eca: uma possibilidade na construÇÃo da …...estatuto da criança e do adolescente. vale lembrar...

19

Upload: others

Post on 15-Jul-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas
Page 2: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

DECKERT, Marlene R.1

PRIORI, Claudia (Orientadora)2

RESUMO: Este artigo apresenta como tema a relação entre os alunos do primeiro ano do ensino médio do Colégio Estadual 14 de Dezembro – EFM, do município de Peabiru – Pr com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), tendo em vista seus direitos e deveres. O objetivo desta pesquisa consiste em verificar a concepção de adolescentes sobre seus direitos e deveres, enquanto cidadãos. Como linha teórica, optamos pela História Cultural da terceira geração dos Annales, sob a perspectiva de Philippe Ariès (2010), além de outros autores que discutem sobre o ECA e o exercício da cidadania, tais como Ferreira (2010), Lodi e Araújo (2007). A metodologia de pesquisa apóia-se na pesquisa-ação, uma vez que por meio da intervenção didático-pedagógica busca-se dar voz e vez aos participantes da pesquisa. A coleta de corpus documental foi realizada através da elaboração de um questionário e de roteiro de atividades aplicadas no projeto de intervenção. Concluiu-se que, a maior parte dos adolescentes conhece o ECA, mas não por meio da escola, e sim por outras fontes de informação.

Palavras-chave: ECA. Cidadania. Direitos. Deveres.

1 Introdução

A aprendizagem histórica está diretamente articulada ao modo de se

compreender o passado, como também o tempo presente. A criança, inserida em

seu contexto familiar e social, tem sido alvo de atenções em relação às

necessidades específicas de sua idade. Isso é muito recente na história da

humanidade, pois em séculos anteriores a criança foi vista como um adulto em

miniatura, passando diretamente ao período da vida adulta sem o intermédio da

adolescência.

A criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)3 ao garantir direitos

e deveres, proporcionou um avanço no exercício da cidadania aos menores de 18

anos. Tendo isso como base, nossa pesquisa investigou os níveis de conhecimento

que os adolescentes - que cursam o ensino médio no Colégio Estadual 14 de

Dezembro – EFM de Peabiru – Pr – têm do ECA e se os mesmos possuem ciência

1 Licenciada em História – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Curitiba. Especialização em Magistério de 1º e 2º Graus/ Formação de Professores – Faculdade de Ciências Humanas e Sociais de Curitiba. E-mail [email protected] Professora Adjunta do Departamento de Ciências Sociais, da Universidade Estadual do Paraná, campus de Campo Mourão.3 A partir desse ponto, será utilizada no texto, a sigla ECA para nos referirmos ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

Page 3: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

de seus direitos e deveres perante à sociedade em que vivem, bem como aos

pontos de vulnerabilidade que estão sujeitos.

Embora a experiência docente da pesquisadora aponte que os alunos

demonstram ter mais consciência de seus direitos do que seus deveres,

defendemos a concepção de que para efetivar o exercício da cidadania é preciso

que os jovens conheçam seus direitos, mas que isso também implica no exercício de

deveres.

Esta pesquisa teve como objetivo verificar e analisar a relação que os alunos

do ensino médio têm com o ECA, principalmente em relação aos direitos e deveres,

enquanto cidadãos. Além disso, procuramos abordar se já haviam conhecido o

Estatuto na escola, e também discutimos a importância do mesmo como um canal

do exercício da cidadania na sociedade.

2- Embasamento teórico

A criação da revista Annales em 1929, no âmbito da historiografia, e

publicada em quatro títulos, contou inicialmente com a presença de historiadores

como Lucien Febvre, Marc Bloch, Fernand Braudel, Georges Duby, Jacques Le Goff

e Emmanuel Le Roy Ladurie. O objetivo do grupo era propor uma nova história,

entusiasmando leitores e seguidores na França e em outros países. Esse

movimento foi dividido em três fases: a primeira geração, marcada pelo rompimento

com a visão tradicional de história (1920-45); a segunda foi caracterizada pela

construção de um método investigativo no período do pós-segunda guerra, e após

1968, a terceira geração foi marcada pela fragmentação e fusão com a cultura

(BURKE, 1997).

Essa nova visão historiográfica também foi denominada de Nova História,

quando se tornou mais popular durante as décadas de 1970 e 80, marcando a

terceira fase do movimento, envolvendo historiadores da Ásia, América Latina, Índia

e outros lugares, embora esse termo já tivesse surgido em publicações de 1912

(BURKE, 1992).

Dentre as contribuições do grupo dos Annales, uma delas foi deixar a

narrativa de acontecimentos por história-problema, tratar da história de todas as

atividades humanas para além da política, e também a interdisciplinaridade, ou seja,

Page 4: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

o diálogo com outras disciplinas, como a geografia, a sociologia, a psicologia, a

economia, a linguística, antropologia social, dentre outras (BURKE, 1997).

A abordagem histórica proposta pelo grupo dos Annales rompe com diversos

pontos da história tradicional. A primeira desconstrução, diz respeito à tese de que a

história é essencialmente política, o que marginalizava a história da arte ou a história

da ciência, por exemplo, pois eram consideradas periféricas aos “verdadeiros”

interesses dos historiadores. Temas como a história da loucura, da infância, da

morte, do clima, do corpo, dos gestos, da leitura, da feminilidade surgiram como

temas muito caros dos historiadores nos últimos 30 anos. Em outras palavras, o que

era considerado imutável, passa a ser entendido como uma “construção cultural”

sujeita a variações tanto no tempo, quanto no espaço (Burke, 1992).

Sob essa visão contemporânea, a história não é mais limitada à narrativa dos

acontecimentos, mas aborda as estruturas (BURKE, 1992). Os diversos grupos

sociais passam a serem investigados no processo de construção histórica, que não

é mais centrada nos feitos dos grandes estadistas no processo de construção

histórica, que não é mais centrada nos feitos dos grandes estadistas, generais e

eclesiásticos. As experiências sociais e culturais de sujeitos comuns se tornam o

alvo de maior interesse dos historiadores (BURKE, 1992).

A ampliação da noção de fontes históricas também foi uma das grandes

contribuições, tais como dados estatísticos, comerciais, populacionais, e não mais

apenas documentos oficiais, pois deve haver o maior uso de evidências, sejam

visuais ou orais, acarretando um caráter qualitativo. Porém, surge a compreensão de

que a história não é objetiva, mas sim subjetiva, uma vez que a própria escrita da

história e a construção de dados é vista sobre um olhar particular do historiador

(BURKE, 1992).

Nessa ótica da Nova História e da abordagem cultural, o historiador e

demógrafo Philippe Ariès, rejeitando a perspectiva quantitativa, direcionou seus

interesses para o sentimento da infância, buscando perceber como são suas

construções culturais.

Para Ariès, a ideia ou o sentimento da infância, não existia na Idade Média.

Segundo o autor, essa concepção foi descoberta no século XVII na França, pois

antes disso, as crianças eram vistas como adultos em miniatura. (BURKE, 1997).

No que diz respeito às fases da vida humana, o autor afirma que durante o

século XVI surgem os retratos de família e uma referência à idade, atuando como

Page 5: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

um documento da história familiar. Nesse século, a criança já sabia sua idade. Havia

também períodos bem marcados quanto ao percurso da vida humana, ou seja, a

infância e a puerilidade (do nascimento até aos 7 anos), a adolescência (dos 8 até

aos 14 anos), a juventude (aos 28 anos, quando se insere o trabalho em sua vida,

até aos 50 anos) e a velhice (aos 50 anos até sua morte). Anteriormente ao século

XVI não havia um espaço para a adolescência, ou seja, o ser humano passava de

criança a jovem (ARIÈS, 2010).

No século XVII, a infância tinha seu fim marcado com a puberdade. Outra

característica perceptível ao longo dos anos é que em cada século houve uma fase

da vida favorita: no século XVII a fase da juventude; no século XIX a fase da infância

e no século XX a adolescência (ARIÈS, 2010).

Especificamente o destaque à adolescência surge durante o romantismo

alemão do século XVIII, em que o adolescente era visto em sua face vivaz, com

entusiasmo e alegria de viver, culminando com a figura do herói no século XX. Com

a Primeira Guerra Mundial, o adolescente estaria em frentes de movimentos

políticos e batalhas, sendo visto como a fase da revolução, do heroísmo (ARIÈS,

2010).

No que diz respeito à disciplina comportamental em âmbito escolar, Ariès

(2010) assinala que antes do século XV o estudante era inserido em grupos,

confrarias, associações e uma pessoa mais velha com certa “camaradagem”

regulava sua vida cotidiana, como se fosse uma moral. A partir do fim da Idade

Média, essa camaradagem cede lugar a uma preocupação com a imposição de

virtudes apregoadas pela Igreja caracterizada pela vigilância constante, delação

erigida em princípios do governo e ampla aplicação de castigos corporais. Não havia

uma distinção entre infância e adolescência para aplicação dos castigos e esses

também eram aplicados às crianças e jovens mais pobres, enquanto os filhos de

fidalgos escapavam dos castigos, denotando uma marcação social. Somente no

século XIX não houve mais a necessidade de humilhar a criança para educá-la, pois

neste período da história a punição não se localizava mais no corpo e sim no poder

disciplinador das vontades e desejos (ARIÈS, 2010).

No cenário brasileiro, Ferreira (2010) analisa os avanços acerca da educação,

garantidas pelas diferentes Constituições Federais que o Brasil teve. No período

imperial, a Constituição de 1824 - inspirada na Constituição francesa de 1814 e na

portuguesa de 1822 - instituiu que o ensino primário fosse gratuito, já que cerca de

Page 6: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

83% da população era analfabeta. A primeira constituição republicana, a de 1891,

sob inspiração norte-americana, não se referia aos direitos sociais. A Constituição

de 1934, inspirada na Constituição mexicana e na Constituição de Weimar teve

como característica principal a afirmação dos direitos sociais estabelecendo a

educação como um direito de todos devendo ser ministrada pela família e pelos

poderes públicos.

Durante o Estado Novo, a Constituição de 1937 foi marcada pela

obrigatoriedade do ensino cívico e à promoção pelo Estado da “disciplina moral e o

adestramento físico” do aluno preparando-o para defesa da nação. Com a volta da

democracia, a Constituição de 1946 preservou as inovações da Constituição de

1934, que fixou a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário.

No governo militar, a Constituição de 1967 estabelecia a educação como

direito de todos, mas de responsabilidade do lar e da escola, seja pública ou

particular. A Constituição de 1969 refletia o autoritarismo militar repetindo

disposições da constituição anterior, excluindo a “igualdade de oportunidades”, no

que se refere ao direito à educação (FERREIRA, 2010).

Com o processo de democratização, pós-regime militar, a Constituição de

1988, conhecida como “Constituição Cidadã”, realmente apontou para mudanças e

inovações. Há uma opção pelo Estado Social e Democrático de Direito, com

referência à cidadania, dignidade da pessoa, busca por uma sociedade livre, justa e

solidária com a redução das desigualdades sociais, deixando de ser um sistema de

normas positivistas para se transformar em um sistema de valores e princípios. A

educação torna-se um direito social juntamente com o direito à saúde, ao trabalho, à

moradia, ao lazer, à segurança, à previdência social, a proteção à maternidade, à

assistência aos desamparados e à infância. Tais direitos têm como objetivo corrigir

as desigualdades sociais (FERREIRA, 2010).

Nesse âmbito da “Constituição Cidadã”, fora criado, dois anos depois, o

Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da

infância e da juventude contava com iniciativas desde a década de 1920, como a

aprovação do Código de Mello Mattos de 1927. O código estabelecia que nenhum

menor de 14 anos, autor de crime ou contravenção penal seria submetido a

processo penal e, quanto ao maior de 14 e menor de 18 anos deveria ser submetido

a processo especial, com informações a respeito do seu estado físico, mental e

Page 7: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

moral. Houve a criação de escola de preservação, dirigida a meninas, e escola de

reforma, dirigida aos meninos (FERREIRA, 2010).

Após o Código Mello Mattos seguiram-se inúmeras leis que trataram de

matérias específicas ligadas à criança e ao adolescente, como, por exemplo, o

Código Penal de 1940, que deu nova regulamentação à responsabilidade penal do

menor; a Consolidação das Leis do Trabalho de 1943, que apresentou um novo

sistema jurídico sobre o trabalho do menor; o Decreto 3.779/41 que criou o serviço

de assistência a menores e a Lei número 4.513 que criou a Fundação Nacional de

Bem-Estar do Menor (FNBEM).

Em 1979 surge o novo Código dos Menores, o qual não apresentava uma

atuação preventiva à infração, mas uma forma de controle social da infância

desassistida, especificamente dirigido a menores infratores (FERREIRA, 2010).

O ECA, criado em 1990, substituiu o Código de Menores caracterizando-se

por conceber a criança e o adolescente como sujeitos de direitos não apenas

restringindo-se aos menores abandonados ou delinquentes. Trata-se de uma

legislação para a infância e a adolescência, em geral, em sua multiplicidade de

aspectos, que vão desde a assistência materno-infantil até ao acesso à justiça, à

educação, à saúde, à convivência familiar, ao lazer, à cultura, à profissionalização, à

proteção e ao trabalho. O ECA tem origem na Constituição de 1988, na qual as

crianças e adolescentes são considerados cidadãos passando a usufruir de todos os

direitos consagrados pela Lei Federal e que se aplicam aos menores de 18 anos,

sendo concebidos não mais como “menor”, mas sim criança cidadã e adolescente

cidadão.

O Estatuto foi a primeira lei a regulamentar os direitos sociais das crianças e

dos adolescentes, em relação à educação, conforme consta nos incisos do artigo 53:

Igualdade de condições para acesso e permanência na escola. Direito de ser respeitado por seus educadores. Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias escolares superiores. Direito de organização e participação em entidades estudantis. Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência (PARANÁ, 2008).

No que se refere à cidadania, isso implica não só o reconhecimento de

direitos, como também no cumprimento de suas obrigações, de seus deveres. Dos

direitos o aluno-cidadão tem ciência, porém, de seus deveres nem tanto. Portanto,

um dos papéis da escola centra-se na questão de contribuir para que o aluno-

cidadão tenha ciência de seus direitos e obrigações, sujeitando-se às normas legais

Page 8: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

e regimentais como parte de sua formação. Dentro desse contexto, crianças e

adolescentes devem ser encarados como sujeitos de direitos, mas também

passíveis de deveres, obrigações e proibições. Eis que um dos papéis dos

professores é tornar o aluno cônscio que além de direitos, também possuem

obrigações e deveres como qualquer cidadão.

Segundo o Dicionário Aurélio, o termo cidadão significa “indivíduo no gozo

dos direitos civis e políticos de um Estado” (FERREIRA, 2005, p. 234). E no que se

refere ao conceito específico de cidadania, Dallari (1998), complementa essa

perspectiva ao afirmar que:

A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social (DALLARI, 1998, p.14).

Nota-se nesses dois conceitos a pressuposição de que cidadania seja apenas

o exercício de direitos e não de deveres. Mas sabe-se que é condição principal para

atuação em sociedade, tendo em vista o exercício de direitos e pressupondo

também a prática de deveres e obrigações.

A partir da Constituição de 1988, houve um enfoque maior para a formação

de cidadãos, bem como para o exercício da cidadania como caminho para redução

das desigualdades e marginalização social, uma vez que todos são iguais perante a

lei, independente de raça, credo, religião, gênero, idade e condição social. Para

tanto, o saber, o acesso à informação, aos seus direitos e deveres, implica também

em poder.

Lodi e Araújo (2007) apresentam uma visão mais ampla do que é cidadania

na atualidade e sua relação com a instituição escolar. Concorda-se com as autoras

quando afirmam que:

Aprender a ser cidadão e a ser cidadã é, entre outras coisas, aprender a agir com respeito, solidariedade, responsabilidade, justiça, não-violência, aprender a usar o diálogo nas mais diferentes situações e comprometer-se com o que acontece na vida coletiva da comunidade e do país. Esses valores e essas atitudes precisam ser aprendidos e desenvolvidos pelos estudantes e, portanto, podem e devem ser ensinados na escola (LODI e ARAÚJO, 2007, p.69).

Outro quesito relacionado ao exercício da cidadania diz respeito à ética. Para

que os estudantes possam aprender e assumir os princípios éticos, são necessários

ainda dois fatores: a) que os princípios expressem em situações reais para que se

possa experimentar; b) e que haja um desenvolvimento de sua autonomia moral, ou

Page 9: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

seja, a capacidade de analisar e eleger valores para si, consciente e livremente.

Para a filosofia, ético é o campo que se preocupa com a reflexão sobre a moralidade

humana, portanto, ética e moral tem significados próximos. Em geral, referem-se ao

conjunto de princípios ou padrões de conduta que regulam as relações dos seres

humanos com o mundo em que vivem. O questionamento principal entre ética e

cidadania diz respeito ao limite entre a extensão do direito de uma pessoa e sua

interferência no direito de outra pessoa.

3 Coleta de dados e análise dos resultados

Quanto à metodologia, optamos pela pesquisa-ação, uma vez que seu

objetivo principal consiste em dar aos pesquisadores e aos grupos participantes os

meios possíveis de responder com maior eficiência aos problemas da situação em

que vivem. De modo particular, as diretrizes de ação transformadora e os

procedimentos a serem escolhidos devem obedecer a propriedades estabelecidas a

partir de um diagnóstico da situação na qual os participantes tenham voz e vez

(THIOLLENT, 1988).

Para tanto o projeto de intervenção pedagógica foi desenvolvido com

estudantes do primeiro ano do ensino médio do Colégio Estadual 14 de Dezembro –

EFM, do município de Peabiru – Pr. A coleta de registros foi realizada em quatro

fases: primeiramente, aplicamos um questionário, previamente elaborado; segundo,

realizamos discussão em sala de aula sobre o que é cidadania e sua importância; na

terceira fase, os alunos foram conduzidos ao laboratório de informática e

pesquisaram sobre cidadania, exemplos de ações cidadãs, fazendo uma redação

sobre o tema e por fim, foi trabalhado o ECA, em que alguns artigos foram

selecionados, lidos pelos alunos e discutidos em sala de aula.

Da aplicação do questionário, realizada no dia 14 de março de 2013, com a

finalidade de conhecer o perfil dos 14 alunos, nosso intuito foi levantar os dados

quanto ao gênero, idade, residência, composição familiar, renda familiar, bem como

aspectos socioculturais.

O grupo estava composto por 14 alunos participantes, 9 meninas e 5

meninos. Em relação à idade, 12 estavam na faixa etária entre 14 a 16 anos e 2

enquadravam-se na faixa etária de 17 a 21anos, sendo que todos frequentavam a

escola pública no primeiro ano do ensino médio. Em outras palavras, trata-se de

uma turma onde há predomínio do gênero feminino, na faixa etária de 14 a 16 anos.

Page 10: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

Quanto à composição familiar, 10 responderam residir com os pais, 1 apenas

com a mãe, 1 com outras pessoas e 2 não responderam. Sobre o grau de

escolaridade dos pais, 6 apontaram que os pais concluíram o ensino médio, 4

apenas até a oitava série do ensino fundamental, 2 até a quarta série inicial e 2 não

responderam. Os alunos foram questionados se tinham irmãos, onde 13

responderam afirmativamente e apenas um negativamente.

O local de residência predominante é a área urbana de Peabiru, sendo que

somente 1aluno reside na zona rural e 1 não respondeu. Quanto à renda familiar, 9

alegaram ter renda superior a um salário mínimo e outros 5 responderam apenas até

um salário mínimo. Ainda quanto à renda, 8 afirmaram que família não participa de

nenhum programa de redistribuição de renda, como o Bolsa Família, mas 6

responderam afirmativamente.

Em outros termos, são alunos que, em maioria, moram com seus irmãos e

pais, os quais apresentam grau de escolaridade até o ensino médio, vivem na zona

urbana do município e possuem renda maior de um salário mínimo.

No que se refere aos aspectos socioculturais, procuramos levantar

informações de como o grupo de alunos têm acesso à informação e conhecimentos

gerais. Do total de 14 alunos, 7 afirmaram ler em média até 3 livros por ano,

enquanto que 5 deles responderam ler mais de 3 livros por ano e o restante que não

lê livro algum durante o ano.

Quando questionados se acompanham o que acontece pelo Brasil e o mundo,

12 alegaram estarem atentos às atualidades, enquanto 2 demonstraram não ter

interesse pelos acontecimentos atuais. Dentre as fontes de informação mais

acessadas, a televisão ainda é a mídia mais acessada e acessível à maioria dos

alunos (8); e 5 deles indicaram a internet, enquanto 1 não respondeu. A opção

mídia impressa jornalística não foi indicada por nenhum deles como fonte de

informação e conhecimentos.

Esse perfil demonstra que, em geral os alunos estão atentos ao que acontece

ao seu redor, por meio do acesso às mídias, mas ainda apresentam uma baixa

frequência de leitura. A mídia audiovisual ou virtual é a fonte de informação que

predomina e, embora o acesso à internet seja caro, percebe-se que é um veículo de

informação quase tão acessado como a TV aberta, mesmo entre as classes menos

favorecidas.

Page 11: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

Além de questões relacionadas ao perfil e aspectos socioculturais, o

questionário também se preocupou em perceber as concepções dos alunos quanto

ao conceito de cidadania. A respeito disso, a maioria (11) respondeu acreditar que a

cidadania é o exercício de direitos e deveres, enquanto 3 discordaram dessa

concepção. Em outras palavras, os alunos reconhecem que o exercício da cidadania

não se trata apenas do exercício de direitos, mas também de deveres para com a

sociedade e o outro.

Inquiridos se acreditavam que crianças e adolescentes poderiam ser

cidadãos, 13 responderam afirmativamente e apenas 1 discordou. Mas quando

perguntando se acreditavam que crianças e adolescentes tinham somente direitos e

não deveres, 10 discordaram, e 4 concordaram com essa afirmação.

Assim, constatamos que os alunos reconhecem que a cidadania implica

também em deveres e não apenas em direitos e que independente da faixa etária

todos podem ser cidadãos. Isso revela que a proposta da Constituição de 1988, que

concebe a criança e o adolescente como um cidadão, surtiu efeito tardiamente na

sociedade em que vivemos, pois o fato de crianças e adolescentes se reconhecerem

como cidadãos é bem atual.

Esse mesmo registro também demonstra a existência da noção de Ética dos

alunos, pois reconhecem que cidadania, em sua faixa etária, não se limita apenas à

reivindicação de seus direitos, mas também no cumprimento de deveres. Porém, a

experiência docente aponta para outro movimento, pois na relação do dia a dia com

o aluno, há uma tendência maior na ênfase apenas de seus direitos, eximindo-se de

prática de deveres e respeito ao próximo.

A respeito do ECA, 10 alunos confirmaram já terem ouvido falar sobre o

Estatuto e apenas 4 responderam que nunca ouviram falar sobre o documento. Mas

quando perguntados se algum professor já havia lido ou comentado sobre o

documento em sala de aula durante toda sua vida escolar, 9 responderam que isso

não aconteceu, enquanto 5 responderam afirmativamente.

Embora os alunos tenham conhecimento do ECA, esse conhecimento, em

maior parte das vezes, não é discutido na e pela escola. Concluímos que mesmo

tendo grande acesso à informação pela mídia, mais uma vez a escola está aquém

do interesse dos discentes. Em outras palavras, eles têm acesso ao conteúdo do

ECA mais pela mídia, a qual repete o discurso do documento.

Page 12: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

Averiguamos por meio do questionário que em relação ao contexto familiar e

escolar, ou seja, foi inquirido ao grupo se eles sentiam que suas famílias e

comunidade escolar os respeitavam enquanto adolescentes com direitos. Em

relação à família, 12 afirmaram que tinham seus direitos respeitados, enquanto 1

respondeu negativamente e outro não respondeu. No que se refere à comunidade

escolar, 9 dos alunos responderam sentirem-se respeitados, mas 4 responderam

desrespeitados e 1 não respondeu. Embora a maioria tenha respondido sentir-se

respeitada na escola, 4 sentiram-se desrespeitados, demonstrando um contraste

com a família, em que 12 alunos responderam afirmativamente.

Nesse sentido, a escola começa a ter um rótulo negativo em relação à família,

quanto ao exercício de direitos e deveres. Isso dificulta muito o trabalho docente,

pois a noção de limite tem sido amplamente discutida na escola e apresenta uma

relação direta com a educação familiar recebida pela criança ou adolescente. Em

síntese, família e escola, muitas vezes estão em direções opostas no que se refere

aos valores.

Sobre a vulnerabilidade ao uso de drogas lícitas, perguntamos se alguma vez

já haviam comprado bebida alcoólica para seu próprio uso, eis que 8 responderam

negativamente, mas 6 alegaram já ter comprado. Observamos que boa parcela

admite já ter tido contato com bebidas alcoólicas, embora não tenha idade permitida

para isso. Pressupomos que, embora os estabelecimentos comerciais sejam

proibidos de vender álcool e cigarro a menores, eles conseguem ter acesso a esses

produtos da mesma forma.

A criança e o adolescente estão vulneráveis quanto ao uso de drogas lícitas,

em uma sociedade que consome muito o discurso da indústria do álcool,

associando-o a festas, poder de sedução de mulheres, sociabilidade com as

pessoas, conforme é perceptível pela publicidade desses produtos. Os

adolescentes, por se encontrarem em uma faixa etária de sentirem-se pertencentes

a um grupo e ao desejo de fazer amigos, junto da intensa publicidade desses itens,

tornam-se passíveis de consumo.

Das questões sobre dignidade, violência e opressão, 9 alunos responderam

não acreditar que castigos físicos corrigem os erros quando cometidos, mas 5 deles

alegaram que a punição surte efeito disciplinador. Foram perguntados se alguma

vez haviam sofrido algum tipo de violência física ou opressão, 10 responderam

nunca terem sofrido violência física, mas 3 afirmaram já ter sofrido esse tipo de

Page 13: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

violência, enquanto 1 não respondeu a pergunta. Em síntese, os adolescentes não

acreditam que a violência física poderá contribuir como efeito disciplinador.

Foi ainda inquirido se alguma vez eles foram submetidos ao trabalho pesado

que os privassem do lazer ou prejudicassem seus estudos, eis que a maioria (12)

respondeu negativamente, mas 2 afirmaram já terem sofrido esse tipo de opressão.

Em relação à questão sobre trabalho, metade alegou já ter trabalhado fora após o

período escolar, enquanto a outra metade alegou não trabalhar. A falta de uma

escola integral, como também a baixa renda familiar favorece ao jovem a inserção

precoce no mercado de trabalho, comprometendo muitas vezes seu tempo para

dedicar à escola e ao conhecimento.

No que tange à delinquência, questionamos se quando alguma criança ou

adolescente comete algum crime se ela deveria ou não ser punida pela lei como um

adulto, eis que a maior parte deles (9) respondeu que deveria haver punição na

forma da lei, enquanto 4 responderam negativamente e 1 não respondeu à pergunta.

Os adolescentes demonstraram posição contrária à atitude de jovens infratores e

defendem que deveriam ser punidos, mesmo que por medidas mais severas. Assim,

percebemos que tais adolescentes, neste quesito, não conseguem separar a

infância e adolescência da vida adulta.

Na segunda fase do projeto de intervenção, realizamos uma discussão em

sala de aula sobre o que é cidadania e sua importância, tendo como suporte o

questionário aplicado e as respostas analisadas.

Em seguida, na terceira fase, os alunos foram conduzidos ao laboratório de

informática no qual pesquisaram acerca do conceito de cidadania, o que é ser

cidadão, como a população poderá reivindicar seus direitos e as formas de direito.

E por fim, o ECA foi levado em sala de aula e selecionado o artigo 4º para

discussão, onde cita que:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, à convivência familiar e comunitária (ECA, 1990).

A partir dessa discussão, foi elaborado e aplicado um conjunto de atividades

ao grupo de alunos participantes, sendo que dois desses alunos foram selecionados

e tiveram suas atividades e respostas analisadas.

Page 14: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

Os alunos responderam a várias questões que faziam referência ao artigo 4º

do Estatuto, discutido em sala de aula, conforme pode ser verificado a seguir.

Pergunta 1: Você acredita que os direitos dos cidadãos descritos acima estão

sendo respeitados? Justifique sua resposta.

A1: Não. Uma parte da sociedade respeita e falta muito que devemos

respeito uns aos outros.

A2: Não. Porque são poucas as pessoas que respeitam essa lei.

Pergunta 2: O estatuto da criança e do adolescente estabelece regras e

limites, que são destinado a quem?

A1: para todos para os jovens e os adultos.

A2: para os menores e para os adultos, todo mundo em geral.

Pergunta 3: Quais os deveres que a família deve ter para com seus filhos

menores de idade? E os filhos também têm deveres para com os pais? Quais?

A1: direito à vida, esporte, lazer, cultura, dignidade. Sim respeito, educação,

limites tratá-los com respeito.

A2: direito a vida, esporte, lazer, saúde, educação, respeito, cultura,

alimentação. Sim. Respeito, educação, limite, obediência, dever.

Pergunta 4: o Estado deve proporcionar condições para que os pais possam

garantir uma vida digna para seu filhos. De que maneira?

A1: saúde, educação, a escola. Espaço pra lazer, segurança. E também o

estado deve gerar emprego.

A2: saúde, educação, escola, espaço pra lazer, segurança, emprego.

Pergunta 5: quais medidas disciplinares que seus pais aplicam quando você

deixa de cumprir seus deveres? Você acha correto?

A1: batendo não é o certo, conversando.

A2: batem. Mas isso não é certo porque não é batendo que se educa um

filho.

Pergunta 6: como podemos ajudar a construir uma sociedade mais justa?

A1: ter mais respeito o serviço do outro e cumprir nossos deveres.

Page 15: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

A2: tendo mais respeito pelo serviço dos outros, respeitar nossos direitos e

cumprir nossos deveres.

A partir das respostas, verificamos que os adolescentes argumentam que o

governo brasileiro ainda tem um longo caminho no que diz respeito à garantia dos

direitos dos jovens, crianças e adolescentes. O grupo pesquisado demonstrou certo

desconhecimento no que diz respeito a quem o ECA é dirigido, pois os adolescentes

não compreendem que se trata de um estatuto específico à criança e ao

adolescente.

Quando questionados a respeito de seus direitos e deveres, os participantes

alegaram que além de direitos, o respeito é necessário para a convivência com o

próximo, começando pela família. Eis que reafirmaram que o exercício de seus

deveres contribui para a formação de uma sociedade mais justa para a coletividade.

4. Considerações finais

O objetivo desta pesquisa foi investigar os níveis de conhecimento que os

adolescentes - que cursam o ensino médio do Colégio Estadual Quatorze de

Dezembro do município de Peabiru - têm de seus direitos e deveres, e também

quais suas relações com o ECA, se conheciam ou não a lei.

As narrativas históricas buscam compreender e retratar as experiências

vividas por homens e mulheres no tempo. O diálogo histórico é fundamental aos

professores e alunos, pois permite o conhecimento da História e suas variadas

interpretações, e conhecimento de diversas narrativas e sujeitos históricos. A

aplicação do questionário à turma do ensino médio recebeu uma maior atenção da

pesquisadora, uma vez que se trata de um instrumento que permite dar voz e vez

aos participantes acerca do mundo em que vivem e seu pensamento sobre esse

contexto.

O ECA é um marco na história brasileira do exercício da cidadania de jovens

menores de 18 anos. Embora haja um discurso de que o documento enfatize mais

direitos do que os deveres das crianças e adolescentes, muitos profissionais

atuantes da área da justiça argumentam que o Estatuto os reconhecem sujeitos de

direitos e deveres, e portanto, deverão seguir a regra de conduta social pressuposta

pela própria constituição em vigor. E alegam ainda que o direito de cada indivíduo

vai até onde começa o direito do outro, ou seja, independente da idade, crianças e

Page 16: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

adolescentes também deverão respeitar o direito de seu próximo. De outra parte, é

também dever de seus pais educar seus filhos incluindo o estabelecimento de limites

envolvendo noções de cidadania e relacionamento interpessoal respeitando às leis e

ao próximo. (DIGIÁCOMO, 2013).

Constatamos em nosso projeto de intervenção pedagógica que parte dos

alunos já está inserida no mercado de trabalho, e isso pode ser interpretado tanto

como uma necessidade precoce de se inserir no mundo adulto, como também no

desejo de contribuir com a renda familiar, uma vez que parcela dos entrevistados

sobrevive com suas famílias apenas com um salário mínimo, estando cadastrados

em programas governamentais e seus pais apresentam, em maioria, escolaridade

até o ensino médio.

Verificamos também que embora a maioria não tenha sofrido nenhum tipo de

violência física ou esteve sujeita ao trabalho pesado em detrimento do lazer e

estudos, demonstraram ser a favor de medidas punitivas mais rigorosas contra

jovens infratores, pois entendem que um adolescente é capaz de compreender o

mundo que os cerca, exercer sua cidadania por meio de direitos e deveres e, deste

modo, devem responder pelos seus atos.

Outro ponto que marca essa precocidade ao mundo adulto é o fácil acesso ao

uso de drogas lícitas, tais como o álcool, pois quase metade declarou já ter-se

dirigido a um estabelecimento comercial para comprar e usar bebidas alcoólicas,

mesmo que sua venda seja proibida para menores de 18 anos. Vale lembrar que, a

maioria dos participantes da pesquisa está na faixa etária de 14 a 16 anos.

Dessa forma, é possível afirmar que o adolescente, independente de sua

classe social, tem acesso à informação sobre o ECA através de outras fontes, além

da escola. Assim, muitas vezes esses jovens repetem o discurso da mídia, que

enfatiza a contradição deste estatuto perante a noção de cidadania que temos por

referência na atualidade da sociedade brasileira. Acredita-se que, deste modo, para

haver uma transformação em nossa sociedade, que atinja futuras gerações, esse

estatuto necessita ser revisto por nossos representantes públicos e pela sociedade

civil, como também a noção de ética deva ser amplamente discutida nas escolas em

conjunto com a família. Nossa sociedade poderá mudar sua história, a partir do

envolvimento das diferentes instituições: Estado, mídia e família, além da escola,

agindo de forma conjunta e não relegando apenas à escola a função de resolver,

isoladamente, contradições da história de um momento da sociedade.

Page 17: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARIÉS, Phillipe. A história social da infância e da família. São Paulo: Nacional, 2010.

BURKE, Peter (Org). A escrita da história, novas perspectivas. São Paulo: Unesp, 1992.

BURKE, Peter. A escola dos Annales (1929-1989), a revolução francesa da historiografia. São Paulo: Unesp, 1997.

CURITIBA, Instituto de ação social do Paraná. Estatuto da criança e do adolescente. 2009.

DALLARI, D.A. Direitos humanos e cidadania. São Paulo: Moderna, 1998.

DIGIÁCOMO, Murillo. J. Estatuto da criança e do adolescente: direitos x deveres. Disponível em: http://www.crianca.caop.mp.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=824. Acesso em: 11 de Novembro de 2013.

FERREIRA, Aurélio B. de H. MiniAurélio. 6ª edição. Curitiba: Positivo, 2005.

FERREIRA, Luiz Antônio. O estatuto da criança e do adolescente e o professor, reflexos na sua formação e atuação. São Paulo: Cortez, 2010.

LODI, L. e ARAÚJO, U. Escola, democracia e cidadania. In: Ética e cidadania, construindo valores na escola e na sociedade. Brasília: Ministério da Educação, 2007.

PARANÁ, SEED. Diretrizes curriculares para o ensino da história nos anos do ensino fundamental e médio, 2008.

THIOLLENT, Michel. Metodologia da pesquisa-ação. São Paulo: Cortez, 1988.

Page 18: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

APÊNDICE

QUESTIONÁRIO ELABORADO E APLICADO

1.Você é do gênero: ( ) feminino ( ) masculino

2.sua idade está entre: ( ) 14 a 16 anos ( ) 17 a 21 anos

3. Seu colégio é: ( ) público ( ) particular

4. Você está no: ( ) primeiro ano do ensino médio ( ) segundo ano ( ) terceiro

5. Você reside em Peabiru na área: ( ) urbana ( ) rural

6. Você mora: ( ) com seus pais ( ) somente com sua mãe ( ) avós

( ) outras pessoas

7. Qual é o grau de escolaridade de seus pais ou responsáveis?

( ) até 4ª série ( ) até 8ª série ( ) até o ensino médio ( ) superior

8. Você tem irmãos? ( ) sim ( ) não

9. Sua condição econômica é: ( ) até um salário mínimo ( ) mais de um salário

10. Sua família participa de algum programa do governo, como o Bolsa Família?

( ) sim ( ) não

11. Até quantos livros você lê durante o ano?

( ) nenhum ( ) até 3 ( ) acima de 3

12. Você acompanha o que está acontecendo pelo Brasil e o mundo por meio de notícias? ( ) não acompanho ( ) sim, acompanho

13. Se você prefere acompanhar as notícias, geralmente é por meio de:

( ) televisão ( ) jornal ou revista impressa ( ) Internet

14. Você acredita que cidadania é o exercício de direitos e deveres?

( ) sim ( ) não

15. Você acredita que crianças e adolescentes podem ser cidadãos?

( ) sim ( ) não

16. Você acredita que crianças e adolescentes tem somente direitos e não deveres?

( ) sim ( ) não

17. Você já ouviu falar do ECA?

( ) sim ( ) não

18. Algum professor já leu ou comentou sobre o ECA em sala de aula durante sua vida escolar?

( ) sim ( ) não

Page 19: ECA: UMA POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DA …...Estatuto da Criança e do Adolescente. Vale lembrar que a legislação na área da infância e da juventude contava com iniciativas

19. Você sente que sua família o respeita enquanto adolescente com direitos?

( ) sim ( ) não

20. Você sente que a comunidade escolar o respeita enquanto adolescente com direitos e deveres?

( ) sim ( ) não

21. Você acredita que castigos físicos corrigem erros que você cometeu?

( ) sim ( ) não

22. Você já foi submetido ao trabalho pesado que o privasse do lazer ou prejudicasse seus estudos?

( ) sim ( ) não

23. Você trabalha depois do seu período escolar?

( ) sim ( ) não

24. Você já comprou bebida alcoólica em algum estabelecimento para você usar?

( ) sim ( ) não

25. Você já sofreu algum tipo de violência física ou opressão?

( ) sim ( ) não

26. Você acha que, quando uma criança ou adolescente comete algum crime deverá também ser punido pela lei como um adulto?

( ) sim ( ) não