dpc0214 - direito processual civil i - bonício - (182) - 1o bim

18

Click here to load reader

Upload: rodrigo-marambaia

Post on 27-Oct-2015

12 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

1

Direito Processual Civil I 4º Semestre – Prof. Marcelo José Magalhães Bonício

Aula 1 – 04/08/2010 Competência = Onde a ação deve ser proposta? Estuda-se a competência para que o autor saiba onde ele proporá a ação. Trata-se, portanto, de um problema do autor. Vale dizer que, no campo prático, existem poucos problemas de competência, visto que os advogados e promotores procuram sempre o caminho mais seguro no momento de proposição da ação. Essa atitude leva a uma sedimentação rápida de qual o caminho a ser seguido. Competência de jurisdição: com essa expressão se indaga qual a justiça competente para processar determinada causa. Como se identifica isso? Pela matéria. A causa é civil? Trabalhista? Penal? A expressão “competência de jurisdição” é, na verdade, equívoca porque a jurisdição representa o poder estatal e este é uno. Assim, também é una a jurisdição. Embora, porém, a jurisdição seja una, seu exercício sofre divisões. Uma das divisões do exercício da jurisdição é a relacionada à matéria. Nesse ponto, para saber a qual juízo recorrer é necessário verificar a causa de pedir, especialmente a próxima. Obs.: Relembrando: elementos da ação: partes, causa de pedir, pedido. A causa de pedir é o motivo que pelo qual se pede. Ela se subdivide em:

a) Causa de pedir remota: se refere aos fatos. b) Causa de pedir próxima: se refere aos fundamentos jurídicos.

Exemplo: em uma ação de divórcio, poderíamos ter como causa de pedir remota o fato de o autor ter sido traído por sua esposa e como causa de pedir próxima a lei do divórcio, pela qual a traição é motivo de divórcio. Da conseqüência jurídica extrai-se o pedido, que pode ser o divórcio, a indenização etc.

Seguindo essa linha de raciocínio, deduzimos, por exemplo, que se a causa de pedir próxima trata da CLT e suas implicações, é na justiça trabalhista que a ação deve ser proposta.

É importante notar que não é no pedido que se descobre a competência da jurisdição, nem propriamente nos fatos, é no fundamento jurídico (é esse que traz a matéria). Isso fica nítido se pensarmos no exemplo do pedido de danos morais, afinal esses estão presentes na área civil, na trabalhista e também na penal, de modo que o referido pedido não pode servir de critério para determinar a matéria. Outro exemplo é o do trabalhador que foi humilhado pelo patrão. Vai pra onde o caso? Apesar de os danos morais estarem no Código Civil, a jurisprudência (STF) tem compreendido que tal caso deve ser analisado na justiça do trabalho por causa da relação jurídica base, no sentido de que o direito ao trabalho compreenderia o de não ser ofendido no trabalho. Assim, não há um esquema fixo e perfeito para compreender a competência. Não é matemático.

Algumas observações: 1- Costuma-se dizer que a justiça do trabalho é especializada enquanto a civil é justiça comum, ou

residual. Isso significa que, não sendo a ação trabalhista, militar, internacional ou penal iremos demandar na justiça civil.

2- Justiça comum é a que compreende os juízos cíveis estaduais ou federais. 3- “Foro” é sinônimo de comarca. Na Justiça Federal, o foro fica regionalizado, de modo que o

exercício da jurisdição não é dividido em comarcas, mas sim em regiões (1º região, 2º, 3º, 4º e 5º) “Fórum” é o prédio físico no qual o juiz trabalha. Dentro do Fórum, encontramos o cartório/ofício (que seria o lugar onde ficam os autos) e a vara (que seria o gabinete do juiz). Utilizamos mais o termo foro para a justiça estadual.

Page 2: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

2

4- Fala-se de competência do juízo, não do juiz, que é pessoa física. Juízo é a expressão que engloba a vara e o cartório.

5- Quando o problema é com o juiz, no sentido de ele ser parcial por alguma razão (ex: ser irmão do réu), fala-se em “argüição de suspensão” ou em “impedimento” e não em um problema de competência.

Perpetuatio Jurisdictionis = perpetuação da jurisdição

CPC, Art. 87. Determina-se a competência no momento em que a ação é proposta. São irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente, salvo quando suprimirem o órgão judiciário ou alterarem a competência em razão da matéria ou da hierarquia. Assim, toda vez que o autor “acerta” a competência, a alteração posterior da situação não causa

mudança dos autos de lugar. Essa seria a regra geral. Exemplo: A lei diz que o marido que quer propor a ação de separação, deve o fazer no juízo

competente de acordo com a residência da mulher. Se ela mudar, depois da propositura da ação, de casa, isso não alterará a competência do juízo.

Atenção às exceções: a) Quando o órgão judiciário for suprimido, exemplos: Tribunal de Alçada após a Emenda

Constitucional 49/2002 à no caso dele foram criadas seções em outros tribunais para receberem os autos; englobamento de uma comarca por outra;

b) Se forem criadas novas leis que alterem a competência em relação à matéria, exemplo: se fosse criada uma nova lei dizendo que um caso de dano moral decorrente da relação de trabalho deve ser julgado pela justiça civil.

Obs.: Nesse último caso, se falta julgar a ação, o juiz deve remeter o processo para outro juízo ou justiça, “com as homenagens de estilo”. Mas e se, por exemplo, o processo foi julgado, só faltando a execução quando a lei foi alterada, muda-se de lugar os autos? A doutrina diz que não, mas a jurisprudência entende que sim. Nota-se que se a competência muda, o processo não começa do zero, ela continua da onde parou.

Obs. 2: Se um despacho, por exemplo, deu algo pra uma parte (justiça gratuita, por exemplo) e, então, muda a competência em razão de lei. O próximo juiz pode mudar essa decisão? Constitui um direito adquirido? Sim. Obs. 3: “A Competência é a medida da jurisdição.” Essa é uma frase dos antigos. Critérios para a definição da competência (obra de Chiovenda)

1- Objetivo: natureza ou valor da causa. Leva-se em conta quais os fundamentos jurídicos da demanda (natureza/ causa de pedir próxima) ou o valor da causa.

Obs. Sobre o valor da causa: Com o valor de até 40 salários mínimos pode-se levar um caso pro JEC, sendo que em causas de até 20 salários mínimos dispensa-se o uso de advogados (lei 9099/95, é o antigo tribunal de pequenas causas). Atenção: essa causa é de competência concorrente, ou seja: cabe ao autor escolher se quer entrar com a ação no JEC ou em uma Vara Civil normal. Notar: Causas de família são excluídas do JEC.

Obs. 2 sobre o valor da causa: Em São Paulo, existem os fóruns regionais (Lapa, Santana, Santo Amaro...), que têm como valo máximo até 500 salários mínimos. Ultrapassado esse valor, é obrigatório ir ao fórum central (acima de 500 salários mínimos). Isso está definido na lei de organização judiciária do Estado de São Paulo, que define o que é comarca e outras coisas. É uma lei estadual.

2- Funcional: juízos de primeiro ou segundo grau. Se o juiz já trabalhou naquele processo, em outras oportunidades, vai pra ele também. Exemplo: se uma câmara julgou o recurso de um processo, julgará os outros. Exemplo 2: uma ação cautelar será distribuída para o mesmo juiz que julga a ação principal.

Page 3: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

3

3- Territorial: temos várias cidades, dentro de algumas há outras divisões territoriais. Nesse critério, valerá as regras do CPC. Em geral: a ação deve ser proposta no o domicílio do réu.

Aula 2- 05/08/2010 Outra classificação de competência

1- Ratione loci: lugar. Critério geralmente voltado para as causas que se processam no primeiro grau de juridição. É a que causa o maio número de problemas práticos.

2- Ratione materiae: matéria. A matéria (penal, civil, trabalhista etc.) determina a jurisdição. Vale lembrar que a Justiça Civil é residual, julgando tudo aquilo que não é matéria especial.

3- Ratione personae: pessoa. Exemplo 1: Se algum dos entes federativos (Municípios, Estados ou União) é parte como autor ou réu, o juízo competente é a vara da Fazenda Pública.1 Obs.: Lei 12.153/09 – Juizados Especiais da Fazenda Pública. Exemplo 2: Mandado de segurança - é uma ação de conhecimento com rito especializado. Se for proposto contra o governador do Estado, o processo tramitará no TJ, sem o 1º grau. Se for contra o Presidente, é no STF. Obs.: A expressão “vara” é própria do 1º grau de jurisdição. O grau superior utiliza o termo “turma”.

A Ratione Loci é de interesse exclusivo das partes, é uma competência relativa; as partes podem abrir mão. Assim, essa competência pode ser alterada pelas partes por escrito (em um contrato, por exemplo) e pode ser, até mesmo, em um foro que não é domicílio de nenhuma das partes.2 Vale dizer que, se o réu não contesta essa competência, pedindo a transferência do processo para seu domicílio, ele correrá no lugar proposto pelo autor. Ou seja: o silêncio do réu importa em anuência tácita

Tal flexibilidade não existe em relação à competência em razão da matéria ou da pessoa, que é absoluta. Essa competência é inderrogável por vontade das partes, visto que trata de interesse de ordem pública. O juiz a altera de ofício.

Competência Originária Designa a competência inicial dos tribunais estaduais, federais ou superiores em Brasília. Normalmente, a ação se inicia no 1º grau de jurisdição e, com a apelação, o processo pode ser analisado no 2º e 3º grau. No entanto, há exceções em que a ação é proposta diretamente/originariamente nos tribunais superiores. Nesses casos, eles têm a competência originária. Ex.: Mandando de segurança contra o governador ou presidente. Tarefinha: ler os artigos 102 a 105 da CF e pensar o que é competência originária e o que é recursal.

Aula 3 - 12/08/2010 à Notar: Não houve aula de processo do dia 11/08/10 devido ao Dia do Advogado. Competência da Justiça Federal São de competência da Justiça Federal os processos nos quais os entes federais atuem como parte ou como terceiros interessados. O foro federal abrange vários municípios. Caso não haja Justiça Federal no Município em que determinada pessoa deseja propor sua ação, o juiz competente é o do Município vizinho. Competência da Justiça Estadual

1 Ano passado, a lei 12153/09, criou o JE da Fazenda Pública, então, os autos podem ser levados para outra vara. 2 O artigo 112, § único, do CDC trata da cláusula de eleição de foro no contrato de adesão. Quando o local eleito é oneroso para o autor consumidor, este poderá propor a ação na sua comarca e, se não o fizer, o juiz poderá alterar isso de ofício. Trata-se da única hipótese em que o juiz pode reconhecer de ofício a competência relativa.

Page 4: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

4

Quando não ente federativo, isto é. Administração Pública como parte, a competência é da Justiça Estadual. Competência Territorial

CPC, Art. 94: A ação fundada em direito pessoal e a ação fundada em direito real sobre bens móveis serão propostas, em regra, no foro do domicílio do réu. § 1º - Tendo mais de um domicílio, o réu será demandado no foro de qualquer deles. § 2º - Sendo incerto ou desconhecido o domicílio do réu, ele será demandado onde for encontrado ou no foro do domicílio do autor. § 3º - Quando o réu não tiver domicílio nem residência no Brasil, a ação será proposta no foro do domicílio do autor. Se este também residir fora do Brasil, a ação será proposta em qualquer foro. § 4º - Havendo dois ou mais réus, com diferentes domicílios, serão demandados no foro de qualquer deles, à escolha do autor. Regra de ouro: a ação deve ser proposta no foro de domicílio do réu, porque é lá que o réu pode

melhor se defender (é mais fácil de ele se deslocar até o Fórum quando necessário; de ele encontrar advogado próximo; de ele produzir provas etc.). Contudo, para compreender bem essa regra é preciso atentar para seu detalhamento: é preciso que a ação seja fundada em Direito Pessoal (= envolve obrigação de pagar quantias; é aquele direito que não trata de propriedade. Ex: direito à indenização) ou real sobre bens móveis (= direitos relacionas à propriedade ou suas variações. Ex: propriedade de um carro).

No caso de bens imóveis a disposição do Código de Processo é diferente, trazendo que a competência é a do foro onde o imóvel está situado.

CPC, Art. 95 - Nas ações fundadas em direito real sobre imóveis é competente o foro da situação da coisa. Pode o autor, entretanto, optar pelo foro do domicílio ou de eleição, não recaindo o litígio sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão, posse, divisão e demarcação de terras e nunciação de obra nova. Importante: Em aulas passadas, nós estudamos que a competência em razão do lugar é relativa, isto

é, pode ser modificada por vontade das partes. Ocorre, porém, que a competência em razão do lugar no que toca a bens imóveis é absoluta, constituindo, portanto, uma exceção à regra geral da relatividade da competência territorial.

Obs.: Competência para a propositura de ações relacionadas à herança de alguém: CPC, Art. 96 - O foro do domicílio do autor da herança, no Brasil, é o competente para o inventário, a partilha, a arrecadação, o cumprimento de disposições de última vontade e todas as ações em que o espólio for réu, ainda que o óbito tenha ocorrido no estrangeiro. Parágrafo único - É, porém, competente o foro: I - da situação dos bens, se o autor da herança não possuía domicílio certo; II - do lugar em que ocorreu o óbito se o autor da herança não tinha domicílio certo e possuía bens em lugares diferentes. É importante ressaltar, porém, que existem exceções à regra de ouro. Elas estão dispostas no art.

100 do CPC e não são inderrogáveis, ou seja, as partes podem abrir mão também dessas exceções. CPC, Art. 100 - É competente o foro: I - da residência da mulher, para a ação de separação dos cônjuges e a conversão desta em divórcio, e para a anulação de casamento; à A razão para a existência dessa exceção é o fato de o Código ter sido criado na década de 70 e a partir da mentalidade das pessoas da década de 60, tempo em que a mulher tinha sua atuação na sociedade bastante limitada. Embora atualmente a situação real seja de igualdade dos gêneros, a jurisprudência continua a aplicar a lei. II - do domicílio ou da residência do alimentando, para a ação em que se pedem alimentos; à Antes de tudo, é preciso ressaltar que “alimentos” é uma idéia genérica que envolve: alimentação, transporte, educação, saúde, lazer, enfim, tudo aquilo que é necessário para que uma pessoa tenha uma subsistência digna. Tendo dito isso, percebe-se o porquê do benefício concedido ao alimentado: sendo ele uma pessoa em situação de carência e, portanto, de hiposuficiência, faz sentido que ele goze de facilidades no momento de propositura da ação. III - do domicílio do devedor, para a ação de anulação de títulos extraviados ou destruídos; IV - do lugar: a) onde está a sede, para a ação em que for ré a pessoa jurídica; b) onde se acha a agência ou sucursal, quanto às obrigações que ela contraiu;

Page 5: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

5

c) onde exerce a sua atividade principal, para a ação em que for ré a sociedade, que carece de personalidade jurídica; d) onde a obrigação deve ser satisfeita, para a ação em que se lhe exigir o cumprimento; Obs.: O disposto demonstra que é preciso levar em consideração se a ação proposta faz referência a um ato abstrato da empresa ré (ex: cota de juros de um banco), caso em que é preciso propor a ação contra a sede (seguindo a alínea “a”); ou se diz respeito a um ato específico da agência em que o autor da ação foi atendido (ex: ato praticado pelo gerente da agência), caso em que se deve propor a ação no foro onde a agência se localiza (seguindo a alínea “b”). V - do lugar do ato ou fato: a) para a ação de reparação do dano; b) para a ação em que for réu o administrador ou gestor de negócios alheios. Parágrafo único - Nas ações de reparação do dano sofrido em razão de delito ou acidente de veículos, será competente o foro do domicílio do autor ou do local do fato. à Note-se: Em ações de reparação de danos relacionadas a acidente de transito, o autor pode optar pelo foro do seu domicílio, o do local do acidente ou o do domicílio do réu. Assim, há foros concorrentes, podendo o autor optar por aquilo que lhe for mais conveniente. Obs.: Questão que se impõe: e se, após um acidente de carro, os dois condutores entram, cada um em sua respectiva comarca, com uma ação? Existiriam duas ações com as mesmas pessoas e praticamente com a mesma causa de pedir. Como resolver? Por conexão (tema da aula seguinte): visto que é preciso a harmonização das ações para que não haja risco de decisões divergentes. Nesse caso, as ações seriam reunidas naquela comarca em que o réu foi citado antes.

Aula 4 – 18/08/2010 Modificação de competência

CPC, Art. 102. A competência, em razão do valor e do território, poderá modificar-se pela conexão ou continência, observado o disposto nos artigos seguintes.

Obs.: A contrario sensu, o dispositivo supra significa que a competência não pode ser modificada em razão da pessoa e da matéria. Em síntese, portanto, temos que a competência em razão do lugar pode ser modificada:

a) Em razão da vontade das partes; b) Por continência ou conexão (a doutrina prefere falar em “conexividade”) de causas.

CPC, Art. 103. Reputam-se conexas duas ou mais ações, quando lhes for comum o objeto (é o pedido) ou a causa de pedir. Relembrando o exemplo da aula passada: Ocorre um acidente. Segismundo entra com uma ação contra Clotaldo, com o fundamento do art. 100 do Código de Trânsito, se dizendo vítima e pedindo a condenação de Clotaldo em São Paulo, onde mora. Clotaldo faz a mesma coisa, em Santos, se dizendo vítima e pedindo a condenação de Segismundo. As ações são diferentes: o pedido e os pólos são opostos, mas a causa de pedir é a mesma, visto que vem do mesmo acidente. Assim, no primeiro processo em que ocorrer a citação do réu, teremos a prevenção (vide infra). Nesse caso, Clotaldo foi citado primeiro, então o processo correrá em São Paulo e o proposto em Santos será remetido ao juízo de São Paulo, que se tornou competente para as causas conexas.

Prevenção É a situação processual na qual um juiz, que em princípio não seria competente para determinadas

ações, ficou sendo, pela continência ou pela conexão/conexividade (Ex.: um juiz de São Paulo, não teria competência para julgar uma ação de Santos, mas se torna). O juízo onde há a citação do réu ocorreu primeiro fica prevento. Ele será o competente para julgar essa ação e as demais conexas. Obs.: Se tratar de juízos de uma mesma comarca, o critério de prevenção é outro, é fixado em favor do juízo que primeiro ordenou a citação. Não importa quando a citação foi feita.

Por que as ações são reunidas por conexão? a) Para evitar decisões divergentes sobre o mesmo fato, é em prol da harmonia do julgamento.

Page 6: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

6

b) Outra razão é pela economia processual e praticidade na tramitação de processos, porque a fase instrutória e o julgamento serão unificados, ou seja, a prova realizada no processo vale para todos os demais processos conexos.

Obs.: Uma questão: se um acidente de carro faz com que João seja processado criminalmente e João processa a outra parte por responsabilidade civil. Acontece a prevenção? Não! Os processos correm separadamente! Não se muda a competência por matéria. Vale dizer, porém, que há a possibilidade de que o juiz do processo civil espere ocorrer o julgamento do processo criminal, com a suspensão daquele.

CPC, Art. 265. Suspende-se o processo: IV - quando a sentença de mérito: a) depender do julgamento de outra causa, ou da declaração da existência ou inexistência da relação jurídica, que constitua o objeto principal de outro processo pendente; b) não puder ser proferida senão depois de verificado determinado fato, ou de produzida certa prova, requisitada a outro juízo; c) tiver por pressuposto o julgamento de questão de estado, requerido como declaração incidente; § único: Nos casos enumerados nas letras a, b e c do no IV, o período de suspensão nunca poderá exceder 1 (um) ano. Findo este prazo, o juiz mandará prosseguir no processo. Obs. final: Não se justifica a reunião dos processos por conexidade, quando em um dos processos a

sentença já foi proferida. Eles não se juntam sequer em grau em de recurso. Não faria sentido essa reunião pela economia processual. Continência

CPC, Art. 104. Dá-se a continência entre duas ou mais ações sempre que há identidade quanto às partes e à causa de pedir, mas o objeto de uma, por ser mais amplo, abrange o das outras. Embora de raríssima incidência na prática, a modificação da competência também pode ocorrer na

hipótese em que o pedido de uma determinada ação for mais amplo e abranger o pedido formulado em outras ações.

Exemplo: Fazendeiros entram contra uma empresa, por danos à saúde, por um rio poluído. A empresa entra contra esses fazendeiros, dizendo que eles que poluíram o rio e exigindo indenização. Seria algo do tipo, mas o professor nunca viu isso na prática. Esse exemplo não seria ideal.

Outra questão: Mesmo fato: poluição. Mesmo réu: empresa. Autores diferentes: 150 pessoas diferentes entraram na Justiça. E aí? Junta? Não. De acordo com a lei, continência é para quando as partes são as mesmas.

Declaração de incompetência

a) Incompetência relativa CPC, Art. 112. Argúi-se, por meio de exceção, a incompetência relativa. Parágrafo único. A nulidade da cláusula de eleição de foro, em contrato de adesão, pode ser declarada de ofício pelo juiz, que declinará de competência para o juízo de domicílio do réu. (Incluído pela Lei nº 11.280, de 2006)

Tratando-se de incompetência relativa (em razão do lugar), compete ao réu apresentar, no prazo da contestação3 a exceção de incompetência (exceção para o Código de Processo Civil significa objeção, meio de defesa), em peça ou petição separada, sob pena de preclusão, isto é, da perda da faculdade de se opor ao andamento do processo naquele juízo. Notar: a contestação do foro é um ônus do réu – se ele não realizar pode prejudicar-se.

Exemplo: Num contrato foi eleito o foro de Ribeirão Preto, mas o réu mora em São Paulo. Aparece em São Paulo um oficial com o mandado de citação. Ou seja: o autor ignorou a cláusula de eleição de foro e propôs em São Paulo. Caberia ao réu opor-se ao fato de ter sido citado em São Paulo.

3 Prazo para contestar no procedimento ordinário é 15 dias. Já no procedimento sumário, a contestação é apresentada na audiência.

Page 7: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

7

Obs.: A não-oposição do réu à competência territorial ignorada pelo autor gera uma preclusão

lógica. b) Incompetência absoluta Quando se tratar de competência absoluta (pessoa e matéria) compete ao réu apresentar uma

preliminar de contestação e, se isso não for feito na contestação nada impede que o réu faça ao longo do processo, antes do trânsito em julgado, porque não há preclusão para as questões relacionadas à incompetência absoluta (o juiz pode conhecer de ofício, pois se trata de matéria de ordem pública).

CPC, Art. 301. Compete-lhe, porém, antes de discutir o mérito, alegar: II - incompetência absoluta;

Obs.: Os atos decisórios serão desconsiderados, mas o material probatório e documental será mantido e aproveitado.

Conflito de competência

Quando dois ou mais juízes ligados a um mesmo tribunal se declaram incompetentes para um determinado processo, ocorre o chamado conflito negativo de competência e, na via inversa, a denominação é conflito positivo de competência. Em ambas as situações, compete ao Tribunal de Justiça decidir de quem é a competência em caso de Justiça Estadual, e ao Tribunal Regional Federal em caso de Justiça Federal. Se o conflito for entre Justiças diferentes (ex.: federal ou estadual) ou entre Estados diferentes é o STJ que julgará o conflito de competências.4

Aula 5 – 19/08/2010 Condições da Ação Ação e seu conceito Ação é algo que pode ser estudado sob duas óticas diferentes:

a) Constitucional: significa que todos têm o poder de invocar a tutela jurisdicional, que é monopólio do Estado, isto é, movimentar a máquina do Judiciário. Representa o acesso à justiça. Nessa perspectiva, o direito de ação é incondicionado, pois a existência de um Estado de Direito pressupõe o livre acesso à Justiça. Obs.: países com pouca tradição democrática costumam a criar óbices para o acesso à Justiça.

b) Infraconstitucional: nessa perspectiva, que é mais realista, a ação é o direito a um provimento (= decisão) sobre o mérito de um determinado litígio ou demanda. Há condicionamentos ao exercício do direito de ação, pois o Poder Judiciário pode se negar a julgar quando, nos termos da lei, as

4 Você acha que a Justiça Estadual é lerda? Eu vi um processo que correu 15 anos na Justiça Federal, pulando de um juízo pro outro e semana passada, o juiz competente deu um enorme despacho: “Cite-se”.

Lembrando: Preclusão É a perda da faculdade de realizar o ato, visto que o réu tem o ônus de realizar determinado ato processual. Ela pode ser:

§ Temporal: decorreu o prazo para a prática daquele ato. § Consumativa: uma vez praticado o ato processual, não cabe praticá-lo novamente. § Lógica: ocorre na hipótese de a pessoa ter a faculdade de praticar um ato, mas praticar outro

logicamente incompatível com aquele. Ex: o juiz indaga ao advogado se ele quer prova pericial, mas este apresenta uma petição pedindo para ouvir testemunhas. Assim, o advogado perde a possibilidade de fazer perícia.

§ Mista: alteração da fase processual aliada às outras preclusões. Ex: eu, advogado, tenho um momento para pedir a oitiva de testemunhas e não o utilizo, ou seja: acontece uma preclusão temporal. Porém, como ainda estamos na fase instrutória, eu ainda posso conseguir convencer o juiz a me deixar ouvir as testemunhas – sob o argumento, por exemplo, de que a outra parte ainda não teria ouvido as dela. Ocorre que se acabar a fase instrutória, o juiz não mais poderá me permitir ouvir as testemunhas.

Page 8: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

8

exigências não forem cumpridas. É correto dizer que o Poder Judiciário possui filtros para extinguir demandas que não preenchem os requisitos legais. Um desses filtros chama-se “condições da ação”. É a visão infraconstitucional que nos interessa. O sistema cria alguns óbices para o direito de ação infraconstitucional, visto que o direito de ação

envolve a prolação de uma decisão/sentença de mérito (= tutela jurisdicional decidindo o litígio), como diz o próprio código:

CPC, Art. 269 - Haverá resolução de mérito: (Alterado pela L-011.232-2005) I - quando o juiz acolher ou rejeitar o pedido do autor; Assim, na prática, é preciso estabelecer filtros para obter um sistema racional, repreendendo

demandas manifestamente improcedentes as quais só serviriam para gastar dinheiro, causar desgaste dos magistrados etc. Ex: Caso de o professor Marcelo entrar com uma ação pedindo para ser o Presidente da República. Ora, se não houvesse os filtros, teríamos nessa situação a citação da União; uma possível apelação ao TJ e depois outra para o STJ e assim por diante. Enfim, ficaríamos 15 anos discutindo algo que não tem sequer os requisitos legais para ser considerado um pedido procedente à nosso professor sequer candidatou-se para o cargo.

Condições da Ação Segundo uma teoria criada no Direito Processual Italiano, por Enrico Tullio Liebman, as condições da ação são três:

a) Legitimidade das partes; b) Interesse de agir; c) Possibilidade jurídica do pedido; à Na doutrina atual, inclusive no projeto do novo CPC, a

possibilidade jurídica deixa de ser condição da ação. Analisando cada uma dessas condições a fundo: a) Legitimidade das partes: Para saber quem é parte, é preciso analisar a relação jurídica de direito material que está em

discussão no processo. Ex: em uma ação de anulação de casamento, é preciso que sejam os cônjuges que estejam em juízo para defender seus próprios interesses. Outro exemplo: em um pedido envolvendo determinado contrato somente as partes contratantes podem questioná-lo.

Há, porém, exceções. Nessas, não é exatamente a pessoa que está na relação jurídica base quem defende seus interesses. São elas:

§ Ações envolvendo um absolutamente incapaz. Aqui, ocorre a representação. Ex: criança de cinco anos pedindo alimentos – o menor é quem está em juízo (é o nome dele que aparece como requerente), mas é a mãe quem representa seus interesses. Ela é sua tutora.

§ Ações com um relativamente incapaz. Há, nesse caso, a assistência. § Casos de substituição processual autorizados por lei. Ex: sindicatos atuando para beneficiar

os sindicalizados. Outro ex: OAB atuando no interesse dos advogados. Obs.: Trata-se de uma situação diferente da representação, posto que aqui quem está em juízo é a própria OAB e não os advogados.

CPC, Art. 6º - Ninguém poderá pleitear, em nome próprio, direito alheio, salvo quando autorizado por lei. CPC, Art. 41 - Só é permitida, no curso do processo, a substituição voluntária das partes nos casos expressos em lei.

Se não houver legitimidade, deve haver a extinção do processo sem julgamento do mérito (=pedido). Isso significa que o pedido do processo não chega nem a ser analisado.

CPC, Art. 267 - Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: (Alterado pela L-011.232-2005): VI - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual;

Obs.: Quando se julga o mérito, entrega-se uma prestação jurisdicional definitiva alguém. Quando se utiliza os filtros, por outro lado, tem-se uma decisão terminativa, mas não definitiva.

Page 9: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

9

A legitimidade para agir é matéria de ordem pública, cujo conhecimento, portanto, pode ser feito de ofício pelo juiz em qualquer tempo ou grau de jurisdição.

CPC, Art. 267, § 3º - O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos nºs. IV, V e VI; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que lhe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento.

Notar: essa extinção pode se dar inclusive no Tribunal. Mas tal hipótese é problemática: a decisão é surpreendente para as partes, negando o direito de ação a quem já está há muito tempo na Justiça. Isso culmina, por fim, em uma quebra de confiança na Justiça, em um quebra da segurança desta.

O Novo Código de Processo Civil pretende melhorar o referido problema por meio da exigência de que exista contraditório também para as decisões relacionadas à ordem pública, como, por exemplo, a legitimidade das partes. Desse modo, as partes terão de ser ouvidas também para que se profira esse tipo de decisão.

Aula 6 – 25/08/2010 Continuando o tema de condições da ação

b) Interesse de agir: Só pode estar em juízo quem efetivamente necessita de tutela jurisdicional e, além disso, é preciso

que esta pessoa escolha o caminho correto, motivo pelo qual o interesse de agir é analisado pela doutrina sob duas perspectivas diferentes: a necessidade e a adequação.

Ex. do quesito necessidade: João é proprietário de uma casa. Ele aluga sua casa para José, o qual costumava pagar os alugueres em dia. Porém, a certa altura, José pára de pagá-los. Isso faz nascer para João o direito de: 1- pedir o valor dos alugueres não pagos; 2 – pedir o despejo de José. Tendo isso em vista, João entra em juízo pedindo essas duas coisas cumulativamente. Acontece que José, em sua contestação, afirma que jamais se recusara a sair da casa e que entregaria as chaves quando requisitado. Assim, o juiz percebe que João não precisaria ter entrado com a ação de despejo, ou seja: que haveria falta de interesse de agir no quesito “necessidade”. Enfim, o juiz dirá que não julgará o mérito no que tange ao despejo pela falta de interesse de agir e que a ação continuará sem esse pedido.

Notar: Se no exemplo anterior não houvesse o pedido de pagamento dos alugueres atrasados, o juiz extinguiria o processo sem o julgamento do mérito.

Outro exemplo do tipo necessidade: Em um caso de Direito Comercial, uma empresa almeja tirar do quadro societário um de seus sócios. Nessa situação, o juiz pode extinguir o processo, visto que há a possibilidade de que, pela decisão majoritária da Assembléia Geral, exclua-se o sócio indesejado. Logo, não há a necessidade da tutela jurisdicional.

Ex. do quesito adequação: Se, no caso da situação anterior, relacionada a João e José, este entrasse com uma ação de reintegração de posse (ação cabível para casos de tomada violenta da posse) ao invés de com uma ação de despejo (essa sim relacionada à locação) haveria falta de interesse de agir na modalidade “adequação”.

Obs.: A Jurisprudência entende que no caso de haver a possibilidade de corrigir a falta de interesse de agir no quesito adequação, o juiz pode fazer a “sugestão” da mudança. Esse posicionamento se baseia em considerações de economia processual e pauta-se no artigo 284 do CPC.

Vale dizer, contudo, que na prática os juízes não têm feito isso. c) Possibilidade Jurídica do Pedido É a mais controvertida condição para a ação e a de menor incidência na prática forense. Trata-se da

hipótese em que o pedido formulado pelo autor é proibido pelo ordenamento jurídico brasileiro. Segundo a doutrina, esse tema é de mérito, porque o que ocorre é que a pretensão do autor não pode ser acolhida e não que sua pretensão não é analisada.

Page 10: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

10

Ex. do “Mercador de Veneza”, obra de William Shakespeare: o mercador, ao não receber o dinheiro que o réu havia se obrigado a pagar, pede que seja extraído 1kg de carne deste.

Outro exemplo (um mais palpável): o antigo art. 226 da CF dispunha “o casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio, após prévia separação judicial por mais de um ano nos casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato por mais de dois anos”. Portanto, se, antes da Emenda Constitucional nº 66/2010, alguém pedisse o divórcio após apenas dois meses de separação, tratar-se-ia de um pedido juridicamente impossível. Ele jamais teria chance de ser aceito.

O que se percebe é que pedidos contrários ao ordenamento jurídico quase não ocorrem na prática e que, quando eles aparecem, é possível rejeitá-los pelo mérito. Na verdade, até um entendimento mais democrático optar pela rejeição no mérito. Um exemplo que comprova isso é um de Direito do Trabalho: a licença-maternidade é de 120 dias no Direito Brasileiro e alguns pais adotivos pleitearam esse benefício no Judiciário. Seria um entendimento mais adequado negar-lhes o benefício no mérito do que negá-lo por impossibilidade jurídica do pedido – até porque a segunda opção equivaleria a comparar seus pedidos aos absurdos da hipótese do mercador de Veneza e à do traficante que reclama a mora do seu fornecedor de drogas. Aliás, é tanto mais adequado dar esse tipo de tratamento às causas que a garantia à licença-maternidade para pais adotivos de recém-nascidos, que antes era contrária ao ordenamento, é hoje garantida por lei.

Obs.: No Novo Código de Processo Civil que está em gestação, essa terceira condição não existe (justamente pelos motivos já abordados).

Obs.: Cabe recurso para decisões que não julgam o mérito. Nessa situação, se o Tribunal reformar a sentença, o processo volta para o mesmo juiz, o qual terá de acatar a decisão do tribunal.

Obs.: O art. 295 do CPC trata das hipóteses de indeferimento da inicial, dentre elas estão as condições da ação.

Teoria da Asserção

Para finalizar o tema é preciso trazer à tona a existência da Teoria da Asserção (in status assertionis). Segundo essa teoria, as condições da ação só podem ser analisadas no começo do processo, durante a fase postulatória, de acordo com aquilo que foi afirmado na petição inicial. Assim, se o processo passou dessa fase, tudo é mérito.

O CPC atual não acolhe a referida teoria e permite que o juiz ou o Tribunal, a qualquer tempo, extinga o processo sem julgamento do mérito (art. 267, VI), nos termos da regra prevista no art. 267, § 3º.

CPC, Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: I - quando o juiz indeferir a petição inicial; Il - quando ficar parado durante mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - quando, por não promover os atos e diligências que Ihe competir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - quando o juiz acolher a alegação de perempção, litispendência ou de coisa julgada; Vl - quando não concorrer qualquer das condições da ação, como a possibilidade jurídica, a legitimidade das partes e o interesse processual; Vll - pela convenção de arbitragem; Vlll - quando o autor desistir da ação; IX - quando a ação for considerada intransmissível por disposição legal; X - quando ocorrer confusão entre autor e réu; XI - nos demais casos prescritos neste Código. § 1o O juiz ordenará, nos casos dos ns. II e Ill, o arquivamento dos autos, declarando a extinção do processo, se a parte, intimada pessoalmente, não suprir a falta em 48 (quarenta e oito) horas.

Page 11: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

11

§ 2o No caso do parágrafo anterior, quanto ao no II, as partes pagarão proporcionalmente as custas e, quanto ao no III, o autor será condenado ao pagamento das despesas e honorários de advogado (art. 28). § 3o O juiz conhecerá de ofício, em qualquer tempo e grau de jurisdição, enquanto não proferida a sentença de mérito, da matéria constante dos ns. IV, V e Vl; todavia, o réu que a não alegar, na primeira oportunidade em que Ihe caiba falar nos autos, responderá pelas custas de retardamento. § 4o Depois de decorrido o prazo para a resposta, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação. Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que o autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado. Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo fundamento previsto no no III do artigo anterior, não poderá intentar nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito.

Vale dizer, entretanto, que, embora não acolhida no CPC, essa teoria tem bastante aceitação na doutrina brasileira. Essa aceitação se pauta basicamente na idéia de que os filtros devem ser utilizados no começo e não no final – até porque o fato de o juiz não julgar um pedido tem implicações democráticas. Seguindo essa linha de raciocínio, o reconhecimento posterior da ausência de uma das condições da ação seria uma grande falha do sistema.

Um exemplo que demonstra claramente a problemática envolvendo o art. 267, § 3º do CPC faz referência ao bloqueio de poupanças realizado durante a gestão de Fernando Collor. Ocorre que, após essa política econômica, muitas pessoas entraram contra o Banco Central no Judiciário pedindo o desbloqueio das poupanças. Porém, longo tempo depois de essas ações terem sido interpostas (em torno de 30 anos), quando esses processos subiram de grau de jurisdição até chegar ao STF, um dos Ministros afirmou que a parte legítima para ser ré não era o Banco Central, mas sim a União, e extinguiu os processos sem julgamento do mérito. Com isso, os autores daqueles processos ficaram impossibilitados de receber do Estado a tutela que precisavam para resolver sua lide, pois a proposição de uma nova ação – desta vez contra a União – seria de todo inútil uma vez que já havia se dado a prescrição. à O resultado foi um enorme grau de insatisfação das pessoas envolvidas com o sistema.

Pressupostos processuais Também são considerados como filtros destinados a impedir a continuidade de processos com problemas ou dificuldades que não podem ser superadas ou corrigidas (processos manifestamente inviáveis). A doutrina, até quinze anos atrás, dedicava grande importância ao tema, chegando a criar três teorias ou enfoque diferentes a esse respeito. A Jurisprudência, inclusive atualmente, não dá grande importância a ele. Teorias

a) Teoria restritiva É a mais antiga (1868 – Alemanha à Criada por Oskar Von Bülow). Essa teoria diz que só existe

processo quando estiverem presentes três situações: § Partes... § Que formulam um pedido... § Perante um órgão investido de Jurisdição.

Ela está na base da gênese do Processo Civil brasileiro e mundial. Foi criada em um momento em que havia grande discussão em torno da questão de se o sistema jurídico seria composto de direito material e processo (sendo o processo, pois, uma relação jurídica própria/independente do direito material) ou se o sistema seria só direito material, o qual teria o processo como um anexo seu (o processo seria o direito material em movimento). Hoje sabemos que prevaleceu a primeira teoria, que entende o processo como uma relação jurídica específica, autônoma, a qual tem alguns aspectos diferenciados. E foi essa individualidade

Page 12: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

12

que Von Bülow defendeu por meio da apresentação dos três elementos próprios do processo anteriormente mencionados.

Essa teoria, apesar de bem estruturada, não é acolhida atualmente por não ser suficiente para resolver os problemas que aparecem no curso do processo.

b) Teoria Ampliativa

Analisando alguns aspectos dessa teoria: 1- A citação é colocada como requisito de existência do processo, mas na realidade o processo

começa a existir quando o autor distribui a petição inicial. Isso se comprova pelo fato de que é possível rejeitar uma inicial, extinguindo o processo sem julgamento do mérito, quando o réu não é parte legítima – e isso sem que ele sequer seja citado. Ademais, é possível extinguir o processo caso o autor não forneça recursos para a citação. Bem, para que algo seja extinto (o que ocorre nos dois casos mencionados) é necessário que antes tenha existido.

Obs.: O entendimento de que o processo existe independentemente da citação se demonstra pela própria materialização do processo – papeis cobertos por uma capinha que ficam “passeando” pelo cartório.

Desse modo, a citação deveria ser entendida apenas como critério de validade da sentença, pois não se pode julgar sem a citação do réu.

2- Questão: a competência é pressuposto de validade do processo ou da sentença? Ao contrário do que a teoria diz, o processo existe mesmo que o juízo seja incompetente (tanto é que, uma vez constatada a incompetência, o processo é enviado para o juízo competente julgar). Assim, a competência também não é pressuposto de existência do processo nem da sentença, mas sim de validade da sentença visto que se essa for dada por um juízo incompetente poderá ser impugnada.

Obs.: Para o processo civil quase não existe a noção de inexistência: o que há é a validade ou invalidade.

3 - No que tange aos elementos negativos, o que se tem é que esses elementos não podem ocorrer para que o processo possa nascer.

Pressupostos processuais (sem isso o processo não existiria)

1- Existência: Jurisdição (órgão investido) + Citação (o réu é chamado a juízo, de modo a ter ciência de que existe uma ação contra ele, e intimado a defender-se – se não o fizer fica revel.)

2- Validade: citação válida + competência.

3- Negativos: litispendência, coisa julgada e perempção.

Relembrando: § Litispendência: ocorre na hipótese de entrar novamente com uma ação que já está em curso. à Para

que as duas ações sejam classificadas como iguais, é preciso que os elementos partes, pedido e causa de pedir sejam os mesmos. Nesse caso a segunda ação é extinta (é como se ela tivesse um sopro de vida e depois morresse) e, por isso, tem-se nessa parte da teoria o mesmo problema de antes: para algo ser extinto ele precisa ter existido, de modo que esse elemento negativo não seriam pressupostos de existência processual.

§ Coisa julgada: é a ação que já foi julgada e não pode ser reavaliada (não cabe recurso dessa decisão). Não se pode entrar com outra ação igual.

Page 13: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

13

Obs.: As anotações sobre essa segunda teoria refletem exatamente o que o professor deu na

aula. Porém, quando eu fui tirar dúvida com ele no dia 02/09, ele me disse que essas divisões de existência, validade e eficácia não seriam todas de existência (como ele havia afirmado em aula), mas sim de existência, validade e eficácia. Por isso, acho mais seguro estudar essa segunda teoria pelo que o professor mandou no e-mail.

Aula 7 - 26/08/2010 Continuação da aula passada:

c) Última teoria – a mais aceitável (o professor não disse seu nome e não entrou em muitos detalhes)

Segundo essa teoria, teríamos a seguinte divisão: • Pressupostos processuais subjetivos:

o Relativos ao juiz: investidura, imparcialidade e competência; o Relativos às partes: capacidade de ser parte, de estar em juízo e de postular;

• Pressupostos processuais objetivos: o Intrínsecos à relação processual: observância do procedimento (aptidão da inicial,

regularidade da citação e das intimações, etc.) o Extrínsecos à relação processual: coisa julgada, litispendência, perempção,

convenção de arbitragem e caução (835 do CPC).

De todas as teorias, podemos extrair alguns aspectos relevantíssimos: Primeiramente, é fundamental sabermos que a existência de um órgão investido de jurisdição para

todas as teorias é um pressuposto processual (imprescindível para que se nasça um processo). Segundo o pensamento dominante hoje, o fato de o juiz estar investido de jurisdição é condição sine qua non para se dar abertura ao processo. Ex: se eu for à lanchonete apresentar minha ação, não haverá processo.

Em segundo lugar, é preciso destacar que, de todos os pressupostos processuais já vistos, o mais importante sob o aspecto prático é o da capacidade das partes. A doutrina costuma falar em tríplice capacidade:

a) Capacidade para os atos da vida civil em geral Para ser capaz neste aspecto é preciso ser maior de idade e estar no pleno gozo das capacidades

mentais. Os menores de idade que forem absolutamente incapazes (menores de 16 anos) serão representados e os relativamente incapazes (entre 16 e 18 anos) serão assistidos.

b) Capacidade para estar em juízo Significa que, em determinadas situações, certas pessoas precisam de autorização de outra pessoa

para poder litigar. Exemplo 1: Pela regra do nosso sistema, marido e mulher compartilham de um mesmo

patrimônio, de modo que se o marido quiser vender um imóvel, ele precisa da autorização de sua esposa. Transportando essa questão de direito material para o processo civil, temos que quando o marido

quer litigar com um terceiro a respeito da propriedade de um imóvel, ele precisa da autorização de sua esposa

§ Perempção: nasceu no Código de 1939 a partir da idéia de que quando uma pessoa inicia uma ação e a abandona três vezes ela não pode iniciá-la uma quarta vez. CPC, Art. 268. Salvo o disposto no art. 267, V, a extinção do processo não obsta a que o autor intente de novo a ação. A petição inicial, todavia, não será despachada sem a prova do pagamento ou do depósito das custas e dos honorários de advogado. Parágrafo único. Se o autor der causa, por três vezes, à extinção do processo pelo fundamento previsto no no III do artigo anterior, não poderá intentar nova ação contra o réu com o mesmo objeto, ficando-lhe ressalvada, entretanto, a possibilidade de alegar em defesa o seu direito.

Page 14: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

14

para poder entrar com a ação. Ou seja: para que o cônjuge tenha capacidade de estar em juízo, ele precisa de autorização conjugal.

Obs.: Em caso de alguém entrar com uma ação referente ao imóvel do casal, ambos terão de ser citados como réus para atuarem no pólo passivo.

Mas, O CPC prevê a possibilidade de essa autorização do cônjuge ser suprida judicialmente caso o cônjuge que nega a autorização o faça sem justo motivo:

CPC, Art. 11. A autorização do marido e a outorga da mulher podem suprir-se judicialmente, quando um cônjuge a recuse ao outro sem justo motivo, ou lhe seja impossível dá-la. Parágrafo único. A falta, não suprida pelo juiz, da autorização ou da outorga, quando necessária, invalida o processo.

Obs.: No caso de o marido entrar com a ação e a sua esposa só lhe dar a autorização, ela não será parte no processo – seu marido é que será.

Exemplo 2: Tício, co-proprietário de um bem imóvel, quer aumentar a área de seu terreno e, para isso, terá de litigar contra seu vizinho. Nessa situação, ele precisa da autorização do outro co-proprietário (Caio) para entrar com a ação – até porque caso Tício ganhe a ação, o terreno terá de ser dividido de maneira igual entre ele e Caio (não faria sentido um co-proprietário ter 120 m² e o outro 180 m²).

Diante desse exemplo questiona-se: seria possível suprir a autorização de Caio se ele se recusasse a dá-la? Afinal, o Código fala expressamente da uxória conjugal quando autoriza que o juiz a suprir a autorização. Para resolver a situação existem duas teorias:

§ Partindo da idéia de que os dois co-proprietários adquiriram o direito de propriedade juntos, o fato de um não aceitar implicaria na impossibilidade de entrar com a ação. É a velha idéia do “se um não quer, dois não fazem” à Há pouca Jurisprudência com esse posicionamento e ela é bastante antiga.

§ Ressaltando a importância do acesso à Justiça como um direito constitucional, esta segunda teoria afirma que se a recusa do outro co-proprietário (Caio, no exemplo dado) não se pautar em justa razão, haveria a possibilidade de suprir a autorização judicialmente ou então a de colocar o outro co-proprietário (Caio) como réu, de modo a garantir que ele ao menos participe do processo. à Teoria mais acolhida pela doutrina, inclusive de professores de nossa Casa, como Bedaque.

c) Capacidade postulatória (ius postulandi) Significa que as partes só podem estar em juízo por meio de seus advogados, salvo quando

advogam em causa própria. Outras exceções do Processo Civil são: a Ação Direta de Inconstitucionalidade, a qual pode ser assinada diretamente pelo Presidente da República ou pelo Governador, causas de até 20 salários mínimos no JEC (Lei 9099/95), as quais não exigem advogado.

Obs.: Fora do Processo Civil, existe exceção para a capacidade postulatória no Processo Penal quando se trata de Habeas Corpus.

Obs.: Os entes federativos também precisam de advogados. É o caso do procurador do Estado, por exemplo.

O ius postulandi é demonstrado por meio da procuração. Ela não precisa estar com firma reconhecida. É preciso dizer também que, caso haja algum problema com ela ou que o advogado se esqueça de juntá-la nos autos, é possível sanar esse defeito tendo como fundamento o art. 284 do CPC.

Obs.: Procuração é diferente de substabelecimento. Neste não é a parte quem dá poderes para o advogado defender seus interesses, mas sim é o advogado quem confere poderes a outro advogado. O substabelecimento pode ser feito: a) Com reservas de iguais poderes: significa que o advogado que dá poderes a outro, mas mantém os seus. b) Sem reservas: o advogado deixa o caso, passando todos os seus poderes para outro advogado e ficando sem nenhum. Conclusão

Hoje, há um entendimento doutrinário no sentido de que pressupostos processuais são na verdade filtros, que devem funcionar no começo do processo. Durante o processo, detectada a ausência de algum

Page 15: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

15

pressuposto processual, é preferível que o juiz conceda a possibilidade de correção do erro (art. 284, CPC) do que simplesmente extinga o processo (art. 267, IV, CPC).

CPC, Art. 284. Verificando o juiz que a petição inicial não preenche os requisitos exigidos nos arts. 282 e 283, ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor a emende, ou a complete, no prazo de 10 (dez) dias. Parágrafo único. Se o autor não cumprir a diligência, o juiz indeferirá a petição inicial. CPC, Art. 267. Extingue-se o processo, sem resolução de mérito: IV - quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo;

Obs.: No art. 284 do CPC, está contida a idéia de “instrumentabilidade do processo” (tese de

Candido Rangel Dinamarco): uma vez que o processo não é o objetivo final das partes, é possível relativizar as formalidades.

Em suma, percebe-se que, tirando a idéia da jurisdição, há um consenso de que todos os pressupostos processuais estão relacionados ao desenvolvimento do processo a não à sua existência. Ou seja: os pressupostos processuais seriam, na verdade, pressupostos de validade da sentença; pressupostos para desenvolver o processo – e não para que ele nasça.

Obs.: Esse entendimento demonstra que, embora consagrado, o termo “pressupostos” não seria o mais adequado.

Aula 8 - 01/09/2010

Partes e representação processual Para o processo civil brasileiro há três modos de adquirir a qualidade de parte: a) Propondo uma ação;

No distribuidor nasce uma relação jurídica processual, a partir daquele momento o autor se torna parte de um processo.

b) Sendo citado; c) Intervindo voluntariamente no processo. No primeiro caso, a simples propositura da ação já confere a qualidade de parte ao autor. No segundo

caso, é correto afirmar que o réu não precisa esperar a citação para ingressar no processo, porque, na verdade, ele é parte desde o momento do início do processo. No último caso, e em hipóteses muito específicas, alguém, mesmo sem ser chamado, ingressa no processo.

O conceito de parte é essencial para o processo civil. Obs. Quanto ao segundo caso: O réu já é parte quando o processo é distribuído ou se torna parte

quando citado? Tecnicamente falando, ele é parte quando o processo é distribuído. O réu pode tomar conhecimento previamente da ação e apresentar a contestação antes de ser citado (ainda que isso seja incomum, na prática). Para a doutrina, no entanto, ele só se torna parte quando citado.

Obs. Quanto ao terceiro caso: É raro, mas alguém pode entrar no processo para defender interesse próprio (veremos isso em litisconsórcio). Mas há requisitos para isso (momento processual, identidade de pretensões e etc).

Exemplo: Imagine que 15 servidores públicos entram contra o Estado em busca de um benefício salarial. Outro servidor, na mesma condição dos autores, pode entrar nessa ação, se for pedir a mesma coisa, durante o curso do processo. O juiz aceitará em nome da economia processual.

Page 16: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

16

Representação processual das partes As pessoas físicas ou jurídicas somente podem estar em juízo, tanto ativa quanto passivamente,

representadas por advogados. Essa representação é feita através da Defensoria Pública para aqueles que não possuem condições financeiras para contratação de advogado. A representação é feita através da procuração, que dispensa reconhecimento de firma e é condição, segundo o CPC, até mesmo da existência dos atos praticados em juízo.5

CPC, Art. 37. Sem instrumento de mandato, o advogado não será admitido a procurar em juízo. Poderá, todavia, em nome da parte, intentar ação, a fim de evitar decadência ou prescrição, bem como intervir, no processo, para praticar atos reputados urgentes. Nestes casos, o advogado se obrigará, independentemente de caução, a exibir o instrumento de mandato no prazo de 15 (quinze) dias, prorrogável até outros 15 (quinze), por despacho do juiz. Parágrafo único. Os atos, não ratificados no prazo, serão havidos por inexistentes (isso é muito questionado), respondendo o advogado por despesas e perdas e danos. Em geral, entende-se que o art. 37 do CPC é exagerado ao considerar que os atos praticados por

advogado sem procuração seriam inexistentes e, por isso, se interpreta esse artigo em conjunto com o art. 284, que é um pólo metodológico; uma forma de pensar o Direito Civil.

Desse modo, tem-se que o cartório deve verificar no começo do processo se há procuração. Se não houver, o juiz pode dar um prazo para a apresentação da procuração com a ratificação dos atos praticados anteriormente, sob pena de extinção do processo. (Isso está de acordo com o art. 284 do CPC)

Obs.: A representação do Direito Civil não é a mesma do Direito Processual. Na primeira, é dado a outra pessoa poder para agir em seu nome, não como advogado, mas como gestor de negócios. Ex de representação do Direito Civil: eu vou viajar e nomeio alguém para atuar em meu nome em tudo o que deixei no Brasil. Notar: Se, enquanto eu estivesse fora, houvesse um processo contra mim seriam necessárias duas procurações: uma própria do Direito Civil, para o meu gestor de negócios e outra para o meu advogado, esta típica do Direito Processual.

Exceções: O Estado (União, estados e municípios) é representado por seus procuradores que são aprovados em

concurso público e não precisam, portanto, apresentar procuração. Além disso, o Ministério Público (promotores) também representa o Estado sem procuração. (ius postulandi = direito de postular)

Outra exceção é o JEC: nos juizados especiais, se o valor for inferior a 20 salários mínimos, de acordo com a lei 9099/95, pode-se ingressar em juízo sem advogado.

Questão: Como uma pessoa jurídica demonstra que contratou um advogado? Além da procuração, é necessário levar uma cópia do contrato social, registrado na Junta Comercial para que o juiz possa aferir se a pessoa que concedeu a procuração tem poderes para fazê-lo (ou seja: se o contrato social dá à pessoa que assinou a procuração tal possibilidade).

Deveres das partes e seus procuradores

CPC, Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer forma participam do processo: I - expor os fatos em juízo conforme a verdade; II - proceder com lealdade e boa-fé; III - não formular pretensões, nem alegar defesa, cientes de que são destituídas de fundamento; IV - não produzir provas, nem praticar atos inúteis ou desnecessários à declaração ou defesa do direito. V - cumprir com exatidão os provimentos mandamentais e não criar embaraços à efetivação de provimentos judiciais, de natureza antecipatória ou final.

A lei exige das partes um comportamento ético:

5 O advogado atuando em causa própria, é claro, não precisa juntar uma procuração. Ele deve, contudo, apresentar seu numero da Ordem.

Page 17: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

17

1- Não mentir 2- Não criar incidentes protelatórios (para atrasar) durante o processo. Trata-se de uma vedação à

utilização indevida do processo. Ex: dizer que a única testemunha de um acidente de carro é um índio que mora no Xingu e que tem um nome impronunciável.

No que diz respeito ao dever de não mentir, questiona-se: o réu tem o dever de dizer a verdade ao juiz? Pela letra da lei sim, mas, na prática, há tolerância. Se fosse assim, teríamos quase um processo canônico. É preciso lembrar que as partes querem ganhar de qualquer maneira. Tendo isso em vista, a regra para a atuação do juiz é o bom-senso.

Obs.: Nos países de língua inglês (Inglaterra e colônias) a perspectiva da justiça é outra, o fundamento básico é o respeito à dignidade da justiça. Mentir em juízo, quer o advogado quer a parte, é penalizado. Aliás, o advogado que não conseguir provar que não é responsável pela mentira de seu cliente pode perder o direito de advogar naquele condado em que a causa se deu.

Obs.: E a testemunha, pode mentir? Ela não é parte. Quando ela aparece em juízo para relatar, não está defendendo seus próprios interesses. Se ela mente, ela incorre em crime de falso testemunho.

Responsabilidade das partes por dano processual

Art. 16. Responde por perdas e danos aquele que pleitear de má-fé como autor, réu ou interveniente. Art. 17. Reputa-se litigante de má-fé aquele que: I - deduzir pretensão ou defesa contra texto expresso de lei ou fato incontroverso; II - alterar a verdade dos fatos; III - usar do processo para conseguir objetivo ilegal; IV - opuser resistência injustificada ao andamento do processo; V - proceder de modo temerário em qualquer incidente ou ato do processo; Vl - provocar incidentes manifestamente infundados. VII - interpuser recurso com intuito manifestamente protelatório. Art. 18. O juiz ou tribunal, de ofício ou a requerimento, condenará o litigante de má-fé a pagar multa não excedente a um por cento sobre o valor da causa e a indenizar a parte contrária dos prejuízos que esta sofreu, mais os honorários advocatícios e todas as despesas que efetuou. § 1o Quando forem dois ou mais os litigantes de má-fé, o juiz condenará cada um na proporção do seu respectivo interesse na causa, ou solidariamente aqueles que se coligaram para lesar a parte contrária. § 2o O valor da indenização será desde logo fixado pelo juiz, em quantia não superior a 20% (vinte por cento) sobre o valor da causa, ou liquidado por arbitramento.

Essas normas tratam da litigância de má-fé. Conforme as regras do art. 17, qualquer das partes está sujeita a pagar multa não excedente a 1% do valor da causa, despesas do processo, honorários de advogado e indenização de até 20% do valor da causa. Os tribunais são tímidos na aplicação dessa multa e mesmo quando a aplicam, a indenização menciona no dispositivo legal (por dano processual), quase nunca é aplicada. A conduta das partes pode e deve ser fiscalizada de ofício pelo juiz, que pode aplicar a multa também de ofício. No entanto, a parte que se sente lesada pode peticionar isso. Notar: Os valores das multas são pequenos e isso porque o sistema do direito posto não está preocupado com a ética, com a absoluta verdade do processo, com a dignidade da Justiça. Tanto que quase todas as multas vão para a parte, e não para o Estado – como deveria ser em caso de indenização por ato que fere a dignidade da Justiça, visto que o Estado também é prejudicado pela conduta desleal da parte, especialmente no que toca ao dispêndio de recursos. Obs.: Somente a multa do art. 14 não vai para as partes, mas para o Estado. Ou seja: geralmente (nos outros casos), quem recebe o valor é a parte lesada.

Obs. Em relação ao art. 14: Há no sistema a necessidade do cumprimento de ordens judiciais chamadas de mandamentais, que são aquelas que impõem uma obrigação de fazer, não fazer e entregar

Page 18: DPC0214 - Direito Processual Civil I - Bonício - (182) - 1o bim

18

coisa. Assim, no caso dessas ordens, o juiz condena a pessoa a tomar determinada atitude e não a pagar. Trata-se de um dos poucos momentos em que o sistema acorda para a dignidade da justiça, pois – como dito antes – a multa pesada decorrente do descumprimento vai para os cofres públicos. Mas, cabe dizer que essa multa é pouco aplicada na prática. à Ver art. 461 – pólo metodológico de estudo das ações mandamentais.

Concluindo, vale dizer que as normas apresentadas entre os artigos 16 e 18 não são taxativas sobre o tema. Por exemplo, os artigos 600 e 601 do CPC, também tratam da litigância de má-fé, em relação à execução. Segundo o art. 601, IV - Considera-se atentatório à dignidade da Justiça o ato do executado que intimado, não indica ao juiz, em 5 (cinco) dias, quais são e onde se encontram os bens sujeitos à penhora e seus respectivos valores. Como não indicar os bens é uma atitude corrente de alguém que já está na Justiça por não pagar suas dívidas, as multas propostas por esses artigos deveriam ser aplicadas. Porém, isso também não ocorre muito na prática.

Obs. Final: Uma pessoa condenada por litigância de má-fé pode vencer o processo? Sim.

Aula 9 - 02/09/2010

Aula de Revisão Nessa aula o professor basicamente repetiu um pouco do que estudamos e do que já está detalhado

em todo o caderno, de modo que não faz sentido repetir menos pormenorizadamente aqui. Seguem duas observações que acreditamos que ficaram mais claras apenas na aula de revisão: O critério de competência “valor da causa” é relativo ou absoluto?

Como visto na aula 1, os fóruns regionais têm como valor máximo para as causas até 500 salários mínimos. Ultrapassado esse valor, é obrigatório ir ao fórum central (acima de 500 salários mínimos).

Tendo isso em vista, o que ocorre é que “quem pode mais, pode menos” e que “quem pode menos não pode mais”. Ou seja: quando o valor da causa é maior que 500 salários mínimos tem-se um critério de competência absoluto: a causa só pode ser processada em fóruns centrais. Entretanto, se o valor da causa for inferior a 500 salários mínimos, ela pode ser ajuizada tanto em fóruns regionais quanto centrais, de modo a existir, neste caso, uma competência relativa.

O que deve ser analisado primeiro pelo juiz: condições da ação ou pressupostos processuais?

Primeiro o juiz verifica as condições da ação e depois os pressupostos processuais. BONS ESTUDOS, TURMA 14! =D Por favor, em caso de algum erro no caderno, comuniquem a sala.