UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ
DEPARTAMENTO DE DIREITO
CURSO DE DIREITO
FRANCINEIDE ALVES DE LUCENA
O Trabalho do Oficial de Justiça e sua importância na prestação jurisdicional dos
Juizados Especiais Cíveis
CAICÓ/RN
2015
FRANCINEIDE ALVES DE LUCENA
O TRABALHO DO OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
Artigo apresentado ao curso de graduação em
Direito da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Esp. Winston de Araújo
Teixeira.
CAICÓ/RN
2015
Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Lucena, Francineide Alves de. O Trabalho do Oficial de Justiça e sua importância na
prestação jurisdicional dos Juizados Especiais Cíveis /
Francineide Alves de Lucena. - Caicó: UFRN, 2015. 30f.
Orientador: Esp. Winston de Araújo Teixeira. Trabalho de Conclusão de Curso - Bacharelado em Direito - Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
1. Juizados Especiais. 2. Oficial de Justiça. 3. Processo. I.
Teixeira, Winston de Araújo. II. Título.
RN/UF/BS-CAICÓ CDU 342.56
2.
FRANCINEIDE ALVES DE LUCENA
Artigo apresentado ao curso de graduação em
Direito da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte como requisito parcial para a
obtenção do grau de Bacharel em Direito.
O TRABALHO DO OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS
Aprovada em: _____/_____/_____.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Esp. Winston de Araújo Teixeira - Orientador
________________________________________
Prof. – Examinador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
________________________________________
Prof. – Examinador
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
O TRABALHO DO OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA IMPORTÂNCIA NA PRESTAÇÃO
JURISDICIONAL DOS JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS1
Francineide Alves de Lucena2
O trabalho em foco tem como tema o trabalho do oficial de justiça e sua importância na prestação jurisdicional dos Juizados Especiais Cíveis, destacando como objeto de estudo os empecilhos, as dificuldades, a relevância e dedicação destes profissionais com a função que exercem. Através da pesquisa, foi possível destacar que o labor diário dos oficiais de justiça que não está apenas relacionado às condições estruturais do sistema judiciário, mas também pela qualidade emocional dos contatos interpessoais. Verificou-se que, o oficial de justiça atualmente possui um dever além daquela de mera intimação, deve ter conhecimento jurídico do ato, para exercer seu mister com excelência. O presente trabalho tem por recorte temporal o presente, cujas atividades estão sendo desenvolvidas na atualidade e o recorte espacial considera-se o local de trabalho da problematização apontada. A pesquisa tem como objetivo específico o estudo do trabalho do oficial de justiça nos juizados especiais, em relação ao princípio de informalidade, pois como a maioria das partes não
possuem advogado incumbe ao oficial de justiça a citação e intimação pessoal do jurisdicionado, além
da efetivação da penhora de bens, em caso de execução. A metodologia de pesquisa utilizada no trabalho apresentado foi a bibliográfica, com doutrina e jurisprudência. PALAVRAS-CHAVE: Oficial de Justiça – Processo – Juizados Especiais.
ABSTRACT
The work in focus has theme is the work of the bailiff and their importance in the judgment of the Small Claims Courts, highlighting how subject matter the obstacles, dificulties, relevance and dedication of these professionals with the function they perform. Through the study, it was possible to note that the daily work of bailiffs is not only related to the structural conditions of the judiciary, but also the emotional quality of interpersonal contacts. Also found that the bailiff currently has an obligation beyond that of mere subpoena, should have legal knowledge of the act, to exercise his office with excellence. This work time frame the present, whose activities are being developed nowadays and the spatial area is considered the workplace of the pointed questioning. The research specifically aims to study the bailiff's work in special courts in relation to the principle of informality , because like most parties do not have a lawyer, it is for the bailiff citation and personal notification of the claimants , as well as execution of the attachment of assets in the event of execution. The research methodology used in the work presented was the literature , with doctrine and jurisprudence . KEYWORDS: Official Justice - Procedure - Special Courts.
1 Artigo apresentado como conclusão do Curso de Graduação de Bacharel em Direito.
2 Bacharelanda em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO 06
2 O OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO 07
2.1 ATRIBUIÇÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA 08
2.1.1 Responsabilidades do oficial de justiça e os atos processuais 10
2.1.2 As dificuldades enfrentadas no desempenho da função de oficial de
Justiça 14
3 OS JUIZADOS ESPECIAIS E A PRESTAÇÃO JURISDICIONAL DO OFICIAL DE
JUSTIÇA 16
3.1 A CRIAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS E SUA APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA
DAS NORMAS PROCESSUAIS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL 17
3.1.1 Princípios processuais dos Juizados Especiais 19
3.1.2 Citações e intimações por oficial de justiça 22
3.1.3 O trabalho do oficial de justiça no cumprimento do mandado
de penhora 25
3.1.4 O arresto de bens do devedor não localizado por oficial de justiça 26
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS 28
REFERÊNCIAS 29
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1.INTRODUÇÃO
O presente artigo tem como objetivo relatar o trabalho enfrentado pelo
oficial de justiça para o cumprimento de sua função, nos juizados especiais.
O oficial de justiça exerce função de incontestável relevância no universo
judiciário. É através dele, que se concretiza grande parte dos comandos judiciais.
Em razão de constituir um auxiliar de justiça, seu trabalho tem importância
no processo, pois faz cumprir os despachos, decisões e sentenças do juiz,
aproximando-se das partes e tendo a obrigação de explicar as mesmas a atual
situação da ação.
Uma sentença só se torna efetiva, saindo do mundo abstrato de um
despacho judicial para a realidade da vida das partes processuais, ou seja, para os
fatos concretos, quando é cumprida.
Um dos principais profissionais encarregados de dar andamento às
decisões judiciais é o oficial de justiça, responsável pelo início do processo, por meio
dos atos de comunicação, e pelo final deste, por meio dos atos executórios.
Por isso que foi essencial antes de tratar do trabalho do oficial de justiça
de forma concreta nos juizados especiais, ver a subjetividade dos meirinhos e o
modo de agir com as partes.
Isto porque o exercício profissional envolve lidar com reações imprevistas
dos jurisdicionados que tentam subterfúgios para dificultar o cumprimento das
diligências. É neste universo, que os oficiais de justiça utilizam a penhora e o arresto
para satisfazer os pleitos dos autores.
Destarte, com a eclosão dos juizados especiais no direito pátrio, diante
dos princípios de informalidade, oralidade e celeridade, a função do oficial de justiça
tornou-se ainda mais relevante, uma vez que sua aproximação das partes foi mais
intensa. Indubitavelmente, há uma necessidade evidente no trabalho do oficial de
justiça, principalmente diante dos jurisdicionados hipossuficientes, litigantes dos
juizados especiais, onde, a maioria, não tem condições de constituir um advogado.
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2. O OFICIAL DE JUSTIÇA E SUA PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO
Desde os tempos mais remotos, a figura do oficial de justiça tem ilustrado
diversos capítulos da história. Uma de suas aparições mais antigas, nas lições de
Maria Cristina de Andrade (2012, p. 01), é retratada na Bíblia, no Livro de São
Mateus, Capítulo 05, Versículo 25, onde pode ser encontradas as seguintes palavras
proferidas por Jesus Cristo: "Entra em acordo sem demora com teu adversário,
enquanto estás com ele a caminho, para que o adversário não te entregue ao Juiz, o
Juiz ao Oficial de Justiça, e seja recolhido a prisão”.
Sobre a origem da carreira do oficial de justiça, Pires (1994, p. 19), em
sua obra, aduz que segundo alguns historiadores, a carreira do oficial de justiça tem
sua origem, no Direito Hebraico, quando os Juízes de Paz tinham alguns oficiais
encarregados de executar as ordens que lhes eram confiadas; embora as suas
funções não estivessem claramente especificadas no processo civil, sabe-se que
eles eram os executores da sentença proferida no processo penal. Munidos de um
longo bastão, competia-lhes prender o acusado, tão logo era prolatada a sentença
condenatória.
No direito Justinianeu, segundo Nary (1974, p. 22), foram atribuídas
sucessivamente aos Apparitores e executores as funções que atualmente
desempenham os oficiais de justiça. O legislador romano criou órgãos para ajudá-los
no cumprimento das sentenças.
O Código Filipino, ainda no dizer de Nary (1974, p. 22) adota várias
espécies de “meirinhos”, terminologia ainda hoje empregada em nosso Direito
provindo do direito luso-brasileiro. Entre eles o “meirinho-mor”, o “meirinho da corte”,
o “meirinho das cadeias”, e o “meirinho”, propriamente dito, com a função típica do
oficial de justiça de hoje.
O nosso direito, desde o tempo do Império veio consolidando a instituição
com adoção de princípios fundamentais oriundos de Portugal. Pode-se conceituar o
oficial de justiça, como sendo aquele que tem por encargo, executar as ordens e os
mandados dos juízes, ou delegados. É um mensageiro, um executor de ordens.
Nos ensinamentos de Humberto Teodoro Júnior (2002, p. 87), o Oficial de
Justiça é o antigo meirinho, o funcionário do juízo que se encarrega de cumprir as
diligências fora do cartório como citações, intimações, dentre outras.
Antonio Carlos de Araújo Cintra (2001, p. 313) e outros autores, afirmam
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que o oficial de justiça deve cumprir estritamente as ordens da juiz, não lhe cabendo
entender-se diretamente com a parte interessada no desempenho de suas funções;
percebe vencimentos fixos e mais os emolumentos correspondentes aos atos
funcionais praticados.
Assim, a função do oficial de justiça é a de ser o executor judicial,
cabendo-lhe notificar, intimar, citar, realizar diligências e vários atos processuais ao
seu encargo, tendo como funções principais as práticas de atos de intercâmbio
processual e as práticas de atos de execução.
Por não ser o objetivo do presente trabalho tratar com profundidade a
evolução histórica do oficial de justiça, mas sim demonstrar que em qualquer
sociedade, por mais rudimentar que fosse o aparelho judicial, havia alguém
incumbido de fazer cumprir a decisão emanada pelo órgão competente, vamos nos
ater à inserção do servidor em questão na organização da sociedade brasileira.
2.1 ATRIBUIÇÃO DO OFICIAL DE JUSTIÇA
Com relação às atribuições do oficial de justiça, o artigo 143 do Código de
Processo Civil relata, in verbis, a função do mesmo:
I - Fazer pessoalmente as citações, prisões, penhoras, arrestos e mais diligências próprias de seu ofício, certificando no mandado o ocorrido, com menção de lugar, dia e hora. A diligência, sempre que possível, realizar-se-á na presença de duas testemunhas; II - Executar as ordens do juiz a que estiver subordinado; III - entregar em cartório o mandado, logo depois de cumprido; IV – Estar presente às audiências e coadjuvar o juiz na manutenção da ordem; V- Efetuar avaliações. (Incluído pela Leo nº 11.383, de 2006).
Além das atribuições especificadas na lei processual, cada Estado
disciplina as atribuições do oficial de justiça em seu Código de Organização
Judiciária. Sendo assim, o oficial de justiça é a mola propulsora da justiça, sem a
qual esta quedaria inerte. São verdadeiros baluartes da Justiça.
Na visão de Pires (1994, p. 15), o oficial de Justiça é o responsável por
uma pequena engrenagem, mas que faz todo o sistema funcionar. A grande maioria
dos atos processuais necessita da participação de oficial de justiça para seu
cumprimento. Um dos requisitos importantes para que o Oficial de Justiça cumpra
seu trabalho e efetivamente sirva ao Judiciário de forma serena e correta, é a
realização do ato com bom senso e dedicação e com fiel observância da lei.
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Absolutamente imprescindível para o regular andamento dos processos
judiciais é, pois, a figura do oficial de justiça, na medida em que o exercício de seu
mister corresponde à própria figura do juiz fora dos limites físicos do fórum, o que lhe
exige conhecimentos das regras processuais que dizem respeito ao cumprimento
das diligências.
Desta forma, é de extrema importância o papel do oficial de justiça na
aplicação da lei e da justiça, bem como na realização dos atos processuais. No
entanto, os oficiais de justiça, a despeito da importância de suas atribuições para o
pleno funcionamento da justiça e portanto, do Estado de Direito sofrem de sérias
limitações em suas atividades e, principalmente, nas suas funções de executores de
ordens judiciais onde esses servidores muitas vezes correm perigo de vida. Nesse
sentido, os oficiais de justiça prescindem de aparatos jurídicos para melhor efetivar
seu trabalho, pelo fim de auxiliar na aplicação da justiça e das determinações do
poder judiciário.
No Código de Processo Civil Brasileiro, os oficiais de justiça foram
contemplados com um capítulo atinente aos auxiliares da justiça. As funções
contidas no art. 143, anteriormente vistas, revestem-se de nítido viés executório dos
atos jurisdicionais, não sendo raro na doutrina atribuir aos oficiais de justiça a pecha
de longa manus do magistrado.
O cumprimento dos atos jurisdicionais (mandados) tem a característica
peculiar de chegar ao leigo e explicar o teor do mandamento judicial, seja um
despacho, sentença ou decisão, razão pela qual não se poderia deixar de considerar
que, para que haja celeridade, eficiência, efetividade de decisão, torna-se primordial
a participação do oficial de justiça.
Nestes termos, enquanto o Juiz ordena e o diretor de secretaria formaliza
os instrumentos processuais adequados à satisfação da ordem judicial, cabe ao
oficial de justiça executar a ordem respectiva, tornando efetivo o ato processual.
Os oficiais de justiça, antes nomeados livremente, hoje devem atender a
alguns requisitos legais para assumir tal cargo, dentre outros, aprovação em
concurso público, com atribuições precípuas de cumprir mandados de notificação,
intimação, citação, prisão civil, prisão criminal (em alguns casos), alvarás de
solturas, busca e apreensão, imissão na posse, despejo, demolição, embargo de
obra nova, arresto, sequestro, leilão, praça, avaliação compor as sessões do júri e
realizar diversas outras diligências.
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Na visão de Nary (1974, p. 34), o oficial de justiça possui nove
predicados:
Dedicação – Deve o Oficial de Justiça ser dedicado ao serviço, procurando sempre melhorar o nível de trabalho; discrição – deve guardar sigilo em assuntos relacionados ao serviços; energia – deve ter firmeza e energia no cumprimento das atribuições que lhe forem confiadas; espírito de cooperação – deve ter boa vontade e presteza, quando convocado a servir como companheiro em diligências, procurando sempre auxiliar os colegas, colaborando para o bom andamento do serviço; estabilidade emotiva- deve agir com calma e presença de espírito, quando em diligências, situações desagradáveis ou perigosas; pontualidade – deve sempre chegar com pontualidade às horas marcadas, bem como agir com exatidão no cumprimento dos deveres; prudência – deve ter capacidade de agir com cautela nas diligências, evitando possíveis acidentes ou deserções; senso de responsabilidade – deve executar os trabalhos ou ordens com zelo, solicitude, precisão e presteza; honestidade – ser absolutamente honesto, onde estiver, virtude obrigatória do Oficial de Justiça; sigilo profissional – o servidor deve guardar segredo absoluto em assuntos relacionados ao serviço.
Vale ressaltar ainda que, o oficial de justiça não pode praticar atos fora de
sua competência, devendo manter-se totalmente vinculado ao que dispõe o
mandado.
2.1.1 RESPONSABILIDADES DO OFICIAL DE JUSTIÇA E OS ATOS
PROCESSUAIS
Ao contrário de todos os demais servidores públicos federais ou distritais,
os oficiais de justiça colocam seus próprios veículos particulares em prol do Estado.
Em qualquer outra atividade estatal, o servidor público possui à sua disposição um
veículo institucional para trabalhar, em muitos casos têm inclusive um motorista que
o acompanha.
Com os oficiais de justiça não é assim, fazem uso de seus próprios
automóveis, empregando-os no cumprimento dos mandados. Em muitos casos, são
obrigados a conduzir testemunhas faltosas, em algumas situações, pessoas com
histórico de violência e crimes, em seus próprios veículos, com isso se sujeitam a
serem agredidos e terem seus automóveis furtados ou danificados.
Não raro, recebem ordens judiciais para fazer o transporte de bens
apreendidos em seus próprios veículos, em geral quando a parte não possui
condições de fornecer os meios, quando a solicitação vem por carta precatória ou
quando o solicitante é o próprio Estado, como nas hipóteses de requerimento do
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Ministério Público.
É fato que em diversos âmbitos dos Tribunais de Justiça do país, os
oficiais recebem uma indenização de transporte. Todavia, tal indenização de
transporte tem como único objetivo o pagamento do combustível gasto, ou seja, não
levam em consideração os diversos gastos que o oficial tem quando faz uma
utilização profissional de um veiculo.
Como utilizam constantemente seu veículo particular, os oficiais estão
muito mais sujeitos a se envolverem em alguns tipos de sinistro, têm um custo muito
maior com manutenção, se sujeitam a serem constantemente multados e, mesmo
estando em trabalho, não têm nenhum apoio das autoridades de trânsito; sequer
possuem direito a estacionar em vagas destinadas a carros oficiais, com isso têm
ainda um gasto com estacionamentos particulares quando vão cumprir.
Como também, são os profissionais do serviço público jurídico que mais
recebem as emoções das partes, pois entram em contato direto com elas,
procedendo ao cumprimento dos mandados.
Especificamente no que pertine à responsabilidade civil do oficial de
justiça, a matéria se acha regulamentada pelo art. 144 do Código de Processo Civil:
“O escrivão e o oficial de justiça são civilmente responsáveis: I – quando, sem justo
motivo, se recusam a cumprir, dentro do prazo, os atos que lhes impõe a lei, ou os
que o juiz, a que estão subordinados, lhes comete; II – quando praticarem ato nulo
com dolo ou culpa”.
Ao comentar sobre prejuízo causado às partes em decorrência de recusa,
do oficial de justiça e do escrivão, de cumprir, no devido prazo, os atos que devam
ser por eles realizados por força de lei ou por ordem do juiz, ensinam Luiz Guilherme
Marinoni e Sérgio Cruz Arenhart (2007, p. 197), que: “deve ser por eles indenizado,
desde, porém, que não tenha havido um motivo justo para a recusa. Se a recusa se
deu por motivo justificado, ainda que tenha causado prejuízo, não haverá
responsabilidade pelo ressarcimento”.
Ainda, segundo o mesmo doutrinador, o oficial de justiça, por exemplo,
que se recuse de cumprir um mandado de intimação de testemunhas, porque estas
residem em lugar interditado pela Saúde Pública, por estar ali se alastrando uma
doença contagiosa, essa recusa – desde que comprovada à causa – não acarretará
qualquer responsabilidade ao oficial, por possíveis prejuízos que as partes vierem a
sofrer.
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Quanto ao inciso II do art. 144 do Código de Processo Civil, o doutrinador
em epígrafe ainda ressalta que se o ato praticado for nulo e o presidiu o dolo ou a
culpa, mas se não causou qualquer prejuízo, o serventuário estará isento de
responsabilidade civil quanto a ressarcimento, porém poderá sofrer sanções
administrativas, como, da mesma forma, o Código lhe impõe as mesmas sanções,
no caso de exceder prazos sem motivo legítimo, nos termos dos artigos 193 e 194
do Código. O respectivo processo administrativo e as sanções aplicáveis são objeto
das leis de Organização Judiciária.
Ademais, na prática de atos processuais, os auxiliares da justiça, e neste
âmbito o oficial de justiça, deverá ter responsabilidade para não incorrer nas
sanções civis, penais e administrativas.
Destarte, em se tratando de atos processuais, melhor se conhecerá de
seu processo e o seu desenvolvimento, conhecendo a atuação das partes e do Juiz
na relação jurídica processual.
No processo há uma série de movimentos concatenados, os chamados
atos, praticados pelas partes, uns gerando outros, e todos tendendo a uma
finalidade única. O oficial de justiça, no desempenho de seu trabalho há de conhecer
como se processa, como se desenvolve a relação processual, para poder
desempenhar sua função com segurança, e com conhecimento de causa,
entendendo o que está fazendo, compreendendo os termos técnicos para distinguir
os vários movimentos de um processo.
É necessário que o ato processual esteja previsto na lei ou, pelo menos,
que não a contrarie, realizado de sorte que preencha o fim pretendido. Deve haver
um nexo necessário entre a realização do ato e sua finalidade.
No que se refere ao juizado especial cível, a Lei n. 9.099/95, que
introduziu os Juizados Especiais no ordenamento jurídico, tem, como princípios,
dentre outros, a celeridade, simplicidade, informalidade e economia processual. Não
há maiores contratempo na atuação do oficial de justiça. Há, todavia, que se ter
maior atenção na fase executória dos julgados, onde o procedimento sofre um
pouco de alteração.
O oficial de justiça também movimenta e dá vida à ação ao realizar os
atos de citação, intimação, notificação, penhora e arresto, sequestro, avaliação,
busca e apreensão, desocupação, imissão e manutenção de posse, ratificando seu
dever em trazer ao processo a efetiva realidade dos fatos, que muitas vezes é
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omitida ou destorcida pelas partes. Sob esse prisma, é o oficial de justiça quem tem
o contato direto com o mundo exterior do processo trazendo aos autos o
sustentáculo das decisões dos Juízes.
É algo comum no cotidiano forense depararmo-nos com atos processuais,
tais como citações e penhoras, realizados em dias não úteis e também fora do
horário legalmente estabelecido, sem qualquer autorização judicial. Esse quadro,
usual em algumas comarcas, não se compatibiliza com o texto legal que impõe a
observância a limites de ordem cronológica e temporal para a prática de atos
processuais.
Os seus atos são caracterizados por determinação legal da Constituição
Federal, leis infraconstitucionais e administrativas, para que sejam realizados em
determinado lugar, em determinado período (ou horário) e seguindo determinadas
formalidades, como é o exemplo da citação por hora certa (arts. 227 e 228 do
Código de Processo Civil) e da inviolabilidade do domicílio.
O artigo 247 do Código de Processo Civil prescreve que “as citações e
intimações serão nulas, quando feitas sem observância das prescrições legais”. É
uma demonstração clara do legislador em propiciar às partes a efetividade dos
princípios constitucionais do devido processo legal, do contraditório e da ampla
defesa (Constituição Federal, art. 5º, incisos LIV e LV), bem como a sustentação de
aplicabilidade do princípio ainda maior, o da igualdade (Constituição Federal, art. 5º,
caput) entre os litigantes, no sentido de que todos devem participar e tomar
conhecimento de forma igualitária da movimentação processual.
Conclui-se, deste modo, que a citação, assim como os demais atos
processuais, deve ser cumprida, como regra, em dias úteis e no horário estatuído no
caput do art. 172, ou seja, das 06 (seis) às 20 (vinte) horas.
Entretanto, a citação poderá ser realizada fora do horário regular e em
dias não úteis, desde que seja aludida conduta autorizada de forma fundamentada
pelo juiz, mediante solicitação da parte ou do oficial de justiça, e cumprida com
observância ao princípio da inviolabilidade domiciliar. A inobservância de qualquer
destes requisitos acarreta a nulidade da citação e consuma evidente violação aos
princípios constitucionais da legalidade e do devido processo legal.
O reconhecimento da nulidade, em razão de ser de ordem pública, pode e
deve ser promovido pelo magistrado que preside o feito, seja ou não acionado pelas
partes.
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No que diz respeito aos feriados e pontos facultativos, enquanto que
naqueles não se podem realizar atos processuais, sob pena de nulidade, nestes,
porém, não serão nulos nem anuláveis os atos praticados, porque ficam a critério do
funcionário executá-lo ou não, que são considerados como tais os domingos, as
férias e os dias que, por ato governamental, forem declarados feriados.
Há, ainda, os chamados “pontos facultativos”. Nos dias assim declarados,
os atos neles realizados não serão nulos nem anuláveis, pois sendo “facultativo” o
trabalho, ficará a critério de quem os vá praticar, executá-los ou não. No caso de
uma penhora, por exemplo, se o oficial de justiça entender de realizá-la mesmo num
dia declarado “ponto facultativo”, poderá legalmente realizá-la, independente de
autorização do juiz, o que não seria permitido na hipótese de tratar-se de feriados (§
2º do artigo em estudo). O § 2º do artigo em epígrafe faz uma ressalva de relevante
importância, permitindo que se façam penhoras e citações mesmo em domingo e
feriado, mas isso somente em casos excepcionais e mediante ordem expressa do
juiz.
2.1.2 AS DIFICULDADES ENFRENTADAS NO DESEMPENHO DA FUNÇÃO DE
OFICIAL DE JUSTIÇA
Conforme foi estabelecido em linhas anteriores, a função de Oficial de
Justiça é muito relevante para o ordenamento jurídico, posto que realiza atos
materiais necessários para regular a tramitação dos processos, dando a ele
efetividade, possibilitando seu bom andamento e garantindo a resolução dos
conflitos da população.
Poucas pessoas reconhecem os atos de energia, de positividade, de
cumprimento correto das ordens Judiciais. Da perfeita satisfação de um título
executivo levado a bom termo pelos oficiais. Parece-nos que, às vezes, os oficiais
de justiça, só são lembrados nas horas que não localizam um imóvel numa
determinada rua de numeração irregular. Não são lembrados quando localizam
pessoas em endereços que já eram considerados como incertos e não sabidos; não
são lembrados quando em suas certidões detectam fraudes, conluios, indícios para
desconsideração de personalidade jurídica. Não são lembrados pelas horas que tem
que adentrar em presídios com intimações enfrentando situação de perigo.
Em razão da especificidade do serviço público que prestam, os oficiais de
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justiça possuem algumas particularidades no seu fazer que carecem de atenção sui
generis.
Conforme discorre Maria Cristina de Andrade (2012, p. 07), que realizou
entrevistas com vinte Oficiais de Justiça da Comarca de João Pessoa, os mesmos
explanaram suas principais dificuldades e aspirações para o cumprimento de suas
atribuições, as quais arrolamos:
Segurança - Na realização de suas atividades específicas, os mesmos estão expostos a inúmeros riscos, trabalhando num ambiente diferenciado com pressões de toda ordem. Uma vez que levam muitas vezes notícias desagradáveis, têm que lidar com a imprevisibilidade de comportamento da parte destinatária da ordem judicial. O fato de Oficial de Justiça trabalhar em seu próprio veículo e em áreas onde há altos índices de violência fica exposto aos riscos daí decorrentes, sejam eles causados pelo trânsito caótico das grandes cidades ou pela violência urbana e rural aos quais estamos expostos. Uma vez que não gozam da estrutura administrativa e protetiva do Estado, tornaram-se comuns nos dias atuais acidentes, assaltos e até assassinatos de Oficiais de Justiça no cumprimento de suas funções. O risco da atividade laboral a que faz jus o Oficial de Justiça está muito aquém dos danos a que estão submetidos. - Exposição ao sol – Devido a crescente demanda dos processos judiciais, o Tribunal de Justiça da Paraíba com o intuito de dar celeridade aos mesmos, tornou-se crescente o número de mandados recebidos pelos Oficiais. Para cumpri-los e atingir sua meta, eles ficam expostos várias horas aos males nocivos do sol, arriscando, assim, sua saúde. - Rejeição da classe média alta – Reclamação constante é em relação ao cumprimento de suas funções nos bairros mais nobres. Frequentemente, o Oficial de Justiça em face do conteúdo da ordem judicial que porta não ser amistosa ao receptor, é submetido a repulsa. Além de ser mal recebido, o mesmo manda dizer que está ausente e o Oficial vê-se obrigado a voltar inúmeras vezes ao mesmo local para realizar sua diligência. - Falta de incentivo do Tribunal na ajuda de custo para o efetivo cumprimento dos mandados – Não há por parte do Tribunal interesse em munir os Oficiais de Justiça com ferramentas tecnológicas modernas, que iria contribuir para uma celeridade efetiva quando do cumprimento de suas diligências. Os mesmos sentem falta do reconhecimento de seu trabalho, pois não há motivações administrativas de modo que o mesmo sinta sua importância dentro do processo e na Instituição. - Não saberem até quando suportarão o aumento constante de mandados em suas pastas. - Um mesmo mandado ser distribuído a oficiais diferentes. - Mandados de intimações para pessoas que já foram intimadas em cartório. - Sobrecarga de mandados no plantão, muitas vezes, por desatenção de servidores dos cartórios que não os expediram com a devida antecedência. - Sensação de que seu tempo é desperdiçado, e seus conhecimentos subaproveitados na execução de ordens como entrega de ofícios. - Como o Judiciário não possui veículos suficientes, os Oficiais de Justiça são obrigados a utilizar os próprios carros para cumprir mandados, como entregar citações ou promover penhoras e diligências. As verbas pagas pela Justiça a título de ressarcimento de despesas não cobrem os gastos dos Oficiais no trabalho. - mandados que devem ser enviados pelo correio, mas são distribuídos aos oficiais por comodidade dos serventuários dos cartórios; - juizados especiais que não intimam por telefone, apesar da previsão legal; - intimações de vítimas para comparecerem em cartório com vistas à manifestação sobre o interesse no prosseguimento dos feitos nas ações
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penais, mesmo depois de dizerem na delegacia sobre o desinteresse na ação; - intimação do advogado da parte autora para dar andamento aos processos, quando a lei determina a publicação no órgão de imprensa oficial.
Assim, com tais arguições da autora supra, pode-se concluir que o oficial
de justiça tem uma missão muito árdua na seara jurídica e em alguns momentos
pouco reconhecida, pois ele é o responsável por diretamente cumprir os mandados e
as atribuições do juízo a que esteja vinculado, devendo adequar sua carga horária
para dar cumprimento às ordens judiciais. Isso quase sempre importa em entrar por
madrugadas, feriados e finais de semana. O tempo dedicado à família, ao lazer e
aos cuidados pessoais é sacrificado. O medo de não conseguir executar sua tarefa
aumenta, fazendo com que muitos Oficiais de Justiça entrem em depressão ou
tenham problemas com relacionamento pessoal.
De acordo com Leonel Baldasso Pires (1994, p. 34), as patologias sociais
da sobrecarga, violência e servidão voluntária no mundo do trabalho, resultam do
contínuo embate das pessoas com seus ambientes de trabalho. A impossibilidade de
lidar com as adversidades e o sofrimento – decorrentes da organização do trabalho,
o que pode levar à anestesia e à insensibilidade ao próprio sofrimento e ao dos
outros, processo que pode se intensificar a ponto de ser compartilhado pelo grupo.
Sendo assim, identificam-se as imposições contra as pessoas originadas
na organização do trabalho como violência estrutural, que causam desconforto,
sofrimento, desgaste, fadiga, adoecimento e até mesmo a morte.
Este contato direto com o jurisdionado, é ainda mais acentuado nas ações
relativas ao juizado especial cível, onde o oficial de justiça está presente com mais
frequência, pelo fato de na maioria das vezes, as partes não possuem condições
financeiras de constituir um advogado e/ou pela informalidade que reina como
princípio norteador.
3. OS JUIZADOS ESPECIAIS E A PRESTAÇÃO JURISDICIONAL DO OFICIAL DE
JUSTIÇA
A partir deste capítulo, iniciaremos o estudo acerca da atuação do oficial
de justiça no âmbito dos juizados especiais, com ênfase no juizado cível.
O oficial de justiça no desempenho de seu trabalho deve conhecer como
18
se processa, como se desenvolve a relação processual, para poder desempenhar
sua função com segurança e com conhecimento de causa, entendendo o que está
fazendo, compreendendo os termos técnicos, para distinguir os vários movimentos
de um processo.
É necessário que o ato processual esteja previsto em lei, ou pelo menos,
que não a contrarie, realizado de sorte que preencha o fim pretendido. Deve haver
um nexo necessário entre a realização do ato e sua finalidade.
No que se refere ao juizado especial cível, a Lei nº 9.099/95, que
introduziu os Juizados Especiais no ordenamento jurídico, tem em seu escopo,
princípios norteadores de sua base fundamental.
Exatamente por ter esta característica específica, é que deve o oficial de
justiça está atento a tais pressupostos.
3.1 A CRIAÇÃO DOS JUIZADOS ESPECIAIS E SUA APLICAÇÃO SUBSIDIÁRIA
DAS NORMAS PROCESSUAIS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL
Desde a vigência da Constituição Federal de 1988, verificou-se na prática,
que a maioria dos Estados não criou seus juizados especiais no contorno do art. 24,
XI.
Ademais, talvez pelo fato que a implantação dos juizados especiais não
constituiu tarefa fácil, tais institutos vieram apenas a se organizarem com a edição
da lei nº 9.099/95.
Após a eclosão da respectiva lei, houve um aumento significativo de
demandas, possibilitando o acesso à justiça das pessoas mais carentes, as quais
obtinham a oportunidade de reclamar seus direitos. Neste prisma, Fernando da
Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira Júnior, (2005, p. 64) destacam
Em contrapartida, não obstante o trabalho estafante da implementação desses juizados, nos quais tivemos oportunidade de atuar intensamente, inclusive em comarcas diversas, podemos testemunhar, com satisfação, que os resultados colhidos são deveras compensadores e gratificantes, à medida que constata, no semblante de cada um dos litigantes, a tranquilidade da obtenção de uma solução rápida e justa aos seus conflitos, a qual, não raras vezes, é encontrada por intermédio da conciliação.
A Lei em exame, em seu contexto, é satisfatória, nada obstante algumas
imperfeições que estão a exigir as devidas correções. Trata-se de um novo sistema
que necessita, sem dúvida, ser aprimorado pela prática forense, pelas orientações
19
doutrinárias e jurisprudenciais, tarefa que só no decorrer do tempo, poderá realizar-
se, sem contar com o próprio aprimoramento legislativo.
A realidade é que o legislador não ofereceu uma norma que traz em seu
bojo novidades, muito mais positivas que negativas. Os operadores do direito
sempre exigiram um novo sistema que fosse pautado pelo princípio da oralidade em
grau máximo, donde surgem os outros princípios, como o da informalidade,
simplicidade, celeridade, dentre outros. Então, com todas estas arguições, pode-se
denotar que os juizados especiais configuraram através do anseio popular, tornando
mais próxima a justiça de seus jurisdicionados.
Vislumbrando o universo das causas mais simples, é possível destacar
que não ficou consignado na Lei nº 9.099/95 a respeito da aplicação subsidiária das
normas do Código de Processo Civil. Todavia, essa constatação preliminar não
serve para excluir de início a aplicação subsidiária da lei adjetiva, por fixar as linhas
mestras do processo de conhecimento, como se fosse a espinha dorsal
sustentadora dos demais.
Desta feita, não se pode rechaçar a aplicabilidade das normas gerais de
processo insculpidas na referida codificação; há que se observar, isto sim, que elas
só terão incidência na hipótese de omissão legislativa do microssistema e desde que
se encontrem em perfeita consonância com os princípios orientadores dos juizados
especiais.
Tal assertiva não é de difícil verificação, posto que a lei nº 9.099/95
aborda direta ou indiretamente inúmeros institutos de natureza processual e
procedimental, tornando-se, em regra, quase desnecessária a regulamentação ou
incidência de institutos ou dispositivos contidos no Código de processo Civil.
Aduzem Nelson Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery (2003, p. 963)
Somente quando for verificada a lacuna ou obscuridade na Lei dos Juizados Especiais, haverá, em caráter excepcional, buscar-se primeiramente no processo tradicional (CPC) a solução ao problema por aplicação subsidiária da norma. Eventualmente, persistindo o vazio, aí então partirá para a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. Contudo, não se pode perder de vista o disposto no art. 6º da Lei nº 9.099/95, que permite ao Juiz adotar, em cada caso concreto, a decisão que reputar mais justa e equânime, atendendo sempre aos fins sociais da lei e às exigências do bem comum.
A regra da aplicação subsidiária das normas processuais são aplicadas
não somente na prolação da sentença de mérito, mas em todas as fases do
processo, inclusive para resolver questões procedimentais ou processuais não
20
devidamente explicadas na norma, tudo de acordo com os princípios da
simplicidade, celeridade, economia processual e informalidade (art. 2º), desde a
propositura da demanda até a satisfação definitiva da pretensão resistida ou
insatisfeita do vencedor da lide.
Deste modo, é juridicamente possível nos juizados especiais, a aplicação
subsidiária do Código de Processo Civil para fins de obtenção de tutelas
acautelatórias ou antecipadas.
Destarte, a Lei nº 9.099/95 não apresenta em seu bojo nenhum
mecanismo de antecipação da pretensão articulada pelo autor, nada obstante ter
sido norteada, entre outros princípios, pelo da celeridade. Por seu turno, o instituto
da antecipação da prestação da tutela jurisdicional do Estado foi inserido no contexto
do processo cognitivo justamente para evitar prejuízos com o retardamento da
consecução material da sentença de mérito favorável ao autor. Por isso, não
vislumbramos óbice algum em sua aplicação nas ações processadas pelo rito
especialíssimo previsto nessa lei; pelo contrário, é medida salutar e absolutamente
compatível com o microssistema.
Com relação à competência, a Lei nº 9.099/95, em seu art. 3º, preconiza
nas principais atividades e providências judiciais a serem exercidas pelo Estado-
Juiz.
Através disto, os Juizados foram criados não só para a tentativa de
composição amigável (conciliação ou transação), mas também para o
desenvolvimento do processo, em todos os termos e na forma procedimental
instruída pela própria lei, o que representa viabilidade jurídica de obtenção da
prestação da tutela jurisdicional por intermédio da prolação uma sentença de mérito
para a resolução da lide e satisfação do vencedor, como também a efetivação
forçada da pretensão acolhida pelo julgado, por meio da execução específica, ou a
atuação autoritária da lei em favor do autor.
3.1.1 PRINCÍPIOS PROCESSUAIS DOS JUIZADOS ESPECIAIS
Em que se pese ao legislador ter-se utilizado da expressão “critérios”
orientadores do processo nos juizados especiais, o que na verdade se observa são
verdadeiros princípios gerais.
Nas lições de Luiz Rodrigues Wambier (2015, p. 52), princípios
21
processuais são um complexo de todos os preceitos que originam , fundamentam e
orientam o processo. Esses princípios podem ser doutrinariamente divididos em
duas espécies: informativos e gerais.
Os informativos representam o caráter ideológico do processo, como
objetivo principal da pacificação social, influenciando jurídica, econômica e
socialmente e transcendem a norma propriamente dita, à medida que procuram
nortear o processo pelo seu fim maior e ideal precípuo.
Por sua vez, os princípios gerais do processo, também conhecidos por
fundamentais são aqueles previstos de maneira explícita ou implícita na Constituição
e/ou na legislação infraconstitucional, como fontes norteadoras da atividade das
partes, do Juiz, do Ministério Público, dos auxiliares de justiça, da ação, do processo
e do procedimento.
No dizer de Elpídio Donizetti (2007, p. 79,),
São princípios fundamentais porque respeitam à orientação particular de dado ordenamento jurídico, emergem necessariamente de um ordenamento jurídico positivo. Com isso, é evidente que entre os diversos ordenamentos jurídicos, pode existir e, efetivamente existe, um denominador comum, que o inspira, mercê do qual há grande uniformidade entre os princípios fundamentais.
Assim, é patente que os princípios fundamentais estão vinculados á
orientação do universo processual civil e em sintonia com os princípios dos juizados
especiais como o contraditório, a ampla defesa, igualdade entre as partes,
segurança jurídica, relação entre pedido e o pronunciado etc.
A seguir, veremos os principais princípios responsáveis pela estruturação
dos juizados especiais.
O princípio da oralidade constitui a exigência da forma oral no tratamento
da causa, sem que com isso se exclua por completo a utilização da escrita, o que,
aliás, é praticamente impossível, tendo em vista a imprescindibilidade na
documentação de todo processo e conversão em termos, no mínimo, de suas fases
a atos principais, sempre ao estritamente indispensável. Ademais, processo oral não
é sinônimo de processo verbal.
Nestes termos, ensina Araken de Assis, (2007, p. 85),
Na realidade, os procedimentos oral e escrito completam-se. Quando o legislador alude ao procedimento oral, ou ao procedimento escrito, isto significa não a contraposição ou exclusão, mas a superioridade de um, ou de outro modo, de agir em juízo. Ambos os tipos de procedimentos dizem
22
respeito ao modo de comunicação entre as partes e o juiz. O procedimento oral fundamenta-se não apenas em fatos e atos que o juiz conhece, de viva voz, como também em provas produzidas.
De acordo com as explanações do autor em epígrafe, este ainda
complementa seu pensamento acerca do princípio da oralidade, mostrando outros
norteamentos oriundos deste fundamento institucional, quais sejam, princípio do
imediatismo, princípio da concentração, princípio da imutabilidade do juiz e da
irrecorribilidade das decisões.
Nos juizados especiais, o princípio da oralidade está concentrado na
possiblidade de se tomar por termo o requerimento das partes dito oralmente por
estas em secretaria. Há também a oralidade nas audiências do Juizado Especial, em
que as partes podem verbalmente contestar, replicar, recorrer etc.
Ainda sobre o princípio da oralidade, para concluir, pode-se dizer que sua
acentuada adoção, nos moldes da lei, apresenta uma vantagem a respeito da ordem
psicológica, onde as partes tem a impressão de exercer elas mesmas, a influência
decisiva no deslinde da demanda, resultando em contrapartida, no melhoramento da
imagem do judiciário perante os jurisdicionados.
Os princípios da simplicidade, informalidade, economia processual e
celeridade foram decorrentes da oralidade.
Note-se que o rito empregado nos juizados especiais é o sumaríssimo,
em que suas características são a rapidez, a simplicidade, a informalidade, a
concentração dos atos e a economia processual.
Por outro lado, em que pese ao rito previamente estabelecido para os
juizados especiais em face da incidência do princípio da informalidade, nada obsta
que o juiz busque soluções alternativas de ordem procedimental para obter uma
tutela jurisdicional mais rápida e hábil a adequar a ação de direito material àquela de
direito processual.
Joel Dias Figueira Júnior e Tourinho Neto (2005, p. 85,), comentam que
O que estamos a dizer é que o procedimento civil tradicional, justamente porque seus contornos estão definidos originariamente na Constituição Federal, que, por sua vez, determina expressamente a observância ao princípio da oralidade, do qual decorrem todos os subprincípios, inclusive os da informalidade e simplicidade.
A Lei 9.099/95 não está preocupada em preconizar a forma em si; sua
atenção fundamental dirige-se para a matéria de fundo, ou seja, a concretização, a
23
efetivação do direito do jurisdicionado que acorreu ao Judiciário para fazer valer sua
pretensão, com maior simplicidade e rapidez possível.
Passemos agora a observar o princípio da autocomposição.
Porém, antes, deve-se fazer uma rápida distinção entre transação e
conciliação. Nos ensinamentos de Misael Montenegro Filho (2006, p. 238), a
transação é o negócio bilateral pelo qual as partes interessadas, fazendo-se
concessões mútuas, previnem ou extinguem obrigações litigiosas ou duvidosas,
enquanto a conciliação significa a composição amigável sem que se verifique
alguma concessão por quaisquer das partes a respeito do pretenso direito alegado
ou extinção de obrigação civil ou comercial (renúncia ao direito, reconhecimento do
pedido, desistência da ação).
Assim, quem transaciona ou concilia realiza, necessariamente,
autocomposição, de forma diversa, as partes que apenas conciliam não estão
transacionando. Portanto, são atos unilaterais ou bilaterais que podem levar à
extinção do processo, em regra com julgamento do mérito, ou, ainda, reduzir
parcialmente as lides instauradas por meio de acordos parciais, nada obstante o
prosseguimento da demanda no que concerne à parcela remanescente do conflito.
Destarte, antes de se chegar à prolação de uma sentença de mérito à
solução da lide, acolhendo ou rejeitando o pedido das partes, no microssistema dos
juizados especiais, o juiz tem perante os litigantes outro não menos importante
compromisso: tentar a conciliação ou a transação.
3.1.2 CITAÇÕES E INTIMAÇÕES POR OFICIAL DE JUSTIÇA
O conceito de citação encontra-se no art. 213 do Código de processo
Civil.
Destaca Humberto Theodoro Júnior (2002, p. 212) que “a citação é
indispensável como meio de abertura do contraditório, da instauração da relação
processual”.
Em regra, a citação é feita por via postal. No entanto, será feita por oficial
de justiça, se assim o autor requerer ou não for possível, ou não tiver êxito, a citação
por correios e ainda nas execuções, nas ações de estado ou quando o réu for
incapaz ou pessoa jurídica de direito público.
No que tange os juizados especiais, o mais comum são as citações
24
pessoais por oficial de justiça.
Isto porque, em razão da dificuldade dos correios em encontrar os
endereços das partes e pelo fato de muitas vezes o endereço fornecido pelo autor
não condiz com a realidade, é que a figura do oficial de justiça se faz presente para
conseguir encontrar a parte.
Diante disto, por ser detentor do poder de diligência, o oficial de justiça
consegue procurar o endereço, até quando este foi fornecido erroneamente. Em
razão desta flexibilidade, é que o Oficial de Justiça tem um trabalho relevante dos
juizados especiais.
Ademais, as citações nos processos de execução, devem ser feitas por
oficial de justiça, principalmente na execução por título extrajudicial, porque no
mesmo mandado, deverá ser acompanhada a penhora de bens, esta somente
realizada por oficial de justiça.
A citação por hora certa, da mesma forma, somente será processada por
oficial de justiça.
Isto porque, é o oficial de justiça quem delibera proceder a essa
modalidade de citação, por entender de não mais tentar a citação, na pessoa do
citando. O oficial de justiça declara, então, ter procurado o citando, que se ocultou,
para evitar a sua citação, ou em que cientifica qualquer pessoa da família, qualquer
vizinho, de que vai voltar, à hora certa, no dia seguinte. Voltando no próximo dia à
hora marcada, não encontrando o citando, o oficial de justiça deverá procurar
informações das razões da ausência do réu e dará por feita a citação, deixando a
contrafé com qualquer pessoa da família ou vizinho, anotando-lhe o nome.
Com relação à possibilidade da aplicação da citação por hora certa nos
juizados especiais, há divergência a esse respeito.
Existe corrente jurisprudencial que não admite a citação por hora certa
nos juizados especiais, com fulcro nos princípios da informalidade e celeridade.
Vejamos:
Ementa: Juizados Especiais. Citação por hora certa. Incompatibilidade com o rito. 1. Inadmissível nos Juizados Especiais a citação por hora certa. 2. Recurso conhecido mas improvido. 3. Recorrente sucumbente arcará com custas, sem honorários eis que ausentes contrarrazões. Encontrado em: Conhecido. Recurso Improvido. Unânime 2ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, Curador especial, incompatibilidade, princípio, Procedimento, Juizados Especias. Apelacão Cível do Juizado Especial. ACJ 20120710089436 DF 0008943-
25
96.2012.8.07.0007 (TJ-DF), Relator Flávio Augusto Martins Leite. Ementa: Processual Civil. Citação por hora certa e nomeação de curador especial. Institutos incompatíveis com os Juizados Especiais. Princípios celeridade e economia processual. Nulidade de todos os atos a partir da citação. 1. A citação por hora certa e a nomeação de um Curador Especial não tem lugar nos Juizados Especiais. Estes institutos são incompatíveis com celeridade e a economia processual, princípios que norteiam a Lei 9.099/95. 2. A nulidade da citação leva à nulidade dos atos subsequentes e impõe o retorno dos autos para a origem, evitando-se, assim, cerceamento de defesa da parte. Sentença desconstituída, de ofício. Recursos prejudicados. (Recurso Cível nº 71005072483, Segunda Turma Recursal Cível, Turmas Recursais, Relatora: Vivian Cristina Angonese Spengler, Julgado em 05/11/2014).
Ademais, de outra parte, Cândido Rangel Dinamarco (2005, p. 787),
ensina que a citação por hora certa é possível no juizado especial, tendo em vista
que a Lei nº 9.099/95 não mencionou expressamente a sua vedação.
Nada diz a lei a respeito da citação com hora certa, mas também não a exclui e, além disso, ela não tem qualquer incompatibilidade com o sistema processual dos juizados especiais cíveis. Se ocorrer necessidade de marcas hora certa, o meirinho o fará e procederá pela forma determinada no Código de Processo Civil (arts. 227 e 228) ficando revel o réu citado por essa forma de citação ficta, ele terá curador especial (CPC art. 9º, inciso II), que o juiz lhe dará obrigatoriamente, sob pena de nulidade total do processo.
Sendo assim, conclui-se que em razão do cabimento da citação por hora
certa nos Juizados Especiais, não há unanimidade acerca do entendimento da
possibilidade da aplicação do instituto.
Acerca da intimação, este ato constitui na necessidade de avisar alguém
sobre determinados pontos do processo.
No dizer de Elpídio Donizzeti (2007, p. 234), a intimação tem por objetivo
dar ciência a alguém dos atos e termos do processo, para que faça ou deixe de fazer
alguma coisa ou simplesmente para se inteirar desses atos e termos.
Assim como as citações, as intimações serão feitas pelo correio e quando
a lei determinar, a citação poderá ser feita por oficial de justiça.
A intimação está sujeita à observância de determinados requisitos para
sua validade dentro do art. 239 do Código de processo Civil.
Fredie Didier Júnior (2010, p. 359) e outros autores, destacam que a
certidão de intimação que é exigida ad substantiam, não apenas ad probationem.
Quer isso dizer que ela não se destina somente a provar a intimação, ela a completa
26
e perfaz, de modo que a certificação por isso é requisito essencial e,
consequentemente, existencial da intimação. Enquanto o oficial ou o escrivão, que a
houver feito, não a porta por fé, ela não estará consumada, e, portanto, inexistirá.
Nos juizados especiais cíveis, o oficial de justiça diligenciará no endereço
das partes e após a intimação pessoal, certificará o ocorrido. Do mesmo modo das
citações, as intimações pessoais no rito sumaríssimo constituem a melhor forma de
dar ciência do ato às partes.
3.1.3 O TRABALHO DO OFICIAL DE JUSTIÇA NO CUMPRIMENTO DO MANDADO
DE PENHORA
Já na fase de execução do processo, que trata sobre o ressarcimento dos
créditos inadimplidos, a atenção do oficial de justiça deve ser redobrada, em função
dos atos constritivos, como por exemplo, a penhora, que irá retirar do devedor um
determinado bem de sua propriedade. Todavia, deve evitar excessos, para não
incorrer em abuso de autoridade.
Vale destacar que, para não ultrapassar os limites de sua função no
cumprimento do mandado de penhora, o oficial de justiça poderá utilizar o reforço
policial quando necessitar arrombar casas para entrar e/ou objetos com o fim de
executar o ato judicial. Inclusive, nos próprios mandados de penhora confeccionados
pela Secretaria Judiciária existe esta menção acerca do reforço policial.
O devedor responderá com todos os seus bens presentes e futuros, para
o cumprimento de suas obrigações, ressalvadas as restrições previstas em lei.
A expropriação consiste na alienação de bens do devedor, ou seja, na
transferência do domínio de determinado bem, a título oneroso ou gratuito, em favor
do titular do crédito líquido, certo e exigível.
Nos juizados especiais, as penhoras realizadas por oficial de justiça são
muito frequentes, tendo em vista o acesso fácil e rápido à justiça e com isso, permitir
que muitos jurisdionados possam entrar em Juízo para reclamar seus anseios.
Neste ato, o oficial justiça, munido do mandado de penhora, adentrará no
domicílio do devedor e expropriará bens de sua propriedade até que atinjam o valor
da dívida. O contato direto com a parte é o que mais releva a função do oficial de
justiça, que representando o Estado, procura satisfazer as obrigações não realizadas
bilateralmente.
27
Realizada a constrição do bem, o oficial de justiça lavrará o auto de
penhora, que nos moldes do art. 665 do Código de Processo Civil deverá conter: I –
Indicação de dia, mês, ano e lugar em que foi feita; II – Os nomes do credor e do
devedor; III – A descrição dos bens penhorados com seus característicos; IV – A
nomeação do depositário dos bens”.
Deverá ser preenchida por Oficial de Justiça no verso do mandado ou
folha separada, certidão de intimação da penhora com o nome do executado, seu
cônjuge se casado for (bens imóveis) e a data da intimação.
O auto deve ser circunstanciado para poder transmitir ao julgador a ideia
verdadeira do estado dos bens constritos.
Da mesma forma, a circunstância de inexistirem bens que possam ser
objeto dessa constrição deve ser claramente especificada na certidão quando o
oficial de justiça não localiza bens de propriedade do devedor.
Após a penhora, caso a parte deseje adjudicar o bem penhorado, irá o
oficial de justiça proceder à remoção do respectivo bem e com a carta de
adjudicação em mãos, passará o bem para a propriedade do seu novo dono, o
credor.
3.1.4 O ARRESTO DE BENS DO DEVEDOR NÃO LOCALIZADO POR OFICIAL DE
JUSTIÇA
O arresto de bens do devedor é realizado por oficial de justiça quando o
réu não é localizado ou se oculta para evitar a citação. É uma apreensão de bens do
devedor, como garantia do crédito do exequente, tal qual a penhora. A diferença está
no fato de que na penhora existe a citação do devedor, enquanto que no arresto, ela
não existe.
Cabe ao Oficial de Justiça arrestar os bens que estão situados nos
endereços descritos no mandado, nada impedindo que o servidor arreste bens
localizados em qualquer outro lugar, desde que na Comarca.
Na certidão circunstanciada, deverá mencionar todas as diligências
efetuadas com as buscas e investigações que houver empreendido para encontrar o
devedor.
Caso o devedor esteja em lugar incerto ou esteja viajando sem previsão
de volta, poderão oficial de justiça arrestar-lhe bens de cuja existência tenha
28
conhecimento.
Quando o oficial de justiça não localiza bens e não tem conhecimento de
que o devedor os possua, devolve o mandado com a certidão, descrevendo as
diligências em que não encontrou o devedor e que não localizou bens de
propriedade do executado para recair a constrição.
Com relação ao procedimento dos juizados especiais, conforme ensinam
Fernando da Costa Tourinho Neto e Joel Dias Figueira Júnior (2005, p. 328), não se
coaduna com o instituto de arresto de bens, face à inexistência de citação editalícia,
expressamente vedada pela Lei nº 9.099/95, diante da incompatibilidade com o
princípio da oralidade e seus subprincípios e a comunicação presumida ou fictícia,
que atenta contra a simplicidade, celeridade, concentração de informalidade.
No entanto, nos casos em que o autor carente que não tem condições de
arcar com as despesas processuais no procedimento comum, nem tampouco pode
constituir um advogado, ficaria impedido de pleitear em juízo, se o devedor não
fosse encontrado.
Este fato esbarra no princípio de fácil acesso à justiça, tão consagrado
nos juizados especiais.
Desta forma, em casos excepcionais, como o exemplo citado acima, tem-
se admitido a figura do arresto nas causas do juizado especiais, com o fim de
ampliar o acesso à justiça a todos.
Em síntese, pode-se perceber que em todos os atos processuais a
presença do oficial de justiça tem sido muito relevante, pois este profissional detém
a interação direta com o jurisdicionado, determinando o alcance da justiça através do
cumprimento dos mandados. Seja de forma ativa, como diligenciando o endereço da
parte, fazendo penhoras, ou muitas vezes de forma passiva, esperando a reação da
parte diante do cumprimento do ato.
O público com o qual o oficial de justiça interage, apresenta uma
diversidade de características pessoais, culturais, profissionais, sociais, e essa
multiplicidade exige do profissional habilidades não apenas de adaptação de
linguagem a ser utilizada, mas também da postura diante do jurisdicionado.
Conforme relata Patrícia Valéria Alkimin Pereira (2005, p. 58), no
cumprimento dos mandados os oficiais de justiça também fazem um trabalho
emocional, gerenciando as emoções emergentes (próprias e do outro), diante das
situações conflituosas.
29
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Chegando ao final desta pesquisa, foi possível observar que o artigo sob
análise pretendeu fomentar o debate acerca do trabalho do oficial de justiça e sua
participação nos juizados especiais.
Deste modo, esta onda de reformas na seara jurídica, também
impulsionou as correntes processualistas na área cível, removendo métodos
ultrapassados, atualizando outros e implantando instrumentos processuais mais
adequados às necessidades do tempo.
O Código de Processo Civil tece uma situação de equilíbrio, trazendo
requisitos que devem ser estritamente observados, sob pena de desvirtuar a
proporcionalidade que existe entre os benefícios propostos e as restrições sofridas
por ambas as partes.
Assim, com o estudo realizado neste trabalho, foi possível constatar que
apesar dos desafios atuais postos com relação à modernização dos processos, o
oficial de justiça permanece indispensável na seara jurídica.
Portanto, faz-se mister que todos as dificuldades pelas quais passam os
oficiais de justiça nos exercícios de sua atividades sejam sanadas de modo que os
mesmos possam cumprir as ordens judiciais com mais segurança e celeridade,
buscando uma prestação jurisdicional mais eficaz.
Durante o cumprimento dos mandados, a interação do oficial de justiça
com as partes envolvidas na lide configura o locus afetivo da tarefa, principalmente
nos juizados especiais, em que esta interação é mais delineada.
Justamente por este motivo, é que a pesquisa desenvolvida mostrou que
a função do oficial de justiça é de suma relevância, em razão de sua aproximação
com as partes, principalmente as menos favorecidas financeiramente, que
constituem a clientela dos juizados especiais.
Por fim, os oficiais de justiça em seu trabalho são responsáveis pelo
cumprimento das diligências que o Juiz lhe mandar executar, como as citações,
intimações, mandado de penhora. Com isso, buscando a efetividade e
satisfatividade dos atos processuais.
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REFERÊNCIAS
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