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1 ENCONTRO CATEQUISTAS UNAÍ PERGUNTAS PARA JESUS SOBRE A CATEQUESE 04 de Setembro de 2017 frei Carlos Mesters, Carmelita Introdução: 1. Perguntas para nós catequistas 2. Perguntas para Jesus 1ª Parte: Perguntas para Jesus, como Catequizando 1. Jesus, quem foi a sua catequista? 2. O que você mais lembra dela? 2ª Parte: Perguntas para Jesus, como Catequista do povo 1ª Pergunta: Jesus, como você fazia para o povo gostar tanto de sua fala? 2ª Pergunta: Jesus, você fez algum curso? 3ª Pergunta: Quais os recursos que você usava para atrair tanta gente? 4ª pergunta: Por que alguns doutores não gostavam do seu jeito de ensinar? 3ª Parte: Perguntas para Jesus, como Formador de catequistas 1. Jesus, como você acompanhava cada um dos discípulos? 2. Jesus, como você formava os discípulos envolvendo-os na missão 3. Jesus, como você acompanhava o processo de formação deles? 4. Jesus, quais os Conteúdos e Recursos didáticos que você usava 5. Jesus, você fazia encontros para ensinar como transmitir a Boa Nova de Deus? 6. Qual o ponto mais importante que nós catequistas devemos levar em conta? 7. Como você usava a Bíblia para a sua vida pessoal e para a catequese?

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ENCONTRO CATEQUISTAS UNAÍ PERGUNTAS PARA JESUS

SOBRE A CATEQUESE 04 de Setembro de 2017

frei Carlos Mesters, Carmelita

Introdução:

1. Perguntas para nós catequistas 2. Perguntas para Jesus

1ª Parte: Perguntas para Jesus, como Catequizando

1. Jesus, quem foi a sua catequista?

2. O que você mais lembra dela?

2ª Parte: Perguntas para Jesus, como Catequista do povo

1ª Pergunta: Jesus, como você fazia para o povo gostar tanto de sua fala?

2ª Pergunta: Jesus, você fez algum curso?

3ª Pergunta: Quais os recursos que você usava para atrair tanta gente?

4ª pergunta: Por que alguns doutores não gostavam do seu jeito de ensinar?

3ª Parte: Perguntas para Jesus, como Formador de catequistas

1. Jesus, como você acompanhava cada um dos discípulos?

2. Jesus, como você formava os discípulos envolvendo-os na missão

3. Jesus, como você acompanhava o processo de formação deles?

4. Jesus, quais os Conteúdos e Recursos didáticos que você usava

5. Jesus, você fazia encontros para ensinar como transmitir a Boa Nova de Deus?

6. Qual o ponto mais importante que nós catequistas devemos levar em conta?

7. Como você usava a Bíblia para a sua vida pessoal e para a catequese?

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1. PERGUNTAS PARA AS CATEQUISTAS

Para começar, eis algumas perguntas para nós catequistas sobre nossa própria vida.

Perguntas simples, que podem levar a gente a dizer: "É mesmo! Nunca pensei nisso!"

1. Por que você é catequista? Às vezes, a gente faz as coisas sem saber bem o porquê.

Faz por costume, por tradição, por necessidade, ou por opção e escolha. Muitas vezes, os

motivos se misturam. É bom conversar entre si sobre o motivo que me leva a ser catequista.

2. O que você lembra da catequista que teve? O que lembra dela: doutrina ou atitudes?

Geralmente, lembra "atitudes!" As crianças vão lembrar o jeito que você tinha de lidar com

elas, de acolhê-las, de ser uma revelação bem pessoal daquilo que você ensinava.

3. É mais fácil com os próprios filhos ou com os outros? Isto vale para as catequistas

casadas. Sempre se diz que a primeira catequista da gente é a própria mãe. Anteontem, uma

mãe me respondeu: "Para mim, é mais fácil com os outros".

4. Quem foi sua primeira catequista? Muitos vão responder: foi minha mãe. Além da

mãe, vão lembrar uma ou mais pessoas que marcaram sua vida nos anos da infância.

5. Como você se relaciona com as crianças? Cada criança tem a sua história: você

consegue acompanhar a cada uma? Em casa, a mãe consegue. Ela conhece cada uma. A

catequista consegue? Não é fácil. A catequista que vocês tiveram quando criança conseguia

acompanhar vocês? Cada criança tem a sua família. Vocês conseguem envolver os pais na

formação religiosa das crianças? Conseguem fazer encontros com eles? O trabalho da

catequese está integrado no conjunto da pastoral da paróquia? Leva em conta as festas e o

ano litúrgico?

2. PERGUNTAS PARA JESUS

1. Para Jesus, o catequizando: Jesus, quem foi a sua catequista? O que você mais

lembra dela? Você também teve catequese na sinagoga? Você tinha que fazer alguma prova

para ser admitido na comunidade? Você teve catequistas de que não gostava tanto?

2. Para Jesus, o catequista do povo: Jesus, pelo jeito, o povo gostava quando você

ensinava para ele as coisas de Deus. Como é que você fazia? Você fez algum curso? Quais os

recursos que você usava para atrair tanto povo e tantas crianças? Por que alguns doutores não

gostavam do seu jeito de falar ao povo?

3. Para Jesus, o formador de catequistas: Você formou doze catequistas e depois mais

setenta e dois. Como você acompanhava cada um deles? Você também fazia encontros como

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nós estamos fazendo para aprender melhor transmitir a Boa Nova de Deus? Para você, Jesus,

qual o ponto mais importante que nós catequistas devemos levar em conta no nosso trabalho?

4. Para Jesus usando a Bíblia na catequese: Jesus, você usava a Bíblia? Você tinha Bíblia

em casa? Onde você aprendeu a ler e interpretar a Bíblia? Para nós nem sempre é fácil, porque

a Bíblia tem coisas difíceis que a gente não entende bem. Como é que você fazia com os textos

difíceis? Mais uma última pergunta bem pessoal: como você usava a Bíblia para a sua vida

pessoal? Desculpe tanta pergunta, Jesus. Mas é que a gente quer aprender.

1ª PARTE

Perguntas para Jesus como Catequizando

Jesus, quem foi a sua catequista? O que mais você lembra dela? Você também teve catequese na sinagoga? Você tinha que fazer alguma prova para ser admitido na comunidade? Você também teve catequistas de que não gostava tanto?

1. Jesus, quem foi a sua catequista? O que você mais lembra dela?

Jesus diria: "As minhas primeiras catequistas foram minha mãe e minha avó". E aquilo

que ele lembra delas é o que ele mesmo disse àquela senhora que elogiou a mãe dele. Diz o

evangelho de Lucas: " Uma mulher levantou a voz no meio da multidão, e disse a Jesus: 'Feliz o

ventre que te carregou, e os seios que te amamentaram'. Jesus respondeu: "Mais felizes são

aqueles que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática." (Lc 11,27-28)

Jesus lembrava a felicidade da sua mãe de ouvir e praticar a palavra de Deus: "Feliz quem

ouve a palavra de Deus e coloca em pratica!" Uma mãe catequista me disse: "Ser catequista é

minha maior felicidade!" Uma criança disse: "Outro dia, minha catequista não me falou sobre

Deus, mas ficou meia hora comigo quando eu estava triste. Foi tão bom. Foi Deus comigo!"

E a gente pergunta: "Como será que Maria foi a catequista de Jesus?" Difícil de responder.

Mas temos informações da própria bíblia de como Maria vivia a sua fé e também temos

informações de como naquele templo era a transmissão da fé nas casas e nas comunidades.

1. O testemunho pessoal de Maria: ouvir e praticar a Palavra

A Bíblia fala muito pouco da Mãe de Jesus. Só sete livros a mencionam: Gálatas (Gl 4,4);

Marcos (Mc 3,20-21.31-35); Lucas (Lc 1 e 2; 11,17); Atos (At 1,13); Mateus (Mt 1 e 2),;João (Jo

2,1-13; 19.25-26) e Apocalipse (Apc 12,1-17). Ela mesma fala menos ainda. A bíblia conservou

apenas sete palavras de Maria. Nada mais!

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1ª Palavra: "Como pode ser isso se não conheço homem!" (Lc 1,34)

2ª Palavra: "Eis aqui a serva do Senhor!" (Lc 1,38)

3ª Palavra: "Minha alma louva o Senhor!" (Lc 1,46)

4ª Palavra: "Meu filho porque fez isso conosco?" (Lc 2,48).

5º Palavra: "Eles não têm mais vinho!" (Jo 2,3)

6ª Palavra: “Fazei tudo o que ele vos disser!" (Jo 2,5)

7ª Palavra: O silêncio ao pé da Cruz, mais eloquente que mil palavras! (Jo 19,25)

Como veremos, cada uma destas sete palavras da Mãe de Jesus nos faz saber algo de como

ela fazia para escutar os apelos de Deus. Além disso, Lucas e João oferecem uma chave

importante. Para Lucas, Maria é o símbolo da Comunidade na maneira de relacionar-se com a

Palavra de Deus. Para João, Maria é o símbolo do Antigo Testamento que traz para nós o Novo

Testamento, como transparece no episódio das bodas de Caná (Jo 2,1-13) e na presença de

Maria ao pé da Cruz (Jo 19,25-27).

2. A catequese no tempo de Jesus: em casa, na comunidade e no templo

* Em casa: na família, todos os dias.

Paulo escreve para Timóteo: “Lembro-me da fé sincera que há em você (Timóteo), a

mesma que havia antes na sua avó Lóide, depois em sua mãe Eunice e que agora, estou

convencido, também há em você” (2Tim 1,5). E diz ainda: “Desde a infância você conhece as

Sagradas Escrituras; elas têm o poder de comunicar a sabedoria que conduz à salvação pela fé

em Jesus Cristo” (2Tim 3,15).

Estas palavras de Paulo para seu amigo Timóteo deixam transparecer como era o

ambiente da transmissão da fé nas casas das famílias judias: seja em Nazaré na casa de Jesus,

Maria e José, seja na casa da família de Paulo em Tarso. A transmissão da fé era a meditação

constante da Palavra de Deus na convivência familiar. O povo rezava muito. Todos os dias, de

manhã, à tarde e à noite. Desde criança, eles aprendiam os salmos. Eis o esquema da oração:

* As 18 bênçãos (de manhã, à tarde e à noite) * O Shemá, composto de três benditos e três leituras (de manhã e à

noite) 1. Um bendito ao Deus Criador que gera o povo 2. Um bendito ao Deus Revelador que elege o povo 3. Três breves leituras: Dt 6,4-9: receber o jugo do Reino Dt 11,13-21: receber o jugo da Lei de Deus Nm 15,37-41: receber o jugo da consagração 4. Um bendito ao Deus Redentor que liberta o povo * Tudo misturado com Salmos

Esta meditação da Palavra transparece no Cântico de Maria (Lc 1,46-55), todo recheado de

citações de salmos e evocações bíblicas. Sinal de que Maria conhecia a Bíblia e rezava os

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salmos a ponto de conhecê-los de memória. No cântico de Maria transparece também uma

visão bem crítica a respeito da situação social e política do seu povo. Ela reza: "Ele realiza

proezas com seu braço: dispersa os soberbos de coração, derruba do trono os poderosos e

eleva os humildes; aos famintos enche de bens, e despede os ricos de mãos vazias" (Lc 1,51-53).

Estes dois aspectos: meditação orante da Palavra de Deus e visão crítica da realidade são as

duas características da fé que Maria transmitiu para seu filho Jesus.

* Na sinagoga: em comunidade, uma vez por semana.

Todo sábado, Jesus participava da celebração da Palavra na sinagoga. Era o costume dele

(Lc 4,16). Só havia uma única Bíblia na comunidade; era na sinagoga. O conhecimento que as

pessoas tinham da Bíblia vinha destas reuniões semanais na sinagoga, onde se faziam duas

leituras: uma da Lei e outra dos profetas (At 13,15). Em Nazaré, naquele sábado, Jesus fez a

segunda leitura do profeta Isaías (Lc 4,18,19; Is 61,1-2). Nos sábados, a bíblia era lida na

reunião da comunidade e, em seguida, era ruminada em casa, na família. Pelo que nos

informam os evangelhos, a gente percebe que Jesus conhecia muito bem a Bíblia. Se você for

juntar todas as alusões ou citações que ele faz da bíblia, vai perceber que Jesus conhecia a

Bíblia quase de cor e salteado.

* No Templo: no meio do povo, nas romarias ao longodo ano.

Aqui se situam as romarias (Ex 23,14-17), nas quais Jesus participava desde doze anos de

idade e que o empolgavam tanto a ponto de ele permanecer em Jerusalém no meio dos

doutores para aprender mais as coisas de Deus, lembradas nas Escrituras (Lc 2,41-50). A

celebração das três grandes festas, Páscoa, Pentecostes e Tendas, mantinha no povo a

memória das grandes etapas da sua história. Mantinha viva a consciência da sua missão como

povo de Deus.

Como fazer isto HOJE? Como catequistas é importante dar muita atenção a estas três

dimensões ou três ambientes da transmissão da fé: o ambiente diário em casa, na família:

todos os dias; o ambiente semanal da comunidade, na sinagoga: todos os sábados; o ambiente

anual das romarias ao Templo, três vezes ao ano, todos os anos.

* Nossa missão como catequistas está mais ligada ao ambiente semanal da comunidade.

Mas em nós deve estar presente a preocupação de manter uma estreita ligação com o

ambiente diário da casa e com o ambiente anual mais amplo do Templo, da matriz, da

paróquia, da diocese.

* Hoje nas reuniões semanais da comunidade as crianças aprendem as orações, os

cânticos, os salmos, o credo, etc. Nestes encontros semanais é muito importante saber ser

criativo: falar de Jesus, contar as histórias da Bíblia, usar um salmo, decorar frases, fazer ler

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trechos das parábolas, mandar encenar episódios da vida de Jesus, criar costumes, gincanas,

etc.

* O ano litúrgico com suas festas ao longo dos doze meses oferece uma boa oportu-

nidade para ajudar as crianças a conhecer melhor a história de Jesus e das várias etapas da

história do Povo de Deus. (No nosso encontro de 2ª feira, dia 18 deste mês de setembro,

vamos ver de perto as várias etapas da história o povo de Deus).

* Hoje, os catequizandos não vivem isolados, mas vivem integrados no contexto mais

amplo do bairro, da cidade do Estado, do Brasil, do povo, da realidade de hoje com seus

problemas e provocações. Como, naquele tempo, era o contexto mais amplo do catequizando

Jesus?

3. O contexto mais amplo da catequese na vida do povo no tempo de Jesus.

1. A Convivência com o povo em Nazaré

2. O Trabalho na roça e na carpintaria

3. A Escola ou a Casa da Letra

4. A Galileia dos pagãos

* A Convivência com o povo em Nazaré. Nesta convivência de trinta anos Jesus

aprendeu as inúmeras coisas que todos nós aprendemos, como que naturalmente, ao longo

dos anos da nossa vida: as tradições, os costumes, as festas, os cânticos, os tabus, as histórias,

os medos, as doenças, os remédios. Quando Jesus, depois de adulto, começou a agir e a falar

diferente daquilo que os fariseus haviam ensinado nas reuniões da sinagoga, o povo de Nazaré

estranhou, não gostou nem acreditou (cf. Mc 6,4-6). E quando, numa reunião da comunidade,

Jesus começou a ligar a Bíblia com a vida deles (cf. Lc 4,21), a briga foi tanta que quiseram

matá-lo (Lc 4,23-30). “Santo de casa não faz milagre”. Maria deve ter ficado muito reocupada.

* O Trabalho na roça e na carpintaria. Jesus se formou trabalhando. Servia ao

povo como carpinteiro (Mc 6,3). Naquela época, ser carpinteiro numa cidadezinha do interior

(como Nazaré) era o mesmo que ser o quebra-galho do povo, ao qual todos recorriam para

resolver os pequenos problemas caseiros. Trabalhava na roça, tanto ele, Jesus, como sua mãe.

Pelas parábolas a gente percebe que Jesus entendia as coisas da roça. Carpintaria e roça!

Trabalho duro para viver, sustentar a família e sobreviver. Na Galileia a terra não era ruim.

Dava o suficiente para o povo viver. Mas os impostos eram altos e o controle rígido. Havia

muitos cobradores de impostos (os publicanos) (Mc 2,14.15). O povo não tinha defesa contra o

sistema que o explorava.

* A Escola ou a Casa da Letra. Naquele tempo, nos povoados havia a Casa da

Letra. Era lá que os meninos aprendiam a ler e escrever. Jesus sabia ler, pois fazia a leitura na

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reunião da comunidade (cf. Lc 4,16-17). Os meninos deviam fazer a leitura na celebração do

sábado. Passavam a tarde da sexta feira na sinagoga para se preparar para fazer uma boa

leitura no sábado. Pois, assim diziam, se a Lei de Deus é perfeita (cf. Sl 19,7), perfeita deve ser

também a sua leitura. Durante os anos da sua juventude Jesus deve ter passado muitas tardes

de sexta na sinagoga para preparar a leitura do dia seguinte.

* A Galileia dos pagãos. O povo da Galileia era mais aberto, mais ecumênico que

o povo da Judeia no Sul. Galileia estava cercada de cidades pagãs. Os judeus da Galileia tinham

mais contato com os pagãos do que os do Sul. Os do Sul achavam que o povo da Galileia era

relaxado e lhe deram um apelido: “Galileia dos pagãos” (Is 8,23; Mt 4,15). A palavra “Galileia”

significa “distrito”. Distrito dos Pagãos! Este contato mais frequente com os outros povos teve

influência na formação de Jesus. Por exemplo, ele viajava e ia para as regiões de Tiro e Sidônia

(Mc 7, 24.31), da Decápole (Mc 5,1.20; 7,31), de Cesareia de Filipe (Mc 8,27) e de Samaria (Lc

17, 11). Andando por esses lugares, ele conversava com o povo pagão (Mc 7,24-29; Jo 4,7-42),

o que era proibido para os judeus (cf. At 10,28). Jesus chegou a reconhecer o valor e a fé de

pessoas não judias e aprendia delas (Mt 8,10). Por exemplo, ele aprendeu da mulher cananeia

que era de outra raça e de outra religião (cf. Marcos 7,26).

Como fazer isto HOJE? Este mesmo contexto existe hoje e influi muito na vida das crianças

e dos jovens: ajudar as crianças a se situar no contexto de hoje do Brasil, da Igreja, da cidade,

da roça, do bairro, das religiões. Aprender de Jesus como ser ecumênico e não fechado. Ajudar

a perceber os apelos de Deus nesta realidade que vivemos em casa, no bairro, na escola.

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2ª Parte Perguntas para Jesus,

como Catequista do povo

Jesus, como você fazia para o povo gostar tanto de ouvir você falar sobre Deus? Vo-cê fez algum curso? Que recursos que você usava para atrair o povo? Por que alguns doutores não gostavam do seu jeito de dar aula de catecismo ao povo?

1ª Pergunta: Jesus, como você fazia para o povo gostar tanto de sua fala?

No relacionamento com o povo, Jesus não era "professor". Ele era "mestre". Ele tinha o

seu jeito de anunciar a Boa Nova e de revelar o rosto do Pai para o povo da sua terra. Vamos

ver alguns aspectos de como o Catequista Jesus se relacionava com o povo na sua missão de

transmitir a Boa Nova.

1. Jesus vai ao encontro das pessoas e as chama para segui-lo. Jesus vai ao encontro

das pessoas com sua bondade acolhedora. Onde há gente para escutá-lo, ele fala e transmite a

Boa Nova de Deus: nas sinagogas nos sábados (Mc 1, 21; 3,1; 6,2); em reuniões nas casas de

amigos (Mc 2,1.15; 7,17; 9,28; 10,10); andando pelo caminho com os discípulos (Mc 2,23); ao

longo do mar, à beira da praia, sentado num barco (Mc 4,1); no deserto onde o povo o procura

(Mc 6,32-34); na montanha, de onde proclama as bem-aventuranças (Mt 5,1); nas praças onde

povo carrega seus doentes (Mc 6, 55-56); no Templo de Jerusalém, nas romarias, diariamente,

sem medo (Mc 14,49)! Em vez de expor ou impor uma doutrina, Jesus propõe um caminho de

vida, irradia uma nova imagem de Deus.

2. Jesus recupera a dimensão caseira e festiva da fé. A religião oficial insistia no

espaço sagrado do Templo e nas coisas do culto. Jesus nunca aparece oferecendo sacrifícios no

templo. Até à idade de trinta anos, Jesus viveu no ambiente comunitário e caseiro lá em

Nazaré. Durante os três anos que andou pela Galiléia ele entrava e vivia nas casas do povo: de

Pedro (Mt 8,14), de Mateus (Mt 9,10), de Jairo (Mt 9,23), de Simão o fariseu (Lc 7,36), de

Simão o leproso (Mc 14,3), de Zaqueu (Lc 19,5). O oficial reconhece: “Não sou digno de que

entres em minha casa” (Mt 8,8). E o povo procurava Jesus na casa dele (Mt 9,28; Mc 1,33; 2,1;

3,20). Em Betânia Jesus parava na casa de Marta, Maria e Lázaro (Jo 11,3.5.45; 12,2). No envio

dos discípulos e discípulas a missão deles é entrar nas casas do povo e levar a paz (Mt 10,12-

14; Mc 6,10; Lc 10,1-9). Jesus recupera a dimensão sagrada e festiva da Casa. Ele participa da

festa de casamento em Caná (Jo 2,1-2) e é na sala superior da casa de um amigo que celebrou

a última páscoa com seus amigos (Mt 26,18-19). Depois da ressurreição, Jesus entrou em casa

com os dois discípulos em Emaús e foi reconhecido no gesto tão caseiro da fração do pão (Lc

24,29-30).

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3. Jesus reconstrói a vida comunitária nos povoados da Galiléia. Devida à política dos

romanos e ao sistema da religião oficial, a vida comunitária estava sendo desintegrada. Mais

da metade do orçamento familiar ia para os impostos e tributos. Tais políticas excludentes

geravam pobres e marginalizados. As famílias se fechavam sobre si mesmas. A própria família

de Jesus queria levá-lo de volta para Nazaré. Jesus reage: “Quem é minha mãe e meus irmãos?

É todo aquele que faz a vontade do Pai que está nos céus” (Mc 3,34-35) Jesus alarga a família.

Ele quer evitar que as famílias se fechem sobre si mesmas e, assim, desintegrem a vida do clã,

da comunidade. Por isso ele diz: "Se alguém vem a mim, e não odeia seu pai, sua mãe, sua

mulher, seus filhos, irmãos, irmãs, e até mesmo à sua própria vida, esse não pode ser meu

discípulo” (Lc 14,26). Manda que as pequenas famílias se abram para a vida em comunidade.

4. Jesus acolhe os excluídos, sobretudo os doentes e os trata com carinho. Muita

gente era marginalizada. Jesus recebe como irmão e irmã aqueles que a religião e o governo

excluíam: os imorais: prostitutas e pecadores(Mt 21,31-32; Mc 2,15; Lc 7,37-50; Jo 8,2-11); os

hereges: pagãos e samaritanos (Lc 7,2-10; 17,16; Mc 7,24-30; Jo 4,7-42); os impuros leprosos e

possessos (Mt 8,2-4; Lc 11,14-22; 17,12-14; Mc 1,25-26); os colaboradores: publicanos e

soldados (Lc 18,9-14; 19,1-10); os pobres: o povo da terra e os pobres sem poder (Mt 5,3; Lc 6,-

20.24; Mt 11,25-26). os marginalizados: mulheres, crianças, doentes (Mc 1,32; Mt 8,17;19,13-

15; Lc 8,2s). A doença era considerada castigo divino. Eram afastados e marginalizados do

convívio social. Tocando no leproso para curá-lo, Jesus assumiu conscientemente uma

marginalização social, a ponto de já não poder entrar nas cidades (Mc 1,45).

5. Jesus recupera igualdade homem e mulher

Um grupo de mulheres seguia Jesus e fazia parte da comunidade ao redor de Jesus (Lc

8,2-3; Mc 15,40-41). Aceitar mulheres como discípulas dentro do grupo não era costume e

não deve ter sido fácil para os discípulos (Lc 24,11). Pelas suas atitudes Jesus tira o privilégio

do homem frente à mulher. Ele não permite que o homem se divorcie da sua mulher (cf. Mt

19,1-12). A moça prostituída é defendida contra o fariseu (Lc 7,36-50). A mulher encurvada é

acolhida como filha de Abraão contra o dirigente da sinagoga (Lc 13,10-17). A mulher

adúltera, acusada pelos fariseus, não foi condenada por Jesus (Jo 8,1-11). A mulher impura é

acolhida e curada sem censura (Mc 5,25-34). A Samaritana, desprezada como herética, é

acolhida num longo diálogo (Jo 4,7-26). A mulher estrangeira de Tiro e Sidônia é atendida por

ele (Mc 7, 24-30). As mães com filhos pequenos são acolhidas e abençoadas por Jesus (Mt

19,13-15; Mc 10,13-16). Maria Madalena, considerada possessa, mas curada por Jesus (Lc

8,2), recebe a ordem de transmitir a Boa Nova da ressurreição aos apóstolos (Jo 20,16-18). As

mulheres, que ficaram perto da cruz de Jesus (Mt 27,55-56.61), são as primeiras a

experimentar a presença de Jesus ressuscitado (Mt 28,9-10).

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6. Jesus supera as barreiras de religião, raça e classe. Jesus não se fecha dentro da

sua própria raça e religião, mas sabe reconhecer as coisas boas que existem nas pessoas de

outra raça e religião e acolhe lições da parte deles. À Samaritana revela o segredo maior de ser

o messias (Jo 4,26). A Cananéia ajuda Jesus a abrir a visão sobre a sua missão (Mt 15,27-28).

No contato com um oficial romano, Jesus reconhece "nunca encontrei uma fé tão grande em

Israel" (Mt 8,10). Ele acolhe e conversa com Nicodemos (Jo 3,1), que era um membro da alta

classe judaica, com assento no Sinédrio. Desafiando as leis religiosos Jesus acolhe pessoas

leprosos, impuros e deficientes físicos. E o publicano Zaqueu é acolhido como filho de Abraão

(Lc 19,9). Jesus fala para todos, indistintamente, mas fala a partir dos pobres.

7. Jesus reflete o humano universal. No acolhimento às pessoas Jesus é universal. Não

distingue a religião e acolhe a todos. Nas oito bem-aventuranças Jesus não faz distinção entre

Judeus e não judeus, mas fala de todos os seres humanos: "Felizes os pobres em espírito,

porque deles é o Reino do Céu. Felizes os aflitos, porque serão consolados. Felizes os mansos,

porque possuirão a terra. Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.

Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia. Felizes os puros de

coração, porque verão a Deus. Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos

de Deus. Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu".

(Mt 5,3-10). O mesmo vale para o juízo final, onde ele não faz nenhuma distinção e se dirige ao

ser humano como tal (Mt 25,31-46).

2ª Pergunta: Jesus, você fez algum curso?

A palavra curso vem de correr: correr pela vida. Como todos nós, Jesus fez o curso da

vida; correu pela vida, desde o nascimento em Belém até a sua morte na cruz em Jerusalém. A

vida como tal foi o grande curso e o concurso de Jesus: Belém, Egito, Nazaré, Galileia, Samaria,

Judeia, Jerusalém. Todos os dias, durante trinta anos em Nazaré: convivendo em casa,

trabalhando na roça e na carpintaria, participando nas reuniões da comunidade todos os

sábados. Havia uma "escola da letra" onde os rapazes aprendiam a ler. Era ministro da Palavra.

Foi convidado para fazer a Leitura.

3ª Pergunta: Quais os recursos que você usava para atrair tanta gente?

Jesus tinha uma grande capacidade de contar parábolas para comparar as coisas de Deus

com as coisas da vida do povo. Isto supõe duas coisas na catequista: estar bem por dentro

das coisas da vida do povo, e estar por dentro das coisas de Deus, do Reino de Deus.

A parábola é uma forma participativa de ensinar e de educar. Não dá tudo trocado em

miúdo. Não faz saber, mas faz descobrir. Ela muda os olhos, faz a pessoa ser contemplativa,

observadora da realidade. Leva a pessoa a refletir sobre sua própria experiência e faz com

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que esta experiência a leve a descobrir que Deus está presente no cotidiano da vida de cada

dia. Por ex. o agricultor que escuta a parábola da semente, diz: “Semente no terreno, eu sei

o que é. Mas Jesus diz que isso tem a ver com o Reino de Deus. O que será que ele quis dizer

com isto?” E aí vem as longas conversas do povo em torno das parábolas que Jesus contava.

A parábola provoca. Em algumas parábolas acontecem coisas que não costumam

acontecer na vida normal. Por exemplo, onde se viu um pastor de cem ovelhas abandonar

noventa e nove no deserto para encontrar aquela única ovelha que se perdeu? (Lc 15,4)

Você faria? Onde se viu um pai acolher com festa o filho devasso, sem dar nenhuma palavra

de censura? (Lc 15,20-24). Seu pai faria? Onde se viu um samaritano ser melhor que o levita

e o sacerdote? (Lc 10,29-37). A parábola provoca para pensar. Ela leva a pessoa a se envolver

na história a partir da sua própria experiência de vida.

Um bispo perguntou numa reunião da comunidade: “Jesus falou que devemos ser como

sal. Para que serve o sal?” Discutiram e, no fim, partilhando entre si suas experiências com o

sal, encontraram mais de dez finalidades para o sal. Aí eles foram aplicar tudo isto à sua

própria vida e descobriram que ser sal é difícil e exigente! Com outras palavras, a parábola

funcionou e ajudou-os a dar um passo. Iniciaram a travessia em direção ao Reino!

Só poucas vezes Jesus explica as parábolas. Geralmente, ele diz: "Quem tem ouvidos

para ouvir ouça!" (Mt 13,9; 11,15; 13,43; Mc 7,16). Ou seja: "É isso! Vocês ouviram! Agora

tratem de entender!" De vez em quando, em casa, ele dava explicação aos discípulos (Mc

4,34-34). Isto significa que o ensino em parábolas era um voto de confiança de Jesus na

capacidade do povo e dos discípulos de entenderem o seu ensinamento. É bom para o

formando saber e experimentar que a catequista acredita nele e na sua capacidade

compreender as coisas.

4ª pergunta: Por que alguns doutores não gostavam do seu jeito de ensinar?

É por tudo isto que acabamos de ver e que pode ser sintetizado nestes sete pontos da

sua atitude como catequista. Era o seu jeito de ensinar com autoridade, diferente dos

escribas e fariseus (Mc 1,22):

1. Jesus irradiava uma nova imagem de Deus como Pai. Falava tanto do Pai que Filipe

chegou a dizer: "Mostra-nos o Pai e basta!" Jesus respondeu a Filipe: "Quem vê a mim, vê o

Pai!" Antes de falar do Pai, mesmo sem dizer uma só palavra, Jesus refletia o Pai: "Quem vê a

mim vê o Pai".

2. Jesus não fazia proselitismo, nem puxava o povo para o seu grupo, mas irradiava um

novo sentido da vida e da lei que atraía as pessoas. Aquilo que ele era ensinava tocava o

desejo mais profundo que todo ser humano sincero tem de justiça e de verdade: "Quem é pela

verdade escuta minha voz!" (Jo 18,37)

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3. Jesus não trazia normas que fechavam e excluíam, mas abria as normas da lei que

fechavam e excluíam. Por 6 vezes ele repetia: "Antigamente foi dito, mas eu digo!" (Mt

5,21.27.31.33.38.43).

4. Jesus não trazia uma nova doutrina, mas com um novo olhar ele relia e explicava a

doutrina dos antigos e corrigia suas limitações (cf. Mc 7,1-23).

5. Jesus, ajudado pela mulher Cananéia, descobriu que ele não veio só para as ovelhas

perdidas de Israel, mas para todos, também para os de outra raça e religião (Mt 15,21-28).

6. Jesus se fazia irmão de todos. Diante da Samaritana, ele se declarava judeu (Jo 4,22).

Para o evangelista João, Jesus não é o judeu que convida os pagãos, mas ele se coloca do lado

dos pagãos e convidava os judeus. Ele diz "vocês" (Jo 8,31), como se ele não fosse judeu.

7. Jesus ensinava que não basta conhecer o sentido exato deste ou daquele texto da Lei

de Deus. Os textos devem ser lidos à luz dele mesmo, pois eles falam de Jesus (Jo 5,46).

Por tudo isto, alguns doutores da lei não gostavam de Jesus e até procuravam um jeito

para matá-lo.

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3ª Parte Perguntas para Jesus,

como Formador de catequistas

Jesus, você formou catequistas, primeiro doze e depois mais setenta e dois. 1. Como você acompanhava cada um deles? 2. Como formava os discípulos envolvendo-os na missão? 3. Como você acompanhava o processo de formação deles? 4. Quais os conteúdos e recursos didáticos que usava? 5. Você também fazia encontros para eles aprender como transmitir a Boa Nova de Deus? 6. Qual o ponto mais importante que nós catequistas devemos levar em conta? 7. Como você usava a Bíblia para a sua vida pessoal e para a catequese?

1ª Pergunta: . Jesus, como você acompanhava cada um dos discípulos?

Ao longo daqueles três anos, Jesus acompanhava os discípulos. Ele era o amigo (Jo 15,15)

que convivia com eles, comia com eles, andava com eles, se alegrava com eles, sofria com eles.

Era através desta convivência amiga que eles se formavam. Muitos pequenos gestos refletem o

testemunho com que Jesus marcava presença na vida dos seus catequizandos: o seu jeito de

ser e de conviver, de relacionar-se com as pessoas e de acolher o povo que vinha falar com ele.

Era a maneira de ele dar forma humana à sua experiência de Deus como Pai:

* Amigo: comparte tudo, até mesmo o segredo do Pai (Jn 15,15).

* Carinhoso: provoca respostas fortes de amor: da moça do perfume (Lc 7,37-38); de um grupo

de mulheres Galileia (Lc 8,2-3; Mc 15,40-41); de Pedro (Jo 6,67; 21,15-17); de Tomé (Jo

11,16); da mulher do frasco de perfume caríssimo (Mc 14,3-9); de tantos e tantas...

* Atencioso: preocupa-se com a alimentação dos discípulos (Jo 21,9), cuida do descanso deles

e procura estar a sós com eles para repousar (Mc 6,31).

* Pacífico: inspira paz e reconciliação: "A Paz esteja com vocês!" (Jn 20,19); “Não tenham

medo, vocês valem muito mais do que muitos pardais” (Mt 10,26-33); manda perdoar

setenta vezes sete (Mt 18,22).

* Compreensivo: aceita os discípulos do jeito que eles são, até mesmo a fuga, a negação e a

traição, sem romper com eles (Mc 14,27-28).

* Comprometido: defende os discípulos quando são criticados (Mc 2,18-19; 7,5-13).

* Manso e humilde: convida os pobres e oprimidos: "Venham todos a mim" (Mt 11,28).

* Exigente: pede para deixar tudo por amor a ele (Mc 10,17-31).

* Sábio: conhece a fragilidade dos seus discípulos, sabe o que se passa no coração deles e, por

isso, insiste na vigilância e ensina-os a rezar (Lc 11,5-13; Mt 6,5-15).

* Homem de oração: reza nos momentos importantes de sua vida e desperta vontade de

rezar: "Senhor, ensina-nos a rezar!" (Lc 11,1-4; cf. Lc 3,21; 6,12; Jn 11,41-42; Mt 11,25; Jn

17,1-26; Lc 23,46; Mc 15,34)

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* Humano: Jesus é humano, “tão humano como só Deus pode ser humano” dizia o Papa Leão

Magno (Séc. V).

Por este seu jeito de ser, Jesus encarnava o amor de Deus e o revelava aos discípulos e

discípulas (Mc 6,31; Mt 10,30; Lc 15,11-32). “Quem vê a mim, vê o Pai” (Jo 14,9). Tornava-se

para eles uma pessoa significativa que os marcou pelo resto de sua vida como "caminho,

verdade e vida" (Jo 14,6).

2ª Pergunta: Jesus, como você formava os discípulos envolvendo-os na missão

Jesus não é um professor que tem alunos que o escutam. É mestre que tem discípulos que

convivem com ele. Jesus os envolve na missão que ele mesmo estava realizando em

obediência ao Pai. Esta participação efetiva no anúncio do Reino fazia parte da catequese que

Jesus dava a eles, pois a missão, isto é, a irradiação da Boa Nova, é a razão de ser da vida

comunitária ao redor de Jesus. (Lc 9,1-2; 10,1). Eis alguns aspectos desta sua atitude

formadora com os discípulos e as discípulas:

* corrige-os quando erram e querem ser os primeiros (Mc 9,33-35; 10,14-15)

* sabe aguardar o momento oportuno para corrigir (Lc 9,46-48; Mc 10,14-15).

* ajuda-os a discernir porque não conseguem expulsar os demônios (Mc 9,28-29),

* interpela-os quando são lentos e não entendem as palavras (Mc 4,13; 8,14-21),

* prepara-os para o conflito e a perseguição (Jo 16,33; Mt 10,17-25),

* manda observar a realidade: "Quem dizem que eu sou?" (Mc 8,27-29; Jo 4,35)

* reflete com eles as questões do momento (Lc 13,1-5),

* confronta-os com as necessidades do povo (Jo 6,5),

* ensina que as necessidades do povo estão acima dos ritos e normas (Mt 12,7.12),

* esquece o próprio cansaço e acolhe o povo que o procura (Mt 9,36-38).

* tem momentos a sós com eles para poder instruí-los (Mc 4,34; 7,17; 9,30-31),

* sabe escutar, mesmo quando o diálogo é difícil: com a samaritana (Jo 4,7-30).

* ajuda as pessoas a se aceitarem a si mesmas: "Pedro, rezei por você!" (Lc 22,32).

* é severo com a hipocrisia (Lc 11,37-53).

* faz mais perguntas do que respostas (Mc 8,17-21).

* é firme e não se deixa desviar do caminho (Mc 8,33; Lc 9,54).

* desperta liberdade: "O homem não foi feito para o sábado" (Mc 2,18.23.27).

* depois de tê-los enviado em missão, na volta faz revisãos (Lc 9,1-2;10,1; 10,17-20)

* pelas parábolas desperta a atenção dos discípulos para as coisas da vida (Lc 8,4-8).

3ª Pergunta: Jesus, como você acompanhava o processo de formação deles?

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Não é pelo fato de uma pessoa andar com Jesus que ela já seja santa. O “fermento de

Herodes e dos fariseus” (Mc 8,15), a ideologia dominante da época, tinha raízes profundas na

vida daquele povo. Não é pelo fato de a criança estar na catequese que ela já seja melhor que

as outras. A conversão que Jesus pede e a formação que ele dá procuram tirar de dentro de

nós esse “fermento” da ideologia dominante. Hoje, a ideologia do sistema neoliberal renasce

sempre de novo na vida das comunidades na nossa vida e na vida das crianças. O "fermento do

consumismo" tem raízes profundas na vida, tanto dos formandos como dos formadores, e

exige uma vigilância constante. Jesus ajudava os discípulos a viverem num processo

permanente de formação e de revisão.

Eis alguns casos desta vigilância com que Jesus acompanhava os discípulos:

* Mentalidade de grupo fechado. Alguém usava o nome de Jesus para expulsar os

demônios. João viu e proibiu. Ele disse: “Impedimos, porque ele não anda conosco” (Mc 9,38).

João pensa ter o monopólio de Jesus e quer impedir que outros usem o nome dele para

realizar o bem. Era a mentalidade antiga de "Povo eleito, Povo separado!" Jesus diz: "Não

impeçam! Quem não é contra é a favor!" (Lc 9,39-40). O que importa não é se a pessoa faz ou

não faz parte da comunidade, mas sim se ela faz ou não o bem que Deus pede de nós.

* Mentalidade do grupo que se considera superior aos outros. Os samaritanos não

queriam dar hospedagem a Jesus. A reação de alguns foi violenta: “Que um fogo do céu acabe

com esse povo!” (Lc 9,54). Queriam imitar o profeta Elias (cf. 2Rs 1,10-11). Achavam que, pelo

fato de estarem com Jesus, todos deviam acolhê-los. Pensavam ter Deus do seu lado para

defendê-los. Era a mentalidade antiga de “Povo eleito, Povo privilegiado!”. Jesus os repreende:

"Vocês não sabem de que espírito estão sendo animados" (Lc 9,55).

* Mentalidade de competição e de prestígio. Os discípulos brigavam entre si pelo

primeiro lugar (Mc 9,33-34). Era a mentalidade de competição, que caracterizava a sociedade

do Império Romano. Ela já se infiltrava na pequena comunidade que estava apenas nascendo

ao redor de Jesus. Jesus reage e manda ter a mentalidade contrária : "O primeiro seja o

último" (Mc 9,35). É o ponto em que ele mais insistiu e em que mais deu o próprio

testemunho: “Não vim para ser servido, mas para servir” (Mc 10,45; Mt 20,28; Jo 13,1-16).

* Mentalidade de quem marginaliza o pequeno. Mães com crianças querem chegar

perto de Jesus. Os discípulos as afastam. Era a mentalidade do medo de que as mães e as

crianças, tocando em Jesus com mãos impuras, causassem nele alguma impureza. Mas Jesus

diz: ”Deixem vir a mim as crianças!” (Mc 10,14). Ele os acolhe, abraça e abençoa. Coloca a

criança como professora de adulto: “Quem não receber o Reino como uma criança, não pode

entrar nele” (Lc 18,17). Jesus transgride as normas da pureza legal que impediam o

acolhimento e a ternura.

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* Mentalidade de quem segue a opinião da ideologia dominante. Os discípulos per-

guntam a Jesus: "Quem pecou, ele ou seus pais, para que nascesse cego?" (Jo 9,2). Era opinião

comum achar que sofrimento e doença fossem fruto de pecado. Enquanto se pensa assim não

é possível perceber todo o alcance da boa-nova do Reino. Jesus os ajuda a ter uma visão mais

crítica: “Nem ele, nem os pais dele, mas para que nele se manifestem as obras de Deus” (cf. Jo

9,3). A resposta de Jesus supõe uma consciência nova e uma leitura diferente da realidade.

Tudo isto mostra como Jesus estava atento ao processo de formação dos discípulos. O

catequista Jesus tinha visão crítica da sociedade em que vivia e do “fermento” que os grandes

comunicavam ao povo. Além disso, ele tinha uma percepção clara de como este “fermento”,

disfarçadamente, se infiltrava até na vida dos discípulos.

4ª Pergunta: Jesus, quais os Conteúdos e Recursos didáticos que você usava

O sistema educativo da época de Jesus era diferente de hoje. Jesus era Mestre. Não era

professor. Seus formandos não eram alunos, mas sim discípulos. Mesmo assim, apesar das

diferenças, vamos arriscar uma resposta para a pergunta: Quais eram os recursos didáticos em

que Jesus mais insistia e a que ele dava mais atenção no processo de formação dos discípulos?

* O testemunho de vida. O recurso básico é o testemunho de vida: "Segue-me"(Lc 5,27)

“Venham e vejam” (Jo 1,39). "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jn 14,16). O discípulo tem

na vida do Mestre sua norma (Mt 10,24-25). Jesus reflete para os catequizandos o rosto de

Deus: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo 14,9). A raiz da catequese: a coerência: viver o que anuncia.

* A Vida e a natureza. Jesus descobre e revela a vontade do Pai nos fenômenos da

natureza: na chuva que cai sobre bons e maus (Mt 5,45); nos pássaros e nos lírios (Mt 6,26-30).

A parábola provoca a reflexão sobre as coisas mais comuns da vida (Mt 13,1-52; Mc 4,1-34). As

parábolas de Jesus são um retrato da vida do povo e da realidade conflituosa da época.

* As grandes questões do momento e as perguntas do povo. O crime de Pilatos contra

os romeiros da Galileia, a queda da torre de Siloé que matou 18 operários (Lc 13,1-4), a discus-

são em torno de quem é o maior (Mc 9,33-36), a fome do povo (Lc 9,13), o ensinamento dos

escribas (Mc 12,35-37): estes problemas funcionavam como gancho para Jesus levar os

discípulos a refletir, a cair em si e a descobrir algum ensinamento ou apelo de Deus.

* O jeito de ensinar em qualquer lugar. Nas sinagogas nos sábados (Mc 1, 21; 3,1; 6,2);

em reuniões nas casas (Mc 2,1.15; 7,17; 9,28; 10,10); andando pelo caminho (Mc 2,23); na

praia, sentado num barco (Mc 4,1); no deserto onde o povo o procurava (Mc 1,45; 6,32-34); na

montanha, onde proclamou as bem-aventuranças (Mt 5,1); nas praças, onde povo carregava

seus doentes (Mc 6,55-56); no Templo de Jerusalém, por ocasião das romarias, (Mc 14,49).

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* Memorização na base da repetição. Não havia livros, nem manuais como hoje. O

ensina era baseado na repetição do conteúdo a fim de favorecer a memorização. Isto ainda

transparece em algumas partes dos discursos de Jesus, conservados nos evangelhos. O final do

Sermão da Montanha, por exemplo, repete duas vezes, de maneira rítmica, com poucas

diferenças, a mesma frase (Mt 7,24-25 e 26-27). Nós fazemos o mesmo com as crianças para

ensinar certas orações ou para decorar algumas frases importantes de Jesus.

* Momentos a sós com os discípulos. Várias vezes, Jesus convida os discípulos para ir

com ele a um lugar distante, seja para instruir (Mc 4,34; 7,17; 9,30-31; 10,10; 13,3), seja para

descansar (Mc 6,31). Ele chegou a fazer uma viagem ao exterior na terra de Tiro e Sidônia para

poder estar a sós com eles e instruí-los a respeito da Cruz (Mc 8,22-10,52).

* A Bíblia e a história do povo. É inegável o uso frequente que Jesus fazia da Bíblia. Ele

conhecia a Bíblia de cor e salteado. Jesus se orientava pela Bíblia para realizar sua missão e a

usava para instruir os discípulos e o povo.

* A Cruz e o sofrimento. Quando ficou claro que as autoridades decidiram matar Jesus,

ele começou a falar da cruz (Lc 9,31). Isto provocou reações fortes nos discípulos (Mc 8,31-33),

pois na lei estava escrito que um crucificado era um “maldito de Deus” (Dt 21,22-23). Como

um maldito de Deus poderia ser o Messias? Por isso, a partir deste momento crítico, o eixo da

formação que Jesus dava aos discípulos consistia em ajudá-los a superar o escândalo da Cruz

(Mc 8,31-34; 9,31-32; 10,33-34).

5ª Pergunta: Jesus, você fazia encontros para ensinar a transmitir a Boa Nova?

6ª Pergunta: . Qual o ponto mais importante que devemos levar em conta?

A resposta a esta pergunta está incluída nas palavras que Jesus dirigiu aos setenta e dois

discípulos ao enviá-los em missão. Aqui segue o texto e Lucs 10,1-9. Leia o texto e tente

descobrir a resposta para esta nossa 6ª pergunta:

1 O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos, e os enviou dois a dois, na sua

frente, para toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir. 2 E lhes dizia: "A colheita é

grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso peçam ao dono da colheita que mande trabalhadores para a colheita.

3 Vão! Estou enviando vocês como cordeiros

para o meio de lobos. 4 Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias, e não parem no caminho, para cumprimentar ninguém.

5 Em qualquer casa onde entrarem, digam

primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’ 6 Se aí morar alguém de paz, a paz de vocês irá

repousar sobre ele; se não, ela voltará para vocês. 7 Permaneçam nessa mesma casa, comam e bebam do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem passando de casa em casa. 8 Quando entrarem numa cidade, e forem bem recebidos, comam o que servirem a vocês,

9 curem os doentes que nela houver. E

digam ao povo: ‘O Reino de Deus chegou para vocês!’

Lucas 10,1-3: A Missão.

* Jesus escolheu: a escolha é dele.

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* Setenta e dois: Números 11,16 e 26

* Jesus envia os discípulos na sua frente para os lugares aonde ele próprio deve ir. O

discípulo é porta-voz de Jesus. Não é dono da Boa Nova.

* Ele os envia dois a dois. Duas pessoas representam melhor a comunidade.

Lucas 10,2-3: A Corresponsabilidade.

* A primeira tarefa é rezar para que Deus envie operários. O discípulo deve sentir-se

responsável e rezar pela continuidade da missão.

* Jesus diz: "Vão!" É o envio. É importante criar consciência de enviado.

* Jesus envia seus discípulos como cordeiros no meio de lobos. A missão é difícil e perigosa.

O sistema era e continua sendo contrária à Boa Nova de Deus e contrária a um vida em

comunidades vivas e fraternas.

Lucas 10,4-6: A Hospitalidade.

* Não levar nada. Só devem levar a paz. Devem ser pessoas pacíficas, acolhedoras.

* Não levar nada significa confiar na hospitalidade do povo. O discípulo pacífico que vai

sem nada, mostra que confia no povo. O povo se sente respeitado.

* A Boa Nova não está só em nós, mas também na participação do povo.

* Deste modo o discípulo critica as leis de exclusão e resgata os antigos valores da

convivência comunitária.

* Não saudar ninguém pelo caminho: não perder tempo com coisas que não sã da missão.

Evoca Eliseu: a missão é uma missão de vida (cf. 2Rs 4,29)

Lucas 10,7: A Partilha.

* Não andar de casa em casa, mas permanecer na mesma casa. Conviver e participar da

vida e viver do que recebe, pois o operário merece o seu salário.

* Isto significa que devem confiar na partilha, na ajuda mútua.

* Assim, resgatam uma antiga tradição do povo, criticam a cultura de acumulação que

marcava a política do Império Romano (e marca a cultura consumista de hoje) e

anunciam um novo modelo de convivência.

* Lucas 10,8: A Comunhão de mesa.

* Os outros missionários não confiavam na comida do povo que nem sempre era

ritualmente “pura”, e enfraqueciam a vivência comunitária.

* Comer o que o povo lhes oferece. Não podem viver separados, comendo sua própria

comida. Aceitar a comunhão de mesa; convivência amiga.

* Não ter medo de perder a pureza legal. Agindo assim, criticam as leis da pureza em vigor

e anunciam um novo acesso à pureza, isto é, à intimidade com Deus.

Lucas 10,9a: A Acolhida aos excluídos.

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* Devem tratar dos doentes, curar os leprosos e expulsar os demônios (Mt 10,8). Isto é,

devem acolher para dentro da comunidade os que dela foram excluídos.

* Esta prática solidária critica a sociedade excludente e aponta saídas concretas. É o que

hoje faz a pastoral que acolhe os excluídos, os migrantes, os marginalizados.

Lucas 10,9b: A chegada do Reino.

* Caso estas exigências forem preenchidas, podem gritar: O Reino chegou!

* Anunciar o Reino é levar as pessoas a uma nova maneira de viver e de conviver como

irmãos e irmãs a partir da Boa Nova de Jesus de que Deus é Pai.

* A gente sente algo desta atitude no jeito de ser e de conversar do Papa Francisco. Ele cria

proximidade com o povo, mesmo vivendo longe de nós lá em Roma.

7ª Pergunta: Como você usava a Bíblia para sua vida pessoal e para a catequese?

São três as características do uso que Jesus fazia da Bíblia: familiaridade, liberdade,

fidelidade. Vamos ver de perto cada uma destas três características:

1. Familiaridade

O que caracteriza o uso que Jesus fazia da Bíblia é a familiaridade. Passando os olhos pelos

quatro evangelhos, a gente percebe que, para Jesus, a Bíblia não era um livro estranho, nem

um livro de estudo ou um manual a ser decorado, mas sim um espelho onde encontrava

refletida a vida do povo com seus problemas. Jesus ligava a Bíblia com a vida do povo para

iluminar os fatos e esclarecer as perguntas do povo. Ele conhecia tanto os livros como as

etapas e os personagens da história do seu povo. Com a máxima facilidade ele usa e cita a

Bíblia para esclarecer, ensinar, discutir, rezar, formar, se defender, provocar.

Escutando os ensinamentos de Jesus, você escuta neles a história da Bíblia inteira, do

começo ao fim: desde Abraão, Isaque e Jacó (Mc 12,26), a história de Moisés na sarça ardente

(Mc 12,26), as prescrições da Lei sobre a pureza legal (Mc 1,44; 7,10) e sobre o divórcio (Mc

10,3), até Jonas (Mt 12,39-41), a rainha do Sul (Mt 12,42), Salomão (Lc 11,31), Elias, Eliseu e as

histórias de Naamã o Sírio e da viúva de Sarepta (Lc 4,25-27), e tantos outros. Ao jovem rico

ele lembra os mandamentos da lei de Deus (Mc 10,19). Na expulsão dos vendedores do

templo, ele cita de memória textos de Jeremias: “Vocês fizeram do templo uma toca de

ladrões” (Mc 11,17 e Jr 7,11), e de Isaías: “Minha casa será chamada casa de oração para todos

os povos” (Mc 1,17 e Is 56,7). Cita Oséias: “Quero misericórdia e não sacrifício” (Mt 9,13; 12,7

e Os 6,6). Cita o primeiro mandamento do livro do Deuteronômio (Mc 12,29-30 e Dt 6,4-5) e a

lei do amor ao próximo do livro do Levítico (Mc 12,31 e Lv 19,18), etc. etc..

O resultado do longo aprendizado de trinta anos em Nazaré transparece, sobretudo, na

facilidade e na frequência com que Jesus usa, reza e cita os salmos. Os salmos eram o livro de

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canto que todos sabiam de memória. Jesus os cita e evoca nas bem-aventuranças, nas

parábolas, no Sermão da Montanha: “Felizes os mansos, porque herdarão a terra” (Mt 5,4; Sl

37,11); “Felizes os que choram porque serão consolados” (Mt 5,5; Sl 126,5); “Felizes os puros

de coração, porque verão a Deus” (Mt 5,8; Sl 24,3-4); O pai que vê em segredo, escutará a

prece feita em segredo (Mt 6,4; Sl 139,2-3). O abandono à providência divina (Mt 6,25-34; Sal

127). A parábola da vinha (Mc 12,1; Sl 80,9-19). “Eu sou o bom pastor” (Jo 10,11; Sl 23).

Nas discussões com os fariseus e doutores os textos da Bíblia que ele mais cita

espontaneamente são os salmos. Sinal de que os conhecia de memória. Eles estavam na ponta

da língua. “Da boca dos pequeninos e das criancinhas preparaste um louvor para ti” (Mt 21,16;

Sl 8,3 LXX). “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular” (Mt 21,42; Sl

118,23). “O Senhor disse ao meu Senhor: senta-te à minha direita” (Mt 22,44; Sl 110,1).

“Vereis o Filho do Homem sentado à direita do Poderoso” (Mc 14,62; Sl 110,1)

Jesus revela sua união com o Pai através da reza dos salmos, sobretudo na hora do

sofrimento. No Horto, ele desabafa “Minha alma está triste” (Mc 14,34). A frase lhe é

fornecida por vários salmos (Sl 31,9-10; 42,5-6). Na cruz, ele reza dois salmos: “Meu Deus!

Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Mc 15,34; Sl 22,1) e “Em tuas mãos entrego o meu

espírito” (Lc 23,46; Sl 31,6).

Nos três anos da sua atividade pastoral Jesus praticou o que aprendeu nos trinta anos em

Nazaré. Sua ação pastoral é o reflexo da leitura que fazia da Bíblia em casa e na comunidade.

Sem este ambiente orante comunitário não se entende o uso que Jesus fazia da Bíblia. O Pai-

Nosso é um resumo orante de tudo que Jesus ensinou e no qual retoma os grandes

ensinamentos que vinham desde o Antigo Testamento: santificação do Nome, vinda do Reino,

realização da vontade expressa na lei, o maná ou o pão de cada dia, perdão das dívidas,

resistência contra as tentações (Mt 6,9-13). Na “Regra de Ouro” Jesus oferece um resumo

prático de tudo que a lei e os profetas ensinavam (Mt 7,12).

2. Liberdade

A característica da familiaridade indica não só o amplo conhecimento que Jesus tinha da

Bíblia, mas também a consciência de que a Bíblia não é um livro estranho que pertence aos

outros, mas é da nossa família. Esta consciência de “pertença familiar” vinha do ambiente

comunitário no qual se lia, usava e se transmitia a Bíblia. É nosso livro, fala de nós! Eu não

posso dispor de algo que não é meu. Mas quando uma coisa me pertence, quando ela é nossa,

aí tenho a liberdade de dispor dela. Jesus revela esta liberdade frente às Escrituras Sagradas do

seu povo, não para usá-las em seu próprio benefício, mas para expressar a sua total fidelidade

ao sentido mais profundo da mensagem de Deus, revelada na Bíblia.

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Jesus critica fortemente os doutores que insistem na observância da letra da lei e que, por

isso mesmo, já não percebem o objetivo da lei: “Ai de vocês, doutores da Lei e fariseus

hipócritas! Vocês pagam o dízimo da hortelã, da erva-doce e do cominho, e deixam de lado os

ensinamentos mais importantes da Lei, como a justiça, a misericórdia e a fidelidade. Vocês

deveriam praticar isso, sem deixar aquilo. Guias cegos! Vocês coam um mosquito, mas

engolem um camelo” (Mt 23,23-24)

Jesus critica o fundamentalismo que em nome de uma pretensa fidelidade transgride o

objetivo da lei: “Vocês são bastante espertos para deixar de lado o mandamento de Deus a fim

de guardar as tradições de vocês. Com efeito, Moisés ordenou: 'Honre seu pai e sua mãe'. E

ainda: 'Quem amaldiçoa o pai ou a mãe, deve morrer'. Mas vocês ensinam que é lícito a

alguém dizer a seu pai e à sua mãe: 'O sustento que vocês poderiam receber de mim é Corbã,

isto é, consagrado a Deus'. E essa pessoa fica dispensada de ajudar seu pai ou sua mãe. Assim

vocês esvaziam a Palavra de Deus com a tradição que vocês transmitem. E vocês fazem muitas

outras coisas como essas" (Mc 7,9-13).

Esta liberdade com que Jesus interpretava a Bíblia incomodava os doutores. Em nome da

compreensão fundamentalista da lei eles criticam a atitude pastoral de Jesus e se recusam a

crer nele (Mc 2,7.16.18.24; 3,2-4.22; 7,1-8). Eles o observam para poder acusá-lo, e a acusação

sempre vem da Bíblia, isto é, da interpretação que eles faziam da Bíblia. As respostas de Jesus

às acusações dos conservadores também são tiradas da Bíblia. Nas respostas em torno do que

pode e não pode em dia de Sábado, Jesus cita as palavras de Oséias (Mt 9,11-13 e Os 6,6),

lembra como o próprio Davi transgredia a lei para atender à fome dos seus companheiros (Mc

2,25-26), e esclarece o sentido exato da pureza, quebrando assim o literalismo das

interpretações dos doutores e fariseus (Mc 7,5-8.14-22). Esta liberdade no uso da Bíblia o

colocou em conflito com as autoridades religiosas e foi a causa da sua condenação à morte.

Ele esclarece João Batista que, em nome da sua maneira estreita de entender a Bíblia,

ficou na dúvida a respeito de Jesus: “É o senhor ou devemos esperar por outro?” (Mt 11,2-3).

Jesus usa textos de Isaías para ajudar o amigo a ler melhor os fatos da vida: “Vão e digam a

João o que estão vendo e ouvindo: Cegos vêem, coxos andam, leprosos são limpos, e feliz

quem não se escandalizar comigo!” (Mt 11,4-6 e Is 35,5-6)

Quando recebe a notícia da prisão de João Batista (Mc 1,14), Jesus capta a palavra de Deus

nos sinais dos tempos (cf. Mt 16,3) e diz: “Esgotou-se o prazo, o reino de Deus chegou! Mudem

de vida e acreditem nesta Boa Notícia” (Mc 1,15). Esta sua maneira de ler os fatos à luz da

Bíblia dá olhos novos para perceber a presença do Reino de Deus no meio do povo. O Reino já

estava aí, mas ninguém o percebia (Lc 17,20-21). Jesus o percebe e o revela (Mt 16,1-3).

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O anúncio do Reino é o centro do ensino de Jesus ao povo. Nas parábolas, ele usa as coisas

mais simples do dia-a-dia para ajudar o povo a perceber a presença do Reino nos fatos da vida.

Deste modo, a própria vida com todos os seus detalhes começa a ser um instrumento para

poder entender a mensagem mais central das promessas em torno do Reino de Deus. Jesus

sabe usar o “segundo livro de Deus” que é a Bíblia para ajudar o povo a entender “o primeiro

livro de Deus” que é a vida.

3. Fidelidade

Por causa desta sua liberdade na interpretação da Bíblia, Jesus foi criticado. Diziam que ele

estava acabando com a Lei de Deus e com a Tradição dos Antigos. Ele responde: “Não vim para

acabar com a Lei, mas para levá-la ao pleno cumprimento” (Mt 5,17). E dizia: “Se a justiça de

vocês não for maior do que a justiça dos escribas e fariseus, vocês não vão poder entrar no

Reino de Deus” (Mt 5,17).

Jesus ajuda o povo a ultrapassar a letra e descobrir o espírito da lei. O Sábado servir à vida

(Mc 2,27). No Sermão da Montanha, seis vezes em seguida ele tem a coragem de dizer:

“Antigamente foi dito, mas eu digo” (Mt 5,21-22.27-28.31-32.33-34.38-39.43-44). Assim ele

esclarece o objetivo último do mandamento “Não matarás!” Só observa plenamente este

mandamento aquele que for capaz de eliminar de dentro de si tudo aquilo que de uma ou de

outra maneira possa levar ao assassinato, como raiva, xingamento e briga (Mt 5,21-22). E ele

faz o mesmo com os mandamentos que proíbem o adultério (Mt 5,27-28), o falso testemunho

(Mt 5,33-37) e com os costumes e práticas, como, por exemplo: “Olho por olho, dente por

dente” (Mt 5,38-39) e “Ame o seu próximo e odeie o seu inimigo” (Mt 5,43-44). O ideal

supremo, diz Jesus, é “ser perfeito como é perfeito o Pai de vocês que está no céu!” (Mt 5,48).

Na longa instrução aos discípulos no evangelho de Marcos (Mc 8,27 a 10,45), Jesus os

ajuda a entender o verdadeiro sentido da profecia de Isaías sobre o Servo de Javé. Ele cita três

vezes aquelas palavras da profecia que falam do sofrimento e da morte do Servo e as aplica a

si mesmo (Mc 8,31; 9.31; 10,33-34). Mas os discípulos não deram conta de entender a

interpretação de Jesus (Mc 8,32-33; 9,32). Em vez de pensar na cruz, pensavam na sua própria

promoção. Jesus tentou ajudá-los (Mc 10,35-45), mas nem sempre o conseguia. A catequese

tradicionalista os impedia de perceber a novidade trazida por Jesus.

Em outras ocasiões, Jesus corrige a interpretação dos fariseus a respeito da lei referente

ao divórcio (Mt 19,3-9), critica a visão errada dos escribas sobre o retorno de Elias (Mc 9,11-

13) e provoca dúvida a respeito da exatidão do ensino dos conservadores: “Como é que eles

podem dizer que o Messias é filho de Davi se o próprio Davi o chama de Meu Senhor?” (Mc

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12,35-37). Para os discípulos Jesus esclarece o sentido das parábolas e diz que a eles é dado

conhecer o mistério do Reino de Deus (Mc 4,10-11).

O evangelho de Lucas usa o episódio de Emaus para sugerir aos cristãos dos anos 80 o

método que Jesus usava na interpretação da Bíblia (Lc 24,13-35). A primeira atitude de Jesus é

aproximar-se, caminhar junto e escutar a conversa. Ele faz perguntas e quer saber o que estão

falando (Lc 24,15-19). Ele só começa a usar a Bíblia depois que eles conseguiram expressar o

problema que os agitava por dentro. E ele usa a Bíblia não para dar uma aula sobre a Bíblia,

mas para iluminar o problema da vida (Lc 24,25-27). E a Bíblia, ela sozinha, não abre os olhos,

não faz enxergar. Ela faz arder o coração (Lc 24,32), isto sim. Mas o que faz enxergar de fato é

o gesto comunitário da hospitalidade, de sentar juntos à mesa, de rezar juntos e de partilhar

juntos o pão. Aí os olhos se abrem e eles mesmos ressuscitam (Lc 24,28-31).

2. Jesus, como é que você lia e usava a Bíblia para a sua vida pessoal?

Jesus definia sua vida nesta frase: "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas

para servir e dar sua vida em resgate para muitos" (Mc 10,45). Nesta frase estão implicados os

três títulos que Jesus mais gostava de usar para si: Filho do Homem, Servo ou Servidor e

Resgatador (Salvador, Libertador). Foi através da janela destes três títulos, que os primeiros

cristãos transmitiam o significado de Jesus para as suas vidas. Os três títulos vem do Antigo

Testamento. Sinal de que Jesus se alimentava da Bíblia.

O Filho do Homem se caracteriza pela humanidade. O Servo de Deus, pelo serviço. O

Redentor, pela acolhida aos excluídos. Humanizar, Servir, Acolher. Estas três atitudes mostram

como Jesus realizou sua missão como "missionário de Deus" Elas são um resumo de como

Jesus encarava sua prática missionária para revelar a Boa Nova de Deus. Vamos ver de perto o

significado de cada um destes três títulos