ensino da lingua portuguesa
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BIBLIOGRAFIA PARA O CURSO DE ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA
Selecionamos para voc uma srie de artigos, livros e endereos na Internet
onde podero ser realizadas consultas e encontradas as referncias necessrias
para a realizao de seus trabalhos cientficos, bem como, uma lista de sugestes
de temas para futuras pesquisas na rea.
Primeiramente, relacionamos sites de primeira ordem, como:
www.scielo.br
www.anped.org.br
www.dominiopublico.gov.br
SUGESTES DE TEMAS
1. DISCURSO, ESTILO E SUBJETIVIDADE
2. INTERPRETAO, AUTORIA E LEGITIMAO DO LIVRO DIDTICO: lngua materna e lngua estrangeira
3. LETRAMENTO: um tema em trs gneros
4. A IMAGEM E SUAS FORMAS DE VISUALIDADE NOS LIVROS DIDTICOS DE PORTUGUS
5. PORTUGUS LNGUA ESTRANGEIRA: perspectivas
6. PORTUGUS OU BRASILEIRO? Um convite pesquisa
7. LETRAMENTO E HETEROGENEIDADE DA ESCRITA NO ENSINO DE PORTUGUS
8. O ENSINO DE PORTUGUS: inteno e realidade
9. ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS: caminhos para a prtica pedaggica
10. CONCEPO DE LNGUA FALADA NOS MANUAIS DE PORTUGUS DE IO E 2O GRAUS: uma viso crtica
11. GRAMTICA DA LNGUA PORTUGUESA
12. O ENSINO DE LNGUAS NO BRASIL
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13. GRAMTICA DA LNGUA PORTUGUESA
14. ORIENTAES DA LINGUSTICA MODERNA
15. LIVRO DIDTICO DE LNGUA PORTUGUESA, LETRAMENTO E CULTURA DA ESCRITA
16. INFLUNCIA DA FALA NA ALFABETIZAO
17. CONTAR (HISTRIAS DE) SLABAS: descrio e implicaes para o ensino do portugus como lngua materna
18. A EXPANSO DA LNGUA PORTUGUESA NO ORIENTE DURANTE OS SCULOS XVI, XVII E XVIII: com nove gravuras soltas
19. A NORMA OCULTA: lngua e poder na sociedade brasileira
20. O ENSINO DE PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS
21. OFICINA DE LINGUSTICA APLICADA: a natureza social e educacional dos processos de ensino/aprendizagem de lnguas
22. A LNGUA FALADA E O ENSINO DE PORTUGUS
23. GNEROS DO DISCURSO E GNEROS TEXTUAIS: questes tericas e aplicadas
24. A ORGANIZAO DO TEXTO DESCRITIVO EM LNGUA PORTUGUESA
25. AULA DE PORTUGUS: discurso e saberes escolares
26. METODOLOGIA E PRTICA DE ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA
27. ENSINO DO PORTUGUS E INTERATIVIDADE
28. ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA E CONTEXTOS TERICO-METODOLGICOS
29. O ENSINO DE PORTUGUS PARA ESTRANGEIROS: pressupostos para o planejamento de cursos e elaborao de materiais
30. CONCEPES DE LINGUAGEM E ENSINO DE PORTUGUS
31. A ESTRUTURA MORFO-SINTTICA DO PORTUGUS: aplicao do estruturalismo lingustico
32. PORTUGUS NA ESCOLA: histria de uma disciplina curricular
33. GRAMTICA ESCOLAR DA LNGUA PORTUGUESA: para o ensino mdio e cursos preparatrios
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34. PRAGMTICA LINGUSTICA E ENSINO DO PORTUGUS
35. LIES DE PORTUGUS PELA ANLISE SINTTICA
36. LNGUA PORTUGUESA: histria, perspectivas, ensino
37. ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA PARA SURDOS
38. ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA
39. GNEROS TEXTUAIS E ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA
40. CRENAS DE PROFESSORES DE PORTUGUS SOBRE O PAPEL DA GRAMTICA NO
41. MISTURA BRASIL: o ensino de lngua portuguesa nas sries iniciais
42. CONSIDERAES SOBRE O ENSINO DE PORTUGUS PARA SURDOS
43. ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA: interligao entre leitura
44. QUAL O PAPEL DA GRAMTICA NO ENSINO DA LNGUA
PORTUGUESA
45. LETRAMENTO, VARIAO LINGUSTICA E ENSINO DE PORTUGUS
46. O ENSINO DE PORTUGUS COMO LNGUA NO-MATERNA
47. ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA: uma perspectiva lingustica
48. A INTERTEXTUALIDADE E O ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA
49. NOVAS PRTICAS MELHORAM ENSINO DA LNGUA ESCRITA
50. O LDICO NO ENSINO-APRENDIZAGEM DA LNGUA PORTUGUESA
51. O ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA NO ENSINO SUPERIOR
52. DIVERSIDADE LINGUSTICA E ENSINO DE PORTUGUS
53. METODOLOGIA DO ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA: um enfoque
54. O ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA EM DEBATE: problemas e
perspectivas
55. POLTICA DE ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA E PRTICA
DOCENTE
56. O ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA E OS PCN
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57. INVESTIGAO E ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA: reflexo terica
58. ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA NA EJA: os gneros argumentativos
59. LINGUSTICA E ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA
60. ERROS DE ESCOLARES COMO SINTOMAS DE TENDNCIAS LINGUSTICAS NO PORTUGUS DO RIO DE JANEIRO
61. LINGSTICA E ENSINO DO PORTUGUS
62. O PORTUGUS CULTO FALADO NO BRASIL: histria
63. LNGUA E LIBERDADE
64. POR QUE (NO) ENSINAR GRAMATICA NAS ESCOLAS
65. O ESTRUTURALISMO LINGUSTICO: alguns caminhos
66. O EMPREENDIMENTO GERATIVO
67. INTRODUO LINGUSTICA: fundamentos epistemolgicos.
68. ESTRUTURA E FUNO DA LINGUAGEM
69. NOVOS HORIZONTES EM LINGUSTICA
70. TRINTA ANOS DE SINTAXE GERATIVA NO BRASIL
71. ANLISE DO DISCURSO
72. ESTUDOS FUNCIONALISTAS NO BRASIL
73. A GRAMTICA FUNCIONAL.
74. A LINGUSTICA INDGENA NO BRASIL
75. LINGUAGEM E ENSINO: exerccios de militncia e divulgao.
76. LEITURA: ensino e pesquisa
77. TEXTO E LEITOR: aspectos cognitivos da leitura.
78. OFICINA DE LEITURA: teoria e prtica.
79. O TEXTO E A CONSTRUO DOS SENTIDOS
80. DESVENDANDO OS SEGREDOS DOTEXTO
81. PRINCPIOS DO SISTEMA ALFABTICO DO PORTUGUS DO BRASIL
82. NADA MAIS GRATIFICANTE DO QUE ALFABETIZAR
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83. SUBSDIOS PROPOSTA CURRICULAR DE LNGUA PORTUGUESA PARA O 2 GRAU
84. PARA LER E FAZER O JORNAL NA SALA DE AULA
85. O TEXTO NA SALA DE AULA
86. A COESO TEXTUAL
87. DA FALA PARA A ESCRITA: atividades de retextualizao
88. OS HUMORES DA LNGUA: anlises lingusticas de piadas
89. DRAMTICA DA LNGUA PORTUGUESA: tradio gramatical, mdia e excluso social
90. UMA VISO SOCIOCOGNITIVA DA AVALIAO EM TEXTOS ESCOLARES
91. O APORTE SOCIOCOGNITIVO PARA A PRODUO E O PARTILHAMENTO DE LINGUAGEM E CONHECIMENTO
92. OS ASPECTOS SOCIOCOGNITIVOS DAS INTERAES MEDIADAS PELAS TAREFAS ESCOLARES
93. UM ESTUDO DE CASO: A RESPOSTA "CERTA" COMO CHECAGEM DE INTERNALIZAO DE MCI
94. EM TERRA DE SURDOS-MUDOS (UM ESTUDO SOBRE AS CONDIES DE PRODUO DE TEXTOS ESCOLARES)
95. O JOGO DISCURSIVO NA AULA DE LEITURA: lngua materna e lngua estrangeira
96. TEORIAS E CONCEITOS EM LINGUSTICA COGNITIVA: (in)compreenses
97. SOCIOLINGUSTICA INTERACIONAL: antropologia, lingstica e sociologia em anlise do discurso
98. LEITURA COMPREENSIVA: um estudo de caso
99. O APRENDIZADO DA LEITURA
100. ESTUDOS EM ALFABETIZAO: retrospectivas nas reas da psico e da sociolingustica
101. TEXTO E LEITOR: aspectos cognitivos da leitura
102. LEITURA: ensino e pesquisa
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103. A CONFIGURAO DAS ARENAS COMUNICATIVAS NO DISCURSO INSTITUCIONAL: professores versus professores
104. PROBLEMAS DE REDAO
105. SOBRE DISCURSO E TEXTO: imagem e/de constituio
106. SOBRE A ESTRUTURA DO DISCURSO
107. GRAMTICA E INTERAO: o enquadre programtico da hiptese scio-cognitiva sobre a linguagem
108. A QUESTO DA CONSTRUO DO SENTIDO E A AGENDA DOS ESTUDOS DA LINGUAGEM
109. RAZO, REALISMO E VERDADE: o que nos ensina o estudo scio-cognitivo da referncia
110. O CONFLITO DE VOZES NA SALA DE AULA
111. O JOGO DISCURSIVO NA AULA DE LEITURA: lngua materna e lngua estrangeira
112. CONHECIMENTO TCNICO E ATITUDE NO ENSINO DE LNGUA PORTUGUESA
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ARTIGOS PARA LEITURA, ANLISE E UTILIZAO COMO FONTE OU REFERENCIA
Portal da Estao da Luz da Lngua Portuguesa
LINGUSTICA E ENSINO DA LNGUA PORTUGUESA
Rodolfo Ilari (Unicamp)
Introduo
Datadas de 1957, as primeiras reflexes de um lingista brasileiro sobre o ensino da
lngua esto contidas num ensaio de Joaquim Mattoso Cmara Jr. cujo ttulo todo
um programa "Erros de Escolares como Sintomas de Tendncias do Portugus no
Rio de Janeiro". Nele se afirmava, com toda a clareza possvel, que muitos erros
encontrados pelos professores de ensino fundamental e mdio na fala e na escrita
de seus alunos, nada mais eram do que inovaes pelas quais estava passando a
lngua portuguesa falada na poca; o texto de Mattoso Cmara sugeria tambm que
era equivocado tom-los como sintoma de outra coisa - por exemplo de alguma
incapacidade fundamental dos prprios alunos - e recomendava que, ao lidar com
suas classes de crianas e adolescentes, nossos mestres do ensino fundamental e
mdio tomassem a situao lingstica ento vigente no Brasil como pano de fundo
do ensino de lngua materna.
No contexto dos anos 1950, a mensagem de Mattoso Cmara era altamente
inovadora. Ela se baseava nos pressupostos de uma cincia recm-introduzida no
Brasil - a Lingstica - e interpretava de maneira totalmente nova uma situao
pedaggica que se tornava cada vez mais freqente por causa da chamada
"democratizao do ensino", que ia promovendo o ingresso macio de crianas e
adolescentes das classes populares numa escola at ento fortemente elitizada. Os
dois processos aqui aludidos - a presena cada vez mais numerosa de alunos
provenientes da classe popular no ensino fundamental e mdio e a difuso nesse
mesmo ensino de idias originadas na lingstica - continuam at nossos dias. Nas
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prximas pginas, falaremos do segundo, tentando explicar como a cincia
lingstica se mostrou relevante para o ensino de lngua materna.
Nos cerca de cinqenta anos que nos separam do texto de Mattoso Cmara, a
Lingstica brasileira foi uma disciplina extremamente dinmica:
1) criou na sociedade brasileira uma nova figura de pesquisador profissional da
linguagem - o lingista - que acabou por assumir parte das tarefas antes confiadas
s figuras tradicionais do gramtico e do fillogo;
2) cultivou o debate entre vrias orientaes tericas, o que levou a multiplicar as
maneiras de pensar a lngua e seu estudo; isso repercutiu no estudo da lngua
portuguesa estimulando pesquisas que, tomadas em seu conjunto, criaram para
essa lngua um programa de investigao sem precedentes em todos os tempos;
3) serviu de suporte para a assimilao de uma srie de teorias sobre fenmenos
em que a lngua se envolve: a cognio, a capacidade humana de agir e interagir,
todo tipo de ao pedaggica, etc.
1. "Vulto solene, de repente antigo": o fillogo e o gramtico
At a criao das primeiras disciplinas universitrias de Lingstica, ocorrida nos
primeiros anos da dcada de 1960, o estudo da lngua ficava por conta de duas
figuras de profissionais: o fillogo e o gramtico. A Filologia tem suas origens no
Humanismo e na Renascena, e comea com a atividade de alguns grandes
estudiosos das literaturas grega e latina, como o poeta italiano Petrarca, o filsofo
holands Erasmo de Rotterdam ou o historiador portugus Damio de Gis. Nasceu
do esforo de compreender os textos da antiguidade clssica e, alm de
desenvolver mtodos e tcnicas destinados a recuperar a forma original dos textos
que ainda sobreviviam, reuniu uma enorme massa de conhecimentos lingsticos e
histricos necessrios para a sua compreenso.
Assim como existe uma Filologia clssica, existe uma Filologia portuguesa: a
cincia que nos permite interpretar os documentos mais antigos de nossa lngua,
que foram escritos em Portugal a partir do sculo XII. Nesse tipo de estudo, como se
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pode imaginar, as informaes histricas e a anlise minuciosa dos textos antigos
tm um papel preponderante. At o incio da dcada de 1960, no Brasil, a presena
de disciplinas de Filologia era um dos pontos altos dos bons cursos de Letras.
Assim, um aluno da Universidade de So Paulo passaria provavelmente boa parte
de seu curso estudando linha por linha algum texto medieval, como a Vida de So
Bernardo ou os Cancioneiros que renem as cantigas dos trovadores medievais. Ao
final de quatro anos, imbudo de Filologia portuguesa, ver-se-ia defrontado com a
profisso de professor secundrio, onde se enfrentam problemas bem menos
doutos, por exemplo o de ensinar alunos recm sados do primrio e mal
alfabetizados a ler em voz alta.
A Gramtica, como se sabe, nasceu entre os gregos como uma espcie de prima
pobre da Retrica, esta ltima uma disciplina bem mais prestigiada num mundo em
que o sucesso pessoal dependia da capacidade de expressar-se publicamente e de
convencer "na lbia" os interlocutores. Ao longo de sua histria, a Gramtica foi
sempre uma disciplina normativa, isto , uma disciplina que dizia como devem
expressar-se as pessoas "bem criadas". Embora alguns grandes professores
universitrios tenham sido ao mesmo tempo gramticos e fillogos (o caso mais
clebre o de Celso Cunha, autor com o portugus Lus Felipe Lindley-Cintra de
uma gramtica que at hoje uma referncia importante), as "boas" universidades
da dcada de 1960 evitavam em sua maioria o ensino de Gramtica. De acordo com
a concepo ento vigente, a Gramtica de uma lngua era um conjunto de receitas
para a expresso correta e, supostamente, os alunos de uma boa universidade
saberiam expressar-se de maneira correta e elegante desde o curso colegial. Aqui,
sim, o estudo sistemtico de Gramtica era uma atividade central, junto com a
prtica da anlise sinttica. Em 1957, depois de alguns anos de discusses, uma
comisso de estudiosos criada por iniciativa oficial havia aprovado em carter de
recomendao a Nomenclatura Gramatical Brasileira (a NGB), e muitos compndios
de Gramtica que utilizavam a nomenclatura recomendada foram publicados (ou
republicados) na esteira desse processo. No "colegial" da poca, o estudo de
Gramtica consistia em ler na seqncia todos os captulos de um desses
compndios, onde cada "regra" vinha acompanhada de uma lista mais ou menos
longa de exemplos descontextualizados e de uma lista mais ou menos longa de
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excees. Um tratamento anlogo era dado ao estudo da acentuao grfica e, at
onde era possvel, grafia. A prtica da anlise sinttica se fazia tambm base de
sentenas descontextualizadas (sobretudo quando tinha a finalidade de exemplificar
a aplicao das regras); mas em alguns casos, era colocada a servio da anlise de
textos, sobretudo quando era encarada como uma etapa necessria para a
compreenso de autores como Cames ou Vieira, clebres por seus perodos
gramaticais complexos e cheios de inverses em relao "ordem direta" dos
termos e das oraes.
No ensino mdio como no superior, um dos pressupostos daquele tempo era,
evidentemente, que a escola existia apenas para pessoas que conheciam e
praticavam o portugus culto. Quando se adota esse pressuposto, as variedades
no prestigiadas da lngua so ignoradas, e a diversidade lingstica lembrada, na
melhor das hipteses, como parte da questo de definir uma pronncia padro.
Nos anos que precederam a introduo da Lingstica no Brasil, essa questo - a
definio de uma pronncia padro - esteve vrias vezes na ordem do dia: um
congresso realizado em 1936 sob a inspirao de Mrio de Andrade e Manuel
Bandeira tratou da pronncia que deveria ser adotada no canto lrico: Mrio de
Andrade estava em campanha contra a maneira como o portugus era pronunciado
pelos cantores de peras, que eram freqentemente estrangeiros ou que, mesmo
sendo brasileiros, utilizavam sua prpria pronncia regional. Em 1957, um outro
congresso, no qual teve um papel destacado Antnio Houaiss (o mesmo fillogo que
idealizou o Dicionrio Houaiss), produziu "teses" que oscilavam entre duas posies
contrrias: a que reconhecia a existncia de diferentes normas regionais e a que
recomendava que o teatro adotasse como modelo a pronncia carioca,
descarregada de certas especificidades muito marcadas, como a pronncia "chiante"
dos esses finais. Essas iniciativas partiam de trs pressupostos que hoje nos
parecem discutveis: que a lngua de um pas tem que ser uniforme, que o uso
lingstico deve ser determinado por decises superiores e que tarefa dos
especialistas decidir em nome da populao o que certo e o que errado, o que
nobre e o que vulgar. Assim, os dois eventos foram planejados para ter
repercusso: esperava-se, sobretudo para o segundo, que a variedade de pronncia
apontada como exemplar para o teatro passaria naturalmente para o grande meio de
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comunicao da poca, o rdio, e tambm para a televiso, que ento comeava a
ser implantada nas grandes cidades; adotada em seguida pela escola, a pronncia
recomendada unificaria linguisticamente o pas.
2. O impacto da Lingustica
No incio dos anos 1960, como vimos, a Lingstica comeou a ser ensinada como
disciplina obrigatria nos cursos de Letras, e por esse caminho comearam a
difundir-se no pas alguns pontos de vista inteiramente novos sobre lngua e
linguagem. Pelas circunstncias histricas daquele momento, o Brasil conheceu a
assim chamada Lingstica estrutural, que destacava como principal tarefa, no
estudo de qualquer lngua, a depreenso de sua estrutura, a partir do
comportamento lingstico observado.
Para um estruturalista, a lngua no se confunde com as frases que as pessoas
usam, nem com o comportamento verbal que observamos no dia-a-dia; , ao
contrrio, uma abstrao, um conhecimento socializado que todos os falantes de
uma comunidade compartilham, uma espcie de cdigo que os habilita a se
comunicarem entre si. H uma estrutura lingstica a revelar sempre que as pessoas
se comunicam atravs da linguagem, e isso vale para as grandes lnguas de cultura
e para as lnguas politicamente menos importantes (por exemplo as que so faladas
nas sociedades primitivas), para os comportamentos lingsticos que seguem o
padro culto e para aqueles que a sociedade discrimina como incultos ou vulgares.
Aplicadas situao brasileira, essas idias levaram, antes de mais nada, a
perceber que, no espao comum do que reconhecemos como "o portugus
brasileiro", convivem vrias "lnguas" no sentido estrutural do termo. At ento, os
estudiosos faziam a respeito da lngua uma imagem de grande uniformidade; mas
de repente, percebeu-se que essa suposta uniformidade era o efeito de uma
deciso nada bvia e no fundo preconceituosa: a de considerar como objeto de
estudo apenas a lngua-padro (e eventualmente os textos antigos, historicamente
importantes, que constituram sempre a preocupao dos fillogos). O portugus-
brasileiro no inclui apenas a lngua trabalhada esteticamente pelos grandes
escritores, ou a expresso altamente formal dos documentos oficiais; abrange
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tambm variedades regionais como o "dialeto" caipira, os falares do tapiocano e do
guasca ou as grias dos malandros cariocas e dos seringueiros da Amaznia; inclui
ainda diferentes variedades correspondentes estratificao scio-econmica da
populao brasileira.
Para um estruturalista, nenhuma dessas variedades intrinsecamente errada, pois
falar em "erro" to estranho numa cincia que descreve o comportamento
lingstico como o seria para um meteorologista condenar a chuva ou elogiar as
frentes frias. Do ponto de vista da cincia da linguagem, nenhuma das variedades
do portugus do Brasil menos nobre ou menos digna de estudo do que qualquer
outra. Por isso, contrariando as preocupaes normativistas que predominavam na
poca, a Lingstica estrutural afirmou com veemncia que a grande tarefa a ser
cumprida pela prxima gerao seria a de descrever as regularidades observadas
nas diferentes variedades de portugus existentes no pas, no a de apontar
algumas variedades como "corretas" em detrimento de outras que seriam "erradas".
Note-se que voltamos assim idia de Mattoso Cmara que mencionamos no incio
deste texto: o que discriminado como erro, pode ser simplesmente uma diferena
percebida entre os diferentes sistemas lingsticos que convivem no mesmo pas.
No novo clima assim criado, tomou fora a idia de que, para descrever a realidade
lingstica brasileira, seria preciso, antes de mais nada, document-la
cuidadosamente. Disso se encarregaram vrias pesquisas dialetolgicas,
paralelamente elaborao de atlas lingsticos regionais, muitos dos quais
inspirados na experincia pioneira do Atlas Prvio dos Falares Baianos de Nlson
Rossi (1960-62); cresceu o interesse pelas lnguas minoritrias - no s as dos
indgenas, mas tambm o que sobrevivia das lnguas trazidas da frica, Europa e
sia pelos escravos africanos e pelos imigrantes. A preocupao em documentar fez
nascer alguns grandes projetos de coleta de dados, o mais clebre dos quais foi o
Projeto de Estudo da Norma Urbana Culta, que teve entre seus inspiradores o
lingista paulista Ataliba T. de Castilho. Conhecido pela sigla NURC, esse projeto
centrou suas atenes nas cinco capitais brasileiras que contavam na poca com
mais de um milho de habitantes (So Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Salvador e
Porto Alegre) e, tirando partido do recurso de gravao de voz mais avanado da
poca - o gravador porttil - gravou cerca de 1570 horas de entrevistas - um nmero
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que ultrapassava em muito o que j havia sido feito na maioria dos pases
desenvolvidos. O resultado desse enorme levantamento, feito apenas com
informantes de nvel universitrio, confirmou o que os lingistas tinham desconfiado
desde o incio, que ningum fala conforme recomendam os gramticos.
Na dcada de 1980, o mesmo Ataliba T. de Castilho lanaria outro grande projeto de
descrio: o Projeto da Gramtica do Portugus Falado. Em cerca de vinte anos,
este ltimo projeto produziu uma vasta gama de estudos voltados para um pblico
de especialistas, mas seu objetivo final dotar a sociedade brasileira de uma grande
gramtica de referncia, que possa ser usada por pessoas comuns (no-
especalistas) interessadas em conhecer como de fato a lngua que se fala neste
pas. Essa gramtica ter por base os usos lingsticos documentados a partir da
dcada de 1960 pelo projeto NURC, ser rigorosamente descritiva e ter por foco a
lngua falada, rompendo com uma tradio de sculos em que a gramtica sempre
tratou de lngua escrita, e os gramticos sempre disseram como a lngua deve ser, e
no como de fato. Resultado de um trabalho coletivo de quase trs dcadas, a
grande gramtica de referncia do portugus falado dever chegar s livrarias
brevemente.
De todas as prticas escolares, a que foi mais questionada no contexto criado pela
Lingstica, foi a velha prtica do ensino gramatical. Entre outras coisas, lembrou-se
que os verdadeiros objetos lingsticos com que lidamos no do dia-a-dia so sempre
textos, nunca sentenas isoladas, e observou-se (com razo) que as gramticas tm
muito pouco a dizer sobre esses objetos; mostrou-se que os gramticos descrevem
uma lngua sem existncia real; e apareceram vrios livros que, desde o ttulo,
caracterizavam o ensino gramatical como uma forma de opresso ou minimizavam
seu interesse pedaggico: um ttulo de intenes polmicas, como o do livro de
Celso Luft, Lngua e liberdade seria absolutamente impensvel algumas dcadas
antes.
Num primeiro momento, as novas idias encontraram uma forte resistncia entre os
professores de portugus, porque o ensino da gramtica, entendido como um
aprendizado de nomenclaturas e um exerccio de classificao, ocupava um espao
muito grande no ensino de lngua materna. Hoje, o quadro pode ter mudado, no
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sentido de que a polmica ganhou novos interlocutores, passando do ambiente
escolar para a mdia: boa parte do professorado parece ter assimilado, pelo menos
em teoria, a idia de que o ensinar lngua portuguesa muito mais do que ensinar
gramtica, mas a defesa da posio normativista tem sido encampada pela televiso
e pelos jornais, que multiplicaram os espaos dedicados casustica gramatical.
inegvel, contudo, que a Lingstica realizou um importante deslocamento ao
mostrar que possvel olhar para lngua por outros ngulos que no o da correo.
3. Lingstica ou Lingsticas?
Ao mesmo tempo que ia difundindo suas idias na escola e na sociedade, a
Lingstica feita nas universidades brasileiras foi mudando.
At certo ponto, as mudanas resultavam do fato de que os lingistas brasileros,
quer desenvolvessem um tipo de investigao de natureza mais abstrata, quer se
dedicassem descrio do portugus, foram-se interessando por objetos de estudo
cada vez mais complexos. De fato, eles passaram, por assim dizer, do fonema para
o morfema, deste para a sentena e da sentena para o texto, e acabaram
deparando com problemas que exigiam um enfoque interdisciplinar, como as
relaes entre lngua e sociedade, exploradas pela Sociolingstica, os valores
ideolgicos veiculados pelos textos que circulam numa sociedade complexa,
estudados pela Anlise do Discurso, o desenrolar das etapas iniciais da aquisio e
os distrbios da linguagem, estudados por diferentes ramos da Psicolingstica, o
papel da lngua em sociedades primitivas, estudados pela Etnolingstica e pela
Lingstica Indgena. Mas alm de eleger nveis de estudo cada vez mais
complexos, e interessar-se por objetos diversificados, a Lingstica passou tambm
por profundas mudanas de orientao terica. Os primeiros lingistas brasileiros
trabalhavam, como vimos, no horizonte criado pelo estruturalismo; suas referncias
eram, entre outras, o linguista suo Ferdinand de Saussure, que, no incio do
sculo XX, lanou a noo de lngua como sistema, ou o lingista russo-americano
Roman Jakobson, que deixou importantes trabalhos de inspirao estruturalista em
reas que vo da Fonologia Gramtica, da aquisio da linguagem ao estudo da
afasia.
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Num segundo momento - que no exatamente um momento, mas sim um longo
perodo que dura at hoje - a Lingstica brasileira assimilou os ensinamentos da
gramtica gerativa de Noam Chomsky. As diferenas entre a lingstica chomskiana
e a lingstica estrutural so grandes. Em primeiro lugar porque a lngua passa a ser
concebida como um objeto matemtico. Em seguida, porque, quando se trata de
formular um conceito de linguagem, Chomsky promove um deslocamento da esfera
do social para a esfera do psicolgico e do biolgico. Para Chomsky, as lnguas so
muito parecidas entre si, e so como so porque mobilizam uma capacidade inata
que a mesma para todos os indivduos da espcie humana, e isso tem importantes
reflexos para o processo da aquisio da lngua. Ao passo que os estruturalistas
evitavam essa questo, ou acabavam por embarcar em algum tipo de behaviorismo
(sugerindo que a lngua aprendida por um processo indutivo, no qual essencial a
exposio a uma grande quantidade de dados), para o gerativista a aquisio da
linguagem consiste essencialmente num processo de "fixao de parmetros". Mal
comparando, podemos explicar essa noo dizendo que a criana que aprende sua
lngua materna age como algum que configura um aparelho eletrnico dotado de
alguma sofisticao tecnolgica, por exemplo, um telefone celular de ltima gerao,
fazendo suas escolhas pessoais para as diferentes funes previstas no prprio
aparelho; nessa comparao, o telefone celular, tal como sai da fbrica a nossa
mente, e as vrias escolhas que podemos fazer para adapt-lo a nossas
preferncias pessoais so os parmetros. A diferena que na aquisio da
linguagem no podemos escolher a nosso bel-prazer: precisamos escolher a lngua
que j usada por nossa comunidade. Segundo uma doutrina de Chomsky,
conhecida como "doutrina da pobreza do estmulo", as crianas encontram a "lngua
certa" a partir de estmulos muito precrios; uma outra doutrina inspirada em
Chomsky e conhecida como "hiptese do bioprograma" afirma que esse aprendizado
tem prazo para acontecer na vida das pessoas e, mais precisamente, que se d na
primeira infncia. Juntas, essas duas hipteses parecem explicar algumas coisas
que todos sabemos por experincia: numa idade bastante precoce, as crianas j
dominam com grande maestria sua lngua (talvez no todo o lxico da lngua, talvez
no algumas construes sintticas de uso literrio ou arcaizante), e as crianas
aprendem qualquer lngua estrangeira com uma facilidade que no ser mais a
mesma no adulto, no importa qual seja o mtodo de ensino usado. Isso d conta
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de um sentimento que muito vivo para o professor de lngua: que sua tarefa
diferente da dos mestres de outras disciplinas, porque estes ltimos respondem por
uma verdadeira iniciao da criana num novo campo, ao passo que as crianas j
so falantes de sua lngua quando chegam escola. Por esse caminho, em suma, a
lingstica chomskiana levanta um problema nada fcil - o da especificidade do
papel do professor de lnguas. No limite, chega-se a pensar que a lngua no
ensinada, podendo no mximo ser aprendida, a partir de uma exposio correta a
dados significativos, feita no momento certo da vida do educando.
O prximo momento a considerar - e de novo convm lembrar que esse momento
coexiste com outros - o do funcionalismo. O denominao "funcionalismo" j foi
usado para indicar algumas orientaes estruturalistas que marcaram poca (por
exemplo, a do francs Andr Martinet que teve seguidores no Brasil) ou as doutrinas
da Escola Lingstica de Praga, seguidas entre ns por Mattoso Cmara Jr.; por isso
torna-se necessrio alertar que a usaremos aqui num sentido diferente, referindo-
nos a uma srie de orientaes recentes que incluem desde os trabalhos do
holands Simon Dik at os americanos Talmy Givn e Ronald Langacker. O que
permite incluir todos esses autores na "frente ampla" do "funcionalismo"? Antes de
mais nada, o fato de que desenvolveram sua obra margem do gerativismo
chomskiano, e s vezes em franca oposio a ele. Trata-se, com efeito, de autores
que, de maneira mais ou menos direta, acusam a gramtica gerativa de ter criado o
hbito de considerar um nmero relativamente limitado de fenmenos sintticos
sobre os quais se procura dizer muito, deixando de lado reas de investigao
igualmente importantes - como a significao e competncia para interagir
verbalmente com nossos semelhantes - sobre as quais se tende a no dizer nada.
Assim, um dos propsitos do funcionalista fazer da lngua uma descrio
abrangente, que no exclua, por princpio, nenhum dos aspectos da atividade verbal.
Outro objetivo do funcionalista explicar as caractersticas formais da lngua atravs
das funes que exercem; essa concepo de linguagem remonta assim chamada
"Escola Lingstica de Praga", particularmente a seus representantes anteriores
segunda guerra mundial, mas foi retomada na segunda metade do sculo XX pelo
lingista ingls M.A.K. Halliday, e o levou a perceber que qualquer sentena cumpre
simultaneamente trs funes, que ele chamou de (i) ideacional, (ii) interpessoal e
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(iii) textual e que consistem, respectivamente, em (i) fornecer representaes do
mundo (ii) instaurar diferentes formas de interlocuo como perguntar, afirmar,
ordenar, assumir graus diferentes de compromentimento em relao quilo que se
diz e (iii) monitorar o fluxo de informao nova num contexto dado. Outro conceito
fundamental do funcionalismo o de escolha. Para os funcionalistas, o falante
constri seus enunciados escolhendo simultaneamente em vrios conjuntos de
alternativas proporcionados pelo sistema lingstico (ao produzir qualquer frase,
escolhemos simultaneamente as palavras, as construes gramaticais, os contornos
entonacionais, etc.); entender o sentido e uma sentena equivale ento a entender
por que certas alternativas foram escolhidas e outras descartadas. Pelo valor que d
escolha, o funcionalismo coloca em primeiro plano o papel do falante e as
caractersticas da mensagem que ele produz, e cria uma abertura importante para o
estudo do texto e do estilo.
Uma outra linha de investigao que constitui hoje uma alternativa importante ao
gerativismo conhecida como teoria da gramaticalizao. Num sentido mais estrito,
a teoria da gramaticalizao estuda a criao de construes gramaticais a partir de
palavras e expresses que, originalmente, se aplicavam a objetos ou situaes do
mundo, e funcionavam como itens "lexicais". Um bom exemplo o verbo estar, que
remonta ao verbo latino stare, um item tipicamente lexical, que descrevia a situao
fsica de "estar de p" ou "estar parado". Hoje, estar usado principalmente para
formar frases como estou cansado, estou procurando a chave, onde um verbo de
ligao ou um auxiliar na formao de um tempo composto. Nem tudo na lngua so
palavras em via de gramaticalizao, mas essa teoria conseguiu chamar a ateno
para o fato de que, numa lngua, h sempre palavras que esto numa espcie de
rea de ningum, entre duas classes. Vale aqui, a imagem do filsofo Otto Neurath,
de um navio que vai sendo reconstrudo medida que navega: a lngua nunca se
encontra acabada, est sempre mudando. Vista por esse ngulo a lngua aparece
como um sistema instvel, sujeito a constantes reajeitamentos. No faz sentido
exigir de um tal sistema uma regularidade absoluta; e lembrar disso pode fazer
diferena quando se procura analisar suas formas sem forar as classificaes.
4. Lingustica terica e metodologia do ensino
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A Lingustica uma cincia terica e descritiva, e sua funo primria no produzir
orientaes metodolgicas destinadas ao ensino. Mas para muitos professores do
ensino fundamental e mdio, compreender a fundo o que a lngua um problema
importante, e as idias que os lingistas foram elaborando em perspectiva terica
acabaram por ter repercusses mais ou menos profundas sobre todas as prticas
pedaggicas cuja matria prima a linguagem. No que diz respeito ao ensino de
lngua materna essa repercusso se deu muitas vezes de maneira direta, pela
assimilao em contexto pedaggico de conceitos e idias elaborados pela
lingstica terica. Outras vezes, a reflexo sobre linguagem e pedagogia se fez
atravs de uma nova disciplina, a Lingustica Aplicada, que tendo nascido como
aplicao em contexto pedaggico dos conceitos da Lingstica terica, ganhou
maturidade, elaborou seus prprios problemas e conceitos e hoje trata de vrias
reas da atividade humana em que a linguagem tem um papel essencial. A
contribuio que a Lingstica aplicada deu ao ensino nos ltimos anos um tema
rico e amplo, cujo tratamento foge aos objetivos do presente texto. A esse tema ser
dedicado um outro texto, paralelo a este, escrito por um autor respeitvel com
atuao na rea. Voltemos pois s contribuies da teoria e da descrio da lngua.
J mencionamos as crticas e as perplexidades que as idias lingusticas suscitaram
no ensino da Gramtica, uma prtica que, at os anos 1960, era um componente
nobre do ensino fundamental e mdio. Outras prticas que passaram por
reformulaes conceituais profundas, a partir de conceitos elaborados em
lingstica, foram a produo de textos, a leitura e a alfabetizao.
"Produo de textos" uma denominao que se aplica ao exerccio tradicional da
redao escolar, mas abrange alm disso vrios outros gneros textuais em que o
educando e o educador podem trabalhar juntos; uma das idias implcitas no uso
dessa denominao que h muito mais a fazer, em matria de textos, do que o
velho exerccio da redao escolar. Nessa rea, os avanos da Lingustica textual,
trazendo baila um conjunto denso de questes ligadas aos conceitos de coerncia,
coeso, interao e gnero, deram evidncia a um fato bvio, que os rituais
escolares haviam por assim dizer tornado invisvel: na sala de aula, produzir um
texto (seja ele uma dissertao, uma narrao, uma descrio, ou mais
simplesmente um bilhete ou um recado) muito diferente de trabalhar sentenas: o
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texto uma unidade lingustica com estrutura prpria, e geralmente as pessoas
sabem construir textos bastante eficazes mesmo quando no utilizam a lngua
padro (pense-se na riqueza com que as pessoas mais humildes conseguem contar
episdios que marcaram sua vida). Esta constatao tem conseqncias srias para
a maneira como se "avalia a redao", porque leva a considerar inadequado o
mtodo de avaliao mais arraigado na escola, que consiste em "corrigir" e dar nota
redao pela quantidade de erros de gramtica e de ortografia, ao mesmo tempo
que se desconsideram suas caractersticas propriamente textuais (coeso,
coerncia), mas isso no tudo.
No dia-a-dia, as pessoas produzem textos (geralmente falados) fortemente iseridos
na situao, dotados de objetivos concretos e muito adequados quanto s
estratgias empregadas. Na escola difcil conseguir uma "insero no real" to
autntica quanto a dos textos do dia-a-dia, mas a atividade de produo de textos
no precisa chegar ao outro extremo, o do absoluto artificialismo de certos temas de
redao clebres, como "minhas frias" ou "uma lgrima", "dados" geralmente pelo
professor, pelos quais todos ns passamos. Uma das descobertas feitas pelos
linguistas mais atentos linguagem como interao que todo texto real sempre
uma forma de interlocuo ou resposta: falamos, no mais das vezes, reagindo a
outra fala. Essa descoberta leva a valorizar uma prtica a que os bons professores
sempre recorreram espontaneamente na produo de textos: a de preparar a
redao por meio de "pesquisas" e discusses prvias sobre o tema a ser tratado.
Esse modelo , de certo modo, retomado no formato dos bons concursos
vestibulares, que mandam redigir s depois que o candidato completou a leitura de
uma "coletnea de textos".
No que diz respeito alfabetizao h pelo menos trs grandes momentos a
considerar.
(i) A estria da Lingstica brasileira coincidiu com a elaborao das primeiras
descries fonolgicas do portugus. To logo a fonologia conseguiu impor a idia
de que a lngua falada funciona por meio de unidades opositivas, tornou-se evidente
que a velha representao segundo a qual o portugus tem cinco vogais, sugerida
pela grafia, errada; a grafia representa mais de um som, o mesmo ocorrendo
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com (comparem-se o peso e eu peso, o poo e eu posso); tambm ficou claro
que as letras , , , e podem indicar tanto sons orais como sons
nasais (como em cato e canto, cedo e sendo, pito e pinto etc.). Diante dessas
constataes, que so absolutamente elementares em fonologia do portugus, foi
possvel perceber que havia boas razes lingsticas para alguns erros que
recorrem na escrita dos alunos (como o uso da grafia para o substantivo
salto); as cartilhas que ensinavam a ver o mesmo "a" em pata e anta precisaram ser
colocadas sob suspeita e, de maneira mais geral, ficou claro que entre as letras da
escrita e os fonemas da lngua no h uma correspondncia um-a-um. Na verdade,
em portugus, a correspondncia entre as letras e os sons bastante complexa
(no tanto quanto em ingls, mas certamente muito mais do que em espanhol ou em
italiano) e isso cria para o alfabetizador muitas dificuldades previsveis. No causa
estranheza que muitos lingistas preocupados com o problema da alfabetizao
tenham trabalhado no sentido de mapear essas dificuldades.
(ii) Por muito tempo, uma das grandes preocupaes dos alfabetizadores foi com a
"prontido", isto , eles se preocupavam com a maneira mais eficaz de desenvolver
nos alunos das primeiras sries as capacidades motoras necessrias para desenhar
corretamente as letras da escrita cursiva. Era o tempo em que a alfabetizao
propriamente dita comeava pelo desenho da letra , embalado por uma cantilena
que falava em "bolinha" e "perninha".
Durante a dcada de '80, os escritos de duas pesquisadoras de orientao
construtivista (influenciadas pelo psiclogo suo Jean Piaget), Emlia Ferreiro de
Anna Teberowsky, mostraram que o grande salto da alfabetizao se d no quando
a criana alcana o estgio da prontido, mas quando descobre que as letras esto
em correspondncia com sons. Para a criana, a formulao dessa hiptese (que
no tem nada a ver com motricidade, pois de natureza cognitiva), tem o sentido de
uma autntica revelao, e o grande momento inaugural que abre o caminho para
o aprendizado da escrita. Normalmente, para chegar a essa hiptese, a criana tem
que descartar outras hipteses erradas, mas cognitivamente significativas, por
exemplo a hiptese de que h uma correspondncia entre o tamanho do objeto e o
tamanho da palavra (por essa hiptese, a palavra cachorro deveria ser menor que a
palavra boi), ou a hiptese de que a escrita silbica (pela qual cada segmento da
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escrita representaria uma slaba, como acontece, por exemplo, em coreano). Se o
salto qualitativo necessrio para a alfabetizao a descoberta do princpio
alfabtico, bvio que a preparao da classe para a alfabetizao no pode mais
centrar-se no treinamento da prontido e da motricidade, mas na relao som/letra.
Mas evidente que nem tudo, na alfabetizao, se explica por essa relao e quem
quiser saber mais, poder tirar proveito das publicaes do CEALE, o Centro de
Alfabetizao e Leitura da Universidade Federal de Minas Gerais, fundado por
Magda Soares, que tem dado contribuies relevantes ao tema.
(iii) A partir dos anos 1990, alis, tem sido cada vez mais freqente lanar mo, ao
lado do velho conceito de alfabetizao, de um novo conceito de contedo mais
social e antropolgico: o de letramento. A palavra letramento, que hoje de
circulao corrente, refere-se no mera capacidade de representar os sons na
escrita, mas sim s formas de insero na sociedade a que o indivduo se habilita
pelo fato de utilizar de maneira competente a escrita. Distinguir entre alfabetizao e
de letramento nos ajuda a entender que a insero do indivduo numa sociedade
letrada como a nossa est longe de completar-se quando o indivduo aprendeu a
escrever seu nome ou a anotar uma mensagem simples (essas so duas definies
de indivduo alfabetizado, historicamente importantes); para alm desse aprendizado
h outros aprendizados prprios de uma sociedade letrada que so indispensveis
para uma insero plena.
Nos ltimos pargrafos, detivemo-nos mais longamente no assunto da alfabetizao:
as razes deveriam ser bvias, pois o analfabetismo continua sendo um dos
grandes problemas nacionais, no Brasil: dados do Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Ansio Teixeira (INEP), rgo do Ministrio da Educao,
mostram que existiam ento no Brasil 16 milhes de analfabetos (9,3 % da
populao) e que o nmero de meninos e meninas candidatos matrcula nos dois
ciclos do ensino fundamental (na faixa etria entre 7 e 14 anos) girava em torno de
35 milhes.
Junto com a alfabetizao, o ensino da leitura um dos grandes desafios da escola
brasileira, e um dos grandes problemas de poltica educacional com que se
defrontam nossos educadores. Para avaliar as dimenses do problema, basta
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lembrar que, na ltima avaliao do PISA, o Programa Internacinal de Avaliao de
Alunos gerido pela Organizao para a Cooperao e o Desenvolvimento
Econmico (OCDE) da UNESCO, os alunos brasileiros ficaram em 37 lugar nas
provas de leitura, num total de 41 pases participantes. Numa escala de 800 pontos,
os brasileiros mais bem colocados atingiram 431 pontos, sendo que dezesseis
pases tiveram uma pontuao em leitura acima de 500. Entre os motivos desse
fracasso esto, certamente, alguns velhos problemas que afetam nosso ensino
como um todo, como a evaso escolar, a m remunerao dos professores e a falta
de bibliotecas pblicas, mas tambm esto fatores mais especficos, e um deles a
enorme desinformao que ainda existe entre nossos professores a respeito da
leitura enquanto competncia dos falantes. Paradoxalmente, essa desinformao
persiste numa poca em que, em nvel mundial, as grandes mudanas ocorridas nos
meios de comunicao de massa, e a necessidade de uma perspectiva histrica
para compreender as novas mdias fizeram surgir um interesse muito vivo pela
histria da leitura, por suas relaes com diferentes contextos sociais e por sua
natureza enquanto processo cognitivo.
A Lingstica tem marcado presena nessa reflexo, e lanou desde a dcada de
1980 vrias hipteses instigantes sobre os processos cognitivos envolvidos na
adequada compreenso de um texto. Sob esse aspecto, teve um papel importante
para desfazer o equvoco de que a leitura seria um processo passivo. Ao contrrio
do que muitos pensam, quem l um texto (como quem ouve uma melodia, ou analisa
as formas de um objeto) toma em relao ao ele uma srie de iniciativas. O leitor
competente no se contenta em ler e processar, uma aps a outra, as sentenas
que formam o texto; ele vai a essas sentenas munido de hipteses que podero ser
confirmadas ou desmentidas. No se limita a extrair informaes das linhas que l;
procura integrar as informaes colhidas no nivel da sentena em hipteses que
dizem respeito ao texto como um todo, esforando-se por identificar as intenes de
quem o escreveu e refaz, por assim dizer, todo o trabalho de composio do texto.
Assim, o texto como um todo torna-se o grande critrio para explicar cada uma de
suas partes, e as partes so o grande critrio em que se fundamenta a deciso de
manter ou descartar as hipteses feitas para entender o texto como um todo, num ir-
e-vir constante entre a macroestrutura e as microestrutura. Pelo que acabamos de
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dizer, esse processo extremamente ativo, porque exige um leitor disposto a
"montar", ajustando-as continuamente, hipteses que so feitas em vrios nveis
(palavra, sentena, perodo, texto); tambm interativo, e cooperativo, porque se
trata, a partir do escrito, de recuperar os caminhos do autor, suas opes e suas
motivaes.
5. Lingstica e ensino da lngua materna: o que se deve esperar dessa
parceria?
A alfabetizao, a produo de textos e a leitura so atividades bsicas do ensino de
lngua materna, e so tambm questes que a Lingstica ajudou a repensar e
reformular, nos ltimos anos, confirmando que a parceria Lingstica-Ensino
benfica. Essa parceria foi construda pacientemente, e passou, por parte dos
lingistas, por diferentes formas de colaborao: na dcada de 1970, o lingista que
se interessava pelo ensino do portugus preocupava-se, no mximo, em apresentar
em linguagem acessvel aos professores de lngua materna os conceitos cientficos
que ele considerava pedagogicamente relevantes: esse, em linhas gerais, o
sentido da srie "Subsdios para a aplicao dos guias curriculares" da Secretaria da
Educao de So Paulo, de 1978: Castilho (Org. 1978). De outro tipo so os
trabalhos que comeam a aparecer nos anos 1980, geralmente voltados para
mostrar a necessidade de levar para a sala de aula os mesmos mtodos de
descoberta usados em Lingstica, de fazer do texto o centro do ensino, ou de
reformular as prticas vigentes luz das descobertas da cincia da linguagem (este
o sentido geral de O Texto na Sala de Aula, editado em 1984 e ainda hoje uma
referncia importante). Num momento particularmente fecundo da parceria
lingstica/ensino, que podemos situar no final dos anos 1980 e no incio dos anos
1990, aparecem obras que delineam concepes de ensino lastreadas em
concepes da linguagem de cunho interacionista e cognitivista. Mas esse
tambm o momento em que muitos lingistas optam pela verticalizao, explorando
temas especficos, entre os quais reencontramos no s os temas da alfabetizao,
da leitura e da redao, mas tambm muitos outros, como o estudo das
propriedades de um bom texto ( coerncia, coeso, referenciao), o trabalho sobre
gneros especficos (como a narrativa e a piada ou as notcias de jornal), o uso da
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lngua falada em contexto pedaggico, as relaes entre lngua falada e lngua
escrita e as possibilidades de retextualizao, e muito mais.
Vistas as coisas por um outro ngulo, houve tambm um grande envolvimento
prtico no dia-a-dia do ensino: no s foi constante a participao de lingistas em
cursos de treinamento e estgios de educadores em servio mas, a partir dos anos
'80, alguns grandes lingistas estiveram frente de importantes projetos
pedaggicos (por exemplo, Joo Wanderley Geraldi respondeu em vrios estados
do Brasil, por projetos que levaram um ensino diferenciado a alguns milhes de
crianas e adolescentes); outros escreveram livros didticos diferenciados (Mary
Kato e Flvio di Giorgi, Milton do Nascimento, Jos Luiz Fiorin e Francisco (Plato)
Savioli, Ana Luza Marcondes Garcia e Maria Betnia Amoroso); outros ainda (caso
particularmente de Maria Bernadete Abaurre e Srio Possenti) participaram da
criao de novos formatos para os vestibulares de algumas grandes escolas e para
a formao de seus corretores, e assim contriburam para criar referncias e mo de
obra qualificada para alguns processos de avaliao de alcance nacional e de
grande visibilidade, como o Exame Nacional de Cursos (o "Provo") e o Exame
Nacional de Ensino Mdio (ENEM). Tudo isso criou condies para que a Lingstica
tivesse direito a voz, no processo de elaborao dos Parmetros Curriculares
Nacionais, um documento que tem hoje a funo de orientar o ensino de lngua
materna, em nvel nacional, e que, por seus prprios mritos, constituir, por muito
tempo, uma referncia importante.
Por tudo aquilo que dissemos, vivemos hoje um momento em a Lingstica j no
precisa justificar sua presena para os principais agentes do ensino, os professores.
Outra questo a assimilao de sua mensagem pelo corpo social, com vistas a
difundir uma concepo da realidade lingstica do pas e a promover os valores da
cidadania. Aqui, a lingstica continua enfrentando resistncias, porque a mdia -
sobretudo os jornais e a televiso - encamparam a velha bandeira da correo, da
uniformidade lingstica e da primazia do escrito e, com seus manuais de redao,
suas colunas de consulta gramatical e seus programas em que a idia de lngua
vinculada idia de ptria, continuam agitando um fantasma que tem sido
extremamente eficaz para fazer da lngua um motivo de excluso social.
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Os estudos sobre a formao do portugus do Brasil mostram que nossa lngua
sempre esteve cindida entre uma norma lusitanizante e uma norma tipicamente
brasileira, e que dessa duplicidade do passado deriva o enorme hiato que hoje
separa o portugus escrito das pessoas letradas e o portugus efetivamente usado
pelo povo. A Lingstica tem trabalhado no sentido de valorizar os usos reais e de
tomar a lngua falada pelos educandos como ponto de partida para o aprendizado da
lngua escrita culta; a mdia tem trabalhado, no mais das vezes, no sentido de
estigmatizar as formas populares, aprofundando o hiato. No fogo cruzado entre as
duas posies est o professor de portugus que, honestamente interessado em
proporcionar o melhor a seus alunos, hesita entre uma e outra linha de conduta.
O sentido deste texto foi mostrar que ele tem razes de peso para optar pela
proposta da Lingstica, se quiser. Muita coisa mudou desde os anos 1960, quando
a Lingstica, despontou no contexto cultural brasileiro com um discurso que
procurava desqualificar as prticas pedaggicas vigentes, mas pouco tinha a
oferecer em troca. Nos ltimos quarenta anos, foi acumulada uma quantidade
impressionante de informaes sobre a lngua que se fala neste pas, sua
diversidade, sua histria. Nesse contexto mudado, o debate se coloca hoje de
maneira muito mais clara como uma escolha entre duas atitudes opostas: possvel
abrir os olhos para a realidade lingstica, compreend-la a fundo, aceit-la e
trabalhar a partir dela, assim como possvel fechar os olhos realidade, decidindo
dogmaticamente como ela deveria ser. A opo da Lingstica tem sido pelo
conhecimento do que existe e pela superao do preconceito.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
Para o item 1:
MATTOSO CMARA Jr. J. (1957) Erros de escolares como sintomas de tendncias lingsticas no portugus do Rio de Janeiro. In Romanistisches Jarbuch, Hamburgo (8): 279-86. Reimpresso em Dispersos (seleo e introduo de C.E.F.Ucha). Rio de Janeiro, Fundao Getlio Vergas, 1972, pp.35-46.
BAGNO, Marcos (org. 2002) Lingstica da Norma. So Paulo: Loyola
Para o item 2:
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GENOUVRIER, E; PEYTARD, J. (1975) Lingstica e ensino do portugus. Coimbra: Almedina.
CASTILHO, A.T. (2002) "Apresentao - Projeto de gramtica do portugus falado". In: CASTILHO (org. 2002) Gramtica do Portugus Falado. vol. 1: a ordem. Campinas, Edunicamp, pp. 7-24.
CASTILHO, A. T. . O portugus culto falado no Brasil: histria do Projeto NURC. In: DINO PRETI; HUDINILSON URBANO. (Org.). A Linguagem Falada Culta na Cidade de So Paulo. 1a. ed. So Paulo, 1990, v. 4, p. 141-202.
LUFT, Celso P. (1985) - Lngua e liberdade. So Paulo: tica.
POSSENTI, S. (1996) Por que (no) ensinar gramatica nas escolas. Campinas: Mercado das Letras.
ILARI, R. (2004) "O estuturalismo lingstico: alguns caminhos". In Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes, Introduo Lingstica: fundamentos epistemolgicos. So Paulo: Cortez, pp. 53-91.
Para o item 3:
BORGES NETO, J. (2004) "O empreendimento gerativo". In Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes, Introduo Lingstica: fundamentos epistemolgicos. So Paulo: Cortez, pp. 93-130.
HALLIDAY, M.A.K (1976) "Estrutura e funo da linguagem". In Lyons (org.) Novos horizontes em lingstica. So Paulo: Cultrix (1976), pp. 134-160.
KATO, M. A; RAMOS, J. (1999) "Trinta anos de Sintaxe Gerativa no Brasil". DELTA, vol.15 nmero especial, pp.105-146.
MUSSALIM, Fernanda (2001) "Anlise do discurso". In Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes, Introduo Lingstica 2: Domnios e fronteiras. So Paulo: Cortez, 101-142.
NEVES, M.H. de Moura (1999) "Estudos funcionalistas no Brasil". DELTA, vol.15 nmero especial, pp. 71-105.
NEVES, M.H.Moura (1997) A gramtica funcional. So Paulo: Martins Fontes
PEZATTI, Erotilde G. (2004) "O funcionalismo em Lingstica". In Fernanda Mussalim e Anna Christina Bentes, Introduo Lingstica: fundamentos epistemolgicos. So Paulo: Cortez, pp. 165-218.
SEKI, L. (1999) "A lingstica indgena no Brasil". DELTA, vol.15 nmero especial, pp. 195-146.
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Para o item 4:
GERALDI, J.Wanderley (1996) Linguagem e ensino: exerccios de militncia e divulgao. Campinas: Mercado das Letras.
KLEIMAN, A. (1996) Leitura: ensino e pesquisa. 2a. ed. Campinas: Pontes.
KLEIMAN, A. (1989) Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes.
KLEIMAN, A. (1993) Oficina de Leitura: teoria e prtica. Campinas: Pontes.
KOCH, I.G.V. (1997) O texto e a construo dos sentidos. So Paulo: Contexto.
KOCH, I.G.V. (2002) Desvendando os segredos do texto. So Paulo: Cortez.
SCLIAR-CABRAL, Leonor (2003) Guia prtico de alfabetizao. So Paulo: Contexto.
SCLIAR-CABRAL, Leonor (2003) Princpios do sistema alfabtico do portugus do Brasil. So Paulo: Contexto.
SOARES, Magda (2005) "Nada mais gratificante do que alfabetizar" (entrevista). In: Letra A, o jornal do alfabetizador, ano 1, n 1, Belo Horizonte, abril/maio de 2005, pp. 10-14
Para o item 5:
CASTILHO, Ataliba T. de (Org. 1978). Subsdios Proposta Curricular de Lngua portuguesa para o 2 Grau. So Paulo/Campinas: Secretaria de Estado da Educao/UNICAMP, 1978, 8 vols.; republicado em So Paulo: Secretaria de Estado da Educao, 1988, 3 vols.
FARIA, M.A; ZANCHETTA, J. (2002) Para ler e fazer o jornal na sala de aula. So Paulo: Contexto.
GERALDI, J.Wanderley (organizador, 1985) O texto na sala de aula. So Paulo: tica.
GERALDI, J.Wanderley (1991) Portos de passagem. So Paulo: Martins Fontes.
KOCH, I.G.V. (2002) A coeso textual. 17a. edio revista e ampliada. So Paulo: Contexto.
KOCH, I.G.V; TRAVAGLIA, L.C. (2002) A coerncia textual. 14a. edio revista e ampliada. So Paulo: Contexto.
MARCUSCHI, L.A. (2001) Da fala para a escrita: atividades de retextualizao. So Paulo: Cortez.
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POSSENTI, S. (1998) Os humores da lngua: anlises lingsticas de piadas. Campinas: Mercado das Letras.
POSSENTI, S; ILARI, R. (2001) "Apresentao", in 15 anos de vestibular da Unicamp: Lngua portuguesa e literaturas de lngua portuguesa. Campinas: Edunicamp, pp.5-17.
BAGNO, Marcos (2000) Dramtica da lngua portuguesa: tradio gramatical, mdia e excluso social. So Paulo: Loyola.
Nota:
Os Parmetros Curriculares Nacionais foram editados em 1997. Existe a verso
impressa, mas eles podem ser acessados pela internet atravs do site do Ministrio
da Educao e Cultura, pgina da Secretaria de Educao Fundamental. O Centro
de Documentao Cultural "Professor Alexandre Eullio Pimenta", do Instituto de
Estudos da Linguagem a Unicamp mantm disponvel o estudo feito sobre as
verses preliminares do texto pelo lingista Prof. Carlos Franchi.
GLOSSRIO
Alfabetizao - Conjunto de atividades que levam o indivduo a dominar a lngua
escrita, capacitando-o a ler e a escrever.
Anlise do Discurso - Espao crtico no qual interagem vrias disciplinas
interessadas em tratar da totalidade dos enunciados que circulam numa sociedade.
Fortemente influenciada por modelos franceses, a analise do discurso que se tem
feito no Brasil tem-se caracterizado (i) pela reflexo sobre o modo como o sujeito se
insere nos seus discursos, (ii) pela idia de que todo discurso um inter-discurso;
(iii) pelo interesse em discursos que revelam um uso ideolgico da linguagem.
Estruturalismo: ver Lingustica Estrutrural
Etnolingstica - O estudo das relaes entre a lngua e as caractersticas da
comunidade que a fala. Da pauta da etnolingstica fazem parte, por exemplo, a
compreenso do modo como as pessoas se comunicam em diferentes sociedades,
e a compreenso das funes que a lngua desempenha em sociedades primitivas
ou tecnologicamente avanadas.
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Filologia - Esforo de compreender os textos da antiguidade clssica que, alm de
desenvolver mtodos e tcnicas destinados a recuperar a forma original dos textos
que sobreviveram, reuniu uma enorme massa de conhecimentos lingsticos e
histricos necessrios para a sua compreenso.
Fonologia - A disciplina que estuda os sons da lngua em seu papel distintivo. A
fonologia a disciplina que melhor ilustra a idia estruturalista de que as unidades
da lngua tem uma natureza opositiva: uma de suas principais taefas identificar os
sons que distinguem palavras e os contextos fnicos em que isso ocorre (por
exemplo, para distinguir as palavras morte e morde dependemos da oposio entre
/t/ e /d/, mas cada uma dessas unidades realizada de vrias maneiras, conforme a
regio e conforme a posio na palavra (pense-se nas pronncias de um gacho e
de um carioca).
Funcionalismo: ver Lingustica Funcionalista
Gramtica - O estudo dos processos pelos quais se constrem palavras e
sentenas numa lngua. H pelo menos trs maneiras diferentes de entender
"regra": como "norma a ser seguida", como "regularidade constatada", ou como
"expectativa criada por um princpio geral". A essas diferentes maneiras de entender
o que seja uma regra correspondem trs concepes diferentes de gramtica: g.
normativa (ver a seguir, neste glossrio), g. descritiva e g. explicativa.
Gramtica Gerativa: ver Lingustica Gerativista
Gramtica Normativa - Disciplina que diz como devem expressar-se as pessoas
bem criadas e educadas. Ver norma gramatical
Leitura - O processo cognitivo pelo qual deciframos um texto escrito, recuperando
sua forma oral (se a leitura for em voz alta) e seu contedo. A leitura uma atividade
fundamental em sociedades como a nossa, onde h um grande nmero de
mensagens circulam em forma escrita.
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Gramaticalizao - Criao de construes gramaticais a partir de palavras e
expresses que, originalmente, se aplicavam a objetos ou situaes do mundo, e
funcionavam como itens "lexicais".
Letras - O curso superior que responde pela formao de professores e
pesquisadores na rea de lngua e literatura. Tradicionalmente, nos cursos de Letras
ministram-se conhecimentos de lnguas vivas (como o portugues, o ingls e o
francs) ou mortas (como o latim e o grego) e das literaturas correspondentes.
Letramento - Forma de insero na sociedade a que o indivduo se habilita pelo fato
de utilizar de maneira competente a escrita.
Lingustica - O estudo da faculdade humana de linguagem e das lnguas que
existem ou existiram, historicamente
Lingstica Aplicada - Em princpio, qualquer transposio de conhecimentos
lingsticos para campos no lingsticos (em oposio l. terica e l. descritiva).
Ao longo das ltimas dcadas, em reas como a traduo, a terminologia e o ensino
de lnguas, a lingstica aplicada foi descobrindo e elaborando problemas que no
tinham recebido a devida ateno da lingstica terica; freqentemente, por
"lingstica aplicada" entende-se o estudo desses problemas.
Lingustica Estrutural - Ramo da Lingustica interessado na depreenso das
estruturas lingusticas a partir do comportamento lingstico observado. Para o
Estruturalismo, a lngua no se confunde com as frases que as pessoas usam, nem
com o comportamento verbal que observamos no dia-a-dia; , ao contrrio, uma
abstrao, um conhecimento socializado que todos os falantes de uma comunidade
compartilham, uma espcie de cdigo que os habilita a se comunicarem entre si.
Lingustica Funcionalista [acho que no h necessidade de definir no
glossrio, pois j h uma definio no prprio texto]
Lingustica Gerativista - Denominao que abrange as teorias lingsticas
inspiradas pelo lingista americano Noam Chomsky, que constituram uma das
principais referncias tericas para o estudo da linguagem humana, desde a dcada
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de 1950. a lingstica gerativa desenvolveu-se a partir de uma concepo inovadora
da sintaxe em que se procura criar um mecanismo matemtico capaz de simular
nossa competncia sinttica, isto , nossa capacidade de reconhecer, entre todas as
possveis seqncias de palavras, aquelas que corresponem oraes bem formadas
da lngua.
Lingstica Indgena - Nome que se d, no Brasil, ao estudo das lnguas no-
indoeuropias faladas pelas populaes indgenas. Segundo os especialistas, havia
em 1500, no territrio brasileiro, cerca de 340 lnguas indgenas, das quais
sobreviveram apenas uma centena. A maioria das lnguas indgenas brasileiras so
faladas por menos de 100 pessoas. Conhec-las e proteg-las uma tarefa de
grande alcance cultural e humanitrio.
Lingstica textual - Setor da Lingustica que estuda a estruturao dos textos,
debatendo questes ligadas aos conceitos de coerncia, coeso, interao,
conectivos textuais e gneros textuais.
Norma gramatical - Variedade lingstica que a sociedade como um todo ou alguns
grupos sociais adotam como referncia em seus usos da lngua. Freqentemente,
na sociedade brasileira (e em outras sociedades), tentou-se definir uma norma para
a lngua escrita a partir da linguagem usada pelos grandes escritores, e uma norma
para a lngua falada a partir da pronncia utilizada em uma ou outra regio ou cidade
(Rio de Janeiro, a Bahia etc.).
Palavra - a unidades lingsticas que o nosso sistema de escrita separa por meio de
espaos. Tipicamente, a palavra maior do que uma unidade significativa (por
exemplo, na palavra cachorro h duas unidades significativas, cachorr- que remete a
uma espcie animal, e -o que manda ara considerar apenas um espcime, do sexo
masculino), e menor do que os sintagmas, as grandes unidades sintticas que
estruturam a sentena (como o cachorro de guarda do vizinho, ou um cachorro
branco).
Psicolingstica - o estudo das relaoe sentre a linguagem e a mente. Um dos
temas tratados pela psicolngstica o processameto da linguagem, iso , o
conjunto de passos envolvidos em produzir e compreender a fala.
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Sociolingstica - o estudo das relaes entre a lngua e a sociedade. Entre os
assuntos estudafdos pela sociolingstica esto os valores que uma sociedade
associa a diferentes variedade da lngua, e os efeitos do contato entre lnguas
diferentes.
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A IMAGEM E SUAS FORMAS DE VISUALIDADE NOS LIVROS DIDTICOS DE PORTUGUS*
Celia Abicalil Belmiro**
RESUMO: A importncia do estudo da imagem e de sua utilizao nos veculos de
comunicao, principalmente os de carter pedaggico, instaura, no mbito escolar,
a necessidade de se defrontar com a presena avassaladora da imagem visual no
cotidiano dos sujeitos. Este texto pretende compreender os diferentes modos de
visualidade em livros didticos de Portugus, de 5 a 8 sries do Ensino
Fundamental, nas dcadas de 1960, 1970 e 1990.
Qual o papel da escola ao se apropriar do discurso imagtico e submet-lo ao
discurso pedaggico? Ao longo das dcadas analisadas, como as imagens foram
sendo constitudas por um discurso especfico do processo de escolarizao? Trs
abordagens tericas, a saber, a imagem do ponto de vista funcional, semitico e
cognitivo, tm o objetivo de compor um conjunto de reflexes cujo eixo a relao
ensino-aprendizagem.
Palavras-chave: Imagem, livro didtico, leitura, ensino-aprendizagem, escolarizao Introduo Ao longo da histria de insero da imagem em diferentes instncias do espao
escolar e materiais produzidos para esse espao, o livro didtico vem se destacando
como um importante suporte de sua veiculao em projetos pedaggicos. So
recorrentes as situaes de uso das imagens, evidenciando alguns pontos de sua
contextualizao scio-histrica, em meio s polticas educacionais:
1) como indicador do processo de modernizao por que vem passando o
suporte;
2) como um meio de trazer para dentro da sala de aula linguagens renovadas que
circulam na cotidianeidade das populaes;
3) como traduo didtico-metodolgica de um ponto de vista sobre as relaes de
ensino-aprendizagem da lngua portuguesa e outras linguagens. As reflexes a
seguir pretendem compreender o uso de imagens1 em livros didticos de Portugus
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dos fins dos anos 60 e incio dos 70, em contraposio aos anos 90, orientadas por
um contexto scio-histrico e terico.
Algumas questes iniciais podem apontar na direo de um olhar investigativo: O
que possibilitou o surgimento das chamadas ilustraes nos livros didticos? Por
que a imagem passou a ser utilizada nos manuais didticos de Portugus
preferencialmente a partir do final da dcada de 1960?
Quais os procedimentos para seu uso? Com que fins a imagem surge nesses livros?
Por que e como as ilustraes passam a ser consideradas parte de um saber
autorizado, que pode e deve ser didatizado? Que diferenas fundamentais de usos e
funes das imagens podem ser encontradas nos livros didticos dos fins dos anos
60 em comparao com os dos anos 90?
O que permaneceu e o que no resistiu? Como possvel construir textualidade
(coeso e coerncia) na relao das imagens e atravs delas com o texto escrito
dispostos nas pginas de um papel em branco?
interessante observar como os anos 90, principalmente nesse fim de dcada, vm
apresentando mudanas nas propostas de construo de seus projetos
pedaggicos. Elas so mais abrangentes, interdisciplinares, integradoras, holsticas,
o certo que o paradigma est mudando. A presena de novas tecnologias no
mundo escolar faz com que se repensem formas de atuao do professor. As
representaes que se fazem hoje do espao de aprendizagem mostram a
necessidade de um professor mais gil, atualizado e pronto para novos desafios.
uma carga muito pesada para quem tem deficincias na sua formao inicial e no
tem facilidade, pela prpria gesto do tempo escolar, entre outras causas, para
investir em uma formao continuada.
Algumas reflexes sobre o estatuto da imagem
Para se compreender o uso escolar da imagem no suporte livro didtico,
conveniente refletir, inicialmente, acerca de diferentes conceituaes de imagem, a
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partir de trs grandes eixos que discutem a natureza de sua constituio: o primeiro
eixo, correntes que tendem para seu carter de convencionalidade, enfatizando a
criao de cdigos prprios; o segundo, correntes que apontam para a semelhana
da imagem com o dado real, como um espelhamento do mundo; ou, ainda, um
terceiro, que se identifica com a idia de conexo fsica, marca luminosa indicativa
da existncia do objeto, a exemplo da fotografia.
possvel, primeiramente, compreender a imagem do ponto de vista funcional, isto
, suas possibilidades de interao, nas palavras de Maffesoli (1995, p.103), de
religao social. Assim, entendem-se os diferentes usos das imagens na vida
social como recorrncia ao cotidiano, onde os objetos so reconhecidos
imediatamente pelo engendramento de uma sociabilidade integradora que
ressignifica o mundo de modo menos utilitrio; anuncia, assim, uma espiritualidade
que no se prende a indicadores religiosos, mas que est mais perto dos atores
sociais, nos segredos dos microgrupos, na sociabilidade da vizinhana, no ambiente
afetuoso das relaes de amizade, na viscosidade das aderncias religiosas,
sexuais, culturais, todas as coisas que precisam de imagens que lhes sirvam de
catalisador . Na verdade, a discusso proposta por esse autor pretende apontar o
sentido agregador das imagens, sentido que contribui para a atrao social.
Distante da preocupao em produzir contedo poltico, esttico ou social, o
interesse desse autor se dirige para descobrir que imagens religam tribos ou a
massa, que a sociabilidade engendrada pelas imagens produzidas no e pelo
cotidiano social. A construo de uma realidade coletiva e mltipla abre espaos
diferenciados para experincias singulares, individuais e nicas. Mas essa uma via
de mo dupla, em que as individualidades se aproximam ou se distanciam na
constituio de processos de ressignificao de mundo. Um bom exemplo a
reflexo de Elias Canetti em seu livro memorialista Uma luz em meu ouvido:
Com este quadro, diante do qual fiquei parado muitas vezes, conheci o que dio. Eu o sentira cedo na vida, cedo demais, com cinco anos, quando quis abater com o machado minha companheira de brinquedos. Mas no temos conhecimento daquilo que sentimos; necessrio que o vejamos nos outros para que o reconheamos. Somente se torna real aquilo que reconhecemos quando, antes disso, o experimentamos. (Canetti 1989, p.113)
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possvel que seja isso que Maffesoli queira enfatizar ao se referir imagem
refletida e tomada de conscincia da pluralidade do real. Para ele podem-se
mostrar coerncias, estabelecer correlaes, mas no possvel fazer sistemas com
imagens. Talvez seja isso que tenha tornado menores todas as propostas de
pensamento que se apoiaram nela [imagem refletida]. Pelo contrrio, essa unio do
pensamento e da prpria coisa perfeitamente pertinente para descrever um mundo
complexo, onde reina o heterogneo. A possibilidade de ilustrar, de nomear, de
descrever, mesmo que no tenha a virtude generalizante do conceito, permite fazer
destacar a razo interna (ratio seminalis) que anima cada coisa. (Op. cit., p.105).
Embora no seja o caso, aqui, de pensar a pertinncia ou no da aposta de
Maffesoli na razo sensvel, ajuda-nos a sua idia de reencantamento do mundo,
em que as imagens serviriam de elemento catalisador s pequenas utopias
intersticiais, isto , aos ritos particulares, para compreender essa razo interna que
anima cada coisa.
Os sistemas de referncia que os grupos criam e nos quais se reconhecem so
constitudos tambm por imagens que instauram laos de comunho entre os
homens. A idia de que pela imagem eu me aproximo do outro, me uno ao outro,
favorece a qualidade ertica da imagem de conjuno, copulao.
Esse carter relacional estabelecido pela imagem e o conjunto das pessoas e das
coisas que define a imagem e constitui o modo de sua existncia.
Assim, a imagem factual, efmera, sensual est prxima da natureza indicial que
revela a presena de algo no qual a imagem se integra, isto , uma imagem
indiciria cuja representao se d por contigidade fsica do signo com somente
este referente, um trao do real. Da mesma forma, enfatiza sua natureza simblica
que possibilita constituir esse conjunto de significados do todo social, e constituda
por ele, vale dizer, uma imagem que se torna significativa por sua ancoragem nos
contedos resultantes da criao imagtica e, no, na realidade mesma. Assim,
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refletir acerca de possveis leituras de imagens pode significar tambm investigar
que padres de visualidade um dado contexto scio-histrico organiza e conforma.
Talvez seja proveitoso fazer um paralelo ao movimento que essa sociabilidade cria
em direo ao conhecimento, com base na noo de letramento proposta por
Soares: ter-se apropriado da escrita diferente de ter aprendido a ler e a escrever:
aprender a ler e a escrever significa adquirir uma tecnologia, a de codificar em lngua
escrita e a decodificar a lngua escrita: apropriar-se da escrita tornar a escrita
prpria, ou seja, assumi-la como sua propriedade (1998, p. 39).
Dessa forma, entende-se que so as prticas sociais de escrita que determinam as
posies dos sujeitos e o seu valor lingstico na atribuio dos papis sociais. Isto
tornar a escrita prpria. O conceito de letramento vem ultrapassar noes como
homogeneidade, relaes biunvocas, sistema fechado, estrutura, e vai ao encontro
da heterogeneidade prpria da natureza das prticas sociais significativas. No caso
das imagens, elas vm nos povoando e constituindo modos de convivncia. Da no
caber, nesse desenho terico, a afirmao de que podemos assumir imagens como
uma propriedade. Isso significa que a sociabilidade naquilo que ela requer das
imagens para se constituir no reivindica uma aprendizagem, isto , domnio de
uma tcnica. Esse viver um evento em imagem a face imagtica do letramento
verbal; na maioria das vezes, somos letrados visualmente mas analfabetos visuais,
uma vez que no tivemos um aprendizado sistematizado de modos de ler uma
imagem: como se organizam seus componentes, a seleo ou no de cor,
angulao etc.
Portanto, essa primeira abordagem da imagem possibilita dizer que a qualidade
intrnseca de sua natureza indicial e simblica vem contemplar o vis relacional da
imagem como atividade social.
Um segundo ponto de vista, que utiliza outros procedimentos para a compreenso
da imagem, vem trazer a necessidade de explicitao de um cdigo que pode e
deve ser dominado para implementar estratgias de leitura da imagem. Essa no
uma questo fcil de conduzir, uma vez que diferentes pesquisadores j travaram
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polmicas sobre o estatuto de dependncia, ou no, lingstica da imagem.
Santaella (1997, pp. 39-41) traa um quadro das teorias que sustentam essa
discusso.
O que nos importa no momento tentar esclarecer as implicaes da
convencionalidade dos dispositivos tcnicos, que determinam uma visualidade
prpria sem correspondncia direta com os padres de visualidade do nosso olhar.
Sabe-se que o que apreendido pela viso da mquina fotogrfica no corresponde
perspectiva do olho humano; Gombrich (1960, apud Santaella 1997), enfatiza que
a viso de espaos representados em perspectiva no inata percepo visual e
que deve ser aprendida. Sabe-se, igualmente, que o que se v traduo de um
modo de organizao do olhar, que, de tempos em tempos, sofre influncias das
revolues tcnicas e cria novas formas de apropriao do visvel, uma lgica
sempre precria, porque presa a um conjunto de fatores histricos, sociais,
cientficos. Dessa forma, a imagem, por sua prpria natureza, meditica e,
portanto, representao.
O uso do termo alfabetizao visual vem contemplar as prticas de aprendizagem
da conveno para a leitura de imagens: enquadramento, distncia, ngulo, corte,
cor, textura etc. Este um aspecto da relao teoria-prtica que deve ser
amplamente discutido nos centros de produo de conhecimento a respeito da
imagem na educao, tal a importncia das imagens, tanto em instncias pblicas
quanto privadas do cotidiano social.
Veremos, mais adiante, como o uso das imagens nos livros didticos sofre uma
tremenda reduo de suas possibilidades interpretativas, pela adaptao a uma
configurao analtica que aponta para um modo de compreenso prprio de um
objeto de estudo que a linguagem verbal. A subordinao a um padro conceitual
que no lhes prprio faz as imagens se ajustarem a uma lgica textual de
produo de sentidos linear, argumentativa e unvoca.
Um terceiro vis com que se pode definir a natureza da imagem o que Gibson
(apud Santaella, pp.39-40) chama de invariantes da percepo visual, isto ,
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unidades de percepo elementares que permanecem constantes quando o objeto
ou o observador mudam de posio. Assim, a relao entre o fundo e figura se
mantm coerente e compreensvel para quem v, posto que assegurada coeso
interna figura e sua relao no campo visual mantm contornos invariantes. O que
percebido, ento, visto como algo anlogo, semelhante realidade,
caracterizando, assim, sua natureza icnica. o que Samain (1998, p.13) chama de
uma visualidade originria e constitutiva do ser humano. A percepo visual,
entendida como uma qualidade inata ao homem e descrita com categorias prprias,
resulta, por conseguinte, na dimenso cognitiva de compreenso da imagem.
As dcadas de 1960 e 1970
O quadro que se configura nos fins dos anos 60 e na dcada de 1970 de mudana
de paradigma, o que pode ser detectado em vrios aspectos da relao ensino-
aprendizagem: o quadro passou a ser de giz (cor verde), no h o estrado em que
se destaca a figura do professor e que enfatiza a relao de poder, nem os mapas,
as borboletas envidraadas e os pequenos bichos empalhados. Uns, abolidos;
outros, destinados a lugares prprios. o perodo de influncias intensas da Teoria
da Comunicao no ensino da Lngua Portuguesa, um tempo em que o mundo
ocidental se v envolto por grandes mudanas de comportamento dos jovens. A
televiso comea a transmitir em cores.
Assim que a influncia dos estudos sobre modelos transmissivos de comunicao,
no espao escolar, se traduz no discurso pedaggico que procura caminhos de
contemporaneidade. A matria sobre a qual os professores e alunos se debruam
a Comunicao e Expresso (a partir da lei 5692/71); contedos que pretendem
abordar a Teoria da Comunicao so privilegiados em sala; uma nova organizao
em rea de estudo das linguagens aproxima disciplinas antes divorciadas, como o
caso do Portugus e da Educao Fsica.
Por outro lado, poca de ampliao de vagas nas escolas brasileiras, de acesso
de crianas de camadas populares aos bancos escolares, de uma mudana radical
dos freqentadores das escolas pblicas.
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