“É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”....

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Page 2: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

““É indigno de um homem não saber se É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do defender pela palavra, a arma própria do homem”homem”.. AristótelesAristóteles

““A prática do Direito consiste de modo A prática do Direito consiste de modo muito fundamental em argumentar”.muito fundamental em argumentar”.

Manuel AtienzaManuel Atienza

Page 3: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

O Direito é Lógica ou Retórica?O Direito é Lógica ou Retórica?

É demonstração ou argumentação?É demonstração ou argumentação?

Page 4: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

I. RetóricaI. Retórica

Segundo Olivier Reboul: Segundo Olivier Reboul: Retórica é a arte de persuadir pelo Retórica é a arte de persuadir pelo

discursodiscurso..

Page 5: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

A retórica aplica-se aos A retórica aplica-se aos discursos persuasivos:discursos persuasivos:

sermão;sermão; cartaz publicidade;cartaz publicidade; panfleto;panfleto; alocução política;alocução política; propaganda;propaganda; defesa em um júri etcdefesa em um júri etc

Page 6: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

Meios persuasivosMeios persuasivos RacionaisRacionais:: raciocínio silogístico ( raciocínio silogístico (entimemaentimema);); Trata-se de um argumento no qual uma ou mais Trata-se de um argumento no qual uma ou mais

proposições estão subentendidas. proposições estão subentendidas. Por exemplo :Por exemplo : Todo metal é corpoTodo metal é corpo ,[o chumbo é metal] ,[o chumbo é metal] logo o chumbo é corpo. logo o chumbo é corpo. Mais um exemplo :Mais um exemplo : Todo quadrúpede tem 4 patas. Todo quadrúpede tem 4 patas. [o cavalo é um quadrúpede][o cavalo é um quadrúpede] Logo, um Logo, um

cavalo tem 4 patas. cavalo tem 4 patas.

Page 7: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

Meios persuasivosMeios persuasivos 1 Logos1 Logos – – argumentação baseada nos argumentação baseada nos

argumentos propriamente ditos;argumentos propriamente ditos; obtém-se a persuasão através de argumentos obtém-se a persuasão através de argumentos

que levam o auditório a acreditar que a que levam o auditório a acreditar que a perspectiva do orador é correta;perspectiva do orador é correta;

a argumentação deverá ser bem clara e a argumentação deverá ser bem clara e compreensível.compreensível.

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Meios persuasivosMeios persuasivos

1 Logos1 Logos O mercúrio não é sólido.O mercúrio não é sólido.(premissa maior)(premissa maior) O mercúrio é um metal. O mercúrio é um metal. (premissa menor)(premissa menor) Logo algum metal não é sólido.Logo algum metal não é sólido.(conclusão)(conclusão)

Page 9: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

SilogismoSilogismoRaciocínio Lógico (A = B e B = C, Raciocínio Lógico (A = B e B = C,

então A = C)então A = C)

A A GréciaGrécia é governada por Atenas. é governada por Atenas.Atenas é governada por mim.Atenas é governada por mim.Eu sou governado por minha mulher.Eu sou governado por minha mulher.Minha mulher é governada por Minha mulher é governada por meu filho, criança meu filho, criança de 10 anosde 10 anos..Logo, a Logo, a GréciaGrécia é governada por esta é governada por esta criança de 10 criança de 10 anosanos..

Temístocles (General Ateniense)Temístocles (General Ateniense)

Page 10: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

Meios persuasivosMeios persuasivos 2 Afetivos2 Afetivos:: 2.1 Ethos2.1 Ethos – – argumentação baseada no argumentação baseada no

caráter do oradorcaráter do orador;; argumentação centrada na pessoa do orador;argumentação centrada na pessoa do orador; argumentação baseada no argumentação baseada no ethosethos ocorre ocorre

quando o próprio discurso causa no quando o próprio discurso causa no auditório a impressão de que o orador é auditório a impressão de que o orador é digno de confiança.digno de confiança.

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Meios persuasivosMeios persuasivos 2 Afetivos 2 Afetivos

2.1 Ethos2.1 Ethos 1.o tema de nosso governo será: nada contra a estabilidade, 1.o tema de nosso governo será: nada contra a estabilidade,

tudo contra a desigualdade. Tudo a favor do progresso para tudo contra a desigualdade. Tudo a favor do progresso para todos. todos.

2.(...) quando saneamos as finanças e recolocamos o Estado 2.(...) quando saneamos as finanças e recolocamos o Estado no rumo do desenvolvimento econômico e social. no rumo do desenvolvimento econômico e social.

3. Não hesitaremos em buscar o diálogo com outros partidos. 3. Não hesitaremos em buscar o diálogo com outros partidos. 4. Podemos dizer que foram muitos os brasileiros que tiveram 4. Podemos dizer que foram muitos os brasileiros que tiveram

a esperança de acabar com a inflação. a esperança de acabar com a inflação. (José Serra, 2002(José Serra, 2002

Page 12: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

Meios persuasivosMeios persuasivos 2 Afetivos2 Afetivos:: 2.2 Pathos2.2 Pathos – – argumentação baseada no argumentação baseada no

estado emocional do auditório;estado emocional do auditório; discurso apela aos sentimentos e emoções discurso apela aos sentimentos e emoções

dos ouvintes, impressionando-os;dos ouvintes, impressionando-os; Mesmo oradores com bons argumentos Mesmo oradores com bons argumentos

podem ter que se apoiar nas emoções do podem ter que se apoiar nas emoções do auditório para suscitar adesão.auditório para suscitar adesão.

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Meios persuasivosMeios persuasivos 2 Afetivos 2 Afetivos

2.2 Pathos2.2 Pathos Um político que na campanha eleitoral usa Um político que na campanha eleitoral usa

uma linguagem emotiva e privilegia temas uma linguagem emotiva e privilegia temas que despertam emoções fortes em muitas que despertam emoções fortes em muitas pessoas (como por exemplo a criminalidade pessoas (como por exemplo a criminalidade e a insegurança), tenta persuadir os eleitores e a insegurança), tenta persuadir os eleitores baseando-se no estado emocional destes. baseando-se no estado emocional destes.

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O discurso persuasivo O discurso persuasivo comporta:comporta:

Aspecto argumentativo; Aspecto oratório: gestos, tom de voz,

ornato: figuras de linguagem, metáfora, hipérbole, antítese etc.

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Funções da Retórica Funções da Retórica Segundo Reboul Segundo Reboul

1.Persuasiva1.Persuasiva: argumentação e oratória;: argumentação e oratória; 22..Função hermenêuticaFunção hermenêutica: “arte de interpretar : “arte de interpretar

textos”.textos”. O orador deve compreender seu O orador deve compreender seu interlocutor e fazer-se compreendido.interlocutor e fazer-se compreendido.

3.Função heurística3.Função heurística: do verbo : do verbo euro, eurekaeuro, eureka, , encontrarencontrar

- função de descoberta;- função de descoberta; - fornecer elementos para uma decisão possível- fornecer elementos para uma decisão possível 4.Função pedagógica4.Função pedagógica: a busca de adesão do : a busca de adesão do

auditório envolve uma aprendizagem.auditório envolve uma aprendizagem.

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“O bom advogado não é aquele que promete a vitória a qualquer custo, mas aquele que abre para a sua causa todas

as probabilidades de vitória.” Aristóteles

Dialética – “não é moral, nem imoral, simplesmente porque no fundo, ela é um jogo. Num jogo o problema é ganhar (...) respeitando as regras da lógica”. Reboul

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II. Três gêneros do discursoII. Três gêneros do discurso

JudiciárioJudiciário: acusa/defende: acusa/defende

DeliberativoDeliberativo (ou político): aconselha ou (ou político): aconselha ou desaconselhadesaconselha

EpidícticoEpidíctico: louva, censura, elogio, : louva, censura, elogio, censura pública.censura pública.

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Estrutura do DiscursoEstrutura do Discurso

Introdução:Introdução:

Exórdio: início do discursoExórdio: início do discurso função essencialmente fáticafunção essencialmente fática objetiva tornar o auditório dócil, atento e objetiva tornar o auditório dócil, atento e

benevolente;benevolente; exposição clara, breve da questão a ser tratada;exposição clara, breve da questão a ser tratada;

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Estrutura do DiscursoEstrutura do Discurso DesenvolvimentoDesenvolvimento:: 11.Narração dos fatos referentes à causa,.Narração dos fatos referentes à causa, exposição das ideias;exposição das ideias; - exige-se clareza, brevidade;- exige-se clareza, brevidade; - ordem cronológica ou psicológica (flashback);- ordem cronológica ou psicológica (flashback); - prevalece o - prevalece o logoslogos sobre o sobre o pathospathos e o ethos e o ethos;; 22.Confirmação ou apresentação do conjunto de .Confirmação ou apresentação do conjunto de provas seguido por uma refutação que destróiprovas seguido por uma refutação que destrói os argumentos adversários;os argumentos adversários; - argumentos fortes, fracos, retorno aos fortes;- argumentos fortes, fracos, retorno aos fortes;

Page 20: “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra, a arma própria do homem”. Aristóteles “É indigno de um homem não saber se defender pela palavra,

Qualidade da ArgumentaçãoQualidade da Argumentação correção;correção; estilo;estilo; clareza;clareza; exclusão de preciosismos;exclusão de preciosismos; adaptação do estilo ao auditório;adaptação do estilo ao auditório; brevidade;brevidade; uso moderado de figuras de linguagem;uso moderado de figuras de linguagem; saber fazer entender-se e fazer-se saber fazer entender-se e fazer-se

saborear. saborear. (Reboul)(Reboul)

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Aristóteles considera quatro Aristóteles considera quatro tipos de raciocíniotipos de raciocínio

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1.Silogismo1.Silogismo consiste na argumentação na consiste na argumentação na qual, de um antecedente que une dois termos a umqual, de um antecedente que une dois termos a um terceiro, infere-se um consequente esses doisterceiro, infere-se um consequente esses dois termos entre si. (termos entre si. (Othon M. GarciaOthon M. Garcia)) - busca a causa- busca a causa - baseia-se numa causa que une o sujeito ao- baseia-se numa causa que une o sujeito ao predicado da problemática;predicado da problemática; - é o raciocínio mais rigoroso e o mais- é o raciocínio mais rigoroso e o mais demonstrativo;demonstrativo; - raciocínio - raciocínio a prioria priori: da causa para o efeito.: da causa para o efeito. Estrutura do SilogismoEstrutura do Silogismo - Premissa maior: Todo homem é mortal- Premissa maior: Todo homem é mortal - Premissa menor: Sócrates é homem- Premissa menor: Sócrates é homem - Conclusão: Logo, Sócrates é mortal- Conclusão: Logo, Sócrates é mortal

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O silogismo serve à lógica formalO silogismo serve à lógica formal Falácias- raciocínio vicioso ou falaciosoFalácias- raciocínio vicioso ou falacioso

2.Indução2.Indução – – parte-se da observação e parte-se da observação e análise dos fatos concretos e específicos, análise dos fatos concretos e específicos, para chegar a uma conclusão, ou seja, para chegar a uma conclusão, ou seja, casos singulares e individuais e eleva-se casos singulares e individuais e eleva-se ao universal;ao universal;

- é utilizado nas ciências experimentais;- é utilizado nas ciências experimentais; - raciocino - raciocino a posteriori;a posteriori;

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3.Entimema3.Entimema –não expõe uma das –não expõe uma das premissas, deixando-a subtendida.premissas, deixando-a subtendida.

CaracterísticasCaracterísticas – João Maurício – João Maurício AdeodatoAdeodato

silogismo retórico;silogismo retórico; formalmente ou logicamente imperfeitos;formalmente ou logicamente imperfeitos; são pragmaticamente úteis se o objetivo é são pragmaticamente úteis se o objetivo é

persuadir,sem as exigências da coerência lógica;persuadir,sem as exigências da coerência lógica; formulação encurtada;formulação encurtada; silencia sobre aquilo que é;silencia sobre aquilo que é;

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Ex:Ex: “O sinal de que o computador não é “O sinal de que o computador não éinteligente é que ele é incapaz de mentir”inteligente é que ele é incapaz de mentir”

4.Analogia4.Analogia – – por similitude ou por exemplopor similitude ou por exemplo - baseia-se na similitude de duas realidades - baseia-se na similitude de duas realidades

ou de dois conceitos para concluir;ou de dois conceitos para concluir; - dirige mais à afetividade do que à razão.- dirige mais à afetividade do que à razão.

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Características do Texto Características do Texto Argumentativo Argumentativo

Toda argumentação é parcial explícita;Toda argumentação é parcial explícita; Procura-se adesão;Procura-se adesão; Todos os argumentos articulados têm porTodos os argumentos articulados têm por fim indisfarçável a defesa de interesses;fim indisfarçável a defesa de interesses; Constitui-se de tese ou teses jurídicas;Constitui-se de tese ou teses jurídicas; Ocorre no processo de forma oral ou escrita;Ocorre no processo de forma oral ou escrita; Texto temático: ideias e conceitos;Texto temático: ideias e conceitos; Não comprova uma tese totalmente.Não comprova uma tese totalmente.