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ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL
É muito comum ler em notas de jornais, revistas, internet sobre as classes sociais,
geralmente são classificadas da seguinte maneira: classe A, B, C, D, E. No mês de julho de
2008, vários jornais apresentaram reportagens sobre o mercado imobiliário no Brasil,
afirmando que, devido às facilidades de crédito para financiamentos, as classes C e D
estavam conseguindo comprar a casa própria. Segundo as reportagens, a renda familiar
dessas classes era de até R$ 2.100,00. Em 23 de março de 2008, o site da “globo.com”
apresentou uma pesquisa que comprovou que há mobilidade das classes D/E para C. Afirma
a nota: “Os conceitos de classe social empregados na pesquisa são os definidos pelo Critério
de Classificação Econômica Brasil (CCEB). O critério estima o poder de compra dos indivíduos
e famílias urbanas e é fornecido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (Abep)”
(Globo. 2008).
A forma como se compreende a estratificação social é a forma que se definirá a
classe social e essa, por sua vez, apresentar-se-á como uma representação da sociedade,
seja na sua forma mais superficial, isto é, apresentando os aspectos mais aparentes da
sociedade como se definindo por renda ou prestígio, ou como uma forma mais profunda da
estrutura social, sendo esta a explicação da composição econômica.
Max Weber tinha por compreensão que todos os indivíduos estão
igualmente livres para atuar na sociedade. Seguindo o pressuposto liberal,
Weber entendia que os indivíduos possuem igualdade e liberdade, mas
mesmo assim, observava as diferenças sociais e tentou dar uma explicação.
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Sua leitura sobre essa questão percorreu por três conceitos: classe, status e poder, ou pelas
formas: Econômica, Social, Política.
Para Weber o status está relacionado ao prestigio que os indivíduos possuem na
sociedade. Nesse ponto ele considerava a honra e o prestígio que os nobres possuíam, assim
como os lideres religiosos, semelhante aos estamentos feudais. O poder é a relação com a
ordem política na tentativa de dirigir a comunidade e, para isso, precisa haver a organização
em partidos, sendo essa “uma organização que luta especificamente pelo domínio” (Weber,
1984:43). As classes são fenômenos puramente econômicos e se organizam segundo as
relações de produção e aquisição de bens (Quintaneiro, 2000:116), melhor dizendo,
referem-se a poder de consumo, mediante a quantidade de renda mensal. Portanto, os
indivíduos chegam ao mercado com igual liberdade para comprar e vender bens e
propriedade. Weber afirma que “o tipo de oportunidade no mercado é o momento decisivo
que apresenta condição comum para a sorte individual” (1979: 214). Mas é no mercado que
acontece a relação de desigualdade, pois o trabalhador tem sua força de trabalho para
vender a quem pode comprar. Então, a luta de classes acontece no nível do mercado, onde a
luta ocorre para determinar o preço do produto ou trabalho. Sobre isso Weber afirma que:
Podemos falar de uma classe quando: 1) certos números de pessoas
têm em comum um componente causal especifico em suas
oportunidades de vida e na medida em que 2) esse componente é
representado exclusivamente pelos interesses econômicos da posse
de bens e oportunidades de renda, e 3) é representado sob as
condições de mercado de produtos ou mercado de trabalho (1979:
212; 218).
Então é mediante uma conceituação weberiana que os jornais e instituições
contemporâneas fazem da estratificação social, ou seja, uma análise das desigualdades
sociais mediante a renda que os indivíduos possuem, e que se reverte em poder de
consumo/compra.
Abaixo segue uma tabela com duas formas de estratificação por meio da renda. Uma
utilizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e, outra pela ABEP
(Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas).
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Os dados são referentes a renda mensal de uma família de até 4 pessoas.
IGBE
Classes Renda mensal
A Acima de R$ 15.300,00
B De 7.650,00 a 15.300,00
C De 3.060,00 a 7.650,00
D De 1.020,00 a 3.060,00
E Até 1.020,00 Fonte: Por Ludmar Rodrigues Coelho http://www.logisticadescomplicada.com.
ABEP
Classes % população
Renda mensal
A1 1% Acima de R$ 38.933,88
A2 4% Até R$ 38.933,88
B1 24%
Até R$ 26.254,92
B2 Até R$ 13.917,44
C1 43%
Até R$ 8.050,68
C2 Até R$ 4.778,12
D 25% Até R$ 2.905,04
E 3% Até R$ 1.939,88 Fonte: Por Ludmar Rodrigues Coelho. http://www.logisticadescomplicada.com.
IBGE - Características da família - Brasil
Número de famílias e Tamanho médio da família - 2008
Brasil Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-Oeste
Número de famílias
Total 57.816.604 3.949.838 15.099.443 25.491.789 8.898.449 4.377.084
Até 830 Reais 12.503.385 1.133.461 5.953.346 3.312.521 1.205.776 898.281
Mais de 830 a 1.245 Reais 10.069.184 799.491 3.318.908 3.892.759 1.260.443 797.585
Mais de 1.245 a 2.490 Reais 16.972.311 1.171.271 3.507.054 7.955.371 2.986.650 1.351.966
Mais de 2.490 a 4.150 Reais 8.890.463 444.381 1.162.445 4.951.651 1.718.616 613.370
Mais de 4.150 a 6.225 Reais 4.181.485 195.429 499.652 2.341.445 851.948 293.011
Mais de 6.225 a 10.375 Reais 2.994.837 123.024 365.256 1.703.760 551.300 251.496
Mais de 10.375 Reais 2.204.938 82.781 292.783 1.334.283 323.717 171.375
Nota: 1 - O termo “família” está sendo utilizado para indicar a unidade de investigação da pesquisa: Unidade de Consumo. 2 - A categoria “Até 830” inclui as famílias sem rendimento.
Classe Média
Classe Média Baixa
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Para Marx as classes sociais são tendencialmente três: proprietário dos meios
de produção, proletários e proprietários de terras. Estruturalmente são várias
as classes, contudo Marx trabalha com o conceito de proletário e burguesia,
duas classes antagônicas.
Para Marx as classes são a expressão da sociedade, uma vez que ela é formada pela
relação de produção social. Ou seja, a sociedade é uma relação de classes e não de
indivíduos. As classes fazem parte da constituição própria da sociedade, são categorias
empíricas e são impostas pelo capital. De onde nasce essa compreensão? Da relação de
produção social, que é a divisão social do trabalho.
Marx afirma que há três momentos que entram em contradição, sendo a força
produtiva, situação social e consciência. Diz ele: “esses movimentos podem e precisam
entrar em contradição mútua, pois com a divisão do trabalho fica dada a possibilidade, ou
melhor, fica dado o fato de que atividade intelectual e material – de que prazer e trabalho,
produção e consumação passam a caber a indivíduos distintos” (MARX, 1968:315). Ou seja,
na forma primitiva não havia desigualdade pela produção, todos os homens cumpriam suas
funções, assim como as mulheres, mas a partir da efetivação da divisão do trabalho, aparece
a desigualdade. Podemos exemplificar com atividade escravagista na antiguidade e com a
divisão estamental da Idade Média, onde havia aquele que orava, o outro que guerreava e o
povo que trabalhava.
Marx acrescenta que a contradição da divisão do trabalho repousa sobre a divisão
natural do trabalho na família. E por sua vez, as distintas famílias se opõem uma à outra,
ficando dada paralelamente a “re-partição” desigual tanto quantitativamente, quanto
qualitativamente.
Conclui que “a divisão do trabalho e propriedade privada são de resto, expressões
idênticas”, portanto com a divisão do trabalho surge a propriedade privada. Fica
demonstrado nessa relação o interesse do particular em detrimento do coletivo. Na Idade
Média a Igreja legitimava essa divisão com o discurso sagrado, afirmando que Deus criou uns
para orar e outros para trabalhar. No Estado Moderno a ideologia acorre com outra
legitimação, a do próprio Estado, que simula uma comunidade de iguais, mas Marx afirma
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que é uma ilusão. O Estado é, portanto, instrumento dos dominadores, cuja função é
proteger a propriedade privada, como afirmara John Locke.
A partir dessa divisão do trabalho desigual é que ocorre a divisão de classes sociais: a
classe que compra força de trabalho, aquela que tem o capital e os meios de produção,
denominada de burguesia, e a classe que vende sua força de trabalho, o proletariado, sendo
demonstrada a exploração de uma classe sobre a outra e, por sua vez, decorre a luta de
classes.
Para entender essa divisão de
classes é necessário compreender as
relações sociais de produção e como
acontece a participação da
apropriação social da produção. A
distribuição dos rendimentos
acontece pelo salário ao
trabalhador, lucro e juros ao dono
do meio de produção e renda ao
dono da terra.
O capitalista compra a força de trabalho do proletário, o qual despende de sua força,
ou seja, sua única propriedade, antes de adquirir seu rendimento salarial. O capitalista
possui os meios de produção, sendo o trabalhador apenas uma peça na engrenagem da
indústria e, por isso, sua função é desvalorizada à medida que aumenta a tecnologia,
proporcionando com isso maior aumento na taxa de lucro do proprietário. O dono do meio
de produção ganha sobre a força de trabalho despendida de seus funcionários por meio da
mais-valia (lucro adquirido por meio do trabalho do operário).
Enquanto o proletário recebe apenas seu salário mensal, o dono do meio de
produção ganha diariamente por meio de juros e lucros sobre a produção, a mais-valia sobre
seus empregados. Essa mais-valia torna o trabalho do proletário totalmente gratuito, pois
ele produz inúmeras vezes mais que seu próprio salário. O capitalista, dono do meio de
produção, está amparado pelas leis do Estado, juridicamente garantido em sua propriedade.
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Dessa forma, Marx nos mostra que a sociedade no sistema capitalista está reificada1,
ou seja, a expressão da sociedade é por meio do capital que recria reiteradamente suas
formas de existência, e coloca as pessoas em classes distintas pelo processo de produção e
distribuição da renda.
Émile Durkheim (1858-1917) representa outra corrente de pensamento
sociológico, ele é seguidor de Auguste Comte, portanto continuador do
Positivismo. Foram muitas as contribuições que Durkheim ofereceu ao
pensamento sociológico, mas o principal deles foi tornar a sociologia uma
ciência acadêmica, e para este objetivo Durkheim escreveu o livro: “As regras do método
sociológico” que estabelece os métodos e o objeto específico da sociologia o que ele
denomina de “Fato Social”. Com o livro “As formas elementares da vida religiosa”, Durkheim
oferece grande contribuição para a antropologia mediante suas pesquisas sobre a vida
religiosa de povos tradicionais em comparação com as formas culturais europeias. Mas é
com o livro “Da divisão social do trabalho” que esse autor irá contribuir com a reflexão sobre
a estrutura da sociedade e como se dá as transformações e o estabelecimento das funções
dos indivíduos na sociedade.
Durkheim, seguindo os passos do positivismo comteano, entende que a sociedade é uma
unidade que, mediante o aglomerado de indivíduo, cria uma espécie de vida. Então ele
denomina a sociedade de “organismo”, isto é, um sistema auto dependente, onde os
“órgãos” (instituições sociais) devem estar em ordem e em bom funcionamento para que
haja desenvolvimento.
Para Durkheim, as desigualdades não são um problema em si, mas fatores naturais
de toda e qualquer sociedade, principalmente das sociedades modernas, devido ao aumento
populacional. Assim sendo, faz-se necessário que indivíduos trabalhem em funções
específicas gerando uma coesão social, assim, a divisão do trabalho é vista como aspecto
positivo e necessário para a sociedade, diferentemente da visão de Marx.
Segundo a sociologia Durkheimiana, as sociedades modernas são frutos da evolução
1 Reificação: Processo em que uma realidade humana ou social perde ou parece perder seu dinamismo e passa
a apresentar a fixidez de um ser inorgânico, com perda de autonomia e, no caso do homem, de autoconsciência; COISIFICAÇÃO.
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das antigas comunidades, grupo social distinto caracterizado pela unidade de moral,
religiosa, e cultural. Nas sociedades modernas existe uma pluralidade devido à ampliação
espacial e populacional desses grupos sociais e, mediante essa percepção, Durkheim
construiu dois conceitos importantes para se compreender a sociedade:
Solidariedade Mecânica e, Solidariedade Orgânica.
De imediato precisa ficar claro
que a terminologia
“Solidariedade”, nesse
contexto, não tem nada a
ver com a moral cristã de ser
solidário, ser altruísta,
bondoso. Para Durkheim, a
solidariedade se refere ao
processo de unidade entre
os indivíduos do grupo social,
ou seja, é um aspecto social.
A Solidariedade Mecânica é encontrada mais especificamente em sociedades
tradicionais pré-capitalistas, que levam o nome de Comunidade, pois o que dá coesão,
unidade e integração a este grupo são os valores morais, as regras culturais e a tradição,
portanto, poucas diferenciações entre os membros desse grupo vivem em comum. Quanto
ao trabalho, é semelhante para todos, havendo apenas a divisão sexual do trabalho:
trabalho dos homens e o trabalho das mulheres.
A Solidariedade Orgânica é típica da sociedade moderna capitalista, que possui
maior espaço físico, maior quantidade populacional e que tendencialmente força as pessoas
a viverem suas vidas de forma mais individualizadas. Assim, cada um toma conta de si e, no
máximo, do seu parente próximo. Nessa formação social existe uma pluralidade de valores
morais, de formas religiosas, de expressões culturais, portanto, NÃO são esses aspectos
que dão coesão à organização social. Mas SIM, a divisão social do trabalho, onde cada
indivíduo ocupa uma parte nas mais variadas cadeias de produção. Essa compreensão da
posição que se ocupa, se bem desenvolvida, gera coesão e ordem social. Faça o exercício de
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pensar no pão francês que você come diariamente. Quantas pessoas precisaram trabalhar
organizadamente para que você comesse um pão? Devemos pensar desde o agricultor que
plantou o trigo, passando pelos trabalhadores da colheita, distribuição, depois na fábrica de
transformação do trigo em farinha, posteriormente o transporte até a padaria. Isso sem
contar a quantidade de pessoas que foram necessárias para construir as máquinas e
caminhões que foram utilizados nessa cadeia de produção. Portanto, o que gera integração
e coesão social é exatamente a divisão social do trabalho. Assim, para Durkheim, a
estratificação não é um problema em si, mas algo natural.
Nos três clássicos observamos uma preocupação em descrever como é o processo de
estratificação social e suas implicações no cotidiano. Temos Marx com uma postura crítica
da divisão social do trabalho que se transforma em Classes sociais e, portanto, processo de
exploração e injustiça. Max Weber, que faz uma leitura da sociedade por meio da aquisição
de renda e aspectos culturais, bem como simbólicos, e Durkheim, que analisa a sociedade
por meio das funções que cada indivíduo ocupa no espaço social.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
MARX, K. A Ideologia em Geral. In CARDOSO. F. IANNI. O. Homens e Sociedade. 8 ed. São Paulo. Ed. Companhia Editora Nacional, 1968.
_________. O Capital. São Paulo: Ed Abril Cultura, 1974. V.1, T.1, Cap.7. Os Economistas.
QUINTANEIRO, Tânia. et al. Um Toque de Clássicos. Durkheim, Marx e Weber. 3° impressão. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2000.
STAVENHAGEN, R. Classes sociais e estratificação. In STAVENHAGEN, R. Classes rurais na sociedade agrícola. São Paulo: Ed. Loyola, 1979.
WEBER. M. Economía y Sociedad. México: Fondo de Cultura, 1984.
Internet. GLOBO.COM.: http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL364370-93 56,00-CLASSE+C+AGORA+TEM+MAIS+BRASILEIROS+QUE+CLASSES+DE+DIZ +PESQUISA.html. Acessado em 04 Jun. 2011. COELHO, Ludmar Rodrigues: http://www.logisticadescomplicada.com/o-brasil-suas-classes-sociais-e-a-implicacao-na-economia