escola parque
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Revista de Estudos Sobre a Educação Pública, Brasília, v.1, n.1, ago. 2013
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ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: PATRIMÔNIO VIVO
Sheila Maria Conde Rocha Campello1
Max Jucá Kokay2
Ana Maria Pinto de Lemos3
Resumo: Este artigo apresenta a proposta de um projeto de pesquisa a ser desenvolvido em
Escolas Parque de Brasília, tendo como objetivo o resgate da memória dessa utopia educativa,
buscando promover o surgimento de um debate a respeito das possibilidades de atualização de
sua proposta pedagógica, mantendo a coerência com seu ideário. A metodologia aplicada ao
projeto fundamenta-se em abordagens teóricas direcionadas à interpretação de imagens em
dialogo com a educação patrimonial.
Palavras-chave: Escola Parque. Arte/educação. Educação patrimonial.
Abstract: This article presents a research project to be developed in Escolas Parque of Brasilia, with the aim of rescuing the memory of its educational utopia, trying to contribute to the emergence of a debate about the possibilities of updating its pedagogical proposal, maintaining coherency with its ideas. The methodology applied to the projects is based on theoretical approaches directed to images interpretation in dialogue with the patrimonial education.
Keywords: Escola Parque; Art/ education; Patrimonial Education.
ESCOLAS PARQUE DE BRASÍLIA: UMA PITADA DE HISTÓRIA
O projeto das Escolas Parque de Brasília integrou a utopia educativa concebida por
Anísio Teixeira para promover a educação integral, pela inserção da arte e de atividades
físicas, no contexto da proposta modernista da nova capital brasileira que estava sendo
construída por Juscelino Kubistchek, no final dos anos 1950.
Sua proposta metodológica inovadora integrava o Plano de Construção Escolar,
concebido sob inspiração do pensamento filosófico de John Dewey; das concepções
1 Doutoranda em Artes pela Universidade de Brasília. Professora de Artes da Secretaria de Educação do Distrito
Federal (SEDF). E-mail: [email protected]
2 Professor de Artes Visuais da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF). Especialista em Arte-
Educação e Tecnologias Contemporâneas.
3 Servidora administrativa da Universidade de Brasília. Especialista em Arte-Educação e Tecnologias
Contemporâneas.
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metodológicas de Augusto Rodrigues, com suas Escolinhas de Arte; do ideário do Manifesto
dos Pioneiros da Educação Nova e, da proposta pedagógica adotada no Centro Carneiro
Ribeiro, popularmente conhecido como Escola Parque da Bahia, que havia sido criado em
1950 pelo próprio Anísio. Por meio dele pretendia-se propor um modelo de educação voltado
para a formação de uma sociedade mais justa e democrática. Nada mais apropriado para
viabilizar essa renovação escolar pretendida do que implantá-la no contexto de mudanças
proposto para essa cidade-laboratório em construção no Planalto Central.
O plano educacional e o projeto arquitetônico da cidade se harmonizavam, buscando
promover a integração plena do educando em sua vida em sociedade, construída sobre essas
bases democráticas e distribuída em unidades de vizinhança dotadas dos recursos necessários
para atender suas necessidades básicas. Assim, as superquadras integrar-se-iam, de quatro em
quatro, compondo as unidades de vizinhança, atendidas por unidades de comércio, lazer e
educação escolar, acolhendo, conforme definido no planejamento educacional, quatro Escolas
Classe e uma Escola Parque4. Nesta eram desenvolvidas atividades físicas, manuais e
intelectuais voltadas ao desenvolvimento integral dos estudantes.
A Escola Parque representaria a referência cultural da unidade de vizinhança. Nela os
alunos deveriam permanecer durante metade da carga horária de oito horas diárias previstas
para a educação integral. À medida que a cidade fosse sendo construída, novas unidades de
vizinhança completas, com todos os recursos previstos no programa urbanístico, seriam,
também, erigidas e, nesse conjunto de escolas, se forjaria a nova sociedade democrática
pretendida.
Mas, esse ideal de ensino não prosperou. Por razões de natureza econômica e política,
que não nos cabe aprofundar neste momento, o plano foi sendo desvirtuado. Novas
superquadras foram sendo construídas sem serem dotadas de todos os recursos e serviços
previstos no projeto original. Apesar do aumento do número de estudantes, a construção de
novas Escolas Parque não se concretizou. Outra distorção logo se fez presente: os operários
que construíram a nova capital, os candangos, foram sendo deixados à margem do projeto
urbanístico, representando um grave desvio dos objetivos do plano de educação democrática.
Essa nova conjuntura ocasionou a diminuição da carga horária das aulas de arte e a
proposta de integração da educação à vida cultural da cidade, missão dada às Escolas Parque,
foi sendo esquecida. Paulatinamente o tempo de permanência dos estudantes nessas escolas
4 As quatro Escolas Classe atendidas pela Escola Parque compõem as escolas tributárias do conjunto.
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foi sendo diminuído. Das quatro horas iniciais, reduziu-se, em 1962, para duas horas, abrindo
espaço para a incorporação, por parte da Escola Parque, de mais uma escola tributária. A
segunda alteração, proposta para “solucionar” o problema da falta de vagas, previa o
atendimento dos estudantes em dias alternados e, por fim, abriu-se mão completamente da
proposta original, reduzindo-se o total de 28 unidades projetadas para as 5 que ainda
persistem, funcionando de forma totalmente diversa do que previa Anísio Teixeira; e as novas
Escolas Classe deixaram de ser vinculadas a uma Escola Parque. Se nos anos iniciais de
Brasília a Escola Parque representou um papel de destaque para a cidade, hoje ela perdeu sua
aura de centro cultural de uma sociedade que se pretendia democrática.
Diagnóstico resultante de observações informais no contexto dessas escolas conduziu-
nos à formulação de algumas hipóteses: parte dos estudantes pouco sabe sobre a história das
Escolas Parque em que estuda e não se sente pertencente a esse espaço. Eles perderam sua
identidade com a escola, ou talvez ela não tenha existido. Esse distanciamento traz como
consequência a desvalorização do papel da arte no cotidiano escolar e na vida dos estudantes.
O ideário da Escola Parque está sendo esquecido e com ele pode estar sendo perdido seu
sentido de existir. Não é incomum perceber, na própria rede pública de Brasília, um discurso
que denota um sentimento negativo em relação a essas escolas, vistas como um espaço de
privilégios concedido a poucos estudantes e professores.
Tal diagnóstico reforçou algumas inquietações que nos levam às seguintes indagações:
qual será o destino das Escolas Parque existentes? Permanecerão como estão? Serão mais
valorizadas como bens culturais? Existe alguma possibilidade de sua desativação, para
transformá-las em escolas de ensino regular, visando suprir carências que sabemos existir?
Qual será o destino desse projeto educacional? Alguns já se encarregaram de salvaguardar o
patrimônio material a ele vinculado, cuidando do tombamento do conjunto arquitetônico da
primeira escola. E quanto ao seu patrimônio imaterial, representado pela proposta educacional
de Anísio Teixeira? Ele corre o risco de ser definitivamente esquecido, sem que tenha sido
devidamente conhecido e valorizado pelos próprios estudantes e pela sociedade em geral, ou
será devidamente preservado?
Tais inquietações nos levaram a buscar meios de contribuir para o debate sobre o
assunto e, por meio dele, analisar as possibilidades de atualização da proposta, considerando
seu ideário face ao presente contexto sócio-histórico? Com esse objetivo foram propostos
estudos sobre o tema na última edição do curso Arteduca: Arte, Educação e Tecnologias
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Contemporâneas5, oferecido a distância pelo Grupo Arteduca, da Universidade de Brasília.
Foram, também, feitos convites aos professores das Escolas Parque existentes, para que
participassem dessa edição do curso, contando com bolsas de estudos. Alguns professores
aceitaram o desafio e, como resultado dessa iniciativa, foram desenvolvidos dois projetos de
pesquisa considerando-se o contexto de duas Escolas Parque: a da SQN 210/211 e a da SQS
307/308.
Como consequência natural desse processo, foi formado um grupo, composto por
alguns desses participantes, para dar corpo às intenções do Grupo Arteduca, de empreender
ações para alcançar os objetivos propostos, que podem ser resumidos da seguinte forma:
pretende-se propor um projeto-piloto, a ser aplicado na Escola Parque 210/211 Norte, visando
resgatar a memória dessa utopia educativa, considerando suas características e seu ideário,
bem como o contexto cultural, histórico e geográfico que as envolveu, desde sua criação,
buscando verificar a viabilidade da atualização da proposta para o momento presente.
Objetiva-se, ainda, contribuir para o levantamento e preservação de conteúdos significativos,
criando um repositório na Internet, um blog que poderá se desdobrar na criação de um portal
direcionado ao acolhimento de informações, contribuindo para o aprofundamento de reflexões
a respeito do tema, por meio de recursos de interação em tempo real e por meio de fóruns de
debates. As estratégias de desenvolvimento desse projeto-piloto baseiam-se nas propostas
desenvolvidas pela equipe desta escola, enriquecida por contribuições relacionadas com o
estudo da unidade de vizinhança e a criação do portal, por parte de integrantes da equipe da
Escola Parque 308 Sul, que atuam junto ao Grupo Arteduca, na UnB. A proposta despertou o
interesse dos organizadores de uma das mesas do 21o
Congresso da Federação de Arte-
educadores do Brasil (CONFAEB) e recebemos o convite para apresentá-la em uma mesa que
discutirá a história do ensino da Arte em nosso país.
Como previsto no primeiro projeto mencionado, o da Escola Parque 210/211 Norte, a
aplicação da proposta deverá estruturar-se em uma série de ações metodológicas
desenvolvidas por uma equipe multidisciplinar que envolve professores de Artes Visuais,
Música, Teatro, lotados naquela escola, buscando uma aproximação futura com os professores
5 O Grupo Arteduca é um grupo de pesquisa sobre arte/educação em rede, vinculado ao Laboratório de Pesquisa
em Arte Computacional (MidiaLab), do Instituto de Artes da Universidade de Brasília. O curso é oferecido a
distância pelo Programa de Pós-graduação em Arte da Universidade de Brasília, por meio de uma proposta de
aprendizagem colaborativa, desenvolvida nem ambiente virtual de aprendizagem. Sobre o assunto, ver
www.arteduca.unb.br
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de Educação Física e com o corpo docente das escolas tributárias. Sendo assim, tornou-se
necessário buscar referenciais significativos sobre os conceitos de inter/transdisciplinaridade e
sobre a arte/educação, considerando tais linguagens artísticas. Por se tratar de uma pesquisa
que envolve uma proposta educacional planejada para ser implantada em uma cidade
considerada como um bem cultural da humanidade, julgou-se pertinente considerar princípios
da educação patrimonial, apresentados por Horta, Grunberg e Monteiro (1999): observação,
registro, exploração e apropriação, detalhados oportunamente.
Foram, ainda, buscados referenciais definidos conforme os seguintes campos e temas
da pesquisa: Anísio Teixeira e o projeto das Escolas Parque; as relações entre utopia
educativa e o plano urbanístico da Nova Capital; abordagens teóricas relacionadas com
arte/educação; interdisciplinaridade e transdisciplinaridade e, o uso das tecnologias digitais na
pesquisa e na criação do portal que abrigará o projeto.
Não cabe neste momento detalhar todos esses temas. Apresentaremos, de forma bem
resumida, alguns dados referentes aos dois primeiros, deixando os dois últimos para outra
oportunidade. O primeiro deles foi apresentado, ainda que superficialmente, na
contextualização histórica introdutória. Complementaremos o assunto abordando as relações
da utopia educativa de Anísio Teixeira com os planos arquitetônico e urbanístico, propostos
por Oscar Niemeyer e Lucio Costa, buscando nas unidades de vizinhança os fundamentos da
proposta.
Nas ideias do inglês Ebenezer Howard (1850-1928), considerado precursor do
urbanismo, encontramos as primeiras descrições de uma cidade utópica, onde as pessoas e a
natureza conviviam de forma harmônica. Sua publicação, intitulada Garden Cities of
Tomorrow, de 1898, deu início a um movimento chamado cidades-jardins, cujo modelo
consistia em uma comunidade autônoma, cercada por um cinturão verde, em que o princípio
fundamental estaria muito próximo ao conceito atual de ecocidade, onde as pessoas
aproveitariam as vantagens do campo, sem ter que passar pelas desvantagens da cidade
grande.
Sob a influência desse movimento, Clarence Arthur Perry (1872-1944), arquiteto e
urbanista americano, apresentou pela primeira vez o conceito de unidade de vizinhança, em
1923, postulando que os equipamentos urbanos deveriam ser dispostos de tal forma que as
projeções habitacionais não fossem interrompidas por autovias, mas, sim, tangenciadas,
permitindo a preservação da vida comunitária e a proteção e segurança das crianças. Assim,
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as crianças poderiam ir e vir da escola sozinhas, sem se cansar. A escola primária é
considerada o equipamento básico principal e orientador para a construção de uma unidade de
vizinhança, que traz no foco social a base do seu conceito (FERRARI, 1991, p. 301). Eis aí a
origem das unidades de vizinhança presentes na concepção de Brasília.
Dissertando a respeito das escalas que fundamentam o projeto urbanístico de Lucio
Costa, Francisco Lauande (2007) afirma que é preciso que se compreendam as duas escalas
que o compõem: a residencial e a monumental. A escala monumental abriga a dimensão
coletiva, com seus marcos institucionais. A residencial representa a escala humana no nível
individual. As unidades de vizinhança foram pensadas para atender às necessidades humanas,
com boa qualidade. Dessa forma, relata o autor, as superquadras foram implantadas
observando-se a curva de nível do terreno, prevendo o gabarito de seis andares, de tal forma
que a altura máxima da cobertura dos prédios se igualaria à copa das árvores ao longo da
curvatura do terreno, garantindo a qualidade do ambiente habitado pelos indivíduos.
O arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em entrevista recente, no programa Casa
Brasileira, transmitido pelo canal GNT, ao comentar sobre o trabalho de Lúcio Costa,
comprova essa preocupação com a escala humana, presente no projeto de Brasília, narrando
que, quando perguntado sobre o porquê de ter adotado os seis andares como gabarito para os
prédios residenciais do Plano Piloto, respondia que este seria o limite possível para que a mãe
pudesse se comunicar com seu filho, pela janela, quando necessário.
Tais imagens podem representar perfeitamente os fundamentos do conceito de unidade
de vizinhança que se aplica à concepção do projeto urbanístico do Plano Piloto de Brasília.
Tal conceito transparece na composição das primeiras superquadras residenciais – SQS 107 e
108 – cuja construção foi iniciada em 1959, sob o comando de Oscar Niemeyer, então diretor
do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Companhia Urbanizadora da Nova Capital
(NOVACAP). Em composição com as vizinhas 307 e 308, tal conjunto formou a primeira
unidade de vizinhança, dotada dos equipamentos previstos no projeto urbanístico de Lucio
Costa – escola, igreja, comércio, piscina (clube) e cinema. Estava ali composto o modelo que
se pretendia para provocar um estilo próprio de vida na capital federal, estendendo-se para
todo o Plano Piloto, onde seus moradores encontrariam, dentro daquele perímetro, tudo o que
fosse necessário para o seu dia a dia. Os prédios, construídos sobre pilotis, permitiriam a
democratização do espaço, facilitando a circulação das pessoas e a convivência dos moradores
nesses espaços comuns, que perdiam seu caráter privado.
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O plano arquitetônico de Lucio Costa fazia crer que a cidade reunia condições ideais
para a implantação de um sistema integrado de educação. O projeto de educação pública
concebido para Brasília foi o primeiro a se ocupar de uma distribuição espacial democrática
dos centros escolares. Assim, as escolas primárias seriam edificadas no interior das quadras,
de modo que as crianças não precisassem se deslocar por longos trajetos para alcançá-las.
Anísio Teixeira convenceu Lucio Costa a destinar o espaço que era previsto para a construção
de escolas secundárias, para a criação das escolas parque, que seriam como “universidades
infantis”.
Figura 1 - Igrejinha e comercial da entrequadra 108/107 – 307/308 Sul.
Fonte: Arquivo de Stéllio Seabra. Disponível em: <http://www.prefeitura308sul.org.br/arquivo_stellio.html>.
Figura 2 – Vista da Igrejinha.
Fonte: Arquivo de Stéllio Seabra. Disponível em: <http://www.prefeitura308sul.org.br/arquivo_stellio.html>.
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Figura 3 - Croquis dos blocos de uma superquadra.
Fonte: Nanci Corbioli. Publicada originalmente em PROJETODESIGN, edição 334, dez. 2007. Disponível em:
<http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/oscar-niemeyer-superquadras-brasilia-08-02-2008.html>.
A estrutura da cidade compreendia uma sequência de grandes quadras, densamente
arborizadas, as superquadras, nas quais seriam edificados os blocos residenciais dispostos de
maneira variada. O tráfego de veículos e trânsito de pedestres não se entrecruzariam,
garantindo especial atenção ao acesso seguro à escola primária. As escolas parque ficariam
nas entrequadras, ao centro da unidade de vizinhança.
Em consonância com essa concepção urbanística, a proposta de Anísio Teixeira
descrevia especificações relativas às construções das escolas, detalhando suas características
físicas. A escola não se limitaria ao ensino primário, mas se referiria a diferentes níveis de
escolarização, desde o elementar ao superior, seguindo uma continuidade. O ideal para a
escola seria manter a educação caminhando junto à sociedade, acompanhando as mudanças
que estavam ocorrendo graças ao acelerado desenvolvimento científico e tecnológico,
formando um novo homem, de acordo com a vida moderna. Anísio acreditava que as
necessidades da civilização implicavam em obrigações à escola, aumentando suas atribuições
para atender as necessidades específicas de ensino e de educação e também ao convívio
social.
Figura 4 - Construção do Cine Brasília
Fonte: Arquivo Público do Distrito Federal.
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Figura 5 - Canteiro de obras da Escola Parque 307/308 Sul – 1959
Fonte: Arquivo Brasília.
Disponível em: <http://www.facebook.com/photo.php?fbid=242316779218174&set=
a.239102686206250.50515.177474179035768&type=1&theaterjn>.
O primeiro conjunto de superquadras, projetado e executado, foi o único que seguiu o
projeto original da nova capital. Ainda assim, percebe-se que não conseguiu se manter dentro
da utopia de seus idealizadores. Isso é claramente perceptível quando nos deparamos com a
realidade que hoje se apresenta na vida cotidiana da cidade e, em especial, da população que
habita essa unidade de vizinhança modelo. No percurso natural de desenvolvimento da
cidade, a utopia foi sendo gradativamente substituída pela realidade cotidiana e é bem
provável que grande parte da comunidade que a habita desconheça o ideário em que ela foi
concebida.
Sobre o assunto, Max Jucá Kokay et al. concluem que as novas condições conjunturais
e estruturais de ordem política, administrativa e social, que acompanharam o processo de
implantação da cidade
levaram à gradual descaracterização do plano de educação elaborado por Anísio Teixeira. Dentre
os fatores que desencadearam essas alterações, podemos citar: a situação política entre os anos de
1961 e 1964; a explosão demográfica de Brasília, causando descompasso entre a implementação
do plano e as demandas educacionais; a paralisação das obras públicas durante o governo de Jânio
Quadros [sob] alegação do alto custo do empreendimento (construção de novas unidades); redução
da jornada de trabalho dos docentes para seis horas; a redução do período de permanência diária
dos alunos na instituição para duas horas; carência de docentes para o ensino primário, em
decorrência da desmotivação de possíveis candidatos à transferência para Brasília; falta de prédios
escolares; [...] greve e demissões de docentes; perseguição ideológica; crise política e instauração
da ditadura militar (KOKAY et al., 2012, p. 25).
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O aumento da densidade demográfica, acarretando aumento da frota de veículos,
descaracterizou o cotidiano das unidades de vizinhança e de toda a cidade. A ocupação das
superquadras passou a ser feita de forma bem diferente da imaginada por Lucio Costa, que
previa a alocação de pessoas de distintas classes sociais em seus blocos, vivendo porta com
porta. Para completar o quadro, os condomínios de moradores das superquadras passaram a
limitar o acesso aos pilotis dos blocos, criando “jardins” cercados, obstruindo a livre
circulação de pedestres. As Escolas Classe e a Escola Parque passaram a ser frequentadas, em
sua maioria, por crianças que residiam fora da unidade de vizinhança, visto que seus antigos
moradores envelheceram e os novos, com maior poder aquisitivo, preferiram matricular seus
filhos em escolas particulares.
Tais distorções, segundo Lauande (2007), encontram respaldo nas próprias
características do urbanismo que,
assim como as leis, é incapaz de eliminar determinados vícios da vida social. Sem embargo, os
equívocos estéticos são tradutores fiéis das doenças que afligem a sociedade. O arquiteto é,
também, um construtor de símbolos, transmissores de valores convencionados pela sociedade cuja
atividade deve ter uma perspectiva direcionada para uma crítica comprometida com a realidade de sua época. A sua relação, conflitante ou não, com o poder, como consequência, torna-se
fundamental tanto quanto inevitável.
KOKAY et al. (2012) concluem que, apesar de terem sofrido descaracterizações e
adaptações, as Escolas Parque de Brasília continuam representando possibilidades de
viabilização da educação integral e integradora, por meio da formação artística e de expressão
corporal em prol da democratização do ensino na rede pública. Acreditamos que estes são
alguns dos ecos dessa utopia pedagógica que pretendemos perseguir. Para tanto deveremos
apurar nossos sentidos deixando que esses ecos de um patrimônio, ainda vivo, nos afete.
Tais ecos também podem ser percebidos no contexto cultural, na narrativa de
representantes das gerações que aqui cresceram. É recorrente, por exemplo, ouvir relatos por
parte dos contemporâneos da “geração do rock”, a respeito da condição agregadora
proporcionada pelo projeto urbanístico das superquadras, que permitia uma rica convivência
entre jovens amigos. Nos pilotis dos blocos do Plano Piloto, crianças brincavam e jovens se
reuniam para tocar violão, formar bandas, ou apenas para conversar. Hoje, roqueiros ou não,
atribuem isso ao espaço público criado pelos seus projetistas e idealizadores. Isso vem
comprovar que a unidade de vizinhança, mesmo não tendo sido repetida da forma original,
como nesse conjunto de superquadras aqui citado, possibilita, sim, uma convivência mais
humana, com uma melhor qualidade de vida para os seus moradores.
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Apresentaremos a seguir algumas informações sobre as abordagens metodológicas
previstas no projeto da equipe da Escola Parque 210 Norte, que serão incorporadas ao projeto-
piloto.
O processo, relatado no referido projeto (KOKAY et al., 2012) será iniciado por meio
da realização de pesquisas na Internet, baseadas em palavras-chave, que deverão conduzir os
estudantes a novos conceitos, proporcionando condições para que eles se percebam como
coautores na construção deste projeto. Durante o exercício investigativo eles serão
estimulados ao compartilhamento de descobertas, valorizando a colaboração e o
companheirismo entre os alunos. Em um segundo momento, as pesquisas exploratórias
iniciais serão complementadas na biblioteca da escola, com o objetivo de aprofundar estudos
sobre o tema e de incentivar a realização de investigação em diferentes tipos de mídia,
valorizando, também, a leitura de livros. Nesse processo serão consideradas ações previstas na
educação patrimonial.
Tais ações envolvem pesquisas etnográficas, baseadas em métodos que incluem a
observação participante, a realização de entrevistas abertas, o registro e a exploração de dados
e a apropriação de resultados obtidos, para fundamentar análises de possibilidades
metodológicas. Serão incentivados os estudos interdisciplinares, ou transdisciplinares,
envolvendo a arte/educação, por meio da Abordagem Triangular, sistematizada por Ana Mae
Barbosa, que propõe estudos baseados em ações de contextualização, leitura imagética e do
fazer artístico. Visando fundamentar tais ações, serão buscados subsídios em textos de
Terezinha Losada, que apresenta uma interessante síntese de vários métodos relacionados
com a compreensão da História da Arte, baseados na interpretação de características e
tendências percebidas nas obras. Reproduz-se a seguir um quadro no qual a autora apresenta
uma síntese de vários métodos da História da Arte, com suas características e tendências6.
Tabela 1 - Síntese de abordagens metodológicas para interpretação imagética.
MÉTODO
CARACTERÍSTICAS
TENDÊNCIAS
Biográfico relação: arte e vida do
artista história de vida (Vassari)
influência de fatores psíquicos (Freud /
Lacan)
Arqueológico pesquisa de campo e
análise científica dos escritiva (Caylus)
desdobramentos interpretativos (Winckelman)
6 O quadro reproduzido integra o conteúdo de um dos módulos de estudos que compõem a Série GTArtes,
produzido para a Licenciatura em Artes Visuais do Programa Pró-Licenciatura.
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objetos
Sociológico relação: arte e sociedade influência de fatores naturais (Taine)
influência de fatores econômicos (marxismo)
influência de fatores culturais (neomarxismo
e pós-modernismo)
Formalismo ênfase na forma relação forma e estilo (Wölfflin)
percepção visual (Gestalt)
Iconologia ênfase na imagem conteúdo simbólico/cultural da imagem
(Riegl, Warburg, Cassier, Panofsky)
Estruturalismo análise baseada em
categorias e estruturas
teóricas
teorias da linguagem (Peirce, Saussure,
seguidores)
teorias sociais (marxismo, antropologia)
teorias psicológicas (psicanálise, Gestalt)
Pós-Estruturalismo ênfase na diferença ou
pluralidade –
microteorias
(gênero, etnia, idade,
etc.)
teorias filosóficas (pós-estruturalismo
francês)
teorias sociais e art íst icas sobre a pós-
modernidade (T.J. Clark, Griselda Pollock,
Gen Doy)
Dos Peritos/Crítica opinativa, interpretativa
(em última instância,
orienta as atividades do
historiador, do crítico,
como também do
público)
observação de detalhes – método moreliano
1950 – purismo arte abstrata (Greenberg)
1960 – experimentalismo vanguardas (arte e
vida)
1980 – pós-modernismo (paródia, pastiche,
multiculturalismo)
Em conformidade com esse pensamento inter/transdisciplinar, um site criado na escola
pode ser explorado conjuntamente por várias disciplinas, para disponibilização de conteúdos e
interação entre os participantes, demonstrando que o conhecimento não é fragmentado, mas
sim passível de conexão.
A metodologia proposta por Denise Soares dos Santos, que integra o grupo da Escola
Parque 210 Norte, para ser aplicada aos estudos relacionados com a música fundamentar-se-á
no modelo TECLA, proposto pelo músico e educador inglês Keith Swanwick, e envolvem
técnica, execução, composição, literatura e apreciação. Serão propostas, também, atividades
relativas à sonorização de imagens, baseadas na Paisagem Sonora de Murray Schefer,
surgidas para construir o universo resultante de experiências e de conhecimentos adquiridos,
“numa integração entre as artes por meio da utilização das tecnologias na produção de sons,
na captura de imagens e na fusão de ambas” (KOKAY et al., 2012).
Ao final desta etapa inicial da pesquisa, os alunos deverão compreender as origens do
projeto das Escolas Parque, percebendo que ele é anterior à existência de Brasília,
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descobrindo quem foi o autor da proposta e conhecendo as influências que esse proponente
sofreu das teses deweyanas, após realizar estudos no exterior.
Três recortes de tempo definirão a continuidade da investigação, nas etapas
subsequentes. São eles: recorte 1 – o cenário cultural brasileiro no período da construção de
Brasília e da primeira Escola Parque; recorte 2 – do período em que foi criada a escola em que
eles estudam, a Escola Parque 210 Norte; recorte 3 – o momento atual das Escolas Parque de
Brasília.
No recorte 1, serão propostas atividades relativas ao cenário cultural do Brasil do
período da construção de Brasília e da primeira Escola Parque inaugurada, em 1960, na 308
Sul. Será abordada a história da cidade e da escola, considerando artes plásticas, teatro,
cinema, música, moda e comportamento. As imagens coletadas e produzidas ao longo dessa
pesquisa serão objeto de análise e comparações, baseadas na Abordagem Triangular, nos
passos do Image Watching e em outras abordagens interpretativas da produção artística. Para
finalização das atividades referentes ao primeiro recorte será realizado um evento intitulado
Festival Bossa Nova, dedicado à audição de músicas e a apresentação dos trabalhos referentes
ao recorte temporal, relacionando-o com o contexto histórico analisado.
No recorte 2, relativo ao período em que foi criada a Escola Parque 210 Norte, serão
realizadas pesquisas a respeito da transição do cenário em que foi implantada a primeira
Escola Parque, abordando o período da ditadura militar, citando os “anos de chumbo”, a
rebeldia e a repressão dos anos 1970, mencionando até chegar ao período da inauguração da
escola, ocorrido na década de 1980. Será analisado esse contexto cultural, mencionando o
processo de redemocratização que resultou na redação e a promulgação da nova Constituição
Brasileira. Esse enfoque foi considerado necessário para que os estudantes possam
compreender os motivos que levaram à interrupção do processo de implantação do programa
educacional, abortando um projeto previsto para servir de modelo para todo o Brasil. Está
prevista uma visita ao Congresso Nacional, onde manterão contato com a realidade da política
brasileira, de ontem e hoje. No campo cultural, pretende-se ressaltar a condição atribuída a
Brasília como a Capital do Rock, propondo atividades como: a audição e interpretação de
músicas das bandas da cidade; a experimentação de instrumentos eletrônicos, explorando as
batidas do rock; a produção de ilustrações, histórias em quadrinhos e cartazes; a
experimentação cênica (caracterização, postura, dança), culminando com a realização de um
Festival de Rock (KOKAY et al., 2012, p. 47-48).
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No recorte 3, referente ao momento atual, está prevista a realização de uma
“caminhada patrimonial” pela Escola Parque 210 Norte e arredores, observando, registrando e
explorando impressões, por meio da produção de textos, desenhos e fotografias. Dessa forma
poderão identificar as diferenças entre esta e a Escola Parque 308 sul, comparando suas
características e as de suas respectivas unidades de vizinhança.
A equipe propõe o uso do material resultante das pesquisas na elaboração de roteiros e
criação de histórias em quadrinhos e animações, que poderão ser produzidas por meio do uso
de programas computacionais. Nelas, os estudantes poderiam apresentar a “Escola Parque dos
seus sonhos”, planejada com base nos conhecimentos adquiridos no processo.
Como encerramento do projeto, propõe-se a realização do Festival Escola Parque:
patrimônio vivo, quando serão realizadas exposições, instalações e apresentações artísticas
contemplando a produção resultante dos três recortes temporais. Nessa mesma etapa
pretendemos lançar o portal do projeto, divulgando-o como um canal aberto para a
comunicação com a comunidade (KOKAY et al., 2012, p. 48).
É importante frisar que todo esse planejamento será detalhado e ajustado, conforme
avaliações processuais realizadas.
Como desdobramento, o grupo lembra que será importante contar com novos
parceiros, ao final do desenvolvimento do projeto-piloto, abrindo possibilidade de adesão de
professores das escolas tributárias em nova experiência a ser desenvolvida nos semestres
subsequentes. Tal adesão poderia viabilizar a promoção da interdisciplinaridade pretendida,
por meio de contribuições em ações que envolvam suas respectivas áreas de conhecimento.
No percurso, ao longo do processo de desenvolvimento da pesquisa, quando nos
ocupávamos de buscar informações a respeito do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova
(1932), nos deparamos com a homenagem prestada pela Câmara dos Deputados, em sessão
solene, no dia 10 de julho de 2012, celebrando os seus 80 anos. Nada mais oportuno do que
registrarmos, aqui, essa homenagem, como uma reflexão importante sobre a educação no
Brasil. Nesse sentido, gostaríamos de destacar em nossas considerações finais os seguintes
trechos publicados em matéria da Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília
sobre essa homenagem:
Na hierarquia dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da
educação. Nem mesmo os de caráter econômico lhe podem disputar a primazia nos planos de
reconstrução nacional. [...] O alerta, factível para os dias atuais, foi feito em 1932 por um grupo de
notáveis no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento que representou um marco ao
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apresentar uma proposta inédita: educação laica, pública, universal e de qualidade. “O maior
legado do manifesto foi ter retirado a educação do sistema censitário que ainda existia. A educação
não poderia mais ser um privilégio de classe, mas um fator para o próprio projeto de
desenvolvimento do país”, disse o reitor da Universidade de Brasília, José Geraldo de Sousa
Junior, que participou da mesa da sessão solene.
Nessa seção solene reiterou-se a necessidade de ampliação dos recursos públicos
destinados à educação que já era reclamada pelos pioneiros do manifesto há 80 anos e que foi
aprovada recentemente, correspondendo a 10% do PIB. Esperamos que não só se cumpra essa
meta, mas que sua implantação nos proporcione uma real e crescente qualidade no ensino.
Neste trabalho, como já foi dito, pretendemos não só fazer um resgate a partir das
memórias da comunidade escolar, como também registrar todo o processo de pesquisa em um
site que abrigará, inicialmente, o resultado obtido na aplicação do projeto-piloto na Escola
Parque 210/211 Sul. A partir desse site, construído de forma coletiva, pretende-se, também,
abrigar informações coletadas sobre as demais Escolas Parque do Distrito Federal, em um
processo contínuo de análise de possibilidades de formação e construção de novas unidades
de vizinhança em rede, no sentido de incentivar o resgate do projeto de educação original da
Escola Parque de Anísio Teixeira, em consonância com o plano urbanístico de Brasília, de
Lucio Costa.
Na relação entre presente e passado, podemos perceber o quanto o resgate da memória
se torna importante para a construção de uma educação mais sólida. O reconhecimento dessa
relação, necessariamente, tornará a sociedade mais atenta às suas possibilidades de conquista
pela sua participação efetiva nesse processo. A utopia deve ser perseguida, sempre...
Referências bibliográficas
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construção de uma nova unidade de vizinhança. 2012. Trabalho de Conclusão de Curso
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