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E SE FOI PRO BELELÉU Já chego me apresentando Sem demora ou confusão, Pois o tempo passa rápido Sem nos dar explicação, Tendo coisa nesta vida Que, se uma vez perdida, Não há recuperação. Sou um sujeito sadio, Que nunca fica doente, Nunca fui ao hospital, Não passo sequer na frente, Ou na porta deste prédio. Jamais tomei um remédio, Por isso vivo contente. Não conheço dor de dente, Nem do tempo de criança. Passar mal ou ter tontura, Se tive, estou sem lembrança. Mas tenho boa memória, Por isso esta minha história É digna de confiança. Mas como eu cheguei dizendo, O tempo é muito apressado E tem coisas nesta vida Que deve ser bem guardado, Pois depois que vai embora, Ou mesmo se joga fora, Jamais é recuperado. Não dar para esquecer

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Page 1: E SE FOI PRO BELELÉU.docx

E SE FOI PRO BELELÉU

Já chego me apresentandoSem demora ou confusão,Pois o tempo passa rápidoSem nos dar explicação,Tendo coisa nesta vidaQue, se uma vez perdida,Não há recuperação.

Sou um sujeito sadio,Que nunca fica doente,Nunca fui ao hospital,Não passo sequer na frente,Ou na porta deste prédio.Jamais tomei um remédio,Por isso vivo contente.

Não conheço dor de dente,Nem do tempo de criança.Passar mal ou ter tontura,Se tive, estou sem lembrança.Mas tenho boa memória,Por isso esta minha históriaÉ digna de confiança.

Mas como eu cheguei dizendo,O tempo é muito apressadoE tem coisas nesta vidaQue deve ser bem guardado,Pois depois que vai embora,Ou mesmo se joga fora,Jamais é recuperado.

Não dar para esquecerQuando a coisa é muito boa,Fica firme na memória,Não se despreza à toa.Ficará sempre na menteE é assim, minha gente,Que vive a minha pessoa.

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Só uma coisa eu lamentoDesta vida bem vivida,Pois, com o passar do tempo,Uma coisa foi perdida.Ou seja, a minha visãoTeve a diminuição,Pelos caminhos da vida.

Isto só veio surgirQuando passei dos quarenta,Como muitos que conheçoE que comigo comenta,Então não fui pessimista,Consultei um oculistaMuito antes dos cinquenta.

Mas primeiro vou contarComo foi que entendiQue estava vendo menosE só assim descobriA minha deficiência,Que causa a dependênciaDe algo que conheci.

Conheci numa barraca,Uns óculos bem coloridos,Os danados pareciamJá serem meus pretendidos.Foi no meio de uma feiraE naquela brincadeira,Comprei os dois escolhidos.

Com o primeiro escolhidoMudei logo a visão.Ajeitei-o bem no rostoE falei com o cidadão:- Quero a água deste coco.Daí eu passei sufoco,Pois aquilo era um limão.

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O bicho era de grau,E de grau exagerado,Ao ponto de um limãoTer seu tamanho aumentadoA um tamanho enorme,Que a meu ver foi conformeUm coco verde encascado.

Eu saí envergonhado,Sem ter muito o que falar,Porque naquele momentoEu não pude me quebrarDo negócio que comprei,Os óculos que lhe falei.Daí, tive que levar.

Levei-os pra uma caçadaLá pras bandas do sertão.Nos tempos que permitiamEste tipo de ação.Lá, matei um beija flor,Pois sou bom atirador,Em vez de um gavião.

Mirei, apertei o dedoE o gavião caiu.Depressa tirei os óculos,Quando o peneiro subiu.Fui procurar, não achei,Aí me desesperei,Pois o gavião sumiu.

O mato era bem aberto,Não dava pra entenderComo um bicho tão grandeHavia de se perder.Pus os óculos novamente,Aí eu vi de repenteO bichão aparecer.

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Ajoelhei e peguei,Pondo-o na palma da mão,Só neste instante entendiToda aquela confusão.Foi o grau transformador,Quem cresceu o beija florIgual a um gavião.

Só a partir de entãoResolvi ir procurarUm oftalmologistaQue pudesse me curar,Mas veio a decepção,Porque a minha visãoNão podia mais voltar.

O oculista me disseQue a gente ia marcarOs exames de rotina,Mas era certo eu usarÓculos para ver de pertoE se eu fosse esperto,Logo ia acostumar.

Fizemos tudo certinho,Comprei lente e armação.Agora, sim, foi legal,Existindo adequação.Acabou-se o problema,Parecia um cinemaA minha nova visão.

Mas um problema surgiu,Mesmo não sendo constante.O danado incomodavaE ficou muito irritante.Como eu não via de perto,Sendo um sujeito esperto,Tirava pra ver distante.

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Eu usava controlado,Como é possível entender.Por exemplo, eu botavaPara ler e escrever,Mas se ia passearNão precisava usar,Pois longe eu podia ver.

No dia que fui à praia,Esse de grau não levei.Botei os óculos de sol,Mas aí me atrapalhei.Estava me divertindo,Tomando uma e sorrindo,Foi assim que me ferrei.

De repente uma mensagemChegou ao meu celular.Tentei ler, não consegui,Nem deu para advinhar.Não sabia de quem era,Mas era de uma paqueraQue eu estava a conquistar.

Vi o vulto da mensagemQue, de forma tentadora,Estava lá no visor,Parecendo sedutora.Eu, inocente e na boa,Disse pra minha patroa:- Vê se é da operadora.

Ela disse: - operadora,Seu cachorro descarado!?É uma das suas putas,Com quem você tem andado.Eu tentei amenizarO problema e controlar,Mesmo estando enrolado.

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Eu lhe disse: - meu amor,Você acha que eu iaEntregar-te uma mensagemSe fosse de uma vadia.Não passa de um engano,Eu não sou nenhum mundano.Tu és a minha alegria.

Ainda bem que não tenhoProblema de dicção.Parece que convenciE encerrei a questão.Sai da crise adversa,Porque sou bom de conversa,Só não sou bom da visão.

Resolvido este problema,De forma sensacional,Vou contar bem rapidinhoOutro que eu me dei mal.Depois de uma confusão,Causada pela visão,Fui parar no hospital.

Foi esta a primeira vezQue estive num hospital,Só porque não usei óculosNuma tarefa banal.Na hora que fui botarO meu protetor solar:Passei, foi, creme dental.

Confundi a embalagem,Não percebi nada errado.Passei pelo corpo inteiro,Saí todo refrescado,Depois veio a agonia,Queimava muito e ardiaE eu fiquei todo assado.

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A partir do acontecido,Ando tomando cuidado.Só decido alguma coisaSe estiver equipadoCom meus óculos companheiro,Eternamente parceiro,Que não sai mais do meu lado.

Afirmo para encerrar:Óculos é o meu troféu.Ganhei e não largo ele,Nem que eu vá para o céu.E a minha reclamaçãoVai pra parte da visão,Que se foi pro BELELÉU.

FIM

Paulo Gracino21/09/2014