estudo comparativo das estruturas de custos e avaliaÇÃo de...
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CENTRO DE ESTUDOS EM REGULAÇÃO DE MERCADOS
CERME Universidade de Brasília
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ESTUDO COMPARATIVO DAS ESTRUTURAS DE CUSTOS E AVALIAÇÃO DE
PROJETOS/INVESTIMENTOS ENTRE TERMINAIS PORTUÁRIOS DE USO PÚBLICO E TERMINAIS PORTUÁRIOS DE USO PRIVATIVO
MISTO
Sumário Executivo
Neste relatório apresentamos os resultados do estudo feito pelo Centro de Estudos em Regulação de
Mercados (CERME) sobre a possível existência de desvantagens econômico-financeiras provocadas por
assimetria regulatória entre os terminais portuários de uso público (PP), objeto de arrendamento, e os
terminais portuários de uso privativo misto (TUP), autorizados pela ANTAQ.
O estudo evita deficiências apresentadas por estudos anteriores ao utilizar dados reais dos terminais
portuários, ao invés de um terminal hipotético, para inferir como a escolha do modelo contratual, arrendado
versus autorizado, afeta o valor do negócio. Para analisar a possível existência de assimetria concorrencial
desenvolvemos três modelos analíticos independentes. O primeiro modelo utiliza a metodologia de análise
envoltória de dados (DEA) para identificar se a assimetria regulatória gerou perda de eficiência econômica
em algum tipo de terminal. Constatamos que não existe diferença relevante na eficiência média de um tipo
de terminal quando comparada à do outro. Adicionalmente, ele investiga se existem economias de escala no
setor.
O segundo modelo utiliza as demonstrações financeiras dos terminais para calcular indicadores
relativos de desempenho como, por exemplo, a margem bruta sobre as vendas. Constatamos que nenhum
dos indicadores calculados aponta diferença de desempenho estatisticamente significante entre os dois
tipos de terminal.
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O terceiro modelo realizou um estudo econométrico das variáveis que afetam os custos e receitas
dos terminais portuários especializados em contêineres. O baixo grau de desagregação dos dados que
recebemos limitou a análise, mas o modelo que produzimos é capaz de identificar quantitativamente o
impacto financeiro das diferenças regulatórias entre os dois tipos de terminal. Além disto, investigamos o
impacto da assimetria regulatória sobre o valor presente líquido, principal medida financeira para avaliar a
atratividade de um empreendimento.
Para complementar nossos estudos analíticos, fizemos diversos estudos adicionais de grande valia
para o entendimento do funcionamento dos terminais portuários. São eles: metodologias disponíveis na
literatura de análise financeira de desempenho de empreendimentos; legislação pertinente em vigor; e
análise crítica de outros estudos realizados sobre o assunto. Realizamos ainda uma resenha de trabalhos
existentes na literatura sobre análise de eficiência e ganhos de escala em portos.
Evolução Futura da Movimentação de Contêineres
Apresentamos primeiramente a nossa previsão da evolução do número de contêineres
movimentados nos portos brasileiros até 2025, que está baseada nos dados de contêineres movimentados
entre 2000 e 2011 no Brasil. O total das exportações mundiais foi a variável usada para fazer a previsão.
Utilizando o método de mínimos quadrados ordinários, estimamos a curva apresentada na figura
abaixo que relaciona a movimentação de contêineres em unidades às exportações mundiais.
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Utilizamos o mesmo método para estimar a relação entre a movimentação de contêineres em TEUs
e as exportações mundiais. A figura abaixo apresenta a curva resultante.
Dado o excelente ajuste observado nas relações não lineares entre exportações mundiais e
movimentação de contêineres nos portos brasileiros (em unidades e em TEUs), criamos dois cenários para as
trajetórias futuras das exportações mundiais e os utilizamos para prever a movimentação de contêineres. No
y = 2,35187364ln(x) - 18,26091215 R² = 0,99222944
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
4.000,00 6.000,00 8.000,00 10.000,00 12.000,00 14.000,00 16.000,00 18.000,00Qua
ntid
ade
tota
l de
cont
êine
res
(milh
ões)
Exportações mundiais em US$ Bilhões
y = 3,80861993ln(x) - 29,76201561 R² = 0,99199738
2,00
3,00
4,00
5,00
6,00
7,00
8,00
4.000,00 6.000,00 8.000,00 10.000,00 12.000,00 14.000,00 16.000,00 18.000,00Mov
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Us)
Exportações mundiais em US$ Bilhões
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cenário 1, as exportações mundiais têm um crescimento médio anual de 8%, enquanto no cenário 2 esse
crescimento é de 12%. Os resultados estão apresentados nas tabelas abaixo:
Ano Exportações Mundiais (bilhões US$)
Quantidade de containers movimentados (milhões)
Movimentação de containers em TEUs (milhões)
2011 16,283.48 4.55 7.17
2012 17,586.16 4.73 7.47
2013 18,993.06 4.91 7.76
2014 20,512.50 5.09 8.05
2015 22,153.50 5.27 8.35
2016 23,925.78 5.45 8.64
2017 25,839.84 5.63 8.93
2018 27,907.03 5.81 9.23
2019 30,139.59 6.00 9.52
2020 32,550.76 6.18 9.81
2021 35,154.82 6.36 10.10
2022 37,967.21 6.54 10.40
2023 41,004.58 6.72 10.69
2024 44,284.95 6.90 10.98
2025 47,827.75 7.08 11.28
Elaboração: CERME
Ano Exportações Mundiais (bilhões US$)
Quantidade de containers movimentados (milhões)
Movimentação de containers em TEUs (milhões)
2011 16,886.58 4.63 7.31
2012 18,912.97 4.90 7.74
2013 21,182.52 5.17 8.18
2014 23,724.42 5.43 8.61
2015 26,571.35 5.70 9.04
2016 29,759.92 5.97 9.47
2017 33,331.11 6.23 9.90
2018 37,330.84 6.50 10.33
2019 41,810.54 6.77 10.77
2020 46,827.81 7.03 11.20
2021 52,447.14 7.30 11.63
2022 58,740.80 7.56 12.06
2023 65,789.69 7.83 12.49
2024 73,684.46 8.10 12.92
2025 82,526.59 8.36 13.35
Elaboração: CERME
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Podemos observar que em 2025, sob o cenário 1, o total de TEUs movimentados estará em torno de
11,28 milhões (65% a mais do que em 2010). Para o cenário de crescimento das exportações mundiais com
média anual de 12% (cenário 2), o total de movimentação de TEUs em 2025 estará em torno de 13,35
milhões (100% a mais do que em 2010).
Calculamos também os investimentos necessários para atender à demanda de movimentação de
contêineres estimada acima. Para isso, utilizamos os dados de investimentos de implantação fornecidos
pelos terminais de uso privativo ao longo da coleta de dados deste estudo. Esses dados foram cruzados com
dados de movimentação de contêineres em 2010, o que levou a uma estimativa de R$ 1.665/TEU por ano
para o valor médio de investimento necessário para movimentação de um TEU por ano.
Com base nessa estimativa, e assumindo um crescimento médio do comércio mundial da ordem de 8%
ao ano, chegamos à conclusão de que, até 2020, serão necessários investimentos da ordem de R$ 5 bilhões,
e investimentos da ordem de R$ 7,4 bilhões até 2025. Assumindo-se um crescimento médio do comércio
mundial da ordem de 12% ao ano, até 2020 serão necessários investimentos da ordem de R$ 7,3 bilhões, e
até 2025 serão necessários investimentos em torno de R$ 10,9 bilhões.
Investigação sobre Retornos Crescentes de Escala
Apresentamos a partir de agora a nossa análise a respeito dos tipos de retornos de escala
observados em operações portuárias de contêineres no Brasil. De maneira geral, não existe na literatura
uma visão conclusiva sobre esse assunto. Já adiantando nossos resultados, não nos foi possível rejeitar a
hipótese de que não há retornos crescentes de escala.
Dada a impossibilidade de levantar os dados físicos sobre a produção de atividades portuárias
necessários para realizar a análise, estimamos modelos para testes de retornos de escala e modelos de
eficiência relativa utilizando informações contábeis sobre as variáveis de insumo. A montagem dos dados foi
feita a partir de informações fornecidas diretamente pela ANTAQ e pelos terminais portuários.
Estimamos, por mínimos quadrados ordinários, uma função de produção do tipo Cobb-Douglas com
os seguintes insumos: o valor total das máquinas e veículos de cada terminal, as despesas administrativas
totais e o custo dos serviços prestados. A variável de produto utilizada foi a movimentação total de TEUs no
ano de 2010. O somatório da movimentação, em TEUs, dos 16 terminais estudados na nossa amostra foi em
torno de 81% do total de TEUs movimentados em todos os portos brasileiros em 2010.
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Para contornar eventuais problemas de multicolinearidade, utilizamos diferentes especificações do
modelo, cada uma com diferentes combinações de insumos. Além disso, estudamos também uma variável
adicional, que consiste no somatório das despesas administrativas com o custo dos serviços prestados. A
tabela a seguir apresenta os principais resultados das estimações.
Variáveis incluídas Soma dos
coeficientes Máquinas e veículos
Custos dos serviços (A)
Despesas administrativas (B) (A) + (B)
x 1.00227 x x 1.00594 x x x 1.02422
x x 1.03487 x x 1.01241 x x 0.9467 x 0.42070
x 0.94066
x 1.01976 Elaboração: CERME
As colunas 1 a 4 indicam se as variáveis de insumo foram ou não inseridas nas estimações. A quarta
coluna corresponde à variável resultante da soma das despesas administrativas com o custo dos serviços. A
soma dos coeficientes estimados é apresentada na quinta coluna. O teste de existência de retornos de escala
consiste em verificar se essa soma assume valor maior do que um. Observe que, à exceção do caso em que
apenas a variável de máquinas e veículos foi incluída, essas somas ficaram muito próximas de 1. Testes
estatísticos revelaram que nenhum desses valores, novamente à exceção da especificação em que apenas a
variável de máquinas e veículos foi incluída, é estatisticamente significativo, o que não causa surpresa.
Portanto, não há evidência de retornos crescentes de escala nas operações dos terminais de contêineres.
Análise da Eficiência Relativa dos Terminais
Passamos agora a discutir a eficiência relativa dos terminais portuários especializados em
contêineres brasileiros, utilizando a mesma base de dados utilizada para estudar a existência ou não de
retornos crescentes de escala. Nós utilizamos duas variantes da metodologia conhecida como DEA (analise
envoltória de dados). A primeira (BCC) considera retornos variáveis de escala, enquanto a outra (CCR)
considera retornos constantes de escala. A ideia de utilizar modelos tanto com retornos constantes de escala
quanto com retornos variáveis de escala (o que inclui os casos de retornos constantes, crescentes ou
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decrescentes de escala) parte da constatação de que a literatura existente nessa área não fornece subsídios
para a escolha a priori do tipo de retorno de escala. Utilizamos como insumos os seguintes indicadores: (a)
investimentos em máquinas e equipamentos; (b) despesas administrativas; (c) custos de serviços prestados.
O produto foi a movimentação de contêineres equivalentes a 20 pés por ano (TEUs por ano).
Na tabela abaixo, os terminais eficientes têm índice de eficiência próximo de 100%, enquanto os
terminais ineficientes apresentam índice de eficiência significativamente inferior a 100%. A ineficiência pode
ser interpretada como a quantidade de TEUs movimentados no ano que poderia ser movimentada pelo
terminal com a utilização dos insumos atuais. Observe que, considerando retornos variáveis de escala, os
terminais Tecon-Santos, Libra-Santos, Paranaguá, Teconvi e Pecém são terminais eficientes e podem ser
utilizados como benchmark para os demais terminais. No caso de retornos constantes de escala, os
terminais de Paranaguá e Pecém são os terminais considerados eficientes.
Terminal Tipo Terminal TEU Ano Eficiência
(BCC) Eficiência
(CCR)
Tecon - Santos PP 1.367.133 100,00% 75,90%
Libra - Santos PP 766.187 100,00% 36,10%
Paranaguá PP 546.564 100,00% 100,00%
Teconvi PP 379.818 100,00% 78,70%
Pecem TUP 163.909 100,00% 100,00%
Tecon - Suape PP 324.191 95,70% 88,80%
Tecon - Sepetiba PP 268.522 66,90% 66,90%
Tecon - Salvador PP 233.735 60,40% 53,40%
Tecondi - Santos PP 351.000 49,10% 34,40%
Superterminais TUP 215.879 49,00% 49,00%
Portonave TUP 424.229 46,60% 39,30%
TESC PP 44.624 44,70% 44,70%
Chibatão TUP 162.670 41,00% 41,00% Tecon - Vila do Conde PP 30.840 37,80% 37,80%
Tecon - Imbituba PP 25.462 22,30% 22,30%
Vila Velha PP 240.539 52,9% 52,9%
Elaboração: CERME
Considerando retornos variáveis de escala (BCC), os terminais arrendados possuem índice de
eficiência médio de 69,2%, enquanto os terminais de uso privativo têm índice de eficiência médio de 59,1%.
Considerando retornos constantes de escala (CCR), os terminais arrendados têm índice de eficiência médio
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de 57,7% enquanto os terminais de uso privativo possuem índice de eficiência médio de 57,3%. A figura
abaixo ilustra esses resultados:
Elaboração: CERME
De maneira geral, não foi observada diferença significativa entre a média de eficiência entre os
terminais arrendados e os terminais de uso privativo. Isso está em consonância com os resultados a serem
apresentados na próxima seção.
Indicadores de Desempenho: TUP x PP
Voltamo-nos agora à apresentação dos resultados obtidos a partir da análise de indicadores
contábeis de desempenho de terminais arrendados e de terminais privativos. Vale ressaltar que essa análise
teve de lidar com alguns problemas. Em primeiro lugar, os relatórios financeiros disponibilizados pelos
terminais seguem diferentes padrões de apresentação dos dados. Além da falta de padronização, eles foram
disponibilizados em sua versão publicada em diário oficial ou em jornal, em que as informações não são
desdobradas por segmento operacional de receitas e custos. Não tivemos acesso, portanto, às informações
que seriam necessárias para uma análise mais aprofundada, como receitas e custos segregados por tipo de
serviço, operações de carga e descarga dos contêineres dos navios, operações de pátio e de armazenagem.
A amostra de terminais arrendados que obtivemos continha 13 dos 15 terminais existentes, ficando
de fora apenas o Tecon Rio Grande (RS) e o TVV – Terminal de Vila Velha (ES), que não enviaram à ANTAQ a
tempo os dados solicitados. Além disso, dois terminais arrendados não remeteram suas demonstrações
69,2%57,7%59,1% 57,3%
0,0%
10,0%
20,0%
30,0%
40,0%
50,0%
60,0%
70,0%
80,0%
Retornos Variáveis de Escala (BCC) Retornos Constantes de Escala (CCR)
Índice de eficiência médio
Público TUP
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financeiras (Libra Rio e Multi-Rio). Quanto aos terminais de uso privativo, a amostra inclui os 6 principais
terminais existentes (Chibatão, Embraport, Itapoá, Pecém, Portonave e Superterminais), de uma população
de 12 terminais dessa modalidade. Ressalve-se, porém, que dois importantes terminais dessa amostra ainda
não entraram em operação (Embraport, em Santos; e Itapoá, em Santa Catarina). Optamos por trabalhar
com estatísticas agregadas dos 6 terminais de uso privativo da amostra quando existissem informações para
cada variável sob análise, e com as de apenas 4 terminais quando as informações para uma variável
específica não fossem aplicáveis a Embraport e Itapoá. Por exemplo, esses dois terminais ainda não possuem
receitas e custos de prestação de serviços no período amostral de 2007 a 2010, pois ainda não entraram em
operação, mas já possuem ativo, passivo e patrimônio líquido nesse mesmo período.
Trabalhamos com índices financeiros relativos de desempenho dos terminais, pois estes têm a
vantagem de sumariar, em indicadores simples, a eficiência agregada das múltiplas decisões operacionais, de
investimento e financiamento dos gestores de cada tipo de terminal. Como ambos os tipos querem
maximizar o retorno do capital, a existência de diferenças significativas nesses indicadores pode sinalizar
assimetrias concorrenciais entre os dois.
O primeiro indicador é a margem bruta sobre vendas, que relaciona o lucro bruto com as receitas
líquidas de prestação de serviços. Uma vez que ele confronta os custos dos serviços com a receita auferida
diretamente na prestação desses serviços, não há, teoricamente, transferência de ociosidade de capacidade
instalada para a margem bruta. Se houver diferenças significativas, em favor dos terminais privativos, da
margem bruta sobre vendas, isso poderia sinalizar, para além de um problema de gestão, que o uso
obrigatório da mão de obra do OGMO pelos terminais arrendados lhes traria alguma desvantagem
competitiva em relação aos terminais de uso privativo.
A tabela a seguir apresenta os resultados:
Modelo de Terminal N Média Desvio Padrão Teste t
PP 32 0,3612 0,1704 0,8474 TUP 16 0,3751 0,2576
Os resultados do teste t de médias, bi-caudal, para duas amostras com tamanho e variância
diferentes, indicam que não há diferença significativa na média da margem bruta sobre vendas entre os
terminais arrendados e os de uso privativo. Em termos absolutos, a margem bruta sobre vendas dos
terminais arrendados, de 36,12%, é ligeiramente menor do que o valor médio dessa variável para os
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terminais de uso privativo (37,51%). Não se pode afirmar, portanto, que o uso obrigatório da mão de obra
do OGMO pelos terminais arrendados, na prestação dos seus serviços de carga e descarga em navios, lhes
gere desvantagem competitiva em relação aos terminais de uso privativo.
O segundo indicador é o retorno sobre o investimento (ROI – Return on Investment), que relaciona o
lucro operacional (ou EBIT – Earnings Before Interest and Taxes) da entidade com os ativos operacionais que
contribuíram para a geração desse lucro. Ele parte da premissa de que o retorno dos ativos independe da
forma como eles são financiados, por isso o custo financeiro associado às fontes de financiamento dos ativos
não faz parte do lucro operacional. Este estudo utiliza periodicidade anual para o lucro operacional, mas
durante o ano a entidade pode ter realizado novos investimentos em ativos operacionais. Por essa razão, foi
considerado o ativo operacional médio do ano, e não o ativo operacional do início do ano, como base de
comparação com o lucro operacional gerado.
A tabela a seguir apresenta os resultados médios desse indicador para as duas categorias de
terminal de contêineres.
N Média Desvio Padrão Teste t PP 32 0,1248 0,1424 0,9702 TUP 16 0,1231 0,1466 0,4849(*) (*) resultado do teste-t para duas amostras com variâncias iguais.
Podemos observar que o retorno operacional médio sobre o investimento em ativos, bem como a
variabilidade média desses retornos, nos dois tipos de terminal, é bastante similar. O teste t de médias
confirma que não há diferenças significativas desse indicador entre os dois tipos de terminal. Uma vez que o
desvio padrão de ambas as amostras é praticamente o mesmo, o teste t foi realizado também assumindo
igualdade na variância das duas amostras (homoscedasticidade). O resultado reforçou ainda mais a
constatação de que não se pode rejeitar a hipótese de que os retornos do investimento dos terminais
arrendados e de uso privativo são, na média, iguais.
O terceiro indicador, o retorno sobre os ativos (ROA – Return on Assets), mede o lucro gerado por
todos os ativos, operacionais e não operacionais, e considera também o custo de financiamento desses
ativos. Neste sentido, o indicador relaciona o lucro líquido do terminal (bottom line da demonstração do
resultado) com seu respectivo ativo total. É um indicador que mede o retorno sobre todo o capital, próprio e
de terceiros, utilizado para financiar os ativos da entidade. Como o custo do capital de terceiros já está
considerado no lucro líquido, o ROA mostra quanto sobrou, em termos relativos, depois de considerar todos
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os custos reconhecidos nas demonstrações contábeis, operacionais e financeiros, para remunerar o capital
dos controladores do terminal.
N Média Desvio Padrão Teste t Arrendados 32 0,0725 0,1206 0,667 TUP 16 0,0571 0,1139 0,3361(*) (*) resultado do teste t para 2 amostras de mesma variância.
Como podemos observar na tabela acima, em termos absolutos o retorno médio sobre o ativo dos
terminais arrendados, de 7,25%, é ligeiramente superior ao dos terminais de uso privativo, de 5,71%. Mas
em termos estatísticos, como atestado pelas estatísticas t, os retornos médios dos ativos dos terminais
arrendados são iguais aos dos privativos.
O próximo indicador é o retorno sobre o patrimônio líquido (return on equity). Ele mede o retorno
gerado sobre o capital que pertence aos donos do empreendimento, depois da remuneração do capital de
terceiros, e é definido como a relação entre o lucro líquido, bottom line da demonstração do resultado, e o
patrimônio líquido contábil. O patrimônio líquido é composto pelo capital social integralizado pelos sócios e
por lucros anteriores que foram reinvestidos no negócio. É a principal medida de síntese do desempenho de
um negócio, pois contempla todas as decisões realizadas, inclusive os efeitos não operacionais que não
estejam diretamente sob o controle do gestor, como eventos da natureza, mudança nas taxas de juros,
câmbio, inflação etc.
N Média Desvio Padrão Teste t Arrendados 32 0,2182 0,5685 0,7547 TUP 15 0,1825 0,1782 0,8196(*) (*) resultado do teste t para duas amostras de mesma variância.
Conforme observamos na tabela acima, também para esse indicador os resultados dos testes t não
permitem rejeitar a hipótese de que são iguais os retornos sobre o patrimônio líquido dos terminais
arrendados e dos de uso privativo. Em termos absolutos, o RSPL dos terminais arrendados supera o dos
terminais de uso privativo em 3,57% (21,82% a 18,25%). Mas a grande diferença de variabilidade média
entre as duas categorias de terminais (56,85% para os arrendados e 17,82% para os privativos) mostra que
as diferenças nos valores médios do RSPL entre os terminais são apenas aleatórias.
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Modelo de Valoração dos Terminais
A parte final do nosso estudo envolveu o desenvolvimento de uma metodologia que permite que
empreendimentos em terminais arrendados e terminais privativos sejam comparados em termos dos valores
gerados ao investidor. Para tanto, tivemos que estimar as receitas e os custos econômicos desses terminais,
fazer hipóteses sobre as suas estruturas de capital e escolher a taxa de retorno para descontar fluxos de
caixa futuros. A idéia subjacente à metodologia é que um empreendimento gera lucro econômico zero
quando as receitas por ele geradas ao longo do tempo, descontadas a valor presente, são suficientes para
cobrir todos os custos incorridos, inclusive os de capital (retorno sobre capital próprio e juros sobre capital
de terceiros), também descontados a valor presente. Caso as receitas superem os custos, há geração de
lucro econômico extraordinário, também chamado de valor gerado para o investidor, e isso se traduz em um
valor presente líquido dos fluxos de caixa positivo.
A metodologia é flexível o suficiente para diferenciar os terminais de acordo com o seu tipo
(arrendado ou privativo) e localização (Nordeste, Norte, Sudeste ou Sul), e se baseia em um modelo
econométrico que estabelece relações quantitativas entre receitas e custos, por um lado, e variáveis que
têm relevância na explicação de como receitas e custos se comportam ao longo do tempo, por outro.
O lado dos custos
Dada a configuração dos dados que foram entregues pelos terminais e repassados pela ANTAQ à
equipe do projeto, decidimos dividir os custos operacionais em duas categorias. A primeira consiste dos
custos dos serviços prestados, que incluem os gastos com pessoal, materiais e serviços utilizados
diretamente pelo terminal na prestação de serviços portuários, incluindo aqueles com estiva e desestiva. A
segunda categoria é formada pelas despesas gerais/administrativas, que incluem praticamente as mesmas
categorias de gasto, mas referem-se ao setor de vendas e administração do terminal.
Em seguida, realizamos estudos econométricos que permitiram a identificação de variáveis que
explicam o comportamento daqueles custos. A tabela a seguir apresenta os coeficientes dessas variáveis:
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Custo do serviço prestado Despesas gerais/administrativas
Variável explicativa Coeficiente Coeficiente
Movimentação bruta de carga 6,64 5,62 Rendimento médio dos trabalhadores do setor 5,89 --
Região Sudeste 1,565 -- Região Nordeste 0,815 0,519
Região Sul 1,631 --
Participação da movimentação de contêineres na movimentação total de carga
2,42 1,62
A interpretação desses coeficientes é a de que, mantendo-se constantes os valores das demais
variáveis:
• Um aumento na movimentação bruta de carga de 10% leva a um aumento no custo dos serviços prestados de 6,64% e nas despesas gerais/administrativas, de 5,62%.
• Um aumento de 10% no rendimento médio dos trabalhadores do setor leva a um aumento no custo dos serviços prestados de 5,89%. Mudanças no rendimento médio dos trabalhadores não afetam significativamente as despesas gerais/administrativas.
• O custo dos serviços prestados em terminais localizados na região Sudeste é 56,5% maior do que o de terminais localizados na região Norte. Não há diferença significativa entre as despesas gerais/administrativas de terminais da região Sudeste e da região Norte.
• O custo dos serviços prestados em terminais localizados na região Nordeste é 18,5% menor do que o de terminais localizados na região Norte. As despesas gerais/administrativas de terminais localizados na região Nordeste são 48,1% menores do que as de terminais localizados na região Norte.
• O custo dos serviços prestados em terminais localizados na região Sul é 63,1% maior do que o de terminais localizados na região Norte. Não há diferença significativa entre as despesas gerais/administrativas de terminais da região Sul e da região Norte.
• Um aumento de um ponto percentual na participação da movimentação de contêineres na movimentação total de carga leva a um aumento de 2,42% no custo do serviços prestados e de 1,62% nas despesas gerais/administrativas.
Uma ausência conspícua da tabela acima é o tipo do terminal, se privativo ou arrendado. Isso se
deve ao fato de que a nossa análise não identificou diferença significativa entre os custos desses dois tipos
de terminal. Em outras palavras, dados os mesmos valores da movimentação bruta de carga, do rendimento
médio dos trabalhadores e da participação da movimentação de contêineres na movimentação total de
carga, não há evidência de que haja diferença entre dois terminais localizados na mesma região geográfica,
um arrendado e outro privativo, nem em termos do custo do serviço prestado nem das despesas
gerais/administrativas.
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O lado da receita
Realizamos o mesmo tipo de estudo econométrico para identificar variáveis que explicam o
comportamento das receitas dos terminais e chegamos à conclusão de que apenas a movimentação bruta de
carga e a localização geográfica são significativas. A tabela abaixo apresenta os coeficientes que quantificam
o impacto de cada uma dessas variáveis sobre a receita bruta de serviços:
Receita bruta de serviços
Variável explicativa Coeficiente
Movimentação bruta de carga 45,27 Região Sudeste 58,5 x 106
Região Nordeste -40,7 x 106
A interpretação desses coeficientes é a de que, mantendo-se constantes os valores das demais
variáveis:
• Um aumento de uma tonelada na movimentação bruta de carga leva a um aumento de R$45,27 na receita bruta de serviços.
• A receita bruta de serviços de terminais localizados na região Sudeste é aproximadamente 58,5 milhões maior do que a de terminais localizados na região Norte.
• A receita bruta de serviços de terminais localizados na região Nordeste é aproximadamente 40,7 milhões menor do que a de terminais localizados na região Norte.
• Não há diferença significativa entre a receita bruta de serviços de terminais localizados na região Sul e a de terminais localizados na região Norte.
Comparação dos fluxos de caixa descontados dos terminais privativos e arrendados
As relações quantitativas apresentadas nas duas seções anteriores nos permitem projetar a evolução
do custo dos serviços prestados, das despesas gerais administrativas, e da receita bruta de serviços. Para
tanto, basta projetar a evolução das variáveis que identificamos como relevantes para explicar o
comportamento de custos e receitas. Apresentaremos mais adiante os detalhes dessas projeções. Vale
relembrar que até este ponto não há diferença entre terminais arrendados e terminais privativos. De posse
dos valores futuros de custos e receitas, podemos calcular o valor presente líquido (VPL) dos fluxos de caixa
futuros tanto de terminais arrendados quanto de terminais privativos. Esses VPLs são em geral diferentes, o
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que se deve a três fatores: duração dos empreendimentos; defasagem entre início do projeto e entrada em
operação do terminal; propriedade dos ativos de infraestrutura.
O último fator é especialmente importante, pois refere-se à diferença fundamental entre terminais
arrendados e privativos. Enquanto um terminal privativo é proprietário do terreno e da infraestrutura
aquaviária, um terminal arrendado, como o próprio nome diz, arrenda esses ativos da autoridade portuária.
De acordo com a Nota Técnica n° 017-2007 da ANTAQ, os valores do arrendamento dividem-se em duas
partes: uma fixa, calculada como o produto da área total arrendada por um preço em R$/m2 obtido a partir
de um laudo imobiliário; e uma variável, que depende da movimentação de carga do terminal e é calculada
de forma a fazer com que os resultados do fluxo de caixa do arrendamento que ultrapassarem a
remuneração do custo de capital sejam revertidos à Autoridade Portuaria. Esses valores são pagos ao longo
do arrendamento, embora seja admitido um pagamento inicial à vista (“down payment”), considerado um
adiantamento de receita ao Poder Concedente.
Como os dados usados no estudo não permitem a desagregação dos pagamentos de arrendamento
em suas partes fixa e variável, adotamos a hipótese simplificadora de que o valor presente dos pagamentos
totais (fixo + variável) de arrendamento é igual ao valor dos ativos de infraestrutura já existentes no
momento do arrendamento. Além disso, trabalhamos com duas situações hipotéticas. Na primeira, chamada
de cenário 1, todos os pagamentos de arrendamento são contabilizados como custos operacionais, de forma
que a parte fixa não entra no balanço patrimonial como ativo intangível e, consequentemente, não é
amortizada. Na segunda, chamada de cenário 2, 50% dos valores de arrendamento correspondem à parte
fixa e são contabilizados como despesas de capital. Nesse caso, a parte fixa entra no balanço patrimonial
como um ativo e é amortizada ao longo do tempo, enquanto o resultado (lucro) operacional é ajustado de
forma a refletir o fato de que agora essas despesas são tratadas como despesas de capital, e não
operacionais. O ajuste necessário é o de, a cada ano, adicionar a parte fixa do arrendamento e subtrair a
amortização do resultado operacional.
Quanto à duração do empreendimento, estipulamos que o número de períodos do horizonte de
programação do terminal arrendado é de 25 anos, igual ao prazo de duração do contrato de arrendamento.
Já o investimento em um terminal privativo tem características de perpetuidade, mas para efeito dos
exercícios, trabalhamos com um horizonte de programação de 50 anos. Também supomos que os ativos são
totalmente depreciados (contabilmente) em 25 anos de forma linear, tanto para o terminal arrendado
quanto para o privativo.
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Os resultados dos cálculos dos VPLs a partir das projeções de receitas e custos estão na tabela a
seguir, que também apresenta as hipóteses utilizadas para cada uma das regiões geográficas onde se
localizam os terminais representativos (a defasagem mencionada na tabela é de três anos entre o início do
empreendimento e a entrada em operação do terminal).
Região Sudeste
Hipótese Terminal arrendado Terminal privativo Capacitacidade de movimentação de carga Fixa em 15 milhões de toneladas Fixa em 15 milhões de toneladas
Movimentação bruta de carga 14 milhões de toneladas – ano base, crescimento de 1% ao ano
14 milhões de toneladas – ano base, crescimento de 1% ao ano
Rendimento médio dos trabalhadores do setor
R$3.110,55 – ano base, crescimento de 1% a cada dois anos
R$3.110,55 – ano base, crescimento de 1% a cada dois anos
Participação da movimentação de contêineres na movimentação total de carga
95% 95%
Investimentos em infraestrutura e superestrutura
R$360 (infra) R$240 (supra)
R$360 (infra) R$240 (supra)
Taxa de desconto 8,3% 8,3% Duração do empreendimento 25 anos 50 anos
Sem defasagem cenário 1
Sem defasagem cenário 2
Com defasagem Sem defasagem Com defasagem
VPL R$ 1.675 milhões
R$ 1.820 milhões
R$ 1.415 milhões
R$ 1.695 milhões
R$ 1.406 milhões
Podemos constatar que, para terminais representativos localizados na região Sudeste:
1. O VPL do terminal privativo sem defasagem é maior do que o do terminal arrendado sem
defasagem, cenário 1, mas menor do que o do sem defasagem, cenário 2.
2. O VPL do terminal privativo com defasagem é menor do que o do terminal arrendado sem
defasagem, cenário 1.
3. O VPL do terminal privativo com defasagem é menor do que o do terminal arrendado com
defasagem.
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Região Nordeste
Hipótese Terminal arrendado Terminal privativo Capacitacidade de movimentação de carga Fixa em 3,85 milhões de toneladas Fixa em 3,85 milhões de toneladas
Movimentação bruta de carga 3,5 milhões de toneladas – ano base, crescimento de 1% ao ano
3,5 milhões de toneladas – ano base, crescimento de 1% ao ano
Rendimento médio dos trabalhadores do setor
R$2.715,71 – ano base, crescimento de 1% a cada dois anos
R$2.715,71 – ano base, crescimento de 1% a cada dois anos
Participação da movimentação de contêineres na movimentação total de carga
95% 95%
Investimentos em infraestrutura e superestrutura
R$92,4 (infra) R$61,6 (supra)
R$92,4 (infra) R$61,6 (supra)
Taxa de desconto 8,3% 8,3% Duração do empreendimento 25 anos 50 anos
Sem defasagem cenário 1
Sem defasagem cenário 2
Com defasagem Sem defasagem Com defasagem
VPL R$ 219 milhões
R$ 256 milhões
R$ 184,1 milhões
R$ 198,1 milhões
R$ 159,7 milhões
Podemos constatar que, para terminais representativos localizados na região Nordeste:
1. O VPL do terminal privativo sem defasagem é menor do que o do terminal arrendado sem
defasagem, cenário 1, e também menor do que o do sem defasagem, cenário 2.
2. O VPL do terminal privativo com defasagem é menor do que o do terminal arrendado sem
defasagem, cenário 1.
3. O VPL do terminal privativo com defasagem é menor do que o do terminal arrendado com
defasagem.
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Região Norte
Hipótese Terminal arrendado Terminal privativo Capacitacidade de movimentação de carga Fixa em 3,3 milhões de toneladas Fixa em 3,3 milhões de toneladas
Movimentação bruta de carga 3 milhões de toneladas – ano base, crescimento de 1% ao ano
3 milhões de toneladas – ano base, crescimento de 1% ao ano
Rendimento médio dos trabalhadores do setor
R$1.539,59 – ano base, crescimento de 1% a cada dois anos
R$1.539,59 – ano base, crescimento de 1% a cada dois anos
Participação da movimentação de contêineres na movimentação total de carga
95% 95%
Investimentos em infraestrutura e superestrutura
R$79,2 (infra) R$52,8 (supra)
R$79,2 (infra) R$52,8 (supra)
Taxa de desconto 8,3% 8,3% Duração do empreendimento 25 anos 50 anos
Sem defasagem cenário 1
Sem defasagem cenário 2
Com defasagem Sem defasagem Com defasagem
VPL R$ 329,4 milhões
R$ 361,1 milhões
R$ 278,7 milhões
R$ 331 milhões
R$ 274,5 milhões
Podemos constatar que, para terminais representativos localizados na região Norte:
1. O VPL do terminal privativo sem defasagem é maior do que o do terminal arrendado sem
defasagem, cenário 1, mas menor do que o do sem defasagem, cenário 2.
2. O VPL do terminal privativo com defasagem é menor do que o do terminal arrendado sem
defasagem, cenário 1.
3. O VPL do terminal privativo com defasagem é menor do que o do terminal arrendado com
defasagem.
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Região Sul
Hipótese Terminal arrendado Terminal privativo Capacitacidade de movimentação de carga Fixa em 4,4 milhões de toneladas Fixa em 4,4 milhões de toneladas
Movimentação bruta de carga 4 milhões de toneladas – ano base, crescimento de 1% ao ano
4 milhões de toneladas – ano base, crescimento de 1% ao ano
Rendimento médio dos trabalhadores do setor
R$2.374,28 – ano base, crescimento de 1% a cada dois anos
R$2.374,28 – ano base, crescimento de 1% a cada dois anos
Participação da movimentação de contêineres na movimentação total de carga
95% 95%
Investimentos em infraestrutura e superestrutura
R$105,6 (infra) R$70,4 (supra)
R$105,6 (infra) R$70,4 (supra)
Taxa de desconto 8,3% 8,3% Duração do empreendimento 25 anos 50 anos
Sem defasagem cenário 1
Sem defasagem cenário 2
Com defasagem Sem defasagem Com defasagem
VPL R$ 57,4 milhões
R$ 99,7 milhões
R$ 44,1 milhões
R$ 2,08 milhões
R$ -10,9 milhões
Podemos constatar que, para terminais representativos localizados na região Sul:
1. O VPL do terminal privativo sem defasagem é menor do que o do terminal arrendado sem
defasagem, cenário 1, e também menor do que o do sem defasagem, cenário 2.
2. O VPL do terminal privativo com defasagem é menor do que o do terminal arrendado sem
defasagem, cenário 1.
3. O VPL do terminal privativo com defasagem é menor do que o do terminal arrendado com
defasagem.
A principal constatação que podemos extrair dos resultados relatados acima é a de que o
empreendimento representativo de terminal arrendado gera valores para o investidor, ou seja, valores
presentes líquidos, maiores do que os de um terminal privativo na maioria dos casos. O único caso em que
se dá o contrário é quando comparamos o VPL de um terminal privativo sem defasagem com o de um
terminal arrendado no cenário 1, e ainda assim apenas nas regiões Sudeste e Norte. Combinado com o fato
de que receitas e custos de terminais arrendados e privativos não apresentaram diferenças significativas, de
acordo com nosso estudos estatísticos, chegamos à conclusão de que não há evidências de que terminais
privativos apresentem desempenho superior a terminais arrendados devido à existência de assimetrias
regulatórias. Essa conclusão está condicionada aos parâmetros e hipóteses adotados no nosso estudo, mas
não vislumbramos a possibilidade de que elas se alterem significativamente se aqueles forem modificados.
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Vale enfatizar que nossa metodologia baseia-se em dados reais dos terminais para estimar funções
que nos permitem obter os valores dos custos e receitas de um terminal a partir dos valores de alguns dos
seus principais fatores determinantes. Essa abordagem confere uma grande flexibilidade à aplicação do
modelo. Podemos, por exemplo, estudar terminais bastante distintos entre si em termos de movimentação
de carga, gastos com mão de obra e localização geográfica, como ficou claro na discussão acima. Além disso,
ela permite uma atualização permanente dos resultados, à medida que mais e melhores dados forem
tornando-se disponíveis, além de facilitar a realização de exercícios hipotéticos em que são testados diversos
valores das variáveis-chave, como rendimento médio dos trabalhadores, taxa de retorno e capacidade do
terminal.
Para exemplificar essa flexibilidade, realizamos dois exercícios adicionais em que a capacidade de
movimentação e os investimentos associados são os mesmos para todos os terminais, independentemente
de sua localização geográfica. Modificamos também os valores do rendimento real médio do trabalho. Para
cada região, o valor utilizado para o período base foi a média aritmética dos valores do rendimento médio
dos trabalhadores da subclasse “Gestão de Portos e Terminais.” Essa média foi calculada sobre os valores
desses rendimentos nas microrregiões geográficas em que se localizam os terminais da amostra. Os valores
utilizados foram: Norte: R$2.052,03; Nordeste: R$2.356,15; Sudeste: R$3.557,58; e Sul: R$2.166,37.
No primeiro exercício, as capacidades de movimentação e os investimentos são todos iguais aos
usados nas planilhas do relatório 1, quais sejam os correspondentes ao do terminal TECON Santos. Os
resultados são apresentados na tabela abaixo:
Terminal arrendado Terminal privativo
Região Sem defasagem cenário 1 Sem defasagem cenário 2 Com defasagem Sem defasagem Com defasagem
Sudeste R$ 1.493 milhões R$ 1.637 milhões R$ 1.259 milhões R$ 1.485 milhões R$ 1.226 milhões Nordeste R$ 2.525 milhões R$ 2.670 milhões R$ 2.146 milhões R$2.675 milhões R$ 2.249 milhões Norte R$ 2.424 milhões R$ 2.568 milhões R$ 2.059 milhões R$ 2.558 milhões R$ 2.148 milhões Sul R$ 1.664 milhões R$ 1.808 milhões R$ 1.408 milhões R$ 1.686 milhões R$ 1.400 milhões
Podemos observar que os terminais representativos da região Nordeste são os que geram os VPLs
mais altos, sendo seguidos pelos das regiões Norte, Sul e Sudeste, nessa ordem. Vale lembrar que essa
comparação só é válida sob a hipótese de que todos os terminais têm capacidade de movimentação de carga
de 15 milhões, movimentação inicial de 14 milhões, e investimentos totais (infra mais superestrutura) de
R$600 milhões.
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No segundo exercício, as capacidades de movimentação são todas iguais a 6,6 milhões de toneladas.
Esse valor é a média aritmética (arredondada) das movimentações de carga de todos os terminais da
amostra no ano de 2010, acrescida de 10%. Os investimentos em infraestrutura e superestrutura foram
redimensionados proporcionalmente à nova capacidade de movimentação. Como o valor do investimento
total usado nas planilhas do relatório 1 foi de R$40 por tonelada de capacidade, utilizamos um valor de
investimento de R$240 milhões para a nova capacidade. Os resultados são apresentados na tabela abaixo:
Terminal arrendado Terminal privativo
Região Sem defasagem cenário 1 Sem defasagem cenário 2 Com defasagem Sem defasagem Com defasagem
Sudeste R$ 429,8 milhões R$ 487,5 milhões R$ 358,8 milhões R$ 400,3 milhões R$ 322,9 milhões Nordeste R$ 773,0 milhões R$ 830,7 milhões R$ 655,5 milhões R$ 801,4 milhões R$ 669,6 milhões Norte R$ 810,5 milhões R$ 868,2 milhões R$ 687,1 milhões R$ 842,7 milhões R$ 704,4 milhões Sul R$ 374,0 milhões R$ 431,7 milhões R$ 312,8 milhões R$ 341,0 milhões R$ 274,1 milhões
Podemos observar que agora são os terminais representativos da região Norte os que geram os VPLs
mais altos, seguidos pelos das regiões Nordeste, Sudeste e Sul, nessa ordem.
Propostas para aperfeiçoamento das regras para terminais arrendados e privativos de uso misto
Embora existam distinções nas regras que regem os terminais arrendados e privativos, ficou bem
estabelecido neste estudo que os dados do setor não apontam vantagem concorrencial favorecendo os
terminais privativos em detrimento dos terminais arrendados especializados em movimentação de
contêineres proveniente de regulação assimétrica, isto é, qualquer vantagem concorrencial de um terminal
com relação a outro é proveniente de maior eficiência gerencial ou tecnológica, isto é, economicamente
legítima. Há de se reconhecer, entretanto, que existem assimetrias nas regras de regulação no setor que têm
causado desconforto para parte dos entes regulados.
Os terminais arrendados têm argumentado que, para obterem sua outorga, têm de participar de
licitações na modalidade de leilão, o que acarreta pagamento para a obtenção das outorgas, enquanto os
terminais privativos recebem suas outorgas sem nada pagarem.
Uma primeira e óbvia proposta de redução desta assimetria é fazer a outorga de autorização se
realizar por leilão. Todavia esta alteração exigiria uma modificação na legislação que rege este tipo de
outorga. Outra sugestão seria a transformação deste tipo de outorga em outorga de permissão, onde seria
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mais natural a implantação do mecanismo de licitação. Todavia, há dificuldades praticamente insuperáveis
nesta proposta de redução de assimetria. Diferentemente de uma outorga de concessão via arrendamento
de terminal público, onde o bem a ser outorgado é bem definido, no caso da outorga dos terminais
privativos cada candidato a receber a autorização detém um terreno distinto em tamanho, localização,
condições topográficas, acessos aquaviários e terrestres, entre outras características. Não existem ainda
mecanismos eficientes desenvolvidos para a realização de leilões deste tipo.
Para evitar as dificuldades de leilões para este tipo de outorga, propomos que seja estabelecido um
valor pela ANTAQ para obtenção da outorga de autorização, valor este que seria por ela determinado a
partir de critérios técnicos bem definidos. Vale ressaltar que esta proposta demanda alteração na legislação
pertinente. Estes critérios poderiam ser semelhantes aos critérios estabelecidos para definir o valor mínimo
do lance na licitação de um terminal arrendado: o valor que faz com que o valor presente líquido da outorga,
descontado à taxa de retorno apropriada, definida por metodologia da ANTAQ e aplicada tanto aos
terminais arrendados quanto aos terminais autorizados, seja igual a zero. Este valor garantiria duas coisas: a
atratividade do negócio e a redução da assimetria regulatória. Todavia a ANTAQ poderia considerar valores a
maior ou a menor dependendo do interesse em incentivar ou desincentivar investimentos em diferentes
hinterlândias.
Já os terminais de uso misto, nos quais se inserem os terminais de contêineres, estão sujeitos a
restrições operacionais extremamente fortes, que dificultam enormemente a obtenção de outorgas. Um
terminal de uso misto é definido, na Lei 8.630/93, como aquele que movimenta carga própria e de terceiros.
Até aí não existe impacto sobre os terminais privativos. Todavia, o Decreto 6.620 de 29/10/2008, em seu
Artigo 2º, define o que se entende como carga própria e de terceiros. Segundo o Decreto, carga própria é
“aquela pertencente ao autorizado, a sua controladora ou a sua controlada, que justifique por si só, técnica e
economicamente, a implantação e a operação da instalação portuária”. A Resolução 1.660 normatiza os
procedimentos para caracterização de carga própria e de terceiros, exigindo declaração da solicitante de
outorga quanto ao tipo de carga e demonstração de que o empreendimento é economicamente viabilizado
pela movimentação de carga própria.
Esta regulação inviabiliza, na prática, a existência de novos terminais privativos especializados em
contêineres, onde a presença de carga própria é, em geral, mínima. Esta inviabilização pode ter
consequências bastante nefastas para o desenvolvimento do setor portuário brasileiro, por duas razões.
Primeiro, a capacidade instalada atual de movimentação de contêineres é capaz de atender a demanda por
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movimentação apenas quando os terminais operam a plena capacidade. Segundo, conforme ficou
evidenciado na Tabela 4, 85% dos investimentos previstos na expansão dos terminais portuários nos
próximos anos se dará via investimentos dos terminais privativos. Se estes forem estrangulados, a situação
atual de plena capacidade pode evoluir para uma situação de insuficiência de capacidade de movimentação
de contêineres.
Portanto, sugerimos que estas restrições para a criação de novos terminais portuários de uso misto
sejam retiradas e, ao contrário do estabelecido nas normas atuais, sejam dados incentivos para que os
terminais privativos de uso misto movimentem cargas de terceiros, fazendo com que suas instalações sejam
mais eficientemente utilizadas.