UNIVERSIDADE PAULISTA
AS REPRESENTAÇÕES MIDIÁTICAS:
UM ESTUDO SOBRE COMO A MÍDIA ABORDA O FATOR
DA SUSTENTABILIDADE NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de mestre em Comunicação.
DANILO SANTIAGO GOMES VALENTIM
SÃO PAULO
2014
UNIVERSIDADE PAULISTA
AS REPRESENTAÇÕES MIDIÁTICAS:
UM ESTUDO SOBRE COMO A MÍDIA ABORDA O FATOR
DA SUSTENTABILIDADE NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de mestre em Comunicação. Orientadora: Profa. Dra. Carla Reis Longhi.
DANILO SANTIAGO GOMES VALENTIM
SÃO PAULO
2014
Valentim, Danilo Santiago Gomes. As Representações midiáticas: um estudo sobre como a mídia aborda o fator da sustentabilidade na sociedade contemporânea / Danilo Santiago Gomes Valentim. - 2014. 103 f.: il. color.
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista, São Paulo, 2014. Área de Concentração: Comunicação e Cultura Midiática. Orientadora: Profª.Drª. Carla Reis Longhi.
1. Mídia impressa. 2. Sustentabilidade. 3. Agenda Setting. 4. Análise de Conteúdo. I. Longhi,Carla (orientadora). II. Título
DANILO SANTIAGO GOMES VALENTIM
AS REPRESENTAÇÕES MIDIÁTICAS:
UM ESTUDO SOBRE COMO A MÍDIA ABORDA O FATOR
DA SUSTENTABILIDADE NA SOCIEDADE
CONTEMPORÂNEA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Paulista – UNIP para a obtenção do título de mestre em Comunicação.
Aprovado em ____________________
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________ Orientadora: Profa. Dra. Carla Reis Longhi
Universidade Paulista – UNIP
_____________________________________________ Profa. Dra. Carla Montuori
Universidade Paulista – UNIP
_____________________________________________ Profa. Dra. Elizabeth Gonçalves
Universidade Metodista de São Paulo
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho aos meus pais Leni Gomes e
Messias Rezende Valentim, pelo apoio e incentivo aos
estudos. Aos meus sobrinhos Sara e Vitor, que
proporcionam alegrias todos os momentos, e à minha
Tia Nice (in memorian).
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço a Deus e a meus pais – pela vida e
oportunidades que me proporcionaram – e à minha família que continua unida com
laços fortes.
À minha orientadora Profa. Dra. Carla Longhi por acreditar em mim e na
minha pesquisa, na realização desse sonho, e que, com muita atenção e sabedoria,
guiou-me pelos caminhos da academia. Em especial aos convidados da banca
examinadora Profa. Dra. Carla Montuori e Profa. Dra. Elizabeth Gonçalves que com
seus apontamentos permitiram melhoria nessa pesquisa. A todos os professores da
Unip que fizeram parte da minha formação, ajudando nos aspectos mais importantes
deste trabalho.
Aos amigos Ícaro Freire Pina, Fabio Vizotto, Jarbas Santos, Camilla La
Femina, Alexandre Fernandes, Roberto Almeida, Vâner Lima, Fábio de Oliveira,
Fábia Gomes, Luciana Fátima, Renata Correa, Fernando Jardim, Luiz Dario dos
Santos, que muito ajudaram nessa empreitada; aos professores e hoje colegas Prof.
Dr. Carlos Gonçalves, por permitir na discência e na docência os caminhos do
Ensino; ao Prof. Dr. Edson Correia, pela costumeira ajuda; ao Prof. Dr. Eric de
Carvalho, que propiciou fomento dos meus conhecimentos; à Profa. Ms. Júlia Lúcia,
que me proporcionou tremenda oportunidade; à Profa. Ms. Ana Lúcia Silva da
Rocha, que abriu as portas e à Marli, que ajudou no primeiro passo. A todos os
amigos do programa de Mestrado.
A todos os funcionários da secretaria da Universidade Paulista.
“Às vezes parecia que era só improvisar
E o mundo então seria um livro aberto
Até chegar o dia em que tentamos ter demais
Vendendo fácil o que não tinha preço”
Dado Villa-Lobos / Renato Russo
RESUMO
A temática Sustentabilidade ocupou um espaço de destaque nas duas últimas
décadas, tanto nas discussões governamentais, quanto econômicas e sociais. O
termo tornou-se conceito e, nos dias atuais, é falado indistintamente por diferentes
públicos, em diferentes conjunturas sociais e adquirindo até significados diversos,
cujo entendimento abrange conflitos e correntes de interesses. Procurou-se
averiguar esse panorama por meio do corpus de estudo deste trabalho, que é a
mídia impressa e o suporte utilizado o jornal Folha de S. Paulo – foi analisado no
período de janeiro a julho de 2012. O referencial teórico para análise de conteúdo foi
Laurence Bardin e Roque Moraes, como apoio. Sendo assim, analisaram-se alguns
dos principais eventos sobre sustentabilidade, tais como: Clube de Roma (1968),
Conferência da ONU (1972), Rio 92 (1992) e Rio+20 (2012); também os documentos
Relatório o Futuro que Queremos (1968), Relatório Nosso Futuro Comum (1972),
Agenda 21 (1992), Agenda 21 Brasileira (1992), Agenda 21 Local – São Paulo
(1992), O Futuro que Queremos (2012). A contribuição deste trabalho consiste em
observar como a mídia abordou o tema Sustentabilidade; especificamente, o caso
da extinção das sacolas plásticas, na cidade de São Paulo, e quais foram os
agentes que tiveram vozes no jornal.
Palavras-chave: Mídia impressa, Sustentabilidade, Agenda Setting, Análise de
Conteúdo.
ABSTRACT
Sustainability theme occupied a prominent space in the last two decades, both in
government discussions, as economic and social. The term has become concept,
nowadays, is spoken interchangeably by different audiences, in different social
settings, getting up, many meanings, which understanding covering conflicts of
interest and current. We sought to investigate this aspect by means of corpus study
of this work, which is the print media and the media used the Folha de S. Paulo
newspaper. It was analyzed in the period from January to July 2012. The theoretical
framework for content analysis was Laurence Bardin and Moraes as support.
Therefore, we analyzed some of the main events on sustainability, such as the Club
of Rome (1968), the UN Conference (1972), Rio 92 (1992) and Rio +20 (2012); Also
the documents The Future We Want Report (1968), Our Common Future Report
(1972), Agenda 21 (1992), Brazilian Agenda 21 (1992), Local Agenda 21 - Sao Paulo
(1992), The Future We Want (2012). The contribution of this work is to observe how
the media addressed the theme Sustainability; Specifically, the case of the extinction
of plastic bags in the city of São Paulo, and what the agents who had voices in the
newspaper were.
Keywords: Print media, Sustainability, Agenda Setting, Content Analysis.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Imagem da capa do documento Limites do Crescimento ......................... 17
Figura 2 – Primeira conferência da ONU em Estocolmo na Suécia. ......................... 18
Figura 3 – Imagem da capa do Relatório Nosso Futuro Comum .............................. 19
Figura 4 – Logotipo da Rio 92. .................................................................................. 20
Figura 5 – Imagem da Capa da Agenda 21 Global. .................................................. 21
Figura 6 – Logotipo da Agenda 21 Brasileira ............................................................ 24
Figura 7 – Capa da Agenda 21 local da cidade de São Paulo .................................. 26
Figura 8 – Logotipo da Conferência Rio+20 .............................................................. 29
Figura 9 – Mídia Dados, 2013 ................................................................................... 38
Figura 10 – Mídia Dados, 2013. ................................................................................ 39
Figura 11 – Mídia Dados, 2013. ................................................................................ 40
Figura 12 – Gráfico das matérias sobre o Meio Ambiente sem subtemas ................ 44
Figura 13 – Intervalos de tempo do Agenda Setting ................................................. 51
Figura 14 – Intervalos de tempo das matéria sobre a “Rio+20” ................................ 51
Figura 15 – Agenda de Mídia e Agenda o Público .................................................... 52
Figura 16 – Agenda de Mídia e Agenda o Público .................................................... 53
Figura 17 – Matéria Folha de S. Paulo – 03/06/2012 ................................................ 54
Figura 18 – Matéria Folha de S. Paulo – 17/01/2012 ................................................ 61
Figura 19 – Matéria Folha de S. Paulo – 19/01/2012 ................................................ 62
Figura 20 – Matéria Folha de S. Paulo – 20/01/2012 ................................................ 64
Figura 21 – Matéria Folha de S. Paulo – 22/01/2012 ................................................ 65
Figura 22 – Matéria Folha de S. Paulo – 23/01/2012 ................................................ 67
Figura 23 – Matéria Folha de S. Paulo – 25/01/2012 ................................................ 68
Figura 24 – Matéria Folha de S. Paulo – 25/01/2012 ................................................ 69
Figura 25 – Matéria Folha de S. Paulo – 26/01/2012 ................................................ 71
Figura 26 – Matéria Folha de S. Paulo – 31/01/2012 ................................................ 73
Figura 27 – Matéria Folha de S. Paulo – 02/02/2012 ................................................ 75
Figura 28 – Matéria Folha de S. Paulo– 04/02/2012 ................................................. 76
Figura 29 – Matéria Folha de S. Paulo – 05/02/2012 ................................................ 77
Figura 30 – Matéria Folha de S. Paulo – 09/03/2012 ................................................ 79
Figura 31 – Matéria Folha de S. Paulo – 15/03/2012 ................................................ 80
Figura 32 – Denúncia feita pelo Idecom – 28/03/2012 .............................................. 81
Figura 33 – Matéria Folha de S. Paulo – 05/04/2012 ................................................ 83
Figura 34 – Matéria Folha de S. Paulo– 22/05/2012 ................................................. 84
Figura 35 – Matéria Folha de S. Paulo– 26/06/2012 ................................................. 86
Figura 36 – Aparições das categorias ....................................................................... 91
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Descrição comparativa do fator meio ambiente entre as décadas de 1970
e 1990 ....................................................................................................................... 16
Tabela 2 – Objetivos propostos pela Agenda 21 ....................................................... 28
Tabela 3 – Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil de 1980 a 2012. ............. 32
Tabela 4 – Tabela geral das matérias sobre o Meio Ambiente sem subtemas ......... 44
Tabela 5 – Matérias sobre a Rio+20 ......................................................................... 49
Tabela 6 – Categorias e Subcategorias .................................................................... 60
Tabela 7 – Quantidade de aparições das categorias ................................................ 91
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 12
1 OS ANTECEDENTES DO CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE ..................... 14
1.1 Sustentabilidade ......................................................................................... 14
1.2 Agenda 21 Brasileira ................................................................................... 24
1.3 Agenda 21 Local ......................................................................................... 26
1.4 A globalização e as influências na sustentabilidade ................................... 32
2 ESTRATÉGIAS MIDIÁTICAS NO ÂMBITO DA MÍDIA IMPRESSA .................... 38
2.1 Jornal no Brasil ........................................................................................... 38
2.2 Folha de S. Paulo........................................................................................ 42
2.3 Metodologia ................................................................................................ 43
3 ANÁLISE DE CONTEÚDO DO CASO REFERENTE ÀS SACOLAS PLÁSTICAS
NA FOLHA DE SÃO PAULO .................................................................................... 56
3.1 Análise de Conteúdo ................................................................................... 56
CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 89
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 93
ANEXOS ................................................................................................................... 96
ANEXO 1 – Projeto de Lei PL 612 ......................................................................... 96
ANEXO 2 – Termo de Ajustamento de Conduta .................................................... 99
12
INTRODUÇÃO
A mídia pode ser considerada um instrumento de formadores de opinião,
nesse caso, responsável pela construção, emissão e pauta das mensagens e temas
discutidos pela sociedade. O papel dos meios de comunicação é pesquisado e
amplamente debatido em diversos estudos que buscam analisar a influência da
comunicação nos grupos sociais. A mídia busca mostrar para as pessoas os
acontecimentos e dimensionar as informações. Portanto, tem-se o uso dos recursos
midiáticos através dos meios de comunicação diariamente no controle das
informações que são divulgadas; e, na contemporaneidade, a sociedade aceita a
mídia como intercessor da realidade. É a mídia que valoriza e distribui as
informações para a sociedade. Este trabalho discute como o tema sustentabilidade é
representado pelos meios de comunicação de diversas maneiras. Neste caso, é
importante compreender como o jornal aborda o tema na sociedade contemporânea.
Segundo o filósofo brasileiro Leonardo Boff (2012), “sustentabilidade é a ação que
procura devolver o equilibro à Terra e aos ecossistemas para que a casa comum
possa continuar habitável e para que possamos salvar a vida humana e nossa
civilização”. Neste tocante, o autor procura, em certo aspecto, explicar em sua obra
o que é e o que não é o termo sustentabilidade, em termos filosóficos:
O conjunto de processos e ações que se destinam a manter a vitalidade e a integridade da Mãe Terra, a preservação de seus ecossistemas como todos os elementos físicos, químicos e ecológicos que possibilitam a existência e a reprodução da vida, o atendimento das necessidades da presente e das futuras gerações, e a continuidade, a expansão e realização das potencialidades da civilização em suas várias expressões. (BOFF, 2012, p.14)
Na realidade, para ele, sustentabilidade significa pensar no presente e no
futuro, sendo que é necessário o equilíbrio entre a economia, o social e o meio
ambiente, de forma a se obter esse objetivo, de fato. Portanto, a sustentabilidade
que será analisada neste trabalho é a sustentabilidade ambiental.
A gravidade da escassez dos recursos naturais é de extrema importância
para a sobrevivência humana, dando ênfase ao desenvolvimento sustentável do
planeta. Portanto, percebe-se uma série de movimentos que propõem discutir um
conjunto de metas para equilibrar o crescimento econômico com a preservação
13
ambiental e com a redução da pobreza, ou seja, minimizar a exclusão social. Daí a
importância da comunicação de massa na propagação desse assunto.
Como corpus de estudo, selecionou-se a mídia impressa e o suporte para
análise, o jornal Folha de S. Paulo. A escolha deste deu-se pela forma hegemônica
que esse tipo de mídia apresenta, e por ser um jornal consolidado e que tem a
segundo maior tiragem nacional, de acordo com o Índice de Veiculação e Circulação
– IVC, 2014.
Isso instigou a pesquisa para saber: Como o jornal articula essas matérias?
Quais foram as vozes que tiveram mais espaço? Em quais cadernos? Qual foi o
discurso do jornal? Essas foram algumas das questões que motivaram esta
pesquisa e deram origem ao estudo desse assunto. Assim, estabeleceu-se o
objetivo deste trabalho, que é analisar como a mídia impressa abordou o tema
sustentabilidade.
Para responder as perguntas acima, a dissertação foi dividida em três
capítulos.
O capítulo 1 – Os Antecedentes do conceito de sustentabilidade – possui um
cunho mais conceitual; traçou-se um percurso histórico sobre os principais eventos
que discutiram questões ambientais, e como se deu o conceito de sustentabilidade.
No Capítulo 2 – A sustentabilidade e a mídia impressa –, foram exploradas as
hipóteses do Agenda Setting e da Espiral do Silêncio, para compreensão do objeto
deste estudo, dando enfoque para a conferência Rio+20, na Folha de S. Paulo
Finalmente, no Capítulo 3 – O caso da extinção das sacolas plásticas no
Estado de São Paulo ganha ênfase –, estuda-se o caso no jornal Folha de S. Paulo,
por meio de análise dos conteúdos das matérias, devidamente separadas em
categorias distintas, para a identificação do que prevaleceria.
14
1 OS ANTECEDENTES DO CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE
1.1 Sustentabilidade
Pode-se dizer que a preocupação com o meio ambiente é tão antiga quanto o
período de existência do ser humano no planeta Terra, datando desde o início do
surgimento das cidades, com o crescimento da população, o qual teria ocasionado
os primeiros impactos ambientais diagnosticáveis.
Com o avanço do desenvolvimento tecnológico, a partir das primeiras
descobertas científicas e suas inevitáveis aplicações no campo da indústria, surge
uma serie de invenções, inovações e aparatos que impulsionam na transformação
do mundo da natureza.
De acordo com Sevcenko (2012), considerando-se desde o período de origem
da espécie humana até os dias atuais, é possível se verificar que 80% dessas
descobertas aconteceram nos últimos 100 anos.
De fato, não seria possível discutir o tema Sustentabilidade antes dessa
época, pois quanto maior é o desenvolvimento industrial, consequentemente, tanto
maiores são os impactos e danos causados ao meio ambiente.
Sevcenko (2012, p.15) aponta como aspecto importante no crescimento
vertiginoso desse impacto o processo de desenvolvimento tecnológico, no qual
diversos estudos e pesquisas contribuíram para a exploração e desenvolvimento
durante o processo de produção em alta escala. Sendo que este processo teria
ocorrido a partir de 1870, com a Revolução Científico-Tecnológica, quando houve o
desenvolvimento da eletricidade, o surgimento dos motores de combustão e,
consequentemente – mais tarde –, o aparecimento dos primeiros automóveis e
motocicletas, além da invenção dos produtos de plástico e de outros derivados de
petróleo. Esse ciclo teria se completado com a criação das usinas siderúrgicas e as
indústrias químicas, o que teria repercutido no desenvolvimento de máquinas
operacionais, no avanço dos meios de transporte e de comunicação, transformando
assim, definitivamente, todos os recursos de produção industrial moderna.
15
Posteriormente a esse período, observa-se uma crescente evolução nos
meios tecnológicos de produção, principalmente após a Segunda Guerra Mundial,
quando, nesse momento, são desenvolvidos outros aparatos tecnológicos, tais como
os radares e os novos produtos fabricados a partir do plástico.
Após a segunda guerra mundial, os Estados Unidos decidem articular um
plano para apoiar outras economias da Europa, África, Ásia e América Latina, na
tentativa de recuperação de suas economias, buscando consolidar seu papel de
liderança econômica no cenário mundial, por meio da internacionalização do dólar
americano como moeda comum para a realização de negócios e transações em
comum – o que permitiu, consequentemente, a estabilização dos mercados e a
minimização de crises econômicas graves.
Todo esse engajamento resultou em um crescimento econômico e industrial,
que cresceu 6% ao ano, no período de 1953 e 1975 (SEVCENKO, 2012). Desse
modo, tais acontecimentos promoveram uma cadeia de mudanças tecnológicas com
grande impacto no processo de produção, o que originou crescimento econômico,
bem como desenvolvimento acelerado e desordenado das organizações em busca
de altos lucros, as quais, para atingir metas arrojadas, teriam passado a aproveitar-
se, de forma demasiada, do uso excessivo de energia e de recursos naturais tidos
como inesgotáveis, não se prevendo as consequências futuras que esse uso
exagerado dos recursos poderia acarretar às gerações posteriores.
Esse novo cenário de produção de massa, aceleração do crescimento
econômico e abuso dos recursos naturais é que teria começado a trazer diversos
problemas ambientais – os quais se tornaram cada vez mais visíveis. O que teria
impulsionado crescente preocupação com a questão da sobrevivência da espécie
humana e, um desejo amplo de se estabelecer critérios para a visão de um
desenvolvimento sustentável do planeta, considerando-se o meio ambiente como
chave essencial desse princípio de equilíbrio necessário.
Conforme exposto por meio do quadro a seguir, percebe-se que a abordagem
do meio ambiente passa a ter uma grande mudança de enfoque, principalmente a
partir dos anos 70, quando se iniciam questões específicas relacionadas a
preocupações ambientais, tendo em vista os primeiros problemas locais
decorrentes, em que as empresas figuravam como elemento principal dessa
16
questão. Verifica-se também que, até então, o desejo em relação ao crescimento era
zero, pois o foco empresarial tinha viés negativo em relação ao meio ambiente.
Já a partir de 1990, as questões passam a não ser mais pensadas, de forma
peculiar, uma vez que estas são, então, inseridas dentro do contexto das questões
ambientais, econômicas e sociais. O foco geográfico passa a ser global, pois as
empresas são vistas, a partir desse momento, como parcerias para buscar soluções
em relação ao crescimento sustentável, em que se torna necessária a inter-relação
entre empresas, sociedade e meio ambiente.
Tabela 1 – Descrição comparativa do fator meio ambiente entre as décadas de 1970 e 1990
Fonte: Peattie e Charter (2005 p.519 apud Dias, 2009 p. 12).
É possível perceber que acontece uma grande mudança de enfoque entre as
décadas de 1970 e 1990, conforme salientado. Dessa forma, nas duas últimas
décadas, a preocupação com o meio ambiente ocupa espaço de destaque, tanto nas
discussões governamentais, quanto econômicas e sociais.
A seguir, são apresentados, nesta dissertação, alguns dos principais
encontros de cúpula mundial, nos quais se reuniram governos, empresários,
pesquisadores entre outros, para discutir os danos que o meio ambiente tem sofrido
recentemente.
17
No caso desta dissertação, foram selecionados quatro encontros de
relevância: o Clube de Roma e mais três Conferências das Nações Unidas sobre o
meio ambiente e o desenvolvimento. Neste caso, foi escolhida, a princípio: a
primeira reunião de 1972, realizada em Estocolmo, na Suécia; a segunda, realizada
em 1992 no Rio de Janeiro e; a terceira de 2012, também no Rio de janeiro.
Figura 1 – Imagem da capa do documento Limites do Crescimento
Fonte: Relatório Limites do Crescimento
Um encontro bastante relevante, realizado na Itália, na cidade de Roma, na
Academia dei Lincei, com o intuito de discutir questões ambientais recebeu o nome
de “Clube de Roma” e foi fundado em abril de 1968. Era composto por várias
personalidades de cunho mundial, formado por “cientistas, educadores,
economistas, humanistas, industriais e funcionários públicos de nível nacional ou
internacional” (CLUBE DE ROMA, 1976), os quais se uniram para tratar assuntos
relacionados ao meio ambiente, política internacional e economia, sendo que deste
encontro formularam um relatório chamado “limites do crescimento”, conforme
assinalado a partir da imagem do documento acima, sendo que este relatório previa
um desastre ambiental nos próximos 100 anos, afirmando o seguinte:
Se as atuais tendências de crescimento da população mundial – industrialização, poluição, produção e uso dos recursos naturais – continuarem, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. (CLUBE DE ROMA, 1976).
18
Desse modo, fazia-se uma alerta urgente em relação à capacidade industrial,
à intenção de crescimento da população e à falência dos recursos naturais no
planeta em escala global.
Figura 2 – Primeira conferência da ONU em Estocolmo na Suécia.
Fonte: <www.revistabrasil.gov.br>Acesso em: 01/07/2013.
A Conferência da Organização das Nações Unidas – ONU –, acerca do meio
ambiente, realizada na cidade de Estocolmo, na Suécia, em 1972, foi o primeiro
encontro em âmbito mundial, que reuniu representantes de 27 países para tratar de
assuntos ambientais globais.
Conforme a declaração da ONU, durante a Conferência de 1972, proclamou-
se o primeiro princípio essencial na relação homem e meio ambiente:
O homem é ao mesmo tempo obra e construtor do meio ambiente que o cerca, o qual lhe dá sustento material e lhe oferece oportunidade para desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. Em larga e tortuosa evolução da raça humana neste planeta chegou-se a uma etapa em que, graças à rápida aceleração da ciência e da tecnologia, o homem adquiriu o poder de transformar, de inúmeras maneiras e em uma escala sem precedentes, tudo que o cerca. Os dois aspectos do meio ambiente humano, o natural e o artificial, são essenciais para o bem-estar do homem e para o gozo dos direitos humanos fundamentais, inclusive o direito à vida mesma.
Esse primeiro encontro organizado pela ONU, na Suécia, chamou a atenção
para a capacidade do homem de prosperar pelo constante incremento de benefícios
proporcionados à população, a partir do desenvolvimento tecnológico e econômico e
19
da capacidade de buscar maiores resultados satisfatórios, ao explorar a natureza
com o uso da tecnologia para intensificar o processo de produção industrial, para se
obter lucros assombrosos.
No entanto, percebeu-se que esta busca desenfreada de acúmulo de riqueza
e conforto material, sem cuidado ou critério, pode comprometer os recursos naturais
do planeta, sendo, portanto, a obrigação do homem a sua sensatez de preservar a
natureza, como afirma o Relatório da Conferência da ONU em 1972 “O Homem tem
a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente o patrimônio”.
Sendo assim, o homem é também responsável pelo uso dos recursos naturais e da
preservação deles.
Os problemas de maior destaque apresentados foram questões específicas
de preocupação ambiental, como a poluição nos grandes centros, conforme, mostra
o quadro acima, sendo a noção de sustentabilidade considerada a fonte de suporte
intelectual, cabendo à empresa a responsável pela preservação e/ou degradação
ambiental. Nesse sentido, havia um princípio de ênfase no meio ambiente,
pensando-se o aspecto ambiental, tal como se observou no quadro citado
anteriormente, referente à visão geral dos anos 70.
Figura 3 – Imagem da capa do Relatório Nosso Futuro Comum
Fonte: Relatório Nosso Futuro Comum
Após 10 anos da Conferência de Estocolmo, realizada no ano de 1983, a
Organização das Nações Unidas, criou a Comissão Mundial sobre o meio ambiente,
visando estudar e observar o assunto, sendo indicada pela ONU a então primeira
20
ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, para presidir e chefiar esta mesma
comissão. Em 1987, tal comissão elaborou o famoso “Relatório de Brundtland”, o
qual se tornou também conhecido como “Nosso Futuro Comum”, que tinha como
objetivo discutir assuntos ambientais e determinar ações positivas de diversos
âmbitos. Para isso, propôs-se o termo “Desenvolvimento Sustentável”, que, de
acordo com o Relatório de Brundtland (1987), significava “aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras
atenderem às suas necessidades”, garantindo assim a qualidade de vida da atual
bem como das futuras gerações.
É, portanto, a partir desse período que a visão de “Desenvolvimento
Sustentável” ganha maior relevância. Ao criar esse termo, os conferencistas
propuseram, em sua base conceitual, os chamados “três pilares do Desenvolvimento
Sustentável”: os fundamentos econômicos, sociais e ambientais, sendo que a ênfase
principal, segundo eles, deveria se concentrar nos sistemas sociais e econômicos,
considerando-se questões ambientais de âmbito global, como o buraco na camada
de ozônio e a poluição do ar, relacionando-se, consequentemente, o “crescimento
sustentável” ao desenvolvimento econômico. Logo no primeiro documento citado
neste trabalho, apresenta-se a seguinte afirmação: “a proteção e o melhoramento do
meio ambiente é uma questão fundamental que afeta o bem-estar dos povos e o
desenvolvimento econômico do mundo inteiro” (CONFERÊNCIA DAS NAÇÕES
UNIDAS, 1972, p.1). A partir desse momento, as autoridades passam a dirigir o seu
pensamento substancialmente para qualidade de vida dos povos, no uso dos
recursos naturais, bem como no desenvolvimento econômico, conforme observado
no quadro citado anteriormente.
Figura 4 – Logotipo da Rio 92.
Fonte: Revistabrasil.gov.br
21
Em 1992, no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, precisamente entre os dias
03 e 14 de junho, ocorreu a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
e Desenvolvimento (CNUMAD), com a participação de mais de 170 países, em que
houve uma mudança de perspectiva da relevância das questões ambientais,
definindo-se um novo panorama mundial de preocupações crescentes, tendo em
vista se equilibrar o acelerado crescimento da economia com a preservação do meio
ambiente.
Tal conferência notabilizou-se como “ECO 92” e “Rio 92” e serviu para alertar
a humanidade, dentro de uma dimensão global, em relação às ameaças ambientais
catastróficas, buscando-se a necessidade de união entre os países e suas principais
lideranças, para pensarem conjuntamente na proteção necessária ao meio
ambiente, em termos mais práticos. Acresce-se que foi somente após esta
conferência que houve a popularização do termo “Desenvolvimento Sustentável”, o
qual adquiriu então destaque mundial.
A partir desse contexto, surgiram vários documentos fundamentais como a
Agenda 21 – considerada como a Declaração do Rio sobre Ambiente e
Desenvolvimento; a Convenção da Biodiversidade; e a Carta da Terra. Dentro deste
trabalho, enfatizar-se-á, sobretudo, o documento Agenda 21, dada a relevância que
a ONU atribuiu a ele.
Figura 5 – Imagem da Capa da Agenda 21 Global.
Fonte: Documento Agenda 21 Global
22
A Agenda 21 contém 40 capítulos que tratam de questões sociais,
econômicas e ambientais, combate à pobreza, padrão de consumo, saúde humana,
educação ambiental, combate ao desflorestamento, fortalecimento do papel do
comércio e da indústria, recursos e mecanismos de financiamento. Esse documento
estabelece uma possibilidade de esforços integrados, em âmbito mundial, visando
tratar de temas que favoreçam o desenvolvimento sustentável, a justiça social e a
economia mundial. Todavia, a Agenda 21 estabelece que cada país tem de possuir
uma Agenda Nacional e que cada cidade ou município precisa ter uma Agenda
Local. Nesta pesquisa foram estudados os seguintes documentos: a Agenda 21
Global, a Agenda 21 brasileira e a Agenda Local da cidade de São Paulo, ambas as
quais serão explicadas, em separado, a seguir.
“A Agenda 21 é, ao mesmo tempo, mapa e roteiro para construção de uma
sociedade sustentável” (AGENDA 21, p. 11). Esse pensamento expõe, portanto,
uma concepção diferente, pois prevê que, além das questões ecológicas, outros
desafios devem ser igualmente enfrentados, tais como: a pobreza e os direitos
humanos.
No preâmbulo do primeiro capítulo do documento Agenda 21, afirma-se que,
para alcançar os objetivos da Agenda 21, é necessário principalmente: “um fluxo de
recursos financeiros novos e adicionais para os países em desenvolvimento,
destinados a cobrir custos incrementais necessários às ações que estes países
deverão empreender” (AGENDA 21), ou seja, prontamente, no início deste
documento, aparecem questões econômicas que reforçam a cooperação entre as
nações para se alcançar o chamado Desenvolvimento Sustentável, pois “tanto as
políticas econômicas dos países individuais como as relações econômicas
internacionais têm grande relevância para o desenvolvimento sustentável. A
reativação e aceleração do desenvolvimento exigem um ambiente econômico e
internacional.” (AGENDA 21, p. 13)
Nesse sentido, ressalta-se que é necessária uma parceria mundial que
preveja empenho de todos envolvidos: governos e organizações dos setores
públicos e privados, de modo a enfrentarem juntos os desafios ambientais para se
fortalecerem, conforme as recomendações feitas por intermédio da Agenda 21
(idem, p.13), pois há, decisivamente, a “necessidade de atingir uma economia em
23
nível mundial mais eficiente e equitativa, sem perder de vista a interdependência
crescente da comunidade das nações”. Considera-se, então, de grande relevância o
fortalecimento dos governos para se atingir tal objetivo, conforme os termos
idealizados pelo acordo da Agenda 21.
Percebe-se que as relações econômicas, políticas e sociais entre os países
possuem grande importância mediante a forma com que são tratados durante a
exposição dessa conferência, pois se observa que:
A reativação e a aceleração do desenvolvimento exigem um ambiente econômico e internacional e ao mesmo tempo dinâmico e propício, juntamente com políticas firmes. Ausência de qualquer dessas exigências determinará o fracasso. (AGENDA 21, p. 13)
Sendo assim, o fortalecimento da economia bem como o artifício da política é
imprescindível para o alcance do Desenvolvimento Sustentável, segundo o que
também se atesta a partir do mesmo documento (idem):
A Cooperação internacional nessa área deve ser concebida para complementar e apoiar políticas econômicas internas saudáveis para que possa haver um avanço mundial no sentido do desenvolvimento sustentável.
A princípio, não se pode negar que as variáveis da economia e da política
estejam enraizadas dentro da visão do processo de Desenvolvimento Sustentável,
pois, de acordo com o documento Agenda 21, essa tríade indissociável – política,
economia e desenvolvimento sustentável – precisa estar intimamente inter-
relacionada, para que exista melhoria global nas atitudes e, assim, se garantir para
que se possa proteger o meio ambiente, para o sucesso de implantação do
Desenvolvimento Sustentável. Desse modo, os esforços econômicos e políticos
devem ser inseridos como objetivos principais correlatos para a sustentabilidade.
É necessário que fique claro que um dos objetivos deste trabalho é
justamente trazer à tona as perspectivas de alguns documentos como citado
anteriormente, e traremos a seguir apontamentos da Agenda 21 e a forma com que
isso sucedeu na prática de incorporação cotidiana.
O documento – cuja imagem está apresentada a seguir – foi criado
originalmente nos moldes globais, e prevê a implantação da Agenda 21 nacional,
24
que deve ser implantada em cada país e Agenda 21 local, que deve ser implantada
em cada cidade ou locais que precisam promover a sustentabilidade ambiental e a
economia, para preservar-se a qualidade de vida das futuras gerações.
Figura 6 – Logotipo da Agenda 21 Brasileira
Fonte: Agenda 21 Brasileira
1.2 Agenda 21 Brasileira
Os países que participaram da conferência das Nações Unidas durante a
chamada “Rio 92” assumiram um pacto de inserir nas políticas públicas diversos
compromissos com o desenvolvimento sustentável e, tendo como base a Agenda 21
Global, foi elaborada a Agenda 21 nacional do Brasil – denominada de Agenda 21
Brasileira. Conforme informações institucionais coletadas do Ministério do Meio
Ambiente, afirma que o documento agenda brasileira é sem dúvida:
[...] um processo e instrumento de planejamento participativo para o desenvolvimento sustentável e que tem como eixo central a sustentabilidade, compatibilizando conservação ambiental, a justiça social e o crescimento econômico.
Na Agenda 21 Brasileira percebe-se claramente o alinhamento com a Agenda
21 Global, especialmente no que diz respeito aos quesitos econômicos e políticos,
tais como: “adequar as propostas de políticas públicas de acordo aos novos arranjos
políticos, econômicos e sociais e ambientais do país”.
O documento Agenda 21 Brasileira defende, dessa maneira, o conceito
fundamental de sustentabilidade, apoiando o fomento da participação de diversos
grupos que devem estar comprometidos com um pacto firmado de mútua
25
cooperação, uma vez que “tantos em termos de mobilização dos grupos sociais
serão afetados pelas políticas de desenvolvimento sustentável” (idem).
Percebe-se que diversas ações práticas estão previstas para afetar grupos
sociais organizados. Todavia, para que o Brasil haja de modo competente nessa
agenda nacional, é necessário arrojar-se no campo da educação ambiental, pois as
empresas precisam comprometer-se em relação às questões sociais e ambientais,
havendo maior participação da sociedade, e o governo também tem de ajudar no
sentido de minimizar a desigualdade social, empregando recursos financeiros
adequados para viabilizar projetos voltados ao desenvolvimento sustentável.
É bom lembrar que a elaboração da Agenda 21 Brasileira demorou seis anos
para ser concluída, considerando-se que “esse processo, que se deu de 1996 a
2002, foi coordenado pela Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável,
teve o envolvimento de cerca de 40 mil pessoas de todo o Brasil” (MINISTÉRIO DO
MEIO AMBIENTE, 2013).
De acordo com o documento, a “elaboração da Agenda 21 Brasileira é a mais
ampla experiência de planejamento participativo desenvolvido no país, posterior à
Constituição Federal der 1988”. A Agenda 21 destaca a importância no que diz
respeito à “alocação de recursos escassos, que podem ter usos alternativos, em
diferentes programas e projetos, assim como a distribuição de seus custos e
benefícios entre diversas pessoas e grupos sociais são decisões de natureza
eminentemente política” (AGENDA 21 BRASILEIRA, p.86). Pretende-se que esses
grupos sejam estimulados a compartilhar ações impostas ou aconselhadas pelo
governo e empresas, os quais determinarão tais ações para que os grupos sociais
possam contribuir efetivamente em relação ao meio ambiente, pois logo, estes
grupos – que agem em diversas instâncias – poderão vislumbrar claramente as
consequências das ações políticas desencadeadas com base no desenvolvimento
sustentável.
Ainda, de acordo com a Agenda 21 Brasileira (p.113):
As instituições públicas e as privadas das áreas mais desenvolvidas de um país pretendem, pela manipulação de sua força de decisão pelo poder político central, definir a forma, a intensidade e a cronologia do uso dos recursos naturais e dos recursos energéticos das áreas menos desenvolvidas, particularmente daquelas localizadas na fronteira externa da
26
economia nacional, desconhecendo os interesses dos de sua força e locais quanto ao seu próprio desenvolvimento.
No entanto, ressalta-se que nesse documento não se previa ações do
Governo Federal, tendo em vista que esta é uma agenda de princípios, não ficando
claras as ações específicas em forma de lei.
1.3 Agenda 21 Local
Conforme explicado anteriormente, cada país, cada cidade ou município,
deveria elaborar a sua Agenda Local. Neste trabalho explanar-se-á sobre a Agenda
21 da cidade de São Paulo, pelo viés que a pesquisa está enfatizando.
Figura 7 – Capa da Agenda 21 local da cidade de São Paulo
Fonte: Agenda 21 local – São Paulo
Após a conferência “Rio 92”, a cidade de São Paulo – em concordância com
as metas da Agenda 21 Global – gerou o documento Agenda Local, durante o ano
de 1996, sendo que, graças à Prefeitura da Cidade, foi possível desenvolver-se
esforços e contribuições em conjunto com a sociedade civil local.
Esta ação teve como objetivo fomentar o poder do município de São Paulo
nas decisões sociais, econômicas e ambientais voltadas aos interesses da região,
tendo em vista certos preceitos básicos da agenda local, voltados a “instrumentalizar
o poder municipal no sentido de combinar desenvolvimento econômico, proteção ao
meio ambiente e justiça social” (AGENDA 21 LOCAL SP, 2014). A Agenda Local da
cidade de São Paulo enfocava essencialmente os seguintes eixos básicos:
Desenvolvimento Urbano
Desenvolvimento Social
27
Qualidade Ambiental
Estrutura Econômica e administrativa
Como a cidade de São Paulo cresceu de forma desordenada, sofrendo muito
em detrimento disso, com diversas enchentes, por exemplo, por conta de
saneamento ambiental deplorável, sem deixar de mencionar o trânsito urbano
caótico, fruto de transporte público ineficiente, aliado à facilidade no crédito para
compra de automóveis de uso individual, tudo isso acabou por comprometer ainda
mais o meio ambiente e a qualidade de vida dos paulistanos. Cita-se, também, a
especulação imobiliária, que proporcionou desenvolvimento da cidade e muito
desmatamento, conforme Agenda 21 local São Paulo, 2012: “Mecanismos de
especulação imobiliária e à deterioração gradual das condições sociais, conduziram
o município a um quadro de degradação ambienta que se caracteriza hoje pela
carência de áreas verdes e poluição”. Sendo assim, percebe-se um abuso no uso
dos recursos da cidade – que acabaram por ocasionar diversos problemas
ambientais. Segundo informações institucionais da Prefeitura de São Paulo (2014).
Dentre os problemas que comprometem de forma mais contundente a qualidade de vida urbana, estão as áreas verdes [...] encostas de mananciais [...] condições precárias de esgotamento sanitário [...] poluição do ar e da água, assim como a sonora.
A Agenda 21 local tem como objetivo juntar esforços do município para
fomentar as ações econômicas, sociais e ambientais. A Agenda 21 local “é um
processo de desenvolvimento sustentável e de construção de parcerias entre
autoridades locais, e outros setores, para implementá-las, sendo parte crucial do
movimento em direção à sustentabilidade”, portanto, o envolvimento de diversos
setores são necessários, assim como a sociedade “é um processo de construção
conjunta entre cidadãos e autoridades locais”, logo, poder público, setor privado e
população precisam aderir a ações para melhoria continua na cidade em diversos
setores como transporte, educação e qualidade de vida. (AGENDA 21 LOCAL SP).
Uma das ações apontadas na Agenda 21, especificamente os resíduos
sólidos, que trata a coleta de resíduos sólidos na Cidade de São Paulo, sobre os
resíduos produzidos pelas residências, como explanado no documento Agenda 21
Local São Paulo (p. 93), “No que tange aos resíduos domiciliares, a coleta é da
28
ordem de aproximadamente 10.000 t/dia. 60% correspondem a matéria orgânica;
14% papel/papelão; 11,5% plástico duro/filme; 5% vidro e metais; e 4,5% outros”.
Ainda de acordo com o documento, “a problemática dos resíduos sólidos em São
Paulo está, em parte, no processo de crescimento desordenado – de forma
inconsequente e irregular –, danosa e aleatória ocupação do solo, resultando em
escassez de área adequadas”, ou seja, não existem locais próprios para tratamento
dos resíduos e capacidade para atender a demanda da cidade de forma adequada.
O consumo de produtos descartáveis, feitos de plástico, papel e vidro aumentou
muito, o que aumenta tal circunstância. O documento cita a Coleta Seletiva como
uma ação de melhoria, porém, esta ação corresponde a 0,03% do total gerado,
porcentagem baixa para o total de 10.000 toneladas ao dia, conforme descrito
anteriormente. Outra proposta que consta no documento é o centro de coleta
seletiva em vários locais da cidade, e espera-se, com essa ação, aumentar a
porcentagem de material reciclado.
Dentre os objetivos propostos por essa Agenda, no item “Qualidade
Ambiental”, a diminuição da produção de resíduos se faz necessária para abranger a
população, órgãos públicos e órgãos privados, e são colocados como importantes
para essa exigência, como aponta o quadro a seguir:
Tabela 2 – Objetivos propostos pela Agenda 21
Fonte: Adaptado da Agenda 21 local – São Paulo
Diante de todos os fatos expostos, se faz, indubitavelmente, necessária uma
aliança do primeiro setor com empresas privadas e o terceiro setor, pois estes
precisam se unir e desenvolver ações, bem como procedimentos para preservação
ambiental da cidade, visando melhoria contínua na qualidade de vida dos
paulistanos, sendo também demandado o comprometimento da população com
vistas às medidas práticas destas ações emergenciais.
29
Conforme se observa na Agenda Local da cidade de São Paulo, é vital
“estimular o desenvolvimento científico e tecnológico em relação à sustentabilidade
tanto nos recursos hídricos como em todos os componentes da natureza” (AGENDA
LOCAL, p. 89). Em certa medida, no documento local, não existe um roteiro
previamente a ser seguido, mas, sim, diversas sugestões de melhoria para a cidade
e o cidadão, sendo que tais ações podem ser promovidas pelas autoridades locais e
seus parceiros. As ações locais, como em bairros e condomínios, podem ser
integradas, também, com as ações do município.
Todavia, não existe a leitura desse documento circunstancialmente na
íntegra, pois o que é possível de se verificar, em termos práticos, no campo das
alianças e parcerias, é mais uma carta de intenções, a qual se organiza e propõe
princípios básicos, no entanto, não se realiza como uma proposta efetiva, em todos
os níveis em termos de leis vinculadas a ações, pois estas são meramente descritas
e tratadas como orientações a serem observadas.
Figura 8 – Logotipo da Conferência Rio+20
Fonte: ONU
Em 2012, no Rio de Janeiro, ocorreu a recentemente a Conferência das
Nações Unidas, chamada de Rio+20, ou seja, 40 anos após a conferência na Suécia
e, 20 anos após a Cúpula da Terra, realizada por meio da “Rio 92”, na qual foi
adotado o documento Agenda 21, como já citado. Nesta nova empreitada, a
Organização das Nações Unidas reuniu Instituições e Governos de cunho
internacional, com o objetivo de retomar as questões das conferências anteriores:
“Estocolmo 1972”, “Rio de Janeiro 1992” e “Johanesburgo 2002”, tendo em vista a
necessidade de se discutir as metas relevantes para equilibrar o crescimento
30
econômico em conjunto com a preservação ambiental aliada à redução da pobreza
com minimização da exclusão social, reafirmando, grosso modo, o compromisso
com o desenvolvimento sustentável. De acordo com o Jornal Folha de São Paulo, a
Conferência Rio+20 foi vista na época como “o maior evento realizado pela
Organização das Nações Unidas – ONU” até então.
As principais discussões dessa conferência foram focadas em dois temas
oficiais, o primeiro deles foi acerca da “Economia Verde”, mais focada nas
entrelinhas do desenvolvimento sustentável e o segundo, a respeito dos esforços
necessários de minimização da pobreza, apresentando-se uma avaliação concreta
do que havia sido feito nos últimos anos, desde a realização dos encontros de
cúpula:
Como construir uma economia verde para alcançar o desenvolvimento sustentável e retirar as pessoas da pobreza, incluindo o apoio aos países em desenvolvimento, que nos permitirá seguir o caminho verde para o desenvolvimento. (ONU 2012)
Segundo Ban Ki-moon, Secretário Geral da ONU (2012), as aspirações deste
novo encontro eram extremamente encorajadoras:
A Rio+20 será uma das mais importantes reuniões globais sobre desenvolvimento sustentável de nosso tempo. No Rio nossa visão deve ser clara: uma economia verde sustentável que proteja a saúde do meio ambiente e apóie o alcance dos objetivos de Desenvolvimento do milênio através do crescimento de renda, do trabalho decente e da erradicação da pobreza.
O grande desafio dessa conferência foi tentar se estabelecer o equilíbrio vital
entre economia e erradicação da pobreza, uma vez que os números indicativos
eram alarmantes. Segundo informações institucionais da Organização das Nações
Unidas – ONU (2012), “a população mundial hoje é de 7,5 bilhões e atingirá a marca
de 9 bilhões em 2050, com isso a produção de alimentos terá que aumentar em
70%, hoje quase um bilhão de pessoas passa fome todos os dias”.
Portanto, a conferência Rio+20 foi importante para se reafirmar os
compromissos com o desenvolvimento sustentável, de acordo com o que foi
estabelecido nas conferências anteriores, além de tentar desenvolver uma visão
mais focada na questão da pobreza e da fome, vislumbrando a relevância de se
31
diminuir a desigualdade social e reestruturar-se a economia em vista deste objetivo,
no intuito, também, de proteger o meio ambiente visto conceitualmente em amplo
aspecto, considerando a necessidade de se beneficiar desta consciência ecológica e
social todos os povos, em todos os níveis sociais.
Seguindo a mesma linha de raciocínio dos encontros anteriores, novos
documentos foram gerados a fim de se atestar as discussões e pontos de vista
apresentados. Na Rio+20, o documento mais relevante foi chamado de “O Futuro
que Queremos”, esclarecendo metas e objetivos salientados durante a conferência.
Reafirmamos nosso compromisso de fortalecer a cooperação internacional para enfrentar os desafios relacionados ao desenvolvimento sustentável para todos, em particular nos países em desenvolvimento. Nesse sentido, reafirmamos a necessidade de alcançar a estabilidade econômica e o crescimento econômico sustentável, de promover a equidade social e a proteção ao meio ambiente, reforçando simultaneamente a igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres, e oferecendo as mesmas possibilidades a todos, bem como protegendo e garantindo a sobrevivência e o desenvolvimento da criança para a realização plena de seu potencial, inclusive através da educação. (O FUTURO QUE QUEREMOS 2013).
No tocante a essa ótica, observou-se o desafio da conferência em discutir-se
a grande demanda de produção para o futuro, sem agredir a natureza, visando a
minimizar-se a distância entre ricos e pobres, o que resultou no termo Green
Economy (Economia Verde), bastante evidenciado durante a conferência Rio+20.
Não obstante, para se conseguir alcançar o desenvolvimento sustentável
almejado, nos próximos anos, ressaltou-se que “a economia verde, deve contribuir
para a erradicação da pobreza, e para o crescimento econômico sustentável,
reforçar a inclusão social, melhorando o bem estar humano, e criar oportunidades de
emprego e trabalho digno para todos”.
O termo fundamental usado na conferência Rio+20, intitulado de “Economia
Verde”, foi discutido e citado por diversas vezes, antes e durante a conferência por
muitos países, organizações sociais e economistas, sendo que um dos secretários
da cúpula da ONU, o Chinês SHA ZUKANG, afirmou que “países emergentes têm
de se unir para criar economias verdes e que o Desenvolvimento Sustentável pode
ser alcançado de vários modos de gerar emprego”. (FOLHA DE SÃO PAULO, 2012).
32
De acordo com informações institucionais da ONU (2012), “27% da população
mundial vive em absoluta pobreza; em 1990, era 46%” – o que demonstra que, de
fato, foi significativamente minimizada a pobreza durante o período em questão.
Conforme também publicação que consta no site do IDH – Índice de
Desenvolvimento Humano –, da década de 1980 para 2013, o Brasil evoluiu o seu
IDH de médio para elevado, conforme figura a seguir, atingindo a posição de número
85.
Tabela 3 – Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil de 1980 a 2012.
Classificação
no IDH
País 1980 1990 2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
85 Brasil 0.522 0.590 0,669 0,699 0,704 0.710 0,716 0,719 0,726 0,728 0.730
Fonte: www.pnu.org.br. Acesso em: jul. 2013.
Portanto, os dados da Organização das Nações Unidas e do Índice de
Desenvolvimento Humano no Brasil, apontam a minimização da pobreza do Brasil,
conforme aponta a tabela acima.
1.4 A globalização e as influências na sustentabilidade
Segundo o filósofo Brasileiro Leonardo Boff (2012), “sustentabilidade é a ação
que procura devolver o equilíbrio à Terra e aos ecossistemas para que a casa
comum possa continuar habitável e para que possamos salvar a vida humana e
nossa civilização”. Nesse tocante, o autor procura, em certo aspecto, explicar, em
sua obra, o que é e o que não é o termo sustentabilidade, em termos filosóficos.
O conjunto de processos e ações que se destinam a manter a vitalidade e a integridade da Mãe Terra, a preservação de seus ecossistemas como todos os elementos físicos, químicos e ecológicos que possibilitam a existência e a reprodução da vida, o atendimento das necessidades da presente e das futuras gerações, e a continuidade, a expansão e realização das potencialidades da civilização em suas várias expressões. (BOFF, 2012, p.14)
Na realidade, para ele, sustentabilidade significa pensar no presente e no
futuro, sendo que, conforme já foi visto nos eventos que tratam da preservação
33
ambiental, é necessário o equilíbrio entre a economia, o social e o meio ambiente,
de forma a se obter este objetivo, de fato. Portanto, sustentabilidade no sentido
prático, considerando o contexto atual, tem uma característica que é chamada de
Globalização – palavra que ganhou destaque nos últimos anos, a qual cria
expectativas positivas para o futuro, vislumbrando a visão de uma nova era de
mudanças. Um dos aspectos importantes da globalização é a economia globalizada,
sendo que segundo Santos, (2000, p. 23), “a globalização é, de certa forma, o ápice
do processo de internacionalização do mundo capitalista”.
De fato, a globalização trouxe esperanças, certezas e incertezas para toda a
sociedade, como afirma Bauman (2008, p.7), pois “para alguns, a globalização é o
que devemos fazer se quisermos ser felizes; para outros, é a causa da nossa
infelicidade”. Portanto, este processo trouxe diversas mudanças para a sociedade,
como a noção de tempo e espaço, que se redefiniu radicalmente, uma vez que “o
espaço tornou-se processado/centrado/organizado/normalizado e, acima de tudo,
emancipado” (BAUMAN 2008, p. 23), enquanto que para Sevcenko (2012, p.21), “o
surto vertiginoso das transformações tecnológicas não apenas abole a percepção do
tempo: ele também obscurece as referências do espaço”.
Nesse aspecto, observa-se, em certa medida, uma mudança de situação
inteiramente nova com a globalização, ao perceber-se que “com a interface dos
terminais de computadores e monitores de vídeo, as distinções entre aqui e lá não
significam mais nada” (SANTOS, 2012) e, que com a facilidade de acesso rápido à
informação, isso substancia uma relação ao que pensador chamou de “a violência
da informação”, pois, para ele, “o que é transmitido à maioria da humanidade é, de
fato, uma informação manipulada que, em lugar de esclarecer, confunde” (idem), e
para o consumo isso é ótimo, uma vez que as marcas podem se comunicar e se
estabelecer com o mundo todo.
Com a diminuição do tempo e do espaço, hoje existe uma conjunto de
consumidores em todo o mundo, já que as marcas estão internacionalizadas graças
ao advento da globalização que induziu o consumo a diversos países. Em seu
significado econômico, a globalização, de fato, causou mudanças na economia, uma
vez que, conforme afirma Sevcenko (2012, p. 27), “O PIB mundial chegou a
34
quadriplicar entre 1950 e 1980, saltando cerca de 2 trilhões para mais de 8 trilhões
de dólares”.
Em termos econômicos, a tecnologia tornou-se uma ferramenta facilitadora,
tendo em vista que com a informação do capital, a fluidez do mercado fez com que o
entendimento da economia mudasse, e isto não está apenas centrado na produção,
mas sim na atividade especulativa.
De acordo com Sevcenko, (2102, p. 28), “a especulação com moedas e títulos
de diferentes naturezas, na esfera ampla do mercado globalizado, se tornou por si
só, um atrativo irresistível, para os agentes financeiros” e, sendo assim, os acordos
financeiros passaram a ser fomentados quase que inteiramente na esfera do
ciberespaço. Ainda de acordo com o autor (idem, p. 29):
[...] a rapidez nos fluxos nessa rede mundial tornou o papel-moeda praticamente obsoleto, estimulando fluxo contínuo de transações eletrônicas, que passaram a atuar 24 horas, de modo a operar com os mercados do Oriente, Europa e América.
Como citado, não existe mais distância entre aqui e lá, sendo assim, por
exemplo, um montante financeiro pode ser transferido de São Paulo para Tókio, em
questão de minutos. Portanto, o dinheiro passou a ser virtual, mudando toda a
perspectiva do mercado, como bem afirma também Sevcenko, (idem, p.31), em
relação a esse aspecto transacional, salientando que“cerca de noventa por cento
desse total nada tem a ver com investimentos reais em produção, comércio ou
serviço, se concentrando no puro jogo especulativo”.
Não obstante, Bauman (2008, p. 80) também esclarece como é o caráter
mutacional contínuo desta categoria de economia em ampla expansão, em que
“novas fortunas nascem, crescem e florescem na realidade virtual”. Desse modo, as
corporações começam a aumentar seus lucros não mais vinculados à produção,
mas sim em relação ao mercado de capitais e às bolsas de valores.
Por um lado, este processo de digitalização crescente também facilitou a
circulação por diferentes fronteiras:
A possibilidade de multiplicar filiais de suas empresas nos mais diversos pontos do planeta proporcionou às grandes corporações um enorme poder de barganha, impondo aos governos interessados em receber seus
35
investimentos e respectivos postos de trabalho um amplo cardápio de vantagens, favores, isenções e garantias que praticamente tornava os Estados e as sociedades reféns dos poderosos conglomerados multinacionais. (SEVCENKO, 2012, p. 28)
Consequentemente, é possível perceber-se este fato acontecendo
amplamente hoje em dia, em todo o mundo, como é o caso de várias grandes
corporações influentes, tais como: Apple, Nike, Mc Donalds, General Motors e Coca-
Cola, que por intermédio da mídia, em amplo aspecto, intensificam a atividade de
consumo, gerando empregos, ao promover o desenvolvimento da economia dos
países, possuindo grande poder de negociação com os governos e estados e, sendo
que assim “a sociedade e o Estado se tornaram seus reféns. O tripé que sustentava
a sociedade democrática moderna foi quebrado” (SEVCENKO, 2012, p.31).
Logo, isso interferiu em toda a organização política, pois modificou o papel
dos Estados, influenciando amplamente nas decisões do poder governamental:
Aparece nitidamente na política, por exemplo, na medida em que os líderes dos partidos orientam suas decisões pelas expectativas do eleitorado, buscando atender às reivindicações que se traduzam no maior volume de votos e aos lobbies que revertem no maior volume de doações para as campanhas eleitorais. (SEVCENKO, 2012, p.46)
Nesse contexto, eles se tornam suscetíveis aos estados e governos, que se
submetem aos interesses de mercado, favorecendo as corporações e, em certo
aspecto, desfavorecendo os interesses sociais que se tornam um gerador de
interesses e conflitos. De acordo com Santos (2000, p. 34).
[,,,] a atual globalização aponta-nos para formas de relações econômicas implacáveis, que não aceitam discussão e exigem obediência imediata [...] permanecem escravos de uma lógica indispensável ao funcionamento do sistema como um todo.
Neste sentido, os governos e estados passam a se colocar nas condições em
que as corporações internacionais solicitam e, sendo assim, a política torna-se
manipulada pelos interesses econômicos das grandes empresas globais, pois “tais
empresas são apresentadas como salvadoras dos lugares e são apontadas como
credoras de reconhecimento pelos seus aportes de emprego e modernidade”
(SANTOS, 2000, p. 52).
36
Essa confiança das empresas ganha ainda mais poder nas negociações, uma
vez que estas pressionam o estado, caso não tenham seus pedidos e interesses
acatados prontamente. Ainda, de acordo com Santos (2000, p.53), “assim o poder
público passa a ser subordinado, compelido, arrastado”, e, desse modo, o estado
fica na dependência das grandes empresas e suas exigências, deixando em
segundo plano seus interesses para atender às solicitações do interesse público e
do cidadão comum. “Os Estados não tem recursos suficientes nem a liberdade de
manobra para suportar a pressão” (BAUMAN, 2008, p. 73), portanto, o que é
imposto pelas empresas é aceito pelo estado, o qual não tem outra opção a não ser
mudar o seu papel, ao que o autor (idem, p. 74) complementa, esclarecendo que,
“com sua base material destruída, sua soberania e independência anulada, sua
classe política apagada, a nação-estado torna-se um mero serviço de segurança
para as megaempresas”, portanto, o estado torna-se manipulado e articulado em
vista dos interesses emergenciais das grandes empresas dominantes.
No campo da economia, o estado perde seu poder de negociação ou controle,
fazendo com que as regras de livre comércio favoreçam as empresas para o livre
mercado mundial e, retirando, assim, o poder da política nas relações econômicas.
Nesse aspecto, Bauman (idem, p. 73) ainda salienta que “a única tarefa econômica
permitida ao estado e que se espera que ele assuma é a de garantir um orçamento
equilibrado, policiando e controlando as pressões locais por intervenções estatais
mais vigorosas na direção dos negócios”.
A partir dessa submissão, o estado consegue apoio das empresas e dos
bancos mundiais e a economia fica protegida para seguir os interesses prementes
das empresas. De acordo com Bauman, (idem, p.74), “no Cabaré da globalização, o
Estado passa por um strip-tease e no final do espetáculo é deixado apenas às
necessidades básicas: seu poder de repressão”. Desse modo, hoje em dia, o estado
é dependente das empresas, ficando submetido aos seus interesses na condição de
marionete.
Percebe-se que o efeito da globalização serve para quem está estruturado,
sendo que as empresas acabam se preocupando mais com a economia, impondo-se
esta à “maior parte da humanidade como uma globalização perversa” (SANTOS,
2000, p. 27). Diante disso, o social fica então desamparado, tendo em vista “as
37
funções sociais e políticas do estado com a ampliação da pobreza e os crescentes
agravos à soberania, enquanto se amplia o papel político das empresas na
regulação da vida social” (SANTOS, 2000, p. 27).
Ainda nos apontamentos de Santos (2000, p.13), “a globalização está se
impondo como uma fábrica de perversidade”, já que as cartas de intenções dos
documentos gerados pela ONU, conforme se observou são “fábulas” quando se
pensa em termos da crise ambiental e social, ao mesmo tempo, tendo em vista
como se pautam o tema da erradicação da pobreza e do desemprego, com base nos
documentos da “Rio+20” e de “O futuro que queremos”, e como isto é imposto à
sociedade como verdade, considerando-se as cartas de intenções como solução
definitiva destas crises, sendo que, na realidade, isto não acontece. Portanto, a
globalização se concretiza a favor do mercado, voltado aos interesses das
empresas, sendo que os problemas sociais só tendem a aumentar
assustadoramente, tendo em vista que:
O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem a qualidade de vida. O salário médio tende a abaixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. (SANTOS, 2000, p. 13).
Percebe-se, assim, que a globalização serve mais para ampliar riqueza dos
mais ricos – o que é terminantemente contra as cartas de intenções propostas –,
uma vez que nos documentos que tratam de sustentabilidade é pensando o
Desenvolvimento Sustentável e Social, conjuntamente e não dissociados, mas,
infelizmente, na prática, o que acabou prevalecendo é a ampliação hegemônica do
Desenvolvimento Econômico.
38
2 ESTRATÉGIAS MIDIÁTICAS NO ÂMBITO DA MÍDIA IMPRESSA
Conforme apresentado no primeiro capítulo, o tema sustentabilidade é
discutido em diversas instâncias; começando no Clube de Roma, como uma questão
política, até hodiernamente, onde o tema é falado em todos os setores, públicos,
privados e sociedade. Logo, os meios de comunicação dão mais atenção a essa
temática. Para maior abrangência desse debate, é necessário compreender a
influência da mídia, a partir do que os meios de comunicação divulgam;
compreender o que eles emitem ou omitem. No segundo capítulo, serão mostradas
algumas hipóteses de como a mídia interfere na opinião pública, apresentar-se-ão
os conceitos de Agenda Setting e Espiral do Silêncio, e como essas hipóteses
ajudam na percepção do objeto de estudo desta pesquisa. Também neste capítulo
serão apontados dados do veículo Jornal no Brasil, como foco para a região do
Estado de São Paulo, e será apresentado o objeto de estudo deste trabalho, bem
como a metodologia adotada nesta pesquisa e, por fim, será apresentado, na
prática, como acontece a hipótese do agendamento no jornal com a Conferência da
ONU, a “Rio+20”.
2.1 Jornal no Brasil
Segundo informações do Grupo de Mídia, por meio do relatório anual Mídia
Dados, o público que lê jornal no Brasil é composto por 52% homens e 48%
mulheres; as classes sociais dos leitores são distintas, com variação da classe A até
a classe D, a idade também é variável, como apontam os gráficos a seguir:
Figura 9 – Mídia Dados, 2013
39
Fonte: Grupo de Mídia
A partir dos gráficos, percebe-se a predominância das classes econômicas B
e C e faixa etária dos 20 aos 64 anos, e chama a atenção que a idade de 20 a 39
anos é a que mais lê o jornal, conforme aponta o relatório.
Ainda de acordo com o relatório anual Mídia Dados, a distribuição de jornal
impresso na região sudeste representa 62% da repartição em território nacional.
Desse total, 34,37% concentra-se no Estado de São Paulo; os títulos por jornal
também são maiores na região sudeste, totalizando 365 títulos, sendo 265 apenas
no Estado de São Paulo. Os dias de maior leitura de jornal impresso, na grande São
Paulo são: segundas e quartas-feiras, representando 17% por cento a cada dia; em
seguida, terças e quintas-feiras, com 16% a cada dia; sextas-feiras com 15%, e no
sábado e no domingo com 11% a cada dia. A seguir gráfico para ilustrar essa
distribuição.
Figura 10 – Mídia Dados, 2013.
Fonte: Grupo de Mídia
40
Sendo assim, os dias da semana são os de maior leitura, com destaque para
segundas-feiras e quartas-feiras, enquanto nos finais de semana a auditoria aponta
grande diminuição de leitores.
De acordo com o IVC – Índice de Veiculação e Circulação –, em 2014, a
Folha de São Paulo ocupa a segunda colocação no ranking de tiragem e circulação
entre os jornais dos estados do Brasil, conforme demonstra a tabela a seguir:
Figura 11 – Mídia Dados, 2013.
41
Fonte: Grupo de Mídia
A tabela do IVC aponta a Folha de S. Paulo como o primeiro em tiragem no
Estado de São Paulo, e mostra o jornal Estado de S. Paulo na quarta posição, o que
coloca o jornal Folha de S. Paulo como a referência no estado.
Diante do exposto, temos o jornal Folha de S. Paulo como um grande veículo
de comunicação da mídia impressa, por isso, a seguir, apresentar-se-á o jornal.
42
2.2 Folha de S. Paulo
A história do jornal Folha de S. Paulo tem início em 1921, com a criação do
jornal Folha da Noite. Em 1925, é criado o jornal Folha da Manhã – edição matutina
da Folha da Noite –, e a Folha da Tarde é fundada após 24 anos. Depois, com a
fusão dos três títulos da empresa, Folha da Manhã, Folha da Tarde e Folha da
Noite, em 01 de janeiro de 1960, surge o jornal Folha de S. Paulo.
Segundo informações do Grupo Folha de São Paulo, o jornal obteve
crescimento entre os anos de 1984 e 1987, devido ao apoio ao movimento que
solicitou votação direta para a presidência, ou seja, pela democratização do país. Tal
movimento foi denominado de “Diretas já”, quando a tiragem média do jornal foi de
120 mil para 200 mil exemplares, e no ano de 1990 o jornal já consolidava o total de
300 mil exemplares. Após 1990, o jornal teve uma reformulação que alterou as
cores, a parte gráfica e a organização das notícias em cadernos com temas
específicos. O episódio de sucesso de vendas do jornal Folha de S. Paulo
aconteceu, também, após investimentos em uma imagem moderna, atuante e
antenada em diversos eventos, principalmente com viés político. O jornal na década
de 1970 ganhou respaldo da classe média intelectual de São Paulo. (FOLHA DE
SÃO PAULO, 2014).
O jornal Folha de S. Paulo é a principal publicação do Grupo Folha, que
também é dono do jornal Agora São Paulo e possui 50% de participação no Valor
Econômico. O Grupo possui ainda outros negócios como o instituto de pesquisa
DataFolha e a Editora Plural. No setor de distribuição, a TransFolha e a São Paulo
Distribuição e Logística, gráfica PubliFolha, agências de notícias AgênciaFolha,
InvestFolha e FolhaNews. (GRUPO FOLHA, 2014)
A escolha pela mídia impressa como corpus de estudo e o jornal Folha de S.
Paulo como suporte de análise foi eleito devido à visão hegemônica que essa forma
de mídia apresenta, à seriedade dentre os demais veículos de mídia impressa e à
sua história, conforme apresentado. A longevidade do jornal demonstra uma
aceitação política, pois foi um editorial que se consolidou e, no Estado de São Paulo,
é o de maior vendagem, denotando-se, assim que o discurso desse jornal é bem
aceito pela sociedade. Mostrar-se-á, a seguir, como a separação das matérias foi
feita.
43
2.3 Metodologia
Observou-se o jornal na íntegra e analisaram-se as edições e todos os
cadernos, no período de janeiro a julho de 2012. Esse período foi intencional, devido
aos eventos relacionados ao meio ambiente, na época. Foi feita, então, a separação
de todas as matérias que continham as palavras-chave: Sustentabilidade,
Responsabilidade Socioambiental, Meio Ambiente, Sacolas Plásticas, Código
Florestal e Rio+20. Todas as matérias que continham relação com o tema
Sustentabilidade foram recortadas e separadas por mês, no formato de arquivo de
Power Point e, após essa separação, teve início o processo de leitura. Depois desse
processo, realizou-se a tabulação e compilação dos dados, em uma planilha no
formato Excel, indicando a quantidade de matérias que foram publicadas no período
selecionado.
Com as matérias organizadas, foi feita a separação por tema, mês e caderno,
em formato Power Point e, então, uma planilha foi elaborada para que as matérias
fossem divididas por mês, caderno e capa de cada caderno no qual foram
encontradas matérias sobre o tema. Nessa separação foram encontrados três temas
específicos relacionados ao Meio Ambiente:
Conferência Rio+20
Sacolas Plásticas
Código Florestal
Além de outros assuntos diversos relacionados ao tema Meio Ambiente.
Após essa separação e organização, encontram-se os arquivos em Power
Point com as matérias e uma tabela geral com todas as matérias; e uma tabela com
as matérias de cada tema, conforme mencionado. Essas tabelas são organizadas da
seguinte forma: apresentam a quantidade de matérias em cada caderno, a
quantidade de matérias nas capas dos cadernos e estão dividas por mês de
publicação.
Durante o período de pesquisa, foram encontradas 513 matérias que
abordavam o tema Meio Ambiente, como aponta o gráfico a seguir:
44
Figura 12 – Gráfico das matérias sobre o Meio Ambiente sem subtemas
Fonte: Elaborado pelo autor
A partir do gráfico, é possível perceber o engajamento do jornal Folha de S.
Paulo sobre o tema Meio Ambiente no período pesquisado. Apresenta-se, a seguir,
a tabela geral com a totalidade de matérias sobre o Meio Ambiente, sem subtemas
destacados. O debate, de modo genérico, está concentrado em três cadernos e são
estes: Primeiro Caderno, Cotidiano e Mercado, ambos com matérias na capa e no
interior do caderno.
Tabela 4 – Tabela geral das matérias sobre o Meio Ambiente sem subtemas
Fonte: Elaborado pelo autor
Conforme aponta a tabela geral, no Primeiro Caderno, há 40 matérias na
capa e 135 matérias em seu interior, totalizando 175 matérias; isso representa 34%
45
das matérias sobre meio ambiente no primeiro caderno. Em segundo lugar, aparece
o caderno Mercado, com 136 matérias, representando 26,5% do total. E em terceiro,
o caderno Cotidiano, com 102 matérias, representando 19,8% do total de matérias.
A soma das matérias publicadas nesses três cadernos totaliza 413, com isso tem-se
a representação percentual de 80,5% das matérias sobre meio ambiente
concentradas nos cadernos destacados.
Partindo dessa fonte de dados, utilizou-se a hipótese de Agenda Setting para
compreensão dos assuntos tratados no jornal Folha de S. Paulo. O Agenda
Setting,cuja origem é norte-americana, teve os pesquisadores Maxwell McCombs e
Donald Shaw como precursores, no ano de 1972, todavia as ideias básicas dessa
tese foram estabelecidas em 1922, por Walter Lippman na clássica obra Public
Opinion. Nesse conjunto de estudos sobre os efeitos dos meios de comunicação na
sociedade, os temas discutidos na contemporaneidade são gerados pela mídia,
através das mensagens emitidas pelos meios de comunicação, essa é a hipótese do
agenda setting, sendo uma possível forma de interação e manipulação sobre o que
será comentado pela população.
Com base na hipótese do Agenda Setting e dos dados apresentados nas
tabelas que foram realizadas como objeto de estudo deste trabalho, concordamos
com essa hipótese, pois, de fato, o jornal Folha de S. Paulo publicou muitas matérias
sobre o tema Meio Ambiente no período analisado, e, aparentemente, foi possível
perceber uma abordagem parcial em diversas instâncias sobre o tema. De acordo
com Barros Filho (2008, p.158), “ao se analisar uma tabela de incidência temática,
ou seja, dos temas mais presentes nas discussões sociais, tem-se a impressão que
só se fala sobre esses temas”. Com a ajuda da hipótese, percebe-se a proliferação
do tema meio ambiente presente nas comunicações, sendo assim, “a mídia impõe
os temas mais discutidos” (idem p.158); nesta pesquisa, a hipótese faz sentido, pois
se observa que a Folha de S. Paulo publica diversas matérias sobre o tema.
De acordo com a hipótese Agenda Setting, a mídia impõe os temas e os
assuntos que serão falados e discutidos no cotidiano das pessoas, portanto, a mídia
define o que é importante e o que não é; e o que será de interesse coletivo.
Aparentemente, foi o que fez o jornal Folha de S. Paulo com uma cobertura bastante
ampla de matérias sobre o meio ambiente e, ainda, com a repetição de assuntos
como Rio+20, Sacolas Plásticas, Código Florestal, entre outros. Afigura 12 na
46
página 43 e a tabela geral na mesma página mostram indícios dessa possibilidade;
assim, de acordo com o Agenda Setting, pode-se afirmar que a mídia é capaz de
ditar e colocar em pauta as notícias, assim os meios de comunicação atuam na
formação da opinião pública. Os temas das conversas diárias são provocados pelos
jornais, televisões, rádios e revistas, ou seja, o cotidiano das pessoas passa a ser
direcionado pelos meios de comunicação de massa, portanto, o tema meio ambiente
logo passa a ser comentado pelas pessoas, devido à possibilidade de interação
midiática e pelo poder que mídia tem de influência sobre as pessoas, sobre o
assunto que elas vão comentar. (BARROS FILHO, 2008). Ainda segundo o autor:
Surgiu num período em que se atribuía à mídia enormes prerrogativas de manipulação social, não só para impor a representação que o receptor teria da realidade, mas igualmente para alterar seu comportamento. A mídia, nesse caso, funcionaria como uma “agulha hipodérmica” ou uma “bala de canhão”. Os receptores pertenceriam a uma sociedade de massa, verdadeiro depósito de mensagens composto por indivíduos inertes, passivos e vulneráveis. A abordagem dita “fenomênica”, que condiciona e relativiza os efeitos sociais da mídia, põe um termo nas especulações sobre a onipotência dos meios de comunicação na imposição de representações e comportamentos. (BARROS FILHO, 2008, p. 169)
Com base no Agenda Setting, de acordo com Long apud Barros Filho, (2008
p.175), “o jornal é o primeiro motor de fixação da agenda territorial, ele tem grande
participação na definição do que a maioria das pessoas conversará, o que as
pessoas pensarão que são os fatos e como se deve lidar com os problemas”. O
autor também afirma que há mais agenda setting em mensagens impressas que
televisivas, (2008, p. 171), “três aspectos da mensagem podem interferir no agenda
setting, sua origem, seu veículo e seu conteúdo”.
Assim, afirma McCombs (2004), citado por Barros Filho (2008, p. 171):
Se realizarmos uma generalização empírica nesse sentido, temos que em 50% do tempo não há diferença discernível entre o efeito do Agenda Setting por jornais e por notícias veiculadas na televisão. Porém, em 50% do tempo, parece que os jornais são mais eficazes em fixar a agenda pública do que a televisão em uma proporção de para 1.
Portanto, os meios de comunicação ganham destaque, especialmente o
jornal, e, no caso desta pesquisa, o jornal Folha de S. Paulo, pois é uma forma
possível de interação e manipulação sobre a sociedade. Com esse embasamento,
reforça-se a crença que o Agenda Setting enfatizou a percepção do objeto de estudo
desta pesquisa.
47
Bem como o Agenda Setting é uma hipótese, outro fator que ajudou na
compreensão deste objeto de estudo foi a Espiral do Silêncio. Esta hipótese teve
Elisabeth Noelle-Neumann como autora, e, para compreensão desta, é necessário
responder a três questões, como afirma Barros Filho, (2008 p.180) “Por que do
silêncio? Por que espiral? Em que medida a objetividade aparente da informação
mediática influi no efeito em questão?”
Respondendo a primeira pergunta, o “silêncio”, devido às pessoas ficarem
isoladas como um todo, por exemplo, em suas condutas, costumes, opiniões, ou
seja, sua imagem perante a sociedade. No caso do tema desta dissertação – cujo
título é “As representações midiáticas: um estudo sobre como a mídia aborda o fator
da sustentabilidade na sociedade contemporânea” –, foi de muita valia compreender
como as pessoas se comportam diante dos temas publicados pela mídia. O receio
da exclusão social impossibilita que as pessoas omitam sua opinião, caso esta não
esteja de acordo com o senso comum; conforme Barros Filho, (2008 p.180) “esse
medo do isolamento social faz com que as pessoas tendencialmente evitem
expressar opiniões que não coincidam com a opinião dominante”. Segundo o autor,
isso ocorre porque o predomínio das opiniões é formado pela mídia, “esse silêncio
tendencial é possível porque [...] os agentes sociais têm aguda percepção das
opiniões dominantes no grupo a que pertencem. Estas seriam em grande parte
impostas pelos meios de comunicação”, portanto, esse receio de dar opinião contra
a maioria, ter opiniões divergentes e ficar isolado levam esse grupo de pessoas ao
silêncio. (BARROS FILHO, 2008). Isso, aparentemente, acontece com o tema meio
ambiente por estar em evidência e ser comentado em diversas instâncias, muitas
pessoas ficam receosas de comentar contra.
Neste momento, coloca-se a segunda resposta, para a pergunta “por que
espiral?” A mídia, ao publicar um assunto ou notícia, assegura que esse conteúdo
está legitimado, ou seja, o que é imposto pela mídia torna-se a realidade, porém,
diante disso, podem existir vozes que não concordam, entretanto, essas vozes serão
a minoria, o que levará, teoricamente, a não se manifestarem, o que levará ao
silêncio, fortalecendo ainda mais a força da mídia e calando as opiniões contrárias.
“Quando parte desse grupo se cala, a opinião discordante, que já era minoria, se
torna ainda mais minoritária; o número de silentes será, portanto, maior” (idem
p.180).
48
No caso desta pesquisa, far-se-á um breve apontamento, sobre como
aconteceu o caso da extinção das sacolas plásticas no Estado de São Paulo. Um
tema polêmico como esse, necessitaria de um amplo debate para que todos os
envolvidos fossem ouvidos, porém, a mídia pontuou que não haveria distribuição de
sacolas gratuitas. De uma hora para outra, os paulistanos teriam de mudar um
hábito de mais de 40 anos. Não se dará continuidade nesse debate, pois ele será
aprofundado no terceiro capítulo; apenas apontam-se aqui as hipóteses que
auxiliaram na compreensão do objeto desta pesquisa.
Então, os que persistirem com opinião contrária, serão isolados e não terão
suporte. Tem-se, assim, um grupo de pessoas com a opinião legitimada, e outro
grupo em silêncio, e, consequentemente, o grupo em silêncio contribuirá para que a
opinião dominante seja estabelecida, e isso constitui o espiral. (BARROS FILHO,
2008). Como o Agenda Setting, a hipótese da Espiral do Silêncio se utiliza da mídia
para estabelecer o que comentar, bem como o que comentar sobre os temas
impostos pela mídia.
Todavia, dois fatores são preponderantes na espiral do silêncio, o isolamento
e a manifestação sobre os temas. De acordo com Barros filho (2008, p.194), “o ser
humano tem horror ao isolamento opinativo. Sustentar uma opinião contrária à da
maioria traz desconforto. Esse medo é generalizado.” Nesse sentido, para fugir do
isolamento, é necessário perceber a opinião dominante, isso demonstra como as
pessoas aceitam, na contemporaneidade, o tema da sustentabilidade, pois a opinião
dominante é mais abordada pelo jornal Folha de S. Paulo. Segundo o mesmo autor,
(2008, p.181) “quanto mais uma opinião for dominada ou ilegítima, maior a tendência
de que ela não seja manifestada”, ou seja, a imagem ou opinião que a mídia
introduzir, de acordo com essa hipótese, prevalecerá como verdade; embora
existam pessoas que não concordem com a opinião dominante, essas ficarão
caladas. E como continua Barros Filho, (idem, p. 181) “Isso não impede que haja,
nesse universo, vozes discordantes. Elas serão minoritárias. Haverá, no entanto,
uma tendência ao silêncio entre os membros desse grupo minoritário”. Com isso,
haverá uma maior quantidade de pessoas em silêncio. “Assim a tendência de um
grupo manifestar suas opiniões e do outro de se calar desencadeia um processo em
espiral que estabelece, de maneira crescente, uma opinião dominante.”
49
Pôde-se observar isso acontecer com o tema sustentabilidade, durante esta
pesquisa. As opiniões dominantes impõem sua posição e, nesse momento,
aparecem pessoas renomadas para tratar do tema. De fato, existe a discordância,
porém, aparentemente, muitos ficam em silêncio, emergindo as vozes dominantes.
Foi visto, também, como os meios de comunicação atuam em concordância com
alguns temas. De acordo com Barros Filho, (2008 p.182) “uma das condições para a
ocorrência da espiral do silêncio é a consonância temática, ou seja, a abordagem
relativamente homogênea dos mesmos fatos pelos distintos meios de comunicação”,
isso leva ao fortalecimento a opinião dominante, no caso da mídia impressa. Outro
aspecto da espiral do silêncio citada por Barros Filho é que (2008 p. 183) “os meios
não se limitam a impor os temas sobre os quais se falar, mas também impõem o que
falar sobre esses temas”. No caso da sustentabilidade, percebeu-se, durante o
período da pesquisa, que o jornal Folha de S. Paulo tratou, de maneiras distintas, o
tema sustentabilidade, com diferentes abordagens sobre o tema.
Com base no Agenda Setting, e a partir da tabela geral Meio Ambiente,
pensando esse contexto para suporte desta discussão, propõe-se, agora, uma
análise da Conferência da Organização das Nações Unidades, a “Rio+20”. Durante
o período pesquisado, foram encontradas 172 matérias sobre a Rio+20, distribuídas
em diversos cadernos do jornal, conforme apresentado abaixo:
Tabela 5 – Matérias sobre a Rio+20
Fonte: Elaborado pelo autor
50
Analisando o resultado da tabulação, verifica-se que a maioria das matérias
sobre a conferência Rio+20 está concentrada no primeiro caderno. Segundo
informações da própria Folha de S. Paulo, “esse caderno se dedica à vida política,
institucional e aos movimentos sociais”, ou seja, é um caderno que fundamenta o
institucional. De acordo com a tabela anterior, o total de matérias sobre a Rio+20, no
primeiro caderno, totaliza 38, e isso representa 30,8% do total, durante o período da
conferência.
Com base nos dados e na leitura do conteúdo das matérias, a maioria delas,
relacionadas à conferência Rio+20, foi divulgada no primeiro caderno por se tratar
de questões institucionais. Nas matérias, os personagens que debatem o tema são
presidentes e diretores de empresas e associações, secretários, ministros,
embaixadores, e pessoas influentes. Aparecem, também, as vozes do Governo
como a presidenta Dilma Rouseff, Planalto, Itamaraty, governadores, prefeitos,
presidenciáveis, senadores, deputados, e diversos ex-políticos, como o ex-
presidente Fernando Henrique Cardoso. Observaram-se, ainda, vozes de
empresários, economistas, grandes empresas, ONGs, institutos, especialistas e
federações.
Fica evidente que o jornal Folha de S. Paulo deu muita ênfase na conferência,
pois, do total de matérias sobre o tema meio ambiente – que foi 513, no período
pesquisado –, 30,8% das matérias foram sobre a Rio+20. De acordo com os estudos
do Agenda Setting, a conferência Rio+20 trata-se de “um acontecimento específico”.
Os temas de “acontecimento”, como são chamados esses eventos, são ações
pontuais que a mídia trata de forma específica, e, sendo assim, verifica-se que
acontece o agendamento da conferência Rio+20 no jornal Folha de S. Paulo,
comprovando a hipótese do Agenda Setting. Para Barros Filho (2008, p.165), trata-
se da “agenda da mídia, ou seja, o elenco temático selecionado pelos meios de
difusão”, isso leva a crer na possibilidade da conferência Rio+20 ser um assunto da
“agenda da mídia”, já que o evento foi eleito pelo jornal Folha de S. Paulo como
meio de propagação.
Ainda sobre a hipótese do Agenda Setting, é importante averiguar o veículo e
o intervalo de tempo. Sobre o veículo, já se apresentou o jornal e, neste momento,
será analisado o intervalo de tempo (time-lag), em que se constrói o agendamento, o
tempo que ele continua agendado até o desagendamento. Segundo Barros filho
51
(2008 p.173), “com efeito, o tempo que leva uma mensagem para ser agendada pelo
público consumidor (time-lag) depende, segundo alguns estudos recentes, do
veículo em que a mensagem foi difundida”. E, além do veículo, dois intervalos de
tempo; o primeiro tempo A, é o intervalo de tempo entre a veiculação e o
agendamento do tema veiculado; e o segundo tempo B é o tempo que o tema
permanece agendado, a imagem a seguir ilustra esse apontamento do autor:
Figura 13 – Intervalos de tempo do Agenda Setting
Fonte: Barros Filho, 2008, p.173
Com base nisso, o recorte feito das matérias sobre a Rio+20, realizado nesta
pesquisa, apresentar-se-á, a seguir, um gráfico que mostra a incidência de aparição
da Rio+20. Como demonstra o gráfico abaixo, percebe-se a evolução das matérias
entre os meses de março – com 15 matérias – e junho, mês com maior quantidade:
total de 95 matérias; enquanto em julho aparecem apenas duas matérias.
Figura 14 – Intervalos de tempo das matéria sobre a “Rio+20”
Fonte: Elaborado pelo autor
De acordo com o gráfico e embasado na hipótese do Agenda Setting, verifica-
se que o tempo A foi de janeiro a março de 2012. O agendamento se constrói de
abril a junho e o desagendamento, visivelmente, acontece em julho.
52
Outro fator do Agenda Setting é o conteúdo da mensagem, pois, de acordo
com Barros Filho (2008, p.174) “há temas que proporcionam discussão social mais
intensa e outros, menos. Postula-se, assim, uma teoria dos efeitos variáveis em
função do tema tratado”. Através da análise realizada nos conteúdos, verificou-se
que a maioria das matérias sobre a conferência Rio+20 está concentrada no
primeiro caderno, e, conforme mencionado anteriormente, esse caderno se dedica à
vida política, institucional e aos movimentos sociais. A conferência Rio+20 foi
supostamente divulgada no primeiro caderno devido a isso. Conforme tabela já
apresentada na página 48, o total de matérias sobre a Rio+20 no primeiro caderno
foi de 53. Analisando o conteúdo, verifica-se que, desse total, 25 configuram o
artifício da política; 13 matérias tratam de questões econômicas; 5 matérias são
apontamentos gerais sobre a conferência, e 10 matérias apresentam críticas.
Das 25 matérias que configuram o artifício da política, verifica-se que a
presidenta Dilma aparece citada pelo nome e, em alguns casos, com fotos.
Aparecem, também, o nome Brasil e Governo Brasileiro ou Governo Federal,
prefeitos, entre outros representantes políticos. Propõe-se, a partir de agora,
examinar a hipótese que a conferência Rio+20, nas matérias divulgadas pelo Jornal
Folha de S. Paulo, teve ênfase política. Para isso, parte-se do pressuposto do
Agenda Setting – que, apenas para lembrar, é uma hipótese de como a mídia
influencia o público por meio das agendas temáticas, ou seja, a mídia proporciona o
que é importante para a população ter opinião e debater sobre. Partindo desse
pressuposto, a sociedade adere à seriedade dos assuntos tratados pela mídia.
Apresenta-se, abaixo, um quadro que ilustra exatamente essa hipótese.
Figura 15 – Agenda de Mídia e Agenda o Público
Fonte: Maxwell, McCombs (2004, p.5)
53
Portanto, os assuntos que são enfatizados pela Agenda da Mídia são
transferidos para a Agenda do Público, tornando-os, assim, mais importantes, de
acordo com a hipótese do Agenda Setting.
Segundo Silva (2005, p. 27), “os atores políticos são elementos importantes
na elaboração da pauta da campanha e se há ou não alguma associação entre
agenda política e a lista de questões enfatizadas pela mídia”. Desse modo, os
estudos da Agenda Setting servem para observar de forma diferente o processo do
agendamento na mídia, com isso, trazendo um novo ponto de vista para esses
estudos; assim, a Agenda da Mídia pode ser analisada por diversos ângulos, já que
“houve a admissão de que a agenda da mídia é subsidiada por organizações,
grupos de interesse e campanhas políticas” (idem, p. 27).
Nesse aspecto, exibe-se, abaixo, um quadro que ilustra esse cenário, de
interesses distintos e da agenda da mídia.
Figura 16 – Agenda de Mídia e Agenda o Público
Fonte: Maxwell, McCombs (2004, p.99).
Dessa forma, existe a possibilidade da agenda da mídia ser influenciada por
organizações de interesses distintos, como de políticos, empresas e grupos
específicos, como afirma Silva (2005, p. 28), “Em campanhas eleitorais, a agenda da
mídia pode sofrer influência direta dos partidos políticos ou candidatos”.
Partindo desse pressuposto, e da análise feita no recorte esta pesquisa sobre
as matérias da Rio+20 – como apresentado na tabela 5 da página 48 – encontra-se
a maior quantidade de textos sobre a conferência Rio+20, no jornal Folha de S.
Paulo, com viés político, totalizando 47,% das matérias. Sendo assim, selecionou-se
|uma matéria para ilustrar como um candidato pode influenciar na agenda da mídia.
Partindo-se da hipótese que a agenda da mídia foi a conferência Rio+20 e, nesta
54
ocasião, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, apareceu para iniciar sua
campanha de reeleição, com promessas de campanha enviesadas, com o tema
sustentabilidade.
Percebe-se aqui a hipótese do Agenda Setting de forma prática,com a
oportunidade de um candidato entrar na pauta da agenda da mídia relacionado com
um tema em evidência, pelos meios de comunicação; e, nesse caso, apropriar-se do
tema da agenda para incorporá-lo às suas promessas de campanha.Como a
conferência Rio+20 estava na agenda da mídia, e o jornal chamou atenção para
esse evento – vide número de matérias encontradas na pesquisa, como apontado
na tabela Rio+20, na página 48 –, e, com isso, o candidato, em sua agenda de
campanha política, usou a agenda da mídia para ser percebido na agenda do
público e, consequentemente, fortalecer sua reeleição.
O candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, apareceu em uma
foto dentro de um ônibus para apresentar a inauguração do projeto dos corredores
de ônibus e, ao lado, a matéria aponta que ele tem uma “agenda verde”. Destaca-se
que essa “agenda verde” são ações de intenções que o candidato pretende realizar
em sua campanha e outras ações ligadas à sua reeleição, conforme abaixo:
Figura 17 – Matéria Folha de S. Paulo – 03/06/2012
Fonte: Folha de São Paulo
55
A matéria foi publicada no dia 3 de junho de 2012, na página 11 do primeiro
caderno, com o título: “Com Rio+20, Paes começa campanha para reeleição”. Já no
título, uma ligação entre a reeleição e a Rio+20, enquanto o olho da matéria diz:
“Prefeito do Rio reservou ações de impacto para vésperas do evento”. O candidato,
pelo visto, aproveitou-se que a cidade sediaria o evento. Na ocasião, sob o tema
sustentabilidade, logo no início da matéria, a afirmação de que o prefeito fecharia o
aterro sanitário de Gramacho, pois, segundo o candidato, esse era “o maior crime
ambiental do Rio”. O prefeito inaugurou, no mesmo dia, um dos quatro corredores de
ônibus que prometeu.
De acordo com Barros Filho (2008, p.175), “A ideia central é simples: quanto
menos experiência direta tiverem os receptores em determinado tema, ou seja,
quanto menos um tema estiver presente na vida diária das pessoas, mais
dependentes estarão das mensagens mediáticas”, ou seja, as pessoas, ao não ter
conhecimento dos temas, buscarão a mídia para obter informações. Nesse caso, a
conferência estava na pauta dos meios de comunicação, e o prefeito,
aparentemente, usou o viés da Rio+20 para lançar sua campanha, pois, de acordo
com Barros Filho (2008, p.163), “o eleitor indeciso é aquele que terá maior tendência
a consumidor produtos informativos de diversas origens e cores ideológicas,
exatamente para decidir-se”. Ou seja, o uso da mídia aliado a um tema agendado é
favorável para um candidato para lançar uma campanha. Sendo assim, comprova-se
a hipótese que, de fato, ocorreu o Agenda Setting sobre a conferência Rio+20, no
jornal Folha de S. Paulo, e o interesse político ingressou no agendamento da
conferência para aparecer, divulgar ou atrelar o tema à campanha do candidato.
56
3 ANÁLISE DE CONTEÚDO DO CASO REFERENTE ÀS SACOLAS PLÁSTICAS
NA FOLHA DE SÃO PAULO
3.1 Análise de Conteúdo
A análise de conteúdo não é uma metodologia contemporânea; é utilizada
desde a idade média, como afirma Chizotti:
Surgiu na idade média, com os estudos da Escolástica medieval, aplicado à exegese bíblica. Isto é, os primeiros estudos de interpretação do sentido dos textos bíblicos. Posteriormente passou a ser utilizada também pelos hermeneutas, no campo da leitura, com a hermenêutica literária, a qual tinha como objetivo realizar interpretações de textos literários. Mais tarde, passou a ser aplicada também à interpretação de sonhos, com o advento dos estudos psicanalíticos. (CHIZOTTI, 1991, p. 98)
Todavia, no campo do Jornalismo esse estudo é utilizado para verificar o
tamanho das matérias, tamanho dos títulos, espaço que a matéria ocupa no jornal,
entre outros. A análise de conteúdo é muito utilizada para analisar as comunicações;
é uma técnica usada no tratamento de elementos de pesquisas qualitativas ou
quantitativas.
Tal análise traz ao meio acadêmico e intelectual um método prático e
assertivo de investigação. Historicamente, Bardin expõe o início da trajetória da
análise de conteúdo:
Descrever a história da análise de conteúdo é essencialmente referenciar as diligências que nos Estados Unidos marcaram o desenvolvimento de um instrumento de análise de comunicações é seguir passo a passo o crescimento quantitativo e a diversificação qualitativa dos estudos empíricos apoiadas na utilização de uma das técnicas classificadas sob a designação genérica de análise de conteúdo; é observar a posteriori os aperfeiçoamentos materiais e as aplicações abusivas de uma prática que funciona há mais de meio século. (BARDIN, 2009, p.15)
Assim, ilustra-se essa técnica que é utilizada até os dias atuais. Para
Laurence Bardin, a análise de conteúdo compreende a explicitação, sistemática e
esclarecimento do conteúdo da mensagem, cujo objetivo é efetuar deduções em
relação a essas mensagens, como conjuntura a origem e a emissão da mensagem,
e o qual consequência a mensagem pode causar, conforme a própria Bardin (2009,
p. 33):
57
Um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição de conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção destas mensagens. (BARDIN, 2009, p.33)
Portanto, trata-se de uma análise interpretativa, “é uma técnica de
investigação que tem por finalidade a descrição objetiva, sistemática e quantitativa
do conteúdo manifesto na comunicação” (Idem, p.18). Como é possível observar
nessa definição da autora, a análise de conteúdo proporciona identificadores
quantitativos que resultarão em dados estatísticos; e qualitativos, que são intuitivos,
e fornecerão dados para uma hipótese. Essas análises direcionam a pesquisa para
outra leitura da comunicação, com base na dedução e na inferência. Com isso,
obtém-se um novo formato de leitura da comunicação, com a possibilidade de
verificar o que não é mostrado, ou está subjetivo na mensagem.
Esse processo é organizado em três fases, a primeira fase é a pré-análise,
momento de organização das ideias, escolha dos documentos, retomadas de
hipóteses; é nesse momento da pré-análise que se compõe a etapa da Leitura
Flutuante. (BARDIN, 2009)
Para organizar as ideias, de acordo com Bardin, buscou-se compreender o
surgimento das sacolas plásticas, e, através dessa busca, verificou-se que o
surgimento ocorreu em meados da década de 1970 e as sacolas tornaram-se
produto essencial na vida dos consumidores. Os antigos sacos de papel e carrinhos
de feira deram lugar às sacolas plásticas que, além de serem importantes para as
compras nos supermercados, também desempenham outras funções, como realizar
transporte de objetos diversos, acondicionar lixo de cozinhas ou toaletes, outros fins
caseiros, e até mesmo higiene, nos passeios com animais. No entanto, se
descartada de forma incorreta pode causar danos ao meio ambiente como
enchentes – em caso de entupir bueiros –, causar morte de animais e retardar a
deterioração de outros materiais. As sacolas plásticas distribuídas nas redes de
supermercados resistem por décadas; sua decomposição pode levar muitos anos,
uma vez que são fabricadas de derivados de petróleo.
Tendo em vista esse novo cenário abordando questões ambientais, e tendo
em vista que essa temática constantemente ocupa espaço em discussões
governamentais, econômicas e sociais, o prefeito da cidade de São Paulo, na
58
ocasião Gilberto Kassab, com aprovação da Câmara Municipal, sancionou um
projeto de lei em maio de 2011. O projeto de lei PL 612 tinha o objetivo de banir a
distribuição gratuita de sacolas plásticas das redes de supermercados da cidade de
São Paulo, a partir de 1º de janeiro de 2012. Esse projeto de lei foi iniciado em 2007,
e teve um projeto piloto na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, em 2010. No dia
1º de janeiro de 2012, entrou em vigor a lei nº 15.374 que proibia a distribuição
gratuita e a venda de sacolas plásticas derivadas de petróleo.
Segundo a Folha de São Paulo, a lei dizia que os estabelecimentos deveriam
estimular o uso de sacolas reutilizáveis e ecobags, banindo o uso de sacolas
plásticas derivadas de petróleo; as lojas teriam de fixar placas, próximas às caixas
registradoras, com tamanho de 40 cm x 40 cm, com a seguinte frase: “Poupe
recursos naturais! Use sacolas reutilizáveis”. Os estabelecimentos que
desobedecessem poderiam receber multa de R$ 50 a R$ 50 milhões, dependendo
do faturamento, e poderiam ter ainda suspensa a licença de funcionamento. No
mesmo período, a APAS (Associação Paulista de Supermercados) lançou uma
campanha com o seguinte tema: “Vamos tirar o planeta do sufoco”, que tinha como
alvo eliminar o uso de sacolas plásticas das redes de supermercado e trocar esse
hábito por uma opção sustentável. A campanha tinha como objetivo poupar recursos
naturais com o incentivo do uso de sacolas reutilizáveis. A associação alegava que
as sacolas convencionais geram um problema ambiental, devido ao longo período
de decomposição, e que essa questão precisava ser resolvida por todos, pois de
acordo com a APAS, “somente juntos podemos conquistar grandes vitórias”. Para a
APAS, essa campanha foi apenas o começo de grandes ações sustentáveis que o
setor supermercadista adotaria, pensando na preservação do meio ambiente.
A partir do momento anterior ao lançamento da campanha, perceberam-se
elementos que contribuíram para que tal tivesse adesão: o envolvimento da
Prefeitura, do Governo do Estado, da APAS e dos supermercados foi um dos
principais promotores e interessados na campanha para banir a distribuição das
sacolas nos supermercados. A partir disso, verificar-se-á, refletir-se-á e analisar-se-á
como jornal Folha de São Paulo tratou essa questão.
Utilizando a técnica de Bardin, foi feita a pré-análise e a leitura flutuante do
jornal folha de São Paulo, no período de janeiro a julho de 2012. Foi feita, então, a
59
leitura de todas as matérias sobre as sacolas plásticas publicadas no jornal –
relembrando que esse período foi o de maior movimentação sobre o tema. Nessa
busca, foram encontradas 56 matérias sobre a questão das sacolas plásticas no
estado de São Paulo. Para aprofundar o tema, não foi considerado o Painel do Leitor
– espaço concedido no primeiro caderno do jornal para que o leitor exponha sua
opinião. Assim, iniciou-se a composição da amostra, com a exclusão das matérias
do Painel do Leitor, analisando apenas as mensagens emitidas pelo jornal. O
resultado foi o de 46 matérias analisadas. Separaram-se todas as que continham as
seguintes palavras-chave – referentes aos agentes de fala: Governo, Empresa e
Consumidor; Tipologia das sacolas: Biodegradável/Descartável, Sustentabilidade:
Lixo Orgânico e Coleta Seletiva, Custo: preço das sacolas. Esses elementos foram
escolhidos a partir do processo de redução de dados (OLABUENAGA e ISPIZÚA,
apud MORAES, 1999), que tem como objetivo destacar os aspectos mais
importantes da análise, para facilitar a manipulação dos dados, em busca de um
resultado mais objetivo. Entende-se que essas categorias – diretamente envolvidas
na suspensão do uso de sacolas plásticas no estado de São Paulo – atendem à
necessidade das características primordiais; são elas: válidas, pertinentes e
adequadas ao objeto desta pesquisa.
Nesta primeira análise, um fator imediatamente chamou a atenção, pois a
palavra Sustentabilidade apareceu apenas uma vez, em um subtítulo; não
aparecendo nos títulos das matérias. Um tema de tal relevância e atualidade, como
foi apresentado no primeiro capítulo, chama a atenção por não ser mencionado com
maior relevância pelo jornal. Outro fator analisado foi o não aparecimento da APAS
nos títulos e subtítulos das matérias. Isso é bastante interessante, pois a APAS foi
uma das principais idealizadoras desse projeto, bem como a Prefeitura e o Governo
do Estado – que também não são mencionados em títulos ou subtítulos. A palavra
Consumidor aparece 8 vezes, sendo 6 vezes no título e 2 vezes no subtítulo, todas
no caderno Mercado – muito pouco para um tema que, de fato, lidava diretamente
com o cotidiano dos consumidores. A palavra sacola (ou sacolinha) apareceu 171
vezes, ou seja, em todos os recortes; sendo 9 vezes no título e 7 vezes no subtítulo.
A seguir apresentamos a tabela com as categorias e subcategorias que serão
analisadas nas matérias, a tabela está divida pela quantidade de vezes que aparece
cada categoria e subcategorias:
60
Tabela 6 – Categorias e Subcategorias
Fonte: Elaborado pelo autor
Observa-se que as categorias escolhidas estão alinhadas ao material que
será analisado. Buscou-se selecionar frases ou palavras que possibilitassem o
levantamento de alguma hipótese com relação à como a mensagem parte do
emissor, portanto, o Painel do Leitor não faz parte desta análise.
Ressalta-se ainda que as matérias consideravam a questão das sacolas
plásticas e, nessa busca, também foram encontradas palavras derivadas, como
ecobag, saco plástico,entre outros. Após essa composição da mostra, foi colocada
em prática a metodologia de Laurence Bardin (2009) de “leitura flutuante”, com o
objetivo de ressaltar as primeiras percepções. Inicialmente, acreditou-se que a
maioria das matérias estaria no caderno Cotidiano, já que é um assunto que trata
diretamente do interesse do consumidor; no entanto, a maioria das matérias foi
encontrada no caderno Mercado.
O caderno Mercado do jornal, que possui cunho econômico, discute a
economia brasileira e internacional, o mundo dos negócios, dos investimentos e
indicadores econômicos. Esse fato se destacou, pois o assunto, em um primeiro
momento, como já mencionado, estaria no caderno Cotidiano, já que é nesse
caderno que estão as notícias do dia a dia, as dicas da cidade; e o caderno também
esclarece o direito do consumidor, temas voltados aos interesses do cidadão, entre
outros. Entende-se que o tema das sacolas plásticas enquadra-se como de
interesse do cidadão.
61
A primeira hipótese induz a pensar que os consumidores não foram levados
em consideração de forma prioritária, ficando em segundo plano; e que os
interesses empresarias e governamentais vieram em primeiro plano, pois grande
parte do conteúdo sobre o tema publicado no jornal está no caderno Mercado.
Aparentemente, a pesquisa apresentada serviu para os empresários mensurarem a
opinião da população; no entanto, a forma como a pesquisa foi divulgada pelo jornal,
dá a entender que os consumidores estão satisfeitos com a extinção das sacolas.
Entretanto, no meio da matéria, apareceu um embate entre a indústria do plástico e
os supermercadistas. Essa discussão não apareceu no título ou subtítulo, mas, sim,
no interior do texto. A trajetória da pesquisa, no período de janeiro a julho de 2012,
será apresentada e analisada, a partir do objeto de estudo escolhido, com
apontamentos das matérias mais importantes, e analisando, especialmente, a quem
o jornal deu voz – categorizados aqui como Agentes da Fala –, o que ele não
discute, quem são os envolvidos, entre outros. Ressalta-se, ainda, que a análise foi
realizada seguindo a cronologia, com o intuito de expor o conflito exibido nas
matérias do jornal.
O primeiro Agente da Fala que obteve voz no jornal, em 17 de janeiro de 2012
– considerando-se esta a primeira matéria divulgada que envolvia o tema –, foi uma
empresa, a rede de supermercados Pão de Açúcar, que teve destaque no caderno
Mercado, conforme a seguir:
Figura 18 – Matéria Folha de S. Paulo – 17/01/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
62
A matéria, cujo título em negrito deu ênfase ao nome do supermercado e foi
disponibilizada metade superior da página, aponta as ações que a rede de
supermercados tomaria para preservar o meio ambiente. Umas das ações seria o
monitoramento da emissão de carbono e o texto enfatizou a extinção das sacolas, a
matéria cita ainda o alinhamento do supermercado com a APAS e específica que
“em fevereiro, a rede iniciaria a venda também no Estado de sacolas ‘verdes’ que
longa duração que deveriam custar R$ 2,99”. Aparece aqui outra categoria Custo: o
preço das sacolas. Nesta primeira matéria analisada, supõe-se que a extinção das
sacolas daria lugar a um novo mercado de venda de sacolas, pois não foi
mencionada, na matéria, uma forma sem custo para consumidor sim aparece o
custo das sacolas.
Posteriormente a isso, no dia 19 de janeiro de 2012, a segunda matéria sobre
assunto, divulgada no caderno Mercado, explicou o processo de produção das
sacolas “verdes”, que seriam feitas de amido de milho. Entra em cena a seguinte
categoria de análise desta pesquisa: a Tipologia das sacolas, pagas ou gratuitas.
Logo abaixo daquela, outra matéria apontava para a preocupação dos
supermercadistas que não fizeram reserva das sacolas; previa-se a possível falta de
sacolas biodegradáveis em 25 de janeiro, dia em que teria início o definitivo fim das
sacolas derivadas de petróleo, conforme matéria a seguir:
Figura 19 – Matéria Folha de S. Paulo – 19/01/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
63
O título e o subtítulo da matéria aparentemente expressam que todas as
redes de supermercados estão preocupadas com a falta de sacolas, porém, no
corpo da matéria, o jornal cita apenas o supermercado Master – uma rede do Rio
Grande do Sul – e destaca a precaução dos grandes, com o seguinte texto: “Pão de
Açúcar, Extra, Carrefour e Walmart encomendaram mais de um milhão de unidades
em dezembro e têm estoque garantido”, além de mencionar que a procura pela
sacola biodegradável ocorreria somente no início, e depois os consumidores
prefeririam as sacolas retornáveis. A matéria ainda apresenta a APAS com o
seguinte discurso: “Não é verdade que está faltando sacolinha biodegradável. Se
faltar em um ou outro supermercado, isso não é problema. As caixas de papelão
estão aí para ajudar nos primeiros dias” e “O ponto é uma descartável por uma
reutilizável. A de R$ 0,19 é um paliativo”, disse João Galassi, presidente da APAS.
Do lado direito do jornal, a Folha de S. Paulo também divulgou que
promoveria um debate com o Presidente da APAS, o Presidente da Plastivida
(representando a indústria do plástico), o Secretário Estadual do Meio Ambiente, e o
Presidente do Idecon – Instituto Nacional de Defesa do Consumidor.
Dando continuidade à análise da categoria Tipologia das sacolas e Custo das
sacolas, no caderno Mercado do dia 20 de janeiro de 2012, o jornal publicou uma
matéria, cujo título “Na Zona Leste, consumidor já adere à sacola retornável”
enfatiza o uso das sacolas pagas em determinada região da cidade. Logo após, o
subtítulo realça a busca do consumidor por alternativas gratuitas, as caixas de
papelão. No chamado ‘olho da matéria’, o jornal menciona queixas do consumidor
por pagar pelas sacolas biodegradáveis e também por ter de misturar produtos de
limpeza com alimentos, conforme exibido a seguir:
64
Figura 20 – Matéria Folha de S. Paulo – 20/01/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
A matéria comenta que “Apesar de reclamar de pagar [...], o paulistano
parece estar preparado para o fim do uso das embalagens plásticas cedidas
gratuitamente”. Aparentemente o jornal Folha de São Paulo já coloca a situação com
certa, pela matéria o jornal consolida a aceitação do consumidor pelo uso da sacola
retornável e extinção das sacolas tradicionais. No corpo da reportagem, o jornal dá
voz aos consumidores que se posicionam contra e a favor das sacolas
biodegradáveis e sobre o custo dessassacolas. Aqueles que estão contra,
apresentam, como principal motivo, que não poderiam mais reutilizar as sacolas
para acondicionar lixo. Quanto aos favoráveis, o jornal justifica que “os
consumidores estão recebendo bem a mudança e que isso tem relação com o
trabalho de conscientização que está sendo feito há quase um ano pela varejista”,
este trecho retirado da matéria anterior, aparentemente aponta que o jornal deu voz
aos supermercados, mostrando que foi realizada conscientização dos consumidores.
O encerramento da matéria apresenta a gerente de uma loja do Carrefour com o
seguinte discurso, sobre as alternativas de acondicionamento das compras, ou
Tipologias de sacolas: “Deixamos as caixas à mostra e os clientes pedem para usá-
las ou pegam automaticamente. As sacolas também ficam à mostra e têm um preço
acessível”.
Novamente, deu-se destaque para o debate promovido pelo jornal, com as
participações do presidente da Associação Paulista de Supermercados, João
65
Galassi; do presidente do Instituto Socioambiental dos Plásticos, Miguel Bahiense;
do secretário do Meio Ambiente, Bruno Covas; e do presidente do Instituto Nacional
de Defesa do Consumidor, Reginaldo Sena e com a mediação de Morris Kachani.
No título da matéria, entende-se que o consumidor, de certa forma, já aderira
à sacola; porém, no corpo da matéria, as vozes de alguns consumidores
argumentam contra e favor. Já no encerramento da matéria, a gerente do Carrefour
aponta que os consumidores estariam satisfeitos, sem exceção – o que não condiz
necessariamente com o contexto explicitado.
No dia 22 de janeiro, domingo – dia com maior volume de vendas do jornal,
pois a maioria das pessoas está em casa e nesse dia –, o jornal traz um conteúdo
diferenciado como revista, caderno exclusivo de anúncios, entre outros. Exatamente
com três dias de antecedência para o previsto fim das sacolas nos supermercados
do estado de São Paulo, o jornal publicou uma matéria com o seguinte título: “Em
busca da sacolinha ideal”.
Figura 21 – Matéria Folha de S. Paulo – 22/01/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
Ainda discutindo a categoria Tipologia das sacolas e Custo das sacolas,
nessa data, houve grande destaque para a matéria, com quase duas páginas. Ao
lado esquerdo, o colorido do azul turquesa que convida o leitor a refletir sobre a
66
questão da melhor forma para acondicionar as compras. E também a discussão
sobre a categoria Sustentabilidade, mostrando o impacto de cada opção de sacola.
Nessa parte matéria, o jornal explica as vantagens e desvantagens das sacolas de
pano, biodegradáveis; das caixas de papelão e das sacolas de feira. Todas essas
informações estão ao entorno da página, na parte azul. Ao centro da página, um
branco que remete uma sacola mostra que existem pessoas que não querem pagar
os R$ 0,19 pela sacolinha. A reportagem cita novamente que os consumidores
também reclamam por ter de misturar produtos de limpeza com alimentos; todavia, o
jornal não deu ênfase para isso, já que essas informações não estão grifadas em
negrito e não são destacadas na matéria.
Na página ao lado, entra-se em outro tipo de discussão sobre a categoria das
sacolas pagas. A matéria com o título “Consumidor descobre sacola de charme”, e
com o subtítulo “Ecobags se tornam objeto de desejo e invadem Fashion Week”,
apresenta um novo ângulo de toda essa discussão.
Um dos maiores eventos de Moda que acontece no mundo, e tem como sede
a cidade de São Paulo, aderiu a moda, “mas poucas agregam sustentabilidade no
feito”, afirma a matéria, em cujo corpo explicitam-se os contrapontos aos objetivos
da campanha. Confirma-se parte desse argumento no trecho a seguir:
No Brasil, são pouquíssimas as sacolas retornáveis disponíveis que cumprem esses requisitos, até porque o preço vai às alturas. Uma legítima ecobag como a da Osklen [loja de grife], feita com lona de juta da Amazônia e confeccionada por uma comunidade de costureiras do Rio de Janeiro, não sai por menos de R$ 200.
A consultora de moda da GNT, Lilian Pacce, afirma que “a sacola não precisa
necessariamente ser feita com tecido ecológico; o que define é a durabilidade e
resistência que vai proporcionar um tempo de uso maior”, contradizendo a
campanha da APAS, pois, de fato, o mercado de moda aproveitou-se da polêmica
das sacolas e lançou vários produtos. Estilistas renomados colocaram frases de
impacto nas sacolas como “o amor é a essência do universo”, ou pinturas clássicas
para agregar valor às sacolas, mas essa indústria da moda – percebeu-se, durante a
execução desta pesquisa – pouco se preocupou em atender às necessidades
ambientais; e, sim, preocupou-se em atender às necessidades do mercado de
moda, utilizando, inclusive, um evento de grande relevância para tal. O jornal, talvez
67
por ter abordado a questão no caderno Mercado, não cita o acordo da APAS com o
Governo ou nenhum outro elemento polêmico ligado ao caso das sacolas.
Dia 23 de janeiro de 2012, segunda-feira, o jornal publicou uma matéria no
caderno Mercado. Esse caderno, às segundas-feiras, chama-se Folhainvest. Na
matéria intitulada “Indústria diz sentir o impacto do fim das sacolas gratuitas”, o foco
vai para um Agente da fala, subcategoria das Empresas, representada pelo
presidente do Instituto Socioambiental dos Plásticos, entidade que representa a
indústria do plástico. Miguel Bahiense afirma, “O varejo já cortou pedidos e isso já
começa a gerar demissões e cortes de gastos pelas empresas”. Na reportagem, o
presidente informa que não sabe qual o valor do prejuízo para a indústria; porém, ele
ressalta “que está em jogo um faturamento anual de R$ 200 milhões (pouco menos
da metade dos R$ 500 milhões estimados para todo o Brasil), seis mil empregados
diretos, e 28 mil indiretos”, conforme demonstrado abaixo:
Figura 22 – Matéria Folha de S. Paulo – 23/01/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
Outra voz que aparece na matéria, representado a subcategoria Empresas, é
a de Paulo Coelho, da Braskem – “gigante do setor de petroquímico” –, a maior
fornecedora de resina utilizada na fabricação das sacolas tradicionais. O executivo
responsável pela área de polietileno informa que “a demanda pela matéria prima
cresceu a um ritmo acelerado”, mas atribui isso à desaceleração da economia
68
brasileira. O jornal indica que o Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour juntos
representam 43% do mercado.
Logo ao lado, foi publicada uma matéria que aponta o crescimento de vendas
de sacolas de lixo e retornáveis, apontando que, em Belo Horizonte, houve aumento
na demanda de sacos de lixo de 15%, como afirma a AMIS – Associação Mineira de
Supermercados, já que, na capital de mineira, a campanha teve início em 2011. A
reportagem mostra, ainda, o caso da empresa Percon, que fornece sacolas
retornáveis, no interior, e aumentou seu faturamento em 100%. Trata-se de um
contrassenso, pois, o objetivo é reduzir o consumo de sacolas plásticas, mas, não
necessariamente aumentar o consumo de sacos de lixo.
Finalmente, no dia 25 de janeiro, o dia de início do acordo para o fim da
distribuição de sacolas convencionais no Estado de São Paulo – dia de aniversário
da cidade –, o jornal disponibilizou meia página do caderno Mercado para discutir o
assunto, conforme recorte a seguir:
Figura 23 – Matéria Folha de S. Paulo – 25/01/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
Como se observa na figura anterior, o título da matéria foi “Fim das Sacolas
começa hoje sob polêmica”, e no subtítulo: “Indústria do Plástico diz que acordo
gerará economia para os supermercados, que passarão a cobrar por sacolinhas”.
69
Em seguida, no ‘olho da matéria’, a APAS defende que “Modelos biodegradáveis
estão a preço de custo”. Na sequência, a reportagem destaca o debate que foi
organizado pela Folha de S. Paulo, cujos participantes foram: João Galassi, da
APAS; Miguel Bahiense, da Plastivida; Bruno Covas, secretário estadual do Meio
Ambiente; e Reginaldo Sena, do Idecon. Na figura anterior, é possível ver alguns
trechos do debate, na parte esquerda, e, para que possamos melhor demonstrar,
segue um trecho extraído do jornal.
Figura 24 – Matéria Folha de S. Paulo – 25/01/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
Na primeira pergunta que o jornal faz no debate, percebe-se que o Governo,
como Agente da fala, não é colocado em evidência, já que a pergunta é bastante
objetiva: “Porque a APAS vai banir as sacolas plásticas descartáveis dos
supermercados?”. Enquanto a APAS apenas fechou um acordo com os
supermercados, aproveitando o projeto de LEI PL62, conforme já citado
anteriormente. A resposta do Presidente da APAS é a seguinte: “É uma demanda da
sociedade, queremos substituir sacolas descartáveis, por reutilizáveis. A questão é
de mudança de hábito e adequação ao uso de alternativas, como caixa de papelão,
carrinhos de feira e etc.”. Chama a atenção o presidente da APAS mencionar que “é
uma demanda da sociedade”. Sim, é uma demanda da sociedade, bem como uma
demanda do setor público e privado, conforme mencionada no primeiro capítulo; no
70
entanto, a APAS não comenta essas vertentes, deixando, assim, a responsabilidade
para o cidadão.
Já o Presidente da Plastivida, Miguel Bahiense retruca: “Banir nunca é a
solução”, e diz que já foram tomadas outras medidas pare reduzir a quantidade de
sacolas consumidas. O ministro Bruno Covas mantém-se neutro no debate,
mostrando-se preocupado com os empregos da indústria e com os impactos
ambientais. Porém, um dos propulsores para que essa ação acontecesse foi o
Governo do Estado de São Paulo, que apoiou a APAS. O governado Geraldo
Alckmin, juntamente com o ministro Bruno Covas, assinaram um acordo com APAS
em 2011, como mostra o trecho extraído do site do Governo do Estado de São
Paulo, em 2014:
Assinamos aqui o decreto dando uma dilatação de 30 dias de prazo pare recolhimento do ICMS dos negócios aqui gerados. Assinamos também um protocolo para gradualmente substituir o saco plástico por uma sacola biodegradável ou retornável, que é até o ideal.
Aparentemente, o Governador estava mais preocupado com o ICMS do que
com a isenção das sacolas tradicionais e, na ocasião, o ministro Bruno Covas
participou do evento da APAS, mas, agora, no debate, posiciona-se neutro na
situação.
Por fim, Reginaldo Sena, do Idecon, apenas se opõem dizendo que “o
consumidor tem direito à sacola.
A segunda pergunta feita pelo jornal, no debate, foi: “A sacola biodegradável
custa R$ 0,19. Por que o supermercado não banca a despesa?” Apenas o
presidente da APAS respondeu, de acordo com a matéria: “O ponto é uma
descartável por uma reutilizável. A de R$ 0,19 é um paliativo em um momento
transitório”.
Após suspensão da distribuição das sacolas descartáveis, o jornal publicou
uma matéria, no caderno Mercado, no dia 26 de janeiro de 2012, com o título,
“Sacolinha paga encalha no supermercado”, conforme a seguir:
71
Figura 25 – Matéria Folha de S. Paulo – 26/01/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
A matéria dá voz agora ao Consumidor, como Agente da fala, apresentando o
caso da cliente que comprou a sacola biodegradável e a sacola estourou.
Questionou-se se a cliente deveria comprar duas. E também o caso de um cliente
que comprou dez sacolas, mas usou apenas sete; as outras, ele levaria para casa. A
matéria apontou ainda que faltaram caixas na loja do Carrefour Villa-Lobos.
Ao final da matéria, volta o Presidente da APAS, João Galassi, com o
seguinte discurso: “A adesão foi ótima. É uma mudança de comportamento que o
consumidor gostou de fazer”. Em seguida, dando voz novamente ao Consumidor,
outra colocação enfática, entre aspas: “O fim da sacolinha (de plástico) é importante;
fizemos um trabalho educativo sobre as sacolas retornáveis da escola onde leciono”.
Quem assina o texto é um professor de geografia.
À direta da matéria, as fotografias exibem três exemplos de Consumidores:
uma dona de casa reprova, mas está sorrindo; outra consumidora é prevenida, pois
levou as próprias sacolas; e, na última, mãe e filho aprovam a medida.
Logo a seguir, uma matéria explica sobre o processo de extinção das sacolas,
no interior do estado. As vozes do presidente da APAS e do professor de Geografia,
72
que foram colocadas em evidência, apontam que os consumidores estavam
satisfeitos, e que a atitude era correta; porém, verificamos que alguns consumidores
não concordaram por ter de pagar pelas sacolas biodegradáveis. Nas imagens dos
consumidores, todos estão sorrindo e felizes, inclusive a consumidora que reprova o
novo procedimento nos supermercados; nesse caso, a partir da leitura das
fotografias, entende-se que todos estão felizes com o banimento das sacolas.
No dia 31 de janeiro de 2012, a capa do caderno Mercado utilizou
praticamente todo o espaço para falar sobre o assunto. O jornal publicou o resultado
da pesquisa Datafolha – respeitado formato de pesquisa que bastante utilizado em
diversas ocasiões. A pesquisa foi realizada entre os dias 26 e 27 de janeiro, na
cidade de São Paulo, e contou com a participação de 1.090 entrevistados; com a
margem de erro de 3 pontos percentuais, garantindo, assim, um nível de confiança
de 95%, segundo o jornal.
Nessa pesquisa, a primeira pergunta foi “Você é a favor ou contra o fim das
sacolinhas em supermercados em SP?” A opinião dos consumidores mostrou que
57% das pessoas aprovam o fim da distribuição das sacolinhas no Estado de São
Paulo. Logo no início da matéria, aparece a voz de Roberto Nascimento de Oliveira,
um professor da ESPM – renomada escola na área de propaganda e marketing da
cidade de São Paulo –, com a seguinte afirmação: “A aprovação é reflexo da
preocupação que existe na população com a questão do meio ambiente”. Em
seguida, o Professor Eduardo Andrade, do Ibmec – conceituada escola de negócios
no país –, também afirma: “Isso ocorre quando o comportamento do consumidor dá
sinais de mudança. [...] Isso explica a aprovação da medida logo após a
implementação”.
O jornal afirma que os consumidores concordam com o fim das sacolinhas,
porém, reprovam o uso de vendas das biodegradáveis. 66% dos entrevistados são
contra a cobrança das sacolas, e 57% não pretendem comprar as sacolas; 63%
preferem o uso das sacolas retornáveis e afirmaram que usaram ecobags. 24% dos
entrevistados citaram os carrinhos de feira e 20% usaram as caixas de papelão.
O professor da ESPM explica o motivo pelo qual a pesquisa obteve dados
desfavoráveis dos consumidores: “As sacolas plásticas eram um custo dos
73
supermercados repassado aos preços. Seria melhor que mostrassem agora se
houve redução de preços com o fim deste gasto”. A seguir, a página da matéria:
Figura 26 – Matéria Folha de S. Paulo – 31/01/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
Na parte inferior, ao lado esquerdo, deu-se voz à professora Dra. Priscila
Bordin Claro, de gestão Ambiental do Insper, que apontou que esse acordo teve
alguns fatores que não foram considerados, como o quanto as sacolinhas derivadas
do petróleo poluem. A professora explicou ainda que a mesma sacola poderia ser
reutilizada, e concluiu que a compra de sacos de lixo e de outros tipos de sacolas
mexeria diretamente com o hábito de compra do consumidor e com o orçamento
mensal. Ela afirmou que o custo das sacolas antigas está sendo repassado para o
consumidor, favorecendo a indústria, e questionou se o custo de panfletos, outdoors,
etc. teria como motivador a sustentabilidade. Criticou também o governo, que não
teria um uma estratégia estruturada e possuía apenas ações fracas; ela citou
74
quando morou na Holanda e exemplificou com o sistema eficiente de separação de
lixo, naquele país.
Como demonstrado, a pesquisa Datafolha trouxe diversos indicadores sobre o
fim das sacolinhas, porém percebe-se que o título da matéria usou uma informação
a favor, apontando que a maioria era a favor do fim da distribuição das sacolas.
Inclusive na imagem da matéria, mostrada anteriormente, tem-se essa métrica como
destaque, pois é o maior gráfico apresentado. O jornal poderia ter usado a
informação de que a maioria não queria pagar pelas sacolas biodegradáveis ou que
os paulistanos aprovaram uso das sacolas retornáveis; além disso, as vozes de
professores de renomadas instituições de ensino foram usadas para fomentar a
ação do fim das sacolas. A voz contra ficou desfavorecida, sem destaque, sem
cores, na parte inferior da matéria, ao lado de um informe publicitário. Suspeita-se
tratar de favorecimento ao acordo que beneficiaria o mercado, supermercados e
governo, desfavorecendo assim o consumidor, pois, acredita-se que o custo tenha
sido repassado para este, não aparecendo, até esse momento, nenhuma vantagem
para o consumidor. Apenas consegue-se perceber as vantagens para o setor
supermercadista, enfatizado até pelo fato de a discussão figurar em um caderno
econômico.
O que leva a pensar na hipótese também que a APAS teria favorecimento nos
espaços do jornal é a voz dada à associação, que aparece diversas vezes, tendo um
espaço exclusivo no primeiro caderno; além de o discurso do presidente da APAS,
João Galassi, ser alinhado com as suspeitas de que as matérias estivessem a favor
do acordo do fim das sacolinhas. Na última matéria comentada, percebe-se o
favorecimento das informações em prol da campanha da APAS em parceria com o
governo.
No dia seguinte, a matéria da APAS já inicia com a seguinte informação em
negrito: “A população apoia a troca das sacolas descartáveis por sacolas
reutilizáveis; não se pode ignorar o dano que elas causam ao meio ambiente”. O
presidente da APAS, então, menciona a parceria com o Governo “A campanha tem
apoio do Governo do Estado de São Paulo e de várias prefeituras”:
75
Figura 27 – Matéria Folha de S. Paulo – 02/02/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
A matéria contém dados da pesquisa Ibope Inteligência, reafirmando que os
consumidores aprovaram o acordo e que, na expansão para outras localidades,
percebeu-se a cidade mais limpa. Todavia, não é mostrado o interesse e lucros dos
supermercados por não repassarem os custos das sacolinhas para os produtos, a
parte mais afetada até então seria o consumidor, por isso, suspeita-se – e há aí uma
pista – de que o jornal queria convencer o consumidor de que o fim da distribuição
era aceito pela maioria.
Em fevereiro de 2012, os supermercados começaram a vender sacolas
retornáveis e ficou decidido o valor de até R$ 0,59 por sacola. Outras opções seriam
as sacolas plásticas biodegradáveis, produzidas a partir de amido de milho ou de
material reciclado, pois, com esse tipo de material, a sacola se degredaria fácil e
rapidamente. O consumidor tinha também como opção levar as próprias sacolas ou
outro meio de acondicionamento de casa, como já mencionado. Foi cogitada ainda a
possibilidade de usar a sacola em forma de empréstimo, ou seja, o consumidor
76
emprestava a sacola do supermercado e, ao devolver a sacola, poderia receber
dinheiro de volta ou desconto em produtos. Todavia, nada foi definido nesse sentido.
O acordo firmado entre a APAS e o Governo do Estado de São Paulo entrou
em vigor, no entanto, em fevereiro de 2012, houve outro acordo com o Ministério
Público do Estado de São Paulo, PROCON–SP e APAS. Essas entidades firmaram
o TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para que o consumidor tivesse tempo
hábil para se adequar às novas regras e, ainda, para que as sacolas fossem
distribuídas gratuitamente por mais sessenta dias, com o intuito de adaptar o
consumidor ao novo formato de compras nos supermercados. Os atendentes dos
caixas nos supermercados deveriam informar os consumidores sobre a nova
medida, antes da realização do pagamento da compra. Caso o supermercado
descumprisse esse acordo, estava sujeito à multa no valor de R$ 25 mil, por dia.
Durante esse período de adaptação, 66 supermercados foram fiscalizados e 18 não
respeitaram o acordo. A fiscalização foi realizada com a denúncia dos próprios
consumidores.
De acordo com Renan Ferracioli, diretor de fiscalização do PROCON–SP,
“um dos autuados não fornecia alternativa gratuita aos consumidores, o que
caracterizava prática abusiva, pelo artigo 39 do código de defesa do consumidor”.
Outros estabelecimentos foram autuados pela falta de informação ao consumidor, as
multas aplicadas poderiam variar de R$ 400 a R$ 6 milhões.
Essa mudança atingiu as lojas associadas da APAS em 150 cidades, onde
residem 80% da população do estado de São Paulo. Outro número que chamou
bastante atenção: mensalmente, 2,5 milhões de sacolinhas descartáveis eram
consumidas na capital paulista, de acordo com a matéria publicada no caderno
Mercado:
Figura 28 – Matéria Folha de S. Paulo– 04/02/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
77
Entende-se que essa informação é de grande interesse para o consumidor,
afinal ele não precisaria mais desembolsar dinheiro para comprar sacolas e, logo,
não teria seu orçamento afetado. Entretanto, a matéria teve pequena chamada na
capa do primeiro caderno, sem destaque, na parte inferior ao lado esquerdo, quase
imperceptível. A matéria do caderno Mercado também foi pouco explícita,
diferentemente da ênfase concedida pelo jornal em ocasiões anteriores – como as
duas páginas para explicar sobre as sacolinhas, ou quando usou a capa do caderno
Mercado para destacar que os consumidores aprovaram o termo. Dessa forma,
pode-se afirmar que o jornal deu pouca atenção a essa matéria, que não era a favor
da APAS e do Governo.
No dia seguinte, domingo, 5 de fevereiro de 2012, o jornal publicou uma
matéria – novamente no caderno Mercado –, cujo título foi “Fracassa venda de
sacola biodegradável nos supermercados”:
Figura 29 – Matéria Folha de S. Paulo – 05/02/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
A matéria explica o acordo feito pelo PROCON, APAS e Ministério Público.
Na primeira coluna, a voz da APAS faz-se presente com a seguinte informação “do
volume originalmente distribuído em sacolas, somente 2,6% foram substituídos
pelas sacolas biodegradáveis” e ainda “Sempre dissemos que a sacola
78
biodegradável era um produto de transição até o consumidor se acostumar com a
ideia de levar a sacola retornável”. Na parte superior da matéria, ao lado direto, a
foto de um consumidor segurando a sacola e, ao lado deste, com destaque entre
aspas, mais uma vez a voz da APAS com assinatura do presidente da associação,
João Galassi: “Por sugestão do Ministério Público e do PROCON decidimos eliminar
de vez essa sacola [biodegradável]; vários supermercados partiram para o uso direto
da sacola retornável”.
Nessa matéria, o jornal omite um dos interessados na questão, a Plastivida
representante da indústria do plástico. Já a APAS aparece em três momentos
distintos, e o nome do presidente, duas vezes. Não há a voz do consumidor ou sua
opinião. Com isso, novamente, explicitam-se indícios de favorecimento da APAS nas
matérias do jornal, pois a voz do PROCON e do Ministério Público – órgãos ligados
ao Termo de Ajustamento de Conduta, TAC – não foi mencionada em nenhum
momento nessa matéria.
O posicionamento da APAS também não foi adequado, pois o TAC é uma
obrigação que a APAS deve cumprir e, no trecho em negrito ao lado direto da
matéria, João Galassi afirma que foi uma sugestão do Ministério Público quando, na
verdade, era uma obrigação. Outro ponto interessante é que, no TAC, os
supermercados seriam obrigados a dar sacolas grátis para os consumidores no dia
12 de março (dia do consumidor). E essa informação não foi mencionada pela
APAS; afirmando que havia sido parte de uma “conversa” com o Ministério Público,
quando, na realidade, foi um termo que assinado pela APAS. Mais uma vez,
constata-se o silenciamento da mídia.
Em 9 de março de 2012, a pedido da Plastivida, o CONAR – Conselho de
Autorregulamentação Publicitária –, órgão que regulamenta as campanhas
publicitárias no Brasil, através da diretoria e do conselho de ética, decidiu, por
unanimidade, interromper a campanha da APAS, “Vamos Tirar o Planeta do Sufoco”.
A campanha teve veiculação na mídia impressa, nos supermercados e nas redes
sociais, conforme a seguir:
79
Figura 30 – Matéria Folha de S. Paulo – 09/03/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
A matéria foi publicada no caderno Mercado, ao final de uma das páginas,
com pouca evidência, não tendo sido mencionada na capa do primeiro caderno. No
lançamento da campanha “Vamos tirar o planeta do sufoco”, o jornal deu muita
ênfase ao assunto, como evidenciado anteriormente; porém, para essa importante
questão, o jornal não deu qualquer destaque. O título da matéria, como se vê acima,
foi: “Conar reprova campanha contra sacolinha”. Evidencia-se a voz da Plastivida,
com a seguinte fala: “É uma tentativa de propaganda enganosa porque a campanha
diz que a sacola é descartável, quando é reutilizável”. O Advogado da Plastivida
ainda reforça: “A Sacola nunca foi fornecida gratuitamente. E, apesar de deixar de
distribuí-las, continuaram a ser cobradas de forma indireta”. Ou seja, essa
informação poderia ter sido divulgada no caderno Cotidiano, já que a Folha de São
Paulo é um jornal a serviço do Brasil. Nessa briga de gigantes, de qual Brasil o jornal
está falando? Pois o cidadão precisa saber que o custo das sacolinhas está incluído
nos alimentos adquiridos, e essa informação não foi evidenciada pelo jornal. A
APAS, mais uma vez, tem voz na matéria, e diz não ter sido notificada sobre o
assunto, e que recorrerá da decisão, conforme informado pela área jurídica.
Um dos termos acordados no TAC foi a distribuição de sacolas gratuitas do
dia do consumidor, porém este teria de comprar cinco itens no supermercado para
receber as sacolas. O jornal publicou uma matéria, no dia 15 de março, no caderno
Mercado, com o seguinte título: “Consumidor recebe sacola reutilizável grátis em
São Paulo”, conforme a seguir:
80
Figura 31 – Matéria Folha de S. Paulo – 15/03/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
Logo no inicio da matéria, tem voz a APAS, e, desta vez, a Associação não
usou o presidente João Galassi e, sim, João Sanzovo, diretor de sustentabilidade,
com a seguinte fala: “Reduzimos em 80% o uso de sacolas descartáveis no Estado
de São Paulo. A adesão a campanha mostra que o consumidor está disposto a
contribuir para melhorar as condições do ambiente”. O trecho citado no corpo da
matéria destaca que, de fato, existe um embate entre os supermercados e a
indústria do plástico que, como citado anteriormente, recorreu ao Conar para
suspender a campanha da APAS. Nessa matéria, a Plastivida ganha voz novamente
para falar sobre o assunto da campanha, por meio seu advogado: “É uma tentativa
de propaganda enganosa. A campanha diz que a sacola é descartável quando é
reutilizada, comprovadamente por pesquisas feitas com a população”. Em seguida
aparece, em negrito, a voz da APAS, com muito destaque “Reduzimos em 80% o
uso de sacolas descartáveis no Estado, o que mostra a conscientização do
consumidor”.
Suspeita-se, novamente, de favorecimento da APAS pelo jornal, pois, nesse
embate, a associação aparece na maioria das matérias; não apenas uma vez, mas
muitas e muitas vezes, com destaque em negrito e entre aspas, evidenciando a fala
81
dos representantes da APAS. Entende-se que, nesse embate entre APAS e indústria
do plástico, pelo que se pode perceber analisando os recortes do jornal, fica de fora
a voz do consumidor, tendo este ficado prejudicado pela circunstância, já que o
jornal disponibilizou para elepouco espaço. Tratando, inclusive, as informações no
caderno Mercado, pouco se comentando sobre o meio ambiente ou a
sustentabilidade. Outra pista que leva a crer nessa possibilidade foi a não divulgação
do jornal da denúncia feita pelo Idecon no dia 28/03/2012 – o órgão fez uma
denúncia em audiência pública, na Câmara dos Deputados, contra o Extra, o
Carrefour e o Walmart. Segundo o Idecon, os supermercados vendiam sacolas da
China e do Vietnã. A seguir, um recorte do documento – que estará, em seu
conteúdo integral, no anexo desta pesquisa.
Figura 32 – Denúncia feita pelo Idecom – 28/03/2012
Fonte: www.camara.gov.br
Além de criticar os supermercados, o Idecon critica ainda a APAS sobre a
campanha que, de fato, não discutia outras preocupações com o meio ambiente,
como o uso de outros tipos de embalagens, argumentando que só retirar as sacolas
de circulação não resolveria. Esse fato, aparentemente importante e que estava a
favor do consumidor, o jornal não noticiou.
A despeito da discussão sobre a origem das sacolas vendidas, conforme
constava no TAC, fossem sacolas chinesas ou vietnamitas, os supermercados que
82
não estivessem de acordo seriam multados. E, ao todo, o PROCON multou 18
desses estabelecimentos.
Próximo dos 60 dias, conforme acordo firmado pelo TAC, o jornal divulgou
uma informação na capa do primeiro caderno, no dia 3 de abril de 2012, pois, assim
que a data acordada pelo TAC entrasse em vigor, as sacolas não seriam mais
distribuídas pelos supermercados. No caderno Mercado, em matéria na mesma
data, o título: “Varejo sugere que saco de lixo tenha tributo menor” discute a
questão, pois, com o fim da distribuição de sacolas, aumentaria a procura por sacos
de lixo. Percebe-se, então, uma discussão centralizada nos interesses do mercado.
Com o fim da distribuição das sacolas descartáveis, os supermercados
estavam proibidos de vender as sacolas feitas de amido de milho, porém, os
supermercados teriam até agosto para oferecer uma sacola com o custo de R$ 0,59.
Uma solução proposta pelos supermercados foi disponibilizar a sacola “vaivém” e o
jornal publicou, no dia 4 de abril, outra matéria, no caderno Mercado, com o título
“Supermercados vão dar sacola ‘vaivém’” – e a matéria explicou os pontos positivos
e negativos. Destaca-se que a APAS aparece duas vezes, no início e no meio da
matéria.
Até então, percebe-se que o jornal enfatizou positivamente o fim das sacolas
e a APAS sempre apareceu, de alguma forma, com força na voz e ênfase nas suas
falas. Poucas vezes viu-se a Plastivida e o Consumidor com falas enfatizadas,
sendo que, quando do aparecimento da voz dos consumidores, eles expressaram
várias críticas. A partir da exposição dessas hipóteses, acredita-se que exista algum
fator favorável à APAS, devido à sua parceria com o Governo para lançar a
campanha “Vamos tirar o planeta do sufoco”.
Em 5 de abril de 2012, o jornal publicou uma matéria com o título “Bactérias
retornáveis”, com muito mais ênfase para esse assunto, já que havia uma chamada
na capa do primeiro caderno, na parte inferior, ao lado direto, com muitas cores –
propositalmente com o objetivo de chamar atenção. No caderno Mercado, uma
página inteira com muitas cores e ilustrações. Novamente, nessa matéria aparecem
as falas da APAS, mas não consta a voz da Plastivida; contudo, cedeu-se espaço
para o consumidor, de forma moderada.
83
A Folha de São Paulo encomendou uma pesquisa para verificar se as
ecobags continham micro-organismos, e o resultado, conforme publicação a seguir:
Figura 33 – Matéria Folha de S. Paulo – 05/04/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
A pesquisa foi realizada com a quantidade de 100 sacolas. A maioria das
sacolas continha micro-organismos, conforme observado abaixo:
88 sacolas continham micro-organismos
07 sacolas continham coliformes (05 sacolas com mais de mil coliformes)
59 sacolas continham bolor
A matéria dava ainda algumas dicas de como usar a sacola e lavá-la
apropriadamente. Ao lado direto dessa matéria, havia outra, com o título:
“Consumidor reclama no primeiro dia sem sacolinha plástica em SP”. Aparecem aqui
as vozes de alguns consumidores, como Elizabete Biblia: “Minha filha é farmacêutica
e somos contra o uso de caixas. Mas se esqueço a sacola vou fazer o quê?
Carregar na mão?”. Um aposentado posicionou-se contra: “Não concordo, mas vou
pagar”. Outra consumidora afirmou: “É uma questão de costume”. Um estudante
questionou: “Pelo lucro que os supermercados têm, deveriam oferecer de graça as
biodegradáveis, antes vendidas por R$ 0,19”. Acreditou-se que esta seria apenas
84
outra matéria, com pontos sobre o tema das sacolas e que as vozes a favor da
campanha não fossem aparecer; porém, não foi dessa forma. Por último, como de
costume, deu-se voz à APAS: “O consumidor está mais preparado para mudar o
hábito”, afirmou o presidente da associação.
Em maio de 2012, no dia 22, o jornal publicou outra pesquisa Datafolha,
conforme abaixo:
Figura 34 – Matéria Folha de S. Paulo– 22/05/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
Desta vez, a pesquisa teve um retorno diferente. Conforme dito
anteriormente, em janeiro de 2012, o jornal realizou uma pesquisa e o resultado foi
que 57% das pessoas eram a favor do fim das sacolinhas. Porém, nessa nova
pesquisa, o resultado foi diferente. Aqui foram entrevistadas 612 pessoas, entre os
dias 3 e 4 de abril, e a pesquisa foi solicitada pela Plastivida – organização que
defendeu o setor de plástico nesse embate das sacolas.
Obteve-se o seguinte resultado: 69% dos entrevistados queriam a volta da
sacolinha aos supermercados. A matéria deu voz à gerente responsável pela
pesquisa: “As pessoas só sentiram ‘na pele’ o que é ficar sem a sacolinha agora. Na
primeira pesquisa o tema estava mais recente. [...] para dois terços dos
85
entrevistados a retirada beneficia mais os supermercados”. Outro dado importante é
que 61% dos entrevistados deixaram de fazer compras, devido ao banimento das
sacolas. Quando perguntada a opinião sobre o principal motivo da retirada das
sacolas, os entrevistados responderam:
43% interesses econômicos
35% imposição de autoridades
22% preocupação com o meio ambiente
Outra pergunta interessante foi: “Quem mais ganhou com a retirada das
sacolas plásticas dos supermercados?”
64% responderam os supermercados
33% responderam o ambiente
03% responderam o consumidor
Uma pergunta que afeta diretamente o consumidor foi: “Percebeu mudança
no preço dos produtos após a retirada das sacolas plásticas?”
75% responderam não percebeu mudança
23% responderam percebeu aumento no preço
02% responderam percebeu redução nos preços
Sobre as sacolas retornáveis e ecobags, 73% dos consumidores são contra a
cobrança; a APAS, por sua vez, também teve voz e respondeu: “O índice de preços
do setor caiu 0,11% de janeiro a março de 2012”. Como de costume, a associação
teve espaço de fala na matéria, com conteúdo em destaque: “Em Jundiaí, após um
ano, 77% aprovam o banimento. O consumidor percebe, com o tempo, os
benefícios”, afirmou o presidente da APAS, João Galassi – figura que aparece em
diversas matérias quando se dá voz à associação.
Em junho de 2012, após notificação da decisão da liminar da juíza Cynthia
Torres Cristófaro, a 1ª vara Central da Capital, decidiu que as redes de
supermercados precisavam continuar com a distribuição gratuita de sacolas
86
plásticas nos estabelecimentos. A liminar concedeu prazo de 2 dias, assim que
recebessem a notificação, para que as lojas voltassem a fornecer as sacolas
plásticas, como de costume. Para a Juíza, o banimento de distribuição gratuita das
sacolas “nitidamente onera desproporcionalmente o consumidor”.
No dia 26 de junho de 2012, o jornal publicaria, na capa do primeiro caderno,
na parte inferior ao lado esquerdo, uma chamada com o título em negrito: “Juíza dá
48 horas para sacolas voltarem a supermercados”. No caderno Mercado, no início
da página, a matéria tinha o título: “Supermercado terá de distribuir sacolinha”. Isso
ocorreu, pois a Associação Civil SOS Consumidor entrou com uma ação contra a
APAS e os grupos Sonda, Carrefour, Walmart e Pão de açúcar. A juíza ainda
solicitou que os supermercados disponibilizassem “gratuitamente em quantidade
suficiente embalagens de material biodegradável ou de papel adequadas para os
consumidores levarem as compras para casa sem cobrar nada”. A juíza argumentou
que “é notório que a prática comercial costumeira é do fornecimento, pelo lojista de
embalagem para eu o consumidor leve as mercadorias que adquire.” Portanto, os
supermercados, sem possibilidades de argumentação por parte dos grupos e por
parte da APAS, foram obrigados a distribuir as sacolas:
Figura 35 – Matéria Folha de S. Paulo– 26/06/2012
Fonte: Folha de S. Paulo
E o imbróglio das sacolinhas plásticas acabou tendo esse final, com a justiça
solicitando a distribuição gratuita, e para as outras partes interessadas pensarem em
seus interesses. Acredita-se que o consumidor tenha sido deixado de lado, conforme
comprovado nas matérias publicadas pelo jornal e analisadas aqui. Apenas na
última matéria deu-se voz à Associação Civil SOS Consumidor, que foi fundamental
87
para que as sacolas voltassem a ser distribuídas gratuitamente, e de forma correta,
pois, conforme observado nas matérias, a campanha da APAS não publicou que o
custo das sacolas estava introduzido nos custos dos produtos e, com o banimento
das sacolas plásticas, os custos dos produtos não tiveram nenhuma redução – o que
gerava, de fato, prejuízo ao consumidor final.
Todavia, a transferência do custo para o consumidor gerou muita polêmica,
pois os estabelecimentos reduziram seus custos e não primordialmente esse corte
foi repassado ao consumidor final. Outro ponto importante foi a incoerência dos
supermercados, ao não distribuírem mais sacolas plásticas, mas venderem as
sacolas sustentáveis – e ainda lucrarem com a venda dessas sacolas.
O custo da sacola já estaria embutido nos produtos e, aparentemente, isso
gerava ainda mais lucro para o supermercado, pois o custo não foi retirado dos
produtos e foi repassado para o consumidor, por isso, conclui-se que o interesse
econômico poderia favorecer os supermercados duas vezes, ou certamente iria
movimentar a indústria de sacolas de lixo. O Instituto Akatu realizou uma pesquisa
na qual se demonstrou que 98% das sacolinhas são reutilizadas pelos
consumidores, no lixo da cozinha, banheiro, entre outros. Esses consumidores
teriam de comprar sacos plásticos para suprir essas necessidades, o que de fato
faria com que se tivesse um custo extra para tal. Com esse número considerável,
entende-se por que a extinção das sacolas plásticas não seria aceita pelos
consumidores.
Foi questionado nesta pesquisa, Sustentabilidade Financeira ou
Sustentabilidade Ambiental? De qual sustentabilidade está-se falando, no caso das
sacolas? Para qual elemento o jornal deu mais voz? Se o viés foi ambiental na
teoria, na prática, perceberam-se vários fatores envolvidos. Um tema de grande
relevância e que teve vários elementos envolvidos, de diversas instâncias dos
setores públicos, privados e consumidores. Contudo, acredita-se que, partindo da
análise das matérias publicadas no jornal Folha de S. Paulo – análise esta
acompanhada quase diariamente para enriquecer a conclusão –, o interesse
econômico prevaleceu, a começar pelo fato das matérias estarem no caderno
Mercado – como tabela apresentada inicialmente –, até a natureza das discussões
88
do jornal, que foram indicadores de embate entre as indústrias, novamente, pouco
representando o consumidor.
Nesta análise, fez-se uma busca bastante linear nos títulos e subtítulos das
matérias, além de no corpo das matérias e selecionaram-se algumas categorias
como: Sacolas (sacolinhas) biodegradáveis e descartáveis, representando a
Tipologia das Sacolas. Custo das Sacolas: preço/custo. Os Agentes da Fala,
abordando Governo, Empresas e Consumidores; e o embate entre Sustentabilidade
e Consumo. Analisou-se, também – qualitativa e quantitativamente – a voz de cada
categoria dentro das matérias publicadas, bem como a relevância da abordagem
jornalística em cada caderno no jornal Folha de S. Paulo.
89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta dissertação buscou analisar e contribuir para as pesquisas de como a
mídia impressa – especificamente, neste caso, o jornal Folha de S. Paulo – abordou
o tema sustentabilidade, por meio de discussões sobre o imbróglio das sacolinhas
plásticas, e a Rio+20.
A revolução científico-tecnológica, juntamente com a industrialização e o
aumento das metas industriais, fizeram com que se aumentasse a exploração dos
recursos naturais, logo, com o passar dos anos, ficou inevitável pensar na
preservação desses recursos, entretanto, a preservação mudou de enfoque nos
1970 e, na atualidade, além da preservação ambiental deve-se pensar também
sobre os fatores econômicos (SEVCENKO, 2012).
O tema sustentabilidade vem chamando a atenção da sociedade, nos últimos
anos, por ser um tópico diretamente ligado à preservação ambiental, à natureza e ao
futuro das próximas gerações, impactando, portanto, intensamente a sociedade. Por
sua vez, a mídia tem o poder de divulgar informações e, além disso, de consolidá-
las. Conforme Barros Filho (2008, p.175), “a ideia central é simples: quanto menos
experiência direta tiveram os receptores em determinado tema, ou seja, quanto
menos um tema estiver presente na vida diária das pessoas, mais dependentes
estarão das mensagens mediáticas”, ou seja, as pessoas, ao não ter conhecimento
dos temas, buscarão a mídia para obter informações; nesse sentido, a mídia tem a
capacidade de ditar o que será noticiado, comentado e quais assuntos serão
prioritários na vida das pessoas.
De fato, confirmou-se – após análise dos dados estudados nesta dissertação
– que as discussões sobre sustentabilidade foram impulsionadas por interesses
políticos e econômicos, como visto no primeiro capítulo. Tudo começa com uma
questão política, no Clube de Roma; posteriormente, as empresas tornam-se
parceiras dos governos para atender seus interesses e o estado fica suscetível à
indústria. Isso é percebido ao longo dos eventos, também apontados nesta
pesquisa, sobre sustentabilidade. Os eventos que adentraram a temática
sustentabilidade não tinham como objetivo ou meta tornarem-se lei, todos não
90
passavam de carta de intenções, porém, foram importantes para abrir espaço para
discussões sobre o tema.
Foram apurados vários acontecimentos que discutiram o tema
sustentabilidade, especificamente a conferência Rio+20, dentro do recorte
pesquisado. Verificou-se como a mídia interfere no que é divulgado,
consequentemente, na opinião pública. Nesse caso, a conferência estava na pauta
de inúmeros meios de comunicação. Conforme resultado da análise desta pesquisa,
percebeu-se que a questão da sustentabilidade foi abordada em várias instâncias
pelo jornal Folha de S. Paulo. Os estudos constataram discussões políticas,
econômicas e sociais, no entanto, chegou-seà conclusãode que o discurso político e
econômico foi enfatizado pelo jornal, pois o número de matérias com viés político foi
muito maior. Como no caso da conferência das Nações Unidas Rio+20, isso ficou
perceptível, uma vez que a análise demonstrou a maioria das publicações no
Primeiro Caderno, o que leva a crer que os fatores políticos foram mais divulgados
pelo jornal de forma a favorecer o governo e seus interesses.
Quanto ao caso da lei que eliminava a distribuição de sacolas plásticas nas
redes de supermercados no Estado de São Paulo, acredita-se que deveria ter
havido um debate entre todos os envolvidos e, conforme se constatou, não foi o que
ocorreu, prevalecendo, ainda, o interesse econômico. Logo, um tema que tratava
diretamente do consumidor e de seu interesse ficou em segundo plano.
Se, na teoria, o viés da campanha de extinção das sacolas plásticas foi de
cunho para preservação ambiental, na prática, perceberam-se vários fatores
envolvidos com interesses bastante distintos. Nas categorias analisadas nas
matérias publicadas, constatou-se que os agentes de voz que mais tiveram espaço
no jornal foram as empresas, especialmente as do ramo supermercadista e a APAS,
associação que apoia esse segmento. O tipo de sacola – descartável ou
biodegradável – também foi predominante, com pouco destaque sobre o benefício
para o meio ambiente que essa ação traria. Outra categoria analisada foi o
custo/preço das sacolas, também muito evidenciado pelo jornal, aparecendo muitas
vezes, nas publicações, e a categoria sustentabilidade que teve pouca
representatividade, com aparições sem muito foco jornalístico. Para ilustrar esse
91
cenário, apresentam-se uma tabela e um gráfico que demonstram quais categorias
prevaleceram.
Tabela 7 – Quantidade de aparições das categorias
Fonte: Elaborado pelo autor
Figura 36 – Aparições das categorias
Fonte: Elaborado pelo autor
A partir da tabela, do gráfico e da análise apresentada no terceiro capítulo,
comprovou-se que, como agente de voz, houve o total de 111 falas em destaque –
com 85 aparições para as empresas, representando 76,58% do total. Já os
consumidores apareceram 24 vezes – isso representa 21,62%. O Governo teve
duas aparições, com representatividade de 1,80%.
92
Com base nesses dados, constata-se que o jornal deu muito mais espaço às
empresas. O governo, um dos principais agentes para a campanha acontecer,
apareceu muito pouco – o que leva a crer que, de fato, o governo fica suscetível às
empresas, como apontado no primeiro capítulo. E o consumidor, que era o principal
afetado no caso, ficou sem segundo plano. Isso fica evidente pela quantidade de
matérias publicadas.
Outra evidência refere-se ao silenciamento do jornal, especialmente com
referência à denuncia do Idecon, ocorrida em audiência pública na Câmara dos
Deputados, sobre os supermercados que vendiam sacolas da Ásia – essa
informação não foi publicada no jornal. Outro indício, e que ficou comprovado a partir
desta pesquisa, foi o posicionamento inadequado da APAS, pois ela assinou o TAC
– Termo de Ajustamento de Conduta – e, em matéria divulgada no dia 05 de
fevereiro, a APAS informou que teve apenas uma conversa com o Ministério Público
quando, na verdade, ela assinara um acordo.
Analisando todos os elementos envolvidos nesta dissertação, comprovou-se
que os fatores econômicos prevaleceram e os consumidores ficaram em segundo
plano. O objeto sustentabilidade ambiental foi utilizado como mote para proibir a
distribuição das sacolas nos supermercados. Acredita-se, dessa forma, que os
interesses mercadológicos prevaleceram e a sustentabilidade encontrada foi apenas
a sustentabilidade financeira – prova disso foi a quantidade de vezes em que o custo
das sacolas foi evidenciado. O impacto ocorreu nas indústrias, que também pouco
pensaram sobre questões ambientais ou de fato fizeram algo de forma efetiva,
primeiramente com objetivos econômicos, pois, com relação às sacolas, é o
consumidor quem paga por elas, uma vez que o custo já está embutido nos
produtos. E os supermercados que também não reduziram os preços – e, quando o
fizeram, foi de forma insignificante. Por outro lado, acabaram surgindo novos
mercados, com lançamento de sacolas de luxo e de diversos outros materiais. Tudo
com o mote da campanha.
Portanto, conclui-se, ao final desta pesquisa, que a sustentabilidade, discutida
dentro do período estudado, foi, na teoria, ambiental; e, na prática, favoreceu
apenas o mercado e o governo.
93
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO PAULISTA DE SUPERMERCADOS. Campanha Vamos tirar o planeta do sufoco. Disponível em: <http://www.portalapas.org.br>. Acesso em: 10 maio. 2014.
BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,1999.
______. Comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2003.
BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições, 2009.
BARROS FILHO, Clovis. Ética na Comunicação. São Paulo: Moderna, 2008.
BOFF, Leonardo. Sustentabilidade: o que é, o que não é. RJ: Vozes, 2012.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Projeto de Lei – PL 612/2007 – Extinção das Sacolas Plásticas. Disponível em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso em: 30 jul.. 2014.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. Denúncia feita pelo IDECON. Disponível em: <http://www.camara.gov.br>. Acesso em: 02. fev. 2014.
CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991.
CLUBE DE ROMA. Relatório Limites do Crescimento. Disponível em <http://www.clubofrome.org>. Acesso em: 01 mai. 2012.
DIAS, Reinaldo. Marketing Ambiental: ética, responsabilidade social e competitiva nos négocios. São Paulo: Atlas, 2009.
DUARTE, J.; BARROS, D. (Orgs.). Métodos e técnicas de pesquisa em comunicação. São Paulo: Atlas, 2006.
FELIX, J.A.B. E BORDA, G Z. (orgs). Gestão da Comunicação e Responsabilidade Socioambiental: uma nova visão de marketing e comunicação para o desenvolvimento sustentável. São Paulo: Atlas, 2009.
94
FLICK, U. Uma introdução à pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Bookman, 2004.
FLORES, J.Análisis de dados cualitativos. Aplicaciones a la investigación educativa. Barcelona: PPU, 1994.
FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.
INSTITUTO AKATU. Consumo Consciente para um Futuro Sustentável. Disponível em <http://www.akatu.org.br>. Acesso em 5 maio. 2014.
INSTITUTO NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR. Disponível em <http://www.ideconbrasil.org.br>. Acesso em 10 jun. 2014.
INSTITUTO SÓCIOAMBIENTAL DOS PLÁSTICOS. Disponível em: <http://www.plastivida.org.br>. Acesso em: 20 maio 2012.
INSTITUTO VERIFICADOR DE CIRCULAÇÃO. Disponível em <http://www.ivc.org.br>. Acesso em 10 de jun. 2014.
JORNAL FOLHA DE SÃO PAULO: São Paulo. Diário. Ano 2012. Índice acumulado, edições n. 30.223- 30.435, 2012. 01/jan a 31/jun 2012. As edições foram encontradas no sitio: <http://www.folha.uol.com.br>.
LEONARD, A. A história das coisas. RJ: Jorge Zahar, 2010.
MCCOMBS, Nicolau. A Teoria da Agenda: a mídia e a opinião pública. Petrópolis: Vozes, 2004.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Termo de compromisso de ajustamento de conduta. Disponível em: <http://www.mpsp.mp.br>. Acesso em: 5 jun. 2012.
MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37, p. 7-32, 1999.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Agenda 21 mundial. Disponível em: <http://www.onu.org.br>. Acesso em: 20 abr. 2014.
______. Rio+20. Disponível em: <http://www.onu.org.br>. Acesso em: 20 abr. 2014.
95
______. Agenda 21 brasileira. Disponível em: <http://www.onu.org.br>. Acesso em: 20 abr. 2014.
______. Agenda 21 local. Disponível em: <http://www.onu.org.br>. Acesso em: 20 abr. 2012.
______. Relatório de Brundtland ou Nosso Futuro Comum. Disponível em: <http://www.onu.org.br>. Acesso em: 30 abr. 2014.
______.O Futuro que queremos. Disponível em: <http://www.onu.org.br>. Acesso em: 10 ago. 2012.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA EDUCAÇÃO E CULTURA. Disponível em: <http://www.unesco.org.br>. Acesso em: 10 jun. 2012.
PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDADS PARA O DESENVOLVIMENTO. Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil. Disponível em: <http://www.pnu.org.br>. Acesso em: 30 jul.. 2012.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização:do pensamento único à consiência universal.Rio de Janeiro: Record, 2000.
SEVCENKO. Nicolau. Corrida para o século 21. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.
SILVA,Paulo. Agenda-Setting e a eleição presidencial de 2002 no Brasil. 2005. 158 f. Tese (Doutorado em Ciência Política) - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, 2005.
TRIGUEIRO, A. Mundo sustentável 2. São Paulo: Globo, 2012.
96
ANEXOS
ANEXO 1 – Projeto de Lei PL 612
97
98
99
ANEXO 2 – Termo de Ajustamento de Conduta
100
101
102
103
104