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EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: O JOGO COMO FERRAMENTA DIDÁTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESPORTE
Tânia Ludinete Celeti da Silva Bela1
RESUMO
Este estudo pretendeu apontar algumas possibilidades pedagógicas para o desenvolvimento do esporte nas aulas de Educação Física, considerando as características lúdicas do jogo. Para tanto, primeiramente foi aplicado um questionário aos alunos e professores, a fim de identificar aspectos pedagógicos e metodológicos que são priorizados e utilizados pelos professores para trabalhar com o Esporte nas aulas de Educação Física. Constatou-se, na análise das respostas dos questionários que a proposta de se tratar o esporte ludicamente é algo ainda muito distante das aulas de Educação Física. Posteriormente o projeto foi desenvolvido numa escola da Rede Pública Estadual de Ensino, com alunos de 5ª e 6ª séries, no qual foram priorizados os Jogos Cooperativos para o desenvolvimento dos conhecimentos básicos do esporte. Foi possível constatar que a integração proporcionada pela atuação em duplas ou equipes apresentou-se, para os alunos, como a melhor forma de se alcançar resultados positivos, além de despertar a noção de comprometimento de uns com os outros. Foi necessário utilizar várias estratégias diferenciadas como a adaptação das regras, do espaço, do número de jogadores entre outras, não havendo distinção entre os alunos em relação a habilidades e aptidões de qualquer natureza. Embora no início do projeto alguns alunos da 6ª série tenham apresentado certa resistência, no seu desenvolvimento todos acabaram participando das atividades propostas com entusiasmo e alegria. Assim, o esporte com enfoque lúdico apresentou-se como uma possibilidade metodológica viável e indispensável a uma formação crítica para o desenvolvimento da cidadania.
PALAVRAS-CHAVE: esporte, ludicidade, jogos cooperativos, integração, formação.
1 Professora PDE – 2007, atua na rede pública estadual de ensino do Paraná há 29 anos.
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INTRODUÇÃO
Jogo e Poesia
Lucinea Aparecida de Rezende
Quem joga o jogo?
Quem joga, joga o jogo
de quem joga. Que jogo?
o jogo de aprender a ser,
de saber, conhecer,
reconhecer, ganhar, perder,
desafiar, fiar no tempo, sem tempo... Quem joga?
Quem quer jogar? Quem sabe jogar? Quem pode jogar?
O que ensina quem ensina a quem quer aprender jogar?
O que aprende quem quer aprender (jogar)?
Aprende a aprender? A ganhar e a perder?
Aprende de fato, Ou isso é boato?
Joga o jogo, reinventa a lógica! Descubra todo dia
a beleza do brincar! Afinal, qual o jogo de quem joga
Com quem quer jogar?
A Secretaria de Estado de Educação do Paraná (SEED), com o objetivo
de proporcionar a formação continuada dos professores da Rede Pública de
Ensino, criou o Plano de Desenvolvimento Educacional – PDE2, estabelecendo
um trabalho integrado com os professores das Instituições de Ensino Superior e
da Rede Pública Estadual através de atividades teórico – práticas orientadas
proporcionando aos professores que atuam na escola subsídios teóricos
2 Maiores informações: www.pde.pr.gov.br
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metodológicos para o desenvolvimento de ações educacionais que resultem na
produção de conhecimentos e mudanças qualitativas na prática escolar.
O processo inclui os professores que fazem parte do Quadro Próprio do
Magistério (QPM), da Rede Pública Estadual do Paraná, e que foram aprovados
no processo de seleção da SEED, os professores PDE foram então dispensados
integralmente das atividades em sala de aula no ano de 2007 para que pudessem
se dedicar aos trabalhos que o subsidiariam na elaboração de material didático.
No ano de 2008, os objetivos foram desenvolver um projeto de intervenção na
escola e implementar o trabalho, pelo Grupo de Trabalho em Rede (GTR)3, na
ocasião os professores foram dispensados em 25% de sua carga horária. A
discussão com o GTR proporcionou a troca de experiências e conhecimentos
entre os professores colaborando para subsidiar teórica e metodologicamente a
elaboração de um artigo versando sobre o tema escolhido para a pesquisa.
Professora de Educação Física atuando na Educação Básica, no Ensino
Fundamental, Ensino Médio e Profissionalizante, a autora deste trabalho tem
observado, ao longo de vinte e nove anos de docência, a importância que assume
o Esporte como conteúdo das aulas de Educação Física e o quanto o professor
precisa refletir sobre sua ação docente quando trabalha com esse fenômeno
social.
Patrimônio da cultura corporal de movimento, o Esporte tem assumido
uma dimensão muito significativa em todo mundo, podendo ser entendido como
um fenômeno histórico extremamente ligado às relações socioculturais do ser
humano, ao mesmo tempo em que desperta emoções e paixões, também
desperta interesses diversos a grupos bastante distintos.
Sabe-se que o esporte sempre despertou grande interesse dos governantes,
sendo muitas vezes utilizado como objeto para estratégias de ação política e ao
mesmo tempo dando a idéia de que sua prática promoveria saúde às pessoas,
melhorando a qualidade de vida da população. (FINCK, 1995).
Assim sendo, foi difundido como sendo “direito de todo cidadão e dever do
estado”, como consta na Carta Internacional de Educação Física e Esportes
(UNESCO, 1978/79), no seu artigo 1º, que determina: o esporte é direito de todos.
3 Grupo de estudos e discussões composto por professores da rede pública estadual, cuja tutoria é de responsabilidade do professor PDE, efetivado no ambiente Moodle (WWW.e-escola.pr.gov.br).
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Nesse sentido o Ministério Extraordinário dos Esportes (BRASIL, 1996a) também
estabelece que toda população deva ser contemplada com a prática desportiva,
apontando três grupos com objetivos e características diferenciadas, que são:
esporte de rendimento, esporte de lazer e esporte educacional. (FINCK, 1995).
Finck (1995) lembra que nesse período, a Educação Física na escola ficou
subordinada às políticas esportivas, e o esporte passa a ser desenvolvido de
acordo com os parâmetros de rendimento satisfazendo, assim, os interesses do
Estado.
A referida autora afirma que esses aspectos, entre outros, contribuíram
para que o esporte se tornasse o conteúdo predominante das aulas de Educação
Física, ocupando um lugar de destaque nessas aulas e tem sido, ao mesmo
tempo, objeto de estudo e preocupação de muitos pesquisadores pela forma
como vem sendo tratado no ambiente escolar.
Como ressalta Finck: O Esporte é um dos elementos constitutivos da
Educação Física. Expandiu-se de tal forma tornando-se um dos maiores
fenômenos sociais deste século, refletindo na prática da Educação Física
Escolar”. (1995, pg. 59).
Nesse sentido, a autora ratifica que é possível perceber na escola
resquícios de uma prática do esporte mais voltada para a realização de gestos e
movimentos, com ênfase na técnica e tática, e evidencia que a abordagem do
esporte na escola deva estar voltada para o desenvolvimento de objetivos
educacionais, sendo estes também a base para a prática do esporte como
rendimento e lazer.
Freire (1989) quando fala da educação das crianças, ressalta que na
escola seria necessário considerar o conhecimento e as experiências que a
criança já possui. Paes (2001, p. 32), ao se referir à aprendizagem do esporte,
também destaca essa necessidade, ou seja, “uma pedagogia do esporte, para o
ensino fundamental, deve ser pensada tendo em conta as habilidades que o
aluno, até mesmo de forma natural, adquiriu fora da escola”.
O professor deve abordar os conhecimentos referentes ao esporte, nas
aulas de Educação Física, de forma refletida e planejada, objetivando subsidiar o
aluno para que enfrente suas dificuldades e limitações, criando também
possibilidades para que ele possa se superar, aceitar regras e limites, tornando-se
assim responsável e capaz.
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Dessa forma, a vivência e o conhecimento que o aluno terá sobre o esporte
poderão contribuir para a formação de sua cidadania, de maneira que possa ser
exercida efetivamente.
Nas aulas de Educação Física, o aluno deve ter oportunidades para
participar na construção do conhecimento, e, para que isto ocorra, é necessário
que o professor crie situações pedagógicas que possibilitem o envolvimento
desse aluno. Ele precisa conhecer, entender, construir e agir, para que possa
realmente aprender e internalizar essas ações e, dessa forma, interferir sobre sua
realidade. (FINCK, 1995).
De acordo com Bregolato (2003, p. 111):
O esporte educacional é democrático. Prepara o aluno para exercer a cidadania porque ele participa da construção da sua realidade, e mais, vivencia a autonomia da liberdade: a pessoa só é livre quando constrói sua realidade, podendo interferir nela, e o exercício da cidadania é construído mediante a participação, que é a mola propulsora da democracia.
Mediante essas considerações, buscou-se investigar quais os
procedimentos didáticos e metodológicos possíveis e adequados para ensinar o
esporte na escola. Isto posto, se fez necessário analisar e refletir sobre o esporte
enquanto conteúdo pedagógico, as necessidades dos alunos e a prática
pedagógica do professor, para que pudéssemos, então, apontar
encaminhamentos metodológicos possíveis para o desenvolvimento do esporte
nas aulas de Educação Física.
Assim, mais algumas questões foram relevantes e nortearam, também, o
desenvolvimento deste trabalho, são elas:
A formação do professor influencia na abordagem sobre o esporte nas
aulas de Educação Física? A metodologia utilizada, nas aulas de Educação
Física, quando o professor trabalha com o conteúdo “esporte” tem cumprido sua
finalidade educativa? Quais as condições que a escola pública oferece para o
professor de Educação Física desenvolver seu trabalho? Como promover
mudanças na prática pedagógica do professor de Educação Física? Que
encaminhamentos metodológicos poderão ser priorizados para redimensionar os
conteúdos e o conhecimento nas aulas de Educação Física?
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Com bases nessas questões, os estudos empreendidos tiveram como
objetivo analisar a prática pedagógica e metodológica que o professor utiliza para
abordar o esporte nas suas aulas.
Dessa forma, pretendeu-se apontar, neste trabalho, possibilidades
metodológicas para o ensino do esporte nas aulas de Educação Física, com o
desenvolvimento dos Jogos Cooperativos, tendo em vista um ensino com
características envolventes, inclusivas e que incentivem a participação de todos
os alunos.
O ESPORTE COMO CONTEÚDO PEDAGÓGICO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA
As aulas de Educação Física não podem ser desenvolvidas numa
concepção de performance, visando o treinamento esportivo e a busca de atletas,
e também não podemos excluir o esporte das aulas, pois é um fenômeno
histórico, social e cultural, e deve ser abordado na escola de forma ampla,
significativa e contextualizada. (FINCK, 1995).
O esporte, como prática social que institucionaliza temas lúdicos da cultura corporal, se projeta numa dimensão complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e significados da sociedade que o cria e o pratica. Por isso, deve ser analisado nos seus variados aspectos, para determinar a forma em que deve ser abordado pedagogicamente no sentido de esporte “da” escola e não como o esporte “na” escola. ( SOARES, 1992, pg. 70).
Numa prática sistematizada, criativa e consciente pode se desenvolver
a motivação, o interesse, e a participação efetiva dos alunos, bem como
qualidades, capacidades físicas e morais. Paes afirma “que o ensino do
esporte na escola poderá tornar-se uma atividade prazerosa, participativa, de
fácil compreensão e motivadora; aspectos considerados por nós, como de
extrema importância para que o aluno aprenda”. (2001, pg. 32).
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O grande interesse dos alunos pela prática, durante as aulas, leva o
esporte a se constituir num instrumento pedagógico de grande valor educativo.
É um fenômeno histórico extremamente ligado às relações socioculturais,
ocupando um lugar de destaque nas aulas, pelas contribuições indispensáveis
à formação do aluno.
Nas 5ª e 6ª séries os alunos iniciam o aprendizado do esporte de forma
sistematizada, o professor deve possibilitar-lhes a vivência de várias
modalidades esportivas, organizando as aulas de maneira que todos possam
participar e aprender. “Assim o esporte, como conteúdo de Educação Física,
deve estar acessível em igualdade de condições para todos os alunos.“ (DCEs,
2006, pg. 23).
O esporte, praticado de forma consciente e sistematizada, além de
aprimorar as capacidades físicas, poderá desenvolver no aluno o conhecimento
do próprio corpo bem como valores éticos, podendo assim contribuir na
formação de sua personalidade.
Busca-se que o aluno tenha um entendimento crítico das manifestações esportivas, as quais devem ser tratadas de forma ampla; isto é, desde sua condição técnica, tática, seus elementos básicos, até o sentido da competição esportiva, a expressão social e histórica e sua significação cultural como fenômeno de massa”. (DCEs, 2006, pg, 23).
Por ser um fenômeno social e tema da cultura corporal, como já destacado,
é preciso repensar a sua prática. “Propiciar aos alunos o direito ao acesso à
prática esportiva e adaptar o esporte à realidade escolar devem ser ações
cotidianas na rede pública” (DCEs,2006).
Conforme Finck afirma:
A maneira como o Esporte é desenvolvido na escola, é que lhe dá os contornos enquanto atividade da Educação Física, e quem mediatiza esse processo é o professor, através da definição dos objetivos político-pedagógicos no planejamento de ensino, pois eles antecedem e orientam a prática docente. (1995, pg. 74).
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Segundo PAES (2001, p.18), “o esporte é aquilo que fazemos dele”.
Acredita-se que a escola seja o espaço mais importante para a educação formal,
onde se concebe novos conhecimentos, se realiza novas experiências e também
onde o educador pode avaliar o processo de ensino aprendizagem, objetivando a
educação de qualidade.
Dessa forma, é preciso haver a organização de um trabalho pedagógico
com base no que os alunos já conhecem e sabem sobre movimento, uma vez que
eles aprendem, por meio de experiências, vivências, jogos e brincadeiras na rua,
nas escolinhas, na televisão, trazendo esse conhecimento para o ambiente
escolar.
Muitos fatores tornam o esporte o conteúdo predominante nas aulas de
Educação Física, mas ao mesmo tempo contribui para que a maioria dos alunos
não participe ativamente do processo de ensino aprendizagem. Os princípios
básicos da Educação Física na escola deveriam ser a inclusão e a participação.
Segundo FINCK (1995, pg.112), “Nas aulas de Educação Física Escolar, o
Esporte rendimento deveria dar lugar ao jogo que o aluno deseja. A disciplina
imposta deveria ser banida, dando lugar a indagações, espontaneidade e
criatividade, o lúdico ao invés da técnica.”
Não há dúvidas de que, considerando o grande valor educativo do Esporte,
o grande interesse que desperta nos alunos, e as possibilidades que o jogo
oferece através de seus componentes lúdicos, o professor pode oportunizar aos
alunos uma gama maior de possibilidades para o aprendizado do Esporte nas
aulas de Educação Física. (FINCK, 1995; PAES, 2001).
Entretanto, segundo Carvalho apud Paes (2001), existe um discurso sobre
o esporte escolar diferente da realidade na escola. Na maioria das vezes, os
“habilidosos” são privilegiados enquanto a maioria é privada da participação nas
aulas em que se trabalha o esporte.
Portanto, para o desenvolvimento do esporte, atendendo a princípios
lúdicos, o jogo oferece as condições necessárias, pois possibilita adaptação das
regras, do espaço, e material, o número de participantes, além de ser uma
atividade prazerosa.
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“A capacidade que o ser humano tem de pensar, ensaiar e planejar
conforme LEONARDO (2008)4 está atrelada à sua capacidade de ensaiar
cognitivamente inúmeras situações cotidianas vivendo neste nível de consciência,
experiências que serão transferidas para sua vida através de suas atitudes.
Quando a criança realiza, sem necessidade, um ato já conhecido, deve estar
fazendo por prazer. A essa conduta chamamos de jogo. Por conseguinte, o
trabalho com o jogo estimula a capacidade cognitiva e a ludicidade ,fazendo com
que o individuo planeje, discuta com os outros uma ação, lembrando-lhe de
situações já vividas no seu dia a dia, sendo a forma mais comum de levá-lo à
escolha da melhor solução naquele momento, para atingir os objetivos do jogo.
Para FREIRE (1991, p.117), “o jogo de regras” é uma característica do ser
suficientemente socializado, que pode, portanto, compreender uma vida de
relações mais amplas. Enquanto joga, o aluno representa e apresenta habilidades
e condutas a que os adultos se submetem quando vivem em sociedade, mas que
para a criança, livre de pressões, servirá de suporte para atingir habilidades de
nível mais alto, quando necessário. São as regras impostas pelo grupo na qual
ele pertencerá quando for para a escola.5
Para o aluno, jogar não é um ato descomprometido com a realidade, pois
ele leva em consideração quem joga com ele, os objetos, o local. A cada jogo há
uma adaptação com os elementos com os quais ele se relaciona. A cada jogo
haverá um novo desafio e ele terá que se esforçar ao máximo para que, individual
ou coletivamente, seja capaz de atingir os objetivos.
O jogo, contextualizado ludicamente, transforma o ambiente de ensino-
aprendizagem em um momento extremamente produtivo e criativo, estimulando a
autonomia dos alunos. Para FREIRE, (1991, p.119) “num contexto de educação
escolar, o jogo proposto como forma de ensinar conteúdos às crianças aproxima-
se muito do trabalho”, dado à característica de ser uma brincadeira que tem
regras e exige o comprometimento de quem participa. Não é um jogo qualquer, e
sim aquele comprometido com a formação do aluno.
4A criança vivenciou experiências antes de colocá-las em prática na vida real, graças a habilidade de jogo consigo mesmo. 5 Para PIAGET (p. 148) in FREIRE (1991 regra é a característica principal das relações dos indivíduos e sociedade, os quais, quando jogam o fazem socialmente.
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A origem e o desenvolvimento do jogo estão estreitamente ligados às
relações socioculturais, constituindo-se em um fenômeno histórico. Nas atividades
lúdicas é despertado o prazer, a alegria e a socialização, podendo também ser
utilizada para a iniciação desportiva.
Freire, (1991, pg. 117), acredita que “todas as formas de jogo aparecem,
com maior ou menor predominância, em todos os períodos de vida, também as
funções dos jogos são semelhantes em qualquer uma delas”.
O jogo proposto como conteúdo aproxima-se do trabalho dado à
característica de ser uma brincadeira que tem regras e exige o comprometimento
de quem participa.
Segundo Freire (1991), o jogo e o esporte abordados como conteúdo na
escola deve ser aquele que se inclui num projeto que tem objetivos educacionais.
Por isso, o professor, utilizando o jogo para iniciar o aprendizado do esporte
organizado e sistematizado, deve saber o que vai desenvolver e quais objetivos
pretende alcançar, tornando a atividade prazerosa sem se preocupar com
desempenho.
Uma metodologia adequada deverá estar relacionada à formação do aluno,
pois no ambiente lúdico é que podem ser obtidos os melhores resultados nos
aspectos da integração, da expressão, da criação, do desenvolvimento de
atitudes e habilidades. O resgate dos jogos tradicionais e a adaptação de regras
feitas pelos próprios alunos, bem como um trabalho organizado são fatores que
colaboram para que haja a participação e interesse de todos os alunos tornando a
atividade mais prazerosa.
Paes (2001, p. 82) nos aponta o jogo possível como sendo um recurso
facilitador que dá ao aluno a oportunidade de conhecer e desenvolver os
fundamentos básicos do esporte de forma agradável.
DA QUESTÃO À REFLEXÃO: UMA PROPOSTA NECESSÁRIA NA ESCOLA
(...) o lúdico na escola poderia tornar real a construção de um
projeto revolucionário, pois daria aos sujeitos envolvidos
neste contexto (...), mesmo que esporádica e momentaneamente,
oportunidade de reapropriação e posse de suas vidas,da
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história e de sua cultura.( GARIGLIO, J.A.,1995,p.30)
Além de encontros de leituras, reflexões, análises, pesquisas e seleção de
referencial teórico-metodológico, seminários, debates, tutoria online do Grupo de
Trabalho em Rede (GTR), promovidos pela SEED no processo de formação
continuada, exigiu-se também que o professor PDE desenvolvesse uma proposta
de intervenção no espaço escolar de onde atuasse.
Tal proposta teve como pressuposto as Diretrizes Curriculares da Rede
Pública de Educação Básica do Estado do Paraná (DCEs), no que se referem ao
conteúdo estruturante Manifestações Esportivas, apontando como elemento
articulador o corpo que brinca e aprende: manifestações lúdicas, destacando-se
as possibilidades pedagógicas do jogo como atividade corporal nas aulas de
Educação Física.
Objetivou-se considerar o sentido da práxis pedagógica e analisaram-se os
fundamentos teórico-metodológicos que o professor utiliza para abordagem do
esporte nas aulas de Educação Física. A partir da análise crítica dos fundamentos
da prática efetiva do professor nas aulas de Educação Física, buscou-se
possibilidades para a elaboração de materiais a serem utilizados para a
abordagem do Esporte, assim como correspondentes estratégias e técnicas de
ensino.
O trabalho foi organizado e desenvolvido tendo os Jogos Cooperativos
como eixo norteador para a abordagem do esporte nas aulas de Educação Física
na 5ª e 6ª séries. Foram desenvolvidas leituras pertinentes à temática
considerando-se as condições de espaço e material disponível na escola assim
como a formação profissional do professor PDE, proponente do projeto.
Segundo NÓVOA (2002, p.23), “o desafio dos profissionais da área
escolar é manter-se atualizado sobre as novas metodologias de ensino e
desenvolver práticas pedagógicas eficientes”.
O trabalho de intervenção iniciou-se no final do ano de 2007, com um
questionário aplicado aos professores nas três escolas onde a autora deste
trabalho estava lotada: Escola Estadual Margareth M. Mazur, Escola Estadual
Brasílio Antunes da Silva (ambas localizada no Distrito de Itaiacoca – Ponta
Grossa) e também na Escola Estadual Padre Pedro Grzelczaki ( Jardim Paraíso –
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Ponta Grossa).* Foram entrevistados cinco professores, dos quais três eram os
que substituíam a professora PDE proponente do projeto.
O questionário foi organizado com dez perguntas (anexo I), e aplicado aos
professores, embora as respostas tenham sido escritas de forma bastante
resumida, foi possível constatar que o esporte é o conteúdo que predomina nas
aulas de Educação Física, não importando o tempo de atuação do professor na
escola ou o ano de conclusão da Graduação.
Um fato chamou a atenção: em duas das escolas, os professores alegaram
que não tinham tempo para responder ao questionário, levando-o para casa,
porém não o devolveram no prazo determinado, afirmando que haviam deixado
em casa. Acredita-se que isto aconteceu porque, na maioria das vezes, os
professores não querem falar sobre sua prática pedagógica, temendo
comprometerem-se ou temendo serem ridicularizados ou menosprezados pelo
trabalho que desenvolvem.
A PRIORIDADE NAS AULAS: O ESPORTE
“O que o professor de Educação Física prioriza nas aulas com seus alunos de 5ª
e 6ª séries” A resposta a esta pergunta é o subtítulo que abre a análise das
respostas dadas por professores das escolas já citadas. Algumas vezes, a ginástica aparece, mas como preparação para o
esporte.
Quando perguntado para o professor sobre qual o conteúdo que os alunos
se interessam e gostam mais, a resposta supracitada, de modo geral, se repete:
“Jogar, esporte e qualquer atividade que tenha competição”.( Professor da Escola A)
“Jogos que tenham regras e esportes competitivos”. ( Professor de outro turno da escola A)
“Aulas práticas, esporte, regras básicas e competição”. (O mesmo professor na escola B e C)
“Aulas práticas”. ( Escola B).
“Queimada – iniciação a jogos”
Interessante destacar que quando os professores responderam “aulas
práticas”, deixaram claro que essas aulas significam o mesmo que esportes.
Ao serem questionados sobre a forma como o professor organiza e efetiva
o trabalho docente, as respostas foram variadas:
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“Planejamento bimestral, dentro das possibilidades que a escola oferece,modificando
conforme a
situação” (Escola A)
“Divido as aulas em teórico e prática, fazendo a ligação entre as duas”. (Escola A)
“Trabalho regras táticas, fundamentos, jogos, brincadeiras, qualidade de vida, postura
alimentação.
(Escola B e C).
“Com fundamentos e prática nos esportes”. (Escola B).
Instigados a responder, também, quais eram os principais objetivos da
Educação Física na visão deles, da mesma forma, as respostas evidenciaram as
aulas como espaço para a técnica e o rendimento, destacando-se a busca por
atletas em potencial.
São apresentadas, na seqüência, algumas respostas e um relato, que embora
esteja fora do questionário, ilustra a reflexão acima:
“Coordenação motora.Uma criança com uma boa coordenação motora terá facilidade em
toda
e qualquer atividade que envolva movimento” (Escola A).
“ Desenvolver o gosto pela atividade física, melhorar o vocabulário motor dos alunos e
tentar
melhorar a qualidade de vida dos alunos através das atividades físicas”.( Escola A).
“Reconhecer a importância da atividade física ,tomar consciência de valores morais e
éticos,desenvolver a sociabilização, desenvolver atividades esportivas e rítmicas,noções
de higiene e saúde.
A conversa descrita a seguir, ocorrida em outra escola, de modo informal, a
qual não estava no roteiro de pesquisa, se fez importante, como registro neste
trabalho, pelo contexto do relato dos alunos que, livremente, vieram até mim,
confirmando a análise acima, e que me surpreendeu naquele momento:
Os alunos de uma sexta série estavam em vários espaços da quadra, a maioria sem fazer nada e uns poucos
separados em quatro grupos, um com uma bola de basquete, uma de futsal, outra com vôlei e alguns na
mesa de tênis, armada num canto. O espaço para todas essas atividades era menor do que uma quadra de
futsal. Enquanto esperavam pelo professor, alguns alunos de outra turma de 6ª série se aproximaram e
perguntaram se eu ia dar aula para eles, porque “o professor não dá nada, assim é muito ruim, porque todo
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mundo fica misturado; é sempre assim”. Fiquei intrigada; como é possível estarem revoltados se os alunos
daquela escola sempre participavam dos jogos escolares e várias vezes a escola ficava bem classificada? - “Só vai para os jogos quem ele quer (o professor). Só quem treina. Os alunos que vão, são aqueles que
treinam fora da escola, na escolinha e antes dos jogos o professor pega uns dias pra treinar eles”.
Não podemos dizer que essa forma de trabalhar o esporte seja o esporte
educacional. Aquele tratado como um conteúdo da disciplina, explicitando seus
objetivos, estratégias, etc. e nem que seja uma prática “esportivizada” (PAES,
2001, p.31), pois as maiorias dos alunos não estavam nem se valendo dos gestos
das modalidades esportivas, uma vez que eles não freqüentavam nenhuma
“escolinha” e na aula não haviam aprendido.
A famosa “escolinha” estava fazendo o papel do professor (bem ou mal,
não sabemos), no entanto, ficou claro que os alunos só “brincavam” na aula. Para
o aluno, jogar não é um ato descomprometido com a realidade, pois ele
consideração quem joga com ele, os objetos, o local. A cada jogo há uma
adaptação com os elementos com os quais ele se relaciona. A cada jogo há um
novo desafio e terá que se esforçar ao máximo para que, individual ou
coletivamente, ele seja capaz de atingir os objetivos. Mas ali naquele momento,
qual era o objetivo? Qual era o papel da escola? E do professor?
Dentre tantas outras, talvez sejam essas dúvidas as motivadoras da
preocupação de muitos pesquisadores, diretores de instituições educacionais e
também de professores.
Não somos contra o esporte rendimento, muito menos contra incentivar os
alunos que possuem aptidão esportiva e que freqüentam clubes, associações e
escolinhas, para representar a escola nos jogos, muito pelo contrário, pois uma
das funções do esporte é a função sócio-cultural, mas e os outros alunos?
Segundo o INDESP (1996)6 o esporte educacional se baseia em alguns
princípios dos quais destaco o princípio da participação, onde o “objetivo é
promover a participação de todos os alunos nas atividades propostas, e não
apenas aqueles com maior aptidão, ou seja, todos têm a mesma oportunidade de
receber os benefícios educativos que a prática esportiva promove”.
6 Instituto Nacional de Desenvolvimento do Esporte. PROGRAMA ESPORTE EDUCACIONAL- Ministério Extraordinário dos Esportes – Instituto Nacional de Desenvolvimento do Esporte, 1996.
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Quanto aos alunos pesquisados no final do ano de 2007 totalizaram
trezentos e dezenove crianças com idade entre 10 e 17 das 5ª e 6ª séries das três
escolas:
Escola Estadual Margareth M. Mazur – 61 alunos
Escola Estadual Brasílio Antunes da Silva – 59 alunos
Escola Estadual Padre Pedro Grzelczaki – 319 alunos
No ano de 2008 o mesmo questionário foi aplicado a mais 143 alunos das
5ª séries da Escola Padre Pedro, onde a proposta de intervenção foi realizada. O
motivo da realização de mais esse questionário foi para comparar as respostas,
uma vez que eram meus alunos e a maioria nunca tivesse tido aulas de Educação
Física com um professor da área, pois na maioria das escolas municipais é o
professor regente quem ministra as aulas. Houve algumas reclamações por parte
dos alunos repetentes, pois já haviam respondido no ano passado.
No questionário aplicado aos alunos (anexo II) havia questões relacionadas
às aulas de Educação Física; os conteúdos já aprendidos, os gostos dos alunos e
as mudanças que gostariam que fossem feitas em relação às aulas.
Quanto às questões aplicadas, a maioria das respostas se completava com
formas diferentes de os alunos se expressarem, mas demonstrando que gostam
mesmo é do esporte, principalmente quando todos jogam juntos.
Na questão 1 – Você gosta das aulas de Educação Física? Por quê? Apenas um
aluno disse não gostar, pois teria que fazer alongamento. Algumas respostas
dadas pelos alunos questionados em 2007.
“Gosto por que aprende muito”
“Por que aprende muito; aprende jogar.”
Joga bola; (aqui eles se referem ao futsal)”
“Gosta de jogar; joga basquete, futsal, vôlei.”
Comparando com as resposta dadas pelos alunos das 5ª séries do ano de
2008, todos gostam das aulas, mas as respostas têm outro enfoque e o esporte
não aparece com tanta freqüência.
“Porque é legal”,
“São boa”
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“ Divertida e alegre”
“Tem jogo”
“Não é só jogar bola”
Quando questionados sobre como são as aulas de Educação Física,
responderam que “são boas alegres e tem esporte”.
Quando se referem ao que mais gostam nas aulas de Educação Física,
também é o esporte a resposta que mais aparece e o que menos gostam são
aulas teóricas assim como o xadrez predominou como resposta negativa em uma
das escolas. Talvez porque a quadra estivesse em construção e disseram ter
ficado muito tempo na sala de aula.
Se consideradas as respostas analisadas até aqui seria necessário relatar o
resultado sobre o que mais aprendem nas aulas? Sem dúvida nenhuma, a
resposta foi “esporte”. De um modo geral, na questão 6 (anexo II) que os
provocava a escolher modalidades esportivas já estudadas , os alunos marcaram
todos os esportes que foram sugeridos,mesmo na escola em que a quadra estava
em construção. Talvez nem precisássemos perguntar sobre o que mais gostam
nas aulas, porque evidentemente é o esporte e, conseqüentemente, assinalaram
que já aprenderam todas as modalidades assim como todos os fundamentos.
“Mas o que chamou a atenção foi o fato de não quererem que mudasse nada nas
aulas,” que ficasse assim mesmo”.
Após levantamento e análise dos dados, chegamos à conclusão de que, embora as realidades das escolas seja bem diferentes, devido à localização das mesmas, o que predomina nas aulas de Educação Física é o esporte.
A IMPLEMENTAÇÃO DA PROPOSTA: APRENDER ESPORTE JOGANDO
O segundo passo das atividades do PDE foi o desenvolvimento de um
plano de ação para a intervenção na Escola Estadual Padre Pedro Grzelczaki.*.
Considerando as características da escola e da comunidade, se propôs
uma metodologia alternativa com atividades coletivas, priorizando a ludicidade.
Sem negar o esporte como conteúdo específico, buscando tornar a prática
do esporte mais prazerosa, democrática e significativa organizamos nosso
trabalho tendo como eixo norteador o jogo. De acordo com Paes (2001, p.77),
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O jogo tem uma função mágica, pois ao mesmo tempo que acentua acentua a
ludicidade de uma prática que visa ao aprendizado de fundamentos, pode
acentuar exigências técnicas,proporcionando melhor execução de movimentos.
Para nós, não há hipótese de sinalizarmos para uma pedagogia do esporte sem
levarmos em conta o jogo como recurso.
Buscou-se desenvolver atividades em que as ações, os movimentos e as
estratégias fossem comuns aos Esportes coletivos tais como: passe (cooperação,
divisão das responsabilidades); organização de espaço (decisões individuais e em
grupo, interação); atacar e defender (ações coletivas); estratégias de finalização
(decisões do grupo); ênfase no desenvolvimento de valores (cooperação, respeito
às limitações individuais e dos outros. superação dos obstáculos, persistência,
resiliência). O enfoque metodológico priorizado na proposta foi a dos Jogos
Cooperativos, pois se considera de suma importância no processo de ensino do
esporte coletivo.
Considerando o jogo um fenômeno cultural, concordamos com Orlick
(1978, p.182), quando apresenta uma face importante do jogo, ou seja, a
cooperação. Segundo o autor, aproximar pessoas, desenvolver valores humanos
é a função dos jogos cooperativos.
O trabalho prático iniciou-se no mês de maio, seguindo um roteiro de plano
de aula e um cronograma elaborado com antecedência, que logo na primeira
semana sofreu algumas alterações, pois a escola não possui quadra coberta para
a realização das atividades nos dias de chuva e muito frio. Algumas atividades
que surgiram durante o período da implementação do projeto, fazendo com que o
cronograma fosse refeito constantemente no mês de setembro.
Durante a aplicação prática dos Jogos Cooperativos cuidou-se para que não
fossem sempre as mesmas equipes garantindo, assim, a participação de todos.
Alternamos o tipo de material usado e também os tipos de jogos cooperativos: de
resultados coletivos, jogos semicooperativos e jogos de inversão.
JOGOS DE RESULTADOS COLETIVOS: O trabalho das equipes
determina um resultado tão satisfatório que permite que todos
joguem ,todos passem e todos marquem gol ou que os membros
mudem de equipe para atingir um objetivo comum sem a
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preocupação de marcar pontos. Como por exemplo, os jogos
Volençol, Queimada sem perdedor, Passe e corra Queimada
divertida, Revezamento com bolas, e outros.
JOGOS INVERSÃO: Pode ser em forma de rodízio, ou com troca de
pares ou de equipe, e também com a troca de pontuação. Neste
caso, os pontos marcados vão para a outra equipe. Observa-se que,
neste caso, mesmo que os pontos sejam computados para a outra
equipe, não há rivalidade, pois estão constantemente mudando as
posições como nos jogos Futpar, Queimada de quatro cantos, Rede
Viva, Futebol de Três campos, Revezamento com Troca de Bola etc.
Baseando-se no princípio da co-educação para desenvolver esses jogos,
na qual procurou-se integrar os alunos, indiferentemente do sexo, idade e
habilidades, o gordinho, o magrinho, a menina, o menos hábil, o portador de
necessidades especiais, enfim, todos que, por uma razão ou outra, não
participam das aulas. Na realidade, geralmente, são esses alunos que precisam
mais de atenção. Esse processo proporcionou a todos os alunos a
oportunidade de se conhecerem melhor, aprender, tomar gosto pelo jogo e
manter o interesse pela aula.
Nas respostas dadas ao questionário, verifica-se que o esporte desperta um
grande interesse mesmo nos alunos que não participam ativamente nas aulas.
Por isso, desenvolveu-se uma prática de forma mais criativa garantindo a
participação de todos, visto que o princípio básico do jogo na escola é a inclusão.
Às vezes o menos hábil, o mais quietinho é o que tem boas idéias e pode vir a
contribuir com o grupo de várias formas.
Todos os dias, no início das aulas, era realizada uma conversa rápida sobre
o objetivo da aula e o que eles sabiam daquela atividade. Muitas vezes, deram
opinião de como poderia ser feito ou porque não faziam de outro jeito. Da mesma
forma, todas as vezes que se fez necessário discutir sobre algumas regras, ou dar
sugestões sobre outras formas de desenvolver aquela atividade, os grupos foram
bastante participativos. Todas as opiniões expressas eram discutidas e avaliadas
se eram viáveis ou não para aquele momento. No final da aula era constituída a
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“roda da avaliação” com questionamentos sobre o jogo, comentários, dúvidas,
opiniões e, principalmente, no que aquela atividade contribuiu para o
conhecimento do grupo.
Mesmo com todas as explicações sobre o desenvolvimento da atividade,
e da importância dos Jogos Cooperativos, nos primeiros dias da implementação,
houve reclamações por parte de alguns alunos repetentes; queriam “jogar bola” e
também alguns se afastavam durante a aula, pois diziam que era “jogo de
criança”. Essa situação aconteceu com mais freqüência em uma turma de 6ª série
do período da manhã em que a maioria dos alunos, tanto do sexo feminino como
masculino, estava fora da faixa etária. Reclamavam muito, com xingamento; não
deixavam os menores jogar e sem motivo algum, saíam da quadra. Nas outras
turmas de 6ª série, alguns alunos que treinam em escolinhas de futebol, tentavam
tumultuar a aula com vaia e zombaria. Alguns ficavam de fora retrucando:
(...) as meninas não correm; os meninos não passam a bola; só tem “fominha”, no jogo. (...)
desse jeito não dá pra fazer jogo, sempre os mesmos é que querem mandar e ficam zombando dos outros,
(...) era bom jogar “bola” porque a gente já sabe,
Em alguns momentos foi preciso chamar à atenção e até mesmo separá-los
de um lado da quadra para que os demais, que eram a maioria, pudessem
participar do jogo. O grupo sugeriu que se eles não quisessem jogar, “que
ficassem de fora”.
Do ponto de vista de Soler (2005, p. 52)
Os Jogos Cooperativos buscam a participação de todos, sem que alguém
fique excluído o objetivo e a diversão de tais jogos estão centrados em
metas coletivas e não em metas individuais.,
O que aconteceu nos mostrou uma situação em que a meta a ser alcançada
era do grupo, não apenas de alguns e, para os alunos, aquele que não coopera
com o grupo ou não se adapta a determinada regra, deve se afastar. Os jogos
cooperativos são jogos de compartilhar, unir pessoas. Esse processo resulta em
um envolvimento total, em sentimentos de aceitação e vontade de continuar
jogando.
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Mediante isso, com as turmas de 5ª séries não houve nenhum problema que
“atrapalhasse” as aulas. Embora os alunos tenham relutado um pouco em
compreender a participação cooperativa efetivada, aos pares ou em grandes
grupos, que não eram aqueles com os quais estavam acostumados a “jogar bola”,
por exemplo, como sinônimo de “jogar futebol”,os alunos tomaram consciência de
que nas atividades realizadas cooperativamente o resultado traz um grau de
satisfação maior do que aquele atingido individualmente. Eis algumas dessas
impressões colhidas dos alunos:
“Se todos cooperam dá para recuperar os pontos perdidos.”
“Dá pra recuperar o tempo porque é equipe.”
“Quando joga em três tem que combinar o que vai fazer.”
“Não é pra parar nem se intimida com as vaias.”
“O grupo tem que participar.”
“Quando não alguém não colabora o grupo sai prejudicado.”
“Não fazer bagunça não fazer tonguice não fazer gracinha na aula de Educação Física é um ponto
positivo.”
“Jogar em dupla às vezes é bom porque eles passam a bola.”
“É bom quando todos cooperam fica tudo mais legal.”
“Quando nós jogamos juntos nós ganhamos pontos.”
“Eu adoro jogar em dupla”.
Como descreve Soler, (2003, p. 51), os Jogos Cooperativos possuem
algumas características próprias:
Os participantes jogam uns com os outros e não uns contra os outros.
Joga-se para superar desafios e não para derrotar alguém.
Busca-se atingir um objetivo comum e não fins mutuamente exclusivos.
Aprende-se a considerar o outro, que joga como um parceiro, um
solidário, em vez de se tê-lo como temível adversário.
A pessoa que joga passa a ter consciência dos próprios sentimentos.
Colocam-se uns no lugar dos outros, priorizando o trabalho em equipe.
Joga-se para se gostar do jogo, pelo prazer de jogar com os outros.
Reconhece-se que todos os jogadores são importantes para se alcançar
o objetivo final.
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Não há comparação de habilidades, muito menos de performances
anteriores.
O referido autor, escolhido não por mero acaso, endossa o que se
constatou no depoimento das crianças e na experiência por elas vivenciada e
levada a sério, de tal maneira produtiva que, nos intervalos para o recreio, os
alunos, por si só passaram a se organizar, não havendo a necessidade de um
“inspetor” a observar a fim de que se evitassem desentendimentos agressivos.
Essa organização gerou uma tabela de jogos, de equipes mistas (integrando
meninos e meninas); os que não jogavam se dispuseram a arbitrarem os jogos,
distribuírem os materiais (bolas, camisas, apitos etc), recolhendo-os ao final dos
jogos. E os demais que não se integrarem nas modalidades esportivas (vôlei,
basquete, futsal), tiveram a oportunidade de formar outras equipes para jogarem
queimada.
CONCLUSÃO
“O esporte, como prática social que institucionaliza
temas lúdicos da cultura corporal se projeta numa dimensão
complexa de fenômeno que envolve códigos, sentidos e
significados da sociedade que o cria e o pratica. Por isso, deve
ser analisado nos seus variados aspectos para determinar a
forma em que deve ser abordado pedagogicamente no sentido
de esporte “da” escola e não como o esporte “na” escola.” (SOARES, 1992, p. 70)
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O Esporte, historicamente, demarca interesses de vários segmentos sociais,
em especial o político. E na escola, a disciplina de Educação Física foi submetida
a estratégias desse segmento, destacando sua importância como promotora de
melhorias da saúde da população, sendo que todos deveriam ser contemplados
com a prática desportiva. Neste contexto, destacou-se o Esporte dentro de três
grupos com objetivos e características diferenciadas, que são: esporte de
rendimento, de lazer e educacional, predominando, mesmo na escola, o grupo
esporte de rendimento.
Entretanto, na escola, a abordagem do esporte deve estar voltada para o
desenvolvimento de objetivos educacionais, sendo esta também a base para a
prática do esporte como rendimento e lazer. As aulas de Educação Física não
podem ser desenvolvidas numa concepção de performance, visando o
treinamento esportivo e a busca de atletas e também não podemos excluir o
esporte das aulas, pois é um fenômeno histórico, social e cultural que deve ser
abordado na escola de forma ampla, significativa e contextualizada.
Numa prática sistematizada, criativa e consciente, orientada pelo lúdico,
pode-se desenvolver o interesse e a participação efetiva dos alunos bem como
qualidades, capacidades físicas e morais.
As grandes dificuldades do professor de Educação Física começam pela
herança histórica enquanto disciplina que, sem possuir um programa que se
segue, como possuem as outras disciplinas, é a mais “querida” dos alunos, pois
numa mesma escola, para as mesmas séries, há distintos planos docentes,
inexistindo referencial impresso para a disciplina. O professor, na maioria das
vezes, não dispõe de infra-estrutura mínima para o desenvolvimento de seu
trabalho, e, quando possui, os alunos não querem “aulas” no que elas têm de
sistematização, de comprometimento, de aprendizagem.
Assim, o interesse em participar do Programa de Desenvolvimento
Educacional – PDE – adveio da necessidade de, além de atualizar conhecimentos
teóricos, buscar um tempo maior do que o disponível quando se está em sala de
aula, para efetivar estudos e elaborar um programa de atividades que contribuísse
para a reflexão e uma possível contribuição para um redimensionamento da
prática pedagógica nas aulas de Educação Física. Isto se deu de modo
satisfatório, uma vez que as atividades desenvolvidas – Jogos Cooperativos –
deram aos alunos de 5ª e 6ª séries a oportunidade de integrarem-se.
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O entusiasmo dos alunos, durante a realização das atividades, não foi
menor que o da professora, autora deste trabalho. Dos pedidos de repetição das
aulas à organização dos alunos para o desenvolvimento das atividades por meio
da discussão de regras, houve participação geral, pois os alunos, mesmo aqueles
resistentes de início, perceberam a importância de se atuar em equipe, de se ter o
outro como aliado com o objetivo de que melhores resultados fossem alcançados.
Além disso, houve maior espontaneidade dos alunos, os quais se tornaram
mais receptivos, com o avanço das atividades, respeitando a opinião dos demais
colegas, estando mais alegres dispostos a cooperarem entre si, mostrando-se
responsáveis, expressando seus pensamentos e desejos, sendo neste contexto, o
professor o elo mais forte, intermediando, (re) orientando, sistematizando as
regras, os passos, a caminhada de seus alunos rumo a uma vivência esportiva
saudável emocional e fisicamente, sem que haja, como nas competições,
ameaças de toda ordem.
Se durante as aulas, o objetivo for o rendimento, fatalmente haverá
exclusão de muitos. O esporte nessa concepção é inviável nas aulas de
Educação Física, pois ocorreria uma padronização dos movimentos, onde a
individualidade de cada um não seria levada em conta. Se os alunos ficassem
esperando para jogar, o que comumente acontece numa aula de 40 a 50 min.
provavelmente, os menos habilidosos participariam menos, reforçando-se, dessa
maneira, a exclusão, e, por conseqüência, levando-os ao afastamento das
atividades. Qual entendimento crítico do esporte terá esse aluno?
O trabalho que ora se conclui, mas que não se encerra, indica que o ideal é
a utilização de Jogos Cooperativos, pois estes possibilitam a participação de
todos os alunos, promovendo a partilha, a confiança em si mesmo e no outro,
eliminando comportamentos destrutivos, aproximando alunos e professores num
ambiente de alegria e espontaneidade.
REFERÊNCIAS
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LEONARDO, L. Influência da Ludicidade na Aprendizagem esportiva- Metodologia das Atividades Jogadas. Disponível em:
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ORLICK, T. Vencendo a competição. Círculo do Livro: São Paulo, 1987.
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