ensino de libras - identidade cultural surda na diversidade brasileira

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  • 8/6/2019 Ensino de LIBRAS - Identidade Cultural Surda Na Diversidade Brasileira

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    Identidade Cultural Surda na Diversidade Brasileira

    Patrcia Luiza Ferreira Pinto

    Resumo:

    Os conceitos de Surdez no que refere diferena e deficincia, o etnocentrismo da tradiooralista, as Identidades Surdas, o multiculturalismo so pontos relevantes neste trabalho. O enfoquedeste trabalho a Identidade Cultural Surda dentro do contexto multicultural, perpassando as vriasfases da Histria dos Surdos, no contexto do Oralismo, nas relaes sociais, na sua trajetria pararomper a homogeneidade, aos momentos atuais e desafios na educao.

    Abstract:

    Deaf concepts linked to the notions of difference and disability, the ethnocentrism of the oralisttradition, deaf identity and multiculturalism are relevant aspects of the present paper. The focus ofthis article is the deaf cultural identity within a multicultural context which goes through the various

    phases of the history of deaf people from oralism, to social relations, in their journey towards the

    breakthrough from homogeneity to the present moments and challenges in education.

    ................

    "Somos notavelmente ignorantes a respeito da surdez, muito mais ignorantes do que um homeminstrudo teria sido em 1886 ou 1786. Ignorantes e indiferentes(...). Eu nada sabia a respeito da

    situao dos surdos, nem imaginava que ela pudesse lanar luz sobre tantos domnios, sobretudo odomnio da lngua. Fiquei pasmo com o que aprendi sobre a histria das pessoas surdas e osextraordinrios desafios (lingsticos) que elas enfrentam, e pasmo tambm ao tomar conhecimentode uma lngua completamente visual, a lngua de sinais, diferente em modo de minha prprialngua, a falada. (...)"

    Oliver Sacks

    Percorrendo a Trajetria Surda

    Dentro das comemoraes dos 500 anos do Brasil, o momento oportuno para repensar asdiferenas que situam a diversidade brasileira. O tema escolhido se presta a discutir relaes sociaisno Brasil, expressando o tema no como uma forma mais radical para os processos de humanizaoe construo das identidades, mas como um novo pensar e repensar as diferentes culturas, as quaislevam o ser humano a se descobrir como indivduo, se constituindo em sua prpria identidade,dentro de sua prpria cultura.

    relevante a produo deste trabalho sobre a (re)construo das Identidades Culturais, os processos

    das trajetrias dos Surdos na to sonhada diversidade, rompendo a tradicional homogeneidade, toarraigada no nosso imaginrio social. Importa delinear a utpica Cultura Surda, qual se refereOliver Sacks: somos ignorantes no que diz respeito surdez, especialmente no ponto de vistaantropolgico.

    Este trabalho, resultado de descobertas e impasses na minha trajetria enquanto Surda, pretendediscursar as relaes sociais dos sujeitos Surdos, do Movimento Surdo, captando suas trajetriasdentro do multiculturalismo. Saliento que este tipo de discusso possui complexidades, e serianecessrio um novo olhar na educao que, sem sombra de dvida, um dos alicerces dahumanidade, to primordial para a aceitao das diferenas, em oposio homogeneidade.

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    Explicito, neste trabalho, os termos diferena e deficincia no que tange surdez, delineando atrajetria do Movimento Surdo, as suas peculiaridades, a sua importncia no multiculturalismo,fazendo referncias sobre a Cultura Surda, discursando ainda sobre a tradio oralista como pontoeqidistante da degradao da Cultura Surda e no quanto esta tradio prejudica a construo daIdentidade Surda, dando margem idia de que possvel o Surdo sernormal, serouvinte, uma vezque essa uma concepo etnocntrica da realidade. E ainda conceituo identidade e tambm asIdentidades Surdas, lutas e intempries dos sujeitos Surdos na (re)construo da identidade. Assim,

    para realizar estes escritos, embarquei em concepes da autora GladisPerlin, por considerarsignificativo o seu pensamento e a sua luta pela causa surda.

    Farei um paralelo entre a situao do Brasil-colnia em relao ptria-me, Portugal, que precisouser emancipado da sua situao colonizadora para ter, enfim, o direito a buscar o progresso desejadocom a necessidade de emancipao de um novo currculo adaptado s necessidades do sujeitoSurdo, diferente do tradicional, o qual voltado para uma idia implcita de que o Surdo colonizado, dominado pelo ouvinte, submetido sua hegemonia cultural. E ainda estarei discutindoa educao, apontando a necessidade de discorrer no espao escolar o novo repensar sobre as lutassociais.

    Por fim, fao a concluso do trabalho com um desafio s contraposies e adversidades reveladoras

    no imaginrio social, traando as trajetrias dos Surdos no processo de construo da IdentidadeSurda, marcada por lutas, intempries, impasses, ambigidades e emoes. uma forma de resistiraos movimentos opacos e homogneos.

    Neste trabalho, sinto-me empenhada pela causa surda, busco ser o mais fiel possvel s minhasdescobertas e s narrativas de outros Surdos. Estou ciente da produo do conhecimento nesta obra,

    procurando ser fiel s exigncias e normas cientficas, sem abusar de sentimentalismos, buscandoexpressar objetividade no tema proposto, sem, entretanto, deixar de me emocionar com a Surda quesou, que vem construindo a sua histria, sua Identidade Surda, engajando pelo longo processo delutas e resistncias contra o Ouvintismo.

    Surdez: diferena ou deficincia?

    A discusso sobre os termos diferena e deficincia se presta aos olhares, vivncias, conhecimentosdiversos da sociedade, do imaginrio social e se faz necessrio esclarec-los. Portanto, a minha

    primeira tarefa permear uma diversidade de conceitos e termos, particularmente nos campos daantropologia e da medicina.

    Ao longo do trabalho, a questo da surdez, estereotipada pelo imaginrio social como algodeficiente, de menos valia e patolgico, se fez testemunha de forma rdua e marcante. A discussodentro de uma viso clnico-patolgica no o objetivo deste trabalho, visto que esta no a

    perspectiva a ser aspirada pela Comunidade Surda, pelos pesquisadores Surdos e ouvintes.Estabelecer uma nova perspectiva que vise reconhecimento Identidade Cultural Surda a

    prioridade mxima. No transcurso deste trabalho, estes termos diferena e deficincia so usados e explicitados deforma a tornar claro o seu significado. Pretendo lanar um novo olhar sobre os Surdos, no que tange Identidade Surda.

    Etnocentrismo: tradio oralista

    O Oralismo uma filosofia educacional que prope o ensino da lngua oral para que o sujeito Surdose integre ao mundo ouvinte, pressionando o ensino da fala como essencial, algo que lhe desse

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    status, o que no corresponde s condies ideais para que o sujeito Surdo adquira linguagem eforme o pensamento.

    O etnocentrismo tem a tendncia de postular a cultura dominante e vigente como padro para asdemais culturas, partindo do princpio de que os seus valores e a sua cultura so superiores, os maisesmerados, os mais adequados.

    A questo do etnocentrismo constantemente marcante na Educao dos Surdos, particularmentena tradio oralista, perpassando por vezes fragmentada e questionada nas representaes sobre asurdez. E se faz necessria uma anlise mais profunda dessa tradio oralista na Educao dosSurdos, mostrando as suas mltiplas facetas.

    Ao longo deste sculo, a Educao dos Surdos vem assumindo uma concepo oralista, comoIdeologia Dominante, atravs de uma viso clnica sobre o sujeito Surdo, o qual tratado comodeficiente, no se pensando na sua diferena lingstica.

    A educao oferecida aos Surdos tem enfatizado demasiadamente o ensino da fala como supostadevoluo da humanidade. Extremamente concentrados nesta tarefa, os educadores perdem de vistaa importncia da formao da Identidade e Cultura Surda para o Surdo, deixam de form-los

    enquanto cidados crticos e muito pouco se confrontam a trabalhar o sentido real do conceito daeqidade, a qual busca a igualdade sem, entretanto, eliminar a diferena.

    Como disse Skliar (1998: 07): "As idias dominantes, nos ltimos cem anos, so um clarotestemunho do sentido comum segundo o qual os surdos correspondem, se encaixam e se adaptamcom naturalidade a um modelo de medicalizao da surdez, numa verso que amplifica e exageraos mecanismos da pedagogia corretiva, instaurada nos princpios do sculo XX e vigente atnossos dias. Foram mais de cem anos de prticas enceguecidas pela tentativa de correo,normalizao e pela violncia institucional; instituies especiais que foram reguladas tanto pelacaridade e pela beneficncia, quanto pela cultura social vigente que requeria uma capacidade

    para controlar, separar e negar a existncia da comunidade surda, da lngua de sinais, das

    identidades surdas e das experincias visuais, que determinam o conjunto de diferenas dossurdos em relao a qualquer outro grupo de sujeitos." (grifo meu)

    Nesse sentido, a negao da Cultura Surda, da Lngua de Sinais, das Identidades Surdas inerente tradio oralista imperativa nas escolas, com o pressuposto de que o Surdo estigmatizado comodeficiente auditivo, que carece de educao oralista, que sofre de patologia, necessitando deespecialistas para restituir-lhe afala.

    Identidades Surdas: conceitos e heterogeneidades

    O estudo da identidade se fez presente de forma rdua. Foram diversos os autores pelos quaisembarquei procurando definir, discutir, analisar e, apesar do termo ser amplo, muito discutido nas

    pesquisas contemporneas, me aterei apenas s descobertas da autora GladisPerlin, particularmentes Identidades Surdas.

    Para PERLIN (1998: 52) a identidade algo em questo, em construo, uma construo mvelque pode freqentemente ser transformada ou estar em movimento, e que empurra o sujeito emdiferentes posies.

    Conceituar a identidade dizer que a mesma no inata, est em constante modificao, partindoda descoberta, da afirmao cultural em que um certo sujeito se espelha no outro semelhante,criando uma situao de confronto, e ainda segundo PERLIN (1998: 53), a identidade surda sempre

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    est em proximidade, em situao de necessidade com o outro igual. O sujeito surdo nas suasmltiplas identidades sempre est em situao de necessidade diante da identidade surda.

    Para discutir as experincias vivenciadas pelos sujeitos Surdos na sua Identidade Surda, atravs daconstruo, resistncia, batalha e dominao em vista da presena hegemnica ouvinte, usarei umconjunto dos termos, no podendo dissoci-lo do processo histrico.

    GladisPerlin critica a influncia do poder ouvintista que prejudica a construo da Identidade Surda: evidente que as identidades surdas assumem formas multifacetadas em vista das fragmentaes aque esto sujeitas, face presena do poder ouvintista que lhes impem regras, inclusive,encontrando no esteretipo surdo uma resposta para a negao da representao da identidade

    surda ao sujeito surdo.

    O termo identidade, que melhor atende temtica surdez, usado na busca do direito de ser Surdo.De acordo com a trajetria vivenciada pelos sujeitos Surdos, nas suas lutas e intempries, o tema(re)construo da Identidade Surda sempre usado ao responderem pergunta o que ser Surdono Brasil?

    Ao longo do ltimo sculo, tem sido travado um verdadeiro embate imposto por alguns Surdos ao

    redor do mundo, devido ao processo histrico da colonizao sobre os sujeitos Surdos, no que serefere medicalizao, normalizao, levando degradao da Lngua de Sinais, da CulturaSurda, das Identidades Surdas. Em resposta a essa colonizao, o Movimento Surdo tem dado incio criao de Associaes de Surdos como uma resistncia contra a cultura dominante, contra aideologia ouvintista.

    O foco do nosso olhar o sujeito Surdo, com suas peculiaridades. O termo Surdo carregado, noimaginrio social, de estigma, de esteretipo, de deficincia, e significa a urgncia da necessidadede normalizao, em antagonismo ao conceito da diferena, como disse PERLIN (1998: 54): oesteretipo sobre o surdo jamais acolhe o ser surdo, pois imobiliza-o a uma representaocontraditria, a uma representao que no conduz a uma poltica da identidade. O esteretipo fazcom que as pessoas se oponham, s vezes disfaradamente, e evitem a construo da identidade

    surda, cuja representao o esteretipo da sua composio distorcida e inadequada.

    Afirmo a necessidade de uma nova viso sobre o sujeito Surdo, que diferente e no deficiente. Porque no podemos repensar o nosso olhar? O que o sujeito Surdo tem de diferente? SegundoPERLIN (1998: 56) ser surdo pertencer a um mundo de experincia visual e no auditiva.

    Viver uma experincia visual ter a Lngua de Sinais, a lngua visual, pertencente a outra cultura, acultura visual e lingstica.

    H de se considerar outro conceito da Identidade Surda, de relevncia poltica, dentro domulticulturalismo, de igual importncia para outros movimentos sociais, pela batalha contra a

    ideologia dominante: a Identidade Poltica Surda. um movimento pela fora poltica em prol danossa diferena... uma luta contra o estigma, contra o estereotipo, contra o preconceito, contra adeficincia e especialmente contra o poder do ouvintismo.

    Cultura Surda no multiculturalismo

    Discusses referentes Cultura Surda tm sido travadas nos dias atuais, levando impossibilidadede definir sobre o que seja a Cultura Surda. Entretanto, algumas questes sero levantadas com o

    pressuposto de seguir os estudos culturais, que propem pensar a surdez numa perspectivaantropolgica.

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    No me aterei objetivamente ao termo, discursarei sobre movimentos de lutas e batalhas pelosSurdos pela sua Cultura Surda num espao multicultural.

    O multiculturalismo se expressa, como sucesso no mundo contemporneo, para que os sujeitossociais valorizem, expressem suas diferenas, suas culturas especficas, em busca da afirmaocultural.

    um movimento social em oposio a todas aes homogeneizadas da vida social. uma oposioa todas as tentativas dos outros a imprimirem a cultura dominante, vigente sobre uma outra culturapr-existente: a Cultura Surda.

    Conceituar o multiculturalismo falar sobre o reconhecimento do jogo das diferenas que seconstri socialmente nos processos interligados nos diferentes contextos. Muitas vezes, omulticulturalismo se constitui em um fecundo movimento de lutas sociais, de ao cultural de umsuposto grupo, que por diversas vezes se sente discriminado, excludo pelos outros segmentos dasociedade por suas peculiaridades. Neste espao multicultural, so deparados os movimentos sociaiscomo negros, Surdos, ndios, homossexuais, mulheres, judeus... que lutam pelas mudanas

    propulsoras para que cada um ser possa conviver com a diferena, que possa fazer valer seusdireitos civis, direitos humanos, direito de ser pertencente a minorias lingsticas, culturais, tnicas

    ou religiosas em antagonismo aos movimentos dominantes, vigentes, homogneos.

    Fao minhas as palavras de PERLIN (1998: 57): preciso manter estratgias para que a culturadominante no reforce as posies de poder e privilgio. necessrio manter uma posiointercultural mesmo que seja de riscos. A identidade surda se constri dentro de uma culturavisual. Essa diferena precisa ser entendida no como uma construo isolada, mas comoconstruo multicultural.

    Herana colonial

    Seria relevante discutir a questo do Brasil colonizado por Portugal, que foi libertado dacolonizao portuguesa no ano de 1822. Durante a dependncia, o Brasil foi submetido s maisduras presses polticas e ideolgicas no que se refere explorao econmica, cultural, inclusive alingstica, uma vez que, anteriormente Lngua Portuguesa, era a lngua tupi-guarani utilizada

    pelos primeiros brasileiros, os ndios.

    Dentro deste contexto, com a colonizao portuguesa sobre o Brasil, foi necessria a batalha pelaIndependncia em busca do direito a ser uma Nao livre e dona do seu prprio destino.

    Nesta perspectiva colonizadora, paralelamente Cultura Surda e Lngua de Sinais, discuto sobre acolonizao do ouvinte sobre o sujeito surdo, no quanto foi necessrio a este se desprender dagrande parte das suposies de que o surdo deficiente auditivo, da imposio da LnguaPortuguesa para o sujeito surdo como se isso fosse lhe conceder um status privilegiado -, e

    desconceituar de que possvel o surdo sernormalapenas na perspectiva ouvintista.

    Apesar desta concepo, ainda impera fortemente a colonizao sobre os surdos, que sem voz nasmos, so amordaados culturalmente sem poder expressar a sua Cultura Surda, sem poderexpressar seu pensamento atravs das suas mos, atravs da sua Lngua de Sinais.

    Ainda h um longo caminho a trilhar, ainda que tenham bons resultados erigidos pelo MovimentoSurdo, h batalhas a serem vencidas, lutas a serem travadas...

    Concluso

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    Estamos rente a um novo milnio, portanto conveniente que adotemos uma nova perspectivaem relao a um futuro cada vez mais prximo. E uma nova perspectiva implica preencherum espao que outrora fora habitado por uma concepo concordante com a mentalidadevigente da poca, mas que atualmente torna-se ultrapassada e no deve mais se sustentar, ano ser em seus alicerces ruinosos que no mais se alinham superfcie das novasdescobertas.

    Ser Surdo, judeu, negro, ndio, enfim, ser diferente dos demais configurados como normais naconcepo patolgica da medicina no mais deve ser motivo de isolamento, excluso social,estigma, preconceito, mas sim, este o momento propcio para que ocorra uma mudanaprofunda na viso e costumes dos povos, fazendo com que os diferentes se fundam ao contextoscio-histrico e se tornem nada mais e nada menos do que sempre foram no s aos olhos danatureza, mas tambm aos olhos daquilo que todas religies definem com Deus: Iguais.

    Por que iguais? Pois antes de explicitarmos qualquer diferena entre este ou aquele indivduo,todos se esquecem da essncia que os constitui a todos, haja distines ou no, todos sohumanos muito antes de qualquer outra coisa. E esta humanidade uma luz que deveriarecair sobre todos aqueles que selecionam atributos separatistas, que segregam e dividem osindivduos em grupos a serem odiados, expatriados, isolados, mas nunca integrados,

    compreendidos, aceitos no contexto scio cultural que, querendo ou no, todos coexistem emum grau maior ou menor de proximidade e convivncia.

    A educao um instrumento de mudana. ela que, direta ou indiretamente, conduz astransformaes cruciais em nossa sociedade, em nossa histria, pois ela carrega o cerne damanifestao humana - a comunicao - ferramenta indissocivel de qualquer cultura onde apresena central se constitui em torno do ser humano. Com a educao, repassamos asinformaes atravs da histria, e a cultura permanece, sustentando a existncia do homem eexpandindo-a cada vez mais, delineando os contornos que marcam sua presena, suaexistncia.

    Mas para que a educao dos sujeitos Surdos seja possvel, usando como exemplo a idia deque a gua s entra em uma garrafa se nela existir um orifcio ou uma superfcie permevel,analogamente em qualquer indivduo, a cultura somente se interiorizar se ela for conduzidapor um canal vivel que torne possvel sua recepo clara e concisa, situao nem semprepresente na maioria dos mtodos educacionais que se julgam eficientes por beneficiarem umgrande nmero de indivduos, os quais, p elo visto, certamente no so os Surdos.

    Portanto, a excluso social implica uma excluso cultural e a ausncia da cultura leva-nos expectativa de que uma outra implicao se imponha, alojando-se no centro das significaes,para aqueles que esto excludos: Se os Surdos no podem se expressar, se no lhes facultada a chance de se constiturem como sujeitos em suas prprias identidades culturaispara que possam vir a se manifestar, restar a estes seres humanos a oportunidade de existir?O

    u mudaremos nossas expectativas, eliminaremos os impasses, os temores que emanam daidia do que significa diferena e adotaremos uma viso multicultural iniciando uma eternacaminhada juntos a partir deste novo milnio?

    Referncias Bibliogrficas

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