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8/6/2019 erro médico responsabilidade http://slidepdf.com/reader/full/erro-medico-responsabilidade 1/6  Superior Tribunal de Justiça AgRg nos EDcl no AGRAVO DE INSTRUMENTO 854.005 - MT (2006/0282797-9)  RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETI AGRAVANTE : HOSPITAL "DR. NOEL NUTELS" E OUTROS ADVOGADO : JOSÉ PEREIRA DA SILVA NETO E OUTRO(S) AGRAVADO : SIRLEY APARECIDA DOS ANJOS E CÔNJUGE ADVOGADO : MARCELO DA SILVA LIMA EMENTA AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO - RESPONSABILIDADE CIVIL - CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇO - ERRO MÉDICO - PRESCRIÇÃO IRREGULAR DE MEDICAÇÃO - PARTO PREMATURO - PERDA DO FILHO - EXTRAÇÃO DO ÚTERO - CULPA CONFIGURADA - NULIDADE - NÃO OCORRÊNCIA - SÚMULA 7/STJ - INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA - POSSIBILIDADE - CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO - DISSÍDIO NÃO DEMONSTRADO. I - Verificado pelo Tribunal de origem, baseado nos autos, que ambos os agravantes constituíram o mesmo patrono para defesa e por ele se fizeram representar, havendo publicações e intimações regulares dos atos processuais, não que se falar em nulidade, por óbice da Súmula 7/STJ. II - Como destacado, a inversão do ônus da prova não é automática, tornando-se, entretanto, possível num contexto da facilitação da defesa dos direitos do consumidor, ficando subordinada ao "critério do  juiz, quando for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências. III - A divergência jurisprudencial deve ser demonstrada com base em três exigências legais: cotejo analítico adequado, similitude fática e  jurídica dos  julgados colacionados e citação de repositório oficial ou por outro meio idôneo especificado no RISTJ. Ausente quaisquer desses requisitos, como no caso concreto, não se verifica o dissídio. Agravo regimental improvido. ACÓRDÃO  Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima Documento: 810546 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/09/2008 Página 1 de 6

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 Superior Tribunal de Justiça 

AgRg nos EDcl no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 854.005 - MT(2006/0282797-9) 

RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETIAGRAVANTE : HOSPITAL "DR. NOEL NUTELS" E OUTROSADVOGADO : JOSÉ PEREIRA DA SILVA NETO E OUTRO(S)AGRAVADO : SIRLEY APARECIDA DOS ANJOS E CÔNJUGEADVOGADO : MARCELO DA SILVA LIMA

EMENTA

AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO -

RESPONSABILIDADE CIVIL - CONTRATO DE PRESTAÇÃO DESERVIÇO - ERRO MÉDICO - PRESCRIÇÃO IRREGULAR DE

MEDICAÇÃO - PARTO PREMATURO - PERDA DO FILHO -EXTRAÇÃO DO ÚTERO - CULPA CONFIGURAD A - NULIDADE- NÃO OCORRÊNCIA - SÚMULA 7/STJ - INVERSÃO DO ÔNUSDA PROVA - POSSIBILIDADE - CIRCUNSTÂNCIAS DO CASOCONCRETO - DISSÍDIO NÃO DEMONSTRADO.

I - Verificado pelo Tribunal de origem, baseado nos autos, que ambos osagravantes constituíram o mesmo patrono para defesa e por ele se fizeram

representar, havendo publicações e intimações regulares dos atosprocessuais, não há que se falar em nulidade, por óbice da Súmula 7/STJ.

II - Como destacado, a inversão do ônus da prova não é automática,tornando-se, entretanto, possível num contexto da facilitação da defesado s direitos do consumidor, ficando subordinada ao "critério do  juiz,

quando for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente,

segundo as regras ordinárias de experiências.

III - A divergência jurisprudencial deve ser demonstrada com base emtrês exigências legais: cotejo analítico adequado, similitude fática e  jurídica

do s  julgados colacionados e citação de repositório oficial ou por outromeio idôneo especificado no RISTJ. Ausente quaisquer desses requisitos,

como no caso concreto, não se verifica o dissídio.Agravo regimental improvido.

ACÓRDÃO

  Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima

Documento: 810546 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 11/09/2008 Página 1 de 6

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 Superior Tribunal de Justiça 

indicadas, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, porunanimidade, negar provimento ao agravo regimental, nos termos do voto do Sr. Ministro

Relator.

Os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Massami Uyeda votaram com o Sr.

Ministro Relator.

Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.

Brasília, 26 de agosto de 2008.(Data do Julgamento)

Ministro SIDNEI BENETIRelator

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 Superior Tribunal de Justiça 

AgRg nos EDcl no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 854.005 - MT(2006/0282797-9) 

RELATOR : MINISTRO SIDNEI BENETIAGRAVANTE : HOSPITAL "DR. NOEL NUTELS" E OUTROSADVOGADO : JOSÉ PEREIRA DA SILVA NETO E OUTRO(S)AGRAVADO : SIRLEY APARECIDA DOS ANJOS E CÔNJUGEADVOGADO : MARCELO DA SILVA LIMA

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO SIDNEI BENETI (Relator): 

1.- HOSPITAL "DR. NOEL NUTELS" e OUTROS agravam de decisão(fls. 615/617) que negou provimento a agravo de instrumento, sob os seguintes fundamentos:

(a) incidência da Súmula 7/STJ; (b) possibilidade de inversão do ônus da prova a critério do

Juízo; (c) culpa do s recorrentes verificada pelo Tribunal de origem; e (d) não demonstração de

dissídio  jurisprudencial, por falta do exigido cotejo analítico.

2.- Sustentam que:

 A decisão combatida  feriu as legislações   federais agrupadas pelosrecorrentes como nulidade processual e o ônus da  prova.Primeiro, no tocante à nulidade processual suscitada, apreciada,mas não acolhida, contrariando os artigos 243 e seguintes, bemcomo o 447, do CPC. A menção do acórdão das intimações

  pessoais, as fls. 145v, não corresponde ao verificado nos autos.Ocorreram intimações   para a Audiência de Instrução e Julgamento que não se realizou, conforme certidão, as  fls. 151, persistindo as irregularidades processuais.  Já em relação ao ônus

da probante invocada  pelos agravantes, como de competência dosagravados, desde a  primeira instância, também  foi analisada no  julgamento, mas, indeferida, com a equivocada manutenção doônus probante aos recorrentes, que foi rejeitada acertadamenteno despacho saneador, sem interposição de recursos. Todas as provas   produzidas nos autos, sem discrepância, incluindo a  períciae os depoimentos, são  favoráveis aos agravantes.  A decisão doTribunal recorrido desobedece os artigos 6º, VIII, 14, § 4º, doCDC, o artigo 333,  I, do CPC  e o artigo 1.545 do CC  (fls. 679).

É o relatório.

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 Superior Tribunal de Justiça 

AgRg nos EDcl no AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 854.005 - MT(2006/0282797-9) 

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO SIDNEI BENETI (Relator): 

3.- Em que pesem as alegações, o recurso não merece provimento,

mantendo-se a decisão agravada por seus próprios fundamentos:

  Restou assim ementado o acórdão recorrido:

  APELAÇÃO CÍVEL -   RESPONSABILIDADE CIVIL-CONTRATO  DE  PRESTAÇÃO   DE SERVIÇO -

  RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO  HOSPITAL  E 

  RESPONSABILIDADE SUBJETIVA DO  MÉDICO -

PRESCRIÇÃO DE MEDICAÇÃO  IRREGULAR -  INÉRCIAUTERINA - PROVOCAÇÃO DE  PARTO PREMATURO -

PERDA  DO FILHO - EXTRAÇÃO  DO ÚTERO - ERRO  MÉDICO CONFIGURADO -  DEVER   DE INDENIZAÇÃO -

 RECURSO  IMPROVIDO. A relação entre  paciente e médico-hospital é  de contrato de prestação de serviços entre as   partes entre as   partes. Assim, a

vítima e o autor do dano estão vinculados  por  uma relação jurídica  preexistente.Quem se compromete a  prestar  assistência médica  por  meio de

  profissionais que indica, é  responsável pelos serviços que estes  prestam, respondendo,  pois, de   forma objetiva (art. 14, caput,CDC). Por  outro lado, a responsabilidade  pessoal do médico

 pela  prestação de serviços deve ser  apurada mediante culpa  por  força do art. 14, § 4º, do CDC. A conduta negligente do  profissional que ocasionar lesão ao  paciente acarreta-lhe a obrigação de reparação dos danos. A instituição hospitalar,   por sua vez, responde em decorrência doserviço prestado de  forma irregular  (fl. 455).

 Não   prospera a indignação quanto à ocorrência de nulidade  por óbice da Súmula 7 desta Corte.  Lê-se do aresto constar:

dos autos a  fls. 37v a citação do representante legal dohospital-apelado, acerca da ação em comento. Observa-se,inclusive, a  fls. 39 e 54, que ambos constituíram o mesmo

  patrono para defesa e   por ele se  fizeram representar  e,  por  isso,as  publicações quanto aos atos  processuais  foram a estesdirecionadas (...)  Do mesmo modo, não  prospera a asserção daausência de intimação para audiência instrutória, posto que nãohouve qualquer irregularidade, haja vista que  foram intimados

  pessoalmente parao ato, consoante se verifica a  fls. 145v (fl.457).

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 Superior Tribunal de Justiça 

Quanto à inversão do ônus da   prova, tem-se que ela não é automática  para todas as relações de consumo, mas se torna

 possível num "contexto da facilitação da defesa dos direitos do

consumidor, ficando subordinada ao "critério do  juiz, quando  for verossímil a alegação ou quando  for  ele hipossuficiente, segundoas regras ordinárias de experiências" (art. 6º, VIII)" (REsp171.988/RS, 3ª  Turma,  Rel. o E.  Min. WALDEMAR ZVEITER,  DJ 28.6.99), conforme   foi verificado   pelo Tribunal "a quo". Foisalientado, outrossim, que "no que se refere à  preclusão do  pedidode inversão, esta não  prospera,   porquanto, não houveindeferimento do  pedido quando do saneador e sim diferimento daapreciação para o momento da prolação da sentença" (fl. 458).

 No caso, ainda, foi constatada a responsabilidade dos agravantescom relação ao evento que teve   por conseqüência a perda do fetoe a necessidade de se extrair  o útero da mãe  por  erro demedicação. Outra não é a conclusão que se retira do seguinteexcerto do acórdão hostilizado:

(...) não obstante, o agravamento de sua conduta tornou-seevidente, no tempo em que, tendo sido a apelada submetida àdolorosa cirurgia em que veio a óbito o seu concepto, omédico-requerido não deu maior atenção às suas queixas

 posteriores, deixando de realizar  um exame mais detalhado muito

embora o quadro anormal,   permitindo a formação de abscessosde graves proporções, que exigiu a transferência daquela paraoutros centros de saúde e a sua imediata submissão a novaintervenção cirúrgica, que em razão da gravidade do quadroinfeccioso, ocasionou a retirada do seu útero.

  Assim, caracterizada a responsabilidade, era de mister  areparação por danos ocorridos (fl. 460).

Finalmente, não houve demonstração de dissídio  jurisprudencial,diante da  falta do exigido cotejo analítico entre os  julgadosmencionados, de maneira que inviável o inconformismo apontado

 pela alínea “c” do permissivo constitucional  (fls. 615/617).

4.- Pelo exposto, nega-se provimento ao agravo regimental.

Ministro SIDNEI BENETIRelator

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 Superior Tribunal de Justiça 

CERTIDÃO DE JULGAMENTOTERCEIRA TURMA

 

AgRg nos EDcl no

Número Registro: 2006/0282797-9 Ag 854005 / MT

Número Origem: 870452006

EM MESA JULGADO: 26/08/2008

Relator

Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI

Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro SIDNEI BENETI

Subprocurador-Geral da RepúblicaExmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRA

Secretária

Bela. SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSO

AUTUAÇÃO

AGRAVANTE : HOSPITAL "DR. NOEL NUTELS" E OUTROSADVOGADO : JOSÉ PEREIRA DA SILVA NETO E OUTRO(S)AGRAVADO : SIRLEY APARECIDA DOS ANJOS E CÔNJUGEADVOGADO : MARCELO DA SILVA LIMA

ASSUNTO: Civil - Contrato - Prestação de Serviços - Médicos

AGRAVO REGIMENTAL

AGRAVANTE : HOSPITAL "DR. NOEL NUTELS" E OUTROSADVOGADO : JOSÉ PEREIRA DA SILVA NETO E OUTRO(S)AGRAVADO : SIRLEY APARECIDA DOS ANJOS E CÔNJUGEADVOGADO : MARCELO DA SILVA LIMA

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe nasessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto

do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Nancy Andrighi e Massami Uyeda votaram com o Sr.

Ministro Relator.Ausente, ocasionalmente, o Sr. Ministro Ari Pargendler.

  Brasília, 26 de agosto de 2008

SOLANGE ROSA DOS SANTOS VELOSOSecretária

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