e a grama do vizinho

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 Grandes Temas E a grama do vizinho... A mania do perfeccionismo pode atravancar sua vida. Preste atenção e você verá que boa parte de seus sonhos só existe para satisfazer um modelo idealizado inatingível. Tirar do caminho essa casca de banana a tempo é nossa única saída texto Liane Alves I ilustrações Daniella Domingues Todo publicitário sabe disso: somos basicamente movidos pela inveja. O desejo que dispara nossa vontade de consu mir é o de querer ter o que outro tem, seja o carro do ano, a barriga tanquinho ou a família alegre que almoça ao redor de uma macarronada fumegante. Ora, ninguém vai invejar algo fácil de obter  porque, se é fácil, presume-se que todo mundo  já tenha. Então, oferece-se o que é mais difícil de conseguir: o mais perfeito, o mais feliz, o mais bonito, amoroso, elegante ou sensual, enfim, o “mais mais” de qualquer coisa que possamos invejar. É assim que somos presos pelo anzol: não compramos apenas um produto, mas todo um modelo de beleza, status e perfeição que vem associado a ele. “Para nos aproximarmos do que é oferecido pela mídia, iremos comprar tudo ou fazer de tudo que nos dê a impressão de sermos tão perfeitos quanto o que vemos numa televisão ou numa revista. Sem parar para pensar no que estamos realmente fazendo conosco”, diz Regina Favre, psicoterapeuta, pesquisad ora dos processos cognitivos e alguém muito atento ao sistema opressivo que traz dezenas de clientes ao seu consultório. Nesse sentido, somos todos perfeccionistas, inclusiv e eu e você, que tateamos por uma vida mais simples e natural mas que ainda vivemos sob a influência da publicidade, da mídia e de muitos dos padrões vigentes. Como todo mundo, podemos estar ralando para cumprir modelos impostos sem perceber. E ralando muito, posto que a perfeição é mercadoria escassa nesse mundo naturalmente imperfeito. Além disso, ninguém vai nos contar que realizar o sonho de manter todas as áreas da vida sob controle é impossível, apesar de todo o esforço. Um corpo certinho não vai garantir relacionamentos plenos e amorosos, um emprego ideal ou a casa na praia não são sinônimos automáticos de felicidad e. Este é o mecanismo perverso dessa história: a perfeição, mesmo quando é atingida , só nos chega aos pedaços. Arapuca esperta Esse desejo subliminar de perfeição alimenta toda a estrutura econômica e social da nossa cultura. Mais e melhor é o grande produto oferecido por um sistema que ao mesmo tempo que nos apavora com o medo de envelhecer, de sofrer, de ficar feio, ultrapassado ou gordo nos propõe soluções instantâneas para resolver esses “problemas”.  “É uma configuração de terror e alívio. Somos estimulados, por exemplo, a ter pavor da celulite, do olho caído, do músculo flácido, enfim, de tudo que indique a passagem do tempo, mas ao mesmo tempo nos são oferecidas academias de musculação, cremes maravilhosos, plásticas”, diz Regina Favre. “Hoje, as academias estão abertas até as 4 da manhã para que as pessoas possam frequentá-las. É uma luta desesperada para manter a forma de acordo com um determinado padrão. Procuramos por um corpo idealizado, perfeito, não um corpo

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Grandes Temas

E a grama do vizinho...A mania do perfeccionismo pode atravancar sua vida. Preste atenção e você

verá que boa parte de seus sonhos só existe para satisfazer um modeloidealizado inatingível. Tirar do caminho essa casca de banana a tempo é nossaúnica saída

texto Liane Alves I ilustrações Daniella Domingues

Todo publicitário sabe disso: somos basicamente movidos pela inveja. O desejo quedispara nossa vontade de consumir é o de querer ter o que outro tem, seja o carro do ano, abarriga tanquinho ou a família alegre que almoça ao redor de uma macarronada fumegante.Ora, ninguém vai invejar algo fácil de obter – porque, se é fácil, presume-se que todo mundo já tenha. Então, oferece-se o que é mais difícil de conseguir: o mais perfeito, o mais feliz, omais bonito, amoroso, elegante ou sensual, enfim, o “mais mais” de qualquer coisa quepossamos invejar. É assim que somos presos pelo anzol: não compramos apenas umproduto, mas todo um modelo de beleza, status e perfeição que vem associado a ele. “Paranos aproximarmos do que é oferecido pela mídia, iremos comprar tudo ou fazer de tudo quenos dê a impressão de sermos tão perfeitos quanto o que vemos numa televisão ou numarevista. Sem parar para pensar no que estamos realmente fazendo conosco”, diz Regina

Favre, psicoterapeuta, pesquisadora dos processos cognitivos e alguém muito atento aosistema opressivo que traz dezenas de clientes ao seu consultório.

Nesse sentido, somos todos perfeccionistas, inclusive eu e você, que tateamos por uma vidamais simples e natural mas que ainda vivemos sob a influência da publicidade, da mídia e demuitos dos padrões vigentes. Como todo mundo, podemos estar ralando para cumprirmodelos impostos sem perceber. E ralando muito, posto que a perfeição é mercadoriaescassa nesse mundo naturalmente imperfeito. Além disso, ninguém vai nos contar querealizar o sonho de manter todas as áreas da vida sob controle é impossível, apesar de todoo esforço. Um corpo certinho não vai garantir relacionamentos plenos e amorosos, umemprego ideal ou a casa na praia não são sinônimos automáticos de felicidade. Este é omecanismo perverso dessa história: a perfeição, mesmo quando é atingida, só nos chega aospedaços.

Arapuca esperta Esse desejo subliminar de perfeição alimenta toda a estruturaeconômica e social da nossa cultura. Mais e melhor é o grande produto oferecido por umsistema que ao mesmo tempo que nos apavora com o medo de envelhecer, de sofrer, de ficarfeio, ultrapassado ou gordo nos propõe soluções instantâneas para resolver esses“problemas”. 

“É uma configuração de terror e alívio. Somos estimulados, por exemplo, a ter pavor dacelulite, do olho caído, do músculo flácido, enfim, de tudo que indique a passagem do tempo,mas ao mesmo tempo nos são oferecidas academias de musculação, cremes maravilhosos,plásticas”, diz Regina Favre. “Hoje, as academias estão abertas até as 4 da manhã para queas pessoas possam frequentá-las. É uma luta desesperada para manter a forma de acordo

com um determinado padrão. Procuramos por um corpo idealizado, perfeito, não um corpo

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sentido, vivido”, diz ela. Podemos estar nele e nem sequer percebê-lo, como se ele fosseapenas uma roupa bonita que se veste para, basicamente, mostrar para os outros.

Dentro do pacote Segundo Regina Favre, duas doenças contemporâneas testemunhamnossas reações diante desse desafio da perfeição: a síndrome do pânico e a depressão. “Seprenuncio que não vou conseguir atender ao padrão de exigências estabelecido, começo a

entrar em ansiedade e, depois, em desespero, em aflição: é o pânico que chega. E se, aocontrário, dou conta do fracasso em cumprir o que é proposto idealmente pelo mercado,posso ser tomado pela depressão.” 

E por que será que desejamos a perfeição de maneira tão obsessiva? “Há o mito construídopor essa mesma estrutura mercadológica de que se não formos perfeitos, jovens e belosseremos excluídos. Portanto, temos medo da exclusão, da obsolescência. É esse o fantasmaque nos ameaça: sermos jogados fora do mercado, seja profissional, seja sexual ouprodutivo.” 

E, mesmo quando atingimos as altíssimas metas de perfeição que estabelecemos para nós, oresultado pode não ser aquele que esperamos. “Atendi um jovem executivo, ótimo

profissional, com competência em várias áreas, financeiramente realizado que, casado comuma mulher tão bonita quanto ele, não conseguia ter relações sexuais com ela. Exatamenteporque no amor vinha embutido o que ele mais temia na vida: a possibilidade do sofrimento,da insegurança, do fracasso e do risco”, diz Regina. 

Esquecemos algo fundamental: que sofrer, arriscar-se sem garantias, sentir-se inseguro eprovar sentimentos de perda ou falta fazem parte da riqueza de experiências que a vida podenos proporcionar. “Existe toda uma cultura, e uma indústria, do antissofrimento. Há umacondenação geral dos processos naturais da existência, como o envelhecer, por exemplo.Enfim, excluem-se as possibilidades que pertencem ao viver.” Evita-se ao máximo vivenciarexperiências que possam trazer o imprevisível, o inseguro ou o sofrimento – como o amor e aentrega, por falar nisso.

O resultado? Ficamos cada vez mais hesitantes em experimentar verdadeiramente o saborda vida, com suas disparidades, imprevisibilidades, erros e acertos, bobagens assumidas enão assumidas. Ao optar pelo controle que vem atrelado ao desejo de perfeição, perdemoscada vez mais o aprendizado e o encanto dos enganos que a existência pode nos oferecer.

Mas vem aí uma boa notícia: uma vigorosa contracorrente a esse tipo de pensamento já estápresente há uns 30, 40 anos na sociedade. “Ela questiona e rejeita essa configuração deestilos de vida rigidamente perfeitos. Propõe um modo de viver mais respeitoso àsparticularidades do indivíduo e a nossa integração com a natureza. Emergem novos tipos devalores que se distanciam do modelo da perfeição e falam de novas posturas que incorporamconceitos como o desapego e a noção de impermanência, por exemplo. A sociedade deconsumo não é mais o padrão ideal.” 

Há igualmente uma recusa em usar um único parâmetro de beleza ou daquilo que seconvenciona chamar de sucesso ou de felicidade. Essa nova atitude começa com o respeitoao próprio corpo. “Tomar conta da configuração de si é um ato político”, afirma Regina Favre. Ser responsável pela própria saúde, pelos alimentos que consumimos, pelos ritmos internos enecessidades pessoais é uma nova posição de vida, mais consciente e individualizada, e nãomais só coletiva e imposta.

Ainda bem. Não deixa de ser um grande alívio constatar que fazemos parte desse outromovimento e que há uma benvinda transição em curso.

E começa a revoluçãoSe há uma pessoa que sempre observou, com perfurantes críticas,

o que nos é proposto pela família, cultura, sociedade e também pelo mercantilismo, essealguém é José Ângelo Gaiarsa. Psiquiatra, trouxe questionamentos profundos, expressos em

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vários livros, sobre nosso modo de viver, nossas escolhas e padrões de comportamento.Conhecedor da fisiologia do corpo humano, em especial do cérebro, coloca em dúvida nossacapacidade de fazer julgamentos justos sobre os parâmetros que usamos ao avaliar aperfeição. Isto é, estalamos nosso chicotinho à toa quando decidimos que não somosperfeitos e que isso é suficiente para nos condenar à desgraça. “Estamos submersos em ummundo de palavras e conceitos que não têm valor real e que só nos trazem infelicidade”, diz o

doutor Gaiarsa. Para ele, a maioria dos nossos julgamentos não resiste a um simples examede lógica: são superficiais, enganosos e altamente falhos. Em outras palavras, nossasconclusões sobre o que é ou não é perfeito não são nada confiáveis. “Não temos condição denos julgar, ou de nos condenar, com isenção. Tenho alergia a palavras como ideias,conceitos, julgamentos que não dizem nada e só aumentam a nossa confusão. Já o corponão mente jamais”, diz ele, que, com 90 anos, continua com o raciocínio tão rápido quanto ode um adolescente.

Segundo Gaiarsa, a grande revolução começa ao sentirmos mais o corpo, ao termos umcontato mais profundo e próximo com ele. Isso significa respirar melhor, movimentar- se maislivremente e de forma não repetitiva, experimentar toda a gama de sensações que ossentidos podem nos oferecer. O sentimento de vitalidade, autonomia, autoapreciação e bem-

estar experimentado na posse do próprio corpo pode nos tornar menos vulneráveis a modelosexternos e a comparações.

Com esse conhecimento, abre-se o espaço para o nascimento de uma nova consciência,mais independente e autônoma. E Gaiarsa explica como e por quê. Segundo pesquisasrecentes feitas por ele, os três cérebros – reptílico, límbico e cortical – que constituem nossosistema cerebral, e que foram se formando ao longo de nossa evolução peixe-anfíbio-mamífero, se alimentam do oxigênio de forma diferente. O cérebro reptílico, como o dospróprios répteis, consome muito pouco oxigênio; o límbico, responsável por nossas emoções,também. É o neocórtex cerebral, o mais recente em termos evolucionários e também oresponsável por nossa capacidade de pensar, avaliar ou julgar, que consome mais oxigêniodos três. “Isso significa que, ao respirarmos mais profundamente, o córtex se ilumina: oraciocínio torna-se claro, as conexões cerebrais se ampliam”z, afirma. É como trazer gasolinaazul para nossa capacidade de pensar. E a conclusão de Gaiarsa é espantosa. “Serespiramos mal, estamos alimentando apenas nossos cérebros mais primitivos. Ficamosreféns do medo e da agressividade, reações básicas do mecanismo de sobrevivênciaassociadas ao cérebro reptílico, e das emoções negativas geradas no límbico, como inveja,medo, competição.” Ora, são essas as emoções que nos colocam a serviço de modelosimpostos pela sociedade. É por competitividade que lutamos por um suposto território, é porinveja que consumimos. E somente a consciência, formada no neocórtex cerebral, pode noslivrar disso. “Não temos ideia de como a simples respiração pode nos ajudar a noslibertarmos dessas emoções e do domínio que elas nos impõem”, diz limpidamente opesquisador.

Juro que nunca tinha pensado nisso. Respirar melhor traz mais clareza de raciocínio:

podemos ver mais nitidamente onde estamos amarrando nosso burro. E, com isso, talvezpossamos enxergar melhor os esquemas furadíssimos em que às vezes nos metemos. Sópor essa descoberta, o doutor Gaiarsa já merecia um beijo.

Diagnósticos por coresOutras áreas da medicina também estão procurando sair domundo dos conceitos e dos modelos rígidos preestabelecidos. Na Unifesp, em São Paulo,mais precisamente no Centro de Estudos do Envelhecimento, os diagnósticos, realizados poruma equipe transdisciplinar que inclui várias especialidades, são feitos por cores. Cadaprofissional faz sua avaliação, de acordo com sua especialidade, e a expressa usando giz decera colorido. Depois, os participantes trocam entre si os papéis onde usaram os tonscoloridos para tentar chegar a um padrão de avaliação e a um diagnóstico comum. Ossignificados atribuídos às cores seguem os padrões elaborados pelo escritor alemão Goethe,

no século 19, e que ainda hoje são utilizados pela medicina antroposófica, por exemplo. Aideia tanto serve para ultrapassar as discussões intermináveis, onde cada um usava a

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linguagem específica da sua área e que não era comum a todos, como emprega um outrohemifério cerebral, o direito, para elaborar um diagnóstico.

Isso não quer dizer que o hemisfério cerebral esquerdo, responsável por lógica, comparaçãoe raciocínio, não seja importante e não vá ser usado em etapas posteriores. É quesimplesmente não está com essa bola toda que atribuímos a ele. “É uma avaliação mais

completa”, afirma o médico homeopata Fernando Bignardi, responsável por esse centro deestudos e pesquisas da Unifesp.

As avaliações do paciente também incorporam o modelo quântico trazido pelo físico indianoAmit Goswami: o protocolo terapêutico vai levar em conta o homem em sua dimensão física,metabólica, vital, mental (incluindo a parte emocional e psicológica) e supramental (espiritual).Nada de modelos unidimensionais e unirreferenciais. A meditação é fortemente incentivadaentre os pacientes, justamente para que possa ser facilitada a liberação de padrões rígidos depensamento e, com isso, de comportamento. Inclusive vários estudos foram realizados sobreesses efeitos na população mais idosa. A perfeição não é mais a única meta, mas oequilíbrio, a harmonia e o bem-estar.

Sinal de que o mundo está mudando mesmo. Até em áreas anteriormente tão resistentes aoutros saberes quanto a medicina.

Quando vale a penaDepois que limpamos bem esse terreno, já é possível ver quegeralmente usamos o desejo de perfeição da forma errada, por motivos fúteis, e para atendernecessidades estimuladas por uma estrutura mercadológica de consumo. Mas depois de vertudo isso, agora sim, podemos dizer que esse desejo também tem a sua utilidade. Osgrandes gênios da humanidade se alimentaram dele: Michelangelo, Da Vinci, Einstein. Masessa dedicação completa à perfeição estava a serviço da arte, da ciência e, para resumir ahistória, da humanidade. Eles podem ter estropiado sua vida pessoal por isso, inclusive.Também nada garante que fossem mais felizes ou realizados atendendo a esse chamado.Mas a verdade é que, em vez de procurarem unicamente sua felicidade individual, colocaram

suas aptidões e talentos a serviço de algo maior, às vezes em detrimento de sua saúde,sanidade ou realização afetiva. Almejar a perfeição, portanto, pode nos levar a grandesrealizações e feitos, a um aperfeiçoamento constante, até a obtenção de uma qualidadeexemplar. Mas por vezes o preço é alto.

“Sede perfeitos, como o vosso Pai do céu é perfeito”, nos diz o evangelho. E onde o Criador seria perfeito? “Na generosidade”, continua o evangelista Mateus. Para mim é uma grandesupresa essa segunda colocação: quase nunca ninguém lembra que tipo de perfeição nos épedida. É um simpático motorista de táxi que me faz recordar isso quando digo a ele queestou escrevendo uma matéria sobre o tema.

Em vez de apresentar um modelo rígido e acabado de perfeição, sucesso e beleza, aspalavras de Cristo propõem, ao contrário, um exercício de humanidade, naquilo que o serhumano tem de melhor: sua capacidade de amar, perdoar, ter compaixão e praticar agenerosidade – inclusive consigo mesmo, no caso de erro e falta. Por isso, o desejo deperfeição não é, por si só, ruim. Não se encarado dessa maneira generosa. Nossa grandequestão é, e sempre vai ser, onde vamos colocar esse desejo.

Fonte: http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/095/grandes_temas/mania-perfeccionismo-

578428.shtml