estudo longitudinal sobre a perda...

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA MANOELITO FERREIRA SILVA JUNIOR ESTUDO LONGITUDINAL SOBRE A PERDA DENTÁRIA EM ADULTOS E FATORES ASSOCIADOS Piracicaba 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

MANOELITO FERREIRA SILVA JUNIOR

ESTUDO LONGITUDINAL SOBRE A PERDA DENTÁRIA EM

ADULTOS E FATORES ASSOCIADOS

Piracicaba

2016

MANOELITO FERREIRA SILVA JUNIOR

ESTUDO LONGITUDINAL SOBRE A PERDA DENTÁRIA EM

ADULTOS E FATORES ASSOCIADOS

Dissertação apresentada à Faculdade de

Odontologia de Piracicaba da Universidade

Estadual de Campinas como parte dos

requisitos exigidos para obtenção do título de

Mestre em Odontologia, na Área de Saúde

Coletiva.

Orientadora: MARIA DA LUZ ROSÁRIO DE SOUSA

Coorientadora: MARÍLIA JESUS BATISTA

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELO

ALUNO MANOELITO FERREIRA SILVA JUNIOR E

ORIENTADA PELA PROFA. DRA. MARIA DA LUZ

ROSÁRIO DE SOUSA.

Piracicaba

2016

Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): FAPESP/CAPES, 2014/15184-2; FAPESP, 2011/00545-1; FAPESP, 2009/16560-0

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Odontologia de Piracicaba

A Comissão Julgadora dos trabalhos de Defesa de Dissertação de Mestrado, em sessão

pública em realizada em 26 de fevereiro de 2016, considerou o candidato MANOELITO

FERREIRA SILVA JUNIOR aprovado.

PROFa. DRa. MARIA DA LUZ ROSÁRIO DE SOUSA

PROF. DR. ADAUTO EMMERICH DE OLIVEIRA

PROFa. DRa. MARIA PAULA MACIEL RANDO MEIRELLES

A ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho primeiramente a Deus pelo dom da vida, aos meus pais,

exemplos de doação, à minha namorada, aos professores por todo conhecimento adquirido,

aos meus familiares e amigos pela compreensão das renúncias que trazem minhas escolhas e

aos meus futuros pacientes, alunos e leitores, objetivo de todo este esforço.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Deus do impossível, que tem feito da minha vida um milagre

constante.

Aos meus pais Manoelito Silva e Sinthia Ferraz, que tem doado diariamente

suas vidas para que eu possa realizar meus sonhos.

À minha amada Indiamara Côco, que absteve do meu companheirismo e amor

para tornar este estudo possível.

À amiga Cláudia Lobelli, pelo carinho e ajuda nesta sinuosa jornada da pós-

graduação.

À minha prima Flávia Ferreira, que sempre se fez presente em minha vida.

As amigas-irmãs: Camila, Caroline, Géssica, Lezimara e Rahyza, que

acreditaram mais em mim, do que eu mesmo. Sem dúvidas juntos somos mais fortes.

Aos meus amigos-irmãos Sírius Souza e Ramon Rocha, incentivadores e

apoiadores das minhas escolhas.

À Natália Bastos, pelo amizade e apoio em todos os momentos.

Ao amigo Emílio Prado, pela ajuda, colaboração e aprendizado conjunto.

Aos amigos que à FOP-UNICAMP me deu Amanda, Elis, Mércia, Rafaela,

Rahyza, Vinícius e Viviene pelo companheirismo e brincadeiras diárias.

Aos meus familiares, que sempre me apoiaram e acreditaram na realização dos

meus sonhos, e sempre compreendem minhas faltas em momentos importantes.

Ao Hedilberto Araújo e Dra. Maria José Gomes, responsáveis por todo o

meu amor pela ciência. Os que primeiro acreditaram em meu potencial e me deram a

oportunidade de ingressar nesse mundo, através da iniciação científica.

Aos professores Prof. Dr. Alfredo Feitosa, Profa. Dra. Ana Maria

Martins, Profa. Dra. Cláudia Batitucci, Profa. Dra. Karla Coburn, Profa. Dra.

Lilian Citty, Prof. Dr. Luiz Gustavo Daroz, Prof. Dr. Sérgio Vaz, Profa. Dra.

Teresa Cristina Rangel, que ao longo da minha jornada acadêmica foram mais que

transmissores de conhecimentos, mas incentivaram o meu despertar científico e o amor à

docência.

Aos professores Dr. Adauto Emmerich, Dra. Carolina Esposti, Dra.

Karina Tonini, Dra. Maria Helena Miotto, Dra. Raquel Baroni que me

ensinaram que a resolução para os problemas de saúde bucal transcendem apenas ao

tratamento da doença, mas a busca diária por melhores condições de vida.

À Adalmes Maia, Prof. Daniel Gomes, Profa. Ethel Maciel, Saulo Sales

e Sinthia Maria, pessoas que me fazem acreditar que ainda há integridade e força de

vontade para resolver as questões indecifráveis da vida.

Às professoras Dra. Altair A. Del Bel Cury, Dra. Débora Dias da Silva

Harmitt, Dra. Luciane Miranda Guerra pela receptividade e disponibilidade na

participação das bancas da 1ª e 2ª fase de qualificação dessa dissertação, contribuindo

efetivamente com melhorias ao estudo.

À Marcela Di Moura e Marli Ferreira, que exaustivamente lutaram para

que esta pesquisa fosse possível e se tornasse uma realidade.

À querida Profa. Dra. Marília Jesus Batista pela confiança para

continuação desse estudo, além de ser um apoio constante. Pelo aprendizado e pelas horas de

conversas que me fez crescer como profissional e como pessoa.

À Profa. Dra. Maria da Luz Rosário de Sousa, querida orientadora pelo

apoio e incentivo para realização desta pesquisa. Obrigado pela oportunidade de desenvolver

todas as habilidades possíveis, por acreditar no meu trabalho, pela dedicação e orientação,

exemplo de honestidade e doação.

Aos voluntários que aceitaram participar da pesquisa.

À Fapesp/Capes por conceder a bolsa de mestrado.

À Profa. Dra. Cinthia Pereira Machado Tabchoury, Coordenadora da

Comissão da Pós-Graduação da Faculdade de Odontologia de Piracicaba, pelo apoio e

incentivo;

Aos docentes do programa de Pós-Graduação da Odontologia da FOP-UNICAMP

que proporcionou um aprendizado de excelência.

À secretaria Eliana Aparecida de Mônaco do Departamento de Odontologia

Social da FOP-UNICAMP, pelo auxílio de sempre;

Aos secretários Elisa, Ana Paula e Domingos, pela constante ajuda e atenção.

À Faculdade de Odontologia de Piracicaba, através da diretoria, coordenadoria

de Pós-Graduação, docentes e funcionários pelas oportunidades e apoio.

Trabalha como se tudo dependesse de ti

e confia como se tudo dependesse de Deus.

RESUMO

Apesar das melhores condições de saúde bucal dos adultos nos últimos tempos, as perdas

dentárias ainda constituem um agravo muito prevalente nesta população, sendo um assunto de

grande relevância para Odontologia. Os objetivos do estudo foram: I) Caracterizar a condição

de saúde bucal e os principais motivos autorrelatados para extração dentária. II) Avaliar a

incidência das perdas dentárias após 4 anos de acompanhamento. III) Analisar os fatores de

risco para a incidência das perdas dentárias em uma população de adultos. Este estudo de

coorte prospectivo examinou por amostragem probabilística adultos entre 20 e 64 anos,

representativos dos adultos residentes em Piracicaba-SP, Brasil. O exame bucal domiciliar,

realizado em 2011 e 2015, utilizou o índice de dentes permanentes cariados, perdidos e

obturados (CPOD), necessidade de tratamento para cárie, Índice Periodontal Comunitário

(CPI), uso e necessidade de prótese dentária segundo códigos e critérios da Organização

Mundial da Saúde e presença de biofilme visível. Além disto, aplicou-se no baseline um

questionário para coleta dos dados demográficos, socioeconômicos, hábitos de saúde e de

utilização de serviço odontológico. As análises descritivas foram realizadas através das

médias, desvio-padrão (DP) e erro-padrão (EP) estratificadas pelas faixas etárias de adultos

jovens (20-44 anos) e mais velhos (45-64 anos). Para a análise hierárquica o desfecho foi a

incidência de perda dentária utilizando-se um modelo teórico conceitual adaptado para este

estudo. A categoria de referência para a regressão logística binária foram indivíduos sem

incidência de perda dentária por cárie ou doença periodontal (p<0,05). No baseline, houve

uma participação de 248 adultos, sendo a média do componente perdido (P) de 10,3

(EP=0,82) nesta população, P=3,34 (EP=0,33) nos adultos jovens e P=13,41 (EP=1,45) nos

mais velhos. A dor foi o motivo mais prevalente para realização da extração dentária do

primeiro dente extraído (37,5%) e dos demais dentes (34,6%). Esta escolha foi principalmente

pela falta de outra opção de tratamento (52%) e predominantemente realizada no serviço

privado (47,2%). No follow up, a amostra final foi composta por 143 adultos (57,7%). Um

total de 51 (35,7%) adultos apresentou perda de um ou mais dentes no período estudado,

sendo nestes indivíduos, a média de 2,55 (DP=1,86) dentes perdidos. Na amostra total, a

incidência da perda dentária foi em média 0,91 (DP=1,65), sendo maior nos adultos mais

velhos 1,14 (DP=1,64) (p=0,008). A incidência das perdas dentárias apresentou como fatores

de risco: idade (RR=2,48; IC95%:1,09-5,66), procura de serviço odontológico motivado por

dor (RR=2,82; IC95%:1,06-7,52) e presença de cárie não tratada (RR=2,50; IC95%:1,06-

5,92). Os adultos jovens apresentaram menor prevalência e incidência das perdas dentárias. A

dor foi o principal motivo autorrelatado para escolha da extração dentária, principalmente pela

falta de outra opção de tratamento. A idade, a procura do serviço odontológico por dor e a

cárie não tratada foram fatores de risco para incidência da perda dentária. Estes resultados

remetem à importância da promoção de saúde, para favorecer de hábitos e escolhas saudáveis.

Mas também, políticas públicas que facilitem o acesso e a prevenção em saúde bucal,

principalmente na atenção primária, para que a progressão dos agravos das doenças bucais,

como a cárie dental, não culminem na perda dentária.

Palavras-chaves: Saúde Bucal. Adulto. Perda de Dente. Epidemiologia.

ABSTRACT

Despite improved conditions in adult oral health in recent times, tooth loss continues very

prevalent in this population, and is a matter of great concern in dentistry. The objectives of

this study were: I) To characterize the oral health conditions and main self-reported reasons

for tooth extraction. II) To evaluate the incidence of tooth loss after a 4 year follow-up. III) To

analyze the risk factors for the incidence of tooth loss in a population of adults. This cohort

study examined a random sample of 20 to 64 year-olds, representative of the adults living in

Piracicaba-SP, Brazil. The home oral examination carried out in 2011 and 2015, used the

index of permanent decayed, missing and filled teeth (DMFT), need of treatment for dental

caries, Community Periodontal Index (CPI), the use and need for dental prosthesis according

to the codes and criteria of the World Health Organization, as well as the presence of visible

biofilm. In addition, a baseline questionnaire was applied to collect demographic and

socioeconomic data and information on health habits and the use of dental services.

Descriptive analyzes were performed through means, standard deviation (SD) and standard

error (SE), and stratified into age groups of young (20-44 years) and older adults (45-64

years). For the hierarchical analysis, the outcome was presence of the incidence of tooth loss.

A conceptual theoretical model of tooth loss adapted for this study was also used. The

reference category for the binary logistic regression was that of people not missing any teeth

due to caries or periodontal disease (p<0.05). At the baseline, a total of 248 adults

participated. The average of the missing component (M) was 10.3 (SE=0.82) in this

population, with M=3.34 (SE=0.33) in the young and M=13.41 (SE=1.45) in the older adults.

Pain was the most common reason for the first extraction (37.5%) and also for other

extractions (34.6%). This choice was mainly due to a lack of other treatment options (52%)

and was carried out principally in the private service (47.2%). In the follow up, the final

sample consisted of 143 adults (57.7%). A total of 51 (35.7%) adults had lost one or more

teeth over the study period, yielding a mean of 2.55 (SD=1.86) missing teeth. In the total

sample, the incidence of tooth loss averaged 0.91 (SD=1.65), and was higher in older adults

1.14 (SD=1.64) (p = 0.008). The incidence of tooth loss as presented risk factors: age

(RR=2.48; 95%CI:1.09-5.66), pain as the reason for seeking dental service (RR=2.82;

95%CI:1.06-7.52) and untreated caries (RR=2.50; 95%CI:1.06-5.92). Young adults presented

a lower prevalence and incidence of tooth loss. Pain was the main self-reported reason for the

prevalence of tooth loss, mainly due to a lack of other treatment options, while age, pain as a

reason for seeking dental service and untreated caries were the strongest predictors for the

incidence of tooth loss. These results point to the importance of of prevention of oral diseases,

particularly dental caries and health promotion through healthy habits and choices.

Key words: Oral Health. Adult. Tooth Loss. Epidemiology.

SUMÁRIO

Pág.

1. INTRODUÇÃO 10

2. ARTIGOS 12

2.1 Artigo: Condição de saúde bucal e motivos para extração dentária

entre uma população de adultos (20-64 anos)

12

2.2 Artigo: Incidência das perdas dentárias em adultos: estudo coorte

prospectivo de base populacional em 4 anos de acompanhamento

30

2.3 Artigo: Fatores de risco para perda dentária em adultos: um estudo

prospectivo de base populacional

47

3. DISCUSSÃO 64

4. CONCLUSÃO 66

REFERÊNCIAS 67

APÊNDICES 70

Apêndice 1 – Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) 70

Apêndice 2 – Ficha de exame 72

Apêndice 3 – Questionário 73

ANEXOS 80

Anexo 1 – Autorização de re-publicação de artigo 80

Anexo 2 - Folha de submissão do artigo 81

Anexo 3 – Folha de aceite do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) 82

10

1 INTRODUÇÃO

Apesar dos avanços na Saúde Pública, verifica-se ainda as condições de saúde

bucal, cárie não tratada e a doença periodontal como as doenças bucais mais prevalentes no

mundo (Kassebaum et al., 2014a; Kassebaum et al., 2015). Um dos possíveis resultados do

acometimento destas doenças, do acúmulo de necessidades de tratamento e sua progressão,

podem refletir na perda dentária. Isto porque, mesmo a Odontologia seguindo atualmente uma

filosofia mais conservadora, e a perda dentária considerada última opção de tratamento, em

alguns casos torna-se inevitavelmente a única opção (Jafarian e Etebarian, 2013).

Enquanto há uma redução na prevalência das perdas dentárias em todo o mundo

nas últimas décadas (Kassebaum et al., 2014b), em países em desenvolvimento como o Brasil,

a perda dentária ainda é um problema de relevância para a Saúde Pública (Barbato et al.,

2007). No último levantamento epidemiológico de saúde bucal brasileiro (SB Brasil 2010),

realizado no ano de 2010, na faixa etária de adultos o componente dente perdido ainda foi o

maior responsável do índice de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados (CPOD)

(Nascimento et al., 2013; Peres et al., 2013) e maior conforme o avanço da faixa etária

estudada (Brasil, 2011).

Os estudos epidemiológicos são importante instrumento para verificação das

condições reais de saúde da população e dos efeitos gerais dos serviços prestados à população

(Brasil, 2004). Devido às grandes disparidades encontradas na experiência de cárie (CPOD)

na faixa etária de adultos nos últimos levantamentos epidemiológicos de saúde bucal

realizados no Brasil (Brasil, 1988; Brasil, 2004; Brasil, 2011), torna-se importante pesquisar o

que ocorre no intervalo das faixas etárias de adolescentes (15-19 anos), adultos (35-44 anos) e

idosos (65-74 anos) preconizadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) (WHO, 1997),

sendo para isto, necessário pesquisar a faixa etária de adultos de forma ampliada com a

finalidade de conhecer melhor quando ocorrem e quais os motivos que influenciam nas perdas

dentárias, foco de estudo do presente trabalho.

Alguns estudos têm verificado associações entre as perdas dentárias e fatores

socioeconômicos e demográficos em adultos. Assim como foi observada a polarização da

cárie com fatores socioeconômicos em crianças no Brasil (Narvai et al., 2006), as perdas

dentárias podem também apresentar o mesmo efeito na população de adultos. Estudos

transversais mostraram a prevalência da perda dentária associados com: idade (Frazão et al.,

2003, Barbato et al., 2007; Silva et al., 2009), menor condição socioeconômica (Frazão et al.,

2003; Susin et al., 2005; Silva et al., 2009), sexo feminino (Susin et al., 2005; Barbato et al.,

11

2007; Silva et al., 2009), residentes em zona rural, menor escolaridade, usuários de serviços

públicos (Barbato et al., 2007; Silva et al., 2009), número de cinco ou mais pessoas residindo

a mesma residência, procura de serviço odontológico motivado por dor (Silva et al., 2009),

fumantes, presença de experiência de cárie e perda de inserção periodontal (Susin et al.,

2005). Enquanto foi encontrada menor prevalência de perdas dentárias em locais com melhor

grau de desenvolvimento humano e em municípios com maior número de habitantes (Frazão

et al., 2003). Nos estudos longitudinais em adultos, houve maior risco da incidência das

perdas dentárias em homens, fumantes, com presença de cárie, periodontite grave (van der

Velden et al, 2015) e menor nível educacional (Haugejorden et al., 2003; van der Velden et al,

2015).

Barbato et al. (2007) e De Marchi et al. (2012) ressaltam a necessidade de estudar

as perdas dentárias, devido à escassez de publicações na área e a extrema relevância deste

tema para Odontologia. Poucos são os estudos que relatam a incidência da perda dentária na

população adulta. No Brasil não foi encontrado até o momento, nenhum estudo longitudinal

de base populacional que aborde adultos. Como a epidemiologia relacionada à perda de

dentes ainda não está totalmente compreendida, verificar a incidência da perda dentária, sua

distribuição e seus fatores associados podem contribuir para ações de promoção de saúde e

reduzir os impactos na qualidade de vida dessa população (Gerritsen et al., 2010; Silva et al.,

2012; Batista et al., 2014).

Este estudo, longitudinal de base populacional, sobre a perda dentária no

município de Piracicaba (SP) em faixa etária ampliada de adultos (20-64 anos) trouxe dados

importantes e mais aprofundados para compreensão e contextualização da incidência da perda

dentária e seus fatores associados. Esta dissertação de mestrado será apresentada no formato

de três artigos. Sendo o primeiro com dados transversais, e versou sobre as condições de

saúde bucal e os motivos autorrelatados dos adultos para a escolha da extração dentária. O

segundo e terceiro com dados longitudinais. O segundo versou sobre aspectos clínicos dos

dentes que foram perdidos e da condição clínica no momento inicial do estudo, e o último

sobre os fatores de risco para a incidência das perdas dentárias dos adultos após quatro anos

de acompanhamento.

12

2 ARTIGOS

2.1 CONDIÇÃO DE SAÚDE BUCAL E MOTIVOS PARA EXTRAÇÃO DENTÁRIA

ENTRE UMA POPULAÇÃO DE ADULTOS (20-64 ANOS)

ORAL HEALTH CONDITION AND REASONS FOR TOOTH EXTRACTION AMONG AN

ADULT POPULATION (20-64 YEARS)

Manuscrito aceito na revista Ciência e Saúde Coletiva (Anexo 1)

Manoelito Ferreira SILVA-JUNIOR1

Anne Caroline Correia de SOUZA2

Marília Jesus BATISTA3

Maria da Luz Rosário de SOUSA4

1. Mestrando em Odontologia. Departamento de Odontologia Social. Faculdade de

Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

2. Cirurgiã-dentista, Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de

Campinas, Brasil.

2. Pós-doutoranda. Departamento de Odontologia Social. Faculdade de Odontologia de

Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

3. Professora Titular. Departamento de Odontologia Social - Faculdade de Odontologia de

Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

Autor correspondente:

Profa. Dra. Maria da Luz R. de Sousa

Departamento de Odontologia Social

Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas.

Avenida Limeira, 901 – Piracicaba, SP – Brasil.

CEP: 13414-018. Caixa Postal 52.

Telefone: +55 (19) 2106-5209; Fax: 55 (19) 2106-5218.

Email: [email protected]

Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (2009/16560-0,

2011/00545-1) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/CAPES

(2014/15184-2).

13

RESUMO:

O estudo caracterizou a condição de saúde bucal e os principais motivos autorrelatados da

extração dentária em uma população de adultos. O estudo transversal examinou 248 adultos

de 20-64 anos, representativos da população de Piracicaba-SP. O exame bucal domiciliar

utilizou os índices CPOD, CPI, uso e necessidade de prótese dentária segundo critérios da

OMS e presença de biofilme visível. Foram coletados dados demográficos, socioeconômicos

e motivos da extração dentária por meio de questionário. A análise descritiva foi estratificada

pela idade em 20-44 e 45-64 anos. O CPOD médio foi 20,37 (EP=0,50), P=3,34 (EP=0,33)

nos adultos jovens e P=13,41 (EP=1,45) nos mais velhos. Bolsa periodontal (CPI ≥ 3) foi

encontrada em 20,5% dos adultos jovens e 53,0% dos mais velhos. Enquanto 38,8% usavam

prótese superior, 46,7% necessitavam de prótese inferior. A dor foi o motivo autorrelatado

mais prevalente para realização da extração dentária (37,5%), sendo esta escolha

principalmente pela falta de outra opção de tratamento (52%) e no serviço privado (47,2%).

Conclui-se que os adultos jovens (20-44 anos) apresentaram menos dentes perdidos e doença

periodontal, uso e necessidade de prótese. Dor e falta de opção de outros tratamentos foram os

principais motivos autorrelatados para realização das extrações dentárias.

Palavras-chave: Adultos. Saúde bucal. Extração dentária.

SUMMARY:

The study characterized oral health condition and main self-reported reasons for tooth

extraction in an adult population. This cross-sectional study examined 248 adults, aged 20 to

64, representative of the population of Piracicaba-SP. The household oral examination used

the DMFT and CPI indexes, and information on the use and need for dental prosthesis

according to WHO criteria, as well as the presence of visible biofilm. A questionnaire was

applied to collect demographic and socioeconomic data and the reasons for tooth extraction.

Descriptive analysis was stratified into 20-44 and 45-64 year age groups. The mean of DMFT

was 20.37 (SE=0.50), with M=3.34 (SE=0.33) in the young and M=13.41 (SE=1.45) in the

older adults. Periodontal pockets greater than 4 mm (CPI ≥ 3) were found in 20.5% of the

young and 53.0% of the older adults. While 38.8% wore upper denture, 46.7% need of lower

denture. The pain was the most common self-reported reason for choose tooth extraction

(37.5%), this related choice was mainly due to an absence of another treatment option (52%),

most of them carried out at the private service (47.2%). It is conclude that young adults (20-

44 years) had fewer missing teeth and periodontal disease, use and need of prostheses than

14

older adults. Pain and absence of options for other treatments were the main self-reported

reasons for performing tooth extractions.

Key words: Adults. Oral health. Tooth extraction.

INTRODUÇÃO

O Global Burden Disease, em 1990 e 2010, ainda mostra cárie não tratada, doença

periodontal grave e perda dentária entre as condições de saúde que mais impactaram a saúde

da população mundial1.

Os estudos epidemiológicos de saúde bucal com abordagem populacional são

importante meio para o conhecimento da distribuição das doenças bucais e para a

identificação das necessidades em saúde e planejamento de políticas públicas mais

condizentes com a realidade estudada.

No Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde Bucal (SB Brasil) realizada no ano de 2003

mostrou mudanças pouco expressivas na prevalência dos principais acometimentos bucais

quando comparada ao primeiro levantamento epidemiológico de saúde bucal de 19862,3. O

índice de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados (CPOD), que mede a experiência

de cárie, em 1986 apresentou uma média de 22,5 dentes acometidos por cárie em adultos entre

35-44 anos, e 20,13 no ano de 2003. No entanto, o SB Brasil 2010 mostrou maior redução na

prevalência da experiência de cárie na população adulta brasileira, com média de 16,3 dentes

afetados4, demonstrando uma melhoria na condição de saúde bucal, tendência também

verificada em países desenvolvidos5,6. Isso reforça a necessidade de estudos epidemiológicos

que monitorem a distribuição da cárie dental, como também a condição periodontal e suas

consequências, como as extrações dentárias e o uso e necessidade de próteses dentárias.

Embora nas últimas décadas a Odontologia siga uma filosofia mais conservadora, a e a

extração dentária sendo considerada última opção de tratamento pelo cirurgião-dentista, em

alguns casos torna-se a única opção7. A extração dentária é um reflexo da experiência de

doenças bucais ao longo da vida, principalmente cárie e doença periodontal, que apresentam

uma etiologia complexa com fatores de risco biológicos, sociais e comportamentais8. Além

disso, existe a influência da cultura e das crenças9 que levam os indivíduos a optarem pela

extração dentária. Por isto, conhecer os motivos pessoais que levaram os indivíduos a optarem

pela extração dentária parece ser um importante dado para Odontologia e para Saúde Pública.

Estudar estes aspectos em uma população adulta, abrangendo uma faixa etária ampliada, pode

facilitar a compreensão e auxiliar no planejamento em saúde.

15

Assim, o objetivo deste estudo foi caracterizar a condição de saúde bucal e os

principais motivos autorrelatados da extração dentária em uma população de adultos em faixa

etária ampliada.

MATERIAL E MÉTODOS

Este estudo teve delineamento transversal e foi realizado no município de Piracicaba,

localizado no interior do estado de São Paulo, Brasil. A população total de Piracicaba-SP era

de 368.836 residentes, destes 202.131 adultos encontravam-se na faixa etária de estudo (20-64

anos) no ano de 200010.

A coleta de dados em domicílios, segundo o processo de amostragem probabilística,

foi realizada entre os meses de junho e setembro de 2011. O estudo foi aprovado pelo Comitê

de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Piracicaba-Universidade Estadual de

Campinas (no. 177/2009).

O cálculo amostral foi realizado com base nos dados de prevalência da experiência de

cárie do estudo de Batista et al.11, que examinou adultos de 20 a 64 anos. Foi realizado um

cálculo para adultos de 20 a 44 anos e outro para adultos de 45 a 64 anos. Utilizou-se deff de

1,5, margem de erro de 10%, adotou-se intervalo de confiança (IC) de 95%, sendo

acrescentado ao total 20% para compensar eventuais perdas. O tamanho amostral para adultos

de 20 a 44 foi 172 e para adultos de 45 a 64 anos foi 68, totalizando 240 adultos. Estimando

perda na coleta de dados, com relação aos domicílios, acrescentou-se 30% ao tamanho

amostral para a seleção dos domicílios resultando em 342 domicílios. Foram sorteados

aleatoriamente segundo a técnica de amostragem probabilística 32 setores censitários, sendo

dois suplentes para reposição caso houvesse necessidade. Sendo assim, foram considerados 11

domicílios para cada um dos setores censitários sorteados e coleta de apenas um adulto por

domicílio.

Os exames clínicos bucais foram realizados nos domicílios, sob iluminação artificial

sem profilaxia prévia, nem secagem, utilizando sondas CPI e espelhos bucais planos como

preconizados pela Organização Mundial da Saúde (OMS)12. Um examinador foi treinado por

outro examinador de referência, através de discussões teórica e práticas, contabilizando um

total de dezesseis horas, obtendo concordância igual ou superior à 90% para cárie coronária,

necessidades de tratamento para a cárie, condição periodontal, uso e necessidade de prótese.

Foi observada concordância intraexaminador de 96,5% a 100%, estando dentro dos padrões

de confiabilidade13. O índice Kappa intraexaminador variou de 0,89 a 1.

16

As condições clínicas de saúde bucal pesquisadas foram: experiência de cárie (Índice

de dentes cariados, perdidos e obturados - CPOD), necessidade de tratamento para cárie,

condição periodontal (Índice Periodontal Comunitário - CPI), uso e necessidade de próteses

dentais segundo códigos e critérios da Organização Mundial da Saúde12. Também foi

realizado o exame de biofilme visível segundo Ainamo e Bay14, sendo considerado ‘‘sim’’

quando pelo menos uma superfície dental apresentava presença de biofilme visível. A

condição de periodonto saudável foi considerada quando todos os sextantes apresentavam CPI

= 0. Para as demais condições periodontais foram adotados a presença de acometimento nos

casos em que pelo menos um sextante afetado. A presença de bolsa periodontal foi dada à

profundidade de bolsa superior a 4 mm (CPI ≥ 3).

Além disto, cada voluntário respondeu um questionário sobre fatores demográficos

(sexo, idade, raça e estado civil) e socioeconômicos (renda familiar, escolaridade e classe

social). Foram realizadas também perguntas fechadas referentes aos motivos da escolha da

extração dentária do primeiro dente e dos demais, possíveis opções de tratamento, realização

de extração no último ano e local onde foram realizadas as ofertas de serviços odontológicos.

O questionário foi aplicado previamente à coleta de dados em 10% do tamanho amostral final,

composta por 32 voluntários que não participavam da amostra do estudo.

O grupo étnico foi considerado o autodeclarado. A escolaridade foi categorizada em

tempo de estudo (≤ 4 anos, entre 5-10 anos e ≥ 11 anos). A classificação socioeconômica foi

realizada de acordo com Graciano et al15, utilizando uma pontuação baseada na escolaridade,

renda familiar, ocupação, tipo de residência e número de residentes no domicílio, e resulta em

seis classes sociais. Para este estudo as classes sociais foram agrupadas nas categorias média,

baixa superior e baixa inferior. A idade foi estratificada em dois grupos: 20 a 44 anos e 45 a

64 anos.

Para análise dos dados utilizou-se o Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

versão 20.0 e Excel®. Realizou-se uma análise descritiva para amostras complexas, obtendo-

se a distribuição absoluta e percentual, média, erro padrão (EP) e desvio padrão (DP) das

variáveis em estudo. O fator de ponderação foram os pesos dos setores censitários e

domicílios calculados através de amostragem probabilística.

RESULTADO

Foram examinados 248 adultos de 20 a 64 anos. Houve perda de 82 domicílios, porém

atingiu-se o mínimo necessário calculado para a amostra de adultos, estimado em 240 adultos.

17

A amostra ponderada segundo o peso amostral dos 248 adultos examinados foi representativa

de aproximadamente 149 mil adultos residentes de Piracicaba-SP, Brasil.

A tabela 1 apresenta as características demográficas e socioeconômicas dos adultos de

Piracicaba-SP. Entre os examinados houve predominância de mulheres, entre 45 e 64 anos,

casadas, com renda familiar igual ou maior de dois salários mínimos, tempo de estudo igual

ou superior a 11 anos e encontravam-se na classe social baixa superior.

Tabela 1. Características demográficas e socioeconômicas entre os adultos de 20-64 anos de

idade residentes em Piracicaba, SP, Brasil, 2011.

Características da amostra Amostra População IC95%

% (n) % (n) %

Demográfico

Sexo Masculino 27,8(69) 33,5 (50.166,438) 22,6-46,6

Feminino 72,2 (179) 66,5 (99.468,883) 53,4-77,4

Idade

(faixa etária)

20-44 anos 55,6 (138) *30,9 (46.205,521) 23,3-39,3

45-64 anos 44,4 (110) 69,1 (103.429,800) 60,4-76,7

Raça

Branco 79,8 (198) 78,2 (117.034,328) 67,1-86,3

Negro 8,5 (21) 6,6 (9.886,771) 3,4-12,4

Pardo 10,9 (27) 14,8 (22.093,398) 6,9-28,8

Amarelo 0,8 (2) 0,4 (620,833) 0,1-1,8

Estado civil

Solteiro 18,1 (45) 12,2 (18.299,063) 7,1-20,2

Casado 70,2 (174) 73,0 (109.223,210) 66,4-78,7

Divorciado ou viúvo 11,7 (29) 14,8 (22.113,049) 8,6-25,4

Socioeconômico

Renda

familiar

≤ 1 salário 3,6 (9) 3,2 (4.718.33) 1,1-9,0

1-2 salários 12,1 (30) 9,7 (14.123,959) 5,4-16,6

≥ 2 salários 81,9 (203) 87,1 (127.487,081) 78,4-92,7

Dado perdido 2,4 (6) - -

Escolaridade

≤ 4 anos 17,3 (43) 28,5 (42.576,751) 16,8-43,9

5-10 anos 27,8 (69) 29,2 (43.671,486) 23,3-35,9

≥11 anos 54,8 (136) 42,4 (63.387,084) 28,2- 57,9

Classe social

Média 17,3 (43) 11,5 (17.197,083) 6,5-19,5

Baixa Superior 67,3 (167) 75,3 (112.462,925) 65,3-82,9

Baixa Inferior 15,3 (38) 13,3 (19.975,313) 8,4-20,5

Nota: Amostra: análise descritiva não ponderada. População: análise descritiva ponderada.

*proporção invertida na variável idade com relação a análise ponderada devido às características amostrais

dos setores censitários.

A prevalência de cárie não tratada foi de 35,4% para a população estudada, enquanto

86,4% apresentavam pelo menos um dente restaurado. A tabela 2 apresenta os dados sobre a

experiência de cárie descrita para a amostra estudada e o correspondente da população adulta

de Piracicaba-SP. A média do CPOD da população adulta de Piracicaba-SP foi 20,37

(EP=0,50), sendo que para adultos de 20 a 44 anos foi 13,07 (EP=0,60) e para adultos de 45 a

64 anos foi 23,63 (EP=0,91). Na população mais jovem, o componente preponderante foi o de

dentes obturados, já para os adultos mais velhos foi de dentes perdidos.

18

Tabela 2. Características clínicas sobre a experiência de cárie (CPOD), estratificados por

faixa etária, entre os adultos residentes em Piracicaba, SP, Brasil, 2011.

Característica

s clínicas

Média na amostra* (DP) Média ponderada** (EP)

Total 20 a 44 anos 45 a 64 anos Total 20 a 44 anos 45 a 64 anos

Cariados (C) 1,04 (±2,06) 0,99 (±2,24) 1,10 (±1,97) 1,01 (±0,14) 0,94 (±0,23) 1,03 (±0,15)

Perdidos (P) 8,35 (±9,16) 3,30 (±3,77) 14,68 (±9,97) 10,30 (±0,82) 3,34 (±0,33) 13,41 (±1,45)

Obturados (O) 8,68 (±6,29) 8,66 (±5,74) 8,70 (±6,96) 9,06 (±0,67) 8,79 (±0,60) 9,18 (±0,81)

CPOD 18,02 (±8,89) 12,94 (±7,26) 24,49 (±6,16) 20,37 (±0,50) 13,07 (±0,60) 23,63 (±0,91)

Nota: *Média na amostra: análise descritiva não ponderada. **Média ponderada: análise descritiva ponderada

pelo peso amostral.

A presença de periodonto saudável foi encontrada em 11,1% dos adultos jovens e

significou 5,0% do total dos examinados. A presença de biofilme visível na superfície dental

durante o exame clínico foi encontrada em 38,1% dos participantes. Com relação à presença

de bolsa periodontal acima de 4 mm (CPI ≥ 3), a prevalência foi de 20,5% nos adultos mais

jovens e 53,0% nos mais velhos (Tabela 3).

Tabela 3. Características clínicas da condição periodontal, estratificados por faixa etária,

entre os adultos residentes de Piracicaba, SP, Brasil, 2011.

Características clínicas Total

% (IC 95%) 20 a 44 anos

% (IC 95%) 45 a 64 anos

% (IC 95%)

Periodonto saudável* 5,0 (3,0-8,2) 11,1 (7,4-16,5) 2,3(0,7-7,6)

Presença de biofilme 38,1 (27,0-50,6) 39,0 (28,1-51,1) 37,7 (21,4-57,4)

Sangramento gengival** 52,5 (43,2-61,6) 58,2 (49,9-66,1) 49,9 (36,7-63.2)

Cálculo dental** 59,7 (51,3-67,6) 73,4 (66,4-79,4) 53,6 (43,3-63,6)

Bolsa periodontal** 43,0 (32,8-53,8) 20,5 (14,5-28,3) 53,0 (40,7-65,0)

*CPI=0 em todos os sextantes. **Condição em pelo menos um sextante.

Nota: Análise descritiva ponderada.

Observa-se na Tabela 4 a distribuição do uso e/ou necessidade de prótese no arco

superior e inferior. O tipo de prótese mais usada na arcada superior foi Prótese Total (19,8%),

e na arcada inferior a Prótese Parcial Removível (11,3%). Quanto à necessidade de uso,

38,4% dos adultos não necessitavam de prótese na arcada superior e 46,7% na arcada inferior.

Enquanto para arcada superior a maior necessidade foi de prótese para reposição de um

elemento dental (8,9%), na arcada inferior foi a combinação de próteses em 33,8% dos

adultos.

19

Tabela 4. Uso e necessidade de prótese no arco superior e/ou inferior, estratificados por faixa

etária, dos adultos residentes em Piracicaba, SP, Brasil, 2011.

Características clínicas Total

% (IC 95%) 20 a 44 anos

% (IC 95%) 45 a 64 anos

% (IC 95%)

Uso de

prótese

superior

Não usa prótese 61,2 (51,6-70,0) 94,6 (88,1-97,6) 46,4 (32,2-61,2)

Usa uma PF 1,3 (0,4-4,3) 0,7 (0,1-5,2) 1,5 (0,4-6,3)

Usa mais de uma PF 2,7 (0,8-8,8) - 3,8 (1,1-12,7)

Usa PPR 14,5 (8,5-23,7) 4,1 (1,5-10,8) 19,1 (10,4-32,5)

Usa PPR+PF 0,5 (0,1-4,1) - 0,8 (0,1-5,9)

Usa PT 19,8 (14,8-26) 0,7 (0,1-5,1) 28,3 (21,3-36,6)

Uso de

prótese

inferior

Não usa prótese 80,8 (71,0-87,9) 98,6 (94,5-99,7) 72,9 (57,8-84,1)

Usa uma PF 0,7 (0,1-3,6) 0,7 (0,1-5,2) 0,8 (0,1-6,1)

Usa mais de uma PF 2,1 (0,8-5,8) - 3,1 (1,1-8,6)

Usa PPR 11,3 (6,3-19,5) 0,7 (0,1-4,9) 16,1 (8,5-28,3)

Usa PPR+PF 0,5 (0,1-4,0) - 0,8 (0,1-5,7)

Usa PT 4,4 (2,3-8,4) - 6,4 (3,1-12,7)

Necessidade

de prótese

superior

Não necessita 81,6 (76,0-86,2) 82,3 (75,7-87,5) 81,3 (73,8-87,1)

Necessita prótese de 1

elemento

8,9 (4,5-16,9) 10,5 (6,5-16,6) 8,1 (3,1-19,9)

Mais de 1 elemento 1,6(0,3-7,1) - 2,3 (0,5-10,3)

Combinação de

próteses

6,3 (3,4-11,4) 7,1 (3,7-13,5) 6,0 (2,5-13,6)

Necessita PT 1,6 (0,5-5,2) - 2,3 (0,7-7,8)

Necessidade

de prótese

inferior

Não necessita 53,3 (47,1-59,4) 63,6 (54,8-71,6) 48,7 (41,4-56,0)

Necessita prótese de 1

elemento

8,4 (4,9-14,0) 13,6 (8,0-22,2) 6,1 (2,7-13,2)

Mais de 1 elemento 0,7 (0,1-3,7) 2,4 (0,5-11,1) -

Combinação de

próteses

33,8 (26,4-42,1) 20,4 (13,9-28,8) 39,8 (31,1-49,3)

Necessita PT 3,7 (1,5-8,7) - 5,4 (2,1-12,9)

* PF = Prótese Fixa. **PPR = Prótese Parcial Removível. ***PT = Prótese Total.

Nota: Análise descritiva ponderada.

A experiência de algum dente extraído foi encontrada em 84,3% (n=209) dos adultos

examinados. A média de idade para extração do primeiro dente foi de 18,77 (DP=8,85) anos.

A tabela 5 mostra os motivos autorrelatados mais prevalentes para escolha da extração

dentária do primeiro dente e dos demais dentes perdidos. Para o primeiro dente o motivo mais

relatado foi dor em 37,5% dos casos, confecção protética em 16,9% e grande cavidade de

cárie em 9,3%. Para os outros dentes, dor permanece como o principal motivo com 34,6%,

seguido de dente considerado perdido em 10,1% e problema periodontal em 6%. Dos adultos

examinados, 52,0% afirmaram que a escolha pela extração ao invés de manter o dente foi

devido à inexistência de outro tipo de tratamento no momento da procura do serviço

odontológico, e 14,2% pelo alto custo dos procedimentos que seriam necessários. As

extrações dentárias foram realizadas predominantemente no serviço particular (47,2%).

20

Tabela 5. Frequência dos motivos autorrelatados para extração dentária, realização de

extração no último ano e tipo de serviço utilizado, estratificados por faixa etária, entre os

adultos residentes em Piracicaba, SP, Brasil, 2011.

Pergunta Variáveis Total

% (n)

20-44anos

% (n)

45-64 anos

% (n)

Motivo para

extração do

primeiro dente

permanente na

vida*

Dor 37,5 (93) 29,7 (41) 47,3 (52)

Grande cavidade 9,3 (23) 5,8 (8) 13,6 (15)

Dente perdido 7,7 (19) 5,1 (7) 10,9 (12)

Restauração quebrada 6,5 (16) 4,3 (6) 9,1 (10)

Dente quebrado 1,6 (4) - 3,6 (4)

Problema periodontal 2,4 (6) 0,7 (1) 4,5 (5)

Problema endodôntico 2,0 (5) 0,7 (1) 3,6 (4)

Para confecção de prótese 16,9 (42) 26,8 (37) 4,5 (5)

Nunca extraíram dente 15,7 (39) 26,8 (37) 1,8 (2)

Motivo para

extração dos

demais dentes

permanentes*

Dor 34,6 (86) 29,7 (41) 40,9 (45)

Grande cavidade 5,6 (14) 1,4 (2) 10,9 (12)

Dente perdido 10,1 (25) 5,1 (7) 16,4 (18)

Restauração quebrada 0,4 (1) 0,7 (1) -

Dente quebrado 5,6 (14) 5,8 (8) 5,5 (6)

Problema periodontal 6,0 (15) - 13,6 (15)

Problema endodôntico 3,2 (8) 2,2 (3) 4,5 (5)

Para confecção de prótese 1,2 (3) - 2,7 (3)

Outros motivos 15,7 (39) 29,7 (41) 4,5 (5)

Nunca extraíram dente 15,7 (39) 26,8 (37) 1,8 (2)

Motivo para

extração em vez

de manter os

dentes*

Não tinha tratamento que poderia ser feito

no dente

52,0 (129) 44,2 (61) 61,8 (68)

Outros tratamentos teriam custado muito 14,1 (35) 10,9 (15) 18,2 (20)

Não valia a pena o tempo e o esforço

necessários para recuperar o dente, mas não

por causa de dinheiro

3,2 (8)

4,3 (6)

1,8 (2)

Porque era necessário para fazer prótese

parcial ou total

0,8 (2) - 1,8 (2)

Os outros tratamentos causariam muita dor 2,4 (6) 1,4 (2) 3,6 (4)

Porque não tive muito sucesso com outros

tratamentos no passado

0,8 (2) 0,7 (1) 0,9 (1)

Seria muito sofrimento considerar as outras

opções

2,4 (6) 0,7 (1) 4,5 (5)

Outras razões 5,6 (14) 8,7 (12) 1,8 (2)

Nunca extraíram dente 15,7 (39) 26,1 (36) 2,7 (3)

Dente extraído

no último ano

Sim 14,9 (37) 8,0 (11) 21,8 (24)

Não 85,1 (211) 90,6 (125) 78,2 (86)

Serviço onde foi

realizada a

extração

dentária

Público 28,6 (71) 29,0 (40) 28,2 (31)

Privado 47,2 (117) 38,4 (53) 58,2 (64)

Convênio 8,1 (20) 5,8 (8) 10,9 (12)

Outros 0,4 (1) 0,7 (1) -

Nunca extraíram dente 15,7 (39) 26,1 (36) 2,7 (3)

*As variáveis que não somam 100% apresentam dados perdidos.

Nota: Análise descritiva ponderada.

21

DISCUSSÃO

No presente estudo, os adultos jovens de 20 a 44 anos apresentaram menor severidade

das condições clínicas de saúde bucal avaliadas, como experiência de cárie, bolsa periodontal,

uso e necessidade de prótese dentária. Este fato pode ser explicado pelo efeito coorte das

doenças bucais, principalmente na faixa etária adulta, resultado do histórico de uma demanda

reprimida e o acúmulo de necessidades de procedimentos odontológicos. Logo, uma evidente

progressão dos problemas bucais presentes11,16,17.

No presente estudo, o índice CPOD foi menor para faixa etária de adultos jovens, o

que pode ser um reflexo da ampliação do acesso e recentes políticas de prevenção e

tratamento para estes indivíduos18, quando no passado o acesso era restrito a crianças. Este

achado ressalta a importância de estudos epidemiológicos que contemplem uma faixa etária

ampliada em relação à faixa de 35 a 44 anos que a OMS estabelece para adultos12, pois

permite observar uma população pouco estudada e que apresenta experiência de cárie

crescente, quando comparada as faixas etárias de adolescentes, adultos e idosos,

principalmente devido aos componentes de dentes perdidos e obturados2-4. O fato de ampliar a

faixa etária permite entender o momento onde há mudanças nas prevalências das doenças

bucais.

O CPOD do presente estudo foi superior ao encontrado em adultos entre 20 e 59 anos

residentes em áreas rurais do estado de Pernambuco19. Quando o componente P é analisado

separadamente, os adultos de Piracicaba tiveram em média P=10,30 equivalente a 50,56% do

total do índice, sendo no interior de Pernambuco, P=11,7, correspondendo a 73,58%19. As

possíveis explicações para maior valor do índice CPOD na população urbana são maior

facilidade geográfica de acesso e maior oferta de serviços odontológicos nos centros

urbanos18, que refletiu em maior média de dentes obturados nos adultos de Piracicaba.

Enquanto na zona rural, a maior prevalência de dentes perdidos pode ser explicada pelas

piores condições socioecônomicas e escassez de recursos preventivos e curativos, sendo na

maioria das vezes substituídos por procedimentos odontológicos de urgência, que tendem a

ser mutiladores17.

O alto índice CPOD encontrado no presente estudo corrobora com outros estudos com

adultos brasileiros, além de apresentarem dentes perdidos (P) e obturados (O) como principais

responsáveis no valor final do índice16,19,20. No Brasil, os dois primeiros estudos

epidemiológicos de saúde bucal, realizados em 1986 e 2003 não mostraram diferenças

expressivas na redução da experiência de cárie no estado de São Paulo2,3, porém o

levantamento de 2010 apresentou uma redução de 19% comparado com resultados do ano de

22

20033,4, revelando uma possível inversão do componente principal dentro do índice CPOD. O

aumento na prevalência de dentes obturados e sua maior expressividade no valor total do

índice também foi verificado em adultos brasileiros, passando de 48,1% para 67,25% do

índice CPOD3,4. Esta inversão pode ser um reflexo da maior oferta e acesso aos serviços

odontológicos públicos18, principalmente devido à criação da Política Nacional de Saúde

Bucal e ampliação da oferta dos serviços odontológicos e inclusão da Equipe de Saúde Bucal

na Estratégia de Saúde da Família, havendo valorização do cuidado na atenção básica e

também especializada, com a criação dos Centros de Especialidades Odontológicas21.

Com relação à condição periodontal, periodonto saudável foi encontrado em 5,0% dos

adultos, e menos presente nos adultos mais velhos (2,3%). Esta condição aproximou-se de

adultos dinamarqueses (7,7%)22, mas bem menos prevalente do que encontrado em adultos

brasileiros (17,8%)4 e sudaneses23 (36,1%). A presença de sangramento gengival durante o

exame periodontal foi muito parecida para adultos jovens e mais velhos, e também

comparável a outros estudos realizados no Brasil4,24, o que mostra uma higienização ainda

inadequada para esta população. No presente estudo, o cálculo dentário foi a condição

periodontal mais prevalente e aproximou-se dos resultados encontrados na faixa etária de

adultos jovens (73,4%) de Chapecó-SC24, embora foi inferior ao resultado de toda amostra de

adultos do município (90,3%). Esta menor prevalência, mesmo para a faixa etária mais jovem,

pode ser explicada pela faixa etária ampliada, que pode acometer de forma menos prevalente

adultos com menos de 34 anos. Ambos estudos apresentam prevalência muito superior ao

encontrado em adultos brasileiros (28,4%) em 20104.

A prevalência de bolsa periodontal acima de 4 mm foi de 43% na população estudada,

superior ao encontrado em adultos brasileiros (30,6%)4 e semelhante aos dados encontrados

em adultos dinamarqueses (42%)22. A maior prevalência desta condição em adultos mais

velhos é compatível com resultados de estudos em faixa etária ampliada de adultos alemães25

e refere-se ao agravamento da condição periodontal com o passar do tempo.

Sendo a cárie e a doença periodontal as principais causas da perda dentária, e ambas

tratam-se de doenças crônicas, requerem além de tratamento curativo, a manutenção do estado

de saúde bucal com condição dentária e periodontal saudável de forma permanente. Observa-

se a necessidade de reorganização da atenção à saúde voltada para adultos, que enfatize novas

necessidades em saúde e principalmente o controle de fatores de risco comuns a outras

doenças crônicas, tais como, dieta, fumo e higiene bucal26.

O reflexo das extrações dentárias acumuladas traz a necessidade de reabilitação oral

desses pacientes. O conhecimento da necessidade e uso de prótese da população, é essencial

23

para o planejamento dos serviços de saúde na população de adultos27. Dados do SB Brasil

2010 mostraram que 69,8% dos adultos não usavam prótese na arcada superior e 90,9% na

inferior4, dado compatível com os achados deste estudo. Em uma província do Irã28, com

amostras em faixa etária ampliada de adultos e idosos (19 e 75 anos), 89,5% não utilizavam

nenhuma prótese, 2,3% tinham uma única prótese parcial removível inferior, 3,6% tinha

prótese total removível superior e inferior, e 4,6% tinham prótese fixa. Neste estudo, a prótese

total foi o tipo de prótese mais usada no arco superior, seguida de prótese parcial removível.

Esta prevalência é invertida para o tipo de prótese mais usada na arcada inferior.

Outro dado compatível com a literatura é maior necessidade de prótese no arco inferior

e combinação de prótese fixa ou parcial removível, para reposição de mais de um elemento

dentário24. No entanto, quando se verifica os dados deste estudo com a necessidade de prótese

os resultados são divergentes. No levantamento realizado no Brasil, apenas 31,2% dos adultos

brasileiros não necessitam de nenhum tipo de prótese4. Em Dalarna5, na Suécia, foi

encontrada necessidade de prótese total em apenas 1,9% da população, número extremamente

baixo quando comparado com o presente estudo, o que sugere uma menor prevalência de

dentes perdidos ou de maior resolutividade quando necessário, através de reabilitação

protética na Suécia.

Apesar de todos os esforços do Sistema Único de Saúde para universalidade e

integralidade do atendimento, inclusive para melhoria da saúde bucal dos brasileiros, vemos

ainda que a extração dentária é uma condição muito prevalente, principalmente entre adultos e

idosos4. No Brasil, é historicamente verificada uma busca tardia dos adultos aos serviços

odontológicos para solução das doenças bucais, dado também constatado nesta população

piracicabana com a alta prevalência de presença de biofilme visível, sendo um fator

determinante da doença cárie e doença periodontal, sendo necessária uma valorização de

procura do serviço em estágios antes da instalação destas doenças. A procura de atendimento,

motivado por dor em caso de emergência, ocorre principalmente em estágios mais avançados

dessas doenças, o que resulta ocasionalmente na extração dentária17. Este dado foi verificado

neste estudo em Piracicaba-SP, pois o quadro clínico de dor foi relatado como o maior motivo

para a realização da extração dentária do primeiro dente e dos demais para população

estudada, mas principalmente na faixa etária de adultos mais velhos (45-64 anos). Outros

motivos que foram citados foram dente que já estava perdido e problemas periodontais. Este

dado corrobora o achado do estudo nas Unidades de Saúde da Família em Campina Grande-

PB29, pois mostrou cárie e dor como os motivos mais relatados. No entanto, estes achados

divergem de estudos com percepção clínica, pois remetem a condição avaliada por

24

profissionais e não de indivíduos, sendo nestes estudos a cárie e doença periodontal os

motivos mais prevalentes1,7,30. Na faixa etária de adultos jovens (20-44 anos), a variável

outros motivos apareceu com alta prevalência, e pode ser explicada pelas extrações dentárias

realizadas por indicação ortodôntica.

Outra questão levantada neste estudo foi a decisão de extrair o dente ao invés de

mantê-lo, os motivos mais frequentes foram a ausência de outra opção de tratamento e o alto

custo de outras procedimentos necessários. Isto remete ao entendimento que quando os

procedimentos preventivos, restauradores e periodontais na atenção primária não são

procurados, há progressão das doenças bucais e restrição das opções de tratamento7,31. Dado

também verificado no estudo com pacientes que doaram os dentes extraídos para um banco de

dentes humanos de Curitiba-PR32, pois a maioria dos entrevistados afirma ter procurado o

serviço odontológico apenas uma única vez antes da decisão pela extração dentária, ou seja,

no mesmo dia em que foi realizado o procedimento.

Um estudo qualitativo com adultos e idosos na Faculdade de Odontologia de Belo

Horizonte33 mostrou outros motivos para extração dentária vivenciada ao longo da vida, como

a falta de conhecimento de meios para a manutenção dos dentes, dificuldade de acesso aos

serviços de saúde bucal, falta de recursos financeiros, histórico de iatrogenias odontológicas e

medo dos procedimentos que seriam necessários para manutenção dos dentes. O estudo ainda

acrescenta que mesmo indivíduos que possuíam acesso a serviços odontológicos fizeram a

escolha da extração dentária pela crença de estarem fazendo um procedimento menos oneroso

e demorado.

No estudo de Campina Grande-PB29, 18% das extrações dentárias foram por vontade

do paciente. Esta tomada de decisão por parte do paciente deve-se além do custo, a sensação

de alívio sintomatológico e possibilidade de novos quadros de dor. Além de desconfiança em

procedimentos restauradores de alto custo e prognóstico duvidoso, que ocasionalmente

culminam no mesmo fim, a extração dentária34. Além disto, a escolha pela permanência do

elemento dental pode inferir na permanência da possibilidade de novos quadros de

desconforto e sintomatologia dolorosa, já a escolha pela extração dentária a crença de

remoção da causa e resolubilidade do problema.

Sobre o local escolhido pelos indivíduos para realização das extrações dentárias neste

estudo, houve predominância no serviço particular, diferente dos achados em outros estudos

brasileiros17,19,29. Barbato et al.17 supõe que o serviço público, por atender uma população em

teoria economicamente mais pobre e, consequentemente, com menor acesso ao atendimento

odontológico, extrairia mais dentes. No entanto, é sabido que as políticas públicas

25

consistentes de saúde bucal no Brasil são consideradas recentes, ainda quando se analisa o

histórico acumulado de perdas dentárias e em faixa etária ampliada, onde a demanda de

necessidades de resolutividade dos problemas bucais e falta de oferta de serviços públicos,

pode justificar a prevalência neste estudo, da realização das extrações dentárias, no serviço

particular. Além disto, no passado, o exercício profissional em Odontologia era pouco

conservador, e por muito tempo a extração foi considerada a resolução mais viável para

eliminação de dor dentária.

As limitações do estudo estão no seu caráter transversal, onde exposição e desfecho

são avaliados em um único momento no tempo, podendo haver viés de prevalência. O

questionário contemplava também experiências passadas de extração dentária e a história

pregressa de atendimento odontológico, as quais dependem da memória do indivíduo para sua

exatidão. Além disto, por ser a amostra composta por adultos e a pesquisa realizada em

domicílios, espera-se uma maior participação de mulheres, mesmo fora do horário comercial.

Esta maior adesão de participação das mulheres também ocorre em relação à procura e uso de

serviços odontológicos18,35. Quando os estudos são realizados em amostras de trabalhadores,

há uma predominância de participantes homens11,16. Sendo assim, levanta-se a discussão sobre

qual o melhor local para a realização de levantamentos epidemiológicos na população de

adultos, considerando a importância de ser representativo da população e ao mesmo tempo

minimizar os possíveis vieses de seleção amostral.

De acordo com os dados levantados, é notória a necessidade de facilitar acesso público

aos serviços de saúde bucal aos adultos, ressaltando a importância de estudos epidemiológicos

na população de adultos em faixa ampliada. Compreender e refletir sobre a motivação que

leva os indivíduos a optarem pela extração dentária é relevante, e assim, mais pesquisas são

necessárias, a fim de caracterizar de forma mais aprofundada e fundamentar a criação de

políticas públicas mais efetivas e resolutivas. Vale ressaltar que as estratégias de promoção e

prevenção de saúde bucal devem considerar a população-alvo e suas respectivas necessidades

ao planejar serviços odontológicos. Assim como foi verificada nesta população de adultos em

faixa etária ampliada, onde se observou que as experiências e os estágios das doenças bucais

apresentam-se de forma diferente entre os grupos etários estudados.

CONCLUSÃO

A faixa etária ampliada possibilitou caracterizar diferenças entre os grupos etários na

população de adultos. Os adultos jovens apresentaram menor severidade das condições

clínicas de saúde bucal para experiência de cárie e doença periodontal, enquanto os adultos

26

mais velhos apresentaram maior uso e necessidade de prótese dentária. A dor foi a principal

motivação de escolha pela extração dentária nos adultos estudados, sendo agravada na maioria

dos casos pela inexistência de outra opção de tratamento no momento da busca pelo

atendimento odontológico.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo

(FAPESP) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

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30

2.2 INCIDÊNCIA DAS PERDAS DENTÁRIAS EM ADULTOS: ESTUDO COORTE

PROSPECTIVO DE BASE POPULACIONAL EM 4 ANOS DE

ACOMPANHAMENTO

INCIDENCE OF TOOTH LOSS IN ADULTS: A POPULATION-BASED PROSPECTIVE

COHORT STUDY IN 4 YEARS FOLLOW UP

Manuscrito submetido à revista Cadernos de Saúde Pública (Anexo 2)

Manoelito Ferreira SILVA-JUNIOR1.

Marília Jesus BATISTA2

Maria da Luz Rosário de SOUSA3

1. Mestrando em Odontologia. Departamento de Odontologia Social. Faculdade de

Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

2. Pós-doutoranda. Departamento de Odontologia Social. Faculdade de Odontologia de

Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

3. Professora Titular. Departamento de Odontologia Social - Faculdade de Odontologia de

Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

Autor correspondente:

Profa. Dra. Maria da Luz R. de Sousa

Departamento de Odontologia Social

Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas.

Avenida Limeira, 901 – Piracicaba, SP – Brasil.

CEP: 13414-018. Caixa Postal 52.

Telefone: +55 (19) 2106-5209; Fax: 55 (19) 2106-5218.

Email: [email protected]

Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (2009/16560-0,

2011/00545-1) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/CAPES

(2014/15184-2).

31

RESUMO

O objetivo do estudo foi avaliar a incidência das perdas dentárias em uma população de

adultos. O estudo coorte prospectivo examinou por amostragem probabilística adultos (20 e

64 anos) representativos dos adultos residentes em Piracicaba-SP, Brasil. O exame bucal

domiciliar foi realizado em 2011 e 2015, e verificou a experiência e necessidade de

tratamento para cárie segundo a Organização Mundial da Saúde. As variáveis demográficas e

socioeconômicas foram coletadas por questionário. Estratificou-se a faixa etária em adultos

jovens (20-44 anos) e mais velhos (45-64 anos). A análise descritiva foi realizada pela médias

e desvio-padrão (DP) e a análise estatística pelos testes de Wilcoxon e Mann Whitney

(p<0,05). Em 2011, foram 248 adultos examinados e em 2015, 143 (57,7%) foram

acompanhados. Houve aumento de dentes perdidos (p=0,000) no tempo de estudo. Após

quatro anos, 130 dentes foram perdidos e na maioria dos casos (64,9%) apresentavam

necessidade de tratamento restaurador na coleta inicial. Os molares foram os dentes mais

perdidos neste período. Um total de 51 (35,7%) adultos apresentaram incidência de perdas

dentárias, e nestes indivíduos 2,55 (DP=1,86) dentes foram perdidos. Houve menor número

de adultos jovens (n=17) com incidência de perdas dentárias, embora a média de dentes

perdidos não diferiu entre os que perderam dentes (p=0,84). Observou-se que a falta de

tratamento de baixa complexidade para cárie determinou a perda dentária, além de apresentar-

se com tendência de polarização em adultos jovens. O planejamento em saúde bucal para

adultos deve valorizar a promoção de saúde, além de priorizar acesso na atenção básica, afim

de reduzir a cárie e seus agravos.

Palavras chave: Saúde Bucal. Perda de Dente. Adultos. Epidemiologia.

ABSTRACT

The objective this study was to evaluate the incidence of tooth loss in a population of adults.

The prospective cohort study to examine a random sample adults (20 and 64) representative

of the adults living in Piracicaba-SP, Brazil. The home oral examination was conducted in

2011 and 2015, and verified the experience and need treatment for dental caries according to

the World Health Organization. The demographic and socioeconomic variables were collected

by questionnaire. The age group was stratified into young (20-44 years) and older (45-64

years) adults. Descriptive analyzes, obtaining means and standard deviation (SD), and the

Wilcoxon and Mann Whitney tests (p<0.05) for statistical inference were also carried out. In

2011, 248 adults were examined and in 2015, 143 (57.7%) were followed. There was an

32

increase of missing teeth (p=0.000) in the study of time. After four years, 130 teeth were lost

and in most cases (64.9%) had need of restorative treatment in the initial collection. The

molars were the most missing teeth in this period. A total of 51 (35.7%) adults have incidence

of tooth loss, and in these individuals 2.55 (SD = 1.86) teeth have been lost. There was least

number of young adults (n=17) with incident of tooth loss, although the average tooth loss did

not differ between those who have lost teeth (p=0.84). It was observed that the lack of low-

complexity treatment for caries determined tooth loss, and present with trend polarization in

young adults. The planning oral health for adults should value health promotion, and prioritize

access in primary care in order to reduce caries and their complications.

Key words: Epidemiology. Oral Health. Tooth Loss. Adults.

INTRODUÇÃO

Segundo o Global Burden Disease, a cárie não tratada, a doença periodontal

severa e as perdas dentárias continuam entre as cem condições que mais impactaram a saúde

da população mundial1, principalmente pelos danos funcionais, estéticos, sociais e na

qualidade de vida da população acometida2,3.

Apesar dos avanços na Saúde Pública, a cárie não tratada em dentes permanentes

continua sendo a doença bucal mais prevalente em todo o mundo, com prevalência e

incidência pouco alterada nas últimas décadas4. Embora inicialmente a cárie apresente

necessidade de tratamento de baixa complexidade quando não tratada, sua progressão pode

resultar como dano irreversível, a perda dentária5.

O tempo é um fator importante na progressão e no agravamento das doenças

bucais, e por isto, embora seja uma condição evitável, as perdas dentárias tendem a se tornar

mais evidentes nos adultos, e por isto, verifica-se uma maior severidade das perdas dentárias

nesta faixa etária, onde sua incidência não tem reduzido nas últimas décadas6 e ainda é

considerada um problema de Saúde Pública, principalmente em países em desenvolvimento7,8.

Os estudos sobre as perdas dentárias são comumente de delineamento transversal

e avaliam seus fatores associados, principalmente os fatores socioeconômicos e de utilização

de serviço5,7,9-12. Embora os aspectos associados às perdas dentárias sejam importantes,

aspectos clínicos como os dentes mais acometidos, sua distribuição9,13 e a condição prévia dos

dentes extraídos são ainda pouco explorados em estudos observacionais.

Estudos de coorte em adultos com abordagem populacional são pouco

encontrados na literatura14-16 e podem apresentar dados mais aprofundados das condições

33

clínicas das perdas dentárias17. Além disto, podem auxiliar no planejamento de políticas

públicas condizentes com as necessidades de saúde da população estudada. Neste intuito, o

objetivo deste estudo foi avaliar a incidência das perdas dentárias em uma população de

adultos.

MATERIAL E MÉTODOS

Delineamento e local do estudo

Este estudo coorte prospectivo faz parte do estudo intitulado ‘‘Impacto da perda

dentária na qualidade de vida de adultos3’’ no município de Piracicaba, localizado no interior

de São Paulo, Brasil.

Aspectos éticos

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de

Odontologia de Piracicaba (CEP-FOP/UNICAMP) (número 177/2009).

População e amostra

Baseline. Para o cálculo da amostra representativa de adultos entre 20 e 64 anos

residentes do município de Piracicaba-SP foram obtidas diferenças existentes nas condições

de saúde bucal nos diferentes grupos etários, sendo o tamanho amostral estimado para adultos

jovens (20 a 44 anos) e para adultos mais velhos (45 a 64 anos), utilizando dois cálculos.

Adotou-se deff de 1,5, margem de erro de 10%, e intervalo de confiança de 95%, e dados de

prevalência da experiência de cárie para cada grupo etário (70,2% e 90,9% respectivamente)

(Batista et al., 2012), somando-se ao total 20% para compensar eventuais perdas. O tamanho

amostral para adultos de 20 a 44 foi 172 e para adultos de 45 a 64 anos foi 68, estimando 240

indivíduos. Acrescentamos 30% ao tamanho amostral final para a seleção dos domicílios,

prevendo a possibilidade de perdas e recusas, resultando em 342 domicílios, sendo 11,4

domicílios por setor censitário. Foram considerados para o sorteio 11 domicílios para cada um

dos 30 setores censitários3.

A seleção amostral foi planejada a partir de dados do censo de 2000 fornecidos

pelo IBGE, que eram os dados compilados mais recentes no momento do estudo. A população

de Piracicaba em 2000 era 368.836 no total, sendo que 202.131 indivíduos encontravam-se

entre 20 e 64 anos. A média de moradores na faixa etária por domicílio no censo de 2000 foi

2,49 e a média de domicílios por setor foi 177,75. Foram sorteados segundo a técnica de

amostragem probabilística 30 setores censitários, mais 2 para serem suplentes. Em cada setor

34

foram sorteadas 11 residências, segundo a fração que variou determinada pelo número de

domicílios. Foi examinado um adulto por domicílio3.

Follow up. Buscando abarcar os mesmos sujeitos, os setores censitários de

residência atual dos indivíduos não foram considerados.

Coleta de dados

Baseline. A coleta de dados ocorreu entre os meses de junho a setembro de 2011.

A pesquisa foi composta por um exame bucal e uma entrevista. A condição clínica de saúde

bucal avaliada foi experiência de cárie dentária coronária, medida pelo índice de dentes

cariados, perdidos e obturados (CPOD) e necessidades de tratamento para a cárie. A coleta

realizada nos domicílios, foi realizada sob iluminação natural (sem profilaxia prévia, nem

secagem), utilizando sondas CPI e espelhos bucais planos como preconizados pela

Organização Mundial da Saúde18.

O critério de inclusão foi morar em residência selecionada no município de

Piracicaba-SP e possuir idade entre 20-64 anos. O critério de exclusão foi possuir estado

físico e psicológico que impedissem a realização dos procedimentos clínicos ou compreensão

do questionário.

Follow up. A coleta de dados foi realizada entre os meses de junho e setembro de

2015. O critério de inclusão era ter participado no baseline independente do setor censitário

atual de residência em 2015. O critério de exclusão foi possuir estado físico e psicológico que

impedissem a realização dos procedimentos clínicos.

Os mesmos indivíduos foram procurados em seus endereços para participarem do

estudo, no caso de ausência, houve a tentativa de no mínimo mais três vezes. Os mesmos

assinaram novo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para participar do

estudo. As mesmas condições clínicas foram avaliadas, mantendo os mesmos critérios e

protocolo de exame3. No momento da coleta de dados, cada indivíduo permaneceu com a

mesma identificação do baseline.

Nesta etapa da coleta de dados, participaram dois examinadores, sendo o

examinador do baseline o ‘‘padrão-ouro’’ para calibração. Os examinadores foram treinados

com discussões teóricas e práticas, e calibrados em um total de vinte horas, obtendo no

mínimo, concordância de 90% para avaliação de cárie coronária e necessidade de tratamento

para cárie. Foi observada concordância intraexaminador de 96,5% a 100% e índice Kappa

variou de 0,89 a 1, estando dentro dos padrões de confiabilidade19.

35

Variáveis do estudo

As variáveis do estudo foram os dentes cariados (C), perdidos (P), obturados (O) e

CPOD. A necessidade de tratamento para cárie foi avaliada entre: necessidade de tratamento

restaurador (uma ou mais faces e coroa unitária); necessidade de endodontia e necessidade de

exodontia.

Análise dos dados

Os dados foram tabulados no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

versão 20.0 e no Excel®. O desfecho do estudo foi a incidência da perda dentária, avaliada

através da diferença entre o componente perdido (P) (códigos 4 e 5) do índice CPOD entre o

baseline e o follow up, sendo considerados para o cálculo os 32 dentes. As necessidades de

tratamento foram avaliadas para cada elemento dental no baseline, do dente 18 ao 48 para

aqueles que apresentaram um ou mais dentes perdidos após 4 anos. Realizou-se uma análise

descritiva obtendo-se a distribuição absoluta e percentual, média e desvio padrão (DP) das

variáveis em estudo. Para os dados da caracterização da amostra, utilizaram-se como

referência os dados demográficos e socioeconômicos coletados no baseline, conforme

realizado em outros estudos de coorte16,20. Houve uma estratificação pelas faixas etárias em

adultos jovens (20-44 anos) e mais velhos (45-64 anos) no momento inicial, para que não

houvesse transição entre os grupos estudados. Para a comparação entre médias de 2011 e

2015 do CPOD e seus componentes foi utilizado o teste de Wilcoxon, e para comparar a

incidência de perda dentária entres os grupos etários foi realizado o teste Mann Whitney

(p<0,05).

RESULTADOS

No baseline, houve perda de 82 domicílios, porém atingiu-se o mínimo necessário

calculado para a amostra de adultos que era estimado em 240 adultos. A amostra foi composta

por 248 adultos representativos de 149.635 adultos entre 20 e 64 anos residentes do município

de Piracicaba-SP.

No follow up, após quatro anos de acompanhamento, a amostra foi constituída de

143 (57,7%) adultos examinados. Os motivos de não participação foram: 64 (25,8%) não

foram encontrados, 23 (9,3%) falta de tempo para participação, 10 (4,0%) recusaram

participação e 8 (3,2%) faleceram.

36

As características demográficas e socioeconômicas foram mantidas entre os

adultos do baseline e follow up. Sendo a maioria mulheres mais velhas, em união estável,

renda pessoal menor de um salário mínimo e familiar acima de dois salários e tempo de

estudo acima de 11 anos (tabela 1).

Tabela 1. Características demográficas e socioeconômicas na amostra inicial e final dos

adultos residentes em Piracicaba, SP, Brasil, 2011-2015.

Característica

Baseline

2011

Follow up

2015

n (%) % (n)

Demográfico

Sexo Masculino 69 (27,8) 40 (28,0)

Feminino 179 (72,2) 103 (72,0)

Idade Adultos jovens 138 (55,6) 70 (49,0)

Adultos mais velhos 110 (44,4) 73 (51,0)

Raça Branco 198 (79,8) 98 (68,5)

Não branco 50 (20,1) 43 (30,1)

Não informado 00 (0,0) 02 (1,4)

Estado

civil

União estável 74 (29,8) 35 (24,5)

Sem união estável 174 (70,2) 108 (75,5)

Socioeconômico

Renda

pessoal

≤ 1 salário 96 (38,7) 47 (32,8)

1-2 salários 54 (21,8) 33 (23,1)

≥ 2 salários 94 (37,9) 48 (33,6)

Não informado 04 (1,6) 15 (10,5)

Renda

familiar

≤ 1 salário 09 (3,6) 09 (6,3)

1-2 salários 30 (12,1) 18 (12,6)

≥ 2 salários 203 (81,9) 94 (65,7)

Não informado 06 (2,4) 22 (15,4)

Nível

escolar

≤ 4 anos 43 (17,3) 31 (21,7)

5-10 anos 69 (27,8) 34 (23,8)

≥11 anos 136 (54,8) 78 (54,5)

Em 2011, a perda dentária era prevalente em 123 (86,0%) adultos. Após 4 anos de

acompanhamento, dois (1,4%) adultos jovens apresentaram sua primeira perda dentária.

Sendo assim, apenas 18 (12,6%) adultos ainda não apresentaram perda dentária ao longo da

vida. Durante este período, um (0,7%) adulto mais velho tornou-se desdentado total.

Um total de 51 (35,7%) adultos apresentou incidência de perda dentária, sendo a

ocorrência predominantemente de um dente perdido (n=18) e na faixa etária de adultos mais

velhos (n=34) (figura 1).

37

Figura 1. Frequência da incidência total e por faixa etária do número de dentes perdidos por

adultos nos 4 anos de acompanhamento. Piracicaba-SP, Brasil, 2011-2015.

A tabela 2 mostra a média de dentes cariados, perdidos e obturados para a

população de adultos. O componente dente perdido (P) foi o principal responsável pelo

aumento na experiência de cárie (CPOD) após quatro anos de acompanhamento. Houve maior

incidência da perda dentária nos adultos mais velhos. A média da incidência de dentes

perdidos nos adultos que apresentaram perdas dentárias foi de 2,55 (DP=1,86) dentes

acometidos. Na análise por faixa etária, nos adultos jovens, além do aumento de P, houve

aumento na média de dentes obturados (O).

Tabela 2. Número de dentes cariados, perdidos, obturados, índice CPOD e incidência da

perda dentária por faixa etária para o total e para os adultos que perderam dentes examinados

em 2011 e 2015. Piracicaba-SP, Brasil.

Adultos jovens Adultos mais velhos Total

2011 2015 2011 2015 2011 2015

Média

(DP)

Média

(DP)

p-

valor

Média

(DP)

Média

(DP)

p-

valor

Média

(DP)

Média

(DP)

p-

valor

Cariado (C)*

0,83

(1,96)

0,86

(1,62)

0,628

0,81

(1,53)

0,60

(1,22)

0,100

0,82

(1,75)

0,73

(1,43)

0,489

Perdido (P)*

3,27

(3,48)

3,94

(4,21)

0,000

15,14

(10,29)

16,27

(10,43)

0,000

9,33

(9,74)

10,24

(10,10)

0,000

Obturado (O)*

8,41

(5,75)

9,33

(5,50)

0,023

9,05

(7,24)

8,86

(7,14)

0,358

8,74

(6,54)

9,09

(6,37)

0,304

CPOD*

12,51

(7,39)

14,13

(7,18)

0,000

25,00

(6,17)

25,74

(5,88)

0,002

18,89

(9,22)

20,06

(8,75)

0,000

Incidência de

P (n=143)** 0,67 (1,64)

1,14 (1,64)

0,008

0,91 (1,65)

Incidência de

P para adultos

com incidência

(n=51)** 2,76 (2,33)

2,44 (1,60)

0,844

2,55 (1,86)

* Teste de Wilcoxon (p<0,05). **Teste de Mann-Whitney (p<0,05).

38

Quando o número de dentes perdidos foi avaliado separadamente, os 125 (87,4%)

adultos que já apresentaram alguma perda dentária, apresentam uma soma de 1464 dentes

perdidos ao longo da vida, destes, 130 (8,9%) foram perdidos nos últimos quatro anos. Os

grupos de dentes mais perdidos foram os molares, anteriores e pré-molares tanto na

prevalência, quanto na incidência.

No baseline, a prevalência das perdas dentárias foi maior na maxila (53,7%),

sendo os dentes mais acometidos os molares superiores (29,1%) e os menos acometidos foram

os anteriores inferiores (8,1%). No follow up, a incidência foi maior na mandíbula (50,8%) e

os dentes mais acometidos os molares inferiores (22,3%) e os menos acometidos foram os

pré-molares superiores (11,5%). A figura 2 mostra a distribuição da prevalência e incidência

das perdas dentárias conforme o dente acometido.

Figura 2. Frequência percentual da perda dentária em função dos dentes acometido nos

adultos no baseline e no follow up. Piracicaba-SP, Brasil, 2011-2015.

39

Dentre os 51 adultos que apresentaram incidência de perda dentária, a necessidade de

tratamento conforme o número do dente na arcada no baseline mostrou uma na maioria dos

casos uma necessidade de tratamento restaurador (64,9%) dos dentes perdidos (tabela 3).

Tabela 3. Frequência absoluta da necessidade de tratamento no início (2011) e a incidência da

perda dentária (2015) em função do tipo de dente na arcada. Piracicaba-SP, Brasil, 2011-

2015.

Número

do

dente

na

arcada

Necessidade de tratamento

(2011)

Incidência

(2011-2015)

Restauração

n

Endodontia

n

Exodontia

n

Total

n

Total

n

18 4 0 3 7 4

17 1 2 2 5 6

16 4 0 0 4 0

15 3 1 1 5 4

14 1 1 1 3 3

13 3 0 2 5 1

12 2 0 0 2 3

11 6 0 0 6 5

21 7 0 0 7 5

22 2 2 0 4 2

23 4 0 1 5 6

24 1 2 0 3 3

25 2 1 0 3 5

26 3 4 0 7 3

27 2 0 2 4 7

28 1 0 0 1 7

38 4 0 2 6 9

37 1 3 1 5 6

36 6 2 1 9 2

35 1 0 0 1 2

34 1 0 0 1 3

33 3 0 0 3 4

32 2 0 0 2 4

31 1 0 0 1 3

41 2 0 0 2 5

42 3 0 0 3 2

43 1 0 0 1 3

44 4 2 1 7 7

45 2 1 0 3 4

46 3 2 1 6 3

47 3 1 0 4 2

48 2 1 3 6 7

Total 85 (64,9%) 25 (19,1%) 21 (16,0%) 131 (100,0) 130 (100,0)

40

DISCUSSÃO

Este estudo coorte propectivo de base populacional com amostra de adultos em

faixa etária ampliada apresentou resultados de grande relevância para a compreensão da perda

dentária. Enquanto no baseline foram compilados dados sobre a experiência de cárie e suas

necessidades de tratamento, no follow up foi possível verificar as alterações ao longo do

tempo, sendo elas resolutivas ou não. Nesta população, após quatro anos de acompanhamento,

houve aumento na experiência de cárie (CPOD) principalmente devido ao componente de

dentes perdidos (P). Para o total da amostra, o componente P e a incidência das perdas

dentárias foram maiores conforme a faixa etária estudada. Entretanto, os adultos jovens

apresentaram incidência de perdas dentárias igual aos adultos mais velhos, quando apenas os

indivíduos que perderam dentes foram avaliados. Mais de um terço da amostra apresentou

incidência de perda dentária, na maioria dos casos apresentavam no baseline necessidade de

tratamento para cárie de baixa complexidade.

No presente estudo, a distribuição das características demográficas e

socioeconômicas foi mantida no baseline e follow up. A perda de seguimento em estudos

longitudinais é bem relatado na literatura16,17,20, e torna-se ainda mais acentuada quando o

público-alvo são adultos, pois são economicamente ativos, e em estudos de amostragem

probabilística em domicílios, pois dificultam a abordagem do voluntário, pois depende de

atualização de endereços e busca ativa dos indivíduos. Os motivos para não-participação

corroboram a outros estudos de seguimento, sendo principalmente devido à alteração de

endereço, falta de informações, falta de tempo para participação do estudo, recusa de

participação e morte dos voluntários17,20,21.

Neste estudo, a média de dentes perdidos (P=10,24) foi superior à média dos

adultos brasileiros9,10. Este resultado pode ser explicado pela diferente metodologia dos

estudos, o estudo com adultos brasileiros exclui os terceiros molares dos cálculos9,10, e usa

uma faixa etária restrita conforme preconizada pela OMS, entre 35-44 anos para adultos18. No

entanto, a abordagem em faixa etária ampliada e a estratificação em dois grupos etários no

presente estudo, possibilitou verificar importantes diferenças entre adultos jovens e mais

velhos. Além disto, embora os estudos longitudinais das perdas dentárias apresentem

diferenças metodológicas, é possível verificar um padrão entre maior incidência das perdas

dentárias conforme maior o tempo de acompanhamento14,16,17 e o avanço da faixa etária

estudada21.

Para a amostra total deste estudo, os adultos mais velhos apresentaram maior

média de dentes perdidos e da incidência de perdas dentárias. Este achado também foi

41

encontrado em estudos sobre as perdas dentárias, onde mostram maior prevalência e

incidência conforme o aumento da faixa etária estudada6,15,17,21. No entanto, embora a

prevalência seja sempre crescente, a incidência apresenta esta tendência apenas até meados

dos 60 anos de idade6. Assim como o efeito cumulativo das doenças bucais ao longo da vida

dos indivíduos determina o aumento progressivo da prevalência das perdas dentárias, ocorre

concomitantemente uma redução do número total de dentes na cavidade bucal, até quando

ocorre o edentulismo, e não há mais possibilidade de incidência de perda dentária22.

Além disto, enquanto um grande parte de estudos verificam a idade como fator

associado ou de risco para as perdas dentárias11,12,21, esta associação é questionável, pois não

há evidência estabelecida entre a relação das perdas dentárias e a fisiologia do

envelhecimento23. Novas reflexões devem ser enfocadas, principalmente no que concerne há

priorização de estratégias que promovam a autonomia dos indivíduos para o autocuidado,

visando primeiramente dissociar a percepção do envelhecimento com o edentulismo, sendo

em sua maioria podendo ser evitadas.

Após o tempo de acompanhamento nesta população, foi possível verificar que o

aumento da experiência de cárie (CPOD) ocorreu pelo aumento do componente P. O

componente de dentes cariados (C) apresentou-se inalterado. Este achado está de acordo com

a revisão sistemática, onde foi verificado que a cárie não tratada de dentes permanentes

apresenta-se inalterada nas últimas décadas no mundo4. Este resultado torna-se importante,

pois a perda dentária um reflexo direto da falta de tratamento para a cárie dental, torna-se

difícil pensar em reduzir as perdas dentárias, sem pensar na redução da cárie. Isto reforça a

necessidade de oferecer conhecimento adequado sobre os cuidados de higiene bucal e de

dieta, como uso racional do açúcar, uso regular do serviço odontológico, e escolhas saudáveis,

que resultem na manutenção e função dos dentes por toda a vida.

No presente estudo, em uma análise apenas dos indivíduos que apresentaram

incidência de perdas dentárias, enquanto houve maior número de adultos mais velhos com

incidência, não houve diferença entre a média de incidência de dentes perdidos entre os

grupos etários estudados. Este resultado demonstra uma tendência de polarização das perdas

dentárias nos adultos jovens, assim como ocorre com a cárie dental nas crianças24. Isto

porque, mesmo a incidência das perdas dentárias estando restrita a um pequeno número de

adultos jovens, apresentou mesma severidade do que os adultos mais velhos. Este aspecto

também pode ser justificado pela inversão do componente predominante no índice CPOD,

pois enquanto nos adultos mais velhos o componente principal foi P, nos adultos jovens foi o

componente de dentes obturado (O). Além do mais, houve aumento do componente apenas

42

nos adultos jovens. Alguns estudos de adultos brasileiros têm demonstrado esta inversão em

regiões desenvolvidas do país9,22, no entanto, não alterou em regiões menos desenvolvidas9, o

que pode inferir uma iniquidade em saúde. Neste caso, podemos falar em uma equidade

inversa, pois tem beneficiado principalmente os indivíduos que menos precisam.

Quanto ao número de dentes perdidos, a maior incidência de um dente perdido por

indivíduo está de acordo com a literatura16,17,21 e apenas um indivíduo tornou-se edêntulo.

Estudos têm verificado nas últimas décadas uma redução na prevalência do edentulismo25, o

que pode denotar prática profissional odontológica menos invasiva na atualidade, sendo a

extração dentária considera última opção de tratamento. Além disto, nesta população de

adultos, foi verificado bom nível educacional e de renda, o que pode inferir melhores

condições de vida e de conhecimento, o que pode ter refletido em maior autocuidado e valor

atribuído aos dentes, e determinou uma maior manutenção dos dentes na cavidade bucal.

No presente estudo, a incidência das perdas dentárias por grupo de dentes foi

semelhante aos dados encontrados para a prevalência das perdas dentárias11. Quando a

prevalência das perdas dentárias no baseline e follow up foi avaliada, há uma distribuição

parecida com a literatura11,16, sendo os molares inferiores os primeiros dentes a serem

perdidos e os anteriores inferiores os que permanecem por mais tempo. Na verificação da

incidência, esse padrão apareceu de forma diferente, sendo os pré-molares os dentes menos

perdidos, e dentes presente na arcada inferior, isso pode ser explicado pelo fato do estudo

trabalhar com uma faixa etária ampliada e possuir indivíduos em fases diferentes no ciclo de

vida, porém ressalta-se que os dentes molares continuam sendo os dentes mais perdidos.

Outro aspecto que poderia justificar a manutenção de dentes inferiores, principalmente dos

anteriores, seja a escolha profissional destes dentes como pilares protéticos, para maior

retenção da prótese no rebordo inferior22.

Na avaliação de cada elemento dental que foi perdido no follow up e a

necessidade de tratamento para cárie no baseline, a maioria necessitava de tratamento

restaurador. O que infere uma maior necessidade de tratamento de baixa complexidade e

poderiam ter sido resolvidas na atenção primária à saúde, em estágio iniciais da doença cári 5.

No entanto, a maioria dos estudos demonstravam haver uma maior necessidade de oferta de

serviços odontológicos na atenção secundária7,12,26, principalmente devido a uma grande

demanda reprimida27. Nesta perspectiva, para atender às necessidades de saúde bucal dos

brasileiros, e tentando buscar a integralidade do atendimento à saúde da população, houve a

inclusão da saúde bucal no Sistema Único de Saúde (SUS), com a criação da Política

Nacional de Saúde Bucal no ano de 2003, e a instalação dos Centros de Especialidades

43

Odontológicas (CEO), que fornecem aos usuários tratamentos especializados em saúde bucal

que podem oferecerem reabilitação para dentes com danos severos e perdas teciduais7.

Embora o Brasil venha apresentando políticas assistenciais em saúde bucal, como

a ampliação do número das ESB na Estratégia de Saúde da Família (ESF), outros aspectos

devem ser discutidos. Como verificado neste estudo, apesar de grandes investimento na

ampliação de Equipes de Saúde Bucal (ESB), inclusive no município de Piracicaba-SP, onde

atualmente apresenta 14 ESB modalidade I e dois CEO implantadas28, ainda não foi suficiente

para redução da doença cárie e de seu principal agravo na população adulta, a perda dentária.

No entanto, estas mudanças e investimentos na saúde bucal pública brasileira tendem à

aparecer ao longo do tempo, e para isto, há necessidade de continuidade de estudos

longitudinais que possam mensurar estes aspectos.

Os resultados do presente estudo pode auxiliar no planejamento de saúde bucal de

adultos, pois demonstra eminente necessidade de priorização da atenção básica em saúde

bucal. Os dados referente a dentes que inicialmente não apresentavam necessidade de

exodontia, mas tiveram como resultado a exodontia, retoma uma reflexão de como tem sido a

atenção à saúde bucal de adultos. O acesso aos serviços de saúde pela população

economicamente ativa, como é o caso da maior parte da população adulta, apresenta

dificuldade no que tange aos horários de atendimento. A oferta em horário alternativo, em

período de atendimento noturno ou aos finais de semana, facilitaria o acesso aos serviços

odontológicos públicos. Outro aspecto relevante quando se discute às perdas dentárias, refere-

se à prática profissional, muitas vezes ainda centrada no modelo biomédico, reforçada pelo

ciclo restaurador repetitivo, e a falta de priorização dos fatores de risco e da prevenção das

doenças bucais e a promoção de saúde. E outro são as motivações pessoais, tanto na procura

tardia, ou seja, motivada por dor ou as crenças que levam os indivíduos a optarem pela

extração dentária22, ou até mesmo a falta de valor atribuído aos dentes. Porém essas hipóteses

requerem outros estudos, no intuito de elucidar de forma mais subjetiva os caminhos que

ressaltem os diversos fatores que determinam em longo prazo as perdas dentárias.

O aumento da expectativa de vida da população deve estar associado a uma

melhor qualidade de vida. Por isto, as perdas dentárias que apresentam impacto em aspectos

funcionais, psicológicos e relacionais das pessoas2,3 não devem ser tratadas como aspecto de

normalidade, principalmente por atingir principalmente indivíduos que apresentam maior

necessidade de sua função. O que reforça a necessidade de priorizar a promoção de saúde

bucal independente do grupo etário de adulto estudada, sendo um enfoque contínuo e o mais

precoce possível para impedir a instalação das doenças bucais ou do seu agravamento o que

44

pode apresentar impacto nos demais ciclos de vida dos indivíduos, e culminar nas perdas

dentárias.

A limitação deste estudo foi a perda de seguimento, no entanto, está em

consonância com estudos longitudinais, principalmente por ser de base populacional. Esse

fator é ainda mais agravado quando a população-alvo trata-se de adultos, pois estão em uma

faixa etária economicamente ativa, aumentando as dificuldades de contato e exame dos

mesmos indivíduos para a reavaliação, principalmente em seus domicílios.

CONCLUSÃO

Apesar da incidência da perda dentária ser maior no grupo de adultos mais velhos

para amostra, apresentou mesma severidade entre os adultos que perderam dentes. A

incidência das perdas dentárias ocorreu principalmente em dentes com necessidade de

tratamento de baixa complexidade. Isto remete à necessidade de acesso e priorização da

atenção primária à saúde, para que doenças bucais em estágios iniciais não culminem em

necessidades de tratamentos mais complexos ou na perda do dente. Além disto, deve ser dada

ênfase na promoção de saúde e na prevenção das doenças bucais na população de adultos, no

intuito de reduzir a incidência da cárie dentária e seus agravos, como a perda dentária.

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Disponível em: http://dab.saude.gov.br/dab

47

2.3 FATORES DE RISCO PARA PERDA DENTÁRIA EM ADULTOS: UM ESTUDO

PROSPECTIVO DE BASE POPULACIONAL

RISK FACTORS TO TOOTH LOSS IN ADULTS: A PROSPECTIVE BASED-POPULATION

STUDY

Manuscrito não submetido

Manoelito Ferreira SILVA-JUNIOR1.

Marília Jesus BATISTA2

Maria da Luz Rosário de SOUSA3

1. Mestrando em Odontologia. Departamento de Odontologia Social. Faculdade de

Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

2. Pós-doutoranda. Departamento de Odontologia Social. Faculdade de Odontologia de

Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

3. Professora Titular. Departamento de Odontologia Social - Faculdade de Odontologia de

Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, Brasil.

Autor correspondente:

Profa. Dra. Maria da Luz R. de Sousa

Departamento de Odontologia Social

Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas.

Avenida Limeira, 901 – Piracicaba, SP – Brasil.

CEP: 13414-018. Caixa Postal 52.

Telefone: +55 (19) 2106-5209; Fax: 55 (19) 2106-5218.

Email: [email protected]

Financiamento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (2009/16560-0,

2011/00545-1) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo/CAPES

(2014/15184-2).

48

RESUMO:

O objetivo desse estudo foi analisar os fatores de risco para a incidência das perdas dentárias

em uma população de adultos. Este estudo de coorte prospectivo examinou após 4 anos,

adultos selecionados por amostragem probabilística em 2011, com idade entre 20 e 64 anos,

representativos dos adultos residentes em Piracicaba-SP, Brasil. O exame bucal domiciliar

utilizou o índice de dentes permanentes cariados, perdidos e obturados (CPOD), Índice

Periodontal Comunitário (CPI) segundo códigos e critérios da Organização Mundial da Saúde

e biofilme visível. Além disto, no baseline foi aplicado um questionário para coleta dos dados

demográficos, socioeconômicos, hábitos de saúde e de utilização de serviço odontológico. O

desfecho do estudo foi a incidência da perda dentária. Foi utilizado um modelo teórico

conceitual de perdas dentárias adaptado em uma análise hierárquica. A categoria de referência

para a regressão logística binária foram os indivíduos que não perderam os dentes por cárie ou

doença periodontal. Foi adotado o nível de significância de 5%. Um total de 143 (57,7%)

indivíduos participou do estudo após quatro anos de acompanhamento e a incidência da perda

dentária ocorreu em 51 (35,7%) adultos neste período. A incidência das perdas dentárias

apresentou como fatores de risco a idade (RR=2,48; IC95%=1,09-5,66), procura do serviço

odontológico motivado por dor (RR=2,82; IC95%=1,06-7,52) e cárie não tratada (RR=2,50;

IC95%=1,06-5,92). Idade, procura do serviço odontológico motivado pela dor e cárie não

tratada foram fatores de risco para a incidência da perda dentária neste estudo. Estratégias de

promoção de saúde devem levar em consideração estes fatores de risco em adultos para

prevenção da perda dentária, incentivando o uso regular do serviço, para tratamentos mais

conservadores da cárie, para manutenção da saúde bucal e prevenção das perdas dentárias.

Palavras chave: Epidemiologia. Saúde bucal. Perda de Dente. Adultos.

ABSTRACT

The objective this study was to analyze the risk factors for the incidence of tooth loss in a

population of adults. This prospective cohort study examined, after 4 years, a group of 20 to

64 year-olds, representative of the adult population of Piracicaba-SP, Brazil, selected by

random sampling in 2011. The home oral examination used the index of permanent decayed,

missing and filled teeth (DMFT), Community Periodontal Index (CPI), according to the codes

and criteria of the World Health Organization and visible biofilm. In addition, a baseline

questionnaire was used to collect demographic and socioeconomic data, and information on

the health habits and use of dental services. The outcome was the incidence of tooth loss. An

49

adapted conceptual theoretical model of tooth loss was used in a hierarchical analysis. The

reference category for the binary logistic regression was that of people not missing teeth due

to caries or periodontal disease. A significance level of 5% was adopted. A total of 143

(57.7%) subjects participated in the study four years later and there was incidence of tooth

loss in 51 (35.7%) adults over this period. As risk factors, the incidence of tooth loss

presented age (RR=2.48; 95%CI:1.09-5.66), pain as the reason for seeking dental services

(RR=2.82; 95%CI:1.06-7.52) and untreated caries (RR=2.50; 95%CI:1.06-5.92). Age, seeking

dental services due to pain and untreated caries were risk factors for the incidence of tooth

loss in this study. Health fostering strategies should consider these risk factors in adults in

order to prevent tooth loss by encouraging the regular use of dental services and more

conservative treatment of caries to maintain oral health and prevent tooth loss.

Key words: Epidemiology. Oral health. Tooth Loss. Adults.

INTRODUÇÃO

Em 2010, o Global Burden Disease mostrou que cárie não tratada, doença

periodontal severa e perdas dentárias permanecem entre as cem condições que mais

impactaram a saúde da população mundial nas duas últimas décadas (Marcenes et al., 2013).

Sendo a cárie não tratada em dentes permanentes a doença mais prevalente (Kassebaum et al.,

2015) e a doença periodontal a sexta no mundo (Kassebaum et al., 2014a).

Apesar dos avanços na Saúde Pública mundial, a cárie não tratada e a doença

periodontal ainda não apresentaram redução significativa na prevalência e incidência nas

últimas décadas (Kassebaum et al., 2014a; Kassebaum et al., 2015) e apresentam como

principal resultado, as perdas dentárias (Jafarian e Etabarian, 2013; Silva-Junior et al., 2016).

A distribuição das perdas dentárias não está totalmente compreendida, e devido ao

seu efeito coorte, tende a apresentar maior incidência na faixa etária de adultos (Kassebaum et

al., 2014b). No entanto, a maioria dos estudos populacionais em adultos é de delineamento

transversal e mensura fatores associados (Silva et al., 2009; Batista et al., 2012; Peres et al.,

2013; Nascimento et al., 2013; Chalub et al., 2014; Batista et al., 2015), havendo poucos

estudos longitudinais (Fure, 2003; Haugejorden et al., 2003; Ribeiro et al., 2015; van der

Velder et al., 2015) que verificam os fatores de risco para perda dentária. No Brasil, não foi

encontrado nenhum estudo de coorte em adultos, até o presente momento.

Um estudo coorte de base populacional sobre a perda dentária em faixa etária

ampliada de adultos fornece informações mais aprofundadas sobre os fatores de risco para

50

incidência das perdas dentárias e pode contribuir para o planejamento em saúde bucal e em

ações de promoção de saúde. Neste intuito, o objetivo deste estudo foi analisar os fatores de

risco para a incidência das perdas dentárias em uma população de adultos.

MATERIAL E MÉTODOS

Delineamento e local do estudo

Este estudo coorte prospectivo faz parte do estudo intitulado ‘‘Impacto da perda

dentária na qualidade de vida de adultos’’ (Batista et al., 2014) no município de Piracicaba,

localizado no interior de São Paulo, Brasil.

Aspectos éticos

Esta pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de

Odontologia de Piracicaba (CEP-FOP/UNICAMP) (número 177/2009).

População e amostra

Baseline. Para o cálculo da amostra representativa de adultos entre 20 e 64 anos

residentes do município de Piracicaba-SP foram usadas as diferenças existentes nas condições

de saúde bucal nos diferentes grupos etários, sendo o tamanho amostral estimado para adultos

jovens (20 a 44 anos) e para adultos mais velhos (45 a 64 anos), utilizando dois cálculos.

Adotou-se deff de 1,5, margem de erro de 10%, e intervalo de confiança de 95%, e dados de

prevalência da experiência de cárie para cada grupo etário (70,2% e 90,9% respectivamente)

(Batista et al., 2012), somando-se ao total 20% para compensar eventuais perdas. O tamanho

amostral para adultos de 20 a 44 foi 172 e para adultos de 45 a 64 anos foi 68, estimando 240

indivíduos. Acrescentamos 30% ao tamanho amostral final para a seleção dos domicílios,

prevendo a possibilidade de perdas e recusas, resultando em 342 domicílios, sendo 11,4

domicílios por setor censitário. Foram considerados para o sorteio 11 domicílios para cada um

dos 30 setores censitários (Batista et al., 2014).

A seleção amostral foi planejada a partir de dados do censo de 2000 fornecidos

pelo IBGE, que eram os dados compilados mais recentes no momento do estudo. A população

de Piracicaba em 2000 era 368.836 no total, sendo que 202.131 indivíduos encontravam-se

entre 20 e 64 anos. A média de moradores na faixa etária por domicílio no censo de 2000 foi

2,49 e a média de domicílios por setor foi 177,75 (IBGE, 2000). Foram sorteados segundo a

técnica de amostragem probabilística 30 setores censitários, mais dois para serem suplentes.

51

Em cada setor foram sorteadas 11 residências, segundo a fração que variou determinada pelo

número de domicílios. Foi examinado um adulto por domicílio.

Follow up. Buscando abarcar os mesmos sujeitos, os setores censitários de

residência atual dos indivíduos não foram considerados.

Coleta de dados

Baseline. A coleta de dados ocorreu entre os meses de junho a setembro de 2011.

A pesquisa foi composta por um exame bucal e uma entrevista. Os exames clínicos bucais

foram realizados nos domicílios, sob iluminação natural (sem profilaxia prévia, nem

secagem), utilizando sondas CPI e espelhos bucais planos como preconizados pela

Organização Mundial da Saúde (WHO, 1997). As condições clínicas de saúde bucal

pesquisadas foram: cárie dentária coronária medida pelo índice de dentes cariados, perdidos e

obturados (CPOD) (WHO, 1997), condição periodontal pelo Índice Periodontal Comunitário

(CPI) (WHO, 1997) e o biofilme visível (Ainamo e Bay, 1975). Além disto, no baseline, foi

aplicado um questionário para coleta dos dados demográficos, socioeconômicos, hábitos de

saúde e de utilização de serviço odontológico.

O critério de inclusão foi examinar indivíduos entre 20-64 anos em residências

selecionadas em Piracicaba-SP. O critério de exclusão foi possuir estado físico e psicológico

que impedissem a realização dos procedimentos clínicos ou compreensão do questionário.

Follow up. A coleta de dados foi realizada entre os meses de junho e setembro de

2015. O critério de inclusão era ter participado no baseline independente do setor censitário

atual de moradia em 2015 e o mesmo critério de exclusão do baseline foi adotado.

Os mesmos indivíduos foram procurados em seus endereços para participarem do

estudo, no caso de ausência, houve a tentativa de no mínimo mais três vezes. Os mesmos

assinaram novo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) para participar do

estudo. As mesmas condições clínicas foram avaliadas, mantendo os mesmos critérios e

protocolo de exame (Batista et al., 2014). No momento da coleta de dados, cada indivíduo

permaneceu com a mesma identificação do baseline.

Nesta etapa da coleta de dados, participaram dois examinadores, sendo o

examinador do baseline o ‘‘padrão-ouro’’ para calibração. Os examinadores foram treinados

para avaliação de cárie coronária, condição periodontal e biofilme visível. Houve discussões

teóricas e práticas em um total de vinte horas até a obtenção de concordância intraexaminador

acima de 96,5% e interexaminador acima de 90%. O índice Kappa variou de 0,89 a 1 para

todas as condições clínicas, estando dentro dos padrões de confiabilidade (Frias et al., 2004).

52

Variáveis do estudo

O desfecho do estudo foi a presença de incidência da perda dentária. Para este

estudo foram considerados os 32 dentes presentes na arcada, mensurados através do

componente P (código 4 e 5) do índice CPOD.

As variáveis independentes foram referentes aos dados do baseline conforme

realizado em estudos longitudinais (Hass et al., 2012; van der Velden et al., 2015) e divididas

em 4 blocos (figura 1). No primeiro bloco, variável exógena, a variável idade foi estratificada

em adultos jovens (20-44 anos) e mais velhos (45-64 anos). No segundo bloco, determinantes

primários da saúde bucal avaliou o tipo de serviço odontológico utilizado: público, particular

e convênio; avaliação do serviço: boa ou regular/ruim; estado civil: união estável ou não;

sexo: feminino ou masculino; renda: alta (≥4 salários mínimos-SM), média (2-3 SM) ou baixa

(≤ 1 SM); nível de escolaridade: ≤ 4 anos, entre 5-10 anos e ≥ 11 anos. A classe social foi

avaliada segundo a classificação de Graciano et al. (1999), que utiliza uma pontuação baseada

na escolaridade, renda familiar, ocupação, tipo de residência e número de residentes no

domicílio agrupando as pontuações em seis classes sociais. Para este estudo as classes foram

agrupadas nas categorias média, baixa superior e baixa inferior. Com relação às informações

sobre saúde bucal foi verificada a literacia em saúde bucal avaliada pelo método de Ishikawa

et al. (2008) em alta ou baixa e a necessidade de tratamento classificada em sim ou não.

No terceiro bloco, comportamentos em saúde bucal, foram avaliados como

práticas pessoais de saúde e utilização de serviço odontológico: uso de fio dental:

regularmente ou não; fumar: sim ou não; tempo da última visita ao dentista: <1 ano, 1-2 anos,

>2 anos; motivo da visita: rotina, necessidade e dor; frequência de consulta: regularmente ou

emergência. No quarto bloco, resultados de saúde bucal, foram analisados: presença de

biofilme dental visível: sim ou não; dentes cariados: sim ou não; presença de bolsa

periodontal: <4 mm ou ≥ 4mm.

Análise dos dados

Os dados foram tabulados no Statistical Package for the Social Sciences (SPSS)

versão 20.0 e no Excel®. Foi utilizado um modelo teórico conceitual adaptado de "Aging,

Ethnicity and Oral Health Outcomes" proposto por Andersen e Davidson (1997) para perdas

dentárias (Figura 1). Este modelo foi utilizado para direcionar a análise hierárquica (Victora et

al., 1997) em quatro blocos. Foram realizadas análises bivariadas de regressão logística

binária entre o desfecho incidência da perda dentária e as variáveis independentes do modelo

53

conceitual teórico. Após o ajuste das variáveis em cada bloco, as variáveis que apresentaram

p<0,20 foram selecionadas para ajustar o bloco subsequente, até a obtenção do modelo final.

A categoria de referência para a regressão logística binária multivariada foram os indivíduos

que não perderam os dentes por cárie ou doença periodontal. Foi adotado o nível de

significância de 5%.

Figura 1. Modelo conceitual teórico das perdas dentárias adaptado para o estudo (Andersen e

Davidson, 1997). Piracicaba-SP, Brasil, 2015.

RESULTADOS

No baseline, houve participação de 248 adultos representativos de 149.635

adultos entre 20 e 64 anos residentes do município de Piracicaba-SP. No follow up um total de

143 adultos (57,7%) constituíram a amostra. A amostra foi composta principalmente por

mulheres (72,0%), mais velhas (51,0%), em união estável (78,3%), com renda familiar alta

(81,1%) e tempo de estudo igual ou acima de 11 anos (53,1%) (tabela 1).

Após quatro anos de acompanhamento, a incidência da perda dentária ocorreu em

51 (35,7%) adultos, totalizando 130 dentes perdidos. A média de dentes perdidos foi de 0,91

(DP=1,65) para a amostra estudada e de 2,55 (DP=1,86) entre os indivíduos que apresentaram

incidência de dentes perdidos. Na tabela 1, podem ser observados os resultados das análises

bivariadas e o risco relativo bruto entre a incidência da perda dentária e as variáveis

independentes do modelo conceitual teórico.

Variável

exógena

s

Resultados de

saúde bucal

Características

pessoais Estado civil

Sexo

Renda familiar

Escolaridade

Classe social

Literacia em saúde bucal

Necessidade de tratamento

Condições

clínicas Biofilme

Dentes cariados

Bolsa periodontal

Perd

as den

tárias

Determinantes

primários de saúde

bucal

Comportamentos

de saúde bucal

Idade

Serviço de saúde bucal Tipo de serviço utilizado

Avaliação do atendimento

Hábitos pessoais Fio dental

Tabagismo

Utilização de

serviço

odontológico Tempo da consulta

Motivo da consulta

Frequência da

consulta

54

Tabela 1. Análises bivariadas, risco relativo bruto e IC95% da incidência das perdas dentárias

e as características demográficas, socioeconômicas e de práticas em saúde em adultos

residentes em Piracicaba, Brasil, 2011-2015.

Sem

incidência

de perdas

dentárias

Incidência

de perdas

dentárias ≥ 1 Total

Blocos n (%) n (%) n (%)

RR

bruto IC 95%

p-

valor

Variável exógena

Idade

Adultos jovens 53 (75,7) 17 (24,3) 70 (100,0) 1

Adultos mais velhos 39 (53,4) 34 (46,6) 73 (100,0) 2,72 1,33-5,55 0,006

Determinantes de saúde bucal

Tipo de serviço odontológico utilizado*

Privado 40 (59,7) 27 (40,3) 67 (100,0) 1

Convênio 32 (80,0) 08 (20,0) 40 (100,0) 0,37 0,15-0,92 0,034

Público 18 (52,9) 16 (47,1) 34 (100,0) 1,32 0,57-3,02 0,517

Avaliação do serviço

Bom 78 (64,5) 43 (35,5) 121 (100,0) 1

Regular/Ruim 12 (60,0) 08 (40,0) 20 (100,0) 1,21 0,46-3,19 0,701

Estado civil

Sem união estável 23 (74,2) 08 (25,8) 31 (100,0) 1

União estável 69 (61,6) 43 (38,4) 112 (100,0) 1,79 0,74-4,36 0,199

Sexo

Feminino 70 (68,0) 33 (32,0) 103 (100,0) 1

Masculino 22 (55,0) 18 (45,0) 40 (100,0) 1,74 0,82-3,67 0,149

Renda familiar

Alta 75 (64,7) 41 (35,3) 116 (100,0) 1

Média 11 (68,8) 05 (31,2) 16 (100,0) 0,83 027-2,56 0,748

Baixa 03 (42,9) 04 (57,1) 07 (100,0) 2,44 0,52-11,43 0,258

Escolaridade

≥ 11 anos 55 (72,4) 21 (27,6) 76 (100,0) 1

5-10 anos 22 (59,5) 15 (40,5) 37 (100,0) 1,79 0,78-4,08 0,169

≤ 4 anos 15 (50,0) 15 (50,0) 30 (100,0) 2,62 1,09-6,28 0,031

Classe social

Média 20 (83,3) 04 (16,7) 24 (100,0) 1

Baixa superior 59 (61,5) 37 (38,5) 96 (100,0) 3,14 0,99-9,90 0,051

Baixa inferior 13 (56,5) 10 (43,5) 23 (100,0) 3,85 0,99-14,90 0,051

Literacia em saúde bucal

Alta 46 (67,6) 22 (32,4) 68 (100,0) 1

Baixa 46 (61,3) 29 (38,7) 75 (100,0) 1,39 0,66-2,62 0,432

Necessidade de tratamento odontológico

Não 32 (76,2) 10 (23,8) 42 (100,0) 1

Sim 60 (59,4) 41 (40,6) 101 (100,0) 2,19 0,97-4,93 0,059

continua

55

continuação

Hábitos pessoais

Fio dental

Regularmente 33 (67,4) 16 (32,6) 49 (100,0) 1

Irregularmente 59 (62,8) 35 (37,2) 94 (100,0) 1,22 0,59-2,54 0,588

Fuma

Não 78 (65,0) 42 (35,0) 120 (100,0) 1

Sim 14 (60,9) 09 (39,1) 23 (100,0) 1,19 0,48-2,99 0,705

Utilização de serviço odontológico

Tempo da última consulta

< 1 ano 58 (67,4) 28 (32,6) 86 (100,0) 1

1-2 anos 15 (55,6) 12 (44,4) 27 (100,0) 1,66 0,68-4,01 0,262

≥ 3 anos 19 (63,3) 11 (36,7) 30 (100,0) 1,20 0,50-2,86 0,682

Motivo da consulta*

Rotina 55 (77,5) 16 (22,5) 71 (100,0) 1

Necessidade 17 (50,0) 17 (50,0) 34 (100,0) 3,44 1,44-8,23 0,006

Dor 15 (45,5) 18 (54,5) 33 (100,0) 4,12 1,71-9,97 0,002

Frequência da consulta*

Regularmente 51 (73,9) 18 (26,1) 69 (100,0) 1

Emergência 40 (54,8) 33 (45,2) 73 (100,0) 2,34 1,15-4,74 0,019

Condições clínicas

Biofilme dental*

Não 56 (66,7) 28 (33,3) 84 (100,0) 1

Sim 31 (57,4) 23 (42,6) 54 (100,0) 1,48 0,73-3,00 0,272

Dentes cariados

Não 71 (74,0) 25 (26,0) 96 (100,0) 1

Sim 21 (44,7) 26 (55,3) 47 (100,0) 3,52 1,69-7,32 0,001

Bolsa periodontal

< 4 mm 73 (73,0) 27 (27,0) 100 (100,0) 1

≥ 4 mm 19 (44,2) 24 (55,8) 43 (100,0) 3,42 1,62-7,20 0,001

*Variáveis não totalizam 143 indivíduos por apresentam dados perdidos, sendo estes dados

excluídos da análise estatística.

A figura 2 mostra o processo de modelagem hierárquica realizado neste estudo. A

idade (bloco 1) foi significativa e ajustou escolaridade e tipo de serviço (bloco 2). Essas três

variáveis ajustaram o bloco 3, resultando na seleção de idade e motivo da consulta, que

ajustaram o bloco 4 produzindo o modelo final.

56

Figura 2. Esquema ilustrativo do processo de modelagem da regressão logística hierárquica.

Piracicaba-SP, Brasil, 2015.

Após a análise hierárquica, adultos mais velhos, procura do serviço odontológico

motivado por dor e presença de cárie não tratada apresentaram um maior risco relativo

ajustado que foi respectivamente de 2,48 (IC95%=1,09-5,66), 2,82 (IC95%=1,06-7,52) e 2,50

(IC95%=1,06-5,92) para a incidência das perdas dentárias (Tabela 2).

Tabela 2. Análises da incidência das perdas dentárias e as características demográficas,

socioeconômicas e de práticas em saúde, risco relativo (RR) ajustado, intervalo de confiança

95% e p-valor, em adultos residentes em Piracicaba, Brasil, 2011-2015.

Blocos

RR

Ajustado IC 95%

p-

valor

Variável exógena

Idade

Adultos jovens 1 0,031

Adultos mais velhos 2,48 1,09-5,66

Utilização de serviço odontológico

Motivo da consulta*

Rotina 1

Necessidade 2,44 0,96-6,22 0,061

Dor 2,82 1,06-7,52 0,039

continua

57

continuação

Condições clínicas

Dentes cariados

Não 1

Sim 2,50 1,06-5,92 0,037

Bolsa periodontal

< 4 mm 1

≥ 4 mm 1,79 0,77-4,20 0,178

Nota: A categoria de referência para a análise de regressão

multinomial foram os indivíduos que não apresentaram incidência de

perda dentária nos últimos quatro anos.

DISCUSSÃO

No presente estudo, as perdas dentárias apresentou como fatores de risco, a idade,

a procura de serviço motivado por dor e a presença de cárie não tratada. Nesse contexto, as

perdas dentárias foram resultado da progressão e acúmulo de necessidade para tratamento da

cárie dental ao longo da vida, e da busca tardia, determinada pela procura de serviço em caso

de urgência, como a dor. Esse resultado, demonstra uma necessidade de valorização da

promoção da saúde e prevenção das doenças bucais em termos de Saúde Pública,

principalmente para cárie dentária, doença que pode ser evitada.

No mundo, a incidência das perdas dentárias não tem reduzido nas últimas

décadas, e apresenta uma distribuição crescente até meados dos 60 anos de idade (Kassebaum

et al., 2014b), quando a severidade e acúmulo das perdas dentárias ao longo da vida, reduz o

número total de dentes presentes na cavidade bucal e a chance de novas perdas dentárias.

Apesar de não ser encontrado estudos longitudinais sobre as perdas dentárias em

adultos brasileiros, estudos internacionais mostram a idade como fator de risco para essa

condição (Haugejorden, Klock, Trovik, 2003; Fure, 2003). Embora a associação da idade com

as perdas dentárias esteja estabelecida na literatura, o processo fisiológico do envelhecimento

não a justifica (Narvai e Frazão, 2008). Sendo necessário, haver uma valorização da presença

de dentes funcionais na cavidade bucal ao longo dos ciclos de vida, sendo um aspecto de

saúde e cuidado.

No presente estudo, a procura de serviço motivado por dor determinou as perdas

dentárias, achado também encontrado por Silva et al. (2009). Esse resultado pode ser

explicado pelo histórico de atenção à saúde bucal brasileira, principalmente na faixa etária de

adultos, marcado pela restrição de acesso e alta demanda (Baldani et al., 2010). Além disso, a

busca tardia para o tratamento das doenças bucais e a sua progressão, culminava em

necessidade de procedimentos invasivos e técnicas mutiladoras em um passado ainda recente

58

(Silva-Junior et al., 2016), sendo o consultório odontológico e o cirurgião-dentista, pouco

atrativo no imaginário das pessoas. Outro aspecto relevante, é como tornar a busca pelos

serviços odontológicos rotineiramente, em uma população economicamente ativa.

Na literatura, poucos estudos em análises multiníveis demonstram associação

entre as perdas dentárias e condições clínicas de saúde bucal (Batista et al., 2012; Ribeiro et

al., 2015; van der Velden et al., 2015). O presente estudo, longitudinal e de base populacional,

foi o primeiro a verificar a presença de cárie não tratada como fator de risco para as perdas

dentárias. Esse resultado demonstra que a condição da perda dentária foi uma sequela da

progressão e acúmulo de necessidades para tratamento da cárie (Silva-Junior, 2016). No

entanto, apesar dos avanços da Saúde Pública mundial, a cárie não tratada em dentes

permanentes ainda é a doença mais prevalente na população mundial (Kassebaum et al.,

2015). Sendo assim, fica impossível pensar em formas de reduzir as perdas dentárias, sem

procurar formas e criar políticas públicas eficientes na prevenção e tratamento em estágios

iniciais para cárie dental.

Estudos transversais também mostraram associação entre aspectos clínicos e perda

dentária, sendo presença de biofilme dentário visível (Batista et al., 2012), cárie dental e

periodontite (Ribeiro et al., 2015). Um dos fatores que poderia explicar esse achado, seria a

homogeneidade da amostra e do seu nível socioeconômico, também verificado em amostras

homogêneos com adultos trabalhadores (Batista et al., 2012) e indígenas (Ribeiro et al.,

2015). No presente estudo, a amostra apresentou boas condições socioeconômicas, além do

município apresentar um alto Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), de

0,785.

Embora uma revisão sistemática com metanálise apresentou associação entre

perdas dentárias e renda (Seerig et al., 2015), a associação entre as perdas dentárias e os

fatores socioeconômicos não é conclusiva, principalmente pela limitação de evidência

científica dos estudos primários, que são majoritariamente de delineamento transversal

(Barbato e Peres, 2015). Para Peres et al. (2013), a redução na incidência das perdas dentárias

tem como consequência, uma evidenciação de desigualdades socioeconômicos (Peres et al.,

2013).

Em países desenvolvidos, como Estados Unidos (Gilbert et al., 2003) e países

europeus (Muller, Naharro, Carlsson, 2007), as variáveis contextuais mostraram efeito de

causalidade para incidência das perdas dentárias, no entanto, sem compreender se ocorreu

devido ao declínio da prevalência das doenças bucais ou da melhoria dos fatores

sociocomportamentais de risco. No Brasil, apesar de não haver estudos longitudinais em

59

adultos para comparar resultados, verificou-se na composição do índice CPOD,

predominância de dentes perdidos (P) em regiões mais pobres do país e de dentes obturados

(O) em regiões mais desenvolvidas no país (Nascimento et al., 2013). Segundo Peres et al.

(2013), essas melhores condições de saúde bucal dos brasileiros, poderia ser explicada por

melhores condições socioeconômicas, como a educação e a melhoria no sistema de saúde,

como fluoretação das águas e uso de fluoretos nos dentifrícios (Peres et al., 2013).

Além disso, no Brasil, houve a implantação da Política Nacional de Saúde Bucal,

conhecida como Brasil Sorridente, no ano de 2004, no intuito de atender à integralidade da

atenção à saúde, dentro do Sistema Único de Saúde (SUS). Na última década, houve uma

ampliação dos serviços odontológicos públicos à população em todo o país, no entanto, na

população de adultos, tem apresentado um menor impacto na faixa etária de adultos, como

demonstrado no presente estudo. Esses resultados, demonstram que alguns aspectos devem

ser repensados para atender às necessidades da população de adultos. Os serviços de saúde

precisam promover a autonomia e corresponsabilização dos usuários sob sua saúde bucal,

para escolhas mais saudáveis e melhores comportamentos de saúde, aspectos à serem

estabelecidos através da atenção primária à saúde. No entanto, as unidades de saúde, local

apropriado para serem feitas esses tipos de abordagens, apresentam horário de funcionamento

restrito para uma faixa etária de indivíduos economicamente ativos, sendo necessário a

ampliação de horários de funcionamento ou criação de horários alternativos. Outro aspecto a

ser considerado, é a necessidade de uma prática profissional, embasada na promoção de saúde

e na prevenção das doenças bucais, principalmente da cárie dentária, para que haja a tomada

de decisão pela extração dentária, apenas em casos realmente necessários (Klock et al., 1995).

O presente estudo apresenta algumas limitações que precisam ser destacadas. A

perda de seguimento torna-se inevitável em estudos de coorte, no entanto, houve uma

preservação das características da amostra inicial e final neste estudo. Quanto à presença de

bolsa periodontal, deve-se destacar que esta medida foi realizada por dentes índices em cada

sextante, e não individualizada, o que pode dificultar a associação da incidência da perda com

a presença de bolsa periodontal. Além disso, o modelo hierarquico utilizado nesse estudo está

bem difundido na literatura (De Marchi et al., 2012; Batista et al., 2013; Batista et al., 2015).

Os achados do presente estudo, apresenta dificuldade de comparação com a

literatura, principalmente pela metodologia abordada. Mesmo a perda dentária sendo estimada

pela média do componente de dentes perdidos (P) do índice CPOD, uma grande quantidade de

estudos na faixa etária de adultos trabalharam com o conceito de dentição funcional como

variável dependente (Nascimento et al., 2013; Peres et al., 2013; Chalub et al., 2014) e não o

60

número de dentes perdidos. Outro aspecto é a exclusão de terceiros molares, utilizando apenas

28 dentes para inferências estatísticas (Nascimento et al., 2013; Peres et al., 2013; Chalub et

al., 2014).

CONCLUSÃO

Os fatores idade, presença de cárie não tratada e procura de serviço odontológico

por dor foram fatores de risco para a presença de incidência da perda dentária. Estes

resultados remetem à importância da valorização da promoção e da prevenção de saúde bucal,

pois o processo fisiológico do envelhecimento não justifica a perda dentária, a cárie dentária

ser uma doença prevenível e a procura do serviço por dor se tratar de um hábito em saúde que

pode ser modificável.

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64

3 DISCUSSÃO

Estudar a saúde bucal de adultos, em um município de grande porte e localizado

no interior do país, ressaltam dados importantes que podem representar a realidade de outros

municípios brasileiros. Os resultados encontrados, por se tratar de um estudo de delineamento

longitudinal e utilizar-se de faixa etária ampliada de adultos, são de grande relevância para a

Odontologia, pois são capazes de inferir melhor compreensão sobre as perdas dentárias.

No presente estudo, no baseline, os adultos mais velhos (45 a 64 anos)

apresentaram maior severidade nas condições de saúde bucal em relação a todas as variáveis

clínicas estudadas, sendo elas, experiência de cárie dental, doença periodontal, uso e

necessidade de prótese dentária. Após quatro anos de acompanhamento, houve aumento na

experiência de cárie, devido ao componente de dentes perdidos. As variáveis idade, procura

do serviço odontológico motivado por dor e presença de cárie não tratada foram fatores de

risco para as perdas dentárias.

Em países desenvolvidos, as perdas dentárias têm apresentado redução nas últimas

décadas (Kassebaum et al., 2014b). No Brasil, esta tendência aparece apenas em regiões mais

desenvolvidas, onde o componente de dentes obturados apresentam-se como principal

componente do índice CPOD (Nascimento et al., 2013). Esse dado pode ser um reflexo do

investimento no serviço odontológico público no país, através da implantação em 2004, da

Política Nacional de Saúde Bucal, para atender à integralidade da atenção à saúde, dentro do

Sistema Único de Saúde (SUS). No presente estudo, um resultado importante também

verificado, foi a maior média de dentes obturados nos adultos jovens no tempo de estudo, no

entanto, sem apresentar alteração na presença de cárie não tratada. Esse fato, pode ser

explicado, ainda pela prática assistencialista dos serviços de saúde bucal público, com pouco

enfoque na promoção de saúde e autonomia dos sujeitos.

Os resultados do presente estudo, mostram que apesar dos avanços na prática

profissional odontológica e nos esforços da Saúde Pública na prevenção das principais

doenças bucais, como cárie e doença periodontal, estas doenças ainda são muito prevalentes

na faixa etária de adultos. Estes resultados também são expressos na prevalência da cárie

dental (Kassebaum et al., 2015) e doença periodontal (Kassebaum et al., 2014a) de dentes

permanentes no mundo, pois não houveram mudanças nas últimas décadas. Neste contexto, é

difícil haver uma redução da incidência de perdas dentárias, sem pensar em formas de como

reduzir as doenças bucais, principalmente a cárie e a doença periodontal.

No Brasil, assim como em países subdesenvolvidos (Kassebaum et al., 2014b), o

componente de dentes perdidos, ainda foi o componente principal do índice CPOD

65

(Nascimento et al., 2013; Peres et al., 2013). Fato explicado pela busca tardia aos serviços

odontológicos e histórico de demanda reprimida (Baldani et al., 2010), onde que determinam

no acúmulo de necessidades odontológicas e aumento da severidade dos problemas bucais, e

acabam por culminar na perda dentária (Lacerda et al., 2004; Barbato et al., 2007; Batista et

al., 2012). Esse fato, foi evidenciado no presente estudo, pelas perdas dentárias apresentarem

como resultado do acúmulo de necessidades de tratamento, embora na maioria dos casos, de

baixa complexidade. Esse dado remete à necessidade de qualificação da atenção primária,

principalmente aumentando a cobertura da Estratégia de Saúde da Família, além da

necessidade de políticas públicas voltadas especificamente para a população de adultos, pois é

nessa faixa etária que a progressão das doenças bucais, apresentam como resultado, a perda

dentária.

No presente estudo, as perdas dentárias apresentaram como fatores de risco

variáveis clínicas e de comportamento, sem associação socioeconômica, fato que pode ser

explicado pelo perfil socioeconômico homogêneo e boas condições de renda familiar e classe

social na população estudada. No entanto, apesar da idade apresentar-se como fator de risco

para perda dentária, por si só, não a justifica, pois não apresenta relação com o processo

fisiológico do envelhecimento (Narvai e Frazão, 2008). Além disso, o presente estudo,

mostrou que adultos jovens apresentaram mesma severidade de incidência dos adultos mais

velhos, quando apenas adultos que apresentaram incidência foi analisado. Esse resultado,

demonstra uma possível tendência de polarização da incidência das perdas dentárias, por estar

concentrada em um número menor de indivíduos.

Sobre utro aspecto importante que determinou as perdas dentárias foram em

relação aos comportamentos em saúde. Os adultos estudados relataram a dor como principal

motivo para escolha pela extração dentária, e ela apareceu como um fator de risco para perda

dentária. Sendo assim, o empoderamento do paciente torna-se importante nas escolhas

saudáveis e nas boas práticas em saúde. Para isto é primordial uma prática profissional menos

invasiva na tomada de decisão pela extração dentária, tanto dos cirurgiões-dentistas, como

também dos pacientes (Klock et al., 1995).

Embora a perda de seguimento fosse uma possível limitação deste estudo, não

houve diferença entre as características demográficas e socioeconômicas da amostra inicial e

final. Um aspecto importante que precisa ser elucidado foi o método de avaliação periodontal

por sextante que limitou algumas análises mais aprofundadas. Outros estudos coorte sobre as

perdas dentárias em outras populações de adultos são incentivados e necessários para um

maior entendimento sobre a temática.

66

4 CONCLUSÃO

A faixa etária ampliada possibilitou caracterizar diferenças entre os grupos etários

na população de adultos. Os adultos jovens apresentaram melhores condições de saúde bucal

para experiência de cárie e doença periodontal, enquanto os adultos mais velhos apresentaram

maior uso e necessidade de prótese dentária. No entanto, apesar da incidência da perda

dentária ser maior no grupo de adultos mais velhos ela apresentou uma tendência de ser mais

severa dentre os que perderam dentes em adultos jovens no período estudado.

Os fatores idade, procura de serviço odontológico por dor e presença de cárie não

tratada foram os fatores de risco mais fortes na presença de incidência da perda dentária. A

dor foi a principal motivação de escolha pela extração dentária nos adultos estudados, sendo

agravada na maioria dos casos pela inexistência de outra opção de tratamento no momento da

busca pelo atendimento odontológico. Isto remete à necessidade de acesso e priorização da

atenção básica de saúde, para que doenças bucais em estágios iniciais não culminem em

necessidades de tratamentos mais complexos ou na perda do dente.

67

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70

APÊNDICES

APÊNDICE 1 - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Introdução e objetivo: Através deste documento estamos convidando-o a participar novamente da pesquisa “Estudo da perda dentária em adultos: impacto em grupos de distintos níveis socioeconômicos e de uso de serviços odontológicos através da aplicação de índices de perda dentária e fatores associados.” realizada pela Faculdade de Odontologia de Piracicaba – FOP. O objetivo desta nova avaliação é reavaliar o impacto da perda dentária, através da aplicação de índices de perda dentária, e identificar os fatores associados a mesma, em adultos de diferentes níveis sócioeconômicos e uso de serviços odontológicos. Justificativa: As perdas dentárias ainda constituem um agravo à saúde bucal, interferindo negativamente na qualidade de vida da população. Por isso, é necessário investigar a perda dentária na população adulta, aplicando um índice específico para mensurá-la, e verificando os determinantes individuais, biológicos, sociais, econômicos e ambientais associados a este problema. Metodologia: Você poderá participar desta nova etapa após assinar este documento. Para o estudo será realizado um exame clínico e aplicação de um questionário. No exame serão verificadas as condições bucais em relação à cárie dentária, condição da gengiva, condição de possíveis próteses dentárias e observação da integridade das mucosas. O questionário contém questões pessoais, que você deve responder de forma sincera, pois não existem respostas certas ou erradas, e todas as informações serão sigilosas. Métodos alternativos para obtenção da informação: Não há métodos alternativos para obtenção das informações pretendidas. Descrição de desconfortos e riscos: Quanto aos exames clínicos realizados nos voluntários, o desconforto causado é mínimo, similar ao verificado em um exame clínico de rotina realizado por um cirurgião-dentista. Esta pesquisa não envolve riscos previsíveis para o paciente uma vez que para os exames epidemiológicos serão utilizados instrumentos devidamente esterilizados, além disto, o examinador estará utilizando equipamentos de proteção individual (luvas, máscaras, gorro, óculos de proteção e avental). Possibilidade de inclusão em grupo controle: Não haverá grupo controle, pois, todos os voluntários serão examinados igualmente. Descrição dos Benefícios e vantagens diretas ao voluntário: O principal benefício que este trabalho traz para a comunidade é que estes dados poderão ser utilizados para planejamento de possíveis programas de saúde bucal destinados a esta população, com a vantagem de poderem ser direcionados para o controle dos fatores de risco verificados durante a pesquisa. Você não terá benefício direto com a pesquisa, porém será esclarecido sobre suas condições de saúde bucal. Garantia de ressarcimento de gastos: Não haverá gastos para os participantes da pesquisa uma vez que a pesquisadora irá até o local onde eles procuraram o serviço de

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE PIRACICABA

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saúde bucal para tratamento, independentemente realização da pesquisa. O gasto que o indivíduo teria para transporte e realização do tratamento odontológico seria o mesmo caso o indivíduo não se interessasse em participar da pesquisa. Garantia de sigilo: O voluntário tem garantia de não ser identificado, pois será mantido o caráter confidencial das informações referentes à sua privacidade. Garantia de recusa à participação ou saída do estudo: Os voluntários terão a liberdade de sair da pesquisa a qualquer momento sem que haja qualquer penalidade ou prejuízo. Previsão de indenização: Não está prevista qualquer forma de indenização referente a possíveis danos visto que não existe esta possibilidade por se tratarem somente de exames bucais e aplicação de um questionário. Forma de acompanhamento e assistência ao sujeito: O pesquisador se compromete a fornecer quaisquer informações que o Sr.(a) achar necessária. Forma de contato com os pesquisadores ou com o CEP / garantia de esclarecimento: Em caso de dúvida ou alguma outra questão que queira conversar com o (s) pesquisador (es), entre em contato pelo telefone (19) 2106-5209, ([email protected]), ([email protected]), ([email protected]) ou no Departamento de Odontologia Social da Faculdade de Odontologia de Piracicaba. Em caso de dúvida quanto aos seus direitos como sujeito de pesquisa entre em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (Avenida Limeira 901 – Areião, Piracicaba, SP), e-mail: [email protected] ou site http://www.fop.unicamp.br/cep/index.htm ou ainda pelo telefone/fax (19) 2106-5349. Os voluntários poderão receber os esclarecimentos que se fizerem necessários com os pesquisadores responsáveis, relativos aos objetivos da pesquisa e a utilização das informações, bem como a garantia de que suas identidades não serão reveladas. Garantia da entrega de cópia: O participante receberá uma cópia deste Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que possui 1 folha (frente e verso). Esperando contar com sua gentil colaboração, desde já agradecemos. Em caso de dúvidas ou maiores esclarecimentos, a qualquer momento da pesquisa, entrar em contato com a Profa. Dra. Maria da Luz Rosário de Sousa (19-3412-5364), os cirurgiões-dentistas Marília Jesus Batista (11-99763-6614), Marcela Di Moura Barbosa (62-9686-8983) e Manoelito Ferreira Silva Junior (19-99931-5635) ou ainda através da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (19-3412-5209). Consentimento livre e esclarecido: Eu, ____________________________________________ certifico que li o documento acima exposto e, suficientemente esclarecido(a), estou plenamente de acordo em participar da pesquisa permitindo a realização dos exames clínicos e preenchimento do questionário. Estou ciente que os resultados obtidos serão publicados para difusão do conhecimento científico e que a identidade do voluntário será preservada. Por ser verdade, firmo o presente. Data: , / / . Nome por extenso: Assinatura: 1ª via – Pesquisadora 2ª via – Voluntário

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APÊNDICE 2 – FICHA DE EXAME

APÊNDICE 3 - QUESTIONÁRIO QUESTIONÁRIO

RAIZ

COROA

21 22 23 24 25 26 27 28

31 32 33 34 35 36 37 38

18 17 16 15 14 13 12 11

CÁRIE DENTÁRIA E NECESSIDADES DE TRATAMENTO

Nº IDENTIFICAÇÃO

DATA DO EXAME

INFORMAÇÕES GERAIS

mm do sítio mais afetado

(bolsa mais profunda)

NOME: 1 – Exame 2 - Reexame

ALTERAÇÕES DO TECIDO MOLE

SIM NÃO PLACA VISIVEL SIM NÃO ATIVIDADE DE CÁRIE INDIVÍDUO

SIM NÃO

47/46

17/16 11 26/27

31 36/37

CPI

47/46

17/16 11 26/27

31 36/37

PIP

CONDIÇÃO PERIODONTAL

Endereço:

COROA

RAIZ

Bairro: Setor censitário

CONDIÇÃO PROTÉTICA

SUP INF

SUP INF

NECESSIDADE DE PRÓTESE

USO DE PRÓTESE

MOTIVO DA TROCA: ( ) tempo de uso ( ) prótese quebrada ( ) prótese não funcional, desadaptada ( ) câmara de sucção ( ) outros ( ) NSA

ESTÁ RECOMENDADA A TROCA?

Sim Não

TRAT.

TRAT.

Peso (Kg)_____________ Altura (m) _____________ Circunferência abdominal (m)

_____________

48 47 46 45 44 43 42 41

41

73

APÊNDICE 3 – QUESTIONÁRIO Por favor, responda as questões abaixo, ressalta-se que não existem respostas certas ou erradas. Todas essa informações são sigilosas. Nas questões que possuem alternativas, pede-se que o voluntário escolha apenas uma das alternativas.

8. Sua renda mensal (Situação econômica pessoal)

( ) até R$272,00 ( ) de R$273,00 até R$545,00 ( ) de R$546,00 a R$1090,00 ( ) de R$1091,00 a R$2180,00 ( ) de R$2181,00 a R$ 4905,00 ( ) de R$4906,00 a R$ 8175,00 ( ) de R$8176,00 a R$16350,00 ( ) Acima de R$16351,00 ( ) não sabe/ não informou

10. Fonte da sua renda

( ) salário ( ) pró-labore ( ) rendimento financeiro ( ) honorários ( ) aluguéis ( ) aposentadoria ( ) pensão ( ) não sabe/ não informou 11. Atualmente você está empregado?

( ) sim, o dia todo, tempo integral ( ) sim, parte do dia, tempo parcial ( ) não, afastado ( ) não, desempregado ( ) não sabe/ não informou

12. Profissão:

13. Número de pessoas na família (Residentes na mesma casa)

( ) Até 2 Pessoas ( ) 3 Pessoas ( ) 4 Pessoas

( ) 5 Pessoas ( ) 6 Pessoas ( ) Acima 6 Pessoas

14. Seu grau de instrução

( ) sem escolaridade/ NÃO ALFABETIZADO

( ) sem escolaridade/ ALFABETIZADO

( ) 1ª e 4ª série incompleta

( ) 1ª e 4ª série completa

( ) 5ª e 8ª série incompleta

( ) 5ª e 8ª série completa

( ) 2º grau incompleto

( ) 2º grau completo

Fatores demográficos

1. NOME:_____________________________________________________________________________________________

2. NÚMERO DE IDENTIFICAÇÃO: 3. IDADE EM ANOS

MASCULINO

FEMININO 5. SEXO

6. ESTADO CIVIL:

1 – solteiro

2 – casado

3 – divorciado/separado

4 – viúvo

5 - amasiado

7. GRUPO ÉTNICO:

1 - amarelo

2 – branco

3 – indígena

4 – negro

5 – pardo

6 – sem registro

7- _______________

Fatores socioeconômicos

4. ANO QUE NASCEU

9. Renda familiar mensal (Situação econômica da família)

( ) até R$272,00 ( ) de R$271,00 a R$545,00 ( ) de R$546,00 a R$1090,00 ( ) de R$1091,00 a R$ 2180,00 ( ) de R$2181,00 a R$ 4905,00 ( ) de R$ 4906,00 a R$8175,00 ( ) de R$8176,00 a R$16350,00 ( ) Acima de R$16350,00

( ) não sabe/ não informou

74

( )Superior incompleto

( ) Superior completo

( ) não sabe/ não informou

15. Moradia

( ) Residência própria quitada

( ) Residência própria com financiamento a pagar

( ) Residência cedida pelos pais ou parentes

( ) Residência cedida em troca de trabalho

( ) Residência alugada

( ) Residência cedida por não ter onde morar

( ) não sabe/ não informou

16. Qual o grau de instrução de sua mãe?

( ) NÃO ALFABETIZADO

( ) ALFABETIZADO

( ) 1ª e 4ª série incompleta

( ) 1ª e 4ª série completa

( ) 5ª e 8ª série incompleta

( ) 5ª e 8ª série completa

( ) 2º grau incompleto

( ) 2º grau completo

( ) Superior incompleto

( ) Superior completo

( ) não sabe/ não informou

17. Qual o grau de instrução do seu pai?

( ) NÃO ALFABETIZADO

( ) ALFABETIZADO

( ) 1ª e 4ª série incompleta

( ) 1ª e 4ª série completa

( ) 5ª e 8ª série incompleta

( ) 5ª e 8ª série completa

( ) 2º grau incompleto

( ) 2º grau completo

( )Superior incompleto

( ) Superior completo

( ) não sabe/ não informou

18. Como considera a situação econômica da sua família na sua infância?

( ) rica ( ) média ( )pobre ( )muito pobre ( ) não sabe/ não informou

19. Sua situação econômica atual em relação à da sua família quando você era criança é:

( ) bem melhor ( ) melhor ( )igual ( )pior ( ) bem pior ( ) não sabe/ não informou

20. Está atualmente sob tratamento médico? ( ) não ( ) sim

21. Qual?

22. Está tomando algum medicamento? ( ) não ( ) sim

23. Qual?

24. Possui alguma doença há mais de três meses? ( ) não ( ) sim

25. Qual?

26. Extraiu algum dente no dentista alguma vez na vida? ( ) não ( ) sim

27. Se a resposta for positiva, por que extraiu?

28. Quantos anos você tinha quando perdeu o primeiro dente?

29. Qual o motivo da extração do primeiro dente?

Fatores relacionados à saúde geral e bucal

75

( ) muita dor ( ) cavidade muito grande ( ) o dente estava perdido ( ) a restauração estava quebrada ( ) o dente estava quebrado ( ) a gengiva estava muito inflamada, e estava mole ( ) abcesso/ infecção ( ) o canal do dente estava ruim ( ) para fazer prótese ou dentadura ( ) não sabe/ não informou ( ) outros

30. Por que você extraiu seu dente ao invés de mantê-lo?

( ) não tinha tratamento que poderia ser feito no dente ( ) outros tratamentos teriam custado muito ( ) não valia a pena o tempo e o esforço necessários para recuperar o dente, mas não por causa de dinheiro ( ) porque era necessário para fazer prótese parcial ou total ( ) os outros tratamentos causariam muita dor ( ) porque não tive muito sucesso com outros tratamentos no passado ( ) seria muito sofrimento considerar as outras opções ( ) outras razões ( ) não sabe/ não informou

31. Onde extraiu o primeiro dente?

( ) SUS ( ) dentista particular ( ) convênio ( ) outros

32. Extraiu algum dente no dentista nos últimos seis meses? ( ) sim ( )não

33. Se a resposta for positiva, Por que extraiu?

( ) muita dor

( ) cavidade muito grande

( ) o dente estava perdido

( ) a restauração estava quebrada

( ) o dente estava quebrado

( ) a gengiva estava muito inflamada, e estava mole

( ) abcesso/ infecção

( ) o canal do dente estava ruim

( ) para fazer prótese ou dentadura

( ) não sabe/ não informou

( ) outros

34. Por que você extraiu seu dente ao invés de mantê-lo?

( ) não tinha tratamento que poderia ser feito no dente

( ) outros tratamentos teriam custado muito

( ) não valia a pena o tempo e o esforço necessários para recuperar o dente, mas não por causa de dinheiro

( ) porque era necessário para fazer prótese parcial ou total

( ) os outros tratamentos causariam muita dor

( ) porque não tive muito sucesso com outros tratamentos no passado

( ) seria muito sofrimento considerar as outras opções

( ) outras razões

( ) não sabe/ não informou

35. Que tipo de tratamento o dentista propôs a você como alternativa para a extração?

( ) uma restauração

( ) uma cirurgia na gengiva

( ) uma coroa ou ponte fixa

( ) tratamento de canal

( ) extração foi a única opção que o dentista me ofereceu

( ) outras

( ) não foram discutidas outras opções

( ) não sabe/ não informou

36. O que você pensa que causa dor de dente?

( ) problemas de dente não tratados, falha do dentista

( ) “dentes ruins de família”

( ) falta de higiene dos dentes (que leva á cárie)

76

( ) comer certos tipos de comida

( ) problemas de sinusite

( ) o envelhecimento (acontece quando as pessoas ficam mais velhas)

( ) outra resposta

( ) não sabe/ não informou

37. Sentiu dores de dente que o impediram de trabalhar nos últimos seis meses? ( ) não ( ) sim

38. Possui escova de dente? ( ) não ( ) sim

39. Qual a frequência que você escova seus dentes ou limpa sua dentadura ( ) por dia ( ) por semana ( ) por mês ( ) por ano ( ) nunca ( ) não sabe/ não informou 40. Coloque o número de vezes 41. Qual frequência que você usa o fio dental ( ) por dia ( ) por semana ( ) por mês ( ) por ano ( ) nunca ( ) não sabe/ não informou 40. Coloque o número de vezes 41. Usa ou já usou algum tipo de prótese na vida? ( ) não ( ) sim

42. Você fuma? ( ) não ( ) sim

43. Se a resposta for positiva, quantos cigarros você fuma por dia?

44. É ex-fumante? ( ) não ( ) sim

45. Se a resposta for positiva, por quanto tempo fumou antes de abandonar o cigarro?

46. Consome bebidas alcoólicas com freqüência? ( ) não ( ) sim

47. Qual a freqüência?

48. Como percebe sua saúde geral?

( ) ótima ( ) boa ( ) regular ( ) ruim ( ) péssima ( ) não sabe/não informou

49. Como você percebe sua saúde bucal?

( ) ótima ( ) boa ( ) regular ( ) ruim ( ) péssima ( ) não sabe/não informou

50. Comparado com outras pessoas da sua idade como você percebe sua saúde bucal?

( ) ótima ( ) boa ( ) regular ( ) ruim ( ) péssima ( ) não sabe/não informou

51. Está satisfeito com sua saúde geral?

( ) muito satisfeito ( ) satisfeito ( ) um pouco insatisfeito ( ) insatisfeito ( ) muito insatisfeito ( ) não sabe/não informou

52. Está satisfeito com sua saúde bucal?

( ) muito satisfeito ( ) satisfeito ( ) um pouco insatisfeito ( ) insatisfeito ( ) muito insatisfeito ( ) não sabe/não informou

53. Como você classificaria sua qualidade de vida?

( ) excelente ( ) muito boa ( ) boa ( )regular ( ) ruim ( ) não sabe/ não informou

54. Você acredita que a saúde bucal interfere na sua qualidade de vida

( )interfere muito ( ) interfere ( ) interfere um pouco ( ) não interfere nada ( ) não sabe/ não informou

55. O quanto de dor seus dentes e gengivas causaram nos últimos meses ?

( ) nenhuma dor ( ) pouca dor ( ) média dor ( ) muita dor

Autopercepção em saúde

77

56. Quão satisfeito você está com a aparência dos seus dentes?

( ) muito satisfeito ( ) satisfeito ( ) um pouco insatisfeito ( ) insatisfeito ( ) muito insatisfeito ( ) não sabe/não informou

Nos últimos seis meses, por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou dentadura (esta pergunta é repetida a cada

item):

57. Você teve problemas para falar alguma palavra?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

58. Você sentiu que o sabor dos alimentos tem piorado?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

59. Você sentiu dores em sua boca ou nos seus dentes?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

60. Você se sentiu incomodado ao comer algum alimento?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

61. Você ficou preocupado por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

62. Você se sentiu estressado por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

63. Sua alimentação ficou prejudicada por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

64. Você teve que parar suas refeições por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

65. Você encontrou dificuldades para relaxar por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

66. Você se sentiu envergonhado por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

67. Você ficou irritado com outras pessoas por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

68. Você teve dificuldade em realizar suas atividades diárias por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou

dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

69. Você sentiu que a vida, em geral ficou pior por causa de problemas com seus dentes, sua boca ou dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

70. Você ficou totalmente incapaz de fazer suas atividades diárias por causa de problemas com seus dentes, sua boca

ou dentadura?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

71. Compreende que a saúde bucal do seu esposo (a) interfere em sua qualidade de vida?

( ) nunca ( ) raramente ( ) às vezes ( ) repetidamente ( ) sempre

72. Já foi ao dentista alguma vez na vida? ( ) não ( ) sim

73. Qual a frequência que você costuma ir a uma consulta odontológica?

( ) mais que uma vez ao ano para exame de rotina ou tratamento

( ) em torno de uma vez ao ano para exame de rotina ou tratamento

( ) menos que uma vez ao ano para exame de rotina ou tratamento

( ) apenas para consulta de emergência

( ) nunca

Acesso a serviços de saúde

78

( ) não sabe/ não informou

74. Há quanto tempo última consulta?

( ) Nunca foi ao dentista

( ) menos de um ano

( ) de 1 a 2 anos

( ) 3 anos ou mais

75. Onde foi a última consulta?

( ) nunca foi ao dentista

( ) serviço público ( )

( ) dentista particular

( ) serviço privado (convênios)

( ) serviço filantrópico

( ) outros

76. Qual o motivo que o levou ao dentista na última consulta odontológica?

( ) nunca foi ao dentista

( ) consulta rotina/reparo/manutenção

( ) dor

( ) sangramento gengival

( ) cavidades nos dentes

( ) feridas, caroços ou manchas na boca

( ) outros

77. Nesses últimos 12 meses, você tem evitado realizar tratamento odontológico?

( ) sim

( ) não

( ) não sabe/ não informou

78. Caso tenha evitado o tratamento odontológico, por que o fez?

( ) não consegui consulta ( ) muito ocupado

( ) não tenho convênio odontológico ( ) não quero piorar minha boca

( ) não tive como pagá-lo ( ) estive muito doente para ir

( ) não tive como ir até o dentista ( ) não é importante

( ) os últimos tratamentos não resolveram ( ) muito longe para chegar no dentista

( ) o tratamento é muito doloroso ( ) outros

( ) muito medo ( ) não sabe/ não informou

79. Quanto você gastou com tratamento odontológico ou pagamento de convênio no último ano? ( )

( ) não sabe/ não informou

80. Como avalia o atendimento do último dentista que visitou?

( ) nunca foi ao dentista

( ) péssimo

( ) ruim

( )regular

( ) bom

( ) ótimo

81. Considera que necessita de atendimento atualmente? ( ) não ( ) sim

82. Recebeu informações de como evitar problemas bucais? ( ) não ( ) sim Você acha pode utilizar a informação de saúde bucal que você recebeu se você precisar 83. Eu posso pegar informações de saúde bucal de várias fontes

( ) concordo fortemente ( ) concordo ( ) nem concordo, nem discordo ( ) discordo ( ) discordo fortemente

84. Eu posso extrair informações relacionadas à saúde sempre que quero

( ) concordo fortemente ( ) concordo ( ) nem concordo, nem discordo ( ) discordo ( ) discordo fortemente

85. Eu posso entender e me comunicar para obter informações de saúde bucal

( ) concordo fortemente ( ) concordo ( ) nem concordo, nem discordo ( ) discordo ( ) discordo fortemente

86. Eu sou capaz de interpretar e julgar a credibilidade da informação em saúde bucal

79

( ) concordo fortemente ( ) concordo ( ) nem concordo, nem discordo ( ) discordo ( ) discordo fortemente

87. Eu posso fazer escolhas baseadas nas informações que eu obtive e relacioná-la com minha situação e os problemas

de saúde bucal.

( ) concordo fortemente ( ) concordo ( ) nem concordo, nem discordo ( ) discordo ( ) discordo fortemente

80

ANEXOS

ANEXO 1 – AUTORIZAÇÃO DE RE-PUBLICAÇÃO DE ARTIGO

81

ANEXO 2 – FOLHA DE SUBMISSÃO DE ARTIGO

82

ANEXO 3 – FOLHA DE ACEITE DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA