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ELONICHTHYDAJ DO KARROO DE ANGOLA
POR
CARLOS TEIXEIRA
A fauna do Karroo do Lutôe compreende, conforme em estudo anterior referi (I), diversos tipos de peixes fósseis, dos quais foram já por mim descritos e figurados um holósteo (2) e um sub-holósteo (5).
Para completar o-estudo dos exemplares da colecção depositada pelo Sr. Eng.o F. Mouta nos Serviços Geológicos de Portugal, ocupar-me-ei neste artigo da descrição dos Condrósteos.
Encontram-se entre estes os peixes de maioxes dimensões da colecção referida; alguns deles atingem quase 20 cm. de comprimento.
Pertencem todos à ordem Palaeoniscoidea e a um único género - Elonichthys Giebel.
O conjunto dos exemplares da colecção pode separar-se em dois grupos, que considerei como representando formas diferentes.
ELONICHTHYS MOUTAI TEIX.
1947 - Eloniehthys Moutai C. Teixeira, État actuei de nos connaissances sur la Paléontologie du Karroo de I' Angola. Brotéria (Série de Ciência Naturais), VoI. XV I (XLIII), fase. I-II.
Peixes de corpo alongado, fusiforme, podendo atingir 18 ou 19 cm. de comprimento, revestido por escamas ganóides, romboidais, as da região anterior com sulcos oblíquos.
(1) C. TEIXEIRA - État actuei de nos connais. sur la Paléont. du Karroo de l' Angola. Brotéria (Sér. de C. N.) VoI. XVI (XLIII), Fase. I-II -1947.
(2) C. TEIXEIRA - Os peixes do género Angolaichthys. Boi. da Soe. Geai. de Port., VoI. VII, fase. I-II. Porto, 1948.
(3) C. TEIXEIRA - Acerca de um sub-holósteo do Karroo de Angola. Boi. da Soe. Geai. de Port., VoI. VII, fase. III. Porto, 1948.
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As barbatanas são desenvolvidas, largas, com os raios bifurcados só na extremidade, sempre acompanhadas, por fulcros. Barbatana caudal tipicamente heterocérquica, com o lobo superior extraordinàriamente desenvolvido. A dorsal insere-se mais ou menos a meio do corpo, enquanto que a anal aparece situada muito posteriormente.
A cabeça é curta, quase tão alta como comprida. Os olhos estão situados anteriormente. Os ossos da cabeça são esculturados. Os parietais e frontais
apresentam a superfície com cavidades e tubérculos. O opérculo e o sub-opérculo são mais altos que largos, per
corridos por estrias finas. O pré-opérculo é bem desenvolvido. A maxila é forte, muito elevada na região posterior ou
post-orbitária. A mandíbula é, do mesmo modo, fOJ:te e robusta. Os dentes são cónicos.
Os ossos sub-orbitários são visíveis em alguns espécimens.
Os caracteres citados condizem. perfeitamente com os do género Elonichthys'. Trata-se, contudo, de uma forma não registada ainda noutro local.
Não pode deixar de dizer-se, também, que existe certa semelhança entre os peixes do Lutóe e os do género Oonatodus. Todavia, para os separar basta o facto de as escamas destes últimos não serem sulcadas, como as dos primeiros.
A forma da maxila de E. Moutai é muitíssimo parecida com a de Oonatodus parvidens Traquair. O mesmo se observa quanto ao pré-opérculo (').
Dentre as formas conhecidas do género Elonichthys, a espécie de Angola é comparável com E. Whaitsi Broom (5) do Karroo da África do Sul, com E. Robisoni Hilbert do Carbónico de Inglaterra, etc ..
(4) Cfr. R. H. TRAQUAIR - The Ganoid fishes of lhe British Carh. Formations. Parte I -Palaeoniscidae. London, 1877-1914.
(5) Cfr. R. BROOM - On some fishes from lhe lower and middle Karroo beds. Ann. 01 lhe Soulh Alrica Museum, VoI. XII -1913.
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ELONICHTHYS ANGOLENSIS TEIX.
1947 - Elonichthys angolensis C. Teixeira, Etat actueI de nos connaissances sur la Paléontologie du Karroo de I' Angola. Brotéria (Série de Ciências Naturais) Vol. XVI (XLIII), fase. I-II.
Peixes de morfologia geral idêntica à da espécie anterior, da qual se distinguem, sobretudo, pelas dimensões muito mais reduzidas. O comprimento deles atinge cerca de 9 ou 10 cm .•
Embora tenha mantido a separação"é de admitir que E. angolensis possa ser uma forma de E. Moutai.
* * *
A distribuição geográfica do género Elonichthys abrange o mundo inteiro. A área de expansão destes peixes compreende a Europa, a Groenlândia, as duas Américas, a África e a Aus-trália (6). .
Pelo que até hoje se conhece pode dizer-se que a. sua extensão vertical coincide com o Permo-Carbónico.
* * *
As formações do Lutôe assumem excepcional importância entre os jazigos per mo-triásicos de fácies límnica, tais como os da África do Sul e de Hawkesbury (7).
Embora não se citem espécies comuns, o que é verdade é que nas faunas destes jazigos se repetem os mesmos tipos.
No Lutôe, além do holósteo Angolaichthys Lerichei, do sub-holósteo Dimorpholepis lutoensis e do condrósteo Elonichthys
(6) (fr. A. S. ROMER - Vertebrate Paleontology. Chicago, 1945. (7) Cfr. J. BROUGH - On the evolution of bony fishes during de Triassic
period. Biological Reviews. Vol. XI, fase. III. Cambridge, 1936.
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Moutai, ocorre ainda um curioso ceratodontídio e uma espécie de Estheria.
Aparecem, assim, reunidos no mesmo jazigo tipos de peixes de organização diversa, facto que dá à fauna citada o carácter de transição, peculiar nas faunas do Pérmico superior e dos primeiros tempos do Triásico.
Efectivamente a fauna do Lutôe compreende paleoniscoides típicos, verdadeiros holósteos e peixes morfologicamente intermediários entre uns e outros.
Os paleoniscoides tiveram o apogeu durante o Permo-Carbónico. Poucas são as formas que ultrapassaram o Triásico inferior.
Os holósteos, que apareceram nos últimos tempos do Paleozóico, são relativamente raros antes do Triásico médio.
O domínio durante a primeira metade do Triásico pertenceu aos sub-holósteos (8).
Os ceratodontídios são conhecidos a partir do Pérmico, mas foi no Mesozóico que tiveram grande expansão.
Pelos caracteres paleontológicos, os depósitos do Lutôe devem situar-se, pois, nos primeiros tempos do Triásico ou nos limites do Pérmico, isto é, entre os andares médio e inferior de Beaufort.
Lisboa, Dezembro de 1947.
EXPLICAÇÃO DAS ESTAMPAS
Fig. 1-2 - Elonichlhys angolensis Teix. Dois espécimens quase completos. (Tamanho natural).
Fig. 1 a e 2 a - Os mesmos exemplares das figs. anteriores ampliados. Fig. 3-6 - Elonichlhys Moulai Teix. Diferentes exemplares, em tama
nho natural. Fig. 4 a e 6 a - A região anterior, ampliada, dos espécimens represen
tados nas figs. 4 e 6. Podem ver-se os pormenores da organização do esqueleto da cabeça.
(8) Cfr. J. BROUGH - The triassíc fishes of Besano, Lombardy . . British Museum (Nat. Híst.). London, 1939.