educaÇÃo ambiental · além do esgotamento contínuo dos recursos naturais, as atividades humanas...

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MICHAEL HRNCIR CAMILA MAIA-SILVA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO U N I V E R S I D A D E F E D E R A L R U R A L D O S E M I - Á R I D O

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Page 1: EDUCAÇÃO AMBIENTAL · Além do esgotamento contínuo dos recursos naturais, as atividades humanas levaram a uma ampla gama de problemas para nosso planeta, entre estes a redução

MICHAEL HRNCIR CAMILA MAIA-SILVA

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

U N I V E R S I D A D E F E D E R A L

R U R A L D O S E M I - Á R I D O

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U N I V E R S I D A D E F E D E R A L

R U R A L D O S E M I - Á R I D O

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

MICHAEL HRNCIR CAMILA MAIA-SILVA

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Mário Gaudêncio, Me.

Walter Martins Rodrigues, Dr.

Francisco Franciné Maia Júnior, Dr.

Rafael Castelo Guedes Martins, Me.

Keina Cristina S. Sousa, Me.

Antonio Ronaldo Gomes Garcia, Dr.

Auristela Crisanto da Cunha, Dr.

Janilson Pinheiro de Assis, Dr.

Luís Cesar de Aquino Lemos Filho, Dr.

Rodrigo Silva da Costa, Dr.

Valquíria Melo Souza Correia, Me.

Conselho Editorial da EdUFERSA

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http://nead.ufersa.edu.br/

Governo Federal Ministro de EducaçãoRenato Janine Ribeiro

SECADI – Secretaria de Educação Continuada,Alfabetização e Diversidade

Universidade Federal Rural do Semi-ÁridoReitor

José de Arimatea de Matos

Pró-Reitor de GraduaçãoAugusto Carlos Pavão

Núcleo de Educação a DistânciaCoordenadora

Valdenize Lopes do Nascimento

Equipe multidisciplinarAntônio Charleskson Lopes Pinheiro – Diretor de Produção de Material DidáticoUlisses de Melo Furtado – Designer InstrucionalGerlandia Joca de Castro – Assessora PedagógicaÂngelo Gustavo Mendes Costa - Assessor PedagógicoFrancisca Monteiro da Silva Perez - Assessora PedagógicaAdriana Mara Guimarães de Farias – ProgramadoraThiago Henrique Rossato - ProgramadorFelipe Yuri Silva - Suporte de InformáticaJéssica de Oliveira Fernandes - Comunicação e MarketingRamon Ribeiro Vitorino Rodrigues - Diretor de ArteMikael Oliveira de Meneses – DiagramadorAlberto de Oliveira Lima – DiagramadorJosé Antonio da Silva - Diagramador

Arte da capaRamon Ribeiro Vitorino Rodrigues

Equipe administrativaRafaela Cristina Alves de Freitas – Assistente em AdministraçãoIriane Teresa de Araújo – Responsável pelo fomentoThayssa Teixeira Lira - EstagiáriaPaulo Augusto Nogueira Pereira - EstagiárioAntonio Romário Bezerra Nogueira - Estagiário

Equipe de apoioDiana Gonçalves Lunardi – Revisão TécnicoVitor de Oliveira Lunardi – Revisão TécnicoJéssica de Oliveira Fernandes – Revisão Didática

Serviços técnicos especializadosLife Tecnologia e Consultoria

EdiçãoEDUFERSA

ImpressãoGráfica São Mateus Ltda

© 2015 by NEaD/UFERSA - Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação

ou qualquer outro tipo de sistema de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, do NEaD/UFERSA. O conteúdo da obra é de exclusiva responsabilidade dos autores.

Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)

Setor de Informação e Referência (SIR-BCOT/UFERSA)

Bibliotecário-DocumentalistaMário Gaudêncio, Bib. Me. (CRB-15/476)

H858e Hrncir, Michael. Eduação ambiental no semiárido brasileiro / Michael Hrncir, Camila Maia-Silva. – Mossoró : EdUFERSA, 2015.

40 p. : il.

ISBN: 978-85-5757-000-9

1. Eduação ambiental. 2. Semiárido – Brasil. I. Maia-Silva, Camila. II. Título.

UFERSA/BCOT CDD 363.7

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PREFÁCIO

Prezado (a) Cursista,

O objetivo deste caderno, Educação Ambiental no Semiárido Brasileiro, é estimular educadores, educadoras e profissionais da educação a participarem de ações e projetos que promovam a Educação Ambiental nas escolas e demais instituições do semiárido brasileiro. Neste caderno, você encontrará informa-ções, sugestões e questionamentos para a reflexão sobre problemas socioam-bientais, visando buscar possíveis soluções sustentáveis para garantir a convi-vência com o clima semiárido.

Inicialmente você conhecerá as principais características do bioma Caatin-ga e as peculiaridades do clima semiárido: o contexto ambiental local. Também iremos dialogar sobre os possíveis impactos das mudanças climáticas nessa região. Em seguida, abordaremos os principais problemas socioambientais que atualmente afetam a nossa vida e de todos os seres vivos da região semiárida brasileira. Neste ponto, iremos discutir o problema da falta de água; o desma-tamento e a degradação ambiental; a desertificação; o êxodo rural; a perda de biodiversidade e o acúmulo de lixo. E para finalizar discutiremos sobre ações e caminhos de sustentabilidade, não só para as presentes, mas também para as futuras gerações. Boa leitura!

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SOBRE OS AUTORES

Michael Hrncir

Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade de Viena, Áustria (1996), com mestrado em Zoologia (1998) e doutorado em Fisiologia Comportamental pela Universidade de Viena (2003). Atualmente é docente na Universidade Fe-deral Rural do Semi-Árido (UFERSA).

Camila Maia-Silva

Graduada em Ciências Biológicas pelo Centro Universitário Barão de Mauá (2004), com mestrado (2009) e doutorado em Entomologia pela Universidade de São Paulo (2013). Atualmente é pós-doutoranda na Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).

REVISORES TÉCNICOS

Vitor de Oliveira Lunardi

Graduado em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de São Carlos (2002), com mestrado em Ecologia e Recursos Naturais pela Universidade Fe-deral de São Carlos (2004) e doutorado em Ecologia pela Universidade de Bra-sília (2010). Atualmente é docente da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).

Diana Gonçalves Lunardi

Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade de Brasília (2002), com mestrado em Ecologia pela Universidade de Brasília (2005) e doutorado em Psicobiologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2011). Atual-mente é docente da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA).

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SUMÁRIO

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO

1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO! E EU COM ISSO? 13

2. O CONTEXTO AMBIENTAL LOCAL 14

3. PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS FREQUENTES NA CAATINGA 18

4. PENSAR GLOBAL, AGIR LOCAL 27

5. CONVIVENDO COM O CLIMA SEMIÁRIDO: UM RESUMO 31

É HORA DA REVISÃO! 32

QUE TAL RESPONDERMOS AS QUESTÕES ABAIXO PARA FIXAR ALGUNS CONCEITOS?

VAMOS LÁ? 33

REFERÊNCIAS 34

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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Autores: Michael Hrncir e Camila Maia-Silva

1. EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO! E EU COM ISSO?

A Educação Ambiental tem sua origem em um movimento ecológico que surgiu da preocupação da sociedade com a qualidade de vida das presentes e futuras gerações e, afinal, com o futuro da vida em nosso planeta. Após séculos de exploração irrestrita dos recursos naturais da Terra, o reconhecimento da finitude desses recursos e da sua má distribuição levou, pelo menos em teoria, a uma mudança da forma de pensar sobre seu uso, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. Essa forma de desenvolvimento econômico, denominado Desenvolvimento Sustentável, sob a premissa de não esgotar os recursos para o futuro, depende da formação de uma responsabilidade ecológica. Para formarmos essa responsabilidade precisamos estar cientes da crise ambiental ao nosso redor, reconhecendo que nós somos os responsáveis principais por essa crise que ameaça o futuro do planeta e, sobretudo, o nosso futuro na Terra1.

Além do esgotamento contínuo dos recursos naturais, as atividades humanas levaram a uma ampla gama de problemas para nosso planeta, entre estes a redução das calotas de gelo nos polos por um quarto da quantidade total, o aumento da acidez da água nos oceanos a um valor perto do limite de segurança, e a redução da biodiversidade por mais que a metade nas regiões tropicais – tudo isto em menos do que 50 anos!2,3,4

Para a sobrevivência da humanidade é imperativo modificar o nosso relacionamento com a natureza, formando uma consciência ética sobre todas as formas de vida com as quais convivemos, respeitando seus ciclos vitais e impondo limites a sua exploração pelo ser humano. Essa ética ambiental surgiu como resposta às ações do próprio ser humano. Só através da aplicação de aspectos éticos a outros seres vivos, a natureza deixa de ser vista como mero recurso para o ser humano e passa a ser um conjunto vivo do qual fazemos parte e com o qual deveríamos viver em harmonia1,4.

Tudo isto soa bonito, inteligente e idealista e, em grande parte, longe da realidade de muitas pessoas. O agricultor do sertão realmente vai perder seu tempo pensando em como evitar a diminuição das calotas de gelo nos polos, se sua preocupação principal é conseguir plantar e colher o suficiente para sobreviver à próxima seca? Ele vai se preocupar com o aumento da acidez nos oceanos enquanto luta com a falta de água potável na região, ou com a perda da biodiversidade na Floresta Amazônica enquanto busca soluções contra as pragas do seu cultivo? Ele não vai. E ele não precisa. Entretanto, o que ele deveria fazer é olhar ao seu redor e identificar os problemas ambientais locais. Ele deveria avaliar como estes problemas locais estão afetando a sua própria vida e a da sua família, e pensar o que ele mesmo pode fazer para amenizá-los.

Para ter sucesso, a Educação Ambiental precisa começar no nível da realidade local, sensibilizando a sociedade para os problemas ambientais regionais. Nós precisamos estabelecer uma relação pessoal, criar um vínculo emocional com um problema para percebê-lo e considerá-lo relevante. Quanto mais perto um problema estiver da nossa realidade e quanto mais ele afete diretamente nossas vidas, mais estaremos à disposição de controlá-lo. Entretanto, para dar relevância para problemas que não representam uma ameaça direta a nossas vidas, mas causam “apenas” prejuízos para o ambiente em que vivemos, precisamos formar uma identidade e identificação com o ambiente local. Nós vamos proteger aquilo que somos e amamos. Portanto, uma das funções principais da Educação Ambiental consiste em recuperar, reconhecer, refletir e utilizar a história e a cultura local, a fim de poder valorizar o patrimônio ambiental local e formar uma sociedade ecologicamente equilibrada1.

Cada realidade socioambiental local é formada por um conjunto dinâmico de interações entre as dimensões culturais, sociais e naturais. Porém, frequentemente as relações entre as ações humanas e os problemas ambientais causados por elas não são diretas e lineares, mas ocultas ou complexas e, consequentemente, não evidentes para a maioria da população. Por exemplo, o chorume tóxico proveniente de depósitos de lixo leva à contaminação do solo e da água no subsolo abaixo do lixão. Por causa das conexões subterrâneas entre lençóis freáticos, é provável que a água de poços em distâncias de alguns quilômetros do lixão esteja contaminada e inadequada para o consumo humano ou para a irrigação de plantações. Nesses casos de conexões lógicas enredadas, a importância da Educação Ambiental é desvendar e explicar a relação causal entre ações humanas e problemas ambientais. Só entendendo estes contextos, a comunidade pode perceber quais dos seus atos e como estes resultam em problemas ambientais locais e procurar soluções, ou seja, criar uma responsabilidade ecológica1.

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Autores: Michael Hrncir e Camila Maia-Silva

FIGURA 01: Mapa do Brasil com destaque para o bioma Caatinga e o estado do Rio Grande do Norte

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O objetivo desse módulo é demostrar a importância de projetos de Educação Ambiental para a região semiárida do nordeste brasileiro. Qual o contexto ambiental nessa região? Quais são os problemas ambientais locais mais frequentes? Como e quais ações ambientalmente apropriadas poderiam ser elaboradas nas escolas para sensibilizar os alunos para os problemas ambientais locais, e para a formação de uma responsabilidade ecológica? Uma consciência ecológica bem-fundamentada irá resultar em uma responsabilidade socioambiental que, primeiramente, irá ajudar a amenizar, senão resolver os problemas ambientais locais, podendo futuramente ser transferida ao nível nacional e global1.

2.1. O BIOMA CAATINGAA Caatinga é o único bioma inteiramente restrito ao território brasileiro. Com uma extensão aproximada

de 800.000km2, a Caatinga representa 70% da Região Nordeste e 11% do território nacional. (Figura 01). O nome “caatinga”, de origem Tupi-Guarani, significa “floresta branca”, caracterizando o aspecto da vegetação principalmente na estação seca, quando as folhas caem e apenas os troncos brancos das árvores permanecem na paisagem seca5,6,7,8.

O clima nessa região chamada de “Polígono das Secas” é classificado como semiárido quente. Comparadas a outras regiões brasileiras, a Caatinga apresenta características meteorológicas extremas: as mais altas temperaturas médias anuais, os mais altos índices de radiações solares, as mais baixas taxas de nebulosidade, as mais baixas taxas de umidade relativa do ar resultando em evapotranspiração elevada, e as precipitações mais baixas e irregulares levando à ausência completa de chuvas em alguns anos. Em geral, a Caatinga possui duas estações climatológicas: uma seca e quente e outra úmida e quente10,11 (Figura 02).

Embora a diversidade de plantas e animais seja menor comparada as exuberantes florestas tropicais, a Caatinga apresenta espécies altamente adaptadas às suas condições climáticas extremas, resultando em uma alta taxa de endemismos de fauna e flora5. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA) a Caatinga abriga uma grande riqueza de espécies, com 932 espécies de plantas, 178 espécies de mamíferos, 591 espécies de aves, 177 espécies de répteis, 79 espécies de anfíbios, 241 espécies de peixes e 221 espécies de abelhas, sendo que muitas destas espécies ocorrem somente na Caatinga. Tal riqueza enquadra este bioma entre as regiões semiáridas mais ricas em biodiversidade do mundo8.

2. O CONTEXTO AMBIENTAL LOCAL

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A vegetação da Caatinga possui uma grande variação fisionômica e florística, relacionada à grande heterogeneidade de clima, solo e relevo. Devido às especificidades climáticas dessa região, as plantas desenvolveram adaptações morfológicas e/ou fisiológicas que permitem a sobrevivência durante longos períodos com escassez de água e com temperaturas elevadas. As principais adaptações são a queda das folhas na estação seca (caducifólia), a presença de caules e raízes suculentas que armazenam água e nutrientes, o ciclo de vida curto e a dormência das sementes7 (Figura 03).

Entre as espécies arbóreas típicas da Caatinga podemos citar a aroeira (Myracrodruon urundeuva), a catingueira (Poincianella bracteosa), a imburana (Commiphora leptophloeos), o angico (Anadenanthera colubrina), o pau-branco (Cordia oncocalix), o umbu (Spondias tuberosa), o mulungu (Erythrina velutina), o juazeiro (Ziziphus joazeiro), além de bromeliáceas como a macambira (Bromelia laciniosa) e cactáceas como o mandacaru (Cereus jamacaru)9.

FIGURA 02: As duas estações climáticas na Caatinga.

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ESTAÇÃO SECA ESTAÇÃO CHUVOSA

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Autores: Michael Hrncir e Camila Maia-Silva

FIGURA 03: Adaptações das plantas à vida no semiárido brasileiro. As plantas desenvolveram diversas adaptações para poder sobreviver ao clima quente e seco da região semiárida: (a-b) perda de folhas na estação seca; (b-c)

reservatórios de água no caule, (d) nas folhas ou (e) nas raízes; (f) raízes profundas; (g) floradas em massa e (h) sementes dormentes que produzem plantas herbáceas/trepadeiras com flores apenas durante a estação chuvosa.

Foto

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rAssim como as plantas, os animais da Caatinga também possuem adaptações morfológicas, fisiológicas e

também comportamentais às condições ambientais do semiárido. Muitas espécies constroem seus ninhos em locais protegidos do calor excessivo, alguns saem para coletar alimentos apenas ao entardecer, ou mesmo apenas durante a noite5. Na figura 04 destacamos alguns animais e suas adaptações ao clima da Caatinga, entre eles podemos observar: mamíferos como morcegos, roedores e a raposa Cerdocyon thous; répteis como a iguana Iguana iguana e a cobra-cega Amphisbaena alba e invertebrados como a formiga Dinoponera quadriceps, amblipígios e escorpiões.

Segundo o Ministério do Meio Ambiente (MMA), aproximadamente 27 milhões de pessoas vivem atualmente na Caatinga, a maioria dependente dos recursos que o bioma oferece. A Caatinga tem um imenso potencial para a conservação de serviços ambientais, uso sustentável e bioprospecção que, se bem explorado, será decisivo para o desenvolvimento da região e do país. A biodiversidade da Caatinga ampara diversas atividades econômicas voltadas para fins agrosilvopastoris e industriais, especialmente nas indústrias farmacêuticas, de cosméticos, de químicos e de alimentos8.

DICA

IMPORTANTEPARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE O ASSUNTO ACESSE O LINK: HTTP://WWW.MMA.GOV.BR/BIOMAS/CAATINGA.

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Autores: Michael Hrncir e Camila Maia-Silva

FIGURA 04: Adaptações dos animais à vida no semiárido brasileiro. Os animais desenvolveram diversas adaptações para sobreviver ao clima quente e seco da região semiárida: (a-d) atividade noturna ou

crepuscular; (d-f) tegumento grosso para evitar a perda de água e (f-h) vida em cavernas ou abaixo do solo.

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Considerando os históricos socioeconômicos definidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (mais conhecido pela sigla em inglês IPCC - Intergovernmental Panel of Climate Change), diversos pesquisadores projetaram cenários futuros de mudanças climáticas para a região semiárida brasileira. Segundo Marengo (2006)12, nos próximos anos poderá ocorrer um aumento de cerca de 4°C de temperatura, com redução de até 15% no volume da chuva e diminuição do nível dos açudes (Figura 05). Os problemas ambientais da Caatinga são ainda mais graves, quando comparados a outras regiões brasileiras, devido à drástica situação socioeconômica da região. Essa situação torna essa área ainda mais vulnerável às mudanças climáticas, de acordo com o índice de vulnerabilidade socioclimática12.

As alterações no regime de chuvas e as temperaturas elevadas terão um grande impacto na fauna e na flora local, resultando em uma redução dramática da biodiversidade local. Além disso, as mudanças climáticas afetarão diretamente a produção agrícola e a pecuária, podendo gerar uma alta no preço dos alimentos, migração para centros urbanos (refugiados do clima), desemprego e aumento nos gastos públicos com programas de emergência. Esse cenário de mudanças climáticas futuras impõe à sociedade grandes desafios desde o ponto de vista científico até o social, o econômico e o político. Serão necessárias novas tecnologias de produção para evitar os efeitos negativos do aquecimento global e, sobretudo, educar as pessoas para que elas entendam que o aquecimento global é uma realidade13.

Apesar da sua importância, o bioma Caatinga tem sido desmatado de forma acelerada, principalmente nos últimos anos, devido ao consumo de lenha nativa, explorada de forma ilegal e insustentável, para fins domésticos e indústrias, ao sobrepastoreio e a conversão para pastagens e agricultura5,6,7. Frente ao avançado desmatamento que chega a 46% da área do bioma, segundo informações do MMA, o governo busca concretizar uma agenda de criação de mais unidades de conservação federais e estaduais no bioma, além de promover alternativas para o uso sustentável da sua biodiversidade8.

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Autores: Michael Hrncir e Camila Maia-Silva

FIGURA 05: Mudanças climáticas na Caatinga e seus possíveis impactos ambientais negativos.

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Atualmente a base econômica da região semiárida brasileira, a qual abriga cerca de 27 milhões de pessoas, está principalmente associada a agricultura e a pecuária. O sistema de produção agropecuário no semiárido possui sérios problemas estruturais quanto a sustentabilidade de produção de alimentos, devido ao uso inadequado da água e demais recursos naturais e à estrutura fundiária não apropriada. Como resultado desse padrão de produção, cerca de 80% dos ecossistemas originais dessa região foram alterados, principalmente por meio de desmatamentos e queimadas8.

Outros fatores agravantes dos problemas socioambientais no semiárido são o deficiente sistema educacional em todos os níveis e o deficiente sistema de áreas protegidas. Por serem mais restritivas à intervenção humana, essas áreas são fundamentais para a conservação da biodiversidade, no entanto, menos de 1,5% do bioma Caatinga possui unidades de proteção integral (constituído por Parques, Reservas Biológicas e Estações Ecológicas)8.

A seguir discutiremos alguns problemas ambientais comuns na região semiárida brasileira, no bioma Caatinga, e que frequentemente ocorrem em todas as cidades e comunidades desse bioma.

3. PROBLEMAS SOCIOAMBIENTAIS FREQUENTES NA CAATINGA

DICA

IMPORTANTEPARA MAIS INFORMAÇÕES ACESSO O LINK: HTTP://WWW.MMA.GOV.BR/BIOMAS/CAATINGA.

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FIGURA 06: A quantidade de água doce e salgada no planeta.

FIGURA 07: A distribuição do uso da águaFo

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Os recursos hídricos são dotados de grande valor econômico e, ao longo da história da humanidade, as grandes civilizações surgiram onde havia fontes confiáveis e limpas de água doce. As populações humanas dependem integralmente da água para o uso doméstico, nas atividades indústrias e na agricultura para a produção de alimentos (Figura 07). No entanto, ações antrópicas têm alterado com frequência o ciclo vital da água e consequentemente, sua disponibilidade, em termos quantitativos e qualitativos14.

O Brasil é o país mais rico em água doce, com 13,7% do total mundial provenientes de rios, em especial do Rio Amazonas, Rio São Francisco e Rio Paraná, das chuvas tropicais, e da maior reserva de água doce subterrânea do mundo14. Mesmo assim, a distribuição da água doce está longe de ser igual entre as regiões brasileiras (Figura 08). Aproximadamente três quartos da nossa água doce estão concentrados na Região Amazônica, onde, porém, mora a menor proporção da população brasileira (aproximadamente 7%). A Região Sudeste, pelo contrário, tem apenas 6% dos recursos hídricos, onde se concentra quase a metade da população do nosso país. A segunda maior região em termos de população é a Região Nordeste (aproximadamente 30% da população), a qual tem que se contentar com apenas 3% da água doce existente no Brasil14 (Figura 08). Dentre as regiões submetidas aos cenários de escassez de água se destacam as zonas semiáridas, Região Nordeste do país, sujeitas as chuvas de distribuição irregular, no tempo e no espaço, resultando em períodos longos de estiagem15.

Não é apenas a quantidade de recursos hídricos disponíveis em determinada região, mas também o acesso e a eficácia da sua distribuição que caracterizam seu estado de desenvolvimento e de pobreza. A diferença entre regiões ricas e pobres também fica evidente avaliando as soluções alternativas utilizadas em locais onde falta uma rede geral de abastecimento de água (Figura 09). Na Região Nordeste, as principais fontes alternativas de água utilizadas são açudes e cisternas, enquanto na Região Sul utiliza-se principalmente poços artesianos, os quais provocam o rebaixamento dos lençóis freáticos14.

3.1. O PROBLEMA DA FALTA DE ÁGUAEmbora uma grande parte da superfície da Terra seja coberta por água, somente uma pequena parcela

de toda essa quantia está disponível para consumo humano, ou seja, água doce. O restante é constituído por água salgada14 (Figura 06).

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FIGURA 08: Distribuição dos recursos hídricos e da população no Brasil.

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14.

FIGURA 09: Falta de rede geral de abastecimento de água no Brasil

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14.

VOCÊ SABIA?A ARTICULAÇÃO NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO (ASA BRASIL) DESENVOLVEU UM PROGRAMA DE FORMAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL PARA A CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO: UM MILHÃO DE CISTERNAS RURAIS. ESSE PROGRAMA CONSTRÓI CISTERNAS COM AUXÍLIO DE PEDREIROS DAS PRÓPRIAS COMUNIDADES DO SEMIÁRIDO E EM LOCAIS IDENTIFICADOS POR ELAS. ALÉM DISSO, O PROGRAMA SE BASEIA EM ATIVIDADES EDUCATIVAS DA COMUNIDADE COM O OBJETIVO DE COMPARTILHAR NOÇÕES DE ECOLOGIA, ARMAZENAMENTO E TRATAMENTO DE ÁGUA E CIDADANIA. UM DOS OBJETIVOS PRINCIPAIS DESTE PROGRAMA É BENEFICIAR 5 MILHÕES DE PESSOAS DO SEMIÁRIDO BRASILEIRO COM ÁGUA POTÁVEL PARA BEBER E COZINHAR16. AS ESCOLAS E AS COMUNIDADES PODEM DIVULGAR E INCENTIVAR A CAPTAÇÃO E USO DA ÁGUA DA CHUVA POR MEIO DE CISTERNAS.

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O REUSO DE ÁGUA POSSUI GRANDES APLICAÇÕES POTENCIAIS. O USO DE EFLUENTES TRATADOS DE ÁREAS URBANAS, PARTICULARMENTE PARA FINS NÃO POTÁVEIS, É UM INSTRUMENTO PODEROSO PARA RESTAURAR O EQUILÍBRIO ENTRE OFERTA E DEMANDA DE ÁGUA EM REGIÕES SEMIÁRIDAS17. SUA ESCOLA TEM BEBEDOURO DE ÁGUA E, OU APARELHO DE CONDICIONADOR DE AR? VAMOS UTILIZAR A ÁGUA DESPERDIÇADA NESSES LOCAIS PARA REGAR AS PLANTAS DA NOSSA ESCOLA? É MUITO FÁCIL, BASTA COLETAR TODA ÁGUA DESPERDIÇADA E DEPOIS PASSAR PARA REGADORES. PENSE NISSO!

DICA

IMPORTANTEPARA MAIS INFORMAÇÕES VISITE OS SITES: HTTP://ASABRASIL.ORG.BR/PORTAL/INFORMACOES.ASP?COD_MENU=1150; HTTP://WWW.DEOLHONAAGUA.ORG.BR/SITE/LIVRO_E_CARTILHA/DE_OLHO_NA_AGUA_GUIA_DE_REFERENCIA.PDF

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A ARBORIZAÇÃO PODE SER UM IMPORTANTE INSTRUMENTO PARA A RESTAURAÇÃO AMBIENTAL DE ZONAS RURAIS E URBANAS. A PRESENÇA DE PLANTAS PODE CONTRIBUIR PARA MELHORAR A QUALIDADE DE VIDA DA POPULAÇÃO HUMANA. EM MUITAS CIDADES É COMUM O USO DE PLANTAS EXÓTICAS PARA A ORNAMENTAÇÃO DE RUAS, PRAÇAS, ESCOLAS E PARQUES. MAS, O PLANTIO DE ESPÉCIES NATIVAS CONTRIBUI NÃO APENAS PARA A BELEZA ESTÉTICA DO LOCAL, COMO TAMBÉM PARA A MANUTENÇÃO DA BIODIVERSIDADE, ALÉM DE CONTRIBUIR PARA A VALORIZAÇÃO DOS ASPECTOS CULTURAIS E NATURAIS DA REGIÃO9,19. VAMOS ARBORIZAR NOSSA ESCOLA E NOSSA COMUNIDADE/CIDADE?

3.2. DESMATAMENTO E DEGRADAÇÃO AMBIENTALA vegetação natural de um ecossistema exerce a função de proteção o solo. Um solo sem vegetação

fica exposto a um processo acelerado de erosão, causado pelo vento e pela água, e perde a capacidade de retenção da água da chuva. O crescimento populacional humano exponencial, vivenciado nas últimas décadas, intensificou a produção agropecuária para suprir a demanda por alimentos, provocando desmatamento e degradação ambiental em muitas áreas do planeta18.

Assim como em outras áreas do planeta, na Caatinga as práticas da agricultura associadas à pecuária estão sendo apontadas como aceleradoras dos processos de degradação ambiental, em virtude do caráter extrativista e predatório dos recursos naturais. Historicamente, a agricultura praticada nessa região é itinerante, o que gerou uma ocupação territorial desordenada e impactante. Parte dos agricultores não tem orientação adequada sobre o uso correto da terra, da água e das plantas da Caatinga. Locais como Seridó/RN, Cabrobó/PE, Gilbués/PI e Irauçuba/CE estão comprometidos pelas sucessivas retiradas da vegetação, queimadas e abandono das áreas cujo solo tornou-se improdutivo13.

Um fato que agrava ainda mais a perda de vegetação é a criação de grande quantidade de caprinos e/ou bovinos soltos em pequenas áreas. Estes animais se alimentam de mudas ou brotos, impedindo a regeneração da vegetação e deixando o solo exposto. Ainda, associado a estas atividades, o uso do fogo pelos agricultores, a extração intensa da madeira para ser utilizada como carvão ou estacas, a introdução de plantas forrageiras exóticas para a alimentação animal e a degradação da vegetação nativa pelos animais de criação têm promovido uma redução significativa da biodiversidade regional13 (Figura 10).

FIGURA 10: O caminho da Região Nordeste rumo à formação de um grande deserto. Uma das causas principais é o desmatamento da vegetação nativa.

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3.3. DESERTIFICAÇÃO A conservação do bioma Caatinga está intimamente associada ao combate da desertificação, processo

de degradação ambiental comum em regiões áridas, semiáridas e subúmidas secas. No Brasil, 62% das áreas susceptíveis à desertificação estão em zonas originalmente ocupadas por Caatinga, sendo que muitas já estão bastante alteradas13.

O processo de desertificação de áreas da Caatinga, além de ser provocado por causas naturais, como temperaturas elevadas, é também um resultado das atividades humanas, principalmente o desmatamento de áreas com vegetação nativa, o uso intenso do solo na agricultura e na pecuária, e as práticas inadequadas de irrigação. As principais consequências da desertificação são a salinização do solo, a intensificação dos processos erosivos e a redução da disponibilidade e da qualidade dos recursos hídricos, resultando em uma diminuição na fertilidade e produtividade do solo e, consequentemente, em uma redução drástica da produção agrícola13.

A condição de aridez associada à pressão antrópica resulta em áreas de degradação extrema, conhecidas como núcleos de desertificação. No semiárido do Rio Grande do Norte, a região conhecida como Núcleo de Desertificação do Seridó, a qual inclui os municípios de Seridó, Equador, Parelhas, Carnaúba dos Dantas, Caicó, São José do Seridó e Currais Novos, foi diagnosticada como uma das áreas mais atingidas pelo processo de desertificação20,21 (Figura 11).

O Núcleo de Desertificação do Seridó abrange uma área de 2.341km2, onde vivem 244.000 habitantes. Nessa região, o problema do desmatamento é agravado pela presença de cerca de 70 olarias, cujos produtos cerâmicos são vendidos para grandes centros urbanos, e a ineficiência na geração da energia pelas indústrias de cerâmica nessa região tem agravado o processo de desertificação devido à elevação da demanda por lenha20,21 (Figura 11).

3.4. ÊXODO RURALAs práticas agrícolas atuais, devido as suas características insustentáveis no uso dos recursos

naturais, têm provocado diversos impactos sociais e ambientais. Essas práticas têm causado erosão dos solos, contaminação das águas superficiais e subterrâneas, redução da biodiversidade, perda dos saberes tradicionais e dependência econômica das comunidades do campo, redução das oportunidades de trabalho e renda, exclusão social e inevitavelmente o êxodo rural22.

No semiárido brasileiro, o processo crescente de degradação ambiental tem ocasionado o desenvolvimento do processo de desertificação que, em contrapartida, leva à ocorrência de perdas econômicas ou ao abandono das terras por uma parte expressiva dos trabalhadores. Nessas regiões, é comum a migração de parte expressiva dos pequenos trabalhadores do campo, principalmente jovens, em razão das severas condições climáticas e restrições socioeconômicas constatadas no campo13.

FIGURA 11: Níveis de desertificação no estado do Rio Grande do Norte.

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As principais causas do êxodo rural são escassez de água, provocada pelo regime irregular de chuva, e a carência financeira do agricultor para desenvolver as atividades agropecuárias. Nessas condições, os agricultores não conseguem mais retirar da terra seu sustento, sendo obrigados a deixar suas casas e migrar para as cidades13.

Muitos especialistas afirmam que para minimizar os impactos da degradação do campo e reduzir processo de êxodo rural será necessária a transição do sistema atual de produção de alimentos para um sistema de produção agroecológica. É preciso valorizar os conhecimentos das populações tradicionais, a agrobiodiversidade e a diversidade cultural para promover a inclusão social e o desenvolvimento sustentável. Para tal, é importante implementar práticas de manejo mais sustentáveis do uso da terra e fortalecer a agricultura familiar22,23.

3.5. PERDA DE BIODIVERSIDADEA diversidade biológica é fundamental para manter o equilíbrio ecológico e assegurar a nossa

sobrevivência no planeta. A biodiversidade é a fonte dos serviços ambientais oferecidos pelos ecossistemas – polinização, dispersão de sementes, proteção contra erosão, purificação da água e do ar, regulação das chuvas e do clima, fornecimento de energia, entre outros. A água, o solo, as plantas, os animais e todos os recursos naturais são fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas, e devem ser preservados, não apenas devido ao seu valor ecológico e produtivo, mas também pelos seus valores culturais, estéticos, sociais e educacionais18.

Entender as ameaças que provocam perdas da diversidade biológica ou biodiversidade é o primeiro passo para reverter a situação. Em qualquer caso particular, são múltiplos os fatores que comumente contribuem para o declínio de uma espécie e sua consequente extinção. Em geral, as principais causas da redução da biodiversidade são a perda e a degradação de habitats, as espécies invasoras e a sobre-exploração. A maioria das espécies ameaçadas enfrenta, pelo menos, dois ou mais desses problemas, que estão acelerando a sua trajetória em direção à extinção18. Na região semiárida brasileira, a perda da qualidade do habitat provocada pela desertificação progressiva e o desmatamento levaram a uma redução dramática do número de espécies de animais e plantas nativas. Algumas espécies já foram extintas na natureza (por exemplo, a ararinha-azul Cyanopsitta spixii) e muitas outras populações, como consequência de atividades humanas, foram reduzidas a números muito baixos e são consideradas ameaçadas de extinção. Por estes motivos, todos os benefícios proporcionados pela biodiversidade, essenciais para a nossa sobrevivência e de todas as outras espécies da Caatinga, estão sendo perdidos5,6,8.

No Brasil e no mundo, vivenciamos atualmente uma redução dramática da riqueza de espécies de abelhas, dentre os principais motivos estão o desmatamento de áreas naturais que provocam a redução da disponibilidade de recursos florais (pólen e néctar, alimento para as abelhas) e dos locais de nidificação (ocos de árvores), a fragmentação de habitat, a introdução de espécies de abelhas exóticas e o uso indiscriminado de pesticidas e inseticidas agrícolas. As abelhas são os principais polinizadores de plantas com flores, ou seja, através do processo de polinização esses insetos garantem a produção de frutos e sementes das plantas9

(Figura 12). A redução de espécies desse importante grupo de polinizadores afeta principalmente o equilíbrio ecológico dos ecossistemas e também a produtividade agrícola de plantas que dependem desse grupo de polinizadores para produzir seus frutos.

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HORTAS EDUCACIONAIS SÃO ESPAÇOS DESTINADOS À PRODUÇÃO DE HORTALIÇAS COMO, POR EXEMPLO, TOMATE, CENOURA, COENTRO E ALFACE. NESSES ESPAÇOS ALÉM DE PRODUZIR PLANTAS DESTINADAS A ALIMENTAÇÃO, DESENVOLVE-SE DE FORMA INTENCIONAL, PROCESSOS QUE BUSCAM AMPLIAR AS POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTO SOBRE ÉTICA, SOLIDARIEDADE, RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL, SEGURANÇA ALIMENTAR E INCLUSÃO SOCIAL. UMA HORTA NA ESCOLA PODE PROPORCIONAR UMA GRANDE VARIEDADE DE ALIMENTOS A BAIXO CUSTO PARA O LANCHE ESCOLAR E TAMBÉM AUMENTAR A QUALIDADE NUTRICIONAL DOS ALIMENTOS. ALÉM DISSO, O CONSUMO DE HORTALIÇAS CULTIVADAS EM PEQUENAS HORTAS AUXILIA NA PROMOÇÃO DA SAÚDE24,25. VAMOS FAZER UMA HORTA NA NOSSA ESCOLA?

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As abelhas sem ferrão, ou abelhas indígenas, são espécies que ocorrem em várias regiões do Brasil. As colônias dessas abelhas são amplamente criadas e multiplicadas para produção de mel. A criação de abelhas sem ferrão (meliponicultura) possui um grande potencial para a economia local, especialmente para atividades de desenvolvimento sustentável. Na Caatinga, a abelha jandaíra (Melipona subnitida) exerce um papel fundamental na polinização de plantas nativas e também de plantas agrícolas importantes como, por exemplo, pimentão, goiaba, tomate e caju. Muitos meliponicultores criam essa espécie para produção de mel, o qual possui grande valor econômico26. Além disso, essa espécie tem sido usada com sucesso como material didático em aulas sobre Educação Ambiental, para discutir a importância da conservação da biodiversidade ambiental, o uso sustentável dos recursos naturais e geração de renda27.

FIGURA 12: Biodiversidade de abelhas e plantas da Caatinga. (a) abelha Melitoma segmentaria na flor de Ipomoea sp. (b) abelha Ceratina sp. na flor de Turnera subulata, (c) abelha Protomeliturga turnerae na flor de T. subulata, (d) abelha Centris sp. na flor de Libidibia ferrea, (e) abelha Centris sp. na flor de L. ferrea, (f) abelha

Xylocopa grisensis na flor de L. ferrea, (g) Xylocopa frontalis na flor de L. ferrea, (h) abelha da família halictidae na flor de Jacquemontia multiflora, (i) abelha Plebeia aff. flavocincta na flor de Croton sonderianus, (j) abelha Trigona spinipes na flor de Waltheria rotundifolia, (k) abelha Melipona subnitida na flor de Ipomoea bahiensis.

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PRECISAMOS ADOTAR MEDIDAS PARA REVERTER ESSE QUADRO DE DESTRUIÇÃO DA BIODIVERSIDADE DE POLINIZADORES. VAMOS CONSTRUIR UM JARDIM PARA POLINIZADORES? PARA ATRAIR OS POLINIZADORES É INDICADO DISPONIBILIZAR PLANTAS COM PERÍODOS DE FLORAÇÃO DIFERENTES QUE POSSAM OFERECER RECURSOS FLORAIS TANTO NA ESTAÇÃO SECA COMO NA ESTAÇÃO CHUVOSA. UMA SUGESTÃO É UTILIZAR PLANTAS NATIVAS DE FÁCIL PLANTIO E CRESCIMENTO RÁPIDO COMO, POR EXEMPLO, A SALSA (Ipomoea asarifolia) E A JITIRANA-ROXA (I. bahiensis), ESSAS PLANTAS ATRAEM MUITAS ESPÉCIES DE ABELHAS SEM FERRÃO E TAMBÉM ABELHAS SOLITÁRIAS. DEVIDO AO SEU FLORESCIMENTO VISTOSO E SEU HÁBITO TREPADOR, A JITIRANA-ROXA PODE SER UTILIZADA PARA ORNAMENTAÇÃO DE CARAMANCHÕES E PRODUZIR SOMBRA9.

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3.6. ACÚMULO DE RESÍDUOS SÓLIDOSO acúmulo de resíduos sólidos, popularmente chamado de lixo, nas ruas e em locais não apropriados para

o depósito de detritos, infelizmente é um problema extremamente frequente. Esse resíduo sólido descartado de forma inadequada apresenta um risco muito sério à saúde, pois pode atrair moscas, mosquitos, baratas, ratos e causar doenças, como dengue e leishmaniose14,28.

Outro problema ambiental é a produção de chorume, um líquido malcheiroso produzido quando o resíduo sólido acumulado vai se decompondo. Além de conter matéria orgânica em decomposição, o chorume pode conter substâncias químicas e metais tóxicos e, consequentemente, ser mais poluente do que o esgoto. O chorume em lixões contamina o solo e pode chegar aos lençóis freáticos que abastecem os poços d’água, a fonte principal de água potável na região semiárida. O processo de decomposição do resíduo sólido também libera gases, como o gás metano e o gás sulfídrico, que poluem o ar e podem causar doenças respiratórias14,28.

Um resultado grave do depósito de resíduo sólido em áreas inadequadas é a contaminação da água dos lençóis freáticos, cujo consumo, junto com a falta de acesso ao saneamento básico, está entre as principais causas responsáveis pelos problemas mais graves de saúde. Atualmente, as doenças infecciosas relacionadas à qualidade da água matam duas vezes mais do que o câncer14!

PARA REFLETIR

VOCÊ PERCEBEU A RELAÇÃO ENTRE O DESTINO INADEQUADO DO RESÍDUO SÓLIDO, A FALTA DE SANEAMENTO BÁSICO E OS PROBLEMAS GRAVES DE SAÚDE? VEJA AS FIGURAS 13, 14 E 15 E A TABELA 01. A REGIÃO NORDESTE DO BRASIL SOFRE MAIS COM A FALTA DE REDE DE ESGOTO, QUANDO COMPARADO À REGIÃO SUDESTE (FIGURA 15). TAMBÉM NO NORDESTE, MAIS CRIANÇAS MORREM ANUALMENTE DA DOENÇA DIARREICA DO QUE NO SUDESTE (TABELA 01).

DISCUTA COM SUA TURMA: QUAL O DESTINO DO RESÍDUO SÓLIDO DA SUA ESCOLA OU DO SEU BAIRRO? DISCUTA A INFORMAÇÃO OBTIDA E COMPARE-A COM OS DADOS DA FIGURA 13. QUAL O DESTINO PARA O ESGOTO SANITÁRIO DA SUA ESCOLA OU DO SEU BAIRRO? DISCUTA A INFORMAÇÃO OBTIDA E COMPARE-A COM OS DADOS DA FIGURA 14.

FIGURA 13: Destinação do resíduo sólido (lixo) em escolas de ensino fundamental na Região Nordeste do Brasil

FIGURA 14: Destinação do esgoto sanitário em escolas de ensino fundamental na Região Nordeste do Brasil.

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FIGURA 15: Comparação entre as Regiões Nordeste e Sudeste quanto à falta da rede de esgoto e mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em crianças menores de 5 anos.

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REGIÃO NORDESTE ÓBITOS POR DOENÇA DIARREICA AGUDA (%)

TABELA 01: Porcentagem de óbitos por doença diarreica aguda em crianças menores de 5 anos nos diferentes estados da Região Nordeste.

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DEVEMOS DIMINUIR A QUANTIDADE DE RESÍDUO QUE DESCARTAMOS NO NOSSO DIA-A-DIA. MUITOS RESÍDUOS QUE GERALMENTE SÃO DESCARTADOS NO LIXO PODEM SER REUTILIZADOS PARA EVITAR O DESPERDÍCIO E REDUZIR A GERAÇÃO DE RESÍDUOS. NÓS PODEMOS REUTILIZAR COPOS, GARRAFAS, LATAS PARA AS MAIS DIVERSAS FORMAS (POR EXEMPLO, BRINQUEDOS E VASOS). ALÉM DISSO, GRANDE PARTE DO NOSSO RESÍDUO SÓLIDO É COMPOSTO POR RESÍDUO ORGÂNICO QUE PODE SER APROVEITADO PARA FAZER COMPOSTAGEM, UM COMPOSTO ORGÂNICO RICO EM NUTRIENTES UTILIZADO EM HORTAS E JARDINS. VAMOS FAZER UMA COMPOSTEIRA?

PARA MAIS INFORMAÇÕES VISITE O SITE: HTTP://WWW.EFRAIM.COM.BR/CARTILHASM.PDF

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4. PENSAR GLOBAL, AGIR LOCAL

"Pensar globalmente, agir localmente", lema consagrado durante a Rio-92 (ou Eco92 – a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento), significa que, a partir de uma percepção global dos problemas ambientais é necessário desenvolver projetos e ações de âmbito local, e futuramente o conhecimento local poderá ser transferido ao nível nacional e global. Uma ferramenta importante para o diagnóstico de problemas ambientais locais é a elaboração de projetos de pesquisas para serem desenvolvidos com os alunos e/ou com a comunidade29.

Para modificar e melhorar o dia-a-dia da escola e da comunidade é preciso muita dedicação, estudo, planejamento e principalmente muita força de vontade. Sabemos que a realidade é complexa e que muitos são os desafios para se construir um futuro melhor. Por isso, trabalhar em conjunto, com cooperação e solidariedade, é fundamental para transformar nossa escola, nosso bairro e nosso planeta. A seguir nós discutiremos o roteiro básico para elaboração de projetos de Educação Ambiental (Figura 16). Então mãos à obra!

4.1. ROTEIRO BÁSICO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

A. PerguntarAntes de iniciar qualquer atividade relacionada à solução dos problemas ambientais locais é importante

refletir sobre as dificuldades que assombram o dia-a-dia dos alunos ou de seus colegas de trabalho. Essa etapa serve para o grupo desabafar e pensar nas dificuldades que os alunos ou os seus colegas de trabalho deverão enfrentar para a solução dos problemas. Discuta com a sua turma algumas questões importantes. O que é um problema ambiental? Quais são os problemas ambientais ao redor da sua escola ou na sua comunidade/cidade? O que fazer para solucionar estes problemas? Trechos de jornais locais sobre problemas ambientais e possíveis soluções poderão ser utilizados em sala de aula ou em seu ambiente de trabalho para auxiliar na elaboração de perguntas. É importante registrar todos os problemas discutidos pela turma ou pelo grupo.

B. InvestigarNessa etapa do projeto de pesquisa será necessário sair da sala de aula ou do seu ambiente de trabalho,

procurando possíveis problemas ambientais ao redor da escola e ou na comunidade/cidade. Realizar trilhas no entorno da sua escola ou entrevistas com a comunidade, com os pais de alunos ou com funcionários da escola ou de outro ambiente de trabalho são fundamentais no processo investigativo. Organizar fotos, desenhos, filmes, reportagens e outras informações sobre a escola e ou sobre a comunidade/cidade ajudam a evidenciar alguns problemas.

Após realizar tais investigações faça uma apresentação em sala de aula ou em outro ambiente de trabalho de um relatório sobre os problemas detectados. Quais são os problemas que a maioria do grupo detectou? Quantos problemas diferentes a turma conseguiu detectar? Qual o problema mais grave ou o mais relevante para a sua escola ou a sua comunidade/cidade?

Todos os problemas e dificuldades têm uma razão de existir, por isso é importante reunir informações para conhecer a história da sua escola e da sua comunidade/cidade. Faça alguns questionamentos: Como esses problemas surgiram? Como era a sua escola e a sua comunidade/cidade há alguns anos atrás? Entrevistar pessoas mais velhas pode ser um recurso valioso e muito interessante.

C. Planejar soluções Após discutir sobre aspectos históricos dos possíveis problemas socioambientais é necessário discutir

sobre a situação atual dos problemas e buscar soluções.

“Sonho que se sonha só é só um sonho, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Raul Seixas

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I. Tempestade de Ideias (Brainstorming): Selecionar um dos problemas identificados (o mais frequente, o mais grave, o mais relevante do ponto de vista da turma). Realize uma ‘tempestade de ideias’ com a turma, juntando todas as ideias e possíveis soluções. Regras básicas da ‘tempestade de ideias’: todas as ideias são válidas e tem o mesmo valor; nenhuma ideia deverá ser comentada (principalmente de maneira negativa) ou eliminada por princípio; todas as ideias devem ser anotadas; a turma inteira precisa ter acesso visual a todas as ideias coletadas (anotar tudo no quadro, em um papel grande colado na parede ou no chão). Se for possível, recomenda-se fazer um desenho do problema e da solução possível – colar todos os desenhos no quadro/papel.

II. Pesquisar referências: Uma parte importante no planejamento de soluções para os problemas ambientais é a pesquisa de referências – livros, revistas e jornais, e textos da internet – pois através da pesquisa é possível conhecer soluções já realizadas com sucesso. As referências podem ser utilizadas como ajuda no planejamento do projeto. Porém, é importante dar atenção às ideias apresentadas pelos alunos.

III. Juntar ideias: Caso existam ideias comuns, colocadas por vários alunos no quadro da ‘tempestade de ideias’, é importante avaliar se essas são soluções viáveis para o problema em questão. Para facilitar a avaliação da viabilidade das soluções propostas podem ser utilizadas referências que já testaram essas ou outras soluções parecidas. É importante, na hora de juntar as ideias principais para um plano de solução, utilizar ideias (às vezes modificadas) que vieram dos alunos da turma, a fim de maximizar a identificação pessoal da turma com o projeto a ser executado.

D. Executar o projetoNa hora de executar o projeto são fundamentais o envolvimento e a participação ativa da turma. Estabeleça

prazos e distribua funções. É preciso que cada grupo ou pessoa se responsabilize por uma ou mais ações.

E. Avaliar soluçãoPara saber se o projeto elaborado pelo grupo ajudou na solução do problema ambiental em questão, é necessário

avaliar se o projeto teve algum efeito positivo. Na maioria das vezes, o problema ambiental não vai desaparecer por completo (o que seria ótimo), mas deverá ser registrado pelo menos algumas melhorias. Caso não haja nenhuma melhoria evidente, o projeto precisa ser repensado e uma nova solução deve ser elaborada. De qualquer forma, em caso de sucesso ou não, o projeto e seu resultado devem ser divulgados (exemplos: website da escola, facebook, blog e revista local) para que outras pessoas possam utilizá-lo como referência na hora de elaborar seus projetos de Educação Ambiental. Uma sugestão é que todo o registro de dados do projeto seja disponibilizado em um mural da escola ou de outro ambiente de trabalho para facilitar a divulgação e a compreensão da situação local.

FIGURA 16: Roteiro básico para elaboração de projetos de Educação Ambiental.

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4.2. ATIVIDADES COMPLEMENTARES SUGERIDAS PARA IDENTIFICAÇÃO DE PROBLEMAS AMBIENTAIS

O passo inicial para elaborar projetos de Educação Ambiental voltados à realidade local é a identificação de problemas ambientais ao redor da sua escola ou na sua comunidade/cidade. A seguir, serão discutidas algumas atividades complementares que poderão ser utilizadas para identificar problemas locais.

4.2.1. Conforto térmico: O efeito do sombreamentoObjetivo: Demonstrar a importância da arborização urbana. Material necessário: Papel, caneta e pelo menos um termômetro ambiental (cuidado: não utilizar

termômetro corporal porque esse tipo de termômetro não registra altas temperaturas do sol).Atividade: Em horários diferentes do dia (por exemplo: cedo pela manhã, próximo do horário

do almoço e no fim da tarde) leve seu grupo para um ambiente externo. Procure uma árvore e coloque o termômetro por 5 minutos na sombra dessa árvore. Os alunos ou seus colegas de trabalho devem ler e anotar o registro do termômetro no papel. Depois é necessário sair do local sombreado e colocar o termômetro por 5min em pleno sol (o grupo poderá ficar na sombra da árvore). Novamente, os alunos (ou seus colegas de trabalho) deverão anotar o registro do termômetro no papel. Faça repetições com diferentes árvores. Caso você tenha mais do que um termômetro, divida a turma em grupos (número de grupos igual ao número de termômetros), e cada grupo poderá registrar a temperatura em um determinado local (sombra/sol).

Avaliação dos resultados: De volta à sala de aula ou escritório, o grupo deve apresentar as temperaturas anotadas. Em turmas com conhecimento de cálculo, é indicado calcular o quanto o ambiente é mais quente no sol do que na sombra nos diferentes horários. Caso a turma não possa realizar os cálculos, é necessário que o professor/educador faça os cálculos e discuta os resultados. Discuta como árvores podem ajudar a manter a temperatura mais baixa em comunidades e cidades. Quantas árvores existem em volta da sua escola? Quantas árvores existem ao redor do seu bairro?

4.2.2. Quanta água eu gasto?Objetivo: Demostrar a importância da captação de água da chuva. Material necessário: Papel, caneta, relógio, garrafa de água de 1 litro, balde de 20 litros.Atividade: Os alunos (ou seus colegas de trabalho) devem anotar, durante uma semana, a

quantidade de líquidos que eles bebem por dia (por exemplo: número de copos de água, suco e/ou refrigerante), quantos minutos eles gastam tomando banho, quantas vezes eles vão ao banheiro, quantas vezes por semana suas roupas, louças e a casa (calçadas e quintal) é limpa.

Avaliação dos resultados: Os alunos (ou seus colegas de trabalho) devem apresentar os resultados anotados. Dependendo do conhecimento de cálculo dos participantes, eles mesmos ou alternativamente o professor/educador, devem calcular a quantidade de água que cada pessoa gastou durante uma semana. Para o cálculo, as seguintes aproximações podem ser utilizadas:

Consumo: 0,3 litros de água por copoBanho: 15 litros de água a cada minuto de banhoDescarga: 10 litros de água a cada descargaLavar roupas: 150 litros de água a cada lavagemLavar louças: 20 litros de água a cada lavagemLavar a casa: 20 litros a cada lavagemEnchendo 20 vezes a garrafa de água de 1 litro e esvaziando-a no balde, é possível demonstrar

quantos litros de água cabem em um balde. Quantos baldes cheios de água os participantes desta atividade gastaram por semana? Discuta com a turma: se toda essa água foi necessária; de onde vem a água? O que pode ser feito para captar água da chuva?

Para mais informações sobre a quantidade de água gasta por pessoa por dia acesse o link: http://www.gazetadopovo.com.br/vidaecidadania/conteudo.phtml?id=588122

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4.2.3. Quem faz o ketchup?Objetivo: Demostrar a importância da conservação das abelhas para nossa alimentação. Material necessário: ingredientes para fazer molho de ketchup caseiro (1/2 kg de tomates, 1/2

xícara de vinagre de maçã, 3/4 xícara de açúcar e sal a gosto); imagens de flores de tomate e maçã e uma garrafa de ketchup para demonstração.

Atividade: Pergunte para o seu grupo do que o ketchup é feito, embora pareça óbvio que os tomates são necessários para fazer um molho de ketchup. Coloque todos os ingredientes na mesa, incluindo aqueles que os alunos não citaram como ingredientes necessários (provavelmente vinagre de maçã, açúcar e sal). Agora pergunte de onde vêm os tomates, o vinagre, o açúcar e o sal. Explique que, para produzir tomates e maçãs, as flores do tomateiro e da macieira precisam ser visitadas por abelhas. Com o auxílio das imagens das flores do tomateiro e da macieira, explique o que é polinização. Como alternativa, deixe os alunos (ou seus colegas de trabalho) fazerem uma pesquisa na internet para eles mesmos descobrirem imagens das flores. Por último, faça com o seu grupo uma receita de ketchup caseiro.

Avaliação dos resultados: Compare o ketchup completo, feito com todos os ingredientes, com aquele feito sem ajuda das abelhas (simples mistura de açúcar com sal). Será que alguém gosta disso? Discuta com os participantes desta atividade a importância das abelhas para produzir frutos utilizados na nossa alimentação.

4.3. ATIVIDADES COMPLEMENTARES SUGERIDAS PARA ELABORAÇÃO DE SOLUÇÕES A elaboração de soluções para os problemas ambientais locais detectados deve ser um trabalho em equipe

para reforçar a identificação de cada aluno com o projeto a ser executado. Todas as ideias são válidas e devem ser consideradas. A seguir discutiremos algumas atividades complementares que poderão ser utilizadas para a elaboração de soluções aos problemas locais.

4.3.1. Desenhar o futuroObjetivo: Idealizar o efeito do projeto ambiental. Material necessário: Duas folhas de papel (tamanho A3), lápis de cor, canetas, aquarelas ou

outros materiais para colorir.Atividade: Coloque as folhas de papel em uma mesa (ou no chão da sala). Na primeira folha,

os alunos devem desenhar a situação ambiental atual referente ao problema detectado (por exemplo: falta de água, lixo nas ruas e/ou calor excessivo). Cada aluno desenhará sua percepção da situação atual, assim o quadro como um todo mostrará uma visão integrada da turma. Na segunda folha, os alunos devem desenhar o mesmo ambiente, mas depois da execução do projeto ambiental. Comparem o antes e o depois.

4.3.2. Arte com material reciclávelObjetivo: Demonstrar possibilidades de reutilizar material reciclável de forma artística.Material necessário: Diversos materiais de embalagem reutilizável (por exemplo: garrafas

PET, copos de plástico, tampas coloridas de plástico e rolos de papelão).Atividade: Hoje em dia, a maioria dos produtos que consumimos é embalado em recipientes

descartáveis, os quais na maioria das vezes são jogados no lixo, sem que se faça qualquer tipo de separação. Pesquise na internet, ou, se possível, peça para os alunos pesquisarem, algumas dicas de como construir brinquedos com sucata. Peça para os alunos coletarem materiais reutilizáveis e usar a criatividade para confeccionar peças ou brinquedos variados.

Visite o site: http://brinquedoscomsucata.blogspot.com.br/

4.4. PESQUISANDO REFERÊNCIASLivros, jornais, revistas e a internet oferecem vários recursos que podem ser utilizados na elaboração e

avaliação de projetos ambientais.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL

EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO AEA

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Autores: Michael Hrncir e Camila Maia-Silva

Referências SugeridasRevista Brasileira de Educação Ambientalhttp://www.sbecotur.org.br/revbea/index.php/revbeaRevista Eletrônica do Mestrado de Educação Ambientalhttp://www.seer.furg.br/remeaPesquisa em Educação Ambientalhttp://www.periodicos.rc.biblioteca.unesp.br/index.php/pesquisa/indexhttp://www.ambientebrasil.com.br/http://www.biodiversitas.org.br/index.htmhttp://www.biota.org.br/http://www.clubedasemente.org.br/http://www.hortaviva.com.br/http://www.lixo.com.br/http://www.revistaea.org/

5. CONVIVENDO COM O CLIMA SEMIÁRIDO: UM RESUMO

Quando as pessoas escutam a palavra Caatinga, o que vem a mente? Para a maioria, a resposta seria um cenário semelhante a uma passagem famosa do livro “Vidas Secas” de Graciliano Ramos. Mas, por outro lado, se realmente desejamos alcançar a sustentabilidade e melhorar a qualidade de vida de nossas cidades e comunidades, não devemos relacionar a Caatinga a uma paisagem seca e pobre, mas sim valorizar as riquezas naturais e a biodiversidade desse importante e exclusivo bioma do nosso país. Por meio da preservação e da valoração dos seus recursos, podemos utilizar de forma sustentável as potencialidades do semiárido brasileiro. No entanto, para tal, é necessário transformarmos localmente nossas realidades. Conviver com o clima semiárido implica transformações pessoais desde a maneira que utilizamos os recursos naturais até o modo que descartamos nossos resíduos. Podemos destacar algumas estratégias para enfrentarmos os problemas socioambientais atuais:

• Conhecer a biodiversidade do semiárido e o funcionamento de seus ecossistemas é o primeiro passo para que seus recursos possam ser aproveitados de maneira sustentável, reduzindo a degradação ambiental e melhorando a qualidade de vida de seus habitantes.

• Promover a educação contextualizada voltada para a realidade local das populações rurais, visando o respeito à diversidade cultural. É necessário estimular uma proposta de educação que valorize a realidade dos estudantes para que eles voltem a frequentar a escola, e consequentemente, favoreça a redução do êxodo rural. A Educação Ambiental nas escolas urbanas e rurais é uma ferramenta fundamental para formar cidadãos conscientes, que valorizem os recursos naturais.

• Uso sustentável de água e energia através da utilização de tecnologias sociais como, por exemplo, mandala (tanques feitos para utilização da água na produção de plantas e também para criar peixes e marrecos), painéis solares (usado para aquecer água e reduzir o consumo de energia do chuveiro elétrico), cisternas para captação de água de chuva e banheiro seco (os dejetos humanos são lançados diretamente em câmaras de compostagem, sem o uso de água para descarga). Essas tecnologias sociais são fundamentais para estabelecer uma convivência mais sustentável com o semiárido13.

• A transição para um sistema de produção agroecológico para reduzir os impactos causados pela agricultura tradicional, uso de agrotóxicos, degradação da qualidade dos solos, buscando a agricultura familiar e a segurança alimentar. Recomenda-se plantar espécies nativas, economicamente importantes, típicas de cada região (por exemplo, umbu, caju e carnaúba). As abelhas sem ferrão também podem ser uma importante fonte de renda para os produtores rurais na Caatinga.

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Autores: Michael Hrncir e Camila Maia-Silva

• Reciclar ou reutilizar os resíduos para diminuir a quantidade de resíduos sólidos nos aterros sanitários e evitar o consumo de energia na fabricação de novos materiais. Os materiais recicláveis, por exemplo, podem ser metais (ferro, cobre e alumínio), plásticos, papéis de jornais e revistas e vidros.

É HORA DA REVISÃO!

• Neste caderno, foi discutido a importância do desenvolvimento de projetos de Educação Ambiental no semiárido brasileiro – uma das regiões brasileiras mais carentes em investimento educacional e com graves problemas ambientais locais que afetam diretamente a qualidade de vida das pessoas;

• Conhecemos inicialmente algumas características naturais do semiárido, em especial o clima e a sua biodiversidade, além de discutirmos um pouco sobre o atual estado de conservação do bioma Caatinga;

• Discutimos que um dos principais problemas ambientais do semiárido brasileiro é o processo de desertificação, um processo resultante do desmatamento de áreas naturais, seguido do uso intenso e desordenado do solo na agricultura e na pecuária.

• Neste caderno, também nos foi apresentado dados alarmantes a respeito do dos cenários futuros de mudanças climáticas para a região semiárida brasileira, incluindo aumento na temperatura média e redução no volume das chuvas;

• Além disso, conhecemos um pouco sobre um outro problema comum no semiárido: a contaminação do solo e da água por resíduos sólidos e efluentes;

• Reconhecemos que a implantação de projetos em Educação Ambiental que envolvam solidariamente comunidades locais é um dos principais mecanismos para resolver os principais problemas socioambientais do semiárido brasileiro.

• Finalmente, apresentamos neste caderno algumas estratégias para enfrentarmos problemas socioambientais no semiárido brasileiro: conhecer a importância da biodiversidade da Caatinga; promover Educação Ambiental contextualizada à realidade e diversidade cultural local e elaborar e executar projetos que visem, por exemplo, o uso sustentável da água/energia, a produção agroecológica, a reciclagem ou a reutilização de resíduos, a arborização e o reflorestamento com espécies nativas.

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Autores: Michael Hrncir e Camila Maia-Silva

QUE TAL RESPONDERMOS AS QUESTÕES ABAIXO PARA FIXAR ALGUNS CONCEITOS? VAMOS LÁ?

1 - A Caatinga é o único bioma inteiramente restrito ao território brasileiro, representando 70% da Região Nordeste e 11% do território nacional. A partir de sua leitura sobre o bioma Caatinga, apresente três características básicas para descrevê-la.

2 - Considerando os históricos socioeconômicos definidos pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC, pesquisadores têm projetado cenários futuros de mudanças climáticas para a região semiárida brasileira. Comente brevemente sobre esse cenário.

3 - O que você entende por desertificação? Quais fatores podem contribuir para o aumento de áreas em processo de desertificação?

4 - Imagine a seguinte situação: na sua escola, ou outro ambiente de trabalho, as pessoas não separam os resíduos em ‘recicláveis’ e ‘não recicláveis’. O material reciclável também não é encaminhado a nenhuma associação ou cooperativa de catadores de materiais recicláveis. Seus alunos ou colegas de trabalho também não te dão muita atenção quando você trata deste assunto. Sendo assim, que estratégia inovadora você poderia criar para sensibilizar as pessoas próximas a você a aderirem à prática de coleta seletiva solidária?

5 - De forma resumida, como você descreveria o roteiro básico para elaboração de projetos de Educação Ambiental?

6 - Faça a seguinte análise em sua casa ou em seu ambiente de trabalho. Veja quanto de energia elétrica foi gasto (em reais e em kwh) mensalmente durante o ano de 2014. Naqueles meses de menor e maior gasto, o que mudou na rotina da casa ou do trabalho? Após esta análise, que medidas de baixo custo você poderia implantar para potencialmente reduzir seu consumo e consequentemente seus gastos com energia elétrica?

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REFERÊNCIAS

1. CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. 6. ed. São Paulo, SP: Cortez, 2012.

2. KINNARD, C.; ZDANOWICZ, C. M.; FISHER, D. A.; ISAKSSON, E., VERNAL, A.; THOMPSON, L. G. Reconstructed changes in Arctic sea ice over the past 1,450 years. Nature 479: 509-513, 2011.

3.WWF - WORLD WIDE FUND FOR NATURE. Planeta Vivo Relatório 2010. http://d3nehc6yl9qzo4.cloudfront.net/downloads/08out10_planetavivo_relatorio2010_completo_n9.pdf, acessado: Janeiro de 2015.

4.WWF - WORLD WIDE FUND FOR NATURE. Planeta Vivo Relatório 2014 – Sumário.http://d3nehc6yl9qzo4.cloudfront.net/downloads/sumario_executivo_planeta_vivo_2014.pdf, acessado: Janeiro de 2015.

5. LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. Ecologia e Conservação da Caatinga. 1. ed. Recife, PE: Ed. Universitária da UFPE, 2003. v. 1p. 822.

6. CASTELLETTI, C. H. M.; SILVA, J. M. C.; TABARELLI, M.; SANTOS, A. M. M. Quanto ainda resta da Caatinga? Uma estimativa preliminar. In: SILVA, J. M. C. TABARELLI, M.; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. (Eds.). Biodiversidade da Caatinga: Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2004. p. 91–100.

7. GIULIETTI, A. A. M.; NETA, A. L. B.; CASTRO, A. A. J. F.; GAMARRA-ROJAS, C. F. L.; SAMPAIO, E. V. S. B.; VIRGÍNIO, J. F.; QUEIROZ, L. P.; FIGUEIREDO, M. A.; RODAL, M. J. N.; BARBOSA, M. R. V.; HARLEY, R. M. Diagnóstico da vegetação nativa do bioma Caatinga. In: SILVA, J. M. C. TABARELLI, M.; FONSECA, M. T.; LINS, L. V. (Eds.). Biodiversidade da Caatinga: Áreas e Ações Prioritárias para a Conservação. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2004. p. 48–131.

8. MMA - MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. http://www.mma.gov.br/biomas/caatinga, acessado: Janeiro de 2015.

9. MAIA-SILVA, C.; SILVA, C. I.; HRNCIR, M.; QUEIROZ, R. T., IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. Guia de plantas: visitadas por abelhas na Caatinga. 1. ed. Fortaleza, CE: Editora Fundação Brasil Cidadão, 2012. p. 191.

10. PRADO, D. 2003. As caatingas da América do Sul. In: LEAL, I. R.; TABARELLI, M.; SILVA, J. M. C. (Eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga. 1. ed. Recife, PE: Ed. Universitária da UFPE, 2003. p. 75-134.

11. ALVARES, CA., STAPE, JL., SENTELHAS, PC., GONÇALVES, JLM. and SPAROVEK, G., 2013. Köppen’s climate classification map for Brazil. Meteorol. Z., vol. 22, no. 6, p. 711-728.

12. MARENGO, J. A. Mudanças climáticas globais e seus efeitos sobre a biodiversidade: caracterização do clima atual e definição das alterações climáticas para o território brasileiro ao longo do século XXI. 2. ed. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2006. p. 212.

13. LIMA, R. C. C.; CAVALCANTE, A. M. B.; PEREZ-MARIN, A. M. Desertificação e mudanças climáticas no semiárido brasileiro. Campina Grande, PB: Instituto Nacional do Semiárido, 2011. p. 209.

14. WWF - WORLD WIDE FUND FOR NATURE. Cadernos de Educação Ambiental – Água para Vida, Água para Todos: Livro das Águas. Brasília, DF: WWF-Brasil, 2006.

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15. CENTRO DE GESTÃO E ESTUDOS ESTRATÉGICOS (BRASIL). A questão da água no Nordeste. Brasília, DF: Agência Nacional de Águas, 2012. p. 432.

16. SANTOS, R. N. et al. Programa um milhão de cisternas: guardando água para semear vida e colher cidadania. Agriculturas, v. 7, n. 3, p. 7–11, 2010.

17. HESPANHOL, I. Potencial de reuso de água no Brasil: agricultura, indústria, municípios, recarga de aqüíferos. Revista Brasileira de Recursos Hídricos, v. 7, p. 75–95, 2002.

18. PRIMACK, R. B.; RODRIGUES, E. Biologia da conservação. Londrina, PR: Editora Planta, 2001. p. 328.

19. ALVAREZ, I. A.; OLIVEIRA, U. R.; MATTOS, P. P.; BRAZ, E. M.; CANETTI, A. Arborização urbana no semiárido: espécies potenciais da Caatinga. Documentos Embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, v. 243, p. 1–28, 2012.

20. COSTA, T. C. C. OLIVEIRA, M. A. J.; ACCIOLY, L. J. O.; SILVA, F. H. B. B. Análise da degradação da caatinga no núcleo de desertificação do Seridó (RN/PB). Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental, v. 13, n. 21, p. 961–974, 2009.

21. MMA - MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Panorama da desertificação no estado do Rio Grande do Norte. www.mma.gov.br/estruturas/sedr.../panorama_riograndedonorte.doc. acessado: Janeiro de 2015.

22. MEDEIROS, C. A. B.; CARVALHO, F. L. C.; STRASSBURGER, A. S. Transição agroecológica: construção participativa do conhecimento para a sustentabilidade – resultados de atividades 2009/2010. Brasília, DF: Embrapa, 2011. p. 295.

23. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Agrobiodiversidade e Diversidade Cultural. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2006. p. 82.

24. IRALA, C. H. I.; FERNANDEZ, P. M.; RECINE, E. Manual para escolas - A Escola promovendo hábitos alimentares saudáveis. Brasília, DF: FUNSAUDE/ Departamento de Nutrição com o Departamento de Política de Alimentação e Nutrição da Secretaria de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde, 2001. v. 1 p. 20.

25. LEMOS, G. N.; MARANHÃO, R. R. Viveiros educadores - plantando vida. Brasília, DF: Ministério do Meio Ambiente, 2008. p. 84.

26. BRUENING, H. Abelha jandaíra. Coleção Mossoroense, serie C, volume 557. 1990. p. 181.

27. MAIA-SILVA, C.; HRNCIR, M.; GONÇALVES, L. S.; IMPERATRIZ-FONSECA, V. L. Trilha dos polinizadores UFERSA: um passeio ecológico na Caatinga. Mensagem Doce, v. 126, p. 2–5, 2014.

28. POSSAMAI, F. V. A posição do ser humano no mundo e a crise ambiental contemporânea. Revista Redbioetica/UNESCO 1; https://revistaredbioetica.wordpress.com/2010/07. Acessado: Janeiro de 2015.

29. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO; MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Formando Com-vida, Comissão de Meio Ambiente e Qualidade de Vida na Escola: construindo Agenda 21 na escola. Brasília, DF: MEC, Coordenação Geral de Educação Ambiental, 2007. p. 56.

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EDITORAEDUFERSA - Editora da Universidade Federal Rural do Semi-Árido

Campus Leste da UFERSAAv. Francisco Mota, 572 - Bairro Costa e Silva

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COMPOSIÇÃOFormato: 21cm x 29,7cm

Capa: Couchê, plastificada, alceado e grampeadoPapel: Couchê liso

Número de páginas: 40Tiragem: 200

Agência Brasileira do ISBN ISBN: 978-85-5757-000-9

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