espécies recomendadas para os relvados do campo de golfe ... · o sub-bosque é maioritariamente...
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Espécies recomendadas para os relvados do campo de golfe da
ADT-3 - Herdade da Comporta
Preparado por:
Dr. Charles H. Peacock Senior Agronomist
Audubon Environmental
1000 St. Albans Drive, Suite 350 Raleigh, North Carolina 27609, USA
Audubon Environmental Europe
Av. António Augusto de Aguiar, 66, 5ºEsq. 1069-115 Lisboa, Portugal
Fevereiro 2009
Análise relativa às espécies recomendadas para os relvados dos campos de golfe da ADT-3 - Herdade da Comporta
Dr. Charles H. Peacock
Senior Agronomist
Audubon Environmental, Inc.
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A sustentabilidade na utilização das espécies num relvado de um campo de golfe depende de uma série factores. Os
factores que limitam o crescimento do relvado influenciam igualmente a selecção das espécies. Enunciam-se
seguidamente os principais factores a ter em conta:
o Luz – atendendo à existência de condições de ensombramento em determinadas áreas
o Temperatura – numa escala macroclimatica influenciada pelos dados históricos no que diz respeito a informação
climatérica; e numa escala microclimática, influenciada pela orientação dos ventos dominantes, condições de
ensombramento, topografia e exposição solar
o Disponibilidade de água – a quantidade e qualidade de água disponível
o Disponibilidade de nutrientes – a necessidade de fornecer os nutrientes necessários ao desenvolvimento e que
não estão naturalmente disponíveis no solo
o Porosidade do Solo / Disponibilidade de oxigénio – Garantir uma boa função radicular, promovendo as trocas
gasosas na envolvente das raízes, limitadas muitas das vezes pela textura do solo e problemas ao nível da sua
compactação
o Capacidade de Carga – Escolha de um tipo de relva com uma capacidade de carga suficiente para suportar
situações de circulação de veículos, manifestando uma capacidade regenerativa após estas situações
o Pragas – Um relvado saudável é o principal requisito para minimizar problemas de pragas, possibilitando uma boa
recuperação após os mesmos terem efeito. Deverá ser feita uma selecção de espécies adequadas a este efeito,
tolerando e recuperando após um episódio de praga, respondendo com a mínima utilização de pesticidas
Luz
As condições de ensombramento não deverão constituir um factor crítico. A grande maioria da área de intervenção
apresenta uma baixa densidade no que diz respeito ao grau de cobertura abrangido pelas copas dos pinheiros, permitindo
a entrada de uma quantidade significativa de luz. O sub-bosque é maioritariamente constituído por arbustos de pequeno
porte e herbáceas, que não deverão oferecer grandes situações de ensombramento. Deste modo, as condições de
ensombramento não deverão constituir um aspecto relevante quanto à escolha de espécies.
Temperatura
Foi conduzida uma análise às temperaturas registadas no local. O intervalo de temperaturas ideal para as espécie de
relvado ‘warm-season’ foi avaliado entre 26.7 to 35 C (caso da Bermuda (Cynodon sp.) e do Paspalum vaginatum). No que
diz respeito às espécies de ‘cool-season’ este intervalo está entre os 15.6 e 23.9 C, como é o caso da Agrostis sp. e Festuca
sp. A Figura 1 apresenta a máxima, mínima e media mensal para a área de intervenção, incluindo igualmente os intervalos
de temperatura óptimos para o crescimento das espécies de ‘warm-season’ e ‘cool-season’. As principais conclusões são
enunciadas de seguida. Para as espécies de ‘warm-season’, a média da temperatura mensal nunca atinge o mínimo da
temperatura considerada como óptima para o crescimento. Para além disto, a máxima temperatura mensal apenas
excede a mínima temperatura óptima para as espécies de ‘warm-season’ nos meses de Junho, Julho e Agosto. Os
resultados deste facto traduzem-se na ocorrência de uma série de meses de dormência e semi-dormência, que deverão
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coincidir com o pico de utilização em termos de jogo, a par de uma menor capacidade de regeneração após situações de
tráfego de veículos. Para as espécies de ‘cool-season’ a temperatura média mensal encontra-se acima das respectivas
mínimas para o crescimento óptimo durante seis meses no ano, sendo a máxima temperatura mensal acima da
temperatura óptima para o resto do ano. A temperatura máxima mensal está acima do máximo crescimento óptimo
durante o Verão, embora a baixa humidade relativa e as baixas temperaturas no período nocturno possam permitir que o
relvado consiga fazer face ao stress térmico desde que sujeito apenas a uma exposição diurna. Para além disto, deverão
considera-se os meses de Verão como o período em que se deverá prever uma menor apetência para o jogo, em
comparação com os períodos de Primavera e Outono.
Figura 1. Gráfico comparativo das temperaturas (ºC)
associadas às variedades ‘cool-season’ e ‘warm-season’
Disponibilidade de água
A implementação de um sistema de rega é essencial para fazer face à escassez de água proveniente da precipitação,
sobretudo na localização em causa, onde as características do clima mediterrânico se traduzem numa reduzida
disponibilidade de água nos meses de Verão (Figura 2). Deste modo, é essencial perceber as necessidades hídricas em
causa, determinado quais as espécies mais adequadas para os relvados. Foi realizado um estudo comparativo para a ADT-
2 (campos Poente e Nascente), destacando o Paspalum vaginatum, uma espécie ‘warm-season’; tendo sido também
levada a cabo uma avaliação para as espécies ‘wam-season’ e ‘cool-season’ na ADT-3. Estas conclusões são apresentadas
no Anexo I, apresentando-se um resumo da análise nas Figuras 3 e 4. A Figura 3 apresenta a estimativa da água a ser
utilizada anualmente para cada campo de golfe de acordo com o desenho actual. Estima-se que as taxas de utilização de
água venham a ser semelhantes às da ADT-2, embora seja de prever um aumento face a estes últimos, em virtude do
incremento da área de relvado regado (Figura 4). No entanto, comparando a quantidade de rega a aplicar por metro
quadrado, as taxas de utilização deverão ser praticamente iguais. A redução da área de relvado a regar na ADT-3 implicaria
uma redução no volume de água para rega.
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Figura 2. Precipitação e ET (mm) relativas à Herdade da Comporta
Figura 3. Estudo comparativo do volume de utilização de água.
(m3 por ano)
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Figura 4. Estudo comparativo do volume de utilização de água.
(m3 por m2 de área regada)
Disponibilidade de nutrientes
A aplicação de fertilização adequada é essencial para garantir a máxima performance de jogo, sendo particularmente
importante dada a natureza arenosa do solo. Aplicações anuais de Azoto (N), Fósforo (P) e Potássio (K), bem como outros
nutrientes como o Ferro (Fe) e Manganês (Mn) deverão ser ajustadas de acordo com análises ao solo e testes
suplementares ao estado dos tecidos, identificando potências carências. Uma vez que se prevê que os principais ‘picos’ de
utilização de jogo ocorram no Outono e Primavera, deverá ser feita uma selecção das espécies cujas condições óptimas e
taxas de crescimento coincidam com estes períodos. Como referido anteriormente, as espécies de ‘cool-season’ são as
que melhor correspondem a estas situações. Estas espécies apresentam genericamente baixas necessidades nutricionais,
dadas as suas características em termos de crescimento e época do ano onde as taxas de crescimento óptimas são
solicitadas. A produção de uma grande quantidade de biomassa no caso das espécies de ‘warm-season’ no período do
Verão não é desejável, desde que o ‘pico’ de utilização do campo de golfe coincida com momento em que estas espécies
não se encontrem no auge do seu crescimento óptimo.
Porosidade do Solo / Disponibilidade de oxigénio
A natureza arenosa do solo é ideal para proporcionar a quantidade de oxigénio necessária para as trocas gasosas,
potenciando igualmente as condições de drenagem nos meses sujeitos a chuvadas mais intensas. Quando sujeito a
condições de tráfego automóvel intenso, este tipo de solo deverá resistir à compactação.
Capacidade de Carga
A selecção das espécies de relvado para cada uma das situações é essencial para garantir uma maior resistência à
utilização, aliada a boas taxas de recuperação quando sujeitos a cargas elevadas. A capacidade de carga é dependente do
tipo de utilização do campo de golfe, dependendo das espécies utilizadas em cada uma das situações. Por exemplo, uma
altura de corte normal para os fairways ronda os 25 mm, podendo ser inferior. Para as Festucas sp. e Agrostis sp. este
facto não deverá constituir um problema, mas para o Lolium perenne e Poa pratensis, manter uma cobertura densa e
homogénea deverá depender fortemente de uma escolha adequada da variedade a utilizar.
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Pragas
Os problemas associados a pragas não deverão ser significativos, para além de ser pouco provável a ocorrência de bancos
de sementes, cuja existência se poderia traduzir em problemas significativos dado o uso passado e presente que a área
apresenta. Os problemas a nível de insectos deverão estar restritos aos períodos de eclosão de larvas de lepidopteros
durante os meses de Verão, devendo ser controlados com aplicações pontuais de insecticidas de baixo risco ambiental.
Problemas relacionados com doenças poderão estar associadas ao aparecimento de manchas nas folhas, nomeadamente
Sclerotinia homeocarpa, Helminthosporium sp. e Rhizoctonia, e durante os meses de Outono Pythium. Dada a natureza
arenosa do solo, não deverão ser previstos problemas de podridão ao nível das raízes. Considerando a ocorrência de
ventos e os baixos níveis de humidade durante os meses de Verão, os problemas ao nível de doenças deverão ser
mínimos. Estes problemas poderão ser detectados a partir dos greens que serão utilizados diariamente, sendo tratados
aquando da sua observação.
Espécies Potenciais:
Putting greens:
A escolha recai na Agrostis stolonifera ou numa mistura de Agrostis tenuis, Festuca rubra commutata e Festuca rubra
trichophylla. A Agrostis stolonifera produz uma qualidade superior ao nível da superfície de jogo, particularmente com a
utilização das novas variedade da série A e G, apresentando uma densidade considerável ao nível dos rebentos.
Tees, Fairways e Roughs:
As espécies potenciais são a Festuca, Poa, Agrostis e Lolium. Dada a localização e a natureza arenosa do solo, uma mistura
de espécies de baixa manutenção com boa tolerância a situações de seca e calor intenso será desejável.
FESTUCAS
Festuca rubra
A Festuca rubra ocorre numa generalidade de situações em praticamente todo o tipo de solos e sob um vasto leque de
condições de disponibilidade hídrica. Apresenta um crescimento relativamente lento no primeiro ano e apresenta folhas
bastante finas em forma de agulha, com uma alta densidade de rebentos. Prospera numa grande diversidade de situações,
sendo notável a sua tolerância à seca e a solos pobres. É bastante resistente ao congelamento e tolera a existência de
lençóis de água à superfície durante o Inverno. A tolerância à sombra é melhor do que face à grande generalidade das
espécies.
Existem três tipos para utilização em campos de golfe:
Strong; Slender; Chewings
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Festuca rubra rubra
A Festuca rubra rubra destaca-se pela sua grande adaptabilidade a uma variedade de ambientes e condições. O facto de
formar fortes rizomas reflecte-se na sua grande capacidade de recuperação quando sujeita a utilizações mais intensas.
Tolera bem temperaturas extremas quando comparada com as outras Festucas. É mais fácil de estabelecer quando
comparada com a trichophylla ou commutata e pode ser usada individualmente ou em conjunto com outros tipos de
Festucas com vista a assegurar uma boa recuperação do relvado.
Segue-se duas Festucas rubra, a Trichophylla e a Commutata, caracterizando-se pelo crescimento denso e baixo. Toleram
bastante bem as acções de mobilização ao nível da superfície. A primeira apresenta uma boa tolerância à seca, mantendo
uma boa aparência durante o Verão, possibilitando uma redução ao nível dos gastos de rega. A Commutata está entre as
mais tolerantes a Invernos intensos, sendo também bastante adequada para situações de baixa manutenção. A
generalidade das Festucas pode ser combinada com a Agrostis tenuis, caso se pretenda um fairwway com uma aparência
densa e de baixa altura de corte.
Festuca rubra trichophylla
A Festuca rubra trichophylla apresenta rizomas curtos, o que facilita a capacidade de regeneração, embora com uma
menor taxa de recuperação quando comparada com a F. rubra rubra. A densidade de rebentos é bastante elevada,
possibilitando cortes a baixa altura. A tolerância à seca e situações de emsombramento é mais elevada quando comparada
com outros tipo de Festucas, acrescentando-se ainda o facto desta sub-espécie tolerar situações de clima com uma
influência marítima.
Festuca rubra commutata
A Festuca rubra commutata não apresenta rizomas, embora apresente a maior densidade de rebentos quando compara
com os três tipos de Festucas. Quando utilizada em misturas, torna-se muitas vezes necessário acrescentar um dos outros
tipos de Festucas com rizomas, permitindo facilitar a capacidade de regeneração. Em áreas de clima mais frio, a
commutata apresenta um maior desempenho quando comparada com as outras Festucas. Sendo a densidade de rebentos
bastante considerável, a F. commutata é parte integrante de muitas misturas onde se requer uma boa tolerância a acções
de cortes intensos. Tal será particularmente ao nível dos greens.
Festuca arundinacea
A Festuca arundinacea é uma das mais tolerantes á seca, calor e utilização intensa. Em virtude do seu profundo raizame é
capaz de extrair agua nos períodos secos, quando outras variedades já pararam o seu crescimento. Isto significa que esta
Festuca se mantém verde durante os Verões secos, tolerando as altas temperaturas. A textura da folha desta Festuca é
bastante mais grosseira quando comparada com as outras, embora as novas variedade já se apresentem melhoradas no
que diz respeito a folhas estreitas e densidade. A cor da folhagem desta Festuca é normalmente verde escuro, sendo a sua
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instalação bastante rápida. Em general, pode classificar-se como apresentando uma boa tolerância ao aparecimento de
doenças.
Estudos foram levados a cabo na Universidade de Hohenheim em Estugarda (Alemanha), com vista a avaliar o
comportamento da Agrostis stolonifera ‘Penncross’, Festuca rubra trichophylla ‘Barcrown’, e da Poa supina ‘Supra’ face a
uma série de factores; tendo revelado que a Festuca rubra trichophylla como a que apresenta maior tolerância à seca,
seguida da Agrostis stolonifera. A Poa supina apresentou de entre as três a menor tolerância à seca.
AGROSTIS
Agrostis capillaris=tenuis
Sendo nativa de Portugal, este tipo de Agrostis é caracterizada por uma textura foliar fina, encontrando-se bem adaptada
a condições de clima temperado oceânico. Prospera em condições de solo bem drenado, arenoso, de características ácidas
a semi-acidas. Embora não apresente as características de tolerância ao calor e seca como as Festucas, tolera acções de
corte abaixo dos 7.5 mm.
A selecção de variedades ‘cool-season’ deverá responder bem para a localização em causa, dadas as condições do solo e
factores climáticos em causa, devendo apresentar baixos requisitos de fertilidade.