ensaio crítico de teoria arquelógica
DESCRIPTION
Estudo crítico das obras: “Apresentação”, do livro Evolucionismo Cultural: textos de Morgan, Taylor e Frazer, de Celso Castro; “Arqueología y Evolucion”, capítulo 9 do livro Teoría Arqueologíca. Una introducion, de Mathew Johnson; e dos capítulos “Introdução” e “Uma conclusão positiva”, do Livro A falsa medida do homem, de Stephen Jay Gould.TRANSCRIPT
![Page 1: Ensaio crítico de Teoria Arquelógica](https://reader036.vdocuments.pub/reader036/viewer/2022082610/55cf9256550346f57b95a148/html5/thumbnails/1.jpg)
Universidade Federal de Pelotas
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Antropologia
Teoria Arqueológica I
Estudo crítico das obras: “Apresentação”, do livro Evolucionismo Cultural:
textos de Morgan, Taylor e Frazer, de Celso Castro; “Arqueología y Evolucion”,
capítulo 9 do livro Teoría Arqueologíca. Una introducion, de Mathew Johnson; e dos
capítulos “Introdução” e “Uma conclusão positiva”, do Livro A falsa medida do homem,
de Stephen Jay Gould.
Discente: Bruno Leonardo Ricardo Ribeiro Docente: Fréderic Pouget
As origens das idéias evolucionistas remontam, de fato, ao renascimento e as grandes
descobertas. Antes do contato com o “outro” os europeus não pensavam que seus mais
remotos antepassados fossem pessoas diferentes, que agissem e se organizassem de maneira
diferente. Pensavam em culturas e sociedades praticamente estáticas e permanentes. O
evolucionismo unilinear e eurocêntrico, que caracteriza o civilizado europeu como o apogeu
da evolução humana surge então como uma maneira de tornar inteligível à mentalidade da
época como os povos “selvagens” poderiam existir, entendendo-os como resquícios,
exemplos vivos de como os europeus foram um dia. Tal linha de pensamento viria a se
consolidar, como de caráter científico, no século XIX a partir dos trabalhos de Charles
Darwin, “pai” do evolucionismo biológico que quebrou os paradigmas bíblicos da origem
humana e da inexistência do homem “anti-diluviano”, e principalmente de Herbert Spencer,
responsável pela formulação da “linha evolutiva” que arranja as mais diversas culturas dentro
de uma “escala de desenvolvimento”, que vai desde as sociedades “simples” às mais
“complexas”, categorizadas por características como organização social ou tecnologia dentre
outras, associando-as inclusive a noções morais e de progresso humano.
![Page 2: Ensaio crítico de Teoria Arquelógica](https://reader036.vdocuments.pub/reader036/viewer/2022082610/55cf9256550346f57b95a148/html5/thumbnails/2.jpg)
Sob essa ótica, o pensamento evolucionista pode ser entendido como uma ideologia,
uma vez que adota modelos de desenvolvimento caracterizados como teleológicos e certos
valores como universais, normais ou naturais. Esta visão evolucionista coloca todas as
sociedades no mesmo patamar, excluindo qualquer caráter de heterogeneidade presente nelas
e as analisa a partir de critérios impostos, ignorando totalmente as possibilidades de contato
intercultural ou o papel do indivíduo em sua sociedade.
Deve-se frisar, entretanto, que o pensamento evolucionista unilinear está diretamente
ligado a origem e a história da Arqueologia como disciplina. Ainda mais, se fez presente
também na sua “pré-história”, quando influenciou diretamente a atuação dos primeiros
“antiquaristas” e “caçadores de relíquias”, que por sua vez levaram à formação das primeiras
coleções particulares de “peculiaridades” e “artigos exóticos” que culminariam nos primeiros
museus. Mas seu maior impacto talvez tenha sido sobre os primeiros trabalhos relacionados
ao estabelecimento de cronologias, seriações e tipologias de artefatos arqueológicos, como os
realizados por Thomsen, Worsee ou Lubbock, dentre outros.
Cabe aqui uma rápida diferenciação entre as vertentes do pensamento evolucionista,
principalmente por ainda hoje exercerem influência sobre o pensamento arqueológico e não se
resumirem apenas ao evolucionismo cultural unilinear de Spencer. A primeira distinção a ser
feita é entre o evolucionismo cultural unilinear e o multilinear. Enquanto o primeiro pregava
um único “caminho evolutivo” para todas as culturas ou grupos humanos, a corrente
multilinear advoga pela existência de diversas linhas evolutivas que podem convergir ou
divergir ao longo deste “caminho”. Esta corrente re-oxigenou o pensamento evolucionista ao
longo do século XX através de nomes como Leslie White e Julian Steward e exerceu forte
influência sobre os trabalhos de Lewis Binford e a corrente processualista da arqueologia. O
evolucionismo biológico, ao contrário do evolucionismo cultural que trata de sociedades e
coletivos, parte do indivíduo e busca explicar os traços distintivos da conduta humana em
fatores genéticos e biológicos e não em contextos sociais ou culturais. Atualmente uma série
de linhas interpretativas ligadas a esta corrente exercem influência sobre o pensamento
arqueológico, como o neodarwinismo e a sociobiologia, entretanto aqui também uma série de
críticas se fazem presentes.
Para alguns pesquisadores não parece existir um fundamento biológico para as
diferenças de comportamento entre os grupos humanos ou a mudança e a complexidade das
sociedades humanas ao longo do tempo, e a biologia sugere que a influência genética já não
![Page 3: Ensaio crítico de Teoria Arquelógica](https://reader036.vdocuments.pub/reader036/viewer/2022082610/55cf9256550346f57b95a148/html5/thumbnails/3.jpg)
seja tão determinante sobre a natureza humana, pois a adaptação cultural aparentemente age
de maneira muito mais rápida e eficiente do que a biológica sobre a espécie homo sapiens.
Para outros pesquisadores, entretanto, qualquer tipo de interpretação evolutiva seria
preconceituosa e deveria ser rechaçada, sob a alegação de que conceitos como evolução,
adaptação ou função não são cabíveis quando se busca explicar aspectos sociais.
Concluindo, devemos ter em mente que, como colocado por vários autores, numa
investigação científica o pesquisador sofre influência direta de sua sociedade e seu contexto
socio-cultural, mesmo que de maneira inconsciente, uma vez que suas perguntas e preceitos
são “balizados” por este contexto. Assim, as premissas do evolucionismo cultural ou do
determinismo biológico, da eugenia ou de outras correntes similares, devem ser entendidas no
contexto histórico de seu surgimento, e mais do que teorias simplesmente preconceituosas
seriam reflexo de preconceitos predominantemente sociais e culturais, presentes na sociedade
em determinado lugar no tempo, e buscariam apenas oferecer justificativas científicas para a
naturalização de tais preconceitos.