educação infatil práticas
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Educao Infantil
e prticas promotorasde igualdade racial
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Realizao
Ministrio da Educao
Secretaria de Educao Bsica
Coordenao Geral de Educao Infantil
NEAB (Ncleo de Estudos Afro-brasileiros) da
UFSCar (Universidade Federal de So Carlos)
CEERT (Centro de Estudos das Relaes de Trabalho
e Desigualdades)
Instituto Avisa L Formao Continuada
de Educadores
Coordenao geral
Hdio Silva Jnior CEERT
Maria Aparecida Silva Bento CEERT
Silvia Pereira de Carvalho Instituto Avisa L
Superviso tcnica
Lucimar Rosa Dias UFMS (Universidade Federal de Mato
Grosso do Sul )/CEERT
Maria Virginia Gastaldi Instituto Avisa L
Formadoras
Ana Carolina Carvalho Instituto Avisa L
Daniela Martins Pereira CEERT
Luciana Alves CEERT
Consultoras
Carolina de Paula Teles CEERT
Lauro Cornlio CEERT
Marcio Silva CEERT
Waldete Tristo de Oliveira CEERT
Cisele Ortiz Instituto Avisa L
Equipe tcnica CEERT
Ana Paula Lima
Angela Barbosa Cardoso Loureiro de Mello
Fernanda Pestana
Mrio Rogrio Silva
Shirley Santos
Vanessa Fernandes
Responsvel pela publicao
Coordenao e edio geral
Silvia Pereira de Carvalho
Projeto grfico e diagramao
Azul Publicidade
Reviso de texto
Airton Dantas de Arajo
Educao Infantil e prticas
promotoras de igualdade racial
Aguardando pois a ficha catalogrfica
ser feita pelo CEERT
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Decises do cotidiano escolar podem ensejar grandes transformaes na
educao e na sociedade brasileira, a fim de construirmos um pas forte, coeso,
no qual todos os brasileiros sejam tratados com igualdade e dignidade.
(Educao infantil e prticas promotoras de Igualdade racial Apresentao)
Agradecimentos aos profissionais:
CEI Josefa Jlia
Dir. Cristiane da Silva Francinelli Cruz
Coord. Flvia dos Santos Rodrigues
Profa Fabola de Souza Silva Amorim
EMEI Guia Lopes
Dir. Cibele Racy
Coord. Carmem Alexandre
Profa Ana Lcia Guimares Caetano
Profa
Fernanda Costa de Oliveira Santos
Secretaria Municipal de Educao
da Cidade de So Paulo
Elisabeth Fernandes de Souza
DesenhosdoProjetoAfro-brasileiro,da
ProfaBeatrizRebello
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Apresentao 8
Introduo 9Carta aos profissionais da Educao Infantil Professora Maria Aparecida Bento
Apresentao do projeto 10
Marcos legais para a Educao Infantil igualitria 11Professor Hdio Silva Jnior
Captulo 1 13
Gesto Todos juntos 13
1.1. Compromisso para conhecer, agir e mudar 13
1.2. Um projeto de todos 15
1.3. Dimenso formativa 16
1.4. Dimenso das parcerias 17
1.4.1.Parceria com as famlias 17
1.4.2.Parcerias com ONGs e museus que trabalham a questo racial 181.5. Dimenso organizacional Recursos humanos, financeiros, espao, tempo, materiais e
experincias de aprendizagem 18
1.5.1. Recursos humanos e financeiros 18
Captulo 2 19
A organizao dos espaos, materiais e tempos para apoiar as prticaspromotoras da igualdade racial 19
2.1. Organizao de um ambiente de aprendizagem 192.1.1.Organizao dos materiais, brinquedos e livros 21
2.1.2.Escolha de brinquedos e de livros 22
2.1.3.Os livros, as revistas e os demais portadores de textos 22
2.1.4. Objetos de amplo alcance, jogos, instrumentos musicais, CDs, DVDs e muito mais 24
2.2. Organizao do tempo 25
2.2.1.Atividades permanentes (crianas de 0 a 5 anos) 26
2.2.2.As sequncias e os projetos didticos (crianas de 4 a 5 anos) 28
Sumrio
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Captulo 3 29
Experincias de aprendizagem na Educao Infantil 29
A) Identidade afro-brasileira e construo de uma
autoimagem positiva 29
B) Patrimnio cultural afro-brasileiro 31
3.1. Experincias com o corpo: cuidados, brincadeiras, movimento
expressivo e a msica 31
3.1.1.Cuidados consigo e com o outro 32
3.1.2.Brincar e imaginar: o jogo simblico como linguagem 33
3.1.3.Jogos de destreza e de raciocnio 34
3.1.4.Movimento expressivo e a msica 35
3.2. Experincias com linguagem oral e escrita 37
3.2.1.Linguagem oral 37
3.2.2.Falar para se comunicar 37
3.2.3.Roda de conversa 37
3.2.4.Ouvir histrias e narrativas orais 39
3.3. O papel da literatura 403.4. Experincias acerca do conhecimento de mundo 41
3.4.1.Conhecer os povos e suas formas de ser e estar 41
3.4.2.Expresso plstica 42
Bibliografia 46
Livros Infantis 46
Referncias bibliogrficas 48
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O objetivo deste material apoiar os profissio-
nais de Educao Infantil e as Secretarias de Educao
a implementar o Art. 7, inciso V, das Diretrizes Curri-
culares da Educao Infantil, que indica que as pro-
postas pedaggicas dessa etapa devem estar compro-
metidas com o rompimento de relaes de dominao
etnicorracial. O material compe-se deste documento
e de trs vdeos compilados em um DVD, que apre-
sentam experincias desenvolvidas em duas unidades
educativas, o Centro de Educao Infantil (CEI) Josefa
Jlia da Unio de Ncleos, Associaes e Sociedades
de Moradores de Helipolis e So Joo Clmaco (UNAS)
e a Escola Municipal de Educao Infantil (EMEI) Guia
Lopes. Teve a colaborao da Secretaria Municipal de
Educao da cidade de So Paulo. Essas aes foram
realizadas por formadoras com ampla experincia em
Educao Infantil e por meio de estudos relativos
questo racial.
Este material resulta de intervenes em situaes
reais, na quais todos os sujeitos envolvidos, equipe ges-
tora, professores e especialistas puderam refletir, cada
qual em seu campo de atuao, sobre como as prticas
pedaggicas na educao infantil podem promover a
igualdade racial. Esse processo resultou em momentos
de reviso de muitas atividades, da organizao do
tempo e de espao e tambm das aes de gesto.
A produo deste material teve a colaborao de
diferentes instituies: do Ministrio da Educao por
meio da Secretaria de Educao Bsica e Coordenao
de Educao Infantil, da Universidade Federal de So
Carlos, por meio do Ncelo de Estudos Afro-brasileiros,
do Centro de Estudos das Relaes de Trabalho e Desi-gualdades e do Instituto Avisa L Formao Continu-
ada de Educadores. Constitui rica experincia que com-
partilhamos, pois acreditamos que por meio de sua
leitura e das discusses geradas pelos contedos dos
vdeos, possvel desenvolver um processo consistente
de formao continuada para incluir a dimenso da
igualdade racial nas prticas pedaggicas das institui-
es de Educao Infantil.
Apresentao
8 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial
ImagemcapturadadovdeoExperinciasdeAprendizagem
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Existe a crena de que a discriminao e o precon-
ceito no fazem parte do cotidiano da Educao Infan-
til, de que no h conflitos entre as crianas por conta
de seus pertencimentos raciais, de que os professores
nessa etapa no fazem escolhas com base no fentipo
das crianas. Em suma, nesse territrio sempre houve a
ideia de felicidade, de cordialidade e, na verdade, no
isso o que ocorre.
Os estudos de mestrado e de doutorado que tra-
tam das relaes raciais na faixa de 0 a 6 anos apon-
tam que h muitas situaes de discriminao que
envolvem crianas, professores, profissionais de educa-
o e famlias. Isso prova de que a concepo de quena Educao Infantil no h problemas raciais uma
falcia. Portanto, temos que fazer uma interveno nes-
sa etapa da educao bsica, pois esta uma fase fun-
damental para a construo da identidade de todas
as crianas. Os estudos referidos apresentam situaes
em que aquelas que so negras esto em desvanta-
gem, pois so as que mais vivenciam situaes desa-
gradveis em relao ~as suas caractersticas fsicas.
Por outro lado, as crianas brancas recebem fortes in-
formaes de valorizao de seu fentipo. Nesse per-
odo, elas se conscientizam das diferenas fsicas (o fe-ntipo) relacionadas ao pertencimento racial Por
que o meu cabelo assim? Por que a cor da minha
pele de um jeito e a da minha amiga de outro?. Se
uma criana negra se sente bem com o seu corpo, seu
rosto e seus cabelos, e uma criana branca tambm se
sente bem consigo mesma, pode haver respeito e acei-
tao entre elas. Essa a importncia do trabalho com
a promoo da igualdade racial nesta etapa. Se houver
uma interveno qualificada e que no ignore a raa
como um componente importante no processo de
construo da identidade da criana, teremos outra his-
tria sendo construda.
A identidade tem mil faces, mas h duas caracters-
ticas que contribuem de forma decisiva para sua forma-
o: a relao que estabelecemos com nosso corpo e a
relao que estabelecemos com o grupo ao qual perten-
cemos. Como construir uma histria de respeito e valori-zao de todos os tipos fsicos aps tantos anos de dis-
criminao racial? Uma das possibilidades repensar as
prticas pedaggicas na Educao Infantil, rever os es-
paos, os materiais, as imagens, as interaes, a gesto,
e incluir como perspectiva a igualdade racial o que cer-
tamente produzir um movimento em que muitas aes
e atitudes sero reformuladas, ressignificadas e outras,
abandonadas. Um olhar atento ao que vem acontecen-
do nessa etapa em relao ao tema ora tratado igual-
dade racial ser benfico para as crianas negras, para
as crianas brancas e para o futuro do Pas.
Mos obra!
Professora Maria Aparecida Bento
Introduo
Carta aos profissionais da Educao Infantil
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Desde a Constituio de 1988 poca por pres-
so exclusiva do Movimento Negro Brasileiro , o Brasil
vem se preocupando com a incluso do tema da diver-
sidade racial na educao escolar.
interessante perceber, por exemplo, que em obedi-
ncia ao princpio da autonomia didtica, a Constituio
Federal absteve-se de detalhar o currculo escolar, mas
previu trs contedos curriculares obrigatrios em todos
os nveis de ensino: a lngua portuguesa1, as contribui-
es das diferentes culturas e etnias para a formao do
povo brasileiro2 e a educao ambiental3. Este fato revela
a importncia atribuda temtica da diversidade racial
na conformao da poltica educacional.
Lembremos que o Estatuto da Criana e do Ado-
lescente (ECA) assegura a toda criana o direito de
igualdade de condies para a permanncia na esco-
la, de ela ser respeitada pelos educadores, de ter sua
identidade e seus valores preservados e ser posta asalvo de qualquer forma de discriminao, neglign-
cia ou tratamento vexatrio.
Em uma primeira aproximao, portanto, a poltica
educacional igualitria assume contornos de uma obri-
gao preventiva imposta ao Estado e aos particulares,
a fim de editarem normas e tomarem todas as provi-
dncias necessrias para evitar a sujeio das crianas a
qualquer forma de desrespeito, discriminao, precon-
ceito, esteretipos ou tratamento vexatrio.
Vale ressaltar ainda a existncia de normas cons-
titucionais que prescrevem textualmente a valoriza-
o da diversidade tnica4 e da identidade dos dife-
rentes grupos formadores da sociedade brasileira5.
Ancoradas neste preceito, as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Educao Infantil (DCNEIs) estabele-
cem que a identidade tnica, assim como a lngua ma-
terna, elemento de constituio da criana6.
Alteraes recentes impressas na Lei de Diretrizes e
Bases da Educao Nacional (LDBEN) acrescentaram-
lhe dois artigos 26-A e 79-B , que preveem o estu-
do da histria e cultura afro-brasileira e indgena e a
incluso no calendrio escolar do dia 20 de novembro
como Dia Nacional da Conscincia Negra.
Encontra-se em questo, portanto, no a especifici-
dade ou o tema de interesse de negros ou indgenas,
algo secundrio, incidental, marginal gesto da edu-
cao, mas assunto que constitui verdadeiro pilar jur-dico-poltico da educao brasileira.
No pode haver dvida, portanto, quanto ao fa-
to de que a previso normativa de que a Educao
Infantil torne-se um ambiente de aprendizado de
valorizao da diversidade racial condio bsica
para a construo de uma poltica educacional igua-
litria e pluralista.
Professor Hdio Silva Jnior
Marcos legais para aEducao Infantil igualitria
1 Conforme art. 13 e art. 210, 2o.2 Conforme art. 242, 1o.3 Conforme art. 225, inciso VI.4 Conforme art. 215, 3o.5 Conforme art. 216, caput.6 CNE, Resoluo no 5, 17122009.
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Apresentao
Ilustrao:Thaiane
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A gesto de um ambiente educativo que tem
como objetivo educar para a igualdade racial no
tarefa de uma pessoa s. As Secretarias de Educao
dos municpios, por meio de suas equipes tcnicas,
os gestores das unidades educativas, diretores, co-ordenadores pedaggicos, os professores e equipe de
apoio, as famlias e a comunidade precisam se unir
com o objetivo de transformar a situao de discrimi-
nao existente nos ambientes escolares. Muitas so
as dimenses que precisam ser pensadas para que
uma real mudana de atitudes, procedimentos e con-
ceitos em relao s desigualdades sejam implantadas
em uma creche ou pr-escola.
1.1. Compromisso para conhecer,agir e mudar
Conhecer as leis, a histria da populao negra, as
suas lutas, e reconhecer a herana dos povos africanose suas culturas na formao do Brasil um bom come-
o. Outra ao importante estudar os documentos
oficiais, por exemplo, as Diretrizes Curriculares Nacio-
nais para a Educao Infantil, a Lei de Diretrizes e Ba-
ses da Educao Nacional, assim como ler documentos
orientadores como os Referenciais Curriculares Nacio-
nais para a Educao Infantil (RCNEIs) e outros docu-
mentos e experincias que tratam da igualdade racial
na Educao Infantil.
Essas atitudes so fundamentais para a cons-
truo de prticas pedaggicas que estejampreocupadas com o pleno desenvolvimento da
criana e que considerem o reconhecimen-
to do pertencimento racial como questo
importante para a construo da identi-
dade. O compromisso dos profissionais da
rea com a educao de qualidade e
igualitria o principal motor pa-
ra que procurem o conhecimen-
to necessrio a fim de construir
novas prticas que promovam
Gesto Todos juntos
Captulo1
Essas atitudes s
ruo de prtipreocupadas co
criana e que
o do perte
importante
dade. O co
rea
ig
ra
Foto:EstfiMachado
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14 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial
a igualdade racial nessa etapa. A especificidade do tra-
balho educativo para crianas de 0 a 5 anos est na
busca do desenvolvimento integral que se faz de modointencionalmente planejado. Para que todas as crianas
tenham acesso aos diferentes conhecimentos que ad-
vm do processo educativo, na variedade de experin-
cias com objetos, materiais e espao, e na interao
com pessoas que as cercam. No entanto, a constatao
da discriminao e do preconceito racial ainda existente
na sociedade brasileira tem onerado as crianas negras
impossibilitando-lhes ocupar-se to somente dessas ex-
perincias de forma produtiva e integral. Para elas, o
contato cotidiano com a rejeio sua aparncia e a
desvalorizao de suas heranas culturais causam im-
pacto no seu pleno desenvolvimento, e muitas vezes as
tornam presas a um pessimismo racial7, j que requer
grande equilbrio emocional conviver com tal situao e
ainda ter disposio e energia para aprender.
Com o intuito de garantir que professores e gesto-
res estejam atentos ao tema, a reviso das DCNEIs in-
cluiu em seu artigo 8o, 1o, a exigncia de que a pro-
posta pedaggica das instituies de Educao Infantil
explicitasse as aes sobre o tema:
(...) devero prever condies para o trabalho coleti-
vo e para a organizao de materiais, espaos e tempos
que assegurem:
VIII a apropriao pelas crianas das contribuies his-
trico-culturais dos povos indgenas, afrodescendentes,
asiticos, europeus e de outros pases da Amrica;
IX o reconhecimento, a valorizao, o respeito e a inte-
rao das crianas com as histrias e as culturas africa-
nas, afro-brasileiras, bem como o combate ao racismo e
discriminao;
X a dignidade da criana como pessoa humana e a prote-
o contra qualquer forma de violncia fsica ou simb-
lica e negligncia no interior da instituio ou praticadas
pela famlia, prevendo os encaminhamentos de violaes
para instncias competentes. (DCNEIs CNE 2009)
No entanto, mesmo antes da exigncia legal e ex-
plcita presente nas DCNEIs de que necessrio incluir
na proposta pedaggica prticas promotoras da igual-
dade racial, os RCNEIs, no exatamente com esta cla-
reza em relao s crianas negras, j indicavam a di-
versidade como uma dimenso importante no trabalho
da Educao Infantil, especialmente ao tratar da for-
mao pessoal e social, da identidade, da socializao,do acesso ao conhecimento construdo pela humani-
dade e da organizao da escola a fim de atingir os
objetivos para as diferentes faixas etrias.
Nas DCNEIs est explcito que:
O currculo da Educao Infantil concebido como um
conjunto de prticas que buscam articular as experincias e
os saberes das crianas com os conhecimentos que fazem
parte do patrimnio cultural, artstico, ambiental, cientfico
e tecnolgico, de modo a promover o desenvolvimento in-
tegral de crianas de 0 a 5 anos de idade. (Art. 3o)
Considerando que o currculo um conjunto de
prticas pedaggicas, as Orientaes Curriculares para
a Valorizao da Igualdade Racial na Educao Infan-
til8 pretendem colaborar para que os profissionais da
Educao Infantil desenvolvam um olhar atento s ati-
7 Crena na impossibilidade de sucesso na escola do aluno que negro.8 A pr-proposta das Orientaes encontra-se disponvel em: e esto sendo elaboradas sob a coordena-
o de Lucimar Rosa Dias e Hdio Silva Jnior e discutidas em cinco seminrios regionais: Minas Gerais, Par, Recife, Curitiba e So Paulo.
Captulo 1
ImagemcapturadadovdeoEx
perinciasdeAprendizagem
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vidades realizadas no cotidiano das instituies, para
que elas sejam inclusivas e promovam a igualdade e
no reproduzam a discriminao racial.Com base nos documentos oficiais e naqueles de
carter orientador, nas experincias desenvolvidas es-
pecificamente para a organizao desses materiais,
nas mltiplas experincias coletadas pelo CEERT e pe-
los pesquisadores envolvidos na construo da Rede
Educar para a Igualdade Racial na Educao Infantil,
apresentamos a seguir algumas possibilidades para os
profissionais iniciarem a construo da proposta pe-
daggica que promova a igualdade, tendo sempre em
vista que as experincias de aprendizagem com as
crianas de 0 a 5 so articuladas entre si e no com-
partimentadas e fragmentadas, como poder ser visto
no Captulo 3 Experincias de aprendizagem na Edu-
cao Infantil.
Para refletir
Os profissionais de sua equipe conhecem:
O parecer no
20/2009, que apresenta a Revisodas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Edu-
cao Infantil?
A Coleo Histria Geral da frica?
A Histria dos Negros no Brasil?
As Diretrizes Curriculares Nacionais para Educa-
o Infantil?
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educa-
o das Relaes Etnicorraciais e para o Ensino de
Histria e Cultura Afro-Brasileira e Africana?
1.2. Um projeto de todos
Transformar prticas educacionais que no incorpo-
ram da mesma forma todas as crianas e suas famlias
tarefa exigente e que necessita de uma equipe decidida.
Os gestores da unidade educativa tm papel-chave neste
processo quando possibilitam a vivncia democrtica,
pluralista e, ao mesmo tempo, profissional; quando or-
ganizam as aes, planejam, avaliam constantemente
o processo e o reorganizam sempre que necessrio. Os
profissionais da instituio de Educao Infantil consti-
tuem um corpo vivo e dinmico, responsvel pela cons-
truo do projeto educacional, conhecido como projeto
pedaggico. Nele, os conhecimentos relativos ao tema
racial devem ser contemplados. Alm deste documentogeral norteador, outros pequenos projetos podem dina-
mizar as intenes e a prtica cotidiana.
Para isto, nada melhor do que elaborar e implantar
um projeto institucional, que tem como maior mri-
to conjugar, ao mesmo tempo, informao, conheci-
mento, formao continuada e prticas pedaggicas
transformadas coletivamente. Esses projetos podem
durar um ou mais semestres, e as prticas desenvol-
vidas devero ser incorporadas paulatinamente rotina
da instituio.
FotocapturadadoCatlogoHeranaAfricana.AcervoBaArtes,MAM
-Salvador(BA)
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1.3. Dimenso formativa
Criar e manter espaos de formao tem funda-
mental importncia. Momento e lugar especialmente
destinados formao devem possibilitar o encontro
entre os profissionais para a troca de ideias sobre a
prtica, para a superviso, estudos sobre a questo
racial, organizao e planejamento de uma rotina pra-
zerosa do tempo e das atividades e outras questes
relativas ao projeto em pauta. A instituio deve pro-
porcionar condies para que todos os profissionais
participem de momentos de formao de natureza
diversa: tematizao da prtica, palestras sobre ques-
tes especficas, visitas a museus, ONGs e espaos cul-
turais, atualizaes por meio de filmes, vdeos e acesso
a informaes em livros e em sites.
Passo a passo de um projeto institucional
com enfoque nas questes raciais
Diagnstico
Como essas questes da diversidade racial esto sen-
do tratadas na unidade educativa?
a. Para isto, fazer uma anlise dos documentos e iden-
tificar se a questo tratada e como est explicita-
da nos textos escritos.
b. A organizao do espao fsico, materiais dispon-
veis para as crianas, a utilizao do tempo e as
atividades desenvolvidas incluem a temtica racial
(como ser especificado a seguir).c. O uso dos Indicadores de Qualidade para a Edu-
cao Infantil com questes que abordam o te-
ma podem tambm ser uma boa opo, para
identificar problemas relativos ao assunto. Orga-
nizar os dados encontrados em um documento e
socializar com a equipe de profissionais, famlias
e comunidade em uma reunio interativa pode
apontar caminhos de transformao de uma
prtica que discrimina.
Escolher um foco
De tudo que foi levantado, o que possvel mexer
de imediato?
O que prioritrio? O que mais estratgico?
Por exemplo: um olhar e uma ao diante dos
momentos de jogo simblico? ou organizar um
espao que traduz a igualdade (veja o Captulo 3
e assista aos vdeos 2 e 3).
Itens de um projeto institucional
Justificar os ob jetivos para os gestores, diretor e
coordenador pedaggico, professores, equipe de
apoio, crianas e famlias.
Contedos de formao, ensino e aprendizagem,
metas a curto e mdio prazo, indicadores de ava-
liao para os diferentes participantes.
Delinear as etapas provveis.
Captulo 1
Foto:EstfiMachado
o? o
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Diretor e coordenador podem avaliar como
esto os processos de formao continuadaem sua unidade.
As equipes tcnicas podem fazer o diagnstico da
rede em relao formao continuada.
1.4. Dimenso das parcerias
1.4.1. Parceria com as famlias
A faixa etria das crianas atendidas e a inten-
o da construo de uma sociedade democrtica e
pluralista, que respeita a todos e valoriza a diversi-
dade, exigem ateno especial s famlias de todas
as crianas, sejam elas negras ou brancas. O funda-
mental no partir de uma imagem de famlia ide-
alizada, hegemnica, mas valorizar e investir nas
singularidades dos arranjos familiares e nas contri-
buies de todos na construo de uma educao
de qualidade e igualitria.
O trabalho com a diversidade e o convvio com a diferen-
a possibilitam a ampliao de horizontes tanto para o
professor quanto para a criana. Isto porque permite a
conscientizao de que a realidade de cada um apenas
parte de um universo maior que oferece mltiplas esco-
lhas. Assumir um trabalho de acolhimento s diferentes
expresses e manifestaes das crianas e suas famlias
significa valorizar e respeitar a diversidade, no implican-
do a adeso incondicional aos valores do outro. Cada
famlia e suas crianas so portadoras de um vasto reper-trio que se constitui em material rico e farto para o
exerccio do dilogo aprendizagem com a diferena, a
no discriminao e as atitudes no preconceituosas.
(MEC/SEF, Referencial Curricular Nacional para Educao
Infantil,1998, volume 1, p. 77)
A relao com as famlias parte de alguns princpios:
Considerar a famlia uma instituio plural, que
apresenta diferentes composies, dinmica, na
qual emergem sentimentos, necessidades e inte-
resses nem sempre coesos.
Considerar o conhecimento e a cultura das famliascomo parte integrante do processo educativo.
Manter canais abertos de comunicao entre as
instituies, permitindo uma cooperao significa-
tiva e enriquecedora para ambos.
Aes a ser desenvolvidas com as famlias:
Acolhimento inicial: matrcula, apresentao da
unidade educacional.
Desenvolver os processos de adaptao nos pri-
meiros dias.
Realizar entradas e sadas cuidadosas e acolhedoras.
Organizar reunies em pequenos grupos para dis-
cutir o currculo, as atividades e demais assuntos.
Estimular a participao na organizao de eventos.
Convidar as famlias para participar da construo
dos projetos pedaggicos.
Incluir a famlia, sempre que possvel, nos projetos
didticos desenvolvidos com as crianas.
Vejam alguns exemplos nos trs vdeos de
como as famlias podem ser includas.
Depoimento da diretora Cibele Racy sobre a festa
junina afro-brasileira (vdeo 1 Gesto e Famlias)
Famlia da EMEI Guia Lopes
ImagemcapturadadovdeoGestoeFamlias
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1.4.2. Parcerias com ONGs e museusque trabalham a questo racial
A luta pela igualdade racial e o combate a toda for-
ma de discriminao deve muito s diferentes organiza-
es negras que atuam na rea. Com diferentes enfo-
ques, algumas voltadas para a educao, outras para o
trabalho, gerao de renda, sade etc., atingem amplo
espectro de problemas e apontam e encaminham solu-
es interessantes. Por isso, so fontes importantes de
conhecimento e parcerias.
As instituies organizadas com base em aspectos
das culturas africanas e do povo negro no Brasil tam-
bm fornecem um conjunto de conhecimentos impres-
cindveis ao trabalho educativo. Museus fsicos ou vir-
tuais, espaos culturais, bibliotecas, escolas de samba,
grupos de dana, capoeira podem ser contatados para
enriquecer o dia a dia das instituies educativas.
Quais parcerias sua instituio tem estabele-
cido com esses grupos?
O que existe em sua cidade de recursos que podem
contribuir com o tema?
1.5. Dimenso organizacional Recursos humanos,financeiros, espao, tempo,materiais e experinciasde aprendizagem
1.5.1. Recursos humanos e financeiros
Estes so dois pontos importantes que nem sempre
esto totalmente nas mos dos gestores, principalmen-
te se a instituio for pblica. A contratao, avaliao,
promoo e demisso tambm no costumam ser da
alada da direo, mas, quando , vale a pena incluir a
temtica racial para equilibrar a contratao de pessoas
e mesmo para avaliar os preconceitos existentes.
Em relao compra de materiais necessrios a uma
educao promotora da igualdade racial, h diferen-
tes possibilidades para as escolas pblicas. Programas
como: PDDE (Dinheiro Direto na Escola) do Ministrio
da Educao (MEC), o PNLD (Programa Nacional do Li-
vro Didtico) e o PBE (Programa de Bibliotecas Escola-res) podem ser acessados pelos Estados, municpios e
suas escolas. A preocupao do Ministrio com a pro-
moo da igualdade racial encontra-se em todos os
programas, conduzindo, por exemplo, compra de li-
vros e materiais apropriados para trabalhar a diversida-
de. (Fonte:www.mec.gov.br)
Nos municpios, existem ainda diferentes formas
de a escola contar com recursos. As Secretarias de
Educao so responsveis por prover as unidades de
brinquedos, livros, mobilirio e de demais materiais e
formao para as questes especficas sobre o tema.
Sabe-se tambm da enorme disposio dos gestores
para organizar eventos nos quais recursos so amea-
lhados para comprar materiais especficos.
Espao, tempo, materiais e experincias de en-
sino e aprendizagem sero objeto de um cap-
tulo e de um vdeo prprio, considerando sua
importncia para a Educao Infantil.
Captulo 1
ImagenscapturadasdosvdeosGestoeFamlia
s
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Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 19
Captulo2
2.1. Organizao de um ambientede aprendizagem
Considerar o espao como ambiente de aprendi-
zagem significa compreender que os elementos que o
compem constituem tambm experincias de apren-
dizagem. Os espaos no so neutros; sua organizao
expressa valores e atitudes que educam.
Lina Fornero, em A organizao dos espaos na
educao infantil, de 1998, prope, ao pensar o am-
biente escolar, uma importante distino entre espao
e ambiente, especialmente relevante quando pensa-mos a Educao Infantil. Para ela o termo espao refe-
re-se ao espao fsico, incluindo locais e objetos, en-
quanto o ambiente refere-se no s ao espao fsico,
mas ao conjunto espao e relaes que nele se estabe-
lecem. Assim, no conceito de ambiente, que inclui as
relaes, contemplam-se tambm os afetos, as rela-
es interpessoais entre as crianas, entre elas e os
adultos prximos e da comunidade.
Sabemos que, ao organizar as salas dos grupos e
demais ambientes das unidades de educao, os gesto-
res e os professores colocam disposio das crianas
artefatos culturais, brinquedos, livros, imagens etc.
Em geral, no h conscincia de que esses objetos tra-
duzem determinadas ideologias e concepes, que
A organizao dos espaos, materiaise tempos para apoiar as prticaspromotoras da igualdade racial
Foto:ArquivoInstitutoAvisal
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20 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial
educam em uma direo que esses profissionais no
planejaram e que no o fariam intencionalmente. Isso
especialmente importante na Educao Infantil, emque muito do que se ensina se faz por meio das opor-
tunidades criadas na organizao do tempo, do espao
e dos materiais, no s explicitamente, mas por meio
das atividades orientadas.
Em uma proposta de trabalho para a igualdade
racial importante lembrar que os artefatos cultu-
rais presentes nas creches e nas pr-escolas podem
oferecer imagens distorcidas, muitas vezes preconcei-
tuosas e estereotipadas dos diferentes grupos raciais.
Propomos aqui considerar a organizao do espao,
dos materiais e do tempo, tambm como um elemen-
to curricular.
Os ambientes de aprendizagem para a igualdade
racial devem ser abertos s experincias infantis e pos-
sibilitar que as crianas expressem seu potencial, suas
habilidades e curiosidades e possam construir uma au-
toimagem positiva. Educar para a igualdade racial na
Educao Infantil significa ter cuidado no s na esco-
lha de livros, brinquedos, instrumentos, mas tambm
cuidar dos aspectos estticos, como a eleio dos ma-
teriais grficos de comunicao e de decorao condi-zentes com a valorizao da diversidade racial. A es-
colha dos materiais deve estar relacionada com sua
capacidade para estimular, provocar determinado tipo
de respostas e atividades. Para a escritora Fanny Abra-
movich, no livro Quem educa quem?, o modo como
so decoradas as escolas revela muito sobre as con-
cepes das pessoas envolvidas. Entrando em salas
de aula de escolinhas e escolonas, em geral, toma-se
o maior susto... Uma olhada e j se percebe qual a proposta da escola, como a professora encaminha
o processo educacional, quais os valores em jogo
(Abramovich, 1985, p. 77).
Quando as paredes esto repletas de desenhos fi-
xos pintados por adultos, com personagens infantis de
origem europeia ou norte-americana, exortaes reli-
giosas de uma nica religio, ou ainda letras e nmeros
com olhos, bocas e roupas etc., h uma concepo de
infncia explicitada. Uma viso de criana homognea,
infantilizada e branca.
No h espao para a variedade de imagens ou para
a produo da criana real que habita a instituio.
Assim, a escolha das imagens que povoam a uni-
dade educativa devem incluir a questo racial. Belas
imagens de negros em posio de prestgio, motivos
da arte africana, reprodues de obras de artistas ne-
gros, fotos das crianas e de suas famlias, e nos espa-
os mais destacados, os desenhos e as produes das
crianas etc. so exemplos que podem fazer parte do
acervo das instituies de Educao Infantil.
Direto da prtica
Imagens que alimentam
Yasmim, do berrio dois: o pai negro e e a me
branca. Quando viu a imagem de um homem
negro no mural da sala, logo associou a seu pai
e apontou a fotografia, demonstrando satisfao
enorme, e falou: Papai! Papai! Quando observa-
mos essa cena, ns nos demos conta de que talvezas crianas negras nunca houvessem tido a oportu-
nidade de fazer esse tipo de associao ou identifi-
cao entre os seus familiares e imagens expostas
nas paredes do CEI. Isso teve muito impacto.
Isso mudou nosso olhar e nos fez ver como a ques-
to da diversidade racial precisa estar presente em
todos os espaos da escola.
Professora Ana Carolina,
CEI Josefa Jlia 25/5/2011.
Captulo 2
ImagemcapturadadovdeoExperinciasdeApre
ndizagem
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Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 21
Para gestores, diretores e
coordenadores pedaggicos
Diagnosticar
Ser que todas as crianas so representadas
ou sentem-se representadas nas imagens de
crianas, famlias etc., que, em geral, compem
os murais?
Quais imagens predominam na decorao das
paredes, murais, capas de livros e caixas, pastas,
toalhas e cortinas da sua instituio?
Propor que os elementos mencionados sejam
fotografados.
Socializar as fotos e refletir com seu grupo de
trabalho sobre as imagens que aparecem
Agir
Pesquise com seu grupo imagens que podem
compor um acervo para a igualdade racial: re-
produes de imagens de arte africana, de ne-
gros em situaes de protagonismo etc.
Comentem e apreciem as imagens e selecionem
aquelas que mais gostarem.
Onde essas imagens podem ser usadas?
2.1.1. Organizao dos materiais,brinquedos e livros
Esses elementos so importantssimos na Educao
Infantil: espelhos, brinquedos, livros, lpis, pincis, te-souras, instrumentos musicais, massa de modelar, argi-
la, jogos diversos, blocos para construo, materiais de
sucata, roupas e tecidos.
A forma como esto dispostos no ambiente po-
de facilitar ou dificultar a independncia das crian-
as, favorecer a socializao, possibilitar as escolhas
e a criao. A organizao das salas ou de outros
espaos em cantos de atividades diversificadas
opo particularmente interessante para as creches
e pr-escolas.
Assim como os demais elementos da organizao
dos ambientes educativos no so neutros, eles trazem
consigo ideias e valores sobre o mundo e podem apoiar
a educao para a igualdade racial.
Direto da prtica
A hora da hidratao j estava se aproximando,
ento eles foram tomar um suco e, enquanto isso,
arrumamos a sala para a prxima atividade, queseriam os cantos diversificados. Pelo fato de o gru-
po ser pequeno, optou-se por ter apenas dois can-
tos, um canto de desenho e outro de jogo sim-
blico, com bonecas negras. Quando as crianas
voltaram, explicamos como funcionaria aquele
momento. Quem quisesse poderia ir para um can-
to ou para o outro, dependendo da vontade. Esse
foi um momento muito rico de nossa ao. Sabe-
mos que desde muito pequenas, as crianas po-
dem fazer as suas escolhas. Desse modo, conhe-
cem mais sobre si mesmas e tambm do dicasimportantes professora sobre suas prefern-
cias, suas singularidades. Por tudo isso, mas tam-
bm por organizar o tempo e o espao, e ainda
por favorecer as interaes em pequenos grupos, a
proposta de trabalhar com cantos de atividades
interessante como atividade diria (permanente)
na Educao Infantil.
Professora Luciana,
CEI Josefa Jlia, 28/4/2011.
ImagemcapturadadovdeoOrganizao
doEspaoFsicoedosMateriais
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22 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial
2.1.2. Escolha de brinquedos e de livros
Ter em mos bonecas e bonecos negros, instru-mentos musicais usados nas manifestaes afro-bra-
sileiras e livros que contemplem personagens negros
representados de modo positivo fundamental para
o desenvolvimento de uma educao para a igualda-
de racial.
Ao escolher bonecas e bonecos negros, preciso
olhar para a diversidade de tonalidades de pele, de tra-
os e de tipos de cabelo. Ser que as bonecas escolhi-
das expressam essa diversidade? Assim como a boneca
loira e de olhos azuis no traduz a diversidade de tipos
da raa branca, tambm ao escolher as bonecas e os
bonecos negros devemos procurar aqueles que repre-
sentam os negros na sua variedade de tons de pele e
tipos de cabelo,a pluralidade fenotpica que caracteriza
a populao negra. Alm disso, h os critrios bsicos
que jamais deveriam ser esquecidos: os bonecos so
bonitos e benfeitos? D vontade de brincar com eles?
So interessantes para as crianas?
Direto da prtica
Agora era o momento da roda e de a Luciana
trazer a sua surpresa de casa. Muitas bonecas e
bonecos. Dos mais variados tipos. De pano, de
plstico, boneca me com a filhinha na barriga,
bonecas-bebs, crianas com lao na cabea. Havia
tambm bonecas brancas e uma de origem asi-
tica. Conversando com as crianas, Luciana apon-
tava as caractersticas da boneca ou do boneco:
vocs perceberam como a pele deles? Ela ne-
gra, sua pele escura. Parece a minha pele, no
? Nesse momento, algumas crianas j estavam
mais perto e passavam a mo na boneca confor-
me Luciana ia mostrando e apontando as carac-
tersticas. Na sala, havia a Sofia e o Eduardo, que
em uma heteroclassificao so negros. As bone-
cas fizeram sucesso entre as crianas! A Yasmin, a
todo momento ia at a mala e pegava uma bone-
ca negra, seguida pela Ana Beatriz.
Professora Ana Carolina,
CEI Josefa Jlia, 28/4/2011.
2.1.3. Os livros, as revistas e os demaisportadores de textos
As creches e as pr-escolas devem ser cuidadosas
ao escolher, adquirir e apresentar os materiais escritos
para as crianas. Alm da qualidade do texto e das ilus-
traes, importante analisar os portadores de texto do
ponto de vista da igualdade racial, especialmente, os
livros de literatura.Estudos realizados pelo CEERT, por Flvia Rosem-
berg e Regina Pahim Pinto, em Criana pequena e raa
na PNAD 87, de 1997, e por Silva, em sua dissertao
de mestrado Esteretipos e preconceitos em relao ao
negro no livro didtico de comunicao e expresso de
primeiro grau nvel 1, de 1988, trazem referncias que
orientam profissionais a tomar decises importantes no
momento de escolher livros de literatura que considera-
mos tambm adequados para os demais portadores de
quais texto que sero apresentados para as crianas.
Captulo 2
Imagenscapturadasdo
svdeosOrganizaodoEspaoFsicoedosMateriais
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Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 23
Na hora da escolha, preciso ficar atento para
questes como:
H pessoas negras que ocupam diversas posies
sociais e profissionais, como mdicos, professores,
empresrios etc.
As crianas negras encontram-se em posio de
destaque de um modo positivo.
A imagem de pessoas negras apresentada de
modo positivo e no pejorativamente.
A populao negra apresentada como protago-
nista importante de fatos histricos e no apenas
como escrava.
Direto da prtica
Quando li o livro As tranas de Bintou, de Sylvianne
Diouff, fiquei encantada com a histria e com as
ilustraes. A personagem principal uma linda
menina negra, com a qual tinha certeza , as me-
ninas certamente se identificariam. Essa era uma
preocupao nossa, como professoras, escolher li-
vros em que as personagens negras tivessem umarepresentao bela, condizente com a realidade e
com os aspectos culturais desse grupo, apresentan-
do-os de forma a valoriz-los. No caso de Bintou, a
padronagem de sua roupa, bonita e bem retrata-
da, assim como os enfeites nos cabelos, certamente
cumpriam todos esses critrios. Alm disso, os as-
pectos culturais que surgem na histria, como o ba-
tizado do irmo, o modo de as mulheres se arruma-
rem de acordo com a idade, os rituais em geral so
apresentados de forma a fazer o leitor pensar: Pu-
xa! Que interessante essa cultura, como diferente
da minha, ou ainda, esse livro me fez conhecer mais
um pouco de uma parte da cultura africana.
A histria tambm traz algo universal, que refora
nossos vnculos com a literatura, quando percebe-
mos que sentimos algo semelhante a uma persona-
gem ou mesmo quando a histria nomeia aquiloque sentimos e no sabemos muito bem o que .
No caso de Bintou, a menina traz um drama e um
desejo comum a todas as crianas do mundo: a
vontade de ter algo que faz parte do mundo dos
adultos, dos mais velhos. Que criana no deseja
crescer para ter algo que ainda no pode alcanar?
Professora Ana Carolina,
EMEI Guia Lopes, 1o/6/2011.
ImagemcapturadadovdeoOrga
nizao
doEspaoFsicoedosM
ateriais
ImagenscapturadasdovdeoGestoeFamlias
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24 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial
2.1.4. Objetos de amplo alcance, jogos,instrumentos musicais, CDs,
DVDs e muito mais
Nem s de brinquedos e livros se faz a Educao
Infantil
Objetos de amplo alcance
interessante que se tenha materiais versteis e me-
nos estruturados que podem se transformar em muitas
coisas, como tecidos, tocos de madeira, sucatas etc. Es-
ses materiais so polivalentes, pois podem ser utilizados
com diferentes finalidades, ser transformados pelo pro-
fessor na organizao dos ambientes ou pelas crianas
nas interaes e brincadeiras. E justamente porque so
to importantes e to presentes no cotidiano da ins-
tituio infantil, preciso estar atento esttica e aos
valores que apresentam e representam para as crian-
as. Os tecidos, por exemplo, apresentam mltiplas
funes: podem se transformar em cabanas, delimitar
um castelo, ser a capa do rei, a vela de um navio pirata
e muito mais...
Alm disso, os tecidos com padronagens que reme-tam ao continente africano podem compor bonitos ce-
nrios para brincar ou decorar as paredes da instituio.
Direto da prtica
Arrumamos o espao com tecidos, uma chita colo-
rida, um tecido angolano e dois grandes tecidos/
murais com motivos africanos. Esses panos foram
usados para cobrir o mural do tempo e o calend-
rio da sala e os demais delimitaram os espaos deatividade no cho. Um serviu de tapete
para as rodas de conversa e hist-
ria, os demais se transformaram
tambm em tapete para os can-
tos de msica e casinha, alm de
uma toalha de mesa para o can-
to de casinha.
Professora Luciana,
CEI Josefa Jlia, 13/6/2011
.
Os jogos estruturados de tabuleiro, os quebra-ca-
beas, jogos da memria, domin, os de origem afri-
cana e de outros povos, assim como materiais comocorda, garrafa pet para o boliche, bolas de diferentes
tamanhos e propsitos devem compor o acervo das
instituies.
Os instrumentos sonoros
Os brinquedos, os instrumentos de efeito sonoro,
os CDs, os DVDs so materiais bastante apreciados pe-
las crianas e muito adequados ao trabalho com a mu-
sicalidade, importante marca da cultura afro-brasileira.
Devem-se valorizar os instrumentos/brinquedos po-
pulares como a matraca, a maraca, os pies sonoros, os
chocalhos, entre outros. Os tambores tambm podem
ser utilizados no trabalho musical; eles so instrumen-
tos dotados de funo ritual ou sagrada para muitos
povos e as crianas os apreciam muito. Esses materiais
podem fazer parte de atividades de improvisao ou
pequenos arranjos, de exerccios de discriminao de
sons ou ainda podem ser utilizados na sonorizao de
histrias e brincadeiras.
Os instrumentos/brinquedos podem ser industria-lizados, feitos por artesos ou confeccionados pelas
crianas, como parte de sequncias didticas organi-
zadas pelo professor. Esta pode ser uma excelente
oportunidade de trabalho com as crianas maiores:
pesquisar seus usos e origens, bem como sobre a est-
tica do acabamento.
o ca e
espaos dete
-
e
an-
na,
Captulo 2
ImagemcapturadadovdeoExperin
cias
deAprendizagem
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Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 25
Observar, refletir e agir
Para a equipe gestora (diretor e coordenador
pedaggico)
Observar e fotografar os materiais, identificando
a disposio e a organizao no espao.
Socializar com a equipe as fotos, e fazer as per-
guntas: os materiais e sua disposio explicitam
uma concepo de Educao Infantil centrada
na criana, em seu bem-estar, autonomia e cria-
tividade? Eles valorizam a diversidade racial?
Observem separadamente os livros, os brinque-
dos, os materiais decorativos luz de um am-
biente que objetiva a educao para a igualda-
de racial.
O que teramos que organizar para ter os mate-
riais adequados para o trabalho?
2.2. Organizao do tempo
A rotina na Educao Infantil pode ser facilitadora ou
cerceadora dos processos de desenvolvimento e apren-
dizagem. Prticas pedaggicas rgidas e inflexveis des-
consideram a criana, e exigem que ela se adapte, e no
o contrrio, como deve ser. Essas prticas desconsideram
tambm o adulto, tornando seu trabalho montono,
repetitivo e pouco participativo. Como tudo o que acon-
tece no ambiente educativo, a rotina no neutra e po-
de trazer marcas do preconceito e da discriminao.
Uma rotina clara e compreensvel para as crian-
as fator de segurana, que dinamiza a aprendiza-gem e facilita as percepes infantis sobre o tempo e o
espao. A rotina pode orientar as aes das crianas,
assim como dos professores, possibilitando a antecipa-
o das situaes que iro acontecer.
importante que a organizao do tempo na ins-
tituio no perca de vista a necessidade de favorecer
o brincar, as iniciativas infantis, os cuidados e a apren-
dizagem em situaes orientadas, ou seja, combinar e
equilibrar perodos para aprendizagens intencionais,
planejadas pelo professor com perodos para mais in-
dependncia, em que as crianas construam conheci-
mentos nas aes de sua escolha.
A organizao do trabalho pedaggico deve pos-
sibilitar que as crianas sejam atendidas de diferentes
maneiras: individualmente, quando for o caso; em agru-
pamentos definidos ou no pelo professor; em situa-
es nas quais possam escolher com quem trabalhar
(como nos cantos de atividades diversificadas).
necessrio haver momentos que favoream tanto
as produes mais individualizadas quanto as coletivas,
as atividades que exigem mais concentrao ou que somovimentadas, com dispndio de mais energia moto-
ra. O olhar atento do professor essencial para que o
respeito diversidade seja sempre valorizado nas inte-
raes que se estabelecem entre as crianas.
A organizao do tempo em uma creche e na pr-
-escola envolve uma variedade de aes e possibilidades.
Para facilitar o arranjo e dar conta de todas as demandas
de cuidar e educar crianas em espaos coletivos os RC-
NEIs elencaram trs modalidades: atividades permanen-
tes, sequencias de atividades e projetos didticos.
Foto:EstfiM
achado
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26 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial
2.2.1. Atividades permanentes (crianasde 0 a 5 anos)
So aquelas que atendem s necessidades bsicas
de cuidados, aprendizagem e de prazer para as crian-
as, cujos contedos e/ou aes necessitam de cons-
tncia. Os objetivos so os de aproximar as crianas deum contedo, de criar hbito e familiaridade. A frequn-
cia pode ser diria ou de alguns dias na semana. Consi-
deram-se atividades permanentes, entre outras:
cuidados com o corpo;
brincadeiras e jogos no espao interno e externo;
roda de histria;
roda de conversas;
atelis ou momentos de desenho, pintura, mode-
lagem e msica;
cantos de atividades diversificadas.
Em todas as situaes, o planejamento dos profis-
sionais de Educao Infantil precisa contemplar a pro-
moo da igualdade racial.
Dentre as situaes cotidianas, elegemos para deta-
lhar e servir de exemplo durante a formao, os cantos
de atividades diversificadas devido a seu potencial pa-
ra permitir interaes, criatividade e contribuio para
a construo de uma autoimagem positiva. Organizar
cantos de atividades diversificadas (que so arranjos na
sala eou no ptio, em que h variedade de materiais
agrupados por reas especficas) uma das formas degarantir a organizao de tempo muito adequada s
necessidades infantis. Essa modalidade, em geral, pos-
sibilita atividades de 30 a 40 minutos de durao, reali-
zadas com frequncia regular, em que a organizao
do espao e dos materiais incentiva escolhas (do que
fazer e com quem fazer) e movimentao autnoma
das crianas pelos cantos. Nessa modalidade, as crian-
as podem aprender a: escolher com autonomia, e ter
suas decises respeitadas e apoiadas pelos adultos; rea-
lizar aes sozinhas ou com a ajuda do adulto e de
outros parceiros; valorizar aes de cooperao, solida-
riedade e dilogo, desenvolvendo atitudes de colabora-
o e compartilhando suas vivncias; relacionar-se com
os outros adultos e crianas demonstrando suas ne-
cessidades, interesses, gostos e preferncias; cuidar dos
materiais de uso individual e coletivo; participar em si-
tuaes de brincadeiras e jogos, leitura, expresso pls-
tica etc. Esse tipo de proposta contribui muito para
auxiliar a construo de uma autoimagem positiva.
E o professor? O que ganha com essa modalidade
de organizao do tempo?
Isso permite que ele possa atender e, principal-
mente, observar as crianas em situaes varia-
das: individualmente, em grupos, interagindo
com outros parceiros, para compreend-las me-
lhor, conhecer suas dificuldades e incentivar as
potencialidades.
Aps refletir sobre as dinmicas e os temas que
ocorrem durante o jogo simblico, por exemplo,
o professor pode organizar aes durante as ati-
vidades orientadas, visando ampliar o repertriodas crianas. Ler livros informativos sobre pases
do continente africano e proporcionar que nos
cantos existam materiais relativos cultura dos
povos africanos, como adereos para jogos sim-
blicos e instrumentos, ampliando o brincar e as
relaes entre as crianas
So muitos os cantos que podem ser organizados
para os jogos simblicos: casinha, feira, posto de sade,
escritrio, canto da beleza. E os que incentivam a brin-
Captulo 2
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cadeira a partir de temas trabalhados nos projetos ou em
sequncias didticas. Para promover a igualdade racial
possvel incluir temticas africanas, por exemplo, espaospara que as crianas brinquem de princesas, rainhas, reis,
prncipes brancos e prncipes negros, com livros, mate-
riais e objetos inspiradores do assunto.
Alm desses que favorecem o brincar, cantos de ex-
presso artstica, de livros e jogos so tambm bem-
-vindos para as crianas de 4 a 5 anos.
Direto da prtica
Canto da beleza
Com as crianas de 1 a 3 anos
O cantinho da beleza enfocava de maneira mais
direta a temtica racial. Foi organizado no espao
da sala que decorado com um espelho mdio
em que os bebs podiam ver seu corpo inteiro
refletido, que era circundado por espelhos meno-
res tambm fixados na parede, nos quais era pos-
svel ver o rosto. Levei alguns materiais como: es-pelhos, escova de cabelo, pentes para diferentes
tipos de cabelo, frascos de xampu, gel, tiaras, els-
ticos e presilhas.
As crianas circularam livremente pelos dois can-
tos, esse e o de caixinhas com surpresas, ora brin-
cando, ora admirando-se no espelho e tocando o
prprio cabelo ou o meu. Comearam a brincadei-
ra timidamente. Primeiro, uma das crianas, a Ana,
se aproximou, curiosa, e provavelmente atrada pe-
lo colorido dos objetos. Expliquei-lhe que ela pode-
ria us-los sua maneira, e, por tratar-se de umcanto com materiais mais estruturados, os objetos
em si sugeriam o uso para o brincar. Ana logo pe-
gou um pente e comeou a pass-lo em seus cabe-
los, em seguida, voltou-se para mim e penteou os
meus tambm. Percebendo a atividade da Ana, ou-
tras crianas foram se achegando e observando os
materiais com certa curiosidade.
Professora Luciana,
CEI Josefa Jlia, 14/4/2011.
Com as crianas de 5 anos
No primeiro momento, o canto de cabeleireiro
chamou muito a ateno das meninas: certamen-
te eram os pentes de diferentes tipos e para vrios
cabelos, elsticos, pingentes em forma de contas
para prender os cabelos, tecidos coloridos que as
atraram! Estas mesas estavam estrategicamentecolocadas num dos cantos da sala, o que nos per-
mitiu colocar nas janelas as fotografias de cabelos
de pessoas negras utilizadas na roda de conversa
e, num varal prximo, os panos coloridos para
adornar a cabea. Em volta de duas mesas esta-
vam oito cadeiras e, nelas, clientes e cabeleirei-
ras experimentavam os adornos. Somente um
garoto ficou por perto, bem perto mesmo obser-
vando, s vezes pegando alguns dos objetos para
olhar... Sem nenhuma dvida as meninas brancas
e negras comearam a mexer nos cabelos umasdas outras. Em determinado momento, sugeri que
elas experimentassem utilizar os tecidos como vi-
mos no livro e na foto que estavam expostos. Eu
tambm fiz o meu turbante e em poucos instantes
as crianas, inclusive os meninos, j estavam inte-
ressadas em mudar o visual.
Professora Waldete,
EMEI Guia Lopes, 25/5/2011.
ImagemcapturadadovdeoExperinciasdeAprendizagem
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Observar, refletir e agir
Equipe Gestora (Diretores e coordenadores)
Observem a rotina diria durante uma semana,
fotografem e, se for possvel, filmem e anotem
quais atividades realmente ocorrem e com que
frequncia.
Do que viram e analisaram, o que gostariam de
mudar para incluir as questes da educao para
a igualdade racial?
Por onde comeariam e o que discutiriam primei-
ro com sua equipe?
2.2.2. As sequncias e os projetosdidticos (crianas de 4 a 5 anos)
A sequncia didtica, assim como os projetos did-
ticos integram as aes que visam a aprendizagens
orientadas pelo professor. Podem tratar de assuntos os
mais diversos, com o objetivo de fazer avanar determi-nadas aprendizagens, por exemplo, aprimorar o dese-
nho de observao por meio do autorretrato, comunicar
o sentido e o prazer de ler para conhecer outros mundos
possveis por meio da leitura de contos africanos etc.
A sequncia promove ganhos nas aprendizagens
das crianas, diferentes daquelas atividades permanen-
tes. As atividades so planejadas como um conjunto de
aes desenvolvidas em um tempo especfico, organi-
zadas em ordem crescente de complexidade e finaliza-
das com a sistematizao das aprendizagens.
Projetos didticos
Os projetos permitem uma insero entre temas/contedos de diferentes eixos de trabalho. Integram
sempre sequncias didticas, mas tm propsitos so-
ciais e comunicativos compartilhados com as crian-
as. Por exemplo, aprender sobre lendas africanas para
apresent-las em um sarau. Esses projetos tm em geral
durao de meses, ou de todo o semestre.
E o que mais compe o tempo nos espaos edu-
cativos para as crianas?
Os contatos com as famlias e a comunidade, os
passeios e as festas... Que tal uma festa junina afro-
-brasileira? Saiba mais assistindo ao vdeo 1 sobre Gesto
e Famlia. Nele, a diretora, os pais e as crianas apresen-
tam como foi a festa junina afro-brasileira da Escola
Municipal de Educao Infantil (EMEI) Guia Lopes.
Famlia da EMEI Guia Lopes
Captulo 2
ImagemcapturadadovdeoGestoeFamlias
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Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial | 29
Experincias de aprendizagemna Educao Infantil
Captulo3
O planejamento e o desenvolvimento de boas pr-
ticas para a igualdade racial deve ser organizado respei-
tando-se as DCNEIs e podem ser expressos em umaproposta pedaggica que contemplem dois eixos: iden-
tidade afro-brasileira e patrimnio cultural.
A) Identidade afro-brasileirae construo de umaautoimagem positiva
Segundo pesquisas, a discriminao e a formao
do pensamento racial comeam muito cedo, ao contr-
rio do que pensa o senso comum. As crianas perce-bem as diferenas fsicas, principalmente a cor da pele
e o tipo de cabelo.
Se as crianas negras receberem mensagens positi-
vas dos adultos e de seus pares acerca de seus atributos
fsicos e demais potencialidades, aprendero a se sen-
tir bem consigo. De outro lado, se as crianas brancas
aprendem que seus atributos fsicos e culturais no so
os melhores nem os nicos a ser valorizados, os dois
grupos aprendero a considerar as diferenas como
parte da convivncia saudvel.
Ao reivindicarmos que necessrio abordar na Educa-
o Infantil aspectos que tratem das relaes raciais,
porque as marcas raciais, cor, cabelo, aspectos culturaisso elementos presentes no cotidiano das crianas nes-
ta faixa etria suscitando-lhes curiosidades e conflitos que
no podem ser desconsiderados. Muitas vezes, a edu-
cadora percebe prontamente esses conflitos e curiosi-
dades, e age sobre eles (...). Outras vezes cala-se por
medo de tocar num assunto que a sociedade brasileira
quis esconder sentindo-se despreparada para abord-lo.
(Dias; Silva Jr., 2011 p. 7)
ImagemcapturadadovdeoExperincias
deAprendizagem
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30 | Educao Infantil e prticas promotoras de igualdade racial
Direto da prtica I
Expliquei aos profissionais da creche os objetivos
da atividade desenvolvida no grupo com o canti-
nho de beleza. Este tipo de espao de jogo simb-
lico uma oportunidade para as crianas entrarem
em contato com as caractersticas dos cabelos em
relao cor, textura, formato, e permite que se-
jam tocadas pela professora independentemente
da pertena racial e auxiliam a valorizao de ma-
neira igualitria. Expliquei ao grupo que a questo
no estimular uma vaidade precoce, ao contrrio,
trata-se de auxiliar as crianas na construo de au-
toimagem positiva e permitir que todas tenham
acesso aos elogios e ao toque da professora e dos
colegas. Isto particularmente importante j que
tal experincia de ateno e cuidado tem sido sis-
tematicamente negada boa parcela de crianas
negras e/ou que tm cabelos crespos.
Professora Luciana,
CEI Josefa Jlia, 13/6/2011.
O trabalho com os atributos fsicos, como ocorre em
um canto da beleza, importante para a educao para
a igualdade racial, alm claro das atitudes e aes que
permeiam os cuidados e as brincadeiras.
Outra atividade enriquecedora para a temtica o
trabalho com imagens que podem desencadear mo-
mentos que contribuem para a construo de uma
autoimagem positiva. So imagens do cotidiano, mas
selecionadas com o cuidado de apresentar cenas que
valorizam as boas situaes de trabalho, a coragem, a
delicadeza das relaes entre as pessoas etc. Em ne-nhuma delas os negros aparecem como subalternos,
em subempregos, situao de pobreza ou descuido,
porque a inteno mostrar momentos de protago-
nismo afirmativo.
Essas aes foram planejadas considerando-se a
faixa etria das crianas,o apoio ao desenvolvimento da
oralidade com base no recurso de imagens e a questo
da identidade afro-brasileira.
Direto da prtica II
As crianas que mais aproveitaram o canto de
imagens foram o Carlos e o Davison. Alis, o Da-
vison est cada vez mais solto, embora ainda te-
nha momentos de muita timidez. Neste canto, ele
olhou muito atentamente as fotos das meninas de
Angola que traziam enfeites em seus cabelos.
Tambm se interessou muito pela foto de dois
meninos maiores de Angola que esto se abraan-
do e sorrindo. Enquanto ele olhava as fotos, eu
aproveitava para apontar os cabelos das meni-
nas, marcando algumas diferenas: uma tinha
enfeites de peixinhos azuis, outra, contas todas
coloridas. Mostrei tambm algumas fotos de
crianas meninas da sala que usavam maria-
-chiquinha, mas no enfeites to coloridos quan-
to os das meninas africanas.
Professora Luciana,
CEI Josefa Jlia, 13/6/2011,
Captulo 3
ImagenscapturadadovdeoExperinciasdeAprendizagem
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B) Patrimnio culturalafro-brasileiro
Vindos de diversas partes da frica, os negros trou-
xeram suas matrizes culturais e participaram ativamen-
te da formao do povo brasileiro.
As influncias africanas esto na linguagem, na co-
mida, na religio, na msica, nas brincadeiras, nas artes
visuais, nas festas etc. No entanto, sabemos que a valo-
rizao e o reconhecimento dessas heranas no tm o
mesmo peso do passado europeu. As matrizes indge-
nas e africanas so muitas vezes consideradas inferio-
res, menos sofisticadas e ficam relegadas a segundo
plano. O valor e a importncia desse patrimnio cultu-
ral devem ser considerados pelas unidades escolares e
precisam ser includos entre os temas trabalhados na
Educao Infantil no dia a dia. A proposta de que esse
eixo possa incluir as manifestaes presentes nas comu-
nidades e que, desse modo, as crianas sintam-se valo-
rizadas medida que os saberes locais adentrem os
espaos educacionais como produo de bens civiliza-
trios e produto de diferentes grupos.
Os dois eixos delineados anteriormente foram pen-
sados para estar presentes nas atividades permanentes,nas sequncias e nos projetos didticos, nas festas co-
memorativas, na relao com a famlia e com a comu-
nidade. Servem de base tambm na organizao dos
espaos, dos murais, na escolha de livros, dos brinque-
dos, dos instrumentos musicais.
Os eixos podem ser expressos em campos de expe-
rincias que se articulam de diferentes maneiras, ali-
mentadas por iniciativas e curiosidades infantis, consi-
derando os diferentes modos de as crianas pequenas
serem, pensarem e construrem o conhecimento.
3.1. Experincias com o corpo:cuidados, brincadeiras,movimento expressivoe a msica
O trabalho com o corpo, o movimento e a brinca-
deira merecem ateno especial, porque no corpo que
o racismo ganha concretude e visibilidade na Educao
Infantil, como constataram Oliveira e Abramowicz em
sua obra O que as prticas educativas na creche podem
nos revelar sobre a questo racial?, de 2009.
Nas brincadeiras na Educao Infantil, esse racismo apare-
ce quando as crianas negras so as empregadas doms-
ticas, quando as crianas brancas temem ou no gostam
de dar as mos para as negras etc. O racismo aparece na
Educao Infantil, na faixa etria entre 0 a 2 anos, quando
os bebs negros so menos paparicados pelas professo-
ras do que os bebs brancos. Ou seja, o racismo, na pe-
quena infncia, incide diretamente sobre o corpo, na ma-
neira pela qual ele construdo, acariciado ou repugnado.
(Oliveira e Abramowicz,1985, p. 221-222)
Propomos que o professor de Educao Infantil, aocontrrio do que foi encontrado na pesquisa apresenta-
da, adote uma atitude de observao cuidadosa e inte-
ressada de cada criana. Alm disso, ao utilizar seu cor-
po de modo expressivo, em cada gesto, no modo de
olhar, sorrir, abraar, pegar no colo, ele tambm consti-
tui um modelo para as crianas, e por isso deve estar
atento inteno comunicativa e qualidade de seus
movimentos na interao com elas. fundamental de-
senvolver atitudes que favoream o processo de de-
senvolvimento infantil, reconhecendo e validando os
avanos e as conquistas de cada criana, estimulandoa interao entre pares e crianas de diferentes faixas
etrias. A tomada de conscincia do prprio corpo pela
criana, sua capacidade de perceber cada parte sem
perder a noo de unidade, de conhecer e reconhecer a
sua imagem como parte da construo de uma identi-
dade positiva, requer um trabalho especfico.
O uso do espelho, desde o berrio, um recurso
importante para as crianas se reconhecerem, perce-
bendo e identificando a imagem refletida como sua e
como sendo bonita.
Fotocap
turadadoCatlogoHeranaAfricana.
AcervoBaArtes,MAM-Salvador(BA)
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Para que isso acontea, importante o apoio do
professor, ao identificar a imagem com o nome da
criana, descrever-lhe as caractersticas corporais, valori-
zando-as, e as diferentes partes do corpo refletidas no
espelho. Tratar cada criana como nica e especial.
Alm do uso do espelho, trabalhar as fotos de cada
criana e de sua famlia em atividades como caixas de
imagens, lbum do beb, murais, so recursos inestim-
veis para a construo de uma autoimagem positiva.
Direto da prtica
Havia uma foto nova para ser mostrada, era a foto
da Yasmin, com os cabelos amarrados. Lamentei
mentalmente no estar retratada sua famlia, j queseu pai negro e sua me branca, e eu poderia
comparar a aparncia de ambos por meio da foto.
Foi aps essa primeira rodada de fotos que decidi
lanar mo de um dos retratos que Ana Carolina
trouxera, escolhi o de um garoto negro e de cabea
raspada. Carlos logo o pegou e comeou a balbuciar
coisas que eu no compreendi. Resolvi empres-
tar-lhe minha voz, dizendo: Ele se parece com
voc, ele negro e careca, disse isso tocando sua
cabea e seu rosto, e ele olhou para a foto nova-
mente soltando gritos de satisfao tpicos de crian-as pequenas, e pendurou no rosto um sorriso lindo
enquanto continuava a apreciar a foto daquele me-
nino que no conhecamos. Aprendemos naquele
momento com Carlos a admirar o menino da foto e
a estabelecermos um vnculo com o que vamos,
pois havia ali uma identidade coletiva sendo cons-
truda: eu sou negro, ele negro e gostamos disso.
Professora Luciana,
CEI Josefa Jlia, 13/6/2011.
3.1.1. Cuidados consigoe com o outro
Em sua experincia de ser cuidadas, as crianas
aprendem a se vestir, a se pentear, a comer, a fazer sua
higiene e desenvolvem o sentimento de bem-estar com
esses hbitos.
O cuidar de si mesmo, o olhar-se com ateno e
assumir as aes para o seu prprio bem-estar so ati-
tudes que se aprendem desde pequeno. Aes muito
simples, criadas nos momentos de lavar as mos, de
arrumar os cabelos com cuidado, alimentar-se, hidra-
tar-se e olhar-se no espelho, por exemplo, podem ge-
rar importantes aprendizagens, com reflexos na autoi-
magem que cada criana est construindo.
Direto da prtica
Dentre todos os materiais que eu havia preparado
para as cestinhas-surpresa, dois se destacaram: as
caixinhas de variados tamanhos e os espelhos in-
dividuais. Como as crianas pequenas so fasci-
nadas pelo espelho! Alm de se olharem muito
nos espelhos pequenos, s vezes fazendo caretas,
passando a mo em sua superfcie, ou chegando
bem perto dele com o seu rosto. Algumas, logoaps brincar com os espelhinhos, foram at o
maior, pendurado na parede. Achei esse movi-
mento curioso e fiquei pensando se elas queriam
comprovar se a imagem era a mesma, se elas
eram as mesmas em um espelho e no outro. Tal-
vez essa hiptese seja cabvel, j que os bebs
esto ainda construindo uma autoimagem.
Professora Ana Carolina,
CEI Josefa Jlia, 13/6/2011.
Captulo 3Captulo 3
Imagenscapturad
asdovdeoExperincias
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Em todas as aes cotidianas, mas principalmente
nessas que tratam especificamente da autoimagem fsi-
ca, importante observar como as crianas interagemcom parceiros de diferentes tons de pele. O professor
precisa estar atento s falas depreciativas em relao
aos colegas, s excluses de brincadeiras, e deve mediar
conflitos surgidos entre elas que tenham como motivo
questes raciais. Apoiar boas experincias de relaciona-
mento entre as crianas, fazendo com que reconheam
positivamente as diferenas, ajuda a combater precon-
ceitos e discriminaes.
3.1.2. Brincar e imaginar: o jogosimblico como linguagem
A brincadeira uma atividade que se transforma no
tempo e se apresenta de diferentes modos nas comu-
nidades humanas, mas aparece em diversas culturas
como atividade importante da infncia.
Nas brincadeiras de faz de conta, as crianas apren-
dem a reproduzir os gestos e a fala de pessoas em di-
ferentes papis sociais ou de personagens de filmes e/
ou de histrias lidas. Podem inventar roteiros alimen-tados por sua fantasia e, por isso, devem ter espao
garantido na Educao Infantil. No entanto, conforme
Silva Jr. e Dias, em Orientaes Curriculares para a Va-
lorizao da Diversidade Racial na Educao Infantil,
de 2011, nem todas as crianas tm na brincadeira
um momento positivo de expresso e elaborao pes-
soal. Para as crianas negras, muitas vezes a brincadei-
ra tambm espao de preconceito e cerceamento de
desejos.
Caso, por exemplo, as crianas negras sejam des-
qualificadas nos papis que venham a ocupar nos jogos
simblicos, o professor deve estar atento e proporcio-
nar mudanas que estimulem formas positivas de inte-rao, alm de estimular novas perspectivas entre as
crianas. Isso pode ocorrer, por exemplo, por meio da
leitura de histrias em que surjam heris e princesas
negras, a fim de ressaltar situaes em que pessoas ne-
gras em ao tm destaque positivo. Isso influenciar
na construo de novos repertrios em relao iden-
tidade das crianas afrodescendentes.
Direto da prtica
O canto da casinha foi muito visitado pelas meninas
e pelos meninos. Observar as meninas tratando as
bonecas negras como suas filhas, foi um momento
muito especial. Duas crianas, uma menina e um
menino, por um breve perodo, encenavam que
eram a mame e o papai de uma das bonecas, ali-
mentaram, trocaram suas roupas e cuidavam da
boneca com demonstraes afetivas, acariciando,
beijando, e o pai a levava para passear. Observa-
mos que algumas meninas, ao brincarem com asbonecas, tocavam no nariz, nos lbios, ou seja, esta-
vam explorando as caractersticas fsicas das bonecas
e pareciam rever o que havamos feito com as ima-
gens deles e de outras crianas. Era um processo de
identificao, sem dvida positivo. Percebemos que
todas as bonecas negras, nesta brincadeira, foram
trocadas, tocadas e cuidadas pelas crianas.
Professora Daniela,
EMEI Guia Lopes, 1o/6/2011.
ImagenscapturadasdovdeoExperincias
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3.1.3. Jogos de destreza e de raciocnio
No processo de desenvolvimento corporal, cogni-tivo e afetivo, as crianas apreciam jogos de regras,
nos quais precisam alcanar determinado objetivo,
obedecendo a limitaes impostas pelas normas pree-
xistentes ou acordadas no momento pelo grupo.
As brincadeiras transmitidas de gerao em gera-
o so muito apreciadas por elas e constituem impor-
tante herana cultural.
Algumas brincadeiras de outros tempos nem sem-
pre continuam presentes hoje esconde-esconde, ca-
bra-cega, pula-sela, amarelinha, jogos com pio, bola,
corda, os de pontaria, de adivinhao, brincadeiras de
outras tradies culturais etc. Muitas delas so parte
da herana cultural afro-brasileira ou tm verses se-
melhantes nas culturas africanas, e podem ser ensina-
das s crianas como parte do trabalho de apresenta-
o desse legado cultural e como modos de valorizao
da cultura da populao afro-brasileira.
Os jogos chamados de tabuleiro existem h mil-
nios, e foram criados por diferentes povos, entre eles,
os africanos. Geralmente estes jogos possuem enredos
ricos e histricos, que aproximam as crianas de dife-rentes culturas, favorecem a socializao e o desenvol-
vimento do raciocnio.
O Mancala, por exemplo, conforme Kodama et al
(2006):
H muito coisa escrita sobre o mancala. No livro Os
melhores jogos do mundo (s.d., p.122-125), encontra-
mos: A palavra mancala origina-se do rabe naqaala,
que significa mover. Com o tempo, esse termo passou
a ser usado pelos antroplogos para designar uma srie
de jogos disputados num tabuleiro com vrias concavi-dades e com o mesmo princpio de distribuio de pe-
as. A forma pela qual este se realiza est intimamente
associada semeadura. Esse fato, aliado ao local de
origem, leva a crer que os jogos da famlia mancala
so talvez os mais antigos do mundo.
A origem mais provvel o Egito. A partir do Vale do
Nilo, teriam se expandido para o restante do continen-
te africano e para o Oriente. Alguns estudiosos su-
pem que os mancalas tm cerca de 7 mil anos de
idade (...). Os mancalas so atualmente jogados em
toda a frica, ao sul da sia, Amricas e na maior par-
te da Oceania(...) (Kodama et Al 2006, p. 8 e 9).
Direto da prtica
Um jogo de destreza
Nossa brincadeira comeou na roda. Mostrei pri-
meiro o leno e perguntei s crianas se elas adivi-
nhariam o que faramos com ele. Logo uma criana
falou: cobra-cega! Eu falei: quase isso! Em segui-
da, comentei que leria uma poesia e depois fara-
mos uma brincadeira que era um pouco parecida
com cobra-cega e com esconde-esconde. Li a poe-
sia de Lalau, ilustrada por Laura Beatriz e uma
criana falou: foi fcil!, referindo-se ao fato de que
Maria-Macumb achou rapidinho o Joo Minhoca.
Combinamos que faramos uma brincadeira seme-
lhante no jardim e que esta brincadeira, parecida
com cobra-cega e com esconde-esconde, havia
vindo de um pas da frica. Eles amaram! Brinca-
ram a valer e divertiram-se muito a cada vez queprecisavam correr de Maria-Macumb. Agora, te-
mos o desafio de levar outras brincadeiras diferen-
tes nas prximas vezes.
Trecho do relatrio da Professora Ana Carolina,
EMEI Guia Lopes, 4/5/2011.
Captulo 3
Imagemcapturadadovdeo
ExperinciasdeAprendizagem
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Como brincar de Maria-Macumb
O grupo escolhe uma criana, que ser a Maria--
Macumb. Esta criana tem os olhos vendados com
um leno, enquanto as outras se escondem. Com os
olhos vendados, Maria-Macumb procura as crian-
as escondidas. Quando encontra uma delas, a que
foi encontrada se torna Maria-Macumb.
Roda Guerreiros de Nag
Guerreiros Nag? Voc est cantando errado! A
msica no assim... Foi o que um menino disse
Virginia quando ela comeou a cantar a nova ver-
so da conhecida msica Escravos de J. Virginia
respondeu: no, est certinho do jeito que estou
cantando! s outra verso da msica que voc
conhece. Foi uma delcia ensin-los! Depois de j
estarem familiarizados com a msica, fomos l fora
fazer uma roda. Foi uma atividade muito gostosa,
muito divertida. Como essa turma gosta e aprovei-
ta esses momentos de brincadeiras no jardim!
Acho que vale muito a pena investir mais nisso.
Conversando com Cibele Racy, diretora da EMEIGuia Lopes, mais tarde, fez muito sentido para
ela que procurssemos cantar uma msica de
modo a no enaltecer a condio de escravos
dos negros, mas algo positivo, como a fora do
guerreiro nag.
Trecho do relatrio da Professora Ana Carolina,
EMEI Guia Lopes, 25/5/2011.
3.1.4. Movimento expressivo
e a msica
Na Educao Infantil, o professor oferece criana
no s modelos e materiais da cultura para os exerccios
da imitao e da criao livre, como interpreta seus ges-
tos de modo a compor com ela um repertrio de movi-
mentos, uma cultura corporal. A atitude do professor
importante, em todos os momentos, para que a crian-
a construa uma relao de confiana com seu prprio
corpo e com o do outro, alm de desenvolver o domnio
saudvel e prazeroso em relao a seus movimentos.
Direto da prtica
Uma rede ou um balano?
Tendo em vista o sucesso da atividade de balano
(na qual um tecido segurado por dois adultos,
como se fosse uma rede, e a criana balanada
nele) no tecido da interveno anterior, decidimos
repeti-la, mas acrescentamos proposta a diversifi-
cao da padronagem dos tecidos neste caso
com motivos africanos e pusemos para tocar al-gumas msicas lentas do CD Canes do Brasil,
utilizado no canto de msica, ao invs de cantar-
mos. Mal o tecido foi ajeitado no cho, Yasmin e
Eduardo j estavam deitados sobre ele, revelando o
desejo de participar da brincadeira e demonstran-
do que se lembravam perfeitamente da proposta
feita quinze dias antes. E como gostaram de ser
balanadas! Quando terminvamos a vez de cada
criana, ela saa do pano sempre um pouco contra-
riada. A expresso no rosto de todas ao ser balan-
adas era de satisfao. Talvez por ser embaladas,pelo prprio balano, que uma atividade muito
prazerosa para os pequenos. Tambm considera-
mos que o pano em formato de rede envolve todo
o corpo da criana e, dessa forma, ela se sente se-
gura e acolhida enquanto brinca, e a rede um
jeito de dormir muito presente na cultura de alguns
grupos brasileiros.
Professoras Luciana e Ana Carolina,
CEI Josefa Jlia, 14/4/2011.
ImagemcapturadadovdeoExperincias
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Alm das aes cotidianas que envolvem as habi-
lidades bsicas de engatinhar, andar, correr, pular,
subir em obstculos etc., h que se cuidar dos movi-mentos expressivos.
Entre eles a dana, importante herana dos povos
africanos, fonte de prazer, autoconhecimento e sociabi-
lidade, que enseja muitas possibilidades expressivas e o
aperfeioamento dos gestos, que merece lugar de des-
taque na Educao Infantil.
O samba, o bumba meu boi, o frevo, o baio, o
maracatu, a lambada, a capoeira, o maculel, o tambor
de mina, a umbigada, a catira etc. so manifestaes
que, embora originalmente estivessem restritas aos ne-
gros, hoje fazem parte do patrimnio cultural dos bra-
sileiros e das prticas sociais de comemoraes familia-
res, festas e grandes eventos pblicos.
O trabalho com a msica e a dana originrias
dessas manifestaes deve fazer parte do cotidiano
da educao.
Na educao voltada para a valorizao da diversi-
dade, importante que o repertrio de msicas apre-
sentado s crianas seja amplo e diversificado, compos-
to de msicas de origem europeia, africanas, indgenas,
asiticas etc., cantadas ou instrumentais. Um repertriodiversificado qualificar a escuta das crianas, que po-
dem aprender que h muitos tipos de msica, no ape-
nas aquela relacionada a um universo supostamente
infantil. Quanto mais diversificado o repertrio, mais
as crianas tero condies de identificar, reconhecer
elementos e desenvolver preferncias musicais.
Direto da prtica
A participao na festa junina afro-brasileira trouxe
a certeza de que a integrao entre dana e msica
usando o tema da igualdade racial o exemplo
vivo de como as questes da identidade e a heran-
a cultural se alinham bem. Uma festa junina que
reuniu o acaraj, o milho verde, a feijoada e a pa-
oca, jogos de argola com motivos africanos, crian-
as vestidas como princesas e prncipes africanos,
cabelos arranjados moda afro, deu um timo cal-
do cultural.
As danas apresentadas pelas crianas: samba,
boi bumb, jongo, congada etc. trouxeram ale-
gria e, ao final, as famlias eram convidadas a par-
ticipar, construindo uma diverso coletiva. Foi bo-
nito de ver.
Professora Ana Carolina,
EMEI Guia Lopes, 2/7/2011.
Ainda nas inmeras situaes do dia a dia, o pro-
fessor, usando sua voz nas brincadeiras sonoras e can-es, abre um canal comunicativo essencial para a
expresso sensvel e criativa. Assim, ele poder organi-
zar situaes em que o grupo de crianas, de acordo
com as habilidades da faixa etria, explore os sons de
diferentes emissores, sejam instrumentos, rudos coti-
dianos, elementos da natureza, animais, objetos, pes-
soas etc. O uso de instrumentos como afox, ago-
g, atabaque, berimbau, tambor e outros de origem
africana pode integrar o acervo disposio das crian-
as, assim como CDs de canes diversas, brincadeiras
cantadas, acalantos, parlendas, lenga-lengas, brincos,rimas, adivinhas etc.
Festa afro junina
Captulo 3
ImagenscapturadasdovdeoGesto
eFamlias
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3.2. Experincias com linguagemoral e escrita
3.2.1. Linguagem oral
O acesso aos bens culturais direito de todas as
crianas. A linguagem, que se expressa em dois dom-
nios, o oral e o escrito, uma das mais importantes
heranas culturais, responsvel por mudanas no modo
como as sociedades se organizaram, com reflexos na
constituio da identidade humana.
A oralidade foi durante sculos a nica forma de
transmisso de cultura e conhecimentos. Por isso, os
povos africanos desenvolveram formas importantes de
contar histrias por meio dosnarradoresde histrias e
mitos, chamados degriots, considerados bibliotecas vi-
vas da cultura africana