UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO” – UNESP
FACULDADE DE ARQUITETURA, ARTES E COMUNICAÇÃO – FAAC
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO MESTRADO
ACADÊMICO EM COMUNICAÇÃO - PPGCOM
Emery Sumie Masuko Komono
COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO NO PORTAL ELETRÔNICO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL
Bauru – SP
2017
Emery Sumie Masuko Komono
COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO NO PORTAL ELETRÔNICO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação Mestrado Acadêmico em
Comunicação, da Faculdade de Arquitetura,
Artes e Comunicação, Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP,
para obtenção do título de Mestre em
Comunicação sob a orientação da Prof. Dra.
Maria Teresa Miceli Kerbauy.
BAURU - SP
2017
KOMONO, Emery Sumie Masuko
Comunicação e Informação no Portal Eletrônico da
Previdência Social. / Emery Sumie Masuko Komono, 2017
137 f.
Orientadora: Maria Teresa Miceli Kerbauy
Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista.
Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação, Bauru, 2017
1. Administração Pública. 2. Comunicação Pública. 3. Lei de
Acesso à Informação. 4. Governo Eletrônico. 5. Previdência Social.
6. Portal Eletrônico da Previdência Social. I. Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação.
Emery Sumie Masuko Komono
COMUNICAÇÃO E INFORMAÇÃO NO PORTAL ELETRÔNICO DA
PREVIDÊNCIA SOCIAL
Área de concentração: Comunicação Midiática
Linha de pesquisa: 3 – Gestão e Políticas da Informação e da Comunicação Midiática
Banca Examinadora:
Presidente/Orientadora: Professora Doutora Maria Teresa Miceli Kerbauy
Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Professor 1: Professora Doutora Caroline Kraus Luvizotto
Instituição: Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – UNESP
Professor 2: Professor Doutor Oswaldo Gonçalves Júnior
Instituição: Universidade de Campinas – UNICAMP
Bauru, 21 de agosto de 2017.
KOMONO, Emery Sumie Masuko. Comunicação e Informação no Portal Eletrônico da
Previdência Social. 2017. Dissertação (Mestrado em Comunicação – Área de Concentração:
Comunicação Midiática) – FAAC – UNESP, sob a orientação da Professora Doutora Maria
Teresa Miceli Kerbauy, Bauru, 2017.
AGRADECIMENTOS
A cada dia a vida oferece novos desafios, aceitá-los é acima de tudo tentador, mas
implica em assumir compromissos ao longo de uma nova empreitada. A continuidade e a
conclusão da jornada requerem muito esforço, foco e perseverança. Assim, são muitos os
colaboradores que merecem ser reconhecidos e mencionados.
Acima de tudo agradeço a Deus, o maior e melhor orientador de todos os tempos em
todas as áreas do conhecimento humano.
Aos meus pais, Kioshei e Sumie pelos ensinamentos e pela minha formação.
Ao meu marido Athayr pelo carinho, incentivo e confiança.
Aos meus filhos Lívia, Mateus e Taís pela compreensão e admiração recíprocas
construídas ao longo dos anos.
Aos chefes Josué, Fátima e Antônio pela confiança e compreensão nos momentos de
licença. À colega Patrícia pela compreensão e colaboração, sempre dando conta do serviço.
À minha orientadora Maria Teresa Miceli Kerbauy pela paciência e confiança, pelos
esclarecimentos e correções e por todo apoio e suporte dispensado.
Aos professores Carlo José Napolitano e Caroline Kraus Luvizotto pelas orientações
valiosas que me foram passadas quando da banca de qualificação, com tanta ética,
competência e profissionalismo.
Enfim, muito obrigada a todos os familiares, amigos e professores que sempre me
apoiaram e muito contribuíram para conclusão deste trabalho.
A democracia não se pode limitar à simples substituição de um
governo por outro. Temos uma democracia formal, precisamos de
uma democracia substancial.
José Saramago
KOMONO, Emery Sumie Masuko. Comunicação e Informação no Portal Eletrônico da
Previdência Social. 2017. Dissertação (Mestrado em Comunicação – Área de Concentração:
Comunicação Midiática) – FAAC – UNESP, sob a orientação da Professora Doutora Maria
Teresa Miceli Kerbauy, Bauru, 2017.
RESUMO
Os princípios democráticos introduzidos com a Constituição Federal de 1988 contribuíram
para remodelação da comunicação pública no Brasil, marcada pela adoção de critérios
crescentemente participativos e intermediados por recursos tecnológicos. Assim, tanto a
criação do Governo Eletrônico como a aprovação a Lei de Acesso à Informação decorrem de
políticas públicas com vistas a aperfeiçoar o atendimento público e incentivar a participação
popular numa sociedade amparada por condições de informação e comunicação. A Lei de
Acesso à Informação, dentre outras inovações, passou a exigir dos órgãos públicos a
disponibilização proativa das informações por meio da Internet em consonância com padrões
de acessibilidade e usabilidade. Dentre os direitos sociais previstos pela Constituição,
encontra-se a Previdência Social, cujas estatísticas e características demonstram ser detentora
de uma expressiva demanda espontânea e emergencial. O presente estudo buscou analisar a
disponibilização das informações com o uso dos recursos de acessibilidade e usabilidade pela
Previdência Social por meio de seu Portal Eletrônico. A utilização das técnicas de Análise de
Conteúdo associada à pesquisa bibliográfica possibilitou mensurar o grau de transparência
ativa, acessibilidade, usabilidade e incentivo à participação popular no Portal da Previdência
Social. Os resultados da pesquisa mostram que a Previdência Social cumpre os requisitos da
Lei de Acesso à Informação, ainda que parcialmente, de modo formal e objetivo; mas
evidenciam a necessidade da efetiva otimização no uso dos recursos de usabilidade e
acessibilidade para manutenção de um sítio eletrônico fácil, simples, direto, amigável e
confiável, com possibilidades de oferecer autoatendimento virtual e aperfeiçoar o processo de
interação, conhecimento e reconhecimento das necessidades e interesses dos cidadãos.
Palavras-chave: Administração Pública, Comunicação Pública, Internet, Previdência Social,
Lei de Acesso à Informação.
ABSTRACT
The democratic principles introduced with the Federal Constitution of 1988 contributed to the
reshaping of public communication in Brazil, marked by the adoption of criteria that are
increasingly participatory and intermediated by technological resources. Thus, both the
creation of Electronic Government and the approval of the Law on Access to Information
stem from public policies aimed at improving public service and encouraging popular
participation in a society supported by conditions of information and communication. The
Law on Access to Information, among other innovations, required public bodies to
proactively provide information through the Internet in line with accessibility and usability
standards. Among the social rights provided by the Constitution is Social Security, whose
statistics and characteristics show that it has a significant spontaneous and emergency
demand. The present study sought to analyze the availability of information with the use of
accessibility and usability resources by Social Security through its Electronic Portal. The use
of Content Analysis techniques associated with bibliographic research made it possible to
measure the degree of active transparency, accessibility, usability and incentive to popular
participation in the Social Security Portal. The results of the research show that Social
Security meets the requirements of the Access to Information Law, even partially, in a formal
and objective way; but demonstrate the need to effectively optimize the use of usability and
accessibility resources to maintain an easy, simple, direct, friendly and reliable electronic site,
with the possibility of offering virtual self-service and improving the process of interaction,
knowledge and recognition of needs and interests of citizens.
Keywords: Public Administration, Public Communication, Internet, Social Security, Law on
Access to Information.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Página inicial do Portal Eletrônico da Previdência Social.......................................93
Figura 2 – Página inicial do Portal Eletrônico da Previdência Social sem rolagem...............118
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Distribuição percentual da quantidade de benefícios concedidos..........................85
Gráfico 2 – Distribuição percentual da quantidade de benefícios emitidos..............................85
Gráfico 3 – Índice de transparência ativa do Portal da Previdência Social............................105
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Informações a serem divulgadas proativamente.................................................61
Quadro 2 Requisitos mínimos a serem atendidos pelos sítios oficiais via Internet............63
Quadro 3 Informações a serem divulgadas proativamente – conforme a Lei nº
12.527/2011 (LAI) e o Decreto nº 7.724/2012.................................................103
Quadro 4 Resultado dos testes de validação do AcessMonitor WCAG 2.0.....................106
Quadro 5 Comparativo entre o resultado do AcessMonitor e as recomendações do
eMAG................................................................................................................108
Quadro 6 Resultado dos testes de validação do Markup Validation Service – HTML.....111
Quadro 7 Resultado dos testes de validação do CSS Validation Service..........................111
Quadro 8 O público da Previdência Social.......................................................................112
Quadro 9 Categorias e recomendações a serem observadas pelos sítios eletrônicos do
governo federal.................................................................................................113
Quadro 10 Categorias e recomendações de usabilidade específicas para o Portal Eletrônico
da Previdência Social........................................................................................115
Quadro 11 Análise do incentivo à participação popular.....................................................124
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AI Arquitetura da Informação
APG Administração Pública Gerencial
CAT Comunicação de Acidente de Trabalho
CEGE Comitê Executivo de Governo Eletrônico
CF Constituição Federal
CGI Comitê Gestor da Internet
CGU Controladoria Geral da União
CMSP Câmara Municipal de São Paulo
CND Certidão Negativa de Débito
CNIS Cadastro Nacional de Informações Sociais
CSS Cascading Style Sheets – Linguagem de Folhas de Estilo
DATAPREV Empresa de Informação e Tecnologia da Previdência Social
DEG Digital Era Governance – Governança da Era Digital
DOM Document Object Model – Modelo de Objeto de Documento
EC Emenda Constitucional
EFPC Entidades Fechadas de Previdência Complementar
EGDI E-Government Development Index - Índice de Desenvolvimento do
Governo Eletrônico
E-GOV Governo Eletrônico
E-MAG Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico
EPI E-Participation Index - Índice de Participação Eletrônica
E-PING Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico
FHC Fernando Henrique Cardoso
FMI Fundo Monetário Internacional
GP Governança Pública
GPS Guia da Previdência Social
GTTI Grupo de Trabalho em Tecnologia da Informação
HTML Hyper Text Markup Language – Linguagem de Marcação de Hipertexto
IAPAS Instituto de Administração da Previdência e Assistência Social
INPS Instituto Nacional de Previdência Social
INSS Instituto Nacional do Seguro Social
LAI Lei de Acesso à Informação
MARE Ministério da Administração e Reforma do Estado
MDSA Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário
MPAS Ministério da Previdência e Assistência Social
MPOG Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
MPS Ministério da Previdência Social
MTPS Ministério do Trabalho e da Previdência Social
NGP Nova Gestão Pública
NPM New Public Managment – Nova Gestão Pública
OCDE Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OEA Organização dos Estados Americanos
OGP Open Government Partnership – Parceria para Governo Aberto
ONG Organização não Governamental
ONU Organização das Nações Unidas
PPP Parceria Público-Privada
PMA Programa de Melhoria do Atendimento
PREVIC Superintendência Nacional de Previdência Complementar
RGPS Regime Geral de Previdência Social
RPPS
SECOM
Regime Próprio de Previdência Social
Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República
SAE Serviço de Atendimento Eletrônico
TIC Tecnologias de Informação e Comunicação
UNCAC United Nations Convention against Corruption - Convenção das Nações
Unidas contra a Corrupção
UNDESA Department of Economic and Social Affairs – Departamento de Assuntos
Econômicos e Sociais
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
W3C Consórcio World Wide Web
WCAG Web Content Accessebility Guidelines - Recomendações de Acessibilidade
para Conteúdo Web
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................16
2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA..........................................................................................22
2.1 Nova Administração Pública..............................................................................................23
2.2 Alternativas para a Nova Gestão Pública............................................................................28
2.3 Governança Pública e Governança da Era Digital..............................................................32
3 COMUNICAÇÃO PÚBLICA.............................................................................................36
3.1 Instrumentos de Comunicação na Era da Informação........................................................42
3.1.1 Arquitetura da Informação Digital...................................................................................46
3.1.2 Usabilidade.......................................................................................................................48
3.1.3 Acessibilidade..................................................................................................................49
3.2 Políticas para Comunicação Pública...................................................................................52
4 ACESSO À INFORMAÇÃO PÚBLICA...........................................................................53
4.1 Lei de Acesso à Informação................................................................................................56
4.1.1 Princípio da Máxima Divulgação....................................................................................57
4.1.2 Transparência Ativa e Passiva.........................................................................................58
4.1.3 Tecnologias de Informação e Comunicação....................................................................61
4.1.4 Cultura da Transparência.................................................................................................64
4.1.5 Desenvolvimento do Controle Social..............................................................................67
4.2 Governo Eletrônico.............................................................................................................68
4.2.1 Governo Eletrônico no Brasil..........................................................................................74
5 PREVIDÊNCIA SOCIAL...................................................................................................78
5.1 Secretaria de Previdência....................................................................................................78
5.2 Empresa de Informação e Tecnologia da Previdência Social – DATAPREV....................78
5.3 Instituto Nacional do Seguro Social....................................................................................79
5.3.1 Regime Geral de Previdência Social................................................................................81
5.3.2 O Atendimento do INSS..................................................................................................83
5.4 O Portal Eletrônico da Previdência Social..........................................................................86
5.4.1 A Criação.........................................................................................................................86
5.4.2 O Desenvolvimento..........................................................................................................87
6 ANÁLISE DO PORTAL ELETRÔNICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL.....................95
6.1 Transparência Ativa...........................................................................................................99
6.2 Acessibilidade...................................................................................................................105
6.2.1 Teste de Acessibilidade do AccessMonitor....................................................................106
6.2.2 Teste de Validação do W3C...........................................................................................109
6.3 Usabilidade........................................................................................................................111
6.3.1 Estrutura e Conteúdo da Página Inicial..........................................................................116
6.3.2 Conteúdo Acima da Dobra.............................................................................................117
6.3.2.1 O Conteúdo mais Importante Acima da Dobra...........................................................118
6.3.2.2 Link para Páginas, Seções ou Serviços Mais Utilizados Visíveis Acima da Dobra...120
6.3.3 Acesso a Documentos e Formulários.............................................................................120
6.3.4 Buscas e Pesquisas.........................................................................................................121
6.3.5 Navegação Entre as Páginas..........................................................................................121
6.3.6 Redação e Conteúdo das Informações...........................................................................122
6.3.7 Comunicações do Sistema.............................................................................................122
6.4 Incentivo à Participação Popular.......................................................................................123
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................127
8 REFERÊNCIAS.................................................................................................................131
16
1 INTRODUÇÃO
A promulgação da Constituição Federal, de 5 de outubro de 1988 (CF/88) marca o
início de um processo histórico de redemocratização no Brasil por firmar compromissos do
Estado para realização dos direitos sociais, econômicos e culturais, e também por criar um
ambiente institucional marcado pelo pluralismo e pela preocupação com o controle do poder
do Estado (GOMIDE, SILVA e PIRES, 2014). Dentre os direitos e garantias fundamentais a
CF/88 assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no país o direito de receber dos
órgãos públicos informações de interesse particular ou coletivo.
A Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998 (EC nº19/1998) passou a
prever também o direito de acesso a registros administrativos e informações sobre os atos de
governo para participação do usuário na administração pública, desde que respeitadas as
disciplinas impostas pela lei.
No entanto, a referida lei inexistia até 18 de novembro de 2011, quando finalmente a
Lei nº 12.527, conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI), foi promulgada. Além de
constituir-se em instrumento legal que atende à exigência constitucional de regulamentação
do direito à informação; a importância da LAI reside precipuamente no fato de proclamar
mecanismos concretos para efetivação da transparência ativa e passiva, criando a
obrigatoriedade de divulgação de informações a todos os órgãos públicos da administração
direta e indireta da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios, incluindo os poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como as entidades privadas sem fins lucrativos que
recebem recursos públicos para realização de ações de interesse público.
A Controladoria Geral da União (CGU) explica que o Estado, em sua obrigação de
disponibilizar ao cidadão as informações por ele produzidas ou custodiadas, tem basicamente
duas formas de dar cumprimento: passiva ou ativamente. A transparência passiva ocorre
quando o cidadão tem que apresentar um pedido formal de uma informação pública e somente
em razão desta solicitação o órgão ou entidade pública disponibiliza a informação. Ao
contrário desta situação, a transparência ativa refere-se ao comportamento de divulgação das
informações por iniciativa da própria administração pública: “A Transparência Ativa é
entendida como aquela em que há disponibilização da informação de maneira espontânea
(proativa). É o que ocorre, por exemplo, com a divulgação de informações na Internet, de
modo que qualquer cidadão possa acessá-las diretamente.” (BRASIL, 2015, p. 52)
17
A LAI determina que os órgãos e entidades públicas utilizem de todos os meios e
instrumentos legítimos dos quais disponham para disponibilização das informações, mas
como inovação estabelece a obrigatoriedade da divulgação por meio da internet.
A LAI estabelece aos órgãos públicos o dever de divulgar em transparência ativa, no
mínimo as seguintes informações: registro das competências e estrutura organizacional,
endereços e telefones das respectivas unidades e horários de atendimento ao público; registro
de quaisquer repasses ou transferências de recursos financeiros; registro das despesas;
informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os respectivos editais e
resultados, bem como todos os contratos celebrados; dados gerais para o acompanhamento de
programas, ações, projetos e obras de órgãos e entidades; e respostas a perguntas mais
frequentes da sociedade.
O legislador adota o princípio da máxima divulgação, onde a publicidade é um
preceito geral e o sigilo, uma exceção. Sendo assim, presume-se que os itens acima elencados,
são imprescindíveis de divulgação ativa, mas outras informações poderão ser solicitadas pelos
cidadãos ainda que não estejam compreendidas neste rol.
A acessibilidade refere-se à facilitação quanto aos locais, produtos, serviços e
informações “disponíveis ao maior número e variedade possível de pessoas independente de
suas capacidades físico-motoras e perceptivas, culturais e sociais” (BRASIL, 2010c, p. 8). A
Lei nº12.527/2011 exige que os portais eletrônicos dos órgãos públicos atendam às seguintes
exigências de acessibilidade: conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso
à informação de forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão;
possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive abertos e não
proprietários, tais como planilhas e texto, de modo a facilitar a análise das informações;
possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos, estruturados e
legíveis por máquina; divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da
informação; garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis para acesso;
manter atualizadas as informações disponíveis para acesso; indicar local e instruções que
permitam ao interessado comunicar-se, por via eletrônica ou telefônica, com o órgão ou
entidade detentora do sítio; e adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de
conteúdo para pessoas com deficiência nos termos da Lei nº 10.098/2000 e do Decreto
Legislativo nº 186/2008.
Usabilidade é outro item que também tem seu foco no usuário, mas não se confunde
com a acessibilidade. Conforme definição contida na Cartilha de Usabilidade do Governo
18
Eletrônico, usabilidade é o “estudo ou a aplicação de técnicas que proporcionem a facilidade
de uso de um dado objeto” (BRASIL, 2010c, p. 6). No que se refere às tecnologias de
informação e comunicação, o objetivo da usabilidade é assegurar que qualquer pessoa consiga
usar um determinado portal eletrônico e que este funcione da forma esperada. No caso dos
portais eletrônicos governamentais, o cidadão interage com a administração pública por meio
de uma interface, que são as páginas, informações e serviços disponibilizados eletronicamente
pelo governo. “Se a interface é fácil de aprender, simples, direta e amigável, a pessoa estará
inclinada a fazer uso da mesma” (BRASIL, 2010c, p. 7). Porém, os problemas de usabilidade
ocorrem quando as pessoas encontram dificuldades em obter informações ou realizar algo que
precisam fazer por meio da interface. Neste caso, pode ocorrer “a perda de dados, diminuição
da produtividade, podendo chegar à rejeição total do software por parte dos usuários”
(FERREIRA, 2002, p. 10).
A Cartilha de Usabilidade do Governo Eletrônico fornece diretrizes para o
desenvolvimento e para aplicação de testes nos portais eletrônicos tendo como foco os
interesses do cidadão. A partir da observação concreta de problemas comuns nas páginas de
instituições públicas no Brasil, são propostas as seguintes diretrizes: 1) Contexto e navegação;
2) Carga de informação; 3) Autonomia; 4) Erros; 5) Desenho; 6) Redação; 7) Consistência e
familiaridade.
A Secretaria de Previdência e o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS),
encontram-se elencados entre os órgãos subordinados ao regime da Lei de Acesso à
Informação. Assim, a divulgação das informações de ambos os órgãos na Internet, realiza-se
por meio do Portal Eletrônico da Previdência Social.
A Secretaria de Previdência é responsável por administrar o Regime Próprio de
Previdência Social (RPPS), e o INSS é responsável por recepcionar e analisar os pedidos de
benefícios dos segurados, trabalhadores vinculados ao Regime Geral de Previdência Social
(RGPS).
Em situações em que ocorra a perda da capacidade laboral, seja por motivo de doença,
invalidez, idade avançada, morte, desemprego involuntário, maternidade ou reclusão, o INSS
é responsável por gerar uma renda substitutiva ao salário do trabalhador ativo. Conforme
dados divulgados pela própria autarquia, no mês de outubro de 2016 foram analisados 710,1
mil pedidos de benefícios, dos quais 378,6 mil foram concedidos. O tempo médio de espera
para a concessão dos benefícios foi de 54 dias.
19
Os dados numéricos, que evidenciam a grande demanda da população brasileira pelos
serviços do INSS; somados a situação de fragilidade sob a qual o cidadão busca o
atendimento do INSS - doença, invalidez, idade avançada, desemprego, gravidez, dentre
outras condições emergenciais - justificam a escolha do Portal Eletrônico da Previdência
Social para realização da presente pesquisa, com adoção de procedimentos técnicos próprios
de um estudo de caso, em relação ao objetivo principal, a fim de verificar a forma como o
INSS cumpre os requisitos da Lei de Acesso à Informação por meio do Portal Eletrônico da
Previdência Social.
O presente estudo parte da hipótese de que o INSS e a Secretaria de Previdência
cumprem os requisitos exigidos pela LAI, mas propõe uma investigação mais aprofundada
sobre a necessidade de otimização no uso das novas tecnologias para melhoraria do
atendimento e incentivo à participação popular. Pois, conforme o princípio da moralidade
administrativa, explanado por Mello (2011, p. 123) não basta à administração pública cumprir
a lei estrita e objetivamente, qualquer comportamento “produzido de maneira a confundir,
dificultar ou minimizar o exercício de direitos por parte dos cidadãos” pode afrontar este
princípio constitucional.
Tomando como parâmetro as exigências da LAI, o objetivo geral da pesquisa é
analisar o site da Previdência Social quanto a transparência ativa na disponibilização das
informações com o uso dos recursos tecnológicos de acessibilidade e usabilidade.
Para tanto, o primeiro objetivo específico é evidenciar a importância da correta e
adequada utilização dos recursos tecnológicos para oferecer informações e serviços de forma
eficiente e possibilitar o exercício da cidadania.
O segundo objetivo específico é mensurar o uso dos recursos de acessibilidade e
usabilidade, tomando como parâmetro as exigências da LAI, os avaliadores automáticos de
acessibilidade "AccessMonitor", W3C e as regras contidas na Cartilha de Usabilidade do
Governo Eletrônico.
O terceiro objetivo específico é discutir, a partir dos resultados observados na
pesquisa, o grau de aperfeiçoamento democrático que o Portal viabiliza e as possíveis e
necessárias medidas a serem adotadas nesse sentido.
Mediante pesquisa metodológica bibliográfica foram revistos: a) aspectos políticos e
históricos que culminaram com a elaboração da Lei de Acesso à Informação, no Brasil; b)
conceitos relacionados ao tema proposto, a saber comunicação pública, transparência ativa na
20
administração pública e governo eletrônico; c) características e aspectos específicos que
identificam a Previdência Social.
A amostra de dados para a pesquisa foi coletada do Portal Eletrônico da Previdência
Social, mediante acesso ao endereço www.previdencia.gov.br durante o período de julho a
dezembro de 2016.
Para análise e interpretação dos dados foi utilizada a técnica e os procedimentos da
Análise de Conteúdo, com a construção e organização de categorias, destacando elementos
interdependentes constantes no referencial teórico e no conjunto normativo: LAI, Decreto nº
7.724/2012, Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (e-MAG), Cartilha de
Codificação e Cartilha de Usabilidade.
Os dados brutos foram organizados e classificados de forma sistemática em categorias
previamente estabelecidas em função de significados e valores, possibilitando avaliar o Portal
Eletrônico da Previdência Social sob quatro diferentes prismas:
• Quanto à transparência ativa – conforme categorias construídas a partir das exigências
da LAI e do Decreto nº 7.724/2012.
• Quanto à acessibilidade – conforme resultados objetivos, sistemática e
quantitativamente programados pelos testes de validação automática: AccessMonitor,
Markup Validation Service e CSS Validation Service.
• Quanto à usabilidade – conforme categorias construídas a partir das diretrizes
propostas pela Cartilha de Usabilidade.
• Quanto à interatividade – conforme categorias construídas a partir do referencial
teórico para atender exigência da LAI de assegurar o acesso à informação pública
incentivando a participação popular.
Para análise dos aspectos estruturais e processuais houve a necessidade de utilização
da abordagem qualitativa, que possibilitou interpretar as relações existentes entre as variáveis
dos dados quantitativos obtidos. Conforme Flick (2009), pontos essenciais de uma pesquisa
podem ser esclarecidos quando se combinam as pesquisas quantitativa e qualitativa “podendo
cada uma destas ser apropriada a etapas distintas do processo de pesquisa” (FLICK, 2009, p.
40).
A dissertação foi organizada nas seguintes seções:
21
• Administração pública (seção 2) – apresentação de relevantes aspectos políticos que
interfeririam na conformação do atual modelo de administração pública adotado no
Brasil.
• Comunicação Pública (seção 3) – conceituação do termo e demonstração do percurso
histórico da comunicação pública diante das variáveis políticas, sociais, econômicas e
culturais.
• Acesso à informação pública (seção 4) – relato de fatos históricos e políticos que
culminaram com a aprovação da Lei de Acesso à Informação no Brasil; explicando as
diretrizes da LAI.
• Governo eletrônico (seção 5) – apresentação de um modelo de administração pública
gerado a partir do desenvolvimento tecnológico e sua adaptação às políticas
governamentais.
• Previdência Social (seção 6) – conceituação do termo, apresentação e demonstração de
aspectos históricos, políticos e culturais que interferem no atendimento da Previdência
Social.
• Análise do Portal Eletrônico da Previdência Social (seção 7) – classificação dos dados
coletados em categorias, possibilitando: avaliar o site a partir dos resultados obtidos,
discutir os resultados em função dos objetivos propostos pela pesquisa.
Os resultados da pesquisa conduzem para demonstração de que a Previdência Social
por meio do Portal Eletrônico cumpre parcialmente sua obrigação de disponibilizar
informações sob critérios de transparência ativa, utilizando os recursos de acessibilidade e
usabilidade para geração de informações, prestação de serviços e incentivo à participação
pública.
A pesquisa evidencia aspectos críticos ainda pendentes de saneamento por parte da
Previdência Social para que não somente os aspectos legais sejam contemplados, mas
efetivamente os interesses cidadãos sejam prioritariamente atendidos.
22
2 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
O tema abordado pela presente pesquisa trata da política democrática de acesso à
informação, positivada pelo Estado por meio da Constituição Federal de 1988 (CF/88),
regulada pela Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011 – conhecida como Lei de Acesso à
Informação -, e em processo de implementação pela administração pública brasileira.
Aspectos históricos, sociais e políticos que induziram à atual conformação do modelo
organizacional da administração pública brasileira serão inicialmente estudados pois
amparam, justificam e refletem nas práticas adotadas pelos órgãos públicos para o
cumprimento das obrigações impostas pela Lei de Acesso à Informação.
A administração pública é a interface entre o Estado e a sociedade para cumprimento
das políticas públicas, devendo de forma concreta, prática, direta, imediata e de certo modo
rotineira atender aos cidadãos. Num ambiente democrático, o que dá legitimidade à ação da
administração pública é o atributo do interesse público inerente aos atos praticados pelos
servidores. Por isso, quando se diz que um governo perdeu a legitimidade é porque as ações
praticadas pela sua administração pública desviam-se da finalidade precípua de atender ao
interesse público (MELLO, 2011).
Weber (1974), analisando a administração pública sob o prisma da burocracia
racional, desenvolveu relevante estudo que apontava para necessidade de separar a política da
administração a fim de obter eficiência e justiça no serviço público. Segundo Weber a
organização burocrática puramente administrativa e técnica seria capaz de atingir o mais alto
grau de eficiência, de forma a cumprir as tarefas administrativas com racionalidade –
precisão, estabilidade, rigor de disciplina e confiabilidade (BEHN, 2012).
. A racionalização dos processos administrativos, descrita por Weber, converge para o
modelo de administração burocrática weberiana que prima pela eficiência (CARNEIRO e
MENICUCCI, 2011; SECCHI, 2009).
Secchi (2009, p. 352) relata que o modelo burocrático weberiano estabeleceu um
padrão excepcional de profissionalismo entre os trabalhadores das organizações, ao separar
claramente as atividades de planejamento e execução. Segundo o autor, a equidade é outro
valor implícito à ideia da burocracia, “pois ela é desenhada para dar tratamento igualitário aos
empregados que desempenham tarefas iguais”.
23
Contudo, após a II Guerra Mundial desencadeou-se “uma onda de confrontação
intelectual contra o modelo burocrático” (SECCHI, 2009, p. 349, 353).
Conforme relata Behn (1998, p. 15) “o paradigma da administração pública não se
demonstrou nem eficiente nem apolítico” como previa Weber. “De fato, ele é muito
ineficiente e bastante político”. A divisão do trabalho em tarefas especializadas criou o
problema da coordenação, um “fardo insuportável”, sem a qual a organização tende à
ineficiência.
Assim, no momento histórico em que os efeitos negativos da administração
burocrática tornaram-se visíveis ao interesse público, desponta um novo modelo
organizacional, conhecido como New Public Management (NPM), Nova Administração
Pública. Em síntese, a NPM preconiza que os princípios gerenciais das empresas privadas
passem a ser utilizados pelo Estado no desenvolvimento e implementação de políticas
públicas.
2.1 NOVA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Em 1995, o governo federal brasileiro criou o Ministério da Administração e Reforma
do Estado (MARE), comandado pelo ministro Bresser-Pereira, com o objetivo de introduzir
na administração pública burocrática o modelo organizacional da Nova Gestão Pública
(NGP). Bresser-Pereira (1996, p. 3) explica e analisa o momento crítico caracterizado pela
perda de capacidade do Estado de coordenar o sistema econômico, refere-se a uma grande
crise, denominando-a como “crise fiscal, como uma crise do modo de intervenção do Estado,
como uma crise da forma burocrática pela qual o Estado é administrado, e, em um primeiro
momento, também como uma crise política”. Em seu diagnóstico, Bresser-Pereira (1996, p. 3,
4) relata que, no Brasil a administração pública burocrática ainda não havia se consolidado
“porque não foi capaz de extirpar o patrimonialismo” e introduzir o profissionalismo por meio
da redefinição das carreiras e de um processo sistemático de abertura de concursos públicos.
Com a CF/88 “a crise agravou-se”, a administração pública brasileira passou a sofrer com o
“enrijecimento burocrático extremo” associado ao patrimonialismo, como consequência deste
quadro sofre devido a um alto custo e uma baixa qualidade de serviços públicos.
Bresser-Pereira (1996, p. 5) argumenta que a expansão do Estado ocorrida no século
XX trouxe um número crescente de serviços sociais e de papéis econômicos, evidenciando e
24
agravando o problema da ineficiência no serviço público brasileiro. Desta forma havia
necessidade de reformar a administração pública, adequando-a para garantir a legitimação
perante as demandas da cidadania: “É a administração pública gerencial que está surgindo,
inspirada nos avanços realizados pela administração de empresas”.
Para a Nova Administração Pública no Brasil, Bresser-Pereira (1996, p. 6) destaca os
seguintes contornos: 1) descentralização política, transferindo recursos e atribuições para
níveis regionais e locais; 2) descentralização administrativa, através de delegação de
autoridade para os administradores públicos transformados em gerentes crescentemente
autônomos; 3) organizações com poucos níveis hierárquicos ao invés de piramidal; 4)
pressuposto da confiança limitada e não da desconfiança total; 5) controle por resultados, ao
invés do controle rígido dos processos administrativos; 6) administração voltada para o
atendimento do cidadão.
A reforma da NGP, sob as regras republicanas da CF/88, trouxe uma grande
responsabilidade para os executores desde a negociação e montagem das propostas como
também na proposição de instrumentos democratizantes para o país. Contudo, a principal
preocupação dos atores políticos foi na correção dos erros anteriormente cometidos pelo
regime militar em detrimento da “necessidade de construir um modelo de Estado capaz de
enfrentar os novos desafios que surgiam no mundo: [...] o olhar mais para o passado do que
para o presente/futuro atrapalhou o processo reformista na Nova República” (ABRUCIO,
PEDROTI e PÓ, 2010, p. 54).
Em consonância a essa argumentação, Gomide, Silva e Pires (2014, p. 233) defendem
que o gerencialismo, ao focar na eficiência em sentido estrito, colocou em segundo plano os
aspectos relacionais essenciais que envolvem a produção de políticas públicas - “a interação
entre o governo, os agentes privados e a sociedade civil para realização dos objetivos”. Em
contraposição, o ambiente político-institucional criado pela CF/88 ressalta a necessidade de
“politizar a administração pública, no sentido de orientá-la para satisfazer as necessidades, as
demandas e as expectativas de uma sociedade plural”.
A reforma da NGP no Brasil foi prejudicada por condições políticas, mas também
continha “erros de diagnóstico”. Um dos erros relaciona-se com o conceito muito restrito
sobre as carreiras estratégicas de Estado. O núcleo estratégico foi delimitado às poucas
funções governamentais, basicamente ligadas à diplomacia, finanças públicas, área jurídica e
à carreira de gestores governamentais. O projeto da reforma “deixou de incorporar outros
setores essenciais da União, fundamentais para que ela atue como reguladora, avaliadora e
25
indutora do plano das relações intergovernamentais” (ABRUCIO, PEDROTI e PÓ, 2010, p.
63).
Outro erro de diagnóstico foi estabelecer uma oposição completa entre a chamada
administração burocrática e as novas formas de gestão. Essa visão “etapista” gerou atrito com
setores da burocracia estratégica. Ao invés de uma perspectiva dicotômica, em etapas, o
movimento reformista deveria ter assumido uma postura mais dialética, em que há
simultaneamente a incorporação de aspectos do modelo weberiano e a criação de novos
instrumentos de gestão, possibilitando conquistar mais facilmente os setores da burocracia
estratégica para o processo de reformas. Por um lado, o formalismo e a rigidez burocrática
merecem ser atacados como males, mas, por outro, alguns alicerces do modelo weberiano
podem constituir-se numa “alavanca para a modernização, principalmente em prol da
meritocracia e da separação clara entre o público e o privado” (ABRUCIO, PEDROTI e PÓ,
2010, p. 64, 65)
Apesar dos problemas mencionados, a EC nº 19/1998 – que foi aprovada por força do
movimento de reforma da NGP - institui novas regras para aposentadoria dos servidores
públicos; passou a exigir um subsídio único para remuneração dos membros do poder, dos
cargos eletivos, dos ministros do estado, dos secretários municipais e estaduais; trouxe regras
para exoneração dos servidores não estáveis; estabeleceu critérios para redução de 20% das
despesas com cargos em comissão e funções de confiança. Em relação ao aprimoramento dos
serviços públicos, a EC nº19/1998 trouxe também importantes alterações como o direito de
reclamação do usuário de serviço público; a adoção de critérios mais rigorosos para aquisição
da estabilidade no serviço público; e, a exigência de avaliações periódicas de desempenho
para manutenção do cargo estável.
Abrucio, Pedroti e Pó (2010, p. 60) consideram que as medidas propostas pela reforma
da NGP, como o teto para os gastos com o funcionalismo, as “alterações no caráter rígido e
equivocado do regime jurídico único”, a introdução do princípio da eficiência entre os pilares
do direto administrativo e a maior abertura para o controle do Estado pela sociedade;
constituem-se em “peças essenciais na criação de uma ordem jurídica que estabeleceu
parâmetros de restrição orçamentária, de otimização das políticas e democratização da gestão
pública”.
Numa avaliação mais aprofundada sobre a gestão pública brasileira, Abrucio, Pedroti e
Pó (2010, p. 65) consideram que houve uma série de ações inovadoras, cujos impactos foram
fragmentados e dispersos mas não podem ser considerados menos importantes. O primeiro
26
destaque seria em relação aos vários avanços ocorridos em torno da questão fiscal, incluindo a
aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, “com enormes ganhos de economicidade ao
Estado brasileiro”. Um segundo ponto relevante seriam as políticas públicas que se
desenvolveram em âmbitos estaduais e municipais, caracterizadas pela participação social
crescente e por ações mais ágeis. Um exemplo disso seria a expansão dos centros de
atendimento integrado, “uma das maiores revoluções na administração pública brasileira
contemporânea”.
Em terceiro lugar, destacam-se as políticas públicas vinculadas à área social, com
inovações relacionadas aos mecanismos de avaliação, à forma de coordenação administrativa
e financeira, ao avanço do controle social, aos programas voltados à realidade local e às ações
intersetorias; principalmente voltadas para saúde, educação e recursos hídricos. Ademais, a
construção de uma coalisão em torno do Plano Plurianual constitui-se outro avanço, na
medida em que deixou de ser realizado numa versão centralizadora e tecnocrática, passando a
ser discutido efetivamente como proposta integradora de áreas a partir de programas e projeto
(ABRUCIO, PEDROTI e PÓ, 2010).
Na opinião dos autores, a quinta e talvez a mais significativa ação reformista na gestão
pública brasileira tenha sido o governo eletrônico:
Sua disseminação é impressionante. Seus resultados são excelentes em
termos de organização das informações. Mais importante ainda, a tecnologia
da informação tem levado à redução dos custos, bem como ao aumento da
transparência nas compras governamentais – reduzindo o potencial de
corrupção. O ponto em que houve menor avanço do governo eletrônico é
exatamente na maior interatividade com os cidadão, em prol da maior
accountability (ABRUCIO, PEDROTI e PÓ, 2010, p. 67).
Bresser-Pereira (1996) considera que a principal medida adotada para promover a
mudança institucional foi a criação de agências autônomas e organizações sociais controladas
por contratos de gestão. Com essa medida, planejava redefinir as funções do Estado,
instaurando mais autonomia e responsabilidade na administração indireta, a fim de obter
melhores resultados e provisão de serviços mais eficientes.
Contudo, Abrucio, Pedroti e Pó (2010, p. 62, 63) relatam que a maior autonomia às
agências, intentada pelos reformadores como inovação político institucional, foi barrada por
uma “visão economicista estreita da equipe econômica” do então governo do presidente
Fernando Henrique Cardoso (FHC), diante do “medo de perder o controle sobre as despesas
dos órgãos”. Além desse aspecto, os autores ressaltam que “os parlamentares temiam a
27
implantação de um modelo administrativo mais transparente e voltado ao desempenho, pois
isso diminuiria a capacidade de a classe política influenciar a gestão dos órgãos públicos, pela
via da manipulação de cargos e verbas”.
Resende (2004) explica que de forma geral, as reformas administrativas são políticas
formuladas com o propósito de elevar a performance do aparato burocrático do Estado, com
dois objetivos básicos a serem cumpridos: o ajuste fiscal (ou a redução dos gastos do
governo) e a mudança institucional (alteração nas estruturas organizacionais, na cultura
burocrática). No caso brasileiro, que pretendeu passar a administração pública de uma
orientação burocrática para uma orientação gerencial, Resende considera que o MARE falhou
devido a cooperação parcial de atores estratégicos - integrantes da Casa Civil na Presidência,
do Ministério da Fazenda (MF) e do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão
(MPOG) - que detinham maior poder de decisão no interior da burocracia governamental. Por
um lado houve cooperação desses atores estratégicos em relação ao cumprimento do objetivo
de ajuste fiscal; contudo em relação a mudança institucional não houve apoio pois a elevação
da performance, proposta pelos reformistas, exigia menos controle sobre as instituições o que
foi visto como uma “ameaça à ordem burocrática”.
Carneiro e Menicucci (2011, p. 29) consideram que no Brasil, assim como em outros
países da América Latina, a reforma da NGP avançou pouco, contemplando privatizações,
introdução de mecanismos de controle financeiro e cortes nas despesas com pessoal, “de um
modo geral, são iniciativas pontuais e frequentemente descontínuas de introdução de algumas
inovações nas tecnologias de gestão”.
A reforma da NGP no Brasil, apesar dos avanços mencionados, não teve força
suficiente para sustentar uma reforma da administração pública ampla. O segundo mandato do
presidente FHC, “mesmo tendo incorporado algumas conquistas da reforma Bresser, começou
com a extinção do MARE e foi marcado, na maior parte do tempo, pelo empobrecimento da
agenda da gestão pública” (ABRUCIO, PEDROTI e PÓ, 2010, p. 65).
A extinção do MARE quatro anos depois de sua criação, evidencia uma mudança de
direcionamento na política de reforma do Estado, e traduz como os obstáculos criados por
atores estratégicos inibem a implementação de reformadas administrativas (RESENDE,
2004).
Carneiro e Menicucci (2011, p. 65) identificam certo consenso na literatura sobre o
“relativo fracasso das reformas levadas a cabo em diferentes contextos nacionais sob a
28
influência das ideias associadas à NPM”. Ressaltam os autores que poucos governos
“persistiram de forma mais sustentada no reformismo da NPM” e foram forçados a introduzir
“correções de rota e inovações que implicaram redefinições” nos padrões de gestão e no papel
do Estado.
Em relação ao desempenho gerencial existem indicações de avanços associados à
NPM, mas não há uma avaliação mais sistemática que demonstre incrementos efetivos de
produtividade e melhorias na qualidade dos serviços públicos provisionados. Em algumas
situações, as reformas apresentaram efeitos negativos tanto para os Estados quanto aos
cidadãos:
Particularmente, as reformas apresentam déficits democráticos e de
accountability, embora este tenha sido um dos temas enfatizados pela NPM,
mas de uma perspectiva reducionista, ao limitar a participação dos cidadãos-
clientes à escolha e/ou ao controle dos serviços, sem constituir mecanismos
para a formação de preferências e para deliberação (CARNEIRO e
MENICUCCI, 2011, p. 66).
Como alternativa para nova gestão pública, diversos modelos organizacionais e
relacionais emergem na tentativa de oferecer alicerces para os governos do século XXI, com
ênfase na necessidade de ampliação dos instrumentos democráticos, tanto na área política
como no âmbito da gestão pública.
2.2 ALTERNATIVAS PARA A NOVA GESTÃO PÚBLICA
Grau (2005) sugere uma administração pública democrática com a participação cidadã
para o exercício do controle social sobre as decisões e atos praticados pelo Estado. Nesse
sentido a autora ressalta a necessidade de uma reforma política na administração pública com
vistas a adoção de mecanismos que trabalhem para inclusão do cidadão como ator político,
dotando-o de vários meios de influência.
Como formas de exercício do controle cidadão, a autora inclui a participação do
cidadão nos processos de decisão, a escolha dos serviços e a co-produção pública. Contudo,
ressalta que não haverá legítima democratização da administração se na tentativa de sua
implementação a produção de bens e serviços públicos de qualidade for prejudicada. Por isso,
em seu modelo propõe também a conexão dos três elementos: democracia, controle e
eficiência.
29
Grau (2005) explica que na administração pública muitas vezes o segredo é utilizado
para encobrir interesses de particulares, o que seria inaceitável do ponto de vista democrático.
Em contraposição, a transparência constitui-se condição básica para configuração da política
da cidadania, além de contribuir para potencializar a participação pública.
Bourgon (2010), a despeito das muitas reformas ocorridas nas três últimas décadas,
considera que as organizações do setor público ainda não estão alinhadas com o novo
contexto global e assim vê a probabilidade de novas reformas, nas quais os governos terão
que assumir papéis que extrapolam a posição de tomadores de decisões e de prestadores de
serviços aos cidadãos. As novas reformas exigirão o foco em três pontos principais: 1) no
papel das organizações públicas em alcançar resultados de elevado valor público e propiciar a
evolução dos princípios cívicos; 2) no incentivo governamental para liberar o poder coletivo
dos cidadãos para obtenção dos resultados de alto valor público; 3) numa compreensão mais
dinâmica sobre governança e administração pública que fomente a construção das
capacidades coletivas.
As políticas públicas dependem de normatizações que se iniciam no governo, mas que
na maioria das vezes, para serem implementadas e alcançar resultados de elevado valor
público dependem de uma imensa rede de atores e organizações, incluindo cidadãos e grupos
da sociedade civil. A verdadeira medida do programa governamental de sucesso é a sua
contribuição para os resultados sociais e do sistema como um todo. As organizações do setor
público têm responsabilidade de agir por meio das contribuições sociais a fim de agregar
valores e alcançar resultados cívicos para coletividade ainda que não satisfaçam um
determinado indivíduo ou grupo de interesses (BOURGON, 2010).
É possível melhorar os resultados cívicos adotando medidas que removam as barreiras
que impedem a cidadania ativa e incentivando a construção de capacidades comunitárias e
coletivas. Nesse sentido Bourgon (2010) faz cinco sugestões:
• Transparência e responsabilização (accountability) - Expansão do conceito de
responsabilização de um processo de prestação de contas para o exercício de poder dos
gestores públicos. Pode assumir a forma de um sistema abrangente de
informação/notificação pública, ou de responsabilização compartilhada no qual vários
atores estão envolvidos.
• Acesso – Aprimoramento do governo eletrônico para acesso dos cidadãos ao governo
(incluindo conhecimentos detidos pelo governo) em seus termos e de acordo com suas
30
necessidades. Isso contribuiria para o desenvolvimento de uma infraestrutura de
conhecimento moderno para facilitar a criação de redes, incentivar a inovação coletiva
e permitir que governos e cidadãos formatem e mantenham a inteligência coletiva da
nossa sociedade em rede.
• Voz – Integração das “vozes” provenientes dos cidadãos e de suas comunidades sobre
aspectos relevantes da administração pública. Isso inclui explorar o potencial para
integrar mecanismos de retroalimentação para melhoria do ciclo do programa; a
construção de plataformas de comunicação que permitam aos cidadãos ouvir as vozes
uns dos outros e dos prestadores de serviços para melhorar os resultados. Implica
também remover barreiras dos mais vulneráveis, como analfabetos, pobres, jovens e
idosos.
• Escolha – Permissão aos cidadãos e às comunidades do exercício da
discricionariedade em seu próprio nome para satisfazer suas próprias necessidades,
dentro da lei e respeitando as responsabilizações profissionais e políticas.
• Ação – Incentivo ao papel ativo dos cidadãos e das comunidades como criadores de
valores e como agentes ativos na produção de bens públicos, criando soluções para
problemas comuns e delineando o futuro que desejam.
Contudo, a participação cidadã “não é uma panaceia”, mas deve ocorrer dentro dos
princípios legais, e de forma alguma substitui a democracia representativa, a vontade política,
as instituições públicas legítimas e a autoridade do governo (BOURGON, 2010, p. 10).
Como alternativa para a nova gestão pública, Denhardt (2012) sugere o novo serviço
público, modelo baseado na ideia de administradores públicos a serviço de cidadãos
totalmente engajados àqueles que o servem.
Denhardt (2012, p. 265-268) explica os sete princípios-chave para o novo serviço
público:
• Servir cidadãos, não consumidores: os servidores públicos devem responder às
demandas dos consumidores, mas principalmente devem concentrar-se na construção
de relações de confiança e na colaboração com e entre os cidadãos. A cidadania além
de ser detentora de um status legal, deve ser concebida como uma questão de
responsabilidade e moralidade. O novo serviço público deve estar sensível às “vozes
dos cidadãos” e trabalhar conjuntamente para construir uma sociedade civil.
31
• Perseguir o interesse público: os administradores públicos têm que contribuir para a
construção de uma noção coletiva, compartilhada, do interesse público. Encontrar
soluções rápidas e individualizadas não é o suficiente, é preciso criar interesses e
reponsabilidade compartilhados. O administrador público tem que estar atento ao
amplo sistema de governança no qual está inserido como ator-chave, desempenhando
o papel de garantir que o interesse público prevaleça e que os valores compartilhados
sejam alcançados. Isso implica em considerar o propósito do governo
fundamentalmente diferente do propósito dos negócios.
• Dar mais valor à cidadania e ao serviço público do que ao empreendedorismo: o
interesse público é mais bem servido por cidadãos e servidores públicos que estão
comprometidos em fazer contribuições significativas para a sociedade do que por
gestores empreendedores que atuam como se o dinheiro público fosse seu.
• Pensar estrategicamente, agir democraticamente: o envolvimento dos cidadãos não se
limita a participar do processo de decisão sobre as prioridades, mas as organizações
públicas devem estimular o engajamento dos cidadãos em todos os aspectos e estágios
do processo de implementação das políticas públicas. No novo serviço público os
cidadãos e os servidores públicos têm a responsabilidade mútua de identificar
problemas e implementar soluções.
• Reconhecer que accountability não é simples: accountability democrática no serviço
público envolve um equilíbrio entre normas e responsabilidades concorrentes numa
teia complicada de controles externos, padrões profissionais, preferências dos
cidadãos, questões morais, direito público e, em última análise, interesse público. É
um erro simplificar a accountability democrática a um conjunto estreito de medidas de
desempenho que imitam as forças de mercado. O novo serviço público reconhece que
ser funcionário público é uma empreitada exigente, desafiadora e, às vezes, heroica,
que envolve accoutability a terceiros, conformidade à lei, moralidade, julgamento e
responsabilidade.
• Servir em vez de dirigir: os servidores públicos devem usar uma liderança baseada em
valores para ajudar os cidadãos a articular e satisfazer seus interesses compartilhados
em vez de tentar controlar ou dirigir a sociedade para novos rumos.
• Dar valor às pessoas, não apenas à produtividade: as organizações públicas e as redes
de que participam têm mais chance de ser bem-sucedidas a longo prazo se operarem
32
por meio de processos de colaboração e liderança compartilhada, com base no respeito
a todas as pessoas.
No novo serviço público, diferentemente da NGP - que se constrói sobre conceitos
econômicos como maximização do autointeresse - o interesse público transcende a agregação
dos autointeresses individuais. O novo serviço público procura valores compartilhados e
interesses comuns por meio de um amplo diálogo e do engajamento dos cidadãos. O próprio
serviço público é visto como uma extensão da cidadania; ele é motivado por um desejo de
servir os outros e de lograr objetivos públicos (DENHARDT, 2012).
2.3 GOVERNANÇA PÚBLICA E GOVERNANÇA DA ERA DIGITAL
Governança Pública (GP) é um movimento que converge ao modelo relacional de
abordagem diferenciada por oferecer “conexão entre o sistema governamental e o ambiente
que circunda o governo” (SECCHI, 2009, p. 349).
A GP pode ser vista como uma alternativa ao modelo burocrático, mas alguns
acadêmicos consideram-na uma consequência da Administração Pública Gerencial.
Governança é sobretudo, um termo com significados polissêmicos, visto por teóricos da
globalização como a queda do modelo onde o Estado-nação desempenhava o papel de ator
individual, e a transição para um “modelo colaborativo de relação interestatal e entre atores
estatais e não estatais na solução de problemas coletivos internacionais” (SECCHI, 2009, p.
358).
O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial adotam o termo “boa
governança”, segundo a teoria do desenvolvimento, referindo-se a um conjunto de práticas
democráticas e de gestão que ajudam os países a melhorar suas condições de desenvolvimento
econômico e social. Nesse entendimento, os países que preenchem os requisitos da “boa
governança” devem comprovar boas práticas com melhoria da eficiência administrativa, da
accountability democrática e de combate à corrupção (IMF, 2017, p. 1).
No atual contexto, o termo governança tem ganhado um novo sentido, deixando de
referir-se às relações entre o setor público e privado para produção de bens e serviços públicos
com vistas a maior eficiência para se referir a propostas com aprofundamento democrático:
33
[...] a governança está relacionada à participação dos membros da sociedade
nos processos decisórios mais amplos e na gestão pública. Governança
democrática ou participativa envolve, assim, a constituição de mecanismos
democráticos e deliberativos como forma de corrigir déficits democráticos e
garantir accountability (GOMIDE, SILVA e PIRES, 2014, p. 69).
Nas ciências políticas e na administração pública, conforme argumenta Secchi (2009,
p. 359), governança refere-se a um modelo horizontal de relação entre atores públicos e
privados para elaboração de políticas públicas. “Governance” denota pluralismo, no sentido
de reconhecer que diferentes atores têm direito de influenciar na construção das políticas
públicas. “A GP também significa um resgate da política dentro da administração pública,
diminuindo a importância de critérios técnicos nos processos de decisão e um reforço de
mecanismos participativos de deliberação na esfera pública.”
Tratando-se de questões mais práticas, a GP disponibiliza plataformas organizacionais
para facilitar o alcance de objetivos públicos por meio de mecanismos de democracia
deliberativa e de redes de políticas públicas. A democracia deliberativa vem sendo utilizada
na esfera governamental para melhorar a interação entre atores públicos e privados para
solução de problemas coletivos e a redução de elos na cadeia de accountability. O
fortalecimento da comunidade na gestão do patrimônio público, bem como os planejamentos
e orçamentos participativos e os conselhos deliberativos nas diversas áreas de política
públicas são exemplos de democracia deliberativa (SECCHI, 2009).
As redes de políticas públicas também possibilitam a interação entre atores públicos e
privados. São redes que se auto organizam, são autônomas e autogovernáveis, desvinculadas
da liderança governamental, desenvolvem suas próprias políticas e moldam seus ambientes.
Um exemplo dessas redes seria um grupo de empresários que se unem para encontrar
soluções de combate à criminalidade (SECCHI, 2009).
A GP também denota a coordenação de atores estatais e não estatais nas operações de
governo. Nesse sentido, as parcerias público-privadas (PPPs) nas áreas de infraestrutura e
proteção ambiental são exemplos básicos, onde há cooperação dos atores temporariamente,
desenvolvendo produtos ou serviços mutuamente com riscos, custos e benefícios
compartilhados, sob regras de contrato que preveem mecanismos de controle para mensurar
resultados e impactos no ambiente econômico e social (SECCHI, 2009).
34
Secchi (2009) propõe um olhar mais abrangente e cuidadoso para as reformas da
administração pública, lembrando que novos modelos organizacionais não se apresentam
como modelos de ruptura e podem compartilhar características com os modelos anteriores.
Sob uma postura mais radical, Dunleavy et al (2005, p. 468) afirmam que “a NPM, em
sua essência, está morta”, em seu lugar, os autores destacam um novo conjunto de ideias e
mudanças caracterizadas pela Tecnologia da Informação que dão origem ao que denominam
Governança da Era Digital (Digital Era Governance – DEG).
A introdução das tecnologias da informação mudou consideravelmente a
administração pública não somente com inovações digitais em processos administrativos, mas
principalmente em termos de relações entre as agências governamentais e a sociedade civil,
marcada pelo crescimento da Internet, do uso do e-mail e da web. Governança da Era Digital
é um complexo de mudanças que engloba tecnologia da informação mais o manuseio de
mudanças a partir deste centro, espalhadas amplamente para outras dimensões.
Diferentemente da onda tecnológica anterior, pela primeira vez, a tecnologia faz sentido para
caracterizar a ampla extensão de mudanças no regime de gestão pública atual. As novas
potencialidades de manipulação de informação fazem uma transição viável para o modo
plenamente digital de operar em muitas agências de setores do governo. O advento da era
digital é agora a influência mais geral, penetrante, e estruturalmente distinta sobre como os
arranjos de governança estão mudando nos países desenvolvidos (DUNLEAVY et al, 2005, p.
478, tradução livre da autora).
Em termos mais específicos, o impacto das práticas da Governança da Era Digital
podem ser considerados a partir de três temas principais. Primeiro, reintegrando as partes que
a NPM separou a fim de evitar a duplicação de hierarquias, simplificar as redes e transferir de
volta ao setor público as atividades que foram deslocadas para o setor privado. O segundo
tema é o holismo em função das necessidades, refere-se à simplificação da relação entre as
agências e seus clientes, com a reorganização dos processos para eliminar custos e
procedimentos desnecessários. Buscando reunir informações para agilizar e unificar o
atendimento. O terceiro e último tema foca na adoção dos procedimentos e processos de
forma digitalizada, aproveitando os ganhos advindos com o desenvolvimento das tecnologias.
Sugere a conversão dos processos tradicionais para uma agência virtual de governo eletrônico,
possibilitando aos cidadãos e à sociedade civil conectar-se diretamente com os sistemas
estatais e eliminar a participação de intermediários (DUNLEAVY et al, 2005, p. 480, tradução
livre da autora).
35
O governo da era digital em sua forma mais radical envolveria mudanças
organizacionais e reengenharia drástica no que se refere às organizações públicas existentes
como o mecanismo de apoio a serviços baseados na web “um órgão governamental se tornaria
seu website” (MARGETTS, 2010, p. 373).
Contudo, Buchstein (1997) adverte que o uso da Internet deve ser cuidadosamente
situado dentro das instituições públicas já existentes, pois a democracia e não a tecnologia é o
ponto inicial para qualquer agenda de reforma.
Assim, administração pública continua sendo um assunto bastante controvertido para o
qual fluem teorias, estudos, práticas e políticas reformistas. Nesse sentido, Secchi (2009, p.
365) adverte para o fato de que muitas propostas de reforma avançam em autopromoção e
retórica, mas não em fatos concretos, por isso, “qualquer verificação empírica sobre reformas
da administração pública deve estar atenta aos aspectos incrementais de mudança
organizacional”.
No contexto democrático brasileiro permanece o desafio de construir um modelo
analítico e interpretativo que identifique as diferenças e as similaridades entre os modelos
anteriores, que considere também os fatores de diferentes ordens incidentes sobre os modelos
de gestão, e que finalmente indique o caminho e a forma como a administração pública deve
perseguir sua tarefa de atender aos interesses sociais com eficiência e civismo.
A comunicação pública constitui-se elemento indispensável e indissociável a qualquer
modelo organizacional adotado pela administração pública, pois fornece ferramentas e
subsídios que facilitam a implantação e o processo de aperfeiçoamento democrático em suas
diversas fases e níveis, entre os diversos atores envolvidos. Além disso, a forma como a
administração pública apropria-se ou deixa de fazer uso dos recursos da comunicação pública
pode implicitamente determinar qual modelo organizacional está sendo efetivamente
enfatizado.
36
3 COMUNICAÇÃO PÚBLICA
Como verificado anteriormente, os modelos organizacionais e relacionais sugeridos
para administração pública contemporânea envolvem participação cidadã para o exercício do
controle social, fomento à construção de capacidades comunitárias e coletivas visando
melhorar os resultados cívicos, administração pública a serviço de cidadãos totalmente
engajados, implantação de um governo eletrônico que possibilite a democracia digital,
conexão entre o sistema governamental e o ambiente que circunda o governo. De certa forma,
todas as propostas são convergentes e remetem inevitavelmente para adoção de critérios de
comunicação crescentemente democráticos e relacionam-se em maior ou menor grau com as
estruturas, processos, mídias e produtos constitutivos da comunicação de Estado na Era da
Informação.
A expressão comunicação governamental “envolve as relações entre Estado, sociedade
e governo”, inclui a divulgação de serviços, projetos, políticas públicas, integração social,
prestação de contas, promoção dos serviços, criação de espaços de negociação e debate,
atendimento e orientação aos cidadãos. Entretanto, comunicação governamental “ficou
marcada pela manutenção de políticas públicas de viés autoritário”, caracterizada pelo
controle da informação, por um sistema de comunicação governamental voltado para
propaganda, promoção, controle e censura. “Nesse sentido, comunicação governamental
remetia a processo unilateral-vertical-persuasivo a serviço de autoridades e políticas
governamentais e acabou ficando com uma forte carga negativa” (DUARTE, 2011, p. 123).
O processo de redemocratização do país e a necessidade de transformação do perfil da
sociedade fez crescer a exigência de uma nova forma de comunicação, pois o conceito de
comunicação governamental, conforme explica Duarte (2011), além de desgastado, tornou-se
inadequado:
O conceito, entretanto, ficou insuficiente para dar conta do ingresso na arena
pública de atores como as organizações não-governamentais (ONGs), da
criação de emissoras públicas em todos os poderes, do aumento da
participação popular, de mecanismos como conselhos populares, ouvidorias,
fóruns de discussão, câmaras técnicas e da popularização da interlocução via
internet (DUARTE, 2011, p. 122).
A expressão comunicação pública começou a substituir outras denominações
utilizadas tradicionalmente para designar a comunicação feita pelos governos – comunicação
37
governamental, comunicação política, publicidade governamental ou propaganda política –
devido à necessidade de legitimação de um processo comunicativo de responsabilidade do
Estado que não quer ser confundido com a comunicação que se fez em outros momentos da
história política do país (BRANDÃO, 2012).
Matos (2011) propõe o entendimento da comunicação pública como um processo de
comunicação instaurado em uma esfera pública que engloba Estado, governo e sociedade,
como um espaço de debate, negociação e tomada de decisões relativas à vida pública do país.
A discussão acadêmica sobre o termo comunicação pública, no Brasil, surgiu no final
dos anos de 1990 e está ligada à publicação do livro La communication publique, do autor
francês Pierre Zémor, em 1995 (BRANDÃO, 2012; DUARTE, 2011). Ao longo do tempo, “a
expressão ganhou importância, vivacidade, luz própria” e espalhou-se entre os profissionais e
estudiosos na área de comunicação tanto no setor público como na iniciativa privada
(DUARTE, 2011, p. 122).
Comunicação pública é um termo que assume diferentes formas, conforme a missão
das instituições públicas a que se relaciona, encarregando-se de tornar a informação
disponível ao público, de estabelecer a relação e o diálogo capazes de tornar um serviço
desejável e preciso, de apresentar os serviços oferecidos pela administração, pelas
coletividades territoriais e pelos estabelecimentos públicos, de tornar as próprias instituições
conhecidas, enfim, de conduzir campanhas de informação e ações de comunicação de
interesse geral. A natureza política da comunicação, voltada para o debate público que influi
nas decisões governamentais também deve somar-se aos atributos da comunicação pública
(ZÉMOR, 2012).
Brandão (2012, p. 1) considera que a expressão comunicação pública vem sendo
empregada em múltiplos sentidos, dependendo do país, do autor e do contexto. Sendo assim,
não há um conceito claro para a expressão, assim como não há uma área de atuação
profissional delimitada: “Pelo menos por enquanto, comunicação pública é uma área que
abarca uma grande variedade de saberes e atividades e pode-se dizer que é um conceito em
processo de construção”.
Pesquisando os múltiplos significados que existem para comunicação pública na
bibliografia, em sites, em cursos universitários, Brandão (2012) identificou cinco diferentes
áreas de conhecimento e atividade profissional.
38
Em primeiro lugar, a autora observa que a comunicação pública, em muitos países
identifica-se com a comunicação organizacional, existente no interior das organizações
públicas ou privadas. A comunicação é tratada de forma estratégica e planejada para construir
uma identidade institucional e criar relacionamentos com os diversos públicos da organização.
A comunicação pública, segundo Brandão (2012, p.4) identifica-se também com a
comunicação científica, envolvendo uma variada gama de atividades com objetivo de integrar
a ciência à vida cotidiana dos indivíduos, buscando despertar o interesse público para
compreender assuntos que envolvem a natureza, a sociedade, seu semelhante. Um dos
aspectos que demonstram a aproximação da comunicação pública com a comunicação
científica é o desenvolvimento da Ciência da Informação, com metodologias e estratégias
apropriadas de comunicação para divulgação científica no Brasil, especialmente na agricultura
e na saúde. Para difusão das pesquisas científicas nessas áreas, o Estado faz o uso pedagógico
da comunicação buscando o desenvolvimento do país e de sua população: “É justamente esta
identidade pública e o espaço público em que atua que identificam a comunicação científica
com a comunicação pública”.
A difusão do conhecimento científico incorpora também preocupações sociais,
políticas, econômicas e corporativas que conforme Brandão (2012) obriga as instituições de
pesquisa a estender a divulgação além do campo científico e acadêmico. Dentre os novos
horizontes vislumbrados para o campo científico encontra-se a crescente preocupação com o
papel social da ciência; o aumento da competitividade entre equipes e instituições de pesquisa
em âmbito nacional e internacional; os vultosos investimentos em dinheiro, tempo e
capacitação dos pesquisadores; a premissa de que o acesso às informações de ciência e
tecnologia é fundamental para o exercício pleno da cidadania; a necessidade de posicionar a
ciência no que se refere a legitimar perante a sociedade as decisões políticas e econômicas do
país. Isso implica na obrigação de prestar contas à população buscando a opinião pública
sobre os trabalhos científicos desenvolvidos:
Com esta acepção, a comunicação pública está inserida no âmbito das
discussões que dizem respeito à gestão das questões públicas e pretende
influir na mudança de hábitos de segmentos de população, bem como na
tomada de decisão política a respeito de assuntos da ciência que influenciam
diretamente a vida do cidadão (BRANDÃO, 2012, p. 4).
Em terceiro lugar, a comunicação pública relaciona-se com a comunicação do Estado e
governamental. Nessa dimensão, o Estado e o governo tem responsabilidade de estabelecer
39
um fluxo informativo e comunicativo com os cidadãos. Entendida dessa forma, a
comunicação promovida pelos governos pode ter a preocupação de despertar o sentimento
cívico; informar e prestar contas sobre suas realizações, divulgando programas e políticas que
estão sendo implementadas; motivar e/ou educar, chamando a população para participar de
momentos específicos da vida do país; proteger e promover a cidadania, ou convocar os
cidadãos para o cumprimento dos seus deveres (BRANDÃO, 2012).
Em quarto lugar, Brandão (2012, p. 6) destaca a identificação existente entre a
comunicação pública com a comunicação política, que se faz presente quando os governos e
os partidos utilizam a comunicação para expressar publicamente suas ideias, crenças e
posicionamentos políticos. Ademais, a comunicação política refere-se à concorrência entre os
detentores dos veículos e das tecnologias de comunicação associada ao direito da sociedade
de interferir na formação dos conteúdos e nos modos de acesso aos veículos e às tecnologias
em busca de seus interesses. “Nesse sentido, diz respeito também à responsabilidade do
Estado para gerir as complexas questões sobre políticas públicas de comunicação e
telecomunicação”, incluindo as questões jurídicas sobre o uso público da infraestrutura
tecnológica das comunicações.
Em quinto lugar, Brandão (2012) analisa a relação existente entre comunicação
pública e as estratégias de comunicação da sociedade civil organizada, considerando que o
Estado democrático traz um novo entendimento sobre as práticas de comunicação, à medida
em que os cidadãos tomam consciência de que “as responsabilidades públicas não são
exclusivas dos governos, mas de toda a sociedade” (BRANDÃO, 2012, p. 7). Nessa
dimensão, as comunidades organizadas reivindicam direito ao acesso e ao uso de tecnologias
de comunicação para gerar informação e estabelecer uma comunicação que leve em
consideração suas prioridades, com estética e linguagem adequadas a seus públicos.
Entre os diversos significados apresentados para a expressão comunicação pública,
destaca-se como ponto comum o entendimento de um “processo comunicativo que se instaura
entre o Estado, o governo e a sociedade com o objetivo de informar para a construção da
cidadania” (BRANDÃO, 2012, p. 9).
A restauração da democracia e o consequente crescimento de novas formas de
vivências democráticas no Brasil, conforme relata Brandão (2012, p. 10), despertaram a
necessidade de uma sociedade mais participativa, exercendo direitos e deveres e amparada por
condições de informação e comunicação: “A comunicação é hoje um ator político
proeminente e é parte constituinte da formação do novo espaço público”.
40
Weber (2011, p. 99) justifica também a necessidade de uma comunicação pública a
partir da construção argumentativa das democracias, fundada na defesa do bem público, do
interesse geral, do interesse público. Com base nessa premissa, segundo a autora, o Estado
cumpre “os princípios da comunicação pública regida pelo interesse público ao informar,
explicar, disponibilizar, treinar, habilitar, ouvir e contribuir para o exercício da cidadania”.
Duarte (2011, p. 123) explica que a comunicação no âmbito dos governos cresceu na
década de 1980, com o fim da ditadura militar, dando “origem à liberdade política, de
imprensa, da participação popular, ao estabelecimento dos direitos do consumidor e a uma
nova Constituição”. Ainda nessa década, com a promulgação da CF/88, foram introduzidas
mudanças que além de transformar o papel do Estado tiveram outros reflexos:
Essas mudanças estabeleceram um sistema de participação e pressão social
que forçou a criação de mecanismos para atender às exigências de
informação e tratamento justo por parte do cidadão em sua relação com o
Estado e as instituições, do consumidor com as empresas e entre todos os
agentes sociais (DUARTE, 2011, p. 123).
Nessa nova realidade, a comunicação pública coloca o cidadão no centro do processo
de comunicação, não apenas para garantir o direito à informação e à expressão, mas também
para oportunizá-lo ao diálogo, respeitando suas características e necessidades, fomentando a
participação ativa, racional e corresponsável. Portanto, trata-se de um bem e um direito
coletivo, envolve tudo o que se refere ao aparato estatal, às ações governamentais, aos
partidos políticos, aos movimentos sociais, às empresas públicas, ao terceiro setor e em certos
aspectos às empresas privadas. “Praticar comunicação pública implica assumir espírito
público e privilegiar o interesse coletivo em detrimento de perspectivas pessoais e
corporativas” (DUARTE, 2012, p. 61).
Convergente a este entendimento, Brandão (2012, p. 31) refere-se à comunicação
pública como sendo aquela que se organiza com a participação de diferentes atores na nova
configuração da sociedade, num processo comunicativo “que se instaura na esfera pública
entre o Estado, o Governo e a Sociedade e que se propõe a ser um espaço privilegiado de
negociação entre os interesses das diversas instâncias de poder constitutivas da vida pública
no país”.
Não obstante a comunicação pública exigir a participação da sociedade e de seus
segmentos, como atores ativos no processo comunicacional, os principais indutores da
comunicação pública ainda são os governos, devido ao compromisso com o interesse público
41
e o poder de ação, devendo promover políticas públicas, desenvolver uma gestão aberta e
qualificar canais, meios e recursos que permitam a viabilização da comunicação de interesse
público e propiciem o envolvimento de todos os interessados. Segundo Duarte (2011, p. 128),
a comunicação pública pode ser fundamental para:
• Identificar demandas sociais;
• Definir conceitos e eixos para uma ação pública coerente e integrada;
• Promover e valorizar o interesse público nas instituições;
• Qualificar a formulação e implementação de políticas públicas;
• Orientar os administradores em direção a uma gestão mais eficiente;
• Garantir a participação coletiva na definição, e na implementação, no monitoramento e
no controle, bem como na viabilização, avaliação e revisão das políticas e ações
públicas;
• Atender as necessidades do cidadão e dos diferentes atores sociais em obter e
disseminar informações e opiniões, garantindo a pluralidade no debate público;
• Estimular uma cidadania consciente, ativa e solidária;
• Melhorar a compreensão sobre o funcionamento do setor público;
• Induzir e qualificar a interação com a gestão e a execução dos serviços públicos;
• Avaliar a execução das ações de interesse coletivo.
Evidencia-se então, que o papel da comunicação pública não se restringe a fornecer
informações, mas deve ser compreendida num sentido mais amplo, incluindo a possibilidade
do cidadão ter pleno conhecimento da informação que lhe diz respeito - inclusive aquela que
não busca por não saber que existe - à possibilidade de expressar suas posições com a certeza
de que será ouvido com interesse e a perspectiva de participar ativamente, de obter orientação,
educação e diálogo:
Na prática, isso inclui o estímulo a ser protagonista naquilo que lhe diz
respeito, ter conhecimento de seus direitos, a orientação e o atendimento
adequado, passando pelo direito a saber como são gastos os recursos
públicos, o motivo e o voto de um parlamentar, até a possibilidade de ter
participação efetiva nas decisões sobre aquilo que é de interesse público
(DUARTE, 2012, p. 64).
42
Os agentes públicos, em especial os profissionais em comunicação têm obrigação de
buscar maneiras de gerar interação em bases adequadas ao usuário e fazer a informação
circular, chegando ao interessado. Pois a comunicação pública tem responsabilidade de
contribuir para a viabilização das políticas públicas; de qualificar os processos de
comunicação da organização; de apoiar o cidadão em sua relação com o Estado e de expressar
conceitos e ações de governo (DUARTE, 2011).
Zémor (2005, p. 225) afirma que “a comunicação pública é, ela própria, uma missão
do serviço público”, devendo ser cumprida com as seguintes exigências: “informar por dever,
geralmente na ausência de desejo ou de motivação de compra; assegurar a pedagogia atrelada
à uma mensagem complexa; incluir a comunicação no processo de identificação e de entrega
do serviço; contribuir para conferir sentido à vida coletiva”.
Entretanto, para cumprir os objetivos e requisitos descritos, há necessidade de
utilização dos meios e dos instrumentos comunicativos adequadamente, de forma a viabilizar
a comunicação pública em uma sociedade transformada pelos avanços tecnológicos.
3.1 INSTRUMENTOS DE COMUNICAÇÃO NA ERA DA INFORMAÇÃO
Os instrumentos de comunicação devem ser usados a partir do ponto de vista do
cidadão, respeitando suas características e necessidades, estimulando a participação ativa,
racional e corresponsável em sua plenitude, não somente como consumidor, eleitor e usuário:
“Praticar comunicação pública implica assumir espírito público e privilegiar o interesse
coletivo em detrimento de perspectivas pessoais e corporativas” (DUARTE, 2012, p. 61).
Com o desenvolvimento das Tecnologias de Informação e Comunicação, marcado
principalmente pelo advento e difusão da Internet, inaugurou-se uma nova sociedade, onde as
informações podem ser geradas e distribuídas em rede. Castells (2000) refere-se a essa nova
configuração social como a Sociedade em Rede na Era da Informação:
[...} as redes ganharam vida nova em nosso tempo transformando-se em
redes de informação energizadas pela Internet. As redes têm vantagens
extraordinárias como ferramentas de organização em virtude de sua
flexibilidade e adaptabilidade inerentes, características essenciais para se
sobreviver e prosperar num ambiente em rápida mutação. É por isso que as
redes estão proliferando em todos os domínios da economia e da sociedade,
desbancando corporações verticalmente organizadas e burocracias
centralizadas e superando-as em desempenho (CASTELLS, 2000, p. 7).
43
Takahashi (2000) define Sociedade da Informação como uma nova era, em que a
informação assume valores sociais e econômicos fundamentais, disseminada em velocidade e
em quantidade outrora inimagináveis. Segundo o autor, três fatores foram essenciais para
possibilitar essa transformação: o desenvolvimento tecnológico convergindo à representação e
ao processamento de qualquer tipo de informação para o formato digital; a dinâmica da
indústria que popularizou o preço dos computadores; e, o crescimento e padronização
internacional da conectividade via Internet com uso estratégico para o desenvolvimento dos
países.
A Sociedade da Informação representa um novo modelo organizacional e econômico
gerando reflexos em várias vertentes:
É um fenômeno global, com elevado potencial transformador das atividades
sociais e econômicas, uma vez que a estrutura e a dinâmica dessas atividades
inevitavelmente serão, em alguma medida, afetadas pela infra-estrutura de
informações disponível. É também acentuada sua dimensão político-
econômica, decorrente da contribuição da infra-estrutura de informações
para que as regiões sejam mais ou menos atraentes em relação aos negócios
e empreendimentos. Sua importância assemelha-se à de uma boa estrada de
rodagem para o sucesso econômico das localidades. Tem ainda marcante
dimensão social, em virtude do seu elevado potencial de promover a
integração, ao reduzir as distâncias entre pessoas e aumentar o seu nível de
informação (TAKAHASHI, 2000, p. 5).
Castells (2000, p. 220) argumenta que a Internet não é uma mera tecnologia: “É uma
ferramenta tecnológica e a forma organizacional que distribui informação, poder, geração de
conhecimentos e capacidade de interconexão em todas as esferas de atividade”.
Segundo o autor, a Internet por oferecer fácil acesso às informações “permite aos
cidadãos ser quase tão bem informados quanto seus líderes”. Desta forma, Castells (2000, p.
128) considera a Internet um “instrumento ideal” para promoção da democracia pelos
governos, mediante:
• divulgação das informações: todos os registros públicos, bem como um amplo
espectro de informação não sigilosa, pode ser disponibilizado online;
• possibilidade de interação: os cidadãos podem solicitar informação, expressar opiniões
e pedir respostas pessoais a seus representantes.
Kondo (2002) considera que as novas tecnologias de informação e comunicação são
responsáveis por muitas transformações que estão ocorrendo no relacionamento entre
governos e cidadãos:
44
As TICs facilitam a publicidade das regras e critérios que governam as
decisões. Os responsáveis por determinadas decisões ou atividades podem
ser prontamente identificados. E, ao melhorar os sistemas de contabilidade,
monitoramento e auditoria, asseguram que as finanças públicas sejam
inteiramente submetidas ao exame minucioso dos níveis mais altos da
gerência e à avaliação externa. De modo mais geral, o poder das TICs como
um veículo para a informação e a consulta significa que os cidadãos podem
ser envolvidos mais plenamente em todos os aspectos do governo, incluindo
a formulação de políticas, assim reforçando a criação de uma cultura de
confiança e interesse mútuo. (Kondo et al, 2002, p. 16).
Maia (2011, p. 67, 68) ressalta que o início dos anos 90 foi marcado por grande
entusiasmo acerca dos recursos provenientes da Internet para aumentar a participação
democrática, para fortalecer as organizações da sociedade civil e para revigorar a democracia.
Os estudos tendiam a focar nas vantagens potenciais da Internet: acesso mais fácil dos
cidadãos aos representantes e aos serviços do governo; ampliação de acesso aos materiais
virtuais para aquisição de informações sobre diversos assuntos; novos recursos de
conectividade e interação para revigorar a esfera pública, “desde fóruns e salas de bate-papo
até conferências transnacional”; possibilidades de aperfeiçoamento nas dinâmicas de
organização e atuação devido à facilidade de produção e disseminação de material
informativo, “sem as barreiras de custo e as dificuldades de acesso comuns aos medias
tradicionais”.
Grande parte do entusiasmo, segundo Maia (2011, p. 68), baseou-se na apreciação das
características da nova infraestrutura da comunicação digital: “descentralizada, horizontal,
imediata, de baixo custo, atingindo simultaneamente inúmeros usuários”. Contudo, a autora
relata que críticas não tardaram a surgir, sobre a utilização dos recursos digitais também para
o fortalecimento de grupos mal intencionados, bem como acerca das barreiras digitais e a
criação de novas assimetrias entre os cidadãos, ampliando e aprofundando “algumas das
injustiças sociais existentes”. Além disso, os obstáculos tradicionais ao exercício da
democracia participativa, como a falta de informação, a apatia e a desconexão entre os
cidadãos e seus representantes, continuavam a persistir, mesmo com o “amplo acesso e
recursos às novas tecnologias”.
Maia (2011, p. 70) ressalta que “a Internet não promove automaticamente a
participação política e nem sustenta a democracia; é preciso antes, olhar tanto para as
motivações dos sujeitos quanto para os usos que eles fazem dela, em contextos específicos”.
Marques (2006, p. 182) afirma que “não se pode atribuir à internet a capacidade de,
isoladamente, resolver os problemas que inquietam a forma democrática de governo”.
45
Abramo (2002) ressalta que as tecnologias de informação proporcionam apenas os
meios e as ferramentas para que as organizações estruturem os dados a serem divulgados de
acordo com uma indispensável concepção intelectual:
[...] as organizações ficam sujeitas periodicamente, toda vez que se fala em
informação, atualmente, manda-se chamar a pessoa do departamento de
informática (ou TI, tecnologia da informação), a quem se pede que formule
sugestões, faça o planejamento e, por fim, implemente as soluções. Contudo,
a estruturação de informação não guarda qualquer relação relevante com
informática. Se alguém precisa decidir o que dizer durante uma negociação
que se dará por teleconferência, jamais lhe ocorreria pedir que a pessoa
responsável pela central telefônica apresentasse a solução. No caso em
pauta, a situação é idêntica (ABRAMO, 2002, p. 203).
Conforme Abramo (2002, p. 207, 208), os recursos tecnológicos não são o bastante
para o processamento eficiente de informações, pois a gestão da informação requer dedicação
de tempo e “reflexão inteligente”, a fim de relacionar e agregar informações apresentando-as
de “modo a ser maximamente útil” ao público.
Duarte (2011) ao elencar os instrumentos de comunicação pública, considera a
importância dos recursos advindos com o desenvolvimento tecnológico, mas não descarta os
tradicionais; admitindo que algumas ferramentas foram tecnologicamente aprimoradas e
sobrepõem-se às já existentes, outras servem para complementar os recursos que já estavam
em uso. Mas o autor adverte que a viabilidade da comunicação pública exige meios e
instrumentos adequados aos objetivos e ao compromisso com o interesse público. O autor
classifica os instrumentos da comunicação pública em duas categorias: instrumentos de
informação e instrumentos de interação.
Os instrumentos de informação destacam-se pelo foco em subsídios, disponibilização
e fornecimento de dados e orientações, ajudando a ampliar o conhecimento sobre um
determinado tema. Neste grupo mais fortemente relacionado ao fluxo de informação podem
ser incluídas: publicações institucionais, banco de dados, quadros murais, publicidade, malas
diretas, fôlderes, folhetos, cartazes, relatórios, iconografia, noticiário da imprensa, internet,
banners, guias, boletins eletrônicos, cartas, manuais, discursos, eventos simbólicos
(DUARTE, 2011, p. 131; DUARTE, 2012, p. 65).
Os instrumentos de diálogo caracterizam-se por estabelecer instâncias de interação no
âmbito de cooperação, compreensão mútua, acordos, consensos, encaminhamento na busca de
soluções. Os canais de diálogo estimulam o exercício da cidadania ativa e a viabilização da
46
mudança em benefício do interesse comum, tornando os envolvidos sujeitos do processo,
coparticipantes nas decisões e nas mudanças e comprometidos com os resultados do esforço.
São exemplos de instrumentos mais fortemente ligados ao diálogo: atendimento, fóruns de
consulta, oficinas de mobilização social, grupos de trabalho, orçamento participativo,
ouvidorias, conselhos, listas de discussão, comunidades de informação, teleconferências,
redes de diferentes tipos, reuniões, mesas de negociação, câmaras técnicas, conselhos
setoriais, eventos dirigidos, conselhos gestores, centrais e serviços de atendimento ao cidadão,
agentes sociais, consultas públicas (DUARTE, 2011, p. 131; DUARTE, 2012, p. 65).
A utilização e a adoção dos instrumentos de comunicação pública incrementados pelas
novas tecnologias requer previamente a superação de barreiras que impedem ou dificultam o
acesso às informações e aos serviços públicos por meios digitais. Assim como os designers
das tecnologias anteriores para os serviços postais, o telefone e a televisão tiveram que
alcançar o objetivo da usabilidade universal; os especialistas em tecnologia da informação
estudam continuamente formas e técnicas para o uso correto e adequado das novas
ferramentas a fim de que o acesso e a apropriação das informações e serviços em ambiente
digital sejam oferecidos com a máxima facilidade e possibilidade de uso universal.
3.1.1 ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO DIGITAL
O uso crescente da Internet, tanto para divulgar informações como para oferecer
serviços, fez surgir novos campos de estudo, como é o caso da Arquitetura da Informação
(AI), que busca uma análise mais apurada sobre os comportamentos e as necessidades dos
usuários, a partir de pesquisas científicas.
Herranz (2002) define AI como uma disciplina que se ocupa com a criação de sites da
Web respeitando um conjunto de conhecimentos, máximas, princípios e técnicas que regem
ou que deveriam reger a prática de desenvolvimento e gestão de conteúdos. Desta forma,
segundo o autor, a AI é uma disciplina que aglutina teorias de conhecimentos sobre o desenho
dos sites, é uma metodologia porque define procedimentos e é também um conjunto de
técnicas e práticas a serem aplicadas no desenho dos sites.
Morville e Rosenfeld (2006) comparam a estrutura arquitetônica de um site com a de
um edifício e afirmam que a estrutura lógica pode ajudar o usuário a encontrar respostas e
realizar tarefas na Web com chances mínimas de frustração. Assim, o objetivo do arquiteto da
informação é “propiciar um ambiente virtual agradável onde o usuário consiga completar suas
47
tarefas e encontrar as informações que precisa” (MORVILLE e ROSENFELD, 2006, p. 13,
tradução livre da autora). Além disso, os autores destacam que o estudo AI detém-se em criar
sistemas úteis e utilizáveis buscando respeitar e atender os mais diversos públicos.
Segundo Herranz (2002), a AI trata dos seguintes aspectos:
• A definição do site – todo site tem objetivos a cumprir, que estão relacionados às
atividades da organização que o criou e o mantém.
• A gestão dos conteúdos – a base de um site é o seu conteúdo; os usuários acessam-no
devido a seus conteúdos; a AI se ocupa em identificar, selecionar, produzir, manter e
atualizar os conteúdos do site; os fatores que interferem na produção dos conteúdos
são: missão, público, serviços/funcionalidades e características da organização.
• Os sistemas de navegação – é preciso facilitar o acesso aos conteúdos, identificando e
atenuando os principais problemas, simplificando a navegação pelo site.
• Os sistemas de rotulação – os conteúdos devem ser representados, descritos e
transmitidos de forma sintética, por meio de rótulos, para possibilitar ao usuário a
compreensão clara e rápida das informações.
• Os sistemas de busca – o usuário pode acessar um grande número de conteúdos sem
ser obrigado a navegar por seções intermediárias, por meio de consultar por palavras
usuais que facilitam a exploração, o acesso e a recuperação das informações.
Para explicar sua importância da AI, Morville e Rosenfeld (2006, p.11) fazem o
seguinte questionamento: “Qual é o preço da frustração de um usuário devido à precária
organização de um website?”
Contudo, Morville e Rosenfeld (2006) argumentam que o design de um site centrado
somente no usuário não é o suficiente para resolver todos os problemas, pois as organizações
e os gestores de informação também são determinantes. Sendo assim, a AI deve equilibrar as
necessidades dos usuários com os objetivos da organização, adequando-as aos demais fatores:
Muitas decisões devem ser tomadas durante a produção. Esses pedaços de
conteúdos são suficientemente pequenos para serem agrupados em uma
única página, ou devem permanecer em páginas separadas? Devemos
adicionar navegação local a esta seção do site? Podemos encurtar o rótulo
desta página? Fique ciente de que, as respostas podem afetar a carga da
equipe de produção, bem como a usabilidade do local na rede Internet. Você
precisa equilibrar os pedidos de seu cliente contra a sanidade da equipe de
produção, orçamento e cronograma, e sua visão para a arquitetura da
48
informação do site (MORVILLE e ROSENFELD, 2006, p.328, tradução
livre da autora).
AI é uma área complexa e requer um time interdisciplinar: designer gráfico,
especialista em software, gestor de conteúdos, engenheiro de usabilidade e outros
profissionais. Cada expert avalia o site de acordo com seus critérios; visualiza problemas e
diferentes oportunidades: “Os especialistas então comparam as anotações, discutem
diferenças, e buscam um consenso. Isso reduz a probabilidade de que a opinião pessoal
desempenhe um papel demasiado forte, e cria oportunidade de atrair diferentes disciplinas”
(MORVILLE e ROSENFELD, 2006, p. 231 e 240, tradução livre da autora).
3.1.2 USABILIDADE
Dentre as áreas que interferem nos resultados da Arquitetura da Informação Digital, a
Engenharia da Usabilidade merece destaque. Os especialistas em usabilidade buscam
aprimorar a interação entre homem e computador. Desta forma, o ideal da usabilidade
frequentemente apresentado é o “walk up and use” a interface. O que “significa que o usuário
não precisa de outras instruções além das que estão na tela, e a interface resulta em sucesso,
sem erro, serviço satisfatório” (LANDAUER, 1995, p.162, tradução livre da autora).
Landauer (1995, p.143) adverte para o fato de que muitos sites contém informações
úteis mas são difíceis de serem utilizados: “Se houver um problema de usabilidade, não
interessa o quanto o programa é útil”.
Nielsen e Loranger (2007, p. 23) afirmam que “o sucesso do usuário é a linha mestra
da usabilidade”. Os autores definem usabilidade como uma característica relacionada à
facilidade do uso oferecida pelas páginas da Web. Assim, a usabilidade refere-se à rapidez
com que os usuários podem aprender a utilizá-la, à eficiência desta utilização, o quanto esta
prática pode ser memorizada, o grau de propensão a erros e o reconhecimento dos benefícios
deste uso, que impliquem numa prática reiterada e constante.
Shneiderman (2000, p. 85) explica que o entusiasmo dos líderes empresariais e
governamentais para o uso generalizado das inovações em rede, demanda dos pesquisadores
em computação muito esforço para “lidar com a difícil questão de como as informações e as
comunicações podem tornar-se utilizáveis para cada cidadão. Projetar para usuários
experientes já é suficientemente difícil, então como projetar para um público mais
abrangente”?
49
Usabilidade universal é a possibilidade de expansão do uso da Internet “para garantir
que o público mais amplo possível possa participar” (SHNEIDERMAN, 2000, p. 86, tradução
livre da autora). Para que a usabilidade universal baseada em serviços da Web seja alcançada,
Shneiderman elenca três principais desafios a serem superados:
• Variedade tecnológica: apoiando uma ampla gama de hardware, software e acesso à
rede;
• Diversidade de usuários: acomodando usuários com habilidades, conhecimento, idade,
gênero, deficiências, condições de incapacidade;
• Lacunas de conhecimento do usuário: entre o que os usuários sabem e o que precisam
saber.
3.1.3 ACESSIBILIDADE
Acessibilidade refere-se à condição de uso dos espaços, mobiliários, equipamentos,
serviços de transporte, dos dispositivos, dos sistemas e meios de comunicação e informação,
atentando para a segurança e autonomia, total ou assistida para pessoas com deficiência ou
mobilidade reduzida.
Henry (2007) explica que acessibilidade na Web é um campo de estudo que busca
tornar as interfaces perceptíveis e compreensíveis por pessoas em várias circunstâncias,
ambientes e condições, beneficiando não somente pessoas com limitações funcionais, mas
também aquelas que possuem limitações situacionais.
De acordo com as Recomendações de Acessibilidade para Conteúdo Web 2.1 (Web
Content Accessibility Guidelines – WCAG), a acessibilidade diz respeito às incapacidades em
sentido amplo, incluindo limitações visuais, auditivas, físicas, de fala, cognitivas, de
linguagem, aprendizagem e neurológicas; além das dificuldades advindas com o processo de
envelhecimento. As WCAG são o principal documento internacional sobre acessibilidade,
desenvolvido pelo consórcio W3C a partir da criação do WAI (Web Accessibility Initiative),
contendo as recomendações de acessibilidade para conteúdo Web. WCAG 2.1 é a versão mais
recente, desenvolvida com o objetivo de elaborar um padrão de acessibilidade para o
conteúdo da Web, que satisfaça às necessidades das pessoas, das organizações e dos
governos, a nível internacional.
50
Em 18 de janeiro de 2005, o governo federal disponibilizou a primeira versão do
Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (e-MAG), que consistia num conjunto de
recomendações a serem consideradas para que o processo de acessibilidade dos sítios e portais
do governo brasileiro fosse conduzido de forma padronizada e de fácil implementação. O e-
MAG é uma versão especializada do documento internacional WCAG porém, mais voltado
para o governo eletrônico no Brasil, “o e-MAG não exclui qualquer boa prática de
acessibilidade do WCAG” (BRASIL, 2014, p. 7).
Em sua primeira versão, o e-MAG foi desenvolvido pelo Departamento de Governo
Eletrônico em parceria com a ONG Acessibilidade Brasil, com base em 14 normas
internacionais, então existentes sobre acessibilidade digital.
A versão 3.1 do e-MAG, é a mais recente - de abril de 2014 - apresenta
recomendações técnicas a serem adotadas nas seguintes áreas: marcação, comportamento
(document object model – DOM), conteúdo/informação, apresentação/design, multimídia, e
formulário.
O processo de promoção da acessibilidade e a implementação do e-MAG norteia-se
por normas e leis vigentes, dentre elas, a Portaria nº 3, de 7 de maio de 2007 – que tornou a
observância do e-MAG obrigatória nos sítios e portais do governo brasileiro - ; a Lei de
Acesso à Informação e o Decreto nº 7.724/2012 – que regulamentou a Lei de Acesso à
Informação (BRASIL, 2014, p. 11, 12).
O e-MAG (BRASIL, 2014, p. 13) considera que a construção de um sítio eletrônico
com facilidade de acesso permitida a qualquer usuário – respeitando os recursos técnicos, os
dispositivos utilizados e as possíveis limitações físicas – depende de vários fatores presentes
desde a fase de desenvolvimento até a interação dos conteúdos, devendo observar os seguintes
passos: seguir os padrões Web; seguir as diretrizes ou recomendações de acessibilidade;
realizar a avaliação de acessibilidade.
Para que o ambiente online seja efetivamente acessível é preciso primeiramente que o
código seja criado dentro dos padrões Web internacionais definidos pelo W3C, conjunto de
recomendações que visam padronizar o conteúdo Web, para melhores práticas no
desenvolvimento dos conteúdos Web. Uma página desenvolvida de acordo com os padrões
Web deve estar em conformidade com as normas HTML, XML, XHTML e CSS (Cascading
Style Sheets). O CSS é um importante mecanismo, responsável pela adição dos estilos (cores,
51
fontes, espaçamentos, etc) em um documento Web. Além disso, cada elemento precisa ser
utilizado de acordo com um significado apropriado, valor e propósito:
A conformidade com os padrões Web permite que qualquer sistema de
acesso à informação interprete a mesma adequadamente e da mesma forma,
seja por meio de navegadores, leitores de tela, dispositivos móveis
(celulares, tablets, etc.) ou agentes de software (mecanismos de busca ou
ferramentas de captura de conteúdo). Páginas que não possuem um código
de acordo com os padrões do W3C apresentam comportamento imprevisível,
e na maioria das vezes impedem ou pelo menos dificultam o acesso
(BRASIL, 2014, p. 13).
Para fomentar boas práticas em desenvolvimento de portais do governo eletrônico no
Brasil, o governo federal estabelece os Padrões Web de Governo Eletrônico (e-PWG) com
recomendações de boas práticas agrupadas em cartilhas:
• Cartilha de Codificação;
• Guia de Administração;
• Cartilha de Usabilidade;
• Cartilha de redação Web;
• Cartilha de Desenho e Arquitetura de Conteúdo.
As diretrizes ou recomendações de acessibilidade explicam como tornar o conteúdo
Web acessível a todas as pessoas, destinando-se aos criadores de conteúdo Web e aos
programadores de ferramentas para criação de conteúdo. Após a construção do ambiente
online segundo padrões Web e diretrizes de acessibilidade, é necessário ainda testá-lo. Uma
das formas de testar os padrões Web e as diretrizes de acessibilidade é utilizando um
validador automático, por meio de um software ou serviço online que ajuda a determinar se o
sítio respeitou ou não as recomendações de acessibilidade, gerando um relatório de erros
(BRASIL, 2014, p. 14).
Contudo, o teste aplicado pelos validadores automáticos não é capaz de detectar todos
os problemas de acessibilidade em um sítio eletrônico. Para verificação dos demais problemas
é preciso ainda realizar uma validação humana, manual.
O e-MAG recomenda ainda um teste de validação com usuários reais para verificação
da acessibilidade de um sítio eletrônico, a fim de mensurar o grau de compreensão e de
usabilidade que o mesmo oferece: “quanto maior e mais diversificado o número de usuários
52
reais participando da avaliação de acessibilidade, mais eficaz e robusto será o resultado”
(BRASIL, 2014, p. 15).
3.2 POLÍTICAS PARA COMUNICAÇÃO PÚBLICA
Além do uso adequado dos instrumentos da comunicação, a operacionalização da
comunicação pública requer fundamentalmente a adoção de políticas públicas formais, que
podem ser globais ou específicas. As políticas formais consistem no “conjunto integrado,
explícito e duradouro de definições, parâmetros e orientações, organizadas em um corpo
coerente de princípios norteadores de atuação aplicáveis aos processos de comunicação”
(DUARTE, 2012, p. 69).
Contudo, as políticas formais quando globais, mesmo sendo de caráter fundamental,
“costumam conduzir a becos sem saída pela dificuldade com a amplitude” e articulação aos
interesses divergentes, por isso as políticas globais precisam ser coordenadas com as
específicas:
[...] as políticas específicas carregam traços de agilidade, efetividade e
viabilidade. Políticas específicas como de atendimento ao cidadão, de
Internet, de publicidade, comunicação interna, qualificação da comunicação,
relacionamento com a imprensa, por exemplo, articuladas a uma política
global de comunicação, constituem não apenas um indicador de
responsabilidade, mas também um avanço enorme no aprimoramento das
práticas cotidianas, principalmente quando elaboradas participativamente e
complementadas por planejamento, avaliação, capacitação, manuais, regras,
legislação e normas (DUARTE, 2012, p. 69).
Duarte (2012, p. 70) adverte para o fato de que “políticas sempre existem”. Se não
estiverem formalizadas, poderão ser encontradas implicitamente nas leis, nos programas, nas
ações, nos discursos institucionais. Porém, desta forma, na prática “costumam significar
improvisação e personalismo”. Não havendo padrões institucionalizados, os dirigentes podem
decidir particularmente em cada caso concreto “segundo pessoais do momento, mas costuma
ser pouco eficiente para a organização e, principalmente, para os públicos”.
A comunicação pública, mesmo sendo um conceito em construção, pelas
características já incorporadas demonstra ser a forma mais adequada para implantação de
modelos organizacionais democráticos e participativos na administração pública. Contudo sua
operacionalização demanda uma opção política do Estado, pela cidadania e pelo interesse
público, suficientemente forte para criar políticas públicas e ser capaz de implementá-las.
53
4 ACESSO À INFORMAÇÃO PÚBLICA
A formulação de políticas públicas é um processo que se inicia com a identificação
dos problemas sociais e econômicos a serem resolvidos por esforços governamentais. O ciclo
completo de uma política pública inclui quatro passos principais: início e definição;
formulação e aprovação; implementação; impacto e avaliação (BRYNER, 2010).
No Brasil, o acesso à informação, indispensável para efetivação da democracia,
visivelmente teve sua carência identificada pelos congressistas, como um dos problemas a ser
priorizado por políticas públicas, quando da promulgação da CF/88, que além de garantir o
direito de acesso à informação, firmou muitos compromissos para construção de uma
democracia participativa e de controle social. A carta magna reconhece explicitamente a
democracia representativa, mas também a participativa, gerando um conjunto bastante
significativo de mecanismos por meio dos quais a sociedade pode se expressar, tanto se
antecipando a decisões ou iniciativas, quer do Estado, quer do mercado, como reagindo a elas
quando são anunciadas/concretizadas em detrimento do interesse da sociedade
(HOHLFELDT, 2011).
Dentre as inovações constitucionais encontra-se a garantia de que:
[...] todos têm o direito a receber dos órgãos públicos informações de seu
interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas
no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo
sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado” (CF/88,
Art. 5º, inciso XXXIII, grifo nosso).
Entretanto, o grande problema da CF/88 é como concretizar os ordenamentos
constitucionais que exigem a existência da uma lei para serem efetivados. Assim, “não se
reclamam mais direitos, mas garantias de sua implementação” (BERCOVICI, 1999, p. 46,
47).
Embora previsto no texto constitucional desde sua promulgação, em 1988, o direito de
informação carecia de um instrumento legislativo que o regulasse. Nesse sentido, formou-se
paulatinamente, um cenário histórico e jurídico, com a incorporação de um amplo rol de
direitos que conduziu à elaboração e posterior aprovação da Lei de Acesso à Informação, no
Brasil.
A Lei nº 8.159, de 8 de janeiro de 1991, dispõe sobre a política nacional de arquivos
públicos e privados e o dever do Poder Público quanto à gestão e a proteção especial a
54
documentos de arquivos, como instrumento de apoio à administração, à cultura, ao
desenvolvimento científico e como elementos de prova e informação.
A Emenda Constitucional nº 19, de 4 de junho de 1998, acrescentou ao caput do Art.
37 da CF/88 um quinto princípio a ser obedecido pela administração pública, a eficiência. Em
seu texto original, já se encontravam previstos os princípios da legalidade, impessoalidade,
moralidade e publicidade. O princípio da eficiência, conforme Melo (2011, p. 125) não é um
simples dever ético ou uma mera aspiração, mas constitui-se em uma das facetas do princípio
da boa administração, segundo a qual, a administração pública tem que desenvolver suas
atividades da forma mais congruente, oportuna e adequada possível, buscando uma solução
excelente.
Outra alteração ocorrida por força da EC nº 19/1998, no Art. 37 da CF/88, foi a
inclusão do § 3º, II, onde dispõe que “a lei disciplinará as formas de participação do usuário
na administração pública direta e indireta, regulando especialmente o acesso dos usuários a
registro administrativos e a informações sobre atos de governo” (grifo nosso).
A Lei Complementar nº 101, de 4 de maio de 2000, conhecida como Lei da
Responsabilidade Fiscal, estabeleceu normas de finanças públicas voltadas para a
responsabilidade na gestão fiscal e o equilíbrio das finanças do Estado, consagrando
princípios constitucionais. Provocou uma radical mudança de comportamento na
Administração Pública, fazendo constar em seu texto original a obrigação dos órgãos públicos
em efetuar o registro eletrônico centralizado e atualizado das dívidas públicas e garantir o
acesso público a essas informações.
O Decreto, de 18 de outubro de 2000, do Presidente da República, criou no âmbito do
Conselho de Governo, o Comitê Executivo do Governo Eletrônico com o objetivo de
formular políticas, estabelecer diretrizes, coordenar e articular as ações de implantação do
Governo Eletrônico, voltado para a prestação de serviços e informações ao cidadão.
O Portal da Transparência do Governo Federal foi criado pela Controladoria-Geral da
União (CGU), em novembro de 2004, com a finalidade de aumentar a transparência da gestão
pública e permitir ao cidadão acompanhar como o dinheiro público é utilizado, dando-lhe
subsídios para fiscalizar e opinar.
A Lei nº 11.111, de 5 de maio de 2005 regulamentou a forma de acesso aos
documentos públicos de interesse particular ou coletivo, ressalvando as hipóteses de sigilo
imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.
55
O Decreto nº 5.687, de 31 de janeiro de 2006, do Presidente da República, promulgou
a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (United Nations Convention against
Corruption, UNCAC) adotada pela Assembleia-Geral das Nações Unidas em 31 de outubro
2003 e assinada pelo Brasil em 9 de dezembro de 2003. Estabelece regras para prevenção e
erradicação da corrupção como responsabilidade dos Estados signatários, que devem cooperar
entre si, com o apoio e a participação de pessoas e grupos que não pertencem ao setor público,
como a sociedade civil, as organizações não-governamentais e as organizações de base
comunitárias, para que seus esforços neste âmbito seja eficazes.
A Portaria Interministerial nº 140, de 16 de março de 2006, do Ministro de Estado do
Controle e da Transparência e do Ministro de Estado do Planejamento, Orçamento e Gestão,
trouxe regras para divulgação de dados e informações pelos órgãos e entidades da
Administração Pública Federal, por meio da rede mundial de computadores, internet, com fins
ao controle social. Estabelece o conteúdo mínimo das informações que os órgãos e entidades
públicas devem manter em seus respectivos sítios eletrônicos.
A Lei Complementar nº 131, de 27 de maio de 2009 – Lei Capiberibe, acrescentou
dispositivos à Lei Complementar nº 101/2000, a fim de determinar a disponibilização, em
tempo real, de informações pormenorizadas sobre a execução orçamentária e financeira da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
O Decreto de 15 de setembro de 2011, da Presidenta da República instituiu o Plano de
Ação Nacional sobre Governo Aberto destinado a promover ações e medidas que deem
cumprimento aos seguintes princípios: transparência; prestação de contas e responsabilização
(accountability); participação cidadã; e, tecnologia e inovação.
A parceria para o Governo Aberto ou OGP (Open Government Partnership), foi
lançada em 2011, por iniciativa internacional para difundir e incentivar globalmente práticas
governamentais relacionadas à transparência dos governos, ao acesso à informação pública e à
participação social. O Brasil assinou a Declaração de Governo Aberto em 20 de setembro de
2011, comprometendo-se com os princípios contidos na Declaração Universal dos Direitos
Humanos, na Convenção das Nações Unidas contra a corrupção e em outros instrumentos
internacionais aplicáveis relacionados aos direitos humanos e à boa governança. De acordo
com a Declaração de Governo Aberto da OGP um governo aberto deve buscar alcançar quatro
objetivos:
• Aumentar a disponibilidade de informações sobre atividade governamentais;
56
• Apoiar a participação social;
• Implementar os padrões mais altos de integridade profissional na Administração;
• Ampliar o acesso a novas tecnologias para fins de abertura e prestação de contas.
4.1 LEI DE ACESSO À INFORMAÇÃO
Finalmente, em 18 de novembro de 2011, foi promulgada a Lei nº 12.527, conhecida
como Lei de Acesso à Informação (LAI), cuja implementação na administração pública
federal deu-se por meio do Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012. A LAI regula o acesso a
informações previsto no inciso XXXIII do Art. 5º, no inciso II do § 3º do Art. 37 e no § 2º do
Art. 216, todos da CF/88. Com a sanção da Lei de Acesso à Informação Pública, o Brasil
tornou-se o 89º país a ter uma legislação específica para regulamentar o assunto; na América
Latina, o 19º a adotar esse tipo de lei.
De acordo com Rothberg, Napolitano e Resende (2013, p. 110), “a Lei 12.527/2011
decorre da evolução do arcabouço jurídico-institucional brasileiro, nos passos de um percurso
de aperfeiçoamento da democracia que deita suas raízes na Antiguidade”.
Muito embora o direito de acesso à informação já estivesse reconhecido e ratificado
pela CF/88, a Lei nº 12.527/2011 introduz novos valores no ordenamento constitucional por
proclamar mecanismos concretos para efetivação da transparência ativa e passiva, definir para
administração pública os meios que deverão ser utilizados para o atendimento ao cidadão,
estabelecer procedimentos e parâmetros para as eventuais restrições de acesso, e definir as
responsabilidades dos agentes públicos em caso de violação ao acesso à informação pública.
Ficam submetidas às exigências da LAI, todos os órgãos públicos da administração
direta e indireta da União, dos Estados, Distrito Federal e Municípios, incluindo os poderes
Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como as entidades privadas sem fins lucrativos que
recebem recursos públicos para realização de ações de interesse público.
A LAI determina que os órgãos e entidades públicas utilizem de todos os meios e
instrumentos legítimos dos quais disponham para disponibilização das informações, como
inovação estabelece a obrigatoriedade da divulgação por meio da internet. Apenas os
municípios com menos de dez mil habitantes excetuam-se da obrigação de utilizar a Internet,
ficando mantida para esses a obrigatoriedade de divulgação, em tempo real, de informações
57
relativas à execução orçamentária e financeira, nos moldes estabelecidos pela Lei de
Responsabilidade Fiscal.
A Controladoria-Geral da União (CGU), órgão do Governo Federal responsável por
fiscalizar assuntos que, no âmbito do Poder Executivo, sejam relativos à defesa do patrimônio
público e ao incremento da transparência da gestão, define informações públicas como todas
as informações colhidas, acumuladas e custodiadas pelo Poder Público, como também aquelas
que são produzidas pelo próprio órgão, independentemente de referirem-se a particulares ou à
gestão e ao funcionamento dos órgãos e entidades públicos (BRASIL, 2015, p. 11).
4.1.1 PRINCÍPIO DA MÁXIMA DIVULGAÇÃO
A LAI contraria a tendência da burocracia estatal em manter sigilo dos seus atos, pois
o texto legal contém diretrizes dentre as quais a observância da publicidade é tratada como
regra e o sigilo como exceção (Lei nº 12.527/2011, Art. 3º, inciso I).
Mendel (2009, p. 32) defende que um dos princípios a serem observados pelos Estados
quando da elaboração de suas leis de acesso à informação é o da máxima divulgação, ou seja,
o direito à informação deve ser reconhecido amplamente no tocante ao espectro de
informações e órgãos envolvidos, bem como quanto aos indivíduos que poderão reivindicar
este direito, presumindo-se também que toda informação é acessível sujeita somente a um
sistema estrito de exceções.
Ratificando a adoção do princípio da máxima divulgação, a CGU explica que “uma
negativa de acesso é uma exceção”, só podendo ocorrer nos casos que estiverem “de acordo
com as possibilidades de negativas previstas na própria LAI” (BRASIL, 2015, p. 23).
Portanto, a princípio, todo documento é acessível gratuitamente, ou copiável pelo
preço de custo (Lei nº 12.527/2011, Art. 12). No caso de indeferimento de acesso a
informações, é direito do requerente obter o inteiro teor de decisão negativa, por certidão ou
cópia (Art. 14). Nesse caso, poderá o interessado interpor recurso no prazo de dez dias a
contar da ciência do indeferimento (Art. 15). Esse recurso será analisado por uma autoridade
hierarquicamente superior à que indeferiu o pedido inicial, manifestando-se no prazo de cinco
dias. Caso o recurso mantenha o indeferimento do pedido de acesso à informação, o
requerente poderá recorrer à CGU, que deliberará nos prazos e situações previstas no Art. 16.
58
A Art. 23 da LAI prevê que o pedido de acesso poderá ser negado em caso de
solicitação de informações imprescindíveis para segurança da sociedade ou do Estado. Essas
informações, consideradas imprescindíveis para segurança podem ser classificadas como
ultrassecretas, secretas ou reservadas. Assim, a LAI estabelece prazos máximos de restrição
de acesso a essas informações, de acordo com suas respectivas classificações. Os prazos
vigoram a partir da data de suas produções, obedecendo ao seguinte:
• ultrassecreta – 25 anos;
• secreta – 15 anos;
• reservada – 5 anos.
Também poderão ser indeferidos os pedidos de acesso a informações sigilosas,
conforme dispõe o Art. 25 da LAI. Para tanto, o Art. 27 estabelece uma relação de autoridades
competentes para classificar o grau de sigilo das informações, a saber: o Presidente da
República; o Vice-Presidente da República; os Ministros de Estado, os Comandantes da
Marinha, do Exército e da Aeronáutica; os Chefes de Missões Diplomáticas e Consulares; os
titulares de autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista; e, as
autoridades que exercem funções de direção, comando ou chefia.
De acordo com Rothberg, Napolitano e Resende (2013, p. 116) a variedade de
situações nas quais o poder público pode impor exceções ao direito de acesso à informação,
aliada ao “alto poder discricionário subjacente ao artigo 27, que determina as competências
para a classificação do sigilo da informação” constituem-se em obstáculos para aplicação da
legislação.
Outra situação em que o pedido de acesso à informação poderá ser negado é no caso
de tratar-se de informação pessoal relativa à intimidade, vida privada, honra e imagem. Essas
informações terão seu acesso restrito pelo prazo de cem anos a contar da data de produção,
independentemente de serem classificadas como sigilosas, conforme dispõe o Art. 31 da LAI.
4.1.2 TRANSPARÊNCIA ATIVA E PASSIVA
O inciso II do Art. 3º da LAI apresenta a transparência proativa como outra importante
diretriz a ser observada: “divulgação de informações de interesse público, independentemente
de solicitações”.
59
A Controladoria Geral da União (CGU) explica que o Estado, em sua obrigação de
disponibilizar ao cidadão as informações por ele produzidas ou custodiadas, tem basicamente
duas formas de dar cumprimento: passiva ou ativamente. A transparência passiva ocorre
quando o cidadão tem que apresentar um pedido formal de uma informação pública e somente
em razão desta solicitação o órgão ou entidade pública disponibiliza a informação. Ao
contrário desta situação, a transparência ativa refere-se ao comportamento de divulgação das
informações por iniciativa da própria administração pública: “A Transparência Ativa é
entendida como aquela em que há disponibilização da informação de maneira espontânea
(proativa). É o que ocorre, por exemplo, com a divulgação de informações na Internet, de
modo que qualquer cidadão possa acessá-las diretamente.” (BRASIL, 2015, p. 52)
A transparência passiva, por outro lado, depende das solicitações dos cidadãos. Nesse
caso, a iniciativa não é do Poder Público e sim do cidadão interessado, mediante apresentação
de pedido de acesso à informação, criando uma obrigação ao órgão ou entidade solicitado no
sentido de oferecer uma resposta à demanda. Nesse sentido, a CGU adverte que “a reiteração
de pedidos de acesso sobre os mesmos temas indica que aquela é uma informação de grande
interesse para a sociedade em geral. É portanto, interessante que esse tipo de solicitação seja
colocado em transparência ativa”. (BRASIL, 2015, p.55)
Darbishire (2011, p. 9) considera que os principais motivos a provocar uma divulgação
proativa das informações por parte das instituições governamentais são:
• Necessidade de informar ao público sobre as leis, as políticas e as decisões;
• Demanda de informações para manter a responsabilidade do governo sobre as eleições
e entre uma eleição e outra;
• Evolução da participação pública na tomada de decisões para as quais há necessidade
de disponibilizar informações;
• Necessidade de informar ao público sobre os serviços que são oferecidos pelos órgãos
do governo.
Darbishire (2011, p. 16, 39-41) pontua também que os níveis de transparência ativa
podem variar muito, entre os órgãos públicos se não houver um padrão mínimo exigido pelo
governo. A autora identifica e estabelece um rol mínimo de informações, que considera
imprescindíveis de serem divulgadas proativamente por um governo democrático: informação
institucional; informação organizacional; informação operacional; decisões e atos; informação
dos serviços públicos; informações sobre orçamento; informações subsidiárias; informação
60
sobre aquisição pública; tomada de decisão e participação pública; informação sobre reuniões
abertas; listas, registros e base de dados; informações sobre publicações; informação sobre
quais informações armazena; informação sobre o direito de informação.
Adicionalmente, a Organization of American States (OAS), por meio do
Departamento de Lei Internacional divulgou o Modelo de Lei Interamericana de Acesso à
Informação, elaborado por Especialistas em Acesso à Informação, sob a premissa de que os
órgãos públicos devem divulgar informações acerca de suas funções de forma proativa e
rotineira, assegurando ainda que as mesmas sejam acessíveis e inteligíveis.
O Modelo apresenta um esquema, contendo as seguintes classes de informações
mínimas a serem divulgadas proativamente pelas autoridades públicas: descrição da estrutura
organizacional; qualificação e salários dos chefes; resultados internos e externos, relatórios e
mecanismos de monitoramento relevantes para autoridade pública; orçamento e plano de
gastos para cada ano fiscal; procedimentos de aquisição, orientações e política, contratos de
concessão; escalas de salários de todos os níveis e subníveis de servidores; detalhes relevantes
sobre quaisquer serviços prestados diretamente ao público; qualquer pedido direto ou
mecanismos de reclamação disponível para os membros do público sobre atos, ou omissão,
por aquela autoridade pública; uma descrição dos poderes e tarefas dos chefes; arquivos
contendo interpretações, práticas ou precedentes relativos à alteração da autoridade pública de
suas funções; quaisquer mecanismos ou procedimentos pelos quais os membros do público
podem ser representados; guia simples contendo informação adequada sobre os sistemas de
manutenção dos arquivos; lista de pedidos recebidos e reportagens gravadas sobre a Lei de
Acesso à Informação; lista completa de providências subsidiárias da autoridade pública;
informação frequentemente requisitada; qualquer informação adicional considerada
apropriada pela autoridade pública (OAS, 2010, p. 16, 17).
O caput do Art. 8º da LAI evidencia também uma postura de transparência proativa ao
determinar que: “É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de
requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de
informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas”. Em seguida, o
§ 1º do Art. 8º apresenta um rol de informações mínimas a serem divulgadas proativamente
pelos órgãos e entidades públicas, conforme quadro a seguir:
61
Quadro 1. Informações a serem divulgadas proativamente Incisos § 1º do Art. 8º
I – registro das competências e estrutura organizacional, endereços e telefones das
respectivas unidades e horários de atendimento ao público;
II – registro de quaisquer repasses ou transferências de recursos financeiros;
III – registros de despesas;
IV – informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os respectivos editais
e resultados, bem como a todos os contratos celebrados;
V – dados gerais para o acompanhamento de programas, ações e obras de órgãos e
entidades;
VI – respostas a perguntas mais frequentes da sociedade.
FONTE: Elaborado pela autora a partir da LAI
4.1.3 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Para assegurar o direito de acesso à informação, o inciso III do Art. 3º indica mais uma
diretriz a ser obedecida pelos órgãos e entidades públicas: “utilização de meios de
comunicação viabilizados pela tecnologia da informação”.
As inovações tecnológicas trouxeram para administração pública, recursos que
permitem aprimorar o atendimento ao cidadão. Darbishire (2011) argumenta que a
disponibilização proativa de informações sobre os serviços públicos ganhou novo impulso na
década passada com os avanços das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), os
procedimentos da lenta burocracia transformaram-se em uma simples transação com
documentos e orientações acessíveis por um click no mouse.
Ruediger (2002, p. 9) explica que “desenvolver políticas públicas que observem a
oportunidade digital é um elemento fundamental de desenvolvimento com justiça, mas pode
ser também um vetor de eficiência”.
Darbishire (2011) ressalta que uma das vantagens oferecidas pela tecnologia é a
velocidade com que um documento recém elaborado pode chegar ao público; mas adverte
também para o fato de que os recursos oferecidos pelo governo eletrônico podem não ser tão
úteis em países onde a utilização da internet ainda não esteja amplamente disseminada. Dessa
forma, a autora considera que haverão de persistir os modos de divulgação dos atos
governamentais pelas formas tradicionais: quadro de avisos, folhetos informativos, rádio,
televisão, encontros públicos, ou o uso do telefone celular, se for o caso.
62
De acordo com os resultados divulgados pela Pesquisa Brasileira de Mídia 2015, da
Secretaria de Comunicação da Presidência da República, a crescente penetração das novas
mídias na sociedade fica clara quando se analisam os dados da pergunta sobre qual meio de
comunicação o entrevistado utiliza mais. A internet foi apontada por 42% dos brasileiros. Por
esses critérios, ela ficaria atrás da televisão (93%) e, por uma pequena diferença, do rádio
(46%):
No Brasil, as características sociodemográficas da população têm um grande
impacto no uso da internet, principalmente se comparada aos outros meios
de comunicação. Renda e escolaridade criam um hiato digital entre quem é
um cidadão conectado e quem não é. Já os elementos geracionais ou etários
mostram que os jovens são usuários mais intensos das novas mídias. Os
dados mostram que 65% dos jovens com até 25 anos acessam internet todos
os dias. Entre os que têm acima de 65 anos, esse percentual cai para 4%.
Entre os entrevistados com renda familiar mensal de até um salário mínimo
(R$ 724), a proporção dos que acessam a internet pelo menos uma vez por
semana é de 20%. Quando a renda familiar é superior a cinco salários
mínimos (R$ 3.620 ou mais), a proporção sobe para 76%. Por sua vez, o
recorte por escolaridade mostra que 87% dos respondentes com ensino
superior acessam a internet pelo menos uma vez por semana, enquanto
apenas 8% dos entrevistados que estudaram até 4ª série o fazem com a
mesma frequência. (SECOM, 2014, p.49).
Muito embora, a exclusão digital não seja o foco da presente pesquisa, é importante
ressaltar que não somente os problemas de infraestrutura - número reduzido de computadores,
limitações de conexão à Internet - interferem e podem reduzir a participação de alguns
públicos, mas conforme relato da ONU (2012, p. 99), também “as ferramentas e as
habilidades para acessar as informações e usá-las para criar novos conteúdos e unir-se a
outros cidadãos com o objetivo de melhor atender às suas necessidades e aspirações” são
questões a serem estudadas e atendidas por meio de reformulação das políticas públicas.
O § 2º do Art. 8º da LAI, explicitamente refere-se à obrigatoriedade dos órgãos e
entidades públicas em utilizar “sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet)”
para promover a divulgação de informações de interesse coletivo. Esta regra demonstra a
preocupação do legislador em exigir da administração pública a modernização e a utilização
dos recursos tecnológicos mais avançados para divulgação das informações públicas. No
entanto, deixa clara a prioridade na ampla divulgação e acesso às informações públicas
quando prevê a utilização de “todos os meios e instrumentos legítimos de que dispuserem”.
Mais adiante, o Art. 9º amplia a exigência, estabelecendo que os órgãos e entidades públicas
deverão criar serviço de informações ao cidadão, em local com condições apropriadas para
63
atender e orientar o público quanto ao acesso a informações; informar sobre a tramitação de
documentos; protocolizar documentos e requerimentos de acesso a informações; e também
para realização de audiências ou consultas públicas, com fins a incentivar a participação
popular ou para promover outras formas de divulgação.
Da análise conjunta dos Art. 8º e 9º depreende-se que a LAI busca aprimorar o sistema
utilizado pelos órgãos públicos para divulgação das informações, estabelecendo que o
atendimento deve ocorrer em local físico e específico para esse fim, com o uso dos
instrumentos tradicionais, mas adicionalmente exige que sejam oferecidos em ambiente
virtual. Tais exigências demonstram a percepção do legislador em relação às limitações e
desafios a serem superados com a adoção de política pública para a inclusão digital no Brasil.
Ademais, o § 3º do Art. 8º apresenta um rol de requisitos mínimos de acessibilidade a serem
respeitados pelos órgãos e entidades públicas para disponibilização das informações via
Internet, conforme quadro abaixo:
Quadro 2. Requisitos mínimos a serem atendidos pelos sítios oficiais via Internet
Incisos do § 3º do Art. 8º
I – conter ferramenta de pesquisa de conteúdo que permita o acesso à informação de
forma objetiva, transparente, clara e em linguagem de fácil compreensão;
II – possibilitar a gravação de relatórios em diversos formatos eletrônicos, inclusive
abertos e não proprietários, tais como planilhas e texto de modo a facilitar a análise
das informações;
III – possibilitar o acesso automatizado por sistemas externos em formatos abertos,
estruturados e legíveis por máquina;
IV – divulgar em detalhes os formatos utilizados para estruturação da informação;
V – garantir a autenticidade e a integridade das informações disponíveis para acesso;
VI – manter atualizadas as informações disponíveis para acesso;
VII – indicar local e instruções que permitam ao interessado comunicar-se, por via
eletrônica ou telefônica, com o órgão ou entidade detentora do sítio; e
VIII – adotar as medidas necessárias para garantir a acessibilidade de conteúdo para
pessoas com deficiência, nos termos do Art. 17 da Lei nº 10.198/2000, e do Art. 9º da
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada pelo Decreto
Legislativo nº 186/2008.
FONTE: Elaborado pela autora a partir da LAI
64
4.1.4 CULTURA DA TRANSPARÊNCIA
Como quarta diretriz a ser observada pelos órgãos e entidades públicas no
cumprimento da Lei de Acesso à Informação, o inciso IV do Art. 3º estabelece o “fomento ao
desenvolvimento da cultura de transparência na administração pública”.
Sobre a cultura do sigilo, Mendel (2009, p. 34) adverte que “na maioria dos países,
existe uma cultura arraigada de sigilo no âmbito do governo, com base em práticas e atitudes
há muito estabelecidas”. Assim, o autor entende que o direito à informação ainda que
prescrito por lei, depende da mudança da cultura “já que é praticamente impossível forçar os
servidores públicos a se mostrarem abertos”. Por isso, para implementação das leis de acesso
à informação os funcionários precisam ser convencidos de que a abertura não é apenas uma
obrigação mas também um direito humano fundamental e essencial para a governança efetiva
e apropriada: “Um leque de medidas promocionais pode ser necessário para tratar da cultura
do sigilo e assegurar que a população esteja ciente do direito à informação e de suas
implicações” (MENDEL, 2009, p. 35).
Faria (2016) explica que a cultura burocrática brasileira, mais intensa no período de
1964 a 1985, foi dominada pela prática da proteção e resguardo da informação em poder do
Estado. Por isso, a postura inversa, a cultura da transparência esbarra naturalmente na
resistência construída com base na cultura burocrática de proteção da informação – até como
reserva do poder:
[...] transparência nas ações pode significar problema. Publicar dados que
podem revelar a má aplicação de recursos públicos por motivos políticos, ou
por decisões administrativas equivocadas, é algo a se evitar por parte de
certos decisores políticos e administrativos de alto escalão, já que isso pode
ameaçar sua manutenção no cargo (FARIA, 2016, p. 96).
Assim, a CGU (BRASIL, 2011b, p. 12) considera que a implementação de um sistema
de acesso à informação tem como um de seus principais desafios, vencer essa cultura de
segredo que, muitas vezes, prevalece na gestão pública: “teremos que vencer a cultura do
sigilo que, de forma silenciosa e invisível, ainda se constitui um dos grandes obstáculos para a
abertura dos governos” (BRASIL, 2011b, p. 3). Os servidores tem um papel fundamental para
a mudança cultural, pois lidam cotidianamente com a informação pública, sua produção e seu
arquivamento.
65
Na cultura do segredo, a gestão pública é pautada pelo princípio de que a circulação de
informações representa um risco. Isto favorece a criação de obstáculos para disponibilização
das informações. Em contraposição, na cultura de acesso, os agentes públicos têm consciência
de que a informação pública pertence ao cidadão e que cabe ao Estado provê-la de forma
tempestiva e compreensível para atendimento eficaz das demandas da sociedade (BRASIL,
2011b).
A CGU (2011, p. 13), descreve o fluxo de informações na cultura de acesso,
caracterizando-o num círculo virtuoso:
• A demanda do cidadão é vista como legítima;
• O cidadão pode solicitar a informação pública sem necessidade de justificativa;
• São criados canais eficientes de comunicação entre governo e sociedade;
• São estabelecidas regras claras e procedimentos para a gestão das informações;
• Os servidores são permanentemente capacitados para atuarem na implementação da
política de acesso à informação.
A CGU (2011b, p. 22-24) considera as seguintes palavras e expressões como
integrantes da cultura de acesso à informação:
• Acessibilidade – a informação pública deve estar acessível a todos, inclusive aos
portadores de deficiências;
• Controle social – é a participação do cidadão na gestão pública, na fiscalização, no
monitoramento e no controle da administração pública; favorecendo à correta
aplicação dos recursos, prevenindo da corrupção e fortalecendo a cidadania;
• Dados abertos governamentais – publicação e disseminação das informações do setor
público na Web, compartilhadas em formato bruto e aberto, compreensíveis
logicamente, de modo a permitir a reutilização em aplicações digitais desenvolvidas
pela sociedade.
• Documento – unidade de registro de informações, qualquer que seja o suporte ou
formato;
• Governo eletrônico – uso das tecnologias de informação e comunicação (TICs) com
intuito de democratizar o acesso à informação pública, ampliar e dinamizar a prestação
de serviços.
66
• Informação – são dados processados ou não, que podem ser utilizados para produção e
transmissão de conhecimento, contidos em qualquer meio, suporte ou formato;
• Linguagem cidadã – a administração pública deve utilizar uma linguagem clara e
objetiva para garantir a leitura fácil de informações e dados;
• Princípio da publicidade – um dos princípios constitucionais a serem obedecidos pela
administração pública, além dos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade
e eficiência;
• Transparência ativa – a administração pública deve divulgar informações à sociedade
por iniciativa própria, de forma espontânea, independente de solicitações;
• Transparência passiva – a administração pública deve divulgar informações solicitadas
pela sociedade.
Mendel (2009) argumenta que uma importante ferramenta para enfrentar a cultura do
sigilo é estabelecer penalidades para os servidores que de alguma maneira, intencionalmente,
obstruírem o acesso à comunicação, inclusive pela destruição de registros ou inibição do
trabalho do órgão de supervisão.
Nesse sentido, o Art. 32 da LAI descreve as condutas que ensejam responsabilidade do
agente público ou militar, dificultando o cumprimento do direito de acesso à informação, ou
divulgando as informações excepcionadas pela LAI (sigilosas ou pessoais). As penas a serem
aplicadas aos servidores são as contidas no Art. 127 da Lei nº 8.112/1991, dependendo da
gravidade dos atos praticados ou omitidos, e podem ser: suspensão, demissão, cassação de
aposentadoria ou disponibilidade, destituição de cargo em comissão ou destituição de função
comissionada.
O Art. 33 da LAI estabelece também penalidades às pessoas físicas ou entidades
privadas que detendo informações públicas deixarem de observar o direito de acesso aos
mesmos quando solicitados. As penalidades previstas, para esses casos, são as seguintes:
advertência, multa, rescisão do vínculo com o poder público, suspensão temporária de
participar em licitação e impedimento de contratar com a administração pública por prazo não
superior a 2 anos, e declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a administração
pública, até que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a
penalidade.
67
4.1.5 DESENVOLVIMENTO DO CONTROLE SOCIAL
A quinta e última diretriz a ser respeita pelos órgãos e entidades públicas, de acordo
com o Art. 3º da LAI, é o “desenvolvimento do controle social da administração pública”.
Embora o Art. 70 da CF/88 determine que a fiscalização da União e das entidades da
administração direta e indireta seja atribuída aos órgãos de controle externo e interno; com o
processo de democratização brasileiro, o conceito de controle social foi ampliado e
fortalecido, passando a ser reconhecido como possível combatente à corrupção e como
propulsor da qualidade na administração pública.
A garantia de acesso à informação busca promover uma mudança de paradigma com
consequente diminuição do poder por parte daqueles que detém o monopólio das informações,
democratizando seu acesso à população:
O acesso a esses dados – que compõem documentos, arquivos, estatísticas –
constitui-se em um dos fundamentos para a consolidação da democracia, ao
fortalecer a capacidade dos indivíduos de participar de modo efetivo da
tomada de decisões que os afeta. O cidadão bem informado tem melhores
condições de conhecer e acessar outros direitos essenciais, como saúde,
educação e benefícios sociais”. Na cultura de acesso, o fluxo de informações
favorece a tomada de decisões, a boa gestão de políticas públicas e a
inclusão do cidadão (BRASIL, 2011b, p. 8).
O direito de acesso à informação tem como objetivo munir o cidadão de informações
detidas pelo Estado, para que seja possível, entre outas coisas, o exercício do controle social
(BRASIL, 2015).
Se por um lado, o direito de acesso à informação pública não garante a efetiva
participação cidadã e o exercício do controle social, a falta de acesso à informação pública é
justamente um, dentre os diversos fatores que podem motivar a persistência de
comportamentos pré-burocráticos, remanescentes de uma administração patrimonialista
(LOPES, 2007).
Loureiro et al (2012) destacam entre os papéis da CGU na democracia brasileira o de
órgão indutor e fortalecedor do controle social, através de várias iniciativas, como a formação
técnica de conselheiros e a iniciativa da organização de conferências sobre controle social:
“Institucionalmente, é a primeira vez que uma agência estatal de controle busca uma
articulação tão forte com a sociedade para legitimar a agenda de promoção da transparência e
do combate à corrupção” (LOUREIRO et al, 2012, p. 55).
68
No Brasil, as políticas públicas para o acesso à informação relacionam-se também com
as ações de governo eletrônico que se iniciaram com o processo de Reforma do Estado
associado à emergência no uso da TIC.
4.2 GOVERNO ELETRÔNICO
A expressão “governo eletrônico”, utilizada em português, é a tradução do termo
“electronic government”, em inglês. Comumente utiliza-se o termo simplificado “e-gov”,
tanto em português como em inglês, para designar governo eletrônico.
Governo eletrônico ou e-gov abrange e incorpora praticamente todas as plataformas de
Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC). Mas a Internet pode ser reconhecida como
a principal condutora do governo eletrônico, devido ao acesso de informações que
disponibiliza para toda sociedade (UNITED NATIONS, 2002, p. 5).
De acordo com a OECD (Organization for Economic Co-operation and Development),
é possível definir governo eletrônico de diversas formas. As diferenças podem ser semânticas,
mas podem refletir também as prioridades governamentais. Primeiramente, é possível definir
governo eletrônico como a prestação de serviços e outras atividades por meio da Internet. Por
outro prisma, governo eletrônico pode referir-se ao uso das TIC pelo governo, não somente
para prestação de serviços, mas extensivamente pode englobar os demais aspectos das
atividades governamentais. Finalmente, governo eletrônico pode ser definido como uma nova
forma de governo, construído em torno das TIC, geralmente ligado ao uso da Internet com o
objetivo de alcançar um governo melhor (OECD, 2003, p. 63).
Para Silva (2012, p. 181) governo eletrônico abarca muito mais do que simplesmente a
disponibilização das informações em páginas de órgãos públicos, “abrange uma série de
processos interativos como a relação contribuinte-fisco, bem como a acessibilidade do
cidadão a todo e qualquer dado que o Estado tenha arquivado sobre ele”.
Segundo Matheus e Janssen (2016), governo eletrônico consiste no uso de TIC para
melhorar a prestação de serviços para empresas e cidadãos, aprimorar a elaboração de
políticas públicas e o processo democrático.
Ferguson (2002, p. 104, 105) considera que a definição de governo eletrônico
necessariamente deve incorporar a prestação de serviços governamentais por meio eletrônico
bem como a questão da governança eletrônica (e-Governance). Segundo o autor, a prestação
69
eletrônica garante os serviços governamentais por meios digitais, mas a governança eletrônica
vai além do fornecimento de serviços, pois nela os cidadãos unem-se como representantes
legais para participar “junto ao governo das comunidades por meios eletrônicos. Nesse
sentido, governança eletrônica incorpora a democracia eletrônica”.
Assim, qualquer definição de governo eletrônico e análise de seus progressos tem que
abranger esses dois componentes, “já que a combinação dos serviços e prioridades do governo
está intimamente ligada ao processo de governança propriamente dita” (FERGUSON, 2002,
p. 105). Ambos os componentes – prestação de serviços e governança – dependem da
construção de relações entre as pessoas e as organizações, e podem ser enriquecidos pela
aplicação das TIC.
Ruediger (2002) considera o governo eletrônico responsável por promover relações
em tempo real e de forma eficiente com a sociedade, por meio das TIC. O autor acrescenta
que o governo eletrônico pode promover boas práticas de governança e, potencialmente, ser
catalisador de mudanças estruturais profundas, proporcionando mais eficiência, transparência,
desenvolvimento e provimento democrático de informações para decisão. Contudo, o autor
adverte para o fato de que este potencial poderá ou não ser efetivado, dependendo das
decisões e desenhos de diversas políticas de médio e longo prazo delineadas para esse campo.
Para Ruediger (2002, p. 2) governo eletrônico é um provedor de serviços online e
governança eletrônica é sobretudo “uma ferramenta de capacitação política da sociedade e
vetor de aumento de eficiência para o governo”. Por isso acredita que governo eletrônico pode
até transformar-se em governança eletrônica, desde que se politize e passe a não só prover os
serviços públicos, mas efetivamente promova preferências democráticas na sociedade:
Teríamos assim, um desenvolvimento de governança eletrônica se o desenho
concebido do governo eletrônico ousasse exprimi-lo como uma instância
republicana no plano virtual, e não apenas uma agência de serviços, logrando
assim, pelo provimento menos custoso de informações, a diminuição da
“falha de governo” e consequente estabelecimento de um campo público de
discussão, que por beneficiar a sociedade, poderia ampliar as chances de, em
última instância, prover uma melhor performance do governo (RUEDIGER,
2002, p. 5).
Ferguson (2002) explica que a base para o desenvolvimento da governança eletrônica
é a infraestrutura construída a partir das TIC, aplicada e utilizada no atendimento público por
meio do serviço eletrônico.
70
Ricart e Ubaldi (2016, p. 34) ressaltam que as tecnologias digitais, quando usadas
estrategicamente, podem ser ferramentas poderosas a subsidiar mudanças expressivas nas
relações entre o governo e a sociedade: “Elas podem ajudar a aumentar a transparência e a
prestação de contas, melhorar o acesso e a qualidade de serviços públicos, e facilitar
processos de tomada de decisão”.
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) argumenta que muitos dados e
informações são disponibilizados pelos órgãos públicos para simples visualização, no entanto
conservam barreiras técnicas e algumas vezes políticas, que não permitem ser reutilizados
pela sociedade na criação de novos projetos e serviços. Isso ocorre porque os dados não são
“abertos”, pois “dado aberto é um dado que pode ser livremente utilizado, reutilizado e
redistribuído por qualquer um” (BRASIL, 2011a, p. 13). A definição de dados abertos
apresenta alguns pontos importantes:
• Disponibilidade de acesso: inteiramente disponível, oferecendo facilidade de
reprodução, de preferência por download na Internet; precisa estar também em
formato conveniente e modificável.
• Reuso e redistribuição: fornecido em condições de reuso e redistribuição, inclusive
com possibilidade de cruzamento com outros conjuntos de dados.
• Participação universal: todos podem usar, reutilizar, redistribuir, sem discriminação ou
restrição.
• Completos: disponibilizados sem restrições de privacidade, segurança ou outros
privilégios.
• Primários: apresentados da forma como foram colhidos da fonte, sem agregação ou
modificação.
• Atuais: publicados o mais rápido possível.
• Acessíveis: disponibilizados para a maior quantidade possível de pessoas.
• Compreensíveis por máquina: estruturados em formatos que facilitem o
processamento por softwares e sistemas.
• Não discriminatórios: disponíveis sem necessidade de cadastro ou outro procedimento
similar.
71
• Não proprietários: nenhuma entidade ou organização deve ter controle exclusivo sobre
os dados disponibilizados.
• Livres de licenças: não devem estar submetidos a copyrights, patentes, marcas
registradas ou regulações de segredo industrial.
O CGI (2011) ressalta que a importância da divulgação de dados abertos está na
interoperabilidade que esses dados permitem, ou seja, a capacidade de diversos sistemas e
organizações trabalharem juntas para construir grandes e complexos sistemas. Assim, quando
o núcleo dos dados é constituído de material “aberto”, é possível misturá-lo com outros
materiais “abertos” para construir produtos e serviços que beneficiem o governo e a sociedade
de forma ampla.
Como exemplo de benefício gerado a partir de dados abertos, o CGI cita a criação do
projeto Alagamentos (alagamentos.topical.com.br) que organiza dados públicos sobre
incidências de alagamentos na cidade de São Paulo para gerar entendimento e conscientização
aos cidadãos acerca do problema. O sistema informa por redes sociais – Twitter e Facebook –
onde podem aparecer novos pontos de alagamento, ajudando o usuário a evitar vias
congestionadas ou perigosas em dias de chuva.
Outro exemplo de serviço brasileiro criado e desenvolvido voluntariamente por
programadores independentes, é o CMSP (cmsp.topical.com.br) que apresenta uma
visualização das prestações de contas da Câmara Municipal de São Paulo, a partir das
informações que antes só podiam ser encontradas após consultar várias listas e tabelas
disponibilizadas pelo município de São Paulo. O novo sistema permite visualizar e comparar
as contas dos diversos vereadores por meio de gráficos e listagens interativas (BRASIL,
2011a).
Nesse sentido, Ricart e Ubaldi (2016, p. 38) entendem que o uso eficiente e estratégico
das TIC pelo governo possibilita não somente melhorar o desempenho das tarefas internas e a
prestação de serviços, mas também envolver atores externos, com conhecimentos específicos
sobre gestão e projetos de TIC, a partir do uso de dados abertos para “formulação de políticas,
avaliações, análise e mineração de dados”.
Gomes (2011, p. 27, 28) refere-se à democracia digital como qualquer forma de
emprego de dispositivos (computadores, celulares, smart phones, palmtops, ipads...),
aplicativos (programas) e ferramentas (fóruns, sites, redes sociais, medias sociais...) de
tecnologias digitais de comunicação para suplementar, reforçar ou corrigir aspectos inerentes
72
às práticas políticas e sociais do Estado e dos cidadãos gerando benefício democrático à
comunidade política.
Gomes (2011, p. 37) explica que a Internet possibilita diversas ações. Num primeiro
grupo encontram-se algumas ações que servem para orientar o indivíduo a participação
política e para aparelhar o grupo a um eventual envolvimento na vida pública: “acompanhar o
noticiário político online, ler blogs de político, ver vídeos de política no Youtube”. Muito
embora tais ações possam até gerar uma participação imediata como consequência das
informações acessadas, por outro lado, essas ações por si só não podem ser consideradas
literalmente como participação política. Um segundo grupo de ações mais significativo em
termos de participação política seria escrever um blog de política, fazer uma campanha online,
escrever petições eletrônicas, manifestar-se num fórum eletrônico ou numa consulta
orçamentária digital, postar vídeos políticos.
As ações do primeiro grupo merecem ser valorizadas no sentido de favorecer a
construção de uma ação política, pois são fundamentais para habilitar e qualificar uma
possível participação futura: “As pessoas precisam de meios para participar tanto quanto
precisam de liberdade e de informação que os habilitem a tanto” (GOMES, 2011, p. 37).
Gomes (2011, p. 38) argumenta que numa democracia saudável não é indispensável
que as pessoas participem massivamente, mas é necessário que “todos os concernidos pelas
decisões que afetam a comunidade política possam se tornar participantes, se e quando
quiserem e ainda, no que queiram”.
A elaboração de qualquer iniciativa de democracia digital deve basear-se
realisticamente num adequado encadeamento de meios, oportunidades e motivos capazes de
“lidar com um indivíduo que, porque livre e capaz, pode se recursar a tomar parte” (GOMES,
2011, p. 41).
Diante das muitas pesquisas contemporaneamente realizadas para mensurar a
participação política por meio da Internet, Gomes (2011, p. 40) ressalta que “há muito ou
pouca vida política, a depender dos métodos de aferição adotados”.
A informatização dos serviços governamentais e da governança por meio eletrônico
ultrapassa o campo instrumental limitado por uma visão restrita aos meios e à prestação do
serviço público eletronicamente. Contudo, as estratégias de implementação efetiva da
governança eletrônica envolvem normas culturais que incidem significativamente como um
dos fatores determinantes e variáveis entre os Estados. Conforme observa Ferguson (2002),
73
nos países onde existe uma forte tradição de participação democrática surgem mais
mecanismos de consulta virtual.
O Departamento de Economia e Assuntos Sociais da Organização das Nações
Unidas (ONU) tem publicado pesquisas sobre governo eletrônico desde 2001. Em sua nona
edição/2016, analisa o uso progressivo do governo eletrônico nos 193 Estados Membros da
ONU a fim de verificar como as TIC estão sendo usadas para transformar a administração
pública e apoiar o desenvolvimento sustentável. A pesquisa mensura a efetividade do governo
eletrônico na prestação de serviços nos setores de educação, saúde, trabalho e emprego,
finanças e bem-estar social.
Para apuração dos resultados, a pesquisa adota o EGDI (E-Government Development
Index - Índice de Desenvolvimento do Governo Eletrônico). A construção do EGDI é
tripartite considerando equitativamente as seguintes dimensões: adequação da infraestrutura
de telecomunicações, capacidade dos recursos humanos em promover e utilizar as TICs, e,
disponibilidade e conteúdo dos serviços online.
A metodologia para a coleta dos dados baseia-se nos seguintes parâmetros:
• Índice de Infraestrutura de Telecomunicação, com dados fornecidos pela International
Telecommunications Union;
• Índice de Capital Humano, dados fornecidos pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO);
• Índice de Serviços Online, dados obtidos por meio de pesquisa/questionário realizado
sob supervisão do UNDESA (Department of Economic and Social Affairs) nos 193
países incluindo abordagens completas sobre o governo, dados do governo aberto,
participação eletrônica, prestação de serviço multicanal, serviços de telefonia móvel,
uso e aceitação, divisão digital e parcerias inovadoras por meio das TICs.
Sob os critérios acima descritos, o Brasil classificou-se em 51º lugar, sendo
considerado um país com alto nível de desenvolvimento do governo eletrônico. Entre os
países americanos (América do Norte, América Central e América do Sul), o governo
eletrônico do Brasil classifica-se como 6º colocado.
Outro foco de análise da pesquisa realizada pela ONU refere-se ao grau de
participação eletrônica dos cidadãos. A participação eletrônica é definida como um processo
de engajamento político dos cidadãos por meio das TIC, na tomada de decisões e na prestação
74
de serviços, tornando-as mais participativas, inclusivas e deliberativas (UNITED NATIONS,
2016, p. 49, tradução da autora).
Conforme o relatório da pesquisa, a análise da participação eletrônica dos cidadãos
nos diferentes países, forneceu dados que demonstram uma tendência das sociedades para
esse tipo de participação e uma interdependência entre informação eletrônica, consulta
pública virtual e influência eletrônica na tomada de decisão.
A pesquisa classificou a participação eletrônica dos cidadãos nos 193 países com base
no EPI (E-Participation Index – Índice de Participação Eletrônica). A construção do EPI
considera como indicadores, a disponibilização das seguintes ferramentas nos portais
governamentais:
• Informação eletrônica – prestação de informação públicas via Internet;
• Consulta pública eletrônica – realização de consultas públicas online;
• Tomada de decisão eletrônica – envolvimento direto dos cidadãos nos processos de
decisão.
Sob os critérios acima descritos, a participação eletrônica do e-Gov do Brasil
classificou-se em 37ª colocação.
A avaliação classifica o desempenho do governo eletrônico dos países reconhecendo
que cada um deve decidir sobre o nível e a extensão das iniciativas do seu governo eletrônico
em consonância com suas próprias prioridades de desenvolvimento (UNITED NATIONS,
2016, tradução da autora).
4.2.1 GOVERNO ELETRÔNICO NO BRASIL
O uso da Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) na administração pública
brasileira iniciou-se em 1960, com a adoção de estruturas informatizadas para planejamento e
coordenação de atividades por empresas estatais; mas somente no final da década de 1990, o
desenvolvimento tecnológico possibilitou o crescimento dos serviços eletrônicos e a abertura
das informações públicas para sociedade (GIL-GARCIA e LANZA, 2016). As políticas e
ações de governo eletrônico iniciaram-se no Brasil com o processo de Reforma do Estado
associado à emergência no uso da TIC, conforme relatam Laia et al (2011).
75
O Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) foi criado pela Portaria
Interministerial nº 147, em 1995, para coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços de
Internet no país.
Em dezembro de 1999, foi instituído no Brasil o Programa Sociedade da Informação,
com o objetivo de viabilizar a nova geração da internet e suas aplicações em benefício da
sociedade brasileira (BRASIL, 2000).
O decreto presidencial de 03 de abril de 2000, criou o Grupo de Trabalho em
Tecnologia da Informação (GTTI), com a finalidade de analisar e propor políticas, diretrizes e
leis relacionadas às novas ferramentas de TIC. O GTTI concentrou seus esforços em três
frentes do programa: universalização de serviços públicos, governo ao alcance de todos e
infraestrutura avançada.
Após dois meses, o GTTI apresentou um relatório de diagnóstico da situação da
infraestrutura e serviços do governo federal, as aplicações existentes e desejadas e a situação
da legislação sobre o assunto. O principal objeto da pesquisa foi propor uma nova política de
interação eletrônica do governo com a sociedade civil organizada. Em 20 de setembro de
2000, o GTTI apresentou a Proposta de Política de Governo Eletrônico para o Poder
Executivo Federal. Este documento deu origem ao Decreto-lei de 18 de outubro de 2000, que
institucionalizou o Comitê Executivo de Governo Eletrônico (CEGE), com o objetivo de
formular políticas, estabelecer diretrizes, coordenar e articular as ações de implantação do
governo eletrônico.
Ainda no ano de 2000, foi criado o portal do governo eletrônico
(www.redegoverno.gov.br), posteriormente alterado para www.brasil.gov.br.
Em 2001, foi lançada a Política de Governo Eletrônico no Brasil, com as seguintes
linhas de ação:
• Oferta na internet de todos os serviços prestados ao cidadão, com melhoria dos
padrões de atendimento, redução de custos e facilidade de acesso;
• Ampliação do acesso a informações pelo cidadão, em formatos adequados, por meio
da internet;
• Promoção da convergência entre sistemas de informação, redes e bancos de dados
governamentais para permitir o intercâmbio de informações e a agilização de
procedimentos;
76
• Implantação de uma infraestrutura avançada de comunicações e de serviços, com
padrões adequados de segurança e serviços, além de alto desempenho;
• Utilização do poder de compra do Governo Federal para a obtenção de custos menores
e a otimização do uso de redes de comunicação;
• Estimulação do acesso à internet, em especial por meio de pontos de acesso abrigados
em instituições públicas ou comunitárias; e
• Concorrência para o fortalecimento da competitividade sistêmica da economia.
O conceito de governo eletrônico apareceu no Brasil no início da década de 2000,
porém limitava-se à prestação de serviços eletrônicos, em geral, por meio de portais na
Internet (BRASIL, 2002).
O Decreto nº 4.829, de 3 de setembro de 2003, regulamenta o Comitê Gestor da
Internet no Brasil (CGI.br) e dispõe sobre o modelo de governança da Internet. As atribuições
do CGI são elencadas no Art. 1º do Decreto nº 4.829/2003, dentre elas, destacam-se:
estabelecer diretrizes estratégicas relacionadas ao uso e desenvolvimento da Internet no
Brasil; estabelecer diretrizes para organização das relações entre o Governo e a sociedade;
propor programas de pesquisa e desenvolvimento relacionados à Internet, visando a
manutenção da qualidade técnica e inovação no uso, bem como a disseminação em todo
território nacional; promover estudos e recomendar procedimentos, normas e padrões
técnicos, operacionais, para a segurança das redes e serviços de Internet; articular ações
relativas à proposição de normas e regulamentação das atividades inerentes à Internet; ser
representado nos fóruns técnicos nacionais e internacionais sobre Internet; adotar
procedimentos administrativos e operacionais para gestão da Internet no Brasil, segundo
padrões internacionais.
Em 07 de julho de 2004, através do Decreto nº 5.134, foi criado o Departamento de
Governo Eletrônico, com atribuições de coordenar e articular a implantação de ações
unificadas e integradas de governo eletrônico; coordenar as atividades relacionadas à
integração da prestação de serviços públicos por meios eletrônicos na Administração Federal;
normatizar o desenvolvimento de ações de governo eletrônico na Administração Federal; e
sistematizar e disseminar informações relacionadas às ações de governo eletrônico da
Administração Federal.
Também no ano de 2004, a CGU criou o Portal da Transparência, canal por meio do
qual o cidadão pode acompanhar e fiscalizar a execução financeira dos programas
77
governamentais, possibilitando o exercício do controle social. Esse Portal disponibiliza ainda
informações sobre recursos públicos transferidos pelo Governo Federal aos estados,
municípios e ao Distrito Federal, bem como os gastos realizados em compras e contratações
de obras e serviços. Os dados divulgados no Portal da Transparência são de responsabilidade
dos ministérios, respectivos executores dos programas de governo. A CGU recepciona, reúne
e disponibiliza informações sobre a aplicação dos recursos no portal. As atualizações dos
dados sobre a execução financeira dos programas e ações do Governo Federal são efetuadas
mensalmente com dados advindos do Fundo Nacional de Saúde, da Caixa Econômica Federal,
da Secretaria do Tesouro Nacional e do Banco do Brasil.
Em 13 de julho de 2005 o governo federal lançou a primeira versão do documento
intitulado Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico (e-PING), definindo um
conjunto mínimo de premissas, políticas e especificações técnicas para utilização das TIC na
interoperabilidade de Serviços de Governo Eletrônico.
As regras contidas no e-PING tornaram-se obrigatórias a partir de 24 de dezembro de
2014 por meio da Portaria SLTI/MP nº 92, para os órgãos da administração pública federal.
As áreas cobertas pela e-PING estão subdivididas em: interconexão, segurança, meios de
acesso, organização e intercâmbio de informações e áreas de integração para governo
eletrônico.
A implementação da política de acesso à informação por meio do governo eletrônico
depende ainda da atuação dos servidores públicos, que em observância às normas legais, são
responsáveis pela concretização das políticas: “Por um lado, servidores públicos devem
obedecer às regras; mas, por outro, também devem inovar e fornecer políticas públicas
(serviços) às pessoas” (MATHEUS e JANSSEN, 2016, p. 85).
Cada órgão da administração pública federal possui uma parcela de responsabilidade
na implantação e no uso do governo eletrônico, e consequentemente tornam-se atores efetivos
para o cumprimento da Lei de Acesso à Informação. Apesar de estarem submetidos aos
mesmos regramentos e atuarem de forma compartilhada em diversos pontos de
interoperabilidade, disponibilizados pelo Estado, a governança eletrônica pode apresentar
diferentes resultados nos diversos órgãos, dependendo de fatores relacionados ao contexto
organizacional, à missão específica, às estratégias adotadas e à infraestrutura em que atuam.
78
5 PREVIDÊNCIA SOCIAL
A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa dos
Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os seguintes direitos: à saúde, à
previdência social e à assistência social (CF/88, Art. 194, caput). O direito à Previdência
Social encontra-se positivado e elencado pela CF/88 dentre os direitos sociais no Art. 6º.
No Brasil, de acordo com a Lei nº 13.341, de 29 de setembro de 2016, a Previdência
Social é composta por três instituições: Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, vinculado
ao Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA); Secretaria de Previdência,
vinculada ao Ministério da Fazenda; e, Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência
– Dataprev, vinculada ao Ministério da Fazenda. Cabe a essas organizações, em conjunto,
gerenciar o sistema de previdência social brasileiro, supervisionando e normatizando a
previdência dos regimes próprios dos servidores, bem como garantindo o funcionamento do
Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
5.1 SECRETARIA DE PREVIDÊNCIA
A Secretaria de Previdência do Ministério da Fazenda é responsável por administrar o
Regime Próprio de Previdência Social (RPPS) também denominado Regime de Previdência
dos Servidores Públicos. De acordo com a Lei nº 9.717, de 27 de novembro de 1998, os
servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, dos militares
dos Estados e do Distrito Federal devem ser organizados em regimes próprios de previdência
social. Nesses regimes, os servidores contribuem compulsoriamente para os entes federativos
que os tenham instituído, com tetos e subtetos definidos pela Emenda Constitucional nº
41/2003. Estão excluídos do RPPS os empregados de empresas públicas, agentes públicos,
servidores temporários e detentores de cargo de confiança. Esses são filiados obrigatórios do
Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
5.2 EMPRESA DE INFORMAÇÃO E TECNOLOGIA DA PREVIDÊNCIA – DATAPREV
A Dataprev é uma empresa pública, que tem como missão fornecer soluções de
tecnologia da informação e da comunicação para a execução e o aprimoramento das políticas
sociais do Estado Brasileiro. Possui sede em Brasília e Unidades de Desenvolvimento de
79
sistemas em cinco estados: Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Santa
Catarina. Conta também com três data centers, localizados no Distrito Federal, no Rio de
Janeiro e em São Paulo.
A Dataprev desenvolve tecnologia para os programas estratégicos e sociais do
governo, envolvendo capacidade computacional e logística para hospedar, manter, gerir,
proteger informações e sistemas; analisar e qualificar dados, antecipar demandas de parceiros,
prestar serviços de consultoria, apoiar a elaboração e a realização de projetos. Entre outros
serviços é responsável pelo processamento do pagamento mensal de cerca de 32 milhões de
benefícios previdenciários e pela aplicação online para liberação do seguro-desemprego. A
empresa processa informações previdenciárias provenientes do sistema da Receita Federal do
Brasil e responde pelas funcionalidades dos programas utilizados nas estações de trabalho do
INSS e do Sistema Nacional do Emprego (SINE).
Ademais, a Dataprev processa e trata grandes volumes de dados, como o Cadastro
Nacional de Informações Sociais (CNIS) - banco de dados que abriga informações necessárias
à garantia de diversos direitos trabalhistas e previdenciários no Brasil, permitindo inclusive o
reconhecimento automático de alguns benefícios previdenciários. O CNIS contém
informações de pessoas físicas e jurídicas, vínculos, remunerações e recolhimentos dos
contribuintes do Regime Geral de Previdência Social (BRASIL, 2010a). Atualmente, o CNIS
está organizado sob a forma de condomínio, com informações provenientes do Banco do
Brasil, Caixa Econômica Federal, Ministério do Trabalho, Ministério da Fazenda.
5.3 INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL
O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) foi criado pela Lei nº 8.029, de 12 de
abril de 1990, mediante a fusão do Instituto de Administração da Previdência e Assistência
Social (IAPAS) com o Instituto Nacional de Previdência Social (INPS): regulamentado pelo
Decreto nº 99.350, de 27 de junho de 1990.
Em 1990, quando da sua criação, o INSS foi vinculado ao Ministério do Trabalho e da
Previdência Social, com a finalidade de promover a arrecadação, fiscalização e cobrança das
contribuições sociais e demais receitas destinadas à Previdência Social, gerir os recursos do
Fundo de Previdência e Assistência Social; conceder e manter os benefícios e serviços
previdenciários; executar as atividades e programas relacionados com emprego, apoio ao
trabalhador desempregado, identificação profissional, segurança e saúde do trabalhador.
80
Em 13 de maio de 1992, por meio da Lei nº 8.422 o governo federal alterou a
vinculação do INSS para o Ministério da Previdência Social (MPS).
Com o decreto nº 3.081, de 10 de Junho de 1999 o INSS deixou de ser vinculado ao
MPS e passou para o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS), tendo sua
finalidade alterada para: promover a arrecadação, a fiscalização e a cobrança das
contribuições sociais destinadas ao financiamento da Previdência Social, na forma da
legislação; e promover o reconhecimento, pela Previdência Social, do direito ao recebimento
de benefícios por ela administrados, assegurando agilidade, comodidade aos seus usuários e
ampliação do controle social.
Em 2 de abril de 2003, com a aprovação do Decreto nº 4.660, o INSS volta a vincular-
se ao Ministério da Previdência Social (MPS), sem alteração de suas finalidades.
A Medida Provisória nº 222, de 4 de outubro de 2004, convertida na Lei nº
11.098/2005, criou a Secretaria da Receita Previdenciária, no âmbito do MPS transferindo-lhe
a competência de arrecadar, fiscalizar, lançar e normatizar o recolhimento, em nome do INSS,
das contribuições sociais e das contribuições instituídas a título de substituição. Em 16 de
março de 2007, com a aprovação da Lei nº 11.457, a Secretaria da Receita Previdenciária foi
extinta e a Secretaria da Receita Federal do Brasil tornou-se competente para planejar,
executar, acompanhar e avaliar as atividades relativas a tributação, fiscalização, arrecadação,
cobrança e recolhimento das contribuições sociais e das contribuições instituídas a título de
substituição.
O Decreto nº 5.257, de 27 de outubro de 2004, alterou a finalidade do INSS,
limitando-a a promover o reconhecimento do direito ao recebimento de benefícios por ela
administrados, assegurando agilidade, comodidade aos seus usuários e ampliação do controle
social.
A Lei nº 13.266, de 5 de abril de 2016, extinguiu o MPS e vinculou o INSS ao
Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). A Lei 13.341, de 29 de setembro de
2016, vinculou o INSS ao Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (MDSA).
O INSS é uma autarquia federal, com estrutura regimental regulamentada pelo
Decreto nº 7.556, de 24 de agosto de 2011, tendo como missão: Garantir proteção ao
trabalhador e sua família, por meio de sistema público de política previdenciária solidária,
inclusiva e sustentável, com o objetivo de promover o bem-estar social.
81
Mediante atuação do INSS o governo federal dá cumprimento ao estabelecido no Art.
201 da CF/88, que prevê a organização de um Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
5.3.1 REGIME GERAL DE PREVIDÊNCIA SOCIAL
O Regime Geral de Previdência Social (RGPS) tem sua política executada pelo INSS,
conforme as regras estabelecidas pela Lei nº 8.213/1991. Devem obrigatoriamente contribuir
para o RGPS os empregadores, empregados assalariados, empregados domésticos,
trabalhadores autônomos (na condição de contribuintes individuais) e os trabalhadores rurais.
A Lei nº 8.213/1991 permite também a contribuição facultativa de maiores de 16 anos desde
que não exerçam atividade remunerada. Excluem-se do RGPS os servidores públicos, de
quaisquer esferas, desde que amparados por Regime Próprio de Previdência Social (RPPS).
Em 2014, o RGPS possuía 54,7 milhões de contribuintes. Considerando que a
população residente no Brasil, para o mesmo ano era estimada em cerca de 203 milhões de
habitantes, pode-se destacar que, aproximadamente 27% da população brasileira era
contribuinte do RGPS e consequentemente potencial usuário dos serviços do INSS.
Em situações em que ocorra a perda da capacidade laboral, dos trabalhadores
vinculados ao RGPS, seja por motivo de doença, invalidez, idade avançada, morte,
desemprego involuntário, maternidade ou reclusão, o INSS é responsável por recepcionar,
analisar e gerar uma renda substitutiva ao salário do trabalhador ativo, mediante a prestação
dos seguintes serviços:
• Aposentadoria por invalidez: benefício de prestação continuada, pago mensal e
vitaliciamente ao segurado que comprova incapacidade ao trabalho perante a perícia
médica do INSS e cumulativamente preenche os demais requisitos da lei.
Excepcionalmente pode ser cessado se o segurado curar-se da doença que originou o
mesmo.
• Aposentadoria por idade: benefício de prestação continuada, pago mensal e
vitaliciamente ao homem que completar 65 anos de idade e à mulher que completar 60
anos de idade. Cumulativamente o filiado deverá comprovar tempo de contribuição de
15 anos, no mínimo.
82
• Aposentadoria por tempo de contribuição: benefício de prestação continuada, pago
mensal e vitaliciamente ao homem que completar 35 anos de contribuição e à mulher
que completar 30 anos de contribuição.
• Aposentadoria especial: benefício de prestação continuada, pago mensal e
vitaliciamente. Possui características similares à aposentadoria por tempo de
contribuição, mas como diferencial, é concedido somente para empregados que
comprovadamente trabalharam sob condições consideradas especiais de acordo com a
lei, e desta forma, adquirem o direito de aposentar com tempo de contribuição
reduzido.
• Auxílio-doença: benefício temporário, pago mensalmente enquanto o segurado
comprovar incapacidade para o trabalho perante a perícia médica do INSS.
• Salário-família: valor pago juntamente com o benefício previdenciário para os
contribuintes das categorias de empregado (inclusive o empregado doméstico) desde
que tenham filhos menores de catorze anos ou inválidos e, cumulativamente possuam
salário que não ultrapasse o limite máximo estabelecido anualmente em Portaria
Ministerial.
• Salário-maternidade: benefício temporário, pago mensalmente por 120 dias a contar da
data do nascimento da criança, ou da adoção, ou do afastamento médico (exceção que
ocorrem quando a gestante tem que afastar-se do trabalho até 28 dias antes do parto).
• Auxílio-acidente: indenização paga mensal e vitaliciamente ao segurado que
comprovar perante a perícia médica que adquiriu capacidade laboral reduzida devido a
uma sequela permanente. Cumulativamente deverá cumprir os demais requisitos da
lei.
• Pensão por morte: benefício de prestação continuada, pago mensalmente aos
dependentes do segurado falecido. Este benefício pode ser vitalício, mas pode ter
duração variada, conforme a quantidade de contribuições que o segurado realizou em
vida e em conformidade com a idade e a categoria do dependente.
• Auxílio-reclusão: benefício temporário, pago mensalmente aos dependentes do
segurado, enquanto permanecer recluso ou detido em regime fechado ou semiaberto.
Assim como no benefício de Salário-família, para que o dependente tenha direito a
este benefício, o último salário do segurado – antes da reclusão - não pode ultrapassar
o limite máximo estabelecido anualmente pela Portaria Ministerial.
83
5.3.2 O ATENDIMENTO DO INSS
A rede de atendimento do INSS é composta pelos seguintes canais: mais de 1500
pontos de atendimento (fixos e móveis), centrais de atendimento telefônico (135) e o Portal
Eletrônico da Previdência Social, na internet.
As centrais de atendimento telefônico (135) são três: em Salvador, Palmas e Caruaru.
São serviços totalmente terceirizados com capacidade de até 3.000 teleatendimentos
simultâneos, de segunda à sábado, das 7:00 às 22:00h.
Além dos usuários contribuintes do RGPS, o INSS atende em muitos casos, os
dependentes dos contribuintes falecidos – beneficiários da Pensão por Morte -, bem como os
dependentes dos contribuintes reclusos – beneficiários do Auxílio-Reclusão.
O governo federal atribui também ao INSS, o atendimento a usuários não-
contribuintes da Previdência Social, que são beneficiários de amparos sociais. O INSS é
responsável então por recepcionar os requerimentos, analisar o direito, conceder e manter os
amparos sociais previstos na Lei nº 8.742/1993 (conhecida como Lei Orgânica de Assistência
Social – LOAS):
• Amparo Social ao Idoso: amparo assistencial vitalício, pago mensalmente no valor de
um salário mínimo ao idoso que completar 65 anos de idade e não possuir renda
suficiente para manter a si mesmo e à sua família, conforme os critérios da LOAS.
• Amparo Social à Pessoa com Deficiência: amparo assistencial, pago mensalmente no
valor de um salário mínimo ao cidadão que comprovar perante a perícia médica do
INSS deficiência física, mental, intelectual ou sensorial que o impossibilite de
participar plena e efetivamente da sociedade, em condições de igualdade.
Cumulativamente deverá comprovar que não possui renda familiar suficiente para
manter-se, conforme os critérios da LOAS.
Ambos benefícios assistenciais (Amparo Social ao Idoso e Amparo Social à Pessoa
com Deficiência) independem de contribuições para o RGPS.
De acordo com o Boletim Estatístico da Previdência Social, no mês de outubro de
2016, o INSS recebeu 710,1 mil requerimentos de benefícios em todo o Brasil, dos quais
378,6 mil foram concedidos e 296,9 mil foram indeferidos. Os demais requerimentos
permaneceram em análise. O tempo médio, gasto para concessão dos benefícios no mês de
outubro/2016 foi de 54 dias.
84
O benefício mais concedido no mês de outubro de 2016 foi o Auxílio-doença
previdenciário, com 41,45%, conforme Gráfico 1.
85
Gráfico 1. Distribuição percentual da quantidade de benefícios concedidos
Fonte: Boletim Estatístico da Previdência Social – Vol. 21 Nº 10 – Outubro/2016
Além dos 378,6 mil novos benefícios concedidos no mês de outubro de 2016, o INSS já contava com 33,7 milhões de benefícios em
manutenção (benefícios emitidos) – inclui os benefícios de prestação continuada (aposentadorias, auxílio-acidente, pensões e amparos) mais os
benefícios temporários (auxílio-doença, auxílio-reclusão e salário maternidade) que já estavam sendo pagos, conforme distribuição percentual
demonstrada no gráfico abaixo.
Gráfico 2. Distribuição percentual da quantidade de benefícios emitidos
Fonte: Boletim Estatístico da Previdência Social – Vol. 21 Nº 10 – Outubro/2016
86
5.4 O PORTAL ELETRÔNICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
A criação do sítio eletrônico da Previdência Social deu-se em grande parte em virtude
das medidas e exigências advindas com a adoção do modelo organizacional da Nova Gestão
Pública (NGP) para os órgãos da administração pública federal, sobretudo à necessidade de
eficiência na prestação dos serviços públicos. Com o passar do tempo, a incorporação de
novos recursos tecnológicos possibilitaram à Previdência Social ofertar uma variedade maior
de serviços e informações por meio da Internet.
Com o advento da Lei de Acesso à Informação, o Portal da Previdência Social passa a
constituir-se também no meio pelo qual seus órgãos (INSS e Secretaria de Previdência) dão
cumprimento aos requisitos legais de disponibilizar as informações com transparência,
mediante o uso de recursos que garantam acessibilidade e usabilidade.
5.4.1 A CRIAÇÃO
Em 1997, o Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado – MARE –
elaborou o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado com objetivo principal de
retomar a “capacidade de governança do Estado, fundamentada na introdução de
metodologias de modernização da gestão pública, na revisão do sistema jurídico/legal e das
formas de propriedade do Estado” (BRASIL, 1997, p. 12). Dentre as novas orientações, a
implantação do Programa da Qualidade e Participação na Administração Pública “foi
destacada como importante instrumento para a eficiência do aparelho estatal, aliada
imprescindível para a melhoria da qualidade dos bens e serviços produzidos no País e,
principalmente, para a melhoria da qualidade de vida do cidadão” (BRASIL, 1997, p. 12).
Segundo as diretrizes estratégicas do programa de Qualidade e Participação, os órgãos
da administração pública federal deveriam implantar e conduzir de forma descentralizada e
internamente suas ações de Qualidade, dentro das premissas estabelecidas pelo MARE
(BRASIL, 1997, p. 33).
O Ministério da Previdência Social - ao qual o INSS encontrava-se então vinculado –
instituiu, por meio da Portaria nº 4.508, de 23 de junho de 1998 o Programa de Melhoria do
Atendimento (PMA) com finalidade de rever o atendimento e atender à necessidade de
“agilidade na prestação de seus serviços, comodidade de seus usuários e ampliação do
controle social” (BRASIL, 1998).
87
Dentre as prioridades estabelecidas pelo PMA, encontravam-se: o autoatendimento; a
integração de sistemas e bases de dados; o acesso a informações e serviços por meio da
utilização de redes públicas de comunicação; controle social exercido pelo direito de queixa.
Para implantação do PMA foi criada a seguinte estrutura colegiada: Coordenação-
Executiva; Coordenação de Estudos e Projetos; Coordenação de Recursos Tecnológicos;
Coordenação de Recursos Logísticos; Coordenação de Recursos Humanos; Coordenação de
Comunicação Social.
Para criação do Portal Eletrônico da Previdência Social (www.mpas.gov.br), no ano de
1999, as seguintes coordenações atuaram decisivamente em suas respectivas atribuições:
• A Coordenação de Estudos e Projetos: competente para ofertar informações e serviços
por meio da utilização de redes públicas de comunicação; e ampliar o controle social
pelo direito de queixa.
• A Coordenação de Recursos Logísticos: competente para promover articulação entre
os órgãos do Ministério incumbidos de providenciar o suporte administrativo
necessário à implementação do programa.
• A Coordenação de Recursos Tecnológicos: competente para desenvolver os projetos
de gestão dos recursos de informação e informática a serem utilizados no atendimento
ao usuário, com previsão de ofertar serviços por meio de redes públicas de
comunicação.
• A Coordenação de Comunicação Social: competente para estabelecer a padronização
da linguagem, inclusive visual, nos instrumentos de comunicação impressa e
tecnológica, como publicações, quiosque de autoatendimento, internet, vídeo
institucional e telemarketing.
5.4.2 O DESENVOLVIMENTO
Dando continuidade ao PMA, no ano seguinte à criação do Portal, foi aprovado o
Plano Anual de Ação do INSS, pela Resolução INSS/DC nº 21, de 24 de abril de 2000,
estabelecendo, dentre as metas, a implantação dos sistemas informatizados para melhoria do
controle gerencial, bem como apresentando um projeto de ampliação de 30% da prestação de
serviços por intermédio de mecanismos de autoatendimento (Internet, quiosques e telefone).
88
Ainda no ano de 2000, a partir de agosto, os requerimentos de Salário Maternidade
para seguradas empregadas passaram a ser disponibilizados via Internet, no site
www.mpas.gov.br, com posterior envio de documentação ao INSS pelo correio, conforme
determinações contidas na Instrução Normativa INSS/DC nº 33, de 31 de julho de 2000. A
partir de janeiro de 2001, com a Orientação Interna INSS/DIRBEN nº 46, os requerimentos de
Pensão por Morte para dependentes de segurado beneficiário tornaram-se possíveis também
através da Internet. Os requerimentos de benefício de Auxílio-Doença foram disponibilizados
pela Internet, a partir de 15 de março de 2001, contudo, mantendo a necessidade do
comparecimento pessoal à perícia médica e apresentação dos documentos solicitados nesta
data.
A partir de maio de 2001, a Portaria MPAS nº 847/2001 dispôs sobre a
obrigatoriedade do titular do Cartório de Registro Civil de Pessoas Naturais comunicar pela
Internet, ao INSS o registro dos óbitos ocorridos no mês imediatamente anterior, diminuindo
desta forma a fragilidade do sistema previdenciário para cessação do pagamento de benefícios
quando do falecimento de seus titulares.
A partir de janeiro de 2002, o INSS passou a disponibilizar a inscrição e o pagamento
via Internet aos cidadãos interessados em contribuir com a Previdência Social na categoria de
Facultativo ou Contribuinte Individual (antigos autônomos). As explicações e esclarecimentos
quanto aos direitos e às obrigações passaram a constar no Portal Eletrônico (alterado para
www.previdenciasocial.gov.br ou www.mps.gov.br – ambos endereços referentes a um
mesmo site), juntamente com orientações – passo a passo – para preenchimento da inscrição,
cálculo da contribuição e opção de pagamento mediante débito automático em conta corrente.
Com a Instrução Normativa nº 1, de 8 de agosto de 2002, do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão, o INSS assim como os demais órgãos da administração
pública federal passaram a divulgar eletronicamente as informações sobre compras e
contratações, registrando e divulgando os valores praticados, tanto na Imprensa Nacional
como na Internet, por meio do site www.comprasnet.gov.br. A partir de 1/1/2005, a
Previdência Social passou a divulgar as referidas informações também no Portal da
Previdência.
A partir de meados de 2003, a Previdência Social criou mecanismos possibilitando, via
Internet:
89
• Cálculo e impressão da Guia da Previdência Social (GPS) para recolhimento, inclusive
em atraso, para contribuintes das categorias de Facultativo, Individual, Doméstico e
Segurado Especial;
• Cadastramento e inscrição, gerando um Número de Inscrição do Trabalhador (NIT)
para os cidadãos que ainda não estivessem inscritos - geralmente jovens ou
trabalhadores atuantes no mercado de trabalho informal.
Em maio de 2003, o então Ministro da Previdência Social, divulgou pelo Portal
Eletrônico da Previdência Social, uma lista referente aos 176 maiores devedores do INSS em
cumprimento à determinação do então vigente Art. 81 da Lei nº 8.212/1991:
O Instituto Nacional do Seguro Social-INSS divulgará, trimestralmente,
lista atualizada dos devedores das contribuições previstas nas alíneas "a", "b"
e "c" do parágrafo único do art. 11, bem como relatório circunstanciado das
medidas administrativas e judiciais adotadas para a cobrança e execução da
dívida (grifo nosso).
Com esta medida, foram divulgados os nomes e os valores das dívidas, bem como um
relatório com explicações técnicas sobre os procedimentos e os entraves para a cobrança –
existência de sigilos, dificuldades operacionais para localização de bens dos devedores,
tramitação de processos de execução fiscal, brechas legais que dificultam o reconhecimento
dos devedores e dos responsáveis solidários. Em outubro do mesmo ano, o Ministro divulgou
novamente pela Internet, a lista atualizada dos devedores, excluindo os titulares que já haviam
aderido ao parcelamento especial e aqueles com exigibilidade suspensa por meio de depósito.
Não obstante ao ordenamento da Lei nº 8.212, vigente desde 1991, até 2003 não há
registros de divulgações de devedores do INSS, com tamanha amplitude. Contudo, a referida
divulgação rendeu para o INSS inúmeras ações de dano moral por parte das empresas
devedoras que tiveram suas informações divulgadas. Além disso, a Lei nº 11.941, de 27 de
maio de 2009, revogou o Art. 81 da Lei nº 8.212/91.
Ainda no ano de 2003, a Previdência Social criou um link para possibilitar ao cidadão
a consulta ao Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) – relatório que contém todos
os vínculos empregatícios e contribuições vertidas ao RGPS, incluindo nome do empregador,
salários, período trabalhado – mediante informação do PIS ou NIT e senha. Esse acesso
possibilita ao empregado verificar se as empresas para qual trabalha (ou trabalhou) estão
repassando para o INSS suas contribuições corretamente; bem como permite aos contribuintes
individuais e facultativos monitorar suas contribuições previdenciárias.
90
Em abril de 2003, quando a Previdência Social por meio do INSS ainda era
responsável por promover a arrecadação, a fiscalização e a cobrança das contribuições sociais,
foi criado o “Programa Baixa de Empresa Web”, possibilitando às empresas as seguintes
ações via Internet:
• Consultar sua situação perante o INSS;
• Emitir uma Certidão Negativa de Débito (CND), se não houvesse impedimento;
• Dar baixa da empresa em tempo real;
• Acessar e imprimir um relatório discriminativo nos casos em que houvessem as
restrições de impedimento a concessão automática da CND.
Em meados de 2005 iniciou-se o Sistema de Agendamento Eletrônico (SAE) do INSS,
possibilitando aos cidadãos agendar atendimento com hora marcada em quaisquer Agências
da Previdência Social, via Internet. Contudo, para propagação desse serviço, inicialmente foi
preciso fazer convênios com entidades representantes de empresas para que os requerimentos
de auxílio-doença de seus empregados, que representam grande demanda ao INSS, passassem
a ser agendados pela Internet (DATAPREV, 2013, p. 39).
Até o ano de 2005 verifica-se o incremento do Portal Eletrônico da Previdência Social
com os seguintes serviços do INSS:
• Requerimento de benefício de Auxílio-Doença e agendamento da perícia médica;
• Envio da Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT);
• Acompanhamento no andamento de pedidos iniciais de benefício e de revisão;
• Atualização de endereço, consulta à forma de cálculo e ao extrato dos pagamentos,
para benefícios já concedidos;
• Programação de contribuição mensal com débito automático em conta corrente.
O INSS avalia que apesar de todos os esforços, os avanços obtidos com a
modernização da Previdência Social não foram capazes de solucionar grande parte dos
problemas da autarquia relacionados ao atendimento dos segurados “marcado por períodos de
grandes dificuldades, desorganização e, em alguns casos situações caóticas” (INSS, 2008, p.
1).
Em junho de 2006, o INSS implantou o Plano de “Atendimento Programado do
Instituto Nacional do Seguro Social”, com objetivo de direcionar expressiva parcela do
91
atendimento presencial para os canais remotos – Internet e Central de Teleatendimento 135.
Conforme a Diretoria de Atendimento do INSS, a intensificação no uso da tecnologia
permitiu que cerca de 18 milhões de segurados passassem a utilizar o Teleatendimento e o
Portal da Previdência Social a cada mês, antes de comparecerem presencialmente a uma
Agência da Previdência Social. Uma parcela desses cidadãos necessita apenas de informações
básicas, cujo atendimento remoto é suficiente. Outros usuários têm necessidade de
comparecer pessoalmente a uma Agência da Previdência Social, contudo, os canais remotos
possibilitam que este usuário faça o prévio agendamento, e orientam-no sobre os documentos
a serem apresentados na data agendada. Para esses casos, o Atendimento Programado do
INSS contribuiu para o “combate às filas no horário de abertura das unidades” (INSS, 2008,
p. 2).
A partir de 2008, a Lei Complementar nº 128 passou a permitir ao INSS utilizar as
informações do CNIS (Cadastro Nacional de Informações Sociais) para concessão de
benefícios, dispensando a obrigatoriedade de apresentação de documentos físicos por parte
dos cidadãos. Isso tonou possível o reconhecimento automático de direitos para os filiados
que já possuem seus vínculos, remunerações e contribuições em relação a todo o período
contributivo registrado no CNIS. O reconhecimento automático passou a permitir ao filiado
“que ele não só requeira a sua aposentadoria por meio da internet como também a simule e,
conhecendo o resultado da simulação, decida por confirmar o pedido ou postergá-lo para
momento mais oportuno” (BRASIL, 2013, p. 64).
A Previdência Social estima que as Agências Eletrônicas, ou seja, o Portal Eletrônico
da Previdência Social, em 2013 já recebia mais de 1 milhão de acessos por mês. Os links mais
visitados eram: Guia da Previdência Social, Agendamento Eletrônico, Auxílio-Doença,
Aposentadoria por Tempo de Contribuição, Simulador de Aposentadoria, Extrato
Previdenciário e consultas às decisões das Câmaras e Juntas de Recursos da Previdência
Social (BRASIL, 2013, p. 13).
O Portal Eletrônico da Previdência Social, criado no ano de 1999,
www.previdencia.gov.br, abriga atualmente informações sobre o INSS, a Secretaria de
Previdência e sobre outros assuntos afins.
O público alvo potencial, a ser considerado para o Portal Eletrônico da Previdência
Social é formado por cidadãos vinculados ao RGPS (ativos e inativos): cerca de 55 milhões
de contribuintes filiados ao RGPS e 33,5 milhões de beneficiários.
92
Também os gestores e administradores dos Regimes Próprios de Previdência Social
provenientes dos diversos órgãos públicos constituem público para o Portal da Previdência
Social. Mas as informações específicas sobre os diversos regimes próprios de previdência, dos
servidores públicos (municipais, estaduais e federais), bem como as informações sobre os
benefícios dos regimes próprios não são divulgados no Portal da Previdência Social, pois cada
um dos regimes próprios mantém tais informações nos sites de seus respectivos órgãos
públicos. Por isso, os servidores públicos e os beneficiários dos RPPS não constituem o
público alvo do Portal da Previdência Social.
Algumas informações sobre saúde e segurança do trabalhador podem ser encontradas
no Portal da Previdência Social, mas o site específico para esse tema é o Portal do Ministério
do Trabalho. Da mesma forma, informações sobre Previdência Complementar podem ser
obtidas diretamente no Portal Eletrônico da Superintendência Nacional de Previdência
Complementar (PREVIC), que trabalha com Entidades Fechadas de Previdência
Complementar (EFPC) patrocinadas por órgãos públicos ou empresas privadas, de caráter
privado e facultativo e por isso não se confunde com a previdência social, de caráter
obrigatório. Desta forma, os públicos interessados em informações e serviços acerca dos
temas Trabalho e Previdência Complementar, não são considerados alvo para o Portal da
Previdência Social.
93
Figura 1: Página inicial do Portal Eletrônico da Previdência Social
Fonte: www.previdencia.gov.br em 28 de julho de 2016
94
O menu lateral à esquerda, oferece os seguintes serviços e informações:
• Serviços do INSS: Agendamento; Guia da Previdência Social; Carta de concessão;
Consulta de situação de benefício; Extrato de pagamento de benefício; Todos os
serviços.
• Informações sobre benefícios do INSS: Aposentadoria por tempo de contribuição;
Auxílio-doença; Pensão por Morte; Salário-maternidade; Todos os benefícios.
• Regimes Próprios de Previdência: Certificado de Regularidade Previdenciária;
Demonstrativos; Sistemas; Legislação dos RPPS; Mais informações.
• Outros assuntos: Assuntos internacionais; FAP (Fator Acidentário de Prevenção);
Conselhos de Recursos; Políticas de Previdência Social; Previdência Complementar;
Saúde e Segurança do Trabalhador.
• Acesso à Informação: Institucional; Ações e programas; Participação Social;
Auditorias; Convênios e transferências; Receitas e Despesas; Licitações e Contratos;
Servidores; Informações classificadas; Serviço de Informação ao Cidadão (SIC).
Com as exigências introduzidas pela Lei de Acesso à Informação os sites
governamentais deixam de ser meras ferramentas que possibilitam aprimorar o atendimento
público. Passa-se a exigir dos órgãos públicos uma postura de transparência ativa,
disponibilizando informações, via Internet, independentemente de requerimento. Além disso,
a LAI exige a utilização de mecanismos que garantam a divulgação das informações dentro de
padrões de acessibilidade e usabilidade.
Contudo, quando da adaptação do sítio eletrônico para efetivo cumprimento da LAI
podem ocorrer desvios ou falhas que levem a resultados diferentes ou distorcidos dos
inicialmente propostos pelo legislador quando da elaboração da LAI. Assim sendo, para
verificar a qualidade da transparência ativa de um sítio eletrônico, com a aplicação dos
recursos tecnológicos e adoção de critérios de acessibilidade e usabilidade a presente pesquisa
propõe uma investigação, com adoção de metodologia específica.
95
6 ANÁLISE DO PORTAL ELETRÔNICO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL
A Lei de Acesso à Informação (Lei nº 12.527, de 18 de novembro de 2011),
regulamentada pelo Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012, criou para os órgãos da
administração pública federal obrigação de disponibilizar ao público, via Internet, todas as
informações por eles produzidas ou custodiadas, ressalvadas as hipóteses de sigilo legalmente
estabelecidas. A LAI ressalta que os procedimentos nela previstos devem ser executados em
conformidade com os princípios básicos da administração pública e dentre as diretrizes a
serem observadas, o desenvolvimento do controle social da administração pública encontra-se
elencado pelo legislador. A LAI prevê que o acesso a informações públicas será assegurado
mediante realização de “audiências ou consultas públicas, incentivo à participação popular ou
a outras formas de divulgação” (Art. 9º, II).
Contudo, as leis são gerais e abstratas e concorrem para prestigiar os valores de
impessoalidade e de igualdade. Os regulamentos destinam-se à execução das leis e não podem
extravasar os termos das mesmas, mas servem para aclarar a compreensão, explicitar o
conteúdo, dando interpretação, explicação, desenvolvimento ou pormenorização ao texto
regulamentado. Além dessas normas, a pirâmide jurídica aloja em nível inferior ao
regulamento, os atos subalternos que podem ser expedidos por autoridades hierarquicamente
inferiores. Se o regulamento não pode ultrapassar os limites criados pela lei, tampouco as
normas infra-regulamentares poderão fazê-lo, mas são criadas justamente quando há
necessidade de esclarecer pontos relevantes, para possibilitar a efetiva aplicação da lei em
casos concretos. Desatender à lei implica em inconstitucionalidade, assim também todo o
conjunto de normas infralegais estabelecem regras coercitivas para os cidadãos e para
administração pública (MELLO, 2011).
A Lei de Acesso à Informação estabelece as regras gerais e abstratas a serem
obedecidas pelos órgãos da administração pública para divulgação de suas informações.
Quanto à acessibilidade, estabelece os requisitos a serem respeitados pelos sítios eletrônicos e
determina a adoção de medidas referidas na Lei nº 10.098/2000 e na Convenção sobre os
Direitos das Pessoas com Deficiência (2007), Art. 8º § 3º inciso VIII da LAI.
O Decreto nº 7.724/2012 regulamenta a LAI para os órgãos da administração pública
federal, apresentando detalhes e interpretações que o chefe do poder executivo julgou
pertinentes, sem contudo ultrapassar sua competência.
96
O Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico (e-MAG), foi desenvolvido pelo
Departamento de Governo Eletrônico, a fim de apresentar diretrizes para promoção da
acessibilidade nos portais do governo federal. A primeira versão do e-MAG foi elaborada em
2005 – antes da aprovação da LAI, mas em função do Governo Eletrônico -, e a Portaria nº 3
de 7 de maio de 2007 - do secretário de logística e tecnologia da informação do Ministério do
Planejamento, Orçamento e Gestão - tornou seu uso obrigatório para os órgãos da
administração pública federal.
Em 2014 foi elaborada a versão atual do Modelo de Acessibilidade em Governo
Eletrônico (e-MAG 3.1/2014), cuja elaboração foi norteada pelas seguintes normas: Lei nº
10.098/2000, Decreto nº 7.724/2012, Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas
com Deficiência (2007), Lei nº 12.527/2011 (BRASIL, 2014, p. 11).
A Cartilha de Codificação em Governo Eletrônico 2.1/2010 foi elaborada pelo
Departamento de Governo Eletrônico com o objetivo de detalhar recomendações em
codificação, segundo os padrões Web para sítios, portais e serviços de governo eletrônico, a
fim de torná-los identificáveis, portáveis, relevantes, acessíveis e efetivos à população
(BRASIL, 2010b).
A Cartilha de Usabilidade em Governo Eletrônico 1.2/2010 foi também elaborada pelo
Departamento de Governo Eletrônico e apresenta 67 diretrizes a serem obedecidas pelos
portais eletrônicos dos órgãos da administração pública federal, com o objetivo de “assegurar
que qualquer pessoa consiga usar o sitio e que este funcione da forma esperada pela pessoa”
(BRASIL, 2010c, p. 6).
Todas as normas acima elencadas numa hierarquia jurídica - Lei de Acesso à
Informação, Decreto Regulamentador nº 7.724/2012, e-MAG, Cartilha de Codificação e
Cartilha de Usabilidade do governo eletrônico – foram conjuntamente entendidas e adotadas
para a formação das categorias, pois estabelecem regras, desde gerais até detalhes específicos
e sistemáticos a serem obedecidos para que as informações sejam disponibilizadas nos portais
eletrônicos do governo federal dentro dos padrões de acessibilidade e usabilidade.
Entretanto, a LAI requer ainda a adoção de medidas que incentivem a participação
popular. O referencial teórico abordado no capítulo 3 demonstra também que os diversos
modelos organizacionais contemporaneamente propostos para administração pública no Brasil
compartilham de uma preocupação crucial: a necessidade de fomentar e aprimorar o processo
de participação cidadã para garantir uma administração pública democrática.
97
Segundo Duarte (2011), a comunicação pública pode garantir não somente
informações, mas também o direito à expressão e a oportunidade de diálogo. Gomes (2011)
considera a Internet importante e útil para que as pessoas obtenham informações, pois estas
são fundamentais para uma possível participação futura. Contudo, é fundamental que existam
meios de participação para que “os concernidos pelas decisões que afetam a comunidade
política possam se tornar participantes se e quando e ainda no que queiram” (GOMES, 2011,
p. 37).
Duarte (2011) apresenta uma lista exemplificativa de instrumentos mais fortemente
ligados ao diálogo, capazes de estimular o exercício da cidadania ativa: atendimento, fóruns
de consulta, oficinas de mobilização social, grupos de trabalho, orçamento participativo,
ouvidorias, conselhos, listas de discussão, comunidades de informação, teleconferências,
redes de diferentes tipos, reuniões, mesas de negociação, câmaras técnicas, conselhos
setoriais, eventos dirigidos, conselhos gestores, centrais e serviços de atendimento ao cidadão,
agentes sociais, consultas públicas.
O presente estudo por meio de uma pesquisa de campo apresenta observações sobre
como de fato a Previdência Social utiliza o Portal Eletrônico no que tange à efetiva aplicação
dos recursos tecnológicos de acessibilidade e usabilidade para dar cumprimento às exigências
de transparência ativa, com incentivo à participação popular.
Para o presente estudo, a Lei de Acesso à Informação, o Decreto nº 7.724/2012, o
Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico, a Cartilha de Codificação e a Cartilha de
Usabilidade, tiveram suas regras conjuntamente adotadas para construção dos parâmetros que
possibilitam avaliar o Portal da Previdência Social quanto à transparência ativa, acessibilidade
e usabilidade.
Com base nos referenciais teóricos foram estabelecidos os parâmetros que possibilitam
a avaliação do Portal da Previdência Social em relação à obrigação de incentivar a
participação popular.
O INSS, que já vinha utilizando o Portal Eletrônico da Previdência Social para
melhoria do atendimento ao público; a partir de 2012, passou a utilizá-lo também para dar
cumprimento à LAI. Atualmente, embora vinculado ao Ministério do Desenvolvimento Social
e Agrário (MDSA), o INSS continua a utilizar o Portal da Previdência Social. Os serviços e
informações disponibilizados pela Secretaria de Previdência (do Ministério da Fazenda) neste
mesmo endereço eletrônico são também analisados na presente pesquisa. Na coleta de dados
98
não houve distinção entre informações e serviços provenientes de um ou de outro órgão,
considerando que ambos compõem a Previdência Social atualmente, muito embora vinculados
a diferentes ministérios.
A amostra de dados para a presente pesquisa foi coletada nos meses de julho a
dezembro de 2016 a partir de observações e captura de telas do Portal Eletrônico da
Previdência Social, no endereço eletrônico www.previdencia.gov.br.
A contextualização dos dados ocorre em função da obrigatoriedade do cumprimento
das regras legais, sob padrões objetivos e formais, bem como em função da obrigatoriedade
dos órgãos públicos em atender ao princípio da moralidade, segundo o qual os atos e
procedimentos adotados pela administração pública não podem confundir, dificultar ou
minimizar o exercício dos direitos – informações, serviços e oportunidades democráticas –
dos cidadãos. A contextualização relaciona-se também ao perfil do público alvo e ao tipo de
informações e serviços que demandam. Reconhecendo que a forma como os recursos de
acessibilidade e usabilidade são administrados podem construir uma linguagem para
mediação simbólica que possibilita a participação da sociedade em maior ou menor grau.
Para leitura e interpretação dos dados coletados, foi adotado o método da análise de
conteúdo, que, segundo Bardin (2009) consiste num conjunto de técnicas de análise, com
adoção de procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens.
Segundo a autora, a análise deve ser realizada em etapas que envolvem:
• Pré análise - definição do corpus da pesquisa, ou seja, do conjunto de documentos que
envolvem e relacionam o tema problematizado com a fundamentação teórica, os dados
coletados e a investigação proposta.
• Exploração do material – tratamento e separação do material coletado em categorias
que condensam e fornecem uma representação simplificada dos dados brutos.
• Tratamento dos resultados – inferência e interpretação do material coletado e
organizado.
Bauer e Gaskell (2002) definem análise de conteúdo como um método para análise de
textos, relatando que muito embora a maior parte das análises de conteúdo culminem com
descrições numéricas sobre características do texto, o foco de atenção desta metodologia está
nos tipos, qualidades e distinções encontradas no texto, acima de qualquer quantificação.
99
Para a presente pesquisa o método de análise de conteúdo, possibilitou a organização
dos dados em categorias e a aplicação de processos técnicos em perspectiva quantitativa, com
verificação da frequência de ocorrências determinantes que indicam os resultados. A base de
dados quantitativos, com a indicação das categorias presentes ou ausentes, fornece elementos
a serem investigados qualitativamente a fim de interpretar pontos essenciais que interferem
nos resultados da pesquisa de forma complementar.
As categorias utilizadas na análise foram construídas e organizadas, destacando
elementos interdependentes constantes no referencial teórico e no conjunto normativo: LAI,
Decreto nº 7.724/2012, e-MAG, Cartilha de Codificação e Cartilha de Usabilidade. Com base
no referencial teórico foram criadas categorias para possibilitar uma avaliação do Portal
Eletrônico da Previdência Social quanto ao uso de ferramentas que estimulam a participação
dos indivíduos e da sociedade.
Após a coleta, os dados brutos foram organizados e classificados de forma sistemática
a partir de significados e valores a fim de serem avaliados sob quatro diferentes prismas:
• Quanto à transparência ativa – conforme categorias construídas a partir das exigências
da LAI e do Decreto nº 7.724/2012.
• Quanto à acessibilidade – conforme resultados objetivos, sistemática e
quantitativamente programados pelos testes de validação automática: AccessMonitor,
Markup Validation Service e CSS Validation Service.
• Quanto à usabilidade – conforme categorias construídas a partir das diretrizes
propostas pela Cartilha de Usabilidade.
• Quanto à interatividade – conforme categorias construídas a partir do referencial
teórico para atender exigência da LAI de assegurar o acesso à informação pública
incentivando a participação popular.
6.1 TRANSPARÊNCIA ATIVA
O § 1º do Art. 8º da LAI apresenta seis incisos que correspondem às informações
mínimas que devem ser divulgadas pelos órgãos públicos independentemente de
requerimentos:
100
I - registro das competências e estrutura organizacional, endereços e
telefones das respectivas unidades e horários de atendimento ao público;
II - registros de quaisquer repasses ou transferências de recursos financeiros;
III - registros das despesas;
IV - informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os
respectivos editais e resultados, bem como a todos os contratos celebrados;
V - dados gerais para o acompanhamento de programas, ações, projetos e
obras de órgãos e entidades; e
VI - respostas a perguntas mais frequentes da sociedade.
O § 2º do Art. 7º do Decreto nº 7.724/2012 apresenta nove incisos que correspondem
às informações mínimas que devem ser divulgadas pelos órgãos públicos independentemente
de requerimentos:
I - estrutura organizacional, competências, legislação aplicável, principais
cargos e seus ocupantes, endereço e telefones das unidades, horários de
atendimento ao público;
II - programas, projetos, ações, obras e atividades, com indicação da unidade
responsável, principais metas e resultados e, quando existentes, indicadores de
resultado e impacto;
III - repasses ou transferências de recursos financeiros;
IV - execução orçamentária e financeira detalhada;
V - licitações realizadas e em andamento, com editais, anexos e resultados,
além dos contratos firmados e notas de empenho emitidas;
VI - remuneração e subsídio recebidos por ocupante de cargo, posto,
graduação, função e emprego público, incluindo auxílios, ajudas de
custo, jetons e quaisquer outras vantagens pecuniárias, bem como proventos
de aposentadoria e pensões daqueles que estiverem na ativa, de maneira
individualizada, conforme ato do Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão;
VII - respostas a perguntas mais frequentes da sociedade;
VIII - contato da autoridade de monitoramento, designada nos termos do art.
40 da Lei nº 12.527, de 2011, e telefone e correio eletrônico do Serviço de
Informações ao Cidadão - SIC; e
IX - programas financiados pelo Fundo de Amparo ao Trabalhador – FAT
O § 8º do Art. 7º do Decreto nº 7.724/2012 determina que as informações referentes ao
inciso IX serão de responsabilidade do Ministério do Trabalho e Emprego para divulgação em
seu respectivo sítio eletrônico. Assim, este inciso não foi considerado no estudo, deixando de
constar sua exigência no rol de categorias para análise da transparência ativa.
Para possibilitar a análise da transparência ativa no Portal da Previdência Social,
forma criadas 5 categorias que sintetizam as exigências do § 1º do Art. 8º da Lei de Acesso à
101
Informação e do § 3º do Art. 7ª do Decreto nº 7.724/2012. A seguir, cada uma das categorias
foi desmembrada em subcategorias que permitem uma análise pormenorizada sobre os
aspectos críticos e satisfatórios do Portal em relação à obrigação de divulgar cada um dos
itens subcategorizados proativamente.
A primeira categoria, "estrutura dos órgãos públicos", sintetiza as exigências contidas
no inciso I do § 1º do Art. 8º da LAI e no inciso I do § 3º do Art. 7º do Decreto nº 7.724/2012.
Nesta categoria foram analisadas as informações disponibilizadas sobre a estrutura do INSS e
da Secretaria de Previdência, por serem estes os dois órgãos da Previdência Social que
utilizam o Portal Eletrônico da Previdência Social. A partir desta categoria foram criadas 7
subcategorias: 1) Estrutura organizacional, 2) Competências, 3) Legislação aplicável, 4)
Principais cargos e seus ocupantes, 5) Endereço das unidades, 6) Telefone das unidades, 7)
Horário de atendimento ao público.
A segunda categoria, “ações relacionadas à atividade-fim”, sintetiza as exigências de
transparência ativa contidas no inciso V do § 1º do art. 8º da LAI e no inciso II do § 2º do Art.
7º do Decreto nº 7.724/2012. Essa categoria foi desmembrada em outras 7 subcategorias,
numeradas no quadro 1 de 8 à 14 para possibilitar uma análise detalhada acerca dos seguintes
subitens: 8) Programas, 9) Projetos, 10) Ações, 11) Obras e atividades, 12) Metas, 13)
Resultados, 14) Indicadores de resultado e impacto.
Na terceira categoria, “administração dos recursos financeiros”, estão contidas as
exigências dos incisos II, III e IV do § 1º do Art. 8º da LAI e dos incisos III, IV e V do § 2º do
Art. 7º do Decreto nº 7.724/2012, que tratam sobre a obrigatoriedade dos órgãos públicos
disponibilizarem proativamente informações sobre suas despesas. Essa categoria foi
subdividida em outras 7 subcategorias, numeradas de 15 a 21 no quadro 1: 15) Repasses ou
transferências, 16) Execução orçamentária e financeira, 17) Editais e anexos de licitações
realizadas, 18) Editais e anexos das licitações em andamento, 19) Resultados de licitações,
20) Contratos firmados, 21) Notas de empenho emitidas.
A categoria 4, “aplicação dos recursos financeiros com pessoal”, sintetiza os gastos
com quaisquer espécies remuneratórias, conforme as determinações contidas no inciso VI do
§ 2º do Art. 7º do Decreto nº 7.724/2012. Essa categoria foi desmembrada em 5 subcategorias
que, no quadro 1 foram numeradas de 22 a 26: 22) Remuneração e subsídio dos servidores,
23) Graduação, 24) Função e emprego público do ocupante de cargo, 25) Auxílios, ajudas de
custo, jetons e outras vantagens pecuniárias dos servidores, 26) Proventos de aposentadoria e
pensões dos servidores que estão na ativa.
102
A quinta e última categoria a ser analisada para verificação da transparência ativa é
“atendimento às demandas da sociedade”, e possibilita analisar o cumprimento das exigências
contidas no inciso VI do § 1º do Art. 8º da LAI e no inciso VII do § 2º do Art. 7º do Decreto
nº 7.724/2012. Essa categoria foi dividida nas seguintes subcategorias: 27) Perguntas e
respostas, 28) Contato da autoridade máxima dos órgãos (INSS e Secretaria de Previdência),
responsável pelo cumprimento da LAI, 29) Telefone do serviço de informações ao cidadão,
30) Correio eletrônico do serviço de informações ao cidadão.
Os dados coletados no Portal Eletrônico da Previdência Social foram confrontados
com cada uma das subcategorias e analisados conforme os seguintes critérios de avaliação
para transparência ativa:
1. Informação encontrada – o Portal disponibiliza por meio de acesso fácil e claro a
devida informação conforme a exigência normativa.
2. Informação encontrada, porém desatualizada – o Portal disponibiliza por meio de
acesso fácil e claro uma informação que se refere à exigida pelas normas, mas o
conteúdo da mesma encontra-se desatualizado.
3. Informação não encontrada – o Portal não oferece acesso fácil e claro, mas apresenta
temas e assuntos relacionados à informação exigida pelas normas, com opções de
navegação que aparentemente levarão à mesma. Contudo, após consultar as páginas
internas do site, a informação não foi encontrada.
103
QUADRO 3 – Informações a serem divulgadas proativamente - conforme a Lei nº 12.527/2011 (LAI) e o
Decreto nº 7.724/2012
Nome das categorias Sub categorias Avaliação 1 – Estrutura dos órgãos públicos • Estrutura organizacional 2
• Competências 2
• Legislação aplicável 2
• Principais cargos e ocupantes 1
• Endereço das unidades 1
• Telefone das unidades 3
• Horário de atendimento ao público 1 2 – Ações relacionadas à atividade-
fim • Programas indicando a unidade responsável 2
• Projetos indicando a unidade responsável 2
• Ações indicando a unidade responsável 2
• Obras e atividades indicando a unidade
responsável 3
• Metas 2
• Resultados 3
• Indicadores de resultado e impacto 3 3 – Administração dos recursos
financeiros • Repasses ou transferências 1
• Execução orçamentária e financeira 1
• Editais e anexos de licitações realizadas 1
• Editais e anexos de licitações em andamento 1
• Resultados de licitações 1
• Contratos firmados 1
• Notas de empenho emitidas 3
4 – Aplicação dos recursos
financeiros com pessoal
• Remuneração e subsídio dos servidores 1
• Graduação 3
• Função e emprego público de ocupante de cargo 1
• Auxílios, ajudas de custo, jetons e outras
vantagens pecuniárias dos servidores 3
• Proventos de aposentadoria e pensões dos
servidores que estão na ativa 3
5 – Atendimento às demandas da
sociedade • Perguntas e respostas 1
• Contato da autoridade máxima dos órgãos,
responsável pelo cumprimento da LAI 1
• Telefone do Serviço de Informações ao Cidadão 1
• Correio eletrônico do Serviço de Informações
ao Cidadão 1
FONTE: Elaborado pela autora
Os resultados obtidos levam a observação de que 50% das subcategorias que devem
ser disponibilizadas pelos órgãos da Previdência Social espontaneamente, ou seja, em
transparência ativa, atendem plenamente à LAI.
Para 23,33% das exigências há cumprimento parcial, pois as informações estão
desatualizadas:
• Estrutura organizacional, competências e legislação aplicável - o portal não oferece
tais informações institucionais sobre a Secretaria de Previdência. Essas informações
são disponibilizadas somente em relação ao INSS. Esse aspecto foi considerado como
104
desatualização, não omissão, considerando que a Secretaria de Previdência foi criada
em junho de 2016.
• Programas, projetos, ações e metas - a página inicial oferece link para Programas e
Ações, que conduz à página interna onde existe informação sobre os Planos
Plurianuais 2012-2015, Plano de Ação Integrado até 2015, Mapa Estratégico da
Previdência para o período de 2012-2015, Força Tarefa da Previdência com balanço
das operações até 2014. Essas informações foram consideradas desatualizadas.
Em 26,66% das subcategorias as informações exigidas pelas normas não foram
encontradas:
• Telefone das unidades - a página inicial oferece o link Institucional que possibilita
acessar todas as unidades (agências) da Previdência Social, mediante consulta pelo
nome da cidade, contudo não há informação do telefone para nenhuma das agências
do INSS. Para a Secretaria de Previdência o Portal informa somente o telefone do
Ministério da Fazenda, em Brasília. Desta forma, o sítio eletrônico não foi considerado
satisfatório quanto a esta exigência.
• Graduação dos servidores – a consulta sobre os Servidores remete ao Portal da
Transparência do Governo Federal, onde é possível consultar diversas informações
sobre todos os servidores da Previdência Social, contudo, dentre as informações
disponibilizadas não se encontra a graduação.
• Auxílios, ajudas de custo, jetons e outras vantagens pecuniárias dos servidores;
Proventos de aposentadoria e pensões dos servidores que estão na ativa – a consulta
sobre os Servidores remete ao Portal da Transparência do Governo Federal, onde é
possível acessar o contracheque dos servidores da Previdência Social, com
informações sobre remuneração e gratificações, mas não foram encontradas
informações sobre outros pagamentos; tampouco proventos de aposentadoria e
pensões.
• Obras e atividades indicando a unidade responsável, Resultados, Indicadores de
resultado e impacto, Notas de empenho emitidas sobre as licitações – para essas
subcategorias não há opção de link no menu da página inicial e tampouco a ferramenta
de busca retorna um resultado satisfatório, desta forma, tais informações não foram
encontradas.
105
De acordo com os resultados obtidos e suas respectivas análises descritivas, o índice
de transparência ativa para o Portal da Previdência Social pode ser assim representado:
Gráfico 3. Índice de transparência ativa do Portal da Previdência Social
FONTE: Elaborado pela autora com base nas avaliações apuradas no quadro 3
6.2 ACESSIBILIDADE
O Departamento de Governo Eletrônico define eMAG como “uma versão
especializada do documento internacional WCAG (Web Content Accessibily Guidelines:
Recomendações de Acessibilidade para Conteúdo Web) voltado para o governo brasileiro”
(BRASIL, 2014a, p. 7). Os criadores do eMAG ressaltam também que todas as
recomendações de boas práticas de acessibilidade do WCAG foram integralmente observadas
pelo governo federal quando da elaboração deste documento de acessibilidade (eMAG).
Para garantir a acessibilidade de um ambiente online, é necessário testá-lo de acordo
com os padrões Web e as diretrizes de acessibilidade:
No caso dos padrões Web, há validadores automáticos. No que diz respeito
às diretrizes de acessibilidade, é necessário realizar, inicialmente, uma
validação automática, que é realizada através de softwares ou serviços online
que ajudam a determinar se um sítio respeitou ou não as recomendações de
acessibilidade, gerando um relatório de erros (BRASIL, 2014a, p. 14).
As Diretrizes de Acessibilidade para Conteúdo Web (WCAG) 2.0, foram elaboradas
por especialistas e abrangem um vasto conjunto de recomendações com o objetivo de tornar o
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
Informaçãoencontrada
Informaçãoencontrada, porém
desatualizada
Informação nãoencontrada
Índice de Transparência Ativa
106
conteúdo Web mais acessível. A importância em cumprir o conjunto de Diretrizes WCAG 2.0
reside no fato de que essas orientações farão com que o conteúdo se torne acessível a um
maior número de pessoas com incapacidades, incluindo cegueira e baixa visão, surdez e baixa
audição, dificuldades de aprendizagem, limitações cognitivas, limitações de movimentos,
incapacidade de fala, fotossensibilidade bem como as que tenham uma combinação destas
limitações. A observância a estas diretrizes contribuirá também para que o Portal Eletrônico
se torne mais usável aos cidadãos em geral.
6.2.1 TESTE DE ACESSIBILIDADE DO ACCESSMONITOR
Para testar a acessibilidade do Portal Eletrônico da Previdência Social, quanto à
observância das Diretrizes WCAG 2.0, foi utilizado o validador automático AccessMonitor,
nos meses de julho à dezembro de 2016.
O teste de avaliação realizado pelo AccessMonitor atribui índice de avaliação, de zero
a dez para a página testada, de acordo com a quantidade de erros encontrados. A planilha
abaixo apresenta a quantidade de erros, avisos e o índice de avaliação obtido pelo Portal
Eletrônico da Previdência Social nos meses de julho a dezembro de 2016 conforme relatório
AccessMonitor:
Quadro 4. Resultados dos testes de validação do AccessMonitor WCAG 2.0
Mês Erros Avisos Índice de Avaliação
Jul/2016 5 10 6,4
Ago/2016 6 11 5,9
Set/2016 6 11 5,9
Ou/2016 6 11 5,9
Nov/2016 6 11 5,9
Dez/2016 7 11 5,6 FONTE: Elaborado pela autora
A seguir, os erros enumerados no Quadro 4, aparecem detalhados (no Quadro 5,
abaixo), com as seguintes informações:
• Tipos de erros encontrados conforme descrição do AccessMonitor;
• Explicação e detalhamento do erro, conforme descrição do AccessMonitor;
• Recomendação que deixou de ser observada, conforme eMAG 3.1/2014;
• Síntese da recomendação, conforme descrição do eMAG 3.1/2014; e,
108 Quadro 5. Comparativo entre o resultado do AccessMonitor e as recomendações do eMAG
Tipos de erros Explicação/detalhamento do
erro Recomendação eMAG que deixou
de ser observada Síntese da Recomendação eMAG Mês de ocorrência do
erro
1. Marcação de
cabeçalhos
Foi encontrado 1 caso em que
os cabeçalhos não respeitam a
cadeia hierárquica
1.3 - Utilizar corretamente os níveis
de cabeçalho (WCAG 2.0 Crítérios
de Sucesso 1.3.1 e 2.4.10)
Os níveis de cabeçalho devem ser utilizados de forma
hierárquica, pois organizam a ordem de importância e
subordinação dos conteúdos, facilitando a leitura e
compreensão.
Julho, agosto,
setembro, outubro,
novembro, dezembro
2. Marcação de Links,
menus e texto dos links
Foi encontrado 1 link em que o
conteúdo é composto apenas
por uma imagem não
legendada
3.6 - Fornecer alternativa em texto
para as imagens do sítio (WCAG
2.0 Critério de Sucesso 1.1.1 -
técnica G95) Deve ser fornecida uma descrição para as imagens da página,
utilizando-se para tanto o atributo alt. Agosto, dezembro
3. Marcação de Links,
menus e texto dos links
Foram localizados 22 links (em
julho, agosto, outubro e
novembro), 10 links (em
setembro) e 24 links (em
dezembro) com o mesmo texto
que apontam destinos
diferentes
3.5 - Descrever links clara e
sucintamente (WCAG 2.0 Critérios
de Sucesso 2.4.4 e 2.4.9)
Deve-se identificar claramente o destino de cada link. É
preciso tomar cuidado para não utilizar a mesma descrição
para dois ou mais links que apontem para destinos diferentes.
Julho, agosto,
setembro, outubro,
novembro, dezembro
4. Links para contornar
blocos de informação
Constatou-se que o primeiro
link da página não nos conduz
até à área do conteúdo
principal
1.5 - Fornecer âncoras para ir direto
a um bloco de conteúdo (WCAG
2.0 Critério de Sucesso 2.4.1)
Devem ser fornecidas âncoras, disponíveis na barra de
acessibilidade, que apontem para links relevantes presentes na
mesma página. Para o governo federal são recomendados
atalhos para o menu principal, para o conteúdo e para a caixa
de pesquisa.
Julho, agosto,
setembro, outubro,
novembro, dezembro
5. Marcação de
formulários
Foi identificado 1 controlo de
formulário sem etiquetas
associadas e sem o atributo
title
6.2 - Associar etiquetas aos seus
campos (WCAG 2.0 Critério de
Sucesso 1.3.1)
As etiquetas de texto (elemento LABEL) devem estar
associadas aos seus campos (elementos INPUT, SELECT e
TEXTAREA, à exceção do elemento BUTTON)
correspondentes no formulário, através dos atributos for do
label e id do input, os quais deverão ter o mesmo valor.
Julho, agosto,
setembro, outubro,
novembro, dezembro
6. Elementos e atributos
de
apresentação/obsoletos
Localizados 5 elementos ou
atributos de HTML que estão a
ser usados para controlo da
apresentação visual do texto
4.3 - Permitir redimensionamento
sem perda de funcionalidade
(WCAG 2.0 Critério de Sucesso
1.4.4)
A página deve continuar legível e funcional mesmo quando
redimensionada para até 200%. Assim, é preciso garantir que,
quando a página for redimensionada, não ocorram
sobreposições nem o aparecimento de uma barra horizontal.
Julho, agosto,
setembro, outubro,
novembro, dezembro
7. Standards W3C:
(X)HTML + CSS
Foram encontrados 31 erros
(em setembro, novembro e
dezembro), 29 erros (em
outubro) de validação na
linguagem de marcação.
1.1 - Respeitar os Padrões Web
(WCAG 2.0 Critérios de Sucesso
4.1.1 e 4.1.2)
Os Padrões Web são recomendações do W3C, destinadas a
orientar os desenvolvedores para o uso de boas práticas que
tornam a web acessível para todos, permitindo que os
desenvolvedores criem experiências ricas, alimentadas por um
vasto armazenamento de dados, os quais estão disponíveis para
qualquer dispositivo e compatíveis com atuais e futuros agentes
de usuário (ex: navegadores). Setembro, outubro,
novembro, dezembro
FONTE: Elaborado pela autora
109
Os resultados apresentados no quadro 5 indicam repetição dos seguintes erros para
todo o período analisado:
• Marcação de cabeçalhos (1);
• Marcação de Links, menus e texto dos links (3), variando apenas a quantidade links:
22 (em julho, agosto, outubro e novembro), 10 (em setembro) e 24 (em dezembro);
• Links para contornar blocos de informação (4);
• Marcação de formulários (5);
• Elementos e atributos de apresentação/obsoletos (6).
O AccessMonitor oferece possibilidade de detalhamento do erro clicando em “ver na
página”. Com este recurso foi possível visualizar cada um dos erros acima mencionados, em
suas respectivas localizações no Portal da Previdência Social, sem alterações para todo o
período da análise, exceto as variações de quantidade ocorridas com o erro de Marcação de
Links, menus e texto dos links. Disto infere-se que a Previdência Social, durante o período de
julho a dezembro de 2016 não providenciou solução para os erros acima relatados.
O erro de Marcação de Links, menus e texto dos links (2) foi relatado nos testes de
validação dos meses de agosto e dezembro, referindo-se a uma imagem não legendada. A
ocorrência deste erro no mês de agosto, deixando de constar nos relatórios de setembro,
outubro e novembro indicam que o problema em relação àquela imagem foi resolvido, pois o
mesmo tipo de erro foi relatado em dezembro, contudo, associado à outra imagem.
O tipo de erro Standards W3C: (X)HTML + CSS (7) foi constatado pelo validador a
partir do mês de setembro e continuou a ser relatado para os meses subsequentes: outubro,
novembro e dezembro. No entanto, verifica-se nos relatórios AccessMonitor dos meses de
julho e agosto, que esse erro não se encontrava na listagem do validador para verificação, o
que justificaria o fato de não ter sido relatado nesses meses. Essa categoria de teste (Standards
W3C) remete ao resultado dos testes de validação automática do Markup Validation Service,
que tem seu uso recomendado pela Cartilha de Codificação em governo eletrônico.
6.2.2 TESTE DE VALIDAÇÃO DO W3C
World Wide Web Consortium (W3C), é um consórcio de âmbito internacional que
tem por finalidade desenvolver especificações, guias e ferramentas para Web. O eMAG
110
ressalta que para se criar um ambiente online efetivamente acessível é necessário,
primeiramente, que o código esteja dentro dos padrões Web internacionais definidos pelo
W3C. Esses padrões formam um conjunto de recomendações a serem observados no
desenvolvimento de páginas da Web:
Uma página desenvolvida de acordo com os padrões Web deve estar em
conformidade com as normas HTML, XML, XHTML e CSS, seguindo as
regras de formatação sintática. Além disso, é muito importante que o código
seja semanticamente correto, ou seja, que cada elemento seja utilizado de
acordo com um significado apropriado, valor e propósito (BRASIL, 2014a,
p. 13).
O eMAG 3.1 adverte também para o fato de que páginas que não obedecem ao código
de padrões W3C apresentam comportamento imprevisível, geralmente impedem ou dificultam
o acesso.
O Departamento de Governo Eletrônico elaborou a Cartilha de Codificação para
Padrões Web em Governo Eletrônico (e-PWG), cuja última versão é a 2.1 de julho de 2010. O
objetivo desse guia é detalhar recomendações de codificação para orientar as equipes de
“desenvolvimento de sítios, portais e serviços de governo eletrônico com o propósito de
torná-los identificáveis, portáveis, relevantes, acessíveis e efetivos à população” (BRASIL,
2010b, p. 6).
A Cartilha de Codificação recomenda o uso de validadores automáticos para
verificação da observância às regras de linguagem em que um documento Web foi escrito:
“Pode-se comparar a validação com a busca por erros gramaticais e de concordância em um
texto escrito” (BRASIL, 2010b, p. 34). Dentre os validadores automáticos indicados pela
Cartilha de Codificação encontram-se o Markup Validation Service e o CSS Validation
Service, ambos do W3C.
Assim, os testes de validação automático, Markup Validation Service (para verificação
de erros de HTML) e o CSS Validation Service (para verificação de erros de CSS) foram
utilizados nos meses de julho a dezembro de 2016 para verificação do Portal Eletrônico da
Previdência Social.
O endereço eletrônico para aplicação do teste Markup Validation é
https://validator.w3.org/. Após acessá-lo, é preciso informar no campo “address” o endereço
do site que se deseja testar, no presente caso: www.previdencia.gov.br. Clicando em “check”,
o validador fornece em questão de segundos um relatório de erros com a verificação da
111
quantidade de erros de código HTML, que podem gerar lerdeza no downloading da página,
fuga dos padrões web necessários às tecnologias assistivas, erros na semântica e renderização
da página.
O endereço eletrônico para aplicação do teste CSS Validation Service é
https://jigsaw.w3.org/css-validator/. Após acessá-lo, é preciso informar no campo “endereço”,
o site a ser testado. Clicando em “verificar”, o validador fornece um relatório de erros com a
verificação da quantidade de erros de código CSS que podem gerar fuga dos padrões web e na
apresentação da página.
Sob tais critérios de validação, o Portal Eletrônico da Previdência Social nos meses de
julho a dezembro de 2016 foi testado, apresentando os seguintes resultados:
Quadro 6. Resultado dos testes de validação do Markup Validation Service - HTML
Mês Quantidade de erros Quantidade de alertas
jul/16 26 6
ago/16 26 5
set/16 29 5
out/16 28 5
nov/16 28 5
dez/16 28 5 FONTE: Elaborado pela autora
Quadro 7. Resultado dos testes de validação do CSS Validation Service
Mês Quantidade de erros Mês Quantidade de alertas
jul/16 26 216
ago/16 26 216
set/16 25 211
out/16 26 197
nov/16 25 216
dez/16 25 216 FONTE: Elaborado pela autora
A quantidade de erros e alertas obtidos em ambos os testes de validação automática,
demonstram que não houve muita variação nos meses observados. O detalhamento dos erros
permite verificar a permanência da maior partes desses erros durante os meses de julho à
dezembro de 2016. O que indica que a Previdência Social não providenciou a solução desses
problemas que comprometem o grau de acessibilidade do sítio eletrônico.
6.3 USABILIDADE
112
O termo usabilidade é utilizado para definir a facilidade com que as pessoas podem
empregar uma ferramenta ou objeto a fim de realizar uma tarefa específica e importante.
Usabilidade no Portal da Previdência Social, diz respeito à facilidade com que seus usuários
específicos podem obter informações, serviços e oportunidades de participação (ou
manifestação) em assuntos previdenciários.
Quadro 8. O público da Previdência Social
55 milhões de contribuintes do INSS
33,7 milhões de beneficiários do INSS
Aposentadorias: 18,9 milhões
Pensões: 7,5 milhões
Auxílios: 1,7 milhões
Salários-maternidade: 66 mil
Amparos assistenciais: 4,5 milhões
Outros: 1,03 milhões
710,1 mil requerentes de benefícios do
INSS* Auxílios: 159,7
Aposentadorias: 100,4 mil
Salários-maternidade: 41,9 mil
Pensões: 30,4 mil
Amparos assistenciais: 27,8 mil
Outros benefícios concedidos: 18,4 mil
Requerimentos indeferidos: 296,9 mil
Requerimentos em análise: 34,6 mil
Cidadãos que buscam informações previdenciárias e trabalhistas
Gestores e administradores dos Regimes Próprios de Previdência Social
Servidores públicos e cidadãos que buscam informações sobre Previdência
Complementar FONTE: Elaborado pela autora com base nos dados divulgados no Boletim Estatístico da Previdência Social –
out/2016
O Boletim Estatístico da Previdência Social informa que o valor médio dos benefícios
concedidos no mês de outubro de 2016 foi de R$ 1.328, 49; e o valor médio dos benefícios
que já estavam sendo pagos (33,7 milhões) era de R$ 1.123,10.
Dos dados acima infere-se que o sítio eletrônico da Previdência Social tem que ser de
fácil utilização para seu público alvo, constituído predominantemente por contribuintes,
beneficiários, familiares de contribuintes, cuja maioria ganha entre um e dois salários
mínimos, e possuem as seguintes urgências: obter informações sobre benefícios, contribuições
e pagamento de benefícios; requerer benefícios por motivo de doença, gravidez, idade
avançada, invalidez, deficiência, reclusão; requerer amparos assistenciais quando idosos ou
deficientes.
113
A Cartilha de Usabilidade do governo eletrônico propõe 7 categorias temáticas com
suas respectivas recomendações a serem seguidas pelos sítios eletrônicos do governo federal
de modo geral.
Quadro 9. Categorias e recomendações a serem observadas pelos sítios eletrônicos do governo federal
CATEGORIAS RECOMENDAÇÕES • Contexto e
navegação • Página inicial clara • Estrutura do sítio lógica e fácil • Estruturar a informação de forma lógica e intuitiva para o cidadão • O conteúdo mais importante antes da dobra • Elementos de identidade visual localizados sempre no mesmo lugar • A ferramenta de busca presente em todas as páginas • As páginas, seções ou serviços mais utilizados visíveis • Não use páginas de transição • Documentação, tutorial e ajuda • Formatos especiais de arquivo e download • Não use janelas pop-up ou abra links em nova janela • Busca simples e depois, avançada • Resultados da caixa de busca • Formulários amigáveis
• Carga de
informação
• Não abarrote a página inicial com excesso de informações • Elimine elementos desnecessários das páginas • Elimine passos desnecessários em serviços e preenchimento de formulários • Em textos extensos, oferecer a opção de baixar o documento • Apenas peça os dados necessários • Não peça para o cidadão converter dados, medidas ou valores • O cidadão não deve necessitar memorizar dados • Cuidado a rolagem vertical ou horizontal de tela • Utilize o bom senso no número de filtros e opções disponíveis
• Autonomia
• Mantenha a função do botão de retrocesso (back/voltar) do navegador • Não crie páginas que abram e funcionem em tela cheia • Permitir ao cidadão marcar (favoritar) qualquer página de seu interesse • Não usar expressões como “compatível com” “melhor visto na resolução...” • Possibilitar ao cidadão interromper ou cancelar o processamento ou transação • É do cidadão o controle sobre a navegação • Não usar plugins auto-instaláveis • Permitir a cópia de trechos de documentos • Quando possível, oferecer a personalização da página
• Erros
• As ações do portal devem ser reversíveis • Permita erros de digitação em busca • Avise toda indisponibilidade (ex: troca de servidores) • Em formulários, mostre o formato desejado • Em formulários, só deixe no campo o número de caracteres desejado • As mensagens de erro devem ser sucintas e explicativas • Páginas de conteúdo não encontrado (erro 404) devem ser claras
• Desenho
• Utilizar um projeto padrão de páginas • Agrupar e hierarquizar, de forma clara, as áreas de informação • Usar espaço em branco para separar conteúdos ou assuntos diferentes • Usar fundos neutros, que não comprometam o objetivo do sítio • Evitar o uso de caixa com opções (scroll) ou de menus de cortina (pull-down) na
navegação principal e persistente
114
• O desenho deve estar a serviço da informação • Elementos do desenho do sítio não devem trabalhar em benefício de uma estética
particular • Utilizar a animação com bom senso • Conteúdo agradável de ser lido • Texto alinhado à esquerda • Esquema consistente de cores e fontes • Respeitar a velocidade de conexão do público-alvo • Utilizar de forma consciente plug-ins e multimídia
• Redação
• Utilizar uma linguagem clara e familiar • O texto objetivo • Dividir o texto em tópicos • Títulos informativos e com destaque visual • Título da página explanatório e único • Utilizar termos simples e claros como rótulos de menu • Gramática correta • Use ênfase e negrito • Evitar o uso de caixa alta
• Consistência e
familiaridade
• Usar convenções • Usar formato de data e unidades de medida de acordo com o padrão normalmente
utilizado na instituição ou país • Planejar a estrutura do sítio de acordo com o contexto das tarefas realizadas pelos
cidadãos • Facilitar a navegação do sítio • Planejar a estrutura do portal de acordo com o contexto das tarefas realizadas pelos
cidadãos • Remeter a formulários os links de contato
FONTE: Elaborado pela autora
As 67 recomendações acima apontadas pela Cartilha de Usabilidade, para presente
análise, foram metodologicamente analisadas, selecionadas e reagrupadas, buscando organizar
categorias específicas para o tipo de público, de serviço, em função do objetivo geral da
pesquisa (verificar o efetivo cumprimento da transparência ativa, que depende da otimização
das ferramentas tecnológicas em prol da acessibilidade e usabilidade). A contextualização
possibilitou criar categorias e recomendações de usabilidade específicas para serem utilizadas
na avaliação do sítio eletrônico da Previdência Social.
Os dados coletados foram confrontados com cada uma das
recomendações/subcategorias e analisados conforme os seguintes critérios de avaliação
quanto à usabilidade:
• Sim, a recomendação é observada.
• Não, a recomendação não é observada.
115
Quadro 10. Categorias e recomendações de usabilidade específicas para o Portal Eletrônico da
Previdência Social CATEGORIAS RECOMENDAÇÕES AVALIAÇÃO
• Estrutura e
conteúdo da
página inicial
do portal
• Clareza sobre o sítio: o que é, quais os objetivos, quais as
informações e os serviços.
Não
• Conteúdo facilmente acessado por uma estrutura lógica. Sim
• Elementos de identidade visual sempre no mesmo lugar. Sim
• Prioridade às atualizações. Não
• Apenas conteúdos relevantes. Não
• Informações e serviços agrupados hierarquicamente conforme
prioridades dos usuários.
Não
• Uso de fotos, vídeos, imagens, animações somente relevantes e
necessários para reforçar as informações e a prestação dos
serviços.
Não
• Projeto tipográfico, elementos na tela, cores, contraste, espaços
em branco consistentes e coerentes.
Sim
• Conteúdo
acima da dobra
• O conteúdo mais importante acima da dobra. Títulos, imagens
de destaque pertinentes e relevantes ao público alvo.
Não
• Link para páginas, seções ou serviços mais utilizados visíveis
acima da dobra.
Não
• Acesso a
documentos e
formulários
• Formulários amigáveis e fáceis de serem preenchidos. Sem
apresentação de passos e informações desnecessárias. Sem
necessidade de converter ou memorizar dados.
Sim
• Trechos de documentos permitem ser copiados. Sim
• Documentos e formulários atualizados. Não
• Documentos longos (leis, decretos, instruções) oferecem opção
de imprimir e baixar.
Não
• Buscas e
pesquisas
• Ferramenta de busca em todas as páginas, sempre no canto
superior direito (conforme padrão), com capacidade para pelo
menos 27 caracteres.
Sim
• Ferramenta de busca permite erro de digitação e sugere palavras
próximas.
Não
• Navegação
entre as páginas
• Respeito às convenções utilizadas nos sites quanto a cores,
links, botões de elementos clicáveis, localização do logotipo em
todas as páginas.
Sim
• Navegação facilitada: sem páginas órfãs, botão “voltar” sempre
ativado, conteúdos apresentados em telas-padrão, desenho do
cursor do mouse consistente com os padrões do sistema
operacional, sem uso de janelas pop up e links que abrem novas
páginas.
Sim
• Todas as páginas permitem ser marcadas como “favorita”. Sim
• Estrutura do portal planejada para facilitar o cidadão na
sequência das tarefas. Processos e transações permitem ao
usuário desistir.
Sim
• Rótulos, terminologias, hierarquia e menus estruturados de
forma lógica e intuitiva, padronizados em todas as páginas.
Sim
• Redação e
conteúdo das
informações
• Textos fáceis de serem lidos e entendidos quanto ao tipo de
redação, ao vocabulário e à linguagem.
Sim
• Textos amigáveis quanto ao alinhamento, cores, tipos de letra,
contraste.
Sim
• Títulos de textos e das páginas claros e coerentes com os
respectivos conteúdos.
Sim
• Conteúdo das informações atualizado. Não
• Comunicações
do sistema
• As indisponibilidades do sistema são previamente avisadas. Não
• Páginas de conteúdo não encontrado emitem mensagem de erro
e explicação.
Não
FONTE: Elaborado pela autora
116
6.3.1 ESTRUTURA E CONTEÚDO DA PÁGINA INICIAL
Na avaliação quanto à estrutura e ao conteúdo da página inicial, em 37,5% das
variáveis analisadas o resultado foi satisfatório. Em 62,5% dos quesitos não atende aos
critérios de usabilidade:
• Clareza sobre o sítio: o que é, quais os objetivos, quais as informações e os serviços
(1): a página inicial não informa o que é o sítio, qual é o seu objetivo, tampouco
oferece esclarecimento sobre suas informações e serviços disponíveis.
• Prioridade às atualizações (4): Importantes alterações de direito para o salário
maternidade e o auxílio-doença – benefícios que estão entre os três mais requeridos -
foram introduzidas com a MP nº 739, a partir de 7/7/2016, mas não foram objeto de
destaque na página inicial; a partir de 26 de agosto os titulares de benefício de auxílio-
doença perderam o direito de pedido de reconsideração, sem nenhum destaque na
página inicial; em 4/11/2016, a MP nº 739 teve sua vigência encerrada e suas regras
deixaram de valer para os fatos geradores ocorridos a partir desta data, mas também
não houve destaque para esse fato.
• Apenas conteúdos relevantes (5): foram apresentados conteúdos relevantes, mas
secundários também. Títulos em destaque sobre a Previdência Complementar
estiveram presentes nos meses de setembro a dezembro/2016, localizados na parte
superior, antes da primeira rolagem, ocupando 14,3% do espaço total da página inicial.
Esse assunto diz respeito a uma pequena parcela de contribuintes do RGPS, somente
àqueles que são empregados de empresas que patrocinam planos de entidade fechada
de previdência complementar, além disso, tais informações podem ser acessadas no
site específico da Superintendência Nacional de Previdência Complementar, vinculada
ao Ministério da Fazenda (www.previc.gov.br). Alguns conteúdos de maior relevância
não estão presentes na página inicial, nem possuem links com seus rótulos. Exemplo:
aposentadoria por idade.
• Informações e serviços agrupados hierarquicamente conforme prioridades dos
usuários (6): o agrupamento dos “serviços mais procurados” e “informações sobre
benefícios do INSS” estão abaixo da primeira rolagem, foram organizados
hierarquicamente inferiores aos títulos de notícias sobre assuntos menos relevantes.
117
• Uso de fotos, vídeos, imagens, animações somente relevantes e necessários para
reforçar as informações e a prestação dos serviços (7): foram utilizadas imagens com
atualização periódica automática para destacar os títulos de assuntos nem sempre
relevantes para o público alvo; espaço intitulado “multimídia” utilizado para
publicação de fotos dos dirigentes, suas reuniões e eventos, encontra-se após a 2ª
rolagem, mas ocupa 14,3% do total da página inicial sem reforçar informações ou
serviços relevantes.
6.3.2 CONTEÚDO ACIMA DA DOBRA
Dobra é um termo que tem origem no jornalismo e refere-se ao ato de dobrar o jornal
ao meio para facilitar sua leitura. No caso de páginas Web, a dobra é a primeira rolagem. A
Cartilha de Usabilidade recomenda que “em todas as páginas a parte do conteúdo mais
importante e da navegação devem estar acima da dobra” (BRASIL, 2010c, p. 13).
Nielsen e Loranger (2007) realizaram pesquisa com usuários da Web, observando a
visitação de 3.992 páginas mais longas que a janela do navegador, ou seja, necessitam ser
roladas para serem visualizadas até o fim. O estudo constatou que mais da metade dos
usuários “absolutamente não rolou pela página” (NEILSEN e LORANGER, 2007, p. 45). Os
pesquisadores relatam também que, dos 42% dos usuários que rolaram a página, somente uma
minoria (14%) visualizaram mais de duas telas cheias, por isso concluem que a maioria dos
usuários não rola por uma página e, quando o fazem, não rolam muito. Assim, Nielsen e
Loranger (2007) advertem para o fato de que comumente usuários da Web abandonam
rapidamente a navegação de um site porque a página inicial “não parece relevante quando na
verdade as informações que eles precisavam estavam ‘abaixo da dobra’ e simplesmente não
visíveis durante a primeira verificação” (NIELSEN e LORANGER, 2007, p. 100).
Na análise quanto ao conteúdo acima da dobra, 100% das variáveis de usabilidade
deixaram de ser atendidas no Portal da Previdência Social.
118
Figura 2: Página inicial do Portal Eletrônico da Previdência Social sem rolagem
Fonte: www.previdencia.gov.br em 9 de setembro de 2016
6.3.2.1 O CONTEÚDO MAIS IMPORTANTE ACIMA DA DOBRA
O sítio da Previdência Social destaca títulos (manchetes) por meio de imagens com
atualização periódica automática, ocupando 41,4% do total da página inicial acima da dobra.
Os títulos destacados nem sempre se referem a conteúdos relevantes para o público alvo.
Durante o período de julho a dezembro de 2016, foram verificadas a alternância das
seguintes manchetes para os correspondentes meses:
• Julho e agosto: “Primeira parcela do 13º salário”, “Fale com o INSS: Ligue 135”, “A
Previdência Social está de volta às redes”;
• Setembro e outubro: “Secretaria de Políticas de Previdência Complementar lança o
periódico bimestral: Leis Complementares 108 e 109/2001 anotadas”, “Revisão de
Auxílio-Doença e Aposentadoria por Invalidez: Perguntas e Respostas”, “Fale com o
INSS: Ligue 135”, “A Previdência Social está de volta às redes”;
• Novembro: “Tabela de Pagamento de Benefícios 2017”, “Leis Complementares 108 e
109/2001 anotadas”, “Fale com o INSS: Ligue 135”, “A Previdência Social está de
volta às redes”;
119
• Dezembro: “Reforma da Previdência”, “Os informes estatísticos da Previdência
Complementar agora são mensais”, “Leis Complementares 108 e 109/2001 anotadas”,
“Fale com o INSS: Ligue 135”.
Das manchetes acima relacionadas consideram-se relevantes para o público alvo as
seguintes:
• Primeira parcela do 13º salário – porque informa ao beneficiário da previdência social
que o pagamento de 6/12 do 13º será antecipado juntamente com os vencimentos
referentes ao mês de agosto.
• A Previdência está de volta às redes – porque a Previdência Social passou por
alterações ministeriais no primeiro semestre de 2016 que interferiram no endereço
eletrônico do sítio. Até o mês de julho/2016 o sítio eletrônico da Previdência Social
era acessível pelo site do Ministério do Trabalho.
• Revisão de Auxílio-Doença e Aposentadoria por Invalidez: Perguntas e Respostas –
porque dentre as alterações introduzidas com a MP nº 739/2016, que estiveram válidas
para o período de 7/7/2016 a 4/11/2016, havia a possibilidade dos beneficiários de
auxílio-doença e aposentadoria por invalidez serem convocados para revisão do direito
ao benefício mediante realização de perícia médica.
• Tabela de Pagamento de Benefícios 2017 – porque informa para todos os meses do
ano de 2017 os dias exatos em que os benefícios serão pagos (nos 5 primeiros dias
úteis dos meses subsequentes), classificados conforme o último dígito do benefício.
• Reforma da Previdência - embora menos relevante do que as manchetes anteriores, é
importante porque se refere ao Projeto de Emenda Constitucional nº 287/2016, que
propõe novas regras previdenciárias, tanto para o RGPS (filiados do INSS) como para
o RPPS (servidores públicos).
As seguintes manchetes referem-se a assunto secundário, sobre a Previdência
Complementar, pois seus conteúdos podem ser acessados no site específico da
Superintendência Nacional de Previdência Complementar, vinculada ao Ministério da
Fazenda (www.previc.gov.br): 1) Secretaria de Políticas de Previdência Complementar lança
o periódico bimestral: Leis Complementares 108 e 109/2001 anotadas; 2) Leis
Complementares 108 e 109/2001 anotadas; 3) Os informes estatísticos da Previdência
Complementar agora são mensais.
120
A manchete Fale com o INSS: Ligue 135 contradiz o esforço da Previdência Social em
incentivar o autoatendimento por meio da Internet. Contudo, essa manchete foi a única que
esteve presente em todos os meses da coleta de dados (de julho a dezembro/2016). Sua
mensagem contraria os princípios da usabilidade e deixa de encorajar o usuário a aprender e
habituar-se com o autoatendimento para utilizar o teleatendimento, que oferece os mesmos
serviços. Informar que existe uma opção de teleatendimento é relevante, mas a estratégia
utilizada para sua divulgação lhe dá um destaque equivocado e inapropriado.
6.3.2.2 LINK PARA PÁGINAS, SEÇÕES OU SERVIÇOS MAIS UTILIZADOS VISÍVEIS
ACIMA DA DOBRA
Os links para os serviços mais procurados que deveriam estar acima da dobra,
localizam-se logo após a primeira rolagem:
• Serviços mais procurados é o título da seção que oferece as seguintes opções: 1)
Agende seu atendimento, 2) Calcule sua contribuição, 3) Extrato de pagamento, 4)
Simule sua aposentadoria, 5) Agende sua perícia, 6) Encontre uma agência.
• As opções do menu de Informações sobre benefícios do INSS tratam de assuntos
relevantes para o público alvo: 1) Aposentadoria por tempo de contribuição, 2)
Auxílio-doença, 3) Pensão por Morte, 4) Salário-maternidade e 5) Todos os
benefícios.
6.3.3 ACESSO A DOCUMENTOS E FORMULÁRIOS
Na análise da categoria Acesso a documentos e formulários 50% das variáveis
apresentaram-se satisfatórias e a outra metade foi insatisfatória:
• Documentos e formulários atualizados – essa exigência não foi contemplada por
apresentar os documentos que compõem a base normativa da Previdência Social no
Brasil desatualizados: Lei nº 8.213/1991, atualizada até julho/2016; Decreto nº
3.048/1999, atualizado até março/2016; Instrução Normativa nº 77/2015, atualizada
até abril/2016. Devido às datas em que foram atualizados, esses documentos não
contemplaram todas as alterações introduzidas com a MP nº 739/2016, vigente para o
período de 7/7/2016 a 4/11/2016 e a Portaria nº 152, de 25/8/2016.
121
• Documentos longos (leis, decretos, instruções) oferecem opção de imprimir e baixar –
nenhum dos documentos normativos pesquisados a partir do link Legislação > Sistema
de Legislação da Previdência Social oferecem opção de imprimir ou baixar. O link
Estatísticas oferece opção de baixar tabelas informando o formato (pdf) do
documento, mas não apresenta descrições claras e precisas sobre seu tamanho e
conteúdo, conforme recomendação da Cartilha de Usabilidade.
6.3.4 BUSCAS E PESQUISAS
Na categoria Buscas e pesquisas foram analisadas duas recomendações, sendo que o
sítio da Previdência Social atendeu satisfatoriamente à primeira delas, Ferramenta de busca
em todas as páginas, sempre no canto superior direito (conforme padrão), com capacidade
para pelo menos 27 caracteres. Este quesito foi totalmente contemplado pelo Portal da
Previdência Social. A segunda recomendação é Ferramenta de busca permite erro de
digitação e sugere palavras próximas, que não foi atendida, pois o sistema de busca só
conclui positivamente se a palavra for digitada integral e corretamente, caso a palavra digitada
não seja encontrada o sistema não sugere palavras próximas e tampouco emite qualquer
mensagem ou resposta.
Sendo assim, nesta categoria (buscas e pesquisas) o sítio da Previdência Social foi
avaliado com 50% de satisfação.
6.3.5 NAVEGAÇÃO ENTRE AS PÁGINAS
Na categoria de Navegação entre as páginas, todos os cinco requisitos adotados foram
observados, contemplando uma avaliação de 100%:
• Respeito às convenções utilizadas nos sites quanto a cores, links, botões de elementos
clicáveis, localização do logotipo em todas as páginas.
• Navegação facilitada: sem páginas órfãs, botão “voltar” sempre ativado, conteúdos
apresentados em telas-padrão, desenho do cursor do mouse consistente com os
padrões do sistema operacional, sem uso de janelas pop up e links que abrem novas
páginas.
• Todas as páginas permitem ser marcadas como “favorita”.
122
• Estrutura do portal planejada para facilitar o cidadão na sequência das tarefas.
Processos e transações permitem ao usuário desistir.
• Rótulos, terminologias, hierarquia e menus estruturados de forma lógica e intuitiva,
padronizados em todas as páginas.
6.3.6 REDAÇÃO E CONTEÚDO DAS INFORMAÇÕES
Na categoria Redação e conteúdo das informações das quatro variáveis observadas,
uma não foi atendida, o que indica satisfação de 75%.
Observou-se que o conteúdo das informações, que sofreram alterações durante o
período da coleta de dados não foi adequadamente atualizado. Desta forma, os conteúdos
desatualizados passaram a transmitir informações equivocadas.
As regras instituídas pela MP nº 739/2016 tiveram seu prazo de vigência encerrado no
dia 4/11/2016, passando novamente a prever o direito ao benefício de Auxílio-doença e
Salário maternidade aos requerentes que após a perda da qualidade de segurado voltassem a
contribuir com pelo menos um terço da carência do benefício, ou seja, 4 meses e 3 meses
respectivamente. As informações na página específica do Auxílio-doença não foram
atualizadas no sítio da Previdência Social até o final do mês de dezembro. Em relação ao
Salário Maternidade as informações foram atualizadas somente em 20/12/2016.
6.3.7 COMUNICAÇÕES DO SISTEMA
Na categoria Comunicações do sistema foi analisado o cumprimento de duas
recomendações: 1) As indisponibilidades do sistema são previamente avisadas; 2) Páginas de
conteúdo não encontrado emitem mensagem de erro e explicação.
A Cartilha de Usabilidade em governo eletrônico recomenda que todo evento que
interrompa o andamento normal do sítio deve ser avisado, em espaço privilegiado na primeira
página do sítio. “Esse mesmo aviso deve ser divulgado por outros meios, como a lista de
distribuição” (BRASIL, 2010c, p. 21). A cartilha adverte também que o aviso não deve ser
dado em janelas pop-ups, ou aberto em nova janela.
Durante do período de coleta de dados, de julho a dezembro de 2016, não foi
observado nenhum aviso sobre indisponibilidade do sistema, o que possivelmente tenha sido
123
uma falha. Além disso, verificou-se também, durante todo o período da coleta de dados que a
opção Regimento Interno, oferecida pelas opções Institucional > Instituto Nacional do Seguro
Social > Regimento Interno abre em nova janela a seguinte informação: Service Unavailable
– HTTP Error 503. The service is unavailable.
Esse exemplo mostra que as informações sobre o regimento interno do INSS estão
indisponíveis, o conteúdo da página não foi encontrado, mas o sistema não emite mensagem
de aviso, nem explicação sobre o problema.
Nenhum dos requisitos avaliados foi atendido nesta categoria pelo Portal da
Previdência Social, isto indica 100% de insatisfação na categoria Comunicações do sistema.
6.4 INCENTIVO À PARTICIPAÇÃO POPULAR
O Art. 3º da LAI estabelece que os procedimentos nela previstos devem ser
executados em conformidade com os princípios básicos da administração pública e dentre as
diretrizes a serem observadas encontra-se o desenvolvimento do controle social da
administração pública. O Art. 9º da LAI prevê que o acesso a informações públicas será
assegurado mediante realização de audiências ou consultas públicas, incentivo à participação
popular ou a outras formas de divulgação.
Para verificar o índice de incentivo à participação popular no Portal Eletrônico da
Previdência Social, foram criadas as seguintes categorias e suas respectivas subcategorias:
• Mecanismos que permitem o diálogo entre o cidadão e os órgãos da Previdência
Social – telefone; e-Mail; link específico para contato (“Fale Conosco” ou similar),
ouvidoria, formulários específicos para manifestação, questionários/enquetes.
• Mecanismos que podem permitir a interatividade entre os cidadãos e a Previdência
Social: fórum, chat, redes sociais, consulta pública, audiência pública.
Após a categorização e a subcategorização, os dados provenientes do sítio eletrônico
da Previdência Social foram classificados segundo os seguintes critérios de avaliação:
• 1 – Sim, a subcategoria é oferecida.
• 2 – A subcategoria é oferecida parcialmente.
• 3 – A subcategoria não é oferecida.
124
Quadro 11. Análise do incentivo à participação popular
CATEGORIA SUBCATEGORIA AVALIAÇÃO
Diálogo entre cidadão e órgão
público 1. Telefone 1
2. E-Mail 3
3. Link para contato 1
4. Ouvidoria 1
5. Formulário para
manifestação 1
6. Questionário/enquete 3
Interatividade entre os cidadãos e
os órgãos públicos 7. Fórum 3
8. Chat 3
9. Redes sociais 1
10. Consulta Pública 2
11. Audiência Pública 3 FONTE: Elaborado pela autora
Os resultados obtidos indicam que em 45,45% das subcategorias, a Previdência Social
oferece oportunidade de participação popular via Internet. Contudo, essa oferta se concentra
na categoria de mecanismos que possibilitam o diálogo somente entre o cidadão e os órgãos
da Previdência Social. Dentre as 5 subcategorias que possibilitam a interatividade entre
diversos cidadãos e a Previdência Social apenas “Redes Sociais” (9) foi contemplada pelo
sítio eletrônico da Previdência Social.
Em 45,45% das subcategorias, o sítio da Previdência Social não oferece oportunidade
de participação popular, pois não foram encontrados links para as seguintes opções:
• E-Mail (2) - observa-se que o Portal da Previdência Social não contempla a
subcategoria 2, pois não oferece um “e-Mail” para possibilitar o diálogo com o
cidadão. Ao clicar na opção Contato e Ouvidoria > Cadastrar Manifestação, a
Previdência Social informa que desde maio de 2008 “as respostas às reclamações,
sugestões e elogios não serão mais enviados por e-mail”, devem ser realizados via
telefone (135) ou no sítio eletrônico por meio da opção Fale com a Ouvidoria.
Entretanto, a opção Fale com a Ouvidoria é um link desativado. Assim, infere-se que
a Previdência Social não oferece a opção e-Mail e adicionalmente mantém uma
informação desatualizada acerca deste assunto.
• Questionário/enquete (6) - recurso que permite aos órgãos públicos pesquisar
informalmente a sociedade em relação a diversos assuntos que podem orientar
democraticamente a tomada de decisões. Contudo, a Previdência Social não utiliza
este recurso, ou seja, a subcategoria “Questionário/enquete” não foi contemplada pelo
sítio eletrônico da Previdência Social.
125
• Fórum (7) - recurso que pode ser utilizado para promover discussões via Internet, com
o objetivo de promover debate entre diversos atores sobre um determinado tema. O
fórum eletrônico possibilita a publicação de mensagens provenientes de cidadãos -
previamente cadastrados - e deve ser acompanhado por um moderador. Contudo, o
sítio eletrônico da Previdência Social não oferece este recurso, ou seja, a subcategoria
“Fórum” não foi contemplada.
• Chat (8) - significa conversão ou bate-papo. Este recurso possibilita um diálogo em
tempo real entre diversos cidadãos e o órgão público em tempo real. Verifica-se que o
Portal da Previdência Social não contempla esta subcategoria.
• Audiência Pública (11) - é uma forma de reunião para ampla discussão, com o
objetivo de promover a comunicação entre vários setores da sociedade civil e as
autoridades públicas. Muito embora a realização de audiência pública seja uma das
condicionantes em determinados processos, a decisão final cabe à autoridade pública
designada. A subcategoria “Audiência Pública” não foi contemplada pelo Portal da
Previdência Social.
Em apenas uma subcategoria, o Portal da Previdência Social oferece o recurso mas
não contempla seus requisitos de forma integral: Consulta Pública (10). Isso representa 9,1%
no resultado para apuração do índice de Incentivo à Participação Popular oferecido pelo sítio
eletrônico.
A consulta pública é um recurso que prevê a realização de uma reunião aberta com a
participação dos cidadãos. Num primeiro momento são coletadas as propostas sobre
determinado assunto pendente de decisão, depois devem ser selecionadas as propostas
prioritárias por meio de votação a fim de serem encaminhadas ao governo somente as mais
relevantes. A subcategoria “Consultas Públicas” está presente no Portal da Previdência
Social. Observa-se que a última consulta realizada, foi encerrada no dia 21 de agosto de 2016
com o título: “Fundos de Pensão: PREVIC publica consulta pública sobre equacionamento de
déficit”. Os interessados em participar da referida consulta pública deveriam enviar e-Mail
com sugestões para a PREVIC. A consulta pública informa o endereço do e-Mail mas não
divulga nenhum resultado da consulta, nem das participações, tampouco sobre as votações.
Desta forma, embora intitulada consulta pública, não segue as regras que caracterizam esta
subcategoria, pois não divulga as propostas recebidas, não realiza votação para decidir as
propostas prioritárias, tampouco permite efetivamente a interação e a participação previstas
para esse recurso.
126
Durante o período de coleta dos dados para a presente pesquisa – de julho a dezembro
de 2016 -, permaneceram disponíveis as divulgações das consultas públicas realizadas
anteriormente. Assim, foi possível observar que as consultas públicas realizadas no Portal da
Previdência Social de forma geral não possibilitam nenhuma participação além do envio de e-
Mail com sugestão. Além disso, as consultas realizadas no ano de 2016 não trataram de
assuntos interessantes para o público alvo da Previdência Social, ou seja, nenhuma consulta
pública realizada em 2016 versou sobre tema relacionado ao Regime Geral de Previdência
Social (RGPS):
• “PREVIC: Prorrogado prazo de consulta pública sobre certificação de dirigentes de
fundos de pensão” – encerrada em 11/3/2016;
• “RPPS: Aberta consulta pública para contribuir com a gestão dos Regimes Próprios” –
encerrada em 21/3/2016;
• “Fundos de Pensão: PREVIC abre consulta pública sobre contratação de seguros” –
encerrada em 15/4/2016;
• “Fundos de Pensão: Consulta Pública sobre Plano de Dados Abertos da PREVIC” -
encerrada em 13/8/2016.
127
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os dados históricos demonstram que a criação do Portal Eletrônico da Previdência
Social deu-se em grande parte devido às medidas impostas pelo Governo Federal com a
implantação do modelo da Nova Gestão Pública no Brasil; revelam também que o
desenvolvimento do Portal esteve relacionado à necessidade de dar cumprimento ao princípio
constitucional da eficiência e às regras da LAI.
A pesquisa bibliográfica acerca do desenvolvimento das TIC, amparada por estudos
acadêmicos especializados em Arquitetura da Informação Digital e Engenharia da
Usabilidade, bem como as pesquisas sobre acessibilidade e codificação em ambientes virtuais,
evidenciou a importância da correta e adequada utilização dos recursos tecnológicos pela
Previdência Social para oferecer informações e serviços de forma eficiente e possibilitar o
exercício da cidadania.
O conteúdo histórico sobre a Previdência Social no Brasil revela atribuições cujo
cumprimento relaciona-se com a distribuição de renda no país, por isso imprescindíveis para o
bem estar de grande parte da população, cerca de 54 milhões de trabalhadores da iniciativa
privada que obrigatoriamente filiam-se ao Regime Geral de Previdência Social e 34 milhões
de segurados que inevitavelmente utilizam os serviços da Previdência Social para o
recebimento de seus benefícios.
As atividades de comunicação publica da Previdência Social possuem caráter
preventivo quando implicam em disseminar informações e orientações aos cidadãos que ainda
não contribuem para previdência – principalmente trabalhadores informais - numa postura
educativa, uma vez que a falta de conhecimentos e consequentemente a ausência de
contribuições previdenciárias poderão futuramente incorrer no indeferimento insanável dos
benefícios. A falta de cobertura previdenciária associada a fatores de desestrutura social pode
gerar reflexos que ultrapassam o âmbito da economia familiar, podendo repercutir
socialmente na medida em que venham a contribuir ainda que indiretamente para o
crescimento de índices de criminalidade, mortalidade, desemprego.
Diferentemente de alguns outros serviços públicos, principalmente culturais e
educacionais que ainda precisam ser motivados e atrair o interesse dos cidadãos, a
Previdência Social demonstra pelos dados estatísticos ser detentora de uma demanda
espontânea e expressiva, com cerca de 710 mil requerimentos de benefícios ao mês. A
celeridade na prestação dos serviços previdenciários mostra-se essencial diante da
128
necessidade de analisar o direito aos benefícios e decidir sobre o pagamento dos proventos a
uma grande parte da população com a exclusividade que a CF/88 atribui à Previdência Social
para esse serviço.
Quanto ao público a ser atendido pela Previdência Social, o estudo revelou
características sociais, econômicas e educacionais que indicam limitações a serem
devidamente analisadas e respeitadas quando da construção e manutenção do Portal
Eletrônico, primordialmente no que tange à acessibilidade e à usabilidade.
O estudo demonstra que o Portal Eletrônico tem sido constantemente aprimorado e
incrementado para oferecer serviços e informações com o uso crescente das ferramentas
tecnológicas. Mas, os dados estatísticos ainda revelam números que não podem ser traduzidos
em uma situação de eficiência e celeridade.
O desenvolvimento da pesquisa, focada no objetivo geral de analisar o site da
Previdência Social quanto à transparência ativa na disponibilização das informações com o
uso dos recursos tecnológicos de acessibilidade e usabilidade a partir dos padrões exigidos
pela LAI e pelas demais normas que a complementam, possibilita sintetizar a análise e as
conclusões conforme o seguinte:
• Quanto ao grau de transparência ativa – cumpre satisfatoriamente 50% das exigências
da LAI; cumpre parcialmente 23% das exigências devido à desatualização das
informações; e, deixa de cumprir 26% das exigências legais por não disponibilizar
informações.
• Quanto à acessibilidade – apresenta erros que desfavorecem: a compreensão e a
percepção de mensagens relacionadas a imagens, a identificação de links, a leitura e a
funcionalidade de páginas e a compatibilidade com dispositivos e navegadores.
• Quanto à usabilidade – apresenta erros em relação a: organização dos conteúdos
relevantes e prioritários para o seu público alvo; presença de documentos, formulários
e informações desatualizadas, sem recursos para impressão e download; falhas na
ferramenta de busca e nas comunicações de indisponibilidade e erros do sistema.
• Quanto ao incentivo à participação pública – oferece oportunidade de participação
popular mais concentrada nos mecanismos que possibilitam o diálogo vertical, do
cidadão com o órgão público, deixando de utilizar diversas ferramentas que favorecem
a interatividade horizontal e vertical - dos cidadãos entre si e dos cidadãos com o
órgão público.
129
Diante das considerações e dos resultados obtidos observa-se que a Previdência Social
tem cumprido o princípio constitucional da legalidade e as regras gerais, formais e objetivas
da Lei de Acesso à Informação, ainda que sob certos aspectos, parcialmente. Também, muitos
preceitos da Comunicação Pública mostram-se contemplados pela Previdência Social por
meio do Portal Eletrônico principalmente no que se refere à disponibilização de informações e
à prestação de serviços. Entretanto, evidencia-se a necessidade de aperfeiçoamento e
otimização de uso das tecnologias para: disponibilizar informações atualizadas; eliminar erros
que desfavorecem a compreensão e a leitura das mensagens; organizar os conteúdos
priorizando o público alvo e respeitando suas urgências e limitações.
Ademais, os resultados da pesquisa representam muito mais que dados numéricos
estatisticamente aceitáveis, porque revelam a construção e o uso de uma linguagem simbólica
que dificulta a organização e o fomento das capacidades coletivas.
A partir dos resultados observados na pesquisa infere-se que o Portal da Previdência
Social viabiliza um grau mínimo de aperfeiçoamento democrático, caracterizando-se pela
ênfase na disponibilização de informações e na prestação de serviços, ainda focado em
atender as necessidades básicas dos cidadãos e do próprio órgão, entretanto sem o uso
otimizado dos recursos tecnológicos. Os resultados da análise não evidenciaram uma
preocupação da Previdência Social em incentivar a participação popular por meio do Portal
Eletrônico, pois as ferramentas virtuais que poderiam colher a opinião pública são ainda
precariamente utilizadas. Não há transparência e divulgação de participações, manifestações e
sugestões populares – caso essas existam – que possibilitariam o diálogo e as discussões.
Tampouco a Previdência demonstra estar desempenhando um papel de mediadora entre o
cidadão e as instâncias superiores para gerar algum reflexo nas decisões políticas e nas
deliberações.
Dentre as possíveis e necessárias medidas a serem adotadas pela Previdência Social
para viabilizar maior grau de aperfeiçoamento democrático encontra-se a transformação do
Portal Eletrônico em uma verdadeira agência virtual, onde o atendimento ao cidadão (público
alvo) seja prioritário com o uso otimizado das ferramentas que possibilitam oferecer serviços,
disponibilizar informações e coletar participações populares. Outra medida a ser adotada seria
a gestão dessas participações a fim de fomentar discussões entre os cidadãos e intermediá-las
quando necessário, de forma visível e transparente, demonstrando também o repasse e o
possível retorno de tais sugestões às instâncias deliberativas.
130
Otimizar as ferramentas tecnológicas de usabilidade e acessibilidade no Portal da
Previdência Social é imprescindível para minimizar os efeitos da exclusão digital que não se
resume na ausência de recursos materiais – computadores e conexões – mas pode advir das
dificuldades físicas, educacionais, sociais e da falta de hábito e encorajamento ao uso das
tecnologias.
O aprimoramento do site da Previdência Social e sua transformação numa interface
mais fácil, simples, direta, amigável e confiável, contribuiria para uma gradativa mudança
cultural no país, onde entidades e cidadãos fariam uso crescente dos dados de forma
sistemática, contínua, habitual, ativa e sustentável, deslocando parte do atendimento
presencial para o autoatendimento via internet.
Até o ponto onde a pesquisa foi conduzida é possível verificar que ainda que existam
princípios constitucionais, leis, políticas públicas e modelos administrativos, todos norteados
ao acesso à informação pública para promoção de um serviço eficiente e democrático; e ainda
que os órgãos públicos deem cumprimento, satisfazendo os critérios formais e objetivos
dentro dos padrões legalmente institucionalizados, podem ocorrer distorções e dissonâncias
aos reais interesses e necessidades dos cidadãos.
Assim, transformar a Previdência Social de mera cumpridora de procedimentos legais
e administrativos em um ator que efetivamente faz uso da comunicação pública apropriando-
se dos recursos tecnológicos para construção de um canal de atendimento em ambiente digital
com a máxima facilidade e possibilidade de uso universal na oferta de informações, serviços e
oportunidade de participação coletiva é um imenso desafio ainda a ser superado pelo Estado
Brasileiro.
131
8 REFERÊNCIAS
ABRAMO, C. W; Acesso à informação – um longo caminho a ser trilhado. Brasília: MP,
SEGES, 2002, p. 203-208.
ABRUCIO, F. L; PEDROTI, P; PÓ, M. V. A formação da burocracia brasileira: a trajetória e
o significado das reformas administrativas. In: LOUREIRO M. R.; ABRUCIO , F.
L.;PACHECO, R. S. (Orgs.). Burocracia e política no Brasil: desafios para o Estado
democrático no século XXI. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa, Portugal; Edições 70, LDA, 2009.
BAUER, M; Gaskell, G. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: Um manual
prático. RJ. Vozes. 2002.
BEHN, R. O novo paradigma da administração pública e a busca da accountability
democrática. Revista do Serviço Público, ano 49, n. 4, p. 5-44, out./dez. 1998.
BERCOVICI, G. A problemática da constituição dirigente: algumas considerações sobre o
caso brasileiro. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 36 n. 142 abr./jun. 1999.
BOURGON, J. Finalidade pública, autoridade governamental e poder coletivo. Revista do
Serviço Público, v. 61, n. 1, p. 5-34, jan./mar. 2010.
BRANDÃO, E. P. Conceito de comunicação pública. In: DUARTE, J. (Org.). Comunicação
pública: Estado, mercado, sociedade e interesse público. 3ª ed. São Paulo: Atlas, p. 1-33,
2012.
BRASIL. Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br). Manual de dados abertos:
desenvolvedores/ [cooperação técnica científica entre Laboratório Brasileiro de Cultura
Digital e o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br)]. São Paulo: Comitê
Gestor da Internet no Brasil, 2011a.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
BRASIL. Controladoria Geral da União. Aplicação da Lei de Acesso à Informação em
recursos à CGU. Brasília, agosto de 2015. Disponível em:
<http://www.acessoainformacao.gov.br/central-de-conteudo/publicacoes/arquivos/aplicacao-
da-lai-em-recursos-a-cgu.pdf>. Acesso em 12 ago 2016.
BRASIL. Controladoria Geral da União. Acesso à informação pública: uma introdução à
Lei 12.527, de 18 de novembro de 2011. Brasília, 2011b.
BRASIL. Lei n. 12.527, de 18 de novembro de 2011. Regula o acesso a informações
previsto no inciso XXXIII do art. 5º, no inciso II do § 3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da
Constituição Federal; altera a Lei n. 8.112, de 11 de dezembro de 1990; revoga a Lei n.
11.111, de 5 de maio de 2005, e dispositivos da Lei no 8.159, de 8 de janeiro de 1991; e dá
132
outras providências. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2011/lei/l12527.htm>. Acesso em 11 ago 2016.
BRASIL. Medida Provisória nº 739, de 7 de julho de 2016; altera a Lei nº 8.213, de 24 de
julho de 1991, que dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social, e institui o
Bônus Especial de Desempenho Institucional por Perícia Médica em Benefícios por
Incapacidade.
BRASIL. Ministério da Administração e Reforma do Estado: Programa da Qualidade e
Participação na Administração Pública. Cadernos MARE da Reforma do Estado. Brasília,
v. 4. 1997.
BRASIL. Ministério da Previdência e Assistência Social. Portaria MPAS nº 4.508, de 23 de
junho de 1998. Publicada no Diário Oficial da União em 24 de junho de 1998.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário. Portaria MDSA nº 152, de 25 de
agosto de 2016. Publica da no Diário Oficial da União em 26 de agosto de 2016.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Ações premiadas no 15º
Concurso Inovação na Gestão Pública Federal – Brasília: ENAP, 2010a.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Dois anos de Governo
Eletrônico: balanço de realizações e desafios futuros. Secretaria Executiva. Brasília, 2002.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Secretaria de Logística e
Tecnologia da Informação. Modelo de Acessibilidade em Governo Eletrônico. Brasília:
MP, SLTI, 2014a.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Secretaria de Logística e
Tecnologia da Informação. Padrões Brasil e-Gov: Cartilha de Codificação. Brasília: MP,
SLTI, 2010b.
BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, Secretaria de Logística e
Tecnologia da Informação. Padrões Brasil e-Gov: Cartilha de Usabilidade. Brasília: MP,
SLTI, 2010c.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. Atendimento programado do Instituto Nacional
do Seguro Social. Repositório Institucional da Escola Nacional de Administração
Pública. 2009. Disponível em: <http://repositorio.enap.gov.br/handle/1/346>. Acesso em: 2
dez 2016.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. Boletim estatístico da Previdência Social.
Disponível em: <http://www.previdencia.gov.br/wp-
content/uploads/2016/07/Beps062016_Final.pdf>. Acesso em 19 ago 2016.
BRASIL. Ministério da Previdência Social. Previdência Social 90 anos: cada vez mais
presente no futuro dos brasileiro. Previdência Social. Ano III, nº 5, janeiro-abril de 2013.
133
BRASIL. Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico. Brasília, 2005.
Disponível em: <https://www.governoeletronico.gov.br/documentos-e-arquivos/E15_241e-
PING%20v1.0%2013%2007%202005.pdf> Acesso em: 8 nov 2016.
BRESSER-PEREIRA, L. C. Da administração pública burocrática à gerencial. Revista do
Serviço Público, 47(1), jan. 1996.
BRYNER, G. C. Organizações públicas e políticas públicas. In: PETERS, G.; PIERRE, J.
(Org.). Administração Pública: coletânea. São Paulo: UNESP; Brasília: ENAP, p. 315-333,
2010.
BUCHSTEIN, H. Bytes that Byte: the Internet and Deliberative Democracy. In:
Constellations, Oxford, v. 4, n. 2, p. 248-263, 1997.
CARNEIRO, R; MENICUCCI, T. Gestão pública no século XXI: as reformas pendentes.
Brasília: IPEA, 2011.
DARBISHIRE, H. Proactive Transparency: The Future of the Right to Information? A
Review of Standards, Challenges, and Opportunities. World Bank Institute and the
Communication for Governance and Accountability Program, Washington, DC, 2011.
DENHARDT, R. Teorias da administração pública. São Paulo: Cengage Learning, 2012.
DUARTE, J. Sobre a emergência do(s) conceito(s) de comunicação pública. In: KUNSCH,
M. M. K (Org.). Comunicação pública, sociedade e cidadania. São Caetano do Sul, SP:
Difusão Editora, p. 121-134, 2011.
DUARTE, J. Instrumentos de comunicação pública. In: DUARTE, J. (Org.). Comunicação
pública: Estado, mercado, sociedade e interesse público. 3ª ed. São Paulo: Atlas, p. 59-71,
2012.
FARIA, C. F. S. Os desafios do Estado aberto: facilitar a visão do cidadão e dar poder à sua
voz. In: Pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no setor
público brasileiro: TIC Governo Eletrônico 2015 [livro eletrônico]. São Paulo: Comitê
Gestor da Internet no Brasil, 2016.
FERGUSON, M. Estratégias de governo eletrônico: O cenário internacional em
desenvolvimento. In: EISENBERG J; CEPIK, M. (Orgs.). Internet e Política: teoria e
prática da democracia eletrônica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002, p. 103-140.
FERREIRA, K. G. Teste de Usabilidade. Monografia de Graduação em Ciência da
Computação. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2002.
FLICK, U. Introdução à pesquisa qualitativa. Tradução: Joice Elias Costa. 3ª ed. Porto
Alegre: Artmed, 2009.
GIL-GARCIA, J. R; LANZA, B. B. B. Governo Digital no Brasil, no México e nos Estados
Unidos: esforços iniciais e o status atual. In: Pesquisa sobre o uso das tecnologias de
informação e comunicação no setor público brasileiro: TIC Governo Eletrônico 2015
[livro eletrônico]. São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2016.
134
GOMES, W. Participação política online: Questões e hipóteses de trabalho. In: MAIA, R. C.
M.; GOMES, W.; MARQUES, F. P. J. A. (Orgs.). Internet e Participação Política no
Brasil. Porto Alegre: Sulina, 2011, p. 19-45.
GOMIDE, A. A; SILVA, F. S; PIRES, R. R. Capacidades estatais e políticas públicas:
passado, presente e futuro da ação governamental para o desenvolvimento. In: Brasil em
desenvolvimento 2014: estado, planejamento e políticas públicas. Brasília: Ipea, 2014.
GRAU, N. C. A democratização da administração pública. Os mitos a vencer. In: Cadernos
da Fundação Luís Eduardo Magalhães: Gestão pública e participação. Salvador. FLEM,
2005.
HERRANZ, F.T; Arquitetura de la información: fundamentos del diseño de sedes en la
Word Wide Web. Sociedad Española de Documentación e Información Científica (SEDIC),
2002.
HOHLFELDT, A. Comunicação Pública: os diferentes sentidos do interesse público. In:
KUNSCH, M. M. K (Org.). Comunicação pública, sociedade e cidadania. São Caetano do
Sul, SP: Difusão Editora, 2011, p. 229-241.
INTERNATIONAL MONETARY FUND. The IMF and Good Governance. 2017.
Disponível em: <http://www.imf.org/en/About/Factsheets/The-IMF-and-Good-Governance>.
Acesso em 03/07/2017.
KONDO, S. et.al. Transparência e responsabilização no setor público: fazendo acontecer.
Brasília: MP, SEGES, 2002.
LAIA, M. M. et al. Políticas de governo eletrônico no Brasil: contexto, gestão de TIC e
resultados. Revista de Administração de Empresas, v.51, n. 1, p. 43-57, 2011.
LANDAUER, T. K. The Trouble with Computers: usefulness, usability, and
productivity. MIT Press, Cambridge, 1995.
LINHARES NETO, D. A; BRITO, E. M. Incidência da atuação do Conselho da
Transparência Pública e combate à corrupção no processo de accountability federal. Revista
da CGU, Brasília, Presidência da República, Controladoria Geral da União, ano VI, n. 9, jun.
2011.
LOPES, C. A. Acesso a informação pública para a melhoria da qualidade dos gastos públicos:
literatura, evidências empíricas e o caso brasileiro. Cadernos Finanças Públicas, Brasília, n.
8, p. 5-40, dez. 2007.
LOUREIRO, M. R. et al. Do controle interno ao controle social: a múltipla atuação da CGU
na democracia brasileira. Cadernos Gestão Pública e Cidadania, São Paulo, v. 17, n. 60,
jan/jun. 2012.
MARGETTS, H. Governo Eletrônico: uma revolução na Administração Pública? In:
PETERS, G.; PIERRE, J. (Orgs.). Administração Pública: coletânea. São Paulo: UNESP;
Brasília: ENAP, 2010, p. 357-376.
135
MARQUES, F. P. J. A.; Debates políticos na internet: a perspectiva da conversação civil.
Opinião Pública, Campinas, vol. 12, nº 1, Abril/Maio, 2006, p. 164-187.
MATHEUS, R; JANSSEN, M. Fatores que impactam o desenvolvimento de modelos
organizacionais públicos: infraestrutura de governo eletrônico como base. In: Pesquisa sobre
o uso das tecnologias de informação e comunicação no setor público brasileiro: TIC
Governo Eletrônico 2015 [livro eletrônico]. São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil,
2016.
MATOS, H. A comunicação pública na perspectiva da teoria do reconhecimento. In:
DUARTE, J. (Org.). Comunicação pública: Estado, mercado, sociedade e interesse
público. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p. 47-58.
MELLO, C. A. B. Curso de Direito Administrativo. São Paulo, 29ª edição. Malheiros
Editores, 2011.
MENDEL, T. Liberdade de informação: um estudo de direito comparado. Brasília,
Unesco, 2009.
MORVILLE, P.; ROSENFELD, L. Information Architecture for the World Wide Web. 3
Ed., Sebastopol, CA: O’Reilly, 2006.
NIELSEN, J; LORANGER, H. Usabilidade na Web. Tradução: Edison Fumankiewicz &
Carlos Schafranski. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.
ORGANIZATION FOR ECONOMIC CO-OPERATION AND DEVELOPMENT (OECD).
E-government studies – the e-government imperative. Paris: OECD Publishing, 2003.
ORGANIZATION OF AMERICAN STATES (OAS). Model InterAmerican Law on
Access to Information and Implementation Guide. OAS, Washington, DC. 2010.
RICART, R. M; UBALDI B. C. Como planejar governos digitais que apoiem o crescimento
inclusivo e sustentável na América Latina e no Caribe. In: Pesquisa sobre o uso das
tecnologias de informação e comunicação no setor público brasileiro: TIC Governo
Eletrônico 2015 [livro eletrônico]. São Paulo: Comitê Gestor da Internet no Brasil, 2016.
ROTHBERG, D; NAPOLITANO, C. J; RESENDE, L. P. Estado e burocracia: limites de
aplicação da Lei de Acesso a Informações no Brasil. Revista Fronteiras – estudos
midiáticos, v. 15, p. 108-117, 2013.
RUEDIGER, M. A. Governo eletrônico ou governança eletrônica – conceitos alternativos
no uso das tecnologias de informação para o provimento de acesso cívico aos
mecanismos de governo e da reforma do Estado. XVI Concurso e Ensayos y Monografias
del CLAD sobre Reforma del Estado y Modernización de la Administración Público
“Gobierno Eletrónico”. Caracas. 2002.
SECCHI, L. Modelos organizacionais e reformas da administração pública. Revista de
Administração Pública, v. 43, n. 2, p. 347-369, mar./abr. 2009.
136
SECRETARIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA.
Pesquisa Brasileira de Mídia 2015: hábitos de consumo de mídia pela população brasileira.
Brasília: Secom, 2014.
SHNEIDERMAN, B. Universal usability. Communications of the ACM. Maio/2000, vol.
43, nº 5, p. 84-91.
SILVA, L. M. Publicidade do poder, poder da publicidade. In: DUARTE, J. (Org.).
Comunicação pública: Estado, mercado, sociedade e interesse público. 3ª ed. São Paulo:
Atlas, 2012, p. 180-191.
TAKAHASHI, T. (Org). Sociedade da Informação no Brasil: livro verde. Brasília:
Ministério da Ciência e Tecnologia, 2000.
UNITED NATIONS. American society for public administration. Benchmarking e-
government: a global perspective. New York: Division for Public Economics and Public
Administration, 2002.
UNITED NATIONS. E-Government Survey 2012: E-Government for the People. United
Nations, New York, 2012. Disponível em:
<https://publicadministration.un.org/egovkb/Portals/egovkb/Documents/un/2012-
Survey/Complete-Survey.pdf> Acesso em 2 set 2016.
UNITED NATIONS. E-Government Survey 2016: E-Government in support of
sustainable development. New York: United Nations and American Society for Public
Administration, 2016.
WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro, Zahar editores, 1974.
WEBER, M. H. Estratégias da comunicação de Estado e a disputa por visibilidade e opinião.
In: KUNSCH, M. M. K (Org.). Comunicação pública, sociedade e cidadania. São Caetano
do Sul, SP: Difusão Editora, 2011, p. 101-119.
ZÉMOR, P. As formas da comunicação pública. In: DUARTE, J. (Org.). Comunicação
pública: Estado, mercado, sociedade e interesse público. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2012, p.
214-245.