escola de comando e estado-maior do ......organização das nações unidas (onu), o estado...
TRANSCRIPT
ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO
ESCOLA MARECHAL CASTELLO BRANCO
TC Cav GUSTAVO DANIEL COUTINHO NASCIMENTO
Os potenciais impactos da designação de Aliado Prioritário Extra-OTAN
(major Non-NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil no Entorno
Estratégico brasileiro: uma investigação à luz do caso argentino.
Rio de Janeiro
2021
1
N244p Nascimento, Gustavo Daniel Coutinho
Os potenciais impactos da designação de Aliado Prioritário Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil no Entorno Estratégico brasileiro: uma investigação à luz do caso argentino. / Gustavo Daniel Coutinho Nascimento 一2021.
64 f.: il.; 30 cm.
Orientação: Hélio Caetano Farias Projeto de Pesquisa (Mestrado em Ciências Militares) 一 Escola de Comando e Estado-Maior do
Exército, Rio de Janeiro, 2021. Bibliografia: f. 60-63.
1. MNNA 2. OPERAÇÕES DE PAZ 3. ENTORNO ESTRATÉGICO 4. BRASIL 5.
ARGENTINA 6. ATLANTICO SUL 7. EUA 8. ONU 9. OTAN 10. EXÉRCITO BRASILEIRO I. Título.
CDD 355.4
2
TC Cav GUSTAVO DANIEL COUTINHO NASCIMENTO
Os potenciais impactos da designação de Aliado Prioritário Extra-OTAN (major Non-
NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil no Entorno Estratégico brasileiro:
uma investigação à luz do caso argentino.
Projeto de Pesquisa apresentado à Escola de Comando e Estado- Maior do Exército (ECEME), como requisito parcial para qualificação ao título de Mestre (Acadêmico) em Ciências Militares.
Orientador: Prof. Dr. Hélio Caetano Farias
Rio de Janeiro – RJ 2021
3
TC Cav GUSTAVO DANIEL COUTINHO NASCIMENTO
Os potenciais impactos da designação de Aliado Prioritário Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil no Entorno Estratégico brasileiro: uma investigação à luz do caso argentino.
Projeto de Pesquisa apresentada à Escola de Comando e Estado- Maior do Exército, como requisito parcial para qualificação ao título de Mestre (Acadêmico) em Ciências Militares.
Apresentada em 30 de junho de 2021.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________________________ HÉLIO CAETANO FARIAS – Prof° Dr° – Presidente
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
________________________________________________________ GUILHERME MOREIRA DIAS – Prof° Dr° – Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
________________________________________________________ MARIANA MONTEZ CARPES – Profª Drª – Membro
Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
Ciente:
____________________________________________________________________
TC Cav GUSTAVO DANIEL COUTINHO NASCIMENTO – Postulante Escola de Comando e Estado-Maior do Exército
4
LISTA DE FIGURAS
FIGURA I Linha do Tempo – da ONU à designação do Brasil como MNNA. Fonte – Autor (2021).
FIGURA II ISAF – efetivos de tropa, por país, em março de 2010. Fonte – https://www.nato.int/
FIGURA III ISAF – efetivos de tropa, por país, em fevereiro de 2021. Fonte – https://www.nato.int/nato_static_fl2014/assets/pdf/2021/2/pdf/2021-02-RSM-Placemat.pdf
FIGURA IV Algumas intervenções dos EUA, com ONU, OEA, OTAN, MNNA ou unilateral, no pós-II Guerra Mundial. Fonte - http://www.fitchsolutions.com/country-risk/us-foreign-policy-four-scenarios-coming-decade-09-04-2019, acesso em 16 de janeiro de 2020.
FIGURA V Operações de Paz da ONU com participação brasileira. Fonte - LBDN, Edição 2016, página 122.
FIGURA VI Missões Militares das Nações Unidas em 2017. Fonte - Guia do Estudante Abril, edição 2018.
FIGURA VII Efetivo de Militares do Exército empregados em Missões Individuais em 2020 Fonte: EME, 2020
FIGURA VIII Possessões britânicas no Globo. Fonte: https://www.uk-cpa.org/where-we-work/uk-overseas-territories/
FIGURA IX Tamanho da Frota Naval Chinesa supera a Frota norte-americana. Fonte: https://edition.cnn.com/2021/03/05/china/china-world-biggest-navy-intl-hnk-ml-dst/index.html
FIGURA X Presença Militar estrangeira no Continente Africano. Fonte: https://issafrica.s3.amazonaws.com/site/images/2019-08-27-iss-today-foreign-military-map.png
FIGURA IX Mapa da Defesa Hemisférica (Hemisphere Defense). Fonte: SPYKMAN, Nicholas John. America's strategy in world politics: The United States and the Balance of Power. Nova Iorque: Harcourt, Brace and Co., 1942, p. XXXIV - XXXV.
FIGURA XII Brasil e o seu Entorno Estratégico no detalhe da FIGURA 1. Fonte: SPYKMAN, Nicholas John. America's strategy in world politics: The United States and the Balance of Power. Nova Iorque: Harcourt, Brace and Co., 1942, p. XXXV.
FIGURA XIII Mapa de Matéria Prima Estratégica (Strategic Raw materials). Fonte: SPYKMAN, Nicholas John. America's strategy in world politics: The United States and the Balance of Power. Nova Iorque: Harcourt, Brace and Co., 1942, p. 307.
FIGURA XIV Países-membro da OTAN e MNNA (sem o Brasil). Fonte - www.fitchsolutions.com, acesso em 16 de janeiro de 2020.
FIGURA XV Imagem postada no sítio eletrônico do Consulado Geral EUA, em homenagem aos 76 anos de uma parceria histórica. Fonte - https://www.facebook.com/consuladoeuarj.br/photos/a.467795620014171/3535216589938710/?type=3&theater
FIGURA XVI As sete Forças do Departamento de Defesa. Fonte - https://www.defense.gov/Our-Story/Our-Forces/
FIGURA XVII Os onze COCOMs – nome e símbolos Fonte - https://www.defense.gov/Our-Story/Combatant-Commands/
FIGURA XVIII Os onze COCOMs – divisão territorial pelo globo. Fonte - https://archive.defense.gov/news/UCP_2011_Map4.pdf
FIGURA XIX Os limites marítimos do Entorno Estratégico brasileiro. Fonte: Plano Estratégico da Marinha (PEM 2040). Edição 2020.
FIGURA XX Teoria da Defrontação Fonte - Revista do Clube Militar, Edição de Abril/Junho de 1956, transcrita pelo Boletim Geográfico em sua seção Contribuição à Geopolítica em novembro/dezembro do mesmo ano. Autores - Delgado de Carvalho e Therezinha de Castro.
FIGURA XXI Presença militar norte-americana na América do Sul (Entorno Estratégico brasileiro). Fonte – “Formação do Império Americano. Da guerra contra a Espanha à guerra do Iraque” Editora: Civilização Brasileira; 1ª edição (13 outubro 2017).
5
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 A participação dos EUA em alguns conflitos, com a ONU, a OEA, a OTAN, os MNNA ou sozinhos. Fonte – Autor (2021).
TABELA 2 Contribuição da Argentina, do Brasil e dos EUA para o Sistema ONU, por missão e por tipo de pessoal (dados de 31 de março de 2021). Fonte – Autor (2021).
TABELA 3 Alguns benefícios de ser MNNA e a legislação de amparo. Fonte - Autor (2021).
TABELA 4 MNNA por ano, presidente e país. Fonte – Autor (2021).
TABELA 5 Citações ao Brasil e à Argentina na FAA. Fonte - Autor (2021).
TABELA 6 Correlação entre COCOMs, MNNA, Entorno Estratégico brasileiro e Operações de Paz. Fonte – Autor (2021).
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AECA - Arms Export Control Act (Lei de Controle de Exportação de Armas)
BINUH - Bureau intégré des Nations Unies en Haïti (Escritório Integrado das Nações Unidas
no Haiti)
COCOMs- Unified Combatant Commands (Comandos de Combate Unificado)
CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
CSONU – Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas
BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul
DoD - Department of Defense, dos EUA
DPO - Department of Peace Operations, oriundo do DPKO, desde 1° de janeiro de 2019.
DPKO - Department of Peacekeeping Operations
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EB – Exército Brasileiro
ECEME - Escola de Comando e Estado-Maior
END – Estratégia Nacional de Defesa
ESF - Economic Support Funds (Fundos de Suporte Econômico)
ESG - Escola Superior de Guerra
EUA – Estados Unidos da América
FAA - Foreign Assistance Act (Lei de Assistência ao Exterior), de 1961
FAB – Força Aérea Brasileira
FY – Fiscal Year (Ano Fiscal), para fins de orçamento anual dos EUA (budget)
IBAS – (Fórum de Diálogo) Índia-Brasil-África do Sul
6
IMET - International Military Education and Training (Educação Militar Internacional e
Treinamento)
JCS - Joint Chiefs of Staff (Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos)
LBDN – Livro Branco de Defesa Nacional
MAP - Military Assistance Program (Programa de Assistência Militar)
MB – Marinha do Brasil
MEM – Material de Emprego Militar
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul
MINURSO - Mission des Nations Unies pour l'Organisation d'un Référendum au Sahara
Occidental (Missão das Nações Unidas para o referendo no Saara Ocidental)
MINUSCA – Mission multidimensionnelle intégrée des Nations Unies pour la stabilisation en
Centrafrique (Missão Multidimensional Integrada das Nações Unidas para a Estabilização da
República Centro-Africana)
MINUSMA - Mission multidimensionnelle intégrée des Nations unies pour la stabilisation au
Mali (Missão Multidimensional Integrada para Estabilização das Nações Unidas do Mali)
MINUSTAH - Mission des Nations Unies pour la Stabilisation en Haïti (Missão das Nações
Unidas para a Estabilização no Haiti)
MNNA - Major Non-NATO Ally (Aliado Prioritário Extra-OTAN)
MONUSCO - Mission de l'Organisation des Nations Unies pour la stabilisation en République
démocratique du Congo (Missão de Estabilização das Nações Unidas na República
Democrática do Congo)
MRE - Ministério das Relações Exteriores (do Brasil), também conhecido como Itamaraty
NATO – North Atlantic Treaty Organization (OTAN)
NDS - National Defense Strategy (Estratégia de Defesa Nacional)
NSS – National Security Strategy (Estratégia de Segurança Nacional)
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
OEA – Organização dos Estados Americanos
OI - Organismo Internacional
OINA – Oficial Instrutor de Nação Amiga
ONA – Oficial (Aluno) de Nação Amiga
ONU – Organização das Nações Unidas
OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte
PDN – Política de Defesa Nacional (de 1996 a 2012)
PEB - Política Externa Brasileira
7
PEEx – Plano Estratégico do Exército
PEM - Plano Estratégico da Marinha
PEMAER - Plano Estratégico Militar da Aeronáutica
PND – Política Nacional de Defesa (a partir de 2012)
PRODE – Produto de Defesa
PROSUB - Programa de Desenvolvimento de Submarinos
QDR - Quadrennial Defense Review (Revisão Quadrienal de Defesa)
RCA - República Centro-Africana
RDC - República Democrática do Congo
RH – Recursos Humanos
RI – Relações Internacionais
SEATO - Southeast Asia Treaty Organization (Organização do Tratado do Sudeste Asiático)
TIAR – Tratado Interamericano de Assistência Recíproca
TCC - Troop Contributing Countries (Países contribuintes de tropa)
UNASUL - União de Nações Sul-Americanas
UNEF-1 - First United Nation Emergency Force (Força de Emergência das Nações Unidas)
UNISFA - United Nations Interim Security Force for Abyei (Força Interina de Segurança das
Nações Unidas para Abyei)
UNIFIL - United Nations Interim Force in Lebanon (Força Interina das Nações Unidas no
Líbano)
UNFICYP - United Nations Peacekeeping Force in Cyprus (Força das Nações Unidas para
Manutenção da Paz no Chipre)
UNMISS - United Nations Mission in South Sudan (Missão das Nações Unidas no Sudão do
Sul)
UNSMIL - United Nations Support Mission in Libya (Missão de Apoio das Nações Unidas na
Líbia)
UNMOGIP - United Nations Military Observer Group in India and Pakistan (Grupo de
Observadores Militares das Nações Unidas para Índia e Paquistão)
UNTSO - United Nations Truce Supervision Organization (Organização das Nações Unidas
para a Supervisão da Trégua), no Oriente Médio
UNVMC - United Nations Verification Mission in Colombia (Missão de Verificação das
Nações Unidas na Colômbia)
USAID - United States Agency for International Development (Agência Norte-americana para
Desenvolvimento Internacional)
8
URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
USC - United States Code (Código dos Estados Unidos)
USG – United States Government (Governo dos Estados Unidos)
USAFRICOM (ou AFRICOM) - United States Africa Command (Comando África dos Estados
Unidos)
USSOUTHCOM (ou SOUTHCOM) - United States Southern Command (Comando Sul dos
Estados Unidos)
ZEE – Zona econômica exclusiva
9
ÍNDICE
I) PROJETO DE PESQUISA...................................................................................................10 II) SUMÁRIO PRÉVIO DA DISSERTAÇÃO.........................................................................38 III) CAPÍTULO DA DISSERTAÇÃO.....................................................................................39
10
I) PROJETO DE PESQUISA
RESUMO O presente trabalho busca prospectar como os potenciais impactos da designação de Aliado Prioritário Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA) podem influenciar as Operações de Paz do Brasil, análise comparada à luz do caso Argentino e com foco no Entorno Estratégico Brasileiro (Repetitivo!). Desde a primeira atuação na Cidade de Letícia, no conflito entre Colômbia e Peru (1933-1934), ainda sob a égide da Liga das Nações, o Brasil tem composto missões de paz sob a égide de organismos multilaterais. A partir de 1945, com a criação da Organização das Nações Unidas (ONU), o Estado Brasileiro tem colecionado significativas participações em missões de paz, como: Canal de Suez (1956), Angola (1988), Moçambique (1992), Timor Leste (1999), Haiti (2004), Líbano (2011) e, mais recentemente, o comando da MONUSCO (desde 2013). A aceitação internacional à atuação brasileira tem lastro na tradicional atividade diplomática do país e nos seus princípios constitucionais norteadores das Relações Internacionais (RI), como: a autodeterminação dos povos; a não intervenção; a igualdade entre os Estados; a defesa da paz; e a solução pacífica dos conflitos. Tradicional também é a Relação entre o Brasil e os Estados Unidos da América (EUA), que remonta aos idos de maio de 1824, quando aquela Nação reconheceu a independência da antiga colônia portuguesa. A designação de MNNA, em março de 2019, é mais um episódio que expressa a proximidade entre as duas Nações. No escopo dos Acordos na área de Defesa, dentro do contexto de um aliado Extra-OTAN, o papel argentino merece ser estudado, tendo em vista uma tripla percepção – tradicional aliado brasileiro, sendo o primeiro país (à época, Províncias Unidas do Rio da Prata) a reconhecer sua independência, ainda em novembro de 1822; primeiro MNNA latino-americano, desde 1998, como reconhecimento à sua participação singular na Guerra do Golfo de 1991; e a sua posição única no Entorno estratégico brasileiro no Atlântico Sul. O status MNNA colocam Brasil e Argentina mais próximos da maior potência militar da atualidade, a nação que mais contribui financeiramente com a ONU e, por outro lado, um dos Estados que tem um histórico de ações militares à margem da ONU, como a Guerra ao Terror (a partir de 2001), com intervenções no Afeganistão, Iraque, Líbia, Síria, dentre outras. A escolha do MNNA traz, no seu bojo, algumas possibilidades de parcerias, em especial na qualificação de recursos humanos (RH) e nas facilidades para a aquisição de produtos de defesa (PRODE) que podem significar um legado para o aliado designado. A presente pesquisa se dispõe a investigar quais os potenciais impactos, em termos de qualificação de RH e facilidades para aquisição de PRODE, da designação de Aliado Prioritário Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil no Entorno Estratégico brasileiro, tendo como referência o caso argentino.
Palavras-chave: MNNA, Operações de Paz, Brasil, Entorno Estratégico, Argentina, Atlântico Sul, Exército Brasileiro, ONU, OTAN, Estados Unidos.
11
1. INTRODUÇÃO
Para que se possa discorrer sobre os potenciais impactos da designação de Aliado
Prioritário Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil
no Entorno Estratégico brasileiro: uma investigação à luz do caso argentino, é necessário antes
de tudo debater, mesmo que brevemente, acerca do que vem a ser esse status de MNNA e seu
contraponto à OTAN e à ONU.
Após a II Guerra Mundial (1939-1945), o mundo experimentou a bipolaridade entre
os EUA e a URSS que se estendeu até o esfacelamento da última, em dezembro de 1991. Esse
antagonismo colocava em cheque até mesmo a ONU no seu objetivo de: “a preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço da nossa vida, trouxe sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direito dos homens e das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do direito internacional possam ser mantidos1”
A ONU foi criada logo após a II Guerra Mundial, em substituição à Liga das Nações
(1919 – 1946). Eric Hobsbawm (2007) é um dos muitos autores que descrevem o fracasso da
“Liga”, elencando diversas razões, desde o comportamento dos EUA, até a uma equivocada
política de autodeterminação dos povos apresentada pelo presidente Woodrow Wilson. O
intento de ambos os Organismos Internacionais (OI) era, após a I e II Guerras Mundiais
respectivamente, manter a paz entre as nações. A data que marca a criação desse último OI é
24 de outubro de 1945, momento em que o CSONU2, composto por cinco países (China,
França, atual Federação Russa / antiga URSS, Reino Unido e os EUA), ratifica a Carta das
Nações Unidas assinada por cinquenta nações.
Nesse contexto de “unir as nossas forças para manter a paz e a segurança
internacionais3”, o primeiro desafio da ONU, em termos de Missão de Paz, foi em 1948, no
Oriente Médio. A Força de Emergência das Nações Unidas (UNEF-1) tinha como norte o
monitoramento do Acordo de Armistício entre Israel e os seus vizinhos árabes do entorno.
A visão de mundo internacional da tradição kantiana, descrita abaixo pelo Professor
Reinaldo Dias, os EUA e a URSS seguiram rumos opostos no sentido de criarem suas próprias
alianças militares.
1 Decreto Nº 19.841, de 22 de outubro de 1945. Promulga a Carta das Nações Unidas, assinada em São Francisco, a 26 de junho de 1945. Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d19841.htm 2 Página Oficial da ONU. Membros Atuais. Membros Permanentes e Não-permanentes do CSONU. Fonte: https://www.un.org/securitycouncil/content/current-members 3 Preâmbulo da Carta da ONU, de 1945, disponível em https://brasil.un.org/pt-br/91220-carta-das-nacoes-unidas
12
“A visão de mundo internacional da tradição kantiana está baseada na existência de uma comunidade universal da humanidade, onde os interesses de todos os homens são comuns; e nesta perspectiva as relações internacionais não são vistas como envoltas em puro conflito, mas apresentam um caráter mais de cooperação. Nesse contexto, os conflitos de interesses entre os Estados ocorrem num nível superficial do sistema internacional.” (DIAS, 2010, p. 17).
Nesta senda, em 1949, a OTAN foi criada pela comunhão de Bélgica, França, Noruega,
Canadá, Islândia, Países Baixos, Dinamarca, Portugal, Itália, EUA, Luxemburgo e Reino
Unido.
Sob o manto da URSS, como contraponto à OTAN, em 1955, o Pacto de Varsóvia é
celebrado, que chegou, em sua máxima amplitude, ao número de 22 países. Tal acordo militar
era composto pela URSS; que chegou a 15 países-membros, antes do seu fim em 1991; mais os
sete países do Leste Europeu. Este último ano marcou também o fim também do Pacto de
Varsóvia.
Na sequência, a OTAN será brevemente analisada para se chegar às parcerias norte-
americanas Extra-OTAN (MNNA), ao passo que o Pacto de Varsóvia não será alvo da presente
Dissertação.
A visão de Spykman, no ano de 1942, para as Américas
Em 1942, Nicholas John Spykman (1893-1943), importante geopolítico do século
passado, holandês naturalizado norte-americano, cujas ideias serviram de alicerce para as
políticas externas norte-americanas durante o período da Guerra Fria, afirmava que a “Doutrina
original de Monroe4 se converteu em doutrina da defesa total do hemisfério” (Spykman, 1942a,
p. 91), esse “grande espaço vital regional” (1942a, p. 283).
A sustentação dessa ideia de “defesa do hemisfério” está baseada na visão de uma
configuração regional de poder vislumbrada por Spykman no meio da II Guerra Mundial (1939-
1945). Para o estudioso, um revés aliado na Europa, poderia significar uma ameaça de um cerco
ao “hemisfério ocidental”, conforme será estudado no capítulo 1 dessa Dissertação.
A Doutrina Truman de 1947
Com pontos de contato com o pensamento de Spykman, em 1947, fora do Sistema
ONU (Rússia e Cuba, por exemplo, eram e são países membros da ONU) e com vistas a conter
o avanço comunista e ampliar a influência norte-americana nos países do globo, foi
4 A Doutrina Monroe, iniciativa do Presidente dos EUA James Monroe, foi proferida em dezembro de 1823, em uma sessão no Capitólio. Seu objetivo era, pós independência do seu país (1776), não houvesse mais interferência europeia no continente: “América para os americanos”.
13
implementada a Doutrina Truman, levada a acabo pelo presidente daquele país - Harry S.
Truman. Essa estratégia de contenção ao comunismo soviético foi materializada por intermédio
de variados acordos de cunho econômico e tecnológico, em especial nas áreas do globo julgadas
na seara de influência ou de interesse estadunidense, como a América Latina.
A Doutrina Truman previa, também, uma defesa do discurso democrático-capitalista,
em contraponto às ameaças que os comunistas eram percebidos para os campos político,
econômico, sociocultural e militar. Segundo HOBSBAWN (2007), a Guerra Fria sustentou-se
ao longo dos anos na certeza de que “o futuro do capitalismo mundial e da sociedade liberal
não estavam de modo algum assegurado” (2007 apud HOBSBAWN, p. 228-229).
Dentro do escopo da Doutrina em tela, o caso latino-americano teve no Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), no nome original em inglês Inter-American
Treaty of Reciprocal Assistance (Rio Treaty), sua maior expressão, que mais a frente, no
capítulo 1, será analisado.
O emblemático ano de 1949
O ano de 1949 ficou marcado pela criação da OTAN, em abril, atualmente com trinta
países membros5. Porém, quatro meses depois de sua criação e quatro anos após os EUA
lançarem bombas atômicas sobre o Japão, a URSS conquistou a tecnologia da bomba nuclear;
realizando seu primeiro teste em 29 de agosto de 1949, nas estepes desabitadas do atual
Cazaquistão.
Merece, destaque, ainda que, em 1949, a Revolução Socialista na China, consolidou a
ascensão dos comunistas no Império do Meio, dando início à atual fase político-econômica do
que se entende como a República Popular da China, nos dias de hoje.
No Brasil, nesse ano de 1949, a Escola Superior de Guerra (ESG) foi criada,
fortemente influenciada pela experiencia brasileira junto ao Exército Norte-americano, durante
a II Guerra Mundial. A estrutura conjunta da ESG, unindo as três Forças Armadas, remonta às
bases do National War College, dos EUA, criado quatro anos antes6.
A título de comparação, na Argentina, a Escuela Superior de Guerra7, criada em 1900,
é equivalente à Escola de Comando e Estado-Maior (ECEME), do Brasil, inaugurada em 1905.
5 https://www.nato.int/cps/en/natohq/nato_countries.htm 6 https://nwc.ndu.edu/History/ 7 http://www.esg.iue.edu.ar/resena.php
14
Na estrutura do Ministério da Defesa Argentino encontra-se a Universidad de la Defensa
Nacional8, efetivada em 2014, congregando as três Forças Armadas portenhas e os civis.
A bipolaridade, que vigorou entre 1955 (Criação do Pacto de Varsóvia) e 1991
(Esfacelamento da URSS), totalizando 36 anos, apresentou significativos marcos históricos da
relação dos EUA com a ONU, com a OTAN e com seus MNNA, conforme se depreende da
figura abaixo.
Figura I – Linha do Tempo – da ONU à designação do Brasil como MNNA. Fonte – Autor (2021).
Abaixo, destacam-se alguns conflitos, ao redor do globo, no pós-II Guerra Mundial,
nos quais os EUA se fizeram presentes, quer seja por meio da ONU, da OEA, da OTAN, de
mecanismos bilaterais (como MNNA) ou, ainda, de maneira unilateral, o que indica a validade
das ideias de Spykman e a importância dos MNNA. Conflito ONU ou
OEA presentes no conflito
OTAN presente no conflito
MNNA presente no conflito (Se tiver o ano ao lado do país, indica que já era MNNA na ocasião do conflito)
Observação
Coreia (1950-1953) ONU URSS e a China apoiaram a Coreia do Norte.
Não Austrália Coreia do Sul Japão Nova Zelândia Filipinas Taiwan Tailândia
-
Guatemala (1954) OEA Não Brasil Conferência da OEA de 13 de março de 1954 aprovou a Resolução XCIII, denominada “Declaração de Solidariedade para a Preservação da Integridade Política dos Estados
8 https://www.undef.edu.ar/institucional/creacion/
1945 - Final da II Guerra Mundial
e criação da ONU
1947 - Doutrina Truman
1948 - Criação da OEA; TIAR
entra em vigor e UNEF-1
1949 - Criação da OTAN
1955 - Criação do Pacto de
Varsóvia
1989 -Designação do
1° MNNA
1998 -Designação da
Argentina como MNNA
1991 -Esfacelamento da URSS e fim do Pacto de
Varsóvia
2019 -Designação do
Brasil como MNNA
15
Americanos contra a Intervenção do Comunismo Internacional”
Vietnã e Sudeste Asiático (década de 1960 até 1975)
Não URSS e a China apoiaram o Vietnã do Norte
Não Os mesmos da Guerra da Coreia.
SEATO9 evocado. Brasil teve uma participação logística pequena.10
Cuba (1961), a invasão da Baía dos Porcos
OEA Não - TIAR evocado e Cuba expulsa da OEA.
República Dominicana (1965)
OEA Não Brasil TIAR evocado
Guerra do Irã-Iraque (1980-1988)
Não Não Egito Jordânia Kuwait
No seguinte ao final da Guerra, o Egito seria designado MNNA.
Líbano (1982–1984) Não Não Israel - Granada (1983) OEA Não - TIAR evocado Líbia (1986) Não Não - Operação El Dorado Canyon Panamá (1989) Não Não - - Guerra do Golfo (1990–1991)
ONU Não Austrália (1989) Coreia do Sul (1989) Egito (1989) Japão (1989) Nova Zelândia Argentina Bahrein Filipinas Kuwait Marrocos Paquistão
Desde 1989, Israel também era MNNA, porém, não entrou na Guerra para que as nações árabes não mudassem de lado. O Japão contribuiu somente com recursos financeiros.
Somália (1992-1994) ONU Não Austrália (1989) Jordânia Nova Zelândia Kuwait, Marrocos Paquistão Tunísia
Conforme dados da Biblioteca do Joint Chiefs of Staff (Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos)11
Haiti (1994-1995) ONU e OEA Não Argentina TIAR evocado Bósnia (1995) ONU Sim - Operação Força Deliberada Kosovo (1999) ONU Sim - Operação Força Aliada Afeganistão e Paquistão (2001-2014)
ONU Sim Austrália (1989) Coreia do Sul (1989) Jordânia 1996) Nova Zelândia (1997)
Desde 1° de janeiro de 2015, após a transferência da segurança do país para seu governo local, há somente uma pequena força representativa da International Security Assistance Force (ISAF)12 – Força Internacional
9 Organização do Tratado do Sudeste Asiático (Southeast Asia Treaty Organization - SEATO) - organização internacional para defesa coletiva, inspirada na Guerra da Coreia, que vigorou de setembro de 1954 a junho de 1977, com vistas a conter avanços comunistas no sudeste da Ásia, a exemplo do TIAR nas Américas. Era formada por oito países: EUA, França, Grã-Bretanha e cinco futuros MNNA (Austrália, Nova Zelândia, Paquistão, Filipinas, Tailândia). Fonte: Departamento de Estado dos Estados Unidos (United States Department of State), em https://history.state.gov/milestones/1953-1960/seato 10 Trecho da carta de 25/07/65, do presidente dos EUA Lyndon Johnson ao presidente brasileiro Castello Branco: “Fui informado de que o governo brasileiro já providenciou o envio de café e medicamentos para o Vietnã, através da Cruz Vermelha Brasileira, e tenho certeza deque esses artigos são muito necessários àquele país. Em vista das atuais circunstâncias, porém, parece que se fará necessária ajuda adicional, e estou muito interessado em conhecer seu ponto de vista em relação a que tipo de assistência adicional o governo brasileiro talvez pudesse fornecer”. 11 Fonte: https://www.jcs.mil/Portals/36/Documents/History/Monographs/Somalia.pdf e Departamento de Estado dos Estados Unidos (United States Department of State), em https://history.state.gov/milestones/1993-2000/somalia 12 https://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_69366.htm
16
Vide figuras V e VI abaixo.
de Apoio à Segurança, missão de segurança liderada pela OTAN no Afeganistão e na sua fronteira com o Paquistão.
Líbia (2011) ONU Sim Jordânia (1996) - Síria (a partir de 2011) ONU Sim Israel (1989)
Jordânia (1996) Marrocos (2004)
-
TABELA 1 - A participação dos EUA em alguns conflitos, com a ONU, a OEA, a OTAN, os MNNA ou sozinhos.
Fonte – Autor (2021).
A título de comparação, em março de 2010, a ISAF contava com cerca de 90.000
militares, ao passo que, em fevereiro do corrente ano, a Força opera com cerca de 9.600
militares, conforme figuras abaixo:
Figura II – ISAF – efetivos de tropa, por país, em março de 2010. Fonte – https://www.nato.int/ Detalhe para a presença de MNNA – Austrália (1550) e Jordânia (6).
17
Figura III – ISAF – efetivos de tropa, por país, em fevereiro de 2021. Fonte – https://www.nato.int/nato_static_fl2014/assets/pdf/2021/2/pdf/2021-02-RSM-Placemat.pdf Detalhe para a presença de MNNA – Austrália (80) e Nova Zelândia (6).
O quadro abaixo ilustra algumas intervenções da Tabela 1, em um formato de mapa, a
fim de verificar a disposição espacial no globo.
Figura IV – Algumas intervenções dos EUA, com ONU, OEA, OTAN, MNNA ou unilateral, no pós-II
Guerra Mundial. Fonte:http://www.fitchsolutions.com/country-risk/us-foreign-policy-four-scenarios-coming-decade-
09-04-2019, acesso em 16 JAN 2020.
A criação do condição MNNA será estudada adiante, no capítulo 1.
18
As relações bilaterais Brasil - EUA
As relações bilaterais Brasil – EUA são longevas e marcadas por diferentes momentos:
de aproximação, incluindo períodos de alinhamento, e de distanciamento pragmático. A seleção
para ser MNNA é mais um capítulo dessa longa relação.
Segundo CERVO e BUENO (2020), o estudo da diplomacia e da Política Externa
Brasileira (PEB), em especial na sua relação com os EUA, apresenta momentos bem distintos,
a saber:
- ao longo do Brasil Império, era um momento de “conquista e o exercício da
soberania”, fortemente baseado nas relações com o Velho Continente;
- o Barão do Rio Branco (1845- 1912) defendia uma aproximação estratégica bilateral,
um alinhamento, em contraposição ao relacionamento predominante com a Europa. Essa
aproximação foi uma característica da República Velha (1889-1930), inclusive com a
transferência do centro diplomático brasileiro da capital inglesa para Washington;
- com o advento da I Guerra Mundial (1914-1918), e a participação brasileira nela, ao
lado dos EUA, uma nova posição da PEB surgia. O Brasil, ao término do conflito, assumiu um
assento rotativo no conselho da Liga das Nações, garantindo reconhecimento internacional;
- já a partir dos anos 1930, a política de industrialização e modernização do Período
Vargas (o nacional-desenvolvimentismo) trouxe reflexos para a PEB. Na busca por potenciais
países que pudessem ajudar na industrialização e no desenvolvimento nacionais, a Alemanha
despontou como forte candidato. Essa relação bilateral Alemanha - Brasil despertou temor nos
EUA, em particular nos anos que antecederam a II Guerra Mundial (1939-1945). A PEB de
Vargas foi direcionada a buscar o máximo possível das negociações, tanto com a Alemanha
hitlerista, quanto com os EUA. A essa dinâmica oscilatória da PEB, denominou-se de
equidistância pragmática (termo utilizado pelo historiador Gerson Moura13). A ela, o Brasil
deve a fundação da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), em 1941. Em 1942, o Brasil
entrava na II Guerra Mundial ao lado dos Aliados;
- já na Nova República (1945-1961), houve uma dicotomia entre o alinhamento e a
autonomia (ou distanciamento) em relação aos EUA. A PEB, logo após a volta da Força
Expedicionária Brasileira (FEB), foi caracterizada como um dos principais momentos de
aproximação: um “alinhamento automático”. O contexto internacional apresentava uma Europa
destruída e uma elite brasileira anticomunista, ambiente favorável às relações econômicas e
13 https://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/AEraVargas1/anos30-37/RelacoesInternacionais
19
comerciais entre Brasil e EUA, apesar daquela grande nação, à época, estar mais voltada à
reconstrução do Velho Continente e à contenção da URSS;
- no período do Governo de Jânio da Silva Quadros (1961) e de João Belchior Marques
Goulart, o Jango, (1961-1964), a PEB foi percebida como uma Política Externa Independente
- uma estratégia brasileira de ampliação do seu poder de negociação no tabuleiro internacional,
por meio da diversificação de parcerias econômicas e políticas que visualizavam aliados
distintos das tradicionais potências. Tratava-se de uma visão mais globalista (ou universalista),
em consonância com o que ocorria no globo, como a independência dos países africanos. O
Brasil procurou a neutralidade, ou não alinhamento, nas discussões que envolviam a Guerra
Fria, com vistas a diversificar a balança comercial inclusive com o bloco socialista.
Multilateralismo (africanos e socialistas) sem romper com os tradicionais parceiros;
- durante os Governos Militares (1964-1985), não houve uma única PEB que
caracterizasse as duas décadas do regime, até porque talvez esse seja o período histórico no
qual a dinâmica oscilatória vislumbrada no pré-II Guerra Mundial, tenha sido novamente visível
em relação aos EUA. Um americanismo nos primeiros anos se estendeu até meados da década
de 1970, quando o governo do general Ernesto Geisel (1974-1979) resgatou a ideia de
universalismo e nacional-desenvolvimentismo, como suporte ao Projeto de desenvolvimento
nacional. Merece destaque que no seu governo, foi lançado, em 1974, o II Plano Nacional de
Desenvolvimento (II PND), um ano após a Crise do Petróleo de 1973 e consequente e premente
necessidade de diversificar os parceiros comerciais. Esse pragmatismo da PEB permitiu a
aproximação com a China, países da África e do Oriente Médio;
- a PEB do Neoliberalismo dos Governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC), de
1995 a 2003, foi pautada em um resgate da credibilidade internacional na agenda econômica e
financeira, após a década de 1980, marcada por crise socioeconômica no Brasil. No plano
internacional, os países em desenvolvimento buscavam seguir as medidas impostas pelo
Consenso de Washington 14 a fim de receber aporte de créditos oriundos de fundos
internacionais e garantir uma boa imagem da Nação no Concerto global. Foi nesse período que
surgiu o Mercosul, em 1991, e que o Brasil assinou o Tratado de Não Proliferação de Armas
Nucleares (TNP), em 1998, trinta anos após o primeiro acordo, em 1968;
14 Foi um conjunto de medidas macroeconômicas formulado em novembro de 1989 por economistas de instituições financeiras situadas em Washington D.C., como o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Banco Mundial e o Departamento do Tesouro dos EUA. Tal conjunto tornou-se a política oficial do FMI a partir de 1990, a fim de promover o "ajustamento macroeconômico" dos países em desenvolvimento que passavam por dificuldades.
20
- nos anos 2000, em especial no Governo Lula (2003 – 2011) e Dilma (2011-2016), a
PEB retomou as características da Política Externa Independente, do período de 1961 a 1964.
Nesse período, observou-se um crescente descontentamento com o desemprego e o arrocho
salarial decorrentes das medidas de austeridade do período neoliberal de FHC, somado à
ascensão de movimentos de esquerda, tanto no Brasil como na América do Sul15 em geral.
Nesse cenário, o projeto desenvolvimentista foi retomado, orientando a PEB, com grande foco
nos países vizinhos, na integração regional, na Cooperação Sul-Sul e nas nações em
desenvolvimento, como: Rússia, Índia, China e África do Sul. BRICS, o IBAS e a UNASUL
foram criados nesse contexto e o Brasil assumiu o Comando Militar da MINUSTAH; e
- a fase atual pode ser compreendida como um modelo pós “nacionalismo pragmático”,
se afastando do modelo “liberal-conservador” (visto por alguns autores como contrário ao
“interesse nacional”) e se aproximando do projeto “nacional-desenvolvimentista”. O governo
atual, até a eleição de Joe Biden nos EUA, dava sinais de um alinhamento automático, ora não
mais perceptível.
Nos moldes de uma política de alinhamento, a partir da aproximação do Governo
Republicano de Donald Trump (2017-2021) e do Governo Jair Bolsonaro (2018-em curso),
houve a designação do Brasil, em março de 2019, como o 17° Aliado Prioritário Extra-OTAN
(major Non-NATO Ally-MNNA).
Tal escolha não é inédita na América Latina, cabendo à Argentina, em 1998, ter sido
a protagonista neste tipo de parceria, alçada à MNNA pelo Governo Democrata de Bill Clinton
(1993–2001).
No caso argentino, como já descrito anteriormente, houve um cenário de crise político-
militar, após o fracasso da Campanha das Malvinas (1982), associado, poucos anos depois, ao
ocaso da Guerra Fria, uma crise econômica com forte impacto sobre o Setor de Defesa (quebra
de estaleiros, abandono da TAMSE, privatização da Fabrica Militar de Aviones).
Quanto aos EUA, havia um interesse em, resgatando Spykman, frear uma forte aliança
no Cone Sul, que parecia emergir com o MERCOSUL (1991).
Para sustentar as linhas de investigação acima, os documentos de defesa e outros
documentos de Estado, tanto argentinos, como EUA, serão compulsados.
15 Guinada à Esquerda, Virada à Esquerda, Onda Rosa, Maré Rosa ou Pós-neoliberalismo são termos frequentemente utilizados para designar o fenômeno político sul-americano, do início do século XXI, de ascensão, à liderança dos países, dos políticos de esquerda, por meio de eleições, em contraposição às lideranças políticas da década de 1990 que promoveram reformas neoliberais e o Estado mínimo. (resumo extraído do texto de José Luís Fiori, A virada à esquerda na América do Sul, Valor Econômico, em 09/01/2006.)
21
Merece rememorar que a Casa Rosada, no Governo de Carlos Menem (1989–1999)
enviou tropas portenhas para a Guerra do Golfo (1990–1991), para a Guerra de Independência
da Croácia (1991–1995) e para a Operação Retorno à Democracia no Haiti (1994–1995), tudo
para “convencer” os norte-americanos a recompensarem a Argentina com o título de MNNA,
após ter sido abandonada à própria sorte na questão das Malvinas, mesmo com o TIAR em
vigor.
Nesta senda, a presente investigação irá levantar os potenciais impactos, em termos de
qualificação de RH e facilidades para aquisição de PRODE, da designação de Aliado Prioritário
Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil no Entorno
Estratégico brasileiro, tendo como referência o caso argentino.
As Operações de Paz – participação da Argentina, do Brasil e dos EUA
As Operações de Paz, inicialmente sob a égide da Liga das Nações e, desde 1945, a
cargo da Organização das Nações Unidas (ONU), contam com a relevante participação
brasileira há quase um século, ainda que a Argentina esteja, atualmente, contribuindo com mais
militares que o Brasil, conforme Tabela 1, abaixo.
A participação dos EUA foi lançada na tabela, à guisa de comparação.
Contribuição da Argentina, do Brasil e dos EUA para o Sistema ONU, por missão e por tipo de pessoal (dados de 31 MAR 2021)
Missão
Tipo de Pessoal Oficiais de Estado-Maior Especialistas Polícia Individual Tropa Arg. Brasil EUA Arg. Brasil EUA Arg. Brasil EUA Arg. Brasil EUA
BINUH - - - - - - - - 1 - - - MINURSO - - - 3 9 - - - - - - - MINUSCA 2 5 8 - 2 - - 1 - - - - MINUSMA - - 8 - - - - - - - - - MONUSCO - 22 3 - 1 - - - - - - - UNFICYP 9 1 - - - - - - - 240 1 - UNIFIL - 2 - - - - - - - - 7 - UNMOGIP - - - 2 - - - - - - - - UNISFA - 1 - - 1 - - - - - - - UNSMIL - - - - - 1 - - - - - - UNMISS - 7 6 - 5 - 4 6 - - - - UNTSO - - - 4 - 2 - - - - - - UNVMC - - - 16 - - - - - - - - Total por tipo de pessoal
11 38 25 25 18 3 4 7 1 240 8 -
Total de militares por país, em 31 de março de 2021: Argentina (280); Brasil (71); e EUA (29). Tabela 2 – Contribuição da Argentina, do Brasil e dos EUA para o Sistema ONU, por missão e por tipo
de pessoal. Legenda – Arg. é Argentina. Fonte: Autor (2021), baseado nos dados de https://peacekeeping.un.org/en/troop-and-police-
contributors, acesso em 31 de março de 2021, às 2230 h.
22
A tabela acima representa as missões ora em curso na ONU, com os efetivos de
Argentina (280), Brasil (71) e EUA (29), em março de 2021. A partir dos dados, pode-se
depreender:
- o maior efetivo militar dos três é o argentino, tendo em vista o Batalhão Argentino
(ARGBATT), no Chipre16;
- o efetivo brasileiro diminui após o fim da MINUSTAH;
- o efetivo norte-americano é pequeno, dada a preferência daquela País por
cooperações bilaterais, como os MNNA; e
- há diversas missões da ONU no Entorno Estratégico Brasileiro.
Portanto, infere-se que, apesar dos numeroso militares norte-americanos distribuídos
pelo globo 17 , a escolha dos MNNA tem potencial, em termos de qualificação de RH e
facilidades para aquisição de PRODE.
O Livro Branco de Defesa Nacional (BRASIL, 2016, p. 122), destaca 10 missões de
paz com participação brasileira, algumas já discriminadas na tabela acima. A de maior
expressão militar (Haiti) e a que este autor participou (Costa do Marfim) foram encerradas no
ano de 2017. “uma expressão evidente da crescente importância do Brasil na área da paz e da segurança tem sido sua participação em operações de paz. Tais operações são um dos principais instrumentos à disposição da comunidade internacional para lidar com ameaças de conflito, bem como evitar que países em situações de pós-conflito vejam ressurgir a violência armada. Ao lado das agências, fundos e programas da ONU, as missões de paz são importante face da Organização, uma vez que representam a principal forma de ação militar legal e legítima da comunidade internacional para garantir a segurança coletiva” (BRASIL, 2016, p. 30). “O Brasil tem sustentado que as operações de paz devem apoiar-se sobre quatro elementos: segurança, fortalecimento institucional, reconciliação nacional e desenvolvimento” (BRASIL, 2016, p. 31).
A delimitação geográfica da presente dissertação se atém ao Atlântico Sul, enquanto
entorno estratégico brasileiro assim definido pelo Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN),
edição 2012: “A política externa brasileira considera o diálogo e a cooperação internacionais instrumentos essenciais para a superação de obstáculos e para a aproximação e o fortalecimento da confiança entre os Estados. Na relação com outros países, o Brasil dá ênfase a seu entorno geopolítico imediato, constituído pela América do Sul, o Atlântico Sul e a costa ocidental da África.” (grifo deste autor).
Interessante notar que, na edição de 2016 do LBDN, a Antártida foi incluída.
16 O contingente argentino está sediado no San Martin Camp (Setor 1), desde 16/10/1993. Fonte: https://unficyp.unmissions.org/sector-1 p 17 Disponível no site da Central Intelligence Agency (CIA) - https://www.cia.gov/the-world-factbook/countries/united-states/#military-and-security
23
“A política externa brasileira considera o diálogo e a cooperação internacionais instrumentos essenciais para a superação de obstáculos e para a aproximação e o fortalecimento da confiança entre os Estados. Em termos geopolíticos, o Brasil dá prioridade a seu entorno imediato, definido como entorno estratégico, constituído pela América do Sul, o Atlântico Sul, costa ocidental da África e a Antártica.”
Portanto, a partir das definições no LBDN, o Entorno Estratégico Brasileiro é o
entorno imediato constituído pela América do Sul, o Atlântico Sul, costa ocidental da África e
a Antártica. Em termos geopolíticos, o Brasil dá prioridade a essa região. Em termo de Defesa,
há motivação para que o país, a partir da necessidade de projetar poder e influência, de se
incrementar a capacidade expedicionária, com foco na presteza e na permanência,
desenvolvendo e mantendo a capacidade de atuar em sua área de interesse estratégico (entorno),
para a defesa da soberania e dos interesses do Estado Brasileiro, sob a égide de organismos
multilaterais internacionais. O Atlântico Sul aproxima o Brasil da África, continente vizinho que influenciou significativamente o processo de formação da Nação brasileira. A especial atenção dedicada à África é refletida em crescente comércio e elevação de financiamentos e investimentos, como a cooperação para produção de alimentos e outros bens agrícolas com o apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). A proteção das linhas de comunicação e rotas de comércio com a África tem significado estratégico para o País. É mais um fator no sentido de consolidar laços de cooperação no Atlântico Sul. Dotado de uma capacidade adequada de defesa, o Brasil terá condições de dissuadir agressões a seu território, a sua população e a seus interesses, contribuindo para a manutenção de um ambiente pacífico em seu entorno. Ao mesmo tempo, e de modo coerente com a política cooperativa do País, a crescente coordenação dos Estados sul-americanos em temas de defesa concorrerá para evitar possíveis ações hostis contra o patrimônio de cada uma das nações da região. Pela dissuasão e pela cooperação, o Brasil fortalecerá, assim, a estreita vinculação entre sua política de defesa e sua política externa, historicamente voltada para a causa da paz, da integração e do desenvolvimento. (LBDN, 2016, p. 25). A região sul-americana tem apresentado baixa incidência de conflitos entre Estados. É também uma das regiões do planeta livre de armas de destruição em massa. Um ambiente regional pacífico vem contribuindo, mormente na última década, para o desenvolvimento socioeconômico da América do Sul. A postura conciliatória do Brasil, que convive em paz com seus vizinhos há mais de um século, tem contribuído historicamente para a estabilização da região. Esse legado deve ser valorizado e preservado. A estabilidade e a prosperidade do entorno brasileiro reforçam a segurança do País e têm efeitos positivos sobre todos os países da América do Sul. (LBDN, 2016, p. 32).
Cabe uma análise acerca da localização das missões de paz da ONU na área definida
como entorno estratégico brasileiro e, destas missões, quais o Brasil participa.
24
Figura V - Operações de Paz da ONU com participação brasileira. Fonte: LBDN, Edição 2016, página 122.
Figura VI – Missões Militares das Nações Unidas em 2017. Fonte: Guia do Estudante Abril, edição 2018.
25
As figuras acima assinalam as missões de paz da ONU que estão em curso, ou
recentemente foram encerradas, em especial aquelas que se debruçam sobre o Oceano
Atlântico, tendo impacto potencial sobre o Entorno Estratégico Brasileiro. A guisa de exemplo,
o Marrocos, MNNA desde 2004, é um país cortado pelo Trópico de Câncer, muito acima da
Linha do Equador que baliza a divisão dos Hemisférios Norte e a Sul. A passagem desse
Trópico se dá na Região do Saara Ocidental (área contestada entre o povo saaraui e os
marroquinos), que tem uma Missão da ONU (MINURSO), na qual o Brasil é um país
participante. A região contestada está voltada para o Atlântico.
O Cenário de Defesa 2020-2039, Sumário Executivo, Edição 2017 18 , registra na
análise sobre o Âmbito Mundial / Dimensão Política: “Priorização da Ásia pelos EUA A intenção dos EUA de aprofundar suas relações na Ásia-Pacífico, considerados o excedente de poder desse país, passível de utilização em favor de aliados; as alianças já existentes; e o incremento do comércio e da segurança globais, tudo isso com benefícios mútuos para os atores em questão, poderia estabelecer um ambiente de maior cooperação e, gradualmente, para soluções pacíficas de antigas disputas, como aqueles envolvendo China e Taiwan, Coreia do Norte e Coreia do Sul, as disputas no Mar do Sul da China, entre outras.”
“Presença militar extrarregional no Atlântico Sul Em função do poder aeronaval e da proximidade territorial, além de instalações militares em ilhas como Malvinas/Falklands e Ascenção, a OTAN manter-se-á capaz de controlar o Atlântico Sul contra qualquer ameaça e de projetar poder sobre a América do Sul e África. Sua assimetria militar em relação a qualquer outro país ou alianças que venham a se formar não será superada nem diminuída a ponto de comprometer tal capacidade. Uma possível expansão militar chinesa na África, no longo prazo, em particular no litoral atlântico poderia deflagrar reação dos EUA/OTAN, com incremento de meios militares no Atlântico Sul.”
A atenção dos EUA sobre o Atlântico Sul é fundamental para que se justifique o
investimento em capacitação de RH e venda de PRODE para os MNNA sul-americanos. A
priorização da Ásia em detrimento da América Latina é nociva para os objetivos brasileiros de
projeção de poder e influência no seu Entorno Estratégico. O Congresso Americano não
aprovaria a aplicação de recursos de seu Fiscal Year (FY) em uma região do globo que não
fosse considerada prioritária para os interesses norte-americanos.
Por outro lado, a exemplo da PEB da Era Vargas, a eventual disputa entre China e
EUA pela projeção de poder no Atlântico Sul pode ensejar ganhos para o Brasil, na capacitação
de RH e aquisições de PRODE, na condição de um MNNA. Há que se considerar a afirmação
da Professora Cristina Soreanu Pecequilo:
18 https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/copy_of_estado-e-defesa/cenario-de-defesa-2020-2039-sumario-executivo
26
um exemplo deste avanço chinês na região é o país ter se tornado o maior parceiro comercial individual do Brasil no final de 2011, lugar tradicionalmente ocupado pelos EUA. Como discutido, isso fragiliza as premissas da Doutrina Monroe e sinaliza o reposicionamento da parte sul do hemisfério mundial (PECEQUILO, 2012, p. 258)
A título de exemplo em gestão e capacitação de RH, destaca-se a presença de 169
militares brasileiros na América do Norte e 161 na América do Sul, em sua maioria nas
atividades de ensino e instrutoria somente, em contraponto a 40 profissionais em toda a Ásia,
conforme figura abaixo:
Figura VII – Efetivo de Militares do Exército empregados em Missões Individuais em 2020 Fonte: EME, 2020
Algumas eventos marcantes do Entorno Estratégico Brasileiro, de ontem e de hoje
No passado recente, a partir da II Guerra Mundial, alguns eventos marcaram o Entorno,
dentre eles, pode-se destacar:
1. a Guerra das Malvinas (1982);
2. a Guerra de Independência da Angola (1961-1974); e
3. a Corrida Nuclear, na África do Sul (década de 1960 a década de 1980).
Uma característica comum aos três momentos históricos supracitados foi a presença
de potências extrarregionais, como a Inglaterra, a extinta URSS, o Estado de Israel, a China e
os EUA.
No presente, é mister registrar:
27
1. a presença britânica, por meio de suas possessões19, bem como a presença francesa,
seja na Guiana Francesa, seja nos demais “Département et région d'outre-mer20”;
Figura VIII – Possessões britânicas no Globo. Fonte: https://www.uk-cpa.org/where-we-work/uk-overseas-territories/
2. a proximidade que o Atlântico Sul tem do Continente Antártico, palco de múltiplos
interesses internacionais;
3. o exponencial crescimento da Marinha do Exército de Libertação Popular, da
China21, conforme gráfico abaixo, e sua possibilidade de interferir no Entorno; e
19 Treze possesões inglesas no globo, cujos nomes originais são: Anguilla; Bermuda; British Antarctic Territory; British Indian Ocean; Territory; British Virgin Islands; Cayman Islands; Falkland Islands; Gibraltar; Montserrat; Pitcairn Islands; Saint Helena, Ascension and Tristan da Cunha; South Georgia and the South Sandwich Islands; e Turks and Caicos Islands. Fonte: https://www.gov.uk/types-of-british-nationality/british-overseas-territories-citizen 20 Doze territórios franceses no globo, cujos nomes originais são: Guadeloupe; Guyane; Martinique; La Réunion; Mayotte; Nouvelle-Calédonie; Polynésie Française; Saint-Barthélémy; Saint-Martin; Wallis-et-Futuna; Saint-Pierre-et-Miquelon; Les TAAF (Terres australes et antarctiques françaises) Fonte: https://outre-mer.gouv.fr/ 21 https://edition.cnn.com/2021/03/05/china/china-world-biggest-navy-intl-hnk-ml-dst/index.html
28
Figura IX – Tamanho da Frota Naval Chinesa supera a Frota norte-americana. Fonte: https://edition.cnn.com/2021/03/05/china/china-world-biggest-navy-intl-hnk-ml-dst/index.html
4. a presença de potências no Continente Africano, em especial na Costa Oeste, conforme figura abaixo, fruto de um estudo do Institute for Security Studies (ISS)22
Figura X – Presença Militar estrangeira no Continente Africano. Fonte: https://issafrica.s3.amazonaws.com/site/images/2019-08-27-iss-today-foreign-military-map.png
22 O Instituto de Estudos de Segurança, também conhecido como ISS ou ISS África, é uma organização africana que visa melhorar a segurança humana no continente. Fonte: https://issafrica.org/
29
Registre-se a presença dos EUA em 16 (dezesseis) países africanos, além da
reativação, em 2008, de sua IV Frota, da Marinha Americana, Força Naval Componente do
SOUTHCOM.
Neste desafiador cenário de pesquisa, a troca do titular da Casa Branca com a assunção
do Democrata Joe Biden, em 20 de janeiro de 2021, pode implicar em algumas mudanças na
Política Externa Norte-americana, em especial nas suas relações com o Brasil, ora na
embrionária condição de Aliado Prioritário Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA),
impactando oportunidades anteriormente vislumbradas, em especial na capacitação de RH e na
facilitação para aquisição de PRODE.
1.1 PROBLEMA DE PESQUISA
A participação brasileira em Operações de Paz é histórica e consolidada, gozando de
amplo respeito no concerto das Nações pelos princípios constitucionais que norteiam tal
atividade, como: a autodeterminação dos povos; a não intervenção; a igualdade entre os
Estados; a defesa da paz; e a solução pacífica dos conflitos.
Desde a primeira atuação de paz, na tríplice fronteira Brasil, Peru e Colômbia,
mediando o conflito entre os dois últimos (1933-1934), ainda sob a égide da Liga das Nações,
até os dias atuais, o país tem participado de missões de paz sob a égide de organismos
multilaterais.
Durante o Governo Barack Obama (2009-2017), a NSS de 2010, registrou: A liderança do Brasil é bem-vinda e desejamos nos mover além das ultrapassadas divisões Norte-Sul para alcançar progressos em questões bilaterais, hemisféricas e globais. O sucesso macroeconômico do Brasil aliado aos esforços para diminuir diferenças socioeconômicas, oferecem importantes lições para países por todas as Américas e a África (...). Como guardião de um patrimônio ambiental (...) único e líder em combustíveis renováveis (...) é um parceiro (...) para (...) mudança climática global e (...) segurança energética. E no contexto do G20 e da Rodada Doha, trabalharemos ao lado do Brasil para assegurar que o desenvolvimento e a prosperidade sejam compartilhados (...) (NSS-2010, p. 53).
A aproximação do Brasil e dos EUA, a ponto de se tornar o 17º MNNA, em 2019, pode
representar um diferencial nas relações do Brasil com a potência hegemônica militar da
atualidade, que sedia a ONU, e que aporta percentual significativo do seu Produto Interno Bruto
(PIB) em Defesa. O status MNNA parece ter o potencial de contribuir para a capacitação de RH
e aquisição de PRODE, junto àquela Nação.
Pode-se citar como oportunidades: projetos cooperativos de pesquisa e
desenvolvimento; e treinamento recíproco, como buscar-se-á prospectar o caso argentino, por
30
ser o primeiro, e único até então, país latino-americano a gozar dessa condição de aliança com
os EUA.
Dessa forma, o problema é identificar quais os potenciais impactos da designação de
Aliado Prioritário Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do
Brasil no Entorno Estratégico brasileiro: uma investigação à luz do caso argentino.
Desdobra-se do problema, a seguinte pergunta:
- Quais os potenciais impactos em termos de qualificação de recursos humanos (RH)
e nas facilidades para a aquisição de produtos de defesa (PRODE) da designação de Aliado
Prioritário Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil
no Entorno Estratégico brasileiro?
A investigação terá como referência o caso argentino.
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral
Identificar os potenciais impactos da designação de Aliado Prioritário Extra-OTAN
(major Non-NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil no Entorno Estratégico
brasileiro, a partir da investigação da condição de MNNA argentina.
1.2.2 Objetivos Específicos
A fim de viabilizar a consecução do objetivo geral da pesquisa, foram formulados
objetivos específicos, de forma a encadear logicamente o raciocínio apresentado neste estudo:
1. apresentar o que é MNNA, seus impactos na Defesa, em termos de qualificação de
recursos humanos (oficiais) e aquisição de material de defesa;
2. quais são os países que gozam dessa condição; especial destaque para o caso da
Argentina;
3. como se dá a projeção dos EUA no entorno estratégico brasileiro (com ou sem
missões de paz da ONU); a partir da consulta aos documentos americanos, como NSS, NDS,
QDR e os diplomas brasileiros, como PND, END, LBDN.
4. a atenção dos EUA sobre o Atlântico Sul, em competição com a projeção chinesa,
justifica investimento em capacitação de RH e venda de PRODE para os MNNA sul-
americanos. Ainda. a priorização da Ásia em detrimento da América Latina, pode diminuir o
interesse dos EUA sobre o Atlântico Sul;
31
5. quais foram os impactos (desdobramentos) para a Defesa Argentina após a condição
de MNNA, em especial nas operações de paz; houve missões de paz ou coalisões militares nas
quais a Argentina participou para honrar a condição de MNNA;
6. quais são as potenciais lições do caso argentino que possam ser aproveitadas pelo
Brasil;
7. analisar os documentos de Defesa brasileiros (PND, END e LBDN) e a evolução
desse setor, a partir de 1998, quando a Argentina se tornou um MNNA, verificando Ações
Estratégicas de Defesa (AED) que se voltam para: o Entorno Estratégico, a Relação Brasil-
Argentina, e a Relação Brasil-EUA. Tais AED devem ter identificação com as seguintes áreas:
Operações de Paz, capacitação de RH e facilitação para aquisição de PRODE;
8. apresentar como o Brasil prioriza suas ações no Entorno Estratégico, em especial na
expressão militar; como a participação brasileira em operações de paz da ONU nesse Entorno
pode ser um elemento de projeção de poder e de presença na região; e
9. apreciar o Brasil como um MNNA, o significado dessa condição para o país, para o
Entorno Estratégico e para a participação em missões de paz; em especial na capacitação de RH
e na aquisição de PRODE.
1.3 JUSTIFICATIVA
O presente estudo se justifica por permitir a apreciação de um tema tão recente e com
tamanha possibilidade de impactar as Relações Internacionais, a Geopolítica e a participação
brasileira em Missões de Paz, com o olhar atento para o que se pode colher da experiência
argentina de mais de duas décadas.
Ainda, pretende contribuir para os Estudos de Defesa enquanto “investigações
científicas que têm como objeto as forças armadas e as políticas de defesa”, conforme
Domingos Neto (2013), em especial no seu desdobramento nos Estudos da Paz e da Guerra
(EPG).
Já “as Ciências Militares são um domínio científico autônomo caracterizado por um
sistema de conhecimentos relativos ao estudo do fenômeno bélico, à aplicação da coação militar
e ao emprego da força armada” (DINIZ, 2010, p. 82), assim definidas pelo professor Eugênio
Pacelli Lazzarotti Diniz Costa, da PUC de Minas Gerais, podem ser beneficiadas com a presente
dissertação pelo fato de que a condição MNNA afeta o “fenômeno bélico” por definição.
A delimitação do Entorno Estratégico do Atlântico Sul, permite fazer um recorte sobre
a participação brasileira em Operações de Paz, como na República Democrática do Congo
32
(RDC), na República Centro-Africana (RCA), a partir dessa nova condição de MNNA. Limites
e oportunidades para a projeção, militar ou não, do Brasil no Entorno Estratégico são algumas
linhas de investigação para justificar o presente estudo.
Questões atinentes à possibilidade de aumentar a capacidade de dissuasão - por meio
da capacitação de RH e da facilitação em aquisição de PRODE - contribuir para que a Marinha
do Brasil possa exercer em melhores condições a soberania nacional sobre a Amazônia Azul,
são indagações que se justificam de serem colocadas para que o status de MNNA seja mais bem
compreendido.
1.4 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA
O recorte temporal buscará abarcar a 1ª Política de Defesa Nacional, de 1996, seguindo
o curso da história até publicação do Decreto Nº 5.484, de 30 de junho de 2005, que aprovou a
Política de Defesa Nacional (PDN 2005), a PND, a END e o LBDN, dos anos 2012, 2016, 2020;
PEEx 2016-2019; PEEx 2020-2023; PEM 2040; PEMAER 2018-2027.
Para o caso dos EUA, a prioridade será a análise dos documentos estratégicos (NSS,
NDS, Reports, Fiscal Years), a FAA, a AECA, as Mensagens Presidenciais ao Capitólio por
ocasião da designação dos MNNA, enfatizando o período a partir do ano de 1998, quando a
Argentina assim foi reconhecida, tendo como foco a projeção de poder do país para o AL, em
especial para o denominado Entorno estratégico brasileiro.
Demais recortes temporais, certamente, serão feitos para verificar as circunstâncias,
por exemplo, em torno do final da década de 1990, que motivaram a inclusão da República da
Argentina no seleto rol dos MNNA, tudo para aprofundar os argumentos.
A pesquisa ater-se-á, em um primeiro momento, a estudar os diplomas legais norte-
americanos para entender como se chegou aos MNNA e como a Argentina passou e ainda
permanece nessa condição.
Em um segundo momento, far-se-á uma análise dos documentos de Defesa brasileiros,
sua relação com a Argentina e os EUA; sua participação em missões de paz da ONU; buscando
extrair tendencias que se projetam no entorno estratégico brasileiro.
Em uma terceira abordagem, já projetando o Brasil como um MNNA, o significado
dessa condição para o país, quais os potenciais impactos para as operações de paz do Brasil no
entorno estratégico; em que condições políticas e qual o alcance dessa inciativa norte-
americana; quais são os desdobramentos imediatos.
33
Fechando a pesquisa, buscar-se-á apresentar contribuições aos Estudos da Defesa, aos
Estudos da Paz e da Guerra e às Ciências Militares, no que se concerne aos potenciais impactos
da designação de Aliado Prioritário Extra-OTAN (major Non-NATO Ally-MNNA) para as
Operações de Paz do Brasil no Entorno Estratégico brasileiro, a partir da investigação da
condição de MNNA argentina, com um olhar atento para as oportunidades em capacitação de
RH e facilidades na aquisição de PRODE.
1.5 HIPÓTESE
O presente estudo em desenvolvimento procura responder o seguinte problema:
“Quais os potenciais impactos da designação de Aliado Prioritário Extra-OTAN (major Non-
NATO Ally-MNNA) para as Operações de Paz do Brasil no Entorno Estratégico brasileiro, a
partir da investigação do caso argentino?”
Parte-se da hipótese que tal designação reforça a atuação do Brasil no entorno
estratégico, ampliando as capacidades operacionais das Operações de Paz, por meio da
capacitação de RH e facilidades na aquisição de PRODE, dentro do escopo da parceria MNNA.
Como resposta se hipotetiza que possa haver impactos nas Operações de Paz nas quais
o Brasil é partícipe, em especial aquelas no Entorno Estratégico brasileiro, tendo em vista o
incremento na capacidade operativa da Forças Armadas brasileiras por meio de maiores e
melhores oportunidade de capacitação (cursos, estágios, viagens de estudos, operações
combinadas, reuniões bilaterais, dentre outras) e condições mais favoráveis para adquirir
PRODE norte-americano.
1.6 METODOLOGIA
Conforme MINAYO (2004) 23, a pesquisa qualitativa “responde a questões muito
particulares”, se debruçando, sob o manto das ciências sociais, com um nível de realidade que
não pode ser mensurado, nem quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de
significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço
mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis. (MINAYO, 2004, p. 22)
Portanto, a presente Dissertação, caracterizar-se-á:
- quanto à forma de abordagem: modalidade qualitativa;
23 MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 23 ª ed. Petrópolis: Vozes, 2004
34
- quanto ao objetivo geral: modalidade exploratória; lançando mão do método indutivo
como forma de, a partir da observação e leitura do que há disponível, chegar-se a uma
conclusão. Uma ferramenta valiosa para apoiar a presente Dissertação é o Método Heurístico:
achar soluções para um problema, por meio da simplificação daquilo que é complexo, dividindo
o todo em partes;
- quanto à natureza, por ser uma pesquisa do tipo aplicada, por ter por objetivo a
produção de novos conhecimentos cuja aplicação prática se dirige para a resolução de
problemas palpáveis, atuais e específicos, particularmente nas Ciências Militares;
- quanto ao tipo de pesquisa: infere-se um estudo bibliográfico, partindo do método a
leitura exploratória das diversas legislações dos EUA, Argentina e Brasil e a consequente
seleção do material de pesquisa;
- quanto às fontes de informação: uma revisão da literatura baseada nas pesquisas
bibliográfica e documental (análise documental), a partir de fontes primárias, tais como a PDN,
a END, o LBDN, Relatórios de dados militares dos EUA, do Brasil e da Argentina, documentos
do SOUTHCOM dentre outros. Além do exercício contrafactual analisando como as relações
de MNNA foram construídas, em especial com a Argentina, por meio de exercícios intuitivos
contrafactuais
O delineamento da Dissertação vislumbrará as etapas de levantamento e seleção das
referências bibliográficas; coleta e crítica dos dados, leitura analítica e fichamento das fontes,
argumentação e discussão dos resultados por meio de uma comparação com o modelo de MNNA
Argentino.
Ainda, quanto à escolha do instrumento de coleta de dados, a fim de subsidiar os
argumentos apresentados, pode-se lançar mão de questionários/formulários; além de entrevistas
semiestruturadas voltadas para oficiais brasileiros que estiveram na Argentina, em missões de
paz, ou em cursos nos EUA; entrevista e questionário para ONA, OINA e integrantes (atuais e
passados) de Missões de Paz.
A partir da utilização, como marco metodológico, das técnicas de análise, como a
análise documental, utilizando de fontes primárias, tais como os Documentos de Defesa
brasileiros (Política de Defesa Nacional, Estratégia Nacional de Defesa, Livro Branco da
Defesa); as Leis norte-americanas que regulam ou afetam a condição de MNNA (NSS, NDS,
FY, FAA, AECA); bem como o ordenamento jurídico argentino que permite àquela Nação ser
um MNNA, revisão dos documentos de defesa, da Guerra das Malvinas e das e das empresas de
defesa, relacionando tais documentos portenhos com o status recebido em 1998.
35
Com isso, parte-se da hipótese de que a condição de MNNA para o Brasil possa causar
impactos nas Operações de Paz nas quais o País é partícipe, em especial aquelas no Entorno
Estratégico brasileiro; partindo, também, da hipótese que esse status impactou as Operações de
Paz da República Argentina, a partir de 1998 (ano em que se tornou MNNA).
Depreende-se, preliminarmente, a partir de uma leitura na documentação disponível
que as dificuldades na construção desse cenário de MNNA para o Brasil, se sustentam no que
se segue:
I) o ineditismo da medida;
II) o fato de que há somente 17 países no globo nessa mesma condição, sendo somente
dois latino-americanos;
III) a possibilidade de mudança recente nos rumos da política externa norte-americana
com a eleição de Joe Biden; e
IV) a pandemia da COVID19, que tem potencial de mudar as prioridades dos governos
em prol do socorro à população em detrimento do investimento em Defesa.
Por outro lado, depreende-se, também preliminarmente, que a condição de MNNA para
o Brasil, a exemplo do que possa ter ocorrido na Argentina, impactará as operações de paz no
Entorno Estratégico do Brasil.
Certo é que o Brasil é o primeiro país de língua portuguesa a ganhar o status de MNNA,
lembrando que Portugal faz parte da OTAN.
1.7 REFERENCIAL TEÓRICO
À luz da pergunta e dos objetivos da pesquisa, este trabalho de natureza qualitativa
terá como referência a consulta aos documentos oficiais:
a. dos EUA:
- lei de Assistência ao Exterior (FAA), de 1961;
- lei de Controle de Exportação de Armas (AECA), de 1976;
- USC, Título 10, entre as secções 161 e 168, que regula os onze Unified Combatant
Commands (COCOMs)24;
- leitura da bibliografia geopolítica de Nicholas Spykman;
A partir do ano de 1998 (designação da Argentina como MNNA):
- National Security Strategy (NSS);
- National Defense Strategy (NDS);
24 https://www.defense.gov/Our-Story/Combatant-Commands/
36
- Quadrennial Defense Review25 (QDR);
- documentos de defesa que registram a participação em missões de Paz, no Entorno
Estratégico brasileiro e com os MNNA;
- relatórios dos Fiscal Years, que explicitem gastos com a Argentina e/ou com missões
de paz no Entorno Estratégico Brasileiro, após 1998; e
- mensagens Presidenciais ao Capitólio por ocasião da designação dos MNNA
Argentina e Brasil.
b. da Argentina:
- documentos de Defesa argentinos que embasaram a relação bilateral Argentina-EUA,
em especial, a participação portenha em Operações Militares capitaneadas pelos EUA, após
1982 (Guerra das Malvinas);
- documentos do Ministro de Relaciones Exteriores, Comercio Internacional y Culto
(equivalente ao MRE) que elucidem as relações Argentina-EUA e Argentina-Brasil, a partir de
1998;
- documentos de defesa que tenham conexão com a Guerra das Malvinas, a
participação da Argentina em missões de paz (após 1998) e elucidem as parcerias com os EUA,
após 1998, na área de capacitação de RH e na aquisição de PRODE; e
- documentos que ajudem a entender o que houve com as empresas de defesa (TAMSE
e outras) que faliram na década de 1990.
c. do Brasil:
- Magna Carta, de 1988;
- documentos de Defesa: 1ª Política de Defesa Nacional, de 1996, seguindo o curso da
história até publicação do Decreto Nº 5.484, de 30 de junho de 2005, que aprovou a Política de
Defesa Nacional (PDN 2005), a PND, a END e o LBDN, dos anos 2012, 2016, 2020; PEEx
2016-2019; PEEx 2020-2023; PEM 2040; PEMAER 2018-2027.
- documentos do Itamaraty;
- bibliografia da PEB, em especial, Amado Luiz Cervo, Clodoaldo Bueno, Gerson
Moura e Cristina Pecequilo;
- relatórios de Reuniões de Estado-Maior envolvendo os EUA; e
25 A Revisão Quadrienal de Defesa (QDR) foi um relatório estipulado pela Seção 923 da Lei de Autorização de Defesa Nacional para o ano fiscal de 1997 (Lei Pública 104-201). O QDR foi produzido a cada quatro anos, de 1997 a 2014, pelo Secretário de Defesa em consulta com o Estado-Maior Conjunto. Fonte: https://history.defense.gov/Historical-Sources/Quadrennial-Defense-Review/ acesso em 15/06/2021.
37
- relatórios de missão de paz que ocorreram no Entorno Estratégico Brasileiro, ou que
tenham participação dos EUA ou da Argentina.
d. do Entorno Estratégico brasileiro:
- documentos de Defesa que assim o define: pela América do Sul, o Atlântico Sul, a
costa ocidental da África e a Antártica;
- documentos argentinos do Instituto Antártico Argentino, da Dirección Nacional del
Antártico, do Ministério de Relações Exteriores;
- o livro Strategy in the Contemporary World, Introduction to Strategic Studies, do
Colin S. Gray e outros.
- Anais do I Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do
Território, 2014. Rio de Janeiro.
e. das Operações de Paz:
- a revisão bibliográfica se inicia com a Carta das Nações Unidas, de 1945; chegando
aos mandatos das Missões de Paz da ONU, em especial aquelas, no Estorno Estratégico
brasileiro, nas quais o Brasil e a Argentina são (ou foram) membros, a partir de 1998.
Da revisão na literatura a partir das seguintes perguntas definidas nos Objetivos
Específicos acima, tendo por referência o campo dos estudos da Defesa e da Ciências Militares,
com quais temas e abordagens que tangenciam a as Operações de Paz e as Relações Brasil e
EUA no Entorno Estratégico. Para tanto, será consultado a base de dados de periódico da
CAPES, os acervos das bibliotecas da ECEME, os acervos online do DoD, do Ministério da
Defesa Argentino e Brasileiro, o MRE brasileiro e seu equivalente em Buenos Aires e livros e
artigos de especialistas sobre o tema Operações de Paz, Política Externa e Geopolítica.
Sobre a metodologia, servirão de referências os trabalhos de outros estudiosos sobre
as parcerias MNNA, em especial o caso argentino, para condução de uma pesquisa qualitativa,
de caráter exploratória, valendo de um estudo de caso para prospectar tendências de acordos de
natureza político-estratégica.
As oportunidades em capacitação em RH e as facilidades para aquisição de PRODE
podem ser as variáveis na pesquisa do caso argentino.
38
II) SUMÁRIO PRÉVIO DA DISSERTAÇÃO
SUMÁRIO PRÉVIO DA DISSERTAÇÃO
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................
1. ALIADO PRIORITÁRIO EXTRA-OTAN (Major Non-NATO Ally- MNNA) .......................
1.1 A visão de Nicholas John Spykman (1942) ...........................................................................
1.2 Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) (1947) ........................................
1.3 Origens da condição de Aliado Prioritário Extra-OTAN (Major Non-NATO Ally - MNNA)
e legislação norte-americana.........................................................................................................
1.4 Os dezessete Aliados Prioritário Extra-OTAN (Major Non-NATO Ally - MNNA) .............
1.5 Citações ao Brasil e à Argentina na FAA - Foreign Assistance Act (Lei de Assistência ao
Exterior), de 1961..........................................................................................................................
1.6 Projeção dos EUA no Entorno Estratégico Brasileiro (com ou sem missões de paz da ONU)
2. O BRASIL E O ENTORNO ESTRATÉGICO ........................................................................
2.1 Documentos de Defesa brasileiros .........................................................................................
2.2 A expressão militar no Entorno Estratégico brasileiro (capacitação de RH e aquisição de
PRODE) .......................................................................................................................................
2.3 Operações de Paz com participação brasileira .......................................................................
2.4 Impactos para a Defesa Argentina após a condição de MNNA (capacitação de RH e
aquisição de PRODE) ...................................................................................................................
2.5 Potenciais lições do caso argentino que possam ser aproveitadas pelo Brasil .......................
3. O BRASIL COMO ALIADO PRIORITÁRIO EXTRA-OTAN (Major Non-NATO Ally-
MNNA) .........................................................................................................................................
3.1 Impacto de um Brasil MNNA nas Operações de Paz .............................................................
3.2 Desdobramentos imediatos de um Brasil MNNA...................................................................
3.4 Perfil das Operações de Paz de um Brasil MNNA .................................................................
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................................
39
III) CAPÍTULO DA DISSERTAÇÃO
CAPÍTULO 1 – ALIADO PRIORITÁRIO EXTRA-OTAN (Major Non-NATO Ally- MNNA
Neste primeiro capítulo, buscar-se-á entender o que vem a ser o status MNNA; seus
impactos na Defesa; quais são os países que gozam dessa condição; como se dá a projeção dos
EUA no entorno estratégico brasileiro (com ou sem missões de paz da ONU); quais foram os
impactos para a Defesa Argentina após a condição de MNNA, em especial nas operações de
paz; houve missões de paz ou coalisões militares nas quais a Argentina participou para honrar
a condição de MNNA? Potenciais lições do caso argentino que possam ser aproveitadas pelo
Brasil.
1.1 A visão de Nicholas John Spykman (1942)
Spykman, já descrito na Introdução, visualizou as Américas divididas
geopoliticamente em três blocos, conforme figura a seguir:
- a América do Norte (EUA e Canadá);
- o Mediterrâneo Americano (México, América Central, Caribe, as Três Guianas26,
Colômbia e Venezuela – dois países sul-americanos com o litoral apoiado no Mar do Caribe);
e;
- a América do Sul (sem Colômbia, Venezuela e as Guianas, por estarem isoladas das
demais nações pelos planaltos andinos e a selva amazônica, respectivamente.
O pensador sugeriu, inclusive, a localização de bases aéreas e navais nos três blocos,
a fim de aumentar o alcance da frota de bombardeiros na defesa dos interesses dos EUA.
26 Em 1966 e 1975, as Guianas Britânica e Holandesa, nesta ordem, ser tornaram independentes, sendo a última ora denominada Suriname. A Guiana Francesa permanece Departamento Ultramarino daquele país. Spykman não viveu para ver as duas independências.
40
FIGURA XI – Mapa da Defesa Hemisférica (Hemisphere Defense). Fonte: SPYKMAN, Nicholas John. America's strategy in world politics: The United States and the
Balance of Power. Nova Iorque: Harcourt, Brace and Co., 1942, p. XXXIV – XXXV.
FIGURA XII - Brasil e o seu Entorno Estratégico no detalhe da FIGURA 1. Fonte: SPYKMAN, Nicholas John. America's strategy in world politics: The United States and the
Balance of Power. Nova Iorque: Harcourt, Brace and Co., 1942, p. XXXV. Detalhe – previsão de 02 Bases Navais – Belém e Natal e 01 Base Aérea – Natal, em território brasileiro. Sem previsão alguma para a Argentina, sendo a base mais ao Sul – Callao, arredores de Lima, Capital
do Peru.
A visão de Spykman colocava a América do Sul como fundamental para as ambições
norte-americanas no mundo. Não se tratava dos sul-americanos enfrentarem os EUA ou a ele
41
serem ameaça, mas, sim, de negar às potências extracontinentais (Rússia, Inglaterra, França,
China) que aqui se instalassem e dos recursos naturais se beneficiassem, em especial na região
ABC – Argentina, Brasil e Chile.
Desta forma, a importância geopolítica do subcontinente estava em um duplo pilar:
- a posição geográfica privilegiada em relação aos EUA; e
- os recursos naturais e econômicos que poderiam ser mobilizados, conforme figura
abaixo, analisando a necessidade norte-americana, a produção mundial e a disponibilidade
desses minerais nas cercanias dos EUA, naquele ano de 1942.
FIGURA XIII - Mapa de Matéria Prima Estratégica (Strategic Raw materials). Fonte: SPYKMAN, Nicholas John. America's strategy in world politics: The United States and the
Balance of Power. Nova Iorque: Harcourt, Brace and Co., 1942, p. 307.
42
1.2 Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) - (1947)
A aplicação do pensamento de Spykman pode ser visualizado na celebração do Tratado
Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), nas Américas como um todo, assinado em
setembro de 1947, anterior, pois, à criação da Organização dos Estados Americanos (OEA), em
abril de 1948, e da própria Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), um ano após
a OEA, em abril de 1949.
Consultando o sítio eletrônico da Biblioteca do Congresso Americano27 (Library of
Congress – LOC – na versão original), identifica-se que o TIAR foi um tratado de mútua defesa
celebrado, na Cidade do Rio de Janeiro, no mesmo ano que a Doutrina Truman foi lançada,
tendo como signatários 21 países, sendo dez da América do Sul (Argentina e Brasil aqui
inclusos), seis da América Central, três do Caribe (Cuba, República Dominicana e Haiti) e dois
na América do Norte (EUA e México).
Opção do Governo de Eurico Gaspar Dutra e assinado pelo General Pedro Aurélio de
Góis Monteiro, o acordo pactuado em 26 artigos define que “um ataque contra um dos membros
será considerado como um ataque contra todos”, com base na chamada "doutrina da defesa
hemisférica", de Spykman. O TIAR entrou em vigor em 3 de dezembro de 1948.
Nota-se que, após dezembro de 1948, ocorreram os seguintes conflitos armados no
Continente Americano:
- Guatemala, em 1954, para apear do poder Juan Jacobo Arbenz Guzmán;
- Cuba, em 1961, a invasão da Baía dos Porcos;
- República Dominicana, em 1965, uma disputa política interna;
- Panamá, em 1989, para afastar o General Manuel Noriega (mandatário daquele país);
- Haiti, em 1994, contra um governo militar sem apoio popular.
Em outra ponta, o TIAR, já sob o escopo da OEA, serviu de respaldo para Operações
de Paz em alguns conflitos bilaterais nas Américas, a saber:
- em 1948 e 1955, entre Costa Rica e Nicarágua;
- em 1957, entre Honduras e Nicarágua;
- em 1960, entre Venezuela e República Dominicana;
- em 1963, entre Haiti e República Dominicana;
- em 1964, entre Cuba e Venezuela; e
- em 1969, entre Honduras e El Salvador.
Merecem nota acerca do emprego do TIAR em mais duas questões polêmicas:
27 https://www.loc.gov/law/help/us-treaties/bevans/m-ust000004-0559.pdf
43
- em 1961, a expulsão de Cuba da OEA, com base no referido Tratado; e
- em 1982, a Argentina invocou o TIAR, durante a Guerra das Malvinas, quando uma
frota britânica deslocou-se para o Atlântico Sul (hoje considerado Entorno Estratégico
brasileiro), para recuperar as suas ilhas Falklands (ou Malvinas), invadidas por tropas
portenhas. Os membros do TIAR não deram uma resposta articulada à agressão ultramarina. O
Governo Norte-americano de Ronald Reagan se alinhou ao da Chancelaria britânica, na pessoa
da Dama de Ferro - Margaret Thatcher.
1.3 Origens da condição de Aliado Prioritário Extra-OTAN (Major Non-NATO Ally -
MNNA) e legislação norte-americana
Criado em 1989, 40 anos após a fundação da OTAN, o status MNNA foi uma inovação
do Governo de George Herbert Walker Bush, presidente norte-americano de 1989 a 1993.
A condição de MNNA é prevista no Código dos Estados Unidos (USCode ou USC28) -
consolidação e codificação por assunto das leis gerais e permanentes dos EUA – no seu Título
22 (Foreign Relations and Intercourse - Relações Internacionais e Relações Internas); Capítulo
32 (Foreign Assistance - Assistência Exterior); Subcapítulo II (Military Assistance and Sales –
Assistência e Vendas Militares); Parte II (Military Assistance – Assistência Militar); Seção
2321k29 (Designation of major non-NATO allies - Designação dos MNNA).
Desde o ano de 1989, a condição de MNNA permite que os acordos de pesquisa e
desenvolvimento cooperativo entre os EUA e os aliados Extra-OTAN sejam celebrados pelo
Secretário de Defesa, com a anuência do Secretário de Estado.
Foi no ano de 1996, que a Seção 2321k, acima mencionada, foi adicionada ao Título
22, do Código dos EUA, regulando como os MNNA podem receber aportes financeiros e
militares, dentro da Lei de Assistência ao Exterior (Foreign Assistance Act - FAA30), de 1961.
De fato, merece destaque que, naquele ano de 1961, no auge da Guerra Fria, durante
o governo de John Fitzgerald Kennedy (1961-1963), promulgou-se a FAA e criou-se a United
States Agency for International Development (USAID), para encarregar-se de todo o suporte
aos países do globo que não fossem os apoios de natureza militar.
Ainda no Título 22 (Foreign Relations and Intercourse - Relações Internacionais e
Relações Internas), outra lei importante na presente análise é a Lei de Controle de Exportação
28 https://uscode.house.gov/ 29 https://www.govinfo.gov/content/pkg/USCODE-2017-title22/html/USCODE-2017-title22-chap32-subchapII-partII-sec2321k.htm 30 https://www.usaid.gov/sites/default/files/documents/1868/faa.pdf atualizada até 08 de abril de 2013.
44
de Armas (Arms Export Control Act - AECA), de 1976, compilada no Capítulo 39, que está
dentro do escopo da FAA. A designação do MNNA, abre a possibilidade de se estender a esses
as mesmas isenções da AECA que são desfrutadas pelos parceiros norte-americanos da OTAN.
O status de MNNA proporciona, àqueles parceiros estrangeiros que são contemplados
com essa escolha, certos benefícios nas áreas de comércio de defesa e cooperação de segurança.
Pode ser, ainda, entendida, como uma poderosa demonstração de que há um relacionamento
estreito entre os EUA e esses países eleitos, “um profundo respeito”, fornecendo privilégios
militares e econômicos; porém, não implica compromisso algum de segurança com o país
designado, conforme explicito no sítio eletrônico da Secretaria de Estado dos EUA: “… demonstrates our deep respect for the friendship for the countries to which it is extended. While MNNA status provides military and economic privileges, it does not entail any security commitments to the designated country” 31
Os MNNA estão sujeitos aos alguns dos benefícios, compilados na tabela abaixo:
Benefício Previsão Legal Torna uma nação elegível, na medida do possível, para entrega prioritária de artigos de defesa excedentes se estiver no flanco Sul ou Sudeste da OTAN.
FAA - Section 516 — Authority to Transfer Excess Defense Articles
Aquisição de munição anti-carro de urânio empobrecido; FAA -Section 620G — Depleted Uranium Ammunition Torna o país elegível para ter estoques de reserva de guerra de propriedade dos EUA em seu território fora das instalações militares dos EUA.
FAA - Section 514—Stockpiling of Defense Articles for Foreign Countries
Permite ao país celebrar acordos com o Governo dos EUA para o fornecimento cooperativo de treinamento em uma base bilateral ou multilateral sob acordos financeiros recíprocos que podem excluir o reembolso de custos indiretos e alguns outros encargos.
AECA CHAPTER 2 — FOREIGN MILITARY SALES AUTHORIZATIONS Section 21 - SALES FROM STOCKS
Permite que o país use o Financiamento Militar Estrangeiro fornecido pelos EUA para locação comercial de certos artigos de defesa.
Foreign Operations Appropriation Act32 Section 589 of the FY01 FY = Fiscal Year (ano fiscal) e 01 se refere ao ano de 2001. NA – todo apoio ao MNNA deve constar no orçamento (budget) aprovado pelo Congresso Americano para o FY “COMMERCIAL LEASING OF DEFENSE ARTICLES SEC. 589. Notwithstanding any other provision of law, and subject to the regular notification procedures of the Committees on Appropriations, the authority of section 23(a) of the Arms Export Control Act may be used to provide financing to Israel, Egypt and NATO and major non-NATO allies for the procurement by leasing (including leasing with an option to purchase) of defense articles from United States commercial suppliers, not including Major Defense Equipment (other than helicopters and other types of aircraft having possible civilian application), if the President determines that there are compelling foreign
31 https://www.state.gov/major-non-nato-ally-status/ 32 https://www.govinfo.gov/content/pkg/STATUTE-114/pdf/STATUTE-114-Pg1900.pdf
45
policy or national security reasons for those defense articles being provided by commercial lease rather than by govemment-to-govemment sale under such Act.”
Torna um país elegível para empréstimos de materiais, suprimentos e equipamentos para projetos cooperativos de P&D, como testes e avaliação.
AECA Section 65 Loan of Materials, Supplies, and Equipment for Research and Development Purposes
Torna um país elegível para processamento acelerado de licenças de exportação de satélites comerciais, suas tecnologias, componentes e sistemas.
Foreign Relations Authorization Act Fiscal Years 2000 and 2001 Section 1309 of the James W. Nance and Meg Donovan Foreign Relations Authorization Act, Fiscal Years 2000 and 2001, Public Law 106-113
Permite que empresas do país façam licitações em certos contratos do governo dos EUA para manutenção, reparo ou revisão de equipamentos do DoD fora dos EUA Continental.
10 USC 2349 - TITLE 10— ARMED FORCES - Subtitle A—General Military Law - PART IV—SERVICE, SUPPLY, AND PROCUREMENT (sections 2201 to 2926) - CHAPTER 138 — COOPERATIVE AGREEMENTS WITH NATO ALLIES AND OTHER COUNTRIES (sections 2341 to 2350n) - SUBCHAPTER I—ACQUISITION AND CROSS-SERVICING AGREEMENTS (sections 2341 to 2350) - §2349. Overseas Workload Program
Torna um país elegível para determinados projetos conjuntos de pesquisa e desenvolvimento de contraterrorismo.
22 USC 2349aa-10(b); PL 104-132 sec. 328(b) - TITLE 22— FOREIGN RELATIONS AND INTERCOURSE - CHAPTER 32—FOREIGN ASSISTANCE (sections 2151 to 2431k) - SUBCHAPTER II—MILITARY ASSISTANCE AND SALES (sections 2301 to 2349bb-6) - Part VIII—Antiterrorism Assistance (sections 2349aa to 2349aa-10) - Sec. 2349aa-10. Antiterrorism assistance
Permite que o DOD participe de projetos cooperativos de P&D com o país para melhorar as capacidades convencionais de defesa em uma base de divisão de custos equitativa.
10 USC sec 2350a - TITLE 10— ARMED FORCES - Subtitle A—General Military Law - PART IV—SERVICE, SUPPLY, AND PROCUREMENT (sections 2201 to 2926) - CHAPTER 138 — COOPERATIVE AGREEMENTS WITH NATO ALLIES AND OTHER COUNTRIES (sections 2341 to 2350n) - SUBCHAPTER II—OTHER COOPERATIVE AGREEMENTS (sections 2350a to 2350n) - Sec. 2350a. Cooperative research and development agreements: NATO organizations; allied and friendly foreign countries
Tabela 3 – Alguns benefícios de ser MNNA e a legislação de amparo. Fonte: Autor (2021).
Portanto, o status MNNA significou uma inserção, em alguns dispositivos legais já em
vigor nos EUA, como o FAA (1961) e o AECA (1976), que facilitassem os mecanismos de
transferência de PRODE e de capacitação de RH, tornando mais fácil a sua tramitação no
Congresso Americano para fins de inclusão de orçamento (budget) no Ano Fiscal (Fiscal Year)
seguinte à designação.
46
Essa dinâmica de oportunidades a privilégios militares e econômicos, como os
elencados na coluna de “benefícios” da Tabela 3, pode representar um incremento na
participação brasileira no seu Entorno Estratégico, em especial nas missões de paz nas quais
participa na região, com forma de projeção de influência e poder no Atlântico Sul.
1.4 Os dezessete Aliados Prioritário Extra-OTAN (Major Non-NATO Ally - MNNA)
1.4.1 A criação do status de MNNA
Os EUA influenciam a geopolítica mundial, por meio de diferentes Organizações de
Cooperação em Defesa (OCD) mundo afora. Algumas OCD permanecem em atividade, outras
já foram extintas. Dentre as diversas organizações, pode-se destacar:
- o TIAR (1947); a OTAN (1949); a ANZUS33 (1951); a SEATO (1954); a CENTO34
(1955); dentre outras.
No final da década de 1980, os EUA inovaram ao criar o status MNNA, no governo
George Bush (pai).
Já havia iniciativas de apoio aos países aliados fora do manto da OTAN, como a FAA
- Foreign Assistance Act (Lei de Assistência ao Exterior dos EUA35), de 1961 e a AECA - Arms
Export Control Act (Lei de Controle de Exportação de Armas36), de 1976.
No tocante à América Latina, com base na já exposta anteriormente Doutrina de
Defesa Hemisférica, do Spykman, pode-se inferir a busca de potenciais MNNA dentro do
escopo do TIAR.
Segundo ANDRADE e FRANCO (2015), após o fim da Guerra Fria, a acentuada
queda nos recursos disponibilizados para a defesa em todo o mundo, impactou as indústrias
nacionais, o que levou: a Engesa37, à bancarrota; a Avibras, à uma longa crise; e a Embraer, à
privatização. Esse cenário propiciou uma desnacionalização das indústrias de defesa brasileira
à época.
33 Aliança militar entre Australia, Nova Zelândia e os EUA. Criada em 1951, se manteve unida até 1986, quando a Nova Zelândia deixou o acordo. Fonte - https://history.state.gov/milestones/1945-1952/anzus 34 A Organização do Tratado Central, (CENTO: Central Treaty Organization) ou Pacto de Bagdá, foi uma aliança militar que vigorou entre 1955 e 1979, composta por Irã, Iraque, Paquistão, Turquia e Reino Unido. 35 https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decleg/2000/decretolegislativo-181-10-outubro-2000-371969-anexo-pl.pdf 36 Lei de Controle de Exportação de Armas, https://www.govinfo.gov/content/pkg/COMPS-1061/pdf/COMPS-1061.pdf 37 A Engesa (Engenheiros Especializados S.A.) foi uma empresa brasileira que funcionou de 1958 a 1993, atuando nos ramos petrolífero, automobilístico e bélico. Nas décadas de 1970 e 1980, destacou-se, ao lado da Avibras e da Embraer, como uma das "três grandes" da indústria bélica nacional.
47
Na Argentina, algo semelhante ocorreu: estaleiros responsáveis pela manutenção de
navios da Armada também faliram; a fábrica portenha de blindados médios TAMSE38 foi
abandonada; e a estatal Fabrica Militar de Aviones (mais antiga fabricante de aviões da
América Latina, localizada em Córdova, na Argentina) foi privatizada, em 1995, por Carlos
Menem, e adquirida pela empresa norte-americana Lockheed Martin. Desde 2009, a empresa
foi reestatizada, passando a denominar-se Fabrica Argentina de Aviones “Brig. San Martín”
SA. (FAdeA).
Esse cenário vigente, tanto no Brasil, como na Argentina, logo após o fim da Guerra
Fria, parece ter ensejado a aproximação dos EUA com esses dois grandes players da América
Latina.
Apesar dos EUA manterem relações de cooperação em defesa com cerca de cinquenta
nações em todos os continentes (COOK, 2013), somente dezessete países têm o status MNNA.
A criação dessa condição de MNNA se deu em um cenário internacional de Queda do
Muro de Berlim (1989) e nos estertores da URSS que se esfacelaria dois anos depois. O objetivo
era de fortalecer as relações bilaterais e maximizar a cooperação em defesa com esses aliados
considerados prioritários, plenamente alinhados aos seus objetivos estratégicos.
Segundo TERTRAIS (2004), o status MNNA permite o envio de ajuda e a venda de
material militar em larga escala, sem a necessidade de todas as exigências impostas pela FAA -
Foreign Assistance Act (Lei de Assistência ao Exterior dos EUA), de 1961 e a AECA - Arms
Export Control Act (Lei de Controle de Exportação de Armas), de 1976, que poderiam gerar
demora na aprovação por parte do congresso americano ou, até mesmo, barrar o envio de tais
PRODE.
Os primeiros MNNA, em 1989, foram Austrália, Coréia do Sul, Egito, Israel e Japão,
por se tratar de países historicamente alinhados à sua política de defesa. O Plano Marshall, que
ajudou a reconstruir o Japão, no pós II Guerra Mundial e a participação dos EUA na Guerra da
Coreia, são dois exemplos de que já havia pactos de defesa com esses dois MNNA, desde a
década de 1950. Por sua vez, Israel e Austrália são parceiros tradicionais de Washington.
Quanto ao Egito, após a retomada das relações com Israel, com a assinatura do Tratado
de paz israelo-egípcio, em 26 de março de 1979, após os Acordos de Camp David (1978); o
país não só se tornou o primeiro país árabe a reconhecer oficialmente o Estado de Israel, como
passou para a esfera de influência dos EUA, vindo a ser designado MNNA anos depois.
38 Tanque Argentino Mediano Sociedad del Estado - TAMSE.
48
Pode-se afirmar que os MNNA resgatam OCD´s extintos ou garantem novas alianças
estratégicas. Por exemplo: Paquistão era do CENTO; a Austrália e a Nova Zelândia eram da
ANZUS; e Filipinas e Tailândia eram da SEATO.
Do exposto, pode-se inferir que a condição MNNA pode ser considerada como:
1º caso - reconhecimento para os países que reiteradas vezes combateram ao lado dos
EUA, como a Austrália e a Nova Zelândia, e faziam parte de alguma Organização de
Cooperação em Defesa (OCD) extinta; ou
2º caso - atendimento a um pedido de um país com interesse em ser protegido pelos
EUA, como pode parecer o caso Argentino, após a Guerra das Malvinas; ou
3º caso - uma tentativa de atrair o parceiro designado para sua esfera de influência,
como pode ser interpretado no caso brasileiro.
A tabela abaixo ilustra, desde a primeira designação, no ano de 1989, até a escolha
brasileira, 30 anos depois.
A tabela abaixo ilustra a nomeação dos MNNA por ano, presidente e país: N° ordem Ano Presidente / Mandato MNNA
01
1989
George Herbert Walker Bush (1989-1993) Austrália 02 Coreia do Sul 03 Egito 04 Israel39 * 05 Japão 06 1996 Bill Clinton (1993-2001) Jordânia 07 1997 Nova Zelândia 08 1998 Argentina 09 2002 George W. Bush (2001-2009) Bahrein 10
2003 Filipinas
** Taiwan 11 Tailândia 12
2004 Kuwait
13 Marrocos 14 Paquistão 15 2012 Barack Obama (2009-2017) Afeganistão 16 2015 Tunísia 17 2019 Donald Trump (2017-2021) Brasil40
Tabela 4 – MNNA por ano, presidente e país. Fonte – Autor (2021) * único Major Strategic Partner, desde 2014. ** a partir de 2002, houve nova redação no ato para não mais considerar Taiwan um país.
Como exposto anteriormente, a escolha dos MNNA resulta de um aproveitamento
daquelas parcerias que já se davam com OCD que foram extintas com o término da Guerra Fria.
39 Israel, a partir de 2014, conforme aprovação, pelo Congresso Norte-americano da proposta do Presidente Bill Clinton (período de 1993 a 2001), se tornou o único país elevado à categoria de US Major Strategic Partner. Fonte: https://www.congress.gov/bill/113th-congress/house-bill/938/text. 40 https://br.usembassy.gov/pt/message-to-the-congress-on-designating-brazil-as-a-major-non-nato-ally-pt/
49
O caso argentino será mais bem explicado no capítulo 2, a fim de entender o interesse americano
no Entorno Estratégico Brasileiro, no final da década de 1990.
Na Figura V, abaixo, há uma visão espacial dos dezessete MNNA (o Brasil não está
colorido no mapa) em comparação aos países-membro da OTAN.
Figura XIV – Países-membro da OTAN e MNNA (sem o Brasil) Fonte: www.fitchsolutions.com, acesso em 16 JAN 2020.
Como conclusão desse tópico, pode-se verificar a importância que a Estratégia Norte-
americana concede às parcerias bilaterais, em especial aos MNNA, seja por reconhecimento
àqueles países que reiteradas vezes combateram ao lado dos EUA (como a Austrália e a Nova
Zelândia41); quer seja por um atendimento a um pedido de um país aceito pelos EUA (parece
ser o caso Argentino); ou, ainda, uma tentativa de atrair o parceiro designado para sua esfera de
influência, como pode ser interpretado no caso brasileiro. Adiante, verificar-se-ão as citações
ao Brasil e à Argentina, dentro do escopo dos documentos que foram alterados pelas leis
ulteriores concernentes ao MNNA.
1.5 Citações ao Brasil e à Argentina na FAA - Foreign Assistance Act (Lei de Assistência
ao Exterior), de 1961
Como já foi explanado anteriormente, o status MNNA criou “atalhos” em diversas
legislações já em vigor nos EUA há décadas, como a FAA, de 1961, e o AECA, de 1976.
Portanto, merece resgate, à luz de tais diplomas legais, como vinha sendo feito a citação ao
Brasil e à Argentina, antes mesmo que o MNNA fosse estabelecido.
41 Esses dois países são signatários do Tratado de Segurança UK-USA - um acordo que estabelece a aliança de cinco países anglófonos com o propósito de compartilhar informação secreta, especialmente inteligência de interceptação de sinais. Fazem parte do tratado, além da Austrália e da Nova Zelândia, o Canadá, o Reino Unido e os EUA, os quais em conjunto são denominados Os Cinco Olhos (em inglês: The Five Eyes).
50
O Brasil importa PRODE dos EUA há algumas décadas, mas só se tornou MNNA em
2019. Desta forma, cabe entender como se deu a citação ao País no contexto da Lei de
Assistência ao Exterior (FAA).
A FAA tem diversas atualizações ao longo dos anos, mas, até 2003, pode-se identificar
as citações ao Brasil e à Argentina, conforme a tabela abaixo: FAA País / Presidente
Section 517. Designation Of Major Non-Nato Allies On January 6, 1998, the President notified Congress that he designated the Republic of Argentina as a major non-NATO ally of the United States for purposes of the Foreign Assistance Act and the Arms Export Control Act…
EUA - Bill Clinton (1993-2001) ARGENTINA - Carlos Menem (1989-1999)
Section 620B. Prohibition Against Assistance and Sales to Argentina. * * * [Repealed—1981] … had prohibited the furnishing of MAP, ESF, IMET, and Peacekeeping assistance under this Act, and the extension of credits, sales, or export licenses under the Arms Export Control Act for Argentina after September 30, 1978. Sec. 725(b) of Public Law 97–113, conditions on U.S. assistance and sales to Argentina, was repealed in 1989.
EUA – Jimmy Carter (1977-1981) ARGENTINA - Jorge Rafael Videla de (1976-1981)
Section 638 – Exclusions Subsection 638B No provision of this Act or any other provision of law shall be construed to prohibit assistance for any training activity which is funded under this Act for Brazil or Argentina as long as such country continues to have a democratically elected government and the assistance is otherwise consistent with sections 116 (Human Rights), 502B (Human Rights), 620(f) (Nuclear Non-Proliferation Policy in South Asia), 620A (Prohibition on Assistance to Governments Supporting International Terrorism) and 660 (Prohibiting Police Training) of this Act. (parte grifada incluída pelo autor). Nota do Autor (NA) -seção adicionada no ano de 1988.
EUA - Ronald Reagan (1981-1989) BRASIL - José Sarney (1985-1990) ARGENTINA - Raúl Alfonsín (1983-1989)
Section 490 - Annual Certification Procedures ‘‘Pursuant to section 706(1) (Interest on New Obligations) of the Foreign Relations Authorization Act, Fiscal Year 2003 (Public Law 107–228) (FRAA), which was enacted (promulgada) on September 30, 2002, I hereby identify the following countries as major drug transit or major illicit drug producing countries: Afghanistan, The Bahamas, Bolivia, Brazil, Burma, China, Colombia, Dominican Republic, Ecuador, Guatemala, Haiti, India, Jamaica, Laos, Mexico, Nigeria, Pakistan, Panama, Paraguay, Peru, Thailand, Venezuela, and Vietnam. (parte grifada incluida pelo autor).
EUA - George W. Bush (2001-2009) BRASIL - Fernando Henrique Cardoso (1995-2003) - Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2011)
Tabela 5 – Citações ao Brasil e à Argentina na FAA. Fonte: autor (2021)
Em síntese, identifica-se o interesse norte-americano com o que estava acontecendo,
tanto no Brasil, como na Argentina, antes de que pudessem capacitar RH (treinamento de
policial, por exemplo – “assistance for any training activity” ou o IMET), bem como, facilitar
a exportação de armamento (exemplo: “Prohibition Against Assistance and Sales to
Argentina”).
A seguir, estudar-se-á como os EUA tem demonstrado projeção de poder e influência
no Atlântico Sul e no Entorno Estratégico Brasileiro.
51
1.6 Projeção dos EUA no Entorno Estratégico brasileiro (com ou sem missões de paz da
ONU)
Ao longo da História Brasileira, a relação entre Brasil-EUA se mostrou
frequentemente intensa, com diversas demonstrações de integração entre as duas nações, em
especial em eventos que tiveram o território brasileiro e o seu Entorno Estratégico. Dentre
inúmeros exemplos, o presente estudo elencou três emblemáticos:
1º) o envio da Frota Flint42 - Episódio em que navios de guerra norte-americanos
tripulados por mercenários estadunidenses, denominado como Frota Flint, foram vendidos ao
governo brasileiro em 1894 para fazer frente a uma rebelião surgida na Marinha de Guerra no
início da República brasileira. Tal conflito ficou conhecido como Segunda Revolta da Armada
e foi contida com o apoio do Exército Brasileiro. (COSTA, 2001);
2º) a questão de Palmas43 - contencioso entre Brasil e Argentina pela posse da região
oeste do Paraná (Palmas) entre 1890 e 1895. A questão foi submetida ao arbitramento do
presidente dos Estados Unidos Grover Cleveland, cujo parecer foi totalmente favorável ao
Brasil. (HEINSFELD, 2014); e
3º) a participação brasileira, ao lado das tropas norte-americanas, na II Guerra Mundial
e a cessão do Saliente Nordestino, por meio do acordo, de maio de 1942, celebrado pela
Comissão Mista de Defesa Brasil-Estados Unidos, com vistas a assegurar a integridade do
Nordeste, incluído no cinturão de defesa estratégica dos EUA44.
Figura XV – Imagem postada no sítio eletrônico do Consulado Geral EUA, em homenagem aos 76 anos
de uma parceria histórica Fonte:https://www.facebook.com/consuladoeuarj.br/photos/a.467795620014171/3535216589938710/
?type=3&theater
42 COSTA, Sérgio Côrrea Da. Brasil, Segredo de Estado - Incursão Descontraída pela História do País. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. 43 HEINSFELD, Adelar. Fronteira e Ocupação do Espaço: a Questão de Palmas com a Argentina e a colonização do Vale do Rio do Peixe-SC. São Paulo: Perse, 2014. Disponível em: http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/BSU_Data/Books/561789/ Amostra.pdf. Acesso em: 29 abr. 2020. 44 O Exército Brasileiro na Segunda Guerra Mundial, disponível em http://www.eb.mil.br
52
“A data de hoje (05/03/2021) marca o aniversário de Batalha de Castelnuovo, na Itália, onde americanos e brasileiros lutaram juntos contra o nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial. Saiba mais sobre a cooperação militar entre Brasil e EUA no curta "Sobre Homens e Nações". Vídeo disponível em https://www.youtube.com/watch?v=rbLxSeos7Ng
Em junho de 2008, dez anos depois da escolha da Argentina como MNNA, os EUA
reativaram a sua IV Frota, da Marinha Americana, Força Naval Componente do SOUTHCOM,
para patrulhar os mares da América Latina, adormecida desde 1950. Merece destaque que, nesse
mesmo ano, foi efetiva a criação da UNASUL, em gestação desde 2004, representando a união
de esforços entre MERCOSUL e Comunidade Andina de Nações.
1.6.1 A organização e a articulação do Departamento de Defesa (DoD) dos EUA
Para entender como os EUA se fazem presente no Entorno Estratégico brasileiro, mister
se faz compreender a atual organização e articulação do DoD. São sete Forças e onze Unified
Combatant Commands (COCOMs), conforme as figuras que se seguem.
Figura XVI – As sete Forças do Departamento de Defesa. Fonte - https://www.defense.gov/Our-Story/Our-Forces/
Figura XVII – Os onze COCOMs – nome e símbolos Fonte - https://www.defense.gov/Our-Story/Combatant-Commands/
53
Figura XVIII – Os onze COCOMs – divisão territorial pelo globo. Fonte - https://archive.defense.gov/news/UCP_2011_Map4.pdf
Considerando os COCOMs, para o Entorno Estratégico brasileiro, os mais relevantes
são USSOUTHCOM (que contém dois MNNA – Argentina e Brasil) e o USAFRICOM (cujos
dois MNNA – Tunísia e Marrocos – não estão no Atlântico Sul). Ainda, que dos onze COCOMs,
só quatro tem MNNA. A tabela abaixo mostra a correlação entre COCOMs, MNNA, Entorno
Estratégico brasileiro e Operações de Paz. COCOMs
(dos 11, só 4 tem MNNA)
MNNA (17 países +
Taiwan)
Está no Entorno
Estratégico Brasileiro?
COCOMs (dos 11, só 4 tem Op Paz com Arg, BR e/ ou EUA)
Operação de Paz com Presença de Argentina,
Brasil e/ou EUA, por COCOMs
Está no Entorno
Estratégico Brasileiro?
U.S. Indo-Pacific
Command
Austrália
Não
U.S. European Command
UNFICYP (Chipre)
Não
Nova Zelândia
U.S. Central Command
UNIFIL (Líbano)
Coreia do Sul UNTSO (Oriente Médio)
Japão UNMOGIP (Índia e Paquistão)
Filipinas
U.S. Africa Command
UNSMIL (Líbia) Taiwan UNISFA (Sudão do Sul)
Tailândia UNMISS (Sudão do Sul)
U.S. Central Command
Egito Israel
Kuwait Jordânia
Paquistão Afeganistão MINUSCA(RCA)
Bahrein MINUSMA (Mali)
54
U.S. Africa
Command
Tunísia Não, nem tem saída para o Atlântico.
MONUSCO (RDC)
Sim
Marrocos Não, mas está próximo. Está no Atlântico
Norte, no Tropico de
Câncer.
MINURSO (Saara Ocidental)
U.S. Southern Command
Argentina SIM U.S. Southern Command
UNVMC (Colômbia) Brasil SIM BINUH (Haiti) Não
Tabela 6 – Correlação entre COCOMs, MNNA, Entorno Estratégico brasileiro e Operações de Paz. Fonte – Autor (2021). Nota do Autor – Apesar dos treze anos da presença brasileira no Haiti, aquele país está na América
Central, fora, pois, do Entorno Estratégico brasileiro.
Do anterior estudado, verifica-se que, dos onze COCOMs, seis têm responsabilidade
territorial, dos quais, dois (USSOUTHCOM e USAFRICACOM) estão no Entorno Estratégico
Brasileiro.
Cabe destacar, também, considerando o Entorno, há a presença de três MNNA
(considerando a parte do Saara Ocidental, em litígio com o Marrocos) e cinco missões da ONU
(MINUSCA - RCA, MINUSMA – Mali, MONUSCO – RDC, MINURSO – Saara Ocidental, e
UNVMC - Colômbia). O Brasil está presente em três delas, na RCA, na RDC e no Saara
Ocidental.
A seguir, será estudada a diferença entre os MNNA e os parceiros globais da OTAN.
1.6.2 Os parceiros globais da OTAN
A condição de MNNA é uma prerrogativa dos EUA, que, por definição, escolhe
parceiros fora do quadro dos trinta países-membros da OTAN45. Já foi verificado, ainda, que
há, nessa nomeação, um resgate aos antigo parceiros de OCDs extintas, como Austrália e Nova
Zelândia (ambas Five Eyes), além de Tailândia, Paquistão e Filipinas (remanescentes da antiga
SEATO).
Cabe fazer um registro acerca dos parceiros globais da OTAN, organização que nos
últimos anos tem buscado estreitar laços com países localizados além do eixo euro-atlântico;
tais nações recebem a alcunha de “parceiros globais”. Na atualidade, somente nove nações46
gozam desse status:
- os MNNA: Afeganistão; Japão; Coreia do Sul; e Paquistão;
- os MNNA e Five Eyes: Austrália e Nova Zelândia; e
45 https://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_52044.htm 46 https://www.nato.int/cps/en/natohq/topics_49188.htm
55
- nem MNNA, nem Five Eyes: Colômbia (a partir de 2018, sendo o 1º pais latino-
americano nessa condição47); Iraque; e Mongólia.
Os parceiros globais têm acesso a toda a gama de atividades que a OTAN oferece a
todos os parceiros, dentro do escopo de um Individual Partnership Cooperation Programme
(Programa de Cooperação de Parceria Individual). Essas atividades incluem os desafios de
segurança comuns a maioria das nações: defesa cibernética, contraterrorismo, dentre outras.
Ser um Global Partner garante facilidades de cooperação securitária com os membros
da OTAN, dentre eles, os EUA.
Apesar de não serem Global Partner, os seguintes países costumam ser consultados
pela OTAN, nas questões regionais de segurança. São eles: China, Brasil, Gana, India e
Singapura.
Do exposto, ao verificar o Entorno Estratégico Brasileiro, mesmo não sendo um
MNNA, a Colômbia tem acesso prioritário à OTAN e, o próprio Brasil, recebe um tratamento
diferenciado naquilo que se concerne à segurança regional, como por exemplo, pode-se citar a
Operação Viking48, com dezoito edições: Exercício de Simulação Construtiva Assistido por
Computadores, baseado em um contexto de Operação de Paz, organizado pelo Ministério da
Defesa da Suécia, a cada quatro anos, possuindo vertentes da OTAN e da ONU.
Os objetivos principais da Operação Viking são: a promoção da cooperação e da
interoperabilidade entre as forças, organizações e instituições nacionais e internacionais, bem
como o adestramento do trabalho dos estados-maiores.
Detalhe: a Suécia não faz parte da OTAN, mas tem um relacionamento longevo com
esse OI.
No tópico seguinte, o Entorno Estratégico será analisado, em especial como os EUA e
outras potências mundiais aqui se fazem presentes.
1.6.3 O Entorno Estratégico Brasileiro
O Professor Hélio Caetano Farias, do Instituto Meira Mattos, da ECEME, em sua
apresentação no I Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do
Território, no ano de 2014, assim analisou o Entorno Estratégico Brasileiro:
O Brasil recuperou, nos anos 2000, uma agenda de reflexão estratégica sobre a inserção internacional e sobre a articulação entre defesa e desenvolvimento, estreitando os laços entre as políticas de desenvolvimento nacional e a necessidade de
47 https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2018/05/colombia-e-aceita-na-otan-e-se-torna-o-1o-pais-da-america-latina-na-alianca.shtml 48 http://ebeventos.eb.mil.br/index.php/opviking/opviking/paper/view/30/0
56
se reposicionar no sistema internacional.Com os documentos oficiais, Plano Nacional de Defesa (PND) e a Estratégia Nacional de Defesa(END), foi proposta a ampliação das relações externas do país com o seu entorno imediato, estratégico, isto é, um espaço que inclui América do Sul, África Subsaariana, Antártida e o Atlântico Sul, e onde o Brasil propõe difundir sua influência econômica, política e diplomática, consolidando-se como uma potência regional. Entretanto, trata-se de uma área estratégica, marcada pela existência de “estoques” de recursos minerais, energéticos, e por oportunidades de investimentos de capital, um espaço em que as grandes potências buscam assegurar e ampliar suas posições. (FARIAS, 2014)
Já o professor José Luís Fiori, da UFRJ, salientou que, quanto ao Estorno:
“ideologia nacionalista, nem muito menos a qualquer tipo de cartilha militar”, mas sim de um “imperativo ‘funcional’ do próprio ‘sistema interestatal capitalista’” (FIORI, 2014).
A América do Sul é caracterizada por baixa incidência de conflitos regionais entre os
Estados, bem como, pela ausência de disputas extracontinentais pela hegemonia na área, o que
deriva para um baixo perfil belicoso da área.
Para Fiori, Padula e Vater (2013), a partir da idiossincrasia do subcontinente,
colonizado por espanhóis e portugueses, em sua maioria, compreendendo as questões relativas
à geopolítica e à geografia, mister se faz ter em conta três características hodiernas da região: [...] (1) a crescente aproximação entre os países da região, (2) a crescente valorização do Atlântico Sul, como espaço dotado de recursos estratégicos e como rota comercial, (3) a crescente importância global e regional da Bacia do Pacífico, como espaço mais dinâmico na economia global, devido aos crescentes fluxos de comércio, investimentos e acordos internacionais originados e ligados às economias da Ásia.
O Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN), Edição 2020, assim registra: A política externa brasileira considera o diálogo e a cooperação internacionais instrumentos essenciais para a superação de obstáculos e para a aproximação e o fortalecimento da confiança entre os Estados. Em termos geopolíticos, o Brasil prioriza o entorno estratégico, constituído pela América do Sul, Atlântico Sul, costa ocidental da África e Antártica. (LBDN 2020, p. 27). (grifo deste autor). Dotado de uma efetiva defesa, principalmente de uma adequada capacidade de dissuasão, o Brasil terá condições de inibir possíveis agressões a seu território e a sua população e de defender seus interesses. Ao mesmo tempo, a crescente cooperação com as nações sul-americanas em temas de defesa concorrerá para evitar possíveis tensões ou crises entre os Estados da região e contribuirá para a manutenção de um ambiente pacífico no entorno estratégico brasileiro. Pela dissuasão e pela cooperação, o Brasil fortalecerá, assim, a estreita vinculação entre sua política de defesa e sua política externa. (LBDN 2020, p.37).
No entanto, a definição mais exata do que vem a ser o Entorno Estratégico Brasileiro,
encontra-se no Plano Estratégico da Marinha (PEM 2040), vislumbrando um o horizonte de
vinte anos (2020-2040), a saber:
1.3 – ENTORNO ESTRATÉGICO Diante do entorno estratégico definido na PND, cumpre destacar que a Política Naval atribui prioridade ao Atlântico Sul, compreendido pelos seguintes limites
57
geoestratégicos: ao Norte, o paralelo 16º N; ao Sul, o Continente Antártico; a Leste, pelo litoral da África Ocidental; e ao Oeste, pela América do Sul. O limite de 16º N tem o propósito de englobar três importantes áreas: a que abrange o espaço entre os salientes nordestino e o ocidental africano, o Mar do Caribe e o litoral brasileiro do hemisfério Norte.
Figura XIX – Os limites marítimos do Entorno Estratégico brasileiro. Fonte: Plano Estratégico da Marinha (PEM 2040). Edição 2020.
Na análise do Entorno, é forçoso rememorar a professora Therezinha de Castro e sua
Teoria da Defrontação, divulgada em 1956, defendendo a porção brasileira no Antártida
Americana.
Já o Capitão de Mar e Guerra (RM1 – da reserva) Leonardo Faria de Mattos faz
interessante correlação entre a ocupação das Malvinas e a porção britânica da Antártica:
No início do século XX, surgiu a primeira reivindicação formal de território na Antártica. O Reino Unido, em 1908, reivindica uma região que chegava a incluir as Ilhas Malvinas (Falklands), estas, já ocupadas pelos britânicos desde 1833. Nas décadas seguintes, a reivindicação foi alterada para o que permanece até hoje conhecido como o British Antarctic Territory, separado das Falkland Islands Dependencies. Em seguida, reivindicaram, formalmente, territórios na Antártica, a Nova Zelândia, em 1923; a França, em 1924; a Austrália, em 1933; e a Noruega, em 1939. Interessante registrar que a Austrália e a Nova Zelândia eram colônias britânicas na época da reivindicação, o que significava que dois terços de todo o continente antártico foi reivindicado pelo Império Britânico.
58
Figura XX – Teoria da Defrontação. Fonte - Revista do Clube Militar, Edição de Abril/Junho de 1956, transcrita pelo Boletim Geográfico
em sua seção Contribuição à Geopolítica em novembro/dezembro do mesmo ano. Autores - Delgado de Carvalho e Therezinha de Castro.
1.6.4 Os EUA no Entorno Estratégico Brasileiro
Ainda que a National Defense Strategy (NDS), de junho de 2008 não previsse, os EUA
reativaram, naquele mesmo ano, sua IV Frota, da Marinha dos EUA, já comentado
anteriormente.
Na National Military Strategy, dos EUA, de junho de 2015, página 15, identifica-se
uma relação direta entre os COCOMs e a América Latina: “We are improving our global agility. The ability to quickly aggregate and disaggregate forces anywhere in the world is the essence of global agility (…) sharing forces among Combatant Commands to address transregional threats. We are positioning forces (…) presence in Europe, the Middle East, Latin America, and Africa.”
Já na página 36, da Quadrennial Defense Review (QDR), de 2014, há um registro
quanto à manutenção da paz e da segurança no Hemisfério Ocidental, por meio da maximização
da presença norte-americana na América Latina:
“Latin America. (…) we will assist as appropriate in countering diversified illicit drug trafficking and transnational criminal organization networks in Latin America that are expanding in size, scope, and influence. The Department will continue to maximize the impact of U.S. presence in Latin America by continuing to foster positive security
59
relationships with our partners to maintain peace and security of the Western Hemisphere.”
No livro “Formação do Império Americano. Da guerra contra a Espanha à guerra do
Iraque”, o professor Luiz Alberto Moniz Bandeira, um estudioso da história dos EUA discorre
sobre os "cerca de 6.300 militares americanos que estiveram baseados ou realizaram operações
na região da Amazônia entre 2001 e 2002".
Figura XXI – Presença militar norte-americana na América do Sul (Entorno Estratégico brasileiro). Fonte – “Formação do Império Americano. Da guerra contra a Espanha à guerra do Iraque” Editora:
Civilização Brasileira; 1ª edição (13 outubro 2017).
A presença norte-americana no Entorno Estratégico Brasileiro é uma realidade a partir
da reativação de sua IV Frota, em 2008, bem como, nos expressivos contingentes militares que
se encontram, não só no lado ocidental do Atlântico Sul, como também no lado oeste, conforme
Figura X, anteriormente apresentada.
No próximo capítulo serão estudados:
- o Brasil e o Entorno Estratégico, a partir dos Documentos de Defesa brasileiros, para
que haja um foco na expressão militar, em especial, nas Operações de Paz e na capacitação em
RH e possíveis facilidades para aquisições de PRODE; além da Argentina como MNNA e as
possíveis lições aprendidas para o Brasil.
60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRADE, Israel; FRANCO, Luiz. “A Indústria de Defesa Brasileira e a sua Desnacionalização: implicações em: aspectos de segurança e soberania e lições a partir da experiência internacional”. Boletim de Economia e Política Internacional, n. 20, maio/agosto, 2015. ARGENTINA. Ministerio de Relaciones Exteriores. Dirección Nacional del Antártico. Instituto Antártico Argentino. [site]. Disponível em: http://www.dna.gob.ar/. Acesso em 5 fev. 2016. BAYLIS, John & Wirtz, James J. Introduction. In: John Baylis, James Wirtz, Eliot Cohen & Colin Gray (org.), Strategy in the Contemporary World. 4 Ed. Oxford: Oxford University Press, 2013. BRASIL. Presidência da República. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Congresso Nacional, 1988. Disponível em:<http://bit.ly/1bIJ9XW>. Acesso em: 8 jul. 2020. _______. Comissão para os Recursos do Mar (Brasil). Programa Antártico Brasileiro (PROANTAR) [Site]. Disponível em: https://www.mar.mil.br/secirm/portugues/proantar.html. Acesso em 5 fev. 2016. _______. Estado-Maior das Forças Armadas. Política de Defesa Nacional (1996). Brasília: EMFA, 1996. _______. Estado-Maior do Exército (EME). Relatório de Gestão do Comando do Exército. Exercício de 2020. Disponível em: http://www.eb.mil.br/transparencia-e-prestacao-de-contas _______. Ministério da Defesa. Cenários de Defesa 2040: Descrição dos Cenários. Ministério da Defesa, Brasília, 2019. _________________________. Cenários de Defesa 2020-2039: Descrição dos Cenários. Ministério da Defesa, Brasília, 2017. _________________________. Comando da Marinha. Estado-Maior da Armada. Plano Estratégico da Marinha (PEM 2040). Brasília-DF: 2020. _________________________. Comando da Aeronáutica. Estado-Maior da Aeronáutica. PCA 11-47. Plano Estratégico Militar da Aeronáutica (PEMAER) 2018 – 2027. Edição 2018. _________________________. Comando do Exército. Estado-Maior do Exército. Plano Estratégico do Exército (PEEx) 2020-2023. Edição 2019. _________________________. Estratégia Nacional de Defesa. Brasília, DF, 2020a. Disponível em: https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/copy_of_estado-e-defesa/politica-nacional-de-defesa. Acesso em: 30 ago. 2020. _________________________. Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN). Brasília, DF, 2020b. Disponível em: https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/copy_of_estadoe-defesa/politica-nacional-de-defesa. Acesso em: 30 ago. 2020. _________________________. Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN). Brasília, DF, 2016. _________________________. Livro Branco de Defesa Nacional (LBDN). Brasília, DF, 2012. _________________________. Política Defesa Nacional (2005). Brasília: MD, 2005. _________________________. Política Nacional de Defesa (2012). Disponível em: http://www.defesa.gov.br/arquivos/2012/mes07/pnd.pdf. Acesso em: 8 fev. de 2016. _________________________. Política Nacional de Defesa (PND). Brasília, DF, 2020c. Disponível em: https://www.gov.br/defesa/pt-br/assuntos/copy_of_estado-e-defesa/politica-nacional-de-defesa. Acesso em: 30 ago. 2020.
61
BANDEIRA, Luiz Alberto Moniz. Formação do Império Americano. Da guerra contra a Espanha à guerra do Iraque. Editora: Civilização Brasileira; 1ª edição (13 outubro 2017) BERG, Bruce L. Qualitative Research Methods for the social sciences. Estados Unidos: Allyn & Bacon, 2001. ISBN 0-205-31847-9. BORDINI, Gabriela Sagebin. SPERB, Tânia Mara. O USO DOS GRUPOS FOCAIS ON-LINE SÍNCRONOS EM PESQUISA QUALITATIVA. BUZAN, Barry. An Introduction to Strategic Studies: Military Technology & International Relations. London: International Institute for Strategic Studies, 1987. BUZAN, Barry; WÆVER, Ole. Regions and Powers: The Structure of International Security. Cambridge: Cambridge University Press, 2003. CASTRO, Therezinha. Rumo à Antártica. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1976. CERVO, A. L.; BUENO, C. História da Política Exterior do Brasil 1ª. Ed.; São Paulo, Ática, 1992; 6ª. Ed.; Brasília: Editora da UnB, 2020. CHASE, L., & ALVAREZ, J. (2000). Internet Research: The Role of the Focus Group. Library & Information Science Research, 22(4), 357–369. CHILD, Jack. South American Geopolitics and Antarctica: Confrontation or Cooperation. In: KELLY, Philip; CHILD, Jack (ed.). Geopolitics of the Southern Cone and Antarctica. Londres: Lynne Rienner Publishers, 1988. COLACRAI, Miryam. El Ártico y la Antártida en las relaciones internacionales. Porto Alegre: URGS Editora, 2004. COSTA, Sérgio Côrrea Da. Brasil, Segredo de Estado - Incursão Descontraída pela História do País. 5. ed. Rio de Janeiro: Record, 2001. DIAS, Reinaldo. “As Grandes Tradições Teóricas nas Relações Internacionais; Relações Internacionais” em “Relações Internacionais - Introdução ao Estudo da Sociedade Internacional Global”; Editora Atlas. 2010. DINIZ, Eugenio. Epistemologia, História e Estudos Estratégicos: Clausewitz versus Keegan.Contexto Internacional, Rio de Janeiro, v. 31, n. 1, p. 39-90, jan./jun. 2010 DODDS, Klaus. Geopolitics in Antarctica: views from the Southern Oceanic Rim. West Sussex, England: John Wiley & Sons, 1997. DOMINGOS NETO, Manuel. Defesa e segurança como área do conhecimento científico. Tensões Mundiais, Fortaleza, v. 2, n. 3, p. 136-149, jul./dez. 2006. FARIAS, Hélio C., Anais do I Congresso Brasileiro de Geografia Política, Geopolítica e Gestão do Território, 2014. Rio de Janeiro. Porto Alegre: Editora Letra1; Rio de Janeiro: REBRAGEO, 2014, p. 612-624. ISBN 978-85-63800-17-6
62
FIORI, José Luís. O Brasil e seu Entorno Estratégico na Primeira Década do Século XXI. In: Sader, Nasser, Reginaldo M. & Moraes, Rodrigo F. O Brasil e a segurança no seu entorno estratégico: América do Sul e Atlântico Sul. Brasília: Ipea, 2014. _______________O Brasil e seu Entorno Estratégico na Primeira Década do Século XXI. In: SADER, Emir (org.). 10 anos de governos pós-neoliberais: Lula e Dilma. São Paulo: Boitempo, 1ºedição, 2013. FIORI, José Luís; PADULA, Raphael; VATER, Maria Claudia. Dimensões estratégicas do desenvolvimento brasileiro: Brasil, América Latina e África: convergências geopolíticas e estratégias de integração. V.3. Brasília, DF: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos, 2013. HOBSBAWN, Eric. A Era dos Extremos: O Breve Século XX – 1914-1991. 2ª Ed. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 2007, 598 p. HEINSFELD, Adelar. Fronteira e Ocupação do Espaço: a Questão de Palmas com a Argentina e a colonização do Vale do Rio do Peixe-SC. São Paulo: Perse, 2014. Disponível em: http://www.perse.com.br/novoprojetoperse/BSU_Data/Books/561789/ Amostra.pdf. Acesso em: 29 abr. 2020. MATTOS, L. F. A inclusão da Antártica no conceito de Entorno Estratégico Brasileiro. Revista da Escola de Guerra Naval (Ed. português), v. 20, p. 165-192, 2014. MEARSHEIMER, John J. “A Return to Offshore Balancing”. Newsweek [30/12/2008]. Disponível em: Acesso em: 13/11/2018. MEDEIROS FILHO, Oscar. “Geografia Política sul-americana e percepções das agências de defesa”. In: D Araújo, Maria Celina Soares; Soares, Samuel Alves; Svartman, Eduardo. (Org.). Defesa, Segurança Internacional e Forças Armadas. Campinas: Mercado das Letras, 2009. NATIONAL SECURITY STRATEGY (NSS). The White House, Washington, 2002. Disponível em http://georgewbush-whitehouse.archives.gov/nsc/nss/2002/. Acesso em 15/06/2021. NATIONAL SECURITY STRATEGY (NSS). The White House, Washington, 2010. https://obamawhitehouse.archives.gov/sites/default/files/rss_viewer/national_security_strategy.pdf Acesso em 15/06/2021. PALERMO, Vicente. Sal em las heridas: Las Malvinas em la cultura argentina contemporánea. Buenos Aires: Sudamericana, 2007. PENHA, Eli Alves. Relações Brasil-África e Geopolítica do Atlântico Sul. Salvador: EDUFBA, 2011. PECEQUILO, Cristina Soreanu. Política Internacional. 2ª Edição. Brasília: FUNAG, 2012. POOLE, Walter S., 1943-The effort to save Somalia, August 1992-March 1994 / Walter S. Poole. Joint History Office. Office of the Chairman of the Joint Chiefs of Staff. Washington, DC. 2005
63
SPYKMAN, Nicholas John. Estados Unidos frente al mundo, México, FCE, 1942a. _______________________America's strategy in world politics: The United States and the Balance of Power. Nova Iorque: Harcourt, Brace and Co., 1942b. TEIXEIRA, Vinicius Modolo. Editor(s) SENHORAS, Elói Martins; ZOUEIN, Maurício Elias Geopolítica das Organizações de Cooperação em Defesa, Ed. UFRR, Boa Vista. 2020. Disponível em https://zenodo.org/record/3814468#.YMZ9_PKSlPY TERTRAIS, Bruno. “The Changing Nature of Military Alliances”. The Washington Quarterly, Spring, 2004. TUCKET, A. G. (20014)” Part 1: Qualitative Research Sampling – the Very Real Complexities”, Nurse Researcher, Vol. 12, No. 1, pp 47-61.