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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA MONOGRAFIA DE BACHARELADO EMPRESAS, MEIO AMBIENTE E RESPONSABILIDADE SOCIAL - UM OLHAR SOBRE O RIO DE JANEIRO - MÁRIO AUGUSTO DOS SANTOS matrícula nº: 091126548 ORIENTADOR(A): Prof. Valéria da Vinha JUNHO 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

EMPRESAS, MEIO AMBIENTE ERESPONSABILIDADE SOCIAL

- UM OLHAR SOBRE O RIO DE JANEIRO -

MÁRIO AUGUSTO DOS SANTOSmatrícula nº: 091126548

ORIENTADOR(A): Prof. Valéria da Vinha

JUNHO 2003

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE ECONOMIA

MONOGRAFIA DE BACHARELADO

EMPRESAS, MEIO AMBIENTE EA RESPONSABILIDADE SOCIAL

- UM OLHAR SOBRE O RIO DE JANEIRO -

__________________________________

MÁRIO AUGUSTO DOS SANTOSmatrícula nº: 091126548

ORIENTADOR(A): Prof. Valéria da Vinha

JUNHO 2003

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As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do(a) autor(a)

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“O que é aprendizagem? Uma jornada e um processo,nunca um fim ou uma conclusão.O que é um professor? Um guia, nunca uma sentinela ouum ditador.O que é uma descoberta? Um processo constante dequestionar as respostas e não de responder àsperguntas.Qual é a meta? Mente aberta de modo que você possa sere nunca saídas fechadas de modo que você tenha quefazer.O que é um teste? Ser e tornar - se, não apenas lembrar erevisar.O que ensinamos? Indivíduos e não lições, estilos,sistemas, métodos ou técnicas.O que é uma escola? O que quer que façamos dela?Onde é a escola? Em toda parte, não em uma sala dequatro cantos ... mas onde quer que estejamos.A todos que buscam o caminho.Conhecimento vem de seu professor.Sabedoria vem de seu interior.”

LEE JUN FAN

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AGRADECIMENTOS

Se hoje chego a este momento importante na vida, pronto a tornar - me bacharel emCiências Econômicas, é porque no decorrer desses anos tive o apoio e incentivo de algumaspessoas, pessoas estas que foram fundamentais nessa minha caminhada devido aos maisdiversos motivos. Por isso gostaria de agradecer a Anna Lúcia Salles, Gilbran Menezes eRoberto Correia Crespo, funcionários do Instituto de Economia, ao amigo Fábio José e, emespecial, a Professora Valéria da Vinha, minha orientadora e grande incentivadora, pois semela nada disso seria possível.

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RESUMO

O trabalho focaliza a questão da responsabilidade ambiental empresarial face a umanova dinâmica mundial em que, cada vez mais, o meio ambiente adquire grande importânciae sua preservação torna - se condição sine qua non para humanidade. Em vista disso, estetrabalho tem por objetivo mostrar como as empresas se inserem nesta nova dinâmica, onde olucro não é mais o objetivo único a ser alcançado e a crescente homogeneização de produtose serviços oferecidos ao consumidor faz com que a empresa busque obter uma imagemresponsável perante o mercado, imagem esta associada a uma preocupação com padrõeséticos comportamentais, com a preservação ambiental, com a inserção de parcelasdiscriminadas da população em seus quadros de funcionários, etc., de forma a caracterizar -se como uma empresa socialmente responsável. E é justamente essa atuação responsável daempresa, enfatizando, porém, o aspecto ambiental, o objeto primordial desse trabalho. Àguisa de ilustração, realizamos uma análise dos resultados de uma pesquisa recentementedesenvolvida sobre o comportamento de empresas localizadas no Estado do Rio de Janeiro.

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO......................................................................................................................................................8

CAPÍTULO I – A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS.....................................................10

I.1 - HISTÓRICO ......................................................................................................................................................11I.2 – VISÃO GERAL...................................................................................................................................................11I.3 – POLÍTICAS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL............................................................................................................12

I.3.1 – Valores e Ética.................................................................................................................................14 I.3.2 – Público Interno ................................................................................................................................14 I.3.3 – Meio Ambiente .................................................................................................................................16 I.3.4 – Fornecedores ....................................................................................................................................17 I.3.5 – Consumidores ..................................................................................................................................18 I.3.6 – Comunidade .....................................................................................................................................18 I.3.7 – Governo e Sociedade ......................................................................................................................20

I.4 – O BALANÇO SOCIAL COMO INDICADOR DA RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL ........................................................20I.5 – O EXEMPLO DO BALANÇO SOCIAL EM FURNAS.....................................................................................................22

I.5.1 – O Balanço Social de Furnas .........................................................................................................25

CAPÍTULO II – O AMBIENTALISMO EMPRESARIAL ...........................................................................28

II.1 - ORIGENS .......................................................................................................................................................28II.2 – AS CORRENTES DO AMBIENTALISMO EMPRESARIAL..............................................................................................29

CAPÍTULO III – UM NOVO CONTEXTO E A NOVA MENTALIDADE EMPRESARIAL...............32

III.1 – O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL COMO META ............................................................................................32 III.1.1 – O Papel das ONGs na Busca do Desenvolvimento Sustentável Como Meta................35 III.1.2 – O Papel do Governo na Busca do Desenvolvimento Sustentável Como Meta.............36

III.2 – A MUDANÇA DE RUMO..................................................................................................................................37III.3 – NOVAS ESTRATÉGIAS APLICADAS NAS EMPRESAS: ALGUNS EXEMPLOS IMPORTANTES.............................................40

III.3.1 – Auditoria Ambiental como Estratégia de Gestão – O exemplo da Norsk Hydro........40 III.3.2 – A Análise do Ciclo de Vida do Produto (ACV) como Ferramenta de GestãoAmbiental – O Caso da Procter & Gamble ............................................................................................41 III.3.3 – A Preservação Ambiental Acima de Tudo - O Caso da Ecovias dos Imigrantes.......42

III.4 –O “TRIPLE BOTTOM LINE”...............................................................................................................................45

CAPÍTULO IV – INDICADORES DA ATUAÇÃO AMBIENTAL DAS EMPRESAS NO RIO DEJANEIRO..............................................................................................................................................................48

IV.1 – INTRODUÇÃO.................................................................................................................................................48IV.2 – UM PANORAMA DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL EMPRESARIAL NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.......................49IV.3 – A ECO- ESTRATÉGIA DAS EMPRESAS NO RIO DE JANEIRO...................................................................................51

CAPÍTULO V - CONCLUSÕES......................................................................................................................56

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................59

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INTRODUÇÃO

A empresas são importantes agentes de promoção do desenvolvimento

econômico de um país, assim como de seu avanço tecnológico. Estas possuem

grande capacidade criadora e de geração de recursos, num contexto onde o

bem estar comum depende cada vez mais de uma ação cooperativa e

integrada de todos os setores da economia e que faz parte de um processo de

desenvolvimento que tem por objetivo a preservação do meio ambiente e a

promoção dos direitos humanos.

O conceito de responsabilidade social é bastante amplo, referindo - se à

ética como principal balizadora das ações e das relações com os diversos

segmentos com os quais as empresas interagem: acionistas, funcionários,

consumidores, rede de fornecedores, meio ambiente, governo, mercado e

comunidade. Assim, a questão da responsabilidade social empresarial diz

respeito à postura legal da empresa, à prática filantrópica por ela exercida ou

ao apoio dado à comunidade, significando, dessa forma, uma mudança de

atitude voltada para uma perspectiva de gestão empresarial com foco na

qualidade dessas relações e na geração de valor para todos.

Ao adicionar às suas competências básicas um comportamento ético e

socialmente responsável, as empresas adquirem o respeito das pessoas e

comunidades que sofreram o impacto de suas atividades, sendo assim

gratificadas com o reconhecimento por parte de seus consumidores e com o

engajamento de seus colaboradores, fatores esses cruciais para conquistar

vantagem competitiva e sucesso empresarial. Conjuntamente, a

responsabilidade empresarial como estratégia de gestão contribui para a

construção de uma sociedade mais justa, próspera e onde a preservação

ambiental é, acima de tudo, um dever de todos.

Dessa forma, a questão da responsabilidade empresarial frente ao meio

ambiente é centrada na análise de como as empresas interagem com o meio

em que estas habitam e praticam suas atividades. Tal atuação (seja esta

responsável ou não) é que irá definir a tomada de decisões por parte da

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empresa, a definição de sua estratégia de gestão, se esta irá respeitar ou não a

legislação ambiental vigente e quais os ganhos e perdas daí advindos (como,

por exemplo, perda de competitividade e mercado externo).

Assim, a intenção presente neste trabalho é mostrar de que forma a

manutenção de uma política de responsabilidade social com relação ao meio

ambiente é vantajosa para as empresas e sociedade como um todo, na medida

em que, para a sociedade esta política garante a preservação ambiental, a

melhoria da qualidade de vida, redução dos efeitos das mudanças climáticas

globais, etc., e para as empresas acaba por gerar novas oportunidades de

negócios, um marketing social bastante favorável, e ganhos de

competitividade através da certificação ambiental que a diferenciará

positivamente de sua concorrente, tudo isso gerando um maior lucro.

Para tanto, este trabalho apresenta - se da seguinte forma: no primeiro

capítulo é abordada a questão da responsabilidade social das empresas e seus

mais diversos aspectos e implicações; o segundo capítulo concentra - se na

análise do conceito de ambientalismo empresarial; no terceiro objetiva- se

mostrar como a mudança no contexto mundial influenciou a adoção de uma

nova e diferente mentalidade no meio empresarial; e, finalizando, o quarto

capítulo está centrado na análise dos indicadores pertinentes à atuação

ambiental das empresas, usando como exemplo o Estado do Rio de Janeiro.

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CAPÍTULO I – A RESPONSABILIDADE SOCIAL DAS EMPRESAS

Tendo como base bibliográfica neste capítulo os estudos do Instituto

Ethos, torna - se necessário uma ligeira apresentação deste Instituto e de sua

relevância.

Fundado em 1998, o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade

Social é uma associação sem fins lucrativos que tem como missão mobilizar,

sensibilizar e ajudar as empresas a gerirem seus negócios de forma

socialmente responsável, tornando - as parceiras na construção de uma

sociedade mais próspera e justa, disseminando, dessa forma, a prática da

Responsabilidade Social Empresarial.

A relevância do Instituto Ethos para a questão da Responsabilidade

Social Empresarial advém do fato deste ajudar as empresas a:

a) compreender e incorporar de forma progressiva o conceito de

comportamento empresarial socialmente responsável;

b) implementar políticas e práticas que atendam a elevados critérios éticos,

contribuindo, assim, para o alcance do sucesso econômico sustentável a longo

prazo;

c) assumir suas responsabilidades com todos aqueles que são impactados por

suas atividades;

d) demonstrar aos seus acionistas a importância de um comportamento

socialmente responsável para um retorno a longo prazo sobre seus

investimentos;

e) identificar formas inovadoras e eficazes de atuar em parceria com as

comunidades na construção do bem- estar comum; e

f) prosperar, contribuindo para um desenvolvimento social, econômico e

ambientalmente responsável.

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Dessa forma, a utilização de tal fonte bibliográfica assume grande

importância neste trabalho. E assim sendo, vamos então a ele.

I.1 - Histórico

Um dos traços mais marcantes da recente evolução da economia

mundial tem sido a integração dos mercados e a queda das barreiras

comerciais. Para grande parte das empresas, isso significou a inserção, muitas

vezes forçada, na competição em escala global. Em curto espaço de tempo,

elas viram- se compelidas a mudar radicalmente suas estratégias de negócio e

padrões gerenciais para enfrentar desafios e aproveitar as oportunidades

decorrentes da ampliação de seus mercados potenciais, do surgimento de

novos concorrentes e novas demandas da sociedade.

Esse novo contexto apresentou como desafio para as empresas a busca

por níveis progressivamente maiores de competitividade e produtividade e

introduziu nestas a preocupação com a legitimidade social de suas atuações.

Em resposta a esse desafio, as empresas passaram a investir em

qualidade, primeiramente centrando a atenção nos produtos, depois

evoluindo para a abordagem dos processos e culminando no tratamento

abrangente das relações entre a atividade empresarial, os empregados, os

fornecedores, os consumidores, a sociedade e o meio ambiente.

Assim, dentro desse novo contexto, a gestão empresarial que possua

como referência apenas os interesses dos acionistas revela- se insuficiente. Tal

gestão deve ser balizada pelos interesses e contribuições dos stakeholders 1.

Isso faz com que a busca de excelência empresarial passe a ter como objetivos

a sustentabilidade econômica, social e ambiental, ou seja, corresponda à idéia

do Triple Bottom Line , que será melhor explicada no decorrer deste trabalho.

I.2 – Visão Geral

A atuação baseada em princípios éticos elevados e na busca de

qualidade nas relações são manifestações de responsabilidade social

1 Empregamos o termo "stakeholder " ao invés de “grupos de interesses” ou “partes interessadas” porser mais abrangente pois incorpora todos os membros da cadeia produtiva, as comunidades, as ONGs,o setor público, e outras firmas e indivíduos formadores de opinião, e não tem tradução emportuguês. Além disso, o termo está consagrado na literatura especializada.

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empresarial. Dessa forma, a adoção de padrões de conduta ética que

valorizem o ser humano, a sociedade e o meio ambiente são exigências cada

vez mais presentes no contexto empresarial.

Mas o que caracterizaria a empresa como socialmente responsável? De

forma simples, pode- se dizer que a empresa é socialmente responsável

quando vai além da obrigação de respeitar as leis, pagar impostos e observar

as condições adequadas de segurança e saúde para os trabalhadores, e faz

isso por acreditar que assim será uma empresa melhor e estará contribuindo

para a construção de uma sociedade mais justa. Com esta performance a

empresa, além de agregar valor a sua imagem, conquistando, com isso, uma

maior fatia do mercado consumidor, também aumenta sua capacidade de

recrutar e manter em seus quadros os melhores profissionais.

No campo prático, a empresa demonst ra sua responsabilidade social ao

comprometer - se com programas sociais voltados para o futuro da

comunidade e da sociedade. Outrossim, o investimento em processos

produtivos compatíveis com a preservação ambiental, e a preocupação com o

uso racional dos recursos naturais, também tem importante valor simbólico,

por serem de interesse da empresa e da coletividade.

No Brasil, o movimento de valorização da responsabilidade social

empresarial ganhou forte impulso na década de 90, através da ação de

entidades não governamentais, institutos de pesquisa e empresas

sensibilizadas para a questão. A partir de então, as empresas brasileiras têm

buscado uma adequação à prática vigente, sendo grande o número de

empresas que, atualmente, procuram oferecer empregos a deficientes físicos e

outras atitudes responsáveis, já que estas empresas visam obter certificados

de padrões de qualidade e de adequação ambiental, as chamadas certificações

ISO e, mais recentemente, como forma de comprovar sua observância quanto

à responsabilidade social, as certificações sociais, tipo SA (Social

Accountability) 8000.

I.3 – Políticas de Responsabilidade Social

Até aqui, apresentamos as características de uma empresa considerada

socialmente responsável. Faz- se mister agora uma análise mais detalhada

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acerca das políticas e práticas a serem adotadas e respeitadas pelas empresas

nos mais variados aspectos, de modo que estas internalizem, efetivamente, os

princípios da responsabilidade social. E é justamente isso o que iremos agora

examinar.

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I.3.1 – Valores e Ética

Valores e princípios éticos formam a base da cultura de uma empresa,

orientando sua conduta e fundamentando sua missão social. A noção de

responsabilidade social empresarial decorre da compreensão de que a ação

das empresas deve, necessariamente, procurar trazer benefícios para os

parceiros e para o meio ambiente, além de retorno para os investidores. A

adoção de uma postura clara e transparente no que diz respeito aos objetivos

e compromissos éticos da empresa fortalece a legitimidade social de suas

atividades, refletindo - se positivamente no conjunto de suas relações.

Com relação a este aspecto podemos destacar as seguintes implicações:

a) Compromissos Éticos – o código de ética ou de compromisso social é um

instrumento de realização da visão e da missão da empresa, orienta suas

ações e explicita sua postura social a todos com quem mantêm relações.

Dessa forma, o comprometimento da alta gestão com sua disseminação e

cumprimento são as bases de sustentação da empresa socialmente

responsável.

b) Atuação dos Stakeholders – o envolvimento dos parceiros na definição das

estratégias de negócios da empresa gera compromisso mútuo com as metas

estabelecidas. Ele será tanto mais eficaz quanto sejam assegurados canais de

comunicação que viabilizem o diálogo estruturado.

c) Balanço Social - o registro das ações voltadas para a responsabilidade

social permite avaliar seus resultados e direcionar os recursos para o futuro.

O Balanço Social da empresa deve explicitar as iniciativas de caráter social,

resultados atingidos e investimentos realizados, o que será abordado

detalhadamente mais adiante.

I.3.2 – Público Interno

A empresa socialmente responsável não se limita a respeitar os direitos

dos trabalhadores, consolidados na legislação trabalhista, ainda que isso seja

um pressuposto indispensável. Deve, também, ir além e investir no

desenvolvimento pessoal e profissional de seus empregados, bem como na

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melhoria das condições de trabalho e no estreitamento dessas relações.

Ademais, deve estar atenta para o respeito às culturas locais, revelado por um

relacionamento ético e responsável com as minorias e instituições que

representam seus interesses.

Tal política interna pressupõe os seguintes princípios:

a) Participação nos Lucros e Resultados – o justo reconhecimento da

contribuição dos funcionários para os resultados da empresa é um poderoso

instrumento de envolvimento e compromisso com o sucesso dos negócios. Os

programas de participação acionária e de bonificação relacionada ao

desempenho são componentes importantes dos programas de gestão

participativa, e como tais incentivam o envolvimento dos empregados na

solução dos problemas da empresa. Esta prática também favorece o

desenvolvimento pessoal e profissional dos mesmos.

b) Compromisso com o Futuro das Crianças – para ser reconhecida como

socialmente responsável, a empresa não deve utilizar - se, direta ou

indiretamente, do trabalho infantil (de menores de 14 anos), conforme

determina a legislação brasileira. Por outro lado é positiva a iniciativa de

empregar menores entre 14 e 16 anos como aprendizes.

c) Valorização da Diversidade – a empresa não deve permitir qualquer tipo

de discriminação em termos de recrutamento, acesso a treinamento,

remuneração, avaliação ou promoção de seus empregados. Devem ser

oferecidas oportunidades iguais a pessoas com diferenças relativas a sexo,

raça, idade, origem, orientação sexual, religião, deficiência física, condições de

saúde, etc.

d) Comportamento Frente a Demissões – as demissões de pessoal não

devem ser utilizadas como primeiro recurso de redução de custos. Quando

forem inevitáveis, a empresa deve realizá - las com responsabilidade,

estabelecendo critérios para executá - las (empregados temporários, facilidade

de recolocação, idade do empregado, etc.) e assegurando os benefícios que

estiverem a seu alcance.

e) Compromisso com o Desenvolvimento Profissional e a Empregabilidade

– cabe à empresa comprometer - se com o investimento na capacitação e

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desenvolvimento profissional de seus empregados, oferecendo apoio a

projetos de geração de empregos e fortalecimento da empregabilidade para a

comunidade com que se relaciona.

f) Preparação para Aposentadoria – a empresa socialmente responsável tem

forte compromisso com o futuro de seus funcionários. Assim, deve criar

mecanismos de complementação previdenciária, visando reduzir o impacto da

aposentadoria no nível de renda, e estimular a participação dos aposentados

em seus projetos sociais.

I.3.3 – Meio Ambiente

A empresa relaciona - se com o meio ambiente causando impactos de

diferentes tipos e intensidades. Dessa maneira, uma empresa ambientalmente

responsável procura minimizar os impactos negativos e ampliar os positivos.

Deve, portanto, agir visando a manutenção e melhoria das condições

ambientais, minimizando ações próprias potencialmente agressivas ao meio

ambiente e disseminando em outras empresas as práticas e conhecimentos

adquiridos nesse sentido.

Dentre os parâmetros a serem seguidos com relação a este aspecto,

destaco:

a) Conhecimento sobre o Impacto no Meio Ambiente – um critério

importante para uma empresa consciente de sua responsabilidade ambiental é

um relacionamento ético e dinâmico com os órgãos de fiscalização, com vistas

à melhoria do sistema de proteção ambiental, pois a conscientização

ambiental é base para uma atuação pró- ativa na defesa do meio ambiente. E

como tal deve ser acompanhada pela disseminação dos conhecimentos e

intenções de proteção e prevenção ambiental para toda a empresa, cadeia

produtiva e comunidade.

b) Minimização de Entradas e Saídas do Processo Produtivo – uma das

formas de atuação ambientalmente responsável da empresa é o cuidado com

as entradas de seu processo produtivo, estando entre os principais

parâmetros, comuns a todas as empresas, a utilização racional de energia,

água e insumos necessários à produção e prestação de serviços.

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c) Responsabilidade Sobre o Ciclo de Vida dos Produtos e Serviços –

dentre as principais saídas do processo produtivo estão as mercadorias, suas

embalagens e os materiais não utilizados, convertidos em potenciais agentes

poluidores do ar, da água e do solo. Assim, são aspectos importantes na

redução do impacto ambiental o desenvolvimento e a utilização de insumos,

produtos e embalagens recicláveis ou biodegradáveis e a redução da poluição

gerada.

d) Educação Ambiental – cabe à empresa ambientalmente responsável apoiar

e desenvolver campanhas, projetos e programas educativos voltados a seus

empregados, à comunidade e a públicos mais amplos e também envolver - se

em iniciativas de fortalecimento da educação ambiental no âmbito da

sociedade como um todo.

I.3.4 – Fornecedores

A empresa que tem compromisso com a responsabilidade social

envolve- se com seus fornecedores e parceiros, cumprindo os contratos

estabelecidos e trabalhando pelo aprimoramento de suas relações de parceria.

Cabe à empresa transmitir os valores de seu código de conduta a todos os

participantes de sua cadeia de fornecedores. Deve, também, conscientizar - se

de seu papel no fortalecimento dessa cadeia, atuando no desenvolvimento dos

elos mais fracos e na valorização da livre concorrência.

Com relação a este aspecto, duas são as mais importantes implicações:

a) Critério de Seleção de Fornecedores – a empresa deve incentivar seus

fornecedores a aderir aos compromissos que ela adota perante a sociedade.

Também deve utilizar critérios voltados à responsabilidade social na escolha

de seus fornecedores, exigindo, por exemplo, certos padrões de conduta nas

relações com os trabalhadores ou com o meio ambiente.

b) Apoio ao Desenvolvimento de Fornecedores – a empresa pode auxiliar no

desenvolvimento de pequenas empresas ou cooperativas, priorizando - as na

escolha de seus fornecedores e ajudando - as a desenvolverem seus processos

produtivos e de gestão. Esta pode também oferecer treinamento aos

fornecedores, transferindo a estes conhecimentos técnicos, valores éticos e de

responsabilidade social.

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I.3.5 – Consumidores

A responsabilidade social em relação aos clientes e consumidores exige

da empresa um investimento permanente no desenvolvimento de produtos e

serviços confiáveis, que minimizem os riscos de danos à saúde dos usuários e

das pessoas em geral. Dessa forma, informações detalhadas devem estar

incluídas nas embalagens e deve ser assegurado ao cliente um suporte antes,

durante e após o consumo, de modo a satisfazer suas necessidades.

Disso deriva as seguintes práticas:

a) Política de Marketing e Comunicação – a empresa é um produtor de

cultura e influencia o comportamento da sociedade. Por isso, suas campanhas

publicitárias devem ter uma dimensão educativa, evitando a criação de

expectativas que extrapolem o que é efetivamente oferecido pelo produto ou

serviço, não devendo, de forma alguma, constranger nem causar desconforto

a quem recebê- las, e também informando os riscos potenciais dos produtos

ou serviços oferecidos.

I.3.6 – Comunidade

A comunidade em que a empresa está inserida fornece- lhe infra -

estrutura e capital social, contribuindo, decisivamente, para a viabilização de

seus negócios. Dessa forma, o investimento por parte da empresa em ações

que tragam benefícios para a comunidade é uma contrapar tida justa, além de

reverter em ganhos para o ambiente interno e na percepção que os clientes

possuem da própria empresa. Também o respeito aos costumes e cultura

locais e o empenho na educação e na disseminação dos valores sociais devem

fazer parte de uma política de envolvimento comunitário da empresa,

resultado da compreensão de seu papel de agente de melhorias sociais.

Segundo esta idéia, as políticas de responsabilidade social

imprescindíveis seriam:

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a) Mecanismos de Apoio a Projetos Sociais – a destinação de verbas e

recursos a projetos sociais terá resultados mais efetivos na medida em que

esteja baseada numa política estruturada da empresa. Um aspecto relevante é

a garantia de continuidade das ações, que pode ser reforçada pela criação de

um instituto, fundação ou fundo social.

b) Estratégias de Atuação na Área Social – a atuação social da empresa pode

ser potencializada pela adoção de estratégias que valorizem a qualidade dos

projetos sociais beneficiados, a multiplicação de experiências bem sucedidas,

a criação de redes de atendimento e o fortalecimento das políticas públicas da

área social.

c) Reconhecimento e Apoio ao Trabalho Voluntário dos Empregados – o

trabalho voluntário tem sido considerado um fator de motivação e satisfação

das pessoas em seu ambiente profissional. Assim, a empresa pode incentivar

essa atividade, liberando seus funcionários em parte do horário de expediente

para estes ajudarem organizações da comunidade ou incentivando aqueles

que participam de projetos de caráter social.

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I.3.7 – Governo e Sociedade

A empresa deve relacionar - se de forma ética e responsável com os

poderes públicos, cumprindo leis e mantendo interações dinâmicas com seus

representantes, visando a constante melhoria das condições sociais e políticas

do país. Tal comportamento ético pressupõe que as relações entre a empresa

e os governos sejam transparentes à sociedade, acionistas, empregados,

clientes, fornecedores e distribuidores. Com isso, cabe à empresa responsável

manter uma atuação política coerente com seus princípios éticos e que

evidencie seu alinhamento com os interesses da sociedade.

Para tanto, a empresa socialmente responsável deve observar os

seguintes aspectos:

a) Práticas Anti- corrupção e Propina – o compromisso formal com o

combate à corrupção e propina explicita a posição contrária da empresa ao

recebimento e oferta, aos parceiros comerciais ou a representantes do

governo, de qualquer quantia em dinheiro ou coisa de valor, além do

determinado por contrato.

b) Contribuição à Campanhas Políticas – a transparência nos critérios e nas

doações a candidatos ou partidos políticos é um importante fator de

preservação do caráter ético da empresa. A empresa pode ser, também, um

espaço de desenvolvimento da cidadania, viabilizando a realização de debates

democráticos que atendam aos interesses de seus funcionários.

c) Liderança Social – cabe à empresa socialmente responsável buscar

participar de associações, sindicatos e fóruns empresariais, impulsionando a

elaboração conjunta de propostas de interesse público e caráter social.

I.4 – O Balanço Social Como Indicador da Responsabilidade Empresarial

O Balanço Social é um demonst ra tivo publicado anualmente pela

empresa reunindo um conjunto de informação sobre os projetos, benefícios e

ações sociais dirigidas aos empregados, investidores, analistas de mercado,

acionistas e à comunidade. É também um instrumento estratégico para avaliar

e multiplicar o exercício da responsabilidade social corporativa.

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Tudo começou em 1993. O sociólogo Herbert de Souza, mais conhecido

como Betinho, lançou um desafio que envolveu a sociedade. Através da ONG

que fundou, o IBASE (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas),

cobrou das empresas uma comunicação mais transparente a governos e

grupos de interesse sobre a maneira pela qual encaram sua responsabilidade

pública.

No Balanço Social a empresa mostra o que faz por seus profissionais,

dependentes, colaboradores e comunidade, dando transparência às atividades

que busquem melhorar a qualidade de vida para todos. Assim, a principal

função do Balanço Social é tornar pública a responsabilidade social

empresarial, construindo maiores vínculos entre a empresa, a sociedade e o

meio ambiente.

Podemos enumerar várias razões que justifiquem a necessidade da

existência de um Balanço Social por parte das empresas. Em primeiro lugar, o

Balanço Social agrega valor à empresa, na medida em que traz um diferencial

para a imagem da empresa, diferencial este que vem sendo cada vez mais

valorizado por investidores e consumidores no Brasil e no mundo.

Segundo, por ser um moderno instrumento de gestão e avaliação, dado

que funciona como uma valiosa ferramenta para empresa gerir, medir e

divulgar o exercício da responsabilidade social em seus empreendimentos e

também pelo fato de muitos analistas de mercado, investidores e órgãos de

financiamento incluírem o Balanço Social na lista de documentos necessários

para se conhecer e avaliar os riscos e projeções de uma empresa.

Por último, por ser algo inovador e transformador, ou seja, realizar e

publicar o Balanço Social anualmente é mudar a visão antiga, indiferente à

satisfação e ao bem- estar dos funcionários e clientes, para uma moderna

visão em que os objetivos da empresa incorporem as práticas de

responsabilidade social e ambiental.

Além do mais, o Balanço Social também favorece, da seguinte forma, a

todos os grupos que interagem com a empresa: aos dirigentes fornece

informações úteis à tomada de decisões relativas aos programas sociais que a

empresa desenvolve e seu processo de realização estimula a participação dos

funcionários na escolha das ações e projetos sociais, gerando um grau mais

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22

elevado de comunicação interna e integração nas relações entre dirigentes e o

corpo funcional; aos fornecedores e investidores informa como a empresa

encara suas responsabilidades em relação aos recursos humanos e ao meio

ambiente, o que é um bom indicador de como a empresa é administrada; aos

consumidores dá uma idéia de qual é a postura dos dirigentes e a qualidade

do produto ou serviço oferecido, demonst rando o caminho que a empresa

escolheu para construir sua marca; e, finalmente, ao Estado ajuda na

identificação e na formulação de políticas públicas essenciais à sociedade.

Como nem sempre correlacionar fatores financeiros com fatos sociais é

uma tarefa de fácil execução, torna- se necessário a adoção de um modelo

único e simples a ser utilizado na elaboração do Balanço Social de uma

determinada empresa. Dessa forma, por entender que a simplicidade é a

garantia do envolvimento do maior número de empresas, o Instituto Brasileiro

de Análises Sociais e Econômicas (IBASE), em parceria com diversos

representantes de empresas públicas e privadas, a partir de inúmeras

reuniões e debates com vários setores da sociedade, desenvolveu um modelo

que tem a vantagem de estimular todas as empresas a divulgar seu Balanço

Social, independentemente do tamanho ou setor de atuação das mesmas. Isso

se tornou necessário, na medida em que, se a forma de apresentação das

informações não seguir um padrão, torna - se difícil uma avaliação adequada

da função social da empresa ao longo dos anos.

I.5 – O exemplo do Balanço Social em Furnas

Furnas foi uma das primeiras empresas a apoiar a iniciativa através da

participação no Comitê de Entidades no Combate à Fome e pela Vida e do

incentivo à atuação cidadã dos empregados.

Segundo informações da empresa, estão sendo desenvolvidas diversas

iniciativas em prol das comunidades onde atua, desde reformas,

asfaltamentos, doações de bens móveis e permissões de uso de máquinas e

terras para produção de alimentos, até a implantação de hortas comunitárias

e permissão de uso das águas dos reservatórios para criação de peixes,

visando contribuir para o combate à fome e à miséria. Furnas também apoia

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23

projetos de incentivo cultural, educativo e esportivo, como patrocínios e ações

de preservação das culturas locais e das riquezas nacionais.

Com relação a seu público interno, Furnas investe em programas de

assistência médica, de prevenção de acidentes e doenças de trabalho, além de

treinamento e desenvolvimento profissional.

Procurando aproveitar suas capacitações internas, Furnas implementa

ações educativas associadas à conservação e uso racional de energia em

escolas, capacitando multiplicadores em educação ambiental.

Outro ponto que merece destaque nessa atuação social é a ação

voluntária dos empregados em parceria com a empresa. Através de

campanhas e doações são recolhidas cestas básicas, roupas, brinquedos,

material escolar, de limpeza e remédios. A fim de melhorar a qualidade de

vida das comunidades vizinhas, os voluntários e Comitês de Ação da

Cidadania espalhados pela empresa também desenvolvem ações solidárias,

como mutirões para reformas e construção de moradias para população

carente, adoção de creches e asilos, coleta seletiva, reciclagem de lixo e cursos

de capacitação profissional.

Lançada em 2002, a Política de Cidadania Empresarial e de

Responsabilidade Social de Furnas visa consolidar o conceito de excelência da

empresa no campo da cidadania empresarial, comprometida com o combate à

pobreza e à promoção da cidadania, bem como incorporar a nova concepção

de Responsabilidade Corporativa à cultura organizacional.

A necessidade de conciliar as atividades empresariais que desenvolve

com a conservação do meio ambiente, levaram a empresa a buscar parcerias

com as universidades e os centros de pesquisa de reconhecida capacitação

técnica.

Ainda no campo da preservação ambiental, Furnas deu continuidade à

parceria com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA) e com órgãos de controle ambiental dos Estados onde

atua, em prol da consolidação de 23 (vinte e três) áreas protegidas, áreas estas

instituídas por lei no território nacional, dentre Parques Nacionais, Estaduais e

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Ecológicos, Estações Ecológicas, Reservas Biológicas e Áreas de Proteção

Ambiental.

Em seu Balanço Social, todos os dados são apresentados para os anos

de 2001 e 2002, o que nos permite fazer uma avaliação entre todos os

indicadores, verificando as alterações mais relevantes ocorridas nos valores

descritos nos respectivos itens. Isso nos auxilia a compreender o

compromisso real da empresa em relação aos padrões de responsabilidade

social e ambiental por ela apregoados.

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25

I.5.1 – O Balanço Social de Furnas

BALANÇO SOCIAL

1. Base de Cálculo

2002

R$ Mil

2001

R$ Mil1.1. Receita Líquida (RL) 10.223.170 9.252.4551.2. Resultado Operacional(RO)

665.358 1.212.245

1.3. Folha de Pag. Bruta (FPB) 492.276 340.396

2. Indicadores SociaisInternos

ValorR$ Mil

% sobreFPB

% sobreRL

ValorR$ Mil

% sobreFPB

% sobreRL

2.1. Alimentação 16.235 3,30 0,16 15.601 4,58 0,172.2. Encargos SociaisCompulsórios

149.921 30,45 1,47 104.404 30,67 1,13

2.3. Previdência Privada 33.010 6,71 0,32 28.214 8,29 0,302.4. Saúde 29.110 5,91 0,28 28.233 8,29 0,312.5. Segurança e Medicina noTrab

1.299 0,26 0,01 900 0,26 0,01

2.6. Educação 990 0,20 0,01 951 0,28 0,012.7. Capacitação e Desenv.Prof.

4.270 0,87 0,04 5.250 1,54 0,06

2.8. Creche ou Auxílio- creche 263 0,05 0,00 243 0,07 0,002.9. Participação nos Lucrosou Resultados 31.109 6,32 0,30 20.662 6,07 0,222.10. Outros Benefícios 14.867 3,02 0,15 49.790 14,63 0,54Totais 281.074 57,10 2,75 254.248 74,69 2,75

3. Indicadores SociaisExternos

ValorR$ Mil

% sobreFPB

% sobreRL

ValorR$ Mil

% sobreFPB

% sobreRL

3.1. Contribuições para aSociedade (educação, cultura,saúde e saneamento,habitação, esporte, lazer,creches, alimentação,conservação de energia edoações)

15.258 1,53 0,15 9.909 1,01 0,11

3.2. Tributos (excluídosEncargo Sociais) 720.935 108,35 7,05 496.378 51,59 5,363.3. Investimentos em MeioAmbiente 19.672 3,88 0,19 24.617 2,56 0,273.4. Compensação pelaUtilização de RecursosHídricos

55.382 10,92 0,54 47.843 4,97 0,52

Totais 811.247 124,68 7,93 578.747 60,15 6,26

4. Indicadores AmbientaisValorR$ Mil

% sobreFPB

% sobreRL

ValorR$ Mil

% sobreFPB

% sobreRL

4.1. Relacionados com aoperação da Empresa 4.891 0,01 0,05 7.042 0,58 0,084.2. Em Programas e/ouProjetos Externos 14.781 2,22 0,14 17.575 1,45 0,19Totais 19.672 2,96 0,19 24.617 2,03 0,27

5. Indicadores do Corpo Funcional Em 2002 Em 2001

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5.1. Nº de funcionários ao final do exercício 3.453 3.6705.2. Nº de admissões durante o exercício 346 215.3. Nº de empregados terceirizados 2.092 2.1315.4. Nº de estagiários(as) 199 2175.5. Nº de empregados acima de 45 anos 1.615 1.8685.6. Nº de mulheres trabalhando na empresa 428 4405.7. % de cargos de chefia ocupados pormulheres

5,54 7,11

5.8. Nº de empregados portadores dedeficiência

24 4

BALANÇO SOCIAL ANO DE 2002 ANO DE 2001

6. Informações Relevantes quanto ao Exercício da Cidadania Empresarial6.1. Relação entre a maior emenor remuneração naEmpresa

17,78 19,27

6.2. Número total de Acidentesde Trabalho 88 866.3. Os Projetos Sociais eAmbientais desenvolvidos pelaEmpresa foram definidos

( )pela

direção

( X )direção

egerência

s

( )todos os

empregados

( )pela

direção

( X )direção

egerência

s

( )todos os

empregados

6.4. Os Padrões de Segurança eSalubridade no Ambiente deTrabalho foram definidos

( )pela

direção

( X )direção

egerência

s

( )todos os

empregados

( )pela

direção

( X )direção

egerência

s

( )todos os

empregados

6.5. A Previdência Privadacontempla

( )pela

direção

( )direção

egerência

s

( X )todos os

empregados

( )pela

direção

( )direção

egerência

s

( X )todos os

empregados

6.6. A Participação nos Lucrosou Resultados contempla

( )pela

direção

( )direção

egerência

s

( X )todos os

empregados

( )pela

direção

( )direção

egerência

s

( X )todos os

empregados

6.7. Na seleção dosfornecedores, os mesmosPadrões Éticos e deResponsabilidade Social eAmbiental adotados pelaEmpresa

( )são

exigidos

( )são

sugeridos

( X )não sãolevados

emconta

( )são

exigidos

( )são

sugeridos

( X )não sãolevados

emconta

6.8. Quanto à participação dosempregados em Programas deTrabalho Voluntário a Empresa

( X )apoia

( )não se envolve

( )organiza

eincentiva

( X )apoia

( )não se envolve

( )organiza eincentiva

No que concerne aos indicadores sociais internos, estes aumentaram em

valor comparativamente ao ano de 2001, tendo o item Participação nos Lucros

ou Resultados saltado de R$20.662,00 para R$31.109,00. Ou seja, um

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acréscimo de, aproximadamente, 51%. No entanto, o item Outros Benefícios,

que engloba seguros (parcela paga pela empresa), empréstimos (só o custo),

gastos com atividades recreativas, transportes e moradia, sofreu uma

significativa diminuição, indo de R$49.790,00 para R$14.867,00. Ou seja, um

decréscimo de cerca de 70%.

Com relação ao item Investimentos em Meio Ambiente (incluído nos

Indicadores Sociais Externos), este sofreu uma queda significativa, já que em

2001 foram destinados R$24.617,00 a tais investimentos e em 2002 apenas

R$19.672,00. Tal queda também se observa no que diz respeito aos

Indicadores Ambientais, o que leva a crer que Furnas parece estar diminuindo

seus investimentos na área ambiental.

No tocante aos Indicadores do Corpo Funcional, não há mudanças

significativas. Aqui o mais importante a ser considerado é que não há nenhum

item que diga respeito ao número de negros que trabalham na empresa, dado

este de grande importância e que foi totalmente desconsiderado por Furnas

em seu Balanço Social.

Por último, em relação ao Exercício da Cidadania Empresarial, conforme

visto anteriormente, uma empresa dita socialmente responsável deve exigir

certos padrões éticos e de conduta de seus fornecedores, sendo este requisito

indispensável para o estreitamento das relações entre empresa e

fornecedores. Entretanto isto não é o que nos mostra o Balanço Social de

Furnas, onde, tanto em 2001 como em 2002, os mesmos padrões éticos e de

responsabilidade social, formalmente adotados pela empresa, não foram

levados em conta na seleção de seus respectivos fornecedores. Tal fato é

bastante arriscado e prejudicial à imagem socialmente responsável da

empresa.

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28

CAPÍTULO II – O AMBIENTALISMO EMPRESARIAL

II.1 - Origens

Segundo a tese de Vinha 2, a reação da sociedade contra o processo de

degradação ambiental remonta há cerca de três décadas, época esta em que a

maior parte das organizações não governamentais (ONGs) existentes

buscavam lidar com esta questão, registrando - se, assim, uma história de

longas e árduas lutas contra os agentes predadores do meio ambiente.

No entanto, apesar das concepções básicas do ambientalismo

empresarial terem sido construídas a partir da Conferência de Estocolmo de

1972, seu marco histórico ocorreu somente em 1992, durante a preparação da

Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, a

ECO 92, realizada no Rio de Janeiro, em junho do respectivo ano. Tal

conferência representou o auge do movimento a favor da sustentabilidade

ambiental, tendo sido o ponto de partida das críticas mais fortes e

consistentes com relação ao estado terminal de um modelo de

desenvolvimento que cresceu em choque com a dinâmica da natureza.

2 VINHA, Valéria Gonçalves da. A Convenção do Desenvolvimento Sustentável e As Empresas Eco-comprometidas. Tese de Doutorado. Curso de Pós- Graduação em Desenvolvimento, Agricultura eSociedade – CPDA/UFRRJ. Rio de Janeiro, 2000.

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29

Nos primórdios do ambientalismo empresarial o principal obstáculo ao

engajamento do empresariado na eco- eficiência residia na concepção

dominante de que a proteção ambiental e o lucro eram adversários naturais.

Supunha - se que o mais adequado gerenciamento ambiental nas empresas,

além de reduzir lucros, obrigaria estas a repassar os custos aos

consumidores, via aumento de preços. Outrossim, o custo da tecnologia

ambiental era alto em virtude de não estar nem tão disponível, nem tão

aperfeiçoada como hoje. Entretanto, com o passar dos anos, tornou - se claro

que as tecnologias ambientais possuíam um potencial inverso, ou seja,

reduziam custos através de uma melhor racionalização dos processos

produtivos, particularmente no uso de insumos e com relação ao desperdício.

Dessa forma, este movimento representou a primeira mudança cultural

de importância no pensamento empresarial quanto às questões ambientais.

Desde então, tal modelo vem evoluindo, expandindo - se e adaptando - se cada

vez mais a nossa realidade e demandas atuais.

II.2 – As Correntes do Ambientalismo Empresarial

Pioneiro no discurso do ambientalismo empresarial, Stephan

Schmidheiny introduziu uma perspectiva global sobre o desenvolvimento

sustentável, estimulando o interesse e o envolvimento da comunidade

empresarial com relação à preservação ambiental. Também foi o responsável,

ao convocar diversos líderes empresariais, pela fundação do Business Council

for Sustainable Development.

Sua grande importância para o ambientalismo empresarial advém do

fato de ter lançado o conceito de eco- eficiência, que representou o primeiro

passo em direção a um modelo econômico efetivamente sustentável. No

entanto, Schmidheiny peca profundamente por achar que a eco- eficiência é o

único pré- requisito necessário ao desenvolvimento sustentável e por

considerar o empresariado capaz, unicamente, de formular e coordenar este

processo.

Outra corrente do ambientalismo empresarial é aquela representada por

Thomas Gladwin. Segundo ele, é impensável dissociarmos sustentabilidade

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ambiental e desigualdade social dentro do contexto do desenvolvimento

sustentável.

Diferentemente de Schmidheiny, para Gladwin não pode haver eco-

eficiência sem sustentabilidade social, ou seja, a eco- eficiência é um pré-

requisito necessário, mas não suficiente, para o desenvolvimento sustentável,

desenvolvimento este que abrange outros aspectos tais como a geração de

empregos, a erradicação da pobreza, o respeito aos direitos humanos, a

estabilização populacional e outros benefícios sociais.

Com relação à manutenção e desenvolvimento da sustentabilidade (esta

sempre aliada ao desenvolvimento social), para Gladwin o empresariado é a

força mais poderosa na reversão da degradação social e ambiental do planeta,

justamente por ser o responsável por essa degradação. No entanto, nem o

empresariado nem o Estado são capazes de assumir isoladamente este

projeto. O Estado por estar envolvido em questões transnacionais e, assim,

não ser capaz de gerenciar as dimensões social, política, econômica e

tecnológica, e o empresariado por não estar capacitado para tanto. Dessa

forma, a sustentabilidade deve ser garantida em parceria com a sociedade e

gerar benefícios sociais a esta.

Em vista disso, Gladwin elabora a definição da empresa socialmente

responsável, cujo comportamento deve estar baseado nos seguintes

parâmetros:

a) as empresas devem retornar para as comunidades nas quais operam os

ganhos obtidos e envolver os stakeholders atingidos no planejamento e

processos de tomada de decisões (princípio da reciprocidade);

b) a empresa deve assegurar que suas ações, diretas e indiretas, não

prejudicarão os direitos civis e nem praticarão discriminação com relação às

oportunidades econômicas (princípio da equalização ou igualdade);

c) a empresa deve garantir que não haverá perda líquida de capital humano no

âmbito da sua força de trabalho e nas operações junto às comunidades e,

também, nenhuma perda líquida de emprego produtivo direto e indireto;

d) a empresa deve demonst rar que está, direta e indiretamente, agindo no

sentido de satisfazer as necessidades básicas da humanidade.

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Acertadamente, Gladwin reconhece que atender às exigências da

sustentabilidade social, redirecionando e remodelando as empresas de modo

a que estas sirvam à tais propósitos, é tarefa de grande magnitude e que

implica numa transformação radical das partes envolvidas no processo,

representando, por esse motivo, um grande obstáculo à mudanças.

Partindo de uma visão extremamente diferente, Paul Hawken considera

o empresariado totalmente incompetente com relação à sustentabilidade

ambiental. Em virtude desse pensamento, para Hawken não interessa quantas

entidades de defesa ambiental sejam criadas, nem o total de recursos

destinados a programas ambientais pois, ainda assim, o mundo continuará

movendo - se em direção à degradação e ao colapso, em virtude das grandes

empresas serem as mais poderosas forças de destruição e de oposição à

natureza. Por outro lado, Hawken defende as pequenas empresas por

considerá - las mais éticas, idealistas e inovadoras, já que estas, ao

estabelecerem um contato direto com os clientes, podem conscientizá - los

com relação à práticas ambientalmente mais sustentáveis.

Com John Elkington, o ambientalismo empresarial assume uma forma

mais completa e adequada ao contexto mundial contemporâneo. Seguidor de

Gladwin, Elkington busca integrar as dimensões sociais e ambientais nas

estratégias econômicas, o chamado “Triple Bottom Line”, ou seja, prosperidade

econômica, qualidade ambiental e justiça social. Assim, somente com a

conjugação desses três fatores o desenvolvimento sustentável poderia ser

garantido.

Com relação à alavancagem do processo de mudança, Elkington admite

que a liderança pode ser exercida pelo empresariado, contanto que este saiba

lidar com a complexidade social do projeto. Isso se justifica pelo fato de que a

transição da sustentabilidade depende dos mercados, e estes do governo.

Acontece, porém, que tais governos encontram - se em acentuada decadência e,

dessa maneira, cabe ao empresariado, evidentemente com a colaboração da

sociedade, liderar o processo de construção de uma sociedade sustentável.

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CAPÍTULO III – UM NOVO CONTEXTO E A NOVA MENTALIDADEEMPRESARIAL

“O setor empresarial desempen hará um papel vital na saúde futurade nosso planeta. Como líderes empresariais, estamoscomprometidos com o desenvolvimento susten tável e com asatisfação das necessidades do presente sem compro meter o bem-estar das futuras gerações.Este conceito reconhece estarem o crescimento econômico e aproteção ambiental inextrincavelmen te ligados e que a qualidade devida presente e futura se fundamen ta em suprir as necessidadeshumanas básicas sem destruir o meio ambiente do qual toda vidadepende.Novas formas de cooperação entre o governo, a empresa privada e asociedade são necessárias para atingir esse objetivo (...) O mundoestá caminhando para a desregulamen tação, iniciativas privadas emercados globais. Isso requer empresas aptas a assumir maisresponsabilidades sociais, econômicas e ambientais na definição desua atuação. Temos de expandir nosso conceito sobre aqueles quesão parceiros interessados em nossas operações, incluindo nãoapenas os empregados e acionis tas, mas também fornecedores,consumidores, vizinhos, grupos de cidadãos e outros. Acomunicação apropriada com esses parceiros nos ajudará aaperfeiçoar continuamente a nossa visão, novas estratégias eações...” 3

III.1 – O Desenvolvimento Sustentável como Meta

Muitos são os desafios pelos quais a humanidade tem passado no

decorrer dos anos. E tais questões fundamentam - se sempre no conflito entre

desenvolvimento econômico e preservação ambiental.

O que fazer diante deste desafio em conciliar o desenvolvimento

econômico com a sustentabilidade? Essa é a pergunta que todos tentamos

responder. Chuva ácida, mudanças climáticas globais e o problema da camada

de ozônio, tudo isso vem a confirmar a insustentabilidade do padrão de

desenvolvimento econômico utilizado.

Seja pela extrema rapidez do crescimento populacional mundial, que

acaba agravando qualquer problema ambiental. Seja pelo acelerado, crescente

e mal planejado consumo dos recursos naturais existentes, consumo este que

concorre para acelerar a degradação ambiental de várias áreas do planeta,

3 SCHMIDHEINY, S. Mudando o Rumo: uma perspectiva empresarial global sobre desenvolvimento emeio ambiente. Rio de Janeiro: FGV, 1992

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33

consequentemente causando perda de diversidade biológica e genética nessas

áreas afetadas. Ou seja pela poluição do ar, da água e do solo, dificultando,

cada vez mais, a produção agrícola e a sobrevivência de várias pessoas; tudo

isso vem a corroborar a tese de que é imprescindível uma mudança no modelo

vigente, de modo a que nossas necessidades do presente não venham a

comprometer a capacidade das futuras gerações atenderem à suas próprias

necessidades.

Contudo, para que o desenvolvimento sustentável esteja presente

torna - se necessário a integração da esfera econômica, social e ambiental em

qualquer processo de tomada de decisões, tanto a curto quanto a longo prazo.

Para as empresas, foco principal desse estudo, as questões que se

colocam são as seguintes:

a) como construir o futuro de uma empresa aproveitando - se de novas

oportunidades que levem em consideração o critério ambiental e social, assim

como o econômico;

b) como fazer com que a empresa seja conhecida pela prática de atividades

que gerem benefícios sociais e econômicos com o mínimo impacto ambiental;

c) como demonstrar que o lucro não é incompatível com as preocupações com

o planeta e sua população.

Entretanto, muitas empresas ainda encontram - se num estágio inicial no

que diz respeito ao desenvolvimento sustentável. Em geral, observa - se um

maior progresso com relação aos impactos ambientais do que com os

impactos sociais causados. Assim, somente poucas empresas já incorporaram

o conceito de desenvolvimento sustentável a sua cultura e planejamento

estratégico.

Contudo, o Dow Jones Sustainability Index 4 vem demonst rar que tais

empresas que possuem um compromisso com o desenvolvimento sustentável

apresentam uma performance financeira superior àquelas que não possuem

este compromisso.

4 Primeiro índice global destinado a medir a performance das empresas que seguem os preceitos dodesenvolvimento sustentável.

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Mas o que significa para uma empresa ter o desenvolvimento

sustentável como meta? Para que haja um real compromisso rumo aos

padrões de sustentabilidade é necessário a incorporação de novas idéias ao

planejamento, política e prática empresarial com relação aos negócios. Com

relação a este aspecto, existem grandes dilemas que devemos considerar como

importantes, tais como a atuação dos fornecedores e produtores que possuem

relações comerciais com a empresa. Tal fato se justifica na medida em que, na

maioria das vezes, os produtos são transportados por longas distâncias e

vendidos em mercados distantes de onde foram produzidos. Dessa forma, os

parceiros da empresa que possuem participação nos negócios podem,

inicialmente, não compartilhar das mesmas preocupações quanto às práticas

de sustentabilidade adotas pela empresa.

Em vista disso, algumas empresas que exercem posição de liderança em

seus respectivos setores, já vêm trabalhando junto a seus parceiros nos

negócios, visando integrar os aspectos econômicos, sociais e ambientais em

seu processo de tomada de decisão. Assim, através da revisão de todo o

processo de como os produtos são produzidos, distribuídos e utilizados e da

procura por serviços e soluções ambientalmente adequadas (soluções que

usem energia, água e outros materiais de forma mais eficiente), estas

empresas visam providenciar produtos e serviços de grande benefício e

reduzido impacto ambiental.

Além disso, se uma empresa é compromissada com o desenvolvimento

sustentável ela também buscará maneiras de aumentar sua contribuição social

e adicionar valor às comunidades locais. Com isso estará atenta à necessidade

de engajamento com os stakeholders, o que ajudará no planejamento de seus

negócios e no processo de tomada de decisão.

Mas o que levaria uma determinada empresa a contribuir para o

desenvolvimento sustentável já que nada é feito sem a devida contrapar tida?

A resposta é que tais empresas acreditam que com isso podem obter diversos

benefícios em seus negócios, como por exemplo:

a) manutenção da licença para operar em determinado lugar;

b) redução de custos e aumento do retorno de capital;

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c) redução do passivo ambiental e dos riscos;

d) incentivo à entrada em novos mercados;

e) melhoria em sua posição no mercado e na sua reputação;

f) aumento da efetividade e da capacidade de manter funcionários.

Porém, nesse contexto faz- se necessário a presença de outros

importantes agentes, de modo a se garantir a manutenção da

sustentabilidade. E é justamente a atuação desses outros agentes o que irei

agora abordar.

III.1.1 – O Papel das ONGs na Busca do Desenvolvimento SustentávelComo Meta

Atuando em parceria com as empresas e contando com o apoio de

organizações governamentais, as ONGs desenvolvem um importante papel na

busca de melhores condições sociais e ambientais. Muitas atuam fortemente

em campanhas publicitárias que visam protestar contra os prejuízos causados

ao meio ambiente e a deterioração das condições sociais.

É de notável importância o trabalho realizado pela Fundação SOS Mata

Atlântica, pela Fundação Aqualung e pelo World Wide Fund (ONGs

ambientalistas) no que diz respeito à preservação ambiental.

Dessa forma, as ONGs têm um grande papel a representar perante às

empresas, contribuindo de modo a guiar e garantir que os esforços das

últimas possam corresponder aos anseios de seus respectivos funcionários e

clientes. E com isso, cada vez mais as empresas descobrem que este

engajamento com algumas ONGs pode adicionar valor aos seus negócios.

Adicionalmente, os órgãos governamentais e as empresas reconhecem

que a contribuição das ONGs no debate das questões ambientais e sociais não

é somente deveras produtivo, mas também é a melhor forma de evitar futuros

confrontos improdutivos no trato destas questões de suma importância. Isso

leva a uma maior compreensão e aceitação dos direitos e responsabilidades de

todos os atores envolvidos na criação de um futuro sustentável.

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36

III.1.2 – O Papel do Governo na Busca do DesenvolvimentoSustentável Como Meta

Como órgão máximo regulador, o Governo deve harmonizar as políticas

relacionadas ao desenvolvimento econômico, proteção ambiental e

desenvolvimento social, atuando sempre em parceria com as empresas, ONGs

e outros stakeholders.

Muitos chegam a adotar várias medidas e incentivos econômicos, tais

como investimento em programas de reciclagem, em métodos agrícolas e

tecnologias novas, e em energia renovável, tudo isso visando a promoção do

desenvolvimento sustentável.

No entanto, a atuação governamental na promoção do desenvolvimento

sustentável é algo que varia com relação ao grau de desenvolvimento do país.

Dessa maneira, as prioridades traçadas diferem de país a país.

Exemplificando, nos países mais pobres geralmente se prioriza o combate à

pobreza e busca- se garantir comida, moradia e saneamento básico à

população. Já nos países em desenvolvimento, o aumento da participação nos

mercados globais, a busca por um melhor e mais adequado gerenciamento

dos recursos naturais e um maior investimento no capital humano (educação

e saúde, por exemplo) são geralmente as prioridades. 5

A questão torna - se um pouco mais complexa nos países

industrializados e desenvolvidos, onde os desafios a serem vencidos rumo ao

desenvolvimento sustentável são fruto do próprio modelo de desenvolvimento

adotado, modelo este responsável pelos graves problemas ambientais

(poluição atmosférica e acúmulo de resíduos sólidos) e sociais existentes.

Nesse caso, quase sempre a introdução de novas tecnologias não poluentes

acaba causando um trade- off entre a diminuição dos danos ambientais e o

aumento do desemprego, já que tais tecnologias são poupadoras de mão de

obra.

Contudo, alguns impactos ambientais possuem uma amplitude global,

não se restringindo somente a determinadas nações ou áreas do planeta. É o

caso do fenômeno das mudanças climáticas globais, da destruição da camada

de ozônio e da emissão de gases tóxicos na atmosfera. Aqui a atuação5 Tais prioridades, no entanto, não são de forma alguma excludentes, devendo, na prática, seremexercidas em conjunto e nada melhor do que a situação brasileira para comprovar a veracidade destaafirmação.

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governamental não se traduz de forma isolada, mas sim de maneira conjunta,

através da elaboração e manutenção de acordos internacionais entre as

nações, acordos estes que objetivam preservar o meio ambiente e, com isso,

promover o desenvolvimento sustentável a nível mundial. E para tanto, é

necessário a atuação e envolvimento de todos os agentes da sociedade, quais

sejam: as empresas, ONGs, governos e demais stakeholders.

III.2 – A Mudança de Rumo

Segundo a antiga visão empresarial, no que diz respeito à relação entre

as empresas e o meio ambiente, a lucratividade e a preservação ambiental

seriam naturalmente opostas e incompatíveis, ou seja, a preservação

ambiental aumentaria os custos, aumento esse que seria repassado aos

consumidores, e reduziria o lucro da empresa. Em contrapar tida, a

manutenção de um alto padrão de consumo e a conseqüente degradação

ambiental gerada seriam vistas como essenciais à manutenção da

lucratividade da empresa.

Entretanto, com o passar dos anos tal visão começou a ser questionada

e modificada, devido a maior conscientização a nível mundial acerca dos

problemas ambientais causados pelo homem, o que veio a gerar uma

paulatina mudança de mentalidade e atitude por parte do empresariado.

Assim, segundo um alto executivo de uma multinacional:

“Tem- se argumentado que não se pode servir ao mesmo tempo àsnecessidades da indúst ria e às do meio ambiente. Creio que isso nãoé tarefa impossível. A indúst r ia não pode mais dar - se ao luxo deignorar as necessidade ambientais. O lucro deixa de ter sentido senão há qualidade de vida. As contas financeiras dizem muito, masnão tudo, e medir o desempenho unicamente pelo lucro não ésuficiente. Contudo, um futuro mais verde permanecerá um sonhoidealista, a menos que indúst r ias e ambientalistas se encontre mpara transformá - lo em realidade, comunicando - se ecompartilhando os problemas.” 6

Assim, muitas empresas saíram da resistência à mudanças e conflitos

com ambientalistas para agirem e considerarem as questões ambientais como

parte de sua estratégia de negócios e tentarem parcerias com atores no setor

governamental e sociedade civil. Tais empresas criaram departamentos de

6 SCHMIDHEINY, S. Mudando o Rumo: uma perspectiva empresarial global sobre desenvolvimento emeio ambiente. Rio de Janeiro: FGV, 1992

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meio ambiente e investiram somas consideráveis em projetos ambientais

internos e externos.

Alguns fatores têm sido de grande importância e motivadores das

mudanças ocorridas no setor privado. Primeiro, muitas empresas têm

percebido que podem ganhar em produção ou economizar recursos

financeiros com a melhoria ambiental, ocasionando, com isso, situações de

melhoria ambiental, econômica e financeira de forma simultânea dentro das

empresas, situações estas que podem gerar retornos de curto, médio e longo

prazos, ou seja, é a chamada ecoeficiência. Adicionalmente, um investimento

visando mudar um determinado processo produtivo a fim de torná- lo menos

poluente, pode também gerar ganhos financeiros e em produtividade bastante

consideráveis.

Segundo, existem leis ambientais severas no Brasil, gerando um risco

muito grande para empresas que descuidam - se da parte ambiental. Tem- se

observado, recentemente, a aplicação de multas milionárias devido a crimes

ambientais causados por algumas empresas. E a tendência é de que, cada vez

mais, a legislação ambiental torne - se mais rígida. Mudanças recentes, como a

nova lei de crimes ambientais, tornaram as penas mais severas,

responsabilizando, inclusive, dirigentes empresariais e órgão públicos que

não cumprem com seu papel. Além disso, muitos órgãos ambientais têm sido

criados ou mesmo tornado - se mais eficientes e equipados para fiscalizar e

punir as empresas por danos ambientais. Também, novos agentes que antes

não estavam presentes na arena ambiental (o Ministério Público, por exemplo),

têm atuado de forma bastante agressiva junto à fiscalização, denúncia e

punição de crimes ambientais.

Terceiro, tem aumentado o interesse da sociedade civil no que concerne

à questões ambientais, ou seja, um número cada vez maior de ONGs

ambientalistas tem aparecido em diversas partes do país e adquirindo, assim,

um crescente poder de mobilização para determinadas questões ambientais.

Dessa forma, a pressão 7 que alguns grupos ambientalistas costumam fazer

junto às empresas levam o empresariado a reconsiderar a decisão de não

investir em melhorias ambientais.

7 Tal pressão pode vir, diretamente, sob a forma de protestos e denúncias públicas, ou, indiretamente,através de ações judiciais ou informais que levem à punição das empresas por crimes ambientais.

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Quarto, o mercado cada vez mais exige produtos que sejam feitos da

forma mais ambientalmente adequada e sustentável. Isto é exigido, na medida

em que os consumidores finais e clientes vêm buscando informações sobre os

aspectos ambientais e sociais de produtos e empresas antes de efetuarem

uma determinada aquisição de um produto ou serviço. Dessa maneira, os

órgãos certificadores possuem grande importância por atestarem a qualidade

ambiental de certos produtos e serviços, de forma a orientar os consumidores

no momento de sua escolha. Observa- se, inclusive, que muitos consumidores

preferem pagar mais caro por uma melhor qualidade ambiental nos produtos

e serviços, o que abre um nicho de mercado bastante lucrativo para as

empresas que buscam excelência na qualidade ambiental.

Com relação ao comércio internacional, alguns países introduzem

barreiras fito- sanitárias e ambientais para barrar importações. Mercados

exigentes tal como o europeu, só são abertos às empresas que possuam alta

performance ambiental. Muitas empresas nos países mais desenvolvidos, sob

a pressão de consumidores e acionistas, boicotam insumos e produtos que

pequem pela falta de cuidado com o meio ambiente ou com os aspectos

sociais. Com isso, empresas que visam exportar tendem a mudar a fim de se

adequarem e cumprirem tais exigências.

Finalmente, vários investidores têm começado a observar a performance

ambiental da empresa antes de adquirirem ações da mesma. Pode- se,

inclusive, observar que as ações das empresas mais responsáveis

ambientalmente têm se valorizado substancialmente mais do que a média.

Além disso, já existem diversos fundos de investimento que priorizam

investimentos em empresas socialmente responsáveis.

Em virtude de todos esses fatores, percebe - se que o empresariado,

paulatinamente, reconfigurou seu pensamento, convencendo - se que é

lucrativo para o futuro da empresa sua inserção nos princípios do

desenvolvimento sustentável. Dessa forma, o empresariado tem por objetivo:

a) reconhecer que não pode haver crescimento econômico a longo prazo, a

menos que ele seja sustentável em termos de meio ambiente;

b) manter a liberdade empresarial através de iniciativas voluntárias, em vez de

coerções reguladoras;

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c) confirmar que todos os produtos, serviços e processos têm de contribuir

para um mundo sustentável;

d) criar um diálogo aberto com todos os seus parceiros e, com isso, identificar

problemas e oportunidades e estruturar a credibilidade com base nas suas

respostas.

E dessa mudança de atitude e mentalidade, vem a necessidade de

adoção de novas estratégias empresariais, o que será objeto de estudo do item

seguinte.

III.3 – Novas Estratégias Aplicadas nas Empresas: Alguns Exemplos

Importantes

Segundo afirmado por Schmidheiny em seu livro Mudando o Rumo ,

dada a mudança nos padrões de competitividade, que abrange também agora

o respeito ao meio ambiente, as empresas passam a adotar novas estratégias

condizentes com o desenvolvimento sustentável. Tais estratégias, além de

diferenciar positivamente as empresas no mercado, também geram lucro a

estas, lucro este não mais encarado pelo empresariado como conflitante com

a preservação ambiental. Vejamos, então, algumas dessas estratégias

empresariais, sendo as duas primeiras presentes no livro de Schmidheiny e a

última extraída de uma reportagem publicada no Jornal do Brasil.

III.3.1 – Auditoria Ambiental como Estratégia de Gestão – O exemploda Norsk Hydro

Surgida nos EUA, no fim da década de setenta, entre os setores

industriais de maior impacto ambiental e visando assessorar a manutenção de

uma crescente variedade de regulamentações ambientais por parte das

empresas, a auditoria ambiental evoluiu rápida e decisivamente, tornando - se

um instrumento indispensável de gestão interna, instrumento este que

fornece às empresas informações vitais para o controle do risco ambiental.

Definida como um instrumento administrativo que compreende uma

avaliação sistemática, documentada, periódica e objetiva do grau de

desempenho da organização, da gestão e do equipamento ambiental de uma

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empresa, as auditorias ambientais (diferentemente das financeiras) têm sido

totalmente voluntárias e adotadas por empresas líderes no mercado para

ajudar a melhorar seu desempenho.

A Norsk Hydro, um conglomerado norueguês de química e energia, ao

passar por diversos impactos ambientais tais como a descoberta de extensa

poluição de águas subterrâneas sob sua usina de cloreto de vinila em Rafnes,

a contaminação do solo por mercúrio ao redor de suas instalações de cloro-

álcalis em Heroya, as altas emissões de mercúrio nas instalações de cloro em

Porsgrunn e um grave incêndio em sua usina em Rafnes, decidiu que a única

forma de eliminar tais problemas e recuperar a confiança pública seria

ampliar seu programa de auditoria de saúde e segurança para o campo

ambiental. Assim, a empresa elaborou um plano estabelecendo que todas suas

companhias e usinas deveriam ser ambientalmente auditadas a cada dois

anos.

Dessa forma, a auditoria interna na Norsk Hydro passou a ser um

instrumento padrão de administração, utilizado não só como um registro de

metas alcançadas nas atividades da empresa, mas também como um método

para o planejamento, implementação e acompanhamento de projetos

específicos.

Além dessas auditorias ambientais, a Norsk Hydro, por acreditar que

seu desempenho deveria ser, necessariamente, levado a conhecimento

público, adotou um programa de relatórios ambientais, onde informava todas

as suas atividades relacionadas ao meio ambiente e, com isso, melhorava sua

imagem pública.

III.3.2 – A Análise do Ciclo de Vida do Produto (ACV) comoFerramenta de Gestão Ambiental – O Caso da Procter & Gamble

Utilizada como uma estratégia de gestão ambiental, a ACV permite

avaliar e comparar emissões ambientais e os requisitos necessários para

diversas opções do produto. Nela podemos identificar três estágios distintos:

a) realização de um levantamento das emissões e do consumo de recursos em

cada estágio do ciclo de vida do produto, ou seja, obtenção e processamento

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de matérias - primas, fabricação, distribuição, uso pelo consumidor,

recolhimento e possível reutilização;

b) medição e avaliação dos impactos ambientais das emissões e da utilização

dos recursos;

c) avaliação das oportunidades de melhoria do processo, visando o mínimo

impacto ambiental possível e, consequentemente, melhorar o desempenho

ambiental da empresa.

No que concerne a Procter, esta preocupou - se profundamente com a

questão de como agir em relação à gestão global de seus produtos após

verificar um aumento significativo do interesse do consumidor pelos impactos

ambientais causados pelos seus respectivos produtos, dado que as

considerações ambientais desempenham um papel cada vez mais importante

nas decisões de compra dos consumidores.

Dessa forma, a P&G criou uma política abrangente de qualidade

ambiental, reconhecendo sua responsabilidade ao longo do ciclo de vida do

produto e comprometendo - se a reduzir ou evitar o impacto ambiental de seus

produtos e embalagens, em suas diversas etapas, a saber: projeto, fabricação,

utilização e disposição final.

Dado que a disposição final de resíduos sólidos é um grave problema e

que os custos de gestão deste aumentam a medida em que diminui a

capacidade de aterramento sanitário, a utilização da ACV ajuda, em grande

parte, a amenizar essa questão. E disso se utilizou a P&G em sua iniciativa

visando reduzir o volume de resíduos de embalagens de numerosos produtos,

inclusive amaciantes de roupa, detergentes e produtos de limpeza.

Assim, a ACV permitiu a P&G desenvolver estratégias de embalagem de

forma a atender às expectativas do consumidor e das infra - estruturas de

tratamento de resíduos para diferentes mercados. Com isso, podemos dizer

que a ACV é uma ferramenta de gestão interna efetiva para se identificar

melhorias potenciais nos projetos de processo e de produtos.

III.3.3 – A Preservação Ambiental Acima de Tudo - O Caso daEcovias dos Imigrantes

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Pista descendente da Rodovia dos Imigrantes, ligando São Paulo à

Baixada Santista, esta fez do Brasil o primeiro país a construir e ter uma

rodovia, ao mesmo tempo ambientalmente correta e economicamente viável.

Sua construção, feita pela empresa Ecovias dos Imigrantes (empresa que faz

parte da holding Eco Rodovias, o segundo maior grupo de concessionárias de

rodovias no país), tornou - se exemplo a ser seguido em todo o mundo dado o

êxito atingido. Além disso, a construção dessa rodovia tornou a Ecovias a

primeira empresa rodoviária do mundo a receber a certificação ambiental ISO

14001, transformando - se em modelo de projeto e gestão perante organismos

internacionais de financiamento, tais como o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID).

Inaugurada no início de 2003, a pista, que tem 21 km de extensão e já

ampliou a capacidade de tráfego do Sistema Anchieta - Imigrantes de 8,5 mil

para 84 mil veículos /hora, teve que vencer um desnível de 730 metros, entre o

mar e o planalto paulistano. Além disso (este foi o maior dos desafios

enfrentados), foi construída sobre a fragilidade ecológica do Parque Estadual

da Serra do Mar, área de preservação permanente e onde se encontra grande

parte dos apenas 8% restantes da antiga e remanescente Mata Atlântica que

recobria o País.

• Projeto e Construção

Obra iniciada em 1998, a rodovia teve que ultrapassar, com a mínima

agressão ambiental possível, a maior reserva de Mata Atlântica de São Paulo e

os delicados manguezais da baixada santista. Assim, dentro da premissa do

respeito à vida sob todas as suas formas, o primeiro passo tomado foi a

modificação de todo o projeto básico anteriormente elaborado na década de

80, de modo a adaptá - lo à nova legislação ambiental vigente.

Dessa maneira, primeiramente a rodovia teve que reduzir em até

quarenta vezes, de 1600 para 40 hectares, o seu impacto na Mata Atlântica.

Com isso, ao invés de cortar a Serra do Mar e deixar cicatrizes incuráveis na

natureza (fato comum de se ver ao longo da maioria das rodovias brasileiras),

a empresa optou pelo máximo de túneis (três, totalizando 8,3 km) ao longo de

seus 21 km de extensão.

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No entanto, onde não foi possível construir túneis, a solução encontrada

foi a construção de viadutos os mais ecológicos possíveis. Para tanto, a

empresa empregou tecnologia de ponta a fim de ampliar a distância entre os

pilares desses viadutos de 45 para 90 metros, de modo a haver menos torres

de concreto de sustentação fincadas ao longo da mata. Quanto a estes pilares,

foram construídos de cima para baixo, ou seja, pontualmente sobre a mata, tal

como a nova pista da rodovia, que foi alongando - se gradativamente para

frente, mas de forma aérea, com a ajuda de guindastes de última geração, de

modo a não impactar o meio ambiente.

De modo a evitar que as águas e outros efluentes líquidos provenientes

da escavação dos túneis contaminassem os mananciais locais, o projeto

previu e construiu cinco estações de tratamento que, somadas, possuem

capacidade de processar até 700 mil litros /hora, ou seja, o equivalente ao que

uma cidade com 360 mil habitantes necessita para tratar e abastecer toda sua

população.

Cabe destaque, também, a política florestal de replantio de dez novas

árvores para cada espécie retirada da Mata Atlântica, a transformação dos

canteiros de obras nos atuais postos de monitoramento ambiental da

qualidade do ar e da água em todo o trajeto e, finalmente, o fato desta ser a

única rodovia brasileira dotada de um sistema de coleta de líquidos

derramados (combustível ou materiais tóxicos), líquidos estes posteriormente

escoados, por gravidade, para as caixas coletoras e tratados adequadamente.

• A Preservação Ambiental Gerando Benefícios à Empresa

Se num passado não muito distante, a preservação ambiental era

encarada pelo empresariado como algo que geraria maiores gastos e,

consequentemente, diminuiria as margens de lucro, no caso do projeto da

Ecovias essa visão é totalmente descartada.

Aqui, a busca pela excelência ambiental no projeto de construção da

rodovia levou em consideração o fato de que, atualmente, obter e manter uma

imagem de respeitabilidade ambiental também vale bastante, como, por

exemplo, várias outras licitações a serem ganhas no futuro.

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Em vista disso, a construção da rodovia primou pelo arrojo tecnológico

e ambiental, mesmo tal planejamento tendo encarecido o custo total da obra.

Com isso, a empresa Ecovias passou a ser conhecida e respeitada no

mercado, o que torna muito mais fácil a obtenção de empréstimos ou

financiamentos, dada a sua imagem responsável. Por isso, a partir do

momento em que uma empresa adota e divulga, mesmo que gaste mais com

isso, uma política de responsabilidade ambiental e social, ela acaba se

colocando num patamar diferenciado de mercado, negócios e lucros.

III.4 –O “Triple Bottom Line”

Durante a década de 90, intensificaram - se as pressões com relação à

necessidade de uma maior preservação ambiental devido aos impactos

causados pelo aquecimento global e pela ampliação do processo de

globalização.

Nessa década, o pensamento predominante acerca de quais seriam os

pré- requisitos básicos necessários à manutenção da sustentabilidade

começou a sofrer algumas modificações, modificações estas motivadas pela

diversidade de acidentes prejudiciais à vida humana, todos provocados por

grandes corporações multinacionais tais como a Shell, Nike e Monsanto.

Tais incidentes caracterizam - se por, no caso da Shell, afetarem o meio

ambiente e violarem os direitos humanos (Brent Spar, Nigéria); no caso da

Nike, pelas ultrajantes condições sociais de trabalho (exploração e trabalho

infantil) verificadas em suas fábricas nos países em desenvolvimento; e no

caso da Monsanto, pela introdução forçada dos alimentos transgênicos,

negando ao consumidor o direito de escolha.

Com isso, a agenda da sustentabilidade, há muito compreendida como

uma forma de harmonizar o progresso econômico 8 com a preservação

ambiental 9 torna - se algo bem mais complicado, na medida em que passa a

integrar esta análise a exigência de justiça social10, conceito este que o

empresariado procurava ignorar.

8 Financial Bottom Line9 Environmental Bottom Line10 Social Bottom Line

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Dessa forma, não há mais como se pensar que apenas tecnologias

ambientalmente corretas possam vir a garantir a sustentabilidade inicialmente

pretendida. Faz- se mister agora a presença da equidade social, justiça

ambiental e ética, ou seja, ocorre uma transição de fundamental importância

no conceito de sustentabilidade: o abandono somente das análises da

performance ambiental e econômica e a predominância da análise do conceito

do Triple Bottom Line , isto é, devemos observar, conjuntamente, a

performance ambiental, social e econômica. Assim, o desafio torna - se bem

mais amplo agora que a agenda da sustentabilidade é formalmente aberta de

modo a incluir não somente as dimensões econômicas e ambientais, mas

também as dimensões éticas e sociais, sendo este o chamado Triple Bottom

Line do desenvolvimento sustentável.

No conceito do Triple Bottom Line , as esferas econômica, ambiental e

social não são, de forma alguma, analisadas isoladamente, mas sempre em

conjunto. Esse fato torna a obtenção da sustentabilidade um desafio bem

maior de ser alcançado, já que, geralmente, ignora - se a interdependência

entre as três esferas.

Além disso, o constante fluxo dessas esferas, devido a pressões

políticas, sociais, econômicas, ambientais e também aos ciclos econômicos e

conflitos sociais existentes, o que torna as agendas ambiental, social e

econômica bastante instáveis, acaba gerando zonas de interface 11 entre essas

esferas, onde os desafios a serem solucionados são a grande questão.

No caso da interpenetração da agenda econômica com a ambiental, ou

seja, a primeira zona de interface, para Elkington 12 algumas empresas só se

preocupam com a questão da eco- eficiência sem, no entanto, atentar para

existência de maiores desafios a frente.

Na zona de interface entre a agenda social e a ambiental podemos

observar o mais importante desafio para o empresariado: a problemática da

justiça ambiental, isto é, quais as razões que levam determinados grupos ou

minorias a serem prejudicados por problemas ambientais enquanto outros

nada sofrem? Aqui a questão social influi como fator de discriminação,

11 As chamadas shear zones.12 ELKINGTON, John. Cannibals With Forks: the triple bottom line of 21st century business. Oxford.Capstone Publishing, 1997.

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podendo, entretanto, tal situação ser revertida pela ação da comunidade

impactada, em parceria com ambientalistas e defensores dos Direitos

Humanos.

A última zona de interface, correspondente à agenda social e à

econômica é de vital importância para as empresas pois seu pilar fundamental

diz respeito à ética nos negócios, ou seja, ao comportamento ético das

empresas, algo que, se mal administrado, contém alto poder destrutivo.

Assim, o conceito do Triple Bottom Line é o mais adequado para avaliar

a questão da sustentabilidade, pois abrange, conjuntamente, as três

fundamentais agendas governamentais: a social, ambiental e econômica. E é

justamente baseado nessa análise que a Organização das Nações Unidas

(ONU) criou um índice visando classificar a real situação de um país com

relação aos mais diferentes indicadores, o Índice de Desenvolvimento Humano

(IDH). Este não abrange somente indicadores econômicos para avaliar se o

país em questão está se desenvolvendo ou não. O IDH considera fatores

sociais (erradicação da pobreza, fome, etc), econômicos e ambientais, nos

moldes do conceito do Triple Bottom Line .

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CAPÍTULO IV – INDICADORES DA ATUAÇÃO AMBIENTAL DASEMPRESAS NO RIO DE JANEIRO

IV.1 – Introdução

Questão de fundamental importância para o estudo da

Responsabilidade Ambiental Empresarial, a atuação das empresas com relação

ao meio ambienta abrange diversos aspectos que encontram - se extremamente

correlacionados, tais como o controle da poluição, emissão de gases

poluentes, utilização racional de energia, água e solos, tratamento adequado

de resíduos, reciclagem, etc. Todos esses aspectos acabam interagindo entre si

e, portanto, é necessário que sejam devidamente equacionados pela empresa

que almeja inserir - se nos padrões da responsabilidade ambiental. De nada

adiantaria a esta tratar adequadamente seus resíduos e, no entanto, não se

preocupar com a emissão de gases poluentes na atmosfera. Seria como

alguém de dois metros de altura utilizar um cobertor de apenas um metro.

Certamente esta pessoa teria que escolher entre cobrir a parte inferior do

corpo e sentir frio na parte de cima ou vice- versa.

Outrossim, a questão da responsabilidade ambiental empresarial

enfrenta inúmeros problemas e obstáculos que impedem ou dificultam a

melhoria ambiental nas empresas, tais como a falta de investimentos e de

mão de obra especializada, falta de informação e desconhecimento da

legislação pertinente, dentre outros.

Mas como relacionar e equacionar todos esses fatores? De que forma

tais podem ser analisados e, a partir daí, como poderia ser traçado um

panorama da questão da responsabilidade ambiental empresarial? Para tanto,

a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (FIRJAN), em parceria

com a EBAPE/FGV, ciente da carência de dados ambientais necessários para

balizar ações estratégicas efetivas e que priorizem as reais necessidades

empresariais, realizou a pesquisa Diagnóstico da Situação da Gestão

Ambiental nas Empresas do Rio de Janeiro.

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Dessa forma, devido à relevância desse diagnóstico para o estudo da

responsabilidade empresarial com relação ao meio ambiente, objeto

primordial deste trabalho, este capítulo é inteiramente baseado nesta

pesquisa.

IV.2 – Um Panorama da Responsabilidade Ambiental Empresarial no

Estado do Rio de Janeiro

Na realidade, apesar do crescimento do nível de conscientização

ambiental na sociedade, o empresariado ainda não se encontra devidamente

informado sobre a questão da responsabilidade ambiental e, dessa forma, sua

atuação tanto na área social como ambiental é algo que necessita ser melhor

estruturado. Isso se justifica devido ao fato que qualquer mudança, por menor

que seja ela, deve ser muito bem analisada e ponderada. E, logicamente, uma

mudança na estratégia empresarial (ainda mais se considerarmos o

conservadorismo vigente na mentalidade empresarial) nunca é feita

subitamente.

Com isso, observamos que ações externas de responsabilidade social e

ambiental é algo ainda em fase de evolução no meio empresarial. Para ser

mais exato, e utilizando dados da FIRJAN, dentre as pequenas empresas

apenas 34% destas possuem ações que possam ser consideradas como de

responsabilidade ambiental. Já nas grandes e médias empresas esse total

Tipos de Atuação na Área Ambiental que A Empresa Possui Externamente

3 7 %

3 7 %

2 5 %

1 6 %

1 3 %

1 3 %

6 6 %

1 5 %

7 %

6 %

5 %

4 %

3 %

2 %

3 8 %

4 %

0% 20% 40% 60% 80%

Ainda não tem este t ipo de atuação

Reciclagem

Educação Ambiental

Limpeza urbana

Projetos de educação

Manutenção de parques ou reservas

Outras

Projetos ligados ao setor de saúde

Pequenas Empresas

Grandes e Médias Empresas

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50

chega a 62%. Mas quais seriam estas ações externas? Isso é o que agora, com a

ajuda do gráfico a seguir, iremos examinar.

De acordo com o gráfico, apesar das ações voltadas à manutenção de

parques ou reservas, à limpeza urbana, à educação em geral e à saúde, a ação

ambiental empresarial (seja nas pequenas ou nas grandes e médias empresas)

concentra - se nos projetos de reciclagem e de educação ambiental, ou seja, os

mais fáceis de serem estimulados e os mais rapidamente aceitos pelas

comunidades próximas.

A nível interno, as empresas cada vez mais procuram solucionar seus

problemas na área ambiental, já que a excelência nessa área só tem a gerar

benefícios as mesmas, benefícios estes que vão desde a melhoria de sua

imagem perante a sociedade até maiores lucros. Em vista disso, diversas ações

de controle e prevenção ambientais, tais como a disposição adequada de

resíduos sólidos, a introdução de equipamentos para controle de emissões

atmosféricas, a redução do uso de água ou energia e reciclagem são

implantados de forma satisfatória, conforme nos mostra o gráfico abaixo.

Ações de Controle e Prevenção de Aspectos Ambientais Implementadas Pelas Empresas

70%

70%

46%

1%

41%

22%

29%

48%

11%

8%

39%

36%

21%

17%

16%

15%

12%

12%

5%

5%

2%

0%

0% 20% 40% 60% 80%

Disposição adequada de resíduos sólidos ou lixo

Reciclagem ou reaproveitamento de material

Redução do uso da água ou energia por quantidade deproduto fabricado

Não foi realizada nenhuma ação nesse sent ido

Introdução de equipamentos para controle deemissões atmosféricas

Introdução de Equipamentos para controle de ruídosou vibrações

Mudança nos processos industriais para reduzirresíduos

Construção de uma estação de tratamento deefluentes

Não sabe exatamente

Mudança na embalagem, acabamento ou desenho doproduto

Outras ações

Pequenas Empresas

Grandes e Médias Empresas

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51

IV.3 – A Eco-estratégia das Empresas no Rio de Janeiro

A globalização das questões ambientais trouxe importantes

conseqüências econômicas no mundo inteiro. No entanto, apesar de algumas

mudanças no comportamento dos setores de maior impacto sobre o meio

ambiente 13 já serem visíveis, a grande maioria das empresas brasileiras ainda

restringe sua responsabilidade ambiental ao mero atendimento à legislação de

controle da poluição da água, do ar e do solo.

Para que este contexto se modifique, o que, em hipótese alguma, ocorre

de forma voluntária, é necessário, sobretudo, uma atuação governamental

consistente (às vezes em parceria com outras empresas e ONGs

ambientalistas) de forma a incentivar a melhoria ambiental nas empresas. Tal

atuação implica a adoção de uma série de mecanismos, os quais podemos

abaixo observar.

13 Setor químico, de papel e celulose, siderúrgico e mineração.

Os Mais Importantes Mecanismos Para Incentivar a Melhoria Ambiental nas Empresas

71%

70%

68%

46%

44%

41%

15%

15%

14%

4%

4%

0% 20% 40% 60% 80%

Dar incentivos fiscais para determinadas ações ambientais

Dar mais informações sobre a legislação ambiental

Dar mais informações sobre a questão ambiental

Dar mais créditos e t ipos de financiamento

Capacitar os órgãos ambientais

Divulgar um cadastro das empresas que adotem boaspráticas ambientais

Intensificar a fiscalização aplicando a lei de crimesambientais

Intensificar a fiscalização com a aplicação de multas

Divulgar cadastro com as empresas que não respeitem alegislação ambiental

Outros

Dar mais espaço na mídia para denúncias de ONGs

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Assim, de acordo com os dados da pesquisa da FIRJAN, para 71% do

empresariado do Rio de Janeiro o governo deve dar incentivos fiscais para

estimular determinadas ações ambientais.

Outros dois mecanismos importantes para incentivar a melhoria

ambiental nas empresas são:

a) dar mais informações sobre a legislação ambiental, para 70% do

empresariado;

b) dar mais informações técnicas sobre a questão ambiental, para 68% do

empresariado.

Dessa forma, o gráfico nos mostra, detalhadamente, quais os

mecanismos de incentivo de melhoria ambiental que o empresariado acha que

o governo deve introduzir.

Analisando os dados expressos no gráfico, podemos constatar que essa

visão empresarial, de certa forma, sugere um certo conservadorismo, haja

visto que, somente 15% do empresariado acha que deve- se intensificar a

fiscalização aplicando a lei de crimes ambientais, com a aplicação de multas

para aqueles que não seguirem a legislação ambiental, isso como forma de

incentivar melhorias ambientais nas empresas.

Tal pensamento acaba gerando diversos problemas, com graves

conseqüências em nosso dia a dia tais como os diversos acidentes ambientais

ocorridos (não somente no Estado do Rio de Janeiro, mas em todo o Brasil),

nos quais providências somente são tomadas após tragédias terem

acontecido.

Isso tudo nos faz questionar se realmente há ou não uma clara intenção

por parte do empresariado em respeitar e preservar a natureza ou se o

comportamento ético ambiental é motivado, sobretudo, pelo cumprimento à

legislação ambiental vigente, não sendo, dessa maneira, algo voluntário, mas

sim algo exigido pelos órgãos ambientais.

Com relação às empresas, é sabido que estas devem se adaptar às novas

exigências do mercado, assumindo uma postura ambientalmente responsável,

caso desejem manter - se competitivas em seu setor de atividade. Para tanto é

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imprescindível a inserção no modelo de Responsabilidade Ambiental

Empresarial, ou seja, readaptando sua estratégia empresarial e adotando

diversas medidas que comprovem sua postura ambientalmente correta.

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Tais iniciativas na área ambiental surgem devido à inúmeras razões,

estando as principais detalhadas no gráfico abaixo.

E, de acordo com o gráfico, comprova - se o anteriormente suposto: a

principal razão que leva o empresariado a empreender mudanças na

estratégia da empresa com relação à preservação e respeito ao meio ambiente

é o atendimento à legislação ambiental, razão essa que assume a significativa

proporção de 80%.

Um outro fator que vem, no decorrer dos últimos anos, influenciado

cada vez mais é a crescente conscientização do consumidor face aos seus

direitos. Hoje, o Código de Defesa do Consumidor já não é algo tão

desconhecido como antes, o que está sendo o responsável direto pelo

aumento no nível de exigência de todos com relação à produtos e serviços

ofertados pelas empresas. Dessa forma, o melhoramento da imagem da

empresa frente aos consumidores é, para 44% do empresariado, uma forte

Razões que Levam As Empresas a Implementar Iniciativas Ambientais

80%

44%

44%

39%

37%

30%

29%

23%

23%

11%

9%

8%

8%

5%

4%

4%

1%

0%

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Atendimento à legislação ambiental

Melhoramento da imagem da empresa frente a consumidores

Atendimento à demanda dos órgãos ambientais, após visitas

Melhoramento da imagem da empresa frente a sociedade

Redução dos custos de produção

Busca de licenciamento

Tentativa de conseguir algum tipo de certificação ambiental

Mudança na política ambiental da empresa

Pedido da matriz da empresa

Pedido de cliente

Pedido de comunidades vizinhas

Tentativa de conquistar mercados externos

Tentativa de aumentar receitas com vendas de resíduos ou sobras

Outros fatores

Mudança na direção da empresa

Atendimento às exigências de órgãos financiadores

Não sabe direito

Pedido de ONG

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razão para implementação de iniciativas ambientais. Consequentemente, o

mesmo se aplica a sociedade como um todo, ou seja, é também importante

para empresa que sua imagem perante a sociedade seja a melhor possível, e

isso faz com que, para 39% do empresariado, o melhoramento da imagem da

empresa frente a sociedade seja uma razão a motivar a implementação de

iniciativas ambientais.

Atendimento às demandas dos órgãos ambientais, após visitas de

fiscalização (que começa a se intensificar devido às recentes contratações de

pessoal especializado), redução de custos de produção são razões

importantes a serem consideradas, respondendo por, respectivamente, 44% e

37%, do empresariado.

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CAPÍTULO V - CONCLUSÕES

Nas últimas três décadas, com a diminuição do intervencionismo estatal na

economia, a iniciativa privada adquiriu grande importância na alavancagem

do crescimento econômico de uma nação. Com isso, as empresas cresceram e

se desenvolveram, formando grandes conglomerados com atuação em

diversos países. E desta forma, a responsabilidade da iniciativa privada para

com a sociedade adquiriu um papel de grande relevância.

Em vista disso, constata - se que as empresas buscam investir em programas

de melhoria em comunidades carentes, respeitar seus empregados, não

agredir o meio ambiente, enfim, tentam enquadrar - se dentro do modelo de

responsabilidade social.

Nos dias atuais, a questão da responsabilidade social empresarial é algo

amplamente discutido. Seminários, congressos, publicação de livros, têm

contribuído para um maior esclarecimento com relação a essa questão. Além

disso, a crescente pressão da sociedade e de várias ONGs têm impulsionado a

disseminação das práticas de responsabilidade social. Na realidade porém,

apesar da existência de diversificada literatura sobre este tema, as coisas não

funcionam como deveriam, e aquilo que seria uma obrigação da empresa nos

é ofertado como uma medida assistencialista barata, sempre em troca de

alguma vantagem fiscal ou mesmo de abatimentos no montante da dívida da

empresa para com a União.

Com relação ao meio ambiente, a polêmica é ainda mais acentuada e,

dessa forma, a distância entre teoria e realidade é bastante extensa. Muitas

empresas que se dizem ambientalmente responsáveis, nada mais fazem do

que seguir a legislação ambiental vigente (isso quando o fazem), a qual,

devido a falta de fiscalização adequada, na maioria das vezes não é cumprida.

E o que dizer dos inúmeros desastres ambientais causados pela Petrobrás,

empresa esta que diz cumprir todas as exigências ambientais requeridas e

possuir várias certificações ambientais e de segurança.

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É curioso (um tanto quanto lastimável, na verdade) o modo como a

maioria das empresas encara a preservação ambiental. Somente se preocupam

com esta após a ocorrência de algum acidente, isto é, contrariando o famoso

dito popular que diz: “é melhor prevenir do que remediar.” Tal situação

torna - se ainda mais grave quando os riscos ambientais são previamente

conhecidos mas nenhuma medida concreta é tomada pelo empresariado. Até

o momento em que ocorre algum acidente de graves proporções e a mídia o

torna público. Nessas horas a remediação nem sempre é possível.

Assim, podemos observar que a questão da responsabilidade ambiental

empresarial é algo ainda não muito bem assimilado no meio empresarial. Para

tanto, concorrem os seguintes fatores: a debilidade dos órgãos públicos em

fiscalizar as atividades econômicas e orientar o empresariado, já que muitas

empresas operam sem o devido licenciamento e mantém resíduos sem a

disposição adequada; o desconhecimento de empresários e profissionais com

relação à legislação ambiental em vigor e a falta de consciência de sua

responsabilidade ambiental; a falta de informação e consciência da população

sobre os riscos advindos para sua saúde e para a comunidade devido ao

funcionamento precário de uma atividade econômica, o que, devido a

necessidade de garantir o seu sustento leva a comunidade a se posicionar

contra a interdição de uma determinada fábrica e a continuar comendo um

alimento contaminado; por último, a existência de controvérsias com relação a

multas por danos ambientais causados, ou seja, quem a aplica, o valor da

mesma, a aplicação dos recursos, valoração dos danos e ressarcimento. Num

primeiro momento, o anúncio do valor da multa a ser aplicada dá uma

satisfação à sociedade e abre perspectivas de recursos para municípios e

comunidades. Logo após, o valor da multa e a capacidade de pagamento do

infrator são questionados, deixando na população um rastro de desconfiança

de impunidade, algo, infelizmente, muito comum em nosso país.

Na realidade, poucas são as empresas que realmente apresentam uma

postura e atitude ambientalmente responsável, que possuem uma gerência

ambiental consciente de seus deveres e responsabilidades, que não se

contentam apenas em respeitar a legislação ambiental vigente e têm a

preservação ambiental como um fator inerente a sua cultura organizacional.

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Finalizando, devemos ter em mente que vivemos um processo de

mudança que exige de cada empresário e cidadão conhecer, pensar, sentir e

agir com responsabilidade ambiental.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FIRJAN. Revista Súmula Ambiental - Edição Especial. Rio de Janeiro. Junho, 2003.

INSTITUTO ETHOS DE RESPONSABILIDADE SOCIAL. Indicadores Ethos de ResponsabilidadeSocial Empresarial . São Paulo. Março, 2000.

JORNAL DO BRASIL. Caderno Economia & Negócios . 15 de Março de 2003, p A11.

JORNAL DO BRASIL. Revista JB Ecológico. Março – número 14. São Paulo, 2003.

SCHMIDHEINY, S. Mudando o Rumo : uma perspectiva empresarial global sobredesenvolvimento e meio ambiente. Rio de Janeiro: FGV, 1992

VINHA, Valéria Gonçalves da. A Convenção do Desenvolvimento Sustentável e As EmpresasEco- comprome tidas . Tese de Doutorado. Curso de Pós- Graduação em Desenvolvimento,Agricultura e Sociedade – CPDA/UFRRJ. Rio de Janeiro, 2000.