estudo preditivo do ruÍdo ambiental na cidade ...obtidos das medições de ruído e da contagem do...

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JHONATHA CORREIA VILELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO [email protected] ESTUDO PREDITIVO DO RUÍDO AMBIENTAL NA CIDADE DE CUIABÁ, MATO GROSSO, BRASIL LUCIANE CLEONICE DURANTE UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO [email protected] IVAN JÚLIO APOLÔNIO CALLEJAS UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO [email protected] ADRIANA ELÓA BENTO AMORIM UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO [email protected] KARYNA DE ANDRADE CARVALHO ROSSETI UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO [email protected] SIMONE BERIGO BUTTNER UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO [email protected] ERIKA CRISTINA TOLEDO LEÃO BORGES UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO [email protected] EMELI LALESCA APARECIDA DA GUARDA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO [email protected] 899

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Page 1: ESTUDO PREDITIVO DO RUÍDO AMBIENTAL NA CIDADE ...obtidos das medições de ruído e da contagem do tráfego estão apresentados na Tabela 1. Fig . 4 Ponto de medição 1, UFMT, estacionamento

JHONATHA CORREIA VILELA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

[email protected]

ESTUDO PREDITIVO DO RUÍDO AMBIENTAL NA CIDADE DE CUIABÁ, MATO GROSSO, BRASIL

LUCIANE CLEONICE DURANTE

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

[email protected]

IVAN JÚLIO APOLÔNIO CALLEJAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

[email protected]

ADRIANA ELÓA BENTO AMORIM

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

[email protected]

KARYNA DE ANDRADE CARVALHO ROSSETI

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

[email protected]

SIMONE BERIGO BUTTNER

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

[email protected]

ERIKA CRISTINA TOLEDO LEÃO BORGES

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE MATO GROSSO

[email protected]

EMELI LALESCA APARECIDA DA GUARDA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

[email protected]

899

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º CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO PARA O PLANEAMENTO URBANO,

REGIONAL, INTEGRADO E SUSTENTÁVEL (PLURIS 2018) Cidades e Territórios - Desenvolvimento, atratividade e novos desafios

Coimbra – Portugal, 24, 25 e 26 de outubro de 2018

ESTUDO PREDITIVO DO RUÍDO AMBIENTAL NA CIDADE DE CUIABÁ,

MATO GROSSO, BRASIL

J. C. Vilela, L. C. Durante, I. J. A. Callejas, A. E. B. Amorim, K. A. C. Rosseti, S. B.

Büttner, E. C. T. L. Borges, E. L. A. Guarda

RESUMO

O estudo tem por objetivo geral analisar o impacto decorrente da inserção de uma via de

tráfego no ambiente sonoro de área de uso misto composta por residências e instituição

educativa. Os objetivos específicos são: (i) realizar avaliação preditiva do ruído ambiental

em cenário futuro que corresponde ao sistema viário em uso e; (ii) caso constatados níveis

excessivos de ruído ambiental, propor medidas para sua mitigação. Adotou-se a

metodologia de abordagem por cenários, utilizando software especifico para gerar mapas

acústicos. Foram simuladas três situações: a primeira com tráfego de veículos atual, a

segunda com a implementação da nova via e a última com a implementação de barreiras

acústicas com a intenção de reduzir os níveis sonoros decorrentes de tal acréscimo. Os

resultados evidenciaram que houve acréscimo de 8 dB(A) nos níveis sonoros do segundo

cenário e redução de 4 dB(A) no terceiro cenário.

1 INTRODUÇÃO

Com o crescimento da população e do número de veículos nas grandes cidades, surgiu um

novo componente na vida urbana: o ruído (ZANNIN et. al., 2002). Em países emergentes

como Brasil, Índia e China, a população das grandes cidades convive com um grande

problema social e ambiental de poluição sonora (ZANNIN e SANT’ANA, 2011), que se dá

em virtude da precariedade ou mesmo inexistência de medidas públicas para controle e

gestão de emissões sonoras. A própria população afetada tem dificuldade na avaliação

deste poluente, seja por desconhecimento sobre o assunto ou por dizer-se “acostumada ao

barulho” (BUNN, 2013).

Das diversas fontes sonoras causadoras de ruído nas grandes cidades, destaca-se o tráfego

veicular. Ela decorre das características dos veículos em circulação, que apresentam

elevados níveis de emissão sonora, quer seja por falta de manutenção, alterações nos

mescapes e motores ou pelos maus hábitos de direção da população, que por acelerações e

freadas excessivas, contribuem para o aumento da poluição sonora (MACHADO, 2004)

Identificando-se a poluição sonora como responsável por diversos problemas de saúde,

tanto físicos como psicológicos, fazem-se necessários estudos visando reduzir os impactos

causados por ela na população.

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Este trabalho trata da temática do ruído ambiental urbano e sua influência em áreas

sensíveis ao ruído, que, segundo a Lei n.º 3819 (CUIABÁ, 1999) é entendida como aquela

que “para atingir seus propósitos, necessita que lhe seja assegurado um silêncio

excepcional”.

A área sensível ao ruído selecionada para o estudo consiste dos limites da área da

Universidade Federal de Mato Grosso, que além de ser um ambiente de ensino, também é

conhecida por apresentar diversos espaços que são usados para atividades de lazer e

esportivas, pela comunidade acadêmica e local, tais como o Bosque próximo à Guarita

Principal, as quadras esportivas e o futuro Centro de Treinamento, ainda em fase de

construção. Nesse contexto, tem-se, também, a área do Zoológico Universitário, que abriga

uma biodiversidade de dinâmica complexa. Tais fatores caracterizam a área selecionada

para o estudo, que engloba parte do bairro Jardim das Américas, parte da UFMT e o

zoológico, como uma área sensível ao ruído.

A abertura da nova via se deu pelas circunstâncias da cidade de Cuiabá, localizada na

região centro-oeste do Brasil, ter sido eleita uma das cidades sede na Copa de 2014,

passando por muitas obras de mobilidade urbana, sendo uma delas, a abertura de uma via

adjacente ao Campus Universitário, a Avenida Parque do Barbado. Em consequência de

sua implantação haverá alteração do ambiente sonoro do local, devido ao acréscimo do

ruído advindo do seu tráfego de veículos. Desta forma, cabe analisar se as intervenções

urbanas, decorrentes da construção dessa nova via de tráfego veicular, provocarão aumento

nos níveis de pressão sonora, afetando a qualidade sonora dos ambientes a céu aberto. Em

caso afirmativo, devem ser estudados os efeitos da intervenção urbana neste ambiente,

buscando uma forma de mitigar os impactos causados nesta área, sensível ao ruído.

Destaca-se que o ruído ambiental não foi abordado sob a ótica dos seus efeitos fisiológicos

aos animais ou à população exposta, mas sim, do ponto de vista do monitoramento do

ruído enquanto integrante do conjunto de variáveis da engenharia de tráfego e do

planejamento urbano, que se constitui de poderosa ferramenta de diagnóstico visando a

melhoria da qualidade de vida e do bem-estar da população.

1.1 Objetivo Geral

Analisar o impacto decorrente da inserção de uma via de tráfego no ambiente sonoro de

área de uso misto composta por residências e instituição educativa.

1.1.1 Objetivos específicos

Os objetivos específicos são: (i) realizar avaliação preditiva do ruído ambiental no cenário

futuro que corresponde ao sistema viário em uso e; (ii) caso constatados níveis excessivos

de ruído ambiental, propor medidas para sua mitigação.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

2.1 Local de estudo

A área selecionada para o estudo é limítrofe entre a Universidade Federal de Mato Grosso

(UFMT) e o bairro Jardim das Américas. A UFMT é considerada como área sensível ao

ruído e é classificada como Zona de Centros Regionais ou Subcentros, de acordo com a Lei

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de Uso e Ocupação do Solo de Cuiabá (CUIABA, 2011). Já o bairro Jardim das Américas

é classificada como Zona Predominantemente Residencial (ZPR) (CUIABA, 2011).

A partir do traçado definido para a Avenida Parque do Barbado, a área de estudo foi

delimitada (Figura 1), sendo suficiente para caracterizar o acréscimo nos níveis de pressão

sonora de toda a área devido a intervenção viária implantada. A Figura 2 apresenta a região

antes da implementação da avenida e a Figura 3, o local após o início das obras.

Fig. 1 Localização da área de estudo

Fonte: Adaptado de IPDU (2007) e de Google Earth (2016)

Fig. 2 Detalhe da região estudada antes da

implementação da avenida

Fonte: Google Earth (2016)

Fig. 3 Detalhe da região estudada depois da

implementação da avenida

Fonte: Google Earth (2016)

Dentro das diversas áreas sensíveis ao ruído presentes na cidade, a selecionada se destaca

por sua diversidade de ocupações, com todas necessitando de silêncio. Os limites exigidos

para áreas sensíveis ao ruído são equivalentes à Zona de Silêncio ou os estabelecidos para

as Zonas Residenciais.

Segundo a NBR 10151 (ABNT, 2000), classifica-se como “Área estritamente residencial

urbana ou de hospitais ou de escolas”, e seu nível critério de avaliação corresponde a 50

dB(A) no período diurno. Com relação a Lei n° 3819 (CUIABÁ, 1999), a área é

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classificada como residencial (ZR), com limite para o período diurno de 55 dB(A), tendo

sido adotado o primeiro critério, mais rigoroso entre ambas.

2.2. Etapas metodológicas

Adotou-se a metodologia de abordagem por cenários na qual, segundo SERRA (2006), o

objeto de pesquisa se constitui de um cenário atual e suas variáveis e cenários desejáveis

construídos visando o alcance dos objetivos da pesquisa. A abordagem constitui-se de

simulações computacionais do ruído no local de estudo, sendo que o produto da simulação

consiste de mapas acústicos e resultados de níveis de pressão sonora para determinados

receptores. Para realizar a simulação, considerando-se o tráfego de veículos como fonte

sonora, faz-se necessário a medição do mesmo nos dois sentidos da pista, e para a

calibração do modelo de simulação, nos pontos onde foram realizadas as contagens

também foram medidos os níveis sonoros presentes.

2.2.1 Coleta de dados por meio de medições

Devido à disponibilidade de um equipamento para medir os niveis sonoros e a necessidade

de realizar as medições durante o período de transito intenso, das 18 às 19 horas, foram

selecionados quatro pontos para medição dos níveis de pressão sonora e contagem do

número de veículos em circulação. Suas posições foram determinadas de forma a

caracterizar o som gerado pelo tráfego de veículos no entorno do cenário de simulação.

Como o trânsito apresentou continuidade nas pistas selecionadas, a utilização de um ponto

de medição por avenida foi considerada suficiente para a caracterização do som gerado no

entorno do cenário.

Os pontos selecionados foram: Ponto 1, locado na Avenida interna da UFMT, Ponto 2, na

Av. Parque do Barbado, Ponto 3, na Av. Brasília e Ponto 4, na Av. Jornalista Arquimedes

Pereira Lima. As Figuras 4, 5, 6 e 7 apresentam os pontos de medição 1, 2, 3 e 4,

respectivamente, bem como a indicação dos sentidos de tráfego A e B.

As medições foram realizadas com utilização do equipamento Larson Davis, modelo

LxT1, devidamente calibrado, utilizando-se o calibrador do próprio equipamento. O

medidor foi ajustado para registro do nível de pressão sonora equivalente contínuo,

ponderado em A, LAeq, modo de resposta lenta (slow).

Em conformidade com a NBR 10151 (ABNT, 2000), utilizou-se um tripé acoplado ao

medidor de forma que o microfone do mesmo fique com uma altura de 1,20 m a 1,50 m

acima do solo, respeitando também a distância mínima de 2 m entre o microfone e

qualquer superfície refletora, bem como protetor do microfone para vento.

Considerando o tráfego de veículos como sendo a principal fonte de ruído ambiental no

trecho, para esta etapa de coleta de dados, realizou-se um levantamento do fluxo e da

composição do tráfego veicular (número de veículos por tipo: veículos leves

compreendendo carros e motos, veículos pesados compreendendo ônibus e caminhões),

por meio da contagem manual para cada sentido de tráfego. Para o registro da contagem

manual utilizou-se o aplicativo Multi Counter, um aplicativo para a plataforma Android

disponível na Goggle Play Store gratuitamente. As medições, que compreendem a

contagem de tráfego veicular e as medições acústicas necessitam ocorrer nas terças,

quartas e quintas, com exeção de feriados e dias atípicos, de maneira que representem

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situações sonoras semelhantes ao dia-a-dia sem grande variabilidade quanto ao fluxo

veícular. Tais medições foram realizadas nos dias 06 de outubro e 08 de novembro de

2016, das 18 às19h, período de maior tráfego veicular no trecho e que, consequentemente,

gerou uma condição de emissão sonora elevada. Em cada um dos quatro pontos, foi

medido o ruído por 10 minutos, considerando 5 min de intervalo para deslocamento de um

ponto a outro. No Ponto 2 foi realizada somente a medição acústica, sem a contagem do

tráfego veicular tendo em vista que a avenida não estava em funcionamento. Os valores

obtidos das medições de ruído e da contagem do tráfego estão apresentados na Tabela 1.

Fig. 4 Ponto de medição 1, UFMT,

estacionamento da FAET

Fig. 5 Ponto de medição 2, Av. Parque

do Barbado

Fig. 6 Ponto de medição 3, Av. Brasília

Fig. 7 Ponto de medição 4, Av. Jornalista

Arquimedes Pereira Lima

Tabela 1 Dados obtidos nas medições

Ponto Local

Medições

Sentido A Sentido B

Leq

dB(A) Veículos

leves/

hora

Veículos

pesados/

hora

Veículos

leves/

hora

Veículos

pesados/

hora

1 UFMT – Estacionamento FAET 278 6 276 8 62,9

2 Av. Parque do Barbado - - - - 53,7

3 Av. Brasília 586 5 632 4 67,2

4 Av. Jorn. Arquimedes Pereira

Lima 876 20 1128 24 70,7

Para a Av. Parque do Barbado foram adotados os valores de tráfego veicular contados para

a Av. Brasília, justificado por ambas as avenidas serem do tipo estrutural.

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2.2.2 Simulação computacional

O software de análise e predição acústica adotado foi o SoundPLAN, versão 7.3,

desenvolvido pela empresa alemã Braunstein + Berndt GmbH, voltado para análises

ambientais, que possibilita a geração de mapas sonoros, avaliações de impacto acústico e

comparações entre cenários ambientais (BRAUNSTEIN e BERNDT, 2015).

2.2.2.1 Montagem do Modelo e Simulação

Inicialmente, realizou-se a modelagem da planta baixa do cenário em software de desenho

com plataforma CAD, o AutoCAD, pois a interface de desenho do software de simulação

acústica não apresenta todas as opções e comandos presentes no software de desenho. Em

seguida, na interface do software SoundPLAN foi importado este desenho de forma a obter

a planta baixa do cenário. Com a planta importada, iniciou-se o processo de caracterização

do cenário, onde, por meio de consulta ao Google Earth (2016), foram obtidas as

características topográficas da área e o gabarito das edificações. As características

topográficas foram inseridas, permitindo o cálculo do modelo digital do solo, DGM

(Digital Ground Model), que é um modelo da topografia do terreno observada em campo.

Com DGM criado, todas as edificações receberam suas respectivas alturas e foram

implementados os muros e barreiras presentes na área de estudo. A Figura 8 apresenta o

modelo final, em planta, da área de estudo, com receptores inseridos nos pontos onde

foram realizadas as medições.

Fig. 8 Cenário atual de simulação

Fonte: Interface do Software SOUNDPLAN

Foram atribuídas linhas de emissão de tráfego veicular correspondentes a Av. interna da

UFMT, a Av. Brasília e a Av. Jornalista Arquimedes Pereira Lima, com seus respectivos

volumes de tráfego e velocidade média dos veículos em km/h, que segundo Vianna (2014),

pode ser baseada na velocidade máxima permitida nas vias.

GINÁSIO

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Com o cenário modelado, realizou-se a simulação dos mapas acústicos, na qual o software

calculou os níveis de pressão sonora em cada ponto do cenário, resultando em mapas que

apresentam faixas com mesmo intervalo de níveis sonoros, de forma a permitir o

entendimento da propagação do som no cenário atual após a sua emissão.

2.2.2.2 Validação do modelo

De acordo com Pinto, Guedes e Leite (2004) após a simulação é necessário realizar uma

validação do modelo confrontando valores simulados com valores medidos, com a

simulação sendo aceita caso a diferença entre os valores simulados e medidos não

ultrapasse ±2 dB(A). Já Garavelli et al. (2013) admitiu para validação dos mapas acústicos,

o erro máximo de ±3 dB(A). A validação ocorre através da adição de receptores no cenário

modelado, nos pontos onde foram efetuadas as medições serão simulados os valores de Leq,

que serão comparados com os valores medidos, para determinar se o modelo pode ser

utilizado para a simulação do funcionamento da avenida implementada. A Tabela 2

apresenta os valores de Leq calculados por meio do software e os medidos in loco, para

cada um dos pontos.

Tabela 2 Valores para a validação do modelo

PONTO Leq medido [dB(A)] Leq calculado [dB(A)] Diferença [dB(A)]

1 62,9 60,1 2,8

2 53,7 49 4,7

3 67,2 66,7 0,5

4 70,7 70,2 0,5

Analisando a diferença entre as medições e a simulação, percebe-se que apenas o ponto 2

não se enquadrou no limite de ±3 dB(A) estabelecido por Garavelli et al. (2013),

justificado pela sua localização, distante de pistas ou ruas. Como o software SoundPlan

simula somente as fontes de ruído de tráfego, não considera outras fontes de ruído

ambiental existentes no local, tais como conversas, animais, equipamentos e, por isso, os

valores simulados ficaram 4,7 dB(A) abaixo dos medidos. Diante dessa constatação, a

exigência de calibração no ponto de medição 02 não foi requerida.

Os pontos 3 e 4 apresentaram uma diferença de ±0,5 dB(A), se enquadrando no limite de

±3 dB(A) e no de ±2 dB(A) indicado por Pinto, Guedes e Leite (2004). Tais resultados

indicam a relação entre os valores medidos e simulados de forma que a simulação pode ser

utilizada para previsão dos níveis de pressão sonora presentes.

2.2.2.3 Implementação da Avenida Parque do Barbado e das barreiras acústicas

Calibrado o modelo, implementou-se a Av. Parque do Barbado ao cenário. A Figura 09

apresenta o cenário de simulação com a implementação da Avenida Parque do Barbado, a

partir do qual foram simulados os mapas acústicos da nova situação de tráfego veicular.

Após a análise dos mapas acústicos gerados, foi proposta a implementação de barreiras

acústicas em pontos estratégicos do cenário, de forma a mitigar as emissões sonoras

causadas devido ao tráfego de veículos. A Figura 10 apresenta o cenário de simulação com

as barreiras propostas.

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As posições das barreiras foram definidas para proporcionar as maiores reduções nas

emissões sonoras para o interior da área residencial e estudantil. Possuem altura de 3 m,

coeficiente de absorção de 0,206 e coeficiente de reflexão de 0,794, sem definição

específica do material construtivo e espessura, sendo estas características necessárias

apenas no momento de seus projetos.

Desta forma, foi inserida uma barreira acústica no limite da Avenida Jornalista

Arquimedes Pereira Lima que se estendeu após o fim do perímetro do zoológico

amortecendo as emissões acústicas vindas de ambos os sentidos de tráfego da UFMT e nas

residências vizinhas à nova avenida. A outra barreira foi inserida na curva da nova via,

como forma de proteção das residências do bairro.

Fig. 9 Cenário de simulação com a

Avenida Parque do Barbado

Fonte: Interface do Aplicativo

SOUNDPLAN

Fig. 10 Cenário de simulação com

as barreiras acústicas propostas

Fonte: Interface do Aplicativo

SOUNDPLAN

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES

De acordo com o nível critério da NBR 10151 (ABNT, 2000), os níveis de pressão sonora

devem se menores ou iguais a 50 dB(A), sendo que, no cenário atual, os níveis de pressão

sonora medidos foram superiores ao permitido em todos os pontos, com exceção do Ponto

2, o que já demonstra poluição sonora devido ao tráfego veicular da região antes da

implementação da Av. Parque do Barbado. A Tabela 3 apresenta os valores de Leq

calculados por meio da simulação computacional, nos receptores correspondentes aos

quatro pontos de medição, para as três situações de tráfego.

Tabela 3 Valores de Leq simulados nos receptores para as três situações de tráfego

Ponto

Leq calculado (dB(A))

Cenário

atual

Cenário com a Av. Parque do

Barbado

Cenário com a Av. Parque do Barbado e

barreiras acústicas

1 60,1 60,2 60,1

2 49 66,9 67,4

3 66,7 68,2 68,2

4 70,2 70,2 58,3

GINÁSIO GINÁSIO

BARREIRAS

PROPOSTAS ZOOLÓGICO ZOOLÓGICO

Page 10: ESTUDO PREDITIVO DO RUÍDO AMBIENTAL NA CIDADE ...obtidos das medições de ruído e da contagem do tráfego estão apresentados na Tabela 1. Fig . 4 Ponto de medição 1, UFMT, estacionamento

Conforme mostra a Tabela 3, a implementação da Av. Parque do Barbado causou

acréscimo dos níveis sonoros nos receptores 1, 2 e 3, em relação ao cenário atual, sendo o

acréscimo de maior intensidade nos Pontos 2 e 3, devido à proximidade dos mesmos à

referida avenida. No Ponto 2, o acréscimo de 17,9 dB(A) deve-se ao fato de que no local

não havia fontes sonoras e, com a implementação da avenida, ocorreu acréscimo

significativo, devido ao tráfego de veículos.

Após a implementação das barreiras acústicas, no Ponto 1 os níveis de pressão sonora

igualaram-se à situação atual de tráfego veicular. No Ponto 2, o som gerado na Av. Parque

do Barbado sofreu reflexão na barreira implementada e causou acréscimo de 0,5 dB(A) em

relação ao cenário sem as barreiras acústicas. O Ponto 3 não sofreu alteração nos níveis

sonoros por se encontrar próximo das avenidas Brasília e Parque do Barbado, mas distante

da barreira, não sofrendo influência da mesma. A implementação da barreira acústica ao

longo da Av. Jornalista Arquimedes Pereira Lima mostrou redução de 11,9 dB(A) no

Ponto 4, reforçando a utilização das barreiras acústicas como mecanismo para mitigação

do ruído gerado pelo tráfego veicular.

Em termos de percepção sonora, de acordo com a Tabela 3, os níveis de pressão sonora no

cenário atual, como já excedem o nível critério, causariam média resposta da comunidade

com queixas generalizadas acerca do incômodo para o Ponto 1. Para o Ponto 2 nenhuma

resposta da comunidade é esperada. No Ponto 3, resposta enérgica da comunidade com

ação comunitária é esperada e, no Ponto 4, espera-se resposta muito enérgica da

comunidade com ação comunitária vigorosa.

Com a implementação da Av. Parque do Barbado, a resposta esperada da comunidade em

relação ao incômodo causado pelo ruído permanece a mesma do Cenário atual para todos

pontos, com exceção do Ponto 2, no qual se espera uma resposta enérgica com ação

comunitária. Considerando-se o Cenário com barreiras, a resposta esperada da comunidade

em relação ao incômodo causado pelo ruído permanece a mesma para todos pontos, com

exceção do Ponto 4, no qual se espera uma resposta media com queixas generalizadas. O

mapa acústico gerado de acordo com o tráfego veicular no cenário atual é apresentado na

Figura 11, a Figura 12 apresenta o mapa calculado para o cenário com o tráfego da

Avenida Parque do Barbado.

Comparando os mapas das Figuras 12 e 11, percebe-se que o local onde agora existe a Av.

Parque do Barbado, antes de sua implementação apresentava níveis de pressão sonora

variando de 44-48 dB(A), sendo que após a implementação da mesma os níveis foram

elevados em toda a área da UFMT, sendo sua influência percebida até no zoológico, onde a

área correspondente a 52-56 dB(A) sofreu acréscimo atingindo uma maior área do

zoológico.

Analisando a área composta por residências habitacionais, percebe-se a existência de uma

quadra residencial lateral à Avenida Parque do Barbado, tal quadra teve influência na

redução dos níveis de pressão sonora no interior do conjunto, assumindo papel de barreira acústica, sendo impactada diretamente devido ao som vindo da avenida. Contudo este

impacto auxilia na redução dos níveis de pressão sonora internos ao bairro.

Page 11: ESTUDO PREDITIVO DO RUÍDO AMBIENTAL NA CIDADE ...obtidos das medições de ruído e da contagem do tráfego estão apresentados na Tabela 1. Fig . 4 Ponto de medição 1, UFMT, estacionamento

Fig. 11 Mapa acústico do tráfego medido

Fonte: Interface do Software

SOUNDPLAN

Fig. 12 Mapa acústico com Avenida

Parque do Barbado

Fonte: Interface do Software

SOUNDPLAN

Com o intuito de minimizar os níveis sonoros no mapa, foram implementadas barreiras nos

limites das Avenidas Jornalista Arquimedes Pereira Lima e Parque do Barbado. O mapa

acústico resultante está apresentado na Figura 13.

Fig. 13 Mapa acústico após implementação das barreiras

Fonte: Interface do Software SOUNDPLAN

Comparando os mapas das Figuras 12 e 13, percebe-se que as barreiras acústicas

implementadas surtiram impacto positivo, reduzindo os níveis sonoros no Zoológico em

sua parte próxima à avenida Jornalista Arquimedes Pereira Lima de 56-60 dB(A) para 52-

56 dB(A) e em sua parte mais afastada da avenida de 68-72 dB(A) para 56-60 dB(A).

Percebe-se tal influência também, em outras áreas do mapa, como na região entre o ginásio

da UFMT e as residências, onde os níveis acústicos se enquadravam em 44-48 dB(A) na

situação atual, com a implementação da nova via estes valores subiram para 52-56 e 56-60

dB(A) e com a instalação das barreiras acústicas, ocorreu uma redução para valores entre

48-52 e 52-56 dB(A).

GINÁSIO ACEITÁVEL:

≤50dB(A)

ACIMA DOS LIMITES

NORMATIVOS

ACEITÁVEL:

≤50dB(A)

ACIMA DOS LIMITES

NORMATIVOS

GINÁSIO

GINÁSIO

BARREIRAS

PROPOSTAS

ZOOLÓGICO ZOOLÓGICO

ZOOLÓGICO

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5 CONCLUSÃO

Este trabalho teve por objetivo analisar o impacto decorrente da inserção da Av. Parque do

Barbado no ambiente sonoro de área selecionada pelo estudo, composta por residências e

instituição educativa, utilizando-se simulação computacional em três cenários: (i) atual, (ii)

com a Av. Parque do Barbado implementada e (iii) com a inserção de barreiras acústicas

nos limites das avenidas Parque do Barbado e Jornalista Arquimedes Pereira Lima.

Com o auxílio dos mapas acústicos gerados pelas simulações foi possível constatar que os

níveis sonoros na região de estudo, em sua grande maioria, sofreram influência da inserção

da Avenida Parque do Barbado, com aumento dos níveis de pressão sonora equivalente,

que já se encontravam acima dos limites normativos permitidos. Como exemplo deste

aumento, cita-se a área entre o ginásio e as residências, onde ocorreu acréscimo de 8 dB(A)

nos níveis de pressão sonora após a implementação da via, causando expectativa de pouca

resposta da comunidade, com reclamações esporádicas com relação ao incômodo causado

pelo ruído.

Esta influência foi menor nas áreas lindeiras à Av. Jornalista Arquimedes Pereira Lima

devido ao intenso tráfego de veículos que por ela circula. Apesar da situação atual já

resultar em áreas com exposição sonora maiores que o permitido por lei, a composição das

barreiras acústicas nos limites desta via garantiu que o interior do bairro Jardim das

Américas se enquadrasse nos limites permitidos de emissão sonora, mesmo após a

implementação da nova avenida.

Considerando o potencial das barreiras acústicas como forma de reduzir os níveis sonoros

decorrentes da nova avenida, os resultados foram favoráveis, permitindo afirmar que sua

adoção se constitui em uma forma de diminuir a exposição da população ao ruído. Tal

afirmação pode ser exemplificada tanto para a área residencial que se encontra próxima a

Av. Parque do Barbado quanto para a área correspondente ao Zoológico da UFMT. Sendo

na área residencial a redução devido a implementação das barreiras na ordem de 4 dB(A), e

na área correspondente ao zoológico na ordem de 12 dB(A), onde a resposta da

comunidade ao incômodo causado pelo ruído reduziu de respostas muito enérgicas com

ações comunitárias vigorosas para uma resposta média, com queixas generalizadas.

Recomenda-se como trabalhos futuros, analisar o limite de tráfego veicular presente nas

vias do cenário, para enquadramento dos níveis de pressão sonora permitidos,

considerando a maior contribuição acústica vinda dos veículos pesados tipo ônibus e

caminhões.

6 REFERÊNCIAS

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