1 À conversa com Bento Martins “DEVE TER-SE ORGULHO NO QUE É PORTUGUÊS”por Ricardo No rtonÉ com o pôr-do-sol do fim de tarde em Matosinhos reflectido nos óculos espelhados que o Professor Bento Martins, um dos mais antigos treinadores de voleibol em Portugal, me recebe na varanda de sua casa. É o local onde preparou a sua última final ganha, diz sorridente. Rapidamente sou posto à vontade, com um pequeno lanche caseiro. Bento Martins revela- se sem medo em apostar no que é produzido em Portugal e confiante em como “um dia isto vai mudar”.RICARDO NORTON| Boa tarde professor. Num país “viciado” em futebol, há espaço para o voleibol existir? BENTO MARTINS|Não, não há. Somos um país demasiadamente conservador. Quer no desporto quer nas outras áreas do país, estamos agarrados em excesso às tradições. Não há espaço para desenvolver inovação e quem o tenta fazer é visto de lado. A população que, por norma, vê desporto, há muito que segue apenas futebol, agarrada aos “tempos do Eusébio e aos do Figo” e sem ver a actualidade. Precisamente por isso, não está na disposição de mudar rotinas e abrir a mente a novas realidades, como é o caso do voleibol. Longe vai o tempo em que este país só tinha futebol. Não entendo como é que tendencialmente se venera um desporto que nunca ganhou nada internacionalmente e se ignora um desporto em que já fomos campeões europeus e temos atletas a disputar as provas de maior renome a nível mundial, como é o caso do João José, vencedor da Liga dos Campeões no ano passado. O pouco voleibol que existe existe-o graças à carolice de algumas almas que tentam equilibrar esta tendência que entristece quem está dentro da área. É necessário abanar consciências e andar para a frente. RN| Mesmo assim, o voleibol tem crescido. Já podemos assistir a jogos na TV e os jornais têm noticiado alguns eventos da área…BM| Noticia-se pouco e com imprecisões! E quando um jornalista tenta ir além da simples divulgação dos resultados fá-lo sem saber do que fala. Não possuíbackgroundnem capacidade de argumentação, o que resulta em entrevistas ou artigos sucintos, sem conteúdos e sem interesse. Os media portugueses têm medo de sair da zona de conforto que é o futebol e abrir os olhos para o que realmente se "LONGE VAI O TEMPO EM QUE ESTE PAÍS SÓ TINHA FUTEBOL"