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Encontro Internacional Participação, Democracia e Políticas
Públicas: aproximando agenda e agentes.
23 a 25 de abril de 2013, UNESP, Araraquara (SP).
ATRELANDO PARTICIPAÇÃO POLÍTICA E FORMAÇÃO CIDADÃ AO
ENSINO TÉCNICO ATRAVÉS DE PROJETOS DE HAE.
Daniel Bruno da Silva1 – Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, [email protected]
Juliana Tavares Pereira Cardoso2– Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza, [email protected]
André Galindo da Costa3 – Universidade de São Paulo, [email protected].
1 Daniel Bruno da Silva é licenciado em Ciências Sociais pela Faculdade Faceres de São José
do Rio Preto, é professor nas áreas de história, ética e cidadania, sociologia e filosofia no Centro Paula Souza, projetos político-sociais e cursa pós-graduação em sociologia política. 2 Juliana Tavares Pereira Cardoso é bacharel e licenciada em direito, advogada com
experiência em diversas ong’s de defesa de direitos sociais e ambientais, professora de disciplinas jurídicas no Centro Paula Souza, cursa pós-graduação em Direito Civil na Universidade Paulista. 3 André Galindo da Costa é bacharel em Administração Pública pela UNESP de Araraquara,
licenciado em Administração pela FATEC-SP, professor nas disciplinas de gestão, contabilidade e metodologia na ETESP do Centro Paula Souza e cursa pós-graduação em nível de mestrado no programa em Mudança Social e Participação Política na Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH) da Universidade e São Paulo (USP).
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RESUMO
No Brasil a educação técnica e profissionalizante historicamente esteve
dissociada de uma formação crítica e cidadã, já que seu objetivo sempre
pareceu ser unicamente a formação das classes subalternas como mão de
obra para o mercado de trabalho. Mudanças geradas pelo processo de
globalização que demandam dos profissionais uma visão mais ampla da
realidade junto às premissas de responsabilidade social parecem ser uma
oportunidade para a alteração desse quadro. Esse artigo tem por objetivo
relatar a experiência da ETEC profª Marinês Teodoro de Freitas Almeida no
município de Novo Horizonte-SP, onde através de dois projetos de HAE e uma
parceria conjunta entre professores, alunos e comunidade foi possível iniciar
uma experiência participativa através das audiências públicas orçamentárias.
INTRODUÇÃO
Este artigo tem por objetivo realizar uma analise das experiências
pedagógicas da ETEC profª Marinês Teodoro de Freitas Almeida. Para tanto é
feito um estudo teórico, a partir de uma pesquisa bibliográfica e um estudo
empírico que se baseou na análise desses atos e também na entrevista
estruturada e semiestruturada e no depoimento de algumas pessoas que de
certa forma envolveram-se com o mesmo.
As atividades deram-se através de dois projetos de HAE. O primeiro
recebeu o nome de “Participação social nos gastos públicos de Novo
Horizonte” que se restringiu predominantemente à comunidade escolar e que
por já estar concluído nos permitiu realizar uma análise mais criteriosa de seus
resultados que serão analisados neste trabalho a partir de algumas teorias que
consideramos pertinentes. O segundo chama-se “Viabilizando a participação
de associações de bairro em audiências públicas orçamentárias” e por ter sido
iniciado suas atividades recentemente e ter seu período de execução por todo
ano de 2013 realizamos apenas uma breve análise de suas premissas já que o
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mesmo ainda não foi capaz de nos fornecer informações claras sobre o seu
resultado.
O segundo capítulo desse artigo leva o nome de “O ensino técnico e
profissionalizante no Brasil e sua herança produtivista”. Através de uma
pesquisa bibliográfica ele nos mostra como o ensino técnico e
profissionalizante no Brasil sempre foi uma formação destinada às classes
subalternas e que buscou atender as necessidades imediatas do mercado de
trabalho. Nessa seção é realizada uma breve construção histórica que destaca
o período do regime militar como o de maior aprofundamento e intensificação
desse caráter. Além disso, recorremos a autores como Paulo Freire para
apresentar como a educação também pode ser um instrumento para promover
a libertação do indivíduo de certas condições sociais de sujeição. Também nos
utilizamos do Relatório da reunião educação para o século XXI da UNESCO
para mostrar como o contexto de globalização requer uma formação mais
ampla onde se inclui também a formação cidadã.
No terceiro capítulo, intitulado como “A teoria da ação coletiva na busca
de uma gestão democrático-participativa”, temos a delimitação do conceito de
ação coletiva, também através de uma pesquisa bibliográfica. Revisitamos o
termo a fim de apresentar um importante arcabouço teórico que tanto motivou
os elaboradores dos projetos como também nos serve para iluminar na
observação de nosso objeto de estudo. Assim ele nos dá base teórica para o
desenvolvimento da pesquisa empírica posterior. Cabe ressaltar que o conceito
passou por diversas acepções durante todo o século XX e que tentamos aqui
destacar os seus principais autores e corrente teóricas.
O quarto e último capítulo nos apresenta a pesquisa empírica realizada a
fim de apresentar os projetos de HAE desenvolvidos na ETEC Marinês
Teodoro de Freitas Almeida da cidade de Novo Horizonte-SP. Esses
apresentam a priori uma característica bem peculiar já que buscam introduzir a
participação política e gerar processos de cidadania, em um ambiente que não
teve isso como prática rotineira ao longo da historia, no caso no ensino técnico
e profissionalizante da referida unidade escolar. O título dessa seção é “Os
projetos de HAE no estimulo da educação cidadã e da participação política”.
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Em um primeiro instante realizamos uma análise documental da
estrutura dos dois projetos de HAE apresentados no início da introdução a fim
de evidenciar suas principais características formais. Para que houvesse um
enriquecimento da pesquisa, também nos utilizamos dos resultados de uma
pesquisa estruturada aplicada aos alunos da escola a fim de medir seu
interesse por questões que envolvem política, uma pesquisa semiestruturada
com figuras relevantes no desenvolvimento dos projetos e o depoimento em
forma de relato de um funcionário de caráter técnico da prefeitura de Novo
Horizonte.
O ENSINO TÉCNICO E PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL E SUA
HERANÇA PRODUTIVISTA.
Tradicionalmente no Brasil o ensino técnico e profissionalizante é
desprovido de uma formação que favoreça o desenvolvimento da cidadania
entre os alunos. Analisando os antecedentes históricos é possível perceber o
quanto essa forma de ensino esteve sempre voltada para as classes
subalternas e as necessidades imediatas do mercado de trabalho.
Jacometti (2008) destaca como o fortalecimento do ensino técnico,
esteve vinculado com a preocupação de que os filhos da classe trabalhadora
adquirissem uma profissão e adentrasse no mercado do trabalho, em 1909
com o governo Nilo Peçanha. Se voltarmos para o período colonial talvez a
situação fosse mais lastimável já que segundo o Ministério da Educação (2007)
os primeiros aprendizes de ofício foram escravos índios e negros, e a sua
formação era completamente voltada para ações práticas, não apresentando
nenhuma possibilidade de reflexão crítica e de mudança na realidade social
daquelas pessoas.
Um marco histórico em toda essa situação e que impulsionou esse
quadro para atualidade foi o advindo da Lei 5.692/71, durante o regime militar.
Essa lei obrigou que as escolas de 2° grau tivessem cursos profissionalizantes
integrados. Enquanto isso foi determinante pra alunos advindos de classes
subalternas os indivíduos pertencentes a classes mais privilegiadas tinham a
possibilidade de focar seus estudos em uma carreira universitária e na
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educação de ponta, gerando assim um ciclo vicioso na educação brasileira
(JACOMETTI, 2008).
Saviani (2008) mostra como as influências da ditadura militar na
promoção de um modelo de educação produtivista focado na eficiência,
racionalidade e produtividade vieram a influenciar também a Diretrizes e Bases
da educação Nacional (LDB) em 1996 e o Plano Nacional de Educação de
2001. Isso porque essas normas carregam muito fortemente a teoria do capital
humano vendo a educação como formação de recursos humanos para o
desenvolvimento econômico numa ordem capitalista.
O atual contexto de globalização que traz juntamente um intenso
desenvolvimento tecnológico, a internacionalização das economias e um
grande fluxo de comunicação e conhecimento parecem tornar insustentável
essa dinâmica produtivista do ensino técnico e profissionalizante (MARTINS,
2000). A atual dinâmica de flexibilização no mundo de trabalho e ascensão
constante do setor de serviços demanda cada vez mais pessoas com uma
formação mais dinâmica e interdisciplinar, preparados para as diversas
circunstâncias do mundo da vida. Dessa forma o tecnicismo passa a ser
colocada em questionamento.
A Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI convocada
pela ONU e pela UNESCO produziu um relatório que dava como diretrizes da
educação para os novos tempos o desenvolvimento entre os alunos da
capacidade de abstração, de desenvolvimento complexo e inter-relacionado, de
habilidade de experimentação, de capacidade de colaboração, de trabalho em
equipe e de interação com os pares (UNESCO, 1994).
Costa, Silva e Cardoso (2013, p.10) realizando uma análise dessa
realidade do ensino técnico diante das novas demandas da sociedade sugerem
que existe:
[...] a necessidade de a educação técnica incluir em seus objetivos de
formação habilidades e competências voltadas para a complexidade
do mundo contemporâneo e o desenvolvimento no aluno de
capacidades interdisciplinares se torna emergente. Além disso, a
formação da cidadania atrelada a preparação para o mercado de
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trabalho são condição de desenvolvimento social nessa nova
realidade.
Rossi e Hölfing (2009) destacam como atualmente é necessária uma
valorização da relação escola-comunidade já que a mesma tem potencial de
melhorar a qualidade da experiência escolar e o desempenho do aluno, e
potencializar as práticas educativas em momentos de produção de
conhecimento, de partilhas coletivas e cooperativas de naturezas sociais.
Também consideramos como muito importantes para o desenvolvimento
das atividades escolares, onde se incluem os projetos, as premissas teóricas
do pedagogo brasileiro Paulo Freire. Conforme Rubio (1997) a sociedade
capitalista é dividida em classes e os menos favorecidos economicamente não
são privilegiados com uma educação de qualidade e voltada para a sua
realidade. Para Freire (2011) a educação na América Latina deveria servir
como de transformação cultural e mudança social.
Freire (2011) enfatiza como o processo educativo deve ser também um
processo de tomada de consciência da realidade. Sob essa concepção a
construção do saber deve se dar na construção de uma visão critica da
realidade e na transformação da realidade social mediante o conhecimento.
Todas essas apresentações teóricas que fizemos até aqui servem para
demonstrar um pouco dos problemas e vícios históricos arraigados no ensino
técnico e profissionalizante no Brasil. Também serviu para demonstrar as
teorias que nos influenciam na tentativa de criar condições pedagógicas de
mudança desse quadro.
Na próxima seção desse artigo estaremos apresentando a teoria da
ação coletiva e de como ela nos serviu como norteador para o desenvolvimento
dos projetos escolares em questão. Assim temos realizado trabalhos na
tentativa de superar o tecnicismo e ao mesmo tempo promover a cidadania e o
associativismo partindo das premissas teóricas da ação coletiva. Esperamos
assim preparar melhor os alunos para a complexidade do mundo globalizado e
gerar uma pedagogia mais autônoma e libertadora.
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ATEORIA DA AÇÃO COLETIVA NA BUSCA DE UMA GESTÃO
DEMOCRÁTICO-PARTICIPATIVA.
Mesmo apresentando várias designações sobre diferentes abordagens,
ação coletiva é um conceito importante para entendermos as várias formas de
associação e mobilização social na atualidade. Talvez a definição mais
abrangente e menos criteriosa dada a ela seria a da busca de um objeto ou um
conjunto de objetos por mais de uma pessoa, sendo tema de estudos e tendo
formulações e teorias nas diversas áreas das ciências sociais. Para Maciel
(2001) ações coletivas são estratégias de mobilização e quadros interpretativos
utilizados por agentes para influenciar no debate público e nos processos
decisórios.
Olson (2011) utiliza-se de modelos econômicos para a análise de grupos
sociais e de ação coletiva. Nessa concepção os indivíduos seriam seres
utilitaristas que buscam apenas maximizar seus benefícios individuais dentro
de associações organizadas. No entanto ele pontua que em certos casos o
objetivo é mais facilmente alcançado pela associação do que pelos indivíduos,
isso justificaria a ação coletiva.
Criando uma relação causal, Olson (2011) afirma que os desejos
humanos possuem partes em comum. O reconhecimento que há interesses em
comum entre as pessoas levaria ao que Marx chama de consciência, isso pode
ocasionar o planejamento de atuações coordenadas para alcança-los que
constituiria como ação coletiva. Ação coletiva então seria fruto do
reconhecimento consciente do interesse comum.
Olson (2011) também nos apresenta alguns possíveis problemas e
alguns procedimentos que podem facilitar a ação coletiva. Entre os problemas
ele nos indica que pelo fato das pessoas buscarem maximizar seus benefícios
individuais dentro de associações organizadas o tamanho da organização pode
ser uma variável explicativa do sucesso ou fracasso da ação coletiva.
Nos grupos extensos já que os objetivos podem ser alcançados por
parte do grupo muitos indivíduos poderiam excluir-se da ação preservando-se
de seu ônus, até por que ele teria a certeza que também compartilharia das
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conquistas já que é parte do grupo. Nesse caso a participação de todos seria
dispensável. Os grupos pequenos por ser mais fácil de serem controlados e
criar punições contra o absenteísmo teriam maiores chances de crescer e
alcançar sucesso em suas empreitadas. Assim os grupos pequenos poderiam
consolidar-se com maior frequência.
Uma das recomendações para a ação coletiva alcançar resultados
satifatórios, conforme Olson (2011), é que o grupo ou associação esteja
blindada por três fatores críticos de sucesso. São eles os mecanismos
normativos e de legalidade que justifiquem as causas pelas quais lutam, o
conhecimento técnico de forma a não ficar a mercê de técnicos das
corporações públicas ou privadas as quais muitas vezes elas se opõem e a
formulação resumida de seus objetivos, para que haja uma maior especificação
e esclarecimento de suas buscas. Os grupos ainda seriam divididos entre
exclusivos ou inclusivos conforme sua maior ou menor intensidade em aceitar
novos membros, independente de critérios pré-estabelecidos.
Em artigo emblemático sobre ação coletiva para a revista Pensamento
Plural, Melo Júnior (2007) apresenta a ação coletiva nos mostrando os mais
influentes autores e correntes de pensamento que trataram direta ou
indiretamente do tema. Cabe ressaltar que para o autor em alguns instantes
são utilizados outros termos para tratar do mesmo conceito, como por exemplo,
movimentos sociais. Tentaremos apresentar abaixo uma síntese das principais
ideias de autores e correntes que de certa forma tentaram delimitar o conceito
de ação coletiva em diferentes abordagens teóricas e áreas das ciências
sociais. Conforme Melo Junior (2007) são eles:
Karl Marx: Marx em si não desenvolveu uma teoria consistente e nem
teve como preocupação central a ação coletiva e os movimentos sociais.
Porém, são inegáveis suas contribuições. É a partir de suas obras, sobretudo O
Capital, que se desenvolvem sistemáticas sobre ações coletivas e movimentos
sociais. Seus estudos sobre o desenvolvimento industrial e do capitalismo no
século XIX mostram como a mais valia é capaz de desarticular os movimentos
sociais e operários. Ao discutir noções de classe e práxis social Marx contribui
para os estudos de ação coletiva já que considera que:
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A superação da histórica condição da exploração seria realizável pela
práxis política que, em última instância, dependia da formação da
consciência de classe e de uma ideologia adquirida pela vivência e
maturidade política. A aquisição da consciência classista seria
possível pela retomada/valorização de todas as ações coletivas, [...]
(MELO JÚNIOR, 2007, p. 72)
É compreensível para nós, então, que Marx refere-se aos movimentos
sociais como responsáveis por prováveis estopins de um provável projeto
radical de transformação das estruturas da sociedade.
George Hebert Mead: Esse autor que foi um dos pioneiros no estudo da
ação coletiva entendia que as razões que levam os seres humanos a buscar
parcerias e cooperar não podem ser explicadas apenas por aspectos
fisiológicos, mas, também pela psicologia social e pela interação simbólica.
Vemos nele uma grande valorização de aspectos subjetivos como motivadores
da ação coletiva.
Escola sociológica de Chicago: Essa corrente da Escola de Chicago4
realizou pesquisas e desenvolveu teorias sobre ação coletiva entre o fim do
século XIX até meados dos anos 60 do século XX. Teve como marca a
tentativa de compreensão do comportamento coletivo e dividiu-se em cinco
etapas. A primeira etapa que se deu no início do século XX estudou o
interacionismo simbólico. A segunda etapa caracterizou-se por estudar as
sociedades de massas que concebiam os movimentos sociais como formas
racionais de comportamentos coletivos e estendeu-se do fim dos anos 1940 ao
início dos anos 1950. A terceira etapa destacou as classes e as relações
sociais de produção fazendo uma conexão entre movimentos sociais e
reinvindicações partidárias durante os anos 1950. A quarta etapa retoma a
construção psicossocial da primeira etapa em detrimento dos vínculos entre
estruturas sociais e políticas da terceira etapa, isso no final dos anos 1950 e
4 Entendemos por Escola de Chicago o conjunto de trabalhos e pesquisas realizados por professores,
estudantes e pesquisadores da Universidade de Chicago do final do século XIX até aproximadamente meados do século XX. Os estudos foram realizados em diversas áreas do conhecimento como, por exemplo, na sociologia, arquitetura, economia e comunicação e tinham em comum a solução de problemas estruturais da cidade num contexto de grandes imigrações nos Estados Unidos. Essa escola trouxe incrementos e incentivos para pesquisas de campo e empíricas.
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início dos anos 1960. A quinta etapa durante o primeiro quinquênio dos anos
1960 vai estudar questões organizacionais e institucionais da ação coletiva.
Edward Thompson: Considerado como adepto da corrente da Escola
Marxista Revisionista Inglesa, formada por muitos historiadores, discorda de
Marx e de seus interpretes estruturalistas. Thompson afirma que não se pode
falar em classes sem remeter-se as pessoas e múltiplos grupos que dela fazem
parte. Para ele as lutas que modificam radicalmente as antigas estruturas
acontecem no âmbito cultural.
Claus Offe: Destaca os aspectos socioculturais da ação coletiva. Para
ele os novos movimentos sociais representam diferentes estratégias de ação
coletiva que apresentam em comum ter militantes com elevados níveis
culturais, bem informados e que não apresentam histórico de militância em
outros movimentos políticos, mas que lutam por objetivos comuns. Dessa
forma esses não seriam capazes de atuar em nome de uma doutrina política
pré-definida e sim na busca de uma complementação de direitos sociais e
democráticos. Talvez uma de suas maiores contribuições para o estudo de
ações coletivas foi considerar as conjunturas políticas e econômicas como
objeto de pesquisa sociológica. Concluímos a partir dessa releitura de Offe que
o conjunto das diferentes formas de ação coletiva receberá o nome genérico de
novos movimentos sociais após os anos 70 do século XX. Cabe ressaltar que
numa visão crítica aos novos movimentos sociais Sallum Jr. (2005) os enxerga
como desvinculados de questões de classes do proletariado e que o
estruturalismo tenha contribuído já que enfraqueceu o marxismo.
Charles Tilly: Esse autor faz uma das mais importantes análises sobre
ação coletiva na perspectiva sócio-histórica. Tilly procura saber se as
transformações nas estruturas sociais afetam as ações coletivas e constata
uma evolução na eficiência e na organização das ações coletivas no passar do
tempo. O autor da um panorama da atualidade como de ampliação dos
espaços sociais e políticos abertos e democráticos. Além disso, vê uma
ampliação de instituições representativas. Teríamos assim como resultado dos
processos em grande escala e de longo prazo de mudança social e do
desenvolvimento do capitalismo nos Estados nacionais novas formas de
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mobilização social. Essas mobilizações caracterizam-se por protestos, greves,
pressões, manifestações populares entre outras (TILLY, WOOD, 2010).
Marcus Olson: Sendo influenciado por teorias econômicas, sobretudo a
teoria de mobilização de recursos, crítica a Escola de Chicago por ter
explicações superficiais e inconsistentes sobre a ação coletiva. Utilizando-se de
uma abordagem utilitarista e de uma lógica racional levanta como os grupos de
interesse e os ganhos e benefícios que os atos podem proporcionar são
elementos cruciais para entender o funcionamento da ação coletiva.
Com essa breve síntese é possível perceber que o conceito de ação
coletiva passou por diversas abordagens e correntes teóricas. Isso nos
apresenta ao mesmo tempo uma busca da delimitação de suas fronteiras
durante o século XX e de como apresentou diferentes conotações e sentidos.
No entanto, destacamos como o conceito tem sido útil e eficiente para iluminar
as análises teóricas e empíricas dos estudos que tentam estudar as diversas
formas de organizações sociais que buscam e reivindicam interesses comuns.
A ação coletiva tem importância também na medida em que ela é capaz
de exercer influência sobre o arcabouço normativo, os arranjos institucionais e
as políticas públicas. Um exemplo emblemático que demonstra isso é o caso
Maria da Penha, onde a ação de movimentos feministas e organismos
internacionais de defesa dos direitos humanos conseguiram gerar uma postura
mais efetiva do Estado no que diz respeito à violência doméstica contra
mulheres (MACIEL, 2011).
Conforme Ganz (2008), a formulação e implementação de políticas
públicas estiveram historicamente no Brasil representando os interesses da
elite. Assim muitos espaços que deveriam ser de uso público oficial na
realidade não permitem o seu uso cotidiano, reprimindo a expansão da
democracia e a autonomia para os cidadãos realizarem escolhas. A ação
coletiva para Ganz (2008) seria capaz de burlar certas determinações legais e
mesmo regras informais impostas.
As ações coletivas quando desenvolvidas com o objetivo de fortalecer a
autonomia dos sujeitos exercitando uma postura de contra hegemonia política
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seriam capazes de contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas
(WIMMER E FIGUEIREDO, 2006). Para Wimer e Figueiredo (2006 p. 146):
[...] a complexa situação social de exclusão em que vive a maior
parte da população não pode ser resolvidas apenas com ações
setoriais, mas a partir de micro e macroestratégias intersetoriais
construídas em articulação por Estado e sociedade civil.
Entendemos que a intersetorialidade, enquanto práticas integradoras de
ações de diferentes setores que se complementam e interagem e a
transdiciplinariedade, enquanto dialogo entre as ciências humanas, exatas,
artes, religião e mitologia, seriam capazes de potencializar a capacidade
transformadora da ação coletiva. Talvez uma fusão entre valorização da
sabedoria local, esforços transdisciplinar da equipe e parcerias com setores
transversais possibilitariam a construção coletiva de estratégias de intervenção.
Conforme Quirós (2009), não se pode compreender seu
engajamento numa organização ou o porquê elas participam de ações se não
analisarmos o que acontece além dos limites da organização. Assim vemos
uma valorização também de questões conjunturais, o que Quirós (2009) chama
de conjunto mais amplo de relações sociais e possibilidades de vida. Para o
autor é latente a necessidade de “sociologizar” além da política e da economia,
outras dimensões da ação coletiva.
Vemos aqui certa emergência da valorização de fatores culturais no
processo de ação coletiva. Isso foi costumeiro nas teorias europeias, sobretudo
a de Claus Offe. Assim percebemos uma crítica à visão que reduz à
mobilização coletiva a uma reação mecânica e às necessidades e às práticas
dos setores populares a motivações meramente instrumentais.
Quirós (2009) aponta que o engajamento não limita-se apenas a razões
políticas ideológicas ou econômicas materiais, sendo uma soma dessas duas
com questões morais também. Apegando-se a um universo mais subjetivo ele
demonstra que quando se associam em organizações ou realizam
mobilizações as pessoas também estão buscando e em alguns momentos, e
até obtém em outros, elementos como recursos, empoderamento,
reconhecimento, resistência, pertencimento e identidade.
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Sousa e Costa (2011) mostram que a ação coletiva quando em defesa
da gestão pública e do fortalecimento do papel local são decisivas para
definição de políticas públicas. Haveria um fortalecimento das ações caso ela
tivesse o apoio empreendendo ampla mobilização de diversos grupos políticos
e sociais, via diferentes táticas. Assim as frentes podem ser resultado de um
conjunto de entidades como as governamentais, do terceiro setor e privadas.
No entanto, Sousa e Costa (2011) atentam para o fato de que o
constrangimento de uma agenda governamental através da ação coletiva não é
o suficiente para garantir por si só a agenda política proposta pela ação política
coletiva.
OS PROJETOS DE HAE NO ESTÍMULO DA EDUCAÇÃO CIDADÃ E DA
PARTICIPAÇÃO POLÍTICA.
Poucas pessoas no Brasil sabem das garantias e direitos que lhes são
defendidas pela Constituição de 1988. Muitos nem jamais se questionaram do
motivo de esta ser conhecida como “constituição cidadã”. Portanto, ignoram o
caráter inclusivo da carta magna, em vigor no nosso país desde os anos
imediatamente posteriores ao fim da ditadura militar.
A lei maior é marcada pelo esforço de superar as históricas relações
sociais de exclusão e desigualdades que caracterizam parcela significativa
desses poucos mais de 100 anos de história da República no Brasil, em que a
cidadania, entendida como, direitos, garantias e oportunidades de participação
nas decisões políticas foi restringida a poucos favorecidos pela estrutura
oligárquica da sociedade capitalista brasileira. Esta privilegia os detentores de
poder econômico no acesso à educação de qualidade, oportunidades
econômicas, determinação cultural e participação no poder político (SANTOS,
1993).
Não é tão perceptível, para a maioria das pessoas, que o desinteresse
que sentem por política é historicamente construído e ideologicamente
planejado e estimulado. Isso se dá por algumas pessoas que convictas da
importância da participação, se interessam, participam em defesa de seus
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próprios interesses. Essas se empenham em restringir a participação por meio
de representações da política desvinculadas da vida prática ou vinculadas
apenas a comportamentos repugnantes aos nossos valores morais e éticos, ou
ainda, como assuntos extremamente complexos e, portanto restritos a
competência de poucos que, supostamente, merecem a confiança da maioria
como representantes do bem comum (LAZARSFELD; MERTON, 1997).
Diante da informação de que as audiências públicas da lei orçamentária
anual (LOA) do município de Novo Horizonte-SP5 nunca contaram com a
participação de representantes da comunidade, restringindo-se a um encontro
obrigatoriamente formal de funcionários públicos municipais do setor de custos,
alguns poucos diretores da administração pública, representantes da câmara e
do executivo municipal, levantamos a hipótese de que um dos motivos de a
população não participar, apesar de serem convidados por meio da imprensa
local, seja a desinformação das pessoas sobre as questões políticas e
administrativas da gestão pública municipal e o desconhecimento dos meios
legais de participação popular, bem como sua importância na definição
eficiente e democrática do orçamento público 6.
Tudo isso se soma ao preconceito sobre política, decorrente da
desinformação e da construção ideológica de um comportamento apolítico nas
pessoas, tipicamente produzido pela cultura de massa no mundo todo,
inclusive no Brasil e no Município de Novo Horizonte-SP, onde historicamente o
poder político esteve ligado direta ou indiretamente ao poder econômico. Tais
hipóteses foram reforçadas por uma pesquisa empírica que realizamos com
421 alunos e os professores da unidade escolar, Escola Técnica (ETEC) Profª
Marines Teodoro de Freitas Almeida7, localizada em Novo Horizonte-SP. A
5 Novo Horizonte é um município do interior do estado de São Paulo localizada na região do
noroeste paulista a 410 km da capital do estado. Conforme dados do IBGE tem hoje uma população estimada de 37.222 habitantes, um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 781.308.000,00 e um índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0,808. Assim como muitas cidades do interior de São Paulo não possui uma tradição de mobilização, associativismo e de movimentos sociais, apresentando assim baixos níveis de participação popular. 6 Depoimento de Cipriano, 2012.
7 A Escola Técnica Estadual Marinês Teodoro de Freitas Almeida é uma escola técnica e de
ensino médio pertencente à autarquia estadual Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza (CEETEPS). Ela iniciou suas atividades em setembro de 2009 sendo fruto de um convênio entre governo do e prefeitura de Novo Horizonte-SP. Além de oferecer todos os níveis
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pesquisa foi tomada neste trabalho como amostra da escola, uma vez que é
constituída de pessoas de diferentes perfis social, econômico, cultural e etário,
residentes nos diferentes bairros da cidade8.
Também ofereceu dados relevantes o depoimento de um funcionário do
setor técnico da prefeitura de Novo Horizonte, a partir do qual levantamos
indícios de uma baixa participação popular. Nesse foi relatado que quando
havia participantes, se tratava de funcionários públicos ou poucos cidadãos,
cuja presença reincidia em várias dessas audiências, onde não era comum a
apresentação de demandas pelos populares, que fossem registradas nas atas
como reivindicações encaminhadas ao executivo para serem incluídas na LOA.
Isso reforçou a hipótese de baixa ou mesmo a inexistente participação de
representantes da comunidade nas referidas audiências públicas9.
A referida pesquisa é parte de um projeto de Hora Atividade Específica
(HAE) 10, intitulado “Participação Social nos Gastos Público de Novo
Horizonte”, elaborado por três professores da unidade local do Centro Paula
Souza. Esses docentes são das áreas de Administração Pública, Direito e
Sociologia, e tinham a finalidade de investigar as razões históricas da baixa
participação política da população municipal, diagnosticar defasagens na
formação cidadã, e intervir naquelas situações que estivessem ao seu alcance,
elaborando oficinas temáticas para informar e sensibilizar os alunos à
participação crítica e eficiente na audiência pública da LOA para o ano de
2013. A possibilidade de participação na audiência que ocorreria em setembro
de 2012 foi vista como uma grande oportunidade de aprendizado para a
do ensino médio também possui diversos cursos técnicos de nível médio e cursos profissionalizantes. 8 Essa foi uma pesquisa quantitativa realizada em forma de entrevista estruturada realizada
entre 421 alunos da ETEC de Novo Horizonte e com o intuito de fornecer informações para o desenvolvimento do projeto. A mesma se deu no intuito de investigar o grau de interesse por questões que envolviam política e sobre o conhecimento da existência de possibilidades de participação política na formulação do orçamento público entre a população de alunos da escola. Seus resultados mostraram que predominante os alunos não tinham conhecimento pelas formas de participação e as instituições políticas, não apresentavam muita credibilidade em relação ao Estado e aos representantes políticos e por questões relacionadas à ineficiência do poder público e os escândalos de corrupção não demonstravam muito interesse por política. 9 Depoimento de Cipriano, 2012.
10 Projeto de HAE é uma forma de atuação docente e discente que prioriza ações de cidadania
e de responsabilidade social através de um trabalho conjunto entre escola e comunidade. O Centro Paula Souza tem como premissa para os projetos complementar e enriquecer a formação dos alunos tentando coloca-los diante de soluções teóricas para problemas práticos da realidade cotidiana em parceria com a sociedade.
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cidadania e apresentação de necessidades urgentes ligadas à geração de
oportunidades de emprego e desenvolvimento turístico do município dos
formandos do curso técnico em turismo receptivo.
A iniciativa para a elaboração e execução do projeto pelos professores,
partiu de duas principais necessidades. A de tornar a prática docente mais
eficaz e significativa para a formação profissional e cidadã dos seus alunos, e a
de criar canais eficientes de comunicação entre a escola e o poder público
municipal para facilitar a apresentação das demandas por serviços e
investimentos que competem a este governo. Objetivou-se assim a realização
integral dos trabalhos dessa escola técnica na colaboração com o
desenvolvimento da comunidade novorizontina11.
Cabe esclarecer que os projetos de HAE são uma forma de atuação
docente e discente disponibilizada pelo Centro Paula Souza para as escolas
técnicas desenvolverem atividades complementares na formação do aluno
tentando coloca-los diante de fatos da realidade e em parceria com a
sociedade.
A execução de oficinas de pesquisa e extensão no projeto envolveu
alunos da 3ª série do Ensino Médio e do curso técnico em administração, que
orientados pelos professores monitores, fizeram pesquisas sobre temas de
Administração Pública, Sociologia e Direito, relevantes para a capacitação dos
alunos para uma participação cidadã na administração dos recursos públicos12.
Estes alunos apresentaram suas pesquisas aos demais membros da
comunidade escolar da ETEC de Novo Horizonte, ligados aos cursos técnicos
nas áreas de gestão e negócios, tecnologia e lazer e hospitalidade, bem como,
às séries iniciais e formandos do ensino médio, cumprindo assim um trabalho
de orientação, conscientização e motivação para a participação nos assuntos
políticos e administrativos do município.
A primeira experiência de participação política dos alunos, após o início
desse projeto, foi na audiência pública para apresentação e discussão da LOA
11
Informações fornecidas através de entrevista com SILVA, 2012. 12
Informações fornecidas através de entrevista com SILVA, 2012.
17
a ser votada para o exercício de 2013, ocorrida em setembro de 2012. Para
além de uma presença meramente espectadora dos alunos e professores da
ETEC neste evento, houve uma participação com caráter inédito na história do
município. Isso dada à quantidade de pessoas que ocuparam as dependências
da câmara municipal e o caráter da participação desses alunos e professores
envolvidos. Os alunos estavam relativamente informados da importância
daquele momento e interessados pelas questões em discussão, já que traziam
reivindicações pertinentes a criação de condições de se inserirem no mercado
de trabalho dentro de sua área de formação13.
Podendo opinar sobre a prioridade de algumas demandas a serem
inseridas na LOA, os jovens estudantes dos cursos técnicos, vivenciaram uma
peculiar experiência. A mesma foi vivida por poucos cidadãos brasileiros ao
longo da nossa história, marcada por curtos momentos democráticos,
alternados às longas ditaduras que obstaram por décadas a participação
democrática na nossa jovem república brasileira (TOMAZI, 2010).
O projeto “Participação Social nos Gastos Público de Novo Horizonte” foi
significativo para os vários atores envolvidos, devido à experiência de exercício
da cidadania e inédito para muitos, nesta situação específica propiciada por
este trabalho nas suas várias etapas14.
De modo especial o projeto teve singular importância para a turma de
formandos do curso técnico em turismo receptivo. Isso se deu pois tendo
iniciado o curso ainda em 2011 os alunos acreditavam no potencial turístico a
ser desenvolvido no seu município, e na capacidade técnica que a ETEC
poderia oferecer para essa realização diante da parceria com o governo
municipal15.
Após a ocasião da aula inaugural do curso os alunos arriscaram
empreender o tempo de três semestres em dedicação no curso de turismo
13
Informações fornecidas através de entrevista com BARROS, 2012. 14
Informações fornecidas através de entrevista com BARROS, 2012. 15
Informações fornecidas através de entrevista com LOURENÇO, 2012.
18
receptivo sem garantias evidentes de que este curso os tornaria empregáveis
nesta área de formação sem sair do município16.
A expectativa dos alunos, da direção escolar e dos docentes do curso
de turismo receptivo aumentou quando na aula inaugural, as autoridades
políticas municipais discursaram entusiasmadamente, e orgulhosos por trazer
para o município, a ETEC, e em especial naquela data, o referido curso17.
No decorrer dos três semestres, inúmeras iniciativas dos alunos e
professores do curso, bem como da direção da escola, resultaram na
construção de grandes possibilidades de tornar Novo Horizonte um pólo
turístico, munido de uma gestão técnica especializada e capaz de transformar
potenciais em negócios de fato. Isto, para beneficiar a comunidade com
geração de emprego e renda, em atividades diretamente ligadas ao turismo.
Também proporcionar o desenvolvimento de novas empresas e a geração de
outras demandas por qualificação profissional, mantendo nítida a relevância
desta escola técnica para o município, inclusive por atuar muito além da
formação em sala de aula promovendo outras atividades construtivas por meio
dos seus projetos de HAE, geralmente destinados à interação com a
comunidade local e a transformação da sua realidade18.
Os projetos desenvolvidos pelos alunos do curso de turismo, vários
destes premiados em feiras tecnológicas19, e os eventos por eles promovidos,
ficaram marcados localmente pela sua considerável repercussão, e atestam o
empenho e dedicação dos alunos e de toda equipe escolar na formação de
mão-de-obra qualificada e na fomentação de um sonho empreendedor de
desenvolver o turismo em Novo Horizonte.
Ha três meses do término do curso de turismo receptivo, a preocupação
com a empregabilidade dos formandos era um incômodo a quase todos,
16
Informações fornecidas através de entrevista com LOURENÇO, 2012. 17
Informações fornecidas através de entrevista com LOURENÇO, 2012. 18
Informações fornecidas através de entrevista com LOURENÇO, 2012. 19
6ª FETESP- Feira Tecnológica do Centro Paula Souza, realizada na Expo Barra Funda em São Paulo, no mês de outubro de 2012, onde alunos da ETEC de Novo Horizonte recebeu o prêmio de “Projeto Destaque” pelo projeto, “Estudo e viabilidade técnico econômico de uma marina fluvial”. Também o X Diálogo Interbacias, realizado na cidade de São Pedro, em setembro de 2012, onde a alunos da ETEC de novo Horizonte recebeu o prêmio “Gota d’agua” pelo projeto “Desenvolvimento de Atrativo Turístico Rural”.
19
inclusive aos profissionais da escola, preocupados com seu trabalho, cuja
eficácia, deve ser confirmada, entre outras coisas, pela empregabilidade dos
seus formandos no mercado de trabalho20.
Os recursos públicos para investimento no turismo local, acordados na
alocação do curso para a cidade, bem como na aula inaugural, não se
efetivaram na sua totalidade, nem mesmo os consideraram no planejamento da
LOA para o ano seguinte. Na distribuição dos recursos para os vários setores
da administração pública, os valores atribuídos para a diretoria de turismo eram
bem inferiores ao necessário para a realização das obras urgentes,
reivindicadas através dessa diretoria, para dar condições de que os
profissionais, prestes a se formar, não precisassem ir embora do município
para trabalhar na sua área de formação ou recorrerem à outra área
profissional. Isto causaria uma perda de profissionais qualificados, que
constituiria uma incoerência com o fomento da atividade turística no município,
que não pode prescindir desse recurso humano tão caro, entre outras coisas,
ao seu desenvolvimento21.
O direito de participação popular na determinação do orçamento público,
garantido pela Constituição Federal de 198822, a Lei de Responsabilidade
Fiscal23 e o Estatuto da Cidade24, foi exercido pelos alunos e professores da
ETEC na referida audiência pública da LOA. Os participantes argumentaram
em defesa de um urgente investimento no turismo municipal, para evitar perdas
de oportunidades, tais como, a geração de emprego e renda para a população
e mais arrecadações para a receita municipal, a médio e longo prazo. Também
20
Informações fornecidas através de entrevista com LOURENÇO, 2012. 21
Informações fornecidas através de entrevista com SILVA, 2012. 22
A Constituição Federal de 1988, também conhecida como constituição cidadã, inovou por consolidar o processo de redemocratização com o fim do regime militar prezando por valores democráticos e trazendo diversos direitos sociais, civis e políticos. Um de seus princípios implícitos é o da participação política que veio a inspirar diversas leis posteriores que garantiram a participação popular institucionalizada na administração pública. 23
A Lei de Responsabilidade Fiscal, Lei Complementar nº 101 de 2001, é uma lei brasileira que impõe o controle dos gastos federais, estaduais e municipais. Essa lei promoveu também a transparência e a participação social na elaboração e controle das leis orçamentárias através das audiências públicas orçamentárias como condição para a aprovação dessas leis. 24
A Lei 10.257/01, também conhecida como estatuto da cidade trouxe inovações para a política urbana na medida em que regulamenta o capítulo da “Política Urbana” da Constituição Federal de 1988. Tem por princípios o planejamento participativo e a função social da propriedade. Prevê explicitamente a participação popular nos instrumentos orçamentários a fim de melhorar a gestão pública e a transparência.
20
por ocasião de duas coisas importantes. Manter a integração do Município no
circuito turístico regional, já requerida e conquistada com os trabalhos dos
alunos junto ao SEBRAE, mas que ainda demandava o desenvolvimento de
atrativos turísticos no município e a sinalização destes atrativos e, sobretudo,
para evitar a frustração dessa primeira turma de técnicos em turismo receptivo,
formados pela ETEC da cidade, que temiam não ter emprego para atuar na
área de formação após conclusão do curso e terem que trabalhar em áreas
alheias à sua formação.
Diante da referida atuação de professores e alunos na audiência pública,
foi registrada a reivindicação e encaminhada ao poder executivo municipal, que
aumentou consideravelmente os valores para a diretoria de turismo. Votada a
LOA para o ano de 2013, com a redefinição dos valores para se investir no
turismo, essa diretoria apresentou por escrito o planejamento para os gastos do
seu setor, incluindo as demandas reivindicadas pelos alunos.
Esta experiência foi de significativo êxito, tanto do ponto de vista da
participação cidadã, quanto da aplicação de um conjunto de práticas
pedagógicas. Pontual (2000) enxerga o Orçamento Participativo (OP) para
além dos ganhos matérias da população. O autor afirma que OP tem um
grande potencial educativo e de mudança na sociedade, pois possibilita à
população envolvida, conhecer o funcionamento do orçamento público, seu
sistema de receitas, advindas da arrecadação de imposto por ela pagos ao
município, bem como, ao estado e à União que, por meio dos convênios
formam uma considerável parcela da receita municipal, e ao mesmo tempo
tomam conhecimento das despesas planejadas para com o dinheiro público e
participam da definição dos gastos prioritários. Aprendem ainda a forma como
se organizam os poderes políticos, a administração pública e os meios do
associativismo como forma de reivindicação e organização cidadã através de
ações coletivas.
A participação dos alunos e professores da ETEC na Audiência Pública
da LOA para o Exercício de 2013, ocorrida em setembro de 2012, pode ser
considerada a gênese de um possível Orçamento Participativo no município de
Novo Horizonte, pois criou novos significados nos atores envolvidos na medida
21
em que realizou uma mediação educativa capaz de gerar aprendizado e ação
cidadã transformadora da própria realidade. Além disso, a educação é um fator
importante na construção da cidadania.
Para Freire (2011) a construção do saber se dá então mediante a
realidade do aluno e por meio de uma visão crítica do mundo, dando a ele as
condições de transformar a realidade social mediante o conhecimento. A teoria
de Freire (2011) leva em conta a natureza política da educação no processo de
conscientização e como prática da liberdade.
Diante do desafio de associar práticas de integração da escola com a
comunidade local, perante um sistema ainda marcado pela herança autoritária
da educação da ditadura militar e que se mostra desfavorável às classes
sociais subalternas, a ETEC de Novo Horizonte desenvolveu atividades por
meio deste projeto de HAE.
Essa experiência foi resultado da integração de diferentes atores
envolvidos no projeto25. A experiência também foi mencionada em um artigo na
imprensa local26, isso aumentou ainda mais a repercussão da experiência
participativa. Um relato resumido dessa experiência também foi apresentado no
Congresso Internacional de Pedagogia, promovido pela ONU através da
UNESCO e UNICEF, que aconteceu entre os dias 4 e 8 de fevereiro de 2013
em Havana, Cuba.
O feito também criou condições para o desenvolvimento de um novo
projeto de HAE que tem por objetivo aprofundar e expandir a experiência já
realizada. O nome deste é “Viabilizando a participação de associações de
bairro em audiências públicas orçamentárias”. O projeto que vai ser
desenvolvido durante o ano de 2013 tem por embasamento teórico-
metodológico as teorias que tentam superar o caráter produtivista do ensino
técnico, e valorizar a cidadania. Para alcançar suas metas tem-se também
25
O projeto envolveu diversos atores sociais do município de Novo Horizonte. Além de alunos e de professores da ETEC o projeto também envolveu diretamente ou indiretamente alguns familiares e amigos de alunos, professores e alunos que a priori não estavam envolvidos no projeto, funcionários da escola, políticos locais, técnicos da prefeitura e a imprensa local. 26
O Jornal Liberdade da cidade de Novo Horizonte-SP, publicou em outubro de 2012 um artigo de autoria do assessor técnico de assuntos estratégicos da presidência da república Ms. Giovani Chinaglia Okado intitulado como “O historiador e o tempo” que tratava da experiência participativa da ETEC de Novo Horizonte, exaltando o ato.
22
utilizado os princípios da abordagem democrático-participativa e da ação
coletiva.
Tal projeto baseia-se no envolvimento e treinamento das lideranças de
associações de bairro para que, assim como o exemplo dos alunos e
professores da ETEC, também possam participar das audiências públicas
orçamentarias, realizando reinvindicações por suas demandas e passando por
um processo de aprendizagem.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esse artigo não teve por objetivo esgotar as discussões sobre o tema,
mas mostrar como a promoção da cidadania e da participação política pode
ocorrer no contexto de escolas de ensino técnico e profissionalizante, e de
como no caso da ETEC professora Marinês Teodoro de Freitas Almeida, houve
a tentativa disso a partir de dois projetos de HAE. A teoria da ação coletiva
pareceu bastante eficiente, tanto na elaboração das estratégias do projeto
como também para que pudéssemos realizar nossas apreciações sobre esse
caso, também observado à luz de estudos sobre a educação brasileira e a
participação política no Brasil, bem como, teorias pedagógicas, políticas e
sociológicas que nos emprestaram suas lentes para observar a realidade aqui
estudada.
Consideramos a necessidade de novos estudos, mais criteriosos e
aprofundados para o levantamento de dados que possam nos dar uma
compreensão mais lúcida desses processos. Também acreditamos que o
desenvolvimento do projeto “Viabilizando a participação de associações de
bairro em audiências públicas orçamentárias” também pode oferecer
importantes pistas para a compreensão que buscamos. No entanto, esse
estudo nos mostrou que independentemente das limitações, os projetos tem
causado certo impacto nos envolvidos, que podem ser considerados, mesmo
que ainda em níveis não tão relevantes, ao menos significativos para o advento
de uma mudança social.
23
Acreditamos também que o desenvolvimento e a análise comparativa de
outros exemplos como esse podem nos oferecer respostas mais concretas
para compreender as causas da baixa participação popular na política, suas
implicações nas relações sociais e os meios de contribuir para a transformação
dessa realidade e tornar as políticas públicas mais eficazes e democráticas no
município de Novo Horizonte. Porém, vale considerar que, historicamente, o
ensino técnico no Brasil nem sempre foi um ambiente que promovera a
educação cidadã ou servira como arena de discussão e reflexão política. E que
o município de Novo Horizonte não apresenta um histórico de mobilização
social e associativismo, que antecedam esses projetos que, pelo menos
constituem uma semente de mudanças nas relações entre Estado e sociedade
civil. Isso parece estar ligado estritamente a dois importantes fatores geradores
de uma urgência na formação de cidadãos capazes de agir de forma
participativa na realidade. São eles a mudança das relações de trabalho, que
além de tornarem-se mais flexíveis, exigem hoje uma maior versatilidade, o
conhecimento transdisciplinar e capacidade de dialogar e interagir com a
diversidade. Também uma tendência contemporânea de mobilizações sociais,
com particularidades em relação às formas de mobilizações tradicionais.
Ambos os fatores, acompanham um processo maior de intensificação da
globalização e demandam mudanças imprescindíveis nas relações sociais.
REFERÊNCIAS
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24
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ANEXO
Entrevistas
BARROS, Adauto Roberto de. Assessor do governo municipal na área de turismo e responsável pela inserção e promoção do município de Novo Horizonte no circuito turístico do Noroeste Paulista. Entrevista realizada em 12/11/2012, em Novo Horizonte –SP.
LOURENÇO, João Tadeu Oliveira. Agente de viagens autônomo, participante ativo do projeto e aluno do curso técnico em turismo receptivo da Etec prof.ª Marinês Teodoro de Freitas Almeida. Entrevista realizada em 21/10/2012, em São Paulo-SP
SILVA. Daniel Bruno da. Licenciado em ciências sociais pela Faceres, pós-graduando em sociologia política, professor das disciplinas de história, sociologia, filosofia e ética na Etec prof.ª Marinês Teodoro de Freitas Almeida e idealizador e implementador do projeto. Entrevista realizada em 12/10/2012, em Novo Horizonte –SP.
Depoimento
CIPRIANO, Thiago. Assessor técnico da área de orçamento da prefeitura municipal de Novo Horizonte. Depoimento fornecido através de e-mail diante de questionamentos levantados pelos autores do artigo em 20 de Julho 2012.