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Estado Forte, ‘verdadeira democracia’: a visão do projeto político dos integralistas
Gustavo Barroso e Miguel Reale, no Brasil dos anos 1930.
Cícero João da Costa Filho
Pós doutorado/FFLCH/USP
Nas décadas de 1920 e 1930, o Brasil experimentou um momento particularmente conturbado de
sua história. A tensa conjuntura política do país, que vivia uma disputa de hegemonia entre setores
agrários e grupos industriais urbanos, do fortalecimento do proletário e da suposta ameaça do
comunismo, somado aos efeitos da crise de 1929, proporcionou o surgimento de várias tendências
políticas, suscitando inúmeros “projetos de Brasis”. Políticos, intelectuais, profissionais liberais,
participaram ativamente do projeto político do país, dentre estes Miguel Reale.
Renomado jurista, este é o teórico do Estado, que pensou qual a melhor forma de organização
política capaz de alcançar a verdadeira democracia. Descrente da fórmula de governo liberal e aos
regimes de esquerda, apenas possível em razão da tradição histórica do pensamento naturalista, Reale é
simpatizante ao modelo de estado totalitário, onde a hierarquia, a autoridade, a disciplina e a moral se
fazem presente. Suas análises se dão pela não intervenção do estado no plano político e econômico,
como no plano filosófico (gnosiológico e moral).
Miguel Reale aparece no cenário político brasileiro ligado ao fecundo movimento do
Integralismo, criado por Plínio Salgado, em 1932. De curta duração, o integralismo tem seu fim como
a implantação do Estado Novo de Vargas. Formado por valores cristãos, como o sentimento, a
alteridade e comunhão (“Deus, Pátria e Família”), e com a máxima de “Deus rege o destino dos
Povos”, 1 uma verdadeira revolução ideológica tomou conta do rico momento histórico do Brasil da
década 1930. Uma verdadeira revolução espiritual salvaria o país do terror comunista, do capitalismo,
1 SALGADO, Plínio. Manifesto da Ação Integralista Brasileira, 1932. In: Obras Completas. São Paulo: Américas, 1955.
1
do liberalismo, num momento de tensão social onde surgiram diversas alternativas políticas e
interpretações de Brasis.
Todo esse cenário de inquietude política deu lastro a presença de elementos de ideologia tanto de
direita como de esquerda. Dentre tantas ideias reverberou por aqui com a simpatia de setores médios,
ex-militares, professores, médicos, etc, o modelo de sociedade gerida por um estado forte, a imagem e
semelhança da Itália e Alemanha. Se para Gustavo Barroso o principal inimigo, o responsável pelos
males não só do Brasil, mas do mundo, era o Judaísmo internacional, fazendo com o que o escritor
descrevesse a História do Brasil como “a ação das forças secretas, agindo nos bastidores da história”;
Plínio Salgado e Miguel Reale como integralistas são antidemocratas que em suas análises reconhecem
a força econômica do judeu, mas desligado da questão racial. Para Barroso, o judeu é como um fungo,
bactéria, bacilo, “coçava como carrapato”, o que leva a Tucci Carneiro atribuir que são termos de uma
verdadeira profilaxia social, para o escritor a perversão, a malevolência e o contágio era tamanha que
destruía qualquer civilização. Mesmo figurando como o último tema nas discussões da AIB, e
conforme aponta Hélgio Trindade, fora tática política para Gustavo Barroso pleitear a liderança do
movimento, rivalizando Plínio Salgado, o antissemitismo de Barroso assumiu frente à ideologia
conservadora de nossas elites um traço eugênico, como o pregado pelo nazismo. O racismo impiedoso
de Barroso assumia as duas versões elencadas por Hannah Arendt, tanto era tradicional (religioso),
como moderno (racial), porque era pela particularidade religiosa que o escritor destilava seu ódio a
uma raça fétida, avarenta, sem amor a pátria, capaz de tudo em nome do lucro.
Plínio Salgado e Miguel Reale desenvolveram uma leitura mais ampla em buscar de solucionar
os problemas do país. Se Plínio era levado por um espiritualismo como forma de “romantizar” a
realidade de um país que tinha como um dos problemas principais à distribuição de terra, 2 Reale é a
figura de intelectual clássico, acadêmico, conhecedor das teorias políticas, econômicas e sociais. Mas,
para além das diferenças, todos os integralistas (no que pese a falta de homogeneidade do movimento
como aponta Trindade, Carone, dentre outros), combatiam o capitalismo, o marxismo (ou outra
ideologia de esquerda), e o espirito liberal, político e econômico, que acirrou a luta de classes e cada
vez mais escravizava o homem.
2 CHASIN, J. O Integralismo de Plínio Salgado: forma de regressividade do capitalismo hiper-tardio. São Paulo: Ciências
Humanas, 1978.
2
Baseado nas palavras do chefe, Gustavo Barroso entendia os novos tempos como um “modo de
ser, um modo de viver, um modo de sentir, um modo de pensar, um modo completo de considerar os
problemas do homem, os problemas da sociedade, os problemas da nação, os problemas do Estado, em
uma palavra – uma grande consciência coletiva” 3. Maior revolução de todas as revoluções após a
abolição da escravidão e a Proclamação da República, conforme anotava Barroso, comparado pela
revolução causada pelo cristianismo, à matéria prima para a formação do novo Brasil, grande e forte,
nas mãos da mocidade era a doutrina integralista.
Salgado chamava atenção para os prejuízos causados pelo Capitalismo Internacional,
destruindo valores nacionais como a língua, os costumes do homem do campo, as tradições brasileiras
em meio ao cosmopolitismo, ao passo que Barroso culpabilizava a figura do judeu apelando para
elementos raciais (embora negasse que seu antissemitismo fosse racial, mas sim moral ou religioso),
justificando ao leitor tendo em vista o racismo alemão “que esquecem esses indivíduos que o racismo
germânico não é unicamente um pretexto para a campanha antijudaica e sim uma verdadeira doutrina
que se eleva mais alto”;4 Reale discutia a falsa democracia do brasileiro ante um estado liberal
(demoliberalismo), em suas análises reabilitará clássicos como Platão, Aristóteles, Bodin, Rousseau,
Locke, Simmel, dentre tantos outros, passando pelo crivo de Kant e Hegel, mostrando a inviabilidade
do que considera democracia pelas vias do que na história esta se deu.
De cultura enciclopédica, ligado ao culturalismo filosófico5, Reale rechaça alternativas políticas
como o socialismo e o marxismo, e outras propostas democráticas que impedem a realização da
liberdade humana, aprisionando a maioria em detrimento de pequenos grupos. Reconhecido pela
historiografia, filosofia, e ciência jurídica, como formulador de uma Teoria de Estado, ao passo que
Plínio Salgado era o chefe (figura admirada por todos os integralistas), Barroso era o líder de milícias,
3 BARROSO, Gustavo. Integralismo de Norte a Sul. 2ª. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1934. p. 71
4 BARROSO, Judaísmo, Maçonaria e Comunismo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1937.
5 PAIM, Antônio. Miguel Reale. Bibliografia e Estudos Críticos. Salvador: Centro de Documentação do Pensamento
Brasileiro, 1999.
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escritor que historiou uma verdadeira campanha antijudaica conclamando a mocidade brasileira a uma
verdadeira batalha, Reale é o erudito que analisa a passagem do estado brasileiro demoliberal para o
Brasil integral com o advento da “democracia orgânica”. Em sua Obra Política o escritor se detém
detalhadamente na crítica ao modelo liberal do estado brasileiro.
Miguel Reale é estudado por várias áreas do conhecimento, primeiramente por sua contribuição
na área do direito, interpretando questões clássicas específicas à área, envolvendo nomes como os de
Clóvis Bevilaqua, que problematiza o Estado e suas condicionantes maiores, imersas na sociedade. No
campo historiográfico, Reale é sempre visto como integrante de um grupo de intelectuais e políticos de
pensamento autoritário formado por Alberto Torres, Azevedo Amaral, Oliveira Viana, Francisco
Campos,6 escritores cujas ideias influenciaram a política de Vargas. Integralista, o pensamento político
de Reale surge num momento de descrença das democracias liberais, momento turbulento que por um
conjunto de fatores reclamava o autoritarismo das elites brasileiras, a corrupção, a limitada condição
de cidadania, etc. Soma-se a este quadro as alternativas políticas (ainda que os partidos políticos
brasileiros fossem desprovidos de uma ideologia), que iam do enrijecimento do estado, tutelando tudo
a imagem e semelhança do grande monstro de Maquiavel, até proposta de uma sociedade sem estado,
caso do anarquismo, influenciado pela presença de imigrantes italianos em São Paulo, em 1920.
Mas, Miguel Reale pode ser visto como um importante interprete da cultura brasileira, como
tantos outros, contribuindo para o conhecimento do país, apontando os problemas e os remédios na
construção de uma nova nação. O eixo central de sua Obra Política é o questionamento de uma
democracia que se faz por vias liberais, nos moldes brasileiros. Buscavam-se alternativas para um país
marcado pela corrupção das elites regionais, que a constituição liberal de 1891 não solucionou
problemas centrais do nosso país, permitiu à perpetuação do autoritarismo de nossas elites, por meio de
um federalismo que perdia as questões centrais do país, sem dar condições para a solução dos
problemas do país, tão pouco da população em geral. Os partidos políticos, verdadeiros nichos
oligárquicos cerceavam cada vez mais a população, impedindo a materialização das mínimas
condições de cidadania.
6 LAMOUNIER, Bolívar. “Formação de um pensamento político autoritário na Primeira República” In: História Geral da
Civilização Brasileira, Tomo III, 3º Volume, nº 9. São Paulo: Difel.
4
O pensamento de Miguel Reale nos faz pensar a “transição-superação” de um Brasil marcado
pela presença de um estado regido politicamente pelas tradicionais oligarquias, com práticas bem
conhecidas de autoritarismo e violência, pela corrupção e pela miséria da população em geral. Neste
cenário, vemos aparecer novas figuras políticas pertencentes a setores de profissionais liberais,
industriais não ligados à economia rural, um importante número de intelectuais, figuras importantes da
igreja, trabalhadores nacionais e estrangeiros, envolvido na formação de um novo Brasil, dentre tantos
projetos de Brasis, uma nação que atendesse as reivindicações trabalhistas.
Intelectuais se reuniam em busca das raízes brasileiras, num momento de surgimento de
importantes instituições, como o Centro Dom Vital, o Partido Comunista Brasileiro, o grupo Anta e o
Verde-amarelo. Viríamos posturas de direita, formada por homens como Plínio Salgado, Cassiano
Ricardo e Menotti Del Picchia; como formulações diferentes dessas defendidas por Mário e Oswald de
Andrade, decididamente afinados com o pensamento de esquerda, principalmente o último; e a Aliança
Nacional Libertadora (ANL), que fazia crítica aberta ao estado liberal. Nas palavras de Oswald de
Andrade “A Semana dera a ganga expressional em que se envolveriam as bandeiras mais opostas”.
7Conforme Frente às incertezas do futuro, ao receio das elites com relação ao povo, sustentava-se que o
Estado nacional brasileiro precisava ser forte. Setores dissidentes dos militares, no caso, os tenentes,
remanescentes ligados à economia rural se envolveram na formação deste novo Brasil. O Estado
nacional brasileiro, na era Vargas, buscou aglutinar os mais variados estratos sociais sem perder o
papel de realizar a hegemonia de classe, o que exigiu uma “arquitetura moderna”8. Com a emergência
de diversos estratos sociais, advindas daí ideologias as mais dispares o contexto analisado por Miguel
Reale enfrentou um “vazio” político, precisando amalgamar todos esses setores para se fazer nação.
Ainda que nenhuma classe fosse possuidora de um projeto ideológico para propor um modelo de
Estado, como aponta Chauí9, vimos despontar uma pluralidade de matizes ideológicos, que circulavam
da extrema-direita, a vertentes do Socialismo e do Comunismo, em que eram vistos vanguardistas,
tradicionalistas e radicais, “no projeto de construção do Estado Nacional, quantos literatos modernistas
7 CHASIN, José. Op. Cit. p. 178 8 GOMES, Ângela de Castro. Autoritarismo e corporativismo no Brasil: o legado de Vargas. Revista USP, São Paulo, n. 65,
p. 105-119, março/maio 2005. 9 CHAUI, Marilena. Ideologia e mobilização popular. 2º Ed. Rio de Janeiro: CEDEC: Paz e Terra, 1985.
5
políticos integralistas, positivistas, católicos e socialistas são encontrados trabalhando lado a lado” 10.
Lidando com problemas históricos de sua formação, dentre estes um pensamento autoritário,
tinha-se um Brasil legal x Brasil real, conforme Oliveira Viana11, de artificialidade política,
contaminada pela invasão do público pelo privado, do personalismo, da influência das ideias
estrangeiras, etc. Na década 1930, mais uma vez o estado enfrenta uma crise permitindo pensar as
bases de nossa organização social e política. Sem ruptura, sempre se reordenando, este novo Brasil não
deixou de ser dominado por uma economia agrária, que sempre rumava à industrialização, formado
por seus “males de origem” (e de continuidade) que bem caracterizaram seu aspecto tradicional. Isso
exigiu uma reformulação das práticas ditas democráticas e (por que não dizer?) do próprio liberalismo.
A questão racial sempre esteve ligada a formação da nação brasileira, escondendo e dando um status
de homogeneidade, era o discurso nacional das elites.
Intelectuais autoritários legitimando o tradicional liberalismo brasileiro com uma “nova”
roupagem esboçavam seus projetos (Oliveira Viana, Francisco Campos, Azevedo Amaral), a classe
trabalhadora simpatizava com as ideias de esquerda emanadas na Europa desde a década de 1920, os
remanescentes do movimento tenentista juntos com setores burgueses (profissionais liberais,
industriais, intelectuais), e setores direitistas (igreja, tenentistas, integralistas, dissidentes do
comunismo, etc), simpatizavam com o movimento de Plínio Salgado. Visando controlar qualquer
forma de anarquia social ou política, setores conservadores buscaram superar o atraso do Brasil
simpatizando com uma nova proposta de sociedade rigidamente hierárquica, baseada nas corporações.
Experimentando uma crise que pôs em cheque a crença desmedida da razão quando do
Primeiro Conflito Mundial, somado aos efeitos da crise de 1929, do temor comunista da Revolução de
1917, subsidiou uma estrutura de ideias no Brasil extremamente rica, reabilitando problemas
conhecidos de nossa história. Eram os clássicos problemas nacionais tantas vezes pensados por nossos
interpretes. Estudar a Obra Política de Miguel Reale, especificamente, sua concepção sobre o estado
brasileiro (e suas particularidades, como partidos, soberania popular, liberdade, democracia, etc), é
10 OLIVEIRA, Lucia Lippi. 1982. “As raízes da ordem: os intelectuais, a cultura e o Estado”. In: A Revolução de 30.
Seminário Internacional. Coleção Temas Brasileiros, volume 54. Brasília: Editora da UNB. p. 508 11 VIANA, Oliveira. Populações meridionais do Brasil. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2005.
6
antes de tudo reabilitar alguns destes problemas que são bastante atuais, como por exemplo, a
corrupção das elites brasileiras, a forma como se realiza a democracia, e acima de tudo reconhecer um
estado que diz democrático cerceando cada vez mais a população.
Construída sob um extremo nacionalismo conservador, que considerava o povo incapaz de lidar
com uma experiência democrática, o modelo de estado que acabou vingando foi pensando por homens
como Alberto Torres, Francisco Campos, incorporando neste nacionalismo o viés xenofóbico, onde o
judeu transforma-se em perigo, raça indesejável. Por isso, vemos a preocupação com a “melhor raça”
(uma discussão já presente nas falas de parlamentares da Assembléia de São Paulo nas três últimas
décadas do século XIX, diante da abolição da escravatura)12 onde o imaginário judeu é bastante amplo,
indo do parasita que se preocupa apenas em lucrar ao judeu infiltrado nas sociedades secretas operando
por meio de um plano de dominação mundial.
Promovedor do corporativismo, o estado pensando por Miguel Reale sob o lema Deus, Pátria e
Família, é um estado homogêneo, funcionalista, harmônico, orquestrado por elementos morais que
travam a concorrência, o sentimento e o amor presente no universo espiritual dão a tônica do novo
Brasil integral. Na folha de rosto do Manifesto de Outubro se lê: “a nação brasileira deve ser
organizada, uma, indivisível, forte, poderosa, rica, próspera e feliz. Para isso precisamos de que todos
os brasileiros estejam unidos”. Reale pensou um estado forte, constituído por células onde a família era
de suma importância, neste período dicotômico e conturbado dos anos 1930, que nos mostrou
condições para práticas históricas nunca vistas, palco para uma multiplicidade de experiências13.
12 LUIZETTO, Flávio V. Os constituintes em face da imigração: estudo sobre o preconceito e a discriminação racial e étnica
na constituição de 1934. Dissertação de mestrado, FFLCH, USP, 1975. ANDREWS, George Reid. Negros e brancos em
São Paulo, (1888-1988). Bauru, SP: EDUSC, 1998. AZEVEDO, Célia Maria Marinho de. Onda negra medo branco: o
negro no imaginário das elites século XIX. 3º. Ed: São Paulo: Annablume, 2004. 13 VESENTINI, Carlos Alberto. A teia do fato: uma proposta de estudo sobre a memória histórica. São Paulo: Hucitec,
1997.
7
Integralismo
O Integralismo foi um importante movimento político e cultural (com uma série de jornais), que
motivou uma série de estudos, com o trabalho de Hélgio Trindade. Dada à importância do movimento,
do boom de trabalhos surgidos com a clássica discussão de que o integralismo era um fascismo à
brasileira, questão que até hoje se faz presente em artigos acadêmicos, lembremos que na área história
os estudos são poucos. Tais estudos pecam por reduzir o pensamento de Reale à pecha fascista, o que
cabe ir além. A priori, lembramos que o integralismo, como afirma Reale é um movimento
nacionalista, base para a compreensão de seus estudos, elemento indispensável para suas análises.
Ainda que o debate historiográfico sobre a influencia do fascismo seja extremamente conhecido, nunca
se deve abandonar a ligação e particularidades do movimento liderado por Plínio Salgado ao fascismo
e nazismo.14 As críticas de Chasin, Wanderlei Correa dos Santos, Antônio Rago, muito bem
fundamentadas apontam tanta à falta de estrutura ideológica para a recepção de uma ideologia fascista
como práticas integralistas diferentes das práticas fascistas, mas isso não invalida pontos de contato
com a política dos estados fortes, que tinha como modelo a Itália e Alemanha. Um ponto em comum é
o Brasil integralista ter um estado formado por sindicatos e corporações, ainda que diferente do estado
italiano. Reale algumas vezes critica a política fascista, mas Mussolini aparece inúmeras vezes em sua
obra como o grande modelo de líder. Concordamos com Rodrigo Santos Oliveira quando afirma que
“as influências do fascismo europeus são inegáveis, tendo em vista a estruturação do movimento e seus
pressupostos políticos”15
14 Rodrigo Santos de Oliveira faz um excelente balanço sobre a “evolução dos estudos integralistas”, em sua tese de
doutorado. Conforme o autor em artigo acadêmico sua divisão em “fases” e “gerações” foi apresentada no 1º. Encontro de
Pesquisadores do Integralismo em Rio Claro. Somos integrantes do GEINT (Grupo de estudos integralistas), e
acompanhamos discussões pertinentes ao tema. A preocupação historiográfica é inserir o integralismo (formação, trajetória
e ideologia), a rica produção de ideias com uma farta produção de jornais, sua importância histórica como alternativa
política para o agitado Brasil da época. Resta a ideia de um movimento homogêneo, tanto político como culturalmente,
apesar da diversidade de ideias durante a década de 1920, como por exemplo, entre as correntes Verde Amarela e Anta.
Assim, essa é a primeira vertente de análise, até a crítica de Wanderlei Correia dos Santos que tende sempre a reforçar o
integralismo como um movimento ligado a direita brasileira, que com o apoio de classes emergentes e profissionais
liberais, médicos, professores, apenas reforça a concepção de um movimento autoritário. SILVA, Giselda Brito (Org).
Estudos do integralismo no Brasil. Recife: Ed. da UFRPE, 2007. 15 OLIVEIRA, Rodrigo Santos. Imprensa Integralista, Imprensa Militante (1932-1937). Tese de Doutorado defendida no
Programa de História da PUC-RS, 2009. p. 36
8
Chasin elabora uma análise minuciosa (trata-se de uma leitura ontológica) que analisa as
condições de possibilidade do fascismo no Brasil. Aponta as incoerências da ideologia fascista num
país de capitalismo agrário, sem as contradições necessárias para o embate de classes, que dê sentido a
existência de um regime fascista no Brasil. O autor citado busca captar toda a objetividade histórica e,
partindo de conceitos lukácsianos combate o determinismo dos agentes históricos do marxismo na
explicitação do movimento integralista no Brasil. Elabora uma leitura residual 16 almejando não deixar
nada de fora, a fim de descortinar a fragilidade do discurso integralista. Chasin chega à conclusão da
utopia romântica tributária de uma visão liberal que analisava a situação brasileira análoga a realidade
dos países de origem totalitária da época. Trata-se de uma análise profunda, que conforme Antônio
Candido sofre de certa prolixidade, tributária que é de “imprecisões luckasianas”, herdadas de sua
leitura de Marx. Para o crítico literário a maior contribuição do autor foi transformar o que era “fato”
em “problema".17
A preocupação maior da historiografia sobre o integralismo ainda é a análise de um movimento
nacionalista e de direita num país sem estrutura ideológica para tal, seria a recepção de “ideias fora de
lugar”, como lembrou Robert Schwarcz analisando a influência das ideias científicas na transformação
do Brasil imperial para o republicano. Mas, dessa falta de estrutura é que surge um movimento político
para destacar nomes como os de Plínio Salgado, Miguel Reale, Gustavo Barroso, Olbiano Melo, etc.
Não basta reconhecer a ausência de elementos para a instalação do fascismo, pois isso vai de encontro
ao próprio movimento que teve particularidades fascistas. Dessa forma um olhar mais amplo é
bloqueado frente um cenário histórico, político e econômico, responsável por uma alternativa política
que mobilizou milhares de adeptos. Boa parte da historiografia sobre Miguel Reale reduz-se a pecha
fascista do escritor integralista, impedindo a própria investigação das particularidades de seu
pensamento. Não é suficiente, por exemplo, afirmar que o Capitalismo Internacional, o Liberalismo
(político e econômico), o Marxismo e todas as ideologias de esquerda, e sobretudo, um Estado tutelador
(estado demoliberal), onde a democracia se fazia, eram os elementos combatido pelo integralista, mas
16 RAGO FILHO, Antônio. Antônio. A crítica romântica a miséria brasileira: o integralismo de Gustavo Barroso. São Paulo:
PUC, 1989. 17Outros trabalhos já bastante conhecidos trabalharam em diversas frentes a influência da ideologia fascista no
integralismo, principalmente na obra de Plínio Salgado.
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sim procurar entender a formação de um autor convicto de que a verdadeira democracia só era possível
num Estado Forte, uma “democracia orgânica”. Nessa ótica o texto de Ricardo Benzaquén de Araújo é
exemplar para nossas análises, este traz passagens como esta
A corrente integralista, adotada por Reale, também se preocupa em combater o
individualismo e devolver a autoridade ao Estado, mas de forma inteiramente diferente da
postulada pelo totalitarismo. Não se trata, então de absolutizar o Estado e eliminar o
indivíduo, aceitando-se, com o sinal trocado, a oposição imposta pela doutrina liberal. O
que se pretende, ao contrário, é a superação dessa contradição, anulando-se o antagonismo
entre o indivíduo e o Estado, entre a liberdade e a autoridade.
Para tanto, torna-se indispensável uma concepção de totalidade completamente diversa da
sugerida pelo totalitarismo, uma totalidade orgânica, diferenciada e complexa, que articule
os elementos que a compõem, os indivíduos e os grupos, sem deixar de reconhecer os seus
valores próprios e singulares. 18 (grifo do autor)
Como se vê, Benzaquén esmiúça um dos elementos tão caro ao pensamento de Reale, no caso,
sua visão democrática, que faz parte de uma concepção orgânica, explicitando a visão de um
intelectual defensor de um Estado Integral, não “autoritário”, um Brasil que saía da instrumentalização
dos partidos operada por poucos, para a liberdade do homem num país formado por sindicatos e
corporações. “A Democracia sempre foi o nosso ideal. E foi por amor à Democracia que repudiamos o
Liberalismo e o Socialismo que dela se tem servido como mero instrumento, ora para a prepotência das
minorias plutocráticas, ora para a exploração demagógica dos sofrimentos populares”19
Excelentes análises são as reflexões de Antônio Paim e Francisco de Souza20. Tais trabalhos
podem configurar uma História das Ideias, perdendo de vista o lado político de movimentos sociais,
culturais e políticos, mas guardam traços indispensáveis para a compreensão da posição integralista do
autor. Tais estudos apontam a importância das obras Capitalismo Internacional e Formação da
Política Burguesa para a compreensão de Reale.
18 ARAÚJO, Ricardo Benzaquén. In: Medio Virtus: uma análise da obra integralista de Miguel Reale. pp. 17-18 19 REALE, Miguel. “Integralismo e Democracia”. In: Obras Políticas. p. 246 20 MIGUEL REALE: Bibliografia e Estudos Críticos. Salvador: Centro de Documentação do Pensamento Brasileiro, 1999.
10
Importante é a dissertação de Alexandre Pinheiro Ramos onde este faz uma análise
comparativa entre os integralistas Plínio Salgado e Miguel Reale. Trata-se de um trabalho que deve
lido, pois mostra conforme o autor o posicionamento dos integralistas, o homem comum que foi Plínio
Salgado em contraposição ao homem acadêmico que foi Reale. Mas, a nosso ver parte do pré-conceito
de reduzir o pensamento de Reale ao fascismo, a sem buscar compreender o posicionamento do jurista
dentro de uma ordem maior. O conteúdo histórico só vem em razão de a cada instante reforçar um
Miguel Reale fascista, obstando o pensamento do autor. Em sua dissertação Alexandre tem como
objetivo
dar uma contribuição, ainda que ínfima, aos poucos estudos acerca de Miguel Reale
realizados no campo das ciências humanas, procurando ampliar horizontes ou despertar
novos interesses, e assim demonstrar sua importância tanto para o Integralismo quanto para
o pensamento político nacional; e demonstrar, de maneira mais concreta, as profundas
diferenças existentes no seio da Ação Integralista Brasileira – no presente caso, tratamos
apenas das idéias produzidas pelo chefe nacional, Plínio Salgado, e o chefe da doutrina,
Miguel Reale.21
Uma série de artigos acadêmicos, principalmente na área de história, juntamente com
comunicações em eventos e simpósios possuem como temática a figura de Miguel Reale. O grupo na
internet GEINT permite boas discussões sobre análises de regimes de direita, viabilizando leituras
sobre as três mais destacadas do movimento, como Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel Reale.
Escolhemos dois excelentes artigos na área da história, que é o de João Fábio Bertonha e o de Felipe
Cazetta. No primeiro texto, vemos o autor alertar o leitor para os “vários integralismos”, não
esquecendo particularidade em comum. Adentrando ao texto de Bertonha22 conheceremos a influência
do Dante Alighieri na formação de seu pensamento fascista, da aproximação do governo italiano na
divulgação das ideias fascistas, e de temas importantes como a presença do catolicismo, a questão
operária e corporativa formando seu pensamento. O autor reforça o fascismo do jurista apontando a
conjetura da época (relativizando até uma interpretação totalitária), aspectos biográficos do pensador
na maior cidade do país e as diferenças com relação ás posições de Plínio Salgado e Gustavo Barroso,
21 RAMOS, Alexandre Pinheiro. O Integralismo entre a família e o Estado: Uma análise dos integralismos de Plínio
Salgado e Miguel Reale (1932-1937). Rio de Janeiro: UERJ, 2008. p. 55 22 BERTONHA, João Fábio. O pensamento corporativo em Miguel Reale: leituras do fascismo italiano no integralismo
brasileiro. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 33, nº 66, 2013. pp. 269-286.
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dentre estas, a questão antissemita. Neste aspecto, o artigo aponta que Reale, por meio do jornal da
Faculdade de Direito, portava certo racismo. O ponto negativo deste artigo é não trabalhar a questão do
Totalitarismo, não basta identificar o integralista como totalitário sem analisar sua visão de
democracia.
Felipe Cazetta 23 aborda as influências de autores revisionistas do marxismo na evolução do
pensamento de Reale. Conforme o autor na assimilação de leituras (Reale no início de carreira
acadêmica se declarara socialista), este pontua a influência de Rosseli que separava materialismo
histórico de socialismo liberal. Desse modo, Reale mesmo sendo um adepto do marxismo, negava e
automaticamente extraía deste certo socialismo liberal trazendo a moral como elemento indispensável
de seu pensamento integral. Num outro artigo muito importante, intitulado Da “Grécia Antiga” ao
estado Integral: Propostas Políticas e o Respaldo “Histórico” Construído por Miguel Reale24, Cazetta
analisa a formação democrática na Grécia e Roma, historiando a dissolução do poder central sob a
hierarquia da Igreja, rumo à síntese do Estado integral. É uma excelente análise, já que trata da análise
da estruturação do estado, seguido da concepção histórica de Reale, seguida de sua opção pelas
corporações em detrimento dos partidos políticos.
Boa contribuição é a de Gustavo César Machado Cabral, especialista em história do direito. Em
A Política no jovem Miguel Reale, o teórico do Integralismo, Gustavo César explicita o pensamento
político de Miguel Reale, Gustavo César elabora uma análise muito coesa sobre pontos cruciais do
pensamento de Reale. Temas como a crítica a democracia liberal (demoliberalismo), que foi a base da
crítica do integralista, e seus diversos produtos, como a formação dos partidos são analisados pelo
autor. A solução para os inúmeros problemas da democracia liberal seria um estado corporativista,
onde a representação se desse a partir dos sindicatos, onde cada indivíduo formaria a totalidade
(lembramos que o Integralismo ‘Soma’, a soma da vontades particulares), contribuindo com sua
capacidade individual. Passagens como essa demonstram a boa leitura do artigo
23 CAZETTA, Felipe. Trajetória intelectual do integralista Miguel Reale: do socialista liberal até a crítica ao liberalismo e
ao socialismo. Revista de Teoria da História Ano 5, Número 10, dez/2013. 24 CAZETTA, Felipe. Da “Grécia Antiga” ao estado Integral: Propostas Políticas e o Respaldo “Histórico” Construído por
Miguel Reale. Mediações, Londrina, V.19, N.1, Jan/Jun, P. 102-118.
12
Dessa forma, o Estado nem seria um meio, como pretendem os liberais, e tampouco seria
um fim, como queriam os socialistas, mas um fim e um meio: “Fim, porque age como
agiria a sociedade toda se tivesse consciência própria, e não apenas segundo a resultante
mecânica das vontades individuais; meio, porque é através dele que o homem consegue
atuar as forças que tem em potencialidade. 25
Paxton em Anatomia do Fascismo aponta a complexidade do maior movimento político do
século XIX, que sem uma razão abstrata que o fundamentasse teve com principal característica a
capacidade de mobilizar as massas. Sem uma causa coerente que pudesse dá identidade ao fascismo,
este não possuía um corpo teórico, foi construído ao sabor das necessidades políticas, peculiares a cada
país. Entre regime e movimento, o autor mostra problemas como à falta de uma classe homogênea,
com ideais e as promessas prometidas pelo regime que logo foram abandonadas, denotando a
instrumentalização de um conceito genérico. O que se denomina de fascismo (para uma melhor
compreensão, um corpo teórico de ideias fascistas), fugiu aos diversos “ismos”, tratava-se de uma
mera conceituação genérica que só dificultava a análise do movimento. Diferente do liberalismo ou do
comunismo, o regime criado por Mussolini não contou com um livro de doutrina fazendo com que
seus seguidores recorressem a este em momento das práticas fascistas, como fizeram liberais e
marxistas, “A preparação intelectual e cultural pode ter tornado possível imaginar o fascismo, mas ela
não o causou. Mesmo para Sternhell, a ideologia fascista, que, segundo ele, já havia atingido sua forma
plena em 1912, não foi o único fator na formação desses regimes. Foi por meio de escolhas e atos que
os regimes fascistas foram incorporados às sociedades”. 26
Podemos a partir das análises de Paxton verificar a agitação de ideias da década de 1930, donde
a existência de diversas alternativas políticas sem insistirmos numa coerência interna (fascista) com
particularidades de um fascismo genérico, ainda que saibamos que no Brasil sempre existiu um
pensamento conservador. Mas, este olhar gera um determinismo histórico que invalida o próprio
objeto, no caso, a discussão sobre a democracia no Brasil. Este olhar dificulta a apreensão de nosso
objeto, porque parte do pré-conceito, por exemplo, de um escritor que defendia a chegada da melhor
alternativa política, no caso, o Regime Integral (forte, disciplinado, moral), sem ideologia, o que é um
25 CABRAL, Gustavo César Machado. A Política no jovem Miguel Reale, o teórico do Integralismo, Gustavo César
explicita o pensamento político de Miguel Reale. Revista da Faculdade de Direito – UFPR, Curitiba, vol. 59, n. 3, p. 85-
108, 2014. p. 98 26 PAXTON, Robert O. A Anatomia do Fascismo. Trad. Patrícia Zimbres e Paula Zimbres. São Paulo: Paz e Terra, 2007.
13
caro prejuízo do ponto de vista da pesquisa histórica, pois todos os temas levantados por Reale são
inúmeros e extremamente amplos, pois o escritor se espreitou com questões que ia tanto do
revisionismo marxista como do liberalismo clássico de Smith e Ricardo. Para além de uma análise
maniqueísta (o que prevalece na historiografia), buscamos analisar a visão integralista de Miguel
Reale, donde sua crítica ao liberalismo, ao marxismo, ao capitalismo, etc, e o ponto principal (de
partida), de toda sua crítica, que é seu combate a democracia liberal, apenas solucionada com a
formação do estado integral.
As análises historiográficas esboçam o caráter de um pensamento fascista em formação,
conferindo e dando consistência ao abrigo da ideologia nacionalista, em função da geração de
escritores como Azevedo Amaral, Francisco Campos, Oliveira Viana, Alceu Amoro Lima,
responsáveis pela formação de um pensamento autoritário. Tais análises são prejudicadas porque
partem de um imaginário já fixado, restando apenas apreender o movimento integralista como mero
produto do tenso momento histórico, dificultando a investigação das peculiaridades brasileiras,
impossibilitando assim o conhecimento deste importante teórico do estado nacional brasileiro.
Antes de tudo é preciso entender o que o escritor concebia por democracia, pois o liberalismo e
o marxismo tornavam impossível a verdadeira liberdade humana. Antes de reduzir a farta produção do
escritor a pecha de fascista, é indispensável entender porque em sua obra o liberalismo, assim como o
marxismo (os clássicos escritores contratualistas, Rousseau, Hobbes, Locke, Hegel, Kant), são
tenazmente combatida. Reale é simpatizante de regimes democráticos somente possíveis nos Estados
fortes, donde suas análises de um Brasil integralista sob a totalidade da democracia orgânica. Trata-se
de um pensador funcionalista, com um modelo de pensamento por demais esquemático, donde a
harmonia de todos os elementos, fosse no plano ético, econômico, cultural, religioso, racial, etc. O
autor defende o integralismo antes de tudo por ser este um movimento nacionalista, que indo ao
encontro da nação (o estado integral era o encontro com a sociedade), não permitia qualquer
antagonismo entre as partes.
Miguel Reale é um teórico do Estado, que pensa uma organização sócio-política capaz de gerar
a “verdadeira” democracia, daí seu combate ao liberalismo (demo-liberalismo), ao marxismo, ao
capitalismo, somente possível possíveis em razão do pensamento natural (direito), que nunca
14
questionou a tutela do Estado, fazendo deste uma espécie maquiavélica, donde suas análises no plano
político sobre soberania e vontade geral; no plano econômico sobre os males provocados pela não
intervenção do Estado na economia, sem moral; e no plano filosófico, o importante tema da liberdade
humana, da moral e da gnosiologia. O Estado não se faz de forma contratual, conforme ideologia do
pensamento clássico, tributário do naturalismo clássico desde os tempos de Platão e Aristóteles, este é
um produto da ação dialética sociedade e estado, tendo sua razão de ser pela verdadeira democracia,
que põe em prática o poder do povo para o povo. A principal crítica de Miguel Reale integralista é sua
crítica à democracia liberal (em sua maturidade intelectual após sua militância veio a se mostrar
simpatizante do regime liberal), razão de sua investigação na formação dos modelos de estado liberal
de Grécia e Roma, combatendo uma democracia de uma minoria.
Transcendendo a análise tipológica de Wanderley Guilherme dos Santos, onde este elabora
uma verdadeira tipologia epistemológica do pensamento sociológico brasileiro (matriz institucional,
matriz sociológica, matriz ideológica), trazemos o momento em que surge o pensamento de Miguel
Reale, “Entre 1930 e 1939 produzem-se no Brasil as mais argutas análises sobre o processo político
nacional, elaboram-se as principais hipóteses sobre a formação e o funcionamento do sistema social, e
articula-se o conjunto de questões que, em verdade, permanecerão até hoje como o núcleo
fundamental, embora não exaustivo, de problemas a serem resolvidos teórica e praticamente”. 27
Análise significativa é a de Bolívar Lamounier combatendo a existência de um “pensamento
autoritário” vigente na Primeira República por parte de alguns ensaístas brasileiros como Francisco
Campos, Oliveira Lima, Azevedo Amaral (autores lidos e por vezes citados nos textos de Reale),
quando da formação de reflexões ilógicas, observadas sob o plano exterior, problema clássico da
história das ideias e da historiografia brasileira. Para além da proposta problematizada por Lamounier
na crítica ao pensamento esquemático de seus respectivos autores, estamos preocupados com a
concepção de Miguel Reale enquanto importante integralista, intérprete significativo e um importante
teórico do Estado brasileiro.
27 SANTOS, Wanderley Guilherme dos. Ordem burguesa e liberalismo. São Paulo: Duas Cidades, 1978. p. 37
15
Inúmeros são os artigos acadêmicos que tratam sobre as particularidades do pensamento de
Reale. José Maurício de Carvalho em artigo faz uma breve análise sobre o tema da liberdade (sobre
Reale o autor afirma ser este adepto de uma versão social do liberalismo), mostrando a influência de
Ortega y Gasset, por sua vez influenciados por Husserl. Sobre o integralismo escreve que
A teoria política integralista, na forma sistematizada por Miguel Reale, reunia os grupos
constituintes da sociedade: eliminando a separação absoluta entre indivíduo e Estado,
distinguindo socialização de estatização, fazendo do Estado o mediador das classes e dos
interesses grupais e, finalmente, permitindo o exercício da liberdade pessoal assegurada a
justiça social. A síntese resumida anteriormente revela que Miguel Reale entendia que o
sistema político integral herdava do kantismo o propósito de uma vida social pautada na
ética e liberdade, mas sem prescindir dos limites e força do Estado para coibir os excessos
nascidos do egoísmo humano. 28
Ainda que se trate sobre a questão da liberdade, não há como separar esta de sua forma ampla
de pensar, preocupada em garantir a realização moral e ética frente um Estado que viabilize a
capacidade individual, “o desafio de um projeto desta envergadura precisa considerar o fracasso das
tentativas de aproximação dos problemas existenciais e com o marxismo, como pretendeu fazer Jean
Paul Sartre. Fracasso que se explica pela impossibilidade de justapor o materialismo histórico com as
instâncias pessoais de liberdade como Sartre pretendeu solucionar a questão” 29
As limitadas interpretações pela historiografia só aumentam quando sabemos da falta de
unidade de um pensamento integralista, somadas a análise sobre um pensador fascista, reduzindo e
partindo de elementos já predefinidos. Para compreender o posicionamento de Miguel Reale
integralista é imprescindível conhecer sua Teoria Tridimensional do Direito.
O Estado Forte de Gustavo Barroso
O Estado forte e integral, representando ‘Soma’ realiza a sociedade sonhada por Barroso, como
está na contramão do comunismo (‘criação judaica’) que “tira proveito da luta de classes”, aumentando
28 CARVALHO, José Maurício de. Miguel Reale, do integralismo ao liberalismo social, a defesa da liberdade. p.4 29 Ibidem. p.6
16
a “exploração do homem pelo homem”. Imoralidade, interesses partidários, escravização do homem,
práticas corruptas, ceticismo e ateísmo, mercantilização de tudo, todo este estado de coisas somente é
possível devido à filosofia liberal, caduca e burguesa do ‘materialismo judaico’, de visão unilateral,
como afirma o escritor cearense. O passado brasileiro e a conjuntura do momento não eram nada
favoráveis, razão para o surgimento de um amplo movimento regenerador que buscava elementos do
passado (visando a ‘identidade nacional’), na formação de um novo Brasil. Eis uma síntese da leitura
de Barroso
Para a realização de tão grande obra política, econômica e social, o Integralismo tem de
combater sem tréguas e sem piedade toda a repelente imoralidade do atual regime de
fraudes, enganos, corrupção e promessas vãs, bem como todo o materialismo dissolvente da
barbárie comunista que alguns loucos apontam como salvação para o nosso país. O atual
regime pseudo liberal e pseudo democrático é um espelho da decadência a que chegou o
liberalismo, que procurou dividir a Nação com regionalismos e separatismos estreitos,
implantando ódios entre irmãos, atirado as trincheiras da guerra civil; com partidos
políticos transitórios que sobrepõem as ambições pessoais aos mais altos interesses da
Pátria e pescam votos, favorecendo os eleitores com um imediatismo inconsciente, em que
tudo concedem ou vendem, contanto que atinjam as posições 30
Não era sem sentido a exaustiva crítica ao marxismo como uma verdadeira ‘ideologia do mal’,
afinal de contas à mensagem de Marx se mostrava a causa de todos os males, presente em ações em
que judeus eram acusados de participação, que ia de saques a atentados terroristas. Responsáveis
por concussões, roubos de documentos, raptos e envenenamentos covardes, Barroso citava nomes e
mais nomes que mais pareciam criminosos manchando o pensamento de Marx. A imagem trágica
sobre a figura do judeu não parava de crescer. Na Alemanha, uma grande rede de espionagem era
formada por judeus, solidificando a ideia do mal sobre o comunismo. Em 1935, aconteceu o
atentado a famosa Catedral de Sofia, somava-se a este acontecimento a inundação de dinheiro em
Chicago e o rapto e assassinato do general russo branco Kutiepof. Como se não bastasse, Barroso
anotava o caso das Astúrias onde casas de judeus foram invadidas e nessas foram encontradas
dinamites e material de propaganda revolucionária em hebraico. Planejando instaurar o
bolchevismo na Espanha, concluía
30 BARROSO, Gustavo. O Que o Integralista deve Saber. Op. Cit. p. 14
17
Eis aí o formidável estado maior do terror! Nas garras destes tigres judaicos e de sangue,
cheios de ódios satânicos, sedentos de pilhagem e de sangue, os políticos corruptos e sem
entranhas entregaram a infeliz Espanha. Miseráveis, verdadeiros judeus artificiais, maçons
infames, que se tornaram instrumentos da Internacional Anti-Cristã contra uma terra
tradicionalmente católica! 31
Este cenário do ‘mal’ levava Barroso a afirmar que o “inimigo número um da humanidade é o
judaísmo internacional”. Como sabemos, após a Revolução Russa, as elites brasileiras alardearam
o terror da ‘onda vermelha’, o ‘perigo vermelho’, ‘encarnação do diabo’, cuja responsabilidade
recaía sobre o judeu, identificado por meio do ‘Capitalismo Internacional’, do liberalismo e do
comunismo. Tratava-se nas palavras de Barroso da “guerra da Rússia judaica contra o mundo
cristão, guerra de Moscovo contra Roma”. Criando uma verdadeira batalha contra as ‘forças do
mal’, setores da direita, na qual Barroso se afinava, a esperança da mensagem de Marx foi vista
como a grande ameaça, se transformando num excelente argumento para os problemas do país.
Mas, a esperança de novos tempos por parte de um Estado que reconhecesse direitos da sociedade
em geral, confundia-se a todo o momento com os ‘problemas nacionais’. No fundo, setores da elite
sentiam-se prejudicados com as reformas realizadas pelo Estado, apenas reforçando o medo
comunista, que para Barroso, era fruto da liberal democracia, ‘criação judaica’. A violência do
Estado, suprimindo antigos privilégios de setores bem estabelecidos fez um homem como
Chateaubriand declarar que o país poderia ser invadido, uma ampla literatura comunista
estabeleceu-se no país.
O caráter combativo, de intervenção política com objetivos propagandísticos foi uma
constante na trajetória da literatura anticomunista brasileira. Mesmo quando os livros
falavam de outros países, seja a URSS, a China ou os países da “cortina de ferro”, havia
sempre a intenção explícita de intervir no debate político brasileiro. Ao longo de várias
décadas tais obras foram produzidas e dedicadas a mostrar aos brasileiros os “equívocos e
perigos” do comunismo, na esperança de atrapalhar os esforços do proselitismo do Partido
Comunista. Algumas vezes, os autores dedicavam-se à sociedade como um todo e, em
outras ocasiões, a grupos específicos como estudantes, fiéis católicos, militares e operários 32
31 BARROSO, Gustavo. Judaísmo, Maçonaria e Comunismo. Op. Cit. pp. 37-38 32 MOTTA, Rodrigo Sá. Em guarda Contra o “Perigo Vermelho”: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo:
Perspectiva; FAPESP, 2002.
18
Foi nessa conjuntura de incertezas, de descrença com as democracias liberais, por um lado e
da chegada ao poder do comunismo, de outro, somadas aos inúmeros problemas brasileiros de uma
República Velha que a voz de Barroso se levanta. Gustavo Barroso é um autor extremamente
antidemocrata, é descrente da soberania nacional pela via liberal dos partidos políticos, em sua
ótica, reduto de interesses de pequenos grupos, por isso sua defesa de um Estado totalitário,
hierárquico, onde as classes ocupem seus lugares já estabelecidos. A filosofia espiritual integral
rege o complexo corpo social trazendo ao homem a possibilidade da real democracia. Assim, no
mundo hierárquico proposto por Barroso à família possui papel de fundamental importância,
juntamente com as corporações, que substituem os partidos, que nada resolvem, apenas
demonstram a corrupção de um país dividido e dominado por interesses dos grupos regionais em
detrimento do verdadeiro interesse nacional.
Não vamos adentrar a discussão historiográfica acerca do integralismo, dada à existência de
uma pluralidade de estudos acerca da temática, de modo especifico, do surgimento do “primeiro
movimento de massas no Brasil” até estudos recentes bem específicos, como por exemplo,
trabalhos como os de Ana Drietch (temática primeiramente abordada por Rene Geertz) quebrando
com a ideia de que em determinadas localidades do sul do Brasil (colonizadas por alemães), onde o
integralismo floresceu, o nacional socialismo fora bem assimilado em função de um maior número
de alemães. Na conjuntura social, política e econômica que se apresentava o antissemitismo de
Barroso deve ser analisado como um projeto político que na época foi muito influente, em razão do
tenso quadro político do momento. 33
No complexo panorama da década de 1930, o maior perigo voltava-se contra as ‘forças do
mal’. A exacerbação da ameaça comunista (o Plano Cohen deixa fora de dúvida à estratégia de
figuras ligadas ao governo Vargas), só reforçava a fala antissemita de Barroso, de um judeu que
destruía as sociedades, que não tinha pátria e que por essa razão não se preocupava com os
problemas do país onde se encontrava, tendo como maior objetivo a obtenção de dinheiro. Esse
33 SILVA, Giselda Brito. Estudos do integralismo no Brasil. Porto Alegre: EDIPUCRS. 2º Ed. Ed. da UFRPE, 2007.
19
cenário inquietou militantes integralistas, modernistas e homens de direita e de esquerda, como
Plínio Salgado e Miguel Reale. Se é fora de dúvida o antissemitismo declarado de Barroso, apesar
deste ser um tema que menos aparecia nas discussões da AIB, conforme Hélgio Trindade, deve-se
compreender os porquês do combate a uma verdadeira ‘filosofia do mal’, de um sujeito incapaz de
criar qualquer forma de organização social, tamanha era sua malevolência. A admiração de Barroso
aos regimes de Hitler e Mussolini se dá apenas porque estes, como já mencionamos, são antes de
tudo ‘movimentos espirituais’, que embora tenha uma série de causas, possui como inimigo
principal a figura do judeu. Estes eram ‘regimes fortes’ que trariam a harmonia do mundo, onde não
presenciaríamos a ‘exploração do homem pelo homem’, onde não existiria um pequeno grupo de
pessoas dona dos bens do país (os recursos naturais, como por exemplo, a água, a luz e os
transportes), onde não existiria o ganho de uns em detrimento de outros, pois todos os interesses
convergiriam para o interesse maior, que era o interesse nacional, “não há remédio, no Estado
Liberal Democrático, para curar as chagas produzidas por esses vampiros dos povos, nem para
afugentá-los ou acabá-los. Daí o seu combate ao fascismo, aos regimes em que não poderão mais,
pela força das coisas, exercer sua pirataria”34.
Nazismo e Fascismo significavam para Barroso regimes de ‘renovação espiritual’ que
deteriam as forças destruidoras do ‘materialismo judaico’, segundo ele produto ou filho direto do
pensamento liberal, causador do ‘individualismo dissolvente’, que explicava a escravização cada
vez mais do homem pelo homem. Tudo se devia ao judeu! Num tenso momento da política
brasileira, com práticas que só interessavam a chefes locais, Barroso ao menos em tese, fazia a
diferença entre ‘Totalitarismo’ e ‘Totalidade’, ofuscando a possibilidade de ser visto como um
homem fascista, defensor de um regime que pregava a violência como estratégia política. Apesar de
enaltecer tanto o Nazismo como o Fascismo, diversas vezes o camisa verde tratou de ressaltar que o
integralismo não era o fascismo, tinha apenas “pontos de contato”. Barroso reportava a Suma
Teológica para escrever passagens como essa, “Nazismo, Fascismo e Integralismo são cidades
34 BARROSO, Gustavo. O Espírito do Século XX. Op. Cit. 105
20
diferentes, diversas repúblicas. Todos querem, organizando os respectivos nacionalismos, vencer a
anarquia, como diz o sr. Armando, mas cada um tem sua doutrina própria e obedece a realidades
humanas diferentes, que só os ignorantes ou os de má fé negam ou escondem”.35 Barroso
seguramente se colocava dessa forma para nublar sua postura claramente racista, por meio de seu
extremo nacionalismo o escritor escondia seu racismo, postura bem lembrada por Carlos Augusto
Nóbrega de Jesus. A devoção de Barroso ao regime de Mussolini era tamanha que é digno de
análise o esquema militar dos camisas verdes seguido pelo escritor, o farto ritual e a educação do
sujeito iniciante na organização paramilitar da AIB.
Barroso escreve com um toque de mágica argumentações que em tese são destituídas de
racismo, mas as palavras proferidas ao judeu fazem não fincar o olhar apenas de um lado. Da
malevolência provocada pelo judeu surge o antídoto contra a infecção ao corpo social de um ser
virulento que exige ‘carrapaticida’, essa era a forma como o escritor escrevia quando da agitação
comunista no Rio de Janeiro. O Nazismo e o Fascismo eram sempre tomados por Barroso
primeiramente por serem ‘Estados fortes’, assegurando que seu antissemitismo não tinha ligação
racial, era moral e religioso, reabilitando a postura de Plínio Salgado nesse tópico. Citava por vezes
a fala do idealizador e admirado mestre quando este dizia que ‘o problema do Brasil é ético e não
étnico’, mas quando tratou do ‘racismo alemão’ logo contextualizou este se embrenhando numa
visão fortemente maniqueísta que tinha o judeu como mal, exigindo assim sua eliminação.
Com problemas sérios acumulados e datados desde a formação do Brasil enquanto nação,
apenas reforçados ao longo de sua história, a conjuntura do país saído da República Velha com um
liberalismo ainda mais conservador, deve-se entender o apelo de Barroso num mundo que ele
lutava pela dignidade dos trabalhadores e pela moralidade na ampla arena política brasileira.
Buscava como integralista que era regenerar o Brasil nos mais variados campos, que iam da
mudança de governo até a leitura de escritores que contribuíram para a formação do ensino
brasileiro, dominado pela amoralidade deste e pela corrupção dos professores. É compreensível que
diante da força nefasta do judeu, Barroso lidere a verdadeira batalha integralista conquistando cada
vez mais milhares de adeptos. Negando tudo e todos, com uma espécie de turbilhão, a là Sílvio
35 BARROSO, Gustavo. A Sinagoga Paulista. Op. Cit. p. 168
21
Romero, sua militância política deu sentido à crença de jovens convictos na criação de um Brasil a
partir dos modelos de um ‘Estado forte’, arrebatando intelectuais sem se aterem as divergências do
próprio movimento, o que rendeu uma verdadeira batalha historiográfica e acaloradas análises, que
bem nos fala Antonio Candido,
na minha geração o ingresso nas “hostes do sigma”, como diziam, não foi para muitos
rapazes adesão consciente a uma modalidade de fascismo, mas fruto de uma inquietação
honesta, embora quase sempre reacionária, nascida da revolta contra o império do
coronelismo atrasado e bilontra, mascarado de “imortais princípios de 89”. O integralismo
lhes parecia uma “solução nacional”, e muitos deles largaram o movimento assim que o seu
aspecto fascista se evidenciou ou se tornou insuportável 36
Barroso pensou um regime democrático onde o trabalhador ou o operário não continuasse a ser
explorado pelas ‘forças do capital’. Em seus textos vemos o autor falar em democracia, mas uma
‘democracia orgânica’, em seu ‘Estado social cristão’, esteada pela participação da Igreja na
política, razão para a crítica de toda e qualquer ideia liberal, que colocava em xeque qualquer
posicionamento que fosse de encontro à hierarquia natural desse modelo de sociedade. Para o
escritor liberalismo é sinônimo de ‘anarquia do número’, assim como comunismo significa a mera
inversão da ordem natural das coisas. Antes de encarar o antissemitismo de Barroso, é preciso
compreender as razões de seu projeto de Brasil, não esquecendo, pois de lembrar a fala de Carlos
de Jesus Nobrega quando afirma “que Gustavo Barroso utiliza um arsenal moralista e religioso para
ocultar a sua proposta de branqueamento e predomínio da raça branca tanto em termos culturais
como raciais”. 37 Devemos lembrar o temor de Barroso pela ditadura do comunismo, tão anunciada
e sua mensagem sentimental aos milhares de brasileiros, um convite ao trabalhador arregimentado
pelas graças de Deus, num verdadeiro movimento cristão (o integralismo na fala de Barroso era um
‘movimento cristão’), que exigia qualquer esforço do jovem brasileiro para subtrair o Brasil da
‘invasão do mal’ na construção do novo Brasil.
36 CANDIDO, Antonio. In: CHASIN, José. O Integralismo de Plínio Salgado. Op.Cit.p. 13 37 JESUS, Carlos Nóbrega de. Antissemitismo e nacionalismo, negacionismo e memória: revisão editora e as estratégias
da intolerância, 1987-2003, 1987-2003. São Paulo: UNESP, 2006.
22
As obras integralistas de Barroso se configuram como um combate a total destruição de uma
figura que é culpada pela situação do país, que o judeu. Já nos tempos de Judas, o ‘falso liberalismo
surgiu’, mostrando a malevolência do judeu, “todas as vilezas humanas, desde o beijo traidor dum
apóstolo até a negação apavorada de outro, nasceu a Liberal-Democracia nessa experiência que o
horror da responsabilidade fez, consultando o sufrágio universal”. A democracia é o ponto
nevrálgico para Barroso, por diversos fatores, mas percebemos que o fato desta ser encabeçada pelo
judeu merece todas as suas críticas. Grosso modo, a liberal democracia destrói o mundo harmônico
das sociedades cristãs regidas pelo principio de autoridade sob o ‘Trono e do Altar’. ‘Deus, Pátria e
Família’ são elementos centrais no discurso de Barroso.
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