais projetos de inclusão e
acessibilidade a espaços que são poucos utilizados por aqueles que possuem
qualquer tipo de deficiência.
Acreditamos ser de grande importância ajudar como pudermos as pessoas
com dificuldades, sejam elas quais forem, pois é nessa união de força e vontade que
conseguimos crescer pessoalmente como indivíduos e como comunidade, e
consequentemente evoluir o mundo também.
46
REFERÊNCIAS
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psicanalítica da cegueira por meio de Desenhos-Estórias. São Paulo: Casa do
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ECKTER, Pete. Luz escura: A arte dos fotógrafos cegos. Direção: Neil Leifer.
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47
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MCCULLOH, Douglas. Luz escura: A arte dos fotógrafos cegos. Direção: Neil
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Pirate3D, Empresa. Disponível em: < http://pirate3d.com/touchablememories/>
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Acesso em: 05 de jun. 2016.
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Acesso em: 05 de jun. 2016.
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05 de jun. 2016.
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2014. 380p.
ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em Arte: um paralelo entre arte e ciência / Silvio
Zamboni. – 4 ed. Revista. – Campinas, SP : Autores Associados, 2012. – (Coleção
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49
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<http://revistaescola.abril.com.br/formacao/deficiencia-visual-inclusao-
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ANDRADE, Leia de; SANTIL, Fernando Luiz de Paula. Cartografia tátil:
acessibilidade e inclusão social. Maringá: Museologia e Patrimônio , v.3, n.1,
jan./jun. 2010. 8p.
BASTOS, Bruno Leal et al. Implementação de maquete tátil sonora para pessoas
com deficiência visual. Universidade Estadual de Campinas. 8p.
CARVALHO, Cristiely. Tudo o que você queria saber sobre cegos, mas sempre
teve vergonha de perguntar. 2014. Disponível em:
<http://wp.clicrbs.com.br/deolhosfechados/2014/11/06/tudo-o-que-voce-queria-saber-
sobre-cegos-mas-sempre-teve-vergonha-de-perguntar>. Acesso em: 02 de nov.
2014
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deficientes visuais. 2014. Disponível em: <http://g1.globo.com/sp/presidente-
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jun. 2016.
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<http://jovemnerd.com.br/nerdcast/nerdcast-256-cegos-nerds-e-loucos/>. Acesso
em: 18 de set. 2014.
PAIM, Senador Paulo. Estatuto da pessoa com deficiência: a natureza respeita
as diferenças, acessibilidade universal é direito de todos. 6.ed. Brasília: Senado
Federal, 2006. 51p.
ROSSI, Mariane. Grávida, deficiente visual sente o rosto do bebê impresso em
3D após exame. Disponível em: < http://g1.globo.com/sp/santos-
regiao/noticia/2015/05/gravida-deficiente-visual-sente-rosto-do-bebe-impresso-em-
3d-apos-exame.html> Acesso em: 12 de jun. 2016.
SBT. Reportagem Mapas e maquetes táteis. 2012. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=DX-0AjVNdM0>. Acesso em: 07 de nov. 2014.
SESI. Vida em movimento: deficiência visual. 2010. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=Z7T3m2PgCXo>. Acesso em: 07 de maio 2016.
50
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Silva. Cartografia Tátil: elaboração de maquete sonora. Universidade Federal de
São João Del-Rei. 12p.
TESSLER, Élida. Evgen Bavcar: silêncios, cegueiras e alguns paradoxos quase
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TV BRASIL. Programa Especial: Recursos para pessoas com deficiência visual.
2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Enh1NNpr-00>. Acesso
em: 07 de nov. 2014.
TV BRASIL. Programa Assim Vivemos: Virgínia Vendramini. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=jpWfOzzpXO0>. Acesso em: 07 de maio 2016.
TV BRASIL. Programa Assim Vivemos: Antonio Márcio e Raíssa. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=MDTv8kdttVk>. Acesso em: 07 de maio 2016.
TV FEEVALE. Reportagem A Arte de Sentir. 2011. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=O_2bmjaULYM>. Acesso em: 09 de nov. 2014.
VER ALÉM. Direção: Abrahão Lincoln, Fabiana Machado, Luciano Bicalho. Univale,
Brasil, 2010. 34 min. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=ZjLk_v6j90E>. Acesso em: 07 de ago. 2014.
51
APÊNDICES
52
APÊNDICE A
FOTOGRAFIA DA MAQUETE
53
APÊNDICE B
ESBOÇO DA CAIXA DE SUPORTE EM MADEIRA
54
APÊNDICE C
ESBOÇO DA CASA
55
APÊNDICE D
ESBOÇO DA RODA D’ÁGUA
56
APÊNDICE E
ESBOÇO DA MAQUETE VISTA DE CIMA
57
APÊNDICE F
TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA A UTILIZAÇÃO DE IMAGEM ASSINADO PELO FOTÓGRAFO ALDO TONIAZZO
58
APÊNDICE G
TERMO DE AUTORIZAÇÃO PARA A UTILIZAÇÃO DE IMAGEM ASSINADO PELO DIRETOR DO IMHC ANTHONY BEUX TESSARI
59
APÊNDICE H
TERMO DE RESPONSABILIDADE ASSINADO PELO DIRETOR DO IMHC ANTHONY BEUX TESSARI
60
APÊNDICE I
TABELA DE GASTOS
Material Valor gasto
Madeira Balsa (4 unidades)
8mm x 80 mm x 930 mm
R$ 70,00
Madeira Balsa (1 unidade)
1,5 mm x 100 mm x 930 mm
R$ 10,00
Cola para madeira 100 g R$ 5,80
Palitos de madeira (picolé) (200 unidades)
R$ 8,35
Bomba d’água para fontes
(1 unidade)
R$ 50,00
Estilete (1 unidade) R$ 3,75
Tinta verde para tecido
(2 unidades)
R$ 5,70
Tinta Tempera Vermelha
(1 unidade)
R$ 0,60
Tinta Tempera Guache
(1 unidade marrom e 1 unidade verde)
R$ 11,00
Mangueira transparente (1m) R$ 1,15
Cola para isopor 90g
(1 unidade)
R$ 4,50
Refil de Cola Quente
(4 unidades)
R$ 2,80
Isopor 15mm 50x50
(3 unidades)
R$ 6,60
Superadesivo instantâneo 2g R$3,99
Valor total gasto R$ 184,24
61
APÊNDICE J
CD CONTENDO O MAKING OF DA CONSTRUÇÃO DA MAQUETE E AS
FOTOGRAFIAS APRESENTADAS DURANTE O TRABALHO
62
APÊNDICE K
TCC 1
63
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
BIANCA DICKEL CAMPANHER
FOTOGRAFIA PARA AS MÃOS
Caxias do Sul
2014
64
UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS
CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
HABILITAÇÃO EM FOTOGRAFIA
BIANCA DICKEL CAMPANHER
FOTOGRAFIA PARA AS MÃOS
Projeto de Trabalho de Conclusão de
Curso apresentado como requisito para
aprovação na disciplina de TCC I.
Orientadora: Myra Adam de Oliveira
Gonçalves
Caxias do Sul
2014
65
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 04
1.1 PROCESSO DE DESCOBERTA .................................................................... 04
2 TEMA ................................................................................................................. 04
2.1 DELIMITAÇÃO DO TEMA ............................................................................... 04
3 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 04
4 QUESTÃO NORTEADORA ............................................................................... 05
5. OBJETIVOS ...................................................................................................... 06
5.1 OBJETIVO GERAL .......................................................................................... 00
5.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ........................................................................... 00
6. METODOLOGIA ............................................................................................... 06
7. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................. 06
7.1 Conceito de deficiência visual ........................................................................... 06 7.2 Compreendendo o cego: uma visão psicanalítica da cegueira por meio de
Desenhos-Estórias.................................................................................................... 07
7.3 Evgen Bavcar: Memória do Brasil .................................................................... 07
7.4 Ver Além ........................................................................................................... 07
7.5 Luz Escura: A Arte dos Fotógrafos Cegos......................................................... 07
7.6 Janela da Alma................................................................................................. 08 7.7 Podcast Cegos, Nerds e Loucos ..................................................................... 08
66
8. ROTEIRO DOS CAPÍTULOS ............................................................................ 09
9. CRONOGRAMA .......................................................................................................... 10
REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 12
APÊNDICE (QUANDO HOUVER) ................................................................................... 00
ANEXOS (QUANDO HOUVER) ...................................................................................... 00
67
1 INTRODUÇÃO
1.1 Processo de descoberta
Inicialmente, a ideia para o trabalho de conclusão de curso era criar fotografias
em processo analógico e após sua ampliação no laboratório químico, acrescentar
texturas físicas, como por exemplo colar tecidos no lugar da roupa da pessoa
retratada. A partir disto, a ideia passou a ser direcionada aos deficientes visuais,
traduzindo a imagem visual para o tato, chegando ao pensamento final de construir
mini maquetes baseadas em fotografias autorais próprias.
2 TEMA
Fotografia e processos de conclusão.
2.1 Delimitação do tema
A percepção da fotografia através de outros sentidos além da visão.
3 JUSTIFICATIVA
Escolhi realizar este projeto por ser desafiante, por ser um assunto o qual a
maioria das pessoas não costuma refletir. Quando criamos uma fotografia,
pensamos na satisfação e na beleza que ela trará pra nós e para as outras
pessoas que irão vê-la, esquecendo dos deficientes visuais .
A escolha do tema da pesquisa foi também pela curiosidade em saber como
os cegos se relacionam com as imagens, sabendo que existem diversos
fotógrafos espalhados pelo mundo que possuem essa deficiência. Como eles
conseguem transmitir o mundo deles para nós através de fotografias? E como
conseguir transmitir fotografias tiradas por videntes para o mundo deles?
68
Como é dito no livro Compreendendo o cego: uma visão psicanalítica da
cegueira por meio de desenhos-estória: “O ver parece ocupar, cada vez mais, um
lugar de destaque em nossa vida. Os educadores consideram que 80% de nossa
informação é recebida pela visão: a televisão, os outdoors, a vitrine, substituem o rádio e
a propaganda sonora. Vivemos hoje mergulhados em um mundo de cores e sombras. E
os sujeitos cegos, como ficam neste mundo predominantemente visual?” (pág. 23)
4 QUESTÃO NORTEADORA
É possível oferecer a experiência visual para pessoas cegas através da
transformação da fotografia de duas dimensões em um objeto de três dimensões?
5 OBJETIVOS
5.1 Objetivo geral
Construir mini maquetes baseadas em fotografias.
5.2 Objetivos específicos
5.2.1 Pesquisar, estudar e verificar métodos eficientes de transformar a imagem
visual em imagem tátil.
5.2.2 Levar ao deficiente visual a oportunidade de apreciar fotografias de um jeito
diferente.
5.2.3 Incentivar outros artistas a utilizarem métodos de acessibilidade para a
inclusão no mundo artístico-fotográfico.
69
6 METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste projeto de pesquisa foi bibliográfica, visita
guiada à APADEV (Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais) de
Caxias do Sul, e principalmente a internet, em que foi possível encontrar diversos
documentários que me ajudaram a descobrir e conhecer melhor um mundo por
muitos ignorado.
Segundo Silvio Zamboni, no livro A Pesquisa em Arte: um paralelo entre arte
e ciência, existem passos que são comuns em quase todas as pesquisas, como:
a definição do objeto a ser estudado; a identificação de um problema; a inserção da
questão dentro de um quadro teórico; o levantamento de hipóteses; a observação; o
processo de trabalho; a interpretação e os resultados e conclusões. “O processo de
trabalho, principalmente em arte, não é algo linear, é um processo de idas e vindas,
de intuição e de racionalidade que se interpõem no caminho da construção
representativa de uma realidade.” [pág.67].
No trabalho aplicado serão feitas sete fotografias que poderão ser transpostas
para maquetes táteis. Os materiais a serem utilizados serão pesquisados em
questão de custo e texturas de melhor desempenho. Após a escolha das fotografias
e dos materiais, montarei por conta própria as mini maquetes que serão
apresentadas para a banca avaliadora.
7 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
7.1 Conceito de deficiência visual
Segundo dito por Maria Lúcia Toledo Moraes Amiralian no livro Compreendendo
o cego,
“Um conceito aceito há muito tempo (Lowenfeld, 1950), e aprovado pela OMS em
1972, diz que cegos são aqueles que apresentam acuidade visual de 0 a 20/200
(enxergam a 20 pés de distância aquilo que o sujeito de visão normal enxerga a 200
pés), no melhor olho, após correção máxima, ou que tenham um ângulo visual restrito a
20º de amplitude.
70
A restrição do campo visual, a chamada visão de túnel, também é considerada cegueira,
independentemente da acuidade visual possuída pelo sujeito, porque qualquer visão
nessa amplitude impede a apreensão do ambiente como um todo, uma das
características fundamentais da percepção visual.”
7.2 Livro Compreendendo o cego: uma visão psicanalítica da cegueira por meio
de Desenhos-Estórias
Escrito por Maria Lúcia Toledo Moraes Amiralian, trata-se de um livro de cunho
psicológico que aborda assuntos como o conceito de cegueira e suas concepções
médicas e educacionais, estudos psicanalíticos, procedimentos de diagnóstico da
doença, como acontece o desenvolvimento de personalidade no deficiente visual que
nasce com a doença e do que adquire ao longo dos anos e seus problemas em
comum, entre muitos outros.
7.3 Livro Evgen Bavcar: Memória do Brasil
Evgen Bavcar é um fotógrafo nascido em 1946 na Eslovênia, que ficou
completamente cego aos onze anos de idade após dois acidentes. O livro conta um
pouco sobre sua vida e sobre sua trajetória durante uma visita ao Brasil no ano de
2001.
7.4 Documentário Ver Além
O documentário Ver Além consiste em uma entrevista com deficientes visuais,
familiares e professores sobre assuntos como: a dificuldade de se aceitar como
deficiente; dificuldade de se tornar um adulto independente e de fazer tarefas cotidianas
como pegar um ônibus ou atravessar a rua e sobre como é difícil encontrar material
didático na linguagem braile. A vida de estudante de faculdade, a vida amorosa, escolar
e o mercado de trabalho, a falta de informação e respeito das pessoas videntes, a
superação dos desafios e a importância dos deficientes de qualquer gênero serem
inseridos na sociedade também são abordados durante o documentário.
71
7.5 Documentário Luz Escura: A Arte dos Fotógrafos Cegos
O documentário é baseado em Sight Unseen, uma mostra do California Museum
of Photography (Museu de Fotografia da Califórnia) dos fotógrafos mais talentosos do
mundo e o curador da exposição Douglas McCulloh conta um pouco como foi
procurar estes fotógrafos ao redor do planeta durante 10 anos. Segundo McColluh, a
fotografia é criada com a mente e não com os olhos, “...essas fotografias são
unicamente composições mentais. Eles usam câmeras e outros equipamentos como
scanners para trazer ao mundo uma versão da imagem mental.” , “Eles estão
pensando [...] como eu ligo o mundo visível com o mundo invisível onde eu vivo?”.
Pete Eckert, Henry Butler e Bruce Hall são alguns dos artistas presentes na
mostra que contam, ao longo do documentário, um pouco sobre seus respectivos
trabalhos e histórias de vida.
7.6 Documentário Janela da Alma
Janela da Alma é um documentário brasileiro que compila entrevistas
sobre a visão e o olhar com pessoas portadoras de cegueira, tanto parcial como
total, de grandes nomes como José Saramago, Evgen Bavcar, Marieta Severo,
Manoel de Barros e cineastas, filósofos, escritores, etc, como Hermeto Pascoal,
Antonio Cicero, Wim Wenders, Carmela Gross, João Ubaldo,, Walter Lima Jr.,
Oliver Sacks, Arnaldo Godoy, Majut Rimminen e Agnès Varda.
7.7 Podcast Cegos, Nerds e Loucos
O podcast é uma conversa entre os donos da empresa Jovem Nerd com Lucas
Radaelli um programador com deficiente visual, que conta ao longo do programa sobre
como adquiriu a deficiência quando era criança, como conseguiu o seu cão-guia numa
ONG nos Estados Unidos, e sobre o seu dia-a-dia. Lucas vive em Curitiba, e um dos
assuntos mais interessantes falados durante o podcast é sobre a dificuldade que os
deficientes visuais têm em conseguir livros adaptados as condições deles, tanto
didáticos quanto de entretenimento. A solução é um grupo online em que sempre que
72
alguém traduz um livro para a linguagem braile essa pessoa envia para todos os outros
participantes, avançando pouco a pouco a acessibilidade à cultura.
73
9 CRONOGRAMA
ATIVIDADES
/ DATAS
AGOSTO
2014
SETEMBRO
2014
OUTUBRO
2014
NOVEMBRO
2014
DEZEMBRO
2014
Encontros
com a
orientadora
X x x x
Pesquisa
bibliográfica
X x x x
Manutenção
da pesquisa
x x
Pesquisa
prática
x
Produção
plástica
Redação do
texto
x x
Entrega do
trabalho
x
ATIVIDADES
/ DATAS
AGOSTO
2015
SETEMBRO
2015
OUTUBRO
2015
NOVEMBRO
2015
DEZEMBRO
2015
Encontros
com a
orientadora
X x x x x
Pesquisa
bibliográfica
74
Manutenção
da pesquisa
X x x x
Pesquisa
prática
X x x x
Produção
plástica
X x x x
Redação do
texto
Entrega do
trabalho
x
75
REFERÊNCIAS
AMIRALIAN, Maria Lúcia Toledo Moraes. Compreendendo o cego: uma visão
psicanalítica da cegueira por meio de Desenhos-Estórias. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 1997.
BAVCAR, Evgen [1946-]; Tessler, Elida; Bandeira, João [orgs.]. Evgen Bavcar:
Memória do Brasil. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.
ZAMBONI, Silvio. A pesquisa em Arte: um paralelo entre arte e ciência / Silvio
Zamboni. – 2. ed. – Campinas, SP: Autores Associados, 2001. – (Coleção
polêmicas do nosso tempo ; 59)
Documentário Ver Além
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ZjLk_v6j90E Acesso em: 07 nov.
2014
Documentário Luz Escura: A Arte dos Fotógrafos Cegos
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0RjOzdMwcrs Acesso em: 05 set.
2014
Documentário Janela da Alma
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg Acesso em: 29 set.
2014
Podcast Cegos, Nerds e Loucos
Disponível em: http://jovemnerd.com.br/nerdcast/nerdcast-256-cegos-nerds-e-
loucos/ Acesso em: 18 set. 2014
Matéria: Impressora 3D reproduz fotos antigas para deficientes visuais relembrarem
o passado.
http://amorpelafotografia.com/post/1428/impressora-3d-reproduz-fotos-antigas-para-
deficientes-visuais-relembrarem-o-passado.html Acesso em: 28 out. 2014
76
Matéria: Tudo o que você queria saber sobre cegos mas sempre teve vergonha de
perguntar.
http://wp.clicrbs.com.br/deolhosfechados/2014/11/06/tudo-o-que-voce-queria-saber-
sobre-cegos-mas-sempre-teve-vergonha-de-perguntar Acesso em: 02 nov. 2014
Programa: Programa Especial – Recursos para pessoas com deficiência visual
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ENh1NNpr-00 Acesso em: 07
nov. 2014
Reportagem: Mapas e maquetes táteis
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=DX-0AjVNdM0 Acesso em: 07
nov. 2014
Reportagem: Olhar digital - Tecnologia para deficientes visuais
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=LT7Fpq10r6M Acesso em: 07
dez. 2014
Sites sobre maquetes táteis
Disponível em: http://www.dayse.tarricone.nom.br/maquetes/maquetes_principal.htm
Acesso em: 07 nov. 2014
Disponível em: http://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-
regiao/noticia/2014/10/pesquisadores-criam-maquete-tatil-e-sonora-para-auxiliar-
deficientes-visuais.html
Acesso em: 07 nov. 2014
Reportagem TV Feevale: A Arte de Sentir
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=O_2bmjaULYM Acesso em: 09
nov. 2014
77
ANEXOS
78
ANEXO A
FOLDER DE DIVULGAÇÃO DO INSTITUTO MEMÓRIA HISTÓRICA E CULTURAL