Download - USO RACIONAL DA ÁGUA EM PROCESSOS PRODUTIVOS: UM ESTUDO SOBRE A PRODUÇÃO DE CAFÉ DO SUL DE MINAS
FAI – CENTRO DE ENSINO SUPERIOR EM GESTÃO, TECNOLOGIA E
EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2015
CLAUDIO GILBERTO DIAS BORGES JUNIOR
THÁLES LUIZ RENÓ
USO RACIONAL DA ÁGUA EM PROCESSOS PRODUTIVOS: UM ESTUDO
SOBRE A PRODUÇÃO DE CAFÉ DO SUL DE MINAS
SANTA RITA DO SAPUCAÍ
2016
FAI – CENTRO DE ENSINO SUPERIOR EM GESTÃO, TECNOLOGIA E
EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA 2015
CLAUDIO GILBERTO DIAS BORGES JUNIOR
THÁLES LUIZ RENÓ
USO RACIONAL DA ÁGUA EM PROCESSOS PRODUTIVOS: UM ESTUDO
SOBRE A PRODUÇÃO DE CAFÉ DO SUL DE MINAS
Relatório final do trabalho de pesquisa realizado
dentro do Programa de Iniciação Científica, PIBIC
2015, parte integrante do Grupo de Estudos
Avançados em Engenharia de Produção, GEAEP, sob
a orientação da Profa. Dra. Sandra Carvalho
SANTA RITA DO SAPUCAÍ
2016
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO
2 PANORAMA DO USO E REUSO DA ÁGUA NO BRASIL
2.1 REUSO DA ÁGUA NO BRASIL
3 O SETOR AGRÍCOLA BRASILEIRO
3.1 PRODUÇÃO AGRÍCOLA
4 SETOR AGRÍCOLA DE MINAS GERAIS
5 IRRIGAÇÃO
6 CAFEICULTURA BRASILEIRA
6.1 PANORAMA DA PRODUÇÃO DE CAFÉ NO BRASIL
6.2 PROCESSO SECO x PROCESSO ÚMIDO
6.3 USO DA ÁGUA
7 CAFEICULTURA NO SUL DE MINAS
7.1 CULTURA DE CAFÉ NA COOPERRITA
7.1.1 PROCESSO PRODUTIVO DE CAFÉ NAS LAVOURAS ASSOCIADAS À
COOPERRITA
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
9 REFERÊNCIAS
1 INTRODUÇÃO
A água potável do mundo é um recurso natural renovável, porém ela é finita, ou seja,
quanto mais se utiliza mais escassa ela fica. Este recurso é de extrema importância para a
sobrevivência de qualquer ser vivo e um recurso de importância vital para as atividades
agrícolas.
O setor agrícola utiliza, no Brasil, aproximadamente 70% do consumo total de água.
Essa demanda significativa, associada à escassez de recursos hídricos leva a ponderar que as
atividades agrícolas devem ser consideradas como prioritária em termos de reuso de efluentes
tratados (ANA, 2004).
A agricultura é vista como alvo prioritário para as políticas de controle racional de água.
Cerca de 60% da água utilizada em projetos de irrigação é perdida por fenômenos como a
evaporação. Estudos mostram que uma redução de 10% dessa taxa poderia abastecer um quinto
a mais da população atual (ANA, 2004).
A agricultura no Brasil é o setor que sustenta o país no momento da crise de 2015, com
a alta taxa de exportação de produtos como café, laranja e soja. Essas atividades correspondem,
em média, a 30% do PIB brasileiro e sua produção está cada vez mais alta (CONAB, 2015).
O café está presente na quinta posição do ranking de exportações brasileiros. Com isso,
o Brasil se manteve como o país que mais exportou café no mundo. A importância do café é
tanta que, consequentemente, é a atividade agrícola que gera mais emprego no país, aumentando
assim, o PIB dos estados que cultivam o café (SEAG, 2015).
Considerando a importância dos fatos apresentados acima, o presente trabalho tem como
objetivo estudar o uso racional da água no processo produtivo do café, identificando as práticas
usadas atualmente pelos produtores da região de Santa Rita do Sapucaí, Sul de Minas Gerais.
Para isso, foi feita uma revisão bibliográfica e um levantamento de dados secundários
sobre o uso e reuso da água no Brasil, o setor agrícola brasileiro e mineiro e, particularmente,
sobre a cafeicultura brasileira e o uso da água na produção de café. A parte prática do estudo
teve como foco os produtores de café associados à Cooperativa Regional Agropecuária de Santa
Rita do Sapucaí, CooperRita.
Espera-se que esse estudo contribua para o maior entendimento sobre o uso racional da
água na produção do café, apontando oportunidades de melhoria e estudos posteriores.
2 PANORAMA DO USO E REUSO DA ÁGUA NO BRASIL
A água é fundamental para a vida, sendo parte constituinte de todos os seres vivos de
nosso planeta. Conforme Branco (1663) apud ANA (2009), há duas teorias do surgimento de
água no planeta. Aprisionamento das águas congeladas dos cometas e, a mais aceita, formação
conjunta com o planeta, com a liberação de moléculas de H2O na forma de vapor no processo
de formação dos minerais, principalmente silicatos.
O Brasil, localizado em sua maior parte na Zona Intertropical, com domínio de climas
quentes e úmidos, recebe chuva em cerca de 60% do seu território, normalmente variando de
1.000 a 3.000 milímetros anuais. A única grande área que foge a este padrão é o Sertão
Nordestino, região que ocupa cerca de 10% do território nacional (ANA, 2009).
Devido a estas características climáticas e às condições geomorfológicas dominantes, o
Brasil possui importantes excedentes hídricos cujo resultado é a existência de uma das mais
vastas e densas redes de drenagem fluvial do mundo. Como consequência, a produção hídrica
equivale a pouco mais que metade do total da América do Sul. Embora não haja um consenso
sobre o assunto, estima–se que o Brasil detenha algo entre 12% e 15% dos recursos hídricos
totais do mundo (OLIC 2003 apud ANA 2009).
Apesar de possuir abundância de águas superficiais, os recursos hídricos brasileiros não
estão distribuídos equitativamente pelo território. Quatro grandes bacias hidrográficas são
responsáveis por 85% da produção hídrica: Amazônica; Tocantins– Araguaia; São Francisco;
e Paraná. A Figura 1 a seguir apresenta esquematicamente as quantidades relativas de
disponibilidade de água no Brasil, bem como a distribuição relativa populacional e territorial.
Nas regiões hidrográficas Amazônica e Tocantins–Araguaia, a produção hídrica
corresponde a 73% do total do país. Nessas áreas, de forma geral, as densidades demográficas
são muito baixas, variando de 2 a 5 hab./km². No outro extremo, na região hidrográfica Paraná,
com apenas 6,5% da produção hídrica, as densidades demográficas dominantes estão entre 25
e 100 hab./km², cerca de 20 vezes mais que a região Norte. A bacia do Paraná conta com as
maiores metrópoles do país, com as áreas mais dinâmicas da economia brasileira, sendo os
mananciais mais exigidos e poluídos do país. A disponibilidade per capita no Brasil é estimada
em 45.573 m³/habitante.ano (WRI 2005 apud ANA 2009). De qualquer forma, considerando a
demanda pelo uso da água no Brasil em 345 m³/habitante.ano, a situação brasileira é bastante
privilegiada, com menos que 1% em relação a sua disponibilidade.
Figura 1 - Distribuição relativa dos recursos hídricos, da população e do território
brasileiro (adaptado de dados do DNAEE, 1992, apud ANA, 2009).
Nenhuma unidade federativa do Brasil apresenta disponibilidade de água per capita
inferior a 1.000 m³ anuais por habitante, porém os estados do Rio Grande do Norte, Paraíba,
Pernambuco, Alagoas, Sergipe e o Distrito Federal, apresentam índices menores que 2.000 m³
anuais por habitantes, abaixo, portanto, do patamar de estresse hídrico defendido pelo Banco
Mundial.
A aparente abundância de água no Brasil tem sustentado uma cultura de desperdícios.
Os problemas de abastecimento na atualidade ainda estão restritos a poucas áreas e decorrem
da combinação de vários fatores, entre eles: da irregularidade das condições climáticas (Sertão
do Nordeste); do crescimento exagerado do consumo; e da degradação ambiental.
De acordo com o último diagnóstico dos serviços de água e esgotos (SNIS, 2014), o
consumo médio de água por pessoa no Brasil é de 162 litros/habitante/dia, com um índice total
de perdas na distribuição correspondente a 36,7%
2.1 REUSO DA ÁGUA NO BRASIL
Segundo a Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005, do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos – CNRH, o reuso de água constitui-se em prática de racionalização e de
conservação de recursos hídricos, conforme princípios estabelecidos na Agenda 21. Tal prática
reduz a descarga de poluentes em corpos receptores, conservando os recursos hídricos para o
abastecimento público e outros usos mais exigentes quanto à qualidade; reduz os custos
associados à poluição e contribui para a proteção do meio ambiente e da saúde pública.
O reuso pode ser definido como uso de água residuária ou água de qualidade inferior
tratada ou não. O artigo 2º da Resolução nº 54 de 28 de novembro de 2005, do Conselho
Nacional de Recursos Hídricos – CNRH possui as seguintes definições:
I - Água residuária: esgoto, água descartada, efluentes líquidos de edificações,
indústrias, agroindústrias e agropecuária, tratados ou não;
II - Reuso de água: utilização de água residuária;
III - Água de reuso: água residuária, que se encontra dentro dos padrões exigidos para
sua utilização nas modalidades pretendidas;
IV - Reuso direto de água: uso planejado de água de reuso, conduzida ao local de
utilização, sem lançamento ou diluição prévia em corpos hídricos superficiais ou
subterrâneos;
V - Produtor de água de reuso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
que produz água de reuso;
VI - Distribuidor de água de reuso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou
privado, que distribui água de reuso; e
VII - usuário de água de reuso: pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado,
que utiliza água de reuso.
Segundo Moruzzi (2008), o reuso pode ser classificado: (i) quanto ao método conforme
é realizado; (ii) quanto ao uso final. O método pode ser considerado se há ou não descarte das
águas nos corpos hídricos, antes do próximo uso.
A reutilização de água pode ser direta ou indireta, decorrente de ações planejadas ou
não, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, OMS (1973) apud Telles e Costa (2010):
Reuso indireto: quando a água utilizada é descartada nos corpos hídricos
superficiais ou subterrâneos, diluída e depois captada para novo uso.
Reuso indireto não planejado da água: ocorre quando a água, utilizada em alguma
atividade humana, é descarregada no meio ambiente e novamente utilizada a
jusante, em sua forma diluída, de maneira não intencional e não controlada.
Caminhando até o ponto de captação para o novo usuário, a mesma está sujeita às
ações naturais do ciclo hidrológico (diluição, autodepuração).
Reuso indireto planejado da água: ocorre quando os efluentes, depois de tratados,
são descarregados de forma planejada nos corpos de águas superficiais ou
subterrâneas, para serem utilizadas a jusante, de maneira controlada, no
atendimento de algum uso benéfico.
Reuso direto: segundo a Resolução nº 54/05 do CNRH, uso planejado de água de
reuso, conduzida ao local de utilização, sem lançamento ou diluição prévia em
corpos hídricos superficiais ou subterrâneos.
Reuso direto planejado das águas: ocorre quando os efluentes, depois de tratados,
são encaminhados diretamente de seu ponto de descarga até o local do reuso, não
sendo descarregados no meio ambiente. É o caso com maior ocorrência, destinando-
se a uso em indústria ou irrigação.
A Figura 2 a seguir apresenta um fluxograma ilustrativo que resume alguns tipos de
reuso apresentados e suas formas potenciais considerando a reutilização de esgotos domésticos
e industriais.
Figura 2 – Formas potenciais de reuso de água (Hespanhol, 2002)
Segundo o CIRRA - Centro Internacional de Referência em Reuso de Água (2002), os
tipos de reuso e suas aplicações são os seguintes:
Irrigação paisagística: parques, cemitérios, campos de golfe, faixas de domínio de
autoestradas, campus universitários, cinturões verdes e gramados residenciais.
Irrigação de campos para cultivo: plantio de forrageiras, plantas fibrosas e de grãos,
plantas alimentícias, viveiros de plantas ornamentais e proteção contra geadas.
Usos industriais: refrigeração, alimentação de caldeiras e água de processamento.
Recarga de aquíferos: recarga de aquíferos potáveis, controle de intrusão marinha e
controle de recalques de subsolo.
Usos urbanos não potáveis: irrigação paisagística, combate ao fogo, descarga de vasos
sanitários, sistemas de ar condicionado, lavagem de veículos, lavagem de ruas, pontos
de ônibus, etc.
Finalidades ambientais: aumento de vazão em cursos de água, aplicação em pântanos,
terras alagadas e indústrias de pesca.
Usos diversos: aquicultura, construções, controle de poeira, dentre outros.
3 O SETOR AGRÍCOLA BRASILEIRO
A agricultura e a pecuária sempre foram importantes para a economia brasileira. Com o
tempo houve grandes mudanças que culminaram em melhorias no padrão de produção do setor
agropecuário do País. Esta melhoria está disseminada no campo desde a década de 1970,
podendo ser observada pelo uso mais intensivo de tecnologias no processo produtivo, mais
especificamente, pelo uso de máquinas agrícolas modernas, adequação de novas culturas ao
clima e ao solo, entre outros fatores, que acarretaram em um aumento significativo da
produtividade. Ademais, os incentivos governamentais com planejamento econômico
específico também contribuíram para a melhoria da competitividade do setor agropecuário
brasileiro.
3.1 PRODUÇÃO AGRÍCOLA
Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, MAPA, o Brasil é um
dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários em termos de
volume. Além disso, o Brasil tem potencial para se tornar um país líder na produção de
biocombustíveis, produzidos a partir de cana-de-açúcar e óleos vegetais, além de algodão,
milho, arroz, frutas frescas, cacau, castanhas, nozes, suínos e pescados (CHRISTOFIDIS,
2013).
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento, CONAB, o Brasil utiliza 47 milhões de
hectares com a agricultura. Estimativas do MAPA demonstram o potencial total de terras para
exploração no Brasil é 388 milhões de hectares, dos quais 71 milhões ainda não foram
explorados em 2009 (CHRISTOFIDIS, 2013).
Houve um importante declínio da participação da agricultura no PIB brasileiro. Este
declínio é fator da pesada industrialização que a economia brasileira passou, especialmente
depois de 1930. Apesar desta diminuição de participação do setor agrícola, tem que destacar
sua importância em tal industrialização (IBGE, 2006).
Mesmo com o forte declínio, o Brasil tem mostrado um forte aumento de produção em
diversos produtos. O Quadro 1 a seguir demonstra a produção de grãos destes 2005 e sua
estimativa para 2015. Pode-se observar na tabela que a produção aumenta mesmo com a crise
de 2008, atingindo recordes de produção todos os anos.
Quadro 1 – Produção de Grãos no Brasil (CONAB, 2015)
Desde o fim da crise financeira de 2008, o crescimento da economia brasileira tem sido
impulsionado pelo setor agrícola. No primeiro semestre de 2013, a agricultura foi responsável
por 23% da riqueza gerada no país. No final do ano de 2010, o fim do ciclo das commodities
(período de alta demanda e pouca oferta de grãos) fez com que o setor perdesse a exuberância
de outros tempos, mas isso não significa que deixou de crescer. Ao contrário, as exportações
do agronegócio avançaram mais de 4% em 2013, a 100 bilhões de dólares (CONAB, 2015).
A Figura 3 a seguir mostra a relação do PIB do agronegócio deste 2001 até 2014, onde
pode-se observar que, mesmo o país sendo atingido pela crise em 2008, ele conseguiu se
sobrepor e continuou a ter uma taxa de crescimento positiva.
Figura 3 – PIB do Agronegócio (CONAB,2015)
A agricultura sempre esteve presente nas exportações brasileiras e é uma das
atividades com maior taxa de participação na exportação.
Desde 2008, quando ultrapassou o Canadá, o Brasil se tornou o terceiro maior
exportador de produtos agrícolas do mundo. Em 2000, o País ocupava a sexta posição. Mas, na
última década, Austrália e China ficaram para trás. Atualmente, somente Estados Unidos e
União Europeia vendem mais alimentos no planeta que os agricultores e pecuaristas brasileiros
(CONAB, 2015).
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que
um conjunto de variáveis colaborou para o desempenho da agricultura brasileira: recursos
naturais abundantes, diversidade de produtos, um câmbio favorável até 2006, o aumento da
demanda dos países asiáticos e o crescimento da produtividade das lavouras (CONAB, 2015).
É prospero o caminho que o Brasil tomou, a sua agricultura tropical é uma estrela
solitária no mundo. Mesmo com muita tecnologia, Canadá, EUA e UE não conseguem
conquistar grandes marcas na ampliação das suas agriculturas. Além da pequena
disponibilidade de áreas novas, eles precisam superar os obstáculos em persuadir a mão de obra
a ficar na zona rural (CONAB, 2015).
Nos produtos tradicionais, como café, suco de laranja e açúcar, o País sustenta a
liderança. Primeiro lugar na exportação mundial de café desde 1860, a participação brasileira
corresponde a um terço. No suco de laranja, a representatividade nas exportações mundiais é
de 80%, a maior fração de um produto agrícola brasileiro. Há pouco espaço para crescimento,
com mercado estabilizado e fortemente consolidado em quatro empresas (CONAB, 2015).
Em síntese, o Brasil ocupa o primeiro posto no ranking de exportação de diversas
cadeias produtivas – açúcar, carne bovina, carne de frango, café, suco de laranja, tabaco e
álcool. Também é vice-líder em soja e milho e está na quarta posição na carne suína.
4.0 SETOR AGRÍCOLA DE MINAS GERAIS
A mudança no padrão de produção do setor agropecuário brasileiro melhorou a
competitividade de alguns estados, notadamente, Minas Gerais e Paraná. Conforme destacado
pela literatura teórica e empírica, os ganhos de produtividade no setor agropecuário do País e,
em particular, do estado de Minas Gerais, decorreram basicamente do uso mais intenso de novas
tecnologias no meio rural, do aumento da profissionalização e dos incentivos às pesquisas
direcionadas para o setor. Essa nova configuração da economia agropecuária mineira
consolidou o estado como um dos maiores produtores agropecuários do País (SOUZA, 2010).
Para que a estrutura produtiva do setor primário brasileiro se tornasse um modo de
produção mais dinâmico, foi necessária uma mudança estrutural no setor, o que rompeu com o
padrão colonial de monocultura. Após tal ruptura, práticas modernas começaram a ser
implantadas simultaneamente a um aumento contínuo de máquinas agrícolas e insumos nos
campos, possibilitando um considerável aumento na produtividade do setor agropecuário
brasileiro (SOUZA, 2010).
Esse aumento na produção e na produtividade pode ser observado mais fortemente nas
regiões Sul, Sudeste e, mais recentemente, Centro-Oeste do Brasil. Minas Gerais reflete as
mudanças estruturais do setor agropecuário brasileiro, tendo sua produção aumentada e
tornando-se um dos estados com maior representatividade no cenário nacional (SOUZA, 2010).
Essas mudanças possibilitaram que o estado de Minas Gerais apresentasse aumentos
significativos, em termos absolutos e relativos, na sua produção estadual e na participação no
total do Brasil. Segundo dados do CONAB (2015), a participação do PIB agropecuário de
Minas Gerais no PIB agropecuário brasileiro passou de 9,0% em 2001, para 12,3% em 2010 e
vem crescendo como demonstra a Figura 4 a seguir. Além disso, a participação mineira
contribui fortemente nas exportações nacionais como mostra também a Figura 5 a seguir:
Figura 4 – PIB do Agronegócio mineiro no Agronegócio nacional (CONAB,2015)
Figura 5 – Exportações do Agronegócio brasileiro e mineiro (CONAB ,2015)
O Estado é líder no Brasil em produção de café, abacaxi, batata e leite, sendo o segundo
maior produtor de milho e bovinos e o terceiro em feijão e suínos, além de representar grande
participação em outros setores agropecuários como cana-de-açúcar, laranja e soja. Possui ainda
diversas características agropecuárias em seu território como descrito a seguir (FAPEMIG,
2006).
A região da Mata que explora principalmente a produção de grãos. Em sua
maioria são pequenos produtores voltados para a subsistência. O café também
se destaca na região e a fruticultura vem ganhando expansão. A pecuária é
destacada com a produção de suínos e aves que atendem ao mercado local.
Na região Sul do Estado, em grande parte os pequenos produtores são os
responsáveis pela agricultura onde ganham destaque: o café, a batata, o tomate,
frutas (de regiões mais frias), milho e leite.
No Triângulo e Alto Paranaíba, a tecnologia permite que médios e grandes
empresários rurais obtenham sucesso em suas produções, dando destaque para
os grãos. Outras fortes presenças agropecuárias são as cafeiculturas,
suinoculturas e bovinoculturas.
Na região Centro-Oeste, grande parte dos produtores rurais é de médio ou
pequeno porte, tendo as mais diversificadas produções, a mesorregião recebe
muita influência do agronegócio do Triângulo e Sul de Minas.
As regiões Norte, Nordeste e Jequitinhonha possuem diversas características
comuns, no que diz respeito ao relevo e clima, mas nem tanto no que diz respeito
à agropecuária. No Nordeste são comuns grandes propriedades envolvidas na
produção de grãos e na pecuária, até mesmo com alta tecnologia que dão suporte
a produção, e geralmente em culturas como a de banana, manga, goiaba e coco,
além da pecuária extensiva em alguns lugares. O Jequitinhonha é uma região
mais fraca em Minas no setor agropecuário, com práticas agrícolas rudimentares.
Por último, tem a mesorregião do Rio Doce que tem uma indústria muito forte
levando em conta a zona metropolitana do Vale do Aço, mas, mesmo assim, a
região possui uma agricultura de subsistência, em que a pecuária de corte possui
mais destaque.
5.0 IRRIGAÇÃO
Segundo ANA (2004) a irrigação é uma técnica utilizada na agricultura que tem por
objetivo o fornecimento controlado de água para as plantas em quantidade suficiente e no
momento certo, assegurando a produtividade e a sobrevivência da plantação.
A irrigação teve origem nas antigas civilizações há aproximadamente 4000 anos. Surgiu
principalmente em regiões áridas, normalmente às margens de grandes rios como o Yang-tse-
kiang e Huang Ho na China, o rio Nilo no Egito, os rios Tigre e Eufrates na Mesopotâmia e o
Rio Ganges na Índia. Só há cerca de 1500 anos é que as populações da terra passaram a ocupar
regiões úmidas, quando então a irrigação perdeu a sua necessidade vital (ANA, 2004).
Mais recentemente, com crescimento demográfico excessivo, a humanidade é
novamente compelida a usar os recursos da irrigação com complementação das chuvas e
também para tornar produtivas zonas áridas e semiáridas, diante da necessidade de grande
aumento na produção de alimentos (ANA, 2004).
Tipos de Irrigação
Gotejamento: Nesse sistema, a água é levada sob pressão por tubos, até ser aplicada ao solo
através de emissores diretamente sobre a zona da raiz da planta, em alta frequência e baixa
intensidade. Possui uma eficiência na ordem de 90%. Tem, no entanto um elevado custo de
implantação (Figura 6)
Figura 6 – Irrigação por gotejamento (ANA, 2004)
Aspersão convencional: Nos métodos de aspersão, são lançados jatos de água ao ar que caem
sobre a cultura na forma de chuva. Existem sistemas inteiramente móveis, com a mudança de
todos os seus componentes até os totalmente automatizados (fixos). No método convencional,
a linha principal é fixa e as laterais são móveis. Requer menor investimento de capital, mas
exige mão de obra intensa, devido às mudanças da tubulação (Figura 7).
Figura 7 – Irrigação por aspersão convencional (ANA, 2004)
Pivô central: O sistema consiste basicamente de uma tubulação metálica onde são instalados os
aspersores. A tubulação que recebe a água de uma dispositiva central sob pressão, chamado de
ponto do pivô, se apoia em torres metálicas triangulares, montadas sobre rodas, geralmente com
pneu. As torres movem-se continuamente acionadas por dispositivos elétricos ou hidráulicos,
descrevendo movimentos concêntricos ao redor do ponto do pivô (Figura 8).
Figura 8 – Irrigação por pivô central (ANA, 2004)
Canhão hidráulico: Em geral, o aspersor de grande porte (denominado canhão). Por aplicar
água a grandes distâncias, a eficiência do canhão é prejudicada pelo vento, sendo a sua
indicação vetada para regiões com alta incidência de ventos. É geralmente utilizado em lavouras
de cana-de-açúcar, para irrigação e distribuição de vinhaça (Figura 9)
Figura 9 – Irrigação por canhão hidráulico (ANA, 2004)
Sulco: Usa o método de irrigação por superfície. A distribuição da água se dá por gravidade
através da superfície do solo. Tem menor custo fixo e operacional, e consome menos energia
que os métodos por aspersão. É o método ideal para cultivos em fileiras. Deve ser feito em áreas
planas (Figura 10)
Figura 10 – Irrigação por sulco (ANA, 2004)
Autopropelido: um único canhão ou mini canhão é montado num carrinho, que se desloca
longitudinalmente ao longo da área a ser irrigada. A conexão do carrinho aos hidrantes da linha
principal é feita por mangueira flexível (Figura 11).
Figura 11 – Irrigação autopropelido (ANA, 2004)
Hidropônica: A Hidropônica é um sistema em que as plantas são irrigadas e também
alimentadas através de uma rotação de um fluxo de uma lâmina de água, impulsionado por uma
bomba de água ligada a um sistema de tubos ou canaletas devidamente dimensionadas e
programadas por um temporizador, fazendo com que as plantas não necessitem de terra para
sua sobrevivência (Figura 12)
Figura 12 – Irrigação hidropônica (ANA, 2004)
No entanto a irrigação também apresenta perigos ambientais. Deve ser utilizada com
critério e consciência ecológica, pois um sistema mal planejado pode causar sérios desastres
ambientais.
No Brasil, antes de iniciar a construção de sistemas de irrigação, a legislação obriga os
produtores a consultar as prefeituras locais, de forma a poder verificar se existem restrições ao
uso de água para irrigação. Dependendo da região, obter uma autorização pode ser virtualmente
impossível. Se o agricultor constrói o sistema à revelia, sem consulta aos órgãos públicos, corre
o risco de ver a obra embargada e ter seus equipamentos confiscados, além de estar sujeito a
multas.
6 CAFEICULTURA BRASILEIRA
O café é fonte imprescindível de receita para centenas de municípios brasileiros, além
de ser o principal gerador de postos de trabalho na agropecuária nacional. Os expressivos
desempenhos da exportação e do consumo interno de café implicam na sustentabilidade
econômica do produtor e de sua atividade.
Segundo o Ministério da Agricultura Brasileiro (2014) a cafeicultura brasileira é uma
das mais exigentes do mundo em relação a questões sociais e ambientais, havendo uma
preocupação em garantir a produção de um café sustentável. A atividade cafeeira é
desenvolvida com base em rígidas legislações trabalhistas e ambientais. São leis que respeitam
a biodiversidade e todas as pessoas envolvidas na cafeicultura e pune rigorosamente qualquer
tipo de trabalho escravo e/ou infantil nas lavouras. As leis brasileiras estão entre as mais
rigorosas entre os países produtores de café (CONAB, 2015).
Os produtores brasileiros preservam florestas e fauna nativa, controlam a erosão e
protegem as fontes de água. A busca do equilíbrio ambiental entre flora, fauna e o café é uma
constante e assegura a preservação de uma das maiores biodiversidades do mundo.
Ano a ano aumentam os investimentos em certificações, que promovem a preservação
ambiental, melhores condições de vida para os trabalhadores, melhor aproveitamento das terras,
além de técnicas gerenciais mais eficientes das propriedades, com uso racional de recursos. O
volume expressivo de cafés sustentáveis produzidos anualmente e a alta qualidade e diversidade
das safras brasileiras fazem do Brasil um fornecedor confiável e capaz de atender às
necessidades dos compradores internacionais mais exigentes (CONAB, 2015).
6.1 PANORAMA DA PRODUÇÃO DE CAFÉ NO BRASIL
Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB, 2015) o Brasil, em 2014,
manteve sua posição de maior produtor e exportador mundial de café e de segundo maior
consumidor do produto. A safra alcançou 45,34 milhões de sacas de 60 kg de café beneficiado,
em 15 Estados, com destaque para Minas Gerais, que respondeu por 49,93% da produção
nacional, seguido do Espírito Santo, São Paulo, Bahia, Rondônia e Paraná.
No período de janeiro a dezembro de 2014, o café representou 6,9% das exportações,
que chegaram a 36,73 milhões de sacas de 60 kg, gerando uma receita de US$ 6,66 bilhões e
ocupando a 5ª posição no ranking de exportações do agronegócio brasileiro. Os principais
destinos de café verde foram Alemanha, Estados Unidos, Itália, Bélgica e Japão; de café
solúvel: Estados Unidos, Rússia, Japão, Ucrânia e Canadá; e de café torrado e moído: Estados
Unidos, Argentina, Japão, Itália e França (CONAB, 2015).
6.2 PROCESSO SECO X PROCESSO ÚMIDO
O café pode ser processado por via seca ou por via úmida (EMBRAPA, 2006)
O preparo via úmida dá origem aos cafés despolpados ou desmucilados através do
processo de fermentação rápida ou desmucilagem. O despolpamento consiste na retirada da
casca dos frutos maduros ou cerejas por meio de um descascador mecânico e posterior
fermentação e lavagem dos grãos, eliminando-se a mucilagem. É uma prática comum entre os
produtores do México, da Colômbia e do Quênia, mas no Brasil o despolpamento é pouco
utilizado. É indicado para áreas onde o período pós-colheita ocorre sob condições de elevada
umidade relativa do ar. Neste caso, a retirada da mucilagem, através da operação de
despolpamento, reduz os riscos de desenvolvimento de microrganismos associados aos frutos,
responsáveis por fermentações indesejáveis. Além deste fato, o café despolpado e o cereja
descascado apresentam a vantagem de diminuir consideravelmente a área de terreiro e o tempo
necessário para secagem (um terço do tempo gasto em relação ao café integral). Nas fases
posteriores do preparo, reduz-se em até 60% o volume necessário de secadores, silos e tulhas
(EMBRAPA, 2006).
No processamento via seca os grãos de café, após a abanação, lavagem e separação das
frações (cereja, verde e boia) são encaminhados para a secagem em terreiro ou para secadores
artificiais. Esse tipo de processamento, também pode ser conduzido com prévio descascamento
dos cafés cereja e verde, porém mantendo-se a mucilagem que envolve o grão. Os grãos
descascados ("cereja" descascado) são então encaminhados para secagem (EMBRAPA, 2006).
6.3 USO DA ÁGUA
Segundo o Water Footprint Network (WFN), um total de 140m litros de água são
consumidos direta e indiretamente em toda cadeia produtiva do café para que se possa tomar
uma xícara dessa bebida.
Analisando-se o processo produtivo e desconsiderando-se a eventual necessidade de
irrigação, o maior consumo está relacionado com o sistema de lavagem e descascamento do
café.
De acordo com a Embrapa (2006), o processamento tradicional do café cereja
descascado consome cerca de 3 a 5 litros de água por litro de café processado, podendo chegar
a 12 litros com o uso de equipamentos antigos mais tradicionais.
Ou seja, para se obter uma única saca de 60 quilos de café beneficiado pronto para ser
torrado é necessário aproximadamente 480 litros de frutos, o que representa um consumo de
2.400 litros de água. Ampliando-se a conta para o volume total de café cereja descascado
produzido no Brasil de 7 milhões de saca, o consumo fica próximo de 17 bilhões de litros de
água.
7 CAFEICULTURA NO SUL DE MINAS
O café é um produto tradicional em Minas Gerais. Assim como o Brasil tem forte ligação
histórica e econômica com o produto, que é destinado principalmente ao mercado externo, o
Estado se faz líder brasileiro tanto em produção quanto em qualidade, recebendo destaque
mundial. Com novas tecnologias, o processo de produção do café vem sendo modificado,
aumentando a produtividade e melhorando a qualidade, além disso, novas cadeias vêm sendo
incorporadas para atender o mercado, como os cafés especiais (FAPEMIG, 2006).
Minas Gerais é o estado brasileiro que mais produz café no país, cerca de 50% do total.
São em média 700 municípios que plantam e colhem o grão em cerca de 1,1 milhão de hectares
e empregam mais de quatro milhões de pessoas. Juntos rendem para o estado cerca de R$ 4
bilhões, aproximadamente 25% do PIB do agronegócio mineiro. No 13º Prêmio de Qualidade,
realizado pela Illycaffè em 2004, os 10 primeiros colocados eram produtores mineiros
(FAPEMIG, 2006).
As principais regiões cafeeiras do Estado são o Sul e o Cerrado, sendo o Sul de Minas
Gerais o mais importante centro de produção de café do Brasil. Compreendendo cerca de 14
municípios, a região responde, em média, a 30% da produção brasileira de café (Figura 13).
Figura 13 – Produção de café em Minas Gerais (FAPEMIG, 2006)
Diversos fatores contribuem para que o Sul de Minas tenha maior competitividade na
cafeicultura: aptidão de clima e solo para maior produtividade e qualidade; infraestrutura das
propriedades; profissionalismo do cafeicultor; sistemas de produção variados; qualificação de
mão-de-obra; organização em cooperativas; geração de tecnologia; assistência técnica
competente; tradição e sustentabilidade. O relevo montanhoso é ideal para produção de café. A
altitude varia de 950 a 1.300 metros e a temperatura anual permanece em torno de 22 a 24ºC
(FAPEMIG, 2006).
O Sul de Minas está estrategicamente localizado, equidistante das três maiores capitais
do país e dos portos de Santos e Rio de Janeiro. Caracteriza-se pela produção de cafés de
excelente qualidade, devido às suas condições de clima e solo favoráveis ao desenvolvimento
da cultura. O café é produzido em solos sob vegetação de cerrado e em solos mais férteis, nas
regiões montanhosas. São mais de 28 mil propriedades que cultivam cerca de 1,2 bilhão de
covas de café, numa área de aproximadamente 545 mil hectares. Predominam as pequenas e
médias propriedades cafeeiras. Cerca de 95% das fazendas de café do Sul de Minas possuem
menos de 50 hectares. Na região sul mineira está a maior concentração de cooperativas de
cafeicultores do Brasil, distribuídas nas várias microrregiões produtoras, prestando serviços de
assistência técnica, análises de solo e foliar, fomento, benefício, armazenamento e
comercialização de café (SEAG, 2015).
Algumas das principais cidades produtoras de café da região do Sul de Minas são Três
Pontas, Campos Gerais, Nepomuceno, Boa Esperança, Machado, São Gonçalo do Sapucaí,
Guaxupé, São Sebastião do Paraíso, São Tomás de Aquino, Itamogi, Alpinópolis, Santa Rita
do Sapucaí, Botelhos, Poços de Caldas, Varginha, Machado e Alfenas. A cafeicultura foi
inserida na região na década de 1850 e muitas cidades surgiram a partir das grandes fazendas.
A região produz café Arábica. As variedades mais cultivadas são o Catuaí e o Mundo Novo.
Porém, novas variedades produtivas e resistentes já estão sendo difundidas entre os produtores.
A região é conhecida por ter bebidas finas. Trata-se de um café doce e suave, com aroma
acentuado e acidez cítrica; se apresenta mediamente encorpado e adstringente, o que
proporciona um aftertaste prolongado após sua degustação (SEAG, 2015).
A média do Sul de Minas é de quatro mil cafeeiros por hectare, o que representa o
sistema de cultivo semi-adensado. Apesar de ter um terreno com muito declive, os cafeicultores
fazem muito uso da mecanização em suas lavouras. A região também se destaca como pioneira
no cultivo de café orgânico (SEAG, 2015).
7.1 CULTURA DO CAFÉ NA COOPERRITA
Santa Rita do Sapucaí é uma cidade empreendedora por natureza, que com o passar do
tempo ficou conhecida como “O Vale da Eletrônica”. Entre vales e montes, um grupo de
produtores rurais, no final da década de 50, resolveu ousar e crescer. Decidiram unir forças para
que as atividades rurais pudessem ser mais desenvolvidas e lucrativas (COOPERRITA, 2015).
Com isso em mente, em 29 de dezembro de 1957, nasceu a Cooperativa Regional
Agropecuária de Santa Rita do Sapucaí, CooperRita, com 63 cooperados. Após a
institucionalização da Cooperativa, ainda foi tomado dois anos de processos burocráticos e
estruturais para o início das atividades (CooperRita , 2015).
No ano de 1959, a CooperRita aliou-se à Cooperativa Central de Laticínios do Estados
de São Paulo e no dia 1º de agosto do mesmo ano, enviou sua primeira produção de leite, que
foi de 10.094 litros, para a comercialização no estado de São Paulo. Tornando possível o sonho
de 63 empreendedores ser realidade (COOPERRITA, 2015).
Para conhecer melhor o processo de produção de café na região e o uso da água nessa
produção, foram realizadas entrevistas com o profissional responsável pela área de café da
cooperativa, Cláudio Lucio Domingues, e com o engenheiro agrônomo Sebastião da Luz.
Também foram realizadas visitas guiadas a algumas fazendas produtoras.
As informações a seguir foram coletadas a partir desses levantamentos:
A CooperRita possui cerca de mil cooperados afiliados a ela, incluindo produtores
de leite, café e laticínios. Dos mil associados, aproximadamente 600 são produtores
de café, que representam cerca de 60% dos cooperados e estão presentes no próprio
município da cooperativa.
As fazendas produtoras estão localizadas nas regiões montanhosas da cidade, pois
com o clima favorável e terras férteis, se torna propício para uma agricultura de
qualidade. Nenhuma delas utiliza sistema de irrigação, devido ao bom índice de
umidade do solo e também porque o terreno montanhoso dificulta a implantação de
um sistema de irrigação.
Mesmo com a seca no país, a região foi pouco afetada devido à proteção natural das
montanhas: as encostas não batem muito sol, o ar é mais fresco e a região é uma
das que mais chove no Brasil.
A maior parte das fazendas utiliza produção manual não mecanizada, devido o
projeto da lavoura de café ser feito em curva de nível. Para mudar para mecanização
fica muito caro e é provável que se perca muitas terras produtivas das lavouras.
No ano de 2014, muitos fazendeiros perderam suas lavouras pelo processo de
adubação. O período de seca fez que a adubação caísse de três para duas vezes ao
ano, e que atrasou no processo de adubação perdeu parte de sua plantação.
A alta do dólar nesse período impactou os agricultores, pois aumentou o preço dos
adubos e da mão de obra, fazendo cair a produtividade e a qualidade do café
oferecido.
7.1.1 Processo Produtivo de Café nas Lavouras Associadas à CooperRita
O método adotado para o processamento do café é a via seca: o café é colhido, levado
para um lavador, ou separador hidráulico, onde será separado o café leve (boia) do pesado
(cereja e verde), que são depois levados separadamente para secagem. A secagem é realizada,
na maioria dos casos, em terreiro, sendo que alguns produtores utilizam secadores mecânicos.
Alguns produtores realizam o descascamento prévio dos grãos verde e cereja antes do
processo de secagem, mas a maioria não realiza a desmucilagem, prática comum na Colômbia,
México e Quênia, mantendo a mucilagem que envolve os grãos. Apenas um dos produtores
visitados apresenta uma maior mecanização, utilizando um desmucilador enzimático na sua
produção.
As Figuras 14 a 18 a seguir apresentam as fotografias das etapas da produção de café
adotadas pelos produtores da região de Santa Rita do Sapucaí.
Figura 14 – Café lavado e pronto para ser despolpado
Figura 15 – Desmucilador enzimático de café
Figura 16 – Café espalhado no terreiro para secagem
Figura 17 – Recipientes onde são despejados os dejetos líquidos derivados do
despolpamento do café.
Figura 18 – Café já despolpado e seco
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo aqui apresentado apontou para a importância da produção agrícola,
particularmente de café, para a economia brasileira e mineira.
Foram pesquisados os processos produtivos relacionados com a produção de café e
identificadas as práticas utilizadas pelos produtores do município de Santa Rita do Sapucaí,
Minas Gerais, região líder na produção nacional do café.
Predomina no Brasil a produção seca, sem utilização de desmuciladores, técnica adotada
em outros países produtores como México, Colômbia e Quênia.
Verificou-se ainda a pouca necessidade de irrigação, visto que a maior parte das áreas
de produção estão localizadas em regiões com solo fértil e alto índice pluviométrico.
No caso particular da região pesquisada, existe o predomínio de pequenos e médios
produtores, o que leva à adoção de técnicas manuais não mecanizadas. São poucos os
produtores, apenas os de grande porte, que utilizam secadores mecânicos e descascadores.
Considerando-se os dados de consumo de água nas etapas do processo e as informações
coletadas com os produtores locais, pode-se perceber que existe um impacto tanto no consumo
da água quanto no descarte da água residuária, a qual necessita ser previamente tratada para
atender às exigências dos órgãos ambientais.
Assim, fica claro que é necessário investir na redução do consumo, o que levará não
apenas a um menor impacto ambiental, mas também resultará na redução dos custos
operacionais da produção.
A alternativa mais recomendada nesse caso é a reutilização da água residuária no
processamento dos frutos do café, utilizando-se de bombeamento e decantação prévia para
remoção dos resíduos sólidos existentes.
A Emprapa Café, em parceria com a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas
Gerais-EPAMIG e o Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural-
INCAPER, desenvolveram uma solução simples e acessível aos pequenos produtores – o
SLAR, Sistema de Limpeza da Água Residuária. É um sistema simples baseado em caixas
d’água, peneiras e tubos de PVC, que permite o reuso por várias vezes da água empregada na
unidade de processamento do café para fazer a lavagem e descascamento dos grãos, conforme
representado na Figura 19 a seguir (SOARES et al., 2012)
O SLAR já foi testado na Fazenda Experimental do Incaper, no município de Venda
Nova do Imigrante-ES, onde se conseguiu reduzir o consumo para pouco mais de meio litro de
água por litro de fruto processado (SOARES et al., 2012).
.
Figura 19 – Sistema SLAR (SOARES et al., 2012)
Como oportunidades de novos estudos sobre o tema, recomenda-se estender as análises
para outras culturas importantes na produção agrícola brasileira, como soja, açúcar, laranja e
milho.
REFERÊNCIAS
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