elasticidade rendimento da procura
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Elasticidade-rendimento da procura
A procura não é apenas influenciada pelo preço. De acordo com a lei da procura, as
quantidades procuradas variam em sentido inverso ao do preço, mantendo-se tudo o resto
constante (condição coeteris paribus), designadamente, as preferências dos consumidores, os
preços relativos dos bens e o rendimento dos consumidores. A variação de um destes
pressupostos (as preferências dos consumidores, os preços relativos dos bens e o rendimento
dos consumidores) é de molde a provocar uma deslocação da curva da procura.
Tomando como referência uma determinada curva da procura (ao longo da qual a série de
quantidades procuradas irá variar de forma inversa à variação dos preços), uma variação do
rendimento dos consumidores poderá provocar um de três efeitos:
- uma deslocação da curva da procura para cima e para a direita, passando a procurar-se aos
mesmos preços maiores quantidades de bens;
- uma deslocação da curva da procura para baixo e para a esquerda, passando a procurar-se
aos mesmos preços menores quantidades de bens;
- deixar inalterada a curva da procura.
A elasticidade-rendimento da procura designa a relação entre a variação percentual do
rendimento dos compradores de um certo bem e a variação percentual da procura desse bem.
A elasticidade-rendimento da procura calcula-se de acordo com a seguinte fórmula:
Elasticidade-rendimento da procura =
A elasticidade-rendimento da procura pode ser positiva, negativa ou igual a zero.
A elasticidade-rendimento da procura é positiva quando o rendimento e a quantidade
procurada variam no mesmo sentido (o rendimento aumenta e, consequentemente, aumenta
a procura; o rendimento diminui e, consequentemente, diminui a procura).
A elasticidade-rendimento da procura pode ser positiva maior que um, positiva menor que um
e igual a um. Na elasticidade-rendimento positiva maior que um é menor a variação percentual
do rendimento do que a variação percentual da procura (por exemplo, o rendimento sobe 10%
e a quantidade procurada sobe 20%). Na elasticidade-rendimento positiva menor que um é
maior a variação percentual do rendimento do que a variação percentual da procura (por
exemplo, o rendimento sobe 25% e a quantidade procurada sobe 15%). Na elasticidade-
rendimento positiva igual a um são idênticas, tanto a variação percentual do rendimento como
a variação percentual da procura. O rendimento e a procura variam no mesmo sentido e na
mesma percentagem.
A elasticidade-rendimento da procura é negativa quando o rendimento e a quantidade
procurada variam em sentidos opostos (o rendimento aumenta e, consequentemente, diminui
a procura; o rendimento diminui e, consequentemente, aumenta a procura). A elasticidade-
rendimento da procura pode ser negativa maior que um, positiva menor que um e igual a um.
Na elasticidade-rendimento negativa maior que um é menor a variação percentual do
rendimento do que a variação percentual da procura (por exemplo, o rendimento sobe 10% e
a quantidade procurada diminui 20%). Na elasticidade-rendimento negativa menor que um é
maior a variação percentual do rendimento do que a variação percentual da procura (por
exemplo, o rendimento sobe 15% e a quantidade procurada diminui 8%). Na elasticidade-
rendimento negativa igual a um são idênticas, tanto a variação percentual do rendimento
como a variação percentual da procura. O rendimento e a procura variam em sentidos opostos
na mesma percentagem.
A elasticidade-rendimento da procura é igual a zero quando a quantidade procurada não varia
qualquer que seja a variação do rendimento. Por exemplo, a elasticidade-rendimento da
procura de sal para consumo doméstico é zero.
A elasticidade-rendimento da procura apresenta comportamentos diferentes no caso dos
‘bens normais’, dos ‘bens inferiores’ e dos ‘bens de luxo’.
A elasticidade-rendimento da procura da generalidade dos bens (‘bens normais’) é positiva.
Sempre que o rendimento aumenta ou diminui, aumenta ou diminui, respectivamente, a
quantidade procurada dos referidos bens. Assim, por exemplo, os bens de primeira
necessidade são, em regra, objecto de uma procura cuja elasticidade rendimento é positiva,
mas menor que um. Já as viagens de avião são caracterizadas por uma procura cuja
elasticidade-rendimento é positiva, mas maior que um.
Os ‘bens de luxo’ são objecto de uma procura cuja elasticidade rendimento é positiva e maior
que um. À medida que o rendimento aumenta, aumenta em maior percentagem a procura dos
bens de luxo. À medida que o rendimento diminui, diminui em maior percentagem a procura
dos bens de luxo.
Os ‘bens inferiores’ (bens de qualidade inferior dentro de cada categoria, v.g. os sapatos, o
vestuário, os bens alimentares, os automóveis mais baratos) são objecto de uma procura cuja
elasticidade-rendimento é negativa. Por exemplo, sempre que o rendimento aumenta, é
natural que as pessoas deixem de comprar margarina e passem a adquirir manteiga. Ao invés,
sempre que o rendimento diminui, é natural que as pessoas deixem de comprar manteiga e
passem a adquirir margarina.
A elasticidade-rendimento da procura dos bens depende da época histórica e do país em
concreto que se está a considerar. A elasticidade-rendimento da procura de um determinado
bem pode ser positiva num país e negativa noutro. Tudo depende do nível médio de
rendimento existente em cada um deles e dos padrões de consumo aí correntes. Assim, na
China, a carne e o vinho, estão associados a produtos de luxo, tendo pois uma elasticidade-
rendimento positiva e maior que um. Nos países desenvolvidos estes produtos são objecto de
uma elasticidade-rendimento negativa ou, quando muito, de uma elasticidade-rendimento
positiva mas menor que um.
A estrutura produtiva de um país vai-se alterando à medida que aumenta o rendimento per
capita. Em consequência do aumento do rendimento modificam-se os hábitos de consumo das
pessoas. As indústrias que produzem ‘bens inferiores’ perdem importância; as indústrias que
produzem bens de primeira necessidade crescem a um ritmo inferior à média da economia; as
indústrias que produzem bens de luxo crescem mais do que o conjunto da economia.
Nota: Este texto baseou-se, ponto por ponto, em Avelãs Nunes, A. J. (1998). Economia Política
- A Produção. Mercados e Preços. Coimbra, SASUC - Serviço de Textos., pp. 303-307.