eja_alguns desafios em torno do direito à educação

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Este artigo resulta de algumas questões desenvolvidas em minha pesquisa demestrado e tem como principal objetivo discutir o processo de escolarização daEducação de Jovens e Adultos (EJA) e o seu rejuvenescimento ou juvenilizaçãodo ponto de vista do “direito” à educação.

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  • 61Paidia r. do cur. de ped. da Fac. de Ci. Hum. e Soc., Univ. Fumec Belo Horizonte Ano 6 n. 7 p. 61-72 jul./dez. 2009

    Educao de Jovens eAdultos: alguns desafiosem torno do direito educaonataLinO neves da siLva*

    Este artigo resulta de algumas questes desenvolvidas em minha pesquisa demestrado e tem como principal objetivo discutir o processo de escolarizao daEducao de Jovens e Adultos (EJA) e o seu rejuvenescimento ou juvenilizaodo ponto de vista do direito educao. Para tal, buscou-se situar o sujeitoeducativo presente, hoje, na EJA, ou seja, as pessoas jovens e adultas que pos-suem lugares sociais, identitrios, geracionais, de raa, de gnero, de deficinciae de orientao sexual diversos. Juventude e vida adulta na EJA apresentamespecificidades e so marcadas pela diversidade. Portanto, o entendimentoda escolarizao da EJA para alm do processo de transmisso de contedosconsiste em um dos atuais desafios. Alm disso, por se tratar de um fenmenorelativamente recente, o entendimento do rejuvenescimento ou juvenilizaoda EJA necessita ser mais bem compreendido pelos profissionais que atuamnessa modalidade de ensino, sobretudo no que se refere s questes do direito educao e ao respeito diversidade.

    Palavras-chave: Educao de Jovens e Adultos (EJA). direito educao. re-juvenescimento da EJA.

    Resumo

    * Pedagogo. Mestre em Educao. Professor do curso de Pedagogia da Universidade FUMEC/FCH e Membro do ProgramaAes Afirmativas na UFMG.

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    Natalino Neves da Silva

    Paidia r. do cur. de ped. da Fac. de Ci. Hum. e Soc., Univ. Fumec Belo Horizonte Ano 6 n. 7 p. 61-72 jul./dez. 2009

    IntroduoEducao de Jovens e Adultos: entre o direito daformao humana e a transmisso de contedos

    O objetivo com este artigo discutir a escolarizao da Edu-cao de Jovens e Adultos (EJA) como direito inalienvel dosujeito, bem como o recente processo de rejuvenescimento oujuvenilizao dessa modalidade de ensino com base na observa-o da experincia de uma escola municipal de Belo Horizonte. Adiscusso aqui realizada parte da pesquisa demestrado (SILVA,2009), cujo objeto de pesquisa foi compreender os significados esentidos atribudos pelos jovens negros aos processos de esco-larizao da EJA.Lanando um olhar mais atento em torno da EJA, pode-se per-

    ceber, hoje, a heterogeneidade do alunado presente na sala deaula. So homens emulheres, jovens e adultos, negros e brancos,empregados e desempregados ou pessoas em busca do primeiroemprego e pessoas deficientes, em suamaioria moradores de co-munidades perifricas dos grandes centros urbanos e embusca daescolaridade como possibilidade para amelhoria da sua condiosocioeconmica e cultural.Em nosso pas, o percurso scio-histrico da Educao de

    Jovens e Adultos marcado por enfrentamentos, lutas e embatespolticos e pedaggicos, os quais, a partir da dcada de 1960, pormeio de aes populares, tiveram na Educao Popular a principalexpresso de reivindicao por uma educao de qualidade paratodos, sobretudo para os grupos sociais marcados por processosde excluso do sistema de ensino. Entretanto, desde a EJA, vistacomo medida compensatria, passando pelas lutas popularespela alfabetizao de adultos at a conquista do direito vivnciada vida adulta como um importante ciclo de formao humana,h um longo caminho a ser percorrido.

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    A preocupao com o reconhecimento da educao dos jovense adultos como um direito, e no como compensao ganhaexpresso e visibilidade por parte do Poder Pblico a partir daredemocratizao do pas, na dcada de 1980. O marco histricodessa retomada da EJA na esfera poltica e nas polticas pblicaseducacionais a promulgao da Constituio da Repblica Fe-derativa do Brasil de 1988.Nos anos mais recentes a configurao do campo da EJA traz

    consigo discusses tensas. A principal delas que os processosde escolarizao da EJA no deveriam se limitar transmisso decontedos disciplinares escolares e, consequentemente, despre-zar outras experincias educativas sendo que algumas delasherdeiras da educao popular.Os defensores de tal posio alertam para o perigo de que a EJA

    se afaste da concepo de direito do joveme adulto a uma vivnciadigna de educao de acordo com as especificidades do seu ciclode formao. Trata-se do direito vivncia plena e a garantia deprocessos educativos que vo alm da escolarizao e que levemem considerao a vivncia dessas pessoas no trabalho, na cultura,

    os aprendizados que j possuem e as questes de raa e gnero.

    nesse sentido que Arroyo (2005, p. 31) diz que

    a EJA sempre aparece vinculada a um outro projeto de sociedade,umprojeto de incluso do povo como sujeito de direitos. Foi sempreum dos campos da educao mais politizados, o que foi possvelpor ser um campo aberto, no fechado e nem burocratizado, porser um campo de possveis intervenes de agentes diversos dasociedade, com propostas diversas de sociedade e do papel dopovo.

    Assim, uma das principais crticas em torno do processo de

    escolarizao da EJA consiste na constatao de que, se essa

    modalidade de ensino se torna escolarizada, suas prticas de

    ensino e de aprendizagem tambm se escolarizam.

    Essa tenso pde ser observada na escola pesquisada. A escola

    municipal Carlos Drummond de Andrade1 localiza-se na regio1 Por motivos ticos, essenome fictcio.

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    Natalino Neves da Silva

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    centro-sul de Belo Horizonte (BH) e trabalha exclusivamente, h17 anos, com a modalidade de ensino de Educao de Jovens eAdultos, funcionando em trs turnos com aproximadamente 1.274jovens e adultos.Foi possvel perceber a sensibilidade de alguns profissionais

    da educao daquela instituio em conceber que os processosde escolarizao da EJA no devem se restringir transmissode contedo disciplinar. Todavia, durante o trabalho de campo,verificou-se que, de forma geral, o processo de ensino e aprendi-zagem era pautado muito mais pela transmisso de contedos emenos pela explorao dos potenciais e da vivncia dos alunos.Dessa forma, constatou-se que a escola pesquisada depara comasmesmas dificuldades que o ensino regular j vemhistoricamente

    enfrentando h vrios anos:

    Enquanto os(as) professores(as) esto passando sua matria noquadro a todo instante existe uma negociao com os(as) jovens eadultos alunos(as). O esforo por parte dos docentes em despertare convencer o interesse dos seus alunos e suas alunas acontece otempo todo. Para o adulto aluno(a) as questes que se referem disciplina e o convencimento de que a escola algo ainda importanteno to rduo, na opinio de alguns professores(as), como paraos(as) jovens alunos(as). Percebi que o tempo de aprendizado nasala de aula d-se de forma diferenciada, isto , enquanto algunsalunos(as) esto a fim de sugar todo o saber escolar que ofe-recido, em contrapartida, outros alunos(as) esto a fim de trocaridias, atualizar o assunto, falar do time de futebol e zoar. (Diriode Campo, 6/3/2008)

    Para alm do processo de transmisso de contedos emergemoutras questes importantes que nos chamam a ateno. Nomes-mo espao entrecruzam-se diferentes dimenses: intergeracionais,socioeconmicas, tnico-raciais, orientaes sexuais; e a inclusode pessoas com deficincia e das experincias e expectativas devida dos indivduos em torno do processo de escolarizao daEJA. Experincias ricas e que, de certa forma, so pouco ou quase

    nunca exploradas nas aulas.

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    Educao de Jovens e Adultos: alguns desafios em torno do direito educao

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    Soares (2001, p. 205) corrobora comessa anlise ao refletir sobreas necessidades de aprendizagens de jovens e adultos, ressaltando

    que a nfase principal da modalidade de ensino da EJA

    no deve situar-se nem na assimilao da cultura privilegiada,seus conhecimentos e seus mtodos, nem na preparao paraas exigncias do mundo do trabalho, e sim no enriquecimento doindivduo, constitudo como sujeito de suas experincias, pensa-mentos, desejos e afetos.

    Dayrell (2005) tambm caminha na mesma orientao. Segun-do ele, a anlise do campo educativo da EJA dever ser feita deforma bastante ampla, abrangendo aspectos sociais, culturais e

    histricos. Isso quer dizer que,

    ao se referir educao, est implcito que a tradio da EJA semprefoi muito mais ampla que o ensino, no se reduzindo escolariza-o, transmisso de contedos, mas dizendo respeito aos pro-cessos educativos amplos relacionados formao humana, comosempre deixou muito claro Paulo Freire. (DAYRELL, 2005, p. 53)

    Nesse contexto, Haddad (2002) alerta que, ainda que o campoeducacional da EJA esteja sendo gradativamente institucionaliza-do em uma modalidade de ensino, no se deve perder de vistaa dimenso histrica de luta pelo direito educao bsica dequalidade, intrnseca ao campo educativo da EJA por meio de

    suas conquistas. O autor esclarece:

    Mesmo a EJA estando cada vez mais prxima das instituiesoficiais de ensino e das reflexes sobre escolarizao, isto no aisola ou no parece poder isol-la do debate mais amplo que aindapermanece vivo nosmovimentos populares sobre a necessidade dese pensar numa educao que ultrapasse os objetivos utilitaristasde certificao e abra-se para uma perspectiva de conquista dedireitos. (HADDAD, 2002, p. 16)

    Ao embasar-se nesses e em outros autores,2 compreende-se

    que o campo educacional da EJA no se esgota nos preceitos

    legais, nos processos de transmisso de contedos e no se

    reduz escolarizao. Adota-se, neste artigo, a concepo da

    2 As compreenses docampo educacionaisda EJA para alm dosprocessos de transmis-so de contedos estopresentes, tambm, nosestudos desenvolvidos,dentre outros pesqui-sadores, por Arbache(1999), Freire (1970,1990) e Moll (1996).

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    EJA como direito das pessoas jovens e adultas. Porm, esse

    direito no se constri no vazio; ele faz parte de lutas histricas

    de sujeitos coletivos que apresentam identidades, subjetividades

    e singularidades.

    Um aspecto quase consensual dos estudos sobre a EJA

    tomada como um direito que ela perpassada por lutas,

    concepes divergentes e por formas de regulamentao do

    Estado. No entanto, mesmo os trabalhos que caminham em uma

    perspectiva mais crtica da EJA como um direito acabam incor-

    rendo em uma leitura homogeneizadora desse pblico, do ponto

    de vista geracional. muito comum encontrar nos discursos,

    pesquisas e prticas, referncias s pessoas jovens e adultas

    como se os dois grupos formassem um mesmo contingente de

    estudantes, ou at mesmo houvesse a diluio da juventude da

    EJA na vida adulta. Portanto, deve-se tomar cuidado para no

    homogeneizar o pblico da EJA como se este constitusse um

    bloco indiferenciado.

    As pessoas jovens e adultas so sujeitos que possuem lugares

    sociais, identitrios, geracionais, de raa, de gnero e de orienta-

    o sexual diversos. Juventude e vida adulta na EJA apresentam

    especificidades e so marcadas pela diversidade. Essas ques-

    tes no so discutidas nos textos legais e so abordadas de

    forma ainda muito incipiente pelos prprios tericos do campo.

    no cotidiano das prticas de EJA que as diversidades cultural,

    etria, racial e de gnero se expressam. Mas como tudo isso se

    articula em uma experincia de escolarizao da EJA? Essa

    uma das questes que necessitam desenvolver mais pesquisas

    articulando o campo da EJA e da diversidade. E mais, pensar a

    realidade da EJA, hoje, pensar a realidade de jovens e adultos,

    na sua maioria negros, que vivem processos de excluso social

    e racial. (GOMES, 2005)

    Ao focalizar os jovens negros e brancos que passam cada vez

    mais a frequentar a EJA nos ltimos anos e localiz-los na prtica

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    Paidia r. do cur. de ped. da Fac. de Ci. Hum. e Soc., Univ. Fumec Belo Horizonte Ano 6 n. 7 p. 61-72 jul./dez. 2009

    especfica de uma escola da rede municipal de ensino de Belo

    Horizonte, aproxima-se de um fenmeno cada vez mais intenso

    e ainda pouco discutido na pesquisa educacional: o rejuvenesci-

    mento ou juvenilizao da EJA.

    O rejuvenescimento oujuvenilizao da EJA: apresena de jovens na EJAHaddad e Di Pierro (2000) apontam que o perfil dos estudantes

    da EJA assume uma nova identidade a partir do final do sculo XX.

    Diferentemente das dcadas anteriores, quando eram atendidos

    principalmente adultos oriundos de origem rural, com a entrada

    dos jovens no programa emerge um novo desafio para a Educa-

    o de Jovens e Adultos h mais de duas dcadas os jovens

    atendidos na escolarizao da EJA so de origem urbana e com

    uma trajetria escolar anterior malsucedida.

    Para Andrade (2004), a entrada de jovens na EJA um dos

    atuais desafios dessa modalidade de ensino, ou seja, as deman-

    das apresentadas por esses sujeitos so diferentes das demandas

    dos sujeitos adultos:

    Valorizar o retorno dos jovens pobres escolaridade fundamentalpara torn-los visveis, j que representa a chance que,mais uma vez,esse jovemest dando ao sistema educacional brasileiro de conside-rar a sua existncia social, cumprindoodireito constitucional de todosterem acesso escolaridade bsica. (ANDRADE, 2004, p. 51)

    Carrano (2007, p. 56) tambm chama a ateno para o desafio

    do que se tem chamado de juvenilizao da EJA:

    Deveramos caminhar para a produo de espaos escolaresculturalmente significativos para uma multiplicidade de sujeitosjovens e no apenas alunos histrica e territorialmente situadose impossveis de conhecer a partir de definies gerais e abstratas.

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    Neste sentido, seria preciso abandonar toda a pretenso de elabo-rao de contedos nicos e arquiteturas curriculares rigidamenteestabelecidas para os jovens da EJA.

    Torna-se necessrio, portanto, conceber a juventude comoconstruo social que se realiza de forma diferenciada ao longo doprocesso histrico e nos diferentes contextos sociais e culturais,que sofremodificaes e interferncias nos entrecruzamentos coma classe social, o gnero e a raa. Assim, dado o nmero signi-ficativo de jovens e adultos negros presentes na EJA, a seguinteindagao parece ter uma resposta clara: para onde retornam osjovens negros que so excludos dos processos de escolarizaoregular? As poucas pesquisas sobre EJA e questo racial existentespermitem-nos ponderar que, no Brasil, esse segmento deve estarlocalizado na EJA.Isso quer dizer que o campo da EJA possui como uma de suas

    caractersticas fundamentais no somente o recorte socioeconmicoegeracional,mas, tambm, o racial. Emais, quando sediscute aEJAcomo umdireito, no se pode esquecer de que esse direito tambmest articulado luta pelo direito diferena.Alm disso, verificou-se que a presena do jovem na EJA oca-

    siona, tambm, tenses no mbito das relaes educativas esta-belecidas entre o adulto e o jovem, entre o professor e o jovemaluno. A viso do jovem sobre o processo de escolarizao naEJA diferente daquela construda pelo adulto, em decorrnciado momento da vida e da expectativa de futuro de ambos. Emcontrapartida, de certa forma, o adulto avalia de maneira bastantecrtica a presena do jovem na EJA. Parte desses alunos consideraque o jovem no leva a srio os estudos e que a presena delesinterfere de forma negativa no processo de aprendizagem doscontedos escolares.Os docentes encontram limites reais diante do rejuvenescimento

    da EJA, geralmente relacionados sua formao inicial, que no

    os capacitou para lidar com tais especificidades, alm do desafio

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    que enfrentam cotidianamente diante dos anseios, das demandase das expectativas por parte tanto do alunado jovem quanto adulto(SILVA, 2007).Pondera-se, portanto, que devemos entender o jovem presente

    nos processos de escolarizao da EJA e, demaneiramais ampla,no ensino regular, para alm do desempenho do papel social dealuno e da limitao do conhecimento transmisso dos conte-dos. preciso compreender que quem chega EJA so sujeitos

    e no alunos, como salienta Carrano (2007, p. 65):

    A escola espera alunos e o que chega so sujeitos com mltiplastrajetrias e experincias de vivncia domundo. So jovens que, emsua maioria, esto aprisionados no espao e no tempo presosem seus bairros e incapacitados para produzirem projetos de futu-ro. Sujeitos que, por diferentes razes, tm pouca experincia decirculao pela cidade e se beneficiam pouco ou quase nada daspoucas atividades e redes culturais pblicas ofertadas em espaoscentrais emercantilizados das cidades. Jovens que vivemembairrosviolentados, onde a violncia a chave organizadora da experinciapblica e da resoluo de conflitos. ( Grifo nosso)

    Nessa perspectiva, considera-se que a reflexo em torno dorejuvenescimento da EJA, assim como no ensino regular, enfren-ta momentos de tenso entre o reforo da construo social doaluno e outra construo prpria do nosso tempo: a de sujeitosjovens. Assim como a representao de aluno informou e aindainforma as prticas pedaggicas, a concepo desses estudan-tes como sujeitos jovens poder apontar algo novo na relao

    pedaggica e na relao com o prprio conhecimento.

    Consideraes finaisReconhecer a EJA comodireito exige compreender o seu campo

    de lutas e conquistas histricas marcado pelo direito a educao

    com vista promoo e dignidade humana. nesse contexto,

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    portanto, que educar no se reduz a escolarizar, uma vez que

    por meio da educao que se espera garantir a formao de

    cidados crticos e participativos na tomada de deciso da socie-

    dade. Nesse sentido, fica como desafio modalidade de ensino

    Educao de Jovens e Adultos criar estratgias de emancipao

    dos sujeitos envolvidos.

    Verificou-se, na pesquisa, que a escola ainda uma das poucas

    instituies sociais a que os jovens pobres tm acesso. Algumas

    das expectativas desses jovens em torno do processo de escola-

    rizao da EJA pautam-se pela insero no mercado de trabalho,

    pela certificao, pela acelerao do tempo escolar, bem como

    pela construo de vnculos de amizades, pela percepo da sua

    identidade tnico-racial, dentre outros. Nesse caso, portanto, por

    se tratar de um fenmeno relativamente recente, o entendimen-

    to do processo de rejuvenescimento ou juvenilizao da EJA

    necessita ser mais bem compreendido pelos profissionais que

    atuam nessa modalidade de ensino, sobretudo no que se refere

    s questes do direito educao e o respeito diversidade.

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    Educao de Jovens e Adultos: alguns desafios em torno do direito educao

    Paidia r. do cur. de ped. da Fac. de Ci. Hum. e Soc., Univ. Fumec Belo Horizonte Ano 6 n. 7 p. 61-72 jul./dez. 2009

    education of Youth and adults: some challenges around theright to education

    This article is the result of some questions developed in my masters researchproject and its main objective is to discuss the schooling process of Educationof Youth and Adults (EJA) and its rejuvenation and or juvenilization from theperspective of the right to education. To this end, we attempted to place thesubject of education present, today, in the EJA, that is to say, young people andadults who have different social, identity, generational backgrounds, diverse ra-ces, genders, disabilities, and sexual orientation. Youth and adult life in the EJAhave specificities and are characterized by diversity. Therefore, understandingthe schooling of the EJA, beyond the process of content delivery, is one of thecurrent challenges. Furthermore, as it is a relatively recent phenomenon, theunderstanding of rejuvenation or juvenilization of the EJA needs to be betterunderstood by professionals working in this type of education, particularly inmatters relating to the right to education and respect for diversity.

    Key-words: youth and Adults (EJA). right to education. rejuvenation of the EJA

    ducation des Jeunes et des adultes: quelques dfis autour dudroit lducation

    Larticle rsulte de quelques questions dveloppes dans notre recherche(Master) et son objectif principal est de discuter le processus de scolarisationdu programme ducation des jeunes et des adultes (EJA) tout comme sonrajeunissement du point de vue du droit lducation. Ainsi, on a essay desituer llve qui se trouve actuellement la EJA, cest--dire, les jeunes et lesadultes qui ont des places sociales, identitaires, gnrationnelles; des jeunes etdes adultes qui prennent position quant la race, au genre et aux diffrentesorientations sexuelles. La jeunesse et la vie adulte y prsentent des spcificits etsont marques par la diversit. Comprendre la scolarisation dveloppe la EJAaudel de la simple transmission des contenus constitue lun des dfis majeursde notre contemporanit. De plus, vu quil sagit dun phnomne relativementrcent, ce rajeunissement de la EJA demande une meilleure comprhensionde la part des professionnels qui y travaillent, surtout en ce qui concerne le droit lducation et au respect de la diversit.

    mots-cls: ducation des Jeunes et des Adultes (EJA). droit lducation et aurespect de la diversit.

    Recebido em 20/11/2009.

    Aprovado em 10/12/2009.

    Abstract

    Rsum

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    Natalino Neves da Silva

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