UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CINCIAS DA SADE
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ODONTOLOGIA
NVEL: MESTRADO
REA DE CONCENTRAO: ODONTOLOGIA EM SADE
COLETIVA
Rogrio Ges
AVALIAO DO IMPACTO DA SADE BUCAL NO
COTIDIANO DOS ADOLESCENTES ESTUDANTES DO
INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA
(CAMPUS FLORIANPOLIS)
Florianpolis/SC
2014
Rogrio Ges
AVALIAO DO IMPACTO DA SADE BUCAL NO
COTIDIANO DOS ADOLESCENTES ESTUDANTES DO
INSTITUTO FEDERAL DE SANTA CATARINA
(CAMPUS FLORIANPOLIS)
Dissertao submetida ao Programa de
Ps-Graduao em Odontologia da
Universidade Federal de Santa
Catarina, para a obteno do Grau de
Mestre em Odontologia em Sade
Coletiva.
Orientador: Prof. Dr. Joo Carlos Caetano
Coorientadora: Prof. Dr. Mirelle Finkler
Florianpolis/SC
2014
Ficha de identificao da obra elaborada pelo autor,
atravs do Programa de Gerao Automtica da Biblioteca Universitria da UFSC.
G598a Ges, Rogrio
Avaliao do impacto da sade bucal no cotidiano dos
adolescentes estudantes do Instituto Federal de Santa Catarina
(Campus Florianpolis)/ Rogrio Ges ; orientador, Dr. Joo
Carlos Caetano; Coorientadora, Dr Mirelle Finkler -
Florianpolis, SC, 2014.
106p.: il., grafs., tabs.
Dissertao (Mestrado)- Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro de Cincias da Sade, Programa de Ps-
Graduao em Odontologia.
Inclui referncias
1. Avaliao de Sade bUcal. 2. IODD. 3. Autopercepo. 4.
Adolescentes. I. Ges, Rogrio. II. Caetano, Joo Carlos. III.
Finkler, Mirelle. IV. Universidade Federal de Santa Catarina.
Programa de Ps-Graduao em Odontologia. V. Ttulo.
DEDICATRIA
Dedico este trabalho minha maravilhosa famlia, cujo apoio e suporte emocional constantes, tornaram possvel
encarar e vencer este grande desafio. Selma, Gabriela, Felipe e Luiza,
muito obrigado a vocs.
AGRADECIMENTOS
Necessitaria de muito espao, para poder expressar meu
agradecimento a todos e a todas que, de alguma forma, contriburam
para o xito desta caminhada. De qualquer forma, correndo o risco de
involuntariamente esquecer algum, inicio por dizer abrigado a Deus, o
grande criador do universo, por ter-me dado o maravilhoso dom da vida.
Agradeo tambm a meus pais, cuja sabedoria adquirida com os
longos anos de vida, mesmo enfrentando grandes dificuldades,
souberam passar a seus filhos todas as lies necessrias sua formao,
como verdadeiros cidados. Obrigado a vocs, cuja dedicao
possibilitou a seus filhos a apropriao dos melhores valores da vida.
Desejo agradecer minha famlia, nas preciosssimas pessoas de
minha esposa Selma, meus filhos Gabriela, Felipe e Luiza, iluminadas
pessoas que souberam, ao longo destes dois anos, ter a pacincia e a
compreenso, to necessrias especialmente nos momentos de ausncia,
dedicados aos estudos e demais atividades ligadas ao curso. Aproveito
para lhes pedir perdo pelos momentos de tenso que provoquei ao
longo deste tempo, em funo das preocupaes com as atividades
acadmicas.
Quero dizer tambm muito obrigado a meus orientadores,
professor Dr. Joo Carlos Caetano e professora Dr Mirelle Finkler,
pelas imprescindveis orientaes no transcurso deste trabalho, pelos
ensinamentos que me deram a correta direo na busca de meus
objetivos nesta pesquisa e, alm de tudo, pela pacincia demonstrada
para comigo em todos os momentos nos quais ela se fez necessria.
No h lugar para a sabedoria, onde no h pacincia (Santo
Agostinho).
Preciso tambm agradecer a todos os alunos do curso de
graduao em Odontologia, com os quais tive o privilgio de estar, por
conta do estgio de docncia. O contato com a juventude, a irreverncia
e o mpeto destas pessoas, me possibilitaram renovao do esprito ao
longo deste tempo.
Sinto-me grato tambm a todos os professores do curso de ps-
graduao em Odontologia em Sade Coletiva, do Centro de Cincias
da Sade, pelos ensinamentos passados ao longo deste perodo, bem
como sempre prestativa Ana Maria Frandolozo, secretria do PPGO,
pelo fornecimento de todas as informaes ligadas ao curso.
Muito obrigado aos servidores do Centro de Cincias da Sade da
Universidade Federal de Santa Catarina, pelo suporte necessrio nas
mais diversas atividades pelas quais passei, neste perodo que ora se
encerra.
Manifesto meu mais profundo reconhecimento bibliotecria
Maria Gorete Savi, do Hospital Universitrio, cuja ajuda nas pesquisas
em bases de dados muito contribuiu para a concluso deste trabalho.
Muito obrigado a meus colegas de trabalho, no setor de sade do
Instituto Federal de Santa Catarina, pelas contribuies mais variadas
pesquisa. Agradeo tambm a todos os demais colegas do IFSC, pelo
fornecimento dos dados estatsticos referentes ao corpo discente da
escola, bem como a todos os professores e professoras que, to
gentilmente abriram seus espaos de docncia, para que eu pudesse
conversar com os estudantes participantes da amostra. Agradeo
tambm aos funcionrios da biblioteca do IFSC, pelo carinho com o
qual sempre me receberam, nas atividades de estudo naquele local.
Meu reconhecimento e agradecimento ao amigo Welliton Saulo
da Costa, pelas grandes contribuies em relao aos aspectos ligados
formatao do trabalho. Muito obrigado tambm ao meu grande amigo,
de longa data, Gil Csar dos Santos, pela ajuda em momentos de grande
necessidade, nos quais sempre esteve pronto a servir. Expresso tambm
minha gratido ao professor Eduardo Diniz, pelas correes e
contribuies escrita do abstract deste trabalho.
Enfim, muito obrigado a todos aqueles e aquelas que deram suas
mais valiosas contribuies, durante o transcurso desta jornada. Tenho
plena conscincia de que sem todos estes apoios, esta luta teria sido
infrutfera.
Bom mesmo ir luta com determinao, abraar a
vida com paixo, perder
com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve
e a vida muito para ser insignificante.
(Augusto Branco).
GES, Rogrio. Avaliao do impacto da sade bucal no cotidiano dos
adolescentes estudantes do Instituto Federal de Santa Catarina (Campus
Florianpolis). 2014, 106f. Dissertao (Mestrado)- Programa de Ps-
Graduao em Odontologia, Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianpolis, 2014.
Orientador: Prof. Dr. Joo Carlos Caetano
Coorientadora: Prof. Dr. Mirelle Finkler
rea de Concentrao: Odontologia em Sade Coletiva
RESUMO
Esta pesquisa descritiva transversal objetivou verificar o impacto da sade bucal
nas vidas dos estudantes adolescentes (n=274) do Instituto Federal de Santa
Catarina (Campus Florianpolis), na faixa etria de 15 a 19 anos, bem como
conhecer a autopercepo destes sujeitos, em relao sua sade bucal, e
caracterizar as principais razes de busca por assistncia odontolgica. Utilizou-
se um instrumento que tomou como base o Impactos Odontolgicos Nos
Desempenhos Dirios , composto pela avaliao de oito atividades dirias que
podem ser influenciadas pelas condies de sade bucal. A coleta de dados foi
realizada atravs da aplicao de um questionrio composto por 9 perguntas. As
atividades de maior impacto na populao estudada, em funo das condies
de sade bucal, foram: limpar os dentes (32,5%), sorrir (27,0%) e comer
(25,9%). O sintoma mais importante mencionado, e relacionado ao impacto foi
insatisfao com a aparncia (25,2%), ao passo que o de menor importncia foi
limitao na funo (6,9%). Relativamente autopercepo de sua sade bucal,
a maioria (87,9%) a classificou entre excelente e boa. No que se refere
satisfao com dentes e boca, 48,5% disseram-se satisfeitos. O principal motivo
da ltima consulta ao dentista (60,5%) foi limpeza/profilaxia, sendo que doena
tardia foi mencionada por apenas 1 respondente. Relativamente ltima
consulta ao dentista, 77,0% responderam ter sido h menos de 1 ano, sendo que
84,3% das consultas ocorreram em consultrio particular. Os resultados
evidenciaram ainda que, apesar de parcela significativa dos sujeitos da pesquisa
(45,3%) ter referido algum grau de impacto das condies de sade bucal em
seu cotidiano, 88% deles consideram sua sade bucal entre excelente e boa,
demonstrando falta de relao entre impacto e autopercepo de sade bucal.
Palavras-Chave: Avaliao de Sade Bucal. IODD. Autopercepo.
Adolescentes.
ABSTRACT
The present investigation is a cross-sectional, observational study whose
objectives are twofold:1) to verify the impact of oral health on the lives of
adolescents students (n=274), who attend the Federal Institute of Education,
Science and Technology of Santa Catarina in Florianpolis; To examine the self
concept of these students about their oral health, and characterize the main
reasons they had for seeking oral assistance.It was used an instrument based on
the Oral Impact on Daily Performances. It consists in the evaluation of 8 daily
activities that can be influenced by the oral conditions. Data were collected
through the use of a questionnaire of 9 items. The activities that showed the
highest impacts, due to the oral conditions of the sample were: cleaning the
teeth (32,5%), smiling (27,0%) and eating (25,9%).The most important
symptom mentioned by participants was dissatisfaction with appearance
(25,2%), while the least important one was limitation of function (6,9%). With
regard to the conception of their oral health, the majority of the subjects
(87,9%), classified it somewhere between excellent and good. As for the
satisfaction with teeth and mouth, 48,5% said to be satisfied. The most common
reason for the last appointment with the dentist, mentioned by 60,5% of the
participants was cleaning/prophilaxy. On the other hand, late illness was
mentioned by only 1 respondent. Finally, in what concerns the time of their
latest appointment with the dentist, 77,0% said it was less than one year ago;
34,2% said to have gone to the dentist 10 or more times in the last year; and
84,3% of the appointments were in private offices. The results also showed that,
despite the fact that a significant part of the sample (45,3%) showed some
degree of impact of oral health conditions in their day by day, 88% of them
considered their oral health between excellent and good, showing a lack of
relationship between impact and oral health self-concept.
Keywords: Oral Health Evaluation. OIDP. Self Concept. Adolescents.
LISTA DE FIGURAS E GRFICOS
Figura 1. Modelo de Locker. ................................................................ 35
Figura 2. Arcabouo terico dos impactos das doenas bucais. ........... 39
Grfico 1. Distribuio dos IODD brutos, segundo frequncias.
Florianpolis, 2013. ............................................................ 58
LISTA DE QUADRO E TABELAS
Quadro 1. Critrios de escores de frequncia e severidade do IODD. . 40
Tabela 1. Distribuio dos indivduos, segundo variveis sociodemogrficas. Florianpolis, 2013. ............................. 53
Tabela 2. Distribuio dos indivduos, segundo condio de acesso a servios odontolgicos, motivo e local da consulta no ltimo
ano. Florianpolis, 2013. ..................................................... 54
Tabela 3- Impacto Oral na qualidade de vida nos ltimos seis meses segundo atividade envolvida, entre os entrevistados.
Florianpolis, 2013. ............................................................. 57
Tabela 4. Sintoma principal e condio bucal, responsveis pelo Impacto Oral no Desempenho Dirio em cada atividade
avaliada, segundo percepo da populao estudada.
Florianpolis, 2013. ............................................................. 59
Tabela 5. Distribuio dos indivduos, segundo autopercepo de sade bucal e satisfao em relao aos dentes e boca.
Florianpolis, 2013. ............................................................. 62
Tabela 6. Distribuio dos indivduos, segundo Impacto Oral na Qualidade de vida e condio demogrfica e socioeconmica.
Florianpolis, 2013. ............................................................. 64
Tabela 7. Frequncia de IODD nos oito desempenhos, de acordo com o nmero de pessoas afetadas. ................................................ 65
Tabela 8. Severidades de IODD nos oito desempenhos, de acordo com o nmero de pessoas afetadas. ............................................. 65
SUMRIO
INTRODUO ................................................................................... 21
2 OBJETIVOS ..................................................................................... 27 2.1 OBJETIVO GERAL ........................................................................27 2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ...........................................................27
3 REVISO DE LITERATURA........................................................ 29 3.1 ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE ADOLESCNCIA
E JUVENTUDE ...............................................................................29 3.2 SADE BUCAL E OS CRITRIOS SUBJETIVOS DE
MENSURAO .............................................................................32
4 METODOLOGIA ............................................................................ 47 4.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................47 4.2 LOCAL DA PESQUISA. .................................................................47 4.3 SELEO DOS PARTICIPANTES ...............................................49 4.4 ASPECTOS TICOS ......................................................................50 4.5 COLETA E ANLISE DOS DADOS.............................................50
5 RESULTADOS E DISCUSSO ..................................................... 53 5.1 CARACTERIZAO DA AMOSTRA ..........................................53 5.1.1 Acesso ao servio ........................................................................ 53 5.2 IMPACTO ORAL NOS DESEMPENHOS DIRIOS ....................57
7 CONSIDERAES FINAIS .......................................................... 67
REFERNCIAS .................................................................................. 71
APNDICES ........................................................................................ 85 APNDICE A. INSTRUMENTO DE PESQUISA (ORIGINAL) ........87 APNDICE B. INSTRUMENTO DE PESQUISA UTILIZADO ........93 APNDICE C. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO (1) .....................................................96
APNDICE D. TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO (2) .................................................... 98
ANEXOS ............................................................................................. 101 ANEXO A. DECLARAO (RESPONSVEL PELA
INSTITUIO) ............................................................. 103 ANEXO B. PARECER DO COMIT DE TICA EM
PESQUISA COM SERES HUMANOS (CEPESH) ...... 104
INTRODUO
A despeito da grande utilizao das tcnicas quantitativas nos
trabalhos cientficos, objetivando a verificao das condies de sade
das populaes e os benefcios muitas vezes decorrentes destes trabalhos
na implantao ou melhoria das polticas de sade, alguns estudos tm-
se ocupado tambm com a necessidade de uma abordagem voltada
busca dos elementos subjetivos que, em conjunto com os aspectos
clnicos, produzem influncias variadas no estado de sade das pessoas.
Os instrumentos de abordagem quantitativa leem e expressam as
doenas numericamente, o que no o suficiente para a compreenso
das implicaes do processo sade-doena nos grupos populacionais.
Neste sentido, surge a necessidade do emprego de mtodos de
investigao capazes de, atravs da subjetividade, identificar as
condies entendidas como problemas de sade bucal pelas pessoas.
Assim sendo, poderemos entender melhor as repercusses destas
condies nas vidas dos grupos populacionais, bem como suas
expresses em incapacidades e deficincias.
No Brasil, particularmente, em funo das inmeras diferenas
existentes entre populaes de distintas regies, dentre elas a
escolaridade, a renda familiar e a ocupao, notam-se tambm
diferenas nos padres de sade bucal das pessoas. Antunes e Narvai
(2010), nos mostram que a literatura tem descrito e analisado as
diferenas verificadas nos diversos estratos populacionais,
particularmente em relao s questes socioeconmicas, raciais e de
gnero, que tm influncias nos indicadores de morbidade e
mortalidade.
preciso que os profissionais da sade compreendam que as
informaes tcnicas que possuem, julgadas por eles como capazes de
eliminar a ignorncia alheia, nem sempre so realmente relevantes
(BOTAZZO, 2008, p.85), ou seja, as demandas das pessoas por
assistncia, nem sempre coincidem com nossos critrios tcnicos de
tratamento. Por conta disso, alguns segmentos da populao ainda
permanecem margem de direitos bsicos, dentre eles o direito ao
acesso e ao uso dos servios de assistncia sade. Dentro desta lgica,
o relatrio final da 3 Conferncia Nacional de Sade Bucal mostra que
a excluso social no Brasil reflete-se tambm nas condies de sade
22 ________________________________________________ Introduo
bucal da populao e nas dificuldades de acesso aos servios
assistenciais, fazendo com que as ms condies de vida de muitos
brasileiros tenham tambm expresso em dentes e gengivas (BRASIL,
2004a, p.7).
importante reconhecer que, ao longo das ltimas dcadas, este
quadro tem sofrido alteraes significativas, especialmente por conta
dos avanos verificados nos programas voltados especificamente
ateno odontolgica na rede pblica, com destaque para o programa
Brasil Sorridente (BRASIL, 2004b), poltica implementada pelo
governo federal, com abrangncia nacional. Dentro desta lgica,
julgamos conveniente mencionar tambm a constante expanso dos
Centros de Especialidades Odontolgicas (CEOs), criados no ano de
2004, tambm como parte do programa Brasil Sorridente, referncias
para as equipes de sade bucal da ateno bsica (NARVAI; FRAZO,
2008a) e tambm os laboratrios regionais de prtese dentria (LRPD),
em gradual expanso pelo territrio brasileiro (BRASIL, 2004b). Alm
disso, a fluoretao das guas de abastecimento, bem como o
atendimento odontolgico pblico atravs do Sistema nico de Sade
(SUS), modificaram a antiga lgica de assistncia restrita ao grupo
materno-infantil, principalmente os escolares (ANTUNES; NARVAI,
2010).
Em que pese a crescente oferta de servios pblicos de assistncia
odontolgica em nosso pas, convivemos ainda com um sistema de
sade segmentado, que tem na iniciativa privada, especialmente atravs
de empresas de grande capital, conquistado cada vez mais espao.
Entendemos que os princpios fundamentais do SUS podero ser
alcanados, a partir do momento em que a formulao das polticas
pblicas de sade permita que as pessoas, atravs do melhor acesso aos
servios de assistncia, sejam protagonistas nestes processos. Ao
assumirem o papel de sujeitos capazes de transformar as decises que
envolvem as aes de cuidado, por certo aumentaro seu grau de
satisfao e confiana em relao ao servio, o que resultar em maior
procura e qualificao da assistncia.
Conhecer a realidade da populao com a qual estamos
trabalhando e, no mais das vezes, na qual estamos inseridos, mostra-se
relevante, uma vez que desejamos que nossas aes venham
efetivamente ao encontro das reais demandas desta populao. Neste
sentido, destacam-se os levantamentos epidemiolgicos realizados no
Brasil, em 2003 e 2010 (BRASIL, 2004c; 2011), que objetivaram
conhecer as condies de sade bucal da populao e que, por sua
abrangncia, tm possibilitado a implantao de polticas de sade bucal
Introduo ________________________________________________ 23
com uma base concreta.
Os dados apresentados por estes estudos nos permitem uma
aproximao maior realidade, por espelharem os mais diferentes
padres de sade bucal, oferecendo-nos, desta forma, subsdios ao
enfrentamento dos problemas bucais mais prevalentes, dependendo das
diferentes caractersticas que compem a populao.
Ao longo do tempo, o Brasil experimentou variados modelos de
ateno sade, fortemente ligados aos cenrios econmicos vigentes.
Os modelos de ateno sade postos em prtica em nosso pas, no
decorrer de sua historia, tinham como principais caractersticas a
verticalizao e a centralidade das aes em polticas que visavam ao
controle das doenas que pudessem ameaar a economia do pas,
principalmente em relao s exportaes das muitas riquezas que aqui
foram produzidas. Foi a partir de 1988, com a criao do SUS, que esta
realidade comeou a se transformar, pela adoo de um modelo de sade
com carter universalista, que por sua concepo deveria abranger a
todos indistintamente. O advento do SUS abriu uma importante janela
de oportunidades, para que a sade bucal passasse a ser entendida como
parte da sade geral dos indivduos, sob uma perspectiva constitucional,
que a coloca como direito de todos e dever do Estado (BRASIL, 1990a).
A pesquisa SB Brasil 2003 (BRASIL, 2004c), mostra-nos dados
da realidade brasileira que refletem este quadro de diferenciaes nos
padres de sade bucal, nas mais diferentes regies brasileiras, como
por exemplo os percentuais que mostram que os ndices de crie e
perdas dentais, identificados como CPO-d (dentes permanentes cariados,
perdidos e obturados) e ceo-d (dentes temporrios cariados, com
extrao indicada e obturados), na faixa etria de 18 a 36 meses, nas
idades de 5 e 12 anos e na faixa de 15 a 19 anos, so sempre superiores
nas regies norte e nordeste, em comparao com os ndices
apresentados pelas regies sul e sudeste.
Sete anos aps a concluso deste, que foi o terceiro levantamento
epidemiolgico nacional de sade bucal, houve a concluso do projeto
SB Brasil 2010 (BRASIL, 2011), realizado em 26 capitais, no Distrito
Federal e em 150 municpios do interior do Brasil. A exemplo do
levantamento anterior, este trabalho mostrou diferenas regionais,
quanto prevalncia de dentes cariados, perdidos e obturados, revelando
significativa desvantagem, principalmente das regies norte e nordeste,
em relao ao sul e sudeste. Como exemplo, temos que os ndices de
ceo-d e CPO-d mdios, verificados nas regies norte, nordeste e sul,
para a faixa etria de 15 a 19 anos, foram de: 5,64; 4,53 e 4,01
respectivamente.
24 ________________________________________________ Introduo
Segundo este mesmo inqurito epidemiolgico, havia diferenas
muito grandes, no tocante s mdias dos nmeros de dentes com
experincia de crie, entre crianas de 12 anos de idade e adolescentes
de 15 a 19 anos. Para os primeiros, verificou-se uma mdia nacional de
2,7 dentes atingidos por crie, enquanto para estes ltimos, a mdia
registrada foi de 4,25 dentes nesta situao. Estes dados, embora no
possam ser analisados separadamente dos demais componentes
econmicos e sociais, prprios dos agrupamentos em que vivem os
indivduos, nos mostram que o perodo da adolescncia produz
repercusses diversas nas vidas dos indivduos, incluindo-se as questes
relativas sade bucal. importante destacar que a doena crie
acompanha ainda os indivduos, na passagem da infncia para a
adolescncia.
Em face da realidade vivida pela populao brasileira, e
desejando verificar em que medida o estado de sade bucal produz
influncia no dia a dia das pessoas, que desenvolvemos este trabalho
de pesquisa, centrado nos alunos do Instituto Federal de Cincia e
Tecnologia de Santa Catarina IFSC - (Campus Florianpolis), situados
na faixa etria de 15 a 19 anos. Entendemos que o desenvolvimento
deste trabalho poder, inclusive, orientar aes futuras no sentido do
aprimoramento de nossas competncias profissionais na instituio,
aproximando-as das reais demandas de nossos estudantes.
Enquanto os profissionais da Odontologia ocupam-se dos exames
clnicos, centrando sua ateno na presena de doena, os pacientes
preocupam-se com os sintomas e com as implicaes funcionais e
sociais dela decorrentes, fazendo com que o exame clnico e a
autopercepo coincidam, geralmente nas situaes de dor e deficincia
na esttica (SILVA, 1999). importante desenvolver outras formas de
medir as percepes das pessoas, importando-nos com as experincias
subjetivas destas, alm de sua interpretao do processo sade/doena
(MIOTTO; BARCELLOS; VELTEN, 2012, p.398).
Rodrigues (2010, p.10), mostrando sintonia com este raciocnio,
afirma: [] ao encararmos os problemas dos outros como de
todos ns, visto que so problemas pblicos, abrimos
uma janela de oportunidades para que as polticas
pblicas que produzimos faam, de fato, diferena
para a sociedade em que todos ns vivemos.
Visando humanizao das aes e servios de sade,
necessrio que os trabalhadores, em conjunto com os usurios,
Introduo ________________________________________________ 25
construam respostas s demandas destes ltimos, fazendo deste processo
algo alm das consultas e atendimentos, produzindo assim conhecimento,
responsabilizao e autonomia em cada usurio (BRASIL, 2004d, p.3).
Entendemos que a produo do cuidado passa, necessariamente,
pela identificao dos fatores implicados com o estado de sade bucal
dos indivduos, que realmente produzem influncias em suas vidas e em
seus contatos sociais. Segundo Turato (2005), entender os fenmenos
implicados com o processo sade-doena importante, dentre outros
aspectos, para a melhora da relao profissional/ paciente/ famlia/
instituio, para a compreenso dos comportamentos dos doentes, de
seus familiares e da prpria equipe de sade.
Desejamos, pois, abandonar o modelo flexneriano de ateno
sade, centrado na concepo biologicista das doenas, negando as
determinaes sociais da sade [...] (ALMEIDA FILHO, 2010,
p.2235), para adotar posturas profissionais pautadas pela viso do
indivduo inserido em um contexto social que no pode ser separado dos
determinantes sociais e contextuais que o cercam, e que influenciam na
sua condio de sade ou de doena.
Prejuzos fala, mastigao e ao sorriso, atos necessrios vida
dos indivduos, bem como ao seu convvio social, devem merecer nossa
ateno enquanto profissionais da sade, especialmente se desejamos
orientar nossas prticas s reais necessidades dos usurios de nosso
servio, procurando uma associao entre os componentes biolgicos
envolvidos nestes fenmenos e os fatores subjetivos, ou seja, aqueles
que nos escapam identificao, mas que, de igual maneira, causam
problemas do ponto de vista psicossocial a estas pessoas.
relevante que entendamos as implicaes existentes entre a
sade bucal e a qualidade de vida das pessoas, at porque isto nos afasta
da viso reducionista da Odontologia centrada unicamente em elementos
dentais. Conhecer o processo sade/doena, por sua
determinao social, a tarefa que os profissionais
de sade devem hoje desenvolver, para que atuem
em coerncia com os conhecimentos que a cincia
produziu at este momento. (BOTTAZO et al., 1988,
p.14).
Muitas vezes os indivduos pesquisados relatam plena satisfao
com sua sade bucal, embora sejam verificados, nestas mesmas pessoas,
atravs de critrios normativos, problemas diversos relacionados a
perdas dentais, fraturas, prteses mal adaptadas, dentre tantos outros.
Segundo Mello e Erdmann (2007), no se pode ligar o conceito de
26 ________________________________________________ Introduo
doena apenas presena de patologias bucais, uma vez que a maioria
dos indivduos idosos, por no possuirem elementos dentais, no as
apresentam. Desta forma, poderiam ser considerados saudveis.
As dvidas que nos motivaram ao desafio desta pesquisa podem
ser sintetizadas com a seguinte questo: Que impacto tem a sade
bucal, no cotidiano dos estudantes adolescentes do IFSC ? As motivaes que nos conduziram a este trabalho resultam da
pequena quantidade de pesquisas desta natureza, encontradas na
literatura, bem como dos ltimos resultados mostrados pelo SB Brasil
2010 (BRASIL, 2011), registrando grande diferena no ndice de CPO-d
mdio dos indivduos adolescentes, quando comparados aos verificados
nos indivduos aos 12 anos de idade. Alm disso, nos causou
curiosidade ver o que aconteceria, caso desenvolvssemos um trabalho
semelhante de investigao na populao com a qual vimos trabalhando,
durante mais de duas dcadas.
2 OBJETIVOS
2.1 OBJETIVO GERAL
Avaliar o impacto das condies de sade bucal no cotidiano dos
adolescentes estudantes do Instituto Federal de Santa Catarina (campus
Florianpolis).
2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS
Conhecer a autopercepo dos estudantes em relao sade bucal;
Caracterizar as principais razes da procura por assistncia odontolgica.
3 REVISO DE LITERATURA
3.1 ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE ADOLESCNCIA E
JUVENTUDE
Em vrias partes do mundo, a sade bucal dos adolescentes em
seus aspectos subjetivos, j foi objeto de estudos por parte de diversos
autores, como: Gilbert (1994); Mac Gregor, Balding e Regis (1998);
Watt (1997); Thomson, Locker e Poulton (2000). Em nosso pas,
trabalhos envolvendo adolescentes foram produzidos por alguns autores,
como: Silva, Paixo e Pordeus (1997); Taminetti, Castilho e Paixo
(1998) e Freire (1999).
A adolescncia uma etapa da existncia, em que muitas
transformaes fsicas, biolgicas e psicolgicas ocorrem, marcando a
passagem para a vida adulta. Estas transformaes tm tambm seus
reflexos na sade bucal, sendo, por isso, motivo de interesse em nossa
pesquisa.
A Organizao Mundial de Sade (OMS) estabelece os limites
cronolgicos de 10 a 19 anos de idade para a adolescncia. A
Organizao das Naes Unidas (ONU) situa os sujeitos dos 15 aos 24
anos de idade na classificao de jovens. Segundo Eisentein (2005, p.6),
estes limites temporais so os mesmos adotados no Brasil, pelo
Ministrio da Sade (MS).
O Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA) - lei n 8069
(BRASIL, 1990b) - situa os adolescentes na faixa etria dos 12 aos 18
anos, prevendo para esta parcela da populao uma variedade de
direitos, incluindo tambm, em seu artigo 4, a sade. O estatuto traz
para esta responsabilidade a famlia, a comunidade, a sociedade em
geral e o poder pblico.
O governo federal vem, ao longo dos ltimos anos,
desenvolvendo polticas de sade especficas aos adolescentes
brasileiros, com destaque para a PENSE (Pesquisa Nacional de Sade
do Escolar) desenvolvida pelo Ministrio da Sade (MS), em parceria
com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE),
envolvendo alunos do 9 ano do ensino fundamental, de escolas pblicas
e particulares (BRASIL, 2012a), alm do PSE (Programa Sade na
Escola), institudo pelo decreto n 6.286/2007, visando preveno,
30 _________________________________________ Reviso de Literatura
promoo e ateno a crianas, adolescentes e jovens do ensino
pblico bsico, no mbito das escolas e unidades bsicas de sade,
realizadas pelas equipes de sade e de educao, de forma integrada.
Ademais, as Diretrizes da Poltica Nacional de Sade Bucal
recomendam, em relao ao grupo de crianas e adolescentes (6-18
anos), que se deva adaptar cada situao epidemiolgica ateno, e
que os grupos de maior risco devem ser encaminhados ateno
curativa individual. Alm disso, preceitua tambm a organizao de
fluxos para a garantia de atendimento aos adolescentes (BRASIL,
2004d).
de grande importncia que no processo de promoo da sade
na escola, seja dada ateno aos demais determinantes do processo
sade/doena, como os aspectos polticos, socioeconmicos, ambientais,
familiares, dentre outros, alm dos determinantes proximais deste
processo. Promover sade mais do que prevenir doena (HALLAL,
2010).
No que se refere s condies de sade bucal especificamente, o
SB Brasil 2010 (BRASIL, 2011) revelou as seguintes mdias de CPO-d
em Florianpolis: aos 12 anos, 0,77 e, dos 15 aos 19 anos, 2,57. Isto
merece de nossa parte estudos e reflexes, no sentido de uma
aproximao aos fatores relacionados a estas diferenas.
O ltimo censo do IBGE (IBGE, 2010) mostrou que o pas tinha
uma populao total de 190.732.694 habitantes naquele ano. Muito
embora este censo tambm tenha mostrado que a populao brasileira
encontra-se em fase de envelhecimento, h que se considerar que ainda
somos um pas, cuja populao total conta com significativa quantidade
de pessoas jovens (16.990.872 pessoas de 15 a 19 anos de idade), de
acordo com aquele levantamento. Na mesma faixa etria, Santa Catarina
tinha 545.405 pessoas, e Florianpolis, 32.532. Os dados apresentados
nos mostram serem relevantes os estudos relacionados a esta populao
especificamente, considerando-se tanto o pas em sua totalidade, como
apenas o estado de Santa Catarina.
A OMS estabeleceu, em 1981, algumas metas a serem atingidas
em sade bucal, at o ano 2000 (NARVAI, 2002), dentre elas: aos 18
anos de idade, 85% das pessoas deveriam apresentar todos os dentes
irrompidos presentes. Em relao a estas, o projeto SB Brasil 2003
(BRASIL, 2004c), mostrou que o melhor ndice foi de 66,55%, relativo
aos indivduos com 18 anos de idade, que apresentavam todos os dentes
presentes em boca, ndice este registrado na regio sul. Para esta idade,
o pior ndice (39,13%) foi registrado na regio norte do pas, ficando
assim muito distante da meta preconizada pela OMS.
Reviso de Literatura __________________________________________ 31
Durante a realizao do 4 Congresso Mundial de Odontologia
Preventiva, na Sucia, em 1993, novas metas para o ano de 2010 foram
propostas pela OMS, no tocante sade bucal. Dentre elas, podemos
destacar: 90% de pessoas sem crie na idade de 5 a 6 anos; CPOD
menor que 1 aos 12 anos de idade; aos 15 anos de idade, no mais que
um sextante com ndice Periodontal Comunitrio (IPC) 1 (sangramento
observado diretamente ou com espelho, aps sondagem), ou 2 (com
clculo em qualquer quantidade, mas com toda a rea preta da sonda
visvel); no haver perda dental, aos 18 anos de idade, devido crie ou
doena periodontal (NARVAI, 2002). O IPC verifica, atravs de exame
clnico, alm das situaes de normalidade, a existncia de sangramento,
clculo (depsitos slidos) ou bolsa periodontal (BRASIL, 2000).
No tocante s metas para o ano 2010, o SB Brasil (BRASIL,
2011), mostrou nmeros tambm distantes daqueles preconizados pela
OMS, uma vez que a proporo do componente perdido, em relao
ao ceo-d na idade de 5 anos, foi de 2,43% no Brasil, e de 2,49% na
regio sul. O CPO-d aos 12 anos foi de 2,07 no Brasil e 2,06 na regio
sul. Em relao ao IPC, verificou-se que na faixa etria de15 a 19 anos,
somente o sextante superior direito apresentou 11,5% e 3,7%, para
sangramento (IPC 1) e clculo (IPC 2) respectivamente. Em relao aos
dentes perdidos, este levantamento evidenciou em Florianpolis, para a
faixa etria de 15 a 19 anos, um CPO-d mdio de 2,57, sendo que o
componente perdido respondia por 7,0% deste ndice.
O que se tem percebido, que mesmo com os programas de
sade bucal voltados aos adolescentes, e com a melhoria no acesso aos
servios de sade, estes indivduos continuam sendo atingidos pelos
agravos e doenas mais prevalentes em sade bucal.
Dentro desta mesma faixa de idade, no que se refere
autopercepo de sade bucal, interessante notar no levantamento
epidemiolgico de 2003(BRASIL, 2004c), que no quesito: como voc
classifica sua sade bucal, apenas 5,86%, dos 977 indivduos
pesquisados, a classificaram como tima e 44,58% como boa. No
entanto, no item de que forma a sade bucal afeta o relacionamento,
71,20%, dos 11.871 pesquisados, responderam que ela no tem nenhum
efeito. Estes dados nos levam a entender que a grande maioria dos
indivduos pesquisados no atribuiu importncia sade bucal em seus
relacionamentos sociais.
Considera-se igualmente importante mencionar que, segundo os
dados colhidos pelo SB Brasil 2010 (BRASIL, 2011), dentre os
indivduos pesquisados na faixa etria de 15 a 19 anos na regio sul,
16,4% responderam estar insatisfeitos em relao a seus dentes e bocas.
32 _________________________________________ Reviso de Literatura
Em relao mensurao do impacto das condies bucais no dia a dia
das pessoas, as atividades que mostraram maior importncia foram:
comer, escovar os dentes e sorrir, com 19,1%, 14,0% e 13,9% de
impacto respectivamente.
Entender as nuances relacionadas autopercepo de sade bucal
das pessoas, bem como o que isto representa em suas vidas, nos parece
de grande importncia, para que as aes voltadas sade bucal atinjam
a eficcia e a efetividade delas desejadas.
Afora os determinantes mais distais do processo sade/doena,
como a escolaridade e as condies socioeconmicas, as percepes dos
adolescentes, no tocante sade bucal nos parecem transitar por
diferentes perspectivas de entendimento.
Desta forma, a cincia odontolgica vem buscando, com o passar
dos tempos, novas formas de entendimento destas, e de outras questes
que fazem parte do dia a dia de todos os profissionais comprometidos
com as mudanas propostas pelas diretrizes governamentais, mas,
fundamentalmente, pelas necessidades sociais.
3.2 SADE BUCAL E OS CRITRIOS SUBJETIVOS DE
MENSURAO
A preocupao dos autores, em vrias partes do mundo, com a
criao de instrumentos capazes de identificar os aspectos subjetivos
envolvidos com qualidade de vida relacionada sade, no algo novo
na literatura cientfica. Muitos trabalhos j se propuseram a este
objetivo. Contudo, uma das grandes dificuldades enfrentadas por estes
autores, ligava-se confiabilidade de tais instrumentos, no apenas em
relao aos conceitos relacionados qualidade de vida, mas tambm
falta de metodologias capazes de, por sua abrangncia, abarcar as
dimenses psicolgicas e sociais envolvidas no processo sade/doena,
alm dos aspectos fsicos bastante conhecidos (WHO, 1998).
Na dcada de 90, a OMS reuniu pesquisadores de vrias partes do
mundo, com o objetivo de desenvolver um instrumento de verificao
dos aspectos relacionados qualidade de vida em sade, que pudesse ser
aplicado transculturalmente. Mais do que simplesmente cri-lo e
traduzi-lo para outros idiomas, o objetivo foi desenvolv-lo
simultaneamente em vrias culturas e lnguas diferentes (WHO, 1998,
p.1570, traduo nossa). Aps discusses entre os pesquisadores dos
diversos pases envolvidos no trabalho, a OMS lanou o WHOQOL-
Reviso de Literatura __________________________________________ 33
100, um instrumento amplo, composto por 100 itens de verificao, no
qual a grande maioria dos estudos posteriores vem se baseando (WHO,
1998).
Alm da ausncia de problemas de ordem orgnica, os indivduos
necessitam de qualidade de vida para serem saudveis. Sendo assim,
outras dimenses precisam ser levadas em conta, quando se deseja
mensurar sade, o que resulta na procura por indicadores que possam
medir a qualidade de vida em relao sade (CASTRO; PORTELA;
LEO, 2007).
O relatrio final da 1 Conferncia Nacional da Sade Bucal
(BRASIL, 1986), define a sade bucal como algo mais amplo, alm da
estreita relao que mantm com a sade geral das pessoas,
relacionando-a a vrios aspectos da vida dos indivduos, como
alimentao, moradia, trabalho, dentre outros.
Segundo Pires (2009, p.8) esta definio aborda a sade em
termos positivos, ao trat-la no pelo lado negativo de ausncia de
doena, mas encarando-a como sendo um estado positivo de bem estar.
Alm disso, este conceito fala, pela primeira vez, das reas mental e
social, indo alm do conceito biologicista de sade, ao incluir outros
mais abrangentes.
A mensurao, atravs de critrios subjetivos, das condies de
sade dos indivduos, tanto em relao sade geral, quanto em relao
sade bucal, deve merecer, por parte de profissionais e pesquisadores
da rea da sade, a devida ateno na busca por romper com o
distanciamento que ainda persiste entre as necessidades e demandas da
populao e as prticas profissionais. Pesquisas focadas na percepo
de sade e na capacidade das pessoas em lidar com os problemas fsicos
e sociais, podem ajudar na investigao dos impactos na condio de
sade dos indivduos. (LACERDA, 2005, p. 153).
Chen e Hunter (1996 apud PERES et al., 2003), afirmam que os
padres de sade bucal vm sendo medidos atravs de parmetros
epidemiolgicos e clnicos, representando, desta forma, somente a viso
normativa dos profissionais, sem que seja dada importncia s
dimenses sociais da sade bucal, bem como ao efetivo impacto destas
condies na vida do indivduo.
Afora estes aspectos, importante conhecer o que representa
qualidade de vida para as pessoas. A Organizao Mundial de Sade
(WHO, 1997, p.1, traduo nossa) a conceitua como sendo: a
percepo do indivduo, acerca de sua posio na vida, de acordo com o
contexto cultural e os sistemas de valores nos quais est inserido, e em
relao a seus objetivos, expectativas, padres e preocupaes.
34 _________________________________________ Reviso de Literatura
Por fora da quebra do paradigma mdico, tradicionalmente
utilizado como modelo de ateno sade, e largamente aceito pela
comunidade cientfica, verificamos a abertura de espaos para a
expresso das necessidades em sade, por seu carter psicossocial.
Locker (1988) adaptou os conceitos da Classificao
Internacional de Comprometimentos, Incapacidades e Deficincias da
OMS, para aplicao na Odontologia, da seguinte forma:
1. Deficincia: a perda ou anomalia de funo mental, fsica ou bioqumica, presente ao nascimento ou provocada por doena
ou injria, como ausncia de dentes, perda de aderncia
periodontal ou m-ocluso. Toda patologia est associada com
deficincia, embora nem toda deficincia acarrete limitaes
funcionais;
2. Limitao funcional: a restrio na funo costumeiramente esperada do corpo ou seu rgo ou sistema componente, tal
como a limitao de mobilidade da mandbula;
3. Incapacidade: qualquer limitao ou falta de capacidade em realizar tarefas socialmente definidas e desempenhar papis
normalmente esperados dos indivduos (POPE; TARLOV,
1991);
4. Desvantagem: refere-se a efeitos sociais mais amplos, e define-se como desvantagem vivenciada por indivduos deficientes ou
incapacitados, porque no agem de conformidade com as
expectativas da sociedade ou de grupos sociais a que
pertencem. a desvantagem ou restrio vivida pelos
indivduos em sua vida pessoal ou social, consequente da
incapacidade ou deficincia [...].
A figura 1 mostra, de forma esquemtica, a adaptao, feita por
Locker, do modelo da OMS, para uso em Odontologia.
Desta forma, o autor mostra que as doenas bucais podem afetar as
pessoas de diferentes formas e em diferentes nveis de complexidade, ou
seja, desde a simples presena do dano (comprometimento), at as
limitaes fsicas, psicolgicas e sociais, expressadas pelo rompimento das
funes sociais normais dos indivduos. Isto vem reforar a necessidade do
uso de mecanismos capazes de buscar, na subjetividade, a identificao das
relaes que cada pessoa estabelece entre seu estado de sade bucal e
necessidade de tratamento, ou seja, buscar-se a compreenso dos
mecanismos psicossociais envolvidos nestas questes.
Reviso de Literatura __________________________________________ 35
Figura 1. Modelo de Locker.
Fonte: Adaptao da Classificao de Incapacidades e Deficincias da OMS (LOCKER, 1988).
Na relao profissional/paciente h elementos importantes, alm
daqueles de cunho estritamente biolgico, que devemos observar. A
pessoa que procura por atendimento, algumas vezes o faz, no pela
doena, mas sim por alguma carncia ou por sentir-se necessitada. As
leses de crie nem sempre so as mais importantes no preenchimento
do odontograma (BOTAZZO, 2008).
Mesmo a despeito da constatao de um problema de
sade, bem como de sua importncia no tratamento,
no registrada a relao direta entre este problema
e a busca por tratamento. (HANNAY, 1980, p.551).
Isto nos mostra novamente a existncia de outras condies, alm
daquelas constatadas pelos profissionais de sade, que motivam as
pessoas a buscarem, ou no, a soluo para seus problemas de sade.
Apesar da disponibilidade de uma grande quantidade de
informaes, como no caso dos malefcios produzidos pelo tabagismo,
obesidade e sedentarismo, no se tm verificado modificaes nos
hbitos da populao. Em relao aos adolescentes, em funo das
peculiaridades desta fase da vida, este excesso de informaes pode at
mesmo servir como estmulo a prticas consideradas erradas
(HALLAL, 2010).
Os pensamentos destes autores parecem convergir para a
concluso de que os critrios normativos de necessidades de tratamento
odontolgico precisam, necessariamente, ser complementados pelo uso
de indicadores baseados na subjetividade dos sujeitos que procuram por
36 _________________________________________ Reviso de Literatura
esses servios, sob pena de produzirem-se aes de boa intencionalidade,
porm insuficientes em termos de resultados prticos, tanto no
planejamento, como na execuo de aes de promoo de sade bucal.
Bergner et al., (1976 apud REISINE, 1994), em uma das
primeiras tentativas de desenvolvimento de uma medida de status de
sade baseada em comportamento, desenvolveram o Sickness Impact Profile (SIP) ou Perfil dos Impactos das Doenas, oferecendo assim os
fundamentos conceituais e metodolgicos para inmeras medidas usadas
nas pesquisas atuais.
Cushing, Sheiham e Maizels (1986) indicaram a necessidade de
estudar o impacto da sade bucal nas vidas dos indivduos, como uma
alternativa ao uso de critrios unicamente objetivos de anlise das
condies de sade bucal. Foi em funo de uma insatisfao com as
medidas comuns de sade, que falharam em avaliar a incorporao dos
impactos das doenas no bem estar das pessoas, que os autores
desenvolveram um instrumento chamado The Social Impact of Dental Disease (SIDD), ou O Impacto Social da Doena Dental (SHEIHAM;
CUSHING; MAIZELS, 1997). Segundo Lacerda et al., (2009, p.149):
Para estes autores, era necessrio incluir dimenses como bem estar,
ausncia de dor e desconforto e a adequada funo fsica e social, do
ponto de vista dos indivduos.
Atchison e Dolan (1990) desenvolveram um instrumento
denominado Geriatric Oral Health Assessment Index (GOHAI), ou
ndice de Avaliao da Sade Bucal Geritrica, que objetiva avaliar o
impacto das condies bucais em idosos, mas que tem sido utilizado em
populaes adultas, de vrias idades, com a mesma finalidade.
Traduzido para vrios idiomas, como francs, chins, e alemo, este
instrumento sedimentou-se nas pesquisas de qualidade de vida em sade
bucal, entre os idosos, segundo Hassel et al., (2008, p.34). Atravs de uma reviso de literatura, e tambm por consultas a
prestadores de planos de sade e pacientes, Atchison e Dolan
desenvolveram um instrumento piloto. Inicialmente, o GOHAI foi
testado em uma amostra de convenincia, composta por 87 idosos. A
seguir, o instrumento revisado foi administrado a uma amostra de 1755
usurios de planos de sade, na cidade de Los Angeles. A inteno dos
autores foi contemplar, neste instrumento, as dimenses fsicas e
psicossociais, bem como as questes relativas dor e desconforto
(ATCHISON, 1997, p.72).
Leake (1990) desenvolveu um estudo para testar um outro ndice
Index of Chewing Ability, ou ndice de Capacidade Mastigatria, em
Ontrio no Canad. Este ndice possui escores que vo de 0 a 5,
Reviso de Literatura __________________________________________ 37
baseados na capacidade autorreportada dos indivduos, em relao
mastigao de cinco diferentes tipos de comida (LEAKE, 1990,
traduo nossa).
Slade e Spencer, em 1994, tomando por base uma adaptao da
classificao de Comprometimentos, Incapacidades e Deficincias da
OMS, feita por Locker (1988), criaram o Oral Health Impact Profile (OHIP), ou Perfil do Impacto da Sade Bucal. Este ndice foi
desenvolvido com a finalidade de oferecer uma medida abrangente de
disfuno, desconforto e incapacidade autopercebidas. No modelo da
OMS, os impactos esto agrupados linearmente, de forma a moverem-se
entre os nveis de anlise biolgica, sociocomportamental e social. Slade
e Spencer produziram esta adaptao, propondo sete dimenses de
impacto da condio bucal. Cada uma das sete dimenses na escala
original foi avaliada, a partir de perguntas sobre o tipo de problema
experimentado, perfazendo um total de 49 questes. Uma verso
encurtada do ndice -OHIP 14- foi desenvolvida mais tarde, baseada
num subgrupo de duas questes para cada uma das sete dimenses
(SLADE; SPENCER, 1994).
Locker e Miller, em 1994, criaram o Subjective Oral Health Status Indicators (SOHSI), ou Indicadores Subjetivos do Estado de
Sade Bucal. Este instrumento foi desenvolvido no Canad, com o
objetivo de descrever as implicaes funcionais, sociais e psicolgicas
das desordens e condies bucais (LOCKER, 1997).
Leo e Sheiham, em 1996, criaram uma medida scio-
odontolgica, chamada The Dental Impact on Daily Living, composta
pela avaliao de cinco dimenses de qualidade de vida: conforto
(relativo a queixas como sangramento gengival e triturao de
alimentos)-; aparncia, relacionada autoimagem; dor; desempenho, a
habilidade para desenvolver tarefas dirias e interagir com pessoas;
restries alimentares, relacionadas mordida e mastigao. Este
instrumento composto por um questionrio de 36 itens que verificam o
impacto da sade bucal na vida diria, e uma escala que uma
representao grfica de um mtodo desenvolvido para verificar a
importncia que as pessoas respondentes atribuem s diferentes
dimenses envolvidas (LEO; SHEIHAM, 1997).
Kressin (1991) desenvolveu o Oral Health Related Quality of
Life (OHQOL), tendo como base instrumentos j existentes para este fim, como: SIDD, GOHAI e outros. Trs itens foram includos,
relacionados aos possveis efeitos de doena bucal: os problemas com
seus dentes ou gengivas tm: (A) afetado suas atividades dirias, como
trabalho e lazer? (B) Afetado suas atividades sociais com familiares,
38 _________________________________________ Reviso de Literatura
amigos e colegas de trabalho? (C) Feito voc evitar conversas com
outras pessoas, por causa de sua aparncia? As respostas a cada um dos
itens foram agrupadas em escores variando de todo o tempo at em nenhuma ocasio (KRESSIN, 1997).
Strauss, na dcada de noventa, desenvolveu o Dental Impact
Profile (DIP), ou Perfil do Impacto Odontolgico, um instrumento para responder seguinte questo: Quanto os dentes e a boca importam nas
vidas das pessoas? Este instrumento compe-se de uma pergunta chave:
Voc acha que seus dentes ou dentaduras tm um bom efeito (positivo),
um mau efeito (negativo) ou nenhum efeito, em 25 itens dispostos logo
na sequncia. As respostas tm trs opes: (A) bom efeito; (B) efeito
ruim e (C) nenhum efeito (STRAUSS, 1997).
Petersen et al., (2007) desenvolveram uma pesquisa transversal,
com 2662 adolescentes chineses, de oito capitais diferentes, utilizando
um questionrio estruturado desenvolvido pela OMS, chamado
Programa Global de Sade Bucal, no qual 14 condies so investigadas, tais como: autopercepo de sade geral, autopercepo de
sade bucal, prticas de higiene bucal, dentre outros.
Adulyanon e Sheiham (1997) criaram o Oral Impacts on Daily Performances (OIDP), ou Impactos Bucais nos Desempenhos Dirios
(IODD). Este instrumento tem a finalidade de oferecer um indicador
sociodental alternativo, focado na mensurao dos impactos orais mais
importantes, tais como mastigar, falar, sorrir e outros, nas habilidades
das pessoas para desenvolverem atividades dirias.
O arcabouo terico do IODD baseia-se na classificao de
Comprometimentos, Incapacidades e Deficincias da OMS, proposta em
1980, e adaptada por Locker em 1988, para uso na Odontologia. A
principal modificao foi o estabelecimento de diferentes nveis de
consequncia das variveis do instrumento. O primeiro nvel se refere ao
status bucal, segundo os critrios clnicos normativos. O segundo nvel,
dos impactos intermedirios, inclui os possveis primeiros impactos
negativos, causados pelo status bucal (dor, desconforto e limitao funcional). A insatisfao com a aparncia foi includa neste nvel,
desde que os trabalhos mostraram sua importncia em seus resultados.
Some-se a isto o fato de que a limitao funcional pode causar dor,
desconforto ou insatisfao com a aparncia, e vice versa. O ltimo
nvel representa os impactos na habilidade para desenvolver atividades
dirias, que consistem em desempenhos fsicos, psicolgicos e sociais.
Qualquer uma das dimenses do segundo nvel pode produzir impacto
na habilidade de desempenho. O terceiro nvel equivalente s
dimenses de Incapacidades e Deficincias do modelo da OMS.
Reviso de Literatura __________________________________________ 39
(ADULYANON; SHEIHAM, 1997). A figura 2 mostra o modelo, com
os trs nveis de impactos propostos pelos autores.
Figura 2. Arcabouo terico dos impactos das doenas bucais.
Fonte: Modificao feita a partir da Classificao Internacional de comprometimentos,
Incapacidade e Deficincias da OMS. Adaptao de Locker (1988).
O IODD, instrumento encontrado em maiores detalhes nos
Apndices A e B deste trabalho, tem seu principal foco na mensurao
dos impactos do nvel trs, o que traz quatro vantagens principais:
1. Torna o instrumento mais conciso e abrange as consequncias principais;
2. Ajuda a evitar ou reduzir o superdimensionamento, pela repetio de escores dos mesmos impactos, em cada um dos
trs nveis;
3. Somente os impactos significativos so registrados, eliminando as condies menores, as quais no causam influncia no
desempenho dirio;
4. menos difcil medir os impactos comportamentais, em termos de desempenho de atividades dirias, como comer e
falar, por exemplo, do que dimenses baseadas em sentidos,
como desconforto e incmodo. (ADULYANON; SHEIHAM,
1997).
40 _________________________________________ Reviso de Literatura
Os nove desempenhos fsicos, psicolgicos e sociais foram
desenvolvidos a partir da Tabela de Comparao de ndices de
Inabilidades (MC DOWELL, 2006), bem como a partir de vrios outros
indicadores mdicos e odontolgicos, objetivando a validao de seus
contedos. O desempenho fazer atividades fsicas leves, foi
considerado redundante e excludente, sendo, devido a isto, removido do
modelo. Desta forma, a verso final do IODD consiste em oito
desempenhos dirios, a saber:
a) Comer e apreciar a comida;
b) Falar e pronunciar com clareza;
c) Higienizar os dentes;
d) Dormir e relaxar;
e) Sorrir, dar risadas e mostrar os dentes sem ficar envergonhado;
f) Manter um estado emocional normal, sem ficar irritado;
g) Desempenhar o trabalho principal ou o papel social;
h) Gostar de ter contato com as pessoas.
Quadro 1. Critrios de escores de frequncia e severidade do IODD.
Frequncia Severidade
Nenhuma vez nos ltimos
6 meses 0
Menos de uma vez por ms ou intervalo de at
cinco dias no total 1
Em torno de uma vez por semana, ou intervalo de at
15 dias no total 2
Em torno de duas vezes por semana, ou intervalo de at
30 dias no total 3
Trs a quatro vezes por semana, ou intervalo de at
3 meses no total 4
Todo ou quase todo dia, ou intervalo de mais de
3 meses no total 5
Fonte: Sheiham (2000).
Em relao quantificao do IODD, o escore que representa o
total do impacto em cada desempenho calculado pela multiplicao dos escores de frequncia e severidade. O escore total a soma de todos
os escores de desempenhos para o indivduo. Ento, divide-se a soma
pelo mximo escore possvel (8 desempenhos x 5 escores de frequncia
x 5 escores de severidade = 200), multiplicando-se este resultado por
100, ter-se- o escore percentual (ADULYANON; SHEIHAM, 1997).
Reviso de Literatura __________________________________________ 41
importante mencionar que vrios estudos tm mostrado,
especialmente entre pessoas idosas, um desencontro entre o estado
bucal, medido pelos ndices normativos mais comuns CPO e IPC e a
satisfao dessas pessoas (MELLO; ERDMANN, 2007; LOPES, 2011;
MENDONA et al., 2010).
A aplicao do IODD visa, justamente, articular as condies de
sade bucal dos indivduos com as dimenses que escapam ao domnio
das abordagens em sade, as quais tm nos aspectos normativos seu
enfoque principal. Esta abordagem apresenta algumas falhas, que tm
contribudo para o insucesso de muitas polticas de sade bucal, como
nos dizem Narvai e Frazo (2008b), centradas no carter biomdico das
doenas.
Sheiham (2000, p.226) afirma que conhecer a mdia de dentes
cariados, restaurados ou perdidos de uma determinada populao tem
pouco significado em relao s necessidades de tratamento, fato
reconhecido inclusive pela Organizao Mundial de Sade (OMS).
Gomes e Abegg (2007) realizaram estudo transversal,
examinando uma amostra de 276 funcionrios do Departamento
Municipal de Limpeza Urbana de Porto Alegre, na faixa etria de 35 a
44 anos, no ano de 2005. Utilizando o IODD, concluram, ao final do
trabalho, que dos 276 indivduos examinados, 203 deles (73,6%),
relataram pelo menos um desempenho ou atividade diria afetada por
problemas odontolgicos, nos ltimos seis meses.
Castro et al., (2008) desenvolveram trabalho de adaptao transcultural da verso do IODD para crianas (Child IODD), atravs de
uma pesquisa nas cidades do Rio de Janeiro e Belo Horizonte, utilizando
uma amostra de 342 estudantes, na faixa etria de 11 a 14 anos, de
escolas pblicas destas cidades. Aps a realizao de todas as etapas
necessrias, concluram que o Child IODD uma medida de qualidade
de vida relacionada sade bucal que pode ser utilizada em crianas
brasileiras.
Para a populao adulta (50-74 anos), Abegg et al., (2013) realizaram um trabalho de adaptao transcultural e avaliao das
propriedades psicomtricas do instrumento, na cidade de Porto Alegre.
Este trabalho de adaptao foi realizado atravs de entrevistas com
pequenos grupos; estudos-piloto (com 50 pessoas em cada um), e
atravs de um estudo principal, envolvendo 200 pessoas de 50 anos de
idade ou mais. Os dados foram colhidos por meio de entrevistas
realizadas por trs entrevistadores treinados, em trs diferentes centros
de sade especializados em assistncia mdica para adultos e pessoas
mais velhas.
42 _________________________________________ Reviso de Literatura
Cimes; Milhomens Filho e Gusmo (2003), produziram trabalho
de pesquisa para avaliar o impacto das condies periodontais no
desempenho de atividades dirias, com 59 pacientes em tratamento
periodontal, no estado de Pernambuco. Para a avaliao do impacto,
utilizaram o IODD. Concluram que o impacto das condies
periodontais foi baixo para a amostra avaliada, assim como tambm
foram baixas a frequncia e a severidade.
Ungericht (2006), ao aplicar o IODD em uma amostra de 92
idosos, no municpio de Cambori em Santa Catarina, verificou que o
impacto da sade bucal no cotidiano da populao estudada mostrou-se
maior quando havia presena de dentes naturais, ao mesmo tempo em
que esta populao denotou conformismo com sua situao bucal,
estabelecendo relao desta com a idade.
Cortes; Marcenes e Sheiham (2002) desenvolveram pesquisa com
204 crianas de 12 a 14 anos de idade, com a finalidade de verificar as
diferenas de impacto no cotidiano daquelas que possuam dentes com
fraturas no tratadas, envolvendo tecido dentinrio, e aquelas cujos
dentes no apresentavam qualquer tipo de leso. Atravs da aplicao do
IODD, concluram que as crianas vtimas de traumatismo
apresentavam at 20 vezes mais chances de reportar qualquer impacto
em suas vidas dirias, comparativamente quelas livres de injrias
traumticas.
Krisdapong et al., (2012), trabalharam com 871 adolescentes, de
15 anos de idade, na Tailndia, objetivando verificar a associao entre
as doenas bucais e a condio especfica de qualidade de vida
associada sade bucal daquela populao estudada. Os autores, usando
a verso tailandesa do IODD, concluram que 39% dos participantes do
estudo relataram impactos bucais de graus moderado e elevado. A
probabilidade de reportar um impacto bucal de grau moderado/elevado
dos adolescentes que apresentavam um dente cariado e aqueles com
quatro ou mais, foi 3 a 7 vezes maior, respectivamente, quando
comparada dos adolescentes sem dentes cariados.
Jorge (2004) desenvolveu estudo caso-controle para avaliar o
impacto da fratura de esmalte/dentina tratada, sobre as atividades dirias
dos adolescentes atendidos no Programa de Atendimento aos Pacientes
Traumatizados, da disciplina de Odontopediatria da UFSC. A amostra
final somou 200 adolescentes de 11 a17 anos de idade, divididos entre
grupo caso e grupo controle. A varivel impacto foi avaliada atravs
do IODD. Os resultados mostraram uma prevalncia de impacto da
ordem de 40% nos casos e de 16,9% nos controles.
Peres et al., (2009), como complementao de uma coorte
Reviso de Literatura __________________________________________ 43
iniciada em 1982, desenvolveram estudo com 339 adolescentes,
pertencentes amostra inicial do mesmo estudo. Com o emprego do
IODD para a verificao dos impactos da sade bucal nas vidas
daqueles adolescentes, verificaram, dentre muitos outros aspectos, que
quanto menor era o grau de escolaridade das mes, maiores eram os
escores do IODD. A atividade diria mais comumente afetada foi comer, com 44,8%, seguida por limpar a boca e sorrir, com
15,6% e 15,0% respectivamente.
A pesquisa SB Brasil 2010 (BRASIL, 2011), utilizando o IODD
como instrumento de mensurao do impacto das condies de sade
bucal sobre o dia a dia dos adolescentes brasileiros evidenciou, na regio
sul, que na faixa etria de 15 a 19 anos as atividades de maior impacto
foram: comer, escovar os dentes e sorrir, com percentuais 19,1%, 14,0%
e 13,9% respectivamente. Para esta mesma faixa de idade, no que se
refere ao Brasil, a maior diferena encontrada foi que a atividade
verificada com o terceiro maior impacto foi manter o estado
emocional, registrando um percentual de 14,6%.
Soares (2011) realizou trabalho de pesquisa com 356 indivduos,
com idades entre 15 e 19 anos, objetivando investigar a relao existente
entre a presena e a severidade das oclusopatias e suas respectivas
necessidades de tratamento, e o impacto na qualidade de vida de
adolescentes, das redes pblica e privada do municpio de Macaba
(RN). Para a mensurao dos impactos na qualidade de vida dos sujeitos
investigados, a autora utilizou o OIDP. Observou que a oclusopatia
impacta na qualidade de vida dos adolescentes estudados, sendo que o
desempenho de maior impacto foi sorrir, seguido pelo status
emocional e pela atividade comer. A pesquisa evidenciou ainda que
alunos de escolas pblicas e com necessidade severa ou moderada de
tratamento ortodntico, quando avaliados por ndices especficos (DHC
e IOTN), tiveram maior nmero de performances afetadas.
Gois (2011), utilizando o IODD, verificou o impacto das
condies de sade bucal em indivduos portadores de fissuras
lbiopalatinas, na faixa etria de 5 a 18 anos, em tratamento
ambulatorial na Sociedade Especializada no Atendimento ao Fissurado
do Estado do Sergipe. O estudo objetivou, atravs do IODD, verificar as
percepes dos pais destes indivduos, nos perodos anterior e posterior
ao tratamento cirrgico para correo das fissuras. O autor verificou, ao
final do estudo, que a proporo de familiares que referiram
comprometimento em, pelo menos, uma atividade diria do paciente,
antes da primeira cirurgia corretiva, foi de 96,7%, sendo as dimenses
fsicas as mais afetadas, em detrimento das sociais e psicolgicas. Os
44 _________________________________________ Reviso de Literatura
atos de falar e comer registraram 76,7% e 73,3% de impacto,
respectivamente.
Bernab et al., (2008), realizaram estudo caso-controle, utilizando uma amostra de 837 adolescentes brasileiros, com 15 e 16
anos de idade, estudantes de escolas secundrias da cidade de Bauru
(SP), objetivando a verificao do impacto do tratamento ortodntico na
qualidade de vida daqueles sujeitos. Atravs da aplicao do OIDP,
concluram que os adolescentes com histria de tratamento ortodntico
estavam menos sujeitos a impactos fsicos, sociais e psicolgicos em
seus desempenhos dirios relacionados malocluso, em comparao
queles que no haviam se submetido correo ortodntica.
Bernab; Oliveira e Sheiham (2008), atravs de uma amostra de
200 adolescentes de 16 e 17 anos de idade, em Londres, realizaram
estudo objetivando comparar um instrumento genrico de qualidade de
vida relacionada sade bucal (OHRQoL), o OHIP-14, e outro
instrumento especfico, o CS-OIDP, na mensurao dos impactos
relacionados malocluso, nos adolescentes com e sem necessidades
normativas de tratamento ortodntico. Os autores concluram que o CS-
OIDP atribudo malocluso foi melhor do que o OHIP-14, na
discriminao entre adolescentes com e sem necessidades normativas de
tratamento ortodntico.
Astrom e Okullo (2003), trabalhando com 1146 adolescentes
frequentadores de escolas secundrias em Kampala (Uganda),
examinaram a confiabilidade e validade de uma verso abreviada do
OIDP e analisaram a inter-relao entre os escores do ndice, as
caractersticas socioeconmicas e o status de sade bucal da populao
investigada. Concluram que os escores de frequncia do OIDP tiveram propriedades psicomtricas aceitveis, para uso entre os adolescentes do
pas.
Traebert (2004), trabalhando com uma amostra de 414
indivduos, em Florianpolis, realizou trabalho de pesquisa para estimar
o impacto das oclusopatias na qualidade de vida destas pessoas,
utilizando como instrumento de mensurao o OIDP. A autora concluiu
que as oclusopatias causam algum impacto na qualidade de vida,
especialmente em relao insatisfao com a aparncia.
Orestes et al., (2005), utilizando o IODD, trabalharam com uma
amostra de 105 indivduos, na faixa etria entre 6 e 23 anos, em
Pernambuco, com o objetivo de avaliar a qualidade de vida em relao
sade bucal destas pessoas, todas portadoras de fissuras labiopalatinas.
Os resultados obtidos mostraram que as fissuras provocam alto impacto,
sendo que o IODD registrou pontuaes de 80% a 100% em 74,3% dos
Reviso de Literatura __________________________________________ 45
componentes da amostra.
Ges (2001), trabalhando com uma amostra de adolescentes
brasileiros de 14 a 15 anos de idade, realizou estudo transversal
objetivando avaliar a prevalncia e a severidade da odontalgia no
cotidiano destas pessoas e de suas famlias. Os autores verificaram a
presena de impactos significativos nos adolescentes pesquisados e em
suas famlias, em funo da dor de origem dental. Encontraram tambm
maiores impactos entre os sujeitos de pesquisa do sexo feminino, em
relao aos do sexo masculino. Verificaram ainda que os impactos
foram maiores nos sujeitos em pior situao socioeconmica.
Lucena (2004) produziu estudo para verificar o impacto das
disfunes temporomandibulares (DTM) na qualidade de vida
relacionada sade bucal. Para tanto, trabalhou com amostra de
indivduos de 18 a 65 anos de idade, utilizando o IODD para a
verificao destes impactos. Concluiu que a DTM interferiu
negativamente na qualidade de vida dos sujeitos avaliados, sendo que o
impacto mostrou relao com o grau de severidade dos fatores
psicolgicos e psicossociais envolvidos no processo.
Crosato; Biazevic e Crosato (2005) desenvolveram pesquisa com
crianas em idade escolar, na cidade de Pinheiro Preto, em Santa
Catarina, com o objetivo de verificar a prevalncia e a severidade da
fluorose dental e suas possveis associaes com a qualidade de vida
destas pessoas. Utilizando o IODD, concluram que os poucos e
questionveis casos que apareceram no produziram influncia na
qualidade de vida das pessoas componentes da amostra.
Mashoto et al., (2009), realizando estudo transversal com 1745
estudantes com mdia de idade de 13 anos, de Kilwa (Tanznia), um
local carente de servios odontolgicos e com pouca concentrao de
guas de abastecimento fluoretadas, utilizaram a verso do OIDP para
crianas, objetivando verificar a prevalncia de odontalgia e os impactos
nos desempenhos dirios, bem como descrever a distribuio do OIDP
por nveis sociodemogrficos, crie dental, odontalgias e problemas
orais reportados. Concluiram que substancial parcela da populao
estudada sofria por cries no tratadas, impactos orais nas atividades
dirias e necessidades percebidas de tratamento odontolgico.
Machale et al., (2012), utilizaram o OIDP objetivando avaliar,
dentre outras questes, a prevalncia de impactos bucais e a influncia
da gravidade da malocluso na qualidade de vida de indivduos em
tratamento com aparelhos ortodnticos fixos. Os autores examinaram
130 pessoas, na faixa etria de 14 a 22 anos. O estudo mostrou uma
prevalncia de impactos orais de 86,92%, sendo que 55,35% dos
46 _________________________________________ Reviso de Literatura
participantes da amostra apresentaram um impacto em trs ou mais
desempenhos dirios. As atividades de maior impacto foram: comer,
contato social, limpar os dentes e falar, com 78,46%, 51,53%, 45,38% e
40,76%, respectivamente.
Mbawalla; Masalu e strm (2010) produziram trabalho de
pesquisa, no norte da Tanznia, com uma amostra de 2412 estudantes
com mdia de idade de 15,2 anos, objetivando verificar, alm de outros
aspectos, as relaes existentes entre estado de sade bucal, status
socioeconmico e os impactos destas condies nas atividades dirias
destes sujeitos. Atravs da utilizao do OIDP, verificaram que 48,2%
dos participantes da amostra apresentaram algum impacto em suas
atividades dirias, frente a tais condies.
Yiengprugsawan et al., (2011), como parte de um estudo de
coorte desenvolvido na Tailndia, com uma amostra de 87.134
indivduos adultos, utilizando o OIDP como instrumento de verificao
da qualidade de vida relacionada sade bucal, encontraram impactos
significativos entre os indivduos pesquisados, sendo que os maiores
percentuais de impacto encontrados no grupo de participantes de 15 a 29
anos de idade, foram: contato social, mastigao e dor, com 12,6%,
12,2% e 11,4%, respectivamente.
4 METODOLOGIA
4.1 TIPO DE PESQUISA
Trata-se de um estudo descritivo transversal, de abordagem
quantitativa. Estes trabalhos,
[] so aqueles em que se faz apenas uma coleta de
dados num determinado momento; so estudos
pontuais sem acompanhamento dos indivduos e dos
parmetros em estudo. Apresentam como principais
pontos favorveis a rapidez e o baixo custo. (SUSIN;
ROSING, 1999, p.44-45).
Objetivando minimizar possveis dificuldades, no tocante
compreenso das perguntas componentes do questionrio aplicado na
pesquisa, realizamos um pr-teste, envolvendo 30 estudantes da prpria
instituio. Aplicamos a estes sujeitos o questionrio completo, com as
9 perguntas que foram utilizadas mais tarde, na coleta definitiva dos
dados. Escolhemos estas pessoas, em funo de estarem inseridas na
faixa etria dos sujeitos da amostra. Aps a realizao do pr-teste,
verificamos pequenos detalhes da escrita de algumas questes, as quais
sofreram modificaes, facilitando assim a compreenso dos demais
respondentes.
Os questionrios foram fornecidos aos participantes, de forma
pessoal pelo pesquisador. importante mencionar que todos os sujeitos
participantes do pr-teste assinaram o Termo de Consentimento livre e
esclarecido (apndices C e D). As perguntas respondidas compreenderam
duas etapas distintas, que sero detalhadas adiante.
4.2 LOCAL DA PESQUISA.
A coleta de dados foi realizada no Instituto Federal de Cincia e
Tecnologia de Santa Catarina (IFSC) - Campus Florianpolis
instituio de ensino federal, vinculada ao Ministrio da Educao
(MEC), por meio da Secretaria de Educao Profissional e Tecnolgica
(SETEC). Sua sede localiza-se no centro de Florianpolis e possui
[
D
I
G
I
T
E
O
48 _______________________________________________ Metodologia
autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didtico-pedaggica e
disciplinar. A autorizao para o procedimento de coleta de dados nos
foi concedida pelo Diretor Geral da instituio (Anexo A).
A misso do IF-SC desenvolver e difundir conhecimento
cientfico e tecnolgico, formando indivduos capacitados para o
exerccio da cidadania e da profisso, tendo como viso de futuro
consolidar-se como centro de excelncia na educao profissional e
tecnolgica no Estado de Santa Catarina.
A finalidade do IF-SC formar e qualificar profissionais no
mbito da educao profissional e tecnolgica, nos diferentes nveis e
modalidades de ensino, para os diversos setores da economia, bem como
realizar pesquisa aplicada e promover o desenvolvimento tecnolgico de
novos processos, produtos e servios, em estreita articulao com os
setores produtivos e a sociedade, especialmente de abrangncia local e
regional, oferecendo mecanismos para a educao continuada.
O Instituto Federal e Cincia e Tecnologia de Santa Catarina
conta hoje com treze campi instalados no estado, cinco campi avanados
e dois campi avanados em fase de implantao.
No que se refere, especificamente, ao campus Florianpolis, a
instituio tem sua sede na Avenida Mauro Ramos, nmero 950, centro.
Cursos nas mais variadas reas so oferecidos, sendo que sua
distribuio se d da seguinte forma: cursos tcnicos integrados (5);
cursos tcnicos subsequentes ou ps-ensino mdio (12); cursos de
graduao tecnologia (8); cursos de especializao lato sensu (7) e
curso de mestrado profissional - stricto sensu - (1).
Dentro da estrutura organizacional da instituio de ensino, com
subordinao hierrquica Gerncia de Infraestrutura (DINF), est o
setor de sade, composto por servios mdicos, odontolgicos e de
enfermagem. Especificamente a respeito da assistncia odontolgica, as
aes desenvolvidas limitam-se ao atendimento de demanda espontnea.
Dois profissionais cirurgies-dentistas atuam no local, revezando-se nos
turnos matutino e vespertino, durante os cinco dias teis semanais. A
carga horria de seis horas dirias para cada um deles. Um nmero
mdio de seis pacientes atendido em cada turno, perfazendo uma
mdia de sessenta consultas semanais.
O atendimento odontolgico dirigido no apenas aos alunos
matriculados na instituio, como tambm a seus servidores docentes e
tcnico-administrativos, sendo que os estudantes respondem pela maior
parcela dos atendimentos.
Metodologia _____________________________________________________________ 49
4.3 SELEO DOS PARTICIPANTES
No IFSC (campus Florianpolis) verificamos, segundo dados do
setor de registro de matrculas no ano de 2013, que de um total de 5.463
estudantes, havia 1.476 na faixa etria de 15 a 19 anos, perfazendo
27,01% do total de matrculas na instituio. A grande maioria das
famlias dos estudantes situava-se na faixa de rendimentos entre R$
1.246,00 e R$ 2.075,00.
Para o clculo da amostra, utilizamos a frmula da amostra
sistemtica, proposta por Barbetta (1994), segundo a qual:
N Populao total (1.476)
n Tamanho da amostra (.....)
n0 Uma primeira aproximao ao tamanho da populao (400)
E02 Erro amostral tolervel (0,05)
Considerando que a populao total, neste caso, de 1.476, os
clculos da amostra ficam da seguinte maneira:
n0=1/0,052
(em que 0,05 corresponde ao erro tolervel da amostra).
Ento:
n0= 400
n =
=
= 315
Incluiu-se na amostra um estudante a cada 5, at o limite de 315.
Nos casos em que algum participante no se enquadrou na faixa etria
determinada para o estudo, ou mesmo no desejou participar, tomamos
o que estava logo depois, seguindo a sequncia de matrculas.
Embora os clculos tivessem chegado a um total de 315
participantes, 41 questionrios no foram devolvidos, o que resultou em
uma amostra final de 274 estudantes (taxa de resposta de 87%). Alm
disso, para efeito de sorteio, utilizamos uma lista nica, com os nomes
dos alunos por ordem alfabtica e amostra sistemtica, preconizada por
Varo, Batista e Martinho (2005), da seguinte forma:
n =
= 5
50 _______________________________________________ Metodologia
4.4 ASPECTOS TICOS
Previamente ao incio da coleta dos dados, o projeto de pesquisa
foi encaminhado ao Comit de tica e Pesquisa com Seres Humanos
(CEPSH) da UFSC (O IFSC no dispe deste rgo de anlise),
recebendo aprovao sob nmero 351.453 (Anexo B).
Os estudantes selecionados para a amostra foram convidados, via
contato pessoal do pesquisador, a participarem do trabalho. Conforme
orientao do prprio Comit de tica, e em atendimento resoluo
CNS 196/96, em vigor naquele momento (BRASIL, 2012b) para os
estudantes menores de 18 anos, houve a necessidade de fornecimento de
dois Termos de Consentimentos Livres e Esclarecidos (TCLE), sendo
um deles para concordncia e assinatura de seus pais ou responsveis, e
um segundo para assinatura deles (estudantes) (Apndices C e D
respectivamente). queles maiores de 18 anos, foi fornecido apenas um
TCLE. A concordncia livre em participar desta pesquisa, caracterizada
pela assinatura deste documento, constituiu-se requisito bsico
participao de todos os respondentes.
4.5 COLETA E ANLISE DOS DADOS
A coleta dos dados foi realizada nas dependncias fsicas da
instituio. Aps o sorteio dos participantes, procedemos localizao
de cada estudante, atravs do setorial de controle da instituio. Os
contatos com os estudantes foram feitos em sala de aula. queles
sorteados, foram dadas todas as explicaes a respeito da pesquisa. Por
ocasio destes contatos, foram fornecidos os TCLE (1 ou 2, dependendo
da idade do participante) e tambm os questionrios. O recolhimento
destes documentos foi realizado tambm pelo pesquisador, novamente
nas salas de aula. O tempo decorrido entre a entrega do material e seu
recolhimento girou em torno de uma semana, em funo de que alguns
componentes da amostra moravam em outras cidades, necessitando,
portanto, de contato com seus pais ou responsveis durante os finais de
semana.
O instrumento utilizado nesta pesquisa foi o Impacto Odontolgico
no Desempenho Dirio (IODD), desenvolvido por Adulyanon e Sheiham
(1997). Este instrumento foi aplicado por intermdio de um questionrio,
composto por 9 perguntas. As questes de 1 a 4 referem-se medio
dos impactos, segundo critrios preconizados pelos autores do ndice,
com algumas modificaes por ns introduzidas. As questes de 5 a 9
Metodologia _____________________________________________________________ 51
referem-se autopercepo de sade bucal, bem como s razes da
procura pela assistncia e caracterizao dos locais onde ela ocorreu.
Estas ltimas perguntas foram elaboradas com base na pesquisa SB
Brasil 2010 (BRASIL, 2011). Os apndices A e B mostram o
instrumento original, bem como aquele que utilizamos neste trabalho,
com as modificaes que introduzimos.
Ges (2001) validou este instrumento para uso no Brasil, atravs
da avaliao da prevalncia do impacto da odontalgia em adolescentes
brasileiros e suas famlias. No processo de validao, a consistncia
interna, pelo coeficiente alfa Cronbach foi de 0,68. A confiabilidade,
pelo teste-reteste, foi avaliada atravs da correlao de Pearson. Com os
resultados obtidos, o autor concluiu que o OIDP um instrumento
vlido para avaliar o impacto da sade bucal na qualidade de vida, em
nosso pas.
Os dados colhidos pela pesquisa foram tabulados, e
posteriormente analisados por profissional estatstico. Ao final desta
anlise, os dados foram dispostos em um grfico e 8 tabelas referentes
aos impactos registrados, bem como autopercepo de sade bucal e
perfil da procura por assistncia odontolgica da populao em estudo.
5 RESULTADOS E DISCUSSO
5.1 CARACTERIZAO DA AMOSTRA
Do total de participantes da pesquisa, tivemos 55,5% de
estudantes do gnero masculino, e 44,5% do gnero feminino (Tabela
1). Destes, 23,% tinham at 15 anos de idade; 47,4% entre 16 e 17 anos
de idade, e 20,6% entre 18 e 19 anos (Tabela 1).
Tabela 1. Distribuio dos indivduos, segundo variveis sociodemogrficas.
Florianpolis, 2013.
VARIVEL (N=274) n %
Gnero
Masculino 152 55,5
Feminino 122 44,5
Idade (anos)
14 |-| 15 63 23,0
16 |-| 17 130 47,4
18 |-| 19 81 29,6
5.1.1 Acesso ao servio
Julgamos ser importante tambm verificar as frequncias aos
consultrios odontolgicos, os locais em que se deram estas consultas, e
tambm seus motivos, em funo de que o acesso assistncia sade
bucal ainda se constitui motivo de iniquidades em nosso pas, levando
quantidades significativas de pessoas ao agravamento de seus problemas
odontolgicos por falta de tratamento, especialmente de leses cariosas, que muitas vezes culminam com perdas de elementos dentais,
produzindo sequelas importantes e impactando de forma significativa as
vidas de expressiva parcela de nossa populao.
A anlise mostrou, em relao condio de acesso aos servios
54 ________________________________________ Resultados e Discusso
odontolgicos, motivo e local da consulta no ltimo ano, que expressivo
percentual de indivduos (77,0%) disse ter realizado consulta em
perodo inferior a 1 ano, enquanto apenas 0,7% disseram nunca terem
visitado o dentista na vida (tabela 2).
Tabela 2. Distribuio dos indivduos, segundo condio de acesso a servios
odontolgicos, motivo e local da consulta no ltimo ano.
Florianpolis, 2013.
Varivel (N=274) n %
Tempo da ltima consulta ao dentista
Menos de 1 ano 211 77,0
De 1 a 2 anos 37 13,5
Entre 2 e 5 anos 16 5,9
Entre 5 e 10 anos 8 2,9
Nunca 2 0,7
Ter ido ao dentista nos ltimos 2 anos
1 a 5 vezes 126 46,0
10 ou mais vezes 94 34,3
6 a 10 vezes 33 12,0
Nenhuma vez 21 7,7
Local da consulta no ltimo ano
Consultrio particular 231 84,3
Unidade de sade 27 9,8
Outros 15 5,5
Consultrio da escola 1 0,4
Motivo da consulta (n=256)
Profilaxia 155 60,6
Outros 57 22,3
Reviso/consulta de controle 40 15,6
Doena inicial 3 1,3
Doena tardia 1 0,2
O expressivo percentual de estudantes que realizaram consulta
odontolgica h menos de um ano (77%), nos provoca reflexo, at
mesmo em relao nossa atuao profissional na instituio, uma vez
que a suspenso do servio no perodo de coleta dos dados, por motivo
que ser mencionado adiante, no impediu que os participantes da
amostra visitassem o dentista para tratamento, ou mesmo para exame de
rotina. Este fato, de certa forma, nos impe refletir tambm em relao a
possveis mudanas no modelo de oferta de servios, objetivando maior
Resultados e Discusso _____________________________________________________ 55
aproximao queles que, mesmo necessitando de assistncia, ainda se
mantm margem dela, como os casos dos respondentes que disseram
nunca terem ido ao dentista em suas vidas. Alm disso, evidencia-se que
os estudantes do IFSC constituem um segm