espectrometria por fluorescÊncia de raios x por …antigo.nuclear.ufrj.br/msc dissertacoes/eduardo...

Download ESPECTROMETRIA POR FLUORESCÊNCIA DE RAIOS X POR …antigo.nuclear.ufrj.br/MSc Dissertacoes/Eduardo Belmonte/Tese... · 09 Comandos de saída do MCNP-4B 88 10 Funções gerais dos

If you can't read please download the document

Upload: nguyennguyet

Post on 22-Nov-2018

219 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • ESPECTROMETRIA POR FLUORESCNCIA DE RAIOS X POR REFLEXO

    TOTAL: UM ESTUDO SIMULADO UTILIZANDO O MTODO

    DE MONTE CARLO

    Eduardo dos Passos Belmonte

    TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAO DOS

    PROGRAMAS DE PS-GRADUAO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

    FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS

    NECESSRIOS PARA A OBTENO DO GRAU DE MESTRE EM CINCIAS EM

    ENGENHARIA NUCLEAR.

    Aprovada por:

    ____________________________________________

    Prof. Delson Braz, D.Sc.

    ____________________________________________

    Prof. Ademir Xavier da Silva, D.Sc.

    ____________________________________________

    Prof. Edgar Francisco Oliveira de Jesus, D.Sc.

    ____________________________________________

    Prof. Regina Cely Barroso, D.Sc.

    RIO DE JANEIRO, RJ BRASIL

    MARO DE 2005

  • ii

    BELMONTE, EDUARDO DOS PASSOS

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios

    X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado

    Utilizando o Mtodo de Monte Carlo [Rio de

    Janeiro] 2005.

    XII, 164 p. 29,7cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,

    Engenharia Nuclear, 2005).

    Tese Universidade Federal do Rio de

    Janeiro, COPPE.

    1. Monte Carlo;

    2. TXRF;

    3. MCNP;

    4. Fluorescncia;

    5. Simulao

    I. COPPE/UFRJ II. Ttulo (srie)

  • iii

    Aos meus pais Eloi e Mrcia Belmonte.

    minha companheira Veralu Santos,

    que tem participao fundamental neste trabalho.

    Aos meus irmo, que esto, cada qual seu modo,

    em busca da realizao.

    Aos meus tios Joo e Alice.

    Aos meus tios Francisco (in memorian) e Neuci e meus

    primos Wilton e Solange.

    Aos meus queridos amigos que

    me ajudaram e confortaram nesta caminhada.

  • iv

    AGRADECIMENTOS

    Deus. Ao Professor Delson Braz pela oportunidade da orientao. Aos professores Ademir Xavier da Silva, Edgar Francisco Oliveira de Jesus e

    Marcelino Jos dos Anjos pelas indispensveis orientaes, dicas, explicaes e pela disponibilidade.

    Aos colegas do LIN, em especial para Max pela indispensvel ajuda e para

    Renata pela ajuda e disponibilidade. Aos colegas do LNRTR pelas contribuies com o cdigo MCNP. Aos colegas da turma pelo apoio e incentivo, em especial para Christiano

    Pinheiro , Nivia Villela e Raimundo Oliveira. Aos funcionrios do PEN pelo valioso apoio. Aos amigos do Grupo Angolinha e Clube dos Tericos pelos momentos de

    descontrao sem os quais esta caminhada seria impossvel. A Comisso Nacional de Energia Nuclear pelo financiamento deste trabalho e

    pelo apoio pesquisa na rea de Engenharia Nuclear. Aos amigos Cludio, Mariana, Pi e Elisa pela presena e apoio em diversos

    momentos. Wilton Lemos dos Passos, pelo apoio em vrios momentos. Sra. Judite dos Santos e famlia. minha companheira Veralu Santos, sem a qual este trabalho no se

    realizaria. todos que direta ou indiretamente contriburam para a realizao deste

    trabalho.

  • v

    Resumo da Tese apresentada COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessrios

    para a obteno do grau de Mestre em Cincias (M.Sc.)

    ESPECTROMETRIA POR FLUORESCNCIA DE RAIOS X POR REFLEXO

    TOTAL: UM ESTUDO SIMULADO UTILIZANDO O

    MTODO DE MONTE CARLO

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Maro/2005

    Orientador: Delson Braz

    Programa: Engenharia Nuclear

    Utilizando o mtodo de Monte Carlo foi avaliada, a capacidade e do cdigo MCNP 4B em simular o fenmeno da TXRF, bem como avaliar a influncia dos ngulos de deteco e de incidncia na probabilidade de incidncia da radiao fluorescente.

    Para tanto foram utilizadas duas fontes em momentos diferentes. Um feixe monocromtico de 28 eV de energia e um espectro gerado por um tubo de W 30 kV. Estas fontes foram utilizadas para irradiar amostras de 5nm de espessura apoiadas em um suporte refletor de cristal de quartzo com 2,5cm de raio e 3mm de espessura.

    Nas 63 simulaes realizadas os picos gerados tiveram energias dentro do previsto para os picos de fluorescncia dos elementos presentes nas diferentes amostras. As relaes entre as probabilidades de incidncia de K e K gerados tambm tiveram valores e comportamento dentro do previsto teoricamente.

    Variando o ngulo de deteco entre 0 e 135 no foram detectadas variaes significativas para os picos de fluorescncia. A radiao totalmente refletida diminuiu com o aumento do ngulo.

    Com o aumento do ngulo de incidncia detectou-se um decrscimo relativo na intensidade de radiao fluorescente devido ao aumento da interao da radiao incidente com a matria.

    Para avaliar a determinao da concentrao de elementos com MCNP foi simulada a irradiao de uma amostra com dez elementos detectveis. Todos os elementos foram detectados, seis destes com erro percentual menor que vinte por cento em relao concentrao real. O que leva a concluir que o cdigo MCNP 4B capaz de simular o fenmeno da TXRF e tem boa preciso na determinao da concentrao de elementos em uma amostra.

  • vi

    Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

    requirements for the degree of Master of Science (M.Sc.)

    TOTAL-REFLECTION X-RAY FLUORESCENCE SPECTROMETRY: A

    SIMULATE STUDY USING THE MONTE CARLOS METHOD

    Eduardo dos Passos Belmonte

    March/2005

    Advisor: Delson Braz

    Department: Nuclear Engineering

    Using the Monte Carlo method was appraised, the capacity of the code MCNP 4B in simulating the phenomenon of TXRF, as well as to evaluate its influences of the detection and incidence angles in the incidence probability of the fluorescent radiation.

    Just like that two sources were used in different moments, a monochrome beam of 28 keV of energy and a spectrum generated by a tube of W to 30 kV. These sources were used to irradiate samples of 5nm of thickness supported in a quartz reflector support with 2,5cm of ray and 3mm of thickness.

    In the 63 made simulations the generated picks had energies inside of the foreseen for the picks of fluorescence of the present elements in the different samples. The relationships between the incidence probability of K and K picks generated also had values and behavior inside of the foreseen.

    Varying the detection angle between 0 and 135 degrees significant variations were not detected for the fluorescence incidence probability picks. The radiation totally reflected it decreased with the increase of the angle.

    With the increase of the incidence angle a relative decrease was detected in the intensity of fluorescent radiation due to the increase of the interaction of the incident radiation.

    To evaluate the determination of the concentration of elements with MCNP the irradiation of a sample with ten elements you detected it was simulated. All the elements were detected, six of these with smaller percentile mistake than 20% in relation to real concentration. What takes to end that the code MCNP 4B is capable to simulate the phenomenon of TXRF and it has good precision in the determination of the concentration of elements in a sample.

  • vii

    Sumrio

    Captulo 1 01

    Introduo 01

    1.1 Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total 01

    1.2 Simulao em Monte Carlo 03

    1.3 Objetivos do Trabalho 04

    Captulo 2 06

    Fundamentos Tericos 06

    2.1 Uma Breve Histria do tomo 06

    2.1.1 O tomo Primitivo 06

    2.1.1.1 Na Grcia 06

    2.1.1.2 A Redescoberta 09

    2.1.2 A Descoberta do Eltron 10

    2.1.2.1 Modelo de Thomson 10

    2.1.2.2 Modelo de Rutherford 11

    2.1.3 A Teoria Quntica 14

    2.1.3.1 Max Planck 14

    2.1.3.2 O Modelo de Bhr 19

    2.1.4 A Nova Teoria Quntica 28

    2.1.4.1 De Broglie 28

  • viii

    2.1.4.2 O Modelo de Heisenberg 31

    2.1.4.3 O Modelo de Schrdinger 33

    2.2 Interao da Radiao Com a Matria 35

    2.2.1 Fenmenos de Interao 35

    2.2.1.1 Efeito Fotoeltrico 35

    2.2.1.2 Espalhamento Compton 37

    2.2.1.3 Produo de Pares 44

    2.2.2 Atenuao e Seco de Choque 45

    2.3 O Espectro de Raios X 51

    2.3.1 Curva de Distribuio Contnua 52

    2.3.2 Os Picos de Raios X 54

    2.3.3 Eltron Auger 60

    2.4 Anlise por Fluorescncia de Raios X 61

    2.5 A Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total 67

    2.5.1 Reflexo e Refrao 68

    2.5.2 Reflexo Total 70

    2.5.3 Coeficiente de Reflexo Total 73

    2.5.4 Poder de Penetrao 74

    2.5.5 Intensidade de Fluorescncia na Reflexo Total 76

    2.5.5.1 Anlise Quantitativa 80

    2.5.5.2 Limite de Deteco 81

    2.5.5.3 Background do Refletor 82

    2.6 Simulao por Monte Carlo 83

    2.6.1 Cdigo Monte Carlo de N Partculas verso 4B 85

    2.6.1.1 Propriedades do MCNP 4B 86

    2.6.1.2 Princpios Bsicos de Utilizao de MCNP 4B 86

  • ix

    Captulo 3 90

    Materiais e Mtodos 90

    3.1 Arranjo Experimental 90

    3.1.1 Arranjo Experimental a Ser Simulado 90

    3.3.2 Entrada do Arranjo Experimental no Arquivo INP 92

    3.2 Metodologia 100

    3.2.1 Simulao Teste 101

    3.2.2 Variaes do ngulo de Deteco 102

    3.2.3 Variaes do ngulo de Irradiao 103

    3.2.4 Determinao de Concentrao de Elementos 104

    Captulo 4 105

    Apresentao e Discusso dos Resultados 105

    4.1 Resultados da simulao teste 106

    4.1.1 Validao dos Picos de K 107

    4.2 Variao do ngulo de Deteco 110

    4.2.1 ngulo de Deteco Variando de 0 a 5 Graus 110

    4.2.1.1 Validao dos Picos K 113

    4.2.1.2 Anlise dos Picos K 114

    4.2.1.2 Feixes Totalmente Refletidos 115

    4.2.2 ngulo de Deteco Variando de 5 135 Graus 117

  • x

    4.2.2.1 Validao dos Picos K 117

    4.2.2.2 Anlise dos Picos K 118

    4.2.2.3 Radiao Totalmente Refletida 124

    4.3 Variao do ngulo de Incidncia 125

    4.3.1 Validao dos Picos K 125

    4.3.2 Anlise dos Picos K 126

    4.4 Determinao da Concentrao 128

    4.4.1 Curva de Sensibilidade 128

    4.4.2 Determinao da Concentrao de Elementos 132

    Captulo 5 137

    Concluses e Sugestes 137

    5.1 Simulao em Monte Carlo com MCNP 137

    5.2 Simulao de TXRF 137

    5.3 Fatores Geomtricos da TXRF 138

    5.4 Sugestes Para Trabalhos Futuros 139

    Captulo 6 140

    Referncias Bibliogrficas 140

    Captulo 7 150

    Anexos 150

    Anexo I (Relaes K/K segundo Streli (1996)) 150

  • xi

    Anexo II (Espectro de um tubo de Tungstnio 30kV) 152

    Anexo III (Arquivo de entrada do MCNP 4B (INP)) 153

    Anexo IV (Arquivo de sada do MCNP 4B ) 156

  • xii

    ndice de Tabelas

    Tabela Pgina

    01 Nmeros atmicos Chadwick 14

    02 Sries de linhas para o Hidrognio 22

    03 Probabilidade de interao por faixa de energia 46

    04 Nveis, subnveis, nmeros qunticos e quantidade de eltrons 58

    05 ngulos crticos para diferentes materiais 72

    06 Coeficiente de reflexo 74

    07 Poder de penetrao da radiao 76

    08 Superfcies do MCNP-4B 87

    09 Comandos de sada do MCNP-4B 88

    10 Funes gerais dos planos 99

    11 Energia dos ftons de fluorescncia 106

    12 Energia dos picos gerados na Simulao Teste 108

    13 Relao K/K para Simulao Teste 109

    14 Comparativos dos desvios calculados e das incertezas fornecidas pelo

    MCNP para picos K do Fe detectados entre 5 e 135 123

    15 Concentrao dos elementos nos padres 129

    16 Sensibilidade dos elementos componentes dos padres 131

    17 Elementos da amostra e suas concentraes de entrada 132

    18 Elementos componentes da amostra, energias e probabilidades de

    incidncias de K1 133

    19 Sensibilidade e concentrao calculada para os componentes da amostra 134

    20 Comparativo entre concentraes calculadas e reais 135

  • Captulo 1

    Introduo

    1.1 Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total

    A espectroscopia por Fluorescncia de Raios X (X-Ray Fluorescence XRF)

    uma tcnica de anlise qualitativa e quantitativa da composio qumica de amostras.

    Consiste na exposio de amostras slidas ou lquidas a um feixe de radiao para a

    excitao e deteco da radiao fluorescente resultante da interao da radiao com o

    material da amostra.

    A Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total (Total-Reflection X-Ray

    Fluorescence - TXRF) uma tcnica de XRF que utiliza para a irradiao da amostra

    um ngulo de incidncia muito raso no intuito de se produzir reflexo total. A reflexo

    se d na interface do ar com a amostra e desta com o material refletor posicionado como

    suporte para amostra. Devido pequena espessura utilizada para as amostras h pouca

    interao da radiao com o material da amostra, com isso o espalhamento da radiao

    incidente ser pequeno e ter-se- um melhor limite de deteco.

    Como parte da introduo idia do trabalho ser apresentada uma breve

    reviso de trabalhos que foram importantes no desenvolvimento da tcnica da TXRF.

    Os raios X foram descobertos pelo fsico alemo Wilhelm Conrad Retgen

    (18451923) em seu laboratrio em Wrzburg no ano de 1895. Essa descoberta causou

    tamanho furor na comunidade cientfica e nos meios de comunicao que em 1896,

    menos de um ano depois da descoberta de Retgen, dezenas de livros e cerca de mil

    artigos haviam sido publicados sobre o assunto.

    Muitas foram s aplicaes em diversas reas atribudas aos raios X logo que

    descobertos. Uma delas a anlise multielementar por fluorescncia de raios X.

    A espectroscopia de raios X como anlise multielementar tem sua primeira

    experincia com Barkla (1911), mas, s nos anos 50 foi efetivamente adotada como

    mtodo de anlise. Nesta poca os equipamentos utilizavam o mtodo de Fluorescncia

  • Captulo 1 - Introduo

    2

    de Raios X por Comprimento de Onda (Wavelength Dispersive X-Ray Fluorescence

    WDXRF) que usava um cristal difrator para, atravs do comprimento de onda,

    caracterizar o raio X de fluorescncia.

    Com as contribuies de Elad (1965) e Muggleton (1972) no campo dos

    detectores semicondutores de Si (Li) de alta resoluo foi possvel o desenvolvimento

    do sistema de Fluorescncia de Raios X por Disperso de Energia (Energy Dispersive

    X-Ray Fluorescence - EDXRF) (GIAUQUE et al., 1973). Kneip e Lauper (1972)

    descreveram as vantagens da EDXRF em relao a WDXRF. Hoje a EDXRF bastante

    utilizada como anlise multielementar, como em Reis (2003) que usou a EDXRF para

    analisar sedimentos de superfcie de fundo da Baa de Sepetiba ou ainda em dos Anjos

    (2000) que utilizou a EDXRF para analisar a concentrao de metais pesados em

    amostras de solo tratadas com composto orgnico de lixo urbano e cama de avirio.

    Em 1923 Compton descobriu o fenmeno da reflexo total para raios X e em

    1971 Yoneda e Horiuchi (1971) aplicaram os princpios da reflexo total dos raios X

    para analisar os elementos componentes de um material. Na dcada de 70 a tcnica da

    TXRF foi aprimorada por Aiginger e Wobrauschek (1975) e tornou-se uma importante

    tcnica de anlise multielementar.

    No final do sculo passado, muitas foram s reas onde se utilizou a TXRF

    para anlise de concentrao de elemento. Koopmann e Prange (1991) analisaram

    sedimentos do mar alemo de Wadden utilizando a TXRF, a Espectrometria de

    Absoro Atmica (AAS) e a Anlise por Ativao de Nutrons (INAA). Prange,

    Bddeker et al. (1993) determinaram elementos trao em gua de rio utilizando a

    TXRF. De Jesus et al. (2000) desenvolveram uma tcnica de monitoramento de

    elementos em nvel trao em bioindicadores no controle da poluio ambiental

    utilizando a TXRF por Radiao Sincrotron (SRTXRF). Simabuco e Matsumoto (2000)

    utilizando a SRTXRF analisaram elementos trao em gua de chuva. Schmeling (2004)

    utilizou a TXRF para caracterizar a poluio do ar urbano nas cidades de Chicago e

    Phoenix (USA). Marc et al. (2004) utilizou a TXRF para analisar amostras biolgicas.

    Nos ltimos anos a parceria entre o Programa de Engenharia Nuclear (PEN) da

    COPPE-UFRJ e o Laboratrio Nacional de Luz Sncrotron (LNLS) permitiu que muitos

    trabalhos envolvendo a SRTXRF fossem desenvolvidos no PEN.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 1 - Introduo

    3

    Serpa (2003) identificou e quantificou os elementos K, Ca, Ti, Cr, Mn, Fe, Ni,

    Cu, Zn, Rb, Sr, Cd, Ba e Pb no fumo e na cinza e K, Cd, e Pb na fumaa de nove

    cigarros nacionais utilizando a tcnica de SRTXRF.

    Costa (2003) utilizando a SRTXRF identificou e quantificou as concentraes

    de Cr, Mn, Fe, Co, Ni, Cu, Zn, Mo e Pb em amostras superficiais de gua da Baa de

    Sepetiba e de sete rios que nela desembocam.

    Calsa (2003) avaliou os nveis de concentrao em msculos, gnadas e

    brnquias de quatro espcies de peixes encontrados no rio Paraba do Sul. Neles foram

    encontrados Ti, Cr, Mn, Fe, Co, Cu, Zn, Rb, Sr, Ba e Pb. As concentraes dos

    elementos Cr, Cu, Zn e Pb estavam acima do limite mximo permitido pela legislao

    brasileira.

    Pereira (2004) avaliou a contaminao por metais pesados na gua e

    sedimentos do rio Paraba do Sul em 42 pontos desde a sua nascente at a foz. Os metais

    pesados encontrados foram Ti, Mn, Fe, Cu, Zn, Rb, Sr e Ba nas amostras de gua. Nas

    amostras de sedimento foram encontrados Ti, Cr, Mn, Fe, Cu, Zn, Rb, Sr, Pb. Os

    elementos Cu, Zn e Mn foram caracterizados como os maiores contaminantes nessa

    bacia.

    1.2 Simulao em Monte Carlo

    Desde o advento da metodologia cientfica a experimentao tem participao

    insubstituvel na criao do conhecimento. Por isso, tcnicas cada vez mais avanadas

    de comprovao de hipteses vm sendo criadas e estudadas.

    No campo da verificao de hipteses, alm da experimentao propriamente

    dita, as simulaes vm sendo muito utilizadas. Com o acelerado crescimento das

    tcnicas computacionais e a ampliao dos recursos tecnolgicos no campo, tanto dos

    hardwares, quanto dos softwares, as simulaes vm se tornando cada vez mais rpidas

    e prximas da realidade experimental. A simulao na comprovao de um

    conhecimento no descarta a necessidade do procedimento experimental, porm, uma

    forma importante de verificao principalmente por representar, em muitos casos, uma

    grande economia de tempo e de dinheiro. Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 1 - Introduo

    4

    A simulao em Monte Carlo (MC) hoje uma poderosa aliada na avaliao de

    hipteses cientficas. Utilizando clculos probabilsticos o MC simula, de forma rpida

    e barata, arranjos experimentais que para uma situao real de experimentao teria alto

    custo financeiro e de tempo.

    Muito tem se estudado acerca da simulao em MC envolvendo radiaes

    ionizantes.

    Karlender (1982) utilizaram o mtodo de MC para calcular uma tabela dos

    raios X caractersticos dos elementos. Vincze et al. (1999) simularam o espectro de

    fluorescncia de uma amostra de Al e Cu usando radiao Sncrotron e um detector de

    HPGe. Al-Ghorabie et al. (2001) compararam os cdigos EGS4 e MCNP na simulao

    de um sistema de fluorescncia de raios X in vivo para anlise da composio de

    tumores localizados na cabea e pescoo. Ewa et al. (2001) calcularam a eficincia do

    detector de Germnio hiperpuro (HPGe) para uma faixa de 59,5 a 1836keV utilizando a

    simulao por MC. Kubala-Kuku et al. (2001) utilizaram o mtodo de MC para calcular

    a distribuio da concentrao de elementos trao com concentraes prximas ao

    limite de deteco. Hendrix, Mauec et al., (2002) Simularam um detector cintilador

    irradiado por raios oriundos do decaimento de 40 K, 232Th e 238U usando o cdigo

    MCNP. Shi, Chen, et al. (2002) usaram o cdigo MCNP para calcular a funo resposta

    para detectores de NaI(Tl) com fonte de 0,4118 a 7,11MeV. Yegin (2003) utilizou o

    cdigo EGS4 de MC para propor uma nova abordagem de geometria para o clculo de

    grandezas relacionadas ao transporte de partculas pela matria. Kubala-Kuku et al.

    (2004) utilizou Mtodo de Monte Carlo para atravs da XRF determinar a distribuio

    e concentrao de elementos trao em amostra biomdicas. Maximiniano (2004)

    verificou os aspectos que influenciam na resposta e no limite de deteco para um

    sistema de espectrometria por fluorescncia de raios X, confirmando assim uma

    tendncia de aumento na publicao de trabalhos com simulao no PEN.

    1.3 Objetivos do Trabalho

    Ciente da importncia da tcnica de TXRF e do mtodo de MC, este trabalho

    tem como objetivo geral avaliar a influncia de aspectos fsicos do arranjo experimental

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 1 - Introduo

    5

    na qualidade de resposta de um sistema de espectroscopia por fluorescncia de raios X

    por reflexo total utilizando, para isso, a simulao em MC com o cdigo MCNP. luz

    desse objetivo foram traados alguns objetivos pontuais para balizar esse trabalho.

    So eles:

    Avaliar a capacidade do cdigo MCNP em simular o fenmeno da TXRF;

    Avaliar o aparecimento e a intensidade do feixe de totalmente refletido;

    Avaliar, atravs da variao do ngulo de deteco, a isotropicidade de

    sada da radiao fluorescente;

    Analisar a influncia da variao do ngulo de incidncia na intensidade do

    sinal de sada;

    Avaliar a qualidade e limitaes da resposta dada pelo cdigo MCNP na

    simulao de um sistema ideal, segundo resultados dos objetivos

    anteriores.

    Esses objetivos so utilizados como guias do trabalho que segue.

    No prximo captulo (captulo 2) sero apresentados os fundamentos tericos

    da tcnica de TXRF e do mtodo de simulao por MC mais especificamente do cdigo

    MCNP verso 4B. No captulo 3 sero apresentados os meios utilizados para alcanar os

    objetivos bem como as tcnicas utilizadas ao longo do desenvolvimento do trabalho. Os

    resultados e algumas discusses acerca desses sero apresentados no captulo 4. O

    captulo 5 expe as concluses a que se chegou com o desenvolvimento do trabalho

    bem como sugestes de trabalhos que podem ser desenvolvidos no intuito de dar

    seqncia a pesquisa. As referncias bibliogrficas consultadas no decorrer do trabalho

    sero listadas em ordem alfabtica no captulo 6.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2

    Fundamentos Tericos

    2.1 Uma Breve Histria do tomo

    As sees seguintes mostram em linhas gerais a histria do tomo comeando

    pela exploso cultural da Grcia antiga, passando pela descoberta do eltron, a criao

    da Teoria Quntica at a moderna teoria quntica de Heisenberg e Schrdinger.

    2.1.1 O tomo Primitivo

    Nesta seo sero abordados de forma breve e superficial alguns fatos que

    ocorreram na histria antiga, bem como algumas vises de mundo desta mesma poca,

    que contriburam com a construo do conceito de tomo que se tem hoje.

    2.1.1.1 Na Grcia

    A partir do sc. IX a.C. os gregos, que viviam sobre a influncia da mitologia

    de Homero e Hesodo, j comeam a substituir essa viso da natureza por outra viso,

    um tanto questionadora, que se pode chamar de uma viso filosfica. Mas, foi a partir

    do sc. VI a.C. que comeou a ocorrer, na Grcia, a mais profunda transformao j

    vista na histria do conhecimento humano.

    A Grcia ficava no centro geogrfico do dito mundo civilizado, pois,

    localizava-se entre o Oriente Mdio, o Egito e a Europa Ocidental, e seus portos eram

    escala obrigatria para os navios vindos do oriente ou da Europa Ocidental. Os gregos,

    alm da influncia dessas culturas que chegavam a cada embarcao tinham tambm um

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 7

    fcil acesso a Europa, Egito e Oriente Mdio. Pesquisadores acreditam que esta posio

    privilegiada alavancou o advento da filosofia grega.

    Por volta de VI a.C. a Comunidade dos Pitagricos enxergava o universo

    como combinaes numricas. Encontra-se em Pitgoras muitos elementos do

    conhecimento oriental da poca, provavelmente aprendidos por Pitgoras em suas

    viagens feitas Babilnia e ao Egito. Tendo j alguns avanos na rea da vibrao dos

    corpos, os pitagricos relacionavam as notas musicais com os nmeros e suas

    propores. O universo vibraria ento na fantstica msica das esferas.

    Para Parmnides e seu discpulo Zenon o universo do movimento, a mudana

    e toda a transformao so irreais, projees criadas pela mente humana e chamada,

    portanto, de no-Ser. O Ser ocupa todo o universo que nico e perfeito, portanto,

    imutvel. O que nos d noo de movimento a relao do que vemos no agora com o

    que vimos h alguns instantes atrs, porm, o que vimos nesse instante passado no

    existe apenas uma lembrana em nossa memria. O real o que estamos vendo no

    agora. Essa a explicao dada pelos monistas para a inexistncia do movimento e a

    imutabilidade do Ser. Essa idia, embora, nos parea, hoje, um tanto absurda

    completamente compatvel com a viso grega da poca de imutvel perfeio do

    universo.

    J Herclito acreditava que o Ser seria o constante movimento do universo,

    este estaria em eterno movimento, tudo estaria numa constante transformao, constante

    evoluo. Estima-se que Herclito sofrera influncia da viso oriental na elaborao

    deste conceito pela sua semelhana com a viso oriental de universo.

    Na escola de Mileto fundada por Thales ainda no sc. IV a.C. nasce pelas

    mos dos pr-socrticos (Thales, Anaximandro e Anaximenes) o conceito de um

    elemento primordial, do qual so feitas todas as coisas constituintes do universo. A esse

    elemento deram o nome de arch.

    Thales, que previu um eclipse ocorrido no ano de 535 a.C., acreditava no

    arch como sendo a gua, provavelmente por ser um elemento imprescindvel para toda

    e qualquer forma de vida. Para os gregos o princpio fundamental da vida era a

    respirao, baseado nisso Anaximenes acreditava que o ar seria o elemento primordial

    do universo. Anaximandro definia o arch como apeyron (em grego: infinito,

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 8

    indefinido) criando assim, um conceito ainda mais subjetivo no qual o universo

    constituir-se-ia de excesso e escassez de arch.

    Empdocles, nascido por volta de 490 a.C. acreditava ser o universo formado

    por no um, mas, quatro elementos primordiais e imudveis. A gua, a terra, o fogo e o

    ar combinados pelas duas foras primordiais, atrao e repulso, constituiriam o

    universo conhecido (ROCHA et al, 2002).

    Embora um tanto divergentes, entre si, os Pr-socrticos introduzem um

    conceito que at ento no se cogitava. Com a idia do arch nasce a idia de um

    elemento primordial. Esse elemento primordial pode ser visto como um alicerce para o

    Atomismo.

    O Ser absoluto, perfeito e imutvel de Parmnides entra em concordncia com

    o universo metamrfico, mutante, em constante movimento de Herclito por volta do

    ano 400 a.C. com os Atomistas.

    A palavra tomo em grego significa indivisvel e foi assim que Leucipo (440 a.

    C) e Demcrito (420 a.C.) batizaram seu constituinte primordial do universo. Segundo

    os Atomistas no universo somente existem vcuo e tomos, os tomos esto em

    constante movimento pelo vcuo, seus movimentos e distncias justificam as

    densidades dos corpos e as constantes mudanas sofridas por estes. Os tamanhos e o

    modo como se arranjam entre si determinam as diferenas entre as substncias.

    Demcrito acreditava que os fenmenos da natureza se do por pura

    causalidade das relaes entre os tomos. Nessa viso podemos observar uma base do

    materialismo determinista.

    O Atomismo foi de extrema importncia na superao de uma viso

    supersticiosa, pelos filsofos. Seu determinismo bane a superstio e o medo de deuses

    caprichosos, ciumentos e vingativos da poca, por entenderem o universo determinado

    apenas pelos tomos e suas combinaes. Tambm introduz a forma de investigao em

    que separa o todo em partes para compreend-lo. Essa uma marcante caracterstica da

    filosofia ocidental que se seguiu, e tambm a base da cincia moderna.

    Mais tarde, Epcuro de Samos (340 270 a.C.) e Lucrcio (98 55 a.C.)

    deram continuidade ao trabalho de Leucipo e Demcrito, mas, o advento da filosofia

    aristotlica (que via o universo como contnuo) na Grcia e em toda Europa ofuscou o

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 9

    Atomismo, s revisto aps os crticos de Aristteles a partir do sc. IV d.C. (ROCHA et

    al, 2002, LOPES, 1993).

    2.1.1.2 A Redescoberta

    No final do sc. XVIII muitos fsicos acreditavam de alguma forma na

    existncia de um corpo que fosse a menor poro de matria, principalmente, por que

    essa teoria ajudava a explicar muitos fenmenos qumicos. Mas, foi sem duvida na obra

    do fsico ingls John Dalton (1766-1844) que temos nosso principal marco na teoria

    corpuscular da matria quando propem em seu Novo Sistema Da Filosofia Qumica

    (em 1808) alguns conceitos como:

    - tudo o que existe no universo composto por inmeras partculas

    denominadas tomos;

    - os tomos so indivisveis e indestrutveis;

    - existe um pequeno nmero de elementos diferentes na natureza;

    - reunindo tomos iguais ou diferentes nas vrias pores, podemos formar

    todas as matrias do universo conhecido;

    O conceito de tomo passou a ser de extrema importncia na interpretao de

    fenmenos qumicos e seus princpios como a lei da conservao de massa, lei das

    propores definidas e lei das propores mltiplas.

    Em 1811 o professor Amadeo Avogrado (1777-1856), com o intuito de

    interpretar a teoria de Gay-Loussac, props a hiptese das molculas, que seriam

    agrupamentos de tomos. Disse Avogrado volumes iguais de gases medidos mesma

    temperatura e presso contm nmeros iguais de molculas.(LOPES, 1993).

    Muitos fsicos da poca, como o jovem Max Planck, resistiram a essa idia.

    Um grande defensor da teoria atmica, e proponente de alguns modelos

    matemticos para esta, foi Ludwig Boltzmann. Seus modelos contriburam na rea da

    teoria cintica dos gases e para a mecnica estatstica, atravs das quais Jean Perrim

    teve a base para medir o nmero de molculas em um molcula-grama.(LOPES, 1993).

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 10

    2.1.2 A Descoberta do Eltron

    No final do sc. XIX a idia de tomo j era bem aceita na comunidade

    cientfica. D-se inicio, ento, a busca por um modelo que explicasse como seria esse

    tomo.

    Em 1897, liderados pelo fsico ingls lorde Joseph John Thomson (1856

    1940), os fsicos experimentais do laboratrio de Cavendish dedicavam-se aos estudos

    da descarga eltrica em gases rarefeitos, descobriram uma radiao que emanava dos

    tubos de descarga. A radiao foi chamada de raio por ser propagar em linha reta e por

    ser oriunda do catodo ficou conhecida como raio catdico. Nos experimentos de

    Cavendish foi constatado tambm que a radiao transmitia um impulso aos corpos com

    os quais interagia e era parada por um fino obstculo.

    Embora os fsicos alemes, em destaque Hertz, sustentassem uma verso

    ondulatria da partcula os pesquisadores ingleses como Crookes e Perrin acreditavam

    numa estrutura corpuscular. Thomson tambm defendia a teoria corpuscular tentando

    descobrir a relao carga/massa das partculas. Com a colaborao de H. A. Wilson, R.

    A. Millikan, Kaufmann e outros, Thomson constatou que as partculas constituintes dos

    raios catdicos seriam muito menores que qualquer tomo conhecido. G. Stoney batizou

    a partcula como eltron. (EISBERG e RESNICK 1988, LOPES, 1993)

    2.1.2.1 O Modelo de Thomson

    Estes resultados foram anunciados em 30 de abril de 1897, em uma

    conferencia na Royal Institution. A descoberta da constituio dos raios catdicos levou

    os pesquisadores a acreditar que tais eltrons seriam provenientes dos tomos que

    compunham o catodo.

    Em 1898, Thomson lana o primeiro modelo detalhado para o tomo, que

    ficou conhecido como pudim de ameixas (plum pudding) ilustrado na figura 2.1.1.

    Neste modelo o tomo seria uma grande esfera onde toda a carga positiva distribua-se

    continuamente. Os eltrons estariam espalhados uniformemente (devido repulso

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 11

    couloumbiana) no interior da esfera como ameixas em um pudim. As posies dos

    eltrons seriam fixas em seus estados de menor energia e vibrariam em torno da posio

    estacionria no caso de excitao deste tomo.

    Figura 2.1.1: modelo atmico de Thomson

    Em 1904 o fsico japons Hantaro Nagaoca prope um modelo planetrio onde

    os eltrons girariam em rbitas circulares em torno de um ncleo slido onde se

    concentraria toda a carga positiva do tomo.

    Pela teoria clssica do eletromagnetismo uma carga em movimento acelerado,

    como o caso do eltron de Nagaoca, perderia energia constantemente atravs da

    emisso de radiao eletromagntica. Devido a isso, haveria uma diminuio constante

    do raio orbital at o momento em que a carga atingisse o centro da rbita. Para o tomo,

    isto significaria a queda do eltron para o ncleo havendo assim a aniquilao de

    cargas.

    Como este fenmeno no observado o modelo de Nagaoca foi considerado

    inconsistente, prevalecendo assim, o modelo de Thomson.

    2.1.2.2 O Modelo de Rutherford

    Convidado por Lorde Thomson, o jovem fsico neozelands, Ernest

    Rutherford juntou-se equipe do laboratrio de Cavendish e comeou a trabalhar com a

    radioatividade no final do sc. XIX.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 12

    Figura 2.1.2: Ernest Rutherford (1871-1937)

    Aos 26 anos de idade Rutherford fez a descoberta que o tornaria famoso.

    Aplicando uma diferena de potencial na sada de uma fonte de radiao Rutherford

    percebeu a emisso de dois tipos distintos de radiao. Uma delas, com baixo poder de

    penetrao devido a sua elevada massa, era atrada pelo plo negativo. Essa radiao,

    chamada radiao (alfa), era como um tomo de hlio sem os eltrons.

    A outra tinha maior poder de penetrao devido a sua menor massa (igual a

    dos eltrons) era atrada pelo plo positivo e ficou conhecida por radiao (beta).

    Orientados por Rutherford, Johanes Hans Geiger (1882 1945) e Ernest

    Marsden (1889 1970) passaram a trabalhar em 1909 com um aparato experimental

    que lhes permitia saber a trajetria das partculas emitidas por uma fonte radioativa

    bombardeando um determinado alvo. O aparato experimental referido est

    esquematizado na figura 2.1.3. No caso da experincia de Marsden e Geiger o alvo era

    uma lmina de 4 x 103 de espessura de ouro. As partculas eram observadas graas

    a cintilao que provocavam em uma folha de sulfeto de zinco que envolvia todo o

    sistema fonte-alvo.

    Figura 2.1.3: aparato experimental utilizado por Rutherford e sua equipe

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 13

    Pelo modelo de Thomson as partculas por terem massa e carga muito menor

    que os tomos da lmina de ouro, no atravessariam o alvo. Mas, no foi isso que se

    observou.

    Para surpresa de Geiger, Marsden e Rutherford uma grande luminosidade

    continuou aparecendo no outro lado da lmina de ouro. O que indicava que a maior

    parte da radiao alfa emitida pela fonte atravessava facilmente a lmina sem colidir

    com seus tomos.

    Outros pontos luminosos tambm foram observados na folha de sulfeto de

    zinco, porm, muito menos intensos. Tambm chamava muito a ateno o fato de uma

    pequena frao de radiao alfa (cerca de 1 em 20.000) causavam luminosidade na parte

    anterior a lmina de ouro, ou seja, teriam sido desviadas a um ngulo maior do que 90.

    O fato de a maior parte da radiao alfa emitida no interagir com os tomos

    do material alvo era uma evidncia de que a maior parte do tomo seria vazio, trazendo

    novamente tona o modelo de Nagaoca, porm, com ajustes feitos por Rutherford.

    O tomo de Rutherford ocuparia um volume esfrico, por onde os eltrons

    estariam girando de forma a distriburem uniformemente a carga negativa na chamada

    eletrosfera. Toda a carga positiva e a maior parte da massa do tomo estaria concentrada

    no centro da esfera denominada ncleo. Segundo a anlise de Rutherford a seo de

    choque em funo do ngulo de incidncia de partcula (Z`=2) com ncleos (para

    ncleos pontuais e infinitamente pesados) seria:

    ( ) ( )21

    2.4'

    4

    2

    200

    2

    senmveZZ

    = (2.1.1)

    As equaes de Rutherford levaram a uma distncia mnima entre a partcula

    incidente e o ncleo.

    ( )

    +=

    2sen11

    4'

    200

    2

    mveZZr (2.1.2)

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 14

    Moseley props em 1914 um nmero relacionado ao ncleo denominado

    nmero atmico Chadwick utilizou a expresso 2.1.1 para determinar o nmero atmico

    de diversos elementos alvo e obteve resultados extremamente prximos aos que

    conhecemos hoje. Os nmeros atmicos de Chadwick para alguns elementos podem ser

    vistos na tabela 1.

    Tabela 1: comparativo entre os nmeros atmicos conhecidos atualmente com os encontrados por Chadwick.

    Elemento Z Valores de Z encontrados por Chadwick

    Cu 29 29,3

    Ag 47 46,3

    Pt 78 77,4

    Em 1922, Rutherford e Chadwick descobriram que a uma distncia de 10-12 o

    espalhamento no mais obedece a 2.1.1 . Este foi o primeiro indicio da existncia de

    foras de curto alcance.

    2.1.3 A Teoria Quntica

    Nesta seo sero apresentados alguns princpios e idias que deram origem a

    teoria quntica para o tomo. Sero citados os trabalhos de alguns dos seus principais

    autores.

    2.1.3.1 Max Planck

    Em uma cavidade fechada, sem a presena de carga, parte da radiao

    eletromagntica emitida pelos tomos das paredes da cavidade tambm absorvida

    pelas paredes.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 15

    Em condio de equilbrio, toda energia emitida em um determinado tempo

    absorvida pelas paredes no mesmo intervalo de tempo. A densidade (u) de energia na

    cavidade est ligada freqncia () das radiaes e a temperatura (T) de suas paredes:

    u= u(,T) (2.1.3)

    Fazendo um orifcio muito pequeno em relao s dimenses da cavidade, de

    forma que a energia perdida seja desprezvel para densidade interna, consegui-se obter

    dados experimentais a cerca da freqncia e da densidade de radiao. E desta forma foi

    traada a curva da figura 2.1.4.

    Figura 2.1.4: curva experimental da densidade de energia de radiao numa cavidade em equilbrio a uma temperatura em funo da freqncia.

    Lorde Rayleigh e James Jeans fizeram a primeira tentativa de descrever,

    teoricamente, a relao entre a densidade de energia com a freqncia de radiao,

    usando uma analogia a osciladores harmnicos espalhados pelas paredes da cavidade.

    Para tanto:

    ))(=) T,(T,u( d (2.1.4)

    onde ()d o nmero de osciladores harmnicos lineares por unidade de volume em

    uma cavidade de volume V; e a energia mdia dos osciladores.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 16

    Para um oscilador harmnico de freqncia /2 e = kc obtiveram a energia

    mdia dos osciladores como:

    ( ) kTde

    deT

    kT

    kT

    ==

    ',

    0

    '

    0

    (2.1.5)

    Sendo ()d dada por:

    ( ) dc

    d 238

    = (2.1.6)

    Obtemos a densidade u(,T) como:

    ( ) kTc

    Tu 328, = (2.1.7)

    Para baixas freqncias os resultados de Lorde Rayleigh e James Jeans se

    mostraram satisfatrios, porm, para altas freqncias os resultados experimentais

    fogem completamente a expresso 2.1.7 conforme pode ser visto na figura 2.1.5.

    Figura 2.1.5: A lei de Rayleigh e Jeans prev que u(,T) cresce com 2, o que

    no se confirma para a curva experimental

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 17

    Em 1900 o fsico alemo, Max Karl Ernst Planck (18581947) encontra uma

    soluo para o modelo experimental existente. Considerando correta a anlise de Lorde

    Rayleigh e James Jeans que levara a expresso 2.1.4. Planck considerou falsa a hiptese

    da continuidade da energia dos osciladores harmnicos.

    Portanto:

    ( )

    =

    =

    =

    0

    0,

    n

    kTE

    n

    kTE

    n

    n

    n

    e

    eET (2.1.8)

    Planck diz que a energia de um oscilador harmnico linear um mltiplo

    inteiro de um dado valor:

    En = n0 n=0,1,2...

    Ento 2.1.8 fica:

    ( )1

    ,0

    0

    = kTe

    T

    (2.1.9)

    Logo a densidade de energia, segundo 2.1.4 e 2.1.9 :

    ( )1

    8,0

    03

    2

    = kTec

    Tu

    Para que a expresso concorde com a curva experimental ou seja:

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 18

    lim u(,T)=0

    0 deve ser crescente em

    para tanto Planck props:

    ( )

    h=

    =

    0

    00

    A partir da h passou a ser uma constante universal.

    Ento 2.1.9 passa :

    ( )1

    ,

    =kT

    he

    hT

    e a densidade de energia:

    ( )1

    8, 32

    =

    kTh

    e

    hc

    Tu

    A constante de Planck chamada de Quantum de Ao e vale 6,6 x 10-34J.S.

    Usa-se, tambm, a constante h/2 que ganhou o smbolo . h

    At ento se acreditava, pela mecnica clssica, que a energia de um oscilador

    harmnico era contnua. Planck introduziu com seu trabalho um novo conceito Fsica,

    o conceito da quantizao de energia.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 19

    2.1.3.2 O Modelo de Bhr

    Em setembro de 1911 o laboratrio de Cavendish recebe o jovem doutor em

    fsica de origem dinamarquesa Niels Henrik David Bhr (1885 1965) que pretendia

    desenvolver trabalhos com o ento diretor do laboratrio, Lorde Thomson. Infelizmente

    essa parceria cientfica nunca ocorreu. Mas, foi em Cavendish que Bhr conhecer

    Ernest Rutherford, em um seminrio apresentado por Rutherford sobre as experincias a

    cerca de seu modelo atmico. Em pouco tempo Bhr renunciou a universidade de

    Cambridge, para se juntar equipe de Rutherford em Manchester. Esta parceria

    (Rutherford Bhr) marcaria para sempre a histria da fsica.

    Figura 2.1.6: Niels Bhr, Nobel de fsica em 1922.

    Com relao ao modelo planetrio de Rutherford, Bhr no tenta refut-lo, ao

    contrrio, tentou devolver-lhe a estabilidade.

    Para a discusso do modelo de Bhr necessrio antes que se conhea um

    pouco a espectroscopia.

    O espectro de um elemento o conjunto de linhas espectrais que este pode

    produzir em um filme fotogrfico atravs da emisso de ftons com diferentes

    comprimentos de onda. possvel obter o espectro de um determinado elemento com o

    espectroscpio cujo esquema se encontra na figura 2.1.7.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 20

    Figura 2.1.7: esquema de um espectroscpio por disperso de energia.

    Uma quantidade de gs monoatmico excitada, atravs de descarga eltrica.

    Quando este retoma seu estado natural emite radiao equivalente diferena energtica

    entre estado excitado e natural. Essa radiao colimada por uma fenda. O feixe

    colimado passa por um prisma (ou rede de difrao) onde os diferentes comprimentos

    de onda sero separados e assim, marcaro em um filme fotossensvel.

    Cada elemento tem um conjunto de linhas caracterstico e atravs destes

    possvel saber a composio qumica de substncias. Essa aplicao contribuiu para que

    muitas medidas fossem tomadas, no final do sculo XIX para o estudo desses

    complexos espectros de elementos.

    O tomo de Hidrognio, devido a sua constituio bastante simples, gera um

    espectro, tambm, muito simples. A figura 2.1.8 mostra uma parte do espectro de

    Hidrognio onde o comprimento de onda das linhas est, aproximadamente, na faixa de

    luzes visveis.

    Figura 2.1.8: Ao alto: foto da parte visvel de um espectro de Hidrognio;

    abaixo: esquema da imagem do espectro com os valores de correspondentes.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 21

    Na figura 2.1.8 podemos perceber a regularidade na diminuio do intervalo

    entre as linhas. Essa regularidade, bastante clara, estimulou muitas tentativas de se

    descrever o espectro com uma expresso emprica. Balmmer props em 1885:

    43646 2

    2

    =

    nn (em )

    Esta expresso capaz de prever o comprimento de onda das 9 primeiras

    linhas desse espectro. A descoberta de Balmmer levou a uma corrida por expresses

    gerais descrevessem espectros mais complexos. Nessa corrida destacou-se o sueco

    Raydberg (1854 1919) que props a seguinte frmula , em termos do nmero de onda

    k (k= 1 = c )

    == 22

    111

    baH nn

    Rk

    , onde n = 3, 4, 5... (2.1.10)

    Onde RH = a constante de Raydberg para o Hidrognio. O valor de RH

    encontrado experimentalmente de 1,097373 x 107m-1. Para a srie de linhas, cujo

    comprimento de onde Balmmer previu, a expresso 2.1.10 escrita como:

    == 2

    1411

    bnk

    para n = 3, 4, 5...

    que descreve a chamada srie de Balmmer.

    Hoje so conhecidas cinco sries de linhas espectrais para o tomo de

    Hidrognio, como visto na tabela 2 descritas pela expresso 2.1.10.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 22

    Tabela 2: sries de linhas espectrais para Hidrognio

    Nomes Faixas de comprimento de Onda Frmula

    Lyman Ultravioleta

    = 22

    111

    nRH n=2, 3, 4,...

    Balmmer Ultravioleta prximo ao visvel

    = 22

    121

    nRH n=3, 4, 5,...

    Paschen Infravermelho

    = 22

    131

    nRH n=4, 5, 6...

    Brackett Infravermelho

    = 22

    141

    nRH n=5, 6, 7...

    Pfund Infravermelho

    = 22

    151

    nRH n=6, 7, 8...

    Em 1913 tendo como alicerce o modelo planetrio de Rutherford e a idia de

    quantizao da energia de Max Planck, Bhr prope um modelo para o tomo, baseado

    em quatro postulados (apud EISBERG, RESSNICK, 1988):

    1 Um eltron em um tomo se move em uma rbita circular em torno do ncleo sob influncia da atrao coulombiana entre o eltron e o ncleo, obedecendo s leis da mecnica Clssica.

    2 Em vez da infinidade de rbitas que seriam possveis segundo a mecnica clssica, um eltron s pode se mover em uma rbita na qual seu momento orbital angular L um mltiplo de (a constante de Planck dividida por 2)

    3 Apesar de estar constantemente acelerado, um eltron que se move em uma dessas rbitas possveis no emitem radiao eletromagntica. Portanto sua energia total E permanece constante.

    4 emitida radiao eletromagntica se um eltron, que se move inicialmente sobre uma rbita de energia Ei muda seu movimento descontinuamente de forma a se mover em uma rbita de energia total Ef. A freqncia da radiao emitida igual a quantidade (Ei Ef) dividida pela constante de Planck h

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 23

    O primeiro e o segundo postulados constroem a idia de um ncleo com

    rbitas quantizadas:

    hnmvrnhmvr ==2

    onde n = 1, 2, 3... (2.1.11)

    O terceiro postulado invalida a instabilidade do eltron por no se poder tratar

    como um caso clssico. O quarto est ligado a teoria de Einstein de que a freqncia

    de um fton igual a sua energia dividida pela constante de Planck:

    ( )fiif EEh =1 (2.1.12)

    ( )

    ( )fiif

    fiif

    EE

    EEh

    =

    =

    h

    Para o eltron permanecer em uma trajetria circular preciso que haja um

    equilbrio entre as foras coulombianas (de atrao) e a centrfuga (de fuga), para isso

    considerando.

    20

    22

    4 nn re

    rmv

    = (2.1.13)

    isolando v2: m

    ev0

    22

    4=

    isolando v2 em 1 temos: 2222

    2

    nrmnv h=

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 24

    ento: 2222

    0

    2

    4 nn rmn

    mre h

    =

    e

    20

    22 4me

    nrnh

    =

    considerando 0

    22

    4eq = (2.1.14)

    tem-se: 22

    mqnrn

    h= (2.1.15)

    Obtm-se ento um para o orbital circular do eltron raios mltiplos nmeros

    inteiros sucessivos. Substituindo as constantes em 2.1.15 para n=1 tem-se o menor raio

    chamado raio de Bhr seu valor a0=5,292 x 10-11m.

    20 mqa h= (2.1.16)

    e

    02anrn = (2.1.17)

    onde n = 1, 2, 3...

    Tem-se a partir da uma imagem das rbitas estacionrias de Bhr.

    Os postulados sugerem que em uma rbita estacionria especfica a energia do

    eltron no varia, por isso no emite ftons. Vamos analisar, ento, a energia para as

    rbitas estacionrias de Bhr:

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 25

    Em 2.1.13 tem-se:

    nremv

    0

    22

    4=

    Da nr

    emv0

    22

    421

    2 =

    Ento:

    ( ) nn reE

    0

    2

    42 =

    E considerando a equao 2.1.14 tem-se:

    nn r

    qE2

    2

    =

    e considerando a equao 2.1.15 tem-se:

    22

    22

    2 hnmqqEn = (2.1.18)

    2

    4

    2 21

    h

    mqn

    En = (2.1.19)

    e considerando

    2

    4

    0 2hmqE =

    tem-se:

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 26

    20

    nEEn = (2.1.20)

    onde n = 1, 2, 3...

    O termo obtido nos d um valor constante tambm para a menor energia

    possvel para o eltron do tomo de Hidrognio. Substituindo valores em 2.1.18 para

    n=1 temos

    E0 = -13,6 eV

    O sinal negativo representa uma energia de confinamento.

    Do 4 postulado de Bhr (2.1.12) tem-se:

    hEE fi =

    Substituindo 2.1.10 em 2.1.12 tem-se:

    22

    22

    22

    22

    22 hh fi nmqq

    nmqqh =

    = 223

    4 114 fi nnmqh

    (2.1.21)

    De Raydberg tem-se:

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 27

    = 22

    11

    ba nnRc

    Podemos, facilmente, perceber a semelhana entre a expresso terica de Bhr

    e a emprica encontrada por Raydberg igualando as expresses temos:

    =

    fiba nnmq

    nnRc 11

    411 4

    h

    Considerando:

    =

    fiba nnnn1111

    tem-se:

    3

    4

    4 hcmqR

    = (2.2.22)

    R=1,09677 x 10-7m-1

    Que concorda com o valor experimental reforando a teoria de Bhr.

    Embora o modelo de Bhr apresentasse problemas, ele representa um grande

    avano na teoria atmica pelo conceito da quantizao das energias. Pouco tempo

    depois de enunciado o modelo de Bhr verificaram-se energias diferentes para um

    mesmo orbital.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 28

    Zommerfeld props ento, rbitas elpticas que tm, devido excentricidade,

    energias diferentes em uma mesma rbita. Ele prope um segundo nmero quntico: k,

    que est ligado excentricidade do orbital. O nmero k se relaciona com os eixos

    atravs da seguinte expresso:

    kn

    menoreixodoocomprimentmaioreixodoocompriment

    =______

    O modelo de Bhr com os complementos de Zommerfeld hoje conhecido

    como antiga teoria quntica.

    2.1.4 A Nova Teoria Quntica

    Depois de construdas as bases da teoria quntica far-se-, nessa seo, uma

    breve exposio das idias que aliceraram o conceito de quantizao da matria. Sero

    tambm expostas superficialmente, noes sobre o surgimento da Mecnica das

    Matrizes e da Mecnica Ondulatria.

    2.1.4.1 De Broglie

    Em 1886 e 1887 Henrich Hertz (1857 1894) realizou experimentos que

    confirmaram experimentalmente a teoria de Maxwell. Dentre os experimentos de Hertz

    h o que mostra a descarga eltrica entre dois eletrodos facilidade se sobre um dos

    eletrodos incidido um feixe de luz ultravioleta. Mais tarde Hallwachs deu

    continuidade a esses experimentos. Baseado nos experimentos de Hallwachs, Lenard

    mostrou que a incidncia de luz faz com que o catodo emita eltrons. Este fenmeno

    ficou conhecido como efeito fotoeltrico.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 29

    Em 1905, o jovem fsico alemo Albert Einstein (1878 1955) props uma

    nova teoria para explicar o efeito fotoeltrico, na qual, a energia das ondas

    eletromagnticas estava quantizada em pacotes inicialmente localizadas em pequenos

    volumes do espao que mais tarde vieram a ser chamados de ftons. Einstein argumenta

    que nos experimentos onde a luz se comporta como uma onda, os pacotes de energia so

    vistos de forma coletiva. Embora estas experincias mostrem que a luz se propaga de

    maneira ondulatria, sua emisso e absoro se do de uma forma corpuscular, com

    pulsos de energia.

    Para Einstein o fton teria freqncia de radiao ; se propagaria com

    velocidade c; sua energia seria expressa por h e seu momento na direo de propagao

    seria h/c. A idia de velocidade constante nos mostra que o fton no uma partcula

    comum uma vez que no teria massa de repouso. Esse trabalho daria a Einstein o

    prmio Nobel em 1921.

    Embora no incio de sua vida acadmica o nobre francs Louis De Broglie

    Interessara-se por histria eclesistica, foi no campo da fsica que ele assinou seu nome

    na histria. Irmo do prestigiado fsico experimental Maurice De Broglie, que

    secretariou por algum tempo o Congresso de Solvay, Louis Victor Pierre Raymond ou

    Prncipe De Broglie (18921987) apresentou Faculdade de Cincias da Universidade

    de Paris em 1924, sua tese de doutorado intitulada Pesquisas Sobre A Teoria Dos

    Quanta.

    Figura 2.1.9: Louis De Broglie, Nobel de fsica de 1929.

    Partindo do princpio j comprovado da teoria de Einstein para o efeito

    fotoeltrico, onde a luz, que classicamente se conhecia como onda, tem um

    comportamento de partcula, De Broglie props que tambm a matria tivesse um

    carter ondulatrio. Da mesma forma que a luz apresenta seu carter corpuscular atravs

    da constante universal de Planck h, tambm o eltron, que tinha seu movimento

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 30

    limitado por h no tomo de Bhr, apresentaria seu carter ondulatrio atravs da mesma

    constante h.

    De Broglie expressou os aspectos quantitativos desse conceito da mesma

    forma que Einstein o fizera para a radiao. A energia E da partcula, assim como da

    radiao, est relacionada com sua freqncia por:

    hE =

    E seu momento linear p est relacionado com o comprimento de onda por:

    hp =

    A tese de De Broglie causou grande controvrsia entre os fsicos. Embora

    muitos trabalhos tivessem sido publicados na tentativa de explicar suas ondas de

    matria, a princpio para a comunidade cientfica todos os tipos de onda j eram

    conhecidos. Muitas eram as objees e desconfianas a cerca da teoria de De Broglie,

    porm esta despertou interesse de alguns fsicos como Einstein, que recebeu a tese pelas

    mos de Paul Langevin, professor de De Broglie.

    O grande feito terico de De Broglie foi relacionar o comprimento de onda a

    massa m da partcula e sua velocidade v em uma expresso onde aparece a constante de

    Planck h evidenciando que tais ondas so quantizadas. Ento, uma vez que:

    p= mv

    o comprimento de onda de De Broglie :

    mvh=

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 31

    Essa expresso nos leva a ordens de grandeza de muito pequenas para serem

    detectadas se utilizadas em situaes do cotidiano, porm, para o caso de um eltron

    cujo a massa 10-27g submetido a uma ddp de 1 Volt de forma a atingir uma velocidade

    de 6x107cm/s encontra-se um entorno de 10-7. Prximo a ordem de grandeza dos raios

    X, isso animaria os experimentalistas da poca.

    A ondulatria do eltron teve plena aceitao a partir de 1927 com os

    experimentos de L. H. Germer, do russo P. S. Tartakovisky e dos ingleses Alexandre

    Reid, Clinton Joseph Davisson (1881 1958) e Sir Georg Paget Thomson (1892

    1975). Os dois ltimos vieram a receber o Prmio Nobel em 1937 pela difrao de

    eltrons por cristais, onde encontraram para o eltron o mesmo comprimento de onda

    encontrado teoricamente por De Broglie.

    Curioso observar que J. J. Thomson descobriu a existncia dos eltrons como

    partculas dotadas de carga e massa em 1897 e por esse feito recebeu o Prmio Nobel

    em 1906. J seu filho, G. P. Thomson descobriu a difrao eletrnica em 1927 e

    recebeu, por esse feito, o Prmio Nobel em 1937 juntamente com C. J. Davisson. Sobre

    essa curiosidade Max Jammer escreveu: Pode-se ficar inclinado a dizer que Thomson,

    o pai, recebeu o Prmio Nobel por ter mostrado que o eltron era uma partcula, e

    Thomson, o filho, o recebeu por ter mostrado que o eltron uma onda. (EISBERG e

    RESNICK, 1988).

    Foi no quinto Congresso de Solvay em Bruxelas, no vero de 1927 que a

    comunidade cientfica conheceu os alicerces da nova teoria quntica estabelecidos por

    Werner Heisenberg e por Ervin Schroedinger desenvolvidos por ambos, separadamente,

    e com abordagens diferentes, porm considerando o trabalho de De Broglie.

    2.1.4.2 O Modelo de Heisenberg

    Um dos beros da Mecnica Quntica foi a Escola de Gttingen onde Max

    Born (1882 1970) e seus assistentes, Pascoal Jordan (1902 1980) e Werner Karl

    Heisenberg (1901 1976) procuravam solues para o tomo de Hidrognio nos idos de

    1925. Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 32

    Figura 2.1.10: Werner Karl Heisemberg

    O jovem fsico alemo Heisenberg acreditava na validade do modelo de Niels

    Brh, porm, sua intuio dizia que este, ainda, no havia sido experimentado

    adequadamente. Heisenberg acreditava que as rbitas de Bhr no poderiam ser

    observadas, embora, as linhas espectrais fossem, evidentemente, resultado de uma

    transio entre diferentes nveis de energia. Seus estudos considerando a intensidade das

    linhas espectrais preencheriam uma lacuna no modelo de Bhr.

    A intuio de Heisenberg dizia no ser interessante para o estudo do estado de

    um tomo limitar os clculos a analogias com a realidade macroscpica.

    Heisenberg desenvolveu um clculo com tabelas onde Born reconheceu a

    semelhana com as matrizes, ramo da matemtica introduzido pelo ingls Cayley no

    sc. XIX. Atravs das matrizes Heisenberg desenvolveu a primeira teoria consistente

    para a Mecnica Quntica. Verificou que algumas grandezas no comutavam, isso o

    induziu a propor, em 1927, as Relaes de Incerteza. Segundo as Relaes de Incerteza

    impossvel conhecer ao mesmo tempo a velocidade de uma partcula e seu momento,

    contrariando os princpios da Mecnica Clssica.

    Com o sistema de Heisenberg foi possvel explicar a alternncia entre as linhas

    de intensidade, fortes e fracas no espectro do Hidrognio molecular.

    Os clculos de Heisenberg, embora rigorosamente precisos, para alguns casos

    se mostravam muito difceis e devido a isso, com o tempo foram sendo substitudos por

    outras formulaes matemticas como a Mecnica ondulatria de Schrdinger. Em

    1932 Heisenberg foi laureado com o Prmio Nobel pela criao da Mecnica Quntica

    ou Mecnica das Matrizes. (ROCHA et al., 2002).

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 33

    2.1.4.3 O Modelo de Schrdinger

    Professor da Escola de Zurique o austraco Erwin Schrdinger (1887 1961)

    s tomou conhecimento dos trabalhos de De Broglie em 1926. Deste ento se empenhou

    na busca de uma equao que descrevesse as ondas de matria. Em um seminrio

    realizado em Zurique, Schrdinger foi incumbido de apresentar uma palestra sobre a

    tese de De Broglie. Os estudos para tal apresentao estimularam Schrdinger a

    encontrar uma equao de onda no relativstica e com carter corpuscular para o

    eltron. Os passos que o levaram a tal equao esto descritos em sete artigos assinados

    por Schrdinger.

    Figura 2.1.11: Erwin Schrdinger

    A equao de Schrdinger uma equao diferencial parcial de primeira

    ordem em relao ao tempo e de segunda ordem em relao as coordenadas espaciais,

    cuja soluo a funo de onda que trs informaes sobre o estado fsico do sistema.

    Este objeto matemtico representa o eltron e o quadrado do seu mdulo da a

    probabilidade de se encontrar este eltron em uma determina regio prxima ao ncleo

    denominada orbital. Hoje conhecemos a equao de Schrdinger como:

    ttxitxtxV

    xtx

    m

    =+

    ),(),(),(),(

    2 222

    hh

    Diferentes das rbitas de Bhr os orbitais so regies nas redondezas do

    ncleo onde os eltrons tm grande probabilidade de serem encontrados. Para a

    Mecnica Quntica os eltrons no mais traariam rbitas ao redor do ncleo, mas, sim

    realizariam movimentos com uma distribuio de probabilidade dependente do tempo Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 34

    de se encontrar em uma determinada posio. Nestes movimentos na regio orbital o

    conceito de trajetria deve ser abandonado. Em um mesmo estado quntico o eltron

    no sofre mudanas de energia. Uma mudana de energia do eltron implica numa

    mudana de orbital, uma vez que cada orbital caracteriza um estado quntico e este est

    ligado a uma energia caracterstica. Esta mudana de energia est ligada emisso ou

    ganho de energia atravs de um fton. A essa transio d-se o nome de salto quntico.

    Os estados qunticos so caracterizados pelos nmeros qunticos: principal

    representado pela letra n que est ligado distncia do ncleo; o nmero quntico

    orbital est ligado ao momento angular orbital e representado por l; o nmero

    quntico magntico m est ligado dependncia angular da funo de onda do

    eltron; o spin, representado por s est ligado a uma propriedade eletrnica anloga ao

    movimento de rotao.

    Essa segunda formulao da Mecnica Quntica, a Mecnica Ondulatria de

    Schrdinger, obteve muito sucesso, conseguiu reproduzir vrios resultados de De

    Broglie para o tomo de Bhr e conseguiu explicar a frmula emprica de Balmmer para

    o espectro do Hidrognio.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 35

    2.2 Interao da radiao com a matria

    2.2.1 Fenmenos de Interao

    Por no possuir carga nem massa as radiaes eletromagnticas podem

    penetrar grandes espessuras de matria sem interagir com seus tomos. Sua

    probabilidade de interao depende da energia da radiao incidente e tambm de

    propriedades do material alvo como o nmero atmico Z dos elementos que o compem

    e sua densidade como veremos adiante.

    No percurso da radiao dentro do material h uma probabilidade muito

    maior de ocorrncia nas camadas eletrnicas do que nos ncleos dos tomos do material

    irradiado. Nesse processo de interao trs so os fenmenos predominantes:

    Efeito fotoeltrico;

    Espalhamento Compton;

    Produo de pares.

    2.2.1.1 Efeito Fotoeltrico:

    Como visto na seo 2.1.4a Einstein mostrou que uma onda eletromagntica

    incidente em um material interage com seus tomos de forma corpuscular. No caso do

    efeito fotoeltrico o fton colide com o eltron e transmite para este toda a sua

    energia desaparecendo por completo. O eltron por sua vez ejetado do material, como

    ilustrado na figura 2.2.1. Portanto para a ocorrncia do efeito fotoeltrico a energia h

    do fton deve ser maior ou igual a energia de ligao do eltron com o tomo do

    material alvo. A energia cintica K do eltron ejetado depende da energia do fton

    incidente e da energia de ligao do eltron.

    K=h-

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 36

    onde:

    K= energia cintica do eltron;

    = energia de ligao;

    h= constante de Planck;

    = freqncia da radiao.

    Figura 2.2.1: esquema do efeito fotoeltrico

    O efeito fotoeltrico ocorre com maior probabilidade para ftons incidentes de

    baixas energias e para interao com elementos de elevado nmero atmico.

    O eltron ejetado nesse processo deixa uma vacncia que ser preenchida por

    um eltron oriundo de um nvel mais energtico. A diferena de energia sofrida por esse

    eltron ser eliminada pela emisso de um fton cuja energia ser igual diferena entre

    a energia do nvel inicial e do nvel final. A esse fenmeno d-se o nome de

    fluorescncia.

    A maior probabilidade de interao se d quando a energia h do fton igual

    a energia de ligao do eltron. A probabilidade decai com o aumento da energia do

    fton como mostra a figura 2.2.2. Quando interaes com a camada K so permitidas,

    80% das interaes ocorrem nessa camada.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 37

    Figura 2.2.2: seo de choque para o efeito fotoeltrico para o Chumbo em funo da

    energia do fton incidente

    Quando o fton atinge a energia de ligao da camada K observa-se um brusco

    crescimento na seco de cheque. O mesmo pode-se observar para a camada L

    2.2.1.2 Espalhamento Compton

    Compton em 1923 incidiu um feixe de raio X de comprimento de onda sobre

    um alvo de grafite e mediu a intensidade dos raios X espalhados em funo do seu

    comprimento de onda para vrios ngulos espalhados. Embora o feixe incidente tenha

    apenas um comprimento de onda , o feixe espalhado tem sua intensidade mxima em

    dois picos, um em outro em que maior que por uma quantidade . Esta

    quantidade chamada deslocamento Compton.

    =- (2.2.1)

    Compton interpretou esse fenmeno como sendo uma coliso dos ftons com

    os eltrons como a coliso de bolas de bilhar.

    Como o fton incidente transfere parte de sua energia para o eltron o fton

    espalhado deve ter uma energia E menor que a incidente, e portanto, uma freqncia

    mais baixa = E/h e conseqentemente um comprimento de onda = c/ maior.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 38

    Seja um feixe incidente de energia E= h a energia total relativstica de uma

    partcula, considerando sua massa de repouso e velocidade, :

    22

    20

    1 cvcmE

    = (2.2.2)

    Como sua velocidade v igual a c sua massa de repouso deve ser zero para

    que sua energia seja finita.

    Pode se obter o momento p de um fton pela expresso:

    E2=c2p2+(m0c2)2 (2.2.3)

    Como sua massa de repouso m0 nula ento:

    E2=c2p2 (2.2.4)

    chp

    cEp == (2.2.5)

    O processo do espalhamento dos raios X se d na coliso de um fton com um

    eltron do material alvo. A figura 2.2.3 ilustra a interpretao de Compton para o

    espalhamento de raios X onde um fton incidente de energia E0 e o momento p0 se

    propaga na direo de um eltron e na segunda figura, aps a coliso, o fton espalhado

    se propaga com energia E1 e momento p1 h um ngulo do eixo de coliso. J o

    eltron recua com energia cintica K e momento p a um ngulo do eixo de coliso.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 39

    Figura 2.2.3: esquema ilustrativo da interpretao de Compton para o fenmeno do

    espalhamento.

    Pelo princpio da conservao do momento temos:

    p0=p1cos+pcos (2.2.6)

    p1sen=psen (2.2.7)

    Elevando-as ao quadrado:

    (p0-p1cos)2=p2cos2 (2.2.8)

    somando as expresses acima tem-se:

    p2=p02 +p12-2p0p1cos (2.2.9)

    pela conservao da energia total relativstica tem-se:

    E0+m0c2= E1+Km0c2 (2.2.10)

    E0-E1=K (2.2.11)

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 40

    e de acordo com 2.2.4:

    c(p0-p1)=K (2.2.12)

    fazendo E= K+m0c2 em 3 Obtm-se:

    K2+2Km0c2=c2p2

    202

    2

    2 pKmcK

    =+ (2.2.13)

    substituindo p2 de 2.2.9 e K de 2.2.12 tem-se:

    (p0-p1)2+2mc(p0-p1)=p02+p12-2p0p1cos (2.2.14)

    que pode ser reduzida para:

    m0c(p0-p1)=p0p1(1-cos) (2.2.15)

    ou

    )cos1(111

    001

    =cmpp

    (2.2.16)

    se h for multiplicado e substitudo por p segundo a expresso 2.2.5 tem-se:

    =1-0 =c(1-cos) (2.2.17)

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 41

    onde c=h/m0c (2.2.18)

    que o comprimento de onda Compton do eltron.

    O deslocamento Compton segundo a 2.2.17 varia de zero para = 0,

    quando a radiao tange o eltron de forma a no sofrer desvio; 2h/m0c para = 180

    no caso de um choque onde o fton seja espalhado na mesma direo de incidncia com

    sentido contrrio.

    0 2h/m0c (2.2.19)

    Se escrevermos a expresso 2.2.16 em funo das energias no lugar dos

    comprimentos de ondas ter-se-:

    )cos1(01

    =cE

    hcEhc

    Ehc

    01

    1)cos1(11EEE c

    += (2.2.20)

    Considerando Ec=551:

    01

    1)cos1(51111

    EE+= (2.2.21)

    Ento:

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 42

    0

    1 1)cos1(5111

    1

    E

    E+

    =

    1)cos1(511

    10

    1

    +=

    EE (2.2.22)

    A expresso 2.2.22 d a energia do fton espalhado em funo do ngulo.

    Com relao variao de intensidade da radiao pelo ngulo podemos ter

    uma idia observando a frmula de Klein-Nishina que nos d a probabilidade de

    espalhamento incoerente em relao ao ngulo slido para o fton individual para

    eltron livre, em forma de seo de choque diferencial:

    [ ]

    +

    ++

    +

    =

    )cos1(1)cos1(cos1.

    )cos1(11.2),(

    22

    2

    20

    REd

    d NK (2.2.23)

    Afigura 2.2.4 mostra a probabilidade de espalhamento em funo do ngulo

    conforme descrito na expresso (2.2.23).

    Figura 2.2.4: descreve a probabilidade do espalhamento de um fton individual por um

    eltron livre em funo do ngulo de espalhamento.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 43

    Para o espalhamento incoerente a seco de choque diferencial :

    ),(. ZqSd

    dd

    d NKincoerente

    =

    O Espalhamento Rayleigh ocorre principalmente para ftons incidentes de

    baixa energia e para materiais com Z elevado. Consiste no espalhamento elstico do

    fton com um eltron orbital que no ser ejetado. O fton espalhado mantm a mesma

    energia incidente, porm, muda sua direo de propagao.

    Figura 2.2.5: ilustrao do efeito Rayleigh. Pode-se perceber que o fton mantm sua

    energia (h).

    O espalhamento Rayleigh chamado de espalhamento coerente e sua seo de

    choque diferencial dada por:

    2220 )],().[1.( ZqFcord

    d coerente

    +=

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 44

    2.2.1.3 Produo de Pares

    Para ftons com energia igual ou superior a 1,022MeV o fenmeno de

    interao que predomina a produo de pares. Quando um fton de alta energia passa

    perto de um ncleo de nmero atmico elevado, que produz um intenso campo eltrico,

    ele interage com o campo transformando sua energia em matria gerando assim um par

    eltron-psitron, como mostra a figura 2.2.6. A energia mnima do fton para a

    ocorrncia desses fenmenos igual soma das energias de repouso das partculas

    resultantes, como a energia de repouso, tanto para o eltron quanto para o psitron de

    511keV a energia mnima do fton para a ocorrncia da produo de pares

    511keV+511keV 1022keV. O psitron ou anti-eltron possui as mesmas

    caractersticas do eltron como sua massa de repouso, porm, sua carga positiva, o que

    garante a conservao da carga na produo do par eltron-psitron. Caso a energia do

    fton seja maior que 1,022MeV a carga excedente ser responsvel pela energia

    cintica das partculas resultantes da reao.

    Figura 2.2.6: esquema ilustrativo para o fenmeno da produo de pares.

    Pelo princpio da conservao da energia tem-se ento:

    h= (K-+m0c2) + (K++m0c2)

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 45

    2.2.2 Atenuao e Seo de Choque

    Um feixe paralelo de ftons com intensidade I0 que atravessa uma lamina de

    um determinado material de espessura x tem sua intensidade atenuada pela interao

    dos ftons com os tomos do material, como ilustrado na figura 2.2.7, atravs dos

    fenmenos de absoro fotoeltrica, espalhamento Compton ou produo de pares.

    Figura 2.2.7: ilustrao da interao do feixe de intensidade

    I0 com a placa de espessura x.

    Para um fton com uma determinada energia, a probabilidade de interao por

    um determinado fenmeno esta ligada seo de choque desse fenmeno. Por exemplo,

    para o efeito fotoeltrico o nmero de absores fotoeltricas para uma lmina muito

    fina que contm n tomos por unidade de rea e para um feixe I de ftons, pode ser

    escrita como:

    NFE=KFEIn (2.2.24)

    onde: KFE=seco de choque para o efeito fotoeltrico.

    A figura 2.2.8 ilustra as sees de choque para os fenmenos predominantes e

    a seo de choque total para tomos de chumbo (Pb) relacionando com a energia dos

    ftons incidentes.

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 46

    Figura 2.2.8: seo de choque para os efeitos de

    espalhamento (E), fotoeltrico (FE) e produo de pares (PR).

    A probabilidade de interao de um fton com a matria para uma

    determinada energia a soma das probabilidades dos fenmenos predominantes, na

    figura 2.17 representada pela seo de choque total T.

    T= E+FP+FE (2.2.25)

    Como as sees de choque variam com a energia do fton incidente e tambm

    com o Z do material absorvedor devido sua energia de ligao, a tabela abaixo mostra

    os intervalos de energia aproximados onde cada fenmeno d sua contribuio mais

    importante na probabilidade de interao. A relao ser apresentada para dois

    materiais, um de Z alto (Pb) e outro de Z baixo (Al).

    Tabela 3: intervalo de energia da maior probabilidade de interao para cada fenmeno de interao para o Pb e o Al.

    Tipo de interao Intervalo de energia

    Para o Pb

    Intervalo de energia

    Para o Al

    Efeito Fotoeltrico h < 5 x 105eV h < 5 x 104eV

    Espalhamento 5 x 105eV < h < 5 x 106eV 5 x 104eV < h < 5 x 107eV

    Produo de Pares 5 x 106eV < h 5 x 107eV < h

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 47

    A contribuio dos fenmenos predominantes na interao da radiao

    com a matria relacionando a energia do fton incidente com o Z do absorvedor est

    ilustrada na figura 2.2.9.

    Figura 2.2.9: contribuio dos fenmenos predominantes para o nmero atmico do

    material absorvedor em funo da energia do fton incidente

    Se na figura 2.2.7 I0 ftons de raios X incidem em uma lmina grossa de

    matria de espessura x contendo tomos por cm3. Depois de penetrar uma espessura t

    na lmina o feixe passa a ter intensidade I(t) devido s interaes. Considerando uma

    placa fina desta lmina dt o nmero de tomos por cm2 vezes o seu volume Adt. Para

    simplificar consideramos a rea da lmina como 1cm2. Ento o nmero de tomos da

    placa infinitesimal dt. O nmero de ftons que vo interagir com a placa est

    relacionado seco de choque total T por uma expresso anloga a 2.2.24 onde seu

    valor ser I(t)dx.

    O nmero de ftons que sai da placa depois de percorrida uma espessura

    t+dt na lmina igual ao nmero de ftons imediatamente antes da placa infinitesimal

    menos o nmero de ftons que interagem com a mesma. Esta relao pode ser descrita

    por:

    I(t+dt)=I(t)-TI(t)dt

    I(t+dt)-I(t)=-TI(t)dt (2.2.26)

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 48

    pela definio:

    I(t+dt)-I(t)=dI(t) (2.2.27)

    ento:

    dI(t)=-TI(t)dt (2.2.28)

    logo:

    = dttItdI

    T )()( (2.2.29)

    integrando a expresso na espessura da lmina temos:

    =x

    T

    x

    dttItdI

    00 )()( (2.2.30)

    ln I(x)-ln I(0)= -Tx

    xI

    xI =)0()(ln (2.2.31)

    xTeI

    xI =)0()( (2.2.32)

    Considerando T como o coeficiente de atenuao total (=T) e

    (I(0)=I0) de 2.2.32 tem-se:

    I(x)= I0e-x

    Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 49

    A figura 2.2.10 ilustra o decaimento da intensidade relativa (I/I0) com o

    aumento da espessura do material absorvedor.

    Figura 2.2.10: decaimento da intensidade relativa com o aumento da espessura do

    absorvedor

    Na determinao do coeficiente de atenuao de um material para evitar

    confuses devido a variao do coeficiente com a mudana do estado fsico do material,

    costuma-se tabelar os valores de dividindo pela densidade do material. Essa relao

    (/) chamada coeficiente de atenuao de massa. A figura 2.2.11 mostra o

    comportamento do coeficiente de atenuao de massa do iodeto de sdio para diferentes

    energias.

    Figura 2.2.11: contribuies dos diversos efeitos na absoro total para a relao coeficiente de atenuao de massa em funo da energia do fton incidente para o

    iodeto de sdio (TAUHATA, 2001). Eduardo dos Passos Belmonte

    Espectrometria por Fluorescncia de Raios X por Reflexo Total: Um Estudo Simulado Utilizando o Mtodo de Monte Carlo

  • Captulo 2 Fundamentos Tericos 50

    As relaes entre o coeficiente de atenuao de massa para um

    determinado material e suas sees de choque microscpicas para cada efeito so:

    Efeito Fotoeltrico: AF NAgcm 1)/( 2

    =

    F: seco de choque microscpica para o efeito fotoeltrico (cm2/tomo)

    Efeito Compton: AE NAZgcm

    =)/( 2

    E: seco de choque microscpica para o efeito Compton (cm2/eltron)

    Produo de Pares: AP NAgcm 1)/( 2

    =

    E: seco de choque microscpica para formao de pares (cm2/tomo)

    onde:

    A: o nmero de massa (g/mol);

    NA: o nmero de Avogrado 6,022x1023 tomos/mol;

    Z: nmero atmico.

    Para uma mistura ou composto pode se obter o coeficiente de atenuao de

    massa total somando os coeficientes de atenuao de massa de cada elemento

    multiplicado por seu respectivo peso:

    ii

    i W

    = (2.