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ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ
ANA CAROLINA TEIXEIRA BASTOS BRANDÃO
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SER AGENTE COMUNITÁRIO DE
SAÚDE
ITAJUBÁ- MG
2013
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ANA CAROLINA TEIXEIRA BASTOS BRANDÃO
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SER AGENTE COMUNITÁRIO DE
SAÚDE
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, realizado com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) como requisito parcial para obtenção do título de Enfermeira.
Orientadora: Profª. M.ª Ana Maria Nassar Cintra Soane Coorientadora: Profª. M.ª Aldaíza Ferreira Antunes Fortes
ITAJUBÁ- MG
2013
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B327r Bastos, Ana Carolina Teixeira. As representações sociais de ser agente comunitário de saúde / Ana Carolina Teixeira Bastos. - 2013. 86 f.
Orientadora: Profª. M.ª Ana Maria Nassar Cintra S. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Enfer- magem) com apoio financeiro da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG) -Escola de Enfermagem Wenceslau Braz - EEWB, Itajubá, 2013. 1. Agente comunitário de saúde. 2. Programa Saúde da Família. 3. Narrativas pessoais. I. Título.
NLM: WA 308
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB)
Bibliotecária - Karina Morais Parreira - CRB 6/2777
© reprodução autorizada pela autora
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AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar a Deus, que me deu forças que eu já não mais acreditava
ter, amparando-me e confortando-me nos momentos mais difíceis do meu
caminhar.
Aos meus amigos pela fidelidade e incentivo.
A minha orientadora Ana Maria Nassar Cintra Soane e coorientadora Aldaíza
Ferreira Antunes Fortes, pela compreensão e paciência.
Aos ACSs das ESFs deste estudo, pela participação e pelo carinho com que
me receberam.
A EEWB que acreditou em mim, permitindo a realização do meu sonho em
cursar ensino de enfermagem.
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DEDICATÓRIA
Dedico primeiramente a Deus, pois foi ele que tornou tudo isso possível.
A minha família do coração, Maria das Graças, Marcos, Raysa e Thuiany, que
me acolheram em sua casa sem exigir nada em troca, oferecendo-me todo o
amor e carinho quando eu mais precisei.
Aos meus amigos que me incentivaram e apoiaram em todos os momentos.
A minha orientadora Ana Maria Nassar Cintra Soane e coorientadora Aldaíza
Ferreira Antunes Fortes, que foram essenciais na montagem dessa pesquisa,
em que ambas abriram mão até de suas férias e finais de semanas
prestando-me toda a assistência.
A todas as pessoas que trabalham na EEWB, pela dedicação em nos ajudar,
seja no que for e em qualquer dificuldade.
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Embaixo do sol escaldante,
se movimentando no frio tremulante,
para aquecer a espera de um vivante,
surge então um ser fascinante,
como o coração vibrante,
prontamente para mais uma batalha,
com seu dom de orientar,
informar, e se preocupar com quem necessitar,
rotineiro na luta entre tantos corações,
com o dos outros se preocupar,
mesmo que o seu venha a quebrar...
Porque ele ama ajudar...
o dom é a arte de amar e respeitar...
Deus abençoe sua rotina diaria...
Andressa Camila.
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RESUMO
Este estudo tem o objetivo de identificar as representações sociais de serem Agentes Comunitários de Saúde (ACS) pelos agentes que atuam nas Estratégias de Saúde da Família da cidade de Itajubá-MG. A abordagem é qualitativa, do tipo exploratório, descritivo e transverso. A coleta de dados ocorreu após aprovação da pesquisa pelo Comitê de Ética da Pesquisa da EEWB e foi realizada com 38 ACS, com amostragem intencional, por meio de um questionário de dados pessoais e profissionais, e por um roteiro de entrevista semi-estruturada constituída por uma pergunta aberta. Os dados foram analisados pelo método do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). A maioria dos participantes do estudo é do sexo feminino, casada, a idade entre 20 e 58 anos, católica, de ensino médio completo, atua como ACS de 06 meses a dois anos e recebeu treinamento para ser agente. Ser ACS para eles tem os seguintes significados: “É tudo”, “Transmitir e receber conhecimentos”, “Ajudar as pessoas”, “Ter vínculo com a família”, “Promover a saúde e prevenir doenças”, “Muito importante”, “Saber ouvir e dar atenção”, “Saber lidar com as pessoas”, “Gratificante”, “Acompanhar as famílias”, “Incentivar e motivar as pessoas” e “Fazer os trabalhos propostos”. Constata-se que a grande maioria dos ACS estabelece vínculos com a comunidade, e com isso promove a saúde do indivíduo e toda a família.
Palavras-chaves: Agente Comunitário de Saúde. Programa Saúde da Família. Narrativas pessoais.
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ABSTRACT
This study aims to identify the social representations to be Community Health Agents (ACS) by the agents who work in the Family Health Strategy City Itajubá-MG. The approach is qualitative, exploratory, descriptive and transversal. Data collection occurred after approval of the research by the Ethics Committee of Research and EEWB was performed with 38 ACS, with purposive sampling, by means of a questionnaire for personal and professional data, and a semi-structured interviews consisting of a question opened. Data were analyzed by using the Collective Subject Discourse (CSD). Most of the study participants are female, married, age between 20 and 58 years, Catholic high school complete, ACS acts as 06 months to two years and received training to be an agent. ACS to be they have the following meanings: "It's all", "Transmitting and receiving knowledge," "Helping people", "Tue bond with the family", "to promote health and prevent disease," "Very Important", "knowing how to listen and pay attention, "" dealing with people "," rewarding "," Accompany families, "" encourage and motivate people "and" Do the proposed works. "It appears that the vast majority of ACS establishes links with the community, and it promotes the health of the individual and the entire family.
Keywords: Agent Community Health, Family Health Program, Personal narratives.
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Número de ACS por ESF participantes do estudo da cidade de
Itajubá –MG..............................................................................................................33
Quadro 2 - Ideias centrais, sujeito e frequência sobre o tema “As
representações sociais de ser agente comunitário de saúde” (n=38) ...............41
Quadro 3 - Agrupamento das ideias centrais complementares sobre o tema “As
representações sociais de ser agente comunitário de saúde” (n=38) ...........43
Quadro 4 - Agrupamento das ideias centrais semelhantes sobre o tema “As
representações sociais de ser agente comunitário de saúde” (n=38) ..............44
Quadro 5 - Ideias centrais, sujeitos e frequência de ideias sobre o tema “As
representações sociais de ser agente comunitário de saúde” (n=38) ...............46
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Representações Sociais de Agente Comunitários de Saúde para os
ACS participantes do estudo .................................................................................51
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LISTA DE ABREVIATURAS
AIDS – Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
ACS – Agente Comunitário de Saúde
CEAM - Clínica Especializada em Assistência Médica
CEP – Comitê de Ética em Pesquisa
EEWB – Escola de Enfermagem Wenceslau Braz
ESF – Estratégia Saúde da Família
IBGE – Estudo Brasileiro de Geografia Estatística
IES – Instituição de ensino de saúde
km² - Quilômetros ao quadrado
MS – Ministério da Saúde
ODONTOMED – Hospital Médico e Odontológico
PACS – Programas de Agentes Comunitários de Saúde
PSD – Processo Saúde Doença
SIAB - Sistema de Informação de Atenção Básica
SISPACS – Sistema de Informação do PACS
SUS – Sistema Único de Saúde
UNIMED – Cooperativa de Trabalho Médico
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...............................................................................................14
1.1 INTERESSE PELO TEMA..............................................................................16
1.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO .......................................................................16
1.3 OBJETIVO DO ESTUDO................................................................................19
2 MARCO CONCEITUAL..................................................................................20
2.1 CONTEXTUALIZANDO A PROFISSÃO DO ACS ..........................................20
3 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO ..............................................26
3.1 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS................................................................26
3.2 O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO .......................................................27
3.2.1 Expressões-chave ..........................................................................................27
3.2.2 Ideias centrais...............................................................................................28
3.2.3 Ancoragem....................................................................................................28
3.2.4 Discurso do Sujeito Coletivo.......................................................................28
4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA ..................................................................30
4.1 CENÁRIO DO ESTUDO.................................................................................30
4.1.1 Caracterização dos locais de estudo..........................................................31
4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA ..................................................................32
4.3 SUJEITOS, NATUREZA DA AMOSTRA E AMOSTRAGEM ..........................32
4.4 COLETA DE DADOS......................................................................................34
4.4.1 Instrumentos para coleta de dados ............................................................34
4.4.2 Procedimentos para a coleta de dados ......................................................35
4.5 PRÉ-TESTE ...................................................................................................35
4.6 ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE DE DADOS.....................................................36
4.7 ÉTICA DA PESQUISA....................................................................................37
5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS .......................................................38
5.1 CARACTERIZAÇÕES PESSOAIS E PROFISSIONAIS DOS AGENTES
COMUNITÁRIOS DE SAÚDE PARTICIPANTES DO ESTUDO.....................38
5.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SER AGENTE COMUNITÁRIO DE
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SAÚDE PARA OS AGENTES PARTICIPANTES DA PESQUISA ................40
5.2.1 Tema e ideias centrais .................................................................................40
5.2.2 DSC referente às ideias centrais emergidas ..............................................47
5.3 SÍNTESE DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO TEMA “SIGNIFICADOS
DE SER ACS” ...............................................................................................50
6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................................................................52
7 CONCLUSÕES ..............................................................................................60
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...........................................................................61
REFERÊNCIAS..............................................................................................63
APÊNDICE A – Caracterização pessoal e profissional dos ACSs............66
APÊNDICE B – Roteiro de entrevista semi-estruturada............................67
APÊNDICE C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................68
ANEXO A - Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD - 1) .....................70
ANEXO B - Instrumento de Análise de Discurso 2 (IAD - 2) .....................80
ANEXO C – Parecer Consubstanciado n. 801/2012...................................85
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1 INTRODUÇÃO
A profissão de Agente Comunitário da Saúde (ACS) existe desde 10 julho de
2002, quando foi criada pela Lei n° 10.507 que definiu seu exercício como exclusivo
do Sistema Único de Saúde (SUS) e sob a supervisão do gestor local em saúde
(BRASIL, 2002).
O ACS identifica fatores de risco na comunidade, e tenta solucioná-los junto à
unidade de Estratégia de Saúde da Família (ESF) do bairro, realizando atividades
educativas de saúde, fazendo visitas a domicílios para a prevenção de doenças e
para a promoção da saúde, sempre visando à melhoria de vida de toda a população
(FERRAZ; AERTZ, 2005).
A atuação do ACS é monitorada e orientada por um enfermeiro da unidade de
saúde onde esse profissional está atuando. Esse agente, também, é capacitado por
esse enfermeiro que o adequa de acordo com as prioridades do seu bairro (BRASIL,
2001).
Este trabalhador atua apenas em seu bairro a fim de ter uma maior
aproximação entre ele e a comunidade, o que facilita a orientação das famílias sobre
o próprio cuidado com a sua saúde e, também, do cuidado com a saúde da
comunidade. (BRASIL, 2001; SANTOS et al., 2011).
O fato de o ACS atuar em seu próprio bairro torna ainda maior a sua ligação
com a comunidade, visto que as famílias se sentem mais a vontade conversando
com um conhecido do que com um desconhecido, e isso facilita também o
desenvolvimento do trabalho do próprio agente. Além disso, quanto maior a
aproximação, mais rápida é feita a identificação de problemas de saúde dentro de
cada família, sendo atendidas com mais prioridade aquelas que tiverem maiores
necessidades, como por exemplo, as famílias que têm pessoas com alguma
deficiência ou uma patologia, tendo elas uma assistência maior, pois, muitas vezes,
seus familiares não sabem dar o cuidado correto para elas. Assim, o ACS informa ao
ESF sobre as necessidades e capacidades do grupo familiar, orientando as famílias
para a melhora da saúde do indivíduo em questão (FERRAZ; AERTS, 2005;
SANTOS et al., 2011).
O ACS realiza uma visita por mês, fazendo anotações na ficha de cadastro do
Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) sobre cada pessoa da família a
cada encontro. Tal ficha contém informações sobre a qualidade da saúde dessas
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pessoas, sendo estas passadas para a Secretaria Municipal de Saúde, que
encaminha para a Secretaria Estadual de Saúde e esta, por sua vez, envia um
relatório para o Ministério da Saúde que fará as reparações necessárias para a
melhoria de toda a comunidade. Em alguns casos, pode ocorrer mais de uma visita
no mês, por terem maiores necessidades na atenção de cuidados decorrentes das
condições de saúde de um ou mais membros da casa (BRASIL, 2001).
Na realização das ações educativas, os ACSs orientam os grupos familiares
sobre a importância da higiene, fazem o controle das vacinas através do cartão de
vacinação, orientam as gestantes para fazer o pré-natal e destacam a importância
do uso de preservativos. Essas e outras atividades são desenvolvidas por esses
profissionais junto a ESF para que a comunidade se informe sobre os cuidados
necessários a sua saúde (FERRAZ; AERTS, 2005).
O ACS também exerce trabalhos administrativos dentro da sua unidade,
como a atuação dentro da recepção da ESF do seu bairro, fazendo agendamento e
entregas de fichas para consultas médicas, organizando pasta e prontuários,
controlando materiais, o almoxarifado e o atendimento do telefone (FERRAZ;
AERTS, 2005).
As orientações dadas pelos ACS são feitas pela troca de informações a cada
visita e de acordo com a realidade e cultura de cada família. O diálogo é um dos
meios mais importantes dentro dessa profissão, pois é um instrumento que faz
aproximação entre o ACS e a família. Através de conversas o profissional identifica
os problemas e dificuldades relacionadas ao cuidado, orienta, encaminha e
acompanha essas pessoas promovendo a melhoria da qualidade de vida das casas
que visita (FERRAZ; AERTS, 2005).
O ACS age como uma ponte de informações entre a comunidade e a ESF,
uma vez que, através do ACS, as orientações necessárias chegam da ESF para a
comunidade, e as necessidades da comunidade são levadas até a ESF. Desta
maneira, pode-se aumentar a eficácia do serviço de saúde na promoção e na
prevenção da saúde de cada indivíduo, evitando maiores problemas de saúde
dentro das comunidades, fazendo, também, com que diminua o número de pessoas
dentro de hospitais (SANTOS et al., 2011).
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1.1 INTERESSE PELO TEMA
O interesse por este tema surgiu através de um convite feito por duas
professoras da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, que, inicialmente, deixaram
livre a escolha do tema. Entretanto, como aluna do primeiro ano, foram feitas
propostas de alguns temas, e através destes, tive um interesse maior pelo da
profissão de ACS, pois uma amiga exerce esta profissão, através de quem tive a
oportunidade de escutar sobre algumas experiências dentro da sua área.
O interesse intensificou ao perceber em algumas literaturas a diversidade de
tarefas exercidas por esse profissional, que executa atividades importantíssimas que
contribuem para um atendimento coletivo, mas ao mesmo tempo individual, por
causa da atenção dada em cada visita executada pelo ACS, onde ele escuta os
membros da família, interage e faz as orientações necessárias e adequadas a cada
família.
No decorrer deste estudo, nota-se que não se encontram artigos falando
sobre os significados de ser ACS, e isso despertou uma vontade, ainda maior, de
trabalhar com este tema.
1.2 JUSTIFICATIVA DO ESTUDO
A atuação do ACS torna a comunidade mais próxima da educação em saúde,
o que resulta na melhoria da qualidade de vida de cada membro da família. Essa
aproximação facilita o serviço do ACS para cuidar desta comunidade, pois o fato
dele morar no mesmo bairro em que atua, possibilita que este vivencie as mesmas
dificuldades enfrentadas pela população onde este profissional desenvolve o seu
trabalho (PERES et al., 2010).
Estes autores reforçam dizendo que, a cada visita, o ACS vivencia
experiências novas que lhe são relatadas em cada entrevista. A convivência diária
com a realidade da comunidade em que se encontra permite ao ACS que ele tenha
informações valiosas para a compreensão do processo saúde-doença.
É importante saber dos fatores intrínsecos de cada família, visto que, na
maioria das vezes, o problema está relacionado a esses fatores e não somente aos
fatores extrínsecos, que também não devem ser excluídos para se discutir a causa
do problema que acomete uma determinada família.
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A observação desenvolvida pelo ACS durante e depois do seu trabalho dentro
da comunidade, contribui de forma positiva para a manutenção e equilíbrio da vida
dessas pessoas que compartilham as mesmas dificuldades que o ACS enfrenta no
seu dia a dia. Sem dúvida, a relação entre a vida social e o trabalho se torna mais
forte pelo fato deste profissional atuar na mesma comunidade onde vive (FERRAZ;
AERTS, 2005).
A atenção de forma holística para com cada paciente, ou seja, fazendo uma
analise geral dentro de todo o seu âmbito familiar, contribui para a melhoria da
qualidade de vida em todos os sentidos, desde o mais simples como, por exemplo, a
higiene da casa até o mais complexo como doenças crônicas e contagiosas
(FERRAZ; AERTS, 2005; FIGUEIREDO et al., 2009; BRASIL, 2001).
Refletindo as palavras mencionadas anteriormente, a interação da
comunidade com a educação em saúde faz com que: diminua o número de doenças
infecciosas e contagiosas; diminuam os acidentes domésticos; aumente a procura
do pré-natal por parte de gestantesl, entre outros fatores essenciais para a qualidade
de toda a coletividade.
A incidência de doenças e mortes preveníveis pode ser evitada por meio da
proposta de um modelo voltado para a comunidade onde estão os problemas e onde
se pode fazer a promoção e a prevenção. Revertendo a visão de hospital como
centro de toda a atividade de atenção à saúde, sem negar o fato de que o hospital é
muito importante e que sempre foi e sempre será necessário para a atenção da
saúde familiar (DOMINGUEZ, 1998).
Evitar que o homem sadio adoeça; diagnosticar doenças em tempo hábil de
serem controladas; que o doente não se complique, invalide ou morra
precocemente, são ações que podem ser realizadas, a todo o momento, no
Processo Saúde-Doença (PSD), sendo esta a essência da promoção e prevenção
(DOMINGUEZ, 1998).
A ESF oferece um modelo de atenção que pretende melhorar as condições
de vida e da saúde da população, através de atividades e ações de promoção,
prevenção, cura e reabilitação. Deve-se considerar a ESF como um processo e
estratégia de mudança nas concepções da atenção e no funcionamento dos
serviços de saúde a médio e longo prazo. Contribuindo com metas e ações para a
melhoria das condições de vida e, consequentemente, do nível de saúde da
população. Tendo como base desde o início da sua criação em 1994, a
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integralidade, a territorialização e a continuidade das ações em saúde para a
promoção de saúde da família (DOMINGUEZ, 1998; FIGUEIREDO et al., 2009).
O vínculo da ESF com a comunidade, criado por intermédio do ACS, deve ser
expandido a cada canto do país, pois acredito que a população necessita dessa
atenção para que haja diminuição dos fatores que interfiram na saúde de cada
indivíduo.
A ESF já foi implantada em diversos países como: Espanha, Austrália,
Inglaterra, Canadá, Estados Unidos. Na América Latina, também foi implantado em
alguns países como Cuba, Venezuela, Brasil, mesmo que com nomes diferentes e
cada um com suas particularidades, porém todos com o mesmo objetivo: o de
alcançar bons resultados na aceitação e satisfação da população, melhorando os
indicadores de saúde e serviços. Sendo os projetos do ESF aplicados e elaborados
diante das condições, características e problemas de saúde de cada país, estado,
município, ou comunidade, levando sempre em conta as experiências de outros
lugares (DOMINGUEZ, 1998).
A identificação dos problemas e necessidades de saúde é o começo do
planejamento estratégico que só termina com a efetiva solução das pendências
apontadas. O plano de saúde não deve ser concluído até que haja solução ou
controle dos problemas detectados (DOMINGUEZ, 1998).
O fato de ser uma profissão nova e desconhecida para muitos, e até mesmo
por mim, despertou-se a vontade de ouvir este ACS sobre a sua profissão, sobre o
significado de realizar tais atividades. Assim emergiu o questionamento: O que é
para o ACS ser ACS?
Espera-se que o estudo amplie a literatura e desperte o interesse de novos
trabalhos relacionados ao assunto para a valorização do mesmo e para que amplie a
visão de todos os profissionais de saúde em relação à melhoria do cuidado.
Conhecendo a visão do ACS acerca do significado de ser ACS, novas
estratégias de acompanhamento das funções dos agentes poderiam ser
implementadas com a finalidade de aprimorar o trabalho desenvolvido por eles,
melhorando, assim, o desempenho desses profissionais.
Com a melhora do desempenho dos ACSs, a sociedade, passa a ter boas
contribuições, já que o trabalho desenvolvido pelo ACS procura entender todos os
fatores, enxergando o indivíduo, a família e a comunidade para a saúde de todo o
coletivo, obtendo um melhor atendimento e garantindo uma vida mais saudável.
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1.3 OBJETIVO DO ESTUDO
Este estudo tem como objetivo:
Identificar as representações sociais de ser ACS pelos agentes que atuam
nas Estratégias de Saúde da Família da cidade de Itajubá-MG.
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2 MARCO CONCEITUAL
Nesta etapa, discorre-se sobre a profissão do ACS, abordando a sua criação,
funções, competências e atuação.
2.1 CONTEXTUALIZANDO A PROFISSÃO DO ACS
Na década de 1970, surgem algumas experiências sobre o trabalho do ACS
no Brasil. Em 1991, cria-se o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS)
pelo Ministério da Saúde (MS), que passa a ser implantado como estratégia
transitória do PSF em 1993 quando se deu início à implantação do mesmo (PERES
et al., 2011).
A ESF propôs ao SUS praticar os princípios de integralidade, universalidade e
equidade, tendo o ACS como “peça” principal para o desenvolvimento da proposta
(PERES et al., 2011).
A institucionalização e a regulamentação da prática do ACS pelo MS
caracteriza-a como atividade domiciliar ou comunitária, individual ou coletiva, como
um conjunto de ações desenvolvidas de acordo com as diretrizes do SUS, que são:
a prevenção de doenças e a promoção da saúde (PERES et al., 2011).
Para exercer a profissão de ACS, não era exigido grau de escolaridade
desses profissionais no início da implantação do PACS, mas em 2002, quando foi
criada a profissão de ACS, passou a ser exigido o ensino fundamental (PERES et
al., 2011).
Sabe-se que os estudos são importantes em qualquer profissão, pois com
eles as informações chegam mais completas àquele que ouve. Além disso, são
importantes para que tenhamos uma visão ampla em todos os sentidos, e esta visão
é necessária ao ACS, já que tem como uma de suas funções a transmissão ao outro
de informações que devem ser praticadas por esses indivíduos para que haja a
promoção da saúde da comunidade. É também importante destacar que estes
profissionais devem estar sempre se atualizando, pois, quanto mais este consiga
adquirir conhecimentos, a qualidade e o desempenho de suas ações podem ser
ainda melhores.
No Brasil o ACS representa um novo cenário da atenção básica à saúde.
Além de ser morador da comunidade de onde realiza as atividades de seu serviço,
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também é parte da equipe de saúde, desta maneira, ele se torna um personagem-
chave na organização da assistência (PERES et al., 2011).
O ACS, através da prática que desenvolve, proporciona olhares, sentimentos
e escutas que influenciam nas suas ações tornando o vínculo entre ele e a
comunidade mais estreito, despertando confiança, responsabilidade, respeito e
compromisso (PERES et al., 2011).
Os ACS realizam intervenção de maneira integral sobre os fatores de risco
aos quais sua comunidade está sujeita, mas, apesar disso é necessário o
envolvimento do governo onde haja prioridade como na educação, saneamento,
alimentação, renda, moradia e segurança, para que o processo assistencial seja
efetivado pelos ACS (FERAZ; AERTS, 2005).
Segundo Brasil (2001), para ser ACS deve-se ter idade igual ou acima de
dezoito anos, residir na comunidade por no mínimo dois anos e ter disponibilidade
para exercer a profissão. O indivíduo que for selecionado será remunerado com pelo
o menos um salário por mês.
As principais ações do PACS são desenvolvidas por meio dos ACS, que
atenderá entre 400 e 750 pessoas por mês dentro da sua comunidade,
desenvolvendo sob supervisão competente as seguintes funções: (BRASIL, 2001)
Visitar no mínimo uma vez por mês cada família da sua comunidade;
Identificar situação de risco e encaminhar aos setores responsáveis;
Pesar e medir mensalmente as crianças menores de dois anos e
registrar a informação no Cartão da Criança;
Incentivar o aleitamento materno;
Acompanhar a vacinação periódica das crianças por meio do cartão de
vacinação e de gestantes;
Orientar a família sobre o uso de soro de reidratação oral para prevenir
diarréias e desidratação em crianças;
Identificar as gestantes e encaminhá-las ao pré-natal;
Orientar sobre métodos de planejamento familiar;
Orientar sobre prevenção da AIDS;
Orientar a família sobre prevenção e cuidados em situação de
endemias;
Monitorar dermatoses e parasitoses em crianças;
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Realizar ações educativas para a prevenção do câncer cérvico-uterino
e de mama;
Realizar ações educativas em relação ao climatério;
Realizar atividades de educação nutricional nas famílias e na
comunidade;
Realizar atividades de educação em saúde bucal na família, com
ênfase no grupo infantil;
Supervisionar eventuais componentes da família em tratamento
domiciliar e dos pacientes com tuberculose, hanseníase, hipertensão,
diabetes e outras doenças crônicas;
Realizar atividades de prevenção e promoção da saúde do idoso;
Identificar portadores de deficiência psicofísica com orientação aos
familiares para o apoio necessário no próprio domicílio.
Desta forma, Brasil (2001, p.6) considerando as atribuições, anteriormente,
elencadas, informa que a rotina de um ACS, de forma resumida, envolve as
seguintes tarefas:
Cadastramento/diagnóstico: é a primeira etapa do trabalho junto à comunidade.
Consiste em registrar na ficha de cadastro do Sistema de Informação de Atenção
Básica (SIAB) informações sobre cada membro da família assistida a respeito de
variáveis que influenciam a qualidade da saúde, como situação de moradia,
condições de saúde e etc. Essas informações, uma vez consolidadas e
analisadas, serão divulgadas e discutidas junto à comunidade e, posteriormente,
encaminhadas à Secretaria Municipal de Saúde, que por sua vez enviará cópia
para a Secretaria Estadual de Saúde. Uma vez reunidas e processadas no
Estado, darão origem a um relatório a ser encaminhado ao Ministério da Saúde.
Mapeamento: Esta fase consiste no registro em um mapa da localização de
residências das áreas de risco para a comunidade, assim como dos pontos de
referências no dia-a-dia da comunidade, com o objetivo de facilitar o planejamento
e o desenvolvimento do trabalho do agente.
Identificação de microáreas de risco: uma vez realizado o mapeamento, o ACS
identifica setores no território da comunidade que representam áreas de risco. Ou
seja, locais que apresentam algum tipo de perigo para a saúde das pessoas que
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moram ali como inexistência ou precariedade do sistema de tratamento de esgoto
sanitário, de abastecimento de água, entre outros.
Realização de visitas domiciliares: este é o principal instrumento de trabalho do
ACS. Consiste de, no mínimo, uma visita mensal a cada família residente na área
de atuação do agente. A quantidade de visitas por residência varia em função das
condições de saúde de seus habitantes e da existência de crianças e gestantes,
as quais recebem atenção especial por comporem grupos prioritários.
Ações coletivas: com vistas a mobilizar a comunidade, o ACS promove reuniões e
encontros com grupos diferenciados: gestantes, mães, pais, adolescentes, idosos,
grupos de situações de risco ou de portadores de doenças comuns e incentiva a
participação das famílias na discussão do diagnóstico comunitário de saúde, no
planejamento de ações e na definição de prioridades.
Ações intersetoriais: além de ações específicas na área de saúde, o agente
poderá atuar em outras áreas como:
- Educação: identificação de crianças em idade escolar que não estão
frequentando a sala de aula;
- Cidadania/direitos humanos: ações humanitárias e solidárias que
interfiram de forma positiva na melhoria da qualidade de vida (reforço a
iniciativas já existentes de combate à violência e criação se comissões em
defesa das famílias expostas à fome e a desastres naturais como sacas e
enchentes).
BRASIL (2001, p.11) diz que, no âmbito do PACS, cabem as seguintes
responsabilidades:
Contribuir para a reorientação do modelo assistencial através do estimulo à
adoção da estratégia de agentes comunitários de saúde pelos serviços
municipais de saúde;
Definir normas e diretrizes para a implantação do programa;
Garantir fontes de recursos federais para compor o financiamento tripartite do
programa;
Definir mecanismos de alocação de recursos federais para implantação e a
manutenção do programa, de acordo com os princípios do SUS;
Definir prioridades para a alocação da parcela de recursos federais ao programa;
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Regulamentar e regular o cadastramento dos ACS e enfermeiros
instrutores/supervisores no SAI/SUS;
Prestar assessoria técnica aos estados e aos municípios para o processo de
implantação de gerenciamento do programa;
Disponibilizar instrumentos técnicos e pedagógicos facilitadores do processo de
capacitação e educação permanentes dos ACS e dos enfermeiros
instrutores/supervisores;
Disponibilizar o Sistema de Informação da Atenção Básica (SIAB) ou,
transitoriamente, o Sistema de Informação do PACS (SISPACS) como
instrumento para monitorar as ações desenvolvidas pelos ACS;
Assessorar estados e municípios na implantação do Sistema de Informações;
Consolidar e analisar os dados de interesse nacional gerados pelo sistema de
informação e divulgar os resultados obtidos;
Controlar o cumprimento, pelos estados e municípios, da alimentação do banco
de dados do sistema de informação;
Identificar os recursos técnicos e científicos para o processo de controle e
avaliação dos resultados e do impacto das ações do PACS;
Articular e promover o intercâmbio de experiências para aperfeiçoar, disseminar
tecnologias e conhecimentos voltados à atenção primária à saúde;
Identificar e viabilizar parcerias com organismos internacionais de apoio, com
organizações governamentais, não governamentais e do setor privado.
No âmbito das Unidades da Federação, a coordenação do PACS, de acordo com o princípio de gestão descentralizada do SUS, está sob-responsabilidade das Secretarias Estaduais de Saúde. Compete a esta instância definir, dentro de sua estrutura administrativa, o setor que responderá pelo processo de coordenação do programa e que exercerá o papel de interlocutor com o nível de gerenciamento nacional (BRASIL, 2001, p. 12).
Com crescente número populacional, as exigências de atenção voltadas à
comunidade também acompanharão esse elevado crescimento, que exigirá mais
ainda do ACS, mas para que não caia a qualidade da assistência oferecida à
comunidade, será necessário que o governo contrate mais profissionais, oferecendo
aos novos e velhos ACSs cursos que os tornem mais capacitados para oferecer as
orientações adequadas dentro da principal função exercida por eles: a visita
domiciliar.
-
25
O atendimento à população deu um salto quantitativo de 16,7 milhões para
68,4 milhões de habitantes e a quantidade de ACS aumentou de 29.098 para
118.960, entre os anos de 1994 e 2000 (BRASIL, 2001).
Por fim, é importante ressaltar que se houver mais capacitação e educação
no programa, diminuição do número de famílias por ACS e inserção de um auxiliar
administrativo nas equipes da ESF podendo o agente ficar mais centrado na atenção
primária, talvez desta forma, algumas ações possam potencializar o
desenvolvimento do trabalho do ACS (FERRAZ; AERTZ, 2005).
-
26
3 REFERENCIAL TEÓRICO METODOLÓGICO
Esta etapa do trabalho expõe os pressupostos das Representações Sociais
(RS) e a descrição do método do Discurso do Sujeito Coletivo, que se baseia nesta
teoria.
3.1 AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS
As RS como afirma Jodelet (1989, p.53) “são uma forma de conhecimento
socialmente elaborado e partilhado, tendo uma visão prática e concorrendo para a
construção de uma realidade comum a um conjunto social”. Toda representação
social é a representação de “algo e de alguém”, “é o processo pelo qual se
estabelece a sua relação”.
A sociedade acumula uma base social em sua trajetória histórica, que circula
entre membros, formando crenças e valores compartilhados, e tem grande influência
na construção das representações sociais. (IBANEZ, 1988)
No entender de Moscovici (2003) as RS consistem na maneira de interpretar
a nossa realidade cotidiana em uma forma de conhecimento social ao associarem a
atividade mental desenvolvida pelos indivíduos e os grupos, para fixar sua posição
em relação à situação, acontecimentos, objetos e comunicação que lhes dizem
respeito.
Abrantes e Figueiredo (1996) corroboram afirmando que a forma como o
homem tenta explicar e compreender a realidade que o cerca tem sido objeto de
discussão em diversas áreas do conhecimento, como sociologia, educação e
psicologia. Para isso, tem sido utilizado o conceito das RS para compreender como
é a relação do indivíduo com a sociedade, visto que as representações refletem a
maneira como o homem tenta entender a realidade em que vive e estabelecer-se
dentro da mesma.
Os pressupostos da Teoria das Representações Sociais (TRS) vêm sendo
utilizados pela enfermagem desde a década de 80, buscando compreender os
aspectos psicossociais que emergem em vários objetos da investigação que ela
focaliza. Sendo assim, a TRS apresenta grande aderência aos objetos de estudo na
área de enfermagem, uma vez que ela consegue apreender os aspectos mais
-
27
subjetivos que permeiam os problemas inerentes a esse campo. (ABRANTES;
FIGUEIREDO, 1996).
A RS é uma atividade de construção ou representação do real que se efetua a
partir das informações que as pessoas recebem através de suas percepções e
sensações. É tudo que a pessoa recolheu ao longo de sua história e de sua
experiência de vida, e que ficou arquivado na memória como resultado de suas
relações com os outros indivíduos ou grupos. (FIGUEIREDO, 1994)
Arruda (1991) reforça dizendo que a representação é sempre social, não só
porque é elaborada socialmente, mas porque contém as categorias de linguagem ou
códigos de interpretação fornecidos pela sociedade e pela prática social do sujeito,
juntamente com as normas e ideologias que decorrem dela. .
A TRS e seus pressupostos sociológicos fundamentam a técnica denominada
Discurso de Sujeito Coletivo (DSC), que é uma proposta de organização e tabulação
de dados qualitativos de natureza verbal, obtidos de depoimentos, artigos de jornal,
matérias de revistas semanais ou especializadas, cartas, entre outros. Esta proposta
consiste basicamente em analisar o material verbal coletado, extraído de cada um
dos depoimentos. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2003).
3.2 O DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO
Esse discurso expressa um sujeito coletivo, que viabiliza um pensamento
social: a sociedade ou as culturas podem ser lidas como um texto. (LEFÈVRE;
LEFÈVRE, 2005).
Para elaboração do DSC como mencionam Lefèvre e Lefèvre (2005) utilizam-
se algumas figuras metodológicas para auxiliar na coleta e análise dos dados. São
elas:
Expressões-chave (ECH);
Ideias Centrais (IC);
Ancoragens (AC);
Discurso do Sujeito Coletivo (DSC)
3.2.1 Expressões-chave
-
28
Lefèvre e Lefèvre (2005) afirmam que as expressões-chave (ECH) são
pedaços, trechos ou transições literais do discurso, que foram sublinhadas,
iluminadas, coloridas pelo pesquisador, e que revelam e essência do depoimento ou,
mais precisamente, do conteúdo discursivo dos segmentos em que se dividiu o
depoimento (que em geral correspondem às questões de pesquisa).
3.2.2 Ideias centrais
A ideia central (IC) é um nome ou expressão linguística que revela e
descreve, da maneira mais sintética, precisa e fidedigna possível, o sentido de cada
um dos discursos analisados e de cada conjunto homogêneo de ECH que vai dar
nascimento, posteriormente, ao DSC. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).
Os referidos autores assinalam que a IC não é uma interpretação, mas uma
descrição do sentido de um depoimento ou de um conjunto de depoimentos. Um
depoimento pode ter mais de uma ideia central.
Quanto à inter-relação entre IC e ECH, Lefèvre e Lefèvre (2005, p. 34)
destacam que a IC e a ECH são:
Indispensáveis para que os sentidos dos discursos possam ser adequadamente obtidos e descritos, tendo a primeira função identificadora, particularizadora, especificadora, e a segunda (ECH), uma função corporificadora, de substantivação, de “recheio” do sentido nomeado.
3.2.3 Ancoragem
A ancoragem (AC) é “a manifestação linguística explícita de uma dada teoria,
ou ideologia, ou crença que o autor do depoimento professa e que, na qualidade de
afirmação genérica, está sendo usada pelo enunciador para “enquadrar” uma
situação específica”. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005, p.36).
3.2.4 Discurso do Sujeito Coletivo
O Discurso do Sujeito Coletivo (DSC) é um discurso-síntese redigido na
primeira pessoa do singular e composto pela ECH que tem a mesma IC. O DSC é o
pensamento de um grupo ou coletividade e aparece como se fosse um discurso
individual.
-
29
Para construir o DSC é necessário:
Coerência – o DSC é uma reunião, agregação ou soma não
matemática de pedaços isolados de depoimentos, artigos de jornal, de
revista etc., de modo a formar um todo discursivo coerente, em que
cada uma das partes se reconheça enquanto constituinte desse todo e
o todo constituído por essas partes.
Posicionamento próprio – para que se esteja em presença de um
discurso, ele deve expressar, sempre, um posicionamento próprio,
distinto, original, específico frente ao tema que está sendo pesquisado.
Efetuar uma “limpeza” de trechos que caracterizam
individualidade/particularidades.
Dar narratividade ao discurso de modo que apresente uma estrutura
sequencial clara e coerente.
Construi-lo na primeira pessoa do singular, em itálico, negrito e sem
aspas. (LEFÈVRE; LEFÈVRE, 2005).
Com o objetivo de facilitar a construção do DSC cada depoimento é colocado,
na íntegra, em um instrumento denominado de “Instrumento de Análise de
Discurso1” (IAD–1) em que se expõem as expressões-chave (ECH) em uma coluna
e em outra as ideias centrais (IC). (ANEXO A).
Em seguida, utilizando o “Instrumento de Análise de Discurso 2” (IAD–2) faz-
se o agrupamento das expressões-chave semelhantes referentes a cada ideia
central identificada. (ANEXO B). Podem ser utilizados tantos IAD2 quanto forem os
agrupamentos.
Posteriormente, utilizando-se o IAD2, constrói-se o DSC propriamente dito.
-
30
4 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA
Esta parte do trabalho aborda os aspectos relacionados com a metodologia
utilizada na pesquisa, ou seja, o cenário onde foi realizado o estudo (com
caracterização dos locais da pesquisa), o delineamento da pesquisa, os sujeitos,
natureza da amostra e amostragem, a coleta de dados (englobando os instrumentos
e procedimentos para a coleta de dados), o pré-teste, a estratégia para análise de
dados, bem como os aspectos éticos da pesquisa.
4.1 CENÁRIO DO ESTUDO
Este estudo foi realizado na cidade de Itajubá, situada no sul do Estado de
Minas Gerais, onde exerço minhas atividades acadêmicas e de sou nativa.
O município de Itajubá se situa numa altitude de 1746 metros no seu ponto
mais alto e de 830 metros no ponto mais baixo, acima do nível do mar. A área
urbana fica numa altitude média de 842 metros. (PREFEITURA MUNICIPAL DE
ITAJUBÁ, 2009).
Itajubá ocupa uma área de 290,45 km², com uma população de
aproximadamente 100.812 habitantes, o que equivale a uma média de 312,10
habitantes/Km². (IBGE, 2008).
É privilegiada em relação à localização, não só por estar inserida numa rede
urbana formada por prósperas cidades de porte médio, cujo acesso é feito pela
BR459, mas, também, devido a sua posição em relação às grandes capitais da
região sudeste: Belo Horizonte (445 km), São Paulo (261 km), Rio de Janeiro (318
km).
Possui 57 bairros limitando-se, ao norte, com os municípios de: São José do
Alegre e Maria da Fé; ao Sudeste, Wenceslau Brás e Sudoeste com o de Piranguçu;
a Oeste, Piranguinho e a Leste com Delfim Moreira, exercendo influência direta
sobre 14 municípios da micro-região, sendo a sua população equivalente a 0,47%
da população mineira.
A cidade se destaca como polo industrial devido às indústrias de alta
tecnologia na área de telecomunicações, informática e biomedicina, abrigando
indústrias de médio e grande porte, de renome nacional e internacional.
-
31
É centro de referência em assistência à saúde para dezesseis municípios da
chamada microrregião do Alto Sapucaí. A cidade conta com dois hospitais
credenciados para o Sistema Único de Saúde – SUS: Santa Casa de Misericórdia de
Itajubá e Hospital Escola de Itajubá, da Faculdade de Medicina de Itajubá, com
níveis de atendimento de atenção básica até alta complexidade. (PREFEITURA
MUNICIPAL DE ITAJUBÁ, 2009).
Oferece, ainda, assistência na área privada de convênios com o Hospital
Médico e Odontológico (Odontomed), a Clínica Especializada em Assistência
Médica (SAÚDE CEAM), a Cooperativa de Trabalho Médico Ltda (UNIMED de
Itajubá) e o Hospital Bezerra de Menezes, voltado à saúde mental. (PREFEITURA
MUNICIPAL DE ITAJUBÁ, 2009).
A assistência ambulatorial, além dos serviços privados, é realizada nos
hospitais credenciados do SUS, nas onze Unidades Básicas de Saúde do município,
nas doze ESF e nas duas policlínicas municipais. (PREFEITURA MUNICIPAL DE
ITAJUBÁ, 2009).
.
4.1.1 Caracterização dos locais de estudo
O município de Itajubá, segundo a coordenadora das ESFs desta cidade, a
enfermeira Viviane Cristine Ribeiro Duarte Mota, tem atualmente 11 equipes de ESF
com 75 ACS e 03 PACS com 10 ACS.
As equipes estão situadas nos seguintes bairros:
Ano Bom, Retiro, Juru, Peroba, Serra dos Toledos e Rio Manso, Estância, Pedra
Preta, Cantagalo, Ponte Santo Antonio, São Pedro e Freires - com 06 ACS
Avenida e São Judas Tadeu – com 06 ACS
Vila Isabel e Jerivá – com 07 ACS
Santo Antonio - com 06 ACS
Santa Luzia - com 06 ACS
Jardim das Colinas - com 07 ACS
Medicina e Anhumas - com 07 ACS
Cruzeiro e Estiva - com 07 ACS
Novo Horizonte - com 06 ACS
Santa Rosa - com 04 ACS
-
32
Rebourgeon - com 06 ACS
Piedade, Moquém, Ilhéus, Capituba, Jardim Alterosa, Cafona, Ponte Alta e
Figueiras - com 06 ACS
Boa Vista - com 07 ACS
4.2 DELINEAMENTO DA PESQUISA
O presente estudo é de abordagem qualitativa, do tipo exploratório, descritivo
e transversal.
Medina e Takahashi (2003) afirmam que a abordagem qualitativa permite
tentar compreender o universo de significados que envolvem as ações e relações
humanas, e permite, também, mergulhar na realidade de suas vivências.
Segundo Gil (2002), o estudo descritivo tem como objetivo a descrição das
características de determinada população ou fenômeno. São incluídas nesse tipo de
estudo as pesquisas que objetivam levantar opiniões, atitudes e crenças de uma
população.
O estudo exploratório proporciona maior familiaridade com o problema, permite
o aprimoramento de ideias ou a descoberta de intuições. Na ótica de Dyniecwicz
(2007), esse estudo busca saber como determinado fato ou fenômeno ocorre e o
que interfere nele.
O mesmo autor afirma que num estudo transversal, quando os sujeitos estão
sendo avaliados, a exposição e o desfecho já ocorreram e são aferidos num mesmo
momento.
4.3 SUJEITOS, NATUREZA DA AMOSTRA E AMOSTRAGEM
Os sujeitos da pesquisa foram os ACSs que compõem as equipes das ESFs
da cidade de Itajubá, Minas Gerais.
Os critérios para inclusão dos participantes do estudo foram:
Concordar em participar do estudo;
Atuar como ACS em uma das ESFs da cidade de Itajubá, Minas Gerais,
há pelo menos seis meses.
-
33
Segundo Mamedi (2005), o ser humano necessita de um período de pelo
menos seis meses em contato com a realidade, para seu ajustamento pessoal e
para emissão de ideias.
Os critérios de exclusão foram:
Não concordar em participar do estudo;
Atuar como ACS em uma das ESFs da cidade de Itajubá, Minas Gerais,
há menos de seis meses;
Não atuar como ACS em uma das ESFs da cidade de Itajubá, Minas
Gerais.
As gravações e o roteiro de caracterização pessoal dos participantes serão
guardados por cinco anos e depois apagados.
Para este trabalho, foram entrevistados 50 % dos ACSs de Itajubá, ou seja,
38 ACSs. Todas as ESFs tiveram no mínimo um participante. Não foi possível
entrevistar 50% dos ACSs de cada ESF, por motivos de recusa e também pelo
desencontro de horários entre entrevistado e entrevistador, visto que os ACS
trabalham mais fora da ESF do que dentro dela. (QUADRO 1)
Quadro 1 – Número de ACS por ESF participantes do estudo da cidade de Itajubá –MG
ESF REQUÊNCIAABSOLUTA
FREQUÊNCIARELATIVA
Ano bom 3 7,89%
Avenida 2 5,26%
Boa Vista 4 10,52
Cruzeiro 5 13,15
%
Jardim das Colinas 3 7,89%
Juru 1 2,63%
Medicina 1 2,63%
Piedade 4 10,52
-
34
%
Rebourgeon 1 2,63%
Rio Manso 1 2,63%
Santa Luzia 5 13,15
%
Santo Antônio 3 7,89%
Vila Isabel 5 13,15
%
Fonte: Instrumento de pesquisa
De acordo com Lefèvre e Lefèvre (2005), não existe exatamente um número
mínimo numa pesquisa com o DSC; deve-se usar o bom senso, visto que uma
pesquisa mais amostrada apresenta, consequentemente, resultados mais
generalizáveis.
O tipo da amostragem foi a intencional ou teórica em que, no entender de
Polit, Beck e Hungler (2004, p. 236), “o pesquisador procura escolher membros da
amostra, propositalmente, com base nas necessidades de informação que emerge
dos resultados preliminares”.
4.4 COLETA DE DADOS
A seguir estão descritos os instrumentos e os procedimentos para a coleta de
dados.
4.4.1 Instrumentos para coleta de dados
Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram um questionário dos
dados pessoais e profissionais dos sujeitos do estudo (APÊNDICE A) e um roteiro
de entrevista semi-estruturada (APÊNDICE B), constituído por uma questão aberta,
inerente ao objetivo do estudo.
A própria pesquisadora aplicou os instrumentos. Algumas respostas foram
gravadas em um aparelho celular e outras escritas pelo próprio entrevistado
-
35
conforme a sua preferência. As gravadas foram transcritas conforme os critérios
metodológicos, permitindo a fidedignidade das informações colhidas.
De acordo com Lakatos e Marconi (2001), a entrevista é um encontro entre
duas pessoas em que uma delas obtém informações a respeito de determinado
assunto, por meio de uma conversação de natureza profissional.
Antes da coleta das informações verificou-se, também, se os respondentes
atendiam aos critérios de inclusão, já mencionados anteriormente.
4.4.2 Procedimentos para a coleta de dados
A coleta de informações se iniciou após aprovação do projeto pelo Comitê de
Ética em Pesquisa da EEWB com o parecer nº 801/2012 (ANEXO C).
Foram estabelecidos os seguintes procedimentos para a coleta de dados:
Agendamento quanto ao dia, horário e local da coleta de dados com cada
ACS, preservando sempre sua privacidade;
Antes do início da coleta de dados, esclareceram-se ao ACS os objetivos
do estudo, a garantia do anonimato e a concordância ou não em participar;
Esclarecimento de outras dúvidas, quando necessário;
Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e
rubrica em todas as folhas pelos ACSs participantes, após sua aprovação
(APÊNDICE C);
Assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e rubrica em
todas as folhas do mesmo pela pesquisadora responsável.
Registro das respostas do questionário e da entrevista, pela pesquisadora,
por meio de gravação utilizando um celular ou por escrito conforme a
escolha do participante. Os dados gravados foram deletados após a
transcrição das entrevistas gravadas.
4.5 PRÉ-TESTE
O pré-teste tem a função de verificar a adequação do instrumento aos
objetivos da pesquisa, verificar o tempo necessário para cada entrevista, além de
identificar possíveis ambiguidades nas questões.
-
36
Para Lakatos e Marconi (2001), o pré-teste serve para analisar três
importantes elementos: Fidedignidade, ou seja, se qualquer pessoa que o aplique
obterá sempre os mesmos resultados; Validade e a operatividade, isto é, se o
vocabulário é acessível e tem significado claro.
O pré-teste permitiu também a obtenção de uma estimativa sobre os futuros
resultados.
Neste estudo, foi realizado um pré-teste com cinco (05) ACSs pertencentes a
dois PACS da cidade de Itajubá, MG, os quais não fizeram parte da amostra. O
PACS do Novo Horizonte não participou do pré-teste e nem da coleta de dados, pois
houve recusa em participar, por inexperiência da pesquisadora em abordar os ACSs
no momento de fazer a coleta de dados. Diante desta experiência sem sucesso, e
das explicações da orientadora da pesquisa, realizei o pré-teste nos outros dois
PACS de Itajubá-MG, onde obtive êxito na abordagem dos ACSs. Os dois PACS
participantes do pré-teste foram: Rebourgeon e Santa Rosa. Não houve
necessidade de alterar o instrumento de coleta de dados, apenas necessitou
explicar melhor o objetivo da pesquisa.
4.6 ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE DE DADOS
Para conhecer o que é ser ACS para os ACSs, de Itajubá, MG, foi utilizado o
DSC como método de análise dos dados para representar uma melhor aproximação
com o fenômeno em estudo.
Adotaram-se neste estudo apenas três figuras metodológicas das quatro que
o método traz para a análise dos dados: Expressões-Chave (ECH), Idéia Central (IC)
e Discurso do Sujeito Coletivo (DSC).
Após a escuta da gravação e transcrição das respostas, na íntegra, da
questão aberta, identificaram-se as ECH. De cada ECH foi extraída a ideia central,
elaborando, dessa forma, o IAD1 (ANEXO A).
A etapa seguinte foi o preenchimento do IAD2 (ANEXO B), por meio da
descrição de cada ideia central separadamente, com as respectivas ECH
semelhantes ou complementares. Em seguida se realizou a construção do DSC.
Os resultados das características pessoais foram apresentados utilizando a
estatística descritiva, atendo-se apenas às frequências absoluta e relativa, com a
finalidade de caracterizar os ACSs participantes da pesquisa.
-
37
4.7 ÉTICA DA PESQUISA
Os aspectos éticos do presente estudo obedeceram à Resolução 196/96 do
Ministério da Saúde.
A autonomia do participante foi respeitada, em virtude da sua livre decisão de
participar da pesquisa. O mesmo pode deixar de participar da pesquisa a qualquer
momento, se assim o desejar. Para comprovar sua participação, o ACS assinou o
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE C).
Também foram previstos os procedimentos que asseguram a confiabilidade, o
anonimato das informações, a privacidade e a proteção da imagem dos
participantes, garantindo-lhes que as informações obtidas não serão utilizadas em
prejuízo de qualquer natureza para eles, sendo respeitados todos os seus valores.
Cada ACS foi identificado pela codificação S1, S2, S3, proveniente da palavra
Sujeito, e assim sucessivamente, de acordo com o número de entrevistados.
Os participantes da pesquisa não receberam qualquer tipo de pagamento ou
gratificação por participar.
Os resultados da pesquisa serão divulgados para as ESFs participantes, e
também, durante o 3º Congresso de Iniciação Cientifica da EEWB, que ocorrerá no
1º semestre de 2013. Uma cópia da pesquisa ficará disponível na biblioteca da
EEWB; uma cópia na secretaria de saúde de Itajubá, MG; uma terceira será
entregue ao CEP da referida Escola e a quarta cópia será entregue ao setor de
pesquisa desta IES. Também será elaborado, a partir do estudo, um artigo que será
encaminhado para apreciação do Conselho Editorial de um periódico da área da
saúde.
-
38
5 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS
Os resultados da pesquisa serão apresentados nas seguintes etapas:
Exposição dos dados relativos à caracterização dos aspectos pessoais e
profissionais dos agentes comunitários de saúde participantes do estudo,
Apresentação do tema demonstrando as ideias centrais totais, o agrupamento
dessas ideias e, em seguida, as ideias centrais resultantes desse agrupamento
com suas respectivas frequência e seus respondentes. Posteriormente,
encontram-se cada uma das ideias agrupadas acompanhadas de seu respectivo
DSC;
Apresentação da representação social de ser Agente Comunitário de Saúde (ACS)
para os agentes participantes da pesquisa através da síntese das ideias centrais.
5.1 CARACTERIZAÇÕES PESSOAIS E PROFISSIONAIS DOS AGENTES
COMUNITÁRIOS DE SAÚDE PARTICIPANTES DO ESTUDO
Com base nos dados fornecidos pelos participantes se encontram descritas
na Tabela 1 a caracterização do ACS.
Tabela 01 – Características pessoais e profissionais dos ACS participantes do estudo
CARACTERÍTICAS FREQUÊNCIA ABSOLUTA
FREQUÊNCIA RELATIVA
PESSOAIS
Gênero Masculino
Feminino
0335
7,8992,10
Religião
Católica
Evangélica
Cristã
Espírita
Não tem
24 10020101
63,1526,315,262,632,63
(Continua)
-
39
Tabela 01 – Características pessoais e profissionais dos ACS participantes do estudo
(Conclusão)
CARACTERÍTICAS FREQUÊNCIA ABSOLUTA
FREQUÊNCIA RELATIVA
Estado Civil
Casado
Solteiro
Amasiado
Divorciado
27070202
71.0518,425,265,26
Escolaridade Médio completo
Superior completo
Superior incompleto Idade
18 a 25 anos
26 a 35 anos
35 a 50 anos
Mais de 50 anos
PROFISSIONAIS
Treinamento para ACS Sim
Não Tempo de atuação
De 06 meses a 02 anos
02 a 04 anos
04 a 06 anos
06 a 08 anos
Mais de 08 anos
340103
03 151703
31 07
1104080906
89,472,637,89
7,8939,47
44,73 7,89
81,5718,42
28,9410,5221,0523,6815,78
Fonte: Instrumento de pesquisa
Verifica-se, na Tabela 01, que a maioria dos respondentes é do sexo
feminino, representando 92,10 % dos participantes.
As religiões de maior frequência entre os ACSs foram: católica e evangélica,
respectivamente. Identificou-se também, um ACS que não tem religião.
A maior parte dos entrevistados é casada (71.05%), possui o ensino médio
completo (89,47%).
-
40
A idade desses profissionais variou entre 18 anos e 50 anos, mas,
prevaleceram as idades de 35 anos a 50 anos.
A maior parte dos participantes tem de dez meses a dois anos atuando como
ACS.
Ao responderem se receberam treinamento para ser ACS, a grande maioria
teve dúvida se a palestra ou o curso que assistiram foram para treinamento, mas,
mesmo assim, 81,57% dos ACS responderam que sim, considerando a palestra ou o
curso como treinamento.
Marzari, Junges e Selli (2011) afirmam que o perfil e a formação do ACS
precisam ser mais bem determinados e especificados. Tais profissionais devem se
comprometer com a sua realidade local e serem capacitados para colaborarem na
diminuição dos fatores que respondem pelos indicadores sócios e sanitários,
proporcionando o reconhecimento das condições de vida da população, das suas
necessidades e prioridades.
5.2 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DE SER AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE
PARA OS AGENTES PARTICIPANTES DA PESQUISA
Os resultados apresentados nesta etapa do estudo relaciona-se à análise da
pergunta aberta do roteiro de entrevista semi-estruturada (APÊNDICE B), cuja
questão é: “Se um amigo lhe perguntasse o que é, para você, ser ACS, o que você
responderia?”
Ao responderem essa pergunta, alguns ACS tiveram dificuldades em separar
o significado de ser ACS para os mesmos, da função que eles exercem na ESF e na
comunidade.
5.2.1 Tema e ideias centrais
Após a análise da questão mencionada acima foram encontradas as ideias
centrais que estão descritas abaixo no Quadro 1, referentes ao Tema: Significado de
ser ACS.
-
41
Quadro 2 - Ideias centrais, sujeito e frequência sobre o tema “As representações sociais de ser agente comunitário de saúde” (n=38)
IDÉIAS CENTRAIS SUJEITO FREQUÊNCIA
Muito importante 1,14,15,19, 22 e 31 6
Ajudar as pessoas 1, 2, 5, 12, 13, 17,
18, 27, 29, 30 e 33
11
Levar conhecimentos e pegar
conhecimentos
1, 3, 4, 11, 15, 21,
24, 26, 29, 30, 31,
36 e 38
13
Doação 2 e 34 2
Amor 2, 7 e 38 3
Servir o próximo 2 e 28 2
Caridade 2 1
Saber ouvir 2, 5, 11 e 32 4
Saber prestar atenção 2 1
Acompanhar as famílias 2, 18 e 22 3
Aprender a lidar com as pessoas de modo
diferente
2 1
É agradecer a Deus 2 1
Levar a saúde para as pessoas 3 1
Levar a paz 3 1
Oferecer uma qualidade de vida melhor 4 1
Mostrar os caminhos e os meios para
solucionar o problema da pessoa
4 1
Ser amigo e confidente 5 1
É tudo 6, 7, 9 e 35 4
É minha vida 7 e 9 2
Poder tentar resolver ou pelo o menos amenizar algum problema
8 1
Passar algo de bom para a vida de cada ser 8 1
Prevenir algo que possa desencadear
alguma doença
8, 24, 32, 35 e 36 5
Elo com a família 8, 16, 18, 19, 22, 8
-
42
23, 25 e 32
Buscar o problema na casa das pessoas 10 1
É um trabalho gratificante 11, 19 e 35 3
Fazer os trabalhos propostos pela unidade e
pela prefeitura
12 1
Estar em convívio com a comunidade 13 1
Saber lidar com o pessoal 13 1
É aguentar muito desaforo 17 1
Uma profissão muito boa, bonita e pouco
valorizada
17 e 33 2
Trazer a realidade da família para a unidade 18 e 26 2
Responsabilidade muito grande 19 e 32 2
Muito gratificante 19 1
Gostar do que faz 20 e 31 2
É chegar às famílias antes da doença 20 1
Assistir a família no que realmente ela
precisa
22 1
Criação de vínculo 22 1
É a linha de frente no trabalho 23 1
É Ser humano 26 1
É proporcionar disponibilidade para as
pessoas
29 1
É ótimo, a recompensa é grande 29 1
Saber diferenciar o seu serviço com a sua
pessoa
32 1
Um dom 34 1
Gostar de gente 34 1
Colocar-se no lugar do outro 34 1
Orientar para que no futuro se veja os
resultados
34 1
É estar integrada a rede de atenção primária
da saúde
35 1
Respeito à educação em todos os sentidos 35 1
-
43
Incentivar especialmente exercícios físicos,
a seguirem dietas recomendadas pelos
médicos, especialmente quanto às
medicações.
35 1
Continuação do cuidado de minha família 35 1
Prontidão em motivar e confortar a todos 36 1
É estar ciente da importância que tem a vida
das pessoas
36 1
Ser capaz de direcionar o trabalho de uma
equipe de saúde dentro da comunidade
37 1
Uma profissão com bastante cautela 38 1
É ter amor na profissão, é ser comunitário 38 1
É esclarecimento sobre doenças e vacinas 14 1
Fonte: Instrumento de pesquisa
As ideias centrais obtidas foram agrupadas pela sua semelhança ou
complementaridade, recurso este recomendado por Lefèvre e Lefèvre (2005).
O Quadro 2 e 3 mostram os resultados dos agrupamentos realizados das
ideias centrais complementares ou semelhantes.
Quadro 3 - Agrupamento das ideias centrais complementares sobre o tema “As representações sociais de ser agente comunitário de saúde” (n=38)
IC COMPLEMENTARES SUJEITOS ICs
RESULTANTES
DO
AGRUPAMENTO
Muito importante
Responsabilidade muito grande É a linha de frente no trabalho Uma profissão com bastante cautela
1, 14, 15, 19, 22 e 31 19 e 32 2338
MUITO
IMPORTANTE
Ajudar as pessoas
Servir o próximo
1, 2, 5, 12, 13,
17, 18, 27, 29,
30 e 33
2 e 28
AJUDAR AS
PESSOAS
-
44
Levar conhecimentos e pegar conhecimentos
Orientar para que no futuro se veja os resultados É esclarecimentos sobre doenças e vacinas
1, 3, 4, 11, 15, 21, 24, 26, 29, 30 e 3134
14
TRANSMITIR E
RECEBER
CONHECIMENTO
Doação Amor Caridade Levar a paz Ser humano É proporcionar disponibilidade para as pessoas Um dom É ter amor na profissão, é ser comunitário É tudo É a minha vida Gostar do que faz Uma profissão muito boa, bonita e pouco valorizada É aguentar desaforo É estar ciente da importância que tem a vida das pessoas
2 e 34 2, 7 e 38 23262934386, 7, 9 e 35 7 e 9 20 e 31 17 e 33
1736
É TUDO
Fonte: Instrumento de pesquisa
Quadro 4 - Agrupamento das ideias centrais semelhantes sobre o tema “As representações sociais de ser agente comunitário de saúde” (n=38)
IC SEMELHANTES SUJEITOS ICs
RESULTANTES
DO
AGRUPAMENTO
Saber ouvir
Saber prestar atenção Mostrar os caminhos e os meios para solucionar o problema da pessoa pela conversa amiga e bate papo Ser amigo e confidente Passar algo de bom para a vida de cada ser
2, 5, 11 e 32
24
5
8
SABER OUVIR E
DAR ATENÇÃO
-
45
Aprender a lidar com as pessoas de modo diferente Saber lidar com o pessoal Gostar de gente Continuação do cuidado de minha família Colocar-se no lugar do outro Respeito à educação em todos os sentidos Assistir a família no que realmente ela precisa Saber diferenciar o seu serviço com a sua pessoa
213343534352232
SABER LIDAR
COM AS PESSOAS
É agradecer a Deus pelo que tem Um trabalho gratificante Muito gratificante É ótimo, porque a recompensa é muito grande
211, 19 e 351929
GRATIFICANTE
Levar a saúde para as pessoas Prevenir algo que possa desencadear alguma doença Poder tentar resolver ou pelo o menos amenizar algum problema Buscar o problema na casa das pessoas É chegar às famílias antes da doença Oferecer uma qualidade de vida melhor
38, 24, 32, 35 e 36 8
10204
PROMOVER A
SAÚDE E
PREVENIR
DOENÇAS
Elo com a família
Criação de vínculo Trazer a realidade de cada família para a unidade É estar integrada a rede de atenção primária da saúde de todas as famílias de minha área Ser capaz de direcionar o trabalho de uma equipe de saúde dentro da comunidade Estar em convívio com a comunidade
8, 16, 18, 19, 22, 23, 25 e 32 2218 e 26 35
37
13
TER VÍNCULO
COM A FAMÍLIA
Prontidão em motivar e confortar a todos Incentivar especialmente exercícios físicos, a seguirem dietas recomendadas pelos médicos, especialmente quanto às medicações.
3635
INCENTIVAR E
MOTIVAR AS
PESSSOAS
Fonte: Instrumento de pesquisa
-
46
A partir dos agrupamentos efetuados, anteriormente, emergiram as ICs
referente ao significado de ser agente comunitário de saúde que estão apresentados
no Quadro 4:
Quadro 5 - Ideias centrais, sujeitos e frequência de ideias sobre o tema “As representações sociais de ser agente comunitário de saúde” (n=38)
N° IDÉIA CENTRAL SUJEITOS FREQUÊNCIAS
DAS ICs
1 É TUDO S2, 3, 6, 7, 9, 17, 20, 26, 29, 31, 33,
34, 35, 36, e 38
15
2 TRANSMITIR E RECEBER
CONHECIMENTO
S1, 3, 4, 11, 15, 21, 24, 26, 29, 30,
31, 34, 36 e 38
14
3 AJUDAR AS PESSOAS S1, 2, 5, 12, 13, 17, 18, 27, 28, 29,
30 e 33
12
4 TER VÍNCULO COM A
FAMÍLIA
S8, 13, 16, 18, 19, 22, 23, 25, 26 e
35
10
5 PROMOVER A SAÚDE E
PREVENIR DOENÇAS
S3, 4, 8, 10, 20, 24, 32, 35, 36 9
6 MUITO IMPORTANTE S1, 14, 15, 19, 22, 23, 31,
32 e 38
9
7 SABER OUVIR E DAR
ATENÇÃO
S2, 4, 5, 8, 11, 32 e 38 7
8 SABER LIDAR COM AS
PESSOAS
S2, 13, 22, 32, 34 e 35 6
9 GRATIFICANTE S2, 11, 19, 29 e 35 5
10 ACOMPANHAR AS FAMILIAS S2, 18 e 22 3
11 INCENTIVAR E MOTIVAR AS
PESSSOAS
S35 e 36 2
12 FAZER OS TRABALHOS
PROPOSTOS
S12 1
Fonte: Instrumento de pesquisa
-
47
5.2.2 DSC referente às ideias centrais emergidas
Abaixo cada ideia central resultante dos agrupamentos vem acompanhada de seu respectivo DSC.
1ª IC - É TUDO
DSC Hoje, nesse exato momento, é tudo para mim, já faz parte da minha vida! Doação, amor, caridade, é levar a paz. É tudo..., é a minha vida. Amo que faço. É uma profissão boa, muito boa, muito bonita, pouco valorizada. É aguentar muito... desaforo porque a gente está na frente, então, tudo que vem respinga no resto da equipe, mas quem recebe é o agente. Estou no que gosto, sinto prazer pelo que faço, vale a pena ser agente. Acima de tudo é um dom, é ser humano, em alguns casos uma doação. É tudo de bom para mim. É proporcionar uma disponibilidade para as pessoas. É estar sempre ciente em relação à importância que tem a vida das pessoas. A primeira coisa é ter amor na profissão, é ser comunitário, é gostar do que faz. Enfim, é tudo.
2ª IC - TRANSMITIR E RECEBER CONHECIMENTOS
DSC Então, eu acho que... nesse trabalho a gente tanto passa informação para as pessoas e é conhecimento para a gente também. É levar conhecimentos e pegar conhecimentos. O nosso trabalho é estar orientando a população para não adoecer. O agente comunitário é a pessoa que orienta a população onde atua, para que eles possam prevenir doenças. É... esclarecimento sobre doenças e vacinas. Podemos levar orientações sobre saúde, higiene, vacinação para crianças, levar o meu conhecimento para o meu próximo. Ser ACS é trazer informações necessárias da comunidade para dentro da ESF. É ele que busca informações, leva informação, traz informação para o posto. Tem como obrigação e dever de levar conhecimentos às pessoas que não tem acesso, que não sabem ler, que não sabem escrever e que, muitas vezes, tem dificuldade de conhecer alguns tipos de doenças, até medicamentos. Orienta os pacientes sobre vários assuntos, para que no futuro se veja os resultados. É crescer, trocar conhecimentos, é aprendizado. Passo meus poucos conhecimentos e colho outros.
-
48
3ª IC - AJUDAR AS PESSOAS
DSC Para mim, ser um ACS significa poder ajudar as pessoas, podendo ajudar a comunidade em questão da saúde, principalmente aquelas que necessitam mais, que precisam. É servir o próximo, ajudar e ser ajudado. Ficamos frente a frente com a realidade das famílias, e pouco ou muito, podemos ajudá-las nas suas dificuldades, proporcionar saúde para elas, e..., até mesmo, ajudar algumas pessoas, as pessoas da comunidade. É ajudar bastante às pessoas, é... aqui é um bairro de muitos idosos, então, ajudar, principalmente, os idosos. O ACS é ooo... que está sempre junto com a comunidade em intenção de ajudar e ter uma busca ativa de ajudar na saúde deles mesmo. É servir as pessoas e a comunidade. Para mim é isso.
4ª IC - TER VÍNCULO COM A FAMÍLIA
DSC O ACS é ser um elo, entre a ESF e a comunidade. Buscar ter um elo com a família, uma ligação forte com as pessoas, estando em convívio com a comunidade. É através do agente que a unidade fica tendo conhecimento da realidade de cada família. É a linha intermediária entre a unidade e a comunidade. Ser agente, para mim, é ser um intermediário entre o paciente e a unidade. É trazer informações necessárias da comunidade para dentro da ESF. É estar integrada a rede de atenção primária da saúde de todas as famílias de minha área. Somos elo, pois as pessoas se abrem mais com a gente do que com o médico, pois criam um vínculo com o agente. Enfim, é o elo entre as famílias.
5ª IC - PROMOVER A SAÚDE E PREVENIR DOENÇAS
DSC Para mim significa poder tentar resolver ou pelo menos amenizar algum problema detectado na família, prevenir algo que possa desencadear alguma doença. É levar saúde para as pessoas, é chegar às famílias antes da doença. Trabalhamos para que as pessoas não adoeçam, e se já estão doentes, que sejam levadas a curar-se ou não piorarem, conservarem a saúde que já tem. Eu acho que ser agente de saúde é buscar o problema na casa das pessoas. Estar sempre disponível a levar prevenção e promoção da saúde, oferecendo uma
-
49
qualidade de vida melhor. É ele que... trabalha com prevenção, vai atrás da promoção da saúde. Ele busca muita coisa e uma dessas é a promoção da saúde. A função do ACS é mexer com prevenção, promover a saúde, entendeu? E, é isso!
6ª IC - MUITO IMPORTANTE
DSC Ser ACS para mim é muito importante. É ser uma pessoa responsável... é ser a pessoa mais importante que tem na equipe do PSF. Significa ser um personagem muito importante, pois, levamos todas as informações à equipe. É um trabalho muito importante que leva muitas informações para as pessoas. O agente é a linha de frente no trabalho. Ser agente comunitário é uma coisa muito importante, que nós estamos atuando na comunidade, muito importante... a responsabilidade muito grande. O importante é agarrar a causa da pessoa. É muito importante, aprendo mais a cada dia.
7ª IC - SABER OUVIR E DAR ATENÇÃO
DSC É saber ouvir, ouvir as pessoas quando precisam desabafar. Ouvir os problemas de cada um e com a minha experiência poder ajudá-los, sendo um amigo, um confidente, em que eles possam confiar. Passar algo de bom para a vida de cada ser. Então, pra mim, é uma profissão com bastante cautela para a gente trabalhar, ou seja, pessoas, trabalhar com pessoas, a gente tem que estar preparado de uma forma a respeitar o sentimento das pessoas. Não é fácil ser um agente comunitário, mas, também, não é difícil, basta ser paciente, saber ouvir e... saber diferenciar o seu serviço com a sua pessoa, entendeu? Mostrar os caminhos e os meios..., solucionar o problema da pessoa através de uma conversa amiga, um bate papo, basta ser paciente, saber ouvir, e tentar.
8ª IC - SABER LIDAR COM AS PESSOAS
DSC É saber lidar com o pessoal, é... aprender a lidar com as pessoas de um jeito diferente, gostar de gente, colocar no lugar do outro. Assistimos a família no que realmente ela precisa, respeitando à educação em todos os sentidos... é uma continuação do cuidado de minha família, pois somos todos irmãos. O
-
50
agente tem que ser aquele que mora na comunidade mais tempo, que conhece que vai saber lidar com o pessoal e que sabe diferenciar o seu serviço da sua pessoa.
9ª IC – GRATIFICANTE
DSC É muito gratificante. É ótimo, porque a recompensa é muito grande. É um trabalho gratificante, em relação à comunidade, porque no mesmo momento que estamos orientando estamos aprendendo a ser solidários. Aí você aprende mais a agradecer a Deus, porque você vê as coisas que você tem. É muito gratificante, por isso trabalhamos desde o início da vida ao idoso.
10ª IC - ACOMPANHAR AS FAMÍLIAS
DSC Acompanhar... é estar acompanhando as famílias da sua área e dando assistência, fazendo visitas uma vez por mês em cada casa. Acompanhamos a família em todos os aspectos, seja na saúde, no bem estar.
11ª IC - INCENTIVAR E MOTIVAR AS PESSOAS
DSC É estar pronta a motivar e confortar a todos. Incentivamos, especialmente, exercícios físicos, a seguirem dietas, recomendadas pelos médicos, especialmente quanto às medicações.
12ª IC - FAZER OS TRABALHOS PROPOSTOS
DSC Ser agente de saúde pra mim é fazer os trabalhos propostos pela unidade e pela prefeitura.
5.3 SÍNTESE DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DO TEMA “SIGNIFICADOS DE
SER ACS”
-
51
A Figura 01 expõe as representações sociais de ser ACS para os agentes
comunitários de saúde participantes da pesquisa. Para eles, significa: é tudo,
transmitir e receber conhecimento, ajudar as pessoas, ter vínculo com a família,
promover a saúde e prevenir doenças, muito importante, saber ouvir e dar atenção,
saber lidar com as pessoas, gratificante, acompanhar as famílias, incentivar e
motivar as pessoas e fazer os trabalhos propostos.
Figura 1 – Representações Sociais de Agente Comunitários de Saúde para os ACS participantes do estudo
Fonte: Instrumento de pesquisa
-
52
6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Como abordado durante o estudo, o ACS é uma pessoa comum que convive
diariamente com os usuários da ESF, seja trabalhando ou como o morador da
comunidade. De ambos os jeitos, o ACS acaba exercendo ações de cidadania,
devido à forte ligação que este profissional teve que estabelecer para a prática de
suas funções.
A pesquisa realizada permitiu elencar doze ICs com os seus respectivos
discursos, nos quais foram identificados significados do que é ser ACS por eles
próprios. Tais significados mostraram vários sentimentos do que é ser ACS a partir
das experiências de cada um.
Assim surge, com maior frequência entre os sujeitos da pesquisa, a primeira
IC “É tudo” com o DSC: Hoje, nesse exato momento, é tudo para mim, já faz
parte da minha vida! Doação, amor, caridade, é levar a paz. É tudo..., é a minha
vida [...]
Para alguns ACSs, significa amar o que faz. E com esse amor na profissão,
eles acabam fazendo além das suas obrigações, pois se doam, levam algo a mais
para a comunidade quando é preciso.
Galavote et al. (2011) dizem que o trabalho do ACS oferece atributos
pessoais que integram e propiciam o crescimento humano.
A meu ver, os atributos pessoais além de propiciarem o crescimento humano,
também proporcionam aos usuários da ESF demonstrações de afeto que, muitas
vezes, é o que eles necessitam para se curar, e não apenas de algum atendimento
específico de saúde.
Os interesses e necessidades dos sujeitos devem ser valorizados através do
trabalho de temas embasados na própria realidade dos indivíduos e não
simplesmente impostos pelos profissionais de saúde (GALAVOTE et al., 2011).
Sobre a mesma IC acima, destaca-se uma parte do DSC: [...] Amo que faço.
É uma profissão boa, muito boa, muito bonita, pouco valorizada. É aguentar
muito... desaforo porque a gente está na frente, então, tudo que vem respinga
no resto da equipe, mas quem recebe é o agente.
O ACS considera o seu trabalho parte de sua vida, afinal, ele conhece a
população e o espaço em que trabalha devido ao fato de morar no mesmo local. A
partir desse contexto de vida é que ser ACS se torna tudo.
-
53
Em meio a tantas qualidades atribuídas ao dar os significados dessa
profissão, os ACSs também desabafam a falta de valorização da profissão, estando
eles sujeitos a aguentar desaforos, já que são os intermediários.
O trabalhador, seja da área da saúde ou não, quer ter reconhecimento pelo
seu trabalho por parte dos demais e não só da equipe da qual faz parte, mas
também dos usuários do serviço (BRAND; ANTUNES; FONTANA, 2010).
Como o ACS reside na comunidade onde atua profissionalmente, ele se torna
conhecedor da realidade local, o que facilita a realização das mudanças
necessárias, com a sua participação tanto como profissional de saúde quanto de
membro daquela comunidade (NUNES et al., 2012).
A visão do ACS sob a comunidade é maior do que dos outros integrantes da
ESF, pois ele possui as mesmas necessidades que os usuários, por também ser
morador desta comunidade. Então, como o ACS sabe quais são os reais problemas
da sua população, ele os mostra a sua unidade para juntos acharem a solução para
acabar com esse problema e assim melhorar a qualidade de vida da comunidade em
si.
Validando a IC “transmitir e receber conhecimentos”, encontra-se o seguinte
DSC: [...] É... esclarecimento sobre doenças e vacinas. Podemos levar
orientações sobre saúde, higiene, vacinação para crianças, levar o meu
conhecimento para o meu próximo. Ser ACS é trazer informações necessárias
da comunidade para dentro da ESF. É ele que busca informações, leva
informação, traz informação para o posto [...]
O ACS não tem o conhecimento científico, mas eles estão envolvidos com as
dificuldades da comunidade por serem moradores do local em que desenvolvem o
seu serviço. Com isso, o conhecimento que eles têm das pessoas, e do espaço em
que convivem, faz deles importantes aliados da aproximação da ESF para levar
saúde para todos através da troca de informações como mostrado no discurso
acima.
Silva e Dalmaso (2002) afirmam que para o ACS ter um conhecimento amplo
da realidade local e do modo de vida dos indivíduos, ele tem que entender as
pessoas que habitam a área de abrangência da equipe de saúde da família,
enriquecendo as relações e o vínculo com o usuário.
-
54
A produção de saberes e as práticas dos ACS devem propiciar infindáveis possibilidades da relação com o outro e consigo mesmo de forma a potencializar uma produção de saúde vinculada à cidadania, à autonomia dos sujeitos e coletividades nos modos como, no dia a dia, vão se construindo novas formas de viver e lidar com a vida, inclusive nos espaços institucionais em que se constroem as várias e diferenciadas modelagens do trabalho em saúde (GALAVOTE et al., p. 239, 2011).
Outra parte do DSC desta mesma IC que merece ser discutida é: [...] Tem
como obrigação e dever de lev