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ESCOLA DE DIREITO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS CRIMINAIS
DOUTORADO EM CIÊNCIAS CRIMINAIS
DANIEL BROD RODRIGUES DE SOUSA
O TIPO-DE-ILÍCITO DOS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS NO DIREITO PENAL
BRASILEIRO:
CONTRIBUTO À SUA CONFORMAÇÃO E DELIMITAÇÃO
Porto Alegre
2017
DANIEL BROD RODRIGUES DE SOUSA
O TIPO-DE-ILÍCITO DOS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS NO DIREITO
PENAL BRASILEIRO:
CONTRIBUTO À SUA CONFORMAÇÃO E DELIMITAÇÃO
Tese de Doutorado apresentada à Escola de
Direito da Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul, como requisito parcial para
obtenção do título de Doutor em Ciências
Criminais.
Orientador: Prof. Dr. Fabio Roberto D’Avila
Porto Alegre
2017
RESUMO
Calcada na teoria da proteção de bens jurídicos, esta investigação, aqui resumida, teve como
um dos seus motes esquadrinhar as repercussões da conformação atual da conjectura penal da
ofensividade em seus contornos de lesão e de perigo; tudo sob o especial paralelo com os crimes
omissivos impróprios, em suas possíveis manifestações no sistema jurídico brasileiro.
Pretendeu-se problematizar o modo pelo qual os princípios constitucionais têm sido violados
no âmbito do sistema penal, no domínio dos crimes omissivos, de modo particular, na
modalidade omissiva imprópria. Procurou-se, portanto, com relação a tal proposição esboçada,
desenvolver apontadas reflexões pertinentes aos crimes omissivos impróprios, perscrutando, de
forma crítica, as fontes de garantidor compostas no Código Penal brasileiro e o tipo-de-ilícito
como um todo respeitante aos mencionados delitos. Tencionou-se, à vista disso, entabular
caminhos hermenêuticos e orientações de reformas legislativas com vistas à estabilização de
instrumentos de contenção do amplo espectro punitivo que atualmente está a dispor do Estado,
na sistemática normativa, presentemente vigente no Brasil, no tocante a tais espécies
comportamentais de infrações penais. Este estudo adotou, na ambitude da dogmática criminal,
como matriz conceitual central, a concepção ontoantropológica do Direito Penal individuada
na ideia precípua do ilícito penal como ofensa a bens jurídicos, edificada, sobretudo, por José
de Faria Costa, e tão bem-agasalhada e aprimorada, no Brasil, por Fabio Roberto D’Avila,
autores, portanto, que representam o principal referencial teórico da presente tese, juntamente
com os significativos contributos de Jorge de Figueiredo Dias. A investigação evidencia que os
crimes omissivos impróprios não estão reduzidos à categoria dos delitos que pressupõem um
resultado naturalístico para que haja a consumação. Para tanto, nesse sentido, efetuou-se uma
inspeção acurada acerca das fontes formais da posição de garantidor, disciplinadas no art. 13,
§2º, do Código Penal brasileiro, exibindo as diferentes orientações doutrinárias externadas no
cenário nacional sobre o tema, procurando fazer um exame minudente de tais fontes à luz dos
princípios indispensáveis do sistema penal. Destarte, sobressaem como agudamente expressivas
as questiúnculas atinentes aos delineamentos do tipo-de-ilícito da omissão imprópria e os
mecanismos de repreensão da mencionada espécie delituosa. Prima, na doutrina e nas dinâmicas
normativas dos diplomas penais dos países, a diretiva de que para uma pessoa figurar como
sujeito ativo de um crime omissivo impróprio é preciso que ela esteja inserta na chamada
posição de garante de refreamento da geração do evento. Foi intuito deste trabalho palmilhar
pelas diferentes vertentes dogmáticas, percorrendo a doutrina nacional e estrangeira, assim
como pelos critérios normativos disciplinatórios da questão, mediante a dissecção de direito
comparado, com vistas a semear, de lege ferenda, predileções para o sistema penal brasileiro
arrostar satisfatoriamente o intricado tema dos crimes omissivos impróprios. A investigação
tomou por cânone a pesquisa teórica, desse modo, empregando bibliografias nacionais e
estrangeiras que alicerçaram a matéria. Foi utilizada a técnica expositivo-compreensiva para a
delucidação das diferentes roupagens relativas ao assunto e, também, o método compreensivo-
normativo, porquanto tenham sido aventadas diretrizes normativas, na dimensão dos crimes
omissivos impróprios.
Palavras-chave: Crimes Omissivos Impróprios. Posição de Garantidor. Tipo-de-Ilícito
Omissivo Impróprio.
ABSTRACT
Grounded in the theory of legal rights protection, the research summarized here had as one of
its mottoes to screenthe repercussions of the current conformation of criminal conjecture of
offensiveness in its contours of injury and danger; all under the parallel with improper omissive
crimes in its possible manifestations in the Brazilian legal system.We intended to discuss the
ways in which constitutional principles have been violated within the criminal system in the
field of omissive crimes, particularly regarding improper omission. We sought, therefore, with
respect to that outlined proposition, to develop relevant reflections on improper omissive
crimes, critically scrutinizing the guarantor sources composed in the Brazilian Penal Code and
the kind-of-offense as a whole with regard to the mentioned offenses. In the face of it, we
intended to formulate hermeneutical paths and suggestions to legislative reforms aimed at
stabilizing instruments for containing the broad punitive spectrum currently at the state's
disposal, within the systematic rules presently in force in Brazil, with respect to such behavioral
species of criminal offenses. This study adopted as its main conceptual framework in criminal
dogmatics the ontoanthropological conception of criminal law, individuated in the critical idea
of criminal delict as an offense to legal goods, built mainly by José de Faria Costa and so well-
bundled and improved, in Brazil, by Fabio Roberto D'Avila. Both these authors, therefore,
represent the main theoretical framework of this thesis, together with the significant
contributions of Jorge de Figueiredo Dias. Research shows that improper omissive crimes are
not reduced to the category of crimes that require a naturalistic result for its consummation to
occur. Therefore, in this sense, we performed an accurate inspection on the formal sources of
the position of guarantor, disciplined in the art. 13, paragraph 2, of the Brazilian Penal Code,
displaying the various doctrinal guidelines expressed on the national scene on the subject and
trying to make a conscientious examination of such sources in the light of the essential
principles of the criminal justice system. Thus, little controversies relating to the determination
of the type-of-offense of improper omission and the mechanisms for reprehending that criminal
type stand out as sharply expressive. In doctrine and in regulatory dynamics of the criminal
laws of the countries, it is crucial the guideline that for a person to figure as an active subject
of an improper omission crime this person needs to be located in the so called position of
guarantor of containment of the event generation. It was an aimof this work to examine the
different streams of dogmatics, covering national and foreign doctrines as well as the normative
criteria that legislate about the issue, through rigorous examination of comparative law, in order
to sow, lex ferenda, suggestions for the Brazilian penal system to satisfactorily address the
intricate subject of improper omissive crimes. The investigation took theoretical research as a
canon, thereby employing national and foreign bibliographies that underpinned the matter. We
used the comprehensive exhibition technique for elucidating different guises on the subject and
also the comprehensive normative approach, since regulatory guidelines have been suggested
in the field of improper omissive crimes.
Keywords: Improper Omissive Crimes. Position of the Guarantor. Improper Omissive Type-
of-Offence.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................................15
2 OS SISTEMAS CONCEITUAIS DO CRIME .........................................................41
2.1 ANOTAÇÕES PRELIMINARES ................................................................................41
2.2 CARACTERÍSTICAS DO TIPO-DE-ILÍCITO NO SISTEMA CLÁSSICO ..............50
2.3 CARACTERÍSTICAS DO TIPO-DE-ILÍCITO NO SISTEMA NEOCLÁSSICO ......61
2.4 CARACTERÍSTICAS DO TIPO-DE-ILÍCITO NO SISTEMA FINALISTA .............75
2.5 CARACTERÍSTICAS DO TIPO-DE-ILÍCITO NO SISTEMA SOCIAL ...................88
2.6 CARACTERÍSTICAS DO TIPO-DE-ILÍCITO NO SISTEMA FUNCIONALISTA .95
2.6.1 Considerações Iniciais .................................................................................................95
2.6.2 O Funcionalismo Moderado de Roxin e o Funcionalismo Radical de Jakobs:
Características Principais ......................................................................................................97
2.6.3 O tipo-de-ilícito no Sistema Funcionalista. A imputação objetiva sob o ângulo do
Funcionalismo de Roxin, de Jakobs e de Frisch.................................................................103
2.7 CARACTERÍSTICAS DO TIPO-DE-ILÍCITO NO SISTEMA SIGNIFICATIVO ..120
3 A OMISSÃO COMO FORMA PARTICULAR DE REALIZAÇÃO TÍPICA ...129
3.1 DISTINÇÃO ENTRE OS CRIMES COMISSIVOS E OS OMISSIVOS ..................129
3.2 DISTINÇÃO ENTRE OS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS E OS OMISSIVOS
PRÓPRIOS .............................................................................................................................138
3.3 A CATEGORIA DOS CRIMES OMISSIVOS POR COMISSÃO E OS SEUS
REFLEXOS NO TRATAMENTO DA OMISSÃO IMPRÓPRIA ........................................147
3.4 OS CHAMADOS DELITOS DE DOMÍNIO E OS DELITOS DE INFRAÇÃO DE
DEVER E SUAS REPERCUSSÕES NA DISCIPLINA DA OMISSÃO IMPRÓPRIA .......155
3.4.1 A Orientação de Roxin sobre os Delitos de Domínio e os de Infração de Dever .156
3.4.2 A Direção de Jakobs e as Competências por Organização e Institucional ..........165
3.4.3 A Posição de Gómez-Trelles .....................................................................................172
4 A EVOLUÇÃO DOGMÁTICA DOS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS: AS
DIFERENTES CONFORMAÇÕES DO TIPO-DE-ILÍCITO DA OMISSÃO
IMPRÓPRIA NOS DIFERENTES SISTEMAS CONCEITUAIS DO FATO PUNÍVEL ...
.....................................................................................................................................180
5 A POSIÇÃO DE GARANTIDOR COMO ELEMENTO DO TIPO-DE-ILÍCITO
NOS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS: AS TEORIAS FUNDAMENTADORAS ....
.....................................................................................................................................199
5.1 AS TEORIAS FORMAIS ...........................................................................................207
5.2 AS TEORIAS MATERIAIS .......................................................................................217
5.2.1 A Teoria das Funções de Kaufmann .......................................................................230
5.2.2 Doutrinas da proximidade social .............................................................................235
5.2.3 Doutrinas da dependência de bens jurídicos ou doutrinas do domínio ...............237
5.2.4 Teoria sistêmico-funcionalista de Jakobs ...............................................................252
5.3 AS TEORIAS MATERIAIS-FORMAIS ....................................................................259
6 CARACTERÍSTICAS DO TIPO-DE-ILÍCITO DOS CRIMES OMISSIVOS
IMPRÓPRIOS NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO ....................................................269
6.1 EVOLUÇÃO LEGISLATIVA: O TRATAMENTO DA OMISSÃO NOS
DIFERENTES DIPLOMAS PENAIS BRASILEIROS .........................................................269
6.2 OS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS NA DOUTRINA BRASILEIRA ...........281
6.3 A COMPLEIÇÃO DO TIPO-DE-ILÍCITO DA OMISSÃO IMPRÓPRIA
CONSOANTE A DOUTRINA PENAL BRASILEIRA ........................................................282
6.3.1 As posições de parte da doutrina penal acerca do tipo-de-ilícito da omissão
imprópria antes da reforma da Parte Geral do atual Código Penal ................................283
6.3.2 As posições de parte da doutrina penal acerca do tipo-de-ilícito da omissão
imprópria após a reforma da Parte Geral do atual Código Penal ...................................297
7 A NECESSÁRIA CONFORMAÇÃO MATERIAL-FORMAL DO TIPO-DE-
ILÍCITO OMISSIVO IMPRÓPRIO. ELEMENTOS PARA SUA DELIMITAÇÃO
DOGMÁTICA .......................................................................................................................377
7.1 A INFRAÇÃO PENAL COMO UM FATO QUE OFENDE OU EXPÕE A PERIGO
DE OFENSA UM BEM JURÍDICO ......................................................................................377
7.2 A INFRAÇÃO PENAL COMO UM TIPO-DE-ILÍCITO CULPÁVEL ....................404
7.3 O CRITÉRIO DO “PONTO DE GRAVIDADE DA CENSURABILIDADE” OU DO
“PONTO DE GRAVIDADE DA CONDUTA PENALMENTE RELEVANTE”, COMO
FATOR DE DISTINÇÃO ENTRE OS CRIMES COMISSIVOS E OS OMISSIVOS .........420
7.4 O CRITÉRIO DO TIPO PENAL (OU FORMAL) COMO ELEMENTO DE
DISTINÇÃO ENTRE OS CRIMES OMISSIVOS IMPRÓPRIOS E OS OMISSIVOS
PRÓPRIOS .............................................................................................................................422
7.5 O TIPO-DE-ILÍCITO OMISSIVO IMPRÓPRIO SOB A PERSPECTIVA
MATERIAL-FORMAL ..........................................................................................................425
7.5.1 O crime omissivo impróprio como ofensa não insignificante do cuidado-de-perigo
.....................................................................................................................................425
7.5.2 O requisito material da esfera de domínio do omitente como recurso hermenêutico
para abrandar a situação de tipicidade diminuída envolvendo os crimes omissivos
impróprios .............................................................................................................................431
7.5.3 Soluções de lege ferenda e dogmáticas para o tratamento dos crimes omissivos
impróprios no Direito brasileiro ..........................................................................................433
8 CONCLUSÕES .........................................................................................................453
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................466
15
1 INTRODUÇÃO
O Direito Penal é concebido como um mecanismo direcionado à tutela subsidiária,
limitada e necessária de bens jurídicos, que denota o modelo punitivo idealizado e amplamente
almejado pela sociedade democrática e industrial de fins do século XX, a que expressivas
vertentes da dogmática jurídica e do espaço político esforçam-se em preservar, fazendo-o ainda
mais transparente e incisivo nos primeiros anos do século XXI. Sobre o assunto, giza Feldens
que, “passados quase dois séculos de contínua reflexão, a teoria do bem jurídico mantém-se
como um elemento essencial e determinante na formatação do Direito Penal contemporâneo”.1
Esses bens culturais e sociais são vistos como fatos, objetos e situações que encarnam
valores singulares e coletivos consensualmente notados e recepcionados pela comunidade.
Aludidos bens são elevados à condição de bens jurídicos quando se exprimem em
realidades valiosas que, por suas características, hoje, são estimados – inclusive na maioria dos
países, em enunciados expressos em suas Constituições – como carecedores e adequáveis à
proteção do Direito. E serão bens jurídico-penais quando, uma vez estando devidamente
observados os pressupostos de intervenção mínima, fragmentariedade e evidente
indispensabilidade, vistos como necessitados da gestão tutelar mais emblemática e eficaz do
Direito Penal.
Constitui paradigma que finca seus alicerces nos pensamentos filosófico, jurídico e
político ocidentais, sedimentados no século XVII, e que ficou expresso no racionalismo
cartesiano, na doutrina jurídico-política do século XVIII e nas direções antropocêntricas e
humanistas que, ao vencerem obstáculos e instantes de inquietudes e de retrocessos, acabaram
por inspirar os movimentos em prol dos direitos humanos e das prerrogativas fundamentais,
que marcaram o século XX. Sobre o aqui exposto, sublinha Sarlet que:
em que pese sejam ambos os termos (“direitos humanos” e “direitos fundamentais”)
comumente utilizados como sinônimos, a explicação corriqueira e, diga-se de
passagem, procedente para a distinção é de que o termo “direitos fundamentais” se
aplica para aqueles direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do
direito constitucional positivo de determinado Estado, ao passo que a expressão
“direitos humanos” guarda relação com os documentos de direito internacional, por
referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal,
independentemente de sua vinculação com determinada ordem constitucional, e que,
1 FELDENS, Luciano. A Constituição Penal: A dupla face da proporcionalidade no controle de normas penais.
Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 44.
16
portanto, aspiram à validade universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte que
revelam um inequívoco caráter supranacional (internacional).2
No espectro particularmente jurídico-penal, a filiação mais ostensiva desse modelo pode
ser verificada no iluminismo penal, cujas diretivas mais expressivas são precisamente aquelas
atinentes à intervenção mínima, à tarefa exclusivamente protetiva e acessória do Direito
Criminal e à sua feição estritamente secular.
Quanto a esse último atributo, cabe recordar que a história do Direito Penal moderno é
sinalizada pela seguinte significativa alteração de rumo: do crime, antes contemplado como
pecado, para o delito engendrado como um episódio ofensivo à sociedade; da reprimenda das
condutas humanas e até de singelas atitudes subjetivas, enquanto pretendidamente
transgressoras da lei divina ou de preceitos morais, às coibições exclusivamente circunscritas a
comportamentos de manifesta lesividade a bens individuais ou coletivos. Apoiada na teoria da
proteção de bens jurídicos, a tese aqui iniciada almeja, como um dos seus pontos, perscrutar os
desdobramentos da configuração atual do postulado penal da ofensividade, sob o especial cotejo
com os crimes omissivos impróprios, em suas possíveis manifestações no sistema jurídico
brasileiro.
Consoante a lição de D’Avila, um dos doutrinadores que constitui nosso referencial
teórico, para a produção da investigação em curso e que aborda todas as questões supraexpostas,
já não se encontra aludida categoria da ofensividade vinculada apenas à visão estrita do
princípio do nullum crimen sine iuria, assentada exclusivamente na noção do dano, de tal forma
que, em uma modelagem moderna, “a lesão ao bem jurídico e o perigo ao bem jurídico,
entendidos como resultados prejudiciais ao bem jurídico produzidos pela ação descrita no tipo,
são formas/espécies de ofensividade”.3
De outra parte, os empreendimentos com vistas à consecução de uma composição
apaziguadora, ponderada e justa da vida social, de um arcabouço normativo equitativo e eficaz
que resguarde os direitos fundamentais e venha a refrear a prepotência despótica e o desmedido
alvedrio, com repercussões também no espectro do exercício punitivo do Estado, foram
germinando e permitindo vislumbrar uma ruma de diretivas comuns e de parâmetros de
avaliação e de crítica que devem orientar e circunscrever a atuação estatal, inclusive no que
2 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2001,
p. 33. 3 D’AVILA, Fabio Roberto. Liberdade e segurança em Direito Penal. O problema da expansão da intervenção
penal. In: POZZEBON, Fabrício Dreyer de Ávila; ÁVILA, Gustavo Noronha de (Orgs.). Crime e
interdisciplinariedade. Estudos em homenagem à Ruth M. Chittó Gauer. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2012, p.
282.
17
tange ao desempenho do seu poder de sancionar. São os princípios gerais do Direito, aos quais
se refere, explícita ou implicitamente, nossa Constituição Federal, em uma série de seus
compartimentos, de modo mais enfático, em seus arts. 1º e 5º.
Os princípios fundamentais representam, de acordo com Freitas, “os critérios ou as
diretrizes basilares do sistema jurídico, que se traduzem como disposições hierarquicamente
superiores – do ponto de vista axiológico – às regras, sendo linhas mestras de acordo com as
quais se guiará o intérprete quando se defrontar com as antinomias”.4 Este estudo pretendeu
problematizar, como um de seus pontos, a maneira pela qual os princípios constitucionais têm
sido violados no âmbito do sistema penal, no setor dos crimes omissivos, de modo particular,
na modalidade omissiva imprópria. Utilizou-se, para tanto, a perspectiva geral da Filosofia do
Direito Constitucional de se enfatizar noções de princípios, regras e garantias constitucionais
não como instâncias sinônimas. Lembra, a propósito do aqui programado, Saavedra, que:
a corrente que aborda o tema da separação entre princípios e regras a partir dos estudos
de Dworkin e Alexy tende a fazer uma distinção forte entre princípios e regras
constitucionais. Os princípios se distinguiriam das regras principalmente pela sua
forma de aplicação: enquanto que as regras seriam aplicáveis à maneira tudo-ou-nada
(all-or-nothing-fashion), os princípios teriam uma aplicação gradativa, em que o peso
específico seria determinado no caso concreto. Os princípios, portanto, comportariam
ponderação, sendo que as regras seriam aplicáveis através do método da subsunção.5
Procurou-se, portanto, com relação a tal proposição esboçada, desenvolver aludidas
reflexões no tocante aos crimes omissivos impróprios, examinando, de forma crítica, as fontes
de garantidor contempladas no Código Penal brasileiro e o tipo-de-ilícito como um todo,
concernente aos citados delitos. Pretendeu-se, por conseguinte, empreender opções
hermenêuticas e propostas de reformas legislativas com vistas à fixação de instrumentos de
contenção do amplo espectro punitivo que atualmente está a dispor do Estado, na sistemática
normativa, presentemente vigente no Brasil, no pertinente a tais modalidades comportamentais
de infrações penais.
Para tanto, fez-se um diagnóstico preciso das possíveis transgressões, no campo da
disciplina normativa tipológica dos crimes omissivos impróprios no Brasil, aos princípios da
legalidade, da taxatividade, da ofensividade, da fragmentariedade e da intervenção mínima, de
4 FREITAS, Juarez. A Interpretação Sistemática do Direito. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 272. 5SAAVEDRA, Giovani Agostini. Primeiras reflexões acerca da distinção entre princípios e regras constitucionais
do processo penal. Boletim Informativo do Instituto Brasileiro de Direito Processual Penal (IBRAPP), Ano
1, n.01, 2011/2, p. 17. Mais detalhes sobre as ideias de Dworkin e de Alexy em: SAAVEDRA, Giovani Agostini.
Jurisdição e democracia: uma análise a partir das teorias de Jürgen Habermas, Robert Alexy, Ronald Dworkin e
Niklas Luhmann. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006, p. 15-163.
18
situações contempladas tanto no Código Penal como, também, nas diversas leis especiais, em
que são encontradas distintas e possíveis formas de manifestação dessa espécie infracional,
quando em cotejo com a norma de extensão do art. 13, §2º, da Parte Geral do diploma criminal
em vigência.
Cabe reconhecer – e esta tese aqui esquematizada empenhou-se em bem distinguir essas
hipóteses – que, muitas vezes, tais afastamentos do tratamento normativo da omissão imprópria
dessas diretivas impreteríveis de um sistema jurídico-penal vinculado a um Estado de Direito
não decorrem da vontade expressa e sagaz do legislador, com a pretensão de contrapor-se a
esses postulados, mas sim de substanciais hiatos e inexatidões técnicas que, posteriormente,
submetidos a um processo interpretativo não muito acurado, podem arrastar a matéria para
inarredáveis distanciamentos dessas exigências a que o Direito Penal deve estar
incessantemente subjugado. Como forma de mitigar referidas contraposições na fase da
aplicação judicial da lei, pretende-se ratificar a proposta de Freitas no sentido de que o
magistrado venha a:
posicionar-se de modo transdogmático, na busca de um sistema jurídico aberto,
epistemologicamente, à sociedade que, em regra, deslegitima os logicismos formais
de todas as correntes positivistas que desprezam os princípios fundamentais,
garantidos e assegurados na própria Constituição.6
Em tal contexto, a tese aqui iniciada ambicionou compor uma análise dos crimes
omissivos impróprios não sob uma visão estritamente silogística-conceitual – em uma
perspectiva isolada de um estrito legalismo –, mas sim mediante um procedimento em sintonia
com a Constituição Federal e os direitos e as garantias fundamentais, isto é, uma concepção
intermediária entre uma posição vazia e formal do normativismo positivista e o acentuado
instrumentalismo preconizado pelas construções de ordem funcionalista. Desejou-se, assim,
confeccionar uma tese que apresentasse íntimas relações com a visão do jurisprudencialismo
de Neves, diretriz orientada por uma perspectiva polarizada no homem-pessoa:
6 FREITAS, Juarez. A Substancial Inconstitucionalidade da Lei Injusta. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1989,
p.107. Sobre o tema, no que diz respeito mais diretamente ao Direito Penal, assinala com propriedade D’Avila:
“no estado atual da ciência, não se pode mais pensar em direito penal como um mero sistema silógico-formal, nos
limites estreitos de uma perspectiva positivista. Não se pode pensar que princípios como o nullum crimen sine
lege, o nullum crimen sine culpa, o nullun crimen sine iniuria, bem como os critérios axiológicos gerais de
exclusão da ilicitude e da culpabilidade, entre tantos outros, estão fora do direito penal. Esses valores,
originalmente de política criminal, concretizam-se, ao longo da história, em normas penais e constitucionais. Eles
são hoje princípios constituintes da própria dogmática penal e constitucional. Aliás, eles não só constituem a
dogmática penal como conferem identidade e autonomia, em termos de orientação axiológica, ao próprio direito
penal” (D’AVILA, Fabio Roberto. Liberdade e segurança em Direito Penal. O problema da expansão da
intervenção penal. Op. Cit., p. 280-281).
19
em que o direito, como uma normatividade axiologicamente fundada, é assumida por,
e está directamente ao serviço de uma prática pessoalmente titulada e historicamente
concreta, prática dinamizada pelas controvérsias também prático-concretas, mas cuja
intencionalidade capital é a realização nessa prática e através dela, como básica
condição mediadora, do homem-pessoa convivente e assim do homem no “seu
direito” e no “seu dever ou na sua responsabilidade”.7
Nessa linha de vinculação dos setores normativo e constitucional, esta tese adotou, no
âmbito da dogmática criminal, como matriz conceitual nuclear, a compreensão
ontoantropológica do Direito Penal expressa na ideia basilar do ilícito penal como ofensa a bens
jurídicos, edificada, sobretudo, por Faria Costa, e tão bem-agasalhada e aperfeiçoada, no Brasil,
por D’Avila, orientação que está formatada – em breve síntese:
no reconhecimento de uma teia de cuidados recíprocos que estrutura o ser comunitário
e cuja ressonância em âmbito normativo-dogmático resulta, em assumida oposição a
elaborações funcionalistas e conseqüencialistas, no reposicionamento do ilícito
(Unrecht) para o centro da proposição normativa e do debate penalístico acerca da
validade das leis penais.8
Para Faria Costa, o Direito Penal tem como principal função defender ou proteger bens
jurídicos que tenham dignidade penal, ainda, devendo ser agregadas, de forma complementar,
as tarefas consistentes na garantia, na segurança e na coesão, sendo que “todas elas visam, não
só o livre desenvolvimento da personalidade humana, mas de igual modo à normal expansão e
concretização dos interesses e valores da comunidade”.9 Nesse contexto, foi intenção observar
a advertência feita por Sporleder de Souza no sentido de que “embora sendo o meio
sociocultural sua fonte inspiradora, cabe ainda frisar que estes valores, para se converterem em
legítimos bens jurídico-penais, além da sua eventual justiça ou bondade, devem ainda possuir
uma relação de ‘analogia material’ com a Constituição”.10 Pois a tese aqui arquitetada procurou
guiar-se pelas funções supraestipuladas para o Direito Penal, visto que elas norteiam toda a
7 NEVES, António Castanheira. Entre o “legislador”, a “sociedade” e o “juiz” ou entre “sistema”, “função” e
“problema” – modelos actualmente alternativos da realização do direito. In: SILVA, Luciano Nascimento
(Coord.). Estudos Jurídicos de Coimbra. Curitiba: Juruá, 2007, p. 244. 8 D’AVILA, Fabio Roberto. Ofensividade em Direito Penal. Escritos sobre a teoria do crime como ofensa a
bens jurídicos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 36. Wedy igualmente adota, de forma destacada, no
Brasil, a linha ontoantropológica de Faria Costa: “um pensamento que acolhemos não como uma interesseira
comodidade acadêmica, mas como sentida e vívida convicção de valores. Mas uma convicção, é bom que se diga,
não reacionária ou ortodoxa, mas aberta à crítica e ao mundo da vida” (WEDY, Miguel Tedesco. A eficiência e
sua repercussão no direito Penal e no processo penal. Porto Alegre: Elegantia Juris, 2016, p. 28). 9 COSTA, José de Faria. Noções fundamentais de Direito Penal (Fragmenta iuris poenalis). Coimbra: Coimbra
Editora, 2009, p. 24. 10 SOUZA, Paulo Vinicius Sporleder de. Bem jurídico-penal e engenharia genética humana. Contributo para
a compreensão dos bens jurídicos supra-individuais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p. 380.
20
abordagem conceitual que se pretenda imprimir para os crimes omissivos impróprios na
sistemática jurídica brasileira, assim, fornecendo, proposições de lege ferenda e subsídios
teóricos para rechaçar as violações aos princípios e às garantias fundamentais que têm sido
presenciadas nas expressões dessas espécies delituosas.
Evidencia-se que esses gravames aos mencionados princípios na seara dos crimes
omissivos impróprios tendem a acentuarem-se nesta fase contemporânea de soerguimento dos
sistemas punitivos das diferentes nações, subsumidas em uma conjuntura mundial caracterizada
pela globalização, pelas incertezas, pela velocidade atroz e pela medrança dos riscos. Nesse
cenário, inequivocamente, pode-se aperceber progressiva tendência de enervação da
intervenção estatal nas esferas da definição dos tipos-de-ilícito, de modo particular, na
proliferação de um erguimento dilatável das fontes do dever jurídico de atuar com vistas a
obstaculizar a ocorrência de eventos de feição omissiva imprópria.
Há, naturalmente, toda uma cognoscível inter-relação de fatores vinculados a essa
manifestação de hiperplasia quantitativa e qualitativa do Direito Penal como um todo, mas, cabe
aqui registrar a presença, sempre fortalecida, do movimento de neocriminalização que, mesmo
em uma etapa marcada pelo ideal descriminalizador, como representou o período do
racionalismo-iluminismo, não deixou de mostrar a sua expressão, como foi, por exemplo, no
âmbito dos crimes patrimoniais. Agora, mais recentemente e de forma aguçada, sua energia está
em maior evidência em decorrência das contundentes transformações tecnológicas,
econômicas, sociais, políticas e culturais.11
Lembram Garapon e Papadopoulos, a propósito do tema, que “o ressurgimento do
retribucionismo na cena intelectual norte-americana coincidiu com o restabelecimento da pena
de morte e o início de um processo que levou ao aumento das penas, à superpopulação carcerária
e à redução da competência dos tribunais de menores”.12
Essa nova postura de política criminal, todavia, não vem tendo um resultado satisfatório
na meta de tentar conter o panorama de elevação dos índices da delinquência. Ao contrário, as
últimas décadas do século passado e os dias presentes são sinalados por perene e, em alguns
casos, quase insistente inquietude coletiva com respeito à criminalidade. O crescimento
11 Cf. DIAS, Jorge de Figueiredo; ANDRADE, Manuel da Costa. Criminologia. O homem delinquente e a
sociedade criminógena. Coimbra: Coimbra Editora, 1997, p.434-441. 12 GARAPON, Antoine; PAPADOPOULOS, Ioannis. Julgar nos Estados Unidos e na França. Cultura Jurídica
Francesa e Common Law em uma Perspectiva Comparada. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008, p. 232.
21
sucessivo de infrações penais e o aparecimento de expressões inauditas, perniciosas e atrozes
de crimes constituem a realidade nitidamente percebida pela sociedade.13
Como bem enfatiza Ruth Gauer:
a tradição ocidental manifesta-se hoje como uma consequência do processo de
racionalização, que iniciou em fins do século XVIII, e é caracterizada por ser uma
“civilização legal”. No entanto, toda a legislação moderna que tenta coibir a violência
não tem alcançado seus objetivos. A língua geral da lei parece não ecoar na violência
da sociedade contemporânea. É como se fosse uma visitante recém-chegada a uma
cidade que desconhece totalmente o seu significado.14
Ademais, para reforçar o cenário de preocupações, registra Pozzebon, na esteira do
mesmo assunto:
vivemos em uma nova complexidade social, em que os valores de Estado, os
costumes, enfim as instituições e cultura humanas estão em profunda crise. Como na
obra de Edgar Morin, convivemos em uma sociedade perplexa diante de uma
realidade dúctil e, portanto, em busca de valores. E a velocidade dos fatos sociais,
como é óbvio, não consegue ser acompanhada pelo Direito que, paradoxalmente,
oferece um arsenal de dispositivos legais estáticos para acompanhar uma realidade em
constante movimento e mutação.15
Televisão, jornais, literatura, cinema e mídia em geral têm feito das infrações penais
temas prediletos para suas interposições, o que se explica tanto pela relevância própria do
assunto quanto porque ele mantém permanentemente afeiçoados cativos leitores, espectadores
e ouvintes.16 Nesse horizonte, adverte Giacomolli, “a banalização e a generalização do crime
(julgamento da mídia) passaram a exigir o aparecimento público de símbolos de força e de
poder, capazes de evitar o crime e diminuir o medo, que, na realidade, personificou-se em uma
entidade ‘medo do medo’”.17 Por outra parte, a impressividade e o avassaladoramente
contagiante poder de espargimento e convencimento desses meios são de tal magnitude, que se
13 Sobre os temas aqui expostos, citamos o seguinte autor que muito nos inspirou para a apresentação geral aqui
exibida na introdução da presente investigação: SOUSA, Alberto Rufino Rosa Rodrigues de. Perspectivas do
moderno Direito Penal. In: PARQUET: Relatório Anual da Fundação Escola do Ministério Público. Porto Alegre:
FESMP, 1993, p. 130-177; SOUSA, Alberto Rufino Rosa Rodrigues de. Bases Axiológicas da Reforma Penal
Brasileira. In: GIACOMUZZI, Vladimir (Org.). O Direito Penal e o Novo Código Penal Brasileiro. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris, 1985. p.19-49. 14 GAUER, Ruth M. Chittó. Alguns aspectos da fenomenologia da Violência. In: GAUER, Ruth M. Chittó;
SAAVEDRA, Giovani Agostini; GAUER, Gabriel J. Memória, Punição e Justiça. Uma abordagem
interdisciplinar. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, p. 75. 15 POZZEBON, Fabrício Dreyer de Ávila. Mídia, Direito Penal e Garantias. In: GAUER, Ruth Maria Chittó (Org.).
Criminologia e Sistemas Jurídico-Penais Contemporâneos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2008, p, 359. 16 Cf. SOUSA, Alberto Rufino Rosa Rodrigues de. Perspectivas do moderno Direito Penal. Op. Cit., p. 130-177. 17 GIACOMOLLI, Nereu José. A fase preliminar do processo penal. Crises, misérias e novas metodologias
investigatórias. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011, p. 10.
22
pode referir que qualquer pessoa, hoje, mesmo aquela que não tenha vivido a experiência
pessoal e direta da violência, estará, todavia, sujeita a senti-la, não meramente como realidade
provável e remota, mas como dado palpável e penoso de sua circunstância individual.18
Assinalou, a propósito, Ramonet, que “esta concepção da informação leva a um doloroso
fascínio pelas imagens 'transmitidas ao vivo', por eventos palpitantes, por cenas violentas e
notícias sangrentas de jornal”.19 Dita percepção direta da violência está facilitada pelo
desenvolvimento dos meios de telecomunicação instantâneos e interativos, da videoscopia, da
informática telemática, que permitem às pessoas, mesmo em um estado de confinamento no lar
e de inércia no interior dos seus domicílios, o despertar de uma telerrealidade presente, em
tempo real, assim, ensejando, o estabelecimento de um novo espaço-tempo. Tais fatores, como
bem-relatado por Virilio, que acarretam a interface instantânea e a circunstância de que tudo
acontece sem que haja a necessidade de partir, em uma verdadeira era da imobilidade e da
inércia domiciliária, fazem com que “na nossa vida quotidiana e banal, passamos do tempo
extensivo da história ao tempo intensivo de uma instantaneidade sem história, possibilitada
pelas tecnologias do momento” (grifo no original).20
Todo esse panorama contribui para a tonificação da direção da lei e ordem, orientação
que parte de uma política punitiva segundo a qual é mais fácil acolher a diretiva de um Direito
Penal simbólico, com a elaboração de leis desarrazoadas, penas desproporcionais e uma política
criminal de encarceramento sagaz, do que buscar um plano eficaz de combate à delinquência.21
Por sua vez, mas não desvinculado das digressões expostas até aqui, o sociólogo Beck
tem minudentemente retratado a, por ele designada, sociedade de risco (Risikogesellschaft) ou
sociedade dos riscos. Esclarece Beck que:
este concepto designa una fase de desarrollo de la sociedad moderna en la que a través
de la dinámica de cambio la producción de riesgos políticos, ecológicos e individuales
escapa, cada vez en mayor proporción, a las instituciones de control y protección de
la mentada sociedad industrial.22
18Cf. SOUSA, Alberto Rufino Rosa Rodrigues de. Perspectivas do moderno Direito Penal. Op. Cit., p. 165-166. 19 RAMONET, Ignacio. A tirania da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 133. 20 VIRILIO, Paul. A inércia polar. Lisboa: Dom Quixote, 1993, p. 44. 21 Cf. LOPES JÚNIOR, Aury. Introdução Crítica ao Processo Penal (Fundamentos da Instrumentalidade
Garantista). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2004, p. 16; SILVA SÁNCHEZ, Jesús-María. A Expansão do Direito
Penal. Aspectos da política criminal nas sociedades pós-industriais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002,
p. 24; SAAVEDRA, Giovanni Agostini; VASCONCELLOS, Vinicius Gomes de. Expansão do direito penal e
relativização de seus fundamentos. In: POZZEBON, Fabrício Dreyer de Ávila; ÁVILA, Gustavo Noronha de
(Orgs.). Crime e interdisciplinariedade. Estudos em homenagem à Ruth M. Chittó Gauer. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2012, p. 251-271. 22 BECK, Ulrich. Teoría de la Sociedad del Riesgo. Teoría de la sociedad del riesgo. In: GIDDENS, A. et al. Las
Consecuencias Perversas de la Modernidad. Barcelona: Antropos, 1996, p. 201. Ver também: BECK, Ulrich.
La sociedad del riesgo global. Madrid: Siglo Veintiuno, 2002, p. 1-290.
23
Trata-se, portanto, de noção intricada, com diversas diretivas e vinculada aos temas da
globalização e da chamada “modernidade tardia”, expressão cunhada por Garland23, alusiva às
grandes vicissitudes econômicas, sociais, culturais e políticas que foram efetuadas em grande
escala a partir da segunda metade do século XX, em que estão presentes, como menciona Gauer,
“a crise do individualismo, a velocidade e a crise de valores”.24
Referidos fatores promovem profundos reflexos nos domínios do Direito Penal, pois,
em tal conformação de uma sociedade, os riscos revelam nova etapa da vida social singularizada
por significativas mudanças também no quadro delinquencial, com a execução de condutas que
afetam bens jurídicos predominantemente supraindividuais, cujas modulações, muitas vezes,
não são adaptáveis às tradicionais categorias dogmáticas existentes, assim, transbordando, os
confins de suas diretrizes e seus conceitos.25
Perante tal panorama hodierno, caracterizado por grandes complexidades nas matérias
criminais, os sistemas punitivos abandonam os postulados etiológicos da criminologia de feição
positivista e inclinam a política criminal para um modelo que venha a tentar fornecer uma
solução efetiva e imediata para o grave problema do fenômeno criminal, para tanto, optando
pela adoção ou de uma linha mais radical, nos moldes de um Direito Penal do inimigo, ou do
acolhimento de um idealismo de cunho retribucionista. “Estas circunstâncias” – ressalta
Azevedo:
trazem como conseqüência, no âmbito do controle penal, a inflação penal e o processo
penal de emergência, que visam à adaptação do sistema às novas necessidades de
controle social. Para tanto, passa-se a questionar os princípios jurídicos do direito
23Cf. GARLAND, David. La cultura del control. Crimen y orden social en la sociedad contemporánea.
Barcelona: Gedisa, 2005, p. 140-141. 24 GAUER, Ruth Maria Chittó. A Fundação da Norma: para além da racionalidade histórica. Porto Alegre:
EDIPUCRS, 2001, p. 143. 25 Veja-se, como uma dessas novas manifestações, a atual e complexa questão do delineamento dos delitos
cibernéticos, tema tratado, com precisão, por exemplo, na obra coletiva organizada por Ilha da Silva (Cf. SILVA,
Ângelo Roberto Ilha da. Crimes Cibernéticos. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2017, p. 5-270). Ressalta-se,
da mesma forma, aqui, os arrevesados assuntos dos efeitos jurídico-penais acerca das intervenções biomédicas e
da engenharia genética humana, examinados, por exemplo, com exatidão, por Sporleder de Souza (Cf. SOUZA,
Paulo Vinicius Sporleder de. Bem jurídico-penal e engenharia genética humana. Contributo para a
compreensão dos bens jurídicos supra-individuais. Op. Cit., 23-438; Idem. Direito Penal Médico. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2009, p. 13-149; Idem. Direito penal genético e a lei de biossegurança (Lei
11.105/2005): comentários sobre crimes envolvendo engenharia genética, clonagem, reprodução assistida, análise
genômica e outras questões. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2005, p. 11-139.). Sobre a matéria, cabe
verificar, ainda, as importantes considerações de Costa Andrade (Cf. ANDRADE, Manuel da Costa. Direito Penal
Médico: SIDA: testes arbitrários, confidencialidade e segredo. São Paulo: Revista dos Tribunais; Portugal:
Coimbra Editora, 2008, p. 9-268).
24
penal clássico, pois estes teriam deixado de ser úteis e adequados, uma vez que não
garantem um eficiente controle social na modernidade tardia.26
As repercussões dessa engrenagem e as tendências do Direito Penal são sentidas
diretamente com relação ao inquietante fenômeno do farto campo de hipóteses de incidência
dos crimes omissivos impróprios, acarretando um conjunto de incertezas na conformação da
correspondente categoria do tipo-de-ilícito.
Com real preocupação quanto aos novos rumos do sistema punitivo, ressalta D’Avila,
com propriedade, que:
a ampliação do direito penal secundário, com o surgimento de novos espaços, cada
vez mais complexos, de intervenção jurídico-penal, tem levado a um progressivo
distanciamento do ilícito penal em relação aos vínculos objetivos que implicam o
reconhecimento da ofensividade como elemento de garantia. Mas não só. Tem
conduzido a um esfumaçamento dos valores tutelados, a uma perda de densidade tal
que o bem jurídico passa a movimentar-se em um espaço de total indiferença em
relação a meros interesses de política-criminal, incapaz de atender a uma qualquer
pretensão de concretização. O bem jurídico perde o seu caráter crítico e a
ofensividade, o lugar primeiro na constituição do ilícito.27
Frente a tais aguilhoadas e diante dessas acentuadas antinomias entre o adorno
conceitual e as particularidades inusitadas e incalculáveis, registradas na matéria que a
dogmática penal se propõe a conformar e definir, com evidentes desassossegos também nos
intentos de garantia que ela busca granjear, várias opções teóricas são aventadas.28 Uma
26 AZEVEDO, Rodrigo Ghirighelli de. Sociologia e Justiça Penal. Teoria e prática da pesquisa
sociocriminológica. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010, p. 155-156. Sobre o tema, sublinha, com clareza,
Saavedra: “de fato, os temas da segurança pública, do sistema prisional, do direito penal e processual penal têm
ocupado espaço de destaque em todos os âmbitos da esfera pública, mas, infelizmente, esse crescimento da
importância do tema não tem sido acompanhado por uma reflexão crítica adequada. Pelo contrário, na
Criminologia, tem-se identificado o ressurgimento de uma ‘Cultura do Punitivismo’ e, no âmbito da dogmática
penal, fala-se em ‘Expansão do Direito Penal’. Infelizmente, parece que, cada vez mais, o Direito Penal tem sido
compreendido acriticamente como instrumento imprescindível de concretização de políticas públicas e proteção
de bens jurídicos. Essa situação tem gerado, como salientou Zaffaroni, ‘estados depressivos inevitáveis’” (grifo no
original) (SAAVEDRA, Giovani Agostini. Sociabilidade vs. Violência: pressupostos filosóficos e psicanalíticos
de uma teoria crítica da punição e da justiça. In: GAUER, Ruth M. Chittó; SAAVEDRA, Giovani Agostini;
GAUER, Gabriel J. Memória, Punição e Justiça. Uma abordagem interdisciplinar. Porto Alegre: Livraria do
Advogado, 2011, p. 103). 27 D’AVILA, Fabio Roberto. Ofensividade em Direito Penal. Escritos sobre a teoria do crime como ofensa a
bens jurídicos. Op. Cit., p. 57. 28Afora outras questões, tratamos, inicialmente e de forma mais detalhada, do referido ponto acerca das vias
teóricas para o enfretamento das formas de expressão em geral da delinquência, as linhas de política criminal em
cotejo com as distintas diretivas sugeridas como finalidades da pena em nossa dissertação de Mestrado,
apresentada no Programa de Pós-Graduação em Ciências Criminais, da Escola de Direito, da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, sob a orientação do Prof. Dr. Aury Lopes Júnior, que compôs a banca
com os professores Dr. Ingo Sarlet e Dr. Salo de Carvalho. Cf. SOUSA, Daniel Brod Rodrigues de Sousa. Crise
e Refundação do Direito Penal. 2004. Dissertação (Mestrado em Ciências Criminais) - Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2004, p. 1-383. Sobre as dificuldades de se fixar a imputação da
responsabilidade criminal no âmbito das organizações complexas do mundo atual, cita Vélez a presença de um
25
vertente patrocina a ideia de que o Direito Penal, ainda que frente aos patenteados reveses e
contundentes impasses aglutinados aos desvelos de emprego de seu engenho conceitual a
matérias tão ímpares, não pode declinar sua atuação disciplinar sobre essas modalidades
inusuais de condutas ofensivas. Defende-se, assim, ao contrário, o impreterível mister de uma
performance mais efusiva do sistema penal, visto que o seu retraimento se efetuaria em prejuízo
das indispensáveis ambições individuais e grupais acometidas por essa forma de expressão da
delinquência. Alguns propõem como empreendimento para lidar com a referida questão a
adoção de uma direção teleológica e funcionalizada, que estruture as categorias analíticas do
fato punível tendo por fulcro ou as finalidades do sistema jurídico, como é o caso da orientação
do funcionalismo moderado de Roxin29, ou tendo por substrato as funções conferidas ao Direito
repressivo e às penas de obrarem como mecanismos contrafáticos de corroboração da ordenação
social concreta enternecida pela prática da infração penal, tal como se verifica, de modo
especial, no funcionalismo extremado de Jakobs.30 Já os apreciadores do ponto de vista
minimalista e garantista do Direito, por um lado, hesitam em afirmar que a postulada ingerência
do Direito Penal, em temática que, segundo referem, na verdade, refoge ao espectro de sua
aptidão e de suas singularidades, possa, ao final, efetivamente, proporcionar um rendimento
bem-sucedido no escopo do alcance da estabilidade coletiva. Por outro lado, exprimem
desconfianças de que essa interpretação, um tanto quanto distante do formalismo clássico, só
coopera para semear assombros e ambiguidades no tocante aos conceitos tradicionais do Direito
Penal, cujo cabedal teórico se apresenta como imperioso para acondicionar um ordenamento
jurídico que autenticamente resguarde o acervo de garantias fundamentais. O que então se
inculca com vistas a remediar o absentismo do Direito Penal nos aludidos espaços em que ele
não está afinado para intervir vem a ser o advento de sistemas normativos paralelos e
complementares, como, por exemplo, o chamado Direito de Intervenção (Interventionsrecht),
conflito entre duas tendências, vinculadas a diferentes formas de se visualizar o Direito Penal: “por un lado, existe
la tendencia que conlleva casi siempre a una ampliación del ámbito de punición al considerar que el Derecho penal
‘tradicional’ resulta no apto, por los límites que impone, para abarcar determinadas conductas. Por tal razón se
pretende el replanteamiento de los principios limitadores del poder punitivo y la transformación o incluso
supresión de las categorias ‘clásicas’ de atribución de responsabilidad. Por otro lado está la tendencia que considera
que estas categorías son adecuadas para tratar los nuevos fenómenos de criminalidad, y aboga por su conservación
y por el respeto a las garantías y princípios básicos del Derecho penal” (VÉLEZ, Susana Escobar. La
responsabilidad penal por produtos defectuosos. Valencia: Tirant lo blanch, 2012, p. 153). Também
concernente ao tema: FERNANDES, Paulo Silva. Globalização, “sociedade de risco” e o futuro do Direito
Penal. Parnorâmica de alguns problemas comuns. Coimbra: Almedina, 2001, p. 13-127; WEDY, Miguel
Tedesco. A eficiência e sua repercussão no direito Penal e no processo penal. Op. Cit., p. 25-422. 29 Por exemplo: ROXIN, Claus. Estudos de Direito Penal. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p. 1-239. 30Como: JAKOBS, Günther. Fundamentos do Direito Penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012, p. 13-174.
26
cunhado por Hassemer31; a proposição de Figueiredo Dias32, de um Direito Penal secundário,
situado entre o Direito Penal tradicional ou de justiça e o Direito Administrativo e, ainda, a
construção de Palazzo33, que menciona o denominado sistema jurídico satelitário, núcleo em
que estariam abarcados o Direito Penal tradicional, com o resguardo de todos os clássicos
instrumentos substantivos e processuais de garantia; o Direito sancionatório jurisdicionalizado,
com uma programação de aguda flexibilização das categorias definidoras e dos instrumentos
assecuratórios, porquanto um compartimento que estaria apto ao enfrentamento da
criminalidade inerente à sociedade pós-moderna; e, por fim, o Direito Administrativo. Cabe
registrar, também, o expediente indicado por Silva Sánchez34, ao referir-se a um Direito Penal
de duas velocidades, sendo que o de primeira velocidade, encarnado pelo Direito Penal histórico
e canalizado, sobretudo, à proteção dos bens jurídicos pessoais, mas, de igual modo, daqueles
de feição supraindividual, tudo estando sedimentado, fundamentalmente, na utilização da pena
de prisão; e o Direito Penal de segunda velocidade, grifado pelo pujante abrandamento da
rigidez formal das categorias e noções que o coordenam e, com efeito, concentrado ao trato das
condutas concernentes às novas expressões da criminalidade. Assinala-se, por fim, que,
posteriormente, Silva Sánchez passou a apontar um eventual e possível Direito Penal de terceira
velocidade, talhado para o enfrentamento com os inimigos da civilização, uma estirpe de Direito
de Guerra, e que ficou expresso em iniciativas de oposição à delinquência de Estado ou de
governo, representado pelas manifestações excessivamente arbitrárias, bem como de
expressões de criminalidade organizada.35
Diante desse cenário, o presente estudo almejou fazer uma apreciação envolvendo
especificamente a conformação analítica dos crimes omissivos impróprios em seu amplo campo
de atuação, enfatizando, de modo particular, seu tratamento normativo e dogmático no Direito
Penal brasileiro, para, ao final, esboçar um modelo que julgamos como o mais indicado para
31 Cf. HASSEMER, Winfried. Persona, Mundo y Responsabilidad. Bases para una teoría de la imputación
en derecho penal. Valencia: Tirant lo Blanch, 1999, p. 67-73. 32 Cf. DIAS, Jorge de Figueiredo. Para uma Dogmática do Direito Penal Secundário. In: CORREIA, Eduardo et
al. Direito Penal Econômico e Europeu: Textos Doutrinários. Coimbra: Coimbra, 1998, p. 35-74. 33 Cf. PALAZZO, Francesco. Direito Penal e Sociedade Tecnológica: Princípios em Risco e Reformas Esperadas.
Fascículos de Ciências Penais, Porto Alegre, Ano 6, n. 1, v. 6, 1993, p. 36-46. 34 Cf. SÁNCHEZ, Jesús-María Silva. A Expansão do Direito Penal. Aspectos da política criminal nas
sociedades pós-industriais. Op. Cit., p. 136-151; Idem. Aproximación al Derecho Penal contemporáneo.
Barcelona: Bosch, 1992, p. 11-425. 35 Como se sublinhou, na já citada dissertação de mestrado, foram examinadas, de forma preliminar, essas possíveis
opções com o objetivo de depreender quanto ao rumo e ao múnus que estarão afetos ao Direito Penal diante desse
cenário atual de expressão da criminalidade. Cf. SOUSA, Daniel Brod Rodrigues de Sousa. Crise e Refundação
do Direito Penal. Op. Cit., p. 1-383.
27
orientar a mencionada forma de manifestação de comportamento delituoso, em termos de tipo-
de-ilícito.
A investigação intencionou, por conseguinte, apresentar detalhadamente a sistemática
dos crimes omissivos, com ênfase na subespécie dos omissivos impróprios em face de alguns
dos princípios fundamentais do Direito Penal, assim como explicitar as suas bases normativas
e dogmáticas.
Como se sabe, a doutrina tem definido a infração penal, que se manifesta no Brasil ou
na forma de crimes ou na modalidade de contravenções penais, como sendo a conduta a base
substantiva do fato punível, tendo ela, como predicados, as categorias da tipicidade, da ilicitude
e da culpabilidade. Tomaremos aqui o rumo da noção analítica de infração penal patrocinada,
sobretudo, por Faria Costa36 e D’Avila37, além dos significativos aportes de Figueiredo Dias38,
no tocante à sua moldura no caso da omissão imprópria, conforme veremos no transcurso deste
trabalho.
A realização típica pode ser exteriorizada mediante um comportamento ativo, hipótese
em que temos os chamados crimes comissivos, com exemplares de manifestação concreta e
com números consideravelmente elevados, ou, em outro formato, como um ato de abstenção de
uma ação que era devida e possível nas circunstâncias, situação caracterizada como
representativa de delitos omissivos, de presença bem mais restrita em comparação com os
primeiros.
É fato notório que, na dogmática penal, os crimes comissivos sempre despontaram em
termos de relevância de investigação em relação aos delitos omissivos. Dessa forma, está
plenamente justificado o desenvolvimento da tese aqui erigida, pois, como bem salienta
D’Avila:
não há dúvida, devemos reiterar, de que o incontestável déficit apresentado pela
dogmática dos delitos omissivos deve-se ao fato de ter continuamente ocupado um
lugar secundário em relação aos delitos comissivos. Como se fosse possível, a partir
dos estudos desta particular expressão delitiva, obter-se, quer por dedução, quer por
inversão, os elementos necessários também para uma justa resposta penal no âmbito
36 Principalmente: COSTA, José de Faria. O Perigo em Direito Penal (Contributo para a sua fundamentação
e compreensão dogmáticas). Coimbra: Coimbra Editora, 1992, p. 11-709; Idem. Noções Fundamentais de
Direito Penal. Op. Cit., p. 12-265; Idem. Ilícito típico, resultado e hermenêutica (ou o retorno à limpidez do
essencial). Revista Portuguesa de Ciências Criminais. Ano 12, v.1, p. 7-23, 2002. 37 Mormente: D’AVILA, Fabio Roberto. Ofensividade em Direito Penal: Escritos sobre a teoria do crime como
ofensa a bens jurídicos. Op. Cit., p. 15-127; Idem. Ofensividade e crimes omissivos próprios (Contributo à
compreensão do crime como ofensa ao bem jurídico). Coimbra: Coimbra Editora, 2005, p. 15-444. 38 Especialmente: DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Penal. Parte Geral. Tomo I. Questões Fundamentais. A
Doutrina Geral do Crime. São Paulo: Revista dos Tribunais e Coimbra Editora, 2007, p. 3-1061; Idem. Questões
Fundamentais do Direito Penal Revisitadas. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1999, p. 19-372.
28
dos tipos omissivos. A omissão, entretanto, não é uma forma que possa derivar do agir
nem o seu simples oposto. Mas simplesmente algo diferente, algo diverso, e, como
tal, deve ser estudado.39
O expansionismo dos mecanismos repressores, decorrente de uma política criminal
voltada para um Direito Penal máximo, e a introdução de novos bens jurídicos no sistema de
tutela punitiva – com a exigência de uma atuação mais abrangente do ordenamento criminal na
sociedade contemporânea – constituem-se em fatores que propiciaram uma natural
disseminação de hipóteses de expressões delituosas de natureza omissiva. Por consequência,
verificou-se, na Teoria do Crime, um movimento de investigação científica mais minuciosa
acerca da modalidade delituosa omissiva, como uma modelagem particular, distinta dos
pressupostos conceituais do tradicional crime comissivo. Nesse contexto, sublinha Silva
Sánchez que:
el problema de la punibilidad de las omisiones y, más en concreto, el de la posible
equiparación de algunas de ellas con las comisiones activas de delitos preocupa los
juristas desde la antigüedad. La discusión sobre el concepto de omisión como
problema juridicopenal es, sin embargo, un fenómeno mucho más reciente. Su inicio
debe situarse en el último tercio del siglo XIX, en pleno período de dominio del
causalismo naturalista en la dogmática penal alemana. (grifo no original)40
Em resumo, a nota diferencial entre os crimes comissivos e os delitos omissivos reside
em um aspecto normativo, pois, enquanto os primeiros violam normas proibitivas, os segundos
infringem normas de caráter preceptivo, imperativo ou mandamental, muito embora, no corpo
do trabalho, veremos outras direções distintivas ofertadas pela doutrina. Além disso, a
investigação aqui em exibição pretendeu avaliar se os crimes omissivos impróprios devem ter
a mesma carga sancionatória estampada em abstrato na legislação penal para os correlatos
delitos comissivos ou se cabe a incidência de uma minoração de pena, porquanto, fator que
ensejará a reflexão sobre se existe ou não uma equivalência de ofensividade entre as duas
espécies comportamentais.
A tese doutoral em tela apresenta a evolução dogmática dos crimes omissivos
impróprios no direito brasileiro e as suas principais implicações e orientações teóricas. Tal
tarefa envolve, naturalmente, a abordagem de alguns prolegômenos correlatos ao tema nuclear
39 D’AVILA, Fabio Roberto. A ação como conceito compreensivo do agir e omitir (linhas críticas ao conceito de
ação como Oberbegriff). In: FAYET JÚNIOR, Ney (Org.). Ensaios Penais em Homenagem ao Professor
Alberto Rufino Rosa Rodrigues de Sousa. Porto Alegre: Ricardo Lenz, 2003, p. 301. 40 SÁNCHEZ, Jesús-María Silva. El delito de omisión. Concepto y sistema. Montevideo: BdeF, 2010, p. 3.
29
e que necessariamente a investigação preliminarmente deverá percorrer. “No plano legislativo,”
– registra Tavares:
é preciso ressaltar que o Código brasileiro de 1830 (art. 2º, §1º), independentemente
da tipificação, já acolhia genericamente a omissão como modalidade de conduta
punível, ao enunciar seu conceito de delito como “toda ação ou omissão voluntária
contrária à lei penal”.41
São nítidas as repercussões da chamada sociedade do risco, o fenômeno da globalização,
o desenvolvimento da tecnologia e os movimentos neocriminalizadores como fatores de
desmedida e inquietante hipertrofia quantitativa e qualitativa do Direito Penal, de confecção de
tipos penais demasiadamente abertos, de suscitação de hipóteses de responsabilidade
estritamente objetiva e, ainda, de colossal ampliação da galeria dos bens jurídicos a serem
tutelados pelo sistema penal. Especificamente no pertinente aos crimes omissivos impróprios,
há toda uma preocupação com a proliferação do campo de possíveis situações de incidência
dessa modalidade, assim como no tocante à elasticidade e à dilação da noção de posição de
garante e a consequente precariedade da conformação do correspondente tipo-de-ilícito. A
propósito do tema, pondera Paschoal que:
a globalização e, consequentemente, a ideia de sociedade de risco têm imposto novos
deveres aos indivíduos, seja no âmbito social, seja no âmbito privado. Esses deveres
implicam novas posições de garantidor e, ato contínuo, permitem ao Estado atribuir
resultados criminosos, cuja imputação, anteriormente, nem poderia ser pensada.42
Dito panorama de dubiez e revisão dos arrimos substanciais do exercício do ius puniendi
faz com que sejam afetadas determinadas garantias medulares dos cidadãos, provocando, ainda,
um processo de corrosão dos princípios essenciais do Direito Penal e do Direito Processual
Penal. Referida percepção exige que sejam entabuladas investigações com o ensejo de examinar
as tendências do sistema criminal e a instauração, no domínio dos crimes omissivos impróprios,
de outra estratégia normativa para a dinâmica punitiva.
Para tanto, é também dedicado um espaço nesta tese para apresentar as linhas suscitadas
pela doutrina para traçar a distinção entre os crimes omissivos próprios (delicta omissiva) e os
crimes omissivos impróprios (delicta commissiva per omissionem). Tal direção deve-se à
importante advertência feita por D’Avila no sentido de que:
41 TAVARES, Juarez. Teoria dos crimes omissivos. Madrid: Marcial Pons, 2012, p. 32. 42 PASCHOAL, Janaina Conceição. Ingerência indevida: os crimes comissivos por omissão e o controle pela
punição do não fazer. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris, 2011, p. 122.
30
em que pesem as reiteradas tentativas de sistematização, a verdade é que a persistente
ausência de consenso doutrinário acerca da matéria traz ao atual direito penal o
convívio de uma multiplicidade de critérios, em um cenário de considerável
instabilidade terminológica, cujos prejuízos, por certo, fazem-se facilmente sentir. É
indiscutível que um desenvolvimento adequado e consistente do ilícito-típico
omissivo passa necessariamente por uma mínima uniformização de conceitos
fundamentais e que, por este exato motivo, faz-se necessário uma melhor definição na
distinção dos conceitos de omissão própria e imprópria.43
Tem-se, desse modo, no contexto do deslinde dessa complexa questão, como proposta
de maior relevo e de adeptos, o emprego de um critério tradicional assentado no fator resultado,
diretriz acolhida pela dogmática criminal de muitos países, portanto, vinculando o caráter
distintivo ao momento consumativo, sendo o crime omissivo impróprio uma infração penal
material. Por conseguinte, o agente garantidor está com o compromisso de evitar a
superveniência do evento; ao passo que os delitos omissivos próprios são infrações de feição
de mera conduta, pois se sobressaem com a simples desobediência ao imperativo da norma, de
tal forma que o resultado não compõe o mosaico do tipo penal. Reportando-se a tal critério
distintivo, salientam Jescheck e Weigend que, nos crimes omissivos próprios:
es cierto que, en última instancia, con la acción demandada puede ser evitado un
resultado negativamente valorado por el Ordenamiento jurídico, pero el legislador no
convierte dicha evitación en un deber para el omitente ni, en consecuencia, el
acaecimiento de un resultado determinado en un elemento del tipo.44
A investigação aqui em marcha mostrará que os crimes omissivos impróprios não estão
circunscritos à categoria dos delitos que pressupõem um resultado naturalístico para que haja a
consumação.
Há a orientação, no mesmo plano distintivo, com igual repercussão, esposada, de modo
especial, por Kaufmann, centralizada na questão do tipo penal, quando salienta que os delitos
omissivos próprios ostentam previsão legal expressa no ordenamento jurídico, já o mesmo não
ocorre com relação aos omissivos impróprios, cujo processo de tipificação decorre da junção
de uma cláusula geral com um tipo penal incriminador de conotação comissiva. Assevera
Kaufmann que “estas infracciones de mandatos de garante son ‘impropias’ en tanto que no están
tipificadas en la propia ley y su concepción y delimitación, por ello, sigue siendo difícil desde
43 D’AVILA, Fabio Roberto. Ofensividade e crimes omissivos próprios (Contributo como ofensa a bens
jurídicos). Op. Cit., p. 217. 44 JESCHECK, Hans-Heirich; WEIGEND, Thomas. Tratado de Derecho Penal. Granada: Comares, 2002. Parte
General, p. 652.
31
el punto de vista de la política jurídica, y problemática desde el del principio de legalidad”.45
Dita proposta, dotada dos predicados da simplicidade, da utilidade, da clareza e da plena
adequação ao modelo dogmático dos crimes omissivos, “foi o critério adotado” – lembra Rieger
– “quando do Congresso de Direito no Cairo, em 1984”.46 Aludido evento, realizado no Egito,
correspondente ao XIII Congresso da Associação Internacional de Direito Penal, ensejou, com
o acolhimento do critério do tipo penal, a consolidação de uma uniformização terminológica
pertinente à questão, “dando” – registra igualmente D’Avila – “um importante passo para um
necessário consenso classificatório e, ao mesmo tempo, permitindo uma melhor delimitação
dos problemas político-criminais específicos de cada uma das categorias dos crimes
omissivos”.47 Assim, tendo por base essa diretiva, conclui Schünemann:
dado que los “delitos de omisión no expresos”, como se reconoce en general, han de
ser equiparables a los delitos comisivos, definimos a la omisión impropia como la no
realización, equivalente a la comisión, de una acción individualmente posible; las
omisiones propias serían entonces todas las demás. (grifo no original)48
Outras vertentes distintivas que envolvem a questão são apresentadas na respectiva
seção do trabalho, assim como as possíveis diferenciações entre a comissão e a omissão.
Foi desenvolvida, também, uma análise da modalidade que tem sido denominada de
omissão por comissão, que, esclarece Gimbernat Ordeig:
así como en la comisión por omisión se trataría de comportamientos pasivos
subsumibles en tipos penales que parecen pensados para conductas activas, en aquélla
el problema que se discute es el de si tipos recortados aparentemente para sancionar
omisiones abarcarían también, paradójicamente, y en algunos supuestos, conductas
comisivas.49
Uma das passagens do trabalho em tela reporta-se ao exame dos princípios centrais
orientadores da legislação penal brasileira que possuem elos com a temática dos crimes
omissivos, assim, apontando as bases constitucionais explícitas e implícitas e os fundamentos
normativos suprapositivos que os sustentam e as decorrências que são deles extraíveis.
45 KAUFMANN, Armin. Dogmática de los delitos de omisión. Madrid: Marcial Pons, 2006, p. 284. 46 RIEGER, Renata Jardim da Cunha. A posição de garantia no Direito Penal Ambiental: o dever de tutela do
meio ambiente na criminalidade de empresa. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2011, p. 59. 47 D’AVILA, Fabio Roberto. Ofensividade e crimes omissivos próprios (Contributo como ofensa a bens
jurídicos). Op. Cit., p. 235. 48 SCHÜNEMANN, Bernd. Fundamentos y límites de los delitos de omisión impropia. Madrid: Marcial Pons.
2009, p. 74. 49 ORDEIG, Enrique Gimbernat. La causalidad en la omisión impropia y la llamada “omisión por comisión”.
Buenos Aires: Rubinzal – Culzoni, 2003, p. 53.
32
São diretivas gerais integradas, hoje, à grande maioria dos sistemas jurídicos e também
perfilhadas por nosso Direito Penal, bem como imprimem amplos e incisivos reflexos no campo
dos crimes omissivos, com o especial relevo que se propõe infundir na tese aqui plantada para
a modalidade imprópria ou impura. Adverte Sarlet que, “de pronto, verifica-se que a vinculação
aos direitos fundamentais significa para o legislador uma limitação material de sua liberdade
de conformação no âmbito de sua atividade regulamentadora e concretizadora”.50
Com isso, foram fixadas para o tratamento da omissão imprópria no Brasil diretrizes de
aplicação concreta do Direito Penal e, ademais, expressas opções de lege ferenda, com vistas à
preservação das conquistas impostergáveis alcançadas na prática punitiva e à obtenção de novos
avanços, nesse propósito permanente de coadunação entre o sistema punitivo persuasivo,
temperado e refinado às peculiaridades da criminalidade contemporânea e o resguardo dos
fundamentos de um sistema punitivo humano e democrático. Pretende-se, com isso, conceber
um Direito Penal em sintonia com o princípio da dignidade da pessoa humana, valor que deve
representar o alicerce de nosso Estado Democrático de Direito e elemento que proporciona
unidade de sentido e plausibilidade à ordem constitucional, igualmente, servindo como
paradigma orientador na aplicação, interpretação e integração das normas jurídicas. Ensina
Sarlet, ao examinar referido tema aqui posto, que por dignidade da pessoa humana se deva
entender:
a qualidade intrínseca e distintiva reconhecida em cada ser humano que o faz
merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade,
implicando, neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que
assegurem a pessoa tanto contra todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano,
como venham a lhe garantir as condições existenciais mínimas para uma vida
saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e co-responsável nos
destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres humanos.51
Para tanto, consoante ficou assinalado no projeto de tese, nesse sentido, almejou-se
efetuar uma análise meticulosa acerca das fontes formais da posição de garantidor,
contempladas no art. 13, §2º, do Código Penal brasileiro, apresentando as diferentes orientações
doutrinárias externadas no cenário nacional sobre o tema, procurando fazer uma apreciação
crítica de tais fontes à luz dos princípios fundamentais do sistema penal.
50 SARLET, Ingo Wolfgang. A Eficácia dos Direitos Fundamentais. Op. Cit., p. 328. 51 Idem. Dignidade da Pessoa Humana e Direitos Fundamentais na Constituição Federal de 1988. Porto
Alegre: Livraria do Advogado, 2004, p. 59-60.
33
Adverte Bierrenbach que “o crime comissivo por omissão ou omissivo impróprio
origina-se de uma omissão que permite que prossiga causalidade preexistente, que culminará
no resultado descrito na lei. Por vezes o perigo para o bem nasce com o omitir”.52
Dessa forma, sobressaem como extremamente relevantes as discussões acerca da
consagração do tipo-de-ilícito da omissão imprópria e os mecanismos de punição da referida
espécie delituosa.
Manifestam-se na doutrina posições sobre a equivalência entre algumas formas
omissivas que ensejam o resultado e a efetivação típica pelo modelo tradicional de conduta,
deflagrada por intermédio da ação comissiva. Porém desponta aqui uma série de teorias que
procura explicar os requisitos necessários para que se possa imputar o resultado ao omitente e
as formas pelas quais será operada a reprimenda da omissão imprópria, direções que o estudo,
aqui sistematizado em seus pontos centrais, pretendeu explorar. Em tal cenário é importante
verificar os reflexos que desencadeiam nos crimes omissivos impróprios conforme venha a ser
a opção do intérprete pelo acolhimento ou da teoria naturalística ou da teoria jurídica acerca da
noção do que deve ser entendido por resultado no âmbito penal.
Predomina, na doutrina e nas sistemáticas normativas dos diplomas penais dos países, a
diretriz de que para uma pessoa figurar como sujeito ativo de um delito omissivo impróprio é
preciso que ela esteja inserida na chamada posição de garante da evitação da produção do
evento.
Recorda Terragni que:
la palabra garante se incorporó al español proveniente del francés garant (y este
vocablo quizás derive del franco werênd concordando con el alemán antiguo wërênt
y con el posterior gewähren) con el significado de quien afianza, asegura y protege
contra algún riesgo. Con respecto a posición la doctrina y la jurisprudencia de habla
hispana receptaron la expresión alemana Garantenstellung eligiéndola entre otras
acepciones del substantivo die Stellung (la actitud, la colocación, la postura, el puesto,
cargo o empleo). (grifo no original)53
No entanto há entendimentos de que a fixação expressa na lei das fontes dos deveres
jurídicos, dando os contornos das posições de garantia, não é fator suficiente para equacionar o
complexo tema da legalidade da punição da conduta omissiva imprópria.
“O certo” – ressalta Bierrenbach:
52 BIERRENBACH, Sheila. Crimes Omissivos impróprios: uma análise à luz do Código Penal Brasileiro. Belo
Horizonte: Del Rey, 2002, p. 73. 53 TERRAGNI. Marco Antonio. Delitos de omisión y posición de garante en Derecho Penal. Buenos Aires:
Rubinzal – Culzoni, 2011, p. 13.
34
é que a análise da evolução doutrinária contemporânea indica que as teses ampliadoras
do âmbito de incidência da omissão imprópria cedem terreno a outras muito mais
restritivas. Passa-se, neste sentido, de difusos critérios de equivalência axiológica a
tentativas de encontrar na comissão por omissão autênticos elementos de identidade
estrutural com a comissão ativa.54
Foi intento do presente trabalho incursionar pelas diferentes posições dogmáticas,
perpassando a doutrina nacional e estrangeira, assim como pelos critérios normativos
disciplinadores da matéria, mediante análise de direito comparado, com vistas a suscitar, de
lege ferenda, opções para o sistema penal brasileiro enfrentar adequadamente o complexo tema
dos crimes omissivos impróprios. Logo, almejou, este estudo, lançar uma proposição que se
revelasse em consonância com os paradigmas de um Direito Penal direcionado à tutela de bens
jurídicos, guiado pela diretriz da ofensividade e que se encontrasse em plena harmonia com o
conjunto dos princípios fundamentais.
Em face do amplo repertório de posições doutrinárias a respeito do assunto, tal paisagem
acaba por fazer com que se tenha um quadro de política criminal e de técnica legislativa
consideravelmente variável nos diferentes países para disciplinar a matéria.
Alguns estatutos penais da Europa esposam a adoção de uma cláusula genérica de
equiparação, como se observa, por exemplo, na Alemanha, em Portugal e na Itália. Na Espanha,
até a edição do atual Código Penal de 1995, não havia regra legal disciplinando os crimes
omissivos impróprios, quando passaram, então, a constar, de forma expressa no texto legal, as
hipóteses que decorrem a inserção do agente na posição de garantidor.
No Brasil, conforme já notabilizado, as fontes do dever jurídico de atuação perante os
delitos omissivos impróprios estão elencadas no art. 13, §2º, do Código Penal, situações que,
apesar da previsão legal, não concedem, ao operador do Direito, em virtude da dilatação
conceitual e normativa de tal categoria, elementos estáveis de definição das posições de garantia
e das incumbências que delas emanam, acarretando, com isso, possíveis violações aos
princípios fundamentais e um sentimento coletivo de insegurança jurídica em tal terreno.
Aludidos aspectos de objeção à estrutura tipológica dos crimes omissivos impróprios foram
ornamentados, com especial destaque, na investigação aqui traçada, com a apresentação, ao seu
final, de mecanismos corretivos e conciliadores com os postulados basilares do sistema penal.
54 BIERRENBACH, Sheila. Crimes Omissivos impróprios: uma análise à luz do Código Penal Brasileiro. Op.
Cit., p.75.
35
A primeira hipótese contemplada no art. 13, §2º, “a”, do Código Penal é a posição de
garantidor decorrente de lei, seja de natureza penal ou extrapenal, emanada de ramo do direito
público ou de setor do direito privado. Intentou-se apontar o que a doutrina nacional vem
afirmando acerca da presente hipótese de dever de agir, como, por exemplo, se pode estar ela
assentada em quaisquer dos atos normativos contemplados no art. 59 da Constituição Federal
de 1988, assim como em ordens legítimas provenientes de autoridades ou de decisões judiciais
ou se, no caso em tela, será necessário acolher uma hermenêutica de admissão apenas da lei em
sentido estrito. Outro elemento de inquietação na dogmática brasileira reside na questão
suscitada por Bierrenbach, sobre se o fundamento da posição de garante ora examinado “pode
fazer surgir, em determinadas hipóteses, deveres outros além de proteger os bens daqueles a
quem o garante está vinculado legalmente, neutralizando o perigo que porventura os ameace”.55
A segunda fonte do dever jurídico de atuar, tipificada no art. 13, §2º, “b”, do Código
Penal, advém quando o agente “de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado”, assim, representando hipótese de assunção voluntária de custódia,
independentemente de haver ou não contrato formal celebrando essa posição. Nesse diapasão,
a doutrina se debruça sobre investigações atinentes aos possíveis reflexos da nulidade de um
contrato celebrado sobre a responsabilidade penal dos anuentes, bem como os efeitos
decorrentes de situações não contempladas na respectiva convenção. Igualmente, dúvidas
surgem sobre o real sentido que pode ser dado à elementar “de outra forma”, presente no mesmo
tipo penal, pois tende a levar a uma preocupante amplificação das situações obrigacionais de
evitação de resultados lesivos. Veja-se, por exemplo, que, quanto a tal aspecto, Paschoal faz a
advertência de que “o que não se pode admitir é que o Direito Penal se antecipe, ou substitua,
ao Direito Civil, cuidando de situações que impliquem mero descumprimento contratual”.56
Por último, há a posição de garantidor especificada no art. 13, §2º, “c”, do Código Penal,
em razão do comportamento anterior, que acarreta o risco da ocorrência do resultado. Da mesma
forma pairam aqui, na doutrina nacional, uma gama de hesitações na referida hipótese que tem
sido denominada de ingerência, especificamente quanto aos esclarecimentos de quais situações
fáticas ela deva abarcar. Indaga-se, entre outras questões, se o referido comportamento anterior
haverá de ter a natureza antijurídica ou se o dever jurídico de agir poderá advir inclusive de
uma conduta prévia que esteja em consonância com o direito, assim, representando mais um
55 BIERRENBACH, Sheila. Crimes Omissivos impróprios: uma análise à luz do Código Penal Brasileiro. Op.
Cit., p.78. 56 PASCHOAL, Janaina Conceição. Ingerência indevida: os crimes comissivos por omissão e o controle pela
punição do não fazer. Op. Cit., p.51.
36
dos vários instantes de incerteza na seara dos crimes omissivos impróprios. A doutrina é
recalcitrante no que diz respeito a se a simples provocação preliminar do perigo é suficiente
para converter o ingerente ao posto de garantidor. Nesse tópico, surge, por exemplo, a
concepção de natureza funcionalista que prega apaziguar as distinções entre as formas de
conduta comissivas e as omissivas quando esposa a ideia de que igualmente nos crimes
comissivos está presente a categoria da posição de garantidor, de modo que os casos fáticos
seriam resolvidos pelo critério da ingerência. Proponente dessa orientação doutrinária, Jakobs57,
no seu ensaio “Theorie und Praxis der Ingerenz” (2000), aduz que tanto no crime comissivo
quanto no delito omissivo acaba ocorrendo uma frustração em uma expectativa juridicamente
assegurada, pois todas as pessoas possuem a liberdade de se organizarem em círculos, desde
que não haja a intromissão nos espaços de organização dos demais indivíduos, isto é, a quebra
de papéis. Caso assim ocorra, haverá a atribuição de responsabilização criminal, que será
operada não com o intuito de tutela de bens jurídicos, mas como mecanismo propiciador de
estabilização social. Desse modo, a formação de uma esfera de organização não pode resultar
na agravação dos círculos de organização das outras pessoas. Com isso, as considerações de
Jakobs sobre tais questões circundam em torno das ideias de organização e de não degenerar o
estado dos demais, sendo que, registra Paschoal, “por diversas vezes, o autor repete que a
liberdade consiste no organizar-se como bem se quer e no não prejudicar (não importa se por
ação, ou omissão) a organização dos outros”.58 Afora as questões colocadas, rodeando o
pensamento de Jakobs sobre o tema aqui suscitado, brotam ponderações relativas ao dever e do
que é devido, estando, por conseguinte, a ingerência atrelada aos compromissos que decorrem
da liberdade de organização, desse modo, fazendo com que sejam estabelecidas
responsabilidades resultantes dessa opção. Diante disso, surgem diversos modos de organização
e formação de deveres que dela emanam, por consequência, edificando uma concepção de
ingerência desvinculada de juízos de valor e da ideia do caráter ilícito do comportamento
anterior, de tal modo que o dever de agir pode decorrer de uma escolha de vida do omitente, ou
seja, da organização do indivíduo. Na conclusão do seu trabalho, que mereceu análise acurada
nesta tese, pontuou Jakobs que:
la responsabilidad por injerencia se encuentra bien asegurada desde el punto de vista
sistemático, incluso es teóricamente obligada, y también su manejo práctico por el
Tribunal Supremo Federal puede resultar grosso modo satisfactorio. Una limitación a
57 Cf. JAKOBS, Günther. Teoría y praxis de la injerencia. Buenos Aires: Rubinzal – Culzoni, 2004, p. 49-86. 58 PASCHOAL, Janaina Conceição. Ingerência indevida: os crimes comissivos por omissão e o controle pela
punição do não fazer. Op. Cit., p. 106.
37
comportamientos previos antijurídicos es demasiadamente estricta; debe responder
cualquiera que se haya arrogado frente a la víctima un riesgo especial.59
As observações finais tecidas por Jakobs bem demonstram o quanto é procedente o
repertório de inquietudes que a temática dos crimes omissivos impróprios traz e que evidencia
a relevância e a justificativa da tese aqui descrita. Associadas às já impressionantes propensões
de distensão hermenêutica desprovidas de razoabilidade jurídica que se veem na doutrina das
situações das fontes do dever de garantidor, decorrentes das hipóteses arroladas no art. 13, §2º,
do Código Penal, novas fórmulas vagas, por vezes, simbólicas e desnecessariamente
ampliadoras dessa categoria, têm surgido, emanadas, entre outros fatores, das considerações
das noções imprecisas e, por vezes, desprovidas de lastro, de comunidade de vida e de
comunidade de perigo, todas elas de tal magnitude, giza Paschoal, que “pode-se mesmo
diagnosticar uma tendência de todos serem garantidores de todos”.60 A tese, portanto, como um
dos seus escopos, denuncia tais inclinações dilatadoras de atuações punitivas no âmbito dos
crimes omissivos impróprios, verificadas no cenário jurídico brasileiro, procurando apresentar
em que tipo de dimensão referidas proposições ampliadoras seriam toleráveis. Espera-se, assim,
propor instrumentos interpretativos e reformas nas normas reguladoras que estruturem a
modalidade omissiva imprópria, aspirando, dessa forma, corrigir as identificáveis anomalias
sem que, com isso, venha-se a desamparar bens jurídicos de dignidade penal, pelo simples fato
de que a afetação deriva de uma omissão. Ao seu final, manifestamos quanto a possíveis opções,
no aludido setor, de conserto nos rumos do sistema penal brasileiro, de forma a colocá-lo, no
tratamento da presente matéria, em direção harmônica com os seus princípios fundamentais e
como mecanismo de tutela subsidiária de bens jurídicos que deve ostentar, isto é – rememora
com acerto D’Avila –, como “expressão de um direito penal laico, tolerante, erigido a partir da
dignidade da pessoa humana e atento às garantias e liberdades fundamentais”.61
Registra-se que este estudo, conquanto seja voltado mais diretamente para a análise da
categoria da adequação tipológica dos crimes omissivos impróprios e todos os seus contornos
de tipo-de-ilícito, direciona-se, também, ainda que de forma breve, à averiguação dos demais
coeficientes analíticos do fato punível, assim como para a avaliação de outras matérias alusivas
às teorias do crime e à da sanção penal.
59 JAKOBS, Günther. Teoría y praxis de la injerencia. Op. Cit., p. 86. 60 PASCHOAL, Janaina Conceição. Ingerência indevida: os crimes comissivos por omissão e o controle pela
punição do não fazer. Op. Cit., p.61. 61 D’AVILA, Fabio Roberto. Ofensividade em Direito Penal: Escritos sobre a teoria do crime como ofensa a
bens jurídicos. Op. Cit., p. 105.
38
Nesse planejamento, aspirou-se fazer previamente uma apresentação da evolução dos
principais modelos conceituais analíticos ou estratificados elaborados pela Dogmática Penal.
Sobre o assunto, pondera Tavares que:
os sistemas modernos de construção do delito são fruto de uma lenta e gradual
evolução, e se caracterizam basicamente por o conceituarem segundo as
características de tipicidade, antijuridicidade e culpabilidade. Nesta conceituação,
contudo, dá-se ênfase a certos princípios predominantes, seja a causalidade, a
finalidade ou a relevância social da conduta, de forma que toda a construção passa a
girar em torno do princípio escolhido, formando do conceito um todo unitário, lógico
e harmônico.62
Aludido expediente sistemático correspondente à construção científico-penal acerca dos
fatos puníveis, o que abrange desde as iniciais revelações estratificadas até a eclosão dos
tradicionais Sistemas Clássico, Neoclássico e Finalista e, mais contemporaneamente, as
elaborações de ordem Social, Funcionalista e Significativa, com as suas diferentes tendências,
será investigado, em suas características essenciais, na tese doutoral. Tudo isso com vistas à
fixação de conexões com o tema dos crimes omissivos impróprios e suas variantes em cada
uma dessas matrizes de compreensão das infrações penais.
No edital do processo de seleção para ingresso no Curso de Doutorado em Ciências
Criminais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), alusivo ao ano
de 2013, constava, para a linha de pesquisa correspondente à área de concentração Sistema
Penal e Violência, concernente aos Sistemas Jurídico-Penais Contemporâneos, a seguinte
ementa: A linha de pesquisa visa investigar os sistemas jurídico-penais contemporâneos a
partir da análise crítica do direito penal e processual penal, verificando em seus fundamentos
as diferentes formas de violação/proteção dos direitos da pessoa humana.63 Acrescenta-se,
ainda, que no site64, atinente ao Programa de Pós-graduação em Ciências Criminais da PUCRS,
está assinalado como objetivo central de análise o seguinte teor:
a proposta deste programa é de propiciar apreensão da violência e das formas de
atuação das agências de punitividade (sistema penal) como dos fatos sociais mais
preocupantes e complexos da experiência coletiva. Trabalhando com esses pilares da
realidade da vida em sociedade, é aberto amplo espectro de áreas de investigação,
62TAVARES, Juarez. Teorias do Delito (Variações e Tendências). São Paulo: Revista dos Tribunais, 1980, p.
11. 63 Igualmente presente no recente edital de seleção para ingresso no Curso de Doutorado em Ciências Criminais
do Programa de Pós-graduação em Ciências Criminais da Escola de Direito da Pontifícia Universidade Católica
do Rio Grande do Sul, ano letivo 2017. Disponível em: <http://www.pucrs.br/direito/programas-de-pos-
graduacao/ppgcc/ingresso/>. Acesso em: 10 ago. 2016. 64 Disponível em: <http://www.pucrs.br/direito/programas-de-pos-graduacao/ppgcc/apresentacao/>. Acesso em
10 ago.2016.
39
sobretudo as que se situam na interface com outros campos das humanidades e da
psiquiatria.
O trabalho aqui desenvolvido atende, por conseguinte, nítida e plenamente aos núcleos
de pesquisas suprarreferidos, pois a temática dos crimes omissivos impróprios representa objeto
de investigação central da Teoria do Crime, vinculado às manifestações da criminalidade
hodierna. Aludido aspecto pressupõe análise, como se pretende desenvolver, de natureza
interdisciplinar, envolvendo questões não apenas de dogmática penal, mas de igual forma de
ordem de política criminal.
Portanto, no transcorrer da tese, trabalha-se, de forma mais particularizada, a noção do
tipo-de-ilícito dos crimes omissivos impróprios, com as suas diferentes conformações no
Direito Comparado e na evolução da Teoria Geral do Delito, com particular ênfase na
sistemática penal brasileira. Como problema central, indaga-se: é possível a preservação da
adequação típica mediata, por intermédio da conjugação dos tipos penais incriminadores com
a norma de extensão do art. 13, §2º, do Código Penal, para que se tenha a consolidação da
tipicidade da modalidade delituosa em tela, no Direito Penal brasileiro?
Diante disso, foi suscitada a seguinte hipótese principal. A manutenção da atual
estrutura do art. 13 §2º, do Código Penal é insustentável, tendo em vista a sua demasiada
elasticidade normativa e a sua manifesta carência para abarcar todas as situações de relevância
na referida dimensão. Aponta-se, assim, como solução, para a matéria e como proposta de lege
ferenda, enveredar-se pela construção de tipos penais específicos para os crimes omissivos
impróprios, adotando-se regra similar ao que é verificado para os delitos culposos, nos termos
do art. 18, parágrafo único, do Código Penal. Almeja-se demonstrar, desse modo, que
mencionada alternativa representa a via mais acertada de evitar a ampla incidência de
caracterizações delituosas omissivas impróprias no cenário jurídico brasileiro, possibilitando,
com efeito, a congruente harmonia da temática com os princípios fundamentais do Direito Penal
e o reforço nas margens de segurança jurídica. Todavia, enquanto aludida vereda não vem a
concretizar-se, sugere-se como corretivo hermenêutico o acolhimento da concepção material-
formal na apreciação das fontes do dever jurídico de atuar. Recomenda-se, com isso, o
abandono da linha hoje predominante na doutrina nacional da adoção pura e simples da matriz
formal. Dito critério material-formal deverá inspirar também a composição de tipos penais
incriminadores da omissão imprópria no ordenamento jurídico, assim como a edificação de
norma explicativa na Parte Geral do Código Penal acerca dos contornos do tipo-de-ilícito
comissivo por omissão.
40
Quanto ao marco teórico e aos pressupostos conceituais, assinala-se que modernas
bibliografias nacional e estrangeira vêm realçando a complexa questão cujo tratamento e cuja
apuração foram pretendidos na elaboração da presente investigação, qual seja, a da
harmonização dos princípios mentores de um Direito Penal civilizado com os clamores sociais
de uma justiça punitiva desenvolta, profícua e aberta às novas modalidades coetâneas da
delinquência. Todo o exame foi realizado com ênfase no contexto dos crimes omissivos e, em
particular, na modalidade dos impróprios e suas expressões no âmbito jurídico-penal nacional.
Exara-se, desde já, que a principal fonte de inspiração para a elaboração das nossas
considerações gerais sobre o tema foi canalizada nos apontamentos conceituais de Faria
Costa65, Figueiredo Dias66 e D’Avila.67
Por derradeiro, o trabalho versa sobre a realidade social da delinquência omissiva
imprópria e desenvolve apreciações críticas relativamente ao material legislativo concernente à
regulação da matéria, porquanto a metodologia empregada tenha sido aquela condizente à
natureza própria dos objetos culturais, sendo, assim, utilizada a técnica expositivo-
compreensiva para a elucidação das diferentes faces alusivas ao tema. Adotou-se, também, o
método compreensivo-normativo, porquanto, consoante já enunciado, tenham sido lançadas
indicações normativas, na área dos crimes omissivos impróprios, que conjuminam os objetivos
de eficácia do Direito Penal com os princípios garantidores que constituem triunfos
peremptórios do Direito e com a sua função primordial de tutela de bens jurídicos. Ao estudo,
foram aportadas contribuições provenientes da dogmática penal e da política criminal. A
investigação tomou por modelo a pesquisa teórica, para tanto, utilizando bibliografias nacional
e estrangeira que embasam a matéria.
65Principalmente: COSTA, José de Faria. O Perigo em Direito Penal (Contributo para a sua fundamentação e
compreensão dogmáticas). Op. Cit., p. 11-709; Idem. Noções Fundamentais de Direito Penal. Op. Cit., p. 12-
265; Idem. Ilícito típico, resultado e hermenêutica (ou o retorno à limpidez do essencial). Op. Cit., p. 7-23. 66Mormente: DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Penal. Parte Geral. Tomo I. Questões Fundamentais. A Doutrina
Geral do Crime. Op. Cit., p. 3-1061; Idem. Questões Fundamentais do Direito Penal Revisitadas. Op. Cit., p.
19-372. 67Ver: D’AVILA, Fabio Roberto. Ofensividade em Direito Penal: Escritos sobre a teoria do crime como ofensa
a bens jurídicos. Op. Cit., p. 15-127; Idem. Ofensividade e crimes omissivos próprios (Contributo à
compreensão do crime como ofensa ao bem jurídico). Op. Cit., p. 15-444.
453
8 CONCLUSÕES
Como forma de enfatizar certos elementos do conjunto de considerações gerais e de
proposições que foram explicitados no capítulo anterior, na sequência, exibimos, de maneira
articulada, alguns tópicos de nossas conclusões que envolvem determinados aspectos essenciais
que circundam o tema da omissão imprópria. Sublinhamos, mais uma vez, que referido acervo
de anotações conclusivas está alicerçado, afora outros doutrinadores citados aqui e no corpo do
trabalho, mormente, nos contributos doutrinários de D’Avila1321, Faria Costa1322 e de
Figueiredo Dias1323, representando, assim, significativo material de guarida para as construções
da presente investigação. Vejamos alguns apontamentos firmados de modo propositivo:
1 - A legitimidade de uma infração penal omissiva imprópria, necessariamente, deverá
estar apoiada na ideia de que se constitui em um episódio que representa ofensa ou perigo de
ofensa a um bem jurídico que ostenta real dignidade penal. Dita diretriz deve consistir no ponto
fulcral das normas penais incriminadoras e significar um paradigma a conduzir,
incessantemente, tanto as atividades que incumbem ao legislador, como, também, as tarefas que
competem ao intérprete e ao aplicador do Direito Penal. O princípio da ofensividade deve ser
galgado a uma posição de destacada estirpe constitucional, assim, determinando ao sistema
punitivo a necessária observância à orientação de que o conteúdo material da infração penal
deva ser um fato de notória ofensa a bens jurídicos, imperativo este não passível de qualquer
iniciativa de abdicação.
2 - Sustentamos a ideia de que todos os fatos declarados como ilícitos, para que possam
ser elevados à condição de infrações penais, necessariamente, deverão estampar um resultado,
sendo, assim, pressuposto indispensável para a caracterização de todo e qualquer tipo-de-ilícito
na messe penal. Por isso, alimentamos a ideia de que, no alusivo ao art. 13, §2º, do Código
Penal brasileiro, deve-se atribuir um viés normativo para a apreensão do que se deve entender
por resultado, o que viabilizará a revelação da omissão imprópria amiúde em diversas
modalidades criminosas, não somente nas de natureza material, mas, da mesma maneira, no
1321 Principalmente: D’AVILA, Fabio Roberto. Ofensividade em Direito Penal: Escritos sobre a teoria do crime
como ofensa a bens jurídicos. Op. Cit., p. 15-127; Idem. Ofensividade e crimes omissivos próprios (Contributo
à compreensão do crime como ofensa ao bem jurídico). Op. Cit., p. 15-444. 1322 Mormente: COSTA, José de Faria. O Perigo em Direito Penal (Contributo para a sua fundamentação e
compreensão dogmáticas). Op. Cit., p. 11-709; Idem. Noções Fundamentais de Direito Penal. Op. Cit., p. 12-
265; Idem. Ilícito típico, resultado e hermenêutica (ou o retorno à limpidez do essencial). Op. Cit., p. 7-23. 1323 Particularmente: DIAS, Jorge de Figueiredo. Direito Penal. Parte Geral. Tomo I. Questões Fundamentais. A
Doutrina Geral do Crime. Op. Cit., p. 3-1061; Idem. Questões Fundamentais do Direito Penal Revisitadas. Op.
Cit., p. 19-372.
454
domínio das infrações penais compreendidas como formais e de mera conduta, sem menoscabo,
ainda, de igual exequibilidade frente às modalidades de crimes de dano/violação e de
perigo/violação, independentemente de todas as referidas espécies serem de natureza dolosa ou
de formato culposo.
3 - Os interesses preventivos e de política criminal somente poderão ser admitidos se
estiverem em absoluta consonância com os critérios de princípios e regras e com os limites de
legitimidade delineados e sedimentados pelo normativismo penal e constitucional.
4 - Acolhemos aqui também como marco orientador, a noção chefiada, de modo
especial, por Faria Costa, da relação matricial ontoantropológica de cuidado-de-perigo, de
modo que a legitimidade do sistema punitivo se encontra arraigada em uma matriz axiológica
que se sedimenta na pluralidade dos valores e na aceitação da alteridade. Desse modo, a
existência dos ilícitos penais está radicada na constatação da efetiva ofensividade, que se
manifesta não apenas nos episódios de dano/violação, verificáveis nos tradicionais crimes de
dano, mas, além disso, na relação perigo/violação, que pode ser expressa na seguinte dualidade
de ofensa, isto é, ou ao do concreto pôr-em-perigo (crimes de perigo concreto) ou ao do
cuidado-de-perigo (crimes de perigo abstrato). Patrocinamos que referidas categorias poderão
estar presentes também na hipótese dos delitos omissivos impróprios, uma vez que, em todas
essas formas que compreendemos como compatíveis com a comissão por omissão, verifica-se
a possibilidade de se identificar uma perversão da relação de cuidado-de-perigo do “eu” para
com o “eu” e do “eu” para com o “outro”. É importante salientar que, a partir do paradigma
teórico acima exposto, concebemos o Direito Penal desde uma perspectiva de ordem relacional,
do homem em comunidade, como ser-no-mundo, em uma relação matricial ontoantropológica
de cuidado-de-perigo, que interroga o sentido do ser e seus liames com o cuidado.
5 - Defendemos que, no pertinente aos crimes de perigo abstrato, é perfeitamente
identificável uma ofensa ao cuidado-de-perigo, havendo, por conseguinte, um acometimento
jurídico-penalmente desvalioso na circunscrição de um bem jurídico, de modo que se constitui
em um fato provido de plena potencialidade para justificar a sua admissão na conformação
dogmática do tipo-de-ilícito, abarcando inclusive atuações no círculo de possibilidades de
manifestação da omissão imprópria.
Aludido empreendimento direcionado a atingir um discurso legitimador para os crimes
de perigo abstrato, de maneira a oportunizar a sua harmonia com os princípios fundamentais e
com a imposição constitucional de ofensividade no espectro penal é algo que advogamos como
iniciativa irrenunciável. Trata-se de artifício necessário para fundamentar o resguardo de
455
objetos jurídicos supraindividuais e para viabilizar uma intervenção congruente e atinada do
sistema punitivo na sociedade moderna que todos nós estamos experienciando, calcada,
conforme verificado, pela tecnificação e pela assiduidade de significativos riscos. Diante desse
panorama de hesitações e de expressivas situações temerárias é inadmissível que se venha a
declinar da serventia que se alcança com a aceitação racional e equilibrada da antecipação de
proteção penal dos bens jurídicos.
6 - A noção de ofensividade, no aludido formato de cuidado-de-perigo, constitui-se na
fronteira perseverante de um acatamento constitucionalmente válido da categoria jurídico-penal
de perigo, devendo, naturalmente, mencionado referencial servir de orientação para as
manifestações omissivas impróprias também neste mesmo âmbito.
7 - Adotamos como cânone analítico do fato punível a vertente teórica de Faria Costa e
D’Avila, que tem por base de fundamentação teórica a matriz ontoantropológica e o postulado
que compreende o fato punível como uma relação comunicacional e cuja estrutura apresenta,
como primeiro compartimento, a categoria do tipo-de-ilícito, complementada, em um segundo
estágio, pelo coeficiente da culpabilidade, consistente no juízo de reprovação, representando,
dessa forma, um arquétipo bipartido, que haverá de disciplinar a espécie omissiva imprópria.
Em tal cenário, a realização típica constitui o primeiro coeficiente analítico a ser
avaliado, mas que pode exprimir quatro espécies diferentes de manifestação, ou seja, o tipo-de-
ilícito comissivo doloso, o tipo-de-ilícito omissivo doloso, o tipo-de-ilícito comissivo culposo
e o tipo-de-ilícito omissivo culposo. Abdicamos, portanto, de se insistir na construção de um
supraconceito multifuncional de ação, anterior aos juízos inerentes à juridicidade penal. Nesse
diapasão, a conduta passa a ser concebida como elemento constitutivo do fato típico e conquista
a tarefa primordial de ser um referente comportamental para fins de imputação, diretriz que
favorece, por conseguinte, a exequibilidade da afiliação da pessoa jurídica como sujeito ativo
de infração penal, isto é, como um autêntico centro de imputação, inclusive envolvendo formas
omissivas impróprias.
No caso da responsabilidade penal da pessoa jurídica, para que haja uma adequada
compatibilidade com o princípio da culpabilidade, recomendamos, com lastro em Faria Costa
e Figueiredo Dias, o acolhimento de um modelo de racionalidade material, com fortes liames
quanto ao princípio da necessidade e com a conveniência político-criminal da reprimenda penal
do ente coletivo, por intermédio de uma renovação da visão da categoria da culpabilidade.
Recorre-se ao artifício de uma analogia material entre a culpa individual e a responsabilidade
456
por culpa atinente às pessoas coletivas, de tal modo a viabilizar a pessoa jurídica como um veraz
centro de imputação, em situações que venham a atingir bens jurídicos socialmente expressivos.
8 - No que tange à questão da relação de causalidade, sustentamos que o acolhimento
puro e simples da apreciação naturalística dos fatos, ofertada pela teoria da conditio sine qua
non, e até mesmo as relevantes contribuições da teoria da causalidade adequada, não conferem
respostas coerentes para algumas hesitações essenciais da dogmática penal, como, por exemplo,
no que diz respeito aos crimes de perigo. Sugerimos a necessária receptividade ao campo da
normatividade na presente questão e, ainda, a admissibilidade do acervo de princípios
limitadores e retificadores da tipicidade pertinentes à teoria da imputação objetiva, para que se
viabilize constatar, com mais firmeza e sob os parâmetros de justiça, quando realmente o agente
deu causa ao resultado que se revelou, sem abandonar, todavia, as premissas das diretrizes da
causalidade.
9 - A construção legislativa do tipo penal somente estará franqueada e materialmente
legitimada quando realmente referir-se a fato carecedor de intervenção do sistema punitivo, em
sintonia, dessa forma, com os postulados da necessidade e dignidade penais. Com isso, apenas
o conjunto de ofensas que ultrapassam a circunscrição da adequação social adquire significado
para a repressão criminal. Aludida incumbência legiferante deverá ser empreendida pelo
Parlamento, no caso especial do Brasil, pelo legislador da União, consonante dispõe o art. 22,
I, da Constituição Federal de 1988, vindo, assim, a constituir-se na exclusiva fonte material ou
de produção das leis penais. Já a fonte formal imediata do Direito Penal, em harmonia com os
princípios da reserva de lei e da separação dos poderes, deverá ser exclusivamente a lei em um
sentido formal, proveniente do legislador da União, assim, representando o único mecanismo
hábil a cimentar a responsabilidade criminal, de autores de fatos que atingem o repertório dos
direitos, liberdades e garantias gerais.
10 - Entendemos que a produção de normas penais em branco em sentido estrito ou
próprio, que se caracterizam pela heterogeneidade das fontes, deve ser manobrada com retração.
Desse modo, consoante ensina Faria Costa, o reenvio para outra disposição extrapenal,
proveniente, no caso particular do Brasil, de esfera distinta do legislador da União, não poderá,
de maneira alguma, ensejar a definição do crime ou da pena, mas deve ter uma atuação
secundária de tão só com meras demarcações de punibilidade, pois apenas assim é possível
respeitar-se devotadamente a prescrição do princípio da reserva de lei. Referido aspecto se
apresenta como fator de suma relevância para o tema tratado na presente investigação, pela
457
circunstância especial de entendermos que a hipótese contemplada no art. 13, §2º, “a”, do
Código Penal brasileiro se constitui em um típico exemplo de norma penal em branco.
11 - Seguimos a diretriz, tão bem-sublinhada por D’Avila, no sentido de rechaçar
qualquer tipo de esforço na tentativa de se construir um conceito pré-jurídico de ação. Desse
modo, o comportamento omissivo representa uma expressão do ilícito-penal na perspectiva do
real construído, por meio do emprego de um critério normativo, ponto que torna mais segura a
fixação da distinção entre as infrações penais comissivas e as omissivas.
Efetivamente, apoiados nos ensinamentos de D’Avila, afirmamos que os crimes
omissivos se constituem em infrações penais cujo agente transgrida normas de natureza
preceptiva; já no caso dos delitos comissivos, são violadas as de prisma proibitivo. É de se
enfatizar que a omissão somente adquire significado jurídico a partir de um exame de conotação
axiológica, alicerçado, com efeito, em um suporte normativo, portanto, negando-se qualquer
empreendimento direcionado a fundamentar a respectiva diferença em postulado anterior ao
tipo penal, ou seja, em um domínio ontológico do real-verdadeiro. Dessa forma, o aspecto
fulcral da omissão está essencialmente centrado na inobservância do particular dever
determinado pela norma, com a reprovação alicerçada na abstenção por parte do sujeito de
acatar com a efetivação da específica conduta exigida pelo mandamento legal.
Com base nos ditames de D’Avila, recomendamos que, na mencionada distinção entre
os crimes comissivos e os delitos omissivos, o mais recomendável para o tratamento da questão
resida no emprego do método denominado de “ponto de gravidade da censurabilidade” ou do
“ponto de gravidade da conduta penalmente relevante”. Dito critério está vinculado
estritamente à perspectiva normativa, porém também edificado em uma apreciação valorativa
e em uma hermenêutica de identificação da norma violada, tudo estando relacionado com a real
acepção jurídica do fato, fornecendo, porquanto, um modelo mais aproximado ao postulado da
certeza no âmbito penal.
12 - Quanto à distinção entre a omissão própria e a omissão imprópria, defendemos a
posição também adotada por D’Avila, de que a proposta conceitual mais apropriada, profícua,
descomplicada e elucidativa para controlar as hesitações doutrinárias que contornam os crimes
omissivos seja a do tipo penal (ou formal), cuja posição inaugural advém de Kaufmann, de
acordo com o já abordado. Pelo exposto, tomando-se por premissa a atual estrutura normativa
vigorante no Brasil, as infrações penais omissivas próprias são delitos expressamente
catalogados no ordenamento jurídico-penal; enquanto que, na hipótese dos crimes omissivos
impróprios, estes consistem naqueles que estão espoliados de previsão expressa na lei penal. A
458
adequação típica nos crimes omissivos impróprios adquire relevo não de forma imediata ou
direta, tal como se opera na omissão própria, mas sim por meio de um mecanismo mediato ou
indireto, de feição axiológica, por intermédio de uma amalgamação entre uma cláusula geral,
atuando como uma norma de extensão, e o tipo penal incriminador, concernente a um delito
comissivo, indicado na Parte Especial do Código Penal ou em alguma lei penal extravagante,
operando-se, assim, um artifício de equiparação entre as duas espécies.
13 - No art. 13, §2º, do Código Penal brasileiro estão epigrafadas as situações em que
se admite a equiparação entre a comissão e a omissão, representando hipóteses com
equipolentes volumes de desvalor de resultado, assim, consistindo em um expediente que tenta
mitigar o cenário de verificação de responsabilidade penal sem tipicidade ou, como exprime
Faria Costa, de uma tipicidade diminuída.
14 - A confessável equiparação não quer simbolizar, em nosso entender, que o molde
omissivo impróprio deverá ter a mesma bagagem de sanção penal da que é imposta à sua
equivalente forma comissiva para o mesmo delito, porque, tal como recolhemos das lições de
Faria Costa, ditas modalidades de relações comunicacionais desfrutam de distintos feitios
ontoantropológicos e diferentes conteúdos de retumbância ética e de acervo valorativo inseridos
na consciência social.
15 - Esposamos a noção de que consagração da espécie omissiva imprópria não está
circunscrita nos chamados crimes materiais, pois aconselhamos que, na aplicação prática do
conjunto de diretrizes do art. 13 do Código Penal brasileiro, deva-se empregar, como paradigma
orientador, a concepção jurídica ou normativista de resultado. Dessarte, o resultado deve ser
concebido como, consoante precisa lição de D’Avila, uma ofensa não insignificante ao cuidado-
de-perigo, representando, porquanto, referido fator, a categoria-limite da direção de
ofensividade, alçando-se, dessa feita, como paradigma orientador da intervenção penal.
16 - O fato de termos nos direcionado nas posturas supraexpostas de maneira alguma
assevera que todas as infrações penais elencadas no ordenamento jurídico são suscetíveis de
realização na espécie omissiva imprópria. É necessário que sejam esquadrinhados, no exame
da questão, os reais fundamentos político-criminais infundidos na situação, como forma de
demarcar a matéria, de modo a poder afirmar que, por intermédio de uma interpretação
teleológica, em face de um determinado tipo-de-ilícito, é perfeitamente conveniente acalentar
que o desvalor da omissão coincide substancialmente com o desvalor da ação. Reitera-se que,
em determinadas hipóteses, pela própria natureza das coisas, ou, ainda, em decorrência de se
estar perante tipos-de-ilícito inelutavelmente enlaçados à ação, evidencia-se como
459
despropositada a factibilidade de se exprimir o episódio por meio de omissão. É necessário,
porquanto, à luz dos ensinamentos de Faria Costa, que se efetive um minudente exame a
respeito do repertório de normas incriminadoras que são ou não contrapostas à equiparação da
omissão à comissão em termos de relação comunicacional, se haverá ou não eufonia com as
diretrizes de política criminal, assim como uma avaliação da contextura fática em que a conduta
omissiva foi realizada, afora a necessária e imprescindível apreciação da correta apreensão da
intencionalidade e da elucidação da demarcação de resguardo fornecido pelo tipo penal
incriminador.
17 - Nos procedimentos hermenêuticos que gravitam em torno da omissão imprópria,
haverá de se introduzir um sentido material ao art. 13, §2º, do Código Penal brasileiro, como
artifício a ser empregado para deslindar o que se deve inferir por dever jurídico do garantidor
que incide sobre o agente. Logo, sustentamos que, no empreendimento dessa tarefa, o apego
servil e estrito à modalidade clássica, apoiada exclusivamente na lei, no contrato e nas situações
de ingerência, tradicionalmente enaltecido pela doutrina brasileira, como vimos no conteúdo do
presente trabalho, evidencia-se, respeitosamente, em nossa visão, como modelo inepto para
desenredar todos os planos que aludidas obrigações do garante deverão se expressar.
18 - Sem querer declinar dos critérios formais de identificação da posição de garantidor,
sugerimos, com respaldo em Faria Costa, que o dever jurídico de agir deve estar alicerçado em
um substrato relacional apoiado em uma contextualização dos liames comunicacionais, que
evidenciam hipóteses de perigo que preferencialmente reclamam a presença física do omitente
no borbotoante resultado desvalioso. Frisa-se que mencionados fatores deverão ser abrangidos
pelas citadas fontes formais explicitadas no art. 13, §2º, do Código Penal brasileiro. São, em
nossa compreensão, indispensáveis acomodações hermenêuticas e conjugações axiológicas
para o aperfeiçoamento do tipo-de-ilícito da omissão imprópria, de tal forma que as possíveis
hipóteses fáticas de sua incidência, efetivamente, venham a estar no âmbito do domínio positivo
do agente. Dita estratégia envolve a adesão, no tratamento da questão, a uma “teoria material-
formal”, circunstância que suaviza o já citado desconforto da presença de uma tipicidade
diminuída que tanto assola o tema da omissão imprópria.
19 - Como forma de superação dessa situação temerária e que abala o postulado da
certeza que deverá imperar na seara penal, como diretriz de lege ferenda e escorados nos
ditames hermenêuticos supramencionados, que fornecem legitimidade axiológica e normativa
da punição da conduta omissiva imprópria, registramos, apoiados, entre outros autores, em
Figueiredo Dias, Munhoz Netto, Zaffaroni, Alagia, Batista e Slokar, a necessidade de que o
460
legislador confeccione tipos penais peculiares, paralelos aos dos crimes comissivos, cuja
estrutura venha a contemplar os pressupostos específicos e de validade da equiparação.
Acrescentamos, aqui, a recomendação da elaboração de uma norma de feição explicativa na
Parte Geral do Código Penal, assim, delimitando as conformações genéricas do tipo-de-ilícito
da omissão imprópria, tudo em consonância com as proposições que indicamos para o
tratamento da matéria na presente tese.
20 - Exceto raríssimas exceções, a omissão imprópria apresenta conteúdo de menor
densidade de ilicitude e de culpabilidade do que a equivalente comissão, devendo, assim, em
nosso entendimento, ser contemplada com previsão legal de causa de redução de pena, tal como
também entabulam, afora outros doutrinadores, Faria Costa e Figueiredo Dias.
Sustentamos, na regulamentação normativa a ser erguida para o tratamento da matéria,
como forma de se atingir maior rigor de respeitabilidade em relação aos princípios da
individualização da pena e da taxatividade, que seja programada legalmente uma causa
obrigatória de minoração da reprimenda penal, havendo uma faculdade, da parte do magistrado,
apenas no tocante à decisão do quantum da diminuição. Como critério de fundamentação para
a incidência da mencionada minorante, indicamos como orientação a diretriz desenhada por
Faria Costa, concernente ao maior ou menor grau de domínio positivo do omitente. Caberá,
desse modo, ao legislador ter o devido zelo, no instante do acabamento dos particulares tipos
penais omissivos impróprios na Parte Especial do Código Penal e nas leis extravagantes, de
identificar as hipóteses categoricamente incomuns, em que se deve, por conseguinte, desatender
à sucessão de uma minorante de pena, como bem explicitam Figueiredo Dias e Roxin.
Acrescenta-se, ainda, que, com supedâneo em Roxin, entendemos que não se admite que, na
particular hipótese de delitos culposos, sejam atribuídas margens penais distintas envolvendo
os fatos omissivos e comissivos, visto que são incidentes que ostentam igualitário conteúdo de
desvalor.
21 - Para disciplinar a questão da necessária assimetria de pena envolvendo a omissão
imprópria e a equivalente comissão nas formas consumadas, sugerimos, como mecanismo
orientador mais recomendável para o tratamento da matéria, o emprego de regra similar e com
a mesma previsão de retraimento de sanção penal da que é exibida para a disciplina do instituto
da tentativa, estampada no art. 14, parágrafo único, do Código Penal brasileiro. Dessa forma,
quando o crime for consumado na modalidade omissiva imprópria, haverá uma redução de um
a dois terços da pena recaindo sobre o que seria imposto se o mesmo delito tivesse sido cometido
na forma comissiva.
461
Frisamos que, quando for o caso de se abdicar dessa dissimetria, caberá ao legislador
ter o cuidado de expressamente enfatizar, na composição do tipo penal comissivo por omissão,
o alegado afastamento da regra geral.
22 - Ao seguir os parâmetros de proporcionalidade, logicamente, que, quando
estivermos diante um crime omissivo impróprio na forma tentada, a inafastável minoração da
pena tem de ser muito mais aguda do que a que está sendo apontada acima. Tudo isso pelas
mesmas razões já enunciadas no transcorrer do presente ensaio, arrimadas, máxime, nos fatores
de disparidade de injusto e que foram já suficientemente abordados. Para tanto, apontamos que
o juiz deverá empregar o mesmo critério que concebemos como o mais recomendável para o
crime comissivo, no que diz respeito ao tratamento do conatus, isto é, o da quantidade física da
tentativa, tal como explanam Fragoso e Silva Franco, consoante exposição exibida no
compartimento das nossas considerações gerais sobre a conformação material-formal do tipo-
de-ilícito omissivo impróprio.
23 - Mesmo que estejamos admitindo a ocorrência da omissão imprópria em infrações
penais materiais, formais, de mera conduta, de dano/violação e de perigo/violação,
independentemente de ser dolosa ou culposa, temos de reconhecer que, em certos casos, a
exibição desse modo comportamental se mostra como inadmissível. Sugerimos, assim, como
maneira de maior aderência ao princípio da certeza, que o legislador deva utilizar o mesmo
recurso normativo que é estipulado para o tratamento do crime culposo, qual seja, o de designar
também para omissão imprópria, a adoção do critério da excepcionalidade em termos de
previsão legal, consoante determina o art. 18, parágrafo único, do Código Penal, para as
condutas imprudentes, negligentes e imperitas. Realmente, a regra geral seria a reprimenda das
infrações penais na modalidade comissiva, sendo a omissão imprópria expressão de exceção,
cuja relação de situações suscetíveis de sua ocorrência tocaria exclusivamente ao legislador
assinalar de maneira clara e determinada no ordenamento jurídico. Para o bom desempenho da
referida tarefa legiferante, aventa-se que o legislador se inspire nas diretrizes dogmáticas que
estão assinaladas e que tenha a chancela de respeitáveis doutrinadores que estão citados no
corpo do trabalho.
24 - No concernente ao conteúdo das categorias analíticas do fato punível omissivo
impróprio empregamos mais diretamente como paradigma a teoria de Figueiredo Dias. Assim,
o tipo-de-ilícito objetivo do crime omissivo impróprio está composto dos seguintes elementos,
sinteticamente aqui expostos, visto que, no capítulo anterior, já aprofundamentos referidos
tópicos:
462
a) a situação típica que venha a exprimir os pressupostos fáticos que autorizam constatar
a presença do conteúdo concreto do dever de agir;
b) a possibilidade fática de empreendimento da ação por parte do omitente;
c) a imputação objetiva do resultado à omissão;
d) a posição de garantidor do agente.
No pertinente ao tipo-de-ilícito subjetivo do crime omissivo impróprio, também
consideramos como cabíveis de manifestação as tradicionais espécies do dolo e da culpa, como
bem alude Figueiredo Dias, em todas as suas espécies possíveis de expressão, tal como se
justificou no trabalho. Evita-se, por conseguinte, qualquer possibilidade de responsabilidade
puramente objetiva no presente cenário, preservando-se, assim, inatacável o princípio da
culpabilidade.
Ainda com sustentáculo em Figueiredo Dias, entendemos que se mostra como algo
perfeitamente compatível com a comissão por omissão a figura da tentativa, quando o omitente,
no mínimo, agiu com conformidade no tocante à viabilidade da ocorrência do resultado típico,
como resultante de sua omissão, assim como os institutos correlatos da desistência voluntária e
do arrependimento eficaz. Na esteira dessas ideias e dos subsídios dogmáticos que nos
inspiramos, concebemos que o início dos atos executórios, momento a partir do qual o Direito
Penal estará apto a intervir em termos de punição, no presente caso da omissão imprópria, dar-
se-á quando for possível decifrar um risco não permitido de realização típica, isto é, uma
situação de perigo imediato e incrementado, ou seja, de uma hipótese em que se constate uma
efetiva piora para o bem jurídico ameaçado.
Partimos da premissa da visão analítica da existência de um tipo-de-ilícito, na qual a
ilicitude ostenta posição de relevo em relação à tipicidade, em uma perspectiva de um tipo-de-
ilícito conjunto. Logo, quando na omissão imprópria houver a aplicação concreta de alguma
causa de justificação, pode-se afirmar que o dever de agir, no caso em tela, sequer teve
existência, como bem refere Figueiredo Dias.
Ainda que o propósito principal do trabalho tenha sido a abordagem da categoria do
tipo-de-ilícito pertinente aos crimes comissivos por omissão, fizemos uma breve exposição
sobre as particularidades do coeficiente da culpabilidade. Seguimos aqui as lições de Figueiredo
Dias no sentido de que, em face dos crimes omissivos impróprios, a categoria da culpabilidade
deve exibir a mesma modelagem e com idênticas dirimentes das que são verificadas para os
delitos comissivos, consoante tratamos no capítulo precedente. Cabe, também, uma breve
463
referência, sob o séquito de Figueiredo Dias, no que tange à caracterização do sujeito ativo, no
sentido de que entendemos que, tendo em vista as particularidades da omissão imprópria, nem
a clássica teoria do domínio do fato nem a vertente da teoria do dever jurídico de Roxin,
orientações cujos contornos foram exibidos na trajetória do trabalho, poderão ser aqui
empregadas para deslindar referida noção. Assim, o autor de um crime comissivo por omissão
é o sujeito garantidor que tinha, no momento do episódio, a possibilidade fática de agir, mas
que acabou por não executar tal aptidão. Aludidas considerações repercutem no tema do
concurso de pessoas, temática que foi exposta com mais detalhes no capítulo anterior do
presente estudo que aqui se aproxima do seu término.
25 - Como forma de superar entraves que gravitam em torno do tema da omissão
imprópria no particular aspecto da delimitação da figura do garantidor, direcionamos nossa
posição para a corrente, sob a liderança especial de Figueiredo Dias e de Faria Costa, que
corrobora a tese de que a revelação dos deveres de garantia, necessariamente, tem de ser
alcançada pela conjugação das “teorias formais” e das “teorias materiais”, cujas linhas
dogmáticas essenciais foram expressas no corpo da presente investigação. Edifica-se, com isso,
um modelo sedimentado em práticas de solidarismo, mas com fortes liames jurídicos, que
permite a cognição da ilicitude material da situação concreta em cotejo com o tipo formal que
disciplina o suposto fático objeto de análise. Diante dessa engrenagem, em todas as hipóteses
de identificação da posição de garantidor deverá estar inevitavelmente presente, afora uma das
categorias formais do art. 13, §2, do Código Penal brasileiro, a constatação de uma relação
comunicacional fática, apoiada primacialmente naquilo que Faria Costa chamou de esfera de
domínio positivo do omitente. Nesse cenário de congraçamento entre os critérios formais e
materiais, Figueiredo Dias faz alusão às seguintes hipóteses que ensejam a posição de
garantidor, às quais sufragamos no transcorrer do trabalho: a) deveres de proteção e assistência
a bens jurídicos carecidos de amparo, dos quais se extrai a presença de uma proximidade
socioexistencial, um elo de solidariedade natural; b) deveres de garante assentados no fator
material concernente à proximidade do agente com certa fonte de perigo; c) por fim, as situações
denominadas por Figueiredo Dias de “posições de monopólio”. Todos os respectivos
compartimentos com os seus desdobramentos foram expostos na sequência do estudo.
26 - Quando o delito omissivo impróprio estiver lastreado na fonte do art. 13, §2º, “a”,
do Código Penal brasileiro, entendemos, conforme já foi frisado, que se está diante de hipótese
caracterizada como sendo de norma penal em branco, que, no caso em tela, necessariamente,
deverá ser inserida na categoria em sentido amplo. Logo, forçosamente a norma integradora,
que vai explicitar o conteúdo obrigacional, deverá advir do mesmo órgão que está autorizado a
464
legislar sobre Direito Penal, qual seja, o Parlamento, isto é, o legislador da União, consoante
dispõe o art. 22, I, da Constituição Federal de 1988. Assim, tendo-se por base que a fonte formal
imediata do Direito Penal é a lei, devemos, aqui, concebê-la como sendo a lei ordinária, a lei
complementar, como, de igual modo, os preceitos constitucionais, sejam os já presentes
originalmente na Lei Maior, sejam aqueles que foram incorporados no transcorrer dos anos por
meio de emendas. Tais pontos foram devidamente esmiuçados no capítulo precedente do
trabalho em tela. Concebemos que é perfeitamente aceitável que o fundamento legal do dever
de atuar do garantidor esteja posicionado em preceito de ordem constitucional, assim,
delineando o substrato para a manifestação de uma modalidade omissiva imprópria punível. A
propósito do assunto, deve-se, aqui, apenas a título de ilustração, mencionar, afora outras
significativas passagens alusivas ao tema na Constituição Federal, o emblemático trecho
inserido no Capítulo I, do Título II, que trata “dos direitos e deveres individuais e coletivos”
(grifo nosso).
27 - Já no caso do art. 13, §2º, “b”, do Código Penal brasileiro, com supedâneo em
Figueiredo Dias, entendemos que nem sempre uma relação contratual celebrada validamente e
que tem por objeto a tutela de bens jurídicos ou de interesses particulares de certa pessoa ou de
grupo de indivíduos, constituirá fator suficiente para, por si só, erigir-se como fonte de
responsabilidade do agente em decorrência da omissão imprópria. Ressalta-se ainda que
eventual caracterização da invalidade do contrato, por violação de alguma formalidade jurídica,
não tem o poder de servir como justificativa para tentar excluir-se a responsabilidade penal do
omitente. O núcleo fundamentador da posição de garantidor em tela reside é na assunção fática
de uma função de tutela materialmente alicerçada em uma relação de confiança.
28 - A última hipótese do art. 13, §2º, “c”, do Código Penal brasileiro, envolve a questão
da ingerência, isto é, uma conduta comissiva ou omissiva anterior de natureza perigosa, em
regra, de conotação ilícita e que seja objetivamente imputável ao agente garantidor. De acordo
com os passos de Figueiredo Dias, entendemos que se deva também abrir espaço para as
introjeções da teoria da imputação objetiva, de modo que a posição de garantidor estará
desatendida quando o comportamento anterior estiver na esfera dos limites do risco permitido,
quando, conquanto tenha excedido, não se exprimiu na produção do resultado típico ou, ainda,
quando aludido fato prévio não estiver incluso no espectro de tutela da norma.
Neste ponto, concluímos a presente tese doutoral com as nossas impressões e o acervo
de proposições sobre o tratamento do tema da omissão imprópria no sistema penal brasileiro.
465
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