UNIVERSIDADE POTIGUAR – UNP PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE PSICOLOGIA
RÉGIA MARIA DE CARVALHO PEIXOTO SYLVANA ROBERTA BOTELHO MIRANDA
“CUIDAR DA SEGURANÇA E CONSUMIR A SAÚDE À QUEIMA-ROUPA: UM ESTUDO SOBRE A SÍNDROME DE BURNOUT E AS RELAÇÕES COM ESTRATÉGIAS DE COPING E SIGNIFICADO DO TRABALHO ENTRE POLICIAIS CIVIS EM UMA DELEGACIA
NA CIDADE DE NATAL-RN”
NATAL
2006
RÉGIA MARIA DE CARVALHO PEIXOTO SYLVANA ROBERTA BOTELHO MIRANDA
“CUIDAR DA SEGURANÇA E CONSUMIR A SAÚDE À QUEIMA-ROUPA: UM ESTUDO SOBRE A SÍNDROME DE BURNOUT E AS RELAÇÕES COM ESTRATÉGIAS DE COPING E O SIGNIFICADO DO TRABALHO ENTRE
POLICIAIS CIVIS EM UMA DELEGACIA NA CIDADE DE NATAL-RN”
Monografia apresentada à Universidade Potiguar - UNP, como parte dos requisitos para obtenção do título de bacharel em Psicologia.
ORIENTADOR: Prof. Me. Elson C. Vilela
NATAL 2006
P379c Peixoto, Régia Maria de Carvalho. Cuidar da segurança e consumir a saúde à queima-
roupa: um estudo sobre a Síndrome de Burnout e as relações com estratégias de Coping e significado do trabalho entre policiais civis em uma delegacia na cidade de Natal-RN / Régia Maria de Carvalho Peixoto, Sylvana Roberta Botelho Miranda. – Natal, 2007.
102f.
Monografia (Graduação em Psicologia). Universidade Potiguar. Pró-Reitoria de Graduação.
Bibliografia: 13-23. 1. Psicologia – Monografia. 2. Sindrome de Burnout. 3. Estratégia Coping. I. Miranda, Sylvana Roberta
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, ao meu esposo, meus filhos minha nora, meu neto, fontes de minha inspiração e perseverança. (Régia M. C. Peixoto).
Ao meu filho Ramon, que é minha conquista mais preciosa e por ser o real motivo que me faz transpor obstáculos, querer chegar mais longe e ser alguém melhor. (Sylvana R. B. Miranda).
AGRADECIMENTOS
A Deus toda a gratidão, toda a honra e toda a glória para todo o
sempre.
Aos meus pais, Manoel Carvalho e Maria Alves Carvalho pelas
orações, pelo apoio constante, pelos ensinamentos e, principalmente pelo
exemplo de vida que me forneceram.
Ao meu esposo, Dr. José Peixoto, um amigo compreensivo; aos
meus filhos amorosos, Edrei Wesley e Laan Diego, minhas pedras preciosas,
presentes graciosos do meu Deus. À minha nora, Melina, esposa de Laan Diego,
querida filha do coração, que me presenteou com um netinho, Diego Filho.
Aos meus irmãos queridos, Rubem, Itamar, Márcia e Rosilva, meus
amigos de todas as horas, sempre dispostos a ajudar, compreender e encorajar.
À minha amiga Veronilda Regina pela dedicada companhia e apoio
acolhedor em todos os momentos dessa jornada.
À colega e parceira, Sylvana, pelos aprendizados nessa
construção.
À Diretora, professora Roberta Barzaghi, pelas contribuições
imensuráveis para a vida.
Ao mestre professor Elson Vilela pelos ensinamentos teórico-
práticos permeados de acolhimento significativo, e por todo o esmero com que
se envolveu na construção deste trabalho.
Ao Professor Carlos Roberto por ter disponibilizado seu tempo de
forma especial, constituindo-se em grande colaborador.
À Professora Ana Augusta pela generosa participação.
Aos professores, em especial Carina Cavalcanti, Clarisse Carneiro,
Jader Leite, Sílvia Maciel, Luciana Medeiros, Jeanne D’Garim, Ana Patrícia.
A todos os colegas da turma de Psicologia 2003 da UNP, pelo
acolhimento, carinho e amizade.
Régia Maria de Carvalho Peixoto.
A Deus, por tamanha perfeição, sabedoria e generosidade, por me
permitir vivenciar dificuldades e superá-las e por me tornar capaz de alcançar
essa vitória.
Aos meus queridos pais Luiz e Alméria, pelo esforço, investimento
e convicção oferecidos durante toda minha vida e que foram necessários para
minhas realizações e ainda por contribuírem com o mérito da decência, valentia
e amor para meus valores pessoais.
Ao meu esposo Israel pelo incentivo, contribuição, compreensão e
paciência, estimando e acreditando sempre na minha capacidade e aptidão.
Ao meu irmão Sérgio por ansiar minhas aquisições e felicidade,
estando ciente de que isso é recíproco.
Aos meus familiares e amigos, mesmo os que não se encontram
mais presentes fisicamente, por me encorajarem, pela sensibilidade de
identificarem em mim a propensão à Psicologia e por dividirem comigo as
alegrias e angústias.
Aos colegas do Curso de Psicologia pelo compartilhamento de
conhecimentos e experiências, em especial à Régia, pela sociedade e
enriquecimento dado a este trabalho.
Ao professor e orientador Elson Vilela, pela indispensável
colaboração, cumplicidade, dedicação e sagacidade.
Aos professores Carlos Roberto e Ana Augusta pela atenção e
cooperação.
Sylvana Roberta Botelho Miranda
RESUMO
O estudo foi desenvolvido com o propósito de investigar a incidência da síndrome de burnout e suas relações com estratégias de coping e o significado do trabalho entre policiais civis da cidade de Natal-RN. A pesquisa foi realizada em uma delegacia especializada em homicídios (DEHOM) e envolveu uma amostra de 18 policiais de ambos os sexos com idade entre 27 e 48 anos (M= 37,8 e DP=9,6). Os instrumentos utilizados para a coleta dos dados foram o Inventário de Burnout de Maslach (MBI), adaptado por Tamayo (1997), a Escala de Coping Ocupacional, versão brasileira, traduzida e adaptada por Pinheiro; Tamayo; Tróccoli (2000) e o Inventário de Motivação e Significado do Trabalho (IMST), desenvolvido Borges e Alves Filho (2001). Os dados foram registrados sob forma de banco de dados do SPSS (Statistical Package for Social Science). Foram utilizadas técnicas estatísticas como medidas de tendência central e dispersão, análise de variância (ANOVA), teste t, teste qui-quadrado (Pearson), correlações e análise de regressão. Tomadas as dimensões de coping e significado do trabalho como preditores das dimensões da burnout, encontrou-se que as mesmas explicaram 50% da exaustão emocional; 55,6%, da diminuição da realização; e, 38%, da despersonalização, tendo os participantes da amostra apresentado uma intensidade moderada da síndrome de burnout. Os participantes não apresentaram diferenças quanto às dimensões da burnout na dependência das variáveis sócio-demográficas e funcionais, assim como nas estratégias de coping adotadas, mas isso não prevaleceu no significado atribuído ao trabalho. Foram apresentadas recomendações quanto à prevenção tanto sob o aspecto organizacional quanto pessoal.
Palavras-Chave: Saúde mental e trabalho. Burnout. Significado do Trabalho.
Coping.
ABSTRACT
The present study was developed with the purpose of investigating the incidence of the burnout syndrome and their relationships with coping strategies and the meaning of the work among civil policemen of the city of Natal-RN. The research was accomplished at a specialized police station in homicides (DEHOM) and involved a sample of 18 policemen of both sexes with age between 27 and 48 years (M = 37,8 and DP=9 ,6). The instruments used for the collection of the data were the Maslach´s Burnout Inventory (MBI), adapted by Tamayo (1997), the Scale of Occupational Coping, Brazilian version, translated and adapted by Pinheiro; Tamayo; Tróccoli (2000) and the Motivation and Meaning of the Work Inventory (IMST), developed Borges and Alves Filho (2001). The data were registered under form of database of SPSS (Statistical Package is Social Science). Statistical techniques were used as measures of central tendency and dispersion, variance analysis (ANOVA), test t, test qui-square (Pearson), correlations and regression analysis. Taken the coping dimensions and meaning of the work as predictors of the dimensions of the burnout, one met that the same ones had explained 50% of the emotional exhaustion; 55.6%, of the accomplishment reduction; and 38%, of the depersonalization. The participants of the sample presented a moderate intensity of the burnout syndrome. The participants didn't present differences as for the dimensions of the burnout in the dependence of the partner-demographic and functional variables, as well as in the strategies of adopted coping, but that didn't prevail in the meaning attributed to the work, in the dependence of those varied. Recommendations were presented as for the prevention of the burnout being considered organizational and personal aspects. Key words: Mental Health and work, Burnout, Meaning of the Work, Coping.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Gráfico 01 Representação de condições para caracterização da burnout ................................................................................ 71
LISTA DE TABELAS
Tabela 01 Distribuição dos participantes por faixa etária (N=18) ........ 58
Tabela 02 Distribuição por estado civil (N=18) .................................... 59
Tabela 03 Distribuição por religião (N=18) .......................................... 59
Tabela 04 Distribuição por freqüência a atividades religiosas (N=18) 60
Tabela 05 Distribuição por nível de instrução (N=18) ......................... 60
Tabela 06 Distribuição por cargo (N=18) ............................................ 61
Tabela 07 Distribuição por faixa de tempo no cargo .......................... 61
Tabela 08 Distribuição por faixa de tempo na Polícia Civil .................. 62
Tabela 09 Escores das médias das dimensões síndrome de burnout 67
Tabela 10 Médias dos fatores de burnout e freqüência por intervalos 68
Tabela 11 Distribuição percentual da ocorrência das dimensões exaustão, despersonalização e diminuição da realização (N=18) ................................................................................. 69
Tabela 12 Distribuição da intensidade das dimensões da burnout por variáveis que tiveram independência rejeitada pelo teste qui-quadrado ....................................................................... 73
Tabela 13 Médias nos fatores da escala de estratégias de coping no trabalho ............................................................................... 74
Tabela 14 Estatísticas descritivas da centralidade atribuída às esferas de vida (N = 18) ...................................................... 78
Tabela 15 Escores nos fatores do significado do trabalho .................. 79
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 11
1 INTRODUÇÃO 13
2 ESTRESSE E ESTRESSE OCUPACIONAL 16
2.1 ESTRESSE 16
2.2 ESTRESSE OCUPACIONAL 20
3 BURNOUT 26
4 ESTRATÉGIAS DE COPING 36
5 SIGNIFICADO DO TRABALHO 43
6 MÉTODO 56
6.1 TIPO DE ESTUDO 56
6.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA 57
6.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA 62
6.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS 64
6.5 PROCEDIMENTO DE REGISTROS DE DADOS 65
6.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS: 65
7 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 66
7.1 SÍNDROME DE BURNOUT 66
7.1.1 ESCORES DOS FATORES DA SÍNDROME DE BURNOUT 66
7.1.2 INCIDÊNCIA DE BURNOUT 70
7.2 ESTRATÉGIAS DE COPING NO TRABALHO 74
7.3 SIGNIFICADO DO TRABALHO 77
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS 81
9 REFERÊNCIAS 88
APÊNDICE 93
11
APRESENTAÇÃO
Este Trabalho de Conclusão de Curso - TCC foi desenvolvido a
partir de uma pesquisa realizada com policiais civis em uma delegacia na cidade
de Natal - RN, tendo como tema “Cuidar da segurança e consumir a saúde à
queima-roupa: um estudo sobre a síndrome de burnout e as relações com
estratégias de coping e o significado do trabalho entre policiais civis da cidade de
Natal - RN”.
O propósito maior da pesquisa foi investigar a ocorrência da
síndrome de burnout em policiais civis da cidade de Natal, bem como explorar as
possíveis relações entre a incidência de burnout, as estratégias de coping e o
significado do trabalho.
No primeiro capítulo deste trabalho se expõe os objetivos da
pesquisa, a justificativa e a relevância do estudo para o meio acadêmico e social,
tendo em vista que a síndrome de burnout interfere no bem estar do indivíduo. No segundo capítulo discorre-se sobre estresse e estresse
ocupacional, apresentando-se os conceitos e diferenças entre estes dois tipos de
estresse, enfatizando como estes podem interferir na saúde e bem estar do
trabalhador.
O terceiro capítulo traz conceitos e causas que envolvem a
síndrome de burnout e suas diferentes perspectivas. Exploram-se suas três
dimensões: exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização
pessoal no trabalho. Trata-se, ainda, da síndrome em policiais, dos
desencadeadores e facilitadores do seu aparecimento, do instrumento utilizado
para que esta seja avaliada e de como prevenir e enfrentá-la.
O quarto capítulo aborda as estratégias de coping, o conceito e as
questões metodológicas que envolvem o construto e as conseqüências que
provocam no indivíduo.
O quinto capítulo, que trata do significado do trabalho, apresenta o
conceito de trabalho em diferentes perspectivas, dando-se ênfase ao trabalho
policial, a relação do trabalhador com o processo de trabalho, o modo como o
trabalhador se organiza e a importância da saúde mental deste, os fatores que
influenciam a percepção e as respostas que o policial dá a esta percepção.
12
Abordam-se, também, aspectos da categoria de policiais civis e do ambiente de
trabalho dos mesmos.
O sexto capítulo explicita o método. São apresentadas as questões
de pesquisa, definida a população e caracterizada a amostra, descritos os
instrumentos utilizados e a forma (procedimentos) como os dados foram
coligidos, registrados e analisados.
No sétimo capítulo, considerando a questão geral de pesquisa e as
questões específicas, os dados são apresentados, analisados e discutidos.
O último capítulo consiste numa sumarização dos resultados
complementada por reflexões a partir do referencial teórico, de uma avaliação do
estudo e da apresentação de algumas sugestões consideradas viáveis, no
campo da pesquisa e da intervenção.
O estudo foi realizado objetivando trazer sua contribuição para a
ampliação do entendimento da relação existente entre a síndrome de burnout, as
estratégias de coping e o significado do trabalho para os policiais civis, levando
em conta fatores pessoais e organizacionais envolvidos.
13
1 INTRODUÇÃO
O presente estudo teve o propósito de investigar a incidência da
síndrome de burnout e suas relações com estratégias de coping e o significado
do trabalho entre policiais civis da cidade de Natal-RN.
A motivação para o desenvolvimento desse trabalho decorreu do
interesse das autoras pela Psicologia Organizacional e do Trabalho e, em
particular, pelos estudos que envolvem trabalho, saúde e doença mental e,
ainda, pela exigência acadêmica para a conclusão do bacharelado em
Psicologia.
No que diz respeito à categoria profissional escolhida para a
realização desta pesquisa, justifica-se pelo interesse em compreender a
atividade laboral dos policiais civis, reconhecidamente vinculada a ações que
provocam estresse agudo e exaustão emocional, analisando o possível desgaste
físico e/ou emocional por eles apresentados; a importância social que se atribui
atualmente à atividade do trabalho; assim como a relevância da saúde mental na
organização.
Este trabalho vinculou-se à iniciativa de constituição de um grupo
de estudo e pesquisa em processos organizacionais e qualidade de vida no
trabalho, no curso de Psicologia da UnP.
No mundo atual, a questão da prevenção do crime e da violência
vem se tornando cada vez mais uma prioridade da gestão da segurança pública
e da defesa social. A Segurança Pública é reconhecida como parte integrante da
Defesa Social e caracterizada, segundo o Ministério da Justiça, como uma
atividade pertinente aos órgãos estatais e à comunidade como um todo,
realizada com o fim de proteger a cidadania, prevenindo e controlando
manifestações da criminalidade e da violência, garantindo o exercício pleno da
cidadania nos limites da lei.
A segurança pública depende da interação entre os componentes
da Policial Geral: a Polícia, o Ministério Público e a Autoridade Penitenciária,
para realizar a prestação de serviços públicos de segurança, através do
policiamento ostensivo, da apuração de infrações penais e da guarda e
recolhimento de presos, englobando atividades repressivas e preventivas em
prol do sentimento coletivo de segurança.
14
Muitas pessoas, notadamente os rapazes, idealizam a profissão de
policial como uma possibilidade de exercer poder e respeito, proteger a
sociedade, manter a ordem pública, possuir a legitimação para manipular armas
e o sonho de vestir um imponente fardamento. Na prática, eles também lidam
com uma carreira que impõe risco de vida, com baixos salários e pouco ou
nenhum reconhecimento social.
A atividade laboral dos policiais civis está vinculada a ações que
provocam estresse agudo e exaustão emocional. Devido ao fato destes
exercícios serem legitimamente violentos, alguns destes profissionais passam a
agir de maneira excessivamente intolerante, apresentando atitudes arbitrárias e
autoritárias perante a sociedade, quando precisavam manter a segurança e o
controle da violência.
A relevância deste trabalho pode ser evidenciada considerando-se
a importância social que se atribui atualmente à atividade do trabalho, bem como
a relevância da saúde mental nas organizações e o seu reflexo na qualidade do
atendimento/tratamento dispensado ao ‘cidadão-cliente’. Por outro lado, a
síndrome de burnout apresenta-se hoje como um dos problemas psicossociais
que afetam as relações no trabalho. Neste sentido, de acordo com Tamayo e
Trocou (2002), novas pesquisas devem ser desenvolvidas no Brasil para
continuar explorando a influência de variáveis que envolvem processos de
transação entre o indivíduo e o ambiente, com a finalidade de estabelecer a sua
participação no desenvolvimento de fenômenos que atingem a saúde do
trabalhador, tais como o estresse ocupacional, a burnout e a exaustão
emocional. A importância deste trabalho reside também na identificação dos
estressores que, no trabalho de policiais civis, constituem-se em causa de
estresse e são provocadores de desgaste físico e/ou emocional. A identificação
de tais fatores pôde possibilitar sugestões de intervenção e estratégias de
enfrentamento individual e coletivo, através de re-significações de situações de
vida, relações e vínculos. Conhecer e analisar os estressores que atuam no
trabalho significa possibilidade de mudanças que podem tornar o cotidiano do
policial mais produtivo, menos desgastante e, provavelmente, resgatar a
dignidade do papel social que este desempenha.
Desta forma, a pesquisa foi orientada pelos seguintes objetivos
específicos:
15
1. Identificar se os participantes apresentam a incidência de burnout e o
nível.
2. Identificar se os participantes apresentam diferenças ou semelhanças
quanto à incidência de burnout na dependência de variáveis sócio-demográficas
e funcionais, como sexo, idade, estado civil, escolaridade, moradia e meio de
locomoção próprios, tempo de vinculação à polícia civil, tempo no atual
cargo/função, local trabalho e manutenção de outros vínculos profissionais.
3. Identificar as estratégias de coping adotadas.
4. Identificar se os participantes apresentam diferenças ou semelhanças
quanto às estratégias de coping adotas na dependência de variáveis sócio-
demográficas e funcionais, como sexo, idade, estado civil, escolaridade, moradia
e meio de locomoção próprios, tempo de vinculação à polícia civil, tempo no
atual cargo/função, local trabalho e manutenção de outros vínculos profissionais.
5. Reconhecer o significado do trabalho entre os policiais civis;
6. Identificar se os participantes apresentam diferenças ou semelhanças
quanto ao significado atribuído ao trabalho, na dependência de variáveis sócio-
demográficas e funcionais, como sexo, idade, estado civil, escolaridade, moradia
e meio de locomoção próprios, tempo de vinculação à polícia civil, tempo no
atual cargo/função, local trabalho e manutenção de outros vínculos profissionais.
7. Identificar se há possibilidade de oferecer recomendações à Secretaria de
Defesa Social e ao Delegado Geral que subsidiem a tomada de decisão pela
implementação de intervenções organizacionais que possam repercutir
positivamente na melhoria da qualidade de vida dos policiais e na melhoria dos
serviços prestados ao cidadão e, sobretudo, aos profissionais sobre como lidar
com burnout, especialmente, de maneira profilática (na perspectiva de promoção
da saúde).
Espera-se que o produto desta investigação possa contribuir com a
construção de conhecimentos sobre os construtos, contribuir com o
desenvolvimento de uma linha de pesquisa em Trabalho, Saúde Mental e
Qualidade de Vida, no curso de Psicologia da Universidade Potiguar (UNP) e,
posteriormente, abrir caminho para um projeto de extensão que vise oferecer
assessoria à Secretaria de Defesa Social para que possam ser trabalhadas
intervenções, especialmente profiláticas.
16
2 ESTRESSE E ESTRESSE OCUPACIONAL
2.1 ESTRESSE
Levando em conta que burnout é considerada uma conseqüência
do estresse profissional, atuando como uma resposta do organismo a um estado
de estresse prolongado e crônico optou-se por apresentar uma breve revisão
sobre estresse, na perspectiva da saúde mental e suas implicações em
situações de trabalho.
Segundo Cunha (1982), estresse constitui-se num cansaço físico
e/ou mental proveniente de excesso de trabalho e/ou preocupações. Para
Paciornik (1978) significa força, pressão, esforço, e vem do latim apertar. O
termo foi utilizado inicialmente pela Física e pela Engenharia para referir-se à
resistência de uma barra à força ou tensão (stress) antes que se rompa ou
deforme. No início do século XVII significava, para a Psicologia, fadiga, cansaço;
e a partir do século XIX passou-se a relacionar stress aos conceitos de força,
esforço e tensão.
Teles (1999) define estresse como uma forma não específica de
resposta com que o corpo se relaciona com certos agentes externos e internos.
É um estado de prontidão do organismo para a ação. Inclui três fases: reação de
alarme, que é o estágio inicial quando o indivíduo se sente imobilizado e, em
seguida, o corpo sofre uma intensa mobilização, incluindo alto grau de atividade
visceral e músculo-esquelética; reação de resistência, que corresponde ao
período em que o sujeito procura adaptar-se ao estresse; e o estágio da
exaustão, que ocorre quando o indivíduo é incapaz de manter o nível de
resistência. Quando sobrevém a exaustão, a reação de alarme se repete.
Selye (1959) foi o primeiro pesquisador que demonstrou as etapas
do “stress biológico” quando explicou as manifestações do organismo como
“reações de alarme”. Os estudos dele fomentaram e fundamentaram muitas
pesquisas sobre estresse. Selye observou em suas pesquisas que determinadas
reações orgânicas se manifestavam em doenças diversas sem relação causal
direta com o tipo de doença. Às manifestações de sinais e sintomas como perda
17
de peso, perda de apetite, dores difusas, perturbações digestivas, febre e outros,
ele chamou de “síndrome de estar apenas doente”. As bases conceituais de
Hans Selye foram os estudos de Claude Bernard, que investigava a capacidade
dos seres vivos em manter a constância de bem-estar do organismo a despeito
das modificações externas. Mais tarde Walter Cannon estabeleceu o conceito de
homeostase com base nessa premissa. Lipp diz que “nenhuma doença, ou
condição, produz uma interação tão grande entre o corpo e a mente como o
stress. A reação hormonal, que é parte do stress, desencadeia uma série de
modificações físicas” e produz reações emocionais importantes (LIPP, 2000, p.
18).
De acordo com Lipp, “chama-se de stress uma reação global do
organismo, que envolve sinais psicológicos e físicos, frente a determinadas
situações que excitem, emocionem, confundam e/ou façam a pessoa
imensamente feliz” (LIPP, 2000, p. 41). Segundo a autora, sempre que a pessoa
precisa se adaptar a uma coisa nova, ela gasta “energia adaptativa” e se
desgasta. “O stress é responsável por um grande desperdício de energia”, diz
Teles (1999, p. 24). Se esse desgaste vai além das reservas de energia que a
pessoa possui, os resultados são visíveis. Os indivíduos reagem de formas
diferentes ao estresse. “Se o indivíduo vê, ao seu redor, um mundo duro, no qual
as pessoas são cruéis e não se pode confiar em nenhum relacionamento [...], se
o indivíduo se torna muito tenso como resultado de um ou vários estímulos
perturbadores” (TELES, 1999, p. 21), vai acumulando uma crescente carga
residual que lhe impossibilita lidar com o estresse. A autora diz que quando a
pessoa não consegue lidar com situações estressantes, pode tornar-se tão tensa
que culmina com uma resposta do organismo sob a forma de um distúrbio físico.
Selye (1959) definiu estresse como uma “Síndrome da Adaptação
Geral” em três fases: reação de alarme, de resistência e de exaustão. Na fase de
alarme, que se constitui como uma resposta inicial, o organismo tenta se
adequar à situação através de luta ou fuga com relação ao estressor. “A reação
do stress tem por objetivo primordial a preservação da vida. O indivíduo nasce
com a condição básica de lutar ou fugir frente ao perigo, o que vai ocorrer
através da reação do stress” (LIPP, 2000, p. 21). Essa reação de alarme altera a
homeostase e o indivíduo sofre um desgaste que procura anular eliminando o
estressor. “O grande problema é que muitas vezes o estressor presente não é do
18
tipo que exija lutar ou fugir [...], contudo, o corpo humano se prepara para lidar
do mesmo modo com qualquer tipo de estressor” (LIPP, 2000, p. 21). Nesse,
caso, se o estressor persiste, o organismo se mantém alerta e entra na fase da
resistência. As reações de alerta não são tão evidentes, embora a homeostase
se conserve alterada. A fase da exaustão advém da continuidade do estressor
com dificuldade ou impossibilidade de adaptação do organismo. Selye observou
que nesta fase os sinais que ocorrem na reação de alarme se manifestam de
forma exacerbada e irreversível, e o organismo é levado ao desequilíbrio total e
entra em processos patológicos que podem culminar na morte do indivíduo.
Não é exatamente a situação ou a resposta do organismo que
definem a força do estressor, mas a percepção do indivíduo sobre a situação. “O
stress tem a ver com a resistência às pressões, com a habilidade de lidar com
demandas e situações” (LIPP, 2000, p. 31). Krupp (1987) diz que se trata de um
distúrbio situacional resultante de uma dificuldade de adaptação do indivíduo,
diante de acontecimentos para os quais não encontra formas de superação. O
evento pode ser objetivamente insignificante ou até favorável, mas como requer
comportamentos adaptativos, podem produzir estresse, que será configurado em
cada indivíduo de forma subjetiva. Também é importante a avaliação cognitiva
da situação (o fator estressor) que determina por que e quando esta situação é
estressora, assim como para o esforço de enfrentamento, ou seja, a mudança
cognitiva e comportamental diante do estressor. Cada indivíduo percebe o
estresse e responde a ele de forma peculiar. Eventos produtores de estresse
assumem proporções e níveis diferentes de acordo com os grupos etários e
fatores psicossociais. Como assevera Lipp, “se a pessoa aprende a lidar com
seu stress, este pode ser útil, pois em doses pequenas ele dá energia, vigor,
coragem, força, vontade de fazer coisas novas, aumenta a produtividade e
melhora a qualidade de vida do ser humano” (LIPP, 2000, p. 9).
Conforme demonstra Lipp (2001), o estresse, como uma reação do
organismo provocada por alterações psicofisiológicas, se manifesta quando a
pessoa é exposta a fortes e persistentes reações emocionais, como por
exemplo, em situações onde estejam presentes a irritação, o medo, a excitação
e até mesmo a felicidade. Teles diz que “a insegurança, a dúvida [...], a perda da
identidade social, a violência e uma série de outros fatores” (TELES, 1999, p. 8)
provocam no ser humano um estado de constante tensão, enredando-o em
19
conflitos e provocando uma sensação permanente de mal-estar e desesperança.
Assim, o estresse é um processo, não apenas um estado, pois o indivíduo,
quando submetido às fontes estressoras, tem seu organismo alterado
bioquimicamente, com alterações fisiológicas diversas. Posteriormente, no
desenvolvimento do processo, manifestam-se diferentes sintomas, que variam
de acordo com as predisposições genéticas do sujeito, potencializadas com a
sua inserção no meio. Porém, Lazarus e Folkman (1984 apud JACQUES, 2003)
conceituam o estresse psicológico além da dimensão biológica, sendo uma
relação entre a pessoa e o ambiente que é avaliado como prejudicial ao seu
bem-estar. Taganelli e Lipp (2002) citando Kaplan (1995) e Lipp (1997) afirmam
também que há indícios de que um estado prolongado de estresse possa
interferir com o bem-estar psicológico e a qualidade de vida das pessoas.
De acordo com Krupp (1987), o estresse agudo pode se manifestar
em comportamentos denotando inquietação, desassossego, irritabilidade, fadiga
e sentimento de tensão emocional. A pessoa pode apresentar dificuldade de
concentração, insônia, pesadelos e preocupações somáticas. Alguns se
encaminham para a automedicação ou para a ingestão compulsiva de álcool ou
outras drogas depressoras do sistema nervoso central. Um indivíduo pode reagir
ao stress com ansiedade ou depressão, ou com o desenvolvimento de uma
sintomatologia física, ou pelo afastamento, ou embriagando-se, ou começando
um caso amoroso ou, ainda, de uma infinidade de outras maneiras. As respostas
subjetivas mais comuns são medo (da repetição do evento estressante), raiva
(devido à frustração), culpa (impulsos agressivos) e vergonha (devido à
impotência de lidar com a situação).
Para Lipp (2001), a reação de alerta do organismo ocorre em
estágio inicial quando o indivíduo de depara com um estressor. É nesse
momento que o organismo se prepara para a ação, o que provoca a quebra da
homeostase. A aceleração do organismo muitas vezes é responsável pela
preservação da vida, já que leva o organismo a um estado de alerta, a fim de
que possa lidar com situações em que tenha que atuar com urgência,
constituindo-se, portanto, em uma defesa automática do corpo. Quando o
estressor tem uma duração curta, a restauração da homeostase ocorre e a
pessoa sai da fase do alerta sem complicações para o seu bem-estar.
20
Ainda de acordo com Lipp (2001) a fase de resistência ocorre se o
estressor é de longa duração, ou sua intensidade é demasiada para a resistência
da pessoa. Nesse caso, o organismo tenta restabelecer a homeostase de um
modo reparador e entra na fase de resistência ao estresse. A saída do processo
de estresse vai depender da reserva de energia adaptativa que é utilizada na
tentativa de reequilíbrio. Se essa reserva é suficiente, a pessoa recupera-se e sai
do processo do estresse, mas se o estressor exige mais esforço de adaptação
do que é possível para aquele indivíduo, então o organismo se enfraquece e
torna-se vulnerável a doenças. Nessa fase, se há manejo do estresse ou se o
estressor for eliminado, o organismo se restabelece e o processo do estresse
termina.
Conforme afirma Lipp (2001), a fase de exaustão acontece se a
resistência da pessoa não for suficiente para lidar com a fonte de estresse, ou se
existirem vários estressores. Em decorrência disso haverá um aumento das
estruturas linfáticas, assim como a exaustão psicológica em forma de depressão,
com o conseqüente aparecimento de doenças.
É importante enfatizar que, de acordo com Glina e Rocha (2000), o
estresse não é uma doença, mas uma tentativa de adaptação do organismo em
busca da homeostase, e não está relacionado apenas ao trabalho, mas ao
cotidiano da vida do ser humano. E o termo estresse, tomado como um conceito
da fisiologia e ampliado por Selye para os eventos psicológicos, se transformou
em tema de pesquisas diversas para explicar coisas que se observavam na vida
ocupacional dos sujeitos, mas que sinalizavam para fatores além das atividades
profissionais.
2.2 ESTRESSE OCUPACIONAL
O trabalho é uma atividade essencial para a sobrevivência do
homem capaz de produzir frustrações, anseios, realizações, expectativas,
conflitos, inquietações e satisfações.
Conforme assevera Lane, “Refletir sobre uma atividade realizada
implica repensar suas ações, ter consciência de si mesmo e dos outros
21
envolvidos, refletir sobre os sentidos pessoais atribuídos às palavras, confrontá-
las com as conseqüências geradas pela atividade desenvolvida pelo grupo
social”. (LANE, 1994, p.16).
Albornoz (2004) observa a diversidade de significados que a
palavra trabalho assume na linguagem cotidiana. Sendo uma forma elementar de
interação e contato entre os homens, o seu conteúdo varia designando a
operação humana de transformação da matéria natural em objeto de cultura. “Às
vezes, carregada de emoção, lembra dor, tortura, suor do rosto, fadiga. Noutras,
mais que aflição e fardo” (ALBORNOZ, 2004, p.8), representam o homem em
ação para sobreviver e realizar-se.
O trabalho nem sempre é uma fonte de alegria e realização como
deveria ser. Para Teles, “o trabalho, que deveria ser uma fonte de alegria e
realização, torna-se cada vez mais, um fator de stress” (1999, p. 59). A autora
diz que quando o sujeito é o empregador, sua cabeça funciona como um
computador que trabalha noite e dia em busca de maior eficiência e lucro. Por
outro lado, o empregado nunca está satisfeito com o que ganha, não se acha
livre por realizar ações programadas pelos outros e é obrigado a fazer hora extra
pra ganhar um pouco mais, assim como abre mão de férias e leva trabalho pra
casa. E assevera: “geralmente, quando o indivíduo não consegue atingir esses
objetivos, que praticamente lhe são impostos, vem a sensação de fracasso,
inferioridade, frustração, perda” (TELES, 1999, p. 46). E o trabalho, nessa
perspectiva, lembra o castigo de Sísifo, deus condenado a carregar eternamente
uma pedra até o alto da montanha. Ao chegar ao cume, a pedra rolava, e ele era
obrigado a recomeçar todo o trabalho. Mas até Sísifo um dia parou este trabalho
insano para ouvir a música de Orfeu.
Como afirmam Lipp e Novaes (2000), existem determinados tipos
de trabalho que propiciam o aparecimento do estresse, principalmente, se a
atividade exercida não combinar com o modo de ser da pessoa. São elas: a de
policial, aviador, motorista de caminhão, executivo e bancário, entre outras.
Formighieri (2003) em sua pesquisa constatou que as mudanças no
mundo social do trabalho são céleres e as situações de trabalho se caracterizam
por um complexo de exigências de natureza ambiental, fisiológica, psicológica e
social. Poucos trabalham naquilo que gostam, sentem satisfação no que fazem e
não se deixam dominar pela compulsão do trabalho. Diante desta situação, há
22
quem opte pela fuga, inclusive de seus conflitos inconscientes e de sua
ansiedade, trabalhando num ritmo acelerado, numa verdadeira compulsão, como
diz Teles, “o trabalho, como o sexo, a bebida, as drogas, o fanatismo religioso ou
político, funciona como uma válvula de escape, uma fuga, uma anestesia” (1999,
p.60). Ao mesmo tempo em que o trabalho é um bem para o sujeito, ele
acrescenta desgaste ao organismo.
Arantes e Vieira (2002) atribuem o estresse à organização e às
condições de trabalho como fontes estressoras importantes no que tange,
principalmente, à função exercida, ao papel exercido dentro da organização, ao
desenvolvimento na carreira, as relações de trabalho, a relação entre a estrutura
e o clima organizacional e a interface trabalho-família. Formighieri (2003) diz que
uma ampla mudança no interior das organizações tem sido uma constante,
sendo considerada geradora de disfunções entre o processo de trabalho e o
homem.
O estresse ocupacional se evidencia quando o sujeito, em
interação com outras pessoas e a partir de sua percepção do ambiente, se acha
inseguro quanto à sua capacidade para enfrentar um desafio que tem relação
com um valor importante para si. A incerteza da resolução enfatiza que o
indivíduo interpreta a situação em termos da percepção da probabilidade de lidar
satisfatoriamente com o desafio. Ao perceber que pode lidar facilmente com o
desafio, não há estresse. Conforme interpretação de Wagner III e Hollenbeck
(2003), esse tipo de estresse provoca um estado emocional desagradável que
causa impacto significativo sobre a saúde e o bem-estar dos trabalhadores, com
reações fisiológicas, comportamentais e cognitivas, com conseqüências
importantes para as organizações, principalmente em termos dos custos
financeiros de assistência médica, absenteísmo, rotatividade, baixo compromisso
organizacional e violência no local de trabalho.
Chiavenato (1999) analisa o estresse no trabalho e demonstra que
ocorre um conjunto de reações físicas, químicas e mentais oriundas de estímulos
ou estressores no ambiente, tais como, sobrecarga de atividade, pressão de
tempo ou relações problemáticas com chefes ou clientes. Formighieri (2003)
observa que situações de emergência impõem tarefas que sobrecarregam o
homem. As conseqüências negativas incidem sobre o indivíduo tanto quanto
sobre a organização, interferindo na quantidade e qualidade do trabalho, no
23
aumento do absenteísmo e rotatividade e na predisposição a queixas,
reclamações e greves.
Ballone (2002) supõe que a capacidade de adaptação dos
trabalhadores às mudanças tecnológicas e modificações no ambiente de
trabalho parece apresentar uma certa defasagem. As tensões a que estão
submetidos os profissionais, não só no ambiente de trabalho, mas na vida em
geral, produzem um amálgama entre os estressores do trabalho e da vida
cotidiana. Responsabilidades ocupacionais, alta competitividade, necessidade de
aprendizados constantes já se constituem em grande pressão sobre a pessoa, e
se somar a isso os estressores normais da vida em sociedade, como a
segurança social, a manutenção da família, as exigências culturais, a situação de
desequilíbrio se agrava. O autor acredita ser possível que os novos desafios
ultrapassem os limites adaptativos do homem moderno, levando ao estresse. O
que se sabe é que os agentes estressores a que as pessoas estão submetidas
permanentemente nos ambientes e nas relações de trabalho são fatores
determinantes de doenças com a mesma potência dos microorganismos e a
insalubridade.
Ballone (2002) chama a atenção para as normas e regras sociais
que atuam sobre os indivíduos em nome do “politicamente correto”, obrigando-os
a apresentar um comportamento emocional incongruente com seus reais
sentimentos de agressão ou medo.
Fatores intrapsíquicos relacionados ao trabalho colaboram para
que o sujeito se mantenha estressado, como é o caso da insuficiência
profissional, pressão para comprovação de eficiência ou, até mesmo, a
impressão de estar cometendo erros profissionais. O outro lado dessa moeda
pode comportar uma vida sem motivações, sem projetos, sem mudanças na
ocupação ao longo de muitos anos, sem perspectivas de crescimento
profissional. Ballone (2002) acrescenta a isso os fatores internos como conflitos
pessoais, frustrações, desavenças familiares. Em vista disso, o autor afirma que
a sobrecarga de estímulos estressores pode ser considerada um fator importante
para eclosão do estresse patológico no trabalho, e elenca quatro fatores: 1)
urgência de tempo; 2) responsabilidade excessiva; 3) falta de apoio; 4)
expectativas excessivas de nós mesmos e daqueles que nos cercam.
24
É consenso entre muitos pesquisadores que a forma como os
sujeitos percebem os estressores no contexto de trabalho faz diferença no
desempenho e bem-estar destes, com conseqüências sobre o ambiente e sobre
as organizações. Aubert (1996 apud FORMIGHIERI 2003) enfatiza que as
condições de trabalho são responsáveis em maior ou menor grau na resistência
do trabalhador às condições desfavoráveis, e isto sinaliza para a importância dos
aspectos subjetivos da relação do sujeito com a atividade profissional. Os
conflitos entre o regime da organização de trabalho e as necessidades pessoais
do trabalhador, somadas às condições individuais como ritmo, expectativas e
dificuldades, tudo isso acaba por afetar significativamente a saúde desse
trabalhador. Silva (2000 apud FORMIGHIERI 2003) relaciona o meio
organizacional com a saúde do indivíduo e a produtividade da organização.
Formighieri (2003) diz que quando não há compatibilidade possível entre o
indivíduo e o seu trabalho, emerge o sofrimento, provocando sentimentos de
desprazer, tensão, estresse laboral, frustração. A verdade é que “o ambiente de
trabalho, as relações interpessoais, o nível de responsabilidade, o não
reconhecimento de certas qualidades pessoais, são situações estressantes que
podem provocar alterações psicológicas e fisiológicas” (FORMIGHIERI, 2003, p.
13).
Bauk (1985 apud GUIDO, 2003) assegura que os estressores estão
presentes em qualquer tipo de atividade e não se pode sequer imaginar um
trabalho sem stress, uma vez que cada indivíduo entende os estímulos a que
são expostos de modo diferente. O que é percebido por um indivíduo como ruim,
desagradável e perigoso, pode ser entendido como desafiador e estimulante por
outro. Dessa maneira, entendemos que o stress faz parte da vida do ser humano
em qualquer contexto, e pode ser desencadeado por um grande número de
estímulos. As situações de trabalho, associadas aos conflitos e sentimentos dos
trabalhadores, comprometem o desempenho produtivo e o equilíbrio físico e
emocional deles. “A oportunidade que um ambiente de trabalho permite ao
indivíduo controlar as atividades que realiza, tanto intrinsecamente [...] como
extrinsecamente, caracteriza outra variável responsável por diferentes graus de
estresse” (FORMIGHIERI, 2003, p. 17).
Em suma, citando Aubert: O estresse ocupacional “é caracterizado
como uma perturbação para o indivíduo decorrente da sua força adaptativa para
25
conseguir enfrentar as demandas do seu ambiente de trabalho, quando estas
exigem além das suas capacidades físicas e mentais” (1996 apud
FORMIGHIERI 2003, p. 15).
26
3 BURNOUT
O termo burnout deve ser compreendido a partir de uma
desconstrução morfológica. Burn significa queima, out refere-se ao exterior.
Maslach e Leiter (1997 apud CAMPOS, 2005, p. 38) identificam burnout com
uma erosão na alma e nos valores do ser humano, que corresponde à queima da
dignidade e da força de vontade.
Campos (2005, p. 35) relata que, na década de 70, o médico
Herbert Freudenberg atendia a um grupo de usuários de drogas em Nova York e
que estes eram chamados de burnout por só darem importância às drogas e
perderem o interesse por tudo e por todos ao redor. Em 1974, o médico
escreveu um artigo para a Revista de Psicologia com o título Staff Burn-out sem
a conotação de gíria, mas com o objetivo de chamar a atenção da comunidade
científica para problemas enfrentados pelos profissionais de saúde. Benevides-
Pereira (2002) refere que o primeiro artigo versando sobre burn-out, segundo
Schaufeli e Ezmann (1998), foi publicado em 1969, por Bradley, referindo-se ao
desgaste de profissionais e propondo medidas organizacionais de
enfrentamento.
Codo (1999) diz que, “apesar de um conceito relativamente novo
(década de 70), em certo sentido o estudo de burnout tem a idade da Psicologia”
(CODO, 1999, p. 238). A teoria surgiu para explicar as contradições da vida
laboral do homem, em uma época de extrema solidão humana e escassez de
solidariedade; emerge como uma metáfora, diz Codo, “quando certos recursos
pessoais são perdidos, ou são inadequados para atender às demandas, ou não
proporcionam retornos esperados (previstos). Faltam estratégias de
enfrentamento” (CODO, 1999, 240).
Maslach e Leiter (1997 apud CAMPOS 2005) conceituam Burnout
como o índice do deslocamento entre o que as pessoas são e o que elas têm
que fazer. Erosão em valores, dignidade, espírito e força de vontade. Erosão da
alma humana decorrente de um estado de estresse prolongado em que
situações de enfrentamento não foram utilizadas, falharam ou foram
insuficientes. Na conceituação de Skovholt (2001 apud CAMPOS 2005), é a
hemorragia do self, definido como o eu intrapessoal.
27
Cadiz et al. (1997) observa que as fases iniciais dos estudos sobre
a síndrome de burnout levam em consideração o conceito centrado nas
descrições clínicas do fenômeno e em constatações não empíricas de sua
relativa freqüência. A pesquisa empírica concentrou atenção especial às
categorias ocupacionais diretamente vinculadas ao cuidado do outro, como
profissionais de saúde e educação.
Gil-Monte e Peiró (1997) identificam duas perspectivas de
conceituação e abrangência do fenômeno: a clínica e a psicossocial. A
perspectiva clínica, de acordo com estudos de Freudenberg (1974), conceitua a
síndrome de burnout como um estado relacionado com experiências de
esgotamento, decepção e perda do interesse pelo trabalho, com predominância
em profissionais que trabalham em contato direto com pessoas na prestação de
serviços, sendo uma conseqüência deste contato diário no trabalho. Baseado em
sua experiência clínica, Freudenberger assevera (1974 apud COSTA, 2002, p.
58): “burnout representa um estado de exaustão decorrente do trabalho
exaustivo, onde as pessoas esquecem suas próprias necessidades para atender
as necessidades alheias, na maioria das vezes sem condições efetivas de fazê-
lo”. O estado de esgotamento estaria impregnado das características individuais
do sujeito, a partir de um conjunto de expectativas inalcançáveis geradas por ele
mesmo e pelo tipo de atividade laboral.
Maslach e Jackson (1994 apud BORGES et al. 2002) apontam para
a perspectiva sócio-psicológica, definindo o fenômeno como uma resposta a
fontes crônicas de estresse emocional e interpessoal no trabalho. Em seus
estudos, Maslach e Jackson (1994) afirmam que a síndrome atinge profissionais
envolvidos com qualquer tipo de serviço, notadamente aqueles voltados para
atividades de cuidado com outros, em uma relação de atenção direta, contínua e
altamente emocional. Essa conceituação demarca a síndrome de burnout como
um processo que se desenvolve na interação do ambiente de trabalho e
características pessoais. O estresse persistente em situações de trabalho que
promovem repetitiva pressão emocional associada a intenso envolvimento com
pessoas por prolongados períodos de tempo ocasiona a incidência da síndrome
de burnout, segundo Harrison (1999 apud CARLOTTO, 2002). Codo (1999)
afirma que o sujeito perde o sentido de sua relação com o trabalho, tornando-se
indiferente a qualquer possibilidade de realização pessoal. O trabalhador sente
28
sua energia e os recursos emocionais próprios esgotados, devido ao contado
diário com os problemas. Assim, ele sente que não pode dar mais de si mesmo
afetivamente. “O burnout decorreria da discrepância entre o que o trabalhador
investe no trabalho e o que ele recebe em termos de reconhecimento de
superiores e colegas, dos clientes e usuários dos serviços que presta” (COSTA,
2002, p. 58).
Burnout é uma resposta do organismo diante de uma dificuldade
para lidar com situações de estresse prolongado, quando não parece ser
possível mudar circunstâncias complexas que exigem enfrentamento e o
indivíduo se sente impotente, incapaz perante o irreversível. Se for irreversível,
provoca desinteresse, desmotivação, resultados de um mal estar intenso ou uma
grande insatisfação ocupacional que, por sua vez, provocam o sentimento de
impotência, inutilidade e baixa auto-estima. A síndrome tem relação com o
mundo do trabalho, com o tipo de atividades laborais do indivíduo, envolve
aspectos sociais e inter-relacionais, por meio da despersonalização, o que não
ocorre necessariamente no estresse ocupacional (GIL-MONTE; PEIRÓ, 1997),
(MORENO-JIMÉNEZ; GARROSA; GONZÁLEZ, 2000); (BENEVIDES-PEREIRA,
2002). Essa definição demarca uma distinção importante, porquanto o estresse
pode apresentar aspectos positivos ou negativos, enquanto a síndrome de
burnout, que se constitui num estado prolongado e cronificado de estresse, tem
sempre um caráter negativo (BENEVIDES-PEREIRA, 2002).
Maslach e Jackson (1981) descrevem burnout como uma síndrome
tridimensional que se caracteriza pelo desgaste ou exaustão emocional,
despersonalização e incompetência ou falta de realização pessoal. Os três
fatores podem aparecer associados, mas são independentes, conforme versa
Codo (1999). Algumas variáveis possuem relevância no desencadeamento: as
características pessoais como idade, estado civil, filhos, sexo, nível educacional,
personalidade, hardness ou personalidade resistente aos estressores,
neurotismo, sentido de coerência, motivação e idealismo; e as características do
trabalho como tipo de ocupação, tempo de profissão.
Burnout é uma síndrome decorrente da cronificação do estresse
ocupacional, sendo, portanto, característica do meio laboral, com conseqüências
negativas em níveis individual, profissional, familiar e social. (BENEVIDES-
PEREIRA, 2002). Conforme Maslach e Jackson (1981 apud MORENO-JIMÉNEZ
29
et al. 2002), a síndrome pode objetivar-se através de três dimensões: exaustão
emocional, despersonalização e falta de realização pessoal no trabalho como
uma resposta ao estresse ocupacional crônico que compreende a experiência de
encontrar-se emocionalmente esgotado, o desenvolvimento de atitudes e
sentimentos negativos para com as pessoas com as quais trabalha, bem como
com o próprio papel profissional.
De acordo com Ballone (2002), esta Síndrome é uma resposta ao
estresse ocupacional crônico, que tem como características mais evidentes a
desmotivação, desinteresse, mal estar interno ou insatisfação ocupacional. Em
função disso, da exaustão emocional, ocorre avaliação negativa de si mesmo,
depressão e insensibilidade com relação a quase tudo e todos, até como defesa
emocional. Profissionais que mantêm uma relação constante e direta com outras
pessoas, em atividade de ajuda, resolvendo problemas dos outros, estão mais
suscetíveis a esse tipo de estresse. Trata-se de um conjunto de condutas
negativas que incluem deterioração do rendimento, perda da responsabilidade,
atitudes passivo-agressivas com os outros e perda da motivação. São acionados
tanto fatores internos, na forma de valores individuais e traços de personalidade,
como fatores externos, na forma das estruturas organizacionais, ocupacionais e
grupais, e o organismo parece se consumir física e emocionalmente, em função
de um contato interpessoal mais exigente. De acordo com pesquisas, os
primeiros anos da carreira profissional são mais vulneráveis.
A falta de esperança, a dificuldade para modificar circunstâncias e
adaptar-se a situações irreversíveis provocam o que Codo e Vasquez-Menezes
(1999 apud CAMPOS, 2005, p. 38) chamam de “síndrome da desistência”. Costa
(2002) diz que se trata da desesperança proveniente da impotência diante do
que parece ser irreversível, imutável.
Harrison (1999 apud CAMPOS, 2005, p.39) define burnout como
sendo “estresse de caráter persistente, vinculado a situações de trabalho,
resultante da constante e repetitiva pressão emocional associada a intenso
envolvimento no trabalho com pessoas por longos períodos de tempo”. Ballone
(2002) diz que certos estressores podem ser classificados de acordo com o
tempo que levam para produzirem estresse. Os de curto prazo referem-se à
sensação de fracasso, carga de trabalho, pressão de tempo, ameaças, medo. Os
de longo prazo são relativos a situações de competição, ambientes de perigo e
30
trabalho monótono. O autor diz que o estresse não é uma doença limitada a si
própria, mas que oportuniza outros males pelo desequilíbrio da pessoa
submetida a tensões suficientemente fortes ou persistentes.
Os sintomas mais evidentes são a exaustão emocional, mental,
fadiga e depressão, que se manifestam primordialmente nas atividades
profissionais, através de mudanças nos comportamentos de indivíduos
consideradas normais até então. A exaustão emocional é definida como uma
resposta ao estresse ocupacional crônico, caracterizada por sentimentos de
desgaste físico e emocional, verificadas no sujeito quando este sente que está
sendo super exigido e com pouco ou nenhum recurso emocional (MASLACH;
JACKSON, 1986; MASLACH, 1993 apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002). Esta
exaustão freqüentemente compromete a saúde mental e física dos
trabalhadores, deteriorando a qualidade de vida no trabalho e o funcionamento
da organização (WRIGHT; CROPAZANO, 1998 apud TAMAYO; TRÓCCOLI,
2002).
De acordo com Ballone (2002), o quadro evolutivo da síndrome
inclui quatro níveis de manifestação. No primeiro nível ocorre falta de vontade,
ânimo ou prazer de ir trabalhar, com dores nas costas, pescoço e coluna. No
segundo nível há deterioração do relacionamento com os outros, podendo haver
sensação de perseguição, absenteísmo e rotatividade de empregos. No terceiro
nível observa-se diminuição notável da capacidade ocupacional, com o
surgimento de doenças psicossomático, automedicação e até ingestão de álcool.
No quarto nível o quadro se agrava sensivelmente, com alcoolismo, dogradição,
idéias ou tentativas de suicídio. Neste nível também podem surgir doenças mais
graves.
Ainda mediante as observações de Ballone (2002), verificamos que
o quadro clínico completo inclui esgotamento emocional, despersonalização ou
desumanização, sintomas físicos de estresse, manifestações emocionais como
auto-avaliação negativa, sentimento de vazio, irritabilidade, inquietude,
manifestações físicas como transtornos psicossomáticos e manifestações
comportamentais. Há uma perda significativa da afetividade e do desempenho
que avança num crescendo enquanto o quadro se agrava. Esse quadro
apresenta características específicas de evolução. Inicia com a falta de vontade,
diminuição do ânimo ou prazer com o trabalho; alguns sintomas físicos como
31
dores nas costas, pescoço e coluna. Em seguida, os relacionamentos começam
a deteriorar e é possível surgir uma sensação de perseguição; é comum haver
nesta fase absenteísmo e rotatividade de empregos. O próximo passo no quadro
é a redução na capacidade ocupacional e doenças psicossomáticas que podem
levar a automedicação e ingestão de álcool. Se não houver intervenção, o
indivíduo encaminha-se para o alcoolismo e pode alimentar idéias suicidas.
Codo (1999) verifica que a despersonalização é um estágio da
síndrome evidente na atitude do trabalhador quando este trata os clientes,
colegas e a organização como objetos, expressando sentimentos de cinismo e
comportamentos negativos frente às pessoas destinatárias do trabalho. Outra
dimensão da síndrome é caracterizada pela diminuição da realização pessoal no
trabalho. O trabalhador tende a se auto-avaliar de forma negativa, sentindo-se
infeliz consigo mesmo e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional
(MASLACH, SCHAUFELI, LEITER, 2001 apud CARLOTTO, 2002). Surgem
sintomas como: sensação de inadequação ao posto de trabalho, sensação de
falta de suporte organizacional, sentimento de carecer da formação necessária,
diminuição da capacidade para resolução de problemas, carência de tempo
suficiente, etc. (MORENO-JIMÉNEZ et al, 2002).
Codo (1999) afirma que a síndrome deve ser considerada com a
análise dessas três dimensões como uma variável contínua, com níveis altos,
moderado e baixo e não como uma variável dicotômica, onde existe ou não
existe a presença do sintoma. A partir da combinação do nível de cada uma das
três dimensões se obtém o nível da burnout no indivíduo.
De acordo com Maslach et al. (2001 apud CARLOTTO, 2002),
existem divergências em alguns aspectos conceituais da síndrome entre autores,
porém todas as definições contêm pelo menos cinco elementos comuns, que
são: a) deve existir a predominância de sintomas relacionados à exaustão mental
e emocional, fadiga e depressão; b) a ênfase nos sintomas comportamentais e
mentais e não nos sintomas físicos; c) os sintomas da burnout são relacionados
ao trabalho; d) os sintomas manifestam-se em pessoas “normais” que não
sofriam de distúrbios psicopatológicos antes do surgimento da síndrome; e) a
diminuição da efetividade e desempenho no trabalho ocorre por causa de
atitudes e comportamentos negativos.
Tamayo e Troccoli (2002) definem burnout como uma síndrome
32
psicológica causada por uma tensão emocional crônica no trabalho, sendo uma
experiência subjetiva interna que gera sentimentos e atitudes negativas no
relacionamento do indivíduo com o seu trabalho, provocando insatisfação,
desgaste, perda do comprometimento, minando o desempenho profissional e
ocasionando conseqüências indesejáveis para a organização, como o abandono
do emprego, absenteísmo e baixa produtividade.
Os profissionais envolvidos com serviços, tratamento ou educação
podem estar mais sujeitos à síndrome, mas o processo e sua evolução são
individuais, podendo levar anos ou até décadas (MASLACH; LEITER, 1999
RUDOW, 1999 apud CARLOTTO, 2002). De acordo com Moracco e McFadden
(1982 apud LIPP, 2001), existem estressores potenciais do ambiente, que
podem ser ocupacionais, domésticos e sociais, e estes só se transformam em
estressores reais quando são avaliados pelo sujeito como ameaça ao seu bem-
estar e à sua auto-estima e isto irá depender da avaliação da interação entre as
suas características individuais e a percepção das exigências presentes. O
indivíduo utiliza alguns mecanismos para que esta ameaça não ocorra, e estes
mecanismos são determinados pelas características pessoais e, se eles não
forem eficientes, ocorrerá o estresse. Assim, se o nível de estresse for
prolongado aparecerão sintomas crônicos e a burnout.
Um modelo sociológico de estudo da síndrome proposto por Woods
(1999 apud CARLOTTO, 2002) aponta fatores em três níveis: o micro, meso e
macro. Os fatores micro estão relacionados com a biografia pessoal e
profissional do sujeito. Os fatores meso são os institucionais, ligados ao tipo de
organização, aspectos éticos da organização e aspectos culturais dos indivíduos.
Os fatores macro são todas as forças derivadas das tendências globais e
políticas governamentais.
Keltchtermans (1999 apud CARLOTTO, 2002) sinaliza para uma
perspectiva biográfica, na qual a burnout pode ser entendida com base no
desenvolvimento da carreira do trabalhador, e os estressores dependem de
características individuais e da história de vida profissional. Sleegers (1999 apud
CARLOTTO, 2002), prefere a interação entre as perspectivas sociológica,
psicológica e organizacional.
O grau do burnout pode ser avaliado usando-se o Maslach Burnout
Inventory (MBI) de Maslach & Jackson, que é um dos tipos de questionário de
33
auto-informe, denominado também de instrumento de autopreenchimento ou
auto-aplicável. Este instrumento já passou por três edições: a primeira foi
publicada em 1981 nos Estados Unidos, a segunda em 1986 e a terceira em
1996, juntamente com Michael Leiter.
Maslach, Jackson e Leiter, (1996 apud BENEVIDES-PEREIRA,
2002) asseguram que os níveis da burnout variam de acordo com a cultura, com
a categoria profissional e características relativas ao trabalho, evidenciando a
necessidade de estudos particularizados para cada população. Gil-Monte e Peiró
(1997) que existem facilitadores e desencadeadores para a síndrome de burnout.
Os facilitadores são as variáveis de caráter pessoal que têm função facilitadora
ou inibidora da ação dos estressores sobre o indivíduo, enquanto que os
desencadeadores são os estressores percebidos como crônicos, no ambiente de
trabalho.
Os policiais formam uma categoria especialmente exposta aos
riscos psicossociais, pois estes se defrontam com os desencadeadores de
estresse próprios da convivência e interação entre os indivíduos, como também
com situações nas quais se desequilibram as expectativas individuais do
profissional, a realidade do trabalho diário e as expectativas e demandas sociais.
Conceituando burnout, Farber (1971, 1995 apud COSTA, 2002, p. 58) diz se
tratar de “uma síndrome do trabalho, que se origina da discrepância da
percepção individual entre esforço e conseqüência, percepção esta influenciada
por fatores individuais, organizacionais e sociais”. Mallar e Capitão constatam
que os policiais são “chamados atualmente de profissionais de alto contato, os
quais aliam às longas jornadas o inevitável envolvimento com os problemas dos
outros e a excessiva carga de trabalho em ambientes potencialmente geradores
de conflitos” (MALLAR, 2004, p.19). É possível nessa situação que as
estratégias de enfrentamento não adaptativas esgotem os recursos emocionais
(MORENO-JIMÉNEZ; GARROSA; GONZÁLEZ, 2000) levando-os ao
deterioramento pessoal e profissional.
Benevides (BENEVIDES-PEREIRA, 2002) apresenta alguns
estudos empíricos e teóricos que contribuem para detectar as variáveis
desencadeadoras da burnout. As características pessoais do sujeito, as
características do trabalho, as características organizacionais e as
características sociais são levadas em consideração a fim de se fazer o
34
planejamento de ações preventivas e de estratégias para controle da síndrome.
Gil-Monte e Peiró (1997) analisam estratégias que servem para a
prevenção e o enfrentamento da síndrome de burnout, especialmente estratégias
individuais, ligadas ao desenvolvimento da assertividade, ao manejo eficaz do
tempo e ao treinamento para solução dos problemas; estratégias interpessoais e
grupais, que englobam o apoio social por parte dos colegas de trabalho e
superiores, ou seja, o feedback positivo do grupo; e estratégias organizacionais,
que objetivam principalmente a prevenção da síndrome, e inclui a melhoria do
ambiente e do clima organizacional através de programas de socialização,
desenvolvimento de processos de retro informação e programas de
desenvolvimento organizacional. As estratégias organizacionais estabelecem
metas e objetivos que a organização deverá alcançar, definem linhas claras de
autoridade e melhoram as redes de comunicação.
Conforme estudos de Benevides-Pereira (2002) os programas
preventivos, bem como as intervenções podem ocorrer em três níveis: 1) Os
programas centrados na resposta do indivíduo, focalizando-se a intervenção no
feedback da pessoa diante de situações negativas ou estressantes; 2) os
programas centrados no contexto ocupacional, considerando-se que a burnout é
produzida a partir de um contexto laboral desfavorável e, assim sendo é
necessário modificar a situação em que se desenvolvem as atividades,
principalmente no que se refere à organização; 3) os programas centrados na
interação do contexto ocupacional e o indivíduo, que objetivam combinar o
primeiro e o segundo nível, levando-se em conta que a burnout é conseqüência
da relação do sujeito e do ambiente de trabalho, torna-se necessário melhorar as
condições de trabalho, a percepção do trabalhador e a forma de enfrentamento
diante das situações de estresse laboral. Os programas centrados na interação
do contexto ocupacional e o indivíduo podem ser divididos de acordo com a fase
de atuação sobre o problema, assim existe a prevenção primária, em que o
objetivo é reduzir os fatores de risco da burnout, mudando a natureza do
estressor; a prevenção secundária ocorre quando já existe a percepção do
estresse na resposta da pessoa e no contexto de trabalho, sem ter
desencadeado sintomas e a prevenção terciária é a fase na qual os sintomas
efetivos já existem, trazendo perda do bem-estar e da saúde do sujeito. De
acordo com Benevides-Pereira (2002), somente com a combinação destes três
35
níveis se consegue intervir e, principalmente, prevenir o aparecimento da
síndrome de burnout.
A síndrome de burnout é classificada no CID-10 na categoria dos
Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionado ao Trabalho (Z73.0.
Grupo V). O Ministério da Saúde preconiza como tratamento o acompanhamento
psicoterápico, farmacológico e intervenções psicossociais.
Resumindo, Burnout pode ser definida como uma síndrome
tridimensional – desgaste ou exaustão emocional, despersonalização e
incompetência ou falta de realização pessoal – que se manifesta como resposta
do organismo a situações persistentes de estresse, resultante da constante e
repetitiva pressão emocional associada a intenso envolvimento no trabalho com
pessoas por longos períodos de tempo. Trata-se de um fenômeno psicossocial
relacionado diretamente à situação laboral. O homem busca constituir-se como
sujeito através de seu trabalho e o mesmo não se realiza de forma individual,
mas sim se materializa num espaço social. A atividade produtiva é um elemento
constitutivo da saúde mental individual e coletiva. Identificar os fatores
desencadeantes da burnout e suas conseqüências possibilita intervenções de
caráter preventivo, considerando que seu início é insidioso, traiçoeiro, silencioso
e progressivo, só se evidenciando como transtorno em sua fase final, quando
sintomas psicossomáticos já se encontram consolidados.
36
4 ESTRATÉGIAS DE COPING
O termo coping vem do verbo to cope, em inglês, que significa dar
conta (de algo), enfrentar (Oxford, 1999). Savoia (1999) define coping como as
habilidades desenvolvidas para adaptação ou domínio das situações de
estresse. Coping tem sido definido como um conjunto de estratégias que as
pessoas utilizam para adaptarem-se às circunstâncias estressantes. Antoniazzi,
Dell’Aglio e Bandeira (1998) afirmam que pesquisadores vinculados à psicologia
do ego têm concebido o coping enquanto correlato aos mecanismos de defesa,
mas há uma distinção clara entre os dois: os mecanismos de defesa são
classificados como rígidos, derivados de elementos inconscientes, enquanto os
comportamentos associados ao coping são flexíveis e propositais, com
derivações conscientes.
A idéia de coping como processo transacional entre a pessoa e o
ambiente tem ênfase no processo e em traços de personalidade. Outra
perspectiva de conceituação envolve pesquisas de convergência entre coping e
personalidade. Há evidências de que certos traços de personalidade como
otimismo, rigidez, auto-estima e lócus de controle se relacionam com estratégias
de coping. Folkman e Lazarus (1984, apud GUIDO, 2003, p. 21) estabelecem
um modelo com duas categorias funcionais de coping: focalizado no problema ou
focalizado na emoção.
Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998) definem coping como um
conjunto de esforços, cognitivos e comportamentais, utilizado pelos indivíduos
com o objetivo de lidar com demandas específicas, internas ou externas, que
surgem em situações de stress e são avaliadas como sobrecarregando ou
excedendo seus recursos pessoais.
Segundo Antoniazzi, Dell’aglio e Bandeira (1998), o modelo de
Folkman e Lazarus baseia-se em quatro conceitos: coping é um processo ou
uma interação entre o indivíduo e o ambiente; sua função é de administração da
situação estressora, controle ou domínio da mesma; os processos de coping
pressupõem a noção de avaliação; e o processo constitui-se em mobilização de
esforço. O coping funciona como um mediador entre um estressor e o resultado
advindo desse estressor. A resposta de coping é uma ação intencional, física ou
37
mental, iniciada em resposta a um estressor percebido. Nesse sentido, ressalta
Antoniazzi (1998), difere dos mecanismos de defesa, que são rígidos, derivados
de elementos inconscientes. Os comportamentos associados ao coping são
flexíveis e propositais, com derivações conscientes.
Os moderadores são variáveis pré-existentes que afetam a direção
ou a intensidade da relação entre uma variável independente e uma variável
dependente, mas não são afetadas pela natureza do estressor ou pela resposta
de coping. Os moderadores são recursos pessoais constituídos de
características físicas e psicológicas que incluem saúde física, moral, crenças
ideológicas, experiências prévias de coping, inteligência; refletem as
características da pessoa, do estressor, do contexto e da relação entre esses
fatores. Os mediadores são os mecanismos que, através da variável
independente, age sobre a variável dependente.
Pinheiro (2003) reconhece que a existência de muitos estudos
envolvendo múltiplos aspectos metodológicos e conceituais não tem
proporcionado consenso sobre os tipos de estratégias de coping. Os estilos e
estratégias de coping referem-se às formas habituais de lidar com o estresse.
Estes hábitos ou estilos podem influenciar suas reações em novas situações.
Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998) estabelecem em suas definições que os
estilos de coping estão mais relacionados a características de personalidade ou
a resultados de coping, enquanto as estratégias se referem a ações cognitivas.
Todas as tentativas de se lidar com os estressores são consideradas coping¸
independentemente de se lograr êxito ou não.
As psicologias social, clínica e da personalidade têm empreendido
estudos para investigar os esforços despendidos pelos indivíduos para lidar com
situações estressantes, crônicas ou agudas, privilegiando o estudo das
diferenças individuais. Nestes estudos podem ser observadas diferenças teóricas
e metodológicas marcantes em suas construções em função de suas filiações
epistemológicas (SULS; DAVID; HARVEY, 1996 apud ANTONIAZZI et al. 1998).
Vaillant (1994 apud ANTONIAZZI, 1998) relata que pesquisadores vinculados à
psicologia do ego conceberam o coping como um correlato aos mecanismos de
defesa, motivado interna e inconscientemente como forma de lidar com conflitos
sexuais e agressivos. Tapp (1985 apud ANTONIAZZI, 1998) observa que
eventos externos e ambientais, podem ser incluídos como possíveis
38
desencadeadores dos processos de coping e, a exemplo dos mecanismos de
defesa, categorizados hierarquicamente no sentido dos mais imaturos aos mais
sofisticados e adaptativos. Antoniazzi (1998) destaca que para esta geração de
pesquisadores o estilo de coping utilizado pelos indivíduos era concebido como
estável numa hierarquia de saúde versus psicopatologia. Pesquisas efetuadas
por Suls, David e Harvey (1996) apontam para uma nova perspectiva com
relação ao coping, com ênfase nos comportamentos de coping e seus
determinantes cognitivos e situacionais. Antoniazzi (1998) destaca que na
perspectiva cognitivista de Folkman e Lazarus (1980) as estratégias de coping
são ações deliberadas que podem ser aprendidas, usadas e descartadas. Nesse
sentido Ryan-Wenger (1992 apud ANTONIAZZI, 1998) considera que
mecanismos de defesa inconscientes e não intencionais, como negação,
deslocamento e regressão, não podem ser considerados como estratégias de
coping. Assim como somatização, dominação e competência são vistas como
resultados dos esforços de coping e não como estratégias.
Miller (1981 apud ANTONIAZZI; DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998,
p.283) destaca dois estilos de coping: o estilo monitorador, que utiliza estratégias
que envolvem estar alerta e sensibilizado; e o estilo desatento, que envolve
distração e proteção cognitiva de fontes de perigo. Para Band e Weisz (1988,
apud ANTONIAZZI; DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998, p.283) é preferível referir-
se ao coping primário e secundário, este fala da capacidade de adaptação da
pessoa às condições de estresse, aquele é utilizado com o objetivo de lidar com
situações ou condições objetivas) O estilo de coping é considerado ativo quando
há esforço de aproximação do foco de estresse, e passivo quando a pessoa o
evita. Em crianças pode ser definido como coping pró-social, quando o sujeito
procura ajuda de outros, e anti-social, quando ocorre reação agressiva contra
outrem. (BILLINGS; MOSS, 1984 e HOLAHAN; MOSS, 1885 apud ANTONIAZZI;
DELL’AGLIO; BANDEIRA, 1998, p.283).
Os estilos de coping estão ligados a fatores disposicionais do
indivíduo, as estratégias relacionam-se com fatores situacionais. As estratégias
incluem ações, comportamentos ou pensamentos usados para lidar com um
estressor ou situação adversa. No nível somático ocorre coping focalizado na
emoção, nos sentimentos, quando os esforços são dirigidos para alterar o estado
39
emocional do indivíduo a fim de reduzir ou eliminar a sensação desagradável
provocada pelo estresse.
O coping focalizado no problema atua na origem do estressor,
numa tentativa de alterar a situação que desencadeou o estado de estresse.
Esse esforço pode ter um direcionamento interno ou externo. De acordo com o
nível de desenvolvimento da pessoa surgem diferentes formas de lidar com o
estresse. A utilização de determinadas estratégias de coping, as escolhas dos
esforços dependem também do desenvolvimento cognitivo. Pesquisas têm
demonstrado que o gênero pode fazer diferença nas estratégias de coping.
Segundo Antoniazzi, Dell’Aglio e Bandeira (1998), coping é um
processo de interação que se dá entre o indivíduo e o ambiente, e que tem como
finalidade a administração da situação estressora e não o controle ou domínio
sobre ela. O processo inclui ações cognitivas que implicam em avaliação do
fenômeno conforme é percebido e interpretado pelo organismo, resultando em
mobilização de esforço cognitivo e comportamental para administrar as
demandas de sua relação com o ambiente. Folkman e Lazarus, (1985 apud
ANTONIAZZI, 1998), confirmam que pesquisadores passaram a conceitualizar
coping como um processo transacional entre a pessoa e o ambiente, com ênfase
no processo tanto quanto em traços de personalidade. Latack e Havlovic (1992
apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002) concluíram, após o exame de várias
definições sobre coping que há um certo consenso no que diz respeito à noção
de que esse fenômeno é parte de uma transação pessoa-ambiente decorrente
da avaliação do indivíduo que determina uma situação como estressante.
O foco de atenção do indivíduo na regulação da emoção envolvida
ao dispor-se para a solução de problemas foi enfatizado por alguns autores
durante um certo tempo, conforme observamos em alguns autores (FOLKMAN;
LAZARUS, 1980; COHEN, 1987; CARVER; SCHEIER; WEINTRAUB, 1989 apud
PINHEIRO et al. 2003), mas o deficitário teor explicativo a respeito do
comportamento expôs esse encaminhamento a questionamentos que
terminaram por minar-lhe a legitimidade (DEWE; COX; FERGUSON, 1993 apud
PINHEIRO et al. 2003).
Definições como as de Tamayo e Tróccoli (2002) destacam outros
aspectos do coping. Zautra e Wrabetz (1991), definem coping como um processo
dinâmico de esforços determinados para a resolução das dificuldades e das
40
demandas exigidas para o ajustamento do organismo. Parkes (1994) e Terry
(1994) conceituam como sendo um construto multidimensional que envolve uma
grande variedade de estratégias cognitivas e comportamentais que podem ser
utilizadas para alterar, reavaliar e evitar situações estressantes ou para amenizar
os seus efeitos adversos. Folkman, Lazarus, Dunkel-Schetter, Delongis e Gruen
(1986 apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002), definem como esforços cognitivos e
comportamentais que mudam constantemente e que se desenvolvem para
responder às demandas específicas externas e/ou internas avaliadas como
excessivas para os recursos do indivíduo. Alguns autores preferem dizer que
coping é uma variável individual representada pelas formas como as pessoas
comumente reagem ao estresse, determinadas por fatores pessoais, exigências
situacionais e recursos disponíveis (LAZARUS; FOLKMAN, 1984 apud
PINHEIRO et al., 2003).
Assim como há variações nas concepções quanto às estratégias,
também ocorrem distinções quanto à forma de enfrentar o estresse, conforme
demonstra Pinheiro et al. (2003), relatando estudos de Carver et al. (1989),
Dewe et al. (1993) e Taylor (1986), onde são apontadas categorias gerais de
estratégias, tais como busca de informações, ação direta, inibição da ação,
processos intrapsíquicos e busca de apoio social. Em alguns estudos, observa-
se uma redução das opções de estratégias a duas dimensões: controle e a
esquiva.
As funções de coping e as formas pelas quais as pessoas a
utilizam servem para evidenciar a diferença entre função e conseqüência do
coping. A função fala do propósito a que a estratégia serve e as conseqüências
dizem respeito ao efeito produzido pela estratégia. A utilização de determinada
estratégia, não resulta necessariamente, que a situação ameaçadora seja
evitada, conforme avaliação de Lazarus e Folkman (1984 apud SAVOIA 1999).
Lazarus e Folkman (1984) consideram dois tipos de estratégias
para a compreensão do coping: as estratégias focalizadas no problema, que têm
como propósito analisar e definir a situação, considerando seus custos e
benefícios, e buscando alternativas para resolvê-la; e as estratégias centradas
na emoção, que dizem respeito aos processos cognitivos responsáveis pela
diminuição do transtorno emocional produzido por uma situação estressante,
41
conforme definição de Lazarus e Folkman (1984 apud GIL-MONTE; PEIRÓ,
1997).
O primeiro tipo, segundo Lazarus e Folkman (1984 apud SAVOIA,
1999), tenta modificar a relação entre a pessoa e o ambiente, controlando ou
alterando o problema causador do estresse, incluindo estratégias que afetam o
ambiente e o sujeito As estratégias dirigidas ao ambiente tentam alterar o
estressor através de mudanças nas pressões externas, nos obstáculos, nos
recursos, nos procedimentos. As estratégias que afetam o sujeito estão
relacionadas a mudanças nas aspirações do indivíduo, redução da participação
do Eu, desenvolvimento de novas condutas, assim como a aprendizagem de
novos procedimentos e recursos (TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002).
Já as estratégias centradas na emoção são utilizadas pelo
indivíduo quando houve uma avaliação de que nada pode ser feito para modificar
as condições ambientais, ou seja, quando percebem que os estressores não
podem ser modificados e que é necessário continuar interagindo com eles. Entre
essas estratégias estão a esquiva, a culpabilidade, o escape, o distanciamento, a
atenção seletiva, as comparações positivas e a extração de aspectos positivos
de acontecimentos negativos, segundo Tamayo e Tróccoli (2002).
Savoia (1999) considera que as estratégias de coping focalizadas
no problema e as estratégias centradas na emoção influenciam-se mutuamente
em todas as situações estressantes, sendo que a emergência de uma
manifestação pode facilitar ou impedir uma ou outra forma. Recursos pessoais
tais como saúde e energia, crenças existências, habilidades de solução de
problemas, habilidades sociais, suporte social e recursos materiais podem influir
significativamente na forma pela qual uma pessoa usa o coping. Algumas
variáveis que diminuem o uso dos recursos pessoais, que podem ser de
natureza pessoal ou ambiental, também podem determinar o coping. Cordes e
Doughherty (1993 apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002) defendem que a
disponibilidade de estratégias de coping modera a relação entre os estressores e
a exaustão emocional
O uso de estratégias de coping de controle ou centradas no
problema previne o desenvolvimento da burnout, ao passo que, a utilização de
estratégias centradas na emoção facilita a sua aparição, segundo estudos de Gil-
Monte e Peiró (1997).
42
Alguns autores defendem que estratégias de coping inativas, como
por exemplo, o escape, a evitação e a medicação, apresentam uma relação
positiva com a burnout, e um nível baixo de burnout proporciona ao indivíduo a
possibilidade de enfrentar as situações estressantes de forma ativa e direta,
enquanto que, um nível alto de burnout, pode diminuir a energia do sujeito para
lidar com as situações de forma ativa, levando-o a adotar comportamentos
passivos e indiretos (ETZION; PINES, 1986; THORTON, 1992 apud TAMAYO;
TRÓCCOLI, 2002).
No relato de uma pesquisa realizada por Leiter (1991), Tamayo e
Tróccoli (2002) apresentam resultados evidenciaram que um índice menor de
exaustão emocional estava associado à utilização de estratégias de coping. Os
estudos mostram também que o uso de estratégias de escape/evitação aumenta
a exaustão emocional, denotando a ineficácia deste tipo de estratégia para evitar
a burnout.
À medida que as pesquisas avançam enfatizando o trabalho como
um fazer essencial ao homem, crescem os saberes que se preocupam com o
ambiente físico do trabalho e as condições materiais para exercê-lo, com a
natureza, as condições ambientais para o exercício do trabalho e com as
condições de vida do trabalhador, conforme observam Arantes e Vieira (2002).
43
5 SIGNIFICADO DO TRABALHO
A palavra trabalhar tem origem em tripaliare, do latim vulgar, e
significava torturar, e de tripalium, um instrumento de tortura. Shakespeare
retratou a idéia de forma poética: “Exausto com o trabalho corro ao leito, repouso
de meus membros tão cansados; mas corre a mente agora o curso feito, ‘stando
o labor do corpo terminado” (SHAKESPEARE, 2005, p. 22). Porém, como a
língua é construída histórica e socialmente pelos usuários, o significado evoluiu
ao longo dos séculos. Carvalho (1999) diz que o trabalho não atende apenas a
uma necessidade humana básica e nem é só uma obrigação social, mas é um
direito dos seres humanos, previsto em Lei. Dejours (1992) diz que o trabalho é
fonte de sentido para a vida humana, constituinte de sua identidade.
A revolução industrial trouxe, numa esteira de revisões e re-
significações, a reavaliação do significado do trabalho sob uma perspectiva mais
existencial e humana. Trabalho como algo penoso e difícil era, até a Idade
Média, atividade desempenhada pelos escravos ou pessoas de baixa condição
social. Esse significado está alicerçado na cultura judaico-cristã. Na cultura
grega, com o dualismo ontológico corpo/espírito, expresso na cultura ocidental
pelo cartesianismo, o trabalho corporal era considerado como uma atividade
indigna dos homens livres, porquanto impossibilitava o ócio, a contemplação, a
fruição da arte e das atividades de reflexão sábia.
A modernidade propiciou uma nova compreensão do trabalho. Max
Weber introduz uma concepção menos negativa – trabalho enquanto
colaboração com Deus – mas não menos determinista e segregacionista na
legitimação das diferenças sociais a partir de uma espécie de eleição divina.
A partir do século XVIII o trabalho afirma-se como instrumento de
melhoria da qualidade de vida, por propiciar meios eficazes de autonomia e
recursos úteis para uma vida mais digna. A partir do século XVIII registra-se uma
mudança importante no sentido. De uma condição social de inferioridade, o
trabalho afirma-se como um dispositivo eficaz de autonomia e superação de
situações sentidas como danosas à condição e dignidade humana. Observa-se a
mudança de uma visão teocêntrica para uma visão antropocêntrica.
44
No início do século XXI, no mundo globalizado, verifica-se o
escasseamento das oportunidades de trabalho remunerado, este com elevado
valor sócio-afetivo. Continua-se a atribuir ao trabalho um significado de
participação e reconhecimento sociais. A atividade profissional continua a ser
entendida como uma das fontes mais importantes fundadoras de sentido para a
vida humana. A idéia do cidadão produtivo impregna as sociedades. O emprego
é bem mais do que uma fonte de rendimento, é freqüentemente a medida do
valor pessoal, compondo a centralidade que o trabalho ou atividade profissional
tem na vida das pessoas.
Dejours (1992) demarca o período de desenvolvimento do
capitalismo industrial, no século XIX, com alguns elementos importantes:
duração do trabalho chegando até a 16 horas por dia, salários ínfimos, moradia
escassa, altas taxas de mortalidade. A burguesia perde a credibilidade e sua
imagem humanista se desfaz. Três correntes perpassam esse período: o
movimento humanista, o movimento das ciências morais e políticas e o
movimento dos grandes alienistas. Para conter os desvios e atentados
individuais à ordem social, emerge a repressão estatal. Da primeira Guerra
Mundial até 1968 acontecem mudanças significativas na jornada de trabalho e
no significado do trabalho. A partir do ano de 1968, “o desenvolvimento desigual
das forças produtivas, das ciências, das técnicas, das máquinas, do processo de
trabalho, da organização e das condições de trabalho” (DEJOURS, 1992, p. 22)
culmina com o esgotamento do sistema Taylor. A droga e as toxicomanias fazem
parte da “crise da civilização”, como enfatiza Dejours (1992, p. 24).
Soratto e Olivier-Heckler (1999) definem o trabalho como uma
atividade de criação intencional, planejada, que demanda capacidades cognitivas
e transforma a natureza dando origem a um produto que antes só existia na
mente humana e que, uma vez concretizado através do trabalho, torna-se parte
do mundo, adquire vida própria independentemente do seu criador e do
momento de sua criação. O trabalho tem uma dimensão intergeracional porque
através dele as gerações partilham produções, construções e têm a possibilidade
de continuar transformando, refazendo, renovando, a partir de algo
anteriormente criado. “Trabalhando, cada povo cria seus costumes próprios,
suas leis e seu ritmo de crescimento e desenvolvimento econômico e social”
(CARVALHO, 1999, p. 25). Nossos costumes, conhecimentos, leis e técnicas
45
formam um patrimônio coletivo que percorre os séculos e resulta do trabalho de
todos os povos que viveram antes de nós. Neste sentido, o trabalho como
atividade criativa e de transformação modifica, não somente o mundo, mas
também o homem que o executa, na medida em que ele se reconhece no seu
trabalho, se orgulha do fruto do seu trabalho e também se transforma nesse
processo. O trabalho possibilita ao homem adquirir conhecimentos, experiências,
habilidades. “Toda a cultura mundial é soma e emaranhado de heranças, com as
quais também contribuímos para transformar, com o nosso trabalho”
(CARVALHO, 1999, p. 27). Codo (1997) refere-se ao trabalho como ação de
transformação transcendente que envolve o sujeito, o objeto e o significado,
capaz de imortalizar o homem, enfatizando-o como ser histórico.
O trabalho enquanto processo de criação deve levar em conta os
diferentes modos de organização deste, considerando que as formas de
planejamento e execução para a obtenção de um produto através da
transformação da natureza são múltiplas e não se prendem a um único
momento, conforme análise de Soratto e Olivier-Heckler (1999). O modo como o
trabalho se organiza e as condições do trabalhador frente a esta organização
são preditores de como o trabalhador se sentirá frente ao seu labor. Um mesmo
trabalho pode ser realizado de diversas maneiras e se há flexibilidade na
organização da atividade, o trabalhador reconhecerá sua própria autonomia. A
falta continuada e exagerada de autonomia pode provocar sofrimento e
insatisfação.
Por condição de trabalho, Dejours (1992) entende o ambiente
físico, ambiente químico, o ambiente biológico, condições de higiene, de
segurança, e as características antropométricas do posto de trabalho. A
organização do trabalho inclui, para esse autor, a divisão do trabalho, o conteúdo
da tarefa, o sistema hierárquico, as modalidades de comando, as relações de
poder, as questões de responsabilidades. Relação de trabalho envolve “todos os
laços humanos criados pela organização do trabalho: relações de hierarquia,
com as chefias, com a supervisão, com os outros trabalhadores – e que são às
vezes desagradáveis, até insuportáveis” (DEJOURS, 1992, p. 75).
Soratto e Olivier-Heckler (1999) acreditam que um ciclo de trabalho
maior possibilita um planejamento no qual o trabalhador se assenhoreia do seu
trabalho, permitindo maior envolvimento e menor alienação, com conseqüente
46
redução do sofrimento, e obtenção de prazer e satisfação. Acrescente-se a isso
comprometimento e possibilidade de gestão favorável do tempo e expectativa de
retorno sobre o trabalho realizado. Essa perspectiva é norteada por estudos
realizados com várias categorias profissionais analisando a relação do
trabalhador com o processo de trabalho, o ciclo de trabalho, a relação com o
produto do trabalho e o controle sobre o trabalho. O ser humano emprega
afetividade na relação com o trabalho, e esta relação tem também caráter
subjetivo, porquanto nela se investem alegrias, satisfações, queixas, sonhos. O
espaço da afetividade no trabalho contribui para a identidade do trabalho, se
nesse se encontra o reconhecimento do próprio esforço no produto final. Se
durante o processo de produção o reconhecimento não se evidencia, se não há
autonomia e o trabalho é fragmentado, o trabalhador tem sua identidade
ameaçada, o que lhe traz sofrimento e desequilíbrio.
Jacques (1996) destaca a importância do trabalho na vida do ser
humano observando o tempo de vida que o homem gasta em atividades laborais
e como a atividade profissional compromete a identidade individual. Em seus
estudos Campos percebeu que “o trabalho, atividade essencial para a
sobrevivência do homem e gerador de expectativas, frustrações ou triunfos,
consome metade da vida, desperta e define interesse e identidade pessoal”
(CAMPOS, 2005, p. 17). Todavia, conforme enfatiza Dejours (1992), mesmo
constatando essa importância atribuída ao trabalho, nem sempre este funciona
como fonte de crescimento, reconhecimento e independência profissional, já que
muitas vezes causa problemas de insatisfação, desinteresse, irritação e
exaustão. “A atividade do trabalho, pelos gestos que ela implica, pelos
instrumentos que ela movimenta, pelo material tratado, pela atmosfera na qual
ela opera, veicula um certo número de símbolos” (DEJOURS, 1992, p.50)
compondo o conteúdo concreto e abstrato do significado do trabalho. Como diz
Codo, “Quando o homem se relaciona com o mundo, imprimindo-lhe a sua
marca, além da energia física ele despende também uma energia psíquica,
enquanto dá significação às coisas” (CODO, 1999, p. 52). Isso faz com que o
trabalho englobe a objetividade do mundo real e a subjetividade do indivíduo que
o realiza. Cada tipo de trabalho permite múltiplas possibilidades de expressão da
subjetividade e afetividade do sujeito em maior ou menor grau.
47
Sartre defendia que o homem define-se pelo seu projeto de vida e
só existe na medida em que o realiza. Todo projeto é fundamentado por
escolhas e as escolhas têm um caráter individual com dimensões sociais e
universais. Lucchiari (1998) fala da importância da escolha de uma profissão
como uma das escolhas mais fundamentais na vida das pessoas. “Escolher um
trabalho, uma profissão é escolher a forma pela qual queremos participar do
mundo em que vivemos que é, sem dúvida, uma forma de ser responsável
também pelas escolhas dos outros” (LUCCHIARI, 1998, p. 15).
Mallar (2004) destaca a importância de se conhecer a saúde geral
e mental dos trabalhadores, seu adoecer, as características de cada trabalho e
suas relações com as doenças ou agravos psicossomáticos. Há um significativo
crescimento de pesquisas direcionadas para o impacto do trabalho na saúde
física e mental do trabalhador. Benevides-Pereira (2002) diz que as
organizações têm aumentado a atenção quanto à significação e à repercussão
do trabalho sobre o trabalhador e, também, aos efeitos dessa relação na
instituição. Os estudos demonstram que o desequilíbrio na saúde do profissional
provoca efeitos negativos na qualidade dos serviços prestados e no nível de
produção, com diminuição dos lucros, na medida em que os custos se
incrementam em absenteísmo, auxílio-doença, reposição de funcionários,
transferências, novas contratações e treinamento.
Costa diz que o desejo de poder controlar e interferir no mundo
circundante e desta forma prever acontecimentos é talvez o mais antigo dos
desejos humanos, e “vemos o homem primitivo com seu limitado entendimento
do mundo ao seu redor apelar para os rituais e estabelecer códigos de conduta”
(COSTA, 2002, p. 34). O homem ampliou sua capacidade de predizer os
acontecimentos e exercer controle sobre eles com o desenvolvimento da ciência
e da tecnologia. Todavia, a ação humana resulta da interação entre seres
singulares e imprevisíveis, mobilizados por fatores pessoais internos, afetivos e
biológicos, e ambiente externo. Como diz a autora, os fatores situacionais, os
papéis que a pessoa ocupa e outras circunstâncias determinam parcialmente o
que se pode, ou não, fazer em resposta à ação dos outros. Assim sendo, “as
dificuldades de relações interpessoais, ocorrem mais provavelmente quando os
indivíduos desenvolvem estreita amplitude de comportamentos efetivos e por
48
isto, dependem de métodos coercitivos para forçar as ações desejadas pelos
outros” (COSTA, 2002, p. 37). .
O trabalho dos policiais civis envolve ações que provocam
estresse agudo e exaustão emocional. Existe um contato direto e constante com
a violência e a insegurança. E, embora o exercício dessa função tenha elevado
valor social, porquanto o policial desempenha um papel importante para a
cidadania, nem sempre é reconhecido pela sociedade como tal. “A rigor, todo
trabalho é igualmente importante para a sociedade. [...] A importância da
percepção do próprio trabalho como útil à sociedade tem valor inegável para a
auto-estima do trabalhador” (CODO, 1999, p. 293). É sobre essa percepção que
o homem estrutura a sua identidade. O reconhecimento da importância social do
trabalho tem relação direta com a burnout, de acordo com Codo (1999), pois
quando o trabalhador não sente o produto do seu trabalho como sendo
importante, aumentam os sentimentos de burnout. Albornoz destaca que “um
homem só satisfaz seu desejo, suas carências humanas, quando outro homem
seu igual lhe reconhece o seu valor humano. O homem só pode manter-se
humano na relação com outros homens” (ALBORNOZ, 2004, p. 64), pois o
indivíduo só é legitimamente humano em comunidade. A autora acredita que a
violência origina-se do desejo humano espiritual de reconhecimento que cada
um traz dentro de si. “As percepções que as pessoas têm de sua eficácia afetam
as projeções e antecipações que fazem sobre as circunstâncias de suas ações”
(COSTA, 2002, p. 44). Bandura (1986 apud COSTA 2002) afirma que
praticamente todo comportamento humano é propositado e regulado pelas
antecipações ou projeções das conseqüências de seu comportamento. Costa
(2002) acredita que o ambiente social pode colocar restrições ao que as pessoas
fazem ou ao que pode ajudá-las a se comportar de modo melhor. Bandura (1983
apud COSTA 2002, p. 52) afirma que “auto-eficácia não se refere à capacidade
que se tem, mas ao julgamento do que se pode fazer com aquilo que se tem”.
Carvalho (1999) fala da importância do produto do trabalho
individual para referendar o papel social do homem em comunidade. O policial é
um funcionário que deve se submeter às leis do Estado e trabalhar em prol do
bem-estar e segurança da sociedade. “Funcionários públicos produzem conforto
às pessoas, quando prestam serviços à comunidade” (CARVALHO, 1999, p. 40).
Desse modo, fazendo parte de uma instituição que é julgada levando-se em
49
consideração sempre os interesses gerais da sociedade, freqüentemente esse
trabalhador é rotulado de maneira depreciativa, preconceituosa. O modelo de
segurança que a sociedade tem em mente responde aos seus anseios mais
primários, e envolve conceitos, princípios e valores que são historicamente
construídos. Em muitas situações o policial civil não tem condições de atender às
demandas que recebe, mas é atingido visceralmente por elas e o resultado é
sofrimento. “O comportamento das pessoas em grande parte é regulado pela
disposição prévia organizando alvos conhecidos. O estabelecimento de alvos ou
metas é afetado pela auto-avaliação das próprias capacidades” (COSTA, 2002,
p. 43).
Albornoz (2004) defende que o homem precisa reconhecer-se nos
produtos que cria e esse reconhecimento lhe fornece a consciência de si como
ser humano. O trabalho policial implica em cuidado. Roach (1993, p. 47, apud
CAMPOS, 2005, p. 32) diz que cuidar do ser humano é uma capacidade
inseparável da natureza humana, mas não é uma atribuição fácil. Gamboa
(1997, apud CAMPOS, 2005, p. 32) explica a questão: “cuidar não é um ato
único ou a soma de procedimentos técnicos ou qualidades humanas, é o
resultado de um processo no qual delicada e estreitamente se conjugam
sentimentos, valores, atitudes”. Cuidado, segundo definição de Codo (1999) “é
uma relação entre dois seres humanos cuja ação resulta no bem-estar do outro
[...] uma relação de dupla transformação entre homem (no sentido de ser
humano que cuida) e objeto (no sentido de externo ao homem; o outro que
recebe cuidado)” (CODO, 1999, p. 53). O cuidador se transforma enquanto cuida
de outrem, transferindo parte de si enquanto vê seu trabalho realizado. Esse
profissional, não raro lida com demandas de cuidado em contraposição com
situações de extrema violência e riscos, em ambientes hostis com altos graus de
tensão.
Dejours (1992) diz que o medo é um elemento constante na
vivência dos trabalhadores e está presente em todas as categorias profissionais.
O policial está sujeito freqüentemente a riscos relacionados com sua integridade
física. O caráter imprevisível desses riscos é fonte de ansiedade. Bandura
postula uma “relação interativa, apesar de assimétrica entre a autopercepção de
eficácia e a instigação do medo, na qual a eficácia autojulgada exerce o maior
impacto” (1983 apud COSTA 2002, p. 55).
50
O significado do trabalho permeia a vida e as relações em cada
cultura numa perspectiva construída historicamente e explicitada na linguagem e
nos comportamentos dos indivíduos. O homem moderno atribui sentido à própria
existência no trabalho. O status que o emprego confere ao sujeito é uma marca
dessa era. Sob a ótica filosófica, trabalho pode significar o ato humano que inclui
forças espirituais e corporais para um fim objetivamente delineado e que deve
ser perseguido. Albornoz (2004) diz que nesse sentido o trabalho significa um
esforço afirmado e desejado para a realização de objetivos e, tanto o esforço
como o resultado, são considerados trabalho. Nesse século, muitas questões
que envolvem o convívio harmonioso entre os cidadãos foram transferidas do
âmbito familiar para o domínio social.
Albornoz (2004) fala sobre a reavaliação do significado do trabalho
a partir da Reforma Protestante. Para Calvino é vontade de Deus que todos
trabalhem, e a Bíblia Sagrada reitera esse pensamento. Diferentemente da
concepção católica, há uma ênfase no aspecto moral que confere ao trabalho um
aspecto de “eleição e graça” identificado com a própria fé. Nessa perspectiva, “A
falta de vontade de trabalhar é um sintoma de ausência do estado de graça.
Para o cristão há o dever de trabalhar” (2004, p. 55). No período renascentista o
pensamento judaico-cristão e heranças greco-romanas se somam e o trabalho
passa a ser a expressão da personalidade e do próprio homem. O significado do
trabalho não está mais na renda, na salvação, no status ou no poder sobre
outras pessoas, mas no processo técnico inerente que transforma o homem num
sujeito ativo, construtor do mundo.
Uma questão importante que faz parte dessa discussão na
sociedade atual é a violência. Para Albornoz (2004, p.67), “a violência teria sua
origem não em contradições de interesses econômicos e materiais, mas sim no
desejo humano espiritual de ser reconhecido cada um em seu valor humano”. O
indivíduo em sociedade antecipa em seus projetos o resultado do
reconhecimento de que necessita. O homem deseja e necessita de
reconhecimento e na relação com outros homens evidencia seu desejo e suas
carências humanas. “A essência humana não pode manifestar-se no indivíduo
isolado. O indivíduo só é propriamente indivíduo, e indivíduo humano, quando
em comunidade” (ALBORNOZ, 2004, p. 64). Através do trabalho como
51
instrumento de participação na vida social, o homem obtém um reconhecimento
de outrem como indivíduo humano.
A integração dos homens pressupõe a integração dos projetos
individuais e o convívio sempre foi acompanhado de formas de pressão e
controle social. O trabalho de quem é incumbido de empreender ações que
visem reduzir a inadaptação social, seja de forma preventiva ou repressiva, em
constante contato com outros seres humanos, impregna-se de conflitos. “Não é o
trabalho per si que faz mal ao trabalhador, mas os modos como ele se realiza”
(CODO, 1999, p. 282).
Policiais compartilham emoções, atribuições, procedimentos,
responsabilidades, idéias em ambientes e situações de extremo contato humano,
em relacionamentos por vezes conflituosos, em meio à insegurança, violência,
sofrimento, confrontos. Acontecimentos inesperados, situações de risco exigem
complexas e múltiplas ações que garantam a vida, assegurem a harmonia e
equilíbrio no convívio social, forneçam a segurança.
Bock (1999, p. 312) diz que as pessoas costumam procurar
atividades profissionais que tenham importância social e que proporcionem
remuneração suficiente para um bom padrão de vida. Quais seriam as profissões
de maior relevância social? A importância que a sociedade atribui à profissão
redunda em remuneração proporcionalmente equivalente? A verdade é que
profissões que contribuem maximamente para a vida em sociedade são
freqüentemente desvalorizadas.
Borges e Alves Filho (2001) caracterizam o significado do trabalho
como uma cognição subjetiva e social que varia individualmente, na medida em
que deriva do processo de atribuir significados e, ao mesmo tempo, apresenta
aspectos socialmente compartilhados, associados às condições históricas da
sociedade. Portanto, o significado do trabalho revela a contemporaneidade do
sujeito do processo.
Os estudos sobre o significado do trabalho desenvolvidos nos
anos 80 por uma equipe de pesquisadores conhecida pela sigla MOW – Meaning
of Work International Research Team (1987) são considerados o principal marco
teórico-metodológico na produção de conhecimentos sobre o significado do
trabalho. Para a Equipe MOW (1987), a estrutura geral do conceito de significado
do trabalho envolve três grandes domínios, dimensões ou facetas: a centralidade
52
do trabalho, as normas societais do trabalho e os resultados e objetivos
valorizados do trabalho.
A centralidade é definida como o grau de importância geral que o
trabalho possui na vida de um indivíduo em determinado momento,
independentemente das razões pelas quais tal importância seja atribuída. É,
também, o grau de importância conferida ao trabalho em comparação com as
demais esferas vitais – família, lazer, religião e comunidade. Ou, ainda, uma
crença geral acerca do valor do trabalho na vida do indivíduo (ENGLAND;
MISUMI, 1986 e MOW, 1987 apud BORGES; ALVES FILHO, 2001).
Os objetivos e resultados valorados se relacionam com as
finalidades que as atividades de trabalho possuem para o indivíduo,
respondendo à indagação acerca do porquê o indivíduo trabalha. Consistem nos
objetivos que os indivíduos esperam alcançar por meio do seu trabalho e a
valoração atribuída aos resultados do mesmo, envolvendo funções intrínsecas
(relacionadas ao conteúdo do trabalho, às tarefas) e extrínsecas (não
relacionadas ao conteúdo do trabalho ou tarefas) (MOW, 1987). Bastos, Pinho e
Costa (1995) vêem nessa faceta um componente motivacional.
As normas societais do trabalho consistem nos direitos e
obrigações individuais para com a sociedade em equivalência com a
reciprocidade social (MOW, 1987) ou, ainda, como acentuam Bastos, Pinho e
Costa (1995), expressão geral do que seriam trocas eqüitativas entre o que o
indivíduo recebe da situação de trabalho e as contribuições que ele traz para o
processo de trabalho.
A Equipe MOW (1987) identificou quatro padrões de significado do
trabalho: instrumental (ênfase nos aspectos econômicos e minimização dos
aspectos intrínsecos do trabalho); expressivo e de centralidade (ênfase na
expressão pelo trabalho que é central e resultados econômicos como não
importantes); orientação para o direito e contato (ênfase nas normas de direito e
alta valorização da dimensão contato social); e baixo direito (minimização das
normas de direito e orientação média para obrigações).
Borges (1999) avalia que, dentre outros aspectos, o trabalho da
Equipe MOW contribuiu para a consideração do construto significado do trabalho
como multifacetado, para a inclusão de aspectos sócio-normativos e na
elaboração de questionários padronizados e testados em diversos países.
53
centralidade do trabalho, atributos valorativos, atributos descritivos e hierarquia
dos atributos
Também tomando os estudos da Equipe MOW (1987) como
referência e fazendo uso dos instrumentos adaptados ao contexto brasileiro por
Soares (1992), outros estudos desenvolvidos no Brasil confirmaram a função
instrumental do trabalho como a mais importante e, em relação à centralidade, a
maior importância atribuída à família, seguida pela esfera trabalho
(BASTOS;PINHO;COSTA, 1995; BORGES-ANDRADE MARTINS;ABBAD-OC,
1995; SANTOS, 1995 e SILVA, 1995). Estes estudos mostraram, também, uma
variabilidade do significado do trabalho conforme variáveis sócio-demográficas
definidas: categoria ocupacional, sexo, idade, renda, tempo de serviço, dentre
outras.
Borges (1998) propôs um modelo de construção do significado do
trabalho para explicar a relação entre significado do trabalho e socialização
organizacional que previa que os indivíduos integram conjuntos de variáveis
(características sócio-econômicas e demográficas, estrutura social das
organizações e concepções do trabalho) pelo processo de socialização
organizacional (envolvendo: qualificação/inclusão, competência e objetivos e
tradições organizacionais), construindo um significado próprio do trabalho
(multifacetado: centralidade do trabalho, atributos valorativos, atributos
descritivos e hierarquia dos atributos), com o qual voltam a atuar sobre os
primeiros.
A estrutura dos atributos valorativos consiste na identificação do
seguinte conjunto de fatores primários: 1) Justiça no trabalho (r2=0,17 e
Alfa=0,92): define que o ambiente de trabalho deve garantir as condições
materiais, de higiene e de equipamentos adequados às características das
atividades e à adoção das medidas de segurança, bem como garantir o retorno
econômico compatível, o equilíbrio de esforços e direitos entre os profissionais;
2) auto-expressão e realização pessoal (r2=0,12 e Alfa=0,81): define que o
trabalho deve oportunizar expressão da criatividade, do sentimento de
produtividade, das habilidades interpessoais, da capacidade de tomar decisões e
do prazer pela realização das tarefas; 3) sobrevivência pessoal e familiar
(r2=0,05 e Alfa=0,78): define que o trabalho deve garantir as condições
econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal, a assistência à família, a
54
existência humana, a estabilidade no emprego decorrente do desempenho, o
salário e o progresso social; e 4) desgaste e desumanização (r2=0,04 e
Alfa=0,77): define que o trabalho deve implicar em desgaste, pressa,
atarefamento, perceber-se como máquina ou animal (desumanizado), esforço
físico, dedicação e perceber-se discriminado.
O fator valorativo Desgaste e Desumanização faz parte da
estrutura fatorial, mas a exemplo da estrutura fatorial encontrada no estudo com
operários da construção habitacional e trabalhadores de redes de supermercado
(Borges, 1997; 1999; Borges e Tamayo, 2001), também apresenta um
coeficiente alfa inferior aos demais fatores dos atributos valorativos. Além dessa
constatação, observamos a tendência das diferentes amostras apresentarem
pontuações mais baixas neste fator do que nos demais. Significa, pois, que este
fator se constitui em atributo valorativo apenas para uma parcela da amostra. A
mesma seqüência de estudos já relatada permitiu o aperfeiçoamento da
identificação dos fatores dos atributos descritivos. No último teste empírico
desenvolvido por Borges e Alves-Filho (no prelo), com profissionais de saúde,
bancários e trabalhadores de uma distribuidora de petróleo, foi identificada a
seguinte estrutura fatorial dos atributos descritivos: 1) Auto-expressão (r2=0,24 e
Alfa=0,91): descreve o trabalho como oportunizando a aplicação de opiniões dos
participantes e como lugar de influenciar nas decisões, de reconhecimento do
que se faz, de sentir-se tratado como pessoa respeitada, de relacionamento de
confiança e de crescimento pessoal; 2) Condições de trabalho (r2=0,07 e
Alfa=0,83): descreve o trabalho exigindo para o desempenho adequado
equipamentos específicos, conforto material e higiênico, assistência e melhores
salários para o trabalhador; 3) Responsabilidade (r2=0,04 e Alfa=0,70): descreve
o trabalho como implicando na necessidade de cumprir com as tarefas previstas,
na ocupação e no direito de que a organização cumpra com seus deveres,
fazendo o indivíduo sentir-se bem; 4) Recompensa econômica (r2=0,03 e Alfa =
0,82): descreve o trabalho como garantia do sustento, de independência
econômica e de sobrevivência; 5) Desgaste e Desumanização (r2=0,02 e
Alfa=0,73): descreve o trabalho como associando a valorização da condição de
ser gente à aceitação da dureza no trabalho, terminando por fazer o indivíduo
perceber-se como máquina ou animal, por exigir rapidez, esforço físico, ritmo
55
acelerado, repetição de tarefas e perceber-se discriminado de outras pessoas
em função do que faz.
Os atributos valorativos correspondem às características ideais do
trabalho – como este, na concepção do indivíduo, deve ser. Os atributos
descritivos expressam a representação mental ou abstraída da realidade do
trabalho por cada pessoa. A hierarquia dos atributos é considerada a quarta
faceta (BORGES, 1998, 1999; BORGES; ALVES FILHO, 2001 e BORGES;
TAMAYO, 2002). Esta pode ser definida como arranjos individuais que consistem
na organização dos diversos atributos valorativos e descritivos, conforme a
ordem de importância atribuída aos mesmos.
56
6 MÉTODO
Na busca de cada vez mais se aproximar da verdade, a ciência
busca o saber embasado na fidedignidade, controle, sistematização e
comprovação. É por meio do método cientifico que a pesquisa busca a solução
dos problemas. De acordo com Cervo e Bervian (2002), o método científico é a
ferramenta colocada à disposição do cientista que, com a pesquisa, pretende
penetrar no segredo de seu objeto de estudo. Segundo estes mesmos autores,
Toda investigação nasce de um problema observado ou sentido, de tal modo que não pode prosseguir, a menos que se faça uma seleção da matéria a ser tratada. Essa seleção requer alguma hipótese ou pressuposição que vai guiar e, ao mesmo tempo, delimitar o assunto a ser investigado. Daí o conjunto de processos ou etapas de que se serve o método cientifico. (CERVO & BERVIAN, 2002, p.25).
6.1 TIPO DE ESTUDO
Desenvolveu-se um estudo exploratório que, de acordo com Cervo
e Bervian (2002) é o passo inicial no processo de pesquisa, pela experiência e
um auxílio que traz a formulação de hipóteses significativas para posteriores
pesquisas. Este tipo de pesquisa tem por objetivo obter novas percepções
acerca de um determinado assunto, podendo descobrir novas idéias, para assim,
realizar descrições precisas da situação e descobrir as relações existentes entre
os elementos que a compõe. Assim, pretendeu-se entender a síndrome de
burnout em policiais civis, verificando suas possíveis relações com o significado
do trabalho e as estratégias de coping adotadas por eles.
Já Gonsalves (2001), defende que este tipo de pesquisa recebe
uma outra denominação de ‘pesquisa de base’, pelo fato de oferecer dados
elementares que possibilitam suporte para a realização de estudos mais
aprofundados sobre o tema.
Fez-se um levantamento que teve como característica a
interrogação direta dos indivíduos cujo comportamento se desejava conhecer
(GIL, 1996). Ainda de acordo com o autor, este tipo de pesquisa é feito através
da solicitação de informações a um grupo significativo de pessoas acerca do
57
problema estudado. Após a análise quantitativa dos dados obtiveram-se as
conclusões correspondentes aos dados coletados. Em geral, na maioria dos
levantamentos não são pesquisados todos os integrantes da população
estudada. Assim, fez-se uma seleção prévia, mediante procedimentos
estatísticos, de uma amostra representativa da categoria.
A pesquisa evolui por meio da observação direta das atividades do
grupo estudado e de entrevistas com informantes para registrar suas
interpretações do que ocorre na comunidade em questão. Posteriormente, ocorre
a análise quantitativa, que propicia a obtenção de conclusões derivadas dos
dados coletados.
Como é desenvolvido no próprio local em que ocorrem os
fenômenos, seus resultados costumam ser mais fidedignos e como o
pesquisador apresenta nível maior de participação, torna-se maior a
probabilidade dos sujeitos oferecerem repostas mais confiáveis.
6.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA
De acordo com dados estatísticos obtidos junto à Secretaria de
Estado da Defesa Social do Rio Grande do Norte, o município de Natal conta
com 15 delegacias distritais e 19 especializadas.
Segundo RIZZINI (1999, p. 73), “denomina-se amostra o conjunto
de indivíduos selecionados dentro de uma população que se quer investigar. A
amostra é, portanto, parte da população a ser investigada”.
Face ao escopo do estudo (permitir a elaboração de um TCC) e
limitações de recursos e tempo disponível, procurando atender aos requisitos
acima mencionados para a determinação de uma amostra, foi realizado um
levantamento junto à Secretaria de Estado da Defesa Social do Rio Grande do
Norte para a identificação das delegacias localizadas no município do Natal,
adotando-se como critério o número de policiais vinculados a organização.
Definida a delegacia (DEHOM – Delegacia Especializada de
Homicídios), constatou-se que nela trabalhavam 20 agentes da policia civil, três
58
escrivãs e cinco delegados. A escolha desta delegacia se deu em função do
elevado número de policiais civis trabalhando na mesma e por ela direcionar-se
a uma especialização que, supõe-se, apresenta mais possibilidades de lidar com
situações de estresse ocupacional na rotina policial.
A amostra final se caracterizou pelo método acidental. Foram
distribuídos 28 protocolos, conforme ficará demonstrado na descrição dos
procedimentos de coleta de dados. A amostra é conseqüente do tempo
disponível dos policiais para a realização do protocolo, uma vez que realizam
diversos serviços externos, assim como precisam seguir uma escala de trabalho,
férias e afastamentos diversos. A amostra reflete ainda o receio em relação à
garantia do sigilo, uma vez que abordar a percepção do significado dado ao
trabalho poderia levar a uma preocupação que causasse algum tipo de viés nas
respostas.
A amostra foi composta por 18 participantes, correspondendo a
64% da população.
Os aspectos a seguir apresentados fazem parte do perfil sócio-
demográfico dos policiais civis participantes, caracterizando, então, a amostra:
• Idade: a idade mínima entre os participantes foi de 27 anos e a máxima de 48
anos. A média de idade foi 37,8, enquanto o desvio padrão situou-se em 6,04.
Apenas um dos participantes não informou esse dado.
• Faixa etária: analisando-se a distribuição das faixas etárias na delegacia, foi
possível se verificar a maior incidência de policiais entre 41 e 45 anos de
idade, representando 33,3% dos participantes. Tabela 01 – Distribuição dos participantes por faixa etária (N=18)
Faixa etária Freqüência Percentual Até 30 anos 3 16,7 31 a 35 anos 3 16,7 36 a 40 anos 4 22,2 41 a 45 6 33,3 Acima de 46 anos 1 5,6 Omissos 1 5,6 Total 18 100
59
• Sexo: houve predomínio do sexo masculino, com 14 participantes (77,8%).
Apenas uma pessoa não indicou seu sexo (5,6%).
• Estado Civil: conforme se verifica na tabela 02, predominou o número de
participantes casados/união estável.
Tabela 02 – Distribuição por estado civil (N=18)
• Número de filhos: entre os participantes, 6 não têm filhos (33,3%); dentre os
que têm, 6 (33,3%) possuem um filho apenas – sendo este número de filhos o
mais freqüente; 4 participantes possuem 2 filhos (22,2%); uma pessoa tem 3
filhos (5,6%) e apenas um participante, tem 4 filhos (5,6%).
• Orientação religiosa: a predominância da religião dentre os participantes da
amostra foi à católica, 15 policiais (83,3%) eram desta religião. Apenas uma
pessoa (5,6%) relatou ser espírita, enquanto 2 afirmaram não ter orientação
religiosa, como pode ser verificado na tabela 03.
Tabela 03 – Distribuição por religião (N=18)
• Freqüência a atividades religiosas: como se pode constatar a partir da
Estado Civil Freqüência Percentual
Solteiro(a) 2 11,1
Casado(a) ou união estável 14 77,8
Separado(a) ou divorciado(a) 1 5,6
Omissos 1 5,6
Total 18 100
Religião Freqüência Percentual
Católica 15 83,3 Evangélica 0 0 Espírita 1 5,6 Nenhuma 2 11,1 Total 18 100,0
60
tabela 04, no que concerne à freqüência a atividades religiosas, 4 participantes
(22,2%) referem participar semanalmente; 11 (61,1%), a maioria, freqüenta
raramente; 2 (11,1%) mensalmente participam das atividades religiosas.
Tabela 04 – Distribuição por freqüência a atividades religiosas (N=18)
• Nível de Instrução: de acordo com a tabela 05, a maioria dos participantes (8
ou 44,4%), relatou ter ensino superior completo, enquanto 2 pessoas (11,1%)
concluíram o ensino fundamental, 3 (16,7%) concluíram o ensino médio e 2
(11,1%) possuem pós-graduação.
Tabela 05 – Distribuição por nível de instrução (N=18)
• Residência própria: a maioria dos policiais possui residência própria (14 ou
77,8%), enquanto 4 participantes (22,2%) não possuem.
• Locomoção própria: entre os participantes, 11 (61,1%), ou seja, a maioria,
possui locomoção própria e apenas 5 (27,8%) não possuem. Apenas 2 pessoas
(11,1%) não responderam a este dado.
Freqüência Percentual
Semanalmente 4 22,2 Mensalmente 2 11,1 Raramente 11 61,1 Nunca 1 5,6 Total 18 100,0
Instrução Freqüência Percentual
Ensino fundamental completo 2 11,1 Ensino médio completo 3 16,7
Ensino superior completo 8 44,4
Pós-graduação 2 11,1 Total 18 100,0
61
• Tempo na Polícia Civil: dentro da amostra, o tempo médio foi de 8,71 anos, o
desvio padrão situou-se em 6,659, o tempo mínimo foi de 1 ano e máximo, de 21
anos.
• Cargo: a amostra foi constituída predominantemente por Agentes Policiais.
Tabela 06 – Distribuição por cargos (N=18)
• Tempo no cargo: o tempo mínimo de ocupação do cargo variou entre 2 anos
(tempo mínimo) e 21 anos (tempo máximo). A média foi de 3,61 anos, enquanto
o desvio padrão foi de 6,529.
• Faixa de tempo no cargo: conforme a tabela 07, mais da metade dos
policiais (10 ou 55,6%) encontram-se a no máximo de 5 anos (tempo mínimo) no
cargo.
Tabela 07 – Distribuição por faixa de tempo no cargo (N=18)
• Faixa de tempo na PC: a maioria dos participantes está ocupando o cargo há
no máximo 5 anos (10 ou 55,6%).
Freqüência Percentual Delegado Titular 1 5,6 Delegado Adjunto 1 5,6 Escrivão 1 5,6 Agente Policial 14 77,8 Omissos 1 5,6 Total 18 100
Freqüência Percentual Até 5 anos 10 55,6 6 a 10 anos 2 11,1 16 a 20 anos 3 16,7 Acima de 21 anos 1 5,6 Omissos 1 5,6 Total 18 100
62
Tabela 08 – Distribuição por faixa de tempo na Polícia Civil (N=18)
• Outros vínculos: a minoria dos policiais (4 ou 22,2%) afirmou possuir outro
tipo de vinculo de trabalho, enquanto a maioria (13 ou 72,2%) confirmou não
desenvolver outra atividade fora da polícia civil.
• Quantidade de vínculos: 14 pessoas (77,8%), ou a maioria, não possuem
outros vínculos, enquanto apenas 4 participantes (22,2%) confirmaram ter
outros vínculos de trabalho, sendo que cada participante tem apenas mais 1
vinculo cada.
6.3 INSTRUMENTOS DE PESQUISA
Para a coleta de dados foi elaborado um protocolo contendo uma
apresentação, um inventário para a abordagem de cada construto, uma ficha
sócio-demográfica (ver anexo), que será descrito a seguir.
O instrumento utilizado para aferição da síndrome de burnout foi o
Inventário de Burnout de Maslach - MBI - Este questionário de mensuração de
Maslach e Jackson (1981), de acordo com Gil-Monte e Peiró (1997), é o
instrumento mais utilizado para avaliar burnout, independentemente das
características ocupacionais da amostra e de sua origem. Foi, inicialmente,
traduzido e validado para uso no Brasil por Robayo-Tamayo, (1997) com
amostra brasiliense, sendo sua estrutura fatorial retestada posteriormente com
amostra de profissionais de saúde em Natal, por Borges et al. (2002). Este
questionário é composto por 22 itens relacionados com sentimentos pelo
trabalho que mensuram os seguintes fatores: Exaustão Emocional, Diminuição
Freqüência Percentual Até 5 anos 10 55,6 6 a 10 anos 2 11,1 16 a 20 anos 4 22,2 Acima de 21 anos 1 5,6 Omissos 1 5,6 Total 18 100
63
da Realização Pessoal e Despersonalização. O indivíduo responde de acordo
com uma escala de 1 a 5, a freqüência com que experimenta o conteúdo
sugerido por cada frase.
O segundo instrumento foi a Escala de Coping Ocupacional na
versão brasileira, traduzida e adaptada por Pinheiro; Tamayo; Tróccoli (2003) da
escala proposta por Latack (1986). Esta escala apresenta os fatores controle (ɑ
= 0,79); escape (ɑ = 0,77) e manejo de sintomas (ɑ = 0,81).
O fator controle consiste em ações e reavaliações cognitivas
proativas; o escape são ações e reavaliações cognitivas que sugerem fuga ou
um modo de evitação; e o manejo de sintomas são estratégias popularmente
aceitas utilizadas pelo indivíduo para administrar eventos relacionados ao
estresse, tais como: o relaxamento ou a atividade física (TAMAYO; TRÓCCOLI,
2002).
O terceiro, parte integrante do Inventário de Motivação e
Significado do Trabalho (IMST) e utilizado visando à apreensão da centralidade
do trabalho e dos atributos valorativos e descritivos. O IMST foi desenvolvido por
Borges e Alves Filho (2001) e validado em pesquisa empírica realizada em Natal
(RN), em diversas instituições, com uma amostra de 487 profissionais de saúde
e 155 bancários. O processo de validação mostrou que o instrumento
apresentava características psicométricas satisfatórias, tendo em vista as
proporções da variância explicada, os coeficientes de consistência (alfa) de cada
fator, os coeficientes de fatorabilidade e a capacidade dos escores nos fatores
de diferenciar as categorias ocupacionais.
A descrição a seguir, prender-se-á apenas às duas escalas
utilizadas. Ambas são compostas por 73 itens. São apresentadas duas questões
aos respondentes: a) quanto o trabalho implica o resultado indicado idealmente e
b) quanto julga que ocorre realmente o resultado indicado. O respondente deve
atribuir a cada item um valor numa escala que varia de 0 a 4 pontos. Tanto em
relação aos atributos valorativos quanto aos descritivos são mensurados 05
(cinco) fatores, a saber: Justiça no Trabalho, Desgaste e Desumanização,
Realização, Bem-estar e Auto-expressão (valorativos) e Auto-expressão,
Responsabilidade e Dignidade, Desgaste e Desumanização, Recompensas
Econômicas e Condições de Trabalho (descritivos).
64
Utilizou-se uma ficha para que os dados sócio-demográficos e
funcionais pudessem ser coligidos, esta era composta de indagações sobre
idade, sexo, religião e freqüência a estas atividades, estado civil, escolaridade,
tempo de vinculação a Policia Civil; tempo de exercício no cargo/função atual e
desenvolvimento de alguma outra atividade profissional. Essas variáveis
permitiram análises relacionadas aos objetivos específicos perseguidos na
investigação.
6.4 PROCEDIMENTOS DE COLETA DE DADOS
Inicialmente entrou-se em contato com o Secretário de Defesa
Social, em seguida com a Delegada Geral. Depois de determinada a delegacia
em que se desenvolveria a pesquisa, entrou-se em contato com o delegado da
DEHOM (Delegacia Especializada de Homicídios), a fim de explicar sobre o que
seria a pesquisa, qual eram seus objetivos e obter a anuência para a realização
da coleta de dados. Com sua concordância e colaboração, foi realizada uma
rápida reunião para a divulgação da pesquisa junto aos policiais. Na ocasião,
feita a sensibilização e solicitação de cooperação, foram dados esclarecimentos
sobre a forma de resposta ao conteúdo do protocolo e, especialmente,
destacado o caráter voluntário de participação na pesquisa, bem como a garantia
de sigilo dos dados e anonimato dos participantes. A garantia do anonimato é
uma tradição das pesquisas realizadas na área da Psicologia Organizacional e
do Trabalho, já que as relações de trabalho, nem sempre, permitem que as
pessoas sintam-se à vontade para expressar de forma sincera e declarada sobre
as questões referentes ao seu ambiente de trabalho. Após isto, os protocolos
foram distribuídos, e foi fixada uma data para a devolução.
Ainda como uma forma de resguardar o sigilo, na delegacia foi
colocada uma urna para que os protocolos fossem sendo depositados na
devolução até o recolhimento no prazo estabelecido.
Quanto à entrega dos protocolos, as pesquisadoras informaram aos
participantes que estariam disponíveis para prestarem posteriores
65
esclarecimentos que se fizessem necessários por meio de contato telefônico. No
entanto, as orientações dadas quando foi feita a distribuição se mostraram
suficientes.
6.5 PROCEDIMENTOS DE REGISTROS DE DADOS
Na medida em que os protocolos foram sendo recolhidos, foi
procedida a uma conferência dos mesmos para a eliminação dos que tiveram
preenchimento inadequado ou muitas omissões que comprometessem a sua
utilização.
Após isto, procedeu-se o registro dos dados sob a forma de banco
de dados do Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão para
Windows – o que viabilizou o desenvolvimento das análises estatísticas.
6.6 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DOS DADOS
A utilização do SPSS possibilitou o emprego de técnicas e
procedimentos estatísticos, tais como: freqüências, medidas de tendência central
e variabilidade, test t, análise de variância e teste qui-quadrado. Em seguida, foi
feita a discussão dos resultados com base nos marcos teóricos previamente
selecionados e estudados e de acordo com os objetivos estabelecidos para a
investigação que permitam conclusões, críticas, sugestões e recomendações
pertinentes.
66
7 APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Para o que se propõe o capítulo, obedecer-se-á a mesma
seqüência com que os dados foram coletados; ou seja, inicialmente, serão
apresentados os dados referentes à síndrome de burnout, estratégias de coping
e significado do trabalho de forma que, paulatinamente, seja possível que as
questões de pesquisa venham a ser respondidas.
7.1 SÍNDROME DE BURNOUT
7.1.1 ESCORES DOS FATORES DA SÍNDROME DE BURNOUT
Quando comparadas as médias nas três dimensões, verificou-se
que os participantes apresentam média mais alta em diminuição da realização (t
= -5,51, para p=0,000) e que as médias de exaustão e de despersonalização não
apresentam diferença estatisticamente significativa. Codo (1999) afirma que a
síndrome deve ser considerada com a análise dessas três dimensões como uma
variável contínua, com níveis altos, moderado e baixo e não como uma variável
dicotômica, onde existe ou não existe a presença do sintoma. A partir da
combinação do nível de cada uma das três dimensões se obtém o nível da
burnout no indivíduo.
Os participantes da amostra apresentaram maior homogeneidade
na avaliação da exaustão. Este dado foi verificado também em uma pesquisa
com a categoria de professores, feita por Moreno-Jimenez et al. (2002).
A diminuição da realização pessoal no trabalho é uma dimensão
importante a ser considerada. O trabalhador tende a se auto-avaliar de forma
negativa, sentindo-se infeliz consigo mesmo e insatisfeito com seu
desenvolvimento profissional (MASLACH, SCHAUFELI, LEITER, 2001 apud
CARLOTTO, 2002). Farber (1971, 1995 apud COSTA, 2002, p. 58) explica que
essa situação se instala a partir “da discrepância da percepção individual entre
esforço e conseqüência, percepção esta influenciada por fatores individuais,
organizacionais e sociais”.
67
Mallar e Capitão constatam que os policiais são “chamados
atualmente de profissionais de alto contato, os quais aliam às longas jornadas o
inevitável envolvimento com os problemas dos outros e a excessiva carga de
trabalho em ambientes potencialmente geradores de conflitos” (MALLAR, 2004,
p.19). É possível nessa situação que as estratégias de enfrentamento não
adaptativas esgotem os recursos emocionais (MORENO-JIMÉNEZ; GARROSA;
GONZÁLEZ, 2000) levando-os ao deterioramento pessoal e profissional. Codo e
Vasquez-Menezes (1999 apud CAMPOS, 2005, p. 38) chamam de “síndrome da
desistência”. Costa (2002) observou que se tratava, em circunstâncias como
essa, de uma espécie de desesperança proveniente da impotência diante do que
parece ser irreversível, imutável, falta de esperança promovida pela dificuldade
para modificar circunstâncias, e adaptar-se a situações irreversíveis.
Tabela 09 - Escores das médias das dimensões síndrome de burnout
Fatores Média Desvio Padrão
Exaustão Emocional 2,50 0,59
Diminuição da Realização 3,93 0,59
Despersonalização 2,14 0,73
Na tabela 10, considerando-se a distribuição por intervalos de
escores, vê-se que a diminuição da realização pessoal foi, também, a dimensão
que apresentou uma maior concentração nos intervalos relativos aos escores
mais altos. Destaca-se, na mesma tabela, que quanto à exaustão, os
participantes da amostra apresentaram uma maior concentração (moda) no
intervalo intermediário e a despersonalização com a menor média, tem uma
concentração no intervalo mais baixo e nenhuma incidência no intervalo mais
alto. Os dados obtidos nesta última dimensão corroboram com o estudo
realizado por Moreno-Jimenez et al. (2002).
68
Tabela 10 - Médias dos fatores de burnout e freqüência por intervalos (N=40)
Fatores de burnout Média Desvio-padrão
Freqüência por intervalo
x≤2 2<x≤3 3<x≤4 X>4
Exaustão Emocional 1,82 0,59 4 9 5 0
Diminuição da Realização Pessoal 3,52 0,60 0 1 11 6
Despersonalização 1,32 0,65 7 10 1 0
Os policiais, no confronto com os desencadeadores de estresse
próprios da convivência e interação entre os indivíduos, como também com
situações nas quais se desequilibram as expectativas individuais do profissional,
a realidade do trabalho diário e as expectativas e demandas sociais, podem
apresentar a sensação de esgotamento tanto físico como mental, com um
sentimento de não dispor de energia para realizar suas atividades e de ter
chegado ao limite de possibilidades. Embora não tenha tido alteração na
personalidade, que leva a um contato frio e impessoal com os cidadãos usuários
do serviço policial. Este dado remete à reflexão de que estes profissionais
apresentam uma tendência em desenvolver a burnout.
O presente estudo, nas dimensões de exaustão emocional e
despersonalização, apresentam resultados coincidentes com os encontrados na
investigação conduzida por Dantas (2003), com profissionais de saúde e
docente, visto que se obteve a mesma freqüência por intervalo. O que não
ocorreu em relação à diminuição da realização, já que em seu estudo esta
dimensão apresentou uma maior concentração no intervalo mais baixo.
Para verificar se os participantes apresentaram semelhança ou
diferença quanto à exaustão, diminuição da realização pessoal e
despersonalização na dependência de: faixa etária, sexo, estado civil; nível de
instrução; número de filhos, religião, freqüência a atividades religiosas,
residência próprio, meio de locomoção próprio, cargo, faixa de tempo na polícia
civil, faixa de tempo no cargo e manutenção de outros vínculos empregatícios, foi
feita a aplicação do teste t para as variáveis sexo, residência e meio de
69
locomoção próprios e manutenção de outros vínculos, bem como da análise de
variância – ANOVA, para as demais.
Na aplicação do test t e da ANOVA não se verificaram diferenças
estatisticamente significativas entre as médias. Assim, os participantes não
apresentaram diferenças quanto às dimensões da burnout na dependência das
variáveis.
Tabela 11 – Distribuição percentual da ocorrência das dimensões exaustão, despersonalização e diminuição da realização (N=18)
Dimensão Freqüência Percentual
Exaustão
Baixa 4 22,2
Moderada 9 50,0
Elevada 5 27,8
Total 18 100,0
Despersonalização
Baixa 6 33,3
Moderada 7 38,9
Elevada 5 27,8
Total 18 100,0
Diminuição da Realização
Baixa 4 22,2
Moderada 10 55,6
Elevada 4 22,2
Total 40 100,0
Quando identificadas as intensidades (níveis gerais) da síndrome
de burnout – baixa, moderada e alta, buscou-se verificar se os participantes
apresentaram semelhanças ou diferenças em tais níveis na dependência das
variáveis sócio-demográficas e funcionais. A aplicação do teste qui-quadrado
70
permitiu que se constatasse que nenhuma independência fosse rejeitada. Assim,
concluiu-se que os participantes não apresentaram diferenças quanto à
intensidade da burnout na dependência das variáveis.
7.1.2 INCIDÊNCIA DE BURNOUT
Considerando que o instrumento utilizado para a coleta dos dados
atinentes a burnout mensura os fatores exaustão emocional, diminuição da
realização pessoal e despersonalização, entende-se pertinente observar que,
conforme sugerem Maslach e Jackson (1986), as dimensões devem ser
pontuadas de forma separada, pois ainda não é claro o peso de cada uma delas
no conjunto dos elementos que a compõem. Codo (1999), também, menciona
que as três dimensões devem ser analisadas separadamente como uma variável
contínua, com níveis alto, moderado e baixo e não como uma variável
dicotômica, onde existe ou não existe a presença do sintoma. Sendo a partir da
combinação do nível de cada uma das três dimensões que se obtém o nível da
burnout no indivíduo (CODO, 1999).
Nessa perspectiva, para o diagnóstico de incidência, tomou-se a
burnout e suas dimensões como variáveis contínuas e as pontuações dos
indivíduos foram classificadas mediante um sistema de percentuais para cada
escala. Aos indivíduos com pontuações acima do percentil 75 atribui-se
intensidade alta; entre percentil 25 e 75, intensidade moderada; e abaixo de 25,
baixa intensidade (Maslach e Jackson, 1986).
Quanto à interpretação das pontuações, como assumido por Pinto
A.M; Lima M.L; Silva A.; (2003) dentre outros autores, observa-se que, nas
dimensões exaustão emocional e despersonalização, uma pontuação alta
corresponde à elevada intensidade; mas na dimensão diminuição da realização
pessoal, a elevada intensidade é dada pela baixa pontuação. Assim, uma pessoa
caracteristicamente com síndrome de burnout apresenta pontuação alta em
exaustão emocional, bem como em despersonalização e baixa, em diminuição
da realização pessoal. O que pode ser representado, hipoteticamente, pelo
gráfico 01.
71
Figura 01. Representação de condições para caracterização da burnout
0
20
40
60
80
100
Exautão
Despersonalização
Diminuição darealização
Como pode ser depreendido da tabela 11, nas três dimensões da
síndrome de burnout houve um predomínio de maior freqüência na classificação
“moderada”. Observou-se que, nesta classificação, se concentraram na exaustão
emocional 50% da amostra, na despersonalização 38% e na diminuição da
realização 55,6%. O que contradiz os resultados obtidos na pesquisa de Mendes
(2002), em que na dimensão de exaustão emocional a maior freqüência recaiu
sobre a classificação “alta” (39%) e nas dimensões despersonalização e
envolvimento pessoal no trabalho, na classificação “baixa” (50%). De acordo com
Maslach e Leiter (1997 apud BENEVIDES-PEREIRA, 2002), a exaustão
emocional pode ser um preditor de despersonalização e esta podendo predizer o
sentimento de baixa realização no trabalho. A partir de uma investigação
envolvendo psicólogos brasileiros, Benevides-Pereira (2002) afirma que os
mesmos apresentaram grau elevado em exaustão emocional e reduzido na
despersonalização, confirmando o estudo de Mendes (2002).
A constatação de que a maioria da amostra apresentou uma
intensidade moderada nas dimensões da síndrome, remete à necessidade de
que medidas sejam adotadas pelos policiais e intervenções no ambiente de
trabalho sejam promovidas pela Secretaria de Defesa Social, visando o bem-
estar psicológico da categoria.
De acordo com Schmidt (1991), indivíduos com maior idade
apresentam menor grau de estresse enquanto que indivíduos de menor idade
apresentam maior grau de estresse. Em idades intermediárias ocorre à mesma
tendência, mas apresentando-se de forma oscilante. Cherniss (1980 apud
72
BENEVIDES-PEREIRA, 2002), justifica que este fato ocorre porque profissionais
jovens possuem um entendimento irrealístico sobre o que podem ou não fazer
em início de carreira, sendo freqüentes as frustrações profissionais.
Pesquisas apontam resultados, ainda não conclusivos, de que
pessoas com mais idade apresentam menor grau de burnout. Em termos de
faixas de idade, o resultado mostra relações significativas do tipo curvilíneo:
baixo entre 20 e 25 anos, alto entre 25 e 40 anos, e baixo a partir dos 40 anos
(FARBER, 1984 apud MENDES, 2002). Neste sentido, faz-se importante
mencionar que a maioria dos policiais constituintes da amostra desta pesquisa
localiza-se na faixa de 40 a 45 anos, estando relacionado à alta possibilidade de
desenvolver a síndrome.
No gênero masculino, quando existe estresse elevado, o fator
desencadeante refere-se à falta de reconhecimento ou compensação (MENDES,
2002). Corroborando com os resultados de Dantas (2003), onde os profissionais
do sexo masculino tendem mais a despersonalizar. Provavelmente isto decorre
das atitudes masculinas serem mais instrumentais e haver menor demonstração
de reações emocionais no ambiente de trabalho. Tal variação por gênero
corrobora com estudos anteriores (TAMAYO; 2002; BORGES; 2002; MASLACH;
SCHAUFELI; LEITER; LEITER; 2001; SCHAUFELI; EZMANN, 1998, apud
BENEVIDES-PEREIRA, 2002).
Com isto, pode-se dizer que os policiais do sexo masculino
apresentam uma maior tendência a substituir o vínculo afetivo pelo racional,
perdendo o sentimento de estar lidando com outro ser humano, desenvolvendo
atitudes negativas.
Aqueles participantes que professam a religião católica
apresentaram intensidade moderada (44,8%) na despersonalização. Quanto à
freqüência a atividades religiosas em relação a esta dimensão, houve uma
predominância dos policiais que freqüentam raramente estas atividades,
prevalecendo à intensidade moderada (34,3%). Assim, pode-se dizer que
aqueles que não são assíduos a atividades religiosas apresentam uma maior
propensão ao desenvolvimento da burnout, justificando-se, ainda, a partir da
religião que predominou (católica), já que esta é a mais aceita no Brasil, embora
muitos adeptos sejam católicos não praticantes e raramente freqüentem a igreja.
73
Tabela 12 – Distribuição da intensidade das dimensões da burnout por variáveis que tiveram independência rejeitada pelo teste qui-quadrado
Diminuição da realização e Faixa Etária
Intensidade
Faixa etária Baixa Moderada Alta
≤30 4,5% 11,9% 1,5%
31 - 40 14,9% 14,9% 3,0%
41 - 50 1,5% 19,4% 9,0%
51 - 60 3,0% 6,0% 10,4%
Total 23,9% 52,2% 23,9%
Intensidade da Despersonalização e Sexo
Intensidade
Sexo Baixa Moderada Alta
Masculino 7,5% 41,8% 10,4%
Feminino 14,9% 14,9% 10,4%
Total 20,9% 56,7% 22,4%
Intensidade da Despersonalização e Religião
Intensidade
Religião Baixa Moderada Alta
Católica 14,9% 44,8% 10,4%
Evangélica 1,5% 3,0%
Espírita 3,0% 7,5%
Outras 6,0% 6,0% 3,0%
Total 22,4% 56,7% 20,9%
Intensidade da Despersonalização e Freqüência a atividades religiosas
Intensidade
Freqüência Baixa Moderada Alta
Semanalmente 4,5% 14,9% 14,9%
Quinzenalmente 1,5% 6,0%
Mensalmente 3,0% 1,5%
Raramente 13,4% 34,3% 6,0%
Total 22,4% 56,7% 20,9%
74
7.2 ESTRATÉGIAS DE COPING NO TRABALHO
Para a identificação das estratégias de coping no trabalho pelos
policiais civis que participaram da amostra, procedeu-se a uma análise dos
resultados relacionados aos fatores previstos pelo modelo teórico adotado. Fez-
se, também necessário, o estudo das relações de tais resultados com todas as
variáveis envolvidas no estudo. Estimaram-se os escores individuais nos três fatores pela da média
dos pontos que cada participante atribuiu aos itens componentes dos mesmos,
conforme representação na tabela 13.
Tabela 13 - Médias nos fatores da escala de estratégias de coping no trabalho
Fatores Média Desvio Padrão
Controle 3,16 0,25
Escape 2,34 0,46
Manejo 3,07 0,30
Observou-se que os participantes empregam o controle e o manejo
com igual intensidade e o escape é a estratégia menos utilizada (t = -12,47, para
p = 0,000). Os participantes divergiram mais na avaliação do emprego do escape
e apresentaram uma avaliação mais homogênea sobre o uso do controle.
Leiter (1991), Tamayo e Tróccoli (2002), apresentam resultados de
seus estudos evidenciando que um índice menor de exaustão emocional estava
associado à utilização de estratégias de coping. Os estudos mostram também
que o uso de estratégias de escape/evitação aumenta a exaustão emocional,
denotando a ineficácia deste tipo de estratégia para evitar a burnout. Sendo
assim, podemos confirmar em relação aos policiais que, devido ao baixo
resultado do escape, eles tendem a evitar a burnout através desta medida
estratégica.
Da mesma forma, podemos confirmar o estudo de Gil-Monte e
Peiró (1997), quando concluem que o uso de estratégias de coping de controle
75
previne o desenvolvimento da burnout, ao passo que, a utilização de estratégias
centradas na emoção facilita a sua aparição. O controle é uma estratégia
centrada no problema e foi a mais utilizada pelos policiais, o que leva a
prevenção do desenvolvimento da burnout. Por isso, para que a síndrome não
seja desencadeada no policial civil, é preciso que ele atue diretamente sobre o
estressor, desenvolvendo estratégias que possibilitem definir e analisar a
situação, buscando alternativas para solução do problema, atuando diretamente
sobre o meio laboral e sobre si mesmo.
O manejo, segunda estratégia mais utilizada pelos policiais, é a
mais eficaz, pois a partir dele o policial pode perceber quando deve parar,
estabelecer descansos e alternar tarefas diferentes. Visando, assim, desenvolver
habilidades para saber estabelecer prioridades, investir mais tempo nas
atividades priorizadas e reduzir a percepção de situações laborais de urgência,
melhorando o rendimento e diminuindo a fadiga física e mental.
No caso do escape, o policial apresenta uma tendência a evitar os
problemas que podem surgir no ambiente de trabalho, já que não encontra
soluções para os mesmos e isto acaba interferindo no desenvolvimento da sua
atuação profissional. De acordo com Tamayo e Tróccoli (2002), o uso desta
estratégia incrementa a exaustão emocional. Assim, a implementação de
programas que levem os policiais a recuperar o controle quando lidam com os
estressores ocupacionais podem ser de utilidade para a prevenção da burnout.
Alguns autores defendem que estratégias de coping inativas, como o escape e a
evitação, apresentam uma relação positiva com a burnout, e um nível baixo de
burnout proporciona ao indivíduo a possibilidade de enfrentar as situações
estressantes de forma ativa e direta, enquanto que, um nível alto de burnout,
pode diminuir a energia do sujeito para lidar com as situações de forma ativa,
levando-o a adotar comportamentos passivos e indiretos (ETZION; PINES, 1986;
THORTON, 1992 apud TAMAYO; TRÓCCOLI, 2002).
Para verificar se os participantes apresentaram semelhança ou
diferença quanto ao controle, escape e manejo na dependência de: faixa etária,
sexo, estado civil; nível de instrução; número de filhos, religião, freqüência a
atividades religiosas, residência próprio, meio de locomoção próprio, cargo, faixa
de tempo na polícia civil, faixa de tempo no cargo e manutenção de outros
vínculos empregatícios, foi feita a aplicação do teste t para as variáveis sexo,
76
residência e meio de locomoção próprios e manutenção de outros vínculos, bem
como da análise de variância – ANOVA, para as demais.
Com a aplicação do teste t, constatou-se que os homens
empregam mais intensamente o controle do que a que as mulheres (t = 3,54,
para p = 0,003) e que os participantes que não possuem residência própria
empregam mais o manejo do que os que a têm (t = -2,964, para p=0,009).
Com aplicação da ANOVA verificou-se a inexistência de diferenças
das médias nas estratégias na dependência das variáveis testadas. Assim,
concluiu-se que os participantes não diferem quanto uso das estratégias de
coping na dependência das mesmas. Conforme sustenta Benevides-Pereira
(2002), ainda, não há um consenso entre os pesquisadores quanto à relação
entre tempo na profissão e na organização e o desenvolvimento da síndrome.
Segundo Maslach e Leiter (1997 apud TAMAYO; TRÓCCOLI,
2002) as intervenções para resolver a burnout e/ou preveni-la deve-se ocorrer a
partir da focalização de soluções tanto no trabalhador quanto no local de
trabalho, tendo como finalidade desenvolver um processo que permita recuperar
o equilíbrio entre as expectativas do individuo e as exigências do seu trabalho,
visto que a burnout está mais relacionada a características do ambiente de
trabalho do que às características do trabalhador.
Nem sempre, porém, o profissional submetido cronicamente a
situações estressantes no ambiente de trabalho responde com grave quadro de
esgotamento ou burnout. Estratégias diferentes e mais eficazes de
enfrentamento ao estresse podem significar maior resistência e menor
sofrimento para as pessoas.
A associação entre demandas ocupacionais e estratégias de coping
replica, em parte, resultados de outros estudos. De acordo com Pinheiro, Trócoli
e Tamayo (2003), alguns autores têm apresentado associações positivas, tais
como as apresentadas neste trabalho, entre suporte social e controle (Amirkhan,
1990; Folkman & cols., 1986; Latack, 1986), bem como fracas associações entre
suporte social e esquiva (Amirkhan, 1990; Latack, 1986). Latack destacou que a
associação positiva entre controle e suporte social se deve ao fato de que
suporte tem um papel maior do que o de simples apoio emocional, estando
associado ao engajamento dos indivíduos em estratégias proativas de controle,
diante de situações de estresse.
77
7.3 SIGNIFICADO DO TRABALHO
Para a apreensão dos significados atribuídos ao trabalho pelos
participantes, procedeu-se a uma análise dos resultados relacionados às facetas
definidas pelo modelo teórico adotado – centralidade do trabalho, atributos
valorativos e atributos descritivos.
Acerca da centralidade do trabalho, os participantes responderam a
duas questões ao serem coletados os dados. Na primeira, foram solicitados a
distribuir pontos entre as cinco esferas de vida – lazer, comunidade, trabalho,
família e religião – de forma que a soma totalizasse 100 (cem) pontos
(centralidade relativa do trabalho). Na outra, considerando a importância
atribuída exclusivamente ao trabalho (centralidade absoluta), assinalaram uma
pontuação numa escala que variava de 0 (zero) a 7 (sete). Foram estimadas as
médias para ambas e os respectivos desvios-padrão.
A partir dos dados observados na tabela 14 e após a aplicação do
teste t, se constatou que, no tocante à centralidade relativa, as esferas família
(M=38,50 e DP=16,26) e trabalho (M=32,92 e DP=13,73) foram as que mais se
evidenciaram, sem diferença estatisticamente significativa entre as médias mais
altas. As médias das demais esferas não apresentaram diferenças
estatisticamente significativas entre si. O que se observou entre as médias de
trabalho e lazer (t = -3,413, para p=0,006). Assim, se caracterizou que os
participantes atribuem maior importância à família e ao trabalho indistintamente
do que ao lazer, à religião e à comunidade.
Quanto à centralidade absoluta, a média das respostas – 5,60 – se
mostra coerente com a constatação anterior sobre a posição relativa ocupada
pelo trabalho.
78
Tabela 14 - Estatísticas descritivas da centralidade atribuída às esferas de vida (N = 18)
Esferas Mínimo Máximo Média DP
Lazer 2 40 14,50 11,69
Comunidade 0 20 6,08 5,28
Trabalho 5 50 32,92 13,73
Religião 0 20 8,00 6,09
Família 20 80 38,50 16,26
Centralidade
Absoluta do Trabalho 4 7 5,60 1,07
Estimaram-se os escores individuais, nos 4 (quatro) fatores dos
atributos valorativos (características percebidas como desejáveis no trabalho,
“como deve ser”) e nos 5 (cinco) dos atributos descritivos (características
percebidas na realidade concreta do trabalho, “como é”), pela da média dos
pontos que cada participante atribuía aos itens componentes dos fatores
valorativo e descritivo, ponderados pelas cargas dos itens na composição do
fator.
Aplicando-se o teste t, verificou-se que o atributo valorativo mais
enfatizado pelos participantes foi ‘sobrevivência pessoal e familiar’ - o trabalho
deve garantir as condições econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal,
a assistência à família, a existência humana, a estabilidade no emprego
decorrente do desempenho, o salário e o progresso social (t = -4,190, para p =
0,001). Da mesma forma, o fator ‘desgaste e desumanização’ - define que o
trabalho deve implicar em desgaste, pressa, atarefamento, perceber-se como
máquina ou animal (desumanizado), esforço físico, dedicação e perceber-se
discriminado – foi que se apresentou menor desejabilidade pelos participantes
(t = 4,207, para p=0,001). Inclusive, foi o fator diante do qual os participantes
apresentaram uma maior heterogeneidade na sua avaliação.
Aplicando-se o teste t, verificou-se que outro atributo descritivo
mais enfatizado pelos participantes foi o ‘condições de trabalho’ - descreve o
79
trabalho exigindo para o desempenho adequado equipamentos específicos,
conforto material e higiênico, assistência e melhores salários para o trabalhador
(t = 3,210, para p = 0,006). Já o fator ‘responsabilidade’ - descreve o trabalho
como implicando na necessidade de cumprir com as tarefas previstas, na
ocupação e no direito de que a organização cumpra com seus deveres, fazendo
o indivíduo sentir-se bem – o menos enfatizado.
Tabela 15 - Escores nos fatores
Fatores Média Desvio Padrão
Atributos Valorativos Fator 1 – Justiça no Trabalho 2,66 0,30 Fator 2 – Auto-expressão e Realização Pessoal 2,75 0,30 Fator 3 – Sobrevivência Pessoal e Familiar 3,17 0,30 Fator 4 – Desgaste e Desumanização 2,20 0,54 Atributos Descritivos
Fator 1 – Auto-expressão 3,68 0,36 Fator 2 – Condições de trabalho 3,72 0,35 Fator 3 – Responsabilidade 2,54 0,55 Fator 4 – Recompensa econômica 3,57 0,33 Fator 5 – Desgaste e Desumanização 3,16 0,43
Para verificar se os participantes apresentavam diferenças ou
semelhanças nos fatores do significado do trabalho na dependência do sexo, da
residência e locomoção própria foi aplicado o teste t que levou à constatação de
que os mesmos diferiram no tocante a terem moradia própria. Os que têm
residência própria apresentaram médias mais elevadas nos fatores valorativos
‘auto-expressão e realização pessoal’ - define que o trabalho deve oportunizar
expressão da criatividade, do sentimento de produtividade, das habilidades
interpessoais, da capacidade de tomar decisões e do prazer pela realização das
tarefas e ‘sobrevivência pessoal e familiar’ - define que o trabalho deve garantir
as condições econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal, a assistência
80
à família, a existência humana, a estabilidade no emprego decorrente do
desempenho, o salário e o progresso social.
O mesmo ocorrendo com o fator dos atributos descritivos
‘condições de trabalho’ - descreve o trabalho exigindo para o desempenho
adequado equipamentos específicos, conforto material e higiênico, assistência e
melhores salários para o trabalhador. Para as demais variáveis, foi empregada a
ANOVA, quando se constatou que houve diferenças estatisticamente
significativas.
81
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa foi realizada com o objetivo principal de investigar a
incidência da síndrome de burnout e suas relações com estratégias de coping e
significado do trabalho entre policiais civis em uma delegacia de Natal-RN.
À medida que os resultados da pesquisa foram discutidos,
verificou-se que as questões de pesquisa foram se tornando mais claras,
possibilitando concluir que as mesmas foram respondidas. A partir destas
questões e da análise dos resultados obtidos por meio dos instrumentos,
chegou-se a algumas conclusões que serão discutidas a seguir.
Deste modo, o primeiro objetivo deste trabalho – Identificar se os
participantes apresentam a incidência de burnout e o nível – foi confirmado,
demonstrando que os princípios teóricos têm um correspondente empírico. Os
resultados encontrados indicaram que, em termos gerais, os policiais de uma
delegacia de Natal-RN apresentam nível moderado da síndrome de burnout,
uma vez que, observou-se que na exaustão emocional e na despersonalização
nesta classificação se concentraram 50% e 38% da amostra, respectivamente, e
na diminuição da realização, 55,6%.
Tal incidência, provavelmente, esteja relacionada com as
características do próprio ambiente laboral, já que se trata de uma delegacia
especializada em homicídios. O policial civil lida diretamente com situações de
violência, o que exige grande responsabilidade em sua atuação profissional
voltada para a segurança social levando-o a um desgaste emocional.
A respeito do segundo objetivo específico – Identificar se os
participantes apresentam diferenças ou semelhanças quanto à incidência de
burnout na dependência de variáveis sócio-demográficas e funcionais, como
sexo, idade, estado civil, escolaridade, moradia e meio de locomoção próprios,
tempo de vinculação à polícia civil, tempo no atual cargo/função, local trabalho e
manutenção de outros vínculos profissionais – foram aplicados test t e ANOVA e
não se verificaram diferenças estatisticamente significativas entre as médias.
Assim, os participantes não apresentaram diferenças quanto às dimensões da
burnout na dependência das variáveis.
82
Com relação ao terceiro objetivo – Identificar as estratégias de
coping adotadas – os participantes empregam o controle e o manejo com igual
itens idade e o escape é a estratégia menos utilizada (t = -12,47, para p = 0,000).
Os policiais divergiram mais na avaliação do emprego do escape e apresentaram
uma avaliação mais homogênea sobre o uso do controle.
O controle foi a estratégia mais utilizada pelos policiais, o que leva
a prevenção do desenvolvimento da burnout. Por isso, para que a síndrome não
seja desencadeada no policial civil, é preciso que ele atue diretamente sobre o
estressor, desenvolvendo estratégias que possibilitem definir e analisar a
situação, buscando alternativas para solução do problema, atuando diretamente
sobre o meio laboral e sobre si mesmo.
O manejo, segunda estratégia mais utilizada pelos policiais, é a
mais eficaz, pois a partir dele o policial pode perceber quando deve parar,
estabelecer descansos e alternar tarefas diferentes. Visando, assim, desenvolver
habilidades para saber estabelecer prioridades, investir mais tempo nas
atividades priorizadas e reduzir a percepção de situações laborais de urgência,
melhorando o rendimento e diminuindo a fadiga física e mental.
No caso do escape, o policial apresenta uma tendência a evitar os
problemas que podem surgir no ambiente de trabalho, já que não encontra
soluções para os mesmos e isto acaba interferindo no desenvolvimento da sua
atuação profissional, incrementando a exaustão emocional. Assim, a
implementação de programas que levem os policiais a recuperar o controle
quando lidam com os estressores ocupacionais podem ser de utilidade para a
prevenção da burnout.
Quanto ao quarto objetivo - Identificar se os participantes
apresentam diferenças ou semelhanças quanto às estratégias de coping adotas
na dependência de variáveis sócio-demográficas e funcionais, como sexo, idade,
estado civil, escolaridade, moradia e meio de locomoção próprios, tempo de
vinculação à polícia civil, tempo no atual cargo/função, local de trabalho e
manutenção de outros vínculos profissionais – verificou-se, através da aplicação
do teste t, que os homens empregam mais intensamente o controle do que a que
as mulheres (t = 3,54, para p = 0,003) e que os participantes que não possuem
residência própria empregam mais o manejo do que os que a têm (t = -2,964,
para p=0,009).
83
Com aplicação da ANOVA verificou-se a inexistência de diferenças
das médias nas estratégias na dependência das variáveis testadas. Assim,
concluiu-se que os participantes não diferem quanto ao uso das estratégias de
coping na dependência das mesmas.
Para averiguar o quinto objetivo - Reconhecer o significado do
trabalho entre os policiais civis – foi realizada a aplicação do teste t, e se
constatou que, no tocante à centralidade relativa, os participantes atribuem maior
importância à família e ao trabalho indistintamente do que ao lazer, à religião e à
comunidade.
Verificou-se também que o atributo valorativo mais enfatizado pelos
participantes foi ‘sobrevivência pessoal e familiar’ - o trabalho deve garantir as
condições econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal, a assistência à
família, a existência humana, a estabilidade no emprego decorrente do
desempenho, o salário e o progresso social (t = -4,190, para p = 0,001). Da
mesma forma, o fator ‘desgaste e desumanização’ - define que o trabalho deve
implicar em desgaste, pressa, atarefamento, perceber-se como máquina ou
animal (desumanizado), esforço físico, dedicação e perceber-se discriminado –
foi que se apresentou menor desejabilidade pelos participantes (t = 4,207, para
p=0,001). Inclusive, foi o fator diante do qual os participantes apresentaram uma
maior heterogeneidade na sua avaliação.
Constatou-se ainda que o atributo descritivo mais enfatizado pelos
participantes foi o ‘condições de trabalho’ - descreve o trabalho exigindo para o
desempenho adequado equipamentos específicos, conforto material e higiênico,
assistência e melhores salários para o trabalhador (t = 3,210, para p = 0,006). Já
o fator ‘responsabilidade’ – foi o menos enfatizado e descreve o trabalho como
implicando na necessidade de cumprir com as tarefas previstas, na ocupação e
no direito de que a organização cumpra com seus deveres, fazendo o indivíduo
sentir-se bem.
Para identificar o sexto objetivo - Se os participantes apresentam
diferenças ou semelhanças quanto ao significado atribuído ao trabalho, na
dependência de variáveis sócio-demográficas e funcionais, como sexo, idade,
estado civil, escolaridade, moradia e meio de locomoção próprios, tempo de
vinculação à polícia civil, tempo no atual cargo/função, local trabalho e
manutenção de outros vínculos profissionais - foi aplicado o teste t que levou à
84
constatação de que os mesmos diferiram no tocante a terem moradia própria. Os
que têm residência própria apresentaram médias mais elevadas nos fatores
valorativos ‘auto-expressão e realização pessoal’ - define que o trabalho deve
oportunizar expressão da criatividade, do sentimento de produtividade, das
habilidades interpessoais, da capacidade de tomar decisões e do prazer pela
realização das tarefas e ‘sobrevivência pessoal e familiar’ - define que o trabalho
deve garantir as condições econômicas de sobrevivência e de sustento pessoal,
a assistência à família, a existência humana, a estabilidade no emprego
decorrente do desempenho, o salário e o progresso social.
O mesmo ocorrendo com o fator dos atributos descritivos
‘condições de trabalho’ - descreve o trabalho exigindo para o desempenho
adequado equipamentos específicos, conforto material e higiênico, assistência e
melhores salários para o trabalhador. Para as demais variáveis, foi empregada a
ANOVA, quando se constatou que houve diferenças estatisticamente
significativas.
O sétimo e último objetivo é identificar se há possibilidade de
oferecer recomendações à Secretaria de Defesa Social e ao Delegado Geral que
subsidiem a tomada de decisão pela implementação de intervenções
organizacionais que possam repercutir positivamente na melhoria da qualidade
de vida dos policiais e na melhoria dos serviços prestados ao cidadão e,
sobretudo, aos profissionais sobre como lidar com burnout, especialmente, de
maneira profilática (na perspectiva de promoção da saúde)
Foi constatado com esta pesquisa que a maioria da amostra
apresenta uma intensidade moderada nas dimensões da síndrome, remetendo à
necessidade de que medidas sejam adotadas pelos policiais e intervenções no
ambiente de trabalho sejam promovidas pela Secretaria de Defesa Social,
visando o bem-estar psicológico da categoria.
Segundo Maslach e Leiter (1997 apud TAMAYO; TRÓCCOLI,
2002) as intervenções para resolver a burnout e/ou preveni-la deve-se ocorrer a
partir da focalização de soluções tanto no trabalhador quanto no local de
trabalho, tendo como finalidade desenvolver um processo que permita recuperar
o equilíbrio entre as expectativas do individuo e as exigências do seu trabalho,
visto que a burnout está mais relacionada a características do ambiente de
trabalho do que às características do trabalhador.
85
Faz-se importante que a Secretaria de Defesa Social leve em conta
a realidade laboral e individual dos policiais. Foi averiguado neste trabalho, por
exemplo, que a maioria dos policiais constituintes da amostra localiza-se na faixa
de 40 a 45 anos, estando relacionado à alta possibilidade de desenvolver a
síndrome, como já foi confirmado em estudos de Schmidt (1991), Cherniss
(1980), Benevides-Pereira (2002), Farber (1984) e Mendes (2002).
Outra conclusão interessante informa que os policiais do sexo
masculino, por apresentarem uma maior tendência a substituir o vínculo afetivo
pelo racional, perdem o sentimento de estar lidando com outro ser humano,
desenvolvendo atitudes negativas. Provavelmente isto decorre das atitudes
masculinas serem mais instrumentais e haver menor demonstração de reações
emocionais no ambiente de trabalho. Para Mendes (2002), no gênero masculino,
quando existe estresse elevado, o fator desencadeante refere-se à falta de
reconhecimento ou compensação.
Durante nossas passagens na delegacia, foi abordada a relevância
que esta pesquisa teria tanto para fins científicos, como para a organização.
Salientamos estes dados nas nossas considerações, uma vez que acreditamos
que os mesmos possam interferir nos resultados ou fornecer explicações para
adoecimentos.
Acreditamos que as informações obtidas nesta pesquisa possam
subsidiar ações administrativas destinadas a minimizar as manifestações da
síndrome de burnout, ou redução dos casos identificados, uma vez que os
resultados aqui apresentados, caso sejam aprofundados com estudos
complementares, poderão orientar diversas ações internas na organização
relacionadas à referida síndrome; bem como poderão ainda subsidiar ações
relacionadas ao fortalecimento do comprometimento e ao uso das estratégias de
coping que são medidas necessárias para que os policiais adaptem-se às
circunstâncias estressantes do seu trabalho.
Quanto ao índice de burnout encontrado entre os pesquisados,
resgatam-se as observações de Maslach (1997) que alerta para o fato de que os
trabalhadores estão a cada dia concedendo a maior parte de seus tempos às
organizações em que trabalham e que a sobrecarga de trabalho talvez seja o
indicativo mais óbvio da divergência entre a pessoa e o trabalho, numa
incongruência que esgota o indivíduo psíquica e fisicamente. Fica evidente que
86
os policiais se sentem impelidos fazer muito, em pouco tempo, com recursos
escassos. Parece ser este o momento das organizações se atentarem para este
fato, que requer mais atenção por parte da sociedade e dos próprios
pesquisadores da área, podendo fornecer maiores subsídios para os
trabalhadores.
Considerando as conclusões acima, eliciamos algumas medidas
que podem ajudar na prevenção da síndrome de burnout:
- Inicialmente pensamos na questão satisfação pessoal em relação
ao trabalho, a função exercida, como um ponto de partida para tudo isso
começar, pois se há insatisfação, há desgaste por não fazer o que se gosta.
Aliado às longas jornadas, ao excesso de tarefas e atividades que envolvem alto
grau de estresse, pode ocorrer um grande desgaste na saúde física e mental do
trabalhador. Pensar e entender o que leva ao excesso de desgaste físico e
emocional é o ponto de partida para se falar em prevenção e, evitar, assim, que
se chegue à burnout.
-Desenvolver grupos de discussão entre os trabalhadores,
proporcionando a estes um ambiente de reflexões, experiências, e formas de
lidar com o estresse ao qual eles são acometidos em seu ambiente de trabalho e
fora deste.
- Ajudar os policiais a relaxarem e aliviarem os sintomas de tensão
e, concomitantemente, recomendar a estes que dediquem alguns minutos de sua
jornada ocupacional à prática de relaxamento.
- No caso dos que já apresentam a incidência de burnout, é
importante que as organizações, a partir de estudos como este, observem essa
incidência e ressalte ao trabalhador a importância de consultar profissionais
qualificados e especialistas no diagnóstico e tratamento do burnout, caso o
policial suspeite estar com esta síndrome.
- A qualidade de vida no trabalho é uma outra condição que
compromete a saúde do trabalhador, uma vez que, as condições de trabalho que
incluem aspectos de bem-estar, garantia da saúde e segurança física, mental e
social, e capacitação para realizar tarefas com segurança e bom uso de energia
pessoal, interferem no modo como o trabalhador cria vínculos na organização
também. Logo é importante ressaltar que não depende só da organização ou só
87
do trabalhador, é um trabalho múltiplo, ou seja, conjunto das duas partes,
indivíduo e organização.
- Também seria de grande valia o empreendimento de estudos
sobre burnout e sua aplicação a outras categorias ocupacionais, como uma
forma de ampliar a divulgação da sua importância para a sociedade, de um
modo geral, o que seria o ponto de partida para a criação de políticas públicas a
favor do bem-estar no trabalho por parte dos órgãos governamentais.
Por fim, como sugere Maslach e Leitter (1999) em seu estudo, uma
das principais estratégias para prevenir a síndrome, é enfatizar a promoção dos
valores humanos no ambiente de trabalho. Logo, se queremos nos prevenir da
burnout antes de pensar no trabalho como lamento ou dor, devemos pensar
neste como um ambiente de prazer e inspiração, onde sentimos uma satisfação
pessoal, pois a solução está em ações integradas, que vão do comprometimento
de cada um em consonância com o comprometimento da organização com o seu
colaborador.
88
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APÊNDICE
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APÊNDICE A – Protocolo contendo instrumentos utilizados
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