estilo jardins
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Projeto Gráfico desenvolvido para a revista Estilo Jardins revista mensal distribuida gratuitamente no bairro dos jardinsTRANSCRIPT
PolíticaAdministrador regional
revela os segredos paragerenciar a região
Mino cartaUm dos maiores jornalistasdo país declara seu amor
pelo charme do bairro
Arte e SaborSílvio lancellotti traça o roteiroda culinária japoneSa no jardins
autoMóveisA avenida Europae suas lendárias epossantes máquinas
PassadoA história do bairro,das ruas de terra aoglamour dos dias atuais
stiloJardinsE
ano i | número 1 | novembro de 2009
Na entrevista que realizamos para este número inaugural da revista Estilo Jardins
com o último administrador regional do bairro, Nevoral Bucheroni, os “vallets” fo-
ram apontados como um dos grandes problemas do Jardins. É notório que os ser-
viços de manobra de veículos – convenhamos, simplesmente indispensáveis – via
de regra usurpam os espaços públicos como se particulares fossem. Mas não são
verdadeiramente privilegiados os moradores de uma região em que o disciplina-
mento de tal tipo de atividade desponta como prioridade administrativa? Isso não
significa que estejam imunes a todas as demais mazelas que afligem a população
paulistana em geral, se bem que em menor grau, mas é, sem dúvida, emblemático
– até pitoresco – ter tal tipo de preocupação na pauta.
Morador dos Jardins há mais de 25 anos, e editando publicações dirigidas a outros
públicos pelo mesmo período, minha equipe e eu decidimos enveredar por esta
nova seara. Queremos desvendar esse espaço tão especial, despertando novas
curiosidades sobre a região e, sobretudo, apresentando o muito que o bairro ofe-
rece de diferenciado. Procuraremos fazê-lo não só sob a perspectiva da investiga-
ção jornalística, mas principalmente através do depoimento de personalidades que
residem ou trabalham na região, ou mesmo de anônimos que, como eu, vêem o
Jardins não apenas como o local em que moram, mas sim como um estilo e uma
opção de vida.
Queremos proporcionar uma leitura convidativa e visual igualmente atraente. Des-
pretensiosamente, desenvolveremos cada uma das edições da Estilo Jardins para
que tenham longevidade, e sejam sempre de interesse para todos os moradores
das 50.000 residências que as receberão todos os meses. Informando e prestando
serviço, sempre com a qualidade esperada por quem mora na região.
Nosso bairro tem muitas histórias. E é hora de começar a contá-las.
Boa leitura!
O Editor
Número Um
edito
rial
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6 memória
10 entrevista
14 você sabia?
16 vivendo no jardins
22 gastronomia
26 consumo
30 ensaio
32 perfil
36 história em placas
38 achados
42 lembrança
48 cultura
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o corredor de concessionárias da avenida europa: um verdadeiro paraíso para os aficionados!
mino carta: o talentoso jornalista
é um dos mais ilustres moradores
do bairro.
À frente do rodeio, o maître francisco chagas recepciona
celebridades e acumula muitas histórias para contar.
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expedienteeditor responsável Paulo José F. Ferreira Chefe de redação ricardo rigotti [email protected] redação ana Paula camPos [email protected] assistente de redação matheus Paggi [email protected] depto. ComerCial roberto gomes (diretor) [email protected] denise ozello (supervisora) [email protected] Coordenador web Fábio martinez [email protected] assistente administrativa crislene henriques da silva santos fotografia hurPia comunicação ltda planejamento manuela bianchini, léa Jo-aquim atendimento a assinantes [email protected] manuseio rionavas s/c ltda. Consultoria herbert douglas (informática) suporte de informátiCa dalla inFormática revisão maria o. Wellington Colaboradores Fábio FuJita, sílvio lancellottijornalista responsável ana Paula camPos mtb 17.305estilo jardins é uma publicação da video Page comunicação ltda, com sede a rua álvaro anes, 46, conjunto 52 – são Paulo – capital – ceP 05421-010 – tel.: (11) 2478-7071 – Fax (11) 3815-4849 – cnPJ 05.480.654/0001-83 projeto gráfiCo e diagramação hurPia comunicação ltda impressão xxxxxxxx. esta publicação tem distribuição gratuita – venda Proibida.
Por uma versão paulistana de “bairro-jardim”
Chegar a uma definição satisfatória sobre os limites, ainda que imagi-
nários, que definiriam o bairro que conhecemos como Jardins é uma
missão complexa. A região espelha o fenômeno que, afinal, caracteriza
toda a geografia da cidade, do “bairro-que-come-e-é-comido-pelo-ou-
tro”: Pinheiros, que alcança Vila Madalena, que é extensão de Perdizes,
que vira Sumaré, que cola na Consolação, que chega aos Jardins... Via
de regra, assume-se a região tendo por base central o bairro do Jardim
Paulista, e daí suas cercanias: o Jardim Paulistano, o Jardim América
e o Jardim Europa, além de boa parte das Clínicas e da Bela Vista.
Determinados pontos desse grande coração de mãe que é o bairro dos
Jardins podem carregar, também, terceiras denominações, como Cer-
queira César, Morro dos Ingleses ou Vila Primavera.
Dentro dessa perspectiva atual, os Jardins assim se assumiram na vira-
da do século 19 para o 20. Mas o esboço de suas origens data do século
16, quando a região servia como uma via de passagem das entradas e
Conceito trazido ao Brasil por uma dupla de urbanistas britânicos foi a pedra de toque para o progresso da região e impôs, desde o princípio,
qualidade de vida e excelente infra-estrutura para seus moradores
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bandeiras (as expedições que desbravavam o território nacional) para o
Ibirapuera – como era conhecido o atual bairro de Santo Amaro. Com
o passar dos anos, a região passou a ser procurada e explorada por
grandes latifundiários, em busca de solos férteis para o desenvolvimen-
to agrícola. Até então, as melhores terras pertenciam a poucas e en-
dinheiradas famílias. Duas delas, a Pamplona e a Paim, lotearam uma
determinada extensão, batizando-a como Jardim Paulista, em fins do
século 19.
Em paralelo ao desenvolvimento dos Jardins, verificava-se também
uma interessante movimentação numa região vizinha, a partir da ini-
ciativa de dois alemães, Frederico Glette e Victor Nothmann. Em 1879,
a dupla havia adquirido outra generosa porção de terras, urbanizando-a
por meio de ruas espaçosas e alamedas arborizadas. Nasciam, ali, os
Campos Elíseos, bastante inspirados pelo par parisiense Champs-Ely-
sees. Foi um primeiro insight do desenho de bairro aristocrático, resi-
dencial e de alta renda, que seria estendido de forma natural na direção
dos Jardins, sobretudo com a idealização da Avenida Paulista, que se
tornaria a primeira via planejada da capital.
O local onde a avenida seria instalada era o Morro do Caaguaçu que,
geograficamente, representava o divisor de águas entre os rios Tietê
e Pinheiros. O aspecto aparentemente inóspito do lugar não enganou
Joaquim Eugênio de Lima, agrônomo uruguaio de grande talento em-
preendedor. Ele percebeu que o topo do morro, de quase 900 metros
de altitude, era o ponto mais alto da região, e as belas paisagens que
oferecia em função disso seria naturalmente um atrativo para futuros
investimentos residenciais e mesmo empresariais a serem executados
no lugar. Além disso, a cumeada do morro era larga e reta, o que esti-
mulou Joaquim Eugênio a vislumbrá-la como uma única via, com 2,5
mil metros de extensão, e 30 de largura. Ao lado de dois sócios, o
uruguaio arrebatou o terreno e definiu o projeto, que já previa um mo-
saico de ruas paralelas e transversais, a serem batizadas com nomes
de cidades interioranas: Ribeirão Preto, Rio Claro, Jundiaí, Santos, Itu,
Tietê, Lorena e outras. Inaugurada em 1891, a Avenida Paulista nasceu
sem casas, coberta de pedregulhos e com uma dupla linha de árvores
nas laterais, o que lhe conferia um aspecto idílico e arborizado. Uma
linha de bonde já a servia, o que não impedia a circulação de burros
e charretes, a ajudarem as pessoas na subida que dava acesso à nova
avenida. Uma área em sua parte central foi reservada para a abertura
de um parque ajardinado, que viria a ser o Siqueira Campos.
O nascimento da Avenida Paulista foi um marco, em vários sentidos.
Tanto que, apenas três anos após sua inauguração, Joaquim Eugênio
conseguiu aprovar algumas leis urbanísticas específicas para ela: cons-
truções tinham que obedecer a um afastamento de dez metros em
relação à rua, mais dois metros a serem decorados com jardins e ar-
voredos.
Foto: Abdo Abdala
Gradativamente, os imigrantes mais abastados passaram a abrir
mão de seus bairros de comunidade, como o Brás e o Bexiga,
marcados pela pobreza e por eventuais epidemias de doenças,
em prol daquela nova e atrativa região. Definiu-se, assim, um pilar
na geografia social da cidade, na medida em que a rota formada
por Campos Elíseos, Higienópolis e Avenida Paulista criou a base
para a efetivação de uma eclética burguesia, integrada por re-
presentantes das elites agrária e industrial, e que se juntavam às
ricas famílias paulistanas, como Matarazzo, Siciliano e Jafet.
Tanto a Avenida Paulista atraiu sobre si a fama de aglutinar o
novo-elitismo da cidade que o jornal O Estado de S.Paulo, em
sua edição de 6 de maio de 1894, encampava em suas páginas a
“denúncia” de uma prática que destoava das propostas originais
de Joaquim Eugênio:
“A Avenida Paulista, um dos pontos mais belos de nossa capital e
que sem dúvida constitui hoje um dos passeios mais procurados,
principalmente aos domingos, não tem tido a devida atenção do
poder público. Há tempos choveram reclamações à Municipali-
dade pela imprensa contra o fato de ali passarem boiadas com
direção ao Matadouro, com grande prejuízo da arborização que lá
se faz, reclamações essas que determinaram uma lei [...] baixada
com o fim de proibir esse abuso.”
Em 1912, outro marco decisivo que ajudaria a forjar o desenho
sócio-urbanístico da região se deu com o nascimento da City of
São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited,
que ficaria mais conhecida como Companhia City. A empresa
participou ativamente do desenvolvimento urbanístico da cidade,
a partir da aquisição de uma ampla área nas antigas Freguesia da
Consolação e Chácara Bela Veneza, então pouco atrativas por fi-
carem na várzea do Rio Pinheiros, inundada em boa parte de sua
extensão. O primeiro trabalho da City foi dar cabo num projeto
de implantar em São Paulo o conceito de bairro-jardim, bastante
difundido na Europa, que buscava conciliar um ambiente ao mes-
mo tempo campestre e urbano, respeitando as peculiaridades de
cada lugar. Para isso, a City contratou uma famosa dupla de urba-
nistas britânicos, Barry Parker e Raymond Unwin, que já haviam
feito algo similar num subúrbio londrino. Começava a nascer o
Jardim América, a partir do loteamento da área entre a Avenida
Paulista e atual Rua Estados Unidos. O projeto consistia em dar
ao bairro iniciático uma “auto-suficiência residencial”, no sentido
de cercá-lo com os comércios, serviços e infra-estrutura necessá-
rios: escolas, igrejas, áreas para práticas esportivas e culturais. As
residências seriam separadas por grandes jardins, no lugar dos
muros – e esse foi o único detalhe que não vingou.
A melhor marca do êxito da Companhia City foi a percepção vi-
sionária quanto ao alcance da publicidade. Investiu fortemente
nisso, a partir de divulgações em mídias diversas, como cinemas
e teatros, além de distribuição de panfletos. Vendia-se a ideia de
que, no novo bairro, era possível ter uma qualidade de vida típica
do campo, com o conforto de uma cidade moderna. Os lotea-
mentos na região se popularizam rapidamente, e o reflexo disso
foi um efeito dominó pelo entorno, alcançando a Avenida Paulista.
Em meados da década de 30, a City já atuava por ali, estimulan-
do decisivamente o progresso da região com venda facilitada de
terrenos, por meio de financiamentos de longo prazo.
O bem-sucedido projeto do Jardim América fez florescer um
efervescente mercado de loteamentos. O inovador bairro-jardim
serviu como influência decisiva para o crescimento de outra vi-
zinhança, e que também seria incorporada pelos Jardins: o Jar-
dim Paulistano. Mais próximo do atual bairro de Pinheiros – na
altura de onde se localiza, hoje, o Shopping Iguatemi, na Avenida
Brigadeiro Faria Lima – o Jardim Paulistano acompanhou o mo-
vimento de elitização da região, muito em função de sua locali-
zação geográfica estratégica: cravado entre o Jardim América e
o Jardim Europa. Sua urbanização começou nos anos 20, ainda
sob o nome de “Jardim Lydia”, numa iniciativa do engenheiro Luís
Santos Dumont, quando as terras saíram das mãos das históri-
cas famílias Melão e Matarazzo. Mas seriam nas duas décadas
seguintes que o bairro daria forma ao seu estilo nobre, com as
mesmas largas alamedas e casarões rococós, em meio a uma
paisagem de colorida vegetação.
Pela mesma época, a rua Augusta passou a se configurar num
movimentado pólo comercial. Contribuiu nesse sentido a efe-
tivação de uma linha de bonde em que nela se desembocava,
permitindo e estimulando um maior fluxo de pessoas. Em 1914
também havia sido oficializado o prolongamento da Augusta no
sentido Jardins, até a rua Estados Unidos, onde se desenvolveria
ao longo das décadas seguintes um forte comércio de boutiques
e lojas refinadas, depois disseminado por outras ruas do entorno,
notadamente a Oscar Freire. A fama de ser um termômetro da
moda e de tendências comportamentais e culturais – aglutinava-
se, ali, o melhor da programação dos cinemas, por exemplo – fez
com que, nos anos 60, a região passasse a assumir uma vocação
voltada, também, para o entretenimento, com a abertura de mui-
tas casas noturnas, boates e discotecas.
Com esse perfil ao mesmo tempo residencial, comercial e, a par-
tir das décadas recentes, corporativo, com a construção desen-
freada de imponentes arranha-céus, desencadeou-se na região o
problema dos engarrafamentos no trânsito. Ele seria relativamen-
te minimizado com a inauguração da Linha 2 (verde) do metrô,
no início da década de 90. A princípio contemplando apenas três
quilômetros de extensão, em quatro estações, a Linha 2, também
chamada de Linha Paulista, alcançaria no final de 2006 dez qui-
lômetros, quando o então governador Claudio Lembo finalizou a
décima e última estação, Chácara Klabin. Três delas – Consola-
ção, Trianon-Masp e Brigadeiro – servindo para contemplar toda
a extensão da Avenida Paulista, a melhor referência não apenas
dos Jardins, mas de toda a cidade.
Fontes consultadas:(vários autores). história da cidade de são paulo – vol.3. são paulo: paz e terra, 2004.rolniK, raquel. são paulo. são paulo: publifolha, 2001.toledo, roberto pompeu de. a capital da solidão. rio de janeiro: objetiva, 2003.ponciano, levino. são paulo 450 bairros. são paulo: senac são paulo, 2004.Website: pt.wikipedia.org
memó
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Qual a autonomia que uma subprefeitura possui sobre a região que administra?
A subprefeitura atua como se fosse uma prefeitura da região. Temos que cuidar da
limpeza, coibir o comércio ilegal de ambulantes, tapar os buracos das ruas. Nós fa-
zemos uma zeladoria do bairro e procuramos atender aos anseios da comunidade.
Então, a subprefeitura é a responsável por manter a região de acordo com o que a
população daquela área quer.
E como vocês tomam conhecimento dos anseios dos moradores?
Nós adotamos uma prática que se chama “Converse com a Subprefeitura”. Tra-
zemos as pessoas que moram nas regiões dos nossos quatro distritos, que são
Pinheiros, Alto de Pinheiros, Jardins e Itaim para conversar. Fazemos isso para sa-
ber o que a comunidade precisa, o que ela acha que é deficitário no nosso serviço
e também para receber críticas, que encaramos como críticas construtivas. Nós,
sozinhos, não temos condições de acompanhar o dia a dia de um bairro, e saber
tudo o que está acontecendo. Então, esta prática de convidar a comunidade e as
associações de bairros para virem até aqui, é justamente para planejarmos onde
vamos gastar nossas energias e saber o que está sendo mais problemático em
cada região.
o homem que cuidou do Jardins em 2009
Coronel da Reserva da Polícia Militar, Nevo-ral Bucheroni ocupou o cargo de subprefeito de Pinheiros , comandando o Jardins, um dos bairros mais tradicionais da cidade, durante boa parte de 2009. Em entrevista exclusiva,
Bucheroni fala sobre o prazer e os problemas de administrar a região, que ele considera um
verdadeiro oásis dentro da cidade.
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Qual a frequência desses encontros?
Uma vez por mês. Chamamos, sempre às quartas-feiras, os
moradores de um dos distritos para vir aqui, à noite, e nos
reunimos em nosso auditório para um bate-papo. E, mesmo
que a pessoa tenha um problema pontual, que seja especí-
fico dela, como um buraco na porta de casa, acho interes-
sante que ela fale. Não precisa vir aqui somente para falar
sobre assuntos de interesse geral. E tudo o que é solicitado,
procuramos atender. Mesmo que seja um problema da CET,
nós fazemos o contato com eles. É um problema de ilumina-
ção? Nós apoiamos e fazemos o contato com a Ilume, que
é outro departamento da prefeitura, e assim por diante. É
interessante conversar com a comunidade, e isso fez com
que eu, nos quatro meses que estou aqui, conseguisse ter
uma visão muito ampla de toda a área da subprefeitura. Fi-
camos sabendo de tudo, onde tem mais problema de lixo,
ambulantes, iluminação, assim por diante. Conversando com
a comunidade você tem rapidamente uma noção de tudo o
que acontece na região.
Na posição de administrador público, como você enxerga o
bairro do Jardins?
Acho que o Jardins, como o próprio nome diz, é um jardim
[risos]. É uma área que enaltece muito a cidade, é um cartão
de visita de São Paulo. A região traz pessoas de todos os
lugares, não apenas da cidade como de fora dela, até mesmo
de outros estados. Acho que é um lugar que enobrece São
Paulo e tem que ser muito bem preservado. É um oásis den-
tro da cidade. Porque é uma área muito bonita, possui um
comércio muito vasto. Acredito que seja uma das melhores
regiões de São Paulo.
Quais as principais dificuldades para administrar o bairro?
Entre toda a região que administramos, o Jardins não tem
grandes problemas. Ele tem situações normais, como limpe-
za, que temos tentado melhorar bastante. Mas mesmo neste
aspecto, o Jardins não tem problemas comuns a outros lo-
cais, como caçambas com entulho nas praças, por exemplo.
Temos um problema com a limpeza das ruas, com a coleta,
porque há um número muito grande de estabelecimentos
comerciais. E temos recebido muitas reclamações sobre a
atuação dos vallets na região. Eles deixam os carros para-
dos em fila dupla, estacionam os veículos em local público,
mesmo cobrando da pessoa. Às vezes andam na contramão
ou em alta velocidade, ou deixam os carros estacionados
em guia rebaixada, e se a pessoa precisa sair de casa às
duas da manhã, o que acontece normalmente por um motivo
urgente, ela não pode, porque o vallet acha que depois da
meia-noite ninguém sai de casa. Então, temos conversado
com os restaurantes, feito algumas reuniões e pedido para,
dentro do possível, que se regularize cada vez mais a atu-
ação deles. Temos focado muito, também, o problema de
acessibilidade, não apenas dos estabelecimentos, mas das
calçadas. Temos o projeto de refazer as calçadas de algumas
ruas da região, aliás, não não apenas do Jardins, mas de
toda a cidade, como foi feito na Oscar Freire, por exemplo.
Este projeto já está acontecendo. Agora está sendo licitada
a Alameda Santos, uma parte da Pamplona e o término da
Teodoro Sampaio. E vamos também refazer as calçadas de
toda a frente do Hospital das Clínicas. Isso é algo que estou
falando em primeira mão para vocês.
E a presença de ambulantes na região?
Percebemos, nos últimos meses, um acúmulo de ambulantes
na região do Jardins, mas temos fiscalizado bastante. Como
muita gente circula pelo bairro, isso incentiva o comércio
ambulante. Estamos atentos a isso e tomando providencias
para intensificar nossas ações.
A saída para isso seria aumentar a fiscalização ou trabalhar
a conscientização dos moradores?
Tentamos sempre as duas coisas. Conversamos com as pes-
soas que vêm aqui, para tentar estimular a idéia de não com-
prarem o produto ilegal. Porque o ambulante, sem ter para
quem vender, muda de região. Parar de vender ele não vai,
mas mudará de região. A subprefeitura intensifica a fiscaliza-
ção, e os moradores precisam se conscientizar de que não
devem incentivar esse comércio. Mas o problema é que mui-
tas pessoas, trabalhadores, transitam pela região. Estamos
terminando o recadastramento de todos os ambulantes da
cidade. Aqueles que são legais serão mantidos, mas vamos
trabalhar de forma cada vez mais intensa em cima dos ile-
gais, para não deixar isso proliferar. Porque o ambulante não
tem apenas o problema de venda ilegal, mas traz algumas
coisas no seu bojo que podem complicar, inclusive no aspec-
to de segurança. Tem ambulante que vende bebida alcoólica,
e alguns nós sabemos que são traficantes. Isso acaba apro-
ximando o crime da região. Não que os ambulantes sejam
criminosos, mas sempre tem a maçã podre. Vamos fiscalizar
o máximo que pudermos.
Mas o fato da população do Jardins ter um bom nível eco-
nômico e cultural deve facilitar muito...
Sim, a população, não apenas do Jardins, mas dos nossos
quatro distritos, é de um nível elevado, tanto cultural como no
poder aquisitivo. É uma região elitizada, de um nível médio
para alto. Isso facilita tudo, as pessoas são mais conscientes.
Por outro lado, é uma população que exige muito. Mas ela
dá o seu quinhão e ajuda. É receptiva, ajuda a preservar e
comunica quando tem coisas erradas. É uma comunidade
que participa e é justamente isso que queremos: a atuação
da população.
entr
evis
ta12
Qual a importância do Jardins para a economia da cidade?
Eu não consigo dizer isso exatamente em números, mas sabemos
que ele gera muitos dividendos para a cidade, em todos os tipos de
segmentos da economia.
E culturalmente?
O Jardins tem uma cultura muito elevada, com teatros e cinemas, até
mesmo porque ele abrange a região da Paulista, que é muito forte
nesse aspecto. Há também bibliotecas, livrarias. E, em qualquer lugar
desses que você vá, está sempre lotado. É uma cultura que influencia
muito, e positivamente, a cidade de São Paulo.
Fazendo uma espécie de paralelo, então, podemos dizer que se cada
bairro de São Paulo fosse uma pessoa, o Jardins seria um formador
de opinião?
Com certeza. Concordo plenamente.
Há alguma peculiaridade no bairro que chama sua atenção?
O que eu poderia dizer é que o Jardins, apesar de ser extremamente
central dentro da cidade de São Paulo, é uma área que tem sempre
muitas pessoas caminhando, passeando, despreocupadas com vio-
lência. Isso é muito interessante, porque não necessariamente é gente
que está trabalhando no local, mas sim apenas andando pelo bairro.
São pessoas aposentadas ou que estão passeando no fim de semana.
Este comportamento das pessoas é algo que se destaca na região.
Porque você acha que isso acontece?
Porque é um lugar muito agradável, tem muita coisa para ser vista.
Quem não pode viajar no final de semana, não pode sair da cidade,
sabe que é muito gostoso passear no Jardins. E tudo o que você
quiser, você encontra lá. Quer comprar uma roupa, um sapato, co-
mer uma pizza? Lá tem. É uma região propícia para caminhar. É um
ambiente agradável, que transmite uma sensação de segurança, pois,
além de contar com a atuação da Polícia Militar e da Polícia Civil,
ainda tem a segurança particular dos estabelecimentos comerciais.
O local transmite uma sensação de segurança, é o que ouvimos das
pessoas que circulam na região. E isso é muito importante para a
qualidade de vida.
Administrar o Jardins foi um prazer ou um problema? Por quê?
Um grande prazer. Porque a comunidade, seja de residentes ou dos
proprietários de comércios na região, tenta sempre preservar o
local. É uma população ativa e participativa. Neste período em que
estive aqui, fiquei muito feliz com isso: não apenas no Jardins, mas
nos outros distritos, tem muita gente que participa. E o Jardins é
marcante por isso. As pessoas ligam, conversam pessoalmente,
mandam e-mails. Isto é fundamental. Se o poder público quiser fa-
zer sozinho, terá dificuldades; se a população quiser fazer sozinha,
terá dificuldades. Então, numa situação em que os dois conversam,
e pensando nas condições e nas obrigações do poder público, tudo
fica mais fácil.
Fabio Hurpia
. O Hospital das Clíni-
cas (HC), localizado na
avenida Doutor Enéas de
Carvalho Aguiar, é o maior
complexo hospitalar da
América Latina. Abriu em
1944, com o início das
operações de seu Instituto
Central (ICHC). Ocupa,
hoje, uma área total de
352 mil metros quadrados,
com cerca de 2,2 mil leitos
distribuídos por seis insti-
tutos especializados, dois
hospitais auxiliares, uma
divisão de reabilitação e
um hospital associado.
. Antes de ser batizada de Campinas,
a alameda paralela à rua Pamplona
tinha o nome outra cidade do interior
paulista: Amparo.
. A famosa Parada Gay, que inicia no vão livre
do Masp e desemboca na Praça Roosevelt, já é
um dos maiores eventos da cidade. Ao término
da edição 2008, por exemplo, a subprefeitura
de Pinheiros (que cobre a região do Jardins) re-
colheu 3,5 toneladas de lixo das ruas – o mes-
mo volume em fogos de artifício utilizados na
cerimônia de abertura dos Jogos Pan-america-
nos de 2007, no Rio de Janeiro.
Informações e curiosidades sobre o passado, o presente (e por que não, o futuro?) do bairro mais charmoso de São Paulo
. Em 1903, foi funda-da na Avenida Paulista o Instituto Pasteur, voltado para o desenvolvimento de pesquisas sobre a rai-va. Até hoje, a instituição é referência no assunto.
Você sabia?. Em 1906, foi inaugurado aquele que é
tido como o primeiro hospital particular
da cidade: o Sanatório Santa Catarina,
na Avenida Paulista.
você
sabi
a?14
. Desde 30 de maio de 2008, a Linha
Verde do metrô – que cruza boa parte
do bairro – é a única do sistema me-
troviário provida de sinal que permite o
uso de telefones celulares em algumas
estações e mesmo dentro dos trens.
. A famosa cadeia de cafeterias Starbucks
– muito mencionada na lite-ratura do escritor britânico Nicky
Hornby – teve a sua primeira loja no Brasil instalada no Jardins, mais precisamente
no Shopping Center 3 (esquina da Ave-nida Paulista com a Rua Augusta),
em outubro de 2007.
. O atual número de habitantes do Jardim Paulista, cerca de 90 mil, seria, em 1893, pouco
abaixo ao de toda a população de São Paulo, que girava em torno de 130 mil. Destes, apenas
60 mil eram brasileiros e 70 mil imigrantes (dos quais 45 mil italianos).
. No final do século 19, a cidade de São Paulo era dividida em apenas quatro regiões, conhecidas como “freguesias”. A
mais populosa era a de Santa Ifigênia, ocupada por cerca de 40 mil habitantes. Em seguida, vinha a freguesia do Brás,
com 32 mil moradores. A Sé aparecia em terceiro lugar, com 28 mil. Por fim, vinha a freguesia da Consolação – corres-
pondente a boa parte do que hoje é o Jardins – com 20,5 mil habitantes.
De Gênova à Bela Cintra
Bem antes do final da década de 70, quando optou por mudar-se para o bairro de onde não mais sairia, o Jardins, Mino Carta, idealizador da revista CartaCapital, já guardava uma profunda relação afetiva com a região. Ao longo da vida, ele residiu em várias partes da cidade, como no bairro do Morumbi, mas foi logo na infância que sua história com os Jardins começou. A família Carta, italianíssima, residiu naquele que foi o primeiro prédio residencial da Rua Padre João Manuel, de 13 an-dares, cujo perfil dos moradores ainda estava sendo forjado. “Tenho uma tese de que a burguesia não existe: o que há são ricos e pobres”, explica Mino, colocando em perspectiva a difundida ideia de que aque-la área do bairro tenha sido o berço do que chamamos de “burguesia paulistana”. Ele lembra que as duas classes sociais circulavam por ali, ainda que com ligeira predominância de famílias mais abastadas. Italiano de Gênova, gosta de dizer que é mais brasileiro do que os que aqui nasceram, já que estes não tiveram escolha – enquanto ele adotou o Brasil por opção. Ninguém tem certeza quanto à sua idade, mas as correntes mais verossímeis afirmam ser 76 anos.
Ao fazer um exercício de memória do bairro, Mino Carta parece su-cumbir ao inevitável romantismo dos tempos idos. Isso pouco tem a ver com um suposto saudosismo nostálgico, configurando-se muito mais numa metáfora das próprias transformações nas relações huma-
Mino Carta, lendário jornalista-fundador da revista CartaCapital, orgulha o Jardins como um de seus
moradores mais ilustres, batizando até sabor de pizza
Fábio Fujita
vive
ndo
no Ja
rdin
s16
“...Todos nós usávamos fraque, paletó, gravata. Não só para os bailes, mas até para assistir a uma sessão de cinema ...
nas e sociais vistas no decorrer dos anos. Pois em sua fase de calças curtas, Mino Carta saía de casa com a bola de capotão debaixo do braço para jogar pelada na rua, nos amplos espaços de terra desa-bitados, pelas cercanias da Padre João Manuel – hoje naturalmente ocupados por arranha-céus e outros empreendimentos próprios da rea lidade cosmopolita contemporânea. Andava de bonde para ir ao colégio, onde conviveu com muitos coleguinhas judeus, predominan-tes ali. Na adolescência, foi um habitué das matinês e dos antigos bailes – atualmente, até a sonoridade da palavra já soa anacrônica. Gostava de levar as moças para dançar valsa no Clube Homs, da Ave-nida Paulista, uma prática que em nada lembra o conceito de “bala-da” da juventude atual. Ainda mais pela indumentária que se exigia. “Todos nós usávamos fraque, paletó, gravata. Não só para os bailes, mas até para assistir a uma sessão de cinema”, recorda. “Até mesmo chapéu a gente usava. É uma prática que se perdeu por completo. Infelizmente”, lamenta Mino, que se remói em urticárias quando, em um restaurante, se depara com algum conviva traindo os bons valores da elegância com o uso de bermudas.
Em definitivo, Mino Carta se instalou no Jardins em 1978. Construiu uma espécie de “casamento moderno” para a época, quando vivia num apartamento com os filhos do primeiro matrimônio, enquanto a esposa residia em outro, igualmente na companhia dos filhos de um casamento anterior. Ele e a mulher esperaram a prole crescer e, quan-do os rebentos “criaram asas”, os dois finalmente puderam juntar os travesseiros, indo morar no atual apartamento localizado na Rua Bela Cintra. Em agosto de 1994, Mino – hoje viúvo – fundou a revista políti-ca CartaCapital, cuja redação montou num prédio da Alameda Santos, bem próxima à sua residência, o que só aprofundou sua relação com o Jardins. Ele só não gosta muito de caminhar pelo bairro. E também não dirige: quem o faz é o motorista particular Polibio Alves Vieira, fiel escudeiro de Mino há cerca de 40 anos, por quem o jornalista nutre um especial carinho.
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Já em fase de desaceleração da atividade jornalística – anunciou o fim do blog que mantinha no site da revista, embora ainda seja bastante presente e atuante na redação – Mino Carta tenta otimizar como pode o seu tempo. Eventualmente, frequenta alguns pontos gastronô-micos clássicos do Jardins. É o caso da Margherita Pizzeria, da Alameda Tietê. “Não exata-mente pela pizza, que é uma iguaria que não me diz muita coisa. Mas pela grande amizade que tenho com o proprietário”, diz, referindo-se a Antonio Carlos Toledo. Eles se conhecem há mais de três décadas, de quando Mino começou a frequentar outro restaurante de Tole-do, o Óscar, na Oscar Freire, aberto em 1978 e vendido na década seguinte. No Óscar, Mino fez muitas reuniões para tratar da preparação do Jornal da República, periódico lançado em 1979 e que, apesar de vida curta (circulou por poucos meses), não deixou de ser um labo-ratório para o que, anos depois, viria a ser a CartaCapital. Toledo gosta tanto do jornalista que, no cardápio do Margherita, é possível ver entre as opções uma inusitada “Pizzamino”, cuja receita apresenta rodelas de tomate sem pele e manjericão basílico (em referência à origem genovesa de Mino). É a única pizza do menu que faz referência a uma pessoa espe-cífica, e a única de massa fina – uma preferência do homenageado. Mino também é cliente do Bistrô Charlô, na Barão de Capanema, e já foi bastante assíduo da churrascaria Rodeio, da Haddock Lobo. Mas, hoje em dia, tem evitado o consumo de carne vermelha, até em vista da saúde.
Sua aparência e carisma de vovô bonachão, no entanto, estão longe de significar ociosidade ou falta de atividades físicas. Um de seus hábitos mais regulares é a prática de tênis, que faz quase diariamente, em quadras diversas de clubes da capital. Gosta de jogar pela ma-nhã, antes de chegar à redação de CartaCapital. Para encarnar a versão Roger Federer da terceira idade, Mino sempre gostou de adquirir as roupas apropriadas num endereço da grife francesa Lacoste, próximo de sua casa. Por isso, ficou desolado quando descobriu, há pouco tempo, que a loja encerrou as atividades. O fechamento se deu por conta de uma estratégia de reposicionamento da marca no país. “Não gosto de demorar na hora de comprar e, lá, eu entrava e tinha tudo de que precisava”, recorda. A abertura de uma flagship-store (“loja-conceito”) da marca na Rua Oscar Freire não resolveu a lacuna, pelo contrário. “Entrei e saí sem levar nada”, frustrou-se, diante das tantas “bermudas esquisitas” que o balconista lhe apresentou. A bem da verdade, Mino não é exatamente um entusiasta do suposto glamour que dá fama à rua em questão.
Autor dos livros O Castelo de Âmbar e A Sombra do Silêncio, ambos protagonizados por seu personagem alterego, Mercúcio Parla, e com passagens pelos principais veículos de co-municação do país (como Jornal da Tarde, Veja, IstoÉ e Quatro Rodas), Mino, filho e pai de jornalistas, nunca pensou em trocar os Jardins por qualquer outro lugar. Espera continuar no bairro por todo o restante da vida, familiarizado que está com todas as suas alamedas, comércios e serviços. Ele só se incomoda mesmo com o caos do layout arquitetônico da área. “São muitos prédios desalinhados, casas desarmônicas, construções e empreendi-mentos que não seguem nenhum tipo de coerência visual”, lamenta. “Falta uma política de leis urbanísticas que dê conta disso”, postula. Esse tipo de contestação diz muito sobre o jor-nalismo que corre em suas veias: entre seus lemas favoritos, está aquele no qual se cobra um “exercício desabrido e constante do espírito crítico”. Mino é assim. Que bom que seja. O Jardins se orgulha de um seus mais ilustres rebentos – e um rebento por opção.
vive
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Fabio Hurpia
Pela sua delicadeza, pela sua sensibilidade, pela sua ternura,
cada vez mais os restaurantes de sushis e de sashimis encan-
tam os habitantes da cidade. Aliás, paulatinamente absorvem
um novo público, uma garantia do seu futuro. Os adolescentes,
os jovens dos dezesseis aos vinte e tantos anos de idade, atual-
mente marcam os seus encontros, digamos, sociais e alimen-
tares, em endereços do estilo. Obviamente, bem melhor do
que as baladas madrugatícias com os excessos absurdos do
álcool impunemente fornecido aos menores.
Tenho filhas no intervalo dos dezesseis ao vinte e tantos. E
quem me lê pode imaginar de quantas festas, digamos, de
quinze anos, ambas participaram nos últimos meses. Ao
menos, uma celebração a cada semana. Pai cuidadoso que
sou, faço questão de buscá-las. E, jornalista obrigatoriamen-
te curioso que sou, faço questão de examinar o ambiente em
que estiveram. Impressionante: em 99% das ocasiões em que
investiguei os espaços de aluguel, ou mesmo residências de fa-
mília, os sushis e os sashimis representaram os protagonistas
principais dos menus encomendados. No momento da recolha
dos rebentos, em casas ou em salões de festas, mãe e pai
deparam com as camionetas dos perpetradores de sushis e
de sashimis, inúmeros funcionários a desmontarem o palco
das suas ações.
É, virou moda, na turma de minhas filhas, o prazer dos temakis,
em particular aqueles opulentos, envoltos em cones de algas.
Se, nas décadas de 50 e de 60, o meu babbo italiano comprava
fartas redondas, para viagem, nas pizzarias do bairro, hoje eu
sou instado a adquirir os temakis.
Uma pesquisa com um punhado de alunos e de alunas de colé-
gios da região do Jardins, do Dante Alighieri à Escola Morumbi,
apontou os diletos da turma no quadrilátero que esta revista
cobre – e revelou, também, mais alguns lugares de suas re-
dondezas, devidamente especificados à parte. A lista engloba
os clássicos, também os meus diletos, que respeitam toda a
tradição das iguarias que o Japão conhece, desde os séculos
XVI e XVII. Mas, como nada na gastronomia é fixo ou definitivo,
pois ela é uma arte viva e em constante mutação, também
abriga os chamados modernos, os inventivos e os audaciosos,
os pregadores da fusion que, a partir das décadas de 80 e de
90, sob as influências dos norte-americanos, dos franceses,
dos indianos e dos tailandeses, incorporaram em suas fórmu-
las produtos como o cream cheese, a maionese, o curry e a
manga. Confesso, de público, que a ousadia não chega a me
incomodar. Magos dos sushis e dos sashimis sabem como pro-
vocar até o paladar de quem reverencia o molho de tomate, a
mozzarella e as alici.
Sílvio Lancellotti traça um roteiro com os melhores restaurantes que levam a arte e o sabor da culinária nipônica ao Jardins
os melhores sushis, sashimis e correlatos etcetera
do Jardins
Por Sílvio Lancellotti
gast
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AIZOMÊ
Al. Fernão Cardim, 39. Tel 3251-5157
Depois de se destacar no A1, o mestre Shinya Koike,
ou simplesmente Shin, proveniente de Tóquio, assumiu
este espaço compacto, mas elegante, com menos de
cinquenta lugares, em cujo balcão fascina os visitantes
que lhe encomendam relíquias com os siris empana-
dinhos e com as gemas de ovo. A Veja São Paulo o
agraciou com o prêmio de melhor da cidade em 2009.
IRORI
Al. Jaú, 487. Tel. 3285-1286
O sistema de rodízio ou de pedidos à la carte prevalece
neste recanto de já uma década de tradição, com diver-
sos ambientes nos quais é indispensável que se tirem
os sapatos. Destaque para as robatas, ou os espetinhos
na grelha, de legumes, de pescados e de carnes, feitos
bem à frente do cliente, num dos seus cinco salões.
Variedade, diversidade, fascinação, por preço honesto.
ORIGINAL SHUNDI
R. Dr. Mário Ferraz, 490. Tel. 3079-0736
Três décadas de brilho já transformaram Shundi Ko-
bayashi em um dos ícones da gastronomia oriental da
Paulicéia. Os seus menus de degustação, às vezes,
fulguram na escolha dos ingredientes, como as ovas
de arenque e os mariscos do Alasca – e, às vezes,
extrapolam no preço da oferta, que pode tangenciar
os quinhentos reais. Vale a visita de quem tem um
bolso cheio.
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Erick Hurpia
RANGETSU OF TOKYO
Av. Rebouças, 1.394. Tel. 3085-6915
Um clássico, originado na Flórida, EUA, pratica-
mente uma década de história e a possibilidade
de se desfrutar, em São Paulo, o celebrado, e
caríssimo, filé de boi de Kobe, que é cevado em
confinamento e massageado até o seu abatimen-
to. Do salão principal se pode ver um aprazível
jardim.
SHINTORI
Al. Campinas, 600. Tel. 3283-2455
O antigo Suntory, numa mansão edificada em 1975, absoluta-
mente em estrutura de toras de madeira, sem pregos e sem
parafusos, só com cavilhas de pau, como exige a história do
Japão. Nancy Saeky e Daniel Ueki assumiram o ponto em
2006 e preservaram a deslumbrante ambientação e o nobre
ritual do kaeseki ryoori, dos cinco sabores a se encomenda-
rem com antecedência.
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Erick Hurpia
SUSHI GUEN
Av. Brig. Luís Antônio, 2.367, ljs. 13 e 14. Tel 3289-5566
Inesgotável, aparentemente eterno, Mitsuaki Shimizu já diplomou uma infinidade de herdeiros no seu espaço discreto. Os nomes dos seus afilhados se espalham pela cidade. Ninguém, porém, compete com esse bravo resistente que, desde 1974, oferece um imbatível tirashi zushi de alga crocantezinha.
YABANY
R. Prof. Attilio Inoccenti,
53. Tel. 3078-7773
Por mais absurdo que pareça, é um capixa-ba, Agenilson Dantas Teles, o Gereka, o bravo responsável pela qualidade dos rolinhos empanados, ao estilo tempura, que alegram a clientela deste espaço majes-toso, oito metros de pé-direito. “Yabany” é uma expressão árabe, que significa, acredite, “japonês”.
JUN SAKAMOTOR. Lisboa, 55.
Tel. 3088-6019.
Numa palavra, genial. O me-
lhor oriental de todo o país.
KINOSHITAR. Jacques Felix, 405.
Tel. 3849-6940.
Tsuyoshi Murakami só per-
de, no departamento, para
Jun Sakamoto.
KOSUSHIR. Viradouro, 139.
Tel. 3167-7272.
Oferece um extraordinário
carpaccio de anchova fres-
quinha.
MORI SUSHIR. da Consolação, 3.610.
Tel. 3898-2977.
Tem um rodízio gostoso, com
celebridades no seu balcão.
NAGAR. Bandeira Paulista, 385.
Tel. 3167-6049.
Filhote do excelente Na-
gayama, leia o textículo logo
abaixo.
NAGAYAMAR. da Consolação, 3.397.
Tel. 3064-0110.
Dos seus diversos endere-
ços, este é o basilar, datado
de 1988.
NAKASA SUSHIR. da Consolação 3.147.
Tel. 3064-0970.
Sistema de rodízio, através de
uma esteira à frente dos visitantes.
TEMPURA TENAv. Brig. Luís Antônio, 2.050.
Tel. 9622-3582.
Numa pequena galeria, toda a arte
do velho mestre Masaomi Imai.
SUSHI HAMATYOR. Pedroso de Morais,
393.Tel. 3813-1586
De um casal jovial, simpaticíssimo,
Kiyoko (atendimento) e Ryiochi Yoshi-
da (na sua preparação), os sushis e
sashimis de resultados estupendos.
REDONDEZAS, A METROS DE DISTÂNCIA DO JARDINS
A se tomar a rua Augusta em seu nascedouro, entre a Con-
solação e a Nove de Julho, no centro, qualquer turista estran-
geiro, ou mesmo um paulistano desavisado, certamente não
fará boa impressão dela. Parte integrante da paisagem me-
tropolitana conhecida como “Centro Velho”, aquele trecho da
Augusta padece da tão propalada “revitalização”, sucumbida
que está em ancestrais problemas de criminalidade, caos
visual e engarrafamentos de trânsito.
No entanto, quem alcançar sua extremidade oposta, já na
região sul, poderá ser surpreendido por ares dignos de Pri-
meiro Mundo. Não exatamente por cafés de estilo parisiense
ou pela moda inspirada nas passarelas de Nova York. É que,
naquela altura em que, não por acaso, a Rua Augusta é reba-
tizada de Avenida Europa, concentra-se o que há de melhor
em automóveis de alto padrão, com diversas concessioná-
rias, boutiques e lojas das mais suntuosas grifes automoti-
vas. “Não se encontra em nenhum outro lugar na América
Latina uma avenida que concentra todas as grandes marcas
como aqui”, diz Maurício Bueno, gerente da loja da Jaguar.
Avenida Europa traz a nata das grifes automotivas, que inclui Ferrari, Jaguar e Maserati, num corredor de dois mil metros, 30 concessionárias e muito glamour
o corredor das
suPermáquinas
cons
umo26
suPermáquinasDe fato, trata-se de um “corredor” com cerca dois mil me-
tros de extensão que, para os loucos por carros, é um
verdadeiro colírio para os olhos. “Para os olhos” porque os
objetos de desejo em questão são definitivamente inaces-
síveis para a grande maioria dos mortais. Máquinas como
as italianas Ferrari e Maserati podem ter modelos que che-
gam a R$ 1 milhão. Zonda R, o carro esportivo mais caro
do país, é orçado na bagatela dos R$ 5 milhões.
Por isso, o intenso entra-e-sai das lojas não significa, ne-
cessariamente, altas vendas. E mesmo a presença recor-
rente de meros curiosos, invariavelmente com câmeras
em punho para registrar sua proximidade dos possantes,
não costuma ser mal-vista pelos funcionários. O fascínio
generalizado potencializa o fetiche – e isso é bem-vindo
para a marca. Bueno lembra que sábado é um dia que
muita gente tira para passear pela avenida, com o propó-
sito específico de se esbaldar nos showrooms. “Já em dia
de semana, os clientes que vêm geralmente estão mesmo
interessados numa aquisição”, explica. Outras marcas pre-
sentes na avenida são BMW, Land Rover, Mercedes-Benz,
Mitsubishi, Subaru, Audi e outras.
Para Bueno, a proximidade de tantas fabricantes é mais
benéfica, por atrair potenciais consumidores para um
mesmo lugar, do que maléfica, por, supostamente, acirrar
a concorrência. Via de regra, os clientes são fiéis às suas
marcas prediletas. A própria loja da Jaguar conta com a
vizinhança frontal da portentosa Porsche. E isso não é um
problema. “Cada uma tem seu estilo. Eu vendo sedan, eles
Fotos: Erick Hurpia e Divulgação
vendem esportivos. Então essa concorrência não atrapa-
lha”, garante Bueno, lembrando que sua loja vende, em
média, 20 carros por mês.
Engana-se quem pensa que um veículo desses é só “um
por vida”: há clientes que adquirem os carros com a fa-
cilidade de quem consome ternos. “Tem aquele que pre-
cisa comprar um carro para ele e para a esposa, e calha
de gostar do Jaguar. Então ele compra dois”. Ainda na
questão da fidelidade, há ainda os clientes que Bueno
classifica como “cativos”: que já estão em sua quarta ou
quinta troca de modelo. “São pessoas muito antenadas
com os lançamentos, que às vezes sabem até mais (so-
bre os carros) do que a gente”.
Na verdade, não são apenas os compradores que sabem
tudo das supermáquinas. Os próprios “paparazzi das vitri-
nes” muitas vezes surpreendem os funcionários das con-
cessionárias com conhecimentos técnicos bastante apro-
fundados, não se restringindo à mera contemplação dos
automóveis que sonham, um dia, ter na garagem de casa.
Tanto que, em junho, a Platinuss, que representa as grifes
Pagani, Spyker e Lotus, rendeu-se ao jovem Renato Viani,
dando-lhe um emprego. Frequentador habitué da Avenida
Europa, Viani foi aprofundando amizade com os vendedores
e gerentes, sempre conversando, discutindo e trocando in-
formações sobre os veículos. “Depois de um ano mantendo
essa rede de contatos, surgiu a oportunidade de trabalhar
para a Platinuss”, revela, explicando que, apesar de sempre
ter tido a ambição de trabalhar na área, não imaginava que
pudesse acontecer de forma tão prematura. Com apenas
19 anos, Viani, que sonha em ter uma Ferrari, estuda pu-
blicidade na faculdade Anhembi Morumbi e, na Platinuss,
passou a integrar o departamento de marketing. Para a em-
presa, não se trata de algo inédito: um colega de trabalho
de Viani, Leone Andreta, fora empregado nas mesmas cir-
cunstâncias.
Os saudosos da geração anos 60, que “viajaram” com Den-
nis Hooper e Peter Fonda sobre duas rodas rumo à New
Orleans no road movie de 1969, Sem Destino, também es-
tão representados na Avenida Europa. Naturalmente, por
meio da marca-fetiche dos motoqueiros, a secular Harley-
Davidson. Sua influência em todo o planeta não é fortuita:
durante a Segunda Guerra Mundial, o exército americano
chegou a encomendar à empresa a produção de um modelo
com motor de 750 cavalos, de modo a suportar a circulação
de soldados em terrenos acidentados, e com capacidade
para atingir 105 km/hora.
Mais importante do que disponibilizar modelos da marca
para os aventureiros paulistanos, a loja da Avenida Europa,
ali presente desde 1994, contribui não só para ratificar a
Harley-Davidson como fabricante de motos, mas para cul-
tuar um verdadeiro estilo de vida. Não é à toa que a loja
oferece toda a parafernália necessária para o figurino de
seus adeptos, no caso: jaquetas, capacetes, luvas, calças,
camisetas, relógios, cintos e fivelas. Além disso, a loja é um
conhecido pólo de eventos para confrarias de seguidores,
que incluem cafés-da-manhã, happy-hours e trilhas pela
cidade.
É verdade que os tempos de bonança já não são mais os
mesmos. Os últimos anos verificaram quedas gradativas
nos índices de vendagem das companhias, em muito ex-
plicadas pelo “fim da novidade” a partir da massificação de
marcas e modelos entre os importados. Se em 1998 a Fer-
rari, por exemplo, conseguiu negociar 44 de seus veículos,
cinco anos depois os números já evidenciavam o achata-
mento do nicho, com “apenas” 18 carros vendidos.
A recessão mundial contemporânea também não sinaliza para
uma mudança significativa do quadro, a médio ou longo prazo.
Ainda assim, o trabalho de captação de novos consumidores
não esmorece. No mundo mágico dos veículos dos sonhos,
muitas campanhas de divulgação se fazem necessárias para
gerar mídia e burburinho em torno de novos modelos e cole-
ções. A Jaguar realiza festas fechadas para apresentar suas
novidades – a última, para promover o modelo XS, avaliado
em R$ 367 mil, aconteceu no Clube São Paulo, em agosto do
ano passado. “Normalmente, a gente chama uma personalida-
de, que pode ou não ser do meio automobilístico, para atuar
como orador”, explica Maurício Bueno.
Os novos carros ficam estrategicamente cobertos durante
a maior parte do evento, para serem revelados, no final,
em meio a uma badalação de luzes, modelos curvilíneas e
champanhe. Os convidados, invariavelmente, são clientes
antigos, sobre quem as empresas depositam a condição de
“formadores de opinião”. “A gente incentiva esses clientes
que já são da marca a levar algum amigo ao evento. Porque
existe o glamour do lançamento, e isso acaba entusiasman-
do”, teoriza Bueno.
Assim, o leitor de Estilo Jardins já sabe: quando aqueles
seus amigos cheios de carrões na garagem te chamarem
para uma festa, não recuse. Quem sabe não será sua inicia-
ção para se tornar “um deles”?
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GrandiosidadeintimistaDo alto de arranhas-céus majestosos à uma antiga porta de rua, o Jardins possui uma arquitetura vibrante e um visual próprio, que o diferencia do resto da metrópole
Fotos por Abdo Abdala
ensa
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Fotos tiradas no heliponto do Edifício DaconAgradecimento ao Sr. Nilton Jorge Khedy
Entrada de residência localizada à Rua Padre João Manuel
Francisco Chagas
Erick Hurpia
PerF
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Francisco Chagas gosta de dizer que não é difícil entender como funciona seu
lema de vida. “Se você não sabe fazer, você não sabe mandar”, teoriza. Pois a
máxima resume à perfeição a trajetória desse simpaticíssimo cearense de São
Benedito, maître do Rodeio, a churrascaria mais tradicional do Jardins que, desde
1958, sacia os paladares carnívoros da cidade. Aos 51 anos de idade, Chagas é
o chefe dos maîtres ou, como prefere, “gerente operacional” da casa. Comanda
uma equipe de 110 pessoas, entre auxiliares de serviços gerais, copeiros, cozi-
nheiros, garçons e outros maîtres. “Sou responsável por todo o andamento do
serviço junto com a equipe: coordeno o salão, o setor de churrasco, o bar... Tudo”,
simplifica.
Ter chegado a um cargo de tamanha confiança no restaurante foi uma consequ-
ência natural para quem, como Chagas, aprendeu o ofício de etapa em etapa,
com a obstinação própria dos que encaram o trabalho como sinônimo de satisfa-
ção pessoal. Chegou a São Paulo ainda na juventude, e seu primeiro emprego foi
numa lanchonete. Gostou tanto de trabalhar na área de comida que teve a convic-
ção de que se daria bem com isso. Em 1985, procurou os recursos humanos do
Rodeio, ainda sob a batuta de Nestor Macedo – pai do atual proprietário, Roberto
– e saiu de lá com o emprego. “Comecei nos bastidores. Passei por couvert, bar,
cozinha... todos os setores”, recorda. É por isso que, hoje em dia, quando ordena
a um dos cozinheiros marinar melhor uma carne, ninguém chia. “Como é que
você vai orientar um garçom se você não foi um? Como é que você vai reclamar
de uma faxina mal-feita se você nunca fez? Ou reclamar de uma batata se você
nunca fritou?”, explica Chagas, que só deixou o Rodeio no período entre 1987 e
1991, para atuar no Don Curro, restaurante especializado em frutos do mar. “Que-
ria aprender outra coisa”, justifica. Aprendeu e voltou.
O mais antigo maître da famosa
churrascaria do Jardins começou como
copeiro, recepcionou Mike Tyson e põe
carisma cearense no cosmopolitismo
da casa
no comando do rodeio
Hoje, quem o vê recebendo gorjetas que às vezes chegam a R$ 100 pode até
acreditar que aquele homem simples está no emprego dos sonhos. Chagas,
no entanto, não se deslumbra com a atual condição de chefia, pelo contrário.
Vaidade alguma é abalada quando sua figura de maître é confundida com a de
um garçom, por exemplo. “Só me sinto ofendido se não tiver cliente. Aí sim!”,
atesta. Num ofício em que lidar diariamente com tipos ecléticos de pessoas re-
quer paciência e tato social, Chagas é escaldado quanto a clientes supostamen-
te broncos ou pouco amistosos. Para ele, não existe grosseria, mas exigência.
“Dentro do restaurante estamos preparados para entender o cliente do jeito que
ele é, qualquer que seja esse jeito”, garante. “Você não está vendendo produto
religioso, você trabalha num restaurante”.
Essa apurada sensibilidade para lidar com o público é apenas um dos talentos
que fazem de Chagas um profissional de tanta longevidade na casa. Sempre que
necessário, procura fazer cursos de aperfeiçoamento – é, inclusive, diplomado
como sommelier (especialista em vinhos). Chagas também se vira na língua
inglesa. Ele diz que o fato de o cardápio ser apresentado no idioma de Barack
Obama facilita bastante a comunicação. “Não vou discutir a economia ameri-
cana em inglês, mas o que tiver que explicar, a gente sabe”. Tanto se vira que,
no final de 2005, foi ele quem deu as boas-vindas a ninguém menos que Mike
Tyson, quando o ex-campeão dos pesos pesados aportou ali para jantar. Tyson
chegou furioso, perseguido que vinha sendo pelos paparazzi paulistanos, e foi o
próprio Chagas quem barrou a entrada da imprensa no recinto. O maître lembra
que Tyson, vestindo uma camisa da seleção argentina de futebol, esbaldou-se
com picanha fatiada, arroz biro-biro e palmito assado. E só bebeu refrigerante. O
ex-lutador gostou tanto da comida que, depois de saciado, fez questão de posar
para uma foto ao lado de Chagas. Sorrindo.
Celebridades, aliás, são recorrentes nas mesas do Rodeio. Pelé, Ronaldo e até
o governador José Serra são clientes tradicionais. A alta cúpula da Fiesp (Fede-
ração das Indústrias do Estado de São Paulo) janta ali pelo menos uma vez por
mês. Certa vez, o presidente da entidade, Paulo Skaf, descontraiu a respeito do
maître: “Chagas é o presidente do G8”, definiu. O funcionário mais antigo da
casa faz questão de frisar, no entanto, que não há diferenciação entre um
e outro cliente por causa da fama. “Na hora que senta à mesa, qual-
quer um é importante”.
Casado e pai de um casal de filhos, Chagas cumpre expe-
diente integral. Folga só às segundas-feiras, quando gosta de
levar a família para comer polpetone no Jardim di Napoli,
sua cantina favorita, no bairro de Higienópolis. Por passar
a maior parte da vida a serviço do restaurante, comemorou
datas importantes, como Natal e Réveillon, trabalhando. Mas a
maior emoção vivida no cargo aconteceu no ano passado, quando
o Rodeio lançou um livro para celebrar seu primeiro meio século de
existência, intitulado Os Próximos 50 Anos, ilustrado por fotos de filhos
e netos de clientes. Com muitas menções a Chagas, o livro – idealizado
por Washington Olivetto – não deixa de ser a própria biografia do maître.
Num trecho da apresentação que trata do cosmopolitismo da área onde o res-
taurante se localiza, lê-se: “Descortinando-se o horizonte de grifes que cintilam
nas alamedas e nas transversais de luxo, você percebe um aplomb de Nova
York, uma brisa de Milão, um toque de Barcelona, um pouco de Chicago, um
perfume de Londres, um repente de Xangai”. Pois que, no recorte específico ao
Rodeio, também reverbera um leve e carismático sotaque do Ceará.
PerF
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Rua Peixoto Gomide
Conheça as pessoas que emprestam seus nomes a algumas das principais ruas e alamedas da região
No final da década de 20, um político de vasta erudição, Francisco de Assis Peixoto Gomide, enfrentava
sérios desentendimentos com a filha Sofia. Tudo porque ela andava se engraçando com um artista boêmio
chamado Manuel Baptista Cepelos. Peixoto Gomide proibiu a filha de levar adiante o affair. Mas Sofia ignorou
a ordem paterna. Já em 1930, pai e filha trancaram-se numa sala para um acerto de contas e o desfecho foi
trágico: Peixoto Gomide acabou matando Sofia com um tiro no peito. A seguir, o pai suicidou-se, com um tiro
na cabeça. A tragédia comoveu a nação porque Peixoto Gomide, nascido em 24 de março de 1849, era uma
famosa figura pública, tendo sido eleito senador do Congresso Paulista, chegando a presidente do Senado
Estadual e até mesmo à então presidência (hoje governo) do estado, quando o titular Campos Salles deixou
o cargo para trabalhar na campanha que o levaria à Presidência da República. Sua morte, assim como a da
filha, ocorreu em 20 de janeiro de 1906 (Cepelos, pivô da tragédia, também se suicidaria, nove anos depois).
Seu nome batiza a rua onde se localiza a cachaçaria Água Benta.
o senador suicida e outras figuras
hist
ória
em P
laca
s36
Ministro Rocha Azevedo
Haddock LoboPadre João Manuel
Gabriel Monteiro da Silva
Álvaro Gomes da Rocha Azevedo foi um mineiro de
Campanha, nascido em 26 de janeiro de 1864. Em sua
carreira política, ocupou cargos bastante importantes,
entre eles os de vereador e deputado federal por São
Paulo, além de intendente da comarca de Mococa,
no interior do estado. Advogado de formação, Rocha
Azevedo chegou a ocupar, por cinco meses, o posto de
prefeito da cidade de São Paulo, entre agosto de 1919
e janeiro de 1920 – antes dele, apenas três outros pas-
saram pela cadeira: Antonio da Silva Prado, Raymundo
da Silva Duprat e Washington Luís Pereira de Souza. O
cargo que acompanha a alcunha de Rocha Azevedo na
rua onde se localiza o bar Capim Santo e a delicates-
sen Xodó Paulista refere-se ao Ministério do Tribunal
de Contas da União. Rocha Azevedo faleceu na capital
paulista, em 30 de outubro de 1942.
Ele foi uma das figuras mais emblemáticas nos primeiros anos
da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), no início da década
de 30, já que a influência do avô e do bisavô, ambos juristas,
também levaria Gabriel Monteiro da Silva ao mundo das leis.
Nascido em 17 de setembro de 1900 na cidade mineira de
Alfenas, ele foi um homem de personalidade expansiva e social,
o que o encaminhou a uma posterior carreira política, após
formar-se pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Co-
meçou como escriturário na Secretaria da Fazenda, após obter
o primeiro lugar num concurso público. Em 1941, foi nomeado
Secretário do Interior (então “Diretor do Departamento de Muni-
cipalidades”) do estado de São Paulo pelo interventor Fernando
Costa, o que rendeu a Monteiro da Silva ampla projeção política.
Cinco anos depois, chegou ao cargo de Ministro-Chefe da Casa
Civil da Presidência, na gestão de Gaspar Dutra. Teria sido um
provável sucessor de Dutra, não fosse vítima de um acidente
automobilístico fatal, no percurso Rio de Janeiro-Petrópolis, em
5 de dezembro de 1946. É na alameda que leva seu nome que
se localiza um dos maiores polos de decoração da cidade.
Em 20 de maio de 1847, um médico português
radicado no Brasil testava, de forma experimental e
inédita no país, aquilo que viria a se tornar um dos
maiores aliados da medicina moderna: a anestesia. O
estudante Francisco d’Assis Paes Leme foi a “cobaia”
do doutor Roberto Jorge Haddock Lobo, membro
da Imperial Academia de Medicina e que dá nome
à rua onde se localiza o tradicional Colégio São
Luiz. Nascido no Cascais em 19 de fevereiro de 1817,
Haddock Lobo conciliou seus estudos médicos com
outros interesses na área do comércio: chegou a ser
membro da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacio-
nal (então amparada pelo Ministério dos Negócios do
Império) e mentor de um recenseamento na cidade
do Rio de Janeiro, em 1849. Redigiu textos médicos
em publicações acadêmicas e embrenhou-se também
pela política: foi eleito vereador no Rio pelo Partido
Conservador, chegando a ocupar a Presidência da
Câmara. Morreu em 30 de dezembro de 1869, no Rio
de Janeiro.
Em junho de 1889, época em que, no Brasil, posicio-
nar-se entre a monarquia e a república lembrava a
dicotomia entre conservadores e liberais na Macondo
de García Márquez, o então deputado João Manuel de
Carvalho, ao final de um discurso de apresentação do
gabinete ministerial na Câmara dos Deputados, se fez
ouvir aos brados: “Viva a República!”. A ousadia irritou
o Visconde de Ouro Preto, último primeiro-ministro do
Império, que retrucou sobre as grandes virtudes do
regime monárquico. Fato é que, cinco meses depois,
Rui Barbosa assinava o decreto que proclamava
oficialmente o sistema republicano, muito influenciado
pelas ideias de João Manuel, sacerdote católico eleito
deputado nas últimas legislaturas do Império. É na rua
Padre João Manuel (paralela à rua Augusta) que está
o restaurante Dalva & Dito, propriedade do maior chef
brasileiro da atualidade, Alex Atala.
a meCados colecionadores
Poucos itens despertam tanto a paixão de colecionadores como as histórias em quadrinhos. Sejam aventuras despre-tensiosas de super-heróis, intrincadas graphic novels que não ficam devendo em nada às obras literárias, ou os estilizados mangás orientais, as HQs hoje já estão enraizadas na cultura pop, com uma indústria que movimenta verdadeiras fortu-nas por ano e se expande cada vez mais para outras mídias, como cinema e games.
E se existe algo comum a todos os leitores de quadrinhos é o hábito de colecionar absolutamente tudo (e não ape-nas revistas) referente aos seus heróis preferidos. E é aí que surge a Comix, uma pequena loja localizada no Jardins, que é praticamente um templo para os aficionados pela Nona Arte. Contando com cerca de 20 mil exemplares em seu acervo (sem falar no depósito, na Zona Norte da cidade, que abriga outras 400 mil revistas), além de miniaturas, cards e DVDs, a loja se tornou referência não apenas na cidade, mas em todo o Brasil, quando o assunto é quadrinhos.
Capitaneada por Jorge Rodrigues, gerente comercial do es-tabelecimento (e irmão do fundador Carlos), a história da Comix está intimamente ligada ao bairro. Em 1986, Carlos começou a trabalhar com uma banca de jornal na alameda Lorena. Mas, como sempre foi apaixonado por quadrinhos, este tipo de publicação começou a ganhar cada vez mais espaço dentro do seu negócio. “A banca se tornou um ponto de encontro de fãs de HQs em São Paulo. Até mesmo pes-soas de outras cidades, quando vinham para cá, queriam conhecer o local”, relembra um saudosista Jorge.
No coração do Jardins, a Comix, referência quando o assunto é quadrinhos,
atrai colecionadores do país inteiro
acha
dos38
Logo ficou claro que o espaço da banca não era suficiente, e, assim,
em 1996, a Comix transferiu-se para o endereço atual, na alameda
Jaú, a poucos metros da avenida Consolação. De lá para cá, o negó-
cio só cresceu – mesmo com algumas retrações que a indústria de
HQs sofreu ao longo desse período. A empresa ganhou uma loja vir-
tual e passou a realizar um grandioso evento chamado Fest Comix,
uma feira de quadrinhos que atrai aficcionados do Brasil inteiro.
E este crescimento veio, claro, não só pelo enorme acervo e aten-
dimento de qualidade, como pela paixão de seus clientes. A Comix
atende uma média de 2.400 pessoas por mês, que podem comprar
tanto uma revista por menos de R$ 10,00 como acabar deixando
verdadeiras fortunas na loja. “Algumas pessoas chegam dizendo que
não lêem quadrinhos faz tempo e querem se atualizar. Acabam gas-
tando R$ 2.000,00, R$ 3.000,00, comprando centenas de revista de
uma só vez”, conta Jorge.
Outro aspecto importante no sucesso da loja é a renovação de seu
público, que ganha novos adeptos a cada dia. De acordo com Jorge,
isso acontece por dois motivos. O primeiro é a onda de superprodu-
ções baseadas em quadrinhos, que conquistam cada vez mais es-
paço nos cinemas. Filmes que narram as aventuras de heróis como
Homem-Aranha, Batman ou Wolverine explodem nas bilheterias e
apresentam o universo dos personagens ao público casual, que aca-
ba se interessando em ler as histórias originais.
O segundo motivo, ainda mais decisivo, é o crescimento da populari-
dade dos mangás. Os quadrinhos japoneses definitivamente caíram
no gosto dos leitores, sobretudo dos mais jovens, e chegaram até
mesmo a mudar “a cara” dos clientes da Comix. “As mulheres que
lêem quadrinhos de super-heróis são bem poucas, e o fazem in-
fluenciadas pelo pai ou namorado. Já entre dos leitores de mangás,
50% são mulheres”, afirma Jorge. E, mesmo tendo a maior parte de
seu acervo voltado para os “quadrinhos ocidentais”, a Comix tam-
bém trabalha com publicações japonesas, o que faz com que, num
sábado – dia de maior movimento da loja – pessoas de todas as
idades e sexo se encontrem em seus corredores.
As editoras do segmento, sabendo que o mercado vive uma fase
boa, têm investido bastante também. Hoje, Jorge estima que uma
média de 100 títulos (entre infantis, super-heróis, mangás e edições
especiais) seja publicada mensalmente no país. Além disso, recen-
temente o mercado brasileiro descobriu o nicho das publicações de
luxo, lançando diversas edições especiais a preços assustadores à
primeira vista (a versão mais luxuosa da aclamada Watchmen, lan-
çada recentemente, custa R$ 120,00).
Assim, os clientes da Comix aproveitam a boa fase da indústria que
veneram e comparecem religiosamente à loja, em busca de novida-
des. E aqueles que moram fora da cidade visitam a loja virtual – que
hoje responde por boa parte de suas vendas – em busca tanto de no-
vidades, como de números atrasados, para tapar os buracos de suas
coleções. Mas, mesmos estes consumidores, quando estão na cidade,
encontram um jeito de ir conhecer a loja. Afinal, seu ambiente, com
paredes cobertas de quadrinhos e miniaturas dos mais diversos tipos
e preços, é, para um colecionador, tão emocionante quanto reler sua
história preferida. E, tudo isso,
no meio dos Jardins, uma das
regiçoes mais badaladas da ci-
dade, mostrando que glamour e
fantasia combinam mais do que
muita gente imagina.
Foto
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Comix Alameda Jaú, 1998(11) 3088-9116www.comix.com.br
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Na residência de Armando Cerávolo, um aconchegante apartamento localizado à Rua Padre João
Manuel, são muitas as fotos espalhadas nas paredes e em porta-retratos onde o morador posa ao
lado de celebridades como a rainha Silvia, da Suécia, a modelo Gisele Bündchen e a apresentadora
Hebe Camargo. São resquícios saudosos de um tempo em que Cerávolo atuava como executivo da
área de cinema. Seu pai, Lucídio Cerávolo, foi proprietário do finado Cine Marrocos que, quando
inaugurado em 1952 no centro da cidade, chegou a ser considerado o cinema mais luxuoso da
América Latina. Apresentava uma arquitetura barroca, com escadaria de mármore e colunas roco-
có, além de poltronas reclináveis, um deslumbre para a época, o que fazia com que seus clientes
usassem terno e gravata para assistir a uma sessão. O fechamento do cinema no início dos anos
80 motivou cada integrante da família a tomar novos rumos. Armando, economista de formação,
foi para o mercado financeiro e, estimulado pela perspectiva de uma nova vida, resolveu mudar de
ares. Deixou a região do Ibirapuera – morava na Avenida República do Líbano – e adquiriu o atual
apartamento, onde se instalou em definitivo em 1984, após as reformas necessárias.
Da DeCaDênCia ao revival da augustaMorador do Jardins há 25 anos, filho do ex-proprietário do saudoso Cine Marrocos testemunhou a aurora e o ocaso de alguns logradouros-símbolos da região
Foto
s: E
rick
Hur
pia
A opção pelo Jardins não foi gratuita. Armando já conhecia a área porque um de seus irmãos residia na Alameda
Franca. Pesou para a escolha a vocação residencial que o bairro já tinha na época. Por ser solteiro, ele valorizava
uma área que fosse ao mesmo tempo confortável e livre de maiores badalações. “Aqui no meu prédio, há muito
mais cachorros do que crianças”, avalia Cerávolo, lembrando que esse perfil ia de encontro ao que procurava – até
porque, alguns anos depois, ele adotaria Dinho, um simpático e roliço basset que lhe faz companhia há 13 anos. O
fato de o Jardins ser um bairro com média de idade mais alta também soava como sinônimo de tranquilidade.
Por estar radicado há 25 anos na região, Cerávolo pôde acompanhar in loco as transformações pelas quais passa-
ram algumas das principais ruas e alamedas de seu entorno. A “mutação” mais marcante, para ele, se deu com a
Oscar Freire. “Era uma rua com poucas lojas, sem maiores atrativos”, recorda. “Hoje ela tem, ao lado do Shopping
Iguatemi, o ponto de comércio mais alinhado, mais chique de São Paulo. É a vitrine do Brasil”, teoriza. Cerávolo
lembra que, a princípio, a badalação era mais focada na rua Augusta que, em algum momento, concentrava a
nata do comércio nobre da cidade. Mas, a partir da massificação dos shopping centers, as melhores boutiques
foram, gradativamente, deixando os bairros – e com a Augusta não foi diferente – na transição dos anos 80 para
90. Ficou decadente. “Já o pessoal que passeia na Oscar Freire sempre foi de poder aquisitivo mais alto”, explica,
considerando que a rua conseguiu desenvolver uma inusitada “resistência” como comércio alternativo aos sho-
ppings. Então, verificou-se um fenômeno contrário. “O revival da Augusta começou há pouco tempo, quando ela
passou a se espelhar na Oscar Freire”. Para ele, o que houve de bom nessa esteira toda foi o sumiço dos bingos,
uma “praga” da qual ele nunca foi adepto.
A valorização de ambas as ruas não se confinou a elas, tendo desdobramentos por todas suas cercanias. Na
própria Rua Padre João Manuel, onde reside, e em travessas como a Barão de Capanema, Estados Unidos, José
Maria Lisboa e outras, instalaram-se muitos restaurantes, todos com a característica de se nivelarem em alto
padrão. Da janela de sua sala, Cerávolo pôde ver o nascimento do Bistrô Charlô, que se configuraria num dos
endereços-gourmet mais reluzentes dos Jardins. Mas a fidelidade de Cerávolo só é dispensada mesmo ao Frevo, a
casa de lanches da Augusta que tem um capítulo à parte na história gastronômica da cidade, por sua longevidade:
funciona desde o longínquo ano de 1956. “O beirute deles é incomparável”, delicia-se Cerávolo, que freqüenta o
lugar desde sua chegada ao bairro, esbaldando-se entre opções clássicas como o de rosbife, ou inovadoras como
o de carpaccio ou parmegiana.
Não há nada de que Cerávolo sinta especial saudade, em relação à época de quando se instalou no Jardins.
Encara com desenvoltura as transformações naturais pela qual passa o bairro, assim como ocorre com qualquer
recanto metropolitano. “Só queria que tivesse menos trânsito”, ressalva. De todo modo, o economista, hoje apo-
sentado, faz quase tudo a pé na região. Desde criança – portanto, antes de virar morador do bairro – frequenta o
clube Harmonia, na Rua Canadá, onde faz natação e ginástica. Compras ele gosta de fazer na Casa Santa Luzia,
estabelecimento comercial presente na área desde a década de 20. “É onde tem os melhores queijos e vinhos”,
assevera. De opções culturais que fecharam e que não tiveram reposição Cerávolo lembra das salas de cinema: o
Cine Paulista e o Cine Vitrine, que ficavam na Augusta. Para quem, como ele, teve um grande trânsito no universo
exibidor da cidade por conta do antecedente familiar, essa é uma lacuna que ele espera corrigir de alguma forma.
“Estou tentando fazer com que o governo recupere o Cine Marrocos, como fez com o Cine Marabá. Seria uma
homenagem à memória do meu pai”, explica. Isso não significa ter de deixar o Jardins, muito pelo contrário. “Se
depender de mim, pretendo nunca sair daqui”. Uma vez jardinense, sempre jardinense.
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AçãONiNja assassiNo
Direção: James McTeigue
Elenco: Rain, Sung Kang
Estréia: 04 de dezembro
Recheada de cenas de luta, este longa narra
as aventuras de um ninja que se volta contra os
membros do seu antigo clã, precisando enfren-
tá-los em duelos mortais.
AnimAçãOa PriNcesa e o saPo
Direção: Ron Clements, John Musker
Elenco: Anika Noni Rose, John Goodman (vozes)
Estréia: 11 de dezembro
Nova animação da Pixar que leva às telas um
delicioso conto de fadas estrelado por uma
princesa que mora na Nova Orleans da déca-
da de 30.
o FaNtástico sr. raPoso
Direção: Wes Anderson
Elenco: George Clooney, Cate Blanchett (vo-
zes)
Estréia: 4 de dezembro
Baseado no livro de Roald Dahl, este longa
mostra as aventuras de uma esperta raposa
que precisa defender sua família de um grupo
de caçadores.
COméDiAUma mãe em aPUros
Direção: Katherine Dieckmann
Elenco: Uma Thurman, Anthony Edwards
Estréia: 25 de dezembro
Uma Thurman estrela este longa sobre uma
mãe que se envolve em inúmeras e inespera-
das confusões ao tentar organizar a festa de
aniversário de sua filha.
Um Homem sério
Direção: Joel e Ethan Coen
Elenco: Michael Stuhlbarg, Sari Lennick
Estréia: 4 de dezembro
Na década de 60, o casamento de um profes-
sor começa a ruir quando sua esposa ameaça
largá-lo porque seu irmão recusa-se a ir embora
de sua casa.
eNcoNtro de casais
Direção: Peter Bilingsley
Elenco: Vince Vaugh, Jon Favreau
Estréia: 25 de dezembro
Quatro casais viajam em férias para um local
paradisíaco para participar de sessões de tera-
pia de casal realizadas no local.
DOCumEntáriOtysoN
Direção: James Toback
Estréia: 18 de dezembro
Longa-metragem que aborda a carreira do pugi-
lista Myke Tyson, um dos maiores e mais respei-
tados pesos-pesados de todos os tempos.
o Poder do soUl
Direção: Jeffrey Levy-Hinte
Estréia: 11 de dezembro
Documentário sobre um lendário show de soul
music que reuniu estrelas como James Brown e
BB King no Zaire, em 1974.
DrAmANova york, eU te amo
Direção: Brett Ratner, Natalie Portman
Elenco: Shia LaBeouf, James Caan
Estréia: 25 de dezembro
Diversas histórias de amor – assinadas por
cineastas do mundo inteiro – ambientadas na
charmosa cidade de Nova York.
vidas qUe crUzam
Direção: Guillermo Arriaga
Elenco: Charlize Theron, Kim Basinger
Estréia: 4 de dezembro
Com elenco liderado por duas vencedoras do
Oscar, este longa mostra o difícil relacionamen-
to entre mãe e filha, abalado por acontecimen-
tos do passado.
distaNte Nós vamos
Direção: Sam Mendes
Elenco: John Krasinski, Maggie Gyllenhaal
Estréia: 18 de dezembro
Casal viaja pelos Estados Unidos em busca de
um lugar ideal para morar, após descobrirem
que a esposa está grávida.
HacHiko
Direção: Lasse Hallström
Elenco: Richard Gere, Joan Allen
Estréia: 25 de dezembro
Refilmagem do filme japonês homônimo, narra
o emocionante relacionamento entre um profes-
sor de meia-idade e o cão que ele adota.
cin
em
acu
ltur
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a PriNcesa e o saPo
AvEniDA PAulistA
esPaço cUltUral citi Avenida Paulista, 1111 – Fone: 4009-3000
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A Alma Imortal – Dir.: Nilton Bonder (até 16 de dezembro)Elenco: Amir Haddad. Drama. Seg, Ter e Qua: às 21h
Doido – Dir.: Elias Andreato (até 10 de de-zembro)Elenco: Elias Andreato. Drama. Qui: 21h30
As Meninas – Dir.: Yara de Novaes (até 13 de dezembro)Elenco: Clarissa Rockenbach, Luciana Brites, Silvia Lourenço e Julio Machado. Drama. Sáb (21h) e Dom (18h)
SeSc – Espaço 5º Andar Av. Paulista, 119. Auditório (70 lugares) – Fone: 3179-3700
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Avenida Q – Dir:. Charles Möeller (até 20 de dezembro) Elenco: André Dias, Renato Rabelo, Sabrina Korgut, Fred Silveira. Musical. Qui, Sex, Sab (21h), Dom (19h)
TeaTro renaiSSance Al. Santos, 2233 (Hotel Renaissance – (448 lugares) – Fone: 2122-4241
FiCçãO CiEntíFiCAavatar
Direção: James Cameron
Elenco: Zoe Saldana, Sam Worthington
Estréia: 18 de dezembro
Produção que marca o retorno do diretor de Titanic
às telas e que mostra, com visual deslumbrante, as
aventuras de um guerreiro que tenta defender seu
povo.
a caixa
Direção: Richard Kelly
Elenco: Cameron Diaz, James Marsden
Estréia: 4 de dezembro
Casal recebe uma misteriosa caixa de madeira e
precisa tomar uma decisão: se a abrirem, ganharão
uma fortuna, mas uma pessoa, em algum lugar do
planeta, irá morrer.
inFAntilxUxa em o mistério
da FeiUriNHa
Direção: Tizuka Yamasaki
Elenco: Xuxa Meneghel, Sasha Meneghel
Estréia: 25 de dezembro
As vidas de diversas personagens de contos de fa-
das se cruzam após o misterioso desaparecimento
de uma princesa conhecida como Feiurinha.
rOmAnCEé ProiBido FUmar
Direção: Anna Muylaert
Elenco: Glória Pires, Paulo Miklos
Estréia: 4 de dezembro
Professora de violão solitária acaba se apaixonando
pelo vizinho, músico de churrascarias. Mas logo des-
cobre que o novo namorado ainda pensa na antiga
amante, e começam os conflitos.
tErrOratividade ParaNormal
Direção: Oren Peli
Elenco: Katie Featherston, Micah Sloat
Estréia: 4 de dezembro
Um dos grandes sucessos da temporada, Atividade
Paranormal mostra o drama de uma família que se
muda para uma casa assombrada por uma presença
demoníaca.
zUmBilâNdia
Direção: Ruben Fleischer
Elenco: Woody Harrelson, Jesse Einsenberg
Estréia: 4 de dezembro
Mesclando cenas de comédia e de terror, Zumbi-
lândia mostra os perigos enfrentados por um grupo
de pessoas que precisa resistir a uma infestação de
zumbis.
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