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ESTUDO SOBRE A INTEGRACÃO SOCIAL EM UM COMPLEXO ESCOLAR EM FECIFE NO PERloDO DE 1972/73 Ivoneide Anacleto Porto

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ESTUDO SOBRE A INTEGRACÃO SOCIAL

EM UM COMPLEXO ESCOLAR EM FECIFE

NO PERloDO DE 1972/73

Ivoneide Anacleto Porto

Dissertação da Monografia sob o titulo "E.ótudo .óobJte a integJtaç.ã.o

I>oc.ial em um complexo e.óc.olaJt em Rec.ióe no peJt1.odo 197'lj73".

Ivoneide Anacleto Porto

H

A Maninha, irmã de san~e e de ideal evangélico:

- o Ontem, na pe4~pect~va do Hoje -

A Márcia, a aluna, a colaboradora, a amiga:

- o Hoje, na pe4~pect~va do Amanhi -

Aos meus netos:

- o Amanhi -

As crianças da classe baixa, enquanto houver

egoismo no mundo:

- o Semp4e -

I j

SUMARIO

- SINOPSE

- AGRADECIMENTOS

.:. INTRODUÇÃO

I - A ORIGEM DO COMPLEXO ESCOLAR

1. ANTECEDENTES

2. FONTES QUE INSPIRA~~ A SUA CRIAÇÃO

3. O PRIMEIRO ANO DA EXPERItNCIA

Páginas

3

7

9

1 9

1 9

25 29

11 - A ORGANIZACÃO DE ESTRUTURA.CÃO 32

1. ELEMENTOS DE ESTRUTURA,ÇÃO 32

2. DINÂMICA, ADr-UNISTRATIV]I_ INTERNA. 34

3. PINÂMICA ADMINISTRATIVO-ORGANIZACIONAL 40

111'- A CRISE DO COMPLEXO ESCOLAR

1. AS POSIÇÕES IDEOL6GICAS:

PAIS-ALUNADO-COMUNIDADE

2. OS MECANISMOS DO RESTABELECIMENTO PROVIS6PlJiO

DA DISCRIMINAÇÃO E A INTERDEPEND~NCIA DE SUAS

48

48

RELAÇÕES/EFEITOS. 53

3. A RESCISÃO DO CONV~NIO E EXTINÇÃO DO COMPLEXO 61

4. NOVA EXPERI~NCIA, NOVA CRISE 71

IV - O SENTIDO DA CRISE 75

1. A EQUALIZAÇÃO DE OPORTUNIDADES NO ÂMBITO DO

ESTADO

2. POSStvEIS HIP6TESES

76

85

páginas

V - CONSIDERACÕES FINAIS 96 .

.Anexo n9 1 105

.Anexo n9 2 1 07

AP1!!NDICE 1 08

BIBLIOGRAFIA 142

S I N O P S E

o presente estudo trata da reconstrução histórica de uma

experiência pedagógica realizada na cidade do Recife, no período '

72/73. Cuida de alguns aspectos da implantação da lei n9 5.692, r~

lacionados com um complexo escolar do qual participaram três esta­

belecimentos: um, da rede particular, e dois, da rede oficial de

ensino.

Para funcionamento deste complexo, foi celebrado um con­

vênio entre a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco e

uma Congregação religiosa. O contrato foi celebrado prevendo-se a

vigência de três anos com possibilidades de renovação. Entretanto,

concluído o segundo ano da experiência, o convênio foi rescindido.

A experiência que, segundo a lei preconiza, tentava uma

integração física, administrativa e pedagó0ica e que por se tratar

de clientelas escolarizáveis de classes,sociais diferentes, supôs'

também, uma integração social, foi frustrada em seu processo, des­

de que a pretendida integração social não se verificou.

Tentamos então, neste estudo, reconstruir todos os acon­

tec~entos ocorridos no complexo escolar, c.esde o seu início até

o seu término, historiar as fontes legais e religiosas que o inspi

raram, os mecanismos de discriminação ocorridos, a crise instalada

e a consequente extinção da experiência.

Fizemos uso das orientações do Estado em termos de pta-'

nos, discursos, mensagens, etc. teoricamente conectados com uma

ideologia liberal, equalizadora de oportunidades educacionais, e

como na prática ela se verifica.

Levantamos algumas hipóteses que pudessem explicar o

fracasso da experiência. Concluímos que elas não respondiam ao nos

so intento.

Por fim, tentamos através de qrna reflexão, onde, levan­

do~se em consideração interesses conflitantes entre segmentos so­

cietários e as discriminações havidas, situar através do modo pe­

los quais eles se verificaram, se o fato estaria ligado a aspectos

conjunturais ou a espectos estruturais da formação social capita­

lista.

No caso específico do complexo escolar, a nao inteqra-'

çao social foi atribuída como sendo uma decorrência dos ~e~Zduo~'

e~~amen~ai~ a~caico~, ainda vigentes na sociecade brasileira.

o processo capitalista nao teria sido ainda tão acelera

do no Brasil, particularmente no Nordeste, a ponto de eliminar

traços estamentalistas tão fortes, fronteiras tão distantes, en­

tre as classes sociais, ocasionando uma discriminação tão crua e

preconceituosa quanto a ocorrida no complexo escolar. Evocamos'

uma construção tipológica escolar, que estabelecesse conexão en­

tre os vários tipos de sociedades capitalistas e tentamos sugerir

uma possível explicação com base nessa tipologia.

Concluimos que a forma de discriminação ocorrida no com

plexo escolar é conjuntural ao desenvolvimento do processo de es­

truturação do capitalismo, onde a discriminação é necessária e

imprescindível ã própria existência de uma sociedade de classes.

°-SYNOPSTS

11 s'agit, dans cet étude, de la reconstruction histori­

que d'une experience pédagogique realizé dans la ville de Recife,

dans la période de 1972/1973 r L'étude aborde l'implantation de la

loi n9 5.692 dans un groupe d'écoles duquel participaient un

établissement privé et deux établissements scolaires oficieIs.

Pour per.mettre à se groupe d'écoles de fonctionner, a

étê fait un contrat entre le bureau du Ministere de L'Education '

de l'êtat de Pernambuco et une congrégation religiense.

La duration du contrat était prévue pour trois années

avec la possibilité d'être renouvellée. Cependant lons de la fin

de la deuxiéme année d'experience, le pacte a été annulé.

L'expérience qui, selon la loi, essayait d'accomplir une

intêgration physique, administrative e pedagogique et qui supposait

aussi une intégration sociale car les éleves parveriaient de elas

ses sociales difêrentes, a été frustrée dans son proces, puisque'

l'intégration sociale esperée n'a pas été atteinte.

Nous essayons alors dans cet étude de reconstruire les

êvénements qui ont eu lieu dans le groupe d'écoles forrné, des son

début jusqu' à la fin, et aussi de repérer les sources religian-'

ses et légales qui l'ont inspiré; les mecanismes de discrimina-"

tion qui ont existé, la crise qui a en lieu et l'extinction de

l'experience par conséguent.

Nous nous sommes servis des orientations de l'Etat dans'

ce qui s'agit de plans, discours, rnessages, etc., téoriouement

agroupês ã une idéologie libérale égalitaire pour l'accés à l'êducation et comment dans la pratique elle s'est vérificé.

Nous avons proposé quelques hypotheses qui pourraient ex

pliquer l'échec de l'experience. Nous·avons conclu cru' elles ne

repondaient pas ã notre but.

Enfin, nous avons essayé par une réflexion, tenant en

compte les inêréts conflitants entre les segments de la société '

et 1es discriminations existentes, de situer ãtravers les façons

dont i1s se sont vérifiés, si le fait oui a existé serait lié

ã des aspects de la conjoncture ou de la structure de la formation

sociale capitaliste.

Dans le cas spécifique du groupe d'écoles, le fait de

ne pas avoir existé l'intégration sociale a été analysé comme

l'effet de "survivals" de la societé archa!que encore existents '

dans la sociéte brésilienne.

Le capitalisme ne serait pas encore dans une étape si

accelerée dans le Brésil, particulierement dans le Nord-Est de

façon à él±miner des traits de la societé ancienne si forts, fron

tieres si lointaines entre les classes sociales, emportant une

discrimination si crue et pleine de préjugés comme celle qui a

éxiste dans l'ensemble ecolier. Nous evoquons une construction

typologique qui pourrait établir une conexion entre les divers ty

pes de sociétés capitalistes et nous essayons de suggérer une po~

sible explication basée dans cette typologie.

Nous avons conclu que la forme de discrimination que a

eu lieu dans l'ensemble écolier est conjoncturel au processus de

structuration du capitalisme, ou la discrimination est necessaire

et imprescriptible ã l'existence même d'une sociéte de classes.

A G R A D E C I M E N TOS

A Secretaria de Educação de Pernambuco, na pessoa do Coronel

Manoel Costa Cavalcanti, por ter-nos apresentado à Fundação Getú­

lio Vargas, a fim de sermos submetidas à seleção do Curso de Mes­

trado em Educação e tornado possível a nossa permanência no Rio

de Janeiro, durante a vigência do mesmo.

A Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Supe-'

rior (CAPES) pela bolsa que nos concedeu.

A professora Maria Julieta Costa Calazans, nossa Orientadora

de Curso.

A Sandra Maria sá Carneiro, assistente técnica do Programa '

de Estudos Conjuntos de Integração Econômica ca ~~érica Latina

(ECIEL) e Gaudêncio Frigotto, coleqa e amigo, nossa ~ratidão pelo

estimulo e auxílio que se constituíram de especial importância p~ -ra nos.

A todos quantos, através de cessa0 de documentos, acesso a

registros e arquivos e, sobretudo,. entrevistas, tornaram possível

a reconstrução histórica dessa experiência.

A Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) e

ã Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) que, nos liberando

das funções que exercemos em ambas as Instituições, oportunizaram

a conclusão deste trabalho, dentro do prazo fixado pela Fundação'

Getúlio Vargas.

por fim, agradecemos de modo muito especial ao nosso Orient~

dor de Dissertação, Professor Luiz Antônio Cunha, que desde o pri

meiro instante nos incentivou à exploração do tema desta Monogra­

fia e durante a sua elaboração nos ensinou, sobretudo, a discipli

na, a objetividade e o rigor metodológico que todo trabalho cien-

tlfico requer.

·A nós cabe assumir os erros que porventura permaneçam neste

trabalho.

Rio de Janeiro, março de 1978.

Ivoneide Anac1eto Porto

I N T R O D U ç Ã O

~ objetivo deste trabalho fazer a reconstrução históri­

ca de urna experiência pedagógica e os fatos que interferiram em

sua dinâmica.

A luz dos acontecimentos ocorridos, averiguaremos em

que medida o conjunto de fatores que intervieram no término de

experiência resultou de aspectos conjunturais ou da estrutura mes

ma de uma sociedade de classes.

Há vários atores nessa história, e a narrativa vai con­

tar também as práticas desses atores (o que eles representaram e

o que eles fizeram) e o jogo recíproco dessas práticas. Há atores

que se destacaram; e não só as suas práticas serão analisadas, co

mo nos empenharemos em relacioná-las com outras práticas de ordem

ideológica, cultural, política, econômica e reli~iosa.

A história tem início a partir da composição de um com­

plexo escolar, organizado, além de outros, na cidade do Recife.

Aqui todos os nomes, desde o do próprio complexo ao dos estabele­

cimentos que dele fizeram parte, assim corno os personaaens da hi~

tória, assumirão denominações fictícias com o objetivo de resguaE

dar sua identidade, de resto, desnecessária para a discussão do

problema em pauta.

A história que nos propomos reconstruir tem início a

partir da composição mesma, do complexo, alvo deste estudo. Dos ~

demais em organização, faziam parte grupos escolares da rede es­

tadual. Este surgiu de um convênio celebrado entre a Conqregação'

Maria Imaculada, representada pelo Colégio Santa Lina, confessio­

nal católico, e a Secretaria de Educação do Estado de Pernambuco,

representada por um grupo escolar, o Wanderley de Castro e um co­

légio, o Cunha Pessoa. Isto significa dizer, entre a rede pública

10 e a rede privada de ensino.

A lei 5.692/71, sancionada em agosto, reza, em um de

seus artigos, que deveria ser elaborado "pe.f.o.6 oJtgao.6 pJtõpJt-tO.6 do

!te.6peet-tvo .6-t.6tema de en.6-tno", um planejamento prévio, no prazo f

de noventa dias, e um segundo, dentro de duzentos e setenta dias,

a partir da vigência da lei.

Progressivamente, a reforma do ensino deveria ser im-

plantada.-

A lei n9 5.692 oferece, com base na "eoneentJtaç.ão" já

adotada na reforma universitária, três sugestões contidas no art.

39, alíneas "a", "b" e"e" sem prejuízo de outras que venham a

ser adotadas.

a) "Jteun-tão de pequeno.6 e.6tabe.f.ee-tmento.6 em un-tdad e.6 rn a-t.6 am p.f. a.6 " ;

b) "a -tnteJteomp.f.ementaJt-tdade do.6 e.6tabe.f.eei-' mento.6, mediante o empJtego da eapaeidade ' oe-to.6a de un.6 paJta .6upJtiJt de6-tei~neia.6 de outJtO.6":

c) "oJtgan-tzaç.ão de eentJto.6 -tnteJt-e.6eo.f.aJte.6 pa !ta Jteun-tJt .6eJtviç.o.6 e di.óeip.f.ina.6 ou ãJtea.6' de e.6tudo.6 eomun.6 a vãJtio.6 e.6tabelee-tmen-' tO.6" •

A alínea "a" nada mais é que a adoção, tanto no 19 qua!!

to no 29 graus, da idéia das "e.6eo.f.a.6 Jteunida.6".

A alínea "b" diz respeito i cooperaçao. Pretende a reu­

nião de estabelecimentos de ensino e demais instituições sócio- f

cultural, de tal maneira que cada uma se beneficia mutuamente das

possibilidades dos que lhe são próximos. são chamados "eomp.f.exo.6'

e.6 eo.f.aJte.6" .

Os centros "inter-escolares", referidos na alínea "e" ,

são aqueles que reunem serviços ou estudos comuns a vários estabe

1 1

lecimentos.

Por circunstâncias especiais, o qrupo escolar integr~n

te do complexo passou a funcionar nas instalações do colé~io ca

rede particular e isso levaria a supor que deveria haver necess~

riarnente, uma integração social das clientelas, cesde que elas

se compunham de classes sociais diferentes.

Entende-se, neste estudo, por integrar socialmente, o

processo de compatibilização de valores e normas sociais das

classes econômica e socialmente diferenciadas. O fenômeno ca in

tegração social traduzir-se-ia por urna coalisão, que vai além de

urna mera adição,de um mero acoplamento de uma, a outra parte.

Numa perspectiva dialética, isto nao ocorreria entre'

as classes sociais que fizeram parte desta experiência, visto'

que, o equilíbrio desejado, implicaria no escamoteamento das

crises que lá ocorreram, fruto de conflitos inerentes às contra­

dições dos valores e das normas sociais próprias à formação cap!

talista.

A experiência que narraremos teve inicio de 1972. Esta

experiência contou com a nossa "participação direta" desde os

seus primeiros passos em termos de viabilizá-la, seu planeja~en­

to, seu processo e concluiu com a sua extinção.

Por força das circunstâncias, integramo-nos socialmen­

te na instituição observada e, de dentro, foi difícil deixar es­

capar informações essenciais e compreender os atores e seus com­

portamentos. Constituiu-se também ponto importante, evitar qual­

quer relação de informações ou registrar, tanto quanto possível,

tudo que pudesse sê-lo, com vistas a apreender a totalidade da

situação. Daí, não se ter constituído preocupação nossa adquirir

12 um "c.onhec..imento J.,obJLe o JLeal~:, mas, familiarizar-nos com a si-

tuação tal qual era definida pelos próprios atores.

o nosso estudo teve a intenção de "exploJLaJL" e tentar

descobrir problemáticas novas, renovar perspectivas existentes,

preparando caminho para novas pesquisas.

Para a sua reconstrução histórica recorremos a técn'i­

cas de coleta de dados variadas: observações, entrevistas,l do­

cumentos.

Por se tratar de um estudo de caso, levantamos hipót~

ses, su~erimos conjecturas, refutamo-las e ilustramos uma tipo­

logia sem gerar nenhuma teoria.

o estudo de caso de que nos ocupamos, anoiou-se em hi

péteses (que não estão explicitadas no trabalho) e conceitos.

Foi orientado por um., esquema teórico que serviu de referencial'

diretor na coleta de dados. Procuramos evitar o erro do "c.onc.lte

to mal c.oloc.ado,,2 para melhor assegurar a pertinência e a inter

pretação dos dados reunidos.

Por isso mesmo, nosso estudo tem um caráter particul~

rizante. O seu poder de generalização é l~itado, na medida em

que, a validade de suas conclusões permanece continqente. Em

outros casos, mesmo semelhantes, elas podem deixar de ser corre

tas, caso fontes de diferenças, distintas das contidas aqui, es

capem, à análise.

Apesar disso, esse ~ênero de estudo visa a ultrapassar

o particular e autoriza certas generalizações empíricas, basea-

1 As entrevistas foram todas elas ~ravadas e se encontram em

nosso poder.

2 B'RUYN~,Paul. HEPMl\N, ... Tacques. Ep. Al11. ninâJTlica da ~es\Iuisa em Ciencia~ Sociais. Llvrarié1 Prancisco l' 1 V(!S, Editora 5/,.,. 'Rio de ,Janeiro, 1947, fi. 227

1 3

das numa ti -induç.â:o am pl-i6-ic.adolta" que se "e.6 601tç.a pOIt penetltalt na

Itede c.omplexa do.6 6ato.6, do.6 6enômeno.6 •.• , c.on.6t-itu-i objeto.6 de

pen.6a.mento pOIt anãl-i.6e.6 e pOIt ab.6tltaç.â:o e dele.6 deduz -impl-ic.a- I

ç.õe.6 t1•1

De qualquer modo, a generalização de um caso especifi­

co, para todos os outros possiveis, permanece sujeito ao princi­

pio de "val-idade tltan.6-itôlL-ia até nova.6 -in6oltmaç.õe.6".2

o nosso estudo, nao está baseado numa teoria referida'

a um objeto de conhecimento que dela provenha diretamente, ten-'

dendo a testar a validade empirica de um sistema de hipóteses m~

todologicamente estabelecidas com vistas a serem testadas exper!

mentalmente. Neste caso, o quadro referencial teórico é profund~

mente mais exigente, os niveis de análise mais definidos, os cog

ceitos gerais e construção de variáveis susceptiveis de observa­

ções ainda mais rigorosas.

o nosso estudo de caso, nao necessitou de uma separa-'

çao rigorosa entre o acidental e o essencial do caso analisado e

a descoberta dos fenômenos únicos, prevaleceu sobre os fenômenos

tipicos.

o complexo escolar já teve inicio sob a pressao da'

clientela do coléqio Santa Lina da rede privada de ensino, aue

era frequentado por alunas, em sua grande maioria, descendentes'

das familias oriundas de uma região desde os seus primórdios e2

durante longo tempo "dom-inada pelo .6-i.6tema agltãltio - patltialtc.al pOIt uma aglt-ic.ultulta monoc.ultulta devotada ~ plantaç.ão de c.ana de

aç.úc.alt, em -imen.6a.6 pltoplt-iedade.6 em mão.6 de pequeno nÚme.lto de la­ti6undiãlt-io.6" ••• "e .6ubmet-ido a um ún-ic.o tipo de oltgan-izaç.ão .60-c.lal - o 6eudal ou qua.6e 6eudal".3

il: op. P. 227

2 Op. p. 227

3 FREYRE, Gilberto. Interpretação do Brasil. Livraria José 01im po Editora, Rio de Janeiro, 1947, pp. 181, 182 e 202.

14

Tanto é assim que, antes mesmo de terem início as au-'

las, no 19 ano do convênio estabelecido com o Estado, a secreta­

ria do colégio particular registrava urna evasão de 40% do seu'

alunado. r-1as o 19 ano decorreu sem maiores problemas. Os que sur

giam eram suavemente contornados. No 29 ano da experiência, as

dificuldades se agravaram. As posições ideoló~icas das freiras,

dos pais dos alunos do colégio particular, do próprio alunado e

a pressão sobre a Congregação das ex-alunas se radicalizararn a

tal ponto que, permitiram a vivência de acontecimentos discrimi­

natórios tão primários quanto os que foram narrados no corpo da

Dissertação.

Diante desse quadro, apresentamos o discurso do Estado

em termos da equalização de oportunidades educacionais contido '

em documentos oficiais e para-ofiCiais. Quizernos evidenciar a

discrepância entre o que dita a lei e sua aplicação prática na

vida escolar. A incoerência interna, entre a teoria e a prática.

Entre a "no~ma p~e~c~ita e a conduta ~eal".

Procuramos levantar a10umas possíveis explicações co-'

lhidas nas entrevistas realizadas.

Nenhuma delas nos satisfez. Buscamos então respaldo em

urna tipologia apresentada no livro "Educaç.ã.o e de~envolvimento ' Aoci.al do B~a~il" do Prof. Luiz Antônio Cunha, onde ele caracte­

riza três tipos de conexão entre a prática escolar e a ideologia

vigente a respeito da função social da escola.

O TIPO I, prevalecente desde o início das sociedades '

capitalistas até o seu amadurecimento no século XIX, quando as

escolas existentes beneficiavam só as elites e excluiam os fi­

lhos das famílias oriundas da classe baixa. Apenas al~umas esco­

las confessionais e a título de "ca~idade" recebiam os órfãos e

abandonados.

O TIPO 11, correspondente aquele sistema escolar onde'

a classe trabalhadora é escolarizada em "lLamo~" distintos e rece

be formação profissional, enquanto os estudantes oriundos das

1 5

classes dominantes sao preparados para a Universidade através de'

uma educação geral.

o TIPO 111, congruente com a ideologia liberal, estabe­

lece a função da educação escolar corno sendo reclassificadora dos

destinatários, independente das classes sociais de ori~em.

Este é o que é preconizado pelo sistema educacional br~

sileiro se~undo o seu discurso oficial e no qual o complexo esco­

lar estaria incluído.

Entretanto, todo sistema educacional em qualquer socie­

dade capitalista, incluindo o sistema educacional brasileiro - p~

la sua própria incoerência interna, corroborado pelo ~ue dita a

teoria e o que é verificado na prática - é discriminador por exc~

lência, embora possa divergir na forma em aue se realiza a discri

minação, além de dissimulador dessa discriminação.

Tal corno nas sociedades estamentais que se caracterizam

por camadas societárias cujo sistema de dominação é fundamental ;

cuja estruturação é feita através de privilécrios traduzidos pela'

propriedade territorial, desempenho de cargos públicos; chegando'

mesmo a imprimir um certo "tipo de homem"; por um pronunciado

her,metismo, mas um hermetisrno sin~ular desde que através rte mobi­

lizações de ascensão social, passam a alar9ar suas fronteiras sem

contudo descaracterizá-lo, ocorreu-nos estudar este tipo de orga­

nização, assim corno os processos de industrialização ainda incipi

entes sobretudo em algumas regiões brasileiras, a ponto de nao

chegarem a modificar a organização social tradicional. Entre es­

ses processos encontramos o das elites dinásticas, paternalistas'

e que legitimam a sua posição na base da predestinação ou da voca

ção para a liderança industrial.

Os seus membros originam-se da aristocracia rural e o

seu sistema repousa sobre a tradição quando não sobre a força e a

dominação.

1 6

Estudos de outros autores, como Gilrerto Freyre e Ma-'

noel Correia de Andrade, onde claras perspectivas da história do

Brasil, sobretudo do Nordeste e essenciais problemas sócio-econô

micos sao abordados desde os seus primórdios, autorizou-nos che­

gar a uma primeira caracterização da causa da não integração so­

cial no Complexo Escolar Manoel Leonardo, levando-nos a atribuir

a "4e~2duo~ e~tamentai~ a4eaiea~" ainda persistentes na socieda­

de brasileira, sobretudo no Nordeste e especificamente em Pernam

buco.

Por outro lado, a tipologia apresentada pelo Prof.Luiz

Antônio Cunha que tenta confiqurar a dupla função do sistema es­

colar na sociedade capitalista como discriminadora e dissimulado

ra dessa discriminação, o discurso oficial sobre a equalização e

o histórico dos acontecimentos discriminatórios vivenciadosno

Complexo Escolar, levou-nos a uma seaunda caracterização: a edu­

caça0 no Brasil, apesar de concebida dentro do TIPO 111, isto é,

congruente com a ideologia liberal, propirianào universalidade '

de oportunidades educacionais, gratuidade e obri0atoriedade, em

termos de 19 grau, na realidade não se verifica.

o Complexo Escolar Manoel Leonardo, inserido no Norde~

te nao fugiu à uma organização escolar objetiva do TIPO lI, mais

condizente com um modo de formação capitalista que não atingiu '

um estágio mais avançado de desenvolvimento. Daí, o tipo, a ma-'

neira de discriminação havidos. Menos dissimulado, porque menos'

sutil. Menos dissimulado, porque não se deu através do desempe-'

nho, como em outras sociedades capitalistas mais desenvolvidas.

Deu-se através de uma discriminação crua, grosseira, primitiva.

Iniciamos a nossa Dissertação historiando a sua ori-'

gem: a fonte legal, isto é, a lei n9 5.692 que entre outras solu

çoes o recomendava no Art. 39 alínea "b", além dos documentos do

Concilio Vaticano IÍ e da 11 Conferência Geral do Episcopado La­

tino-Americano em Medellin, no que concerne à visão de homem e

de Educação, os quais se constituíram a inspiração da Con~rega-'

ção religiosa, a ponto de propor ao Estado através da Secretaria

17

de Educação a formação do complexo.

Em se~uida, estudamos o convênio, o seu Termo ~.ditivo '

assinado em 1973, e a dinâmica administrativa interna do complexo,

quer em termos da inte~ração administrativa entre os três estabe­

lecimentos que o compuzeram, quer em termos da dinâmica adroinis-'

trativo-organizacional ca Secretaria de Educação constatando seu'

peso institucional e aspectos organizacionais incluir.co gerência,

como fatores causais interdependentes juntos éom-os de classe so­

cial.

No capítulo 111, enfocamos a crise do complexo: os mee~

nismos de discriminação utilizados pelas religiosas, muitos deles

pressionados pelas famílias dos alunos, ex-alunas e pelo próprio'

corpo discente do colégio particular, contra os alunos do Estado,

pertencentes na sua maioria à classe baixa da Sociedade local.

Narramos também de maneira breve uma outra experiência que está '

sendo vivenciada presentemente no Recife, com idênticas caracte-'

rlsticas.

No capítulo IV, focalizamos as orientações do Estado

através de discursos, mensagens, declarações, textos oficiais, en

trevistas e o que propÕe o Grupo de Trabalho que apresentou o An­

te-Projeto, que tornado lei, tomou o n9 5.692.

As razoes que nos levaram a fazer este estudo e nao ou­

tro, foram: os valores das Irmãs, dos técnicos da Secretaria de '

Educação, o comportamento dos pais dos alunos e das ex-alunas do'

colégio particular, assim como os pronunciamentos do Estado, que'

enfatizavam a necessidade de a escola funcionar como mecanismo de

integração social. Mas nessa experiência não foi possível integrar

classes sociais diferentes. Por que isso?

Deveu-se a características específicas da experiência ,

o fracasso da integração social no Complexo Manoel Leonardo? Ou'

a integração social em nossa sociedade, encontra limites mais pr~

fundos em sua própria estrutura, capazes de determinar a frustra- I I

1 8

çao de experiências novas e esperançosas como essa? Em que medida

se combinaram os determinantes estruturais e os específicos da

experiência?

Respostas como essas sao da maior importância para todos

quantos, responsáveis pela educação escolar em nosso país, qual-'

quer que seja a instância, interessam-se em fazer a escola desem­

penhar a função de reconstrução social, na direção da democracia,

como defenderam, no Brasil, Anisio Teixeira e tantos outros. edu­

cadores.

C A P ! T U L O I

A ORIGEM DO COMPLEXO ESCOLAR

O objetivo deste capItulo é fazer a reconstrução histó­

rica da origem do Como1exo Escolar: as circunstâncias e as fontes

que inspiraram o seu surgimento, as unidades escolares que o com­

puseram, a origem social da clientela e algumas ocorrências havi­

das no 19 ano de experiência.

1. ANTECEDENTES

A experiência do Complexo Escolar ocorreu em 1972, após

a promulgação pelo Presidente da República, a 11 de agosto de

1971, da lei n9 5.692 de Diretrizes e Bases do Ensino de 19 e 29

graus.

O empenho do Governo Federal nesta lei, que reformu1a-'

ria o ensino primário e médio no Brasil, foi de tal maneira inten

so, que, antes mesmo de o Ante-Projeto dar entrada no Congresso '

Nacional, a fim de ser discutido, já noventa e dois educadores de

todo o Brasil estudavam, na Universidade de Brasília, um por um

os seus artigos, apresentavam sugestões de emendas e eram conc1a­

mados a ser, nos seus respectivos Estados, os seus primeiros divu1

gadores.

Conc1uIdo o Curso e dé volta aos seus Estados de origem,

multiplicavam-se, aos seus participantes, as solicitações das pró

prias Secretarias de Educação, Congregações Religiosas, Diretores

de Colégios, pais de alunos, etc. que ansiosos desejavam, uns, co

nhecer as aberturas que a nova lei prodigalizava, outros, as pos­

sibilidades de a implantarem.

A Congregação Maria Imaculada solicitou a um dos mem- ,

bros que havia participado daquele grupo de Brasília, que se reu­

nisse com a Direção da Congregação. O objetivo do encontro foi

não só tomar conhecimento do que rezava a lei n9 5.692, mas soli-

20

citar, fundamentalmente, sugestões quanto às possibilidades e ma­

neira de transformar o Colégio Santa Linal de sua propriedade, a­

tualizando-o e fazendo-o ingressar numa renovaçao há muito recla­

mad'a pela própria Congregação.

Partindo do interesse do Colégio, foram alinhadas as

alternativas ditadas pelo Art. 39 da lei n9 5.692 e entre elas a

da allnea "b", propiciar:

"entJtO.6agem e inteltc.omplementaJtidade do.6 e.6ta belec.imento.6 de en.6ino entJte .6i ou c.om outJta~ in.6titui~õe.6 .6oc.iai.6 a nim de apJtoveitaJt a c.a pac.idade oc.io.6a de un.6 paJta .6upJtiJt de6ic.iê-n-""" eia.6 d e o utJto .6 " .

além da sugestão contida no Relatório do Grupo de Trabalho que a­

presentou o Ante-Projeto da lei, adotar:

"plena utiliza~ão do.6 Jtec.uJt.6O.6 mateJtiai.6 e hu

mano.6 .6em duplic.a~õe.6 de meio.6 paJta 6in.6 idê-n

tic.o.6 ou equivalente.6"

dispostos no Art. 29, e a viabilidade de solução de integração f!

sica, suportada administrativamente pela organização pedagógica ,

pelo planejamento articulado, e por um comportamento cooperativo'

das partes e das sub-partes de um todo.

Era o que vinha sendo planejado nos vários Estados do

Nordeste, inclusive em Pernambuco. Só que, nos Estados, dos com

plexos escolares faziam parte Grupos Escolares ou Colé~ios da re­

de pública de ensino.

A área em que se localiza o Colégio Santa Lina é cober­

ta por educandários das redes oficial e particular de ensino e de

I O Colégio Santa Lina é o mais antigo de Recife, frequentado pe las filhas, senão das familias mais ricas da cidade, pelo me-I

nos pelas filhas das familias mais tradicionais do Estado. Lá estudaram bisavós, avós, mães, filhas, herdeiras, na sua gran­de maioria, de uma tradição cultural ligada ao latifúndio cana vieiro.

21

mais instituições educacionais, culturais, esportivas, etc., - re

quesitos essenciais à formação de complexos escolares em função '

de uma de suas peculiaridades - proximidade geográfica, para aten

der à exigência de integração física e a possibilidade de cumpri­

mento da intercomplementaridade requerida. A integração adminis-'

trativa dependeria de outros fatores.

A idéia ocorrida foi suqerir támbém a criação de um com

plexo escolar, formado então por outros colégios particulares,

confessionais ou não.

Aceita a sugestão, foi delegado poder pela Congregação'

à técnica educacional que com ela vinha mantendo entendimentos

para estabelecer contato com um Colégio da mesma confissão reli-'

giosa e estudar as condições que conduzissem à concretização des­

te objetivo. As "demarches" foram levadas a efeito e várias reu-'

niões aconteceram sem, no entanto, as conversações irem além da'

área puramente administrativa do futuro complexo. As amarras dos

esquemas individuaisl impediam o avanço dos entendimentos em ter

mos técnico-pedagógicos.

~

Os religiosos pediram prazo a fim de consultarem a cup~

la de sua Congregação e a resposta obtida alguns dias após foi de

que não lhes interessava a formação do complexo escolar.

Dado o conhecimento com um dos auxiliares imediatos do

responsável pela Secretaria de Educação, ocorreu agora, à técnica

educacional, propor-lhes em nome da Congregação e autorizada por

ela, a idéia da união em um complexo escolar do Colégio Santa Li­

na com um ou mais colégios da rede oficial de ensino. A proposta'

foi levada ao Secretário de Educação que, de pronto, a aceitou.

Os entendimentos logo tiveram início e progrediram até o ponto da

celebração de um Convênio cujos termos foram longamente discuti-'

1 Com isto quer-se dizer que os entendimentos giraram todos em torno do nome do complexo, de fixação de sua sede, de qual dos estabelecimentos seria o Diretor Geral, etc. Problemas tipic~ mente irrelevantes.

.22

dos por ambas as partes e assinado quando já se havia procedido '

áo treinamento do professorado e iniciadas as aulas.

No momento em que era efetuado o levantamento dos dados,

para a presente Dissertação, encontrava-se em Recife, em visita '

às suas casas no Brasil, a Provincial da Congregação Maria Imacu­

lada ao tempo da experiência, e hoje em missão da Ordem, na Euro­

pa. Procurada a fim de prestar seu depoimento· quanto às razões

que a levaram a aceitar a sugestão da composição de um complexo '

escolar , contando com unidades de ensino do Estado, assim se ex­

pressou:

"Nã.o e..6tou c.om a. me.môJt..i.a. be.m óJte..6c.a., ma..6 tudo' aqu..i.lo 60..i. ma.teJt..i.a. de. no.6.6a. c.on.6..i.de.Jtação. Te.n-' tando da.Jt uma. Jte..6pO.6ta., a..6.6..i.m um pouc.o de. .6úb..i.­to, e.u d..i.go que. nô.6 e.duc.a.doJta.6 anda.mo.6 ã bu.6c.a.' de. novo.6 c.a.m..i.nho.6, e. a. e.xpe.Jt..i.ênc...i.a. de. um c.om­ple.xo daque.le. t..i.po me. paJte.c.e.u mu..i.to pO.6Lt..i.va. no .6e.nt..i.do de. 60Jtne.c.e.Jt e.le.me.nto.6 de. Jte.a..e...i.dade. e. de. pe.Jt.6pe.c.t..i.va pa.Jta. uma nova. v..i.vênc...i.a. e.duc.ac...i.ona.e.. Somo.6 e.duc.adoJta.6, que.Jte.mo.6 a.ndaJt pOJt c.am..i.nho.6 ' novo.6 e. aque..e.e. me. paJte.c.e.u um c.am..i.nho Jte.a.e.m e.nte. , de. pJtome.6.6a. paJta um óutuJto me..e.hoJt, no no.6.6O c.am po e.duc.a.c...i.o na..e. ': 1

Indagada quanto à celebração de um convênio com o

Estado, respondeu que lhe pareceu interessante entrar em contato'

com "pessoas simples". Sabe-se, acrescentou, que os colégios do

Estado são frequentados por todas as classes sociais com muita

rtl..i.'be.Jtdade." e que os colégios particulares, para manutenção dos '

seus serviços, têm necessidade de exigir pagamento.

"Educ.a.m e.ntã.o, e.m C.e.fLto .6e.nt..i.do uma. c.e.Jtta. "c..e.a.6

.6 e", " um a c. e.fLta e..e...i.t e. "

apesar das gratuidades e dos abatimentos feitos a pessoas que nao

têm condições de pagamento integral do Colégio.

1 Esta entrevista foi realizada em maio de 1976.

"Aquela opo~tunldade, de 6ato, apa~ecla pa~a' nõ~ como uma opo~tunldade multo 6ellz de 6a-' ze~ o que ~e chama hoje a democ~atlzação do en~ino: junta~ ~lco~ e pob~e~ na~ me~rna~ ~a­la~ de aula".

Disse que, como nao possuiam as mesmas condições de man

ter escolas como faz o Estado que não recebe contribuição finan-'

ceira dos alunos, mas dispÕe de outros recursos que lhe dá essa '

possibilidade, entendeu que o complexo, através do convênio, se­

ria uma solução de contribuir para aquela democratização, como

elemento de prospectiva muito oportuna.

As madres "C" e "p" foram lançadas as mesmas indagações

quanto às razoes que as induziram à celebração do convênio com

o Estado.

Fala a Madre "C":

"Acho que 601 urna ld~la que ~u~glu de uma ~~­~ie de ~e6lexõe~ que nõ~ vlnhamo~ 6azendo, de ~ejando ab~~ no~~o Col~glo pa~a urna gama ,­malo~ de cla~~e~ ~ociai~. Nõ~ ~entlarno~ que educãvarno~ urna cla~~e de nlvel rn~dlo e alto e de~eja~larno~ 6aze~ a~~im ... urna democ~atlza-' ção, uma ~oclalização no Col~gio".

Aludiu a uma experiência já realizada com êxito em uma

cidade do interior, onde trabalhara, e onde todas as classes so­

ciais participavam da vida do colégio.

Falou também de vários encontros, inclusive Encontros '

Inter-Provinciais, onde estudaram os Documentos do Concllio Vati­

cano 11 e da 11 Conferência Geral do Episcopado Latino Americano'

em Medellin, a nlvel até das três provlncias do Brasil: Norte,No~

deste e Sul, e também de outras reflexões realizadas dentro da

própria Provlncia do Nordeste, desde que continuamente estavam re

fletindo e porque, na ocasião, havia um Grupo de Trabalho que pr~

parava um roteiro para as Constituições da Congregação.

24 A partir desses estudos, é que se firmaram na idéia de

abrir suas escolas segundo as diretrizes daqueles Conclaves.

A este depoimento da Madre "C", a Madre "P", acrescen-'

teu a realização, em julho do ano de 1971, de uma ".6e.mana pe.dagÉ..

gica" , .:'_onde cada colégio pertencente à Congregação Maria Imacul~

da estudara a sua situação e sugerira meios para uma transforma­

çao.

A equipe do Colégio Santa Lina, percebeu que dispunha'

de bastante espaço ocioso mediante um número muito reduzido de '

alunos. Além disso, foi feita uma série de constatações sobre a

origem, o meio social de sua clientela e de dificuldades encon-'

tradas em sua educação, hoje. Daí, haverem optado por uma abert~

ra dos espaços existentes no Colégio, no sentido de receber ali

alunos da classe baixa. l

"E.6.6a ooi a idê...i..a gelLme.n, quando che.gou a ' .6uge..6tão da 60JUnaç.ão de. um comple.xo c.om e..6-cola.6 do E.6tado e. que. de.u oo~ç.a pa~a que. no.6 .60.6 de..6e.jo.6 6o.6.6e.m adiante. e. na ~e.alidade. ,­.6e conc.~e.tiza.6.6e.m".

o Complexo Escolar chamou-se Manoel Leonardo e de sua'

composição faziam parte o Colégio Santa Lina, o Grupo Escolar

Wanderley de Castro e o Colégio Cunha Pessoa.

o Grupo Escolar Wanderley de Castro, um dos melhores ,

em termos de qualidade de ensino, da capital, apresentava insta­

lações físicas insuficientes para acomodar toda sua clientela ,

além de estado precário de estabilidade estrutural. Em virtude'

de o Colégio Santa Lina dispor de um elevado número de salas

ociosas, o Grupo Escolar foi transferido para as suas acomodações

e, em termos de funcionamento administrativo e or~anizacional, o

1 No âmbito deste "estudo, usaremos os termos: classe alta, mé dia e baixa. De classe alta fazem parte: grandes comercian-T

tes, industriais, usineiros, altos funcionários públicos, , administradores de empresa. De classe média: pequenos comer­ciantes, pequenos funcionários públicos, profissionais libe­rais. De classe baixa: trabalhador manual, prestadores de serviços domésticos, biscateiros. Em qualquer dos casos, ou tros do mesmo nível de renda, poder, prestigio social.

2S mesmo passou a ter relativa autonomia.

Enquanto se estabeleciam os entendimentos entre elemen

tos da Congregação Maria Imaculada e o Secretário de Educação do

Estado, pais dos alunos do Colégio Santa Lina eram convidados p~

ra reuniões, a fim de tornarem conhecimento das novas diretrizes'

assumidas pela Congregação Maria Imaculada, com relação ao colé­

gio de seus filhos.

2. FONTES QUE INSPIRARAM A SUA CRIAÇÃO

Foi no contexto acima que a técnica educacional tornou'

conhecimento de estudos realizados pela Congregação (Província '

do Nordeste), sobre os Documentos do Concílio Vaticano 11 e da '

11 Conferência Geral do Episcopado Latino Americano em Medellin,

que se compatibilizavam com as posições do Arcebispo de Olinda '

e Recife, e com os quais a Congregação estava empenhada em orien

tar as suas atividades, no tocante à educação.

O Documento de Medellin exorta os institutos educacio­

nais à sua "/t e.novação e. atuaLização" na linha proposta pelo Con­

cílio e pela Conferência.

Na reflexão sobre o ".6 e.ntido humani.6.ta e. c./ti.6tão da' e.duc.ação", o Documento da Conferência propoe uma visão de educa­

ção, condizente com o desenvolvimento integral da pessoa e a ch~

ma de "e.duc.ação libe./ttado/ta", isto é, aquela que encara o educan

do corno sujeito de seu próprio desenvolvimento e o "me.io-c.have.'" capaz de libertar os povos de toda e qualquer servidão, fazendo­

os ascender de "c.ondiçõe..6 de. vida me.no.6 humana.6 pa/ta c.ondiçõe..6 ' d e. v ida mai.6 humana.6", desde que o homem é o responsável e o "a/t tI6ic.e. p/tinc.ipal de. .6e.u ~xito e. de. .6e.u p/toc.e..6.60".

Afirma que:

"do ponto de. vi.6ta l:loc.ial, 0.6 .6i.6tema.6 e.­duc.ac.ionai.6 e..6tão oltie.ntado.6 pa/ta a manu­te.nção da.6 e..6.tJtutulta.6 .6oc.iai.6 e. e.c.onômi-'

ea~ impe~ante~, mai~ do que pa~a ~ua t~an~6o~mação".

26

Chama a atenção para um tipo único de educação quando'

a comunidade latino-americana já se deu conta do pluralismo huma

nOrípara o seu passivismo, quando já chegou a hora de cada povo'

descobrir seu próprio ser, único e original; "está marcada por

uma economia que leva a pessoa a querer "ter" cada vez mais,qua!!.

do a juventude latino-americana exige "ser mais", dona de sua

auto-realização, pelo serviço e no amor.

Acentua ainda o mesmo Documento que

"a ob~a educado~a da Ig~eja não deve ~e~ ob~taculizada po~ di~c~iminaçõe~ de qualque~ e~picie".

Esse aspecto aliás, é reforçado em vários itens. Assim, nas "O~i

entaçõe~ Pa~to~ai~", enfatiza o apelo feito pela Conferência E­

piscopal aos responsáveis pela educação no sentido de oferecerem

oportunidades educativas a todos os homens, de tal forma que, en

trando cada vez mais na posse de seu próprio talento e de sua

própria personalidade, possam também, por esforço próprio, inte­

grar-se, nas sociedades em que vivem, com plenitude de pa~ticip~ ção ~ocial, econômica, cultu~al, polZtica e ~eligio~a.

Referindo-se à Escola, solicita o Documento que se pro­

cure aplicar a recomendação do Concilio Vaticano 11 no sentido '

de se efetivar uma real democratização da escola católica a fim' de que todas as classes sociais "~em di.6c~iminação alguma" te­

nham acesso a ela e nela possam adquirir uma "autê.ntica con.6ciên c.ia ~ocial" que oriente suas vidas.

Referindo-se ao planejamento, insiste que a atitude da'

Igreja no campo da educação não deve ser a de se contrapor à es­

cola não confessional nem à escola oficial, mas a de colaborar '

aberta e francamente com todas elas, seja: escola/escola; unive~ sidade/universidadei escolas/iniciativas extra-escolares de for-

27

maçao e educação, entre os planos da Igreja e os do Estado, tudo

que possa redundar em beneficio da comunidade universal dos ho-'

mens. Isenta claramente de qualquer perigo esta colaboração e

diz até que é um deve~ põ~-concilia~ da~ me~ma~, ~egundo o novo' conceito da p~e~ença da Ig~eja no mundo de hoje.

Segundo os documentos do Vaticano 11 e Medellin, a

educação libertadora refere-se àquelas áreas marginalizadas, às

áreas subdesenvolvidas, sobretudo das populações do terceiro mun

do, que não foram integradas dentro do processo da própria socie

dade.

Infere-se dos Documentos, que ninguém pode fazer educa­

ção libertadora simplesmente ministrando conhecimentos ou trans­

mitindo critérios de cima para baixo corno então se fez, ou ainda

se faz, numa pedagogia clássica, do professor para o aluno.

A educação libertadora deve levar professor e aluno, a­

través da mesma caminhada, a descobrirem juntos urna reflexão de

elaborar melhor a própria cultura que lhes pertence, a respeitar

as culturas autóctones, culturas autênticas do povo, das camadas

populares. Partir da própria realidade do povo, desenvolver toda

sua riqueza e, até, refletir e elaborar melhor aquela cultura

próp~ia que é seu patrimônio.

Assim, o conhecimento, a abertura maior para a comuni­

caça0 com outras culturas, longe de descaracterizar esses aspec­

tos próprios dessas áreas humanas, pelo contrário, vêm dar um

sentido maior de universalidade e comunhão.

Educação libertadora é, enfim, aquele esforço pedagóg!

co que apanharia a pessoa humana na situação e níveis em que se'

encontra, para ajudá-la, em seu processo, a realmente se expri-'

mir plenamente corno pessoa humana, a se sentir plenamente livre,

assumir a sua própria vida e os seus próprios valores e, quando'

se trata do cristão, de integrar tudo isso dentro de uma visão '

de fé, até aqueles níveis de vida plena que é a inserção consci­

ente no plano de Deus.

28 Antes do Concilio Vaticano lI, diziam os cristãos haver

uma preocupaçao com a promoçao da pessoa humana em uma participa­

çao sempre mais plena nos bens da sociedade, nos bens da criação,

e falavam até numa doutrina social oficial da Igreja Católica.

Com o tempo, a Igreja verificou que era muito mais importante pa­

ra ela que os cristãos entrassem no próprio movimento da história.

Enxergavam não só na área cristã, mas, mesmo entre homens de "bi1a.

von:ta.de", esforços no sentido de libertação da humanidade.

Em vez de a Igreja ter seu corpo de doutrina social, a­

creditava-se ser mais importante que ela estivesse através dos

cristãos, animando as reflexões, e sobretudo, as ações no sentido

de libertar a pessoa humana, a fazê-la chegar àqueles niveis ex­

pressivos da sua própria humanidade.

COm toda essa renovaçao que se diz vir atravessando a

Igreja, iniciada com o Concilio Vaticano lI, continuada com os re

centes Sinodos em Roma, e sobretudo, para a América Latina, com

a II Conferência Geral do Episcopado Latino-Americana em Medellin,

ter-se-ia também dado uma ênfase muito grande ao que se chama em

Teologia, à "lglLeja. pa.IL:t-ic.ula.IL".

Em cada Diocese, a Igreja deverá assumir caracteristi-'

cas próprias, isto é, deverá levar em conta todas as conotações '

do espaço e do tempo em que o ministério do Cristo se situa. En­

tão diz-se muito hoje que a Igreja não pode ser indiferenciada

nao pode ser a mesma em toda a parte, e que Cristo, pelo Evange-'

lho, continua a sua encarnação através das chamadas Igrejas part!

culares, porque deve ser através dela que se terá de enfrentar o

problema do homem: como ele se situa dentro das conjunturas regi~

nais, do tempo, etc. Então, hoje, vê-se muito que nenhum grupo

cristão, missionário, apostólico, grupos por exemplo, que têm ta­

refas pedagógicas, se eximem dessa profunda solidariedade ou, pa­

ra usar de uma linguagem teológica, dessa comunhão com o pastor '

local e com as prioridades e preocupações missionárias da Igreja'

particular.

29

Mediante essas e outras reflexões, a Con~re~ação Maria'

Imaculada passou a pensar na maneira de conciliar as diretrizes '

do Concilio e de Medellin com a renovação de que carecia o Colé-'

gio Santa Lina, a partir das orientações e sugestões da lei n9

5.692.

Assim, a organização do Complexo Escolar Manoel Leonar­

do contou com dois estabelecimentos do Estado com clientela niti­

damente caracterizada pela classe social baixa e um infimo contin

gente da classe média, dif€:_ente portanto da do Colégio Santa Li­

na que ensejava além das integrações ditadas pela lei, isto é,

fisica, administrativa e pedagógica, uma integração também so­

cial. E a reação não se fez esperar. Como podiam esses pais con­

ceber e aceitar "miJ.dultalt" suas filhas (de ".60 bltado.6 " ) com filhos

"de.6.6a. ge.Ylte." (de "maYlgue. e. mocambo") ".6em e.ducaç.ão domê.6tica",

portanto sem um comportamento social compatível, ".6e.m .6õli..da o!tg~

nlzaç.ão 6amilialt", "aCO.6turnada ao.6 palavltõe..6", sem nenhum ".6ta­

tU.6I1•1 Realmente o que se propunha a Congregação Maria Imaculada,

era urna verdadeira transformação: de colégio exclusivamente femi­

nino, transforma-se-ia em colégio misto; de colé~io de classe al­

ta em sua maioria, passaria a um colégio que acolheria clientela'

de classe social média e baixa; de colé~io de métodos pedagógicos

tradicionais, a novos métodos que se pretendiam fossem da mais m~

derna concepção e tecnologia educacionais; de colégio frequentado

exclusivamente por brancos, a colégio que passaria a abrigar pre­

tos, mulatos e cafusos; de um colégio, enfim, que diante de urna '

nova lei recém-promulgada decide a assumi-la e sob a forma mais '

inovadora sob a qual ela se apresentava.

3. O PRIMEIRO ANO DE EXPERI~NCIA

Questionamentos foram levantados desde a primeira hora,

pelas famílias, todos baseados na participação sob o mesmo teto ,

1 As expressoes grifadas foram utilizadas pelos pais das alunas do Colégio Santa Lina em reuniões em que a nova orientação do colégio foi anunciada.

30 de crianças de origens econômico-sociais diferentes. As Irmãs,

coordenadoras das reuniões, respondiam com firmeza aos argumentos

apelando sobretudo para os ensinamentos evangélicos que, afirma-'

vam, a todos igualam, a ninguém discrimina. Aludiam, sobretudo

à doutrina social da Igreja já não mais ligada a uma teologia tr~

dicional, jurídico-institucional e estática, mas à teologia que

vem tomando corpo na Igreja desde o Vaticano 11, continuada por

Medellin e pelos recentes Sínodos que propÕem "muito mais comu- ,

nhão, participação comprometida com o mundo, transformadora da

realidade, promotora da justiça e força libertadora das estrutu-'

ras de opressão".

Apesar de algumas dificuldades, o primeiro ano de expe­

riência decorreu sem maiores problemas. Os existentes eram os

realmente esperados: tratava-se de uma experiência nova em termos

pedagógicos: vários serviços técnicos instalando-se e firmando-'

se nos seus objetivos; as direções inte~rando-se entre si e com

a Direção Geral; o corpo docente, heterogêneo, (desde que não h~

via sido submetido a nenhuma seleção prévia, além de terem sido'

muitos os professores apanhados de surpresa) fazendo um esforço'

de superação das deficiências, etc. Entretanto, concessões mú- ,

tuas eram realizadas e aos poucos um denominador comum unia a to

dos; o desejo de construir alguma coisa de novo, uma preocupaçao

do "vamo.6 nazeJt junto.6",1 e a consciência de uma obra cujo ".6U-'

c.e..6.60 ou nJtac.a.6.6o .6e.Jt-La a.6.6um-Ldo pOJt todo.6". 2 Isso, evidentemen­

te, não diminuia a responsabilidade de quem respondia pela Dire­

çao Geral.

Mesmo contando com o otimismo inicial das religiosas e

o empenho da equipe que assumiu a direção do complexo .. ''1 integr~

I Extraído de uma entrevista estruturada, escrita e realizada' com os professores, com vistas a esta monografia.

2 De entrevista com outro professor.

31

ção social nao ocorreu.

Far7se-ia necessário maior aprofundamento neste estudo'

quanto às razões que determinaram o surgimento de óbices que

viriam mais tarde obstar a continuidade da experiência. Isto será

feito no capitulo 111.

Antes, porém, detalhar-se-á a Organização do Complexo '

Escolar, alvo deste estudo.

C A P ! T U L O I I

A ORG]'~IZAÇÃO DO COMPLEXO ESCOLA.R

Neste capitulo tratar-se-á da organização do complexo: o con

vênio e o seu termo aditivo, celebrados entre a Secretaria de

Educação do Estado e a Congregação Maria Imaculada: a dinâmica­

administrativa interna do complexo, quando trataremos da integra­

ção entre as unidades que o compuseram e, por fim, da dinâmica'

administrativo-or~anizacional da Secretaria de Educação.

1. ELEMENTOS DE ESTRUTURACÃO

Para o funcionamento do complexo escolar foi celebraco um'

Convênio entre a Secretaria de Educação do Estado e a Congre~ação

Maria Imaculada, cujos principais itens por parte da SecretariA'

eram:

- rernuneraçao de todo o pessoal necessário ao funcionamen to de turmas para um máximo de hum mil e trezentos alu= nos do Estado·; da la. a 6a. séries do 19 grau;

provisão de professores, especialistas e pessoal auxi liar para os Serviços de Orientação Peoagógica, Orient~ ção Educacional e um Sub-Centro de Recursos Audiovisuais, dentro dos modelos vigorantes nos quadros do Estado;

sete professores auxiliares para os serviços de secreta ria e correlatos;

- oito serventes;

- fornecimento de quatrocentas carteiras escolares e a importância de Cr$ 143.927,00 (cento e quarenta e três' mil novecentos e vinte e sete cruzeiros) .

gas,

33

Quanto a Congregação, além de assegurar as mil e trezentas va

- colocação à disposição do complexo escolar no Colé~io' Santa Lina, de vinte e duas salas de aula pela manhã e dezenove à tarde, além das instalações necessárias ' aos serviços de administração;

fornecimento de todo equipamento e material necessário ao funcionamento do sub-centro de recursos audiovisu-' ais;

- responsabilização pela direção e manutenção dos servi cos de secretaria e infra-estrutura do complexo esco­iar no prédio do Colégio Santa Lina, e

- complementação do pa~amento dos professores das 5as. e 6as. séries e dos especialistas que vinham servindo àquele educandário.

A escolha da Diretora Geral do Complexo Escolar seria feita

de comum acordo entre a Secretaria e a Congregação. O Convênio de

veria ter a duração de três anos, devendo ser criado um Grupo de

Trabalho com representantes de ambas as parteB convenentes que

avaliariam a implantação do complexo escolar no final de cada

ano, e forneceriam as linhas de sua atuação nos anos subsequentes .

.. A fim de garantir a intercomplementaridade re~erida pela lei,

outros convênios foram celebrados: com o CECOSNE (Centro de Comu­

nicações Sociais do Nordeste), com vistas a uma maior assistência

à área de Expressão e Comunicação: com o Curso Anglo-Arnericano,p~

ra os alunos das 5as. e 6as. séries, a fim de atender melhor ao

estudo da linaua inglesa; com o Sport Clube do Recife, visando a

um melhor atendimento também à educação fisica e atividades es­

portivas. Os laboratórios de Ciências foram facultados aos alunos,

por uma Faculdade de ensino superior, de propriedade da

congregaçao reli~iosa, contigua ao complexo escolar.

mesma

o segundo ano da experiência, em 1973, teve inicio com um Te~

mo aditivo ao convênio original, cujas modificações substanciais'

foram:

34 - a diminuição das vaaas oferecidas ao Estado pela Con­

gregação, -de mil trezentos alunos, para mil alunos;

- a remuneraçao por parte da Secretaria de Educação se­ria apenas do pessoal docente, técnico e administrati vo , incluindo serviços qerais e de infra-estrutura T que funcionassem nas turmas matriculadas pelo Grupo Escolar Wanderley de Castrol e COlégio Cunha Pessoa, da rede oficial. O pagamento do corpo docente do Colé ~io Santa Lina da rede particular seria feito as suas próprias expensas;

- em vez de o Grupo Wanderley de Castro dispor como an­teriormente de vinte e duas salas de aula no turno da manhã e dezenove à tarde, colocar-se-iam à sua dis posição dez salas de aula pela manhã e vinte à tarde;

- a diminuição por parte do Estado da 0Uantia transferi da à Congregação de Cr$ 143.~Z7iOO (cento e quarentaT

e três mil novecentos e vinte e sete cruzeiros) para' Cr$ 120.000,00 (cento e vinte mil cruzeiros) que se-' riam provenientes da quota federal do salário- educa ção e do orçamento do Estado, e finalmente;

- o grupo de trabalho de avaliação da experiência, no fim do ano de 1973, teria representantes em iqual número de ambas as partes convenentes.

2. DINÂMICA ADHINISTRATIVA INTERNA

A reconstituição histórica da dinâmica administrativa sera

feita sob dois prismas: primeiro, sob o da dinâmica administrati­

va interna do Complexo Escolar Hanoel Leonardo, isto é, sobre a

integração administrativa entre os diversos educandários e insti­

tuições que participaram da experiência; e sequndo, sob o prisma

da integração administrativo-organizacional da própria Secretaria

de Educação do Estado.

Após a consulta ao Secretário de Educação, foram escolhiadas'

para formação do complexo as unidades de enstno: ColéCTio Cunha

Pessoa, de ensino médio, submetido às diretrizes do Departamento'

t A clientela do Grupo Wanderley de Castro foi acrescida de alunos enviados pela Secretaria de Educação, até ser preench! do o número de vagas estabelecido pelo convênio.

35

de Ensino Médio (DEM) e o Grupo Escolar Wanderley de Castro, de

ensino pr1ffiário, sujeito às orientações do Departamento de Ensino

Fundamental (DEF).

A Direção do Complexo coube a uma técnica de educação, que

catalizaria as acões administrativo-orcanizacionais inerentes as • J

funções a serem exercidas no complexo, sendo a sua escolha proce­

dida de comum acordo entre a Secretaria de Educação e a Con~rega­

ção religiosa, segunco rezava o convênio.

A Secretaria de Educação entrou em contato com o Diretor do

Colégio Cunha Pessoa à época em aue se compunha o complexo e, so

posteriormente, foi decidida a escolha do Grupo Wanderley de Cas­

tro para integrá-lo, desde que ele satisfazia às exiçências geo-'

gráficas mencionadas, como também solucionaria o problema, já a-'

bordado anteriormente, de instalações físicas. A Direção deste e~

tabelecimento recebeu, surpresa e sem maiores explicações, um dia,

a recomendação de, na manhã seguinte, procurar no Colégio Santa

Lina a professora que assumiria, logo mais, a Direção do complexo

escolar. Criou-se uma situação delicada desde que, sendo um dos

grupos escolares de tradição e entre os mais bem conceituados do

Estado, seria levado a abandonar a sua sede e inteqrar-se, com

todo o seu pessoal docente, administrativo e alunado, sem ter ti­

do nenhuma preparação psicológica para isso, a um a.rupo inteira-'

mente desconhecido e apenas como "uma peç.a" em uma engrenagem que

não havia escolhido, nem sequer, para tal, sido consultado. Uma'

peça, diz-se, porque, no primeiro ano de experiência, o grupo es­

colar apenas passou a lotar as salas ociosas do Coléoio Santa Li­

na, descaracterizando-se como entidade autônoma: os alunos, tanto

daquele, quanto deste, ocupavam as mesmas salas de aula e as pro­

fessoras lecionavam a alunos, tanto de um auanto do outro educan­

dário.

A aceitação, logo de início, por parte do professorado não'

foi fácil, minimizada porém pelo bom relacionamento que de pronto

se estabeleceu entre a antiga Diretora do Wanderley de Castro, que

36

passou a fazer parte do Serviço de Orientação Peda~ógica e, a

futura Diretora Geral do complexo escolar. Aquela coube, através'

do Serviço de Orientação Pedagógica (SOP) continuar mantendo per­

manente contato com o professorado do Grupo Escolar ~ue a acompa­

nhou, desenvolvendo atividades de supervisão pedaoó~ica, baseadas

em estudos e planejamentos comuns. Estabeleceu-se então, também '

ai, relacionamento positivo entre ela e os elementos deste servi­

ço, de forma que o clima criado facilitou a inte~ração administr~

tiva entre os elementos dos dois educandários que funcionavam no

Colégio Santa Lina.

No principio do ano de 1972, a Diretora Geral do complexo es

colar, acumulou essa função com a de Diretora do Colégio Santa Li

na. Posteriormente, restringiu-se à função de Diretora Pedagógica,

mediante um tele~rama anônimo endereçado à Provincial da congreg~

ção lembrando o caráter filantrópico da escolal e, portanto, a ~ possibilidade de sua manutenção no cargo como pessoa remunerada.

Restringiram-se, então, as suas funções aos aspectos puramente p~

dagógicos, passando as atribuições administrativas para uma Irmã'

da Congregação que lá permaneceu todo o primeiro ano e o segundo'

semestre do ano subseauente da experiência, e com quem realmente'

os problemas surgidos foram todos contornados. Havia, portanto

entre a antiga Diretora do Grupo Wanderley de Castro, a atual Di­

retora do Santa Lina e a Diretora Geral do complexo, um clima de

integração administrativa bastante positivo: nutriam as mesmas

idéias quanto ã educação e os objetivos a que se propunha o com-'

plexo, entre eles (em função de formação pessoal de cada uma ê

das próprias circunstâncias especiais de oue se revestia o com­

plexo) o da integração social dos alunos.

1 o car~ter filantr6pico da escola i~~lica em iscnç~o ~e t~~os­to e , corno tRl a n~o remuneracao do nCS~0Rl atriqente, extra~ conorerraçao.

37

são palavras do Secretário de Educação:

"Com nelacio ao a~pee~o admini~~na~ivo in~enno do Complexo, houve uma een~a eompnene~ão do~' do~ dine~one~: da do San~a Lina e da do~ Colê­gio~ do E~~ado: do Wandenley de Ca~tno, que ' ena dinigido pela pn06e~~ona "A", que ena uma' pe~~oa expenimentada, de boa vontade, muito e~ elaneeida e ~ue~endo me~mo nealizan um bom t~a balho eomo ja vinha 6azendo em ~ua e~eolinha T

p~bliea. Ela ~e integnou pen6eitamente. Pode ~en havido qualquen dive~gêneia de ponto~ de vi~ta, ma~ i~~o num âmbito que não extnapo­lou o~ muno~ do eoligio e nanea ehegou ao n06-~o eonheeimento. Com nelacio ao out~o eolêgio, o Cunha Pe~~oa, um eolêgio ~O de moca6, um eo­legio gnande, di6Zeil, ~empne 60i um eolegio ' di6~eil po~ ~azõe~ talvez de di~ecõe~ que não' enam a~ melho~e6".

Hoje e um do~ bon6 eolêgio~ da ~ede e6tadual ma~ ate ele ~e inteona~ ... Talvez tenha a~ê a.pnendido a 6uneionã~ bem no Complexo ... "

No início, os diretores que por lá passaram não se ajustaram

bem com os diretores das outras unidades de ensino e a Direção '

Geral. Até que foi designado um novo ciretor que, se bem não haja

participado de nenhuma reunião de planejamento, nem mesmo de ou­

tros estudos como o Seminário sobre o Método Keller,l liderado

por um casal de professores da Universidade da Bahia, no entanto,

nunca se constituiu obstáculo a qualquer atividade proposta, ou

medida adotada pela Direção Geral do Complexo. Suas atividades

maiores sempre foram no sentido de restaurar, e construir instala

ções físicas, na sua unidade de ensino. Preocupações mais adminis

trativas e burocráticas que pedagógicas. Acontece que só no segu~

do ano de funcionamento do complexo escolar ele assumiu a Direção

do Colégio, quando já se encontrava como supervisora pedagó~ica a

antiga diretora do grupo escolar e que, tendo trabalhado na equi-

I MétodO de ensino personalizado, que visa ao acompanhamento'

do rítmo de aprendiza~em de cada aluno.

38

pe do SOP central, para lá foi indicada pela Direção do complexo'

e afinal nomeada, a fim de garantir a unidade pedaaó~ica naouela'

terceira unidade integrante do complexo.

As omissões da direção do Cunha Pessoa eram, assim, compensa

das pela supervisão pedagóqica e pelo professorado, inteqrados

que já estavam na dinâmica operacional do complexo escolar.

Problema inverso aconteceu no Coléqio Santa Lina. Após o pri

meiro ano da experiência, a reliaiosa ~ue assumira e garantira a

integração administrativa ausentou-se do país, sendo substituída'

durante todo o primeiro semestre do seaundo ano da experiência

por outra reliqiosa, que, em sua entrevista, declarou:

"te~ a~~umido a di~eç~o a cont~ago~to , poi~ n~o ~e ~entia a pe~~oa indicada do ponto de vi~ta admini~t~ativo pa~a condu zi~ a ex. pe~iê.ncia li •

Falou da necessidade de ter a experiência contado com um maior nú

mero de pessoas idealistas e motivadas para a administração do

complexo. Reconhecia-se como alguém apta para "t~aba.tha~ com C!.

ba~e, com o~ a.tuno~, junto ao pe~~oa.t". Realmente, várias situa

ções conflituosas foram criadas e/ou alimentadas por ela, quer

com a Direção Geral do Complexo, quer com os serviços técnicos, e

ainda com o corpo administrativo do ~rupo escolar e os professores

propiciando um clima que, só parcialmente, pôde ser restaurado em

term~s administrativos, com o regresso da Hadre Jlp" no seaundo se

mestre do ano de 1973.

Como vimos, o Termo aditivo do Convênio de 1972, em um de

seus artigos restaurou personalidade própria ao arupo escolar Wan

derley de Castro dentro da comunidade escolar do Santa Lina: foi­

lhe restituida a sua .autonomia administrativa, direção, professo­

res e alunos do Estado, em salas destinadas só a eles.

Para a direção, foi desianada uma anti~a professora aue in­

tegrava a sua equipe administrativa.

39 Entrevistada, falou que, quando da volta da Madre "P", foi-

lhe proposta uma reunião com toda a equipe do Wanderley de Cas-'

tro, onde sérias reivindicações foram feitas, apesar de acredita

rem ser dificil haver um retrocesso total nas atitudes assumidas

pela I~ã que a havia substituido em sua ausência, mesmo por uma

questão ética, uma vez que ambas pertenciam a mesma comunidade ,

embora fossem de mentalidade e visão diametralmente opostas.

A diretor~ que a sucedeu, também entrevistada, destacou o

rI exc.elente" relacionamento entre a direção do v.Janderley de Cas-'

txo e a direção geral, desde que nenhum trabalho era realizado '

~ndividualmente e todos os problemas de conflitos e concorrências

sur9iQos, resolvidos em equipe.

o mesmo acontecia com o Cunha Pessoa, uma vez que a sua su­

pervisora pedagógica participava do SOP e continuava integrada '

com o grupo, sem criar qualquer problema que pudesse vir toldar'

o desempenho dos objetivos a que solidariamente se propunham.

Restrições foram levantadas ao Colégio Santa Lina. P.pós a

ausência da Madre itp", a sua substituta e a quase totalidade das

lrmãs que o assumiam naquele ano pensavam e agiam diversamente '

del.a, sobretudo em relação a discriminação reinante no complexo I

quer no que dizia respeito ã direção, professores e alunado do

Wanderley· de Castro, este, nítidamente pertencente ã classe bai­

xa~.

Concluiu~·

"Um a~pecto deve ~e4 ~e~~altado: o empe-' nho total da Mad~e "P" pa.~a. que o com- ' plexo tive~~e êxito. O ~eu t~a.ba.lho e e~-6o~ço em pe~ma.nece~ luta.ndo a.~~ o~ ~lti-' mo~ momento~, tentando leva.~ a 6~ente o complexo, quando me~mo já ~e vi,~lumb~ava., at~avê~ de comentá~io~ e de uma. ~itua.ção' intenna. in~u~tentável, a. intenção po~ pa.~ te da Cong~egação de ~e~cindi~ o Convêni~".

40

3, D"INÂ'MICA- ADMINTS'I'JU\TTVO-oRGlINTZACTONAL

A fim de esclarecer a dinâmica administrativo-or~anizacional

da experiência, foram entrevistados representantes do sistema edu

cacional estadual a nlvel de sua estrutura orqanizacional, para '

que ficassem retratados os posicionamentos divergentes que influi

riam nos efeitos demonstrativos ~e a experi~~çia poderia ter de­

terminado e conduzido a urna nova estratégia de administração org~

nizacional para o sistema, urna vez que o mesmo contou com a parti

cipação efetiva e disciplinar do Secretário de Educação.

Assim, foram escolhidos para serem entrevistados a chefia do

DEM e DEF bem corno pessoal técnico a nlvel de assessoria e depar­

tamentos.

o Plano de Implantação da lei n9 5.692 no Estado já estava'

concluldo quando houve a proposta da Conaregação Maria Imaculada'

para a formação de mais um complexo escolar. Do Plano Estadual

constavam oito complexos: quatro na capital e quatro no interior,

todos formados entre escolas da rede pública. Mais urna vez é o

Secretário de Educação 0.uem fala:

"A~.6um.i..ndo o e~pZtr..i..to da .te.i.., eu e ma.i..~ a.t gun.6 a~~e.6.6otr.e.6 da Se~tr.etatr..i..a de Edu~ação--, a~hãvamo.6 que a e.6~o.ta patr.t.i..~u.tatr. ptr.e~.i...6ava de patr.t.i..~.i..patr. de tudo que a Se~tr.etatr..i..a de ' Edu~ação tenta.6.6e 6azetr. patr.a a imp.tantação' da tr.e6otr.ma. Quando .6utr.g.i..u a ide.i..a de .6e 6a­zetr. um ~omp.texo m.i...6to-e.6~o.ta p~b.ti~a e e~~o la patr.ti~u.tatr. - 6otr.am pen.6ado.6 vátr.io.6 obje~ t.i..vO.6, enttr.e ele.6, o de a.6.6im.i...tatr. a expetr.iên ~.i..a da e.6~o.ta patr.t.i..~ulatr., e datr. opotr.tun.i..da-­de ao.6 a.tuno.6 da tr.ede p~b.ti~a, ~on.6.i..detr.ado.6 de ~.ta.6.6e .6o~ia.t mai.6 ba.i..xa, potr.tanto meno.6 dotado.6 de .6.i..tuação .6o~ia.t ptr.iv.i...tegiada, de e.6tudatr.em em um ~o.tégio bom ~omo etr.a o Co.té g.i..o Santa L.i..na .6emptr.e ~on.6idetr.ado um do.6 me lhotr.e~ ~o.teg.i..o.6 da ~.i..dade. 1.6.60 .6Ô podetr.iaT

v.i..tr. em bene6Z~.i..o da e.6~o.ta p~b.ti~a 1 .•• 1. ftr.a ma.i..~ uma expetr.iên~ia que nô~ quetr.Zamo.6' 6azetr. e 6izemo.6, a de.6pe.i..to de muita.6 ~on-' ttr.ad.i..ç5e.6, mu.i..ta gente ~onttr.a, mu.i..ta.6 d.i..6.i..­culdade.6 a ven~etr., potr. que.6t5e.6 me.6mo de ' mental.i..dade, de ptr.o6e~.6otr.e.6, de podetr. p~bl.i.. co e podetr. ~.i..v.i..l. Não hav.i..a e.6~a gtr.ande apitE..

41

ximação da e~cola pública com a e~cola pa~ti­cula~. Muito~ a achavam inexequZvel. Ent~etan to, 6izemo~ e 6uncionou doi~ ano~. Po~ ~azõe~ e~peciai~, depoi~ teve de ~o6nen tnan~6onma-' çõ e~ e mudo u " ( ... I .

Falou ainda de certas dificuldades em atender a todas as cláusulas do convênio sobretudo ouanto às salas ambientes oue ao Estado cabia oferecer em função da formação especial prev:lsta na lei, e que não foi possível cumprir.

"Q.uanto ao mai~, acnedito que tenha havido en ~o~amento. O~ pno6e~~o~e~ do E~tado vanglonI avam-~e de ~en do Complexo Manoel Leonando, e o~ do Santa Lina, tenho a impne~~ão de que não 6icanam dimil1.uZdo~ pelo nato de tnabalha­~em cunjuntamente com o~ pnone~~one~ do E~­tado" .

Coincidem as afirmativas das "diniculdade~ a vencen", "de" muita gente contna", "da que~tão de mentaLi.dade!!, "da impne~~ão '

de inexequibilidade da expenie.ncia", através de fatos crue ocorre­

ram e aue foram vivenciados.

Vale ressaltar o posicionamento do Diretor do Deoartamento '

de Ensino Médio à época da experiência. Apesar de co-responsável'

pelo complexo, desde que um colégio liqado ao ensino médio o com­

punha, entrevistado, disse:

"Aquele convênio 60i elabonado pelo gabinete' e pela coondenação. O Vepantamento do En~ino' Midio ~~ talvez ~ub~idianiamente, na pante' admini~tnativa, tomou conhecimento dele pon­que a~ pnopo~ta~ de con~nataçõe~ de pno6e~~o­~eh enam 6eita~ 60nmalmente pelo Vepantamento de Enhino Midio".

Acrescentou que nunca lhe pareceu "hVn pático" o convênio.

Dai haver "6 eito quehtão de ~ e a 6a~tan", de" ~ e al heian". Instado

quanto às razões mais profundas de sua oposição deixou bem claro'

a sua descrença quanto à "mi~tuna" de alunos paupérrimos com

alunos que pagam.

Não acreditava ~e se pudesse conqreaar a rede particular

42

com a rede pública, "m,t,t,tulLalL" rico com pobre, divergindo assim

da idéia daqueles que conceberam a formação do Complexo Manoel

Leonardo com clientelas diferentes. Não se mostrou contrário a

complexos compostos exclusivamente de unidades Farticulares ou

de colégios da rede pública, por possuírem clientelas de condições

sociais, financeiras, pedagóqicas e corpo administrativo idênti-'

coso

Concluiu dizendo que, no Brasil, nao há preconceito de c~r ,

mas preconceito social existe.

A professora "A", que trabalhou no compléxo, ligada ao De­

partamento de Ensino Hédio, e que manteve com o diretor desse de

partamento inúmeros contatos, disse em sua entrevista:

"foi o V.út..e.tolL do En..6in.o Médio uma da.6 pe..6-.6oa.6 que. mai.6 balLlLe.ilLa OpÔ.6 e. di6iculdade..6' clLiou dulLan.te. a vigên.cia e. n.ão con.tin.uação' do comple.xo pOIL palLte. da Se.CILe.talLia de. Edu­cação. Na lLe.alidade., e..6.6e. compolLtame.n.to n.ão .6e. jU.6ti6icava de..6de. que. .6e. tlLatava da im­plan.tação de. uma le.i lLe.cém-.6an.cion.ada, e. n.Ô.6 e..6távamo.6 com um tipo de. e.xpe.lLiên.cia , pe.lo que. .6ablamo.6, in.édita n.o pal.6. E.6táva­mo.6 .6e.n.do pion.e.ilLo.6 n.e..6.6e. tipo de. tlLabalho' e. talve.z 60.6.6e. e..6.6a uma pOlLta abe.lLta palLa ' outlLa.6 e.xpe.lLiên.cia.6. POIL i.6.6o, aCILe.ditamo.6' que. de.ve.lLlamo.6 te.1L tido todo apoio, a de..6-' pe.ito de. qualque.1L di6iculdade., e. a.6 tive.mo.6 muita.6, palLa que. e..6.6a e.xpe.lLiên.cia, que. 60i muito válida, pude..6.6e. .6e.1L de.poi.6 adotada e.m outlLa.6 un.idade..6 e..6COla.ILe..6, con.glLe.gando e./!lC~ la.6 palLtieulalLe..6 com e..6cola.6 do E.6tado. Se.n do e.le. o VilLe.tolL do Ve.palLtame.n.to, n.ão podia, me..6mo di.6colLdan.do, alhe.ialL-.6e. da e.xpe.lLiên.-' cia".

Foi entrevistada também a Diretora do Departamento do Ensino

Fundamental, que viu o complexo escolar como uma experiência "d-i.-

6 e.1L e.n.t e. " , "n.ova", "ambicio.6a". Em seu depoimento, ressaltou a ex

celência da estrutura física, e sobretudo reputava "ide.al"a oraa­

nização técnico-administrativa do complexo Manoel Leonardo, ape-'

sar de, em sua opinião, representar um padrão muito alto para ser

vir de modelo na operacionalização de outros complexos.

43

Em sua maneira de ver, achava que a decisão do Estado com re

lação ao Complexo Manoel Leonardo deveria ter sido precedida de

melhor estudo a fim de se saber se se poderia dar aos outros com

plexos as mesmas condições que lhe estavam sendo oferecidas.

~ "O Complexo E~eola~ Manoel Leonahdo j~ vi­nha eom todo um plano, tudo j~ bem ohganiza do, e no~ ainda pehmaneelamo~ em na~e de Oh ganização. O que eu de~ejava eha um nivela~ mento pOh eima, de aeohdo inelu~iv e eom . a lei. Cada um, ganhando de aeohdo eom a ~ua quali6ieação" .

Quanto à integração da rede pública de ensino e a rede parti

cular reputou-a "algo mahavilho~o", mas opinava que "pheei~ahia '

ante~ de uma phepahação da~ ehiança~".

Continuando, narrou o fato de uma visita feita ao Coléqio

Santa Lina em companhia do Chefe de Gabinete do Secretário, quan­

do este indagou de uma das crianças (de 12 anos mais ou menos) o

que ela achava do complexo e teve como resposta:

"muito bom, ma~ a gente paga pOh um ghUpo ' que não paga".

Concluiu que aquela resposta deveria ser fruto de comentá- '

rios tecidos em casa, dos quais a criança certamente participara.

Dai porque acreditava que deveria ter havido uma melhor prepara-'

çao dos pais para a experiência.

"Aehei, no entanto, v~lida de~de que ~omo~'

todo~ iguai~ ( ... l. Apena~ un~ nOham phivi­

legiado~ e ~ão hieo~, outhO~ tiveham meno~' ~ohte e ~ão pobhe~. Ma~ a univeh~idade igua

la todo~".

Outra técnica da Secretaria, entrevistada, enfocou aspectos'

de custos, investimentos, etc., considerando-os excessivos para a

continuidade da experiência, embora a técnica de educação nunca

haja tomado conhecimento de nenhum estudo que fundamentasse tal

44 julgamento. Apesar das afirmações acima referidas e de ter sido '

uma das assinantes do Termo aditivo em 1973 que prorrogava o con­

vênio, a entrevistada declarou "não podelt op,[nalt quanto ao.6 a.6-'

pecto.6 adm,[n,[.6tltat,[vo.6 ,[nteltno.6 e pedagóg,[co.6", embora tivesse'

chefiado a Comissão de Avaliação da referida experiência no fim

do primeiro ano, também nesses aspectos, como previa o convênio.

Considerando a necessidade de obter subsídios de outros ele­

mentos componentes da comissão, ficou evidenciado que havia pon-I

tos contraditórios entre a Chefia e os demais elementos, conforme

declarações relatadas por um deles a seauir:

•• • "Con.6tatou-.6e que a olt,[entação pedagóg,[ca' eJta excelente, ma.6 não podelt,[a .6eltv,[/t de mode lo palta .6e adotalt no E.6tadoo V,[u-.6e também T que o d,[nhe,[lto empltegadoo 00 ó,[cou calto, o cu.6 to elta mu,[to gltande palta um pltogltama daqueleT

t,[poo Foltam a.6 conclu.6õe.6 a que chegaltam 0.6 componente.6 da com,[.6.6ão"o

A professora "11." que participou também do arupo de avaliação

afirmou que,

"Em ltelação ao.6 Complexo.6, pen.6o que p0.6.60 Jte.6pondeJt que hav,[ao Aclted'[to que, pOlt óalta' de con.6c,[ênc,[a, eu d,[lt,[a, de deó,[n,[çâo de pa­pé,[.6o (000) o Não pOlt culpa do Secltetált,[o, ma.6 do conjunto geltenc,[al: Che6e do Vepalttamento' do lq gltau, Che6e do Vepalttamento do 2Q gltau, Vepalttamento de Adm,[n,[.6tltaçâo, A.6.6e~.6olt,[a de Planejamento, Seltv,[ço.6 Gelta,[~o O pltÔplt,[o pitO blema e.6tltutultal da Secltetalt,[ao Elta uma e~tlt~ tUJta que não óac'[litava uma inteltcomplementa~ Jt'[dadeo Alguém devia cooltdenalt e~.6a e~tltutulta e não o óaz,[ao Cada um pltocuJtava geJtilt bem o que eJta de ~ua alçada, óaltando-lhe~ a con~ci enc,[a de que cada õltgão, depalttamento, etco ~ eJta. paltte de um conjunto que tinha a 6unção ' de adm,[ni~tltadolt do .6i.6temao Con~equentemente, o de.6empenho de~.6e óltgão ou depalttamento não .6e podelt,[a con~titu,[lt de maneilta e~tanqueo Só apó.6 teve ,[nZcio a lte60ltma adm,[n,[.6tltativa da SecJtetaJt,[a que v,[Jt,[a .6analt e~te~ pltO bl ema~" o

Com relação ao complexo escolar Manoel Leonardo, ficou bem'

claro, para a entrevistada, que a Secretaria, como um todo, só se

45 sentiu também responsável por ele, no momento da avaliação. Nessa

hora, o pessoal que funcionava a nível dos departamentos, foi le­

vado a manter relacionamento com o pessoal das equipes técnicas ,

tendo em vista a montagem do esquema de avaliacão. Entretanto,mes _. ~ -mo do resultado a que chegou esse trabalho, em termos oficiais

isto é, através da Secretaria, nunca se tomou conhecimento. Disse

haver acompanhado toda a experiência, através de duas pessoas que

trabalhavam no complexo e porque lia todo o material didãtico/ped~

gógico distribuído e estudado pelos professores.

"Vi~ia, ainda, po~ ob~e~vação pe~~oal, que a-' quela e~a uma expe~iência que a Sec~eta~ia de­ve~ia te~ melho~ con~ide~ado, tendo em vi~ta ' que e~a uma expe~iência na qual ela e~tava di­~etamente envolvida. Ent~etanto, apena~ ~e ~a­bia que exi~tia um Complexo E~cola~ Manoel Leo na~do ma~ não ~e dimen~ionava o ca~ãte~, a ~e~ pon~abilidade da Sec~eta~ia a não ~e~ no que T

e~tava mai~ aoeto ao a~peeto bu~oc~ãtico. ( ... ) Pa~eee-me que não houve po~ pa~te da Se­e~eta~ia, na oa~e de montagem de~~e Complexo , p~eocupação de envolve~ out~o~ elemento~ ( ... ) o que di6ieultou o inte~e~~e pela expe~iência, a não ~e~ em n2vel bem individual, como ooi omeuea~o".

Exceção deverá ser feita ao Secretário de Educação que, alu­

dindo às atividades qeridas pelo Complexo, confirmou as referên-'

cias sempre existentes nas reuniões com os assessores, de valer-'

se de urna experiência ".606i~ticada", mas reafirmou a persistência

do Gabinete em prosseguir, porque acreditava que não se pode "ni­

vela~ tudo po~ baixo".

"A~~umimo~ um comp~omi.6.6o, o ~ealizamo~ e 60i' uma expe~iência que ext~apolou o p~õp~io E.6ta­do. O B~a~il todo tomou eonhecimento de.6~e com plexo po~ oea-6ião da.6 ~euniõe_.6 de Sec~e,tã~io.6-:­foi ponto alto de minha admini.6t~ação a exi.6-' têneia de-6.6e eomplexo, po~que ac~edito que no B~a~il ninguém O ez i.6-6o. foi uma tentativa de~ t~o da lei ng 5.692 que mandava integ~a~ tudo, ent~o~a~ a-6 in-6tit~içõe-6, ap~oveita~ o que uma pO.6.6u~a com a-6 ca~encia6 da-6 out~a.6 e dent~o ' de&.6e e-6p2~ito 60i que -6e pen60u em .6e to~na~' p0.6.62vel a exi~têneia do eomplexo. Pa~a i-6-6o'

46

encont~amo~ pe~~oa~ ( ... ) que vie~am ao encon­t~o de no~~a~ a~pi~açõe~. Enquanto 6o~~e Sec~e tã~io, ~e~i~ti~ia até o 6im pa~a que ele não T

~e extingui~~e. Ent~etanto, como a iniciativa' da ~e~ci~ão do convêncio pa~tiu da p~õp~ia con g~egação, 6ui comp~een~ivo, entendi que deviaT

e~ta~ havendo p~ejuZzo~ pa~a a in~tituição e não qui~ in~i~ti~".

Quanto à natureza dos prejuízos, disse:

r:Ve p-tog~a.ma~ _tal\.'e.z que.a OlLd:em e~tabelec.eu , di6iculdade~ na libe~ação d~ ve~ba~ po~que me .lemb~o bem que apõ~ qua~e um ano, jã no 6im do meu mandato, ainda a Sec.~eta~ia pagava pa~c.e-' la~ a.t~a~ada.~, devido a uma ~ê~ie de di6ic.ulda de~ que tivemo~ de en6~enta~, alem de alguma T

dive~gência de pen~amento em to~no do a~~unto' ent~e a~ ~eligio~a~. Ouvi 6ala~ que alguma~ I~ mã~ aceitavam a. integ~acão, out~a~ não. Talvez po~ que~tão de mentai.idade . .. "

Para comprovar a existência de açoes administrativas que

objetivaram a desarticulação da continuidade da experiência por

parte de elementos da Secretaria, em pesquisa realizada junto a

mesma, na Assessoria de Planejamento, no arquivo morto e no Depar

tamento de 19 grau, apenas o Convênio de 1972, o Termo aditivo de

1973., um primeiro planejamento e uma correspondência da Provincial

ao Secretário de Educação datada de 09.03.73, foram encontrados.

Propostas curriculares, Regimento Interno, demais correspondências,

quer da Provincial da Congreqação, quer da Diretora Geral, Relató

rio das Atividades do Complexo no ano de 1972 e documento de ava­

liação da comissão no final do primeiro ano de existência do Com­

plexo, nada se conse0uiu situar. Na publicação "Sec.~eta~ia de Edu

cação e Cultu~a 7l-75" uma breve citação, apenas, é encontrada

quanto à existência do complexo. Dos convênios mencionados com

escolas particulares, estão referidos os celebrados para conces-'

são de bolsas a dez, quinze e no máximo quarenta e cinco alunos

quando o convênio com a Congre~ação Maria Imaculada havia como

contrapartida a aceitação de mil e trezentos alunos do Estado, em

1972, e mil, em 1973.

47 Também com relação à Secretaria de Educação, após os depoi­

mentos de todas as pessoas entrevistadas e relatadas no capítulo

anterior, percebe-se que apesar da estruturação orqanizacional '

concebida quando do planejamento de experiência - a qual aludia'

toda uma abordagem em termos físicos, administrativos, pedagó~i­

cos e sociais, conferindo atribuições diversificadas e níveis de

participação, desde o Executivo da Secretaria de Educação e seus

assessores até à Direção Geral do Complexo, serviços técnicos e

corpo docente - houve inqerência intencional por parte de compo­

nentes da Secretaria de Educação de desarticular as informações,

criar resistências e, sobretudo, alimentar o processo de omissão

e do não comprometimento com a experiência, em termos também de

integração entre as classes sociais.

C A P 1 T U L O I I I

A CRISE DO COMPLEXO ESCOLAR

Neste capítulo, será tratada a crise do complexo: as

posições ideológicas dos pais das alunas do Colégio Santa Liria

das freiras que lá atuaram nesse período, e de um grupo influente

constituído por antigas alunas do me~mo colégio. Os mecanismos de

discriminação usados, também serão narrados e por fim a rescisão'

do convênio e a consequente extinção do complexo. Outra experiên­

cia e nova crise serão também apresentadas.

1. AS POSIÇÕES IDEOL6GICAS: PAIS-ALUNADO-COMUNIDADE

Já se tratou do Convênio celebrado em 1972 e do Termo '

Aditivo em 1973, como também se aludiu à reação das famílias com

relação à integração social a partir mesmo da comunicação em reu­

niões realizadas com os pais das alunas do Santa Lina, com rela-'

ção às novas diretrizes que seriam imprimidas ao colégio.

Os motivos manifestos deste Termo aditivo tiveram ori-'

gem a partir de correspondências trocadas entre a responsável pe­

la Congreqação ~1aria Imaculada e o titular da Secretaria de Educa

çao.

Todos os ítens da carta datada de 09 de março de 1973 ,

e assinada pela Provincial da Congregação tratam da situação fi­

nanceira que teria o Colégio Santa Lina de enfrentar com a renova

çao, por mais um ano, do convêna. Aludia sobretudo à evasão do

seu alunado, embora não tecesse nenhum comentário a respeito das

razoes que motivaram o fato.

As causas reais nao foram, substancialmente, só as fi­

nanceiras alegadas. Foram a intolerância da classe alta constituí

da pelas famílias das alunas do Colégio Santa Lina à integração '

social com a classe baixa, e as pressões sobretudo das ex-alunas'

49

do Santa Lina, muito ciosas do "bom nome" de seu antigo colégio.

Durante a pesquisa, conseguiu-se uma carta anônima

uma ex-aluna e mãe de alunas do Colégio Santa Lina, dirigida

Provincial, deplorando o convênio com o Estado. Falava em seu

me pessoal e da

de

-a

no-

"unanimidade da~ mie~: "t~i~te~", "deeepeion~ da~","de~olada~1f.

Adiante escreve que:

"a -imp~e~~ão que o púb.f.ieo tem da~ r~mã~ Ma.- I

~ia lmaeulada ê que ela~ ou 6o~am vZtima~ de uma "c.hantagem", ou "pe~de~am o u~o da /tazã.o" eom a eeleb/tação do eonvênio.

Entre algumas indagações, ressalta esta:

Se~á que o Colégio eontinua gozando do p/te~t; gio que de~6~utava?

Conclui solicitando da mesma, uma reunião o mais breve

possível, e pede "de~eulpa~ po/t não a~~ina/t e~~a ea/tta".

Pedidos de transferência, logo concluído o ano letivo '

de 1971, começaram a ser levados à secretaria do colégio e quando

as aulas tiveram início, 40% do alunado do Santa Lina já se havia

passado para outros colégios, mais homogêneos quanto à classe so­

cial das evadidas. Houve mesmo colégios que criaram mais classes'

da mesma série, para abrigarem as alunas do Santa Lina que para '

lã se transferiram.

"e/ta uma ve~dadei/ta 6ila li p/toeu/ta de vaga"

disse uma entrevistada que trabalhava também em um colégio para

onde se transferiu parte das alunas evadidas do Santa Lina. E

continuou:

"Pa~ec.e-me que e/ta um p~o blema de /teação a

c

50 "mi6tu~a" de 6eu6 6ilh06 eom 06 de nZvel in-6e~io~ ou melhon, de e6eola públiea. Tomei' eonheeimento ati, que a6 aluna6 nealizanam ' um pnote6to, uma pa66eata ou eoi6a que o va­lha, quanto i aludida mi6tuna. N~o eheguei ' a 6abe~ 6e a dineç~o do eolégio ehe~ou a blo quea~ o levante ou 6e a eoi6a veio a tona. 1-Pa~tindo da6 in6onmaçõe6 da6 6amZlia6 que p~oeunanam aquele edueandânio já meneionado, e6tava bem elano a di~e~iminaç~o que ela6 6a ziam e que 6uponho, n~o tená 6ido 6âeil eon~ tonna~. Q.uem e6tava na dineç~o g e~al do eom­plexo e6eolan devenia 6entin e66a di6ieulda­de até pela expne66~o Qaeial que a6 6amZlia6 eomunieavam. Uma da6 mae6 ehegou a eoloean ' que o aeoplamento Santa Lina-e6eola públiea, te~ia deeonnido talvez pon motivo de ondem ' eeonômieo-6inaneeina que o Santa Lina atna-' ve66a66e. ( ... J Ape6an da neaç~o, paneeia ' que'a dineção do eolégio pantieulan e6tava ' 6~me em eontinuan a expeniêneia, n~o neeu.an. ( .•. ) Alguma eoi6a deve ten-6e pa66ado, no ' entanto, pana que doi6 an06 apõ6, a Congnega ção tive66e ne6eindido o eonv~nio, ma6 qual~ quen 6UP06ição que 6ize66e eaneeenia de 6un­dam ento" .

o comportamento discriminatório, o bisseccionamento so

cial, a confrontação, o separativismo começaram a ser tais, que

no caso de uma família, extrapolaram o colégio, atingindo a pró-'

pria.casa e levando um pai que possuía quatro filhos no complexo'

escolar, uma, compondo a clientela do Santa Lina e os três outros,

a do Grupo Wanderley de Castro, a se expressar em entrevista:

"a6 pnõpnia6 atitude6 de uma da6 minha6 6i-' lha6 ~e6letiam jU6tam ente e66 e pnil1eZpio de 6upenionidade e de 6epanaç~o".

Ainda a Circular n9 1}1976 da Associação das Antigas A­

lunas, dá noticia do 11 Congresso Internacional das Antigas Alunas

1 As informações obtidas foram unânimes em negar esse suposto '

bloqueio.

51

dos Colégios da Congregação a ser realizado nos Estados Unidos e

da preparação de uma excursão cujos participantes se fariam pre-'

sentes, estendendo a visita ao México, Japão e Hong-Kongi da pro~o

ção de um ".6how de. a.m..i..za.de." no Clube mais chique da cidade com

o objetivo de angariar fundos para fins assistencialistas, e do

consequente convite para venda de ingressos.

Por fim, fala da

g~a.nde. .6a.t..i...6na.~ão eom que. eon.6ta.ta.mo.6 eomo o no.6.6O que/t..i..do CoLég..i..o ( .•• J lte.eon.6tlto..t-' .6e. d..i..a. a. d..i..a..

Além disso, outros motivos dever ser alinhados: a eva-'

sao havida, com a consequente "lte.ee...i..ta. eontab..i..l" sem condições de

acompanhar o comportamento dos anos anteriores a 1971, isto é,sem

apresentar déficit, porém sem deixar lucro, como acontecia em

1972i l e a ausência de convicção profunda por parte das Irmãs

atuantes no Santa Lina, sobretudo no ano de 1973, dos objetivos '

evangélicos a que se propuseram no início da experiência, pelo f~

to de pertencerem à classe alta, como suas alunas, fortemente mar

cadas pela ética individualista da ideologia dominante.

Durante a pesquisa, constatou-se que, especialmente o

Arcebispo de Olinda e Recife, por várias vezes, foi consultado p~

las religiosas, não só, quanto ao trabalho que pretendiam reali-'

zar, como, durante o funcionamento do complexo e quando da resci­

são do convênio.

A Igreja de Olinda e Recife teria manifestado interesse

em orientar sua ação prioritariamente para as classes baixas que'

segundo ela, são justamente a área oprimida, as que sofrem injus­

tiças, sobretudo porque sao vítimas do tipo de sociedade discrimi

natória em que se vive.

1 Informação contida na entrevista da Madre "p", que cuidou t~ bém da parte administrativo-financeira do Colégio Santa Lina, fez levantamento bancário para ressarcir dívidas contraídas , em função do complexo e recebeu todas as parcelas do dinheiro, fruto da contrapartida, por parte da Secretaria de Educação.

52

Por outro lado, foi a partir dos estudos que a Congre-'

gaçao realizou sobre as conclusões do Concílio Vaticano 11 e lI'

Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano em Medellin, que

resolveu aceitar a sugestão da composição do complexo, com unida­

des de ensino do Estado.

Na entrevista, o Arcebispo expressou a convicção de que

o complexo lhe parecera ser:

"uma opo~tunidade e~pl~ndida pa~a que, ao me­no~, aluno~ de cla~~e ~ociai~ bem di6e~ente~, pa~~a~~em un~ pelo~ out~o~ e ~e encont~a~~em".

Disse de "~ua e~pe~anç.a imen~a" nessa experiência que,

segundo ele, infelizmente durou pouco, dado "o pe~o da~ e~t~utu-'

~a~ ~ociai~ dema~iado g~ande".

Esse fracasso se deveria pois, mais ao peso dos precon­

ceitos do que ã falta dos que a conduziam.

Outro entrevistado, ligado ao problema por ser o respon

sável pela pastoral da Arquidiocese, como secretário do Nordeste'

11 turna das regiões em que é desenvolvida a ação pastoral no Bra­

sil) declarou que:

viu como um te~temunho excepcional uma expe-' ~i~ncia que ( ... ) p~ocu~a~ia aquela tão nece~ ~ã.~ia integ~aç.ão da~ vã.~ia~ camada~ ~ociai~ T

dent~o de um planejamento educacional

o que propiciaria também a realização dos objetivos pastorais.

Indagado sobre as repercussões dessa experiência educa­

cional, em termos da Igreja de Olinda e Recife, o Arcebispo lame~

tou que no Nordeste, no Brasil e talvez no mundo inteiro, congre­

gaçoes que foram criadas para atender a clientelas pobres, se

houvessem afastado de suas metas primeiras, abandonado o ensino '

popular e se transformado em agentes de uma educação para ricos.

Essa deformação dos ideais dos fundadores agravara-se 53

segundo ele, pela falta de coragem necessária de formar as pró-'

prias elites nos caminhos da justiça. Desse modo, a experiência do

complexo escolar se apresentava rica por objetivar mais do que uma

aproximação efetiva, urna verdadeira integração dos que dela parti­

cipavam.

Falou de suas esperanças nos resultados positivos do·co~

plexo, relatando seu testemunho pessoal e direto de alguns fatos '

que lhe pareceram muito peculiar, abrindo novas perspectivas para'

a realização dos objetivos educacionais antes desvirtuados.

Nas ocasiões em que tivera oportunidade de sentir ao vi­

vo o funcionamento do processo, observara, com tristeza, a reação'

discriminatória de pais de alunos da classe alta que nao aceitavam

que seus filhos tivessem tratamento de igualdade em relação aos

da classe baixa, porque assim pensavam:

"ni.tho de pob/te ê. .6u.jo, 6i.tho de pob/te ê. do­ente, 6i.tho de pob/te c.ontamina, e pob/te, e c..talto, não tem mo/ta.t, não tem dignidade".

Em certo momento, teve a impressão de que a congregação'

religiosa iria "/tec.u..6a/t pOlL medo de pelLde/t a c..tiente.ta". Num qua-'

dro social da educação do Nordeste, urna experiência desse tipo de­

veria conduzir necessariamente a uma tomada de consciência que im­

plicaria numa revisão concreta dos valores de convivência humana.

Do ponto de vista pedagógico, a experiência lhe parecera bem plan~

jada.

2. OS MECANISMOS DO RESTABELECIMENTO PROVTSÚRIO DA DISCRIMINACÃO E . . A INTERDEPEND~NCIA DE SUAS RELACÕES/EFEITOS

o Termo aditivo ao Convênio foi um instrumento dissimula

dor de atendimento às pressões que a congregação vinha sofrendo

por parte das familias, ex-alunas, religiosas (que assumiram em

1973 a direção do ColégiO Santa Lina) e até mesmo dos seus alunos'

que, no inicio, mantinham bom relacionamento com os colegas do Es­

tado.

54

A ausência da Madre "P" foi decisiva para os aconteci-'

mentos que se desenrolaram dai por diante. A sua consciência do

que é hoje, em termos de Igreja, a exigência de uma educação liber

tadora, a sua liderança, a consistência de suas atitudes, o seu'

exemplo quanto ao tratamento igualitário de todos os alunos, foi

substituído, de pronto, pelas medidas assumidas e consubstancia-'

das no próprio Termo aditivo do Convênio A partir dai uma primei­

ra separação foi estabelecida. As crianças pertencentes ao gr~po'

escolar do Estado passaram a lotar classes especialmente escolhi­

das para elas. Voltava assim aquela unidade à sua completa autono

mia dentro dos espaços ociosos do Santa Lina. "t; verdade que para'

funcionamento de um complexo não é condição, nem mesmo ditada pe­

la própria lei, que a integração chegue ao ponto da constituição'

de classes dentro do mesmo espaço físico entre unidades de ensino

autônomas, porém, pelas razões já explicitadas, assim acontecera'

em 1972, quando, não só no âmbito do espaço global, mas do espaço

restrito de uma sala de aula, se ombreavam os alunos da rede pú-'

blica e da rede particular.

Dai, a outros mecanismos utilizados, foi questão apenas

de tempo.

No primeiro dia de aula, a pretexto de "melho~ o~ganiz~

çã.o", foram distinguidos dois portões de entrada; um, para os al~

nos do Santa Lina, outro, para os alunos do Wanderley de Castro.

Sobre esse fato, comprovando-o, aludiram em suas entrevistas; as

diretoras do Wanderley de Castro, que se sucederam em 1973 r a coor

denadora do Serviço de orientação Pedagógica SOP) i uma professora

que atuava na secretaria do Wanderley de Castroi um grupo de alu­

nas do Santa Lina, ouvidas em entrevista coletiva e a professora'

nA" que supervisionou pedagogicamente o Cunha Pessoa, em 1973, e

o Arcebispo.

A planta física do ColégiO Santa Lina propiciava uma

parte central onde funcionava, no pavimento superior a Direção Ge

ral do complexo escolar, e duas alas laterais onde se localizavam

as salas de aula. Uma ala, era destinada aos alunos do Colégio

55

Santa Lina, e a outra aos do Grupo Escolar Wanderley de Castro. A

cada uma delas, correspondia um portão. Acontece que Uma das sé­

ries'do Colégio Santa Lina, por ausência de alojamento, precisou'

de ser acomodada na ala destinada ao alunado do Estado. A despeito

da p~etextada o~gan~zação, os alunos do Santa Lina não entravam p~

10 portão correspondente a sua ala, isto é, ao do alunado do Esta­

do, mas, pelo outro, que condizia com a sua condição de classe so­

cial alta. E mais: usavam um corredor, ao qual, não tinham acesso'

os alunos do Estado e que logo se tornou conhecido como o "c.o~~e- I

do~ de B e~l.bn" . 1

I

De uma entrevista:

"Quando ac.ontec.~a alaum aluno do Wande~ley I

di Ca~t~o c.hega~ at~~~ado e o po~tão jã e~-' ta~ 6ec.hado, ele não pod~a ent~a~ pelo do Santa L~na".

Inúmeros outros fatos poderão ser enumerados ratifican-

do a discriminação existente: eram mil e trezentos alunos do Esta

do dentro do Colégio (no 19 ano de experiência) e mil, no 29, con

forme o Termo aditivo) e das turmas pertencentes ao complexo esco

lar, 240 apenas do Santa Lina. 2

1 A exemplo da Alemanha, que após o término da 11 Grande Guerra Mundial foi dividida em Alemanha Ocidental e Alemanha Orien-' tal e construido, separando-as, um muro que se chamou "muro ' de Berlim", no complexo, o corredor, que segregava as duas ' clientelas que frequentavam o mesmo colégio, foi apelidado de "o corredor de Berlim".

2 A lei n9 5.692 foi impl~tada em 1972, incluindo apenas as quatro primeiras séries, que correspondiam ao antigo curso pri mário e as duas primeiras séries do ginásiO. No Santa Lina e no Cunha Pessoa só pertenciam ao complexo escolar essas séries. As, terceiras e quartas séries ginasiais continuaram a funcio­nar segundo preconizava a lei n9 4.024. Do Santa Lina,perten­'claro ao complexo, duzentos e quarenta alunos. Quanto ao Grupo

"Escolar Wanderley de Castro que anteriormente funcionava ape­nas com quatro séries teve as 5as. e 6as. séries compostas ' por alunos que procuraram vagas no Estado e que moravam pref~ ~entemente no Sairro em que se localizava o complexo.

56

Havia dois bebedouros elétricos: um em cada ala. Apesar

de o número de alunos do Estado ser significativamente maior, eles

não poderiam se servir do bebedouro da ala do colégio particular.

E, na verdade, inúmeras vezes foi necessário que a Diretora Geral

do Complexo interferisse no sentido de resolver problemas de crian

ças que concluiam o recreio sem haver tido tempo de beber agua

como muitos outros, que feriam o principio da' iqualdade de trata­

mento a que todos tinham direito, tanto alunos quanto professores

das três unidades escolares. Além desses fatos, mais três, basta~

te significativos, ocorreram. Já se mencionou que também com um I

clube esportivo da cidade foi celebràdo convênio, onde eram minis

tradas as aulas de educação fisica. A piscina do clube foi posta'

à disposição dos alunos para aulas de natação, com um técnico de­

signado para tal fim. Os alunos do Colégio Santa Lina nao só se

reeusaram a usar a piscina onde tomariam banho os alunos do Esta

do, como os pais exigiram a presença de uma Irmã, além da profes­

sora de educação flsica, para acompanharem seus filhos durante o

percurso do colégio ao clube e lá permanecer até o fim das ativi­

dades.

O Convênio com o Curso Anglo-Americano que dispunha de

laboratório de 11nguas, por outro lado, foi praticamente, só uti­

lizado pelos alunos do Estado. A clientela do Santa Lina preferiu,

a despeito da ausência de aparelhagem apropriada, permanecer com

aulas no colégio. A que frequentava os cursos ministrados pelo'

"Yazig", "Brasil Estados Unidos" e "Cultura Inalesa", solicitou '

que fossem aproveitados os seus "conceitos" nestas instituições,

no que foi atendida. Essas três entidades culturais foram creden­

ciadas pela direção geral do complexo, através da formalização es

crita, após entendimentos verbais estabelecidos.

E por fim, a tremenda reaçao do alunado do Santa Lina ,

por ocasião da reali~ação de uma "6e.ilLa de c..iênc..ia-6", tipo de ati

vidade escolhida para a culminância de uma das unidades pedagógi­

cas, no Colégio Cunha Pessoa, do Estado. Há a notar que, já haviàm

ocorrido outras culminâncias, no Santa Lina, e em um dos teatros'

da cidade sem qualquer objeção. A "6e.ilLa de c..iênc..ia-6" a despeito'

da reação r foi realizada no Cunha Pessoa, apesar de contar com

57

menor presença tanto das alunas do Sànta Lina, quanto dos seus

convidados. Com a convivência das Irmãs em todos estes fatos,crio~

se uma situação incômoda e de desentendimento entre a direção ge­

ral e a direção do Colégio Santa Lina. Em algumas ocasiões, foi so

licitada a interferência da nova Provincial.

Sobre a discriminação fala uma das Diretoras do Wander-'

ley de Castro:

"n5~ ~ab2amo~ que o E~tado pagava po~ no~~a '

pe~manência al2, ma~ acontece que no~ nao no~

~ent2amo~ bem, po~que não houve bom ent~o~a-'

mento com a~ 6~ei~a~. Pen~o que 60i po~ nece~

~idade que a~ 6~ei~a~ aceita~am ou p~opu~e~am

e~~e convênio. Ve co~ação, não ac~edito que'

ela~ tenham que~ido que nõ~ nô~~emo~ pa~a lã.

O~a, ~e 6aziam tanta di~c~iminação, e~a po~-'

que nao e~tavam 6elize~ com aquele tão g~ande

nüme~o de c~iança~ al2 na ca~a dela~. Com a

au~ência de Mad~e "P", muito~ 6ato~ oco~~e~am,

muita~ ~eclamaçõe~ que eu p~ocu~ava ~e~olve~,

evitando leva~ ao conhecimento da di~eção ge­~al. I~~o ~Õ oco~~ia quando me e~capavam o~

meio~ de eu em~ma ~olucionã-lo~. A~ no~~a~

c~iança~ e~am pob~e~; muita~ não tinham nem I

podiam comp~a~ ~apato~. Iam ao Colégio de ~an dãlia~ japone~a~. I~~o ce~tamente 6e~ia a~

6~ei~a~, a~ aluna~ do Santa Lina, a~ ~ua~ na -

m21ia~. Ao~ pouco~, at~avê~ da Caixa E~cola~'

n5~ 6omo~ uni6o~mizando, calçando, di~t~ibui~

do cade~no~, liv~o~, tudo. Receb2amo~ me~enda

c~cola~ e também di~t~ibulamo~ com ela~, poi~

muito~, ~abZamo~, iam pa~a o Colégio ~em ~e-'

que~ have~ tomado uma xZca~a de cané. Enquanto

i~~o, a~ aluna~ do Santa Lina di~punham de uma cantina que, no p~inc2pio, também dela ~e

podiam ~e~vi~ o~ no~~o~ aluno~. No ~egundo

58

ano de 6uneionamento do Complexo então, 6i­ze~am uma eantina pa~a o~ menino~ do Wande~

ley de Ca~t~o ( ... ) No p~imei~o ano, o~ " p~o6e~~o~e~ também ~inham di~eito a lanehe,

a~~im eomo o pe~~oal da ~ee~eta~ia. Vepoi~'

não tlnhamo~ di~eito nem a um ea6é. Re~olv~

mo~ o p~oblema, eomp~ando uma ea6etei~.a e 6azendo o no~~o, em no~~a~ p~óp~ia~ in~tal~

çõe~. Também a p~etexto de neee~~ita~em de' uma ~ala da 6nente, logo na ent~ada do eolé

gio, que no p~imei~o ano no~ óoi oóe~eeida'

e onde 6uneionou a 4ee~eta~ia da admini~t~a

ção do eomplexo, 6omo~ jogada~ pa~a uma ~a­

la mai~ pa~a t~ã~ e po~ poueo não pe~demo~'

no~~o a~quivo, po~que até eupim d eu e tive­mo~ de manda~ dedet~zá-la ã~ p~e~~a~. Real­

mente, 6omo~ muito humilhada~ ne~~a époea. Também o ~ee~eio. No p~imei~o ano e~am :t.o-'

do~ jun:t.o~, tanto 04 aluno~ do E~tad9,quan­

to o~ do Colégio Santa Lina. No ~egundo ano

60i de~taeada uma á~ea pa~a o~ do Santa Li­na e out~a pa~a a~ eniança~ do E~tado.

Dianta de todos os acontecimentos, desde a proposição ao

Estado da composição do complexo escolar, até aos fatos ocorridos'

e narrados ao longo de toda a reconstrução histórica da experiên-'

cia até agora, interessou à Diretora Geral do Complexo indagar do'

grupo religioso que representava o poder decisório, bem como dos

elementos que vivenciaram a experiência, se havia em todos uma

consciência profunda das implicações que uma opção desse tipo pod~

ria acarretar. Foram unânimes em responder que não.

Um deles falou que o que havia era "uma expeetativa"

"um e~pl~ito de bu~ea", "de que~e~ expe~-Últe.ntalL", "uma ee~ta pelL-' plexidade diante do pioneilLi.6mo da expelLiêl1eia" e do "de.6ejo de a.eeita~ e a~~umilL".

59 Outro disse do

h~eu compnomi~~o pe~~oal diante da que ha­

via ne6letido e do que de~ejava".

Admitia, no entanto, que uma coisa "é. ~e pen~aJt em algo,

outna, e. vivê.-lo"; "eJta alguma coi.6a nova", "mai~ um ~onho".

Um terceiro enfatizou a ausência da profunda consciên-'

cia do compromisso que se iria assumir

hpela au~ê.ncia também de, não ~e tendo ~

valiado ante~ o que podeJtia ocoJtJteJt, não he haveJt 6iJtmado uma po~ição que ~alva-r

guanda~~e a opção inicial".

Atribuiu como primeira falha na própria operacionaliz~'

çao do complexo, o fato de as Irmãs que estudaram, que decidiram,

que viram o problema e deram as futuras linhas de ação, não terem

sido as que assumiram o complexo por parte do Santa Lina, pela '

coincidência de dispersão: umas foram formar pequenas comunida-'

des, outras foram transferidas para outros colégios, de tal for­

ma que, a equipe que assumiu não foi a que decidiu, que optou pe

lo complexo, mas uma totalmente nova.

Além dos documentos oficiais já referidos e estudados '

pela Congregação, outros questionamentos eram feitos. Talvez o

mais significativo documento, quer quanto ao tema abordado e ao

nível das questões suscitadas nas "Re6lexõe~" a aue tanto se re

feriu em sua entrevista a Madre "C"-e que antecederam à adesão r

da sugestão da formação do complexo escolar- é o que passamos a

transcrever em seguida e que conseguimos para efeito de nossa

pesquisa:

Tema - EDUCADORAS PARA A JUSTIÇA

Slntehe dOh tnabalho~ de gJtupo

r - Cada gnupo tJtaga pana a ahhemble.ia o quehtionamento que o

Documento lhe 6ez. 60

1.

3 •

4.

5.

6.

7 •

I.

9.

10.

11 •

12.

13,

14.

1 5.

como podemo~ educa~ dent~o da ética comunitã~ia - humani~ mo novo - quando ~omo~ ainda óo~temente ma~cada~ pela étI ca individuali~ta?

temo~ que no~ opo~ a uma "~ociedade e~tabelecida". Como' pode~emo~ ~e~ agente~ de t~an~óo~maç.ão e leva~ no~~a~ alu na~ a t~an~no~ma~ e~t~utu~a~ inju~ta~,~e no~ colocamo~ r ainda ne~~a "~ociedade e~tabelecida"?

como óica~mo~ t~anquila~ educando um g~upo p~ivilegiado , quando uma multidão de joven~ não têm c.ondiç.oe-6 de ~ece-' be~ o m1.nimo de educ.aç.ão a qu~ têm di~.eito?

con-6ciente-6 do nO~-6O c.omp~omi-6-6o com a JU-6tiç.a te~emO-6 co ~agem de c.o~~e~ ~i~co e a-6-6umi~ toda~ a-6 c.on-6equência-6? -

o impa~-6e e. g~ande: -6entimo-no-6 qu.e~tionada-6 não -6Õ pela' p~e-6~ão que -6ob~e o a~~unto nO-6 6az a Ig~eja, po~e.m, ago­~a, mai~ de pe~to ainda, pela Cong~egaç.ão e pela -6ituaç.ão de u~gênc.ia, que nO-6 c.e~ca.

até que ponto e~tamO-6 evangelizando? a que c.la-6-6e -6oc.ial?

a-6 no~~a~ e~cola~ pa~a pob~e-6 têm o me~mo n1.vel, o me-6mo' atendimento que a~ nO-6-6a-6 e-6cola~ pa~a a cla-6~e alta?

~omo~ liv~e~ e libe~ta~ pa~a t~ata~ com 0-6 pob~e-6 como ' t~atamO-6 com o~ ~ico~ e ate. que ponto óazemo-6 di-6c~imina­ção de c.la~~e-6 ~oc.iai-6 ?

ate. que ponto temO-6 p~eoc.upaç.ao de c.on-6c.ientiza~ I1.O~-6a-6 ' aluna-6 ~ic.a-6 de que -6eU-6 ben-6 pe~tenc.em tambe.m aO-6 pob~e-6?

no~~o~ c.olégio~ que não têm c.ondi~õe~ de educ.a~ numa li-' nhalibe~tado~a pa~a a jU-6tiç.a, tem ~azão de ~ob~evive~?

todo o Voc.umento é um que~tionamento. O -6eu. t1.tulo jã ·nO-6 que~tiona, óo~temente, pela p~õp~ia e-6t~utu~a em que viv~ mo~ . ..

a c.on~c.ientizaç.ão p~etendida pa~a a ~e-e-6t~utu~aç.io da -60 ciedade, a c.omeç.a-6 da-6 6amZlia-6, e-6.taJtã pJtaticamente, a­tingindo nO~-6O-6 aluno-6 ?

~e~a que peJttenc.emo-6 a e-6-6e g~upo que pJtocfamando op~niõe-6 la~ga~ e gene~o-6a-6, na pJtãtic.a, vive -6em c.uidado algum ' com o~ nec.e-6-6~tado~ da -6ociedade ?

em no~~a~ e-6c.ola-6, a-6 g~atuidad e-6 e ILeduç.õ e.~ e~taJtão ~ en­do di-6tILibuida-6 ao~ mai~ nec.e-6~itado~ ?

em nO-6-6a-6 ca-6a-6, a-6 pe-6~oa~ que vivem c.onO-6c.o e no~ aju-' dam e-6tão ~ ec. e b endo a-6 g aILan.tia-6 da p~ ev id ênc...ta So cial ?

61

16. a "m etanõ -i.a" do.6 .6-i..6tema.6 educ.at-i.vo.6 nao .6 eJl..a tam b ê.m uma nec.e.6.6-i.dade nO.6.6a, pe.6.6oal ?

11 . .6eJtã que e.6tamo.6 Jte.6olv-i.da.6 a en6JtentaJt a luia pela jU.6ti ça c.om c.oJtagem, audác.ia, .606Jt-tmento, a exemplo de CJt-i..6to' que nada temeu paJta libeJttaJt o homem e Jtec.onc.iá-lo c.om ' Veu.6 ?

18. teJtemo.6 c.oJtag em paJta pa.6.6aJt d e uma educ.ação de c.un.ho ind-i. vidual-i..6ta paJta uma educ.ação libeJttadoJta ?

19. haveJtá em n.Õ.6 c.oJtagem paJta uma Jten.ovação de c.JtitêJtio.6, a.6 .6um-i.ndo .6ua.6 c.on..6equênc.-i.a.6 ?

20. teJtemo.6 c.apac.-i.dade paJta .6eJt o "ec.o" do.6 homen..6 .6em voz .6egundo CJt-i..6to CJtuc.-i.6-i.c.ado ?

21. c.omo educ.aJt paJta a l-i.beJtdade, .6e n.O.6 nao n.o.6 .6en.timo.6 ain. da lib eJtta.6 ?

22 • .6ent-i.ndo a 60Jtçado que.6t-i.on.amen.to, dua.6 atitude.6.6e n.O.6 -i.m pU.6 eJtam :

uma, Jte6eJten.te ao pa.6.6ado: pJt06un.da humildade, .6in.c.eJti­dade, c.Jt-i.t-i.c.-i.dade, 6ac.e ã n.O.6.6a omi.6.6ão c.omo educ.adoJta.6 paJta a jU.6tiça;

• outJta, Jte6eJten.te ao 6utuJto: c.oJtagem ~van.gél-i.c.a paJta n.O.6 Jteeduc.aJtmo.6 e podeJtmo.6 .6eJt o que .6omo.6: in.6tJtumen.to.6 vi VO.6 de "mudan.ça".

23 • .6eJtã que .6omo.6, -i.n.c.on..6c.-i.en.temen.te, c.olaboJtadoJta.6 de .6itua ç6e.6 de opJte.6.6ão ?

24. no.6.6O "e.6t-i.lo" de educ.aJt e de quem peJtten.c.e ao teJtc.e-i.Jto ' mundo?

Sejam quais tenham sido os resultados da discussão des­sas questões, o que há a ressaltar é a defasagem entre o que era teoricamente suscitado e o que, realmente, na prática, foi viven­ciado no complexo escolar.

3.° Ao RESCISÃO DO CONVt:NIO E EXTINCÃO DO COMPLEXO °

Do ponto de vista pedagógico, segundo informações pres­

tadas pelos professores que res~onderaM a "entrevista estruturada

escrita",l elaborada para fins dessa nesnuisa e oue constou de '

1 Entrevista distribuída CO!'l 59 professores dos 65 que trõbalha

ram no complexo escolar.

62

doze itens, sendo o~ seis nrimeir03 rel?cionado~ õ a~ryecto nedõ'Tn­

gico, como p1anejaI"lento c.as ativida(es docentc~ (.iteT"l 1.1), trf"~in~

mento continuado do ryrofessnrado, (iteI'" 1.2), orienta~~n ~Qtodol~­

gica, visando ao i=avoreci~ento de ~eu desenvo1 ""t!'!'entn ncssna1, e~ ~ - ~ _unçao do a1unado, (itens 2, 3 e 4), inte"r2r~n ry~~Rno~ic~ entre'

os três estabe1eci~entos ce 8n~ino (itens 5 e 6), ~0,~~ nn corryn

docente r.;:ue trabalhou no cOI"ln1exo reSryOnc.8U " entrevistél. l)est0.;; ,

38,1% o fizera~ ~03itivarncnte.1

r·as a situação do Corn1exo, -::;ob o Donto de ,ri_sta c-n rruc'

vem sendo analisado, tornara-se in~ustcntável.

Qu~nno das entrevistas snhre é'lS rõzoes rmp. rnti vz~rar1 (1

d . - ..:J -", l' - , eC1sao L:a con0re~a~ao ~e reSC1n~lr o conv~nlr cn~ o

ser.uenterr:ente, extinr'llir n cnIT'nlexn, a visãC' de cacl~ relini.oe;a

diver0ente e ~e justifica nor n03icionaJ'11entn~ nr~ryrioc;.

con ~

e

J\ ~'õnre li,,?" ?.1p.C'C'l., nriori tari~.J'11ente, o nro}:lerC'l financel

ro e ::ecundariaT"ente, fI.if.i cu1c'ades i!e entrn",~,!,l(mtn entre cler"ê!ntos

ta direção relin;nsa e direcão ererõl (lo cOr1nlexn.

'!' r'adre "C II fal~ do ....,rohlr~Ma +'in?nceirn, :-"'lar; :>obr~turo '

da pressão exercfcla nelas outras I-r:'!"'Fic;, c 2C: -l!?p'tlié:s r1.:l'1'l.11l112,S

e raci.onalizar.ão 2 n nro!Jlena com a aI"lnlia~?o rn Cnrc;o 'I0tnrnn, (!~

dicado ao atendi·'1Pr..to a Ur.lR clientela recon~ecic'él.rn~nte r'Pi clae;se '

baixa, e a Madre li:!:," renuta. "r..-to de ~1tcrr;tte.z("'." ~ re""cisão (~o convê­

nio, anesar das diftcu1~R~es ~6 ordn~ ecnn~~ic2 0U~ ?tr~ve::snT~M.

---------------------------------- ----~-----------

1 Em tcr!:'05 d0 ac::nr::!cto necõr-<óq:t co, r1~c;enu('·1 uj 00 no cOn"1"')l0.xO ~c::co lar, d0s 59 nrofessoreR 0ue r,.,,~1"on(1~rar ~ 0ntr0Ui.<;tZ', S., o~t= zerar' (~e T"c.neirél no~:;itivél lfUitntn as seie; nri_"I"!.tras ncrnuntê'.s. !lo corno da '"'isscrtç,rFío cC'nRtRT" cenOiP1~nt0<; extr? te'o,:; ,"'..e"tél "entrp.vinta" ~ue cnnf~re~ cor n élcira RfirM~~n.

2 :Racionalizarão neste cO:ltextn, estFi tn":l?rn nn c::nnti.rn T)c;~_cnl()-. d " ~ 11-' f ~ 11' t ~ t ' ] ~1CO e mAcanlRno ce çC.esa LIO eon , 15 n e, n~n~r ~oC1~_~en

te A.cci t~.VCÜ un connortrtffi(mto r:U8 na rnC'llicade se contra;:>õc T

~ns nrincInios por elA rlefendinos.

63

Essa divergência de opiniões pode ser constatada na sin

tese dos discursos que se seguem:

A Madre "T" fala das dificuldades de ordem prática mui

to sérias que o Colégio Santa Lina teve de enfrentar com a cele-'

bração do convênio.

"Não tlnhamo~ talvez p~ev~~to dev~damente o~ enea~go~ ó~nanee~~o~ que a ~eal~zação do eonve n.i.o t~a~.i.a".

Salientou o "dê.ó~e~t" financeiro havido no 19 ano l de'

experiência, e do que, certamente, as aguardaria no ano seguinte.

Não tinham presente que, para realizar bem a experiência, precis­

sasse a Congre9ação de contar com maiores meios materiais próprios.

E esse elemento, sequndo ela, nao existia. Acreditava que, dando'

a colaboração da casa, do pessoal, de um colégio já existente e

funcionando com toda a sua tradição e com os recursos normais,fo~

se suficiente o pa9amento dos alunos que o Colégio Santa Lina po~

suia. Entretanto, ao estudar sobre a realidade, chegou à conclu-'

são de que não teriam nenhuma possibilidade de cobrir o excedente.

Pensou então desde aquele momento:

" ... pa~eee que o ma~~ aee~tado é ab~~ma~mo~ , a no~~a l~m~tação dent~o do campo. rue~ d~ze~: não temo~ me~o~ econôm~co-ó~nance~~o~ que no~ pe~m.i.tam aó~onta~ o pe~o de~~a expe~~~nc~a. E~~e, e~e~o, 60~ o elemento p~~mo~d~al. O que ma~~ pe~ou".

Mas falou também de outros motivos, entre eles, a ausên cia de entendimento entre todos os elementos da direção religiosa e da direção geral do complexo:

" ... houve pequenaa d~ó.i.euldadea de ent~oaamen to, talvez po~que oa nlve~6 me6mo e~am d~ve~~ ~o~: de eon~~de~açõe~. de e~tudo~. de objet~-

1 Esta afirmativa se contradiz com o que expressa em entrevista' a Madre "P".

64

vo~ e no p~õp~io eneaminha~ do~ aeonteeimen-' to~ ( ... J Po~~o dize~: o~ no~~o~ elemento~ , nao e~tavam devidamente p~epa~ado~ pa~a en­~~enta~ a ex p~iêneia. Po ~~o e devo diz e~ ma~ o p~oblema 6inaneei~o eontou muito".

Acreditava que se o Estado pudesse ter dado desde o

inIcio uma cobertura maior, facilitado a parte econômica, a Con-'

gregação teria ido avante e o convênio sido realizado até o fim.

Crê mesmo que essa experiência possa ser válida para futuros con­

vênio que outros grupos desejem vir a fazer.

Adiante, alegava:

" ... também pe~demo~ muito~ aluno~ po~ eon.:ta" do eonvênio, e ~e não tivé~~emo~ aluno~ que pagaó~em, não te~lamo~ eondição 6inaneei~a de mantê-lo" .

Afirmou que se a entidade particular afirmar de inicio'

à sua total incapacidade, se de fato a tem, de entrar com recur-'

50S especiais na hora em que lhe faltem os alunos ou que

"de~i~tam de ~e~ aluno~ po~que houve o eom­

plexo, po~que houve a união de toda~ a~ ela~­~e~ e po~~am eonta~ eom a ajuda ~ub~taneial '

do pode~ públieo, então que out~a~ expe~iên-'

eia~ ~ejam tentada~".

E concluiu:

" •.. no~~o ideal evangélieo ~e~ia, digamo~,de continuidade do eomplexo, ma~ no~~aó eondi-' çõe~ 6inaneei~aó não pe~miti~am ~u~tenta~ o ba~eo" .

Procuramos entrevistar também a Madre "e" que afirmou'

ter havido rescisão do convênio devido ao fator econômico. Disse

que elas, da "emp~eóa p~ivada", não têm grandes condições. Hoje;

o que fazem é manter as instituições que já possuem. Investem f r

í f

I

65

com o trabalho das Irmãs, um grande trabalho sem dúvida, mas o

que acontece é que, mesmo Irmãs que se dedicavam ao magistério, li

cenciadas em faculdades, e até com cursos no exterior, hoje prefe­

rem trabalhar nas paróquias, engajarem-se nos misteres de pastoral

que apesar de um excelente trabalho traz dificuldades para as esco

las. E acrescentou:

" ••• então, quando -6uJtgi./lam pJtob.tema-6 n .. üian-' ceDlo-6 pana nÓ-6 .tã do Santa Lina, nO-6 apavo­~amO-6. Não êJtamo-6 pe-6-6oa-6 que tivê-6-6emo-6 -6en ~ido admini-6tJtativo, 6inanceiJto, econômico; que pudê-6-6emo-6 paJttiJt pana coi-6a maioJt, va-' mO-6 dizen, empJtê-6timo .. ~, pOJt exemp.to".

Continuando sua entrevista, a Madre "C" mencionou a influência do

que chamou de innJta e-6tnutuJta, aumentando-lhes os temores, e o sur

gimento de outros problemas. Referiu-se ao grande-idealismo do gru

po, da equipe de implantação que não aceitou me-6mo o diã.togo com' 0-6 pai-6 dO-6 a.tuno-6. Segundo ela, mais de 60% do alunado transfe-'

riu-se do colégio no segundo ano da experiência, fato este 0.Ue as

surpreendeu sobremaneira. Disse que, se se houvessem melhor prep~

rado, mais refletido, se tivesse havido uma cobertura maior,l po­

deriam, quem sabe, levar adiante a experiência. Acrescentou:

" •• • nõ-6 Jtea.tmente -6entimo-6 que a opç.ão pJti-' meDla que óoi dentJto da .tinha do Vaticano 11 e Mede.t.tin, não 60i ne-6pondida. Temo-6 que conóe-6-6aJt I ... l temo-6que a-6-6umiJt nO-6-6a-6 de-6iciência-6. Ma-6 ningu.ém podia pJto-6.6eguiJt o' ~aba.tho com a equipe apavoJtada, em di6icu.t­dade-6, cniando ten-6õe-6 de um .tado - ten-6õe.6' de outJto - pOJt paJtte da-6 óamltia.6 da.6 a.tuna-6, ten-6õ e-6 tam bêm pOJt pallte da-6 e.x -a.tul1a-6, do

1 Não se refere a quem pudesse ter dado essa cobertura. o Esta-' do? A própria Congregação (desde que se tratava de uma expe-' riência profundamente significativa em termos de Igreja) que' possuindo COlégios em vários paises do mundo, um melhor situa­do economicamente pudesse assumir as dificuldades de outro, co mo posteriormente aconteceu com uma instituição da mesma Con-' gregação e com fins menos nobres, em termos evan~élicos que ' foi amparada em suas dificuldades pela Con9re~ação?

" 66

pe~~oal docente 1 além do de no~~a~ l~mã~.

Acredita, disse ela, que o ideal teria sido que pudessem

ter revisto a opção primeira e haver caminhado naquela linha. Entre

tanto, fizeram uma revisão e

"tenta~am dJ.ante da. Ig~eja, ~alva~ aquela o pç.ão rr •

estendendo até o segundo grau, um ginási02 noturno que mantinham,

e que ia só até a oitava série, abrindo uma profissionalização na

área de magistério. Os resultados estavam sendo satisfatórios, des

de que, da primeira turma, catorze diplomados haviam se submetido'

ao exame vestibular e sido aprovadas. A grande maioria estava sen­

do recebida pelas escolas do Estado, cursando o supletivo.

Continuando a pesquisa junto aos elementos da Congre0a-'

çao para comprovar as suas interpretações, quanto à rescisão do

convênio e extinção do complexo, obtivemos o pronunciamento da Ma­

dre !lp". Ela expressou ter sido, em sua opinião, o fator mais forte

do desfecho dos acontecimentos que levaram a não continuação do

1 O pessoal docente a que a Madre "C" se refere, deve ser às Ir­mãs do Santa Lina aue ensinavam no complexo. Na realidade, não se verificava discriminação por parte do restante do professo­radoleigo, mesmo do Santa Lina, que dava aula aos alunos das turmas do Estado. A esta altura, todo ele, por solicitação da Diretara:-"r,eral do Complexo, havia sido contratado pelo Estado. Esse pedido se deveu a dois motivos: a) com o aumento de turmas pelo acréscimo das 7as. séries em

1973, ter-se-ia necessidade de maior número de professores. Assim, preferiu-se aumentar a carga horária dos docentes ' que já atuavam no complexo, evitando-se treinamento aos no­vatos, e aprofundando os estudos com os que trabalhavam lá desde o inlcio, e

b) neutralizar neles, qualquer possível sentimento discriminató rio, desde que passaram a ensinar tanto à clientela do San-­ta Lina, o que já vinham fazendo, mas, agora também, a das escolas do Es~ado.

2 Vale salientar, que o ginásio mantido à noite, era para pes- , soas da classe baixa. O segundo grau aberto, continuou a aten­der a esse mesmo tipo de clientela. Assim sendo, a opção dian­te da Igreja não foi salva, porque a discriminação continuou a haver.

67

desfecho dos acontecimentos que levaram a nao continuação 00 com­

plexo, justamente a reação de toda a classe alta que o colégio

Santa Lina atendia anteriormente, e que continuou atendendo aoós'

o convênio. Toda a reação foi provocada não só pelas alunas, pe­

los pais das alunas, e sobretudo pela grande massa das antigas a-- - - .. 1 lunas, que la vem sendo educadas, ha ma1S de cem anos.

Falou de sua "c.o n.6tvr..na.ç.ão" diante dos fatos ocorridos,

istoé, das razões que motivaram a decisão da Congregação de res-'

cindir o convênio. Disse:

" ••• o que c.hega.mo.6 a. ;(;Jr..a.n.6miti/t de Evang elho a e.6.6e pe.6.6oa.l? Pode .6e/t que tenhamo.6 óeito' muita. c.oi.6a., po/tque tudo, no B/ta.6il, .6e fiez na. ba..6e da. .6a.c./tamenta.liza.ção. Ma..6, c.omo c.on.6 eiênc.ia. nova. de Ig/teja., me pa./tec.e um tempo I

a..6.6Zm qua..6e que pe/tdido. Nô.6 n0/tma.mo.6 pe.6.6oa.6 "boa.zinha..6" que .6ão a. c.la..6.6e a.l.ta.".

E, mencionou também outro fator que reputa importante:'

o significativo atraso com que a Secretaria de Educação cumpriu '

os seus compromissos financeiros, rezados no convênio, acrescen-'

tando que, apesar disso, os ressarciu todos, embora a última par-

cela haja recebido do Secretário, um ano após a rescisão do conv~

nio. Este fato, realmente, criava dificuldades enormes sobretudo,

à época do pagamento do professorado. Foi necessário então fazer'

empréstimo em banco, arcando com todos os juros. Entretanto, a­

crescenta:

" •• • me.6mo a..6.6im, .6e não tivemo.6 luc./Lo, tam­

bém não tivemo.6 p/Lejulzo, no .6entido de que houve uma. c.obe/ttu/La. pOfr.. pa./tte do Ef.dado,da.6

de.6pe.6a..6 e de tudo o que 60i 6eito".

Outro aspecto também mencionado pela l!adre "P" e que I

em sua opinião também contou muito, foi o seguinte: o Colégio San

1 Vale acrescentar que esse é o Colégio mais antigo fundado na

cidade de Recife, e tido como o terceiro do Brasil.

68

ta Lina contava entre 400 ou 450 alunas, e, com o complexo, pas-'

sou a ter este número mais que triplicado. Houve, poder-se-ia di­

zer, urna invasão no colégio e, justamente por pessoas da classe '

baixa, que não têm naturalmente certos hábitos de educação, de hi giene, de limpeza e, segundo ela mesma, "é nOlLmal que .[.t,;to ac.onte

ça". Então, esse número tão grande de alunos fez com crue o colé­

gio não tardasse a aparecer com paredes, portas, sanitários, tudo

sujo, inclusive com "palavlLõ e-6" o que, segundo ainda a Madre "P",

"não é e-6pec.Z6ic.o da c.la-6-6e baixa. Com a c.l a-6 -6 e aLt a que -6 em plL e ti v em o -6 em no -6 -6 o -6 ' colégi..o-6, ele-6 não apalLec.i..am em me.nOIL e-6c.a. la" •

Acontece que, naquele momento, o "pivot" de tudo era quem tinha '

chegado, portanto, a classe baixa. Tudo lhes era atribuido e as

alunas do Santa Lina diziam que o colégio estava urna imoralidade'

por causa "de-6-6a. c.la-6-6e" que "e-6ta.va. mi-6tulLada." com elas, quando,

na realidade, fala a Madre "p":

" •• • nó.6 que. temo.6 c.olégio.6, -6a.bemo-6 que. , a toda hOILa., e.6ta.mO-6 plLec.i.6a.ndo 6a.ze.1L lim­peza e c.o n-6 elLva.ç.ão do mo biliâ.lLio" .

Acreditava que tudo isso influiu, e influiu inclusive '

nas Irmãs que pertencem à classe alta, vivem nela e não foram ca­

pazes de descobrir valores mais altos além desses aspectos adjeti

vos, esquecendo-se ou não enxergando o que representava em termos

de Evangelho aquela experiência.

Continuando seu depoimento disse que

" ••• Em C.e.lLto .6e.ntido, ac.lLeditava que houve.

uma 6alta. de c.on-6c.iênc.ia pIL06unda., de. uma

opç.ão muito .6élLia que 60i aquela. pO.6iç.ão ' a.6.6 um i..da •

69

Movi.ry entou a c..ldad e .i.nte.úr.a: j olLna.l-6 6ala-' vam, pa.l-6 6alavam, todo mundo 6alava. TlLa­tava-~e então, lLealmente, de uma c.o.l-6a -6e-' lL.la e não de uma blL.ln~ade.llLa. A IglLeja -6e ' man.l6e-6tava também. LemblLo-me que, em uma' c.onvelL-6a que t.i.ve c.om o AILc.eb.i.-6po 6alando ' ~oblLe a palLte 6.lnanc.e.i.lLa do c.onvên.i.o, numa' oc.a-6.lão em que a MadlLe PlLov.i.nc..i.al v.i.ajava,' ele me d.l-6-6e: "Eu, pe.6-6oalmente, ac.ho que' ~e o E-6tado nada paga.6-6e a ConglLegação elLa' a ConglLegaç.ão quem develL.la pagalL ao E-6tado, pela opolLtun.ldade que ele lhe-6 e-6tá dando ' palLa lLeal.lzalLem aqu.i.lo que eu a-6 e-6c.ute.i. d.i. zelLem naquela lLeun.lão de julho em Ol.i..nda. -Ve-6c..l a-6 lade.llLa-6 de Ol.lnda med.i.tando: Que c.o.l-6a-6 e-6-6a-6 llLmã-6 e-6tão pen-6ando, ma-6 nâo' vão telL c.olLagvn de 6azelL! Quando v.i. c.onc.lLe­t.lzado o c.onvên.i.o, então ac.ho que o E-6tado' e qu e d ev elL.la -6 elL C.IL edolL d e v o C. ê.6". Então , lLepet.lndo, palLa m.i.m, 6altou e-6-6a c.on-6c..i.ên-' c..la de que o que -6e e.6tava 6azendo elLa algo "h.l-6t;IL.i.c.o", dentlLo da ConglLegação, dentlLo' da IglLeja do Rec..l6e e dentlLo da plL;rlL.i.a .60-c..ledade do NOlLde-6te".

Concluiu a sua entrevista dizendo que jamais concordou'

com um ato que considerou "6ILaqueza", apesar de todas as dificul­

dades, mas que, acreditava, poderiam ter sido contornadas, se na

realidade tivesse havido um outro espírito a comandar. Acrescen-'

tou que não deveria ter havido má vontade por parte da Provincial,

mas ausência de capacidade criativa e de uma pessoa que no momen­

to houvesse sustentado a opção.

1 Uma das notícias dadas pelos jornais da cidade tem como títu­lo - "Secretário firma convênio com Congregação Maria Imacula

·da". Fala da assinatura do convênio, oficializando assim o primeiro complexo escolar misto pernambucano. Dá os nomes das unidades públicas que o compõem e o da unidade particular, as sim como o da diretora do colégio particular e da diretora qe ral do complexo. -­Diz das obriga2ões de ambas as partes convenentes, do número' de anos de vigencia do convênio, da avaliação anual a ser rea lizada e definição, a rartir dai, das diretrizes a serem se-T

guidas. Trata ainda do funcionamento dos complexos existentes no Esta do e da previsão para o ano seguinte de mais um, também misto, cujos colégios públicos e particulares que, deveriam fazer par te do processo, só oportunamente seriam escolhidos. -(Diário de Pernambuco, 10/07/1972).

70

Com relação à continuidade ou extinção do convênio, as'

Irmãs que funcionavam no complexo foram consultadas pela provin-'

cial, e todas, à exceção de uma, manifestaram-se contra a sua con

tinuidade. A Madre "P", Diretora do Santa Lina, durante o primei­

ro ano e segundo semestre do segundo ano da experiência, não foi'

sequer consultada.

Já no principio deste capitulo, foi relatc.da parte da en

trevista realizada com o Arcebispo de Olinda e Recife. Retornar-'

se-á a ela agora, no que diz respeito aos seus arqumentos, que

contrastaI)1 fundaI!lentalI!lente, tanto COI!l os da Madre "e" quanto com

os da Madre "Til, no que tange à rescisão do convênio. Para ele

os motivos financeiros não justificariam jamais a ruptura do con­

vênio, em se tratando de experiência tão expressiva, também .em

termos pastorais.

são suas as palavras que se seguem:

"Eu ~onhe~i e~ta alegaçio do a~peQto 6inan-' ~ei~o. Até me diziam que a~ Qonta~ e~tavam ' ~ei~a~ a lãpi~ e paeel na mão, ma~ a1 é que e 6~aQa a no~~a opçao pelo~ pequeno~. Em teo ~ia, depoi~ do VatiQano 11, no~ e~tamo~ de~I dido~ a niQa~ Qom o~ humilde~, Qom o~ peque~ no~, ~omo nez o C~i~to que veio pa~a todo~ , ma~ op~ou pelo~ ~em vez e ~em voz. E na ho~a de pe~de~ o~ p~ivilégio~, na ho~a de Qonta~' O~ ~o~tõe~~ muita~ veze~ no~ 6alta Qo~ag em".

Referiu-se às ligações da Igreja, através dos tempos,

com as classes dominantes mas também, das esperanças em todo o

mundo, sobretudo após o Concilio Vaticano lI, a II Conferência Ge

ral do Episcopado Latino-Americano em Medellin e os recentes Sino

dos, de vê-la "arrancada da enqrenagem capitalista", na qual está

inserida, e de volta às suas mais remotas origens.

Quanto ao Colégio Santa Lina, falou do conhecimento que'

teria tido da queda da matricula, da discriminação havida por par

te das Irmãs (problema dos portões, bebedouros, etc.) e das exi-'

I I f

gências das famílias, dos pais dos alunos, das ex-alunas, o que

considerou "mai.6 uma capitulaçã.o inc.ompne.e.n.61.ve.l da.6 lnmã.6".

Concluindo disse:

11

Eu che.gue.i a dize.n ã ne..6pon.6ãve.l mon, ã pnovin-' cial, que. ne..6pe.itando a de.c.i.6ão de.la, la.6timava' p1Lonundame.nte. aque.le. de..6ne.c.ho, ponque. al1. e..6tava uma da.6 gnande..6 e..6pe.nança.6 da ne.novação da l~ne.­ja em nace. da.6 cla.6.6e..6 .6ociai.6, ponque. amanha ' quando houve.n uma mudança de. .6ituação e. a mim me. pane.ce. que. a mancha do.6 te.mpo.6 e ba.6tante. impla­cáve.l, nô.6 nicane.mo.6 muito .6e.m e.xplicaçõe..6 pon ' have.1Lmo.6 abandonado a cla.6.6e. populan. I ... J Vi.6-.6e. claname.nte. que. la.6timava que. o contnato nO.6.6e. 1Le..6cindido e. nao .6e. te.nta.6.6e. continuá-lo me..6rno ' com .6acninZcio.6, com ni.6co.6, .6abe.ndo que. have.nia c.e.1Ltame.nte. diniculdade..6 ninance.i1La.6 gnave..6, pon­que. o .6aldo em te.Jz.mO.6 de. e.xpe.niê.ncia, e.m te.nrno.6' evangelico.6, .6em dúvida, c.ompe.n.6ania qualque.n o~ tno. Salvo e.ngano, também a e.xpe.niê.ncia que. e..6ta va .6endo conduzida aqui e.m Re.cine., e.na da.6 mai.6' 6e.lize..6 . Eu tenho ligaçõe..6 com vánio.6 ponto.6 do paZ.6 e. .6e.i que. dL~icilme.nte. .6e. pode.nia e.ncontnan out1La' expe.niê.ncia que. tive..6.6e. ne.unido .6ob o ponto de. vi.6ta admini.6tnativo, de. vi.6ão e.ducacional e. da chama que. a animava, outna que. no.6 de..6.6e. tanta e..6 pe.1Lança como e..6.6a vivida a.qui.

Ai estão os pronunciamentos mais significativos das pes-'

soas que participaram da origem, do funcionamento sob vários anqu­

los, da rescisão do convênio e da consequente extinção do Complexo

Escolar Manoel Leonardo.

4. NOVA EXPERItNCIA, NOVA CRISE

Não foi só no Complexo Manoel Leonardo que ocorreram fa­

tos que identificam discriminações entre clientelas de classes so­

ciais diferentes.

O Colégio de Aplicação, do Centro de Educação da Universi

dade Federal de Pernambuco, presentemente, vive crise idêntica à

do Complexo, após convênio celebrado em 1975 com a Secretaria de

12

Educação do Estado. Em função deste convênio, o colégio, antes, ex­

clusivamente composto por clientela pertencente as classes média e

alta, economicamente falando, e bastante definida, sob o ponto de

vista intelectual - filhos de professores da própria universidade ,

arquitetos, engenheiros, médicos, etc. - com altos niveis de aspir~

ção com relação aos seus filhos, passou a receber alunos enviados '

pelo Estado.

Duas turmas sao encaminhadas pelo sistema escolar estadual

e, uma turma da mesma clientela anterior, foi mantida. Em contrapa~

tida, o Estado se obrigou a oferecer a parte profissionalizante, en

quanto, gradativamente, passou o Centro de Educação a extinguir o

19 grau.

A-reação logo se fez sentir por parte dos professores, pe­

las familias e também pelos próprios alunos do Centro.

De u'a mae de um dos alunos do colégio, o Diretor do Cen-'

tro recebeu um bilhete, onde ela dizia que o Colégio de Aplicação '

estava "mi.6tu!Lando a.6 !Laç.a.6", além de uma carta anônima de al~ém '

que se dizendo mãe de um aluno do Colégio, criticava a medida assu­

mida pelo Centro de Educação, desde aue os alunos do Colégio iam

perder muito, pois os do Estado não tinham condições intelectuais '

para acompanhar o nivel dos meninos do colégio; que as classes homo

gêneas iriam se tornar heterogêneas, prejudicando a aprendizagem :~

dos alunos do Colégio de Aplicação.

A crise sob forma de reaçao atingiu também aos alunos.

Quando eles tomaram conhecimento da entrada do alunado do Estado

fizeram cartazes e pregaram nas paredes. O pátio estava sendo capi­

nado. Um dos cartazes, entre outros, dizia:

"Veixem o mato c.-'lf...6CelL, palLa a.6 6elLa.6 do E.6-

tado que vêm a1".

o corpo docente se dividiu. Há o grupo dito "!L eac.io nã.lL-Ío " , "tlLad-Íc.ionai" que acusa os que se dizem "plLog!Le.6.6i.6ta.6", da situa­

cão a qu.e foi levado o Colégio de Aplicação, embora, afirme o Dire-

73

tor do Centro que a mesma no momento é mais pacífica.

o fato é que, a partir do aumento do número dos alunos'

do Centro de Educação, o colégio, que, por determinação legal,

foi criado, e isto na década de 1950, a fim de servir de campo de

estág-io àquela cli.entela, já não oferecia mais condições de c um.,.., ,

prir aquele objetivo. As turmas se constituiam de apenas trinta'

alunos. Além disso, começou-se a questionar o tipo de estágio ali

realizado, uma vez que o Colégio de Aplicação era diferente da

situação real das escolas onde os licenciados iriam atuar: esco-'

las estaduais, normalmente frequentadas por clientela da classe '

baixa, com um nível de aprendizagem inferior.

A fim de sanar esta situação foi concretizado o convê-'

nio com o Estado.

Segundo o entrevistado, os professores afirmam que o

desempenho do alunado, hoje, é bem inferior ao de anos atrás, o

que os desistimula nas suas atividades didáticas.

No Brasil todo, vem se estudando e se questionando a va­

lidade ou não da manutenção dos Colégios de Aplicação. No caso es

pecifico do Centro de Educação da Universidade Federal de Pernam­

buco, o seu Diretor é de parecer que ele deve continuar, por que

acredita que não "de.vem .6e.JL e.xtin.ta.6 in..6ti;tuiç.õe..6 que., me..6mo c.om

~ua~ limitaç.ãe..6 atuai.6, já pJLe..6taJLam JLe.le.vante..6 .6e.JLviç.o.6 ã c.omun.i

dade.". Opina, de modo geral, que deve haver maior flexibilidade,

menos elitismo. Um Colégio, enfim, aberto a todo tipo de cliente­

la. Para isto, torna-se necessário uma reformulação que dependerá

em grande parte do corpo docente que se disponha a atender a este

tipo de alunado mais diversificado.

Há pOucos meses, em Belo Horizonte, houve um Primeiro '

Encontro Nacional de Colégios de Aplicação, promovido pelo Minis­

tério de Educação e Cultura, Departamento de Assuntos Universitá­

rios (DAU) e a este Encontro do Estado de Pernambuco só a Univer-

74

sidade Católica, que também mantém Colégio de Aplicação, se fez (

representar. ~ de supor que as crises, sejam quais forem os moti-'

vos, são gerais. A Universidade Federal da Bahia extinsuiu o seu

Colégio de Aplicação embora as razões reais que a levaram a isto ,

sejam desconhecidas do entrevistado.

No capitulo seguinte, além das orientações do Estado em

relação à Educação no Brasil, levantar-se-ão questões sobre o fenô

meno da ausência de integração social no Complexo Escolar Manoel '

Leonardo e tentar-se-á uma análise explicativa das ocorrências in­

ternas, lá verificadas, de discriminação social.

CAPITULO IV

O SENTIDO DA CRISE

Neste capltulo, far-se-á uma rápida recapitulacão do

que foi historiado até o presente com relação ao Complexo Escolar'

Manoel Leonardo, sobretudo, auanto ao objetivo alvo deste estudo:

a integração social.

Após, ver-se-á qual a orientação do Estado, em termos de

equalização de oportunidades educacionais e alternativas de respo~

tas capazes de responder às razões que levaram à extinção do conve

nio.

O Concllio Vaticano II e a II Conferência Geral Latino-'

Americana em Medellin, através de suas recomendações com relação a

educação, sugeria integrar: escola particular com escola pública

universidade com universidade; classes sociais. Formar no homem

uma consciência social, de tal forma que ele possa se assumir e a

sua vida em quaisquer das áreas, polltica, econômica, cultural, etc.

As Irmãs do Colégio Santa Lina, tendo estudado esses do­

cumentos, haviam se inclinado a enfrentar a experiência na linha '

por eles preconizada e assinaram um convênio com o Estado a fim de

concretizarem aquelas recomendações.

A Lei n9 5.692 por sua vez, su~eria adoções de soluções'

que poderiam ser realizadas através do artiqo já citado no corpo ,

deste trabalho lia e.ntlLohagem e. .<.nte.lLc.omple.me.ntalLidade. dOh e.htabe..t~

cime.ntoh de. e.nh.<.no e.ntlLe. h.<., ou c.om outlLalJ .<.nht.<.tu.<.ÇÕe.h .6oc..<.a.<..6

a 6.ún d e. a pILO v e..<.talL a c.a pac. '<'dad e. o c..<.o h a de. u nh palLa .6 u pJt.i.IL de. 6'<' - , ciêrlc.<.ah de. outJtOh". Por outro lado, documentos oficiais e pronun

ciamentos de autoridades ao situar claramente a função da educação

no contexto de um planejamento geral, nos revelam a orientação do

16 Estado.

1. A- EQUAL-IZACÃO- DE- OPORTUNIDADES EDUCACIONAT S

NO ~BITO DO ESTADO

Interessa cqui apontar, particularmente, o conjunto de

concepções derivadas da crença da equalização social, relacionan­

do com a da escolarização.

o conhecimento dos estudos de Edmond F. Dennison, nos'

Estados Unidos, atribuindo à educação o aumento de percentual na

taxa de crescimento da renda nacional naquele país, fez com oue o

interesse pela educação começasse a crescer e se atribuísse a ela

um maior significado no desenvolvimento social e econômico dos

países subdesenvolvidos.

"Quem de.6c.onhec.e que ê no c.ampo da Educ.aç.ão ' que .6e t~ava a maio~ batalha c.ont~a o de.6en-' voivimento não e.6tá em c.ond~ç.õe.6' de enn~enta~ a. pitO bl em átic.a b~a.6 il ei~a " . 1

o Plano Decenal de desenvolvimento econômico de 1966

já àquela época dá à educação

,

"um tltatamento nItidamente ec.on5mic.o enc.altan­do-a p~imo~dialmente c.omo indú.6t~ia de p~e.6ta ção de .6e~viç.o.6, de modo a p~dr~ic.ia~ de nO~~ ma e~quemátic.a, a análi.6e do.6 dado.6 indi.6pen­~ivei~ ao en60que mac.~0-ec.on5mic.o do .6eto~".

Este tratamento, se?undo o mesmo Plano, não tem a pre-'

tensão de hierarquizar no processo educacional o seu conteúdo e­

conômico sobre as esferas política e social. Apenas, dá-lhe uma a

bordagem menos parcial, mais ampla, dadas as suas implicações só­

Cio-político-econômicas. . . , . .

1 Do discurso do Senador Jarbas Passarinho, então Ministro de Educação e Cultura na Universidade de Santa Maria (R.G;S) em 16.09.1971.

77

o Presidente Costa e Silva em um pronunciamento feito ao Correio da r.lanhã no dia 17.03.67, falando sobre Democrac ia e poder' Econômico, assim se exoressou:

"A de~peito de todo~ o~ e~6o~ço~, o E~tado mo d~no não log~ou ainda di~ciplina~ a~ afte~a~ ç.õe~ e o~cilaçõe~ econômica~ do mundo em que' vivemo~. Ve out~a pa~te, ê inconte~tãvef que ~e 6unda na di~t~ibuição 60 po4e.Jr econômico a ju~ti6icação da~ impo~içõe~ fegai~ do E~tado' e, po~tanto, o p~óp~io 6uncionamento de um ~egime democ~ãtico autêntico. A~ g~ande~ de~ iguafdade~ na di~t~ibuição de~~e pode~ ~ão i~ compatlvei~ com o exe~clcio da democ~acia. e imp~aticávef i~ofa~ do 6ato econômico o nato pofltico. Efe ~e con~titui em conteúdo da qua~e totafidade da~ ~efaçõe~ ent~e o~ homen~ e, ~egundo Keyne~, "a~ idê.ia~ ju~ta;., ou 6af-' ~a~'do~ 6ifó~060~ da economia têm mai~ impo~­tância do qu e 9 e~afm ente ~ e pen~a; em v e~dad e, o mundo i po~ efa~ conduzido".

A partir de 1967, no entanto, a tônica dos pronunciamen-'

tos, discursos, mensagens, etc. do aparato estatal e mesmo das in-'

terpretações oficiais, é a igualdade de oportunidade para todos.

( ••• ) "A educação i a g~ande iguafado~a da~ , condiçõe~ ent~e a~ c~iatu~a~ - a ~oda do e­quillb~io do maquini~mo ~ociaf, que dã a cada homem a independência e o~ meio~ de ~e~i~ti~' ao egoi~mo do~ out~o~ homen~, e 6az mai~ do que a~~ebata~ ao~ pob~e~ a a~ma de ~ua ho;.,ti­lidade ao~ ~ico~: impede-vo~ de ~e~ pob~e~~"1 ( •.. ). "O Gove~no atuaf futa~ã pa~a fiv~a~ o J>al~ de "um pe~ig o ~o ~ubd e~ envof vim ento cien­.t16.ico e tecnofóg ico, ao m e~mo tem po em que ' ab~~ã a todo~ o;., b~a~ilei~o~ a opo~tunidade' d e educação". Z

( ... ) "No ~~o ~i~tema 6uncio na d e mo do que ~ e um e~tudante b~a~ife~o 60~ ob~igado a inte~­~omp~ ~ua educação ante~ de ent~a~ na unive~ ~.idade e~ta~á capacitado p~o6i~~ionafmente pa ~a t~abafha~". 3 -

1 Discurso do Presidente Costa e Silva na solenidade de formatura dos Engelheiros da PUC do Rio de Janeiro em 1967.

2 Pronunciamento do Presidente Costa e Silva ao Correio da Manhã' em 17.03.67

3 Da Conferência do Ministro Jarbas Passarinho em Genebra, patro­cinada pela UNESCO - 27.09.73.

78

( ... ) "O que e~tamo~ tentanto, 6undamental-' mente, ê to~na~ demoe~ãt~ea a edueação, dando a todo~ e a eada um a opo~tun~da de equ~tat~va de ~gual edueacão".1 -

o Presidente Médici em sua mensagem anual entregue ao '

Presidente do Congresso Nacional, no aniversário do oitavo ano do

movimento politico-militar de março de 1964, afirmou que:

( ... ) "Ve~~ubam-~e ( ... ) metõd~ea e tenazmen te med~ante p~og~e~~~va demoe~at~zação do en~~no, a~ ba~~e~~a~ que d~v~dem ' ce~to~ e~t~ato~ da população. A~t~eu-' lam-~e pa~a ~6~0 p~ov~dêne~a~ de g~an­de aleanee, toda~ em pleno de~envolv~­menta. Na gama da~ med~da~ eom que p~o cu~a a todo eu~to, eump~~~ e~~e ~pe~a t~vo, não pod~a nalta~, pa~a ~e~gate T

de g~ave dêb~to ~oe~al, a palp~tante ' c~uzada, ~ob~e eujo êx~to jã não ê po~ ~1vel duv~da~, pela el~~nação do qua~ d~o da ~oe~edade b~a~~le~~a, da eno~me l eg -ião d o ~ li et~ado ~ ". (31. 03 • 72 I 2 .

.Ainda é o mesmo presidente que ao receber o titulo de

doutor "Hono~~~ Cau~a" pela Universidade Federal do Rio Grande do

Sul, assim se expressou:

1 Ibid

"Não de~eonheço, todav~a, que a human~zação da o~dem eeonom~ea, tal eomo a p~etendemo~ ~planta~, e~tã 6undamentalmente l~gada -a d-i6u~ão do en~~no. lneonte~tãvel ê a dou-' t~~na de que não ~e ~eduz~~ão em med~da ne gãvel, a~ d-i~pa~~dade~ ~oe~a~~ ~em ~e 6a~ eulta~ a todo~ ~gual aee~~o ã~ 60nte~ de educação. No~ have~e~ e~eola~e~, a~nda no g~au p~-imã~~o, ê que ~e ~n~e~a, ao meno~ , potene~almente, a ~ed~~t~~bu~ção da ~~que­za, culm~nando e~~e p~oee~~o de demoe~at~­zaç.ão de eeonom~a no~ ~em~nã~~o~ aeadêm~-' co~ onde ~e modelam a~ eompetêneia~ de que

2 Diário do Congresso Nacional - 1.04.72

79

o pal~ nece~~~~a pa~a ~a~ga~ a~ g~ande~ ave­n~da~ de ~eu 6u~u~0".

E é mais uma vez o Presidente Médici que em sua mensagem

ao Congresso Nacional ao encaminhar o Ante-Projeto da futura lei

n9 5.692 fala:

!'Co nco~~e~ão e-6-6a~ m ed~da-6, jun~am en~e com ou~~a~ p~ev~-6~a-6 no p~oje~o, ~a~a ~ompe~ a-6 ba~~e~a-6 que a~nda ~e opõem a ptena d~6u-6ão do en~~no e pa~a que ~e acete~e o p~oce~-6o ' ~enden~e a p~opo~c~ona~ a ~odo-6, 0-6 etemen-' ~o~ 6undamen~a~-6 pa~a que em ~guatdade de ' cond~çõ~-6 quan~o ao ap~end~zado ~n~c~at, pO-6 ~am ~eat~za~ ~ua-6 a-6p~~açõe-6 e quat~dade-6 ~n d~v~dua~-6" .

Com o advento da lei n9 5.692/71, a escolarização foi t~

nada obrigatória e gratuita dos sete aos quatorze anos e oficial-'

mente ofertada a todos iguais oportunidades educacionais. Em ter-'

mos de sistema aberto e equalização, o Estado assim se expressou:

"o ~deat -6e~ã ~ue cada um chegue ao g~au ma~-6 etevado compa~~vet com a-6 ~ua~ ap~~dõe-6~~Qan ~o ma~~ educado o povo; ma~-6 p~ô-6~e~a a Na- T

ção ; quan~o ma~-6 educado o ~nd~v~duo, ~an~o ma~~ ca~az de v~ve~ em pten~~ude. E ce~~o ' que Jr.azoe-6 de oJr.dem ~n~etec~~va ~ped~~ão que mu~~o-6 atcancem o ~opo, a~nda que 6~an-' queado a ~odo-6 a e-6cada. Ma~ ê ce~~o ~ambêm, que no~ d~a~ de hoje o 6~t~~0 econôm~co ba~­Jr.a, a~nda, a e~catada de joven-6 p~om~-6-6oJr.e-6. Enquan~o não ~e pude~ abJr.~~ tongamen~e a-6 po~ ~a~ da educação a cada um, o ~n~e~e-6-6e nac~o­nal Jr.ecomenda que ~e 6avo~eça a a-6cen~ão cul ~u~at do~ ma~~ ~aten~o-6o-6, 0-6 ma~-6 capaze-6 T

de mob~~zaJr. a e~ênc~a e a técnica em 6avo~' do p~ogJr.e-6-6o -6oc~al. O ~n~co bem que Nação ' alguma e-6~ã em cond~çõe-6 de de-6pe~d~ça~ é o ~alen~o de ~eU-6 6~tho-6. Ma~ o ~nte~e-6-6e -60 .. ' c~al ex~ge que -6e eduquem 0-6 de6~ciente-6 no ~ent~do de tOJr.nã-to-6, quanto p0-6-61vet, pa~t~ c~pante~ de at~v~dade~ p~odut~va-6. f, ne-6-6eT

ca~o, o ~nteJr.e-6~e 6ata ma~-6 ba~xo que ~ecta­mo~ de equ.idade e da ju~t~ça".l

1 BRASIL - Ministério de Educação e Cultura. Secretaria Geral

Plano Setorial de Educação e Cultura, 1972-1974 - MEC/SG 1971,

pp. 17-18.

80

Nesse enfoque, o sistema escolar seria o segmento da so-'

ciedade capaz de proporcionar a equalização de oportunidades educa­

cionais, respeitando as especificidades pessoais e eliminando as'

desigualdades sociais. A escola seria o reclassificador dos indivi

duos, segundo seus dons e seu desempenho acadêmico.

Entretanto o 11 Plano Nacional de Desenvolvimento (1975 -

1979) apresenta uma perspectiva menos otimista em relação ao poder

da .. ~escola, na equalização social:

( •.. ) "Se. do ponto de. vi.6ta polltic.o an-ÚL-' mou-.6e. a igualdade. de. todo.6 pe.nante. a le.i , e.c.onomic.ame.nte. ne.ina ainda pnonunda de..6igual dade., di.6tnibuindo-.6e. a população e.m c.ama-'­da.6 de. nlve.i.6 muito dive.n.6o.6. Uma e.duc.ação' te.c.nic.ame.nte. onie.ntada pana a de..6e.nvolvime.n to, ne.c.e..6.6aniame.nte. não c.onduz a uma .6oc.ie.~ dade. de.moc.nâtic.a. Pode., peta c.ontnânio, a­c.e.ntuan a.6 di.6tonçõe..6 na ne.pantição de. ne.n­da e. ne.nonçan 0.6 pnivilêgio.6 e. a.6 de..6igual­dade..6 6oc.iai.6. Se.m dúvida a de.moc.natização' e.c.onômic.o-.6oc.ial tnan.6c.e.nde. 0.6 pode.ne..6 da e.duc.ação e. de.pe.nde. de. outna.6 de.c.i.6õe..6 poll­:tic.a.6 e. ou:tna.6 e..6:tna:têgia.6".1

A equalização .social na educação assume, além das pers-'

pectivas mais gerais, vistas acima, aspectos mais especificos refe

rentes à distribuição de renda.

Na mensagem do Presidente Médici a Nação, no dia 31.03.71,

assim ele se refere:

( ••• ) "não me. c.an.6O de. dize.n, o me.u pnopó.6i :to de. :tudo naze.n na .6e.ntido da me.lhon di.6-' :tn~buição da ne.nda nac.ional, ponque uma pan c.eta .6igninic.ativa da população não di.6põe.' de. ~e.c.un.6O.6 pana a c.on.6umo e. a poupança. Advin:to que. não de.ve.mo.6 pne.te.nden amplian , pne.matuname.n:te., a d~.6tnibuição, .6ac.ninic.an-

1 SUCUPIRA, Newton, Diretrizes para a elaboração do Plano Seto- , rial de Educação (1975/79) Documento 157, dez. 1973.

81

do o c.lr.e..6c.hne.n:to. t que. o c.on.6umo "pe.Jt c.api-' :ta" nã.o c.Íte..6c.e.lr.ia ba.6:tan:te. e., alê.m di.6.6o, i.6.6o Jte..6ul:taJtia na diminuição da poupança, que. pJto­pOJtc.iona 0.6 me.io.6 e.ôe.:tivo.6 de. inc.Jte.me.n:tan o pJtodu:to.

Mui:to me.no.6 de.vemo.6 pe.n.6an e.m :tnan.6ôe.Jtin e..6.6a' c.onc.e.n:tJtação de. ne.c.un.6o.6, do.6 pan:tic.ulane..6 pa­Jta o f.6:tado, poi.6 a.6 a:tividade..6 públiea.6 e. pJtivada.6:têm 6ina.tidade..6 eonve.nge.n:te..6 e. hanmo­nio.6a.6 na 60nmação da ne.nda naeional e. a vali­dade. e. a opon:tunidade. de. eada .6e.:ton .60 pode.m ' .6e.1r. me.dida.6 em padnõe..6 de. e.ôieiêneia e. pnodu:ti vidade.". -

Enquanto isso, o Ministro Jarbas Passarinho, representan

do o Brasil, em Lima, na 11 Reunião do Conselho Inter-Americano de

Educação, Ciências e Cultura da Organização dos Estados Americanos,

proferiu em seu discurso, o que abaixo se segue:

( .•• ) "Ne.nhum lr.e.eun.6O na:tUlr.al ~ mai.6 nobne. e. mai.6 pJt e. c. io .6 o que. o ho m e.m. Q.u e.n em o -lo e e. n:tn o d e. nO.6.6a.6 pJte.oeupaçõe..6 e. a:te.nçõe..6, .6uje.i:to e. nã.o me.no obje.:to do pnoee..6.6o pnodu:tivo. Faze.n c.Jr.e..6c. e.Jt 6 iJtm em e.n:te. o no .6.60 pJto du:to nac.io nal blr.u:to ~ um obje.:tivo impon:tan:te., ma.6 não um 6im em .6i me..6mo. Áumen:tan a nique.za, .6e.m di.6:tnibu2-la me.lhon, .6e.m e.liminan a.6 inju.6:ti ça.6 .6oc.iai.6, .6enia um de..6a.6:tne. igual ou­maiolr. que. o a:tual, em que. .60 no.6 c.abe. ne.pan :tilr. a e..6c.a.6.6e.z. Pnec..t.6amo.6 c.Jte..6c.e.Jt, pana T

que.bnalr. o 6a:tal c.2nc.u.lo vieio.6o que. Gunnan' Myndal de.6iniu eomo a le.i de c.au.6ação c.ineu lalr. eumula~iva, .6e.gu~do a qual .6e. ~ pobne. T

poJtque..6e e. pobne e. e.6e. eada ve.z mai.6 po-' bJte. pOJt não .6e. pode.n de.ixan de. .6e.n pobne.. PaJta de.ixalr. de. .6ê-lo o me.lhon in.6:tnume.n:to ~ o :tlr.e.inamen:to do.6 no.6.6O.6 ne.c.un.6O.6 humano.6. 0.6 e.c.onomi.6:ta.6 jã. admi:tem pac.i6ic.ame.n:te. , que. o c.Jte..6c.ime.n:to da nique.za de.pe.nde. mai.6 da e.dueação e. quali6ic.ação da mão-de.-obna, que. da aeumulaçao do e..6:toque. 62.6ic.o de. c.api:tal. Educ.ação ~, poi.6, não uma de..6pe..6a de. c.on.6umo, ma.6 um admináve.l inve..6time.nto de. c.apital. Co mo .6ão ôlr.ac.a.6 a.6 nO.6.6a.6 poupança.6, e. no.6.6O T

de.ve.1r. plane.jalr. a .6ua aplieação da mane.ina mai.6 judieio.6a e. ne.pJtodu:tiva po.6.62ve.l".

No 11 Plano Nacional de Desenvolvimento (1975-1979) no

capItulo I, no item Objetivos e Opções Nacionais, encontram-se, en-

tre outras, as seguintes orientações: 82

"Realiza~ polZtica de melho~ia de di~t~i-' buiçã.o de ~enda, pe~~oal e ~egional, ~i­mu.etaneam ent e com o c~e~cim ento eco nôm ico" .

"P~e~e~va~ a e~tabilidade ~ocial e polZti­ca, a~~egu~ada a pa~ticipação con~ciente ' da~ cla~~e~ p~oduto~a~, do~ t~abalhado~e~' e, em ge~al, de toda~ a~ catego~ia~ vitai~ do de~envolvimento, na~ ~ua~ di6e~ente~ ma ni6 e~taç.õ e~" . . -

"Realiza~ o de~envolvimento ~em dete~io~a­ç.ão da qualidad.e de vidq ... "

Quanto aos Campos de Atuação da Estratégia de Desenvol-~

virnento, ainda e no 11 Plano Nacional de Desenvolvimento que se

encontra:

( ••• ) (1) 9 a~anti~ a to da~ a~ cla~ ~ e~ e, em pa~ticula~, ã~ cla~~e~ média e t~abalha do~a, ~ub~tanciai~ aumento~ de ~enda ~eal; (2) elhnina~ no meno~ p~azo, o~ 50co~ de ' pob~eza ab~oluta exi~tente~, p~incipalmen­te na ~eg ião ~ emi-á.~ida do No~d e~te e na ' pe~i6e~ia do~ g~ande~ cent~o~ u~bano~".

E com relação às Estragégias de Desenvolvimento Social,

acrescenta:

"A e~t~utu~a de di~t~ibuiç.ão de ~enda é in~ati~ 6atõ~ia" .

Para o próximo estágio, objetivamente, ainda diz o Pla­

no, a política a executar deve assegurar:

"Aumento ~ub~tancial de ~enda ~eal pa~a to da~ a~ cla~~e~. t impo~tante que a~ cla~_r ~e~ t~abalhado~a e média ~ejam amrtamente' atendida~ no p~oce~~o de expan~ão, inclu~i ve pela ampla abe~tu~a de opo~tunidade~, r econômica~ e ~ociai~ (que, inclu~ive, de-' te~minam também o nZvel de ~enda ~u,tu~a). A.6.6im .6 e pod e~á. e~tabel ec e~ uma ~o ciedad e' em que, econômica e .6ocialmente, a~ ba~e~'

83 .6e e.6tejam .6empJte movendo pa.Jta. c.i.ma.".

"Reduçio .6ub.6ta.nc.ia.l da. "pobJteza. a.b.6oluta.", ou .6eja., do c.ontingente de óa.mZlia..6 c.om nZvel de Jtenda aba.ixo do mZni.mo a.dmi.6.6Zvel qua.nto a albn enta.ção, .6a.úd e, educ.a.ção, ha. bita.ção " .

A despeito dos pronunciamentos oficiais em relação a uma'

nova orientação política, quanto à distribuição de renda, o Minis-'

tro Mário Henrique Simonsen falou e foi transcrito na íntegra.' o

texto do qual se extraiu o que se segue:

"A tJtan.6ição de uma óa..6e' de e.6ta.gna.ç.ão ou .6em' e.6tagnação pa.Jta. uma de c.Jte.6c.i.mento a.c.eleJta.do ' c.O.6tuma. exigiJt c.eJtto.6 .6a.c.Jti6Zc.io.6 que na.tuJtal­mente envolvem c.eJtto a.umento de c.onc.entJta.ção' de Jtenda, ou na..6 mão.6 de c.eJtto.6 indivZduo.6 ou em podeJt do E.6ta.do. Em pJti.meiJto luga.Jt, pOJtque' 0.6 alto.6 nZvei.6 de a.tividade pJtovoc.a.m ne.6.6a. ' tJta.n.6ição, um a.umento na.tuJta.l do.6 luc.Jto.6 em po deJt da..6 empJte.6a..6 e c.on.6equentemente um a.umento de Jtenda. do.6 empJte.6ãJtio.6 e a.dmini.6tJta.doJte.6. Em .6egundo luga.Jt, pOJtque hã nec.e.6.6ida.de de c.eJtta.' conc.entJta.ç.io, a. óim de tJta.n.6óeJtiJt Jtec.uJt.6o.6, da. quele.6, ma.i.6 pJtopen.6o.6 a. c.on.6umiJt, pa.Jta. a.que~' le.6, ma.i.6 pJtopen.6o.6 a. poupa.Jt. Em teJtc.eiJto lu-' gaJt, pOJtque a. a.c.eleJta.ção do c.Jte.6c.imento pJtovo­ca, c.omo eóeito de tJta.n.6iç.ão, uma. dióeJtenc.ia.-' çlio, entJte 0.6 meJtc.ado.6 de mão-de-obJta. qua.li6i­cada e não qua.lióic.a.da., inten.6ióic.a.ndo a. dema.n da e 0.6 pJt eço.6 no pJti.m eiJto d el e.6. Em qua.Jtto lu galt., polt.que é nec.e.6.6ãJtia que o meJtc.a.do e.6ta.be-=­leça. um plt.ê.mio pa.Jta. a.quele.6 que ma.i.6 .6e .6obJte.6 .6a.em em teJtmo.6 de c.a.pa.c.ida.de téc.nic.a. empJte.6a.-' JLi.a.l" • 1

Um último comentário quanto à terminalidade "real" sugeri

da no Ante-Projeto elaborado pelo Grupo de Trabalho que apresentou'

a reforma do ensino de primeiro e segundo graus e que leva necessa­

riamente à discriminação.

A terminalidade "real" é aquela que, na lei, destina-se'

1 Panorama Econômico - Suplemento GLOBO 71/72, p. 4 (17 a 24/3/72)

84

aos aue não possuindo condições nem a.o menos de alcançar a 8a. sé­

rie do 19 grau, têm, por "opção" uma formação diri9ida ao trabalho.

mo

Esta terminalidade "real" que, no Ante-Projeto aparece co

"uma c.onc.e..6.6ao que. bem pode.Jtia .6e.Jt Jte.gi.6tJtada na.6

"Vi.6po.6içõe..6 TJtan.6itõJtia.6"

enfatiza a discriminação entre as classes sociais: os da classe mé

dia e alta, para os quais a terminalidade tem o seu verdadeiro sen

tido - alcançar o fim do segundo grau, ingressar na universidade e

nos cursos de pás-graduação de mestrado e doutorado . Para os de '

classe baixa, a terminalidade "real" foi pensada e legitimada atra

vés do que se encontra no Relatório do Grupo de Trabalho:

( ••• ) "PaJta o tipo de. aluno do.6 me.io.6 pobJte..6, amadu Jte.c.ido EJte.coce.me.nte. pe.la.6 di6iculdade..6 da vida, a iniciaçao ante.cipada numa atividade. pJtodutiva .6e.Jtâ mal me.noJt de.ce.Jtto, que. um aCJtê.6cimo de. e..6tudo.6 ge.­Jtai.6 cuja 6unção .6e. PrJtde.Jtã e. cuja utilidade. e.le. ' não po d e.Jtã p e.Jt c e. b e.Jt" .

Concluindo:

Todo o discurso teórico do aparato estatal apregoa a e­

qualização das oportunidades educacionais. Entretanto, esta última

citação seria suficiente para evidenciar a incoerência interna do

sistema educacional brasileiro.

Dal, ser justar.\:ente no 29 grau que a pirâmide começa a

se estreitar. A constatação da fragilidade do ensino que e altamen

te seletivo e discriminativo em sacrificio da classe baixa é fra-'

glante.

1 Do Relatório do Grupo de Trabalho que elaborou o Ante-Projeto'

do ensino de 19 e 29 graus, 1971.

2. POSS1vEIS HIP6TESES

Dentre as hipóteses que se poderiam levantar e que tal-'

vez respondessem às causas da extinção do convênio entre a Con-' !

gregação Maria Imaculada e a Secretaria de Educação - alaumas fo-'

raro abordadas e levantadas no decorrer mesmo da coleta de dados

durante as entrevistas realizadas.

Falou-se da carência de preparaçao da clientela para a

experiência. Da evsão. Abordou-se à má preparação dos elementos

que assumiram a experiência, além de certas incompatibilidades sUE

gidas entre a Direção Geral e as Irmãs que, du.rante algum tempo

trabalharam no complexo escolar. O problema financeiro foi larga-'

mente mencionado. A ausência do sentido de realidade e o entusias­

mo da equipe de Direção, também foram mencionados. A falta de cons

cientização e coragem, de assumir, até as últimas consequências

uma opção séria, algo de "hLtdõlL-<-c..o" dentro da Congregação da Igre

ja de Olinda e Recife e da sociedade do Nordeste e fruto de bastan

te reflexão, foi de igual modo abordado. Enfim, uma série de outras

posslveis alternativas buscando detectar o insucesso da experiên-'

cia foram levantados. Poder-se-iam fazer ainda, a respeito, outros

tipos de explorações, tais corno: haveria possibilidade de numa so­

ciedade de classes, possuidora de um percentual muito alto de con­

tingente populacional marginalizado do processo escolar formal, e­

fet~arem-se mudanças nas práticas e idéias educativas de âmbito le

c~!I,f q.;l~~oc;ia,do de outras ;inovações l?aralelas na infra-estrutura e

:PFl~' .;J;e;J.,a,~õe~ ~oc.;i.a~s entre Os ,vár;ios segmentos desta sociedade?

A~~ que ponto o desfecho não ocorreu em virtude da ausência de po­

l1ticas definidas e objetivos claros entre ambas as Instituições -

Congregação - Secretaria de Educação - que deveriam norteiar reali

zações concretas? Na tentativa de encaminhar possíveis respostas ,

escolhemos as três explicações que se seguem, pelo fato de haverem

sido abordadas no decorrer das entrevistas realizadas:

I - a insuficiente preparação da clientela via pais do alunado do Santa Lina e das Irmãs que" assumiram;

2 preparo deficiente das Direções dos esta­belecimentos e da Diretora Geral do Com-' plexo Escolar, e niveis diversos de per-' c'épção sobre a experiência entre a dire-'

ção geral e as Irmãs;

3 - aspectos pedagóqicos e administrativos no ' complexo escolar.

Com relação -primeira explicação, a despeito das alusões

feitas nos depoimentos, em termos de urna melhor preparação, tanto'

por'parte da diretora do DEF, quanto da Madre "C", realmente, nao

houve urna conscientização maior ou maiores explicações com relação

às Direções, corpo docente e clientela dos estabelecimentos do Es­

tado. Entretanto, quanto aos pais dos alunos do Colégio Santa Lina,

e através deles aos seus filhos, várias reuni~es foram realizadas'

e expostas as modificações a serem tornadas a partir do ano de 1972.

As novas diretrizes foram anunciadas e muito debate ocorreu em ter

mos de aprovação, reprovação da idéia e da dúvida de alguns pais ,

desde o primeiro instante. Tanto assim é que, ao serem reabertas '

as matrículas, logo os pedidos de transferência foram solicitados'

por aquelas famílias que não concordaram com o processo de mudança

que se iria instaurar.

o impacto da integração com colégios do Estado, foi de­

imediato, explicitado verbalmente através inclusive de depoimentos

já registrados.

De qualquer modo, urna reflexão nos parece válida expor:

é muito difícil tentar-se introduzir inovações a partir de decisões

de cúpula, sem participação e mobilização dos reais destinatários.

Há necessidade de consenso (manifesto em atos) ao se pretender ino

varo Até que ponto isso se verificou entre aoueles diretamente en­

volvidos, sobretudo, alunos, via suas famílias e as Irmãs?

Ao se introduzirem mecanismos inovadores, faz-se necessá

rio criar uma consciência sobre o valor da mensagem inovadora, con

seguir mobilização, preparar devidamente a comunidade para uma paE,

ticipação efetiva nas novas situações criadas. As políticas adequ~

das de integração social devem v'ir embasadas do estimulo à respon­

sabilidade comunitária .

. ":1,

87

Terão sido suficientes, as reuniões havidas, a ponto de

conseguir o objetivo almejado - a integração social - entre as

clientelas aue se ombreariam dali por diante? De qualquer modo ,

também nos interrogamos, dado as convicções e preconceitos sociais

tão intrinsecamente arraigados, em grande parte das familias do

Santa Lina, quanto aos resultados obtidos, se tal trabalho houves

se sido mais intensamente realizado.

Porque é também verdade que houve familias que, tendo '

já seus filhos com matriculas feitas em outros colégios, e perte~

centes à classe alta, preferiram perdê-las e transferi-las para o

complexo escolar, quando tomaram conhecimento do novo espírito

que o nortear ia.

Quanto às Irmãs, também já se explicou: poucas foram as

que havendo estudado os documentos do Vaticano 11 e Medellin par­

ticiparam da experiência. Entretanto, as duas diretoras do Santa'

Lina que passaram pelo complexo, ambas tinham total conhecimento'

e aderiram de inicio, incondicionalmente, à idéia. No sequndo ano,

assumiu a Direção.a Madre "C" que se deixou influenciar pelas ten

soes criadas por todo o grupo das demais Irmãs, pelas idéias dos

pais das alunas que terminaram inculcando-as em seus filhos e le­

vando-os a discriminar os colegas, (o que, se diga de passagem,no

inicio não ocorreu).

As ex-alunas, logo sabedoras do convênio de seu antigo'

Colégio, "a pILioILi" se situaram contra o convênio e de maneira

significativa intervieram junto à Congregação. A única que perma­

neceu até o fim, firme e trabalhando pela continuação do complexo

foi a Madre "p" que, no final, nem chegou a ser consultada quanto

à sua continuação ou extinção.

Houve, portanto, segundo o que foi dito acima, e resu-'

mindo o que já foi historiado, preparação do contingente mais di­

retamente ligado ao processo que se ia iniciar: pais e clientela'

do Santa Lina. Por causa dos problemas criados por todos que forma

vám o contexto do Colégio, e por inconsistência da liderança da

88

congregação, a Provincial solicitou à Secretaria de Educação res­

cisão do Convênio.

Quanto ao Grupo Escolar Wanderley de Castro, houve no '

início um sentimento de insatisfação por parte do arupo diri~ente,

corpo docente e serviço administrativo. Logo mais, este problema'

foi superado pela integração conseguida. Notava-se também alegria

por parte dos pais dos alunos do Grupo Escolar, pelo fato de ve-'

rem seus filhos em melhores instalações físicas, de serem convoca

dos, periodicamente para reuniões, onde tudo lhes era explicado ,

desde a lei n9 5.692, à metodologia empregada, aos sistemas de

recuperação e avaliação implantados, usando-se de terminologia

acessível a todos.

Quanto à segunda especulação que se poderia fazer, isto

é, quanto a competência ou não das Direções dos estabelecimentos'

de ensino e da Direção do Complexo, poder-se-iam usar argumentos'

que, se nao necessários e suficientes, acreditam-se, no mínimo

necessários, corno indicadores de competência. O fato de alguém

possuir um titulo superior, de Pedagogia, por exemplo, faz supor,

que tenha maior qualificação que outra, que só possui o curso nor

mal. O fato de alguém possuir cinco anos de magistério, faz supor

que tenha mais condições pela vivência, que outra, que apenas ini

ciou sua carreira profissional. t que as posições, na divisão de

trabalho, passaram a ser associadas às credenciais educacionais '

(anos de escolaridade, qualidade de educação, etc.). Isto aconte-

ceu no Complexo Escolar. Todas as pessoas que passaram pelas dir~

ções dos estabelecimentos que o compunham possuiam títulos supe-'

riores, e à exceção de urna, mais de dez anos de experiência admi­

nistrativa e docente.

Além disso, há depoimentos, que constituem um consenso'

da comunidade, e que poderão ser retornados.

Com relação à professora "A" diretora do Wanderley de '

Castro, teve oportunidade de falar C,O Secretário de Educação:

89

"eJLa. uma. pe.hhOa. expe.Jtime.nta.da., de. boa. vonta.de, muito ehela.Jte.eida., e. que.Jtendo Jtea.liza.Jt um bom tJta.ba.lho eomo já vinha. na.ze.ndo e.m hUa. e.heoli­Yl ha. pu. blie a. " .

A professora "A" acumulava, além dessas funções, a de

professora universitária. As que a substituiram tinham também as

mesmas qualificações, além de exercerem igualmente funções docen­

tes em Universidade.

Quanto ao diretor do Cunha Pessoa, C9mo já foi menciona

do, apesar de não se haver inteqrado nas realizações pedagógicas,

quando assumiu a direção do Colégio, contou com a professora "A'"

como supervisora escolar, garantindo assim a integração pedagógi­

ca do complexo, com relação ao Cunha Pessoa. Tal fato, não chegou

a comprometer o desempenho das turmas integrantes do complexo.

Quanto às duas diretoras do COlégio Santa Lina, ambas '

eram portadoras de nlvel universitário, com longa experiência tam

bém no magistério. A que esteve à frente dele durante um ano e

meio de sua existência, acumulou, durante todo o periodo, as fun-

çoes de vice-diretora da Faculdade de Filosofia, pertencente ~

a

mesma Congregação, além de ser a Superiora Geral da Comunidade da

Faculdade aludida, e durante 18 anos exerceu o magistério.

Quanto à Diretora Geral do Complexo, os depoimentos mais

comprovadores de sua adequação ao cargo foram evidenciados não só

nas entrevistas estruturadas escritas, para efeito dessa Disserta

çao e distribuldas aos professores, quando, 91% que as receberam,

80% responderam, e o fizeram satisfatoriamente, à sua atuação.

Além disso, durante a vida do Complexo, às quatro avaliações a que

foi submetida, no final de cada semestre que durou a experiência

em termos de: competência, liderança, equidade (diante das clien­

telas diferentes) relacionamento pessoal, relacionamento grupal ,

capacidade de diálogo, disponibilidade, etc. ,-também os percen- ,

tuais alcançados, foram suficientemente altos para garantir-lhe a

liderança da experiência.

90 Além disso, havia uma cláusula no convênio quanto à es-

colha da pessoa que deveria assumir a .Direção do Complexo e que I

deveria ser feita de comum acordo entre a Secretaria de Educação'

e a Congregação. A escolha de ambas as partes recaiu no nome da

técnica educacional aue exerceu o cargo da Diretora Geral do Com­

plexo durante toda a experiência.

Há, ainda, um aspecto que nao deve ser subestimado, que'

é o das diferenças de percepção da própria experiência pelos ele­

mentos que dela participaram, sobretudo em termos das discrepân-'

cias de comportamento entre uma das diretoras do Santa Lina e as

Irmãs que trabalharam nele, e a Diretora Geral do Complexo.

E do depoimento da Provincial da Congregação Maria Ima­

culada o que se segue:

" ... houve di6iculdade~ de ent~o~amento ent~e a~ l~mi~ e a Vi~eto~a Ge~al do Complexo, tal vez po~que o~ nZvei~ me~mo e~am dive~~o~: di con~ide~açõe~, de e~tudo~, de objetivo~ e no p~õp~io encaminha~ do~ acontecimento~ ( ... l. Po~~o e devo dize~: o~ no~~o~ elemento~ nio' e~tavam devidamente p~epa~ado~ pana en6~en-' tan a expe~iência".

A própria Madre "C" confessou aue:

" ... ~ealmente ~entimo~ que a opçio p~imeina'

que 60i dent~o da linha do Vaticano 11 e Me­dellin nio 60i ~e~pondida".

Chegou mesmo a admitir que uma coisa "e. ~ e pen~an em al go, out~a, e. vivê-la".

Integração perfeita de concepçao da experiência, exis-'

tiu só entre a Diretora Geral do Complexo e a Madre "p" que diri

giu o Colégio Santa Lina, durante um ano e meio de sua existência.

o depoimento de uma das diretoras que passaram pelo Gru

po Escolar Wanderley de Castro, diz:

91

"Um a.t:.pecto dev.e .t:.elL lLe.t:..t:.altado: o empenho total da MadlLe "P" palLa que o complexo ti­ve.t:..t:.e êxito. O .t:.eu tlLabalho e e.t:.nolLço de pelLmanecelL lutando at~ o.t:. último.t:. momento.6, tentando levalL ã nlLente o complexo, quando me.t:.mo já .t:.e vi.t:.lumblLa.va, atlLav~.t:. de comen­tãlLio.t:. e de uma .t:.ituacão intelLna in.t:.u.6ten­tãveR.., a intenção pOIL'palLte da ConglLegaçã9, de lLe.t:.cindilL o co nv ênio li •

Outro nao era o objetivo da Diretora Geral do complexo.

Não nutriam, ambas, ~~a consciência ingênua quanto às"

dificuldades que estavam sendo e seriam sempre encontradas na in­

tegração social desejada. Contavam com óbices no caminho. Sabia-'

se que o espírito que animava as sociedades comunais do princípio

da era cristã, não é o mesmo onde a experiência se implantou. Mas,

nutriam, de uma forma muito consciente, o que significa hoje, em­

bora de maneira séria, o que irrealisticamente seria considerado'

utopia. Acontece que o conceito de realidade hoje, para alguns au

tores,l nao significa só, o aqui e aqora total, o realizável já,

mas, "ludo o que já ê. e at~ aquilo que ainda não ~". A não reali­

dade hoje, poderá sê-lo um dia. Ela é um todo "plLe.nhe.", "impeIL6e.i

to", "inacaba.do", "uma .6uce..t:..t:.ão de. pILOVi.t:.OfLio.6 .6uce..6.6ivo.6",2 um

nunca acabar. A realidade é a esperança, aue persegue sempre o que

1 E. Bloch, J. Szachi, P. Furter, P. Demo, etc. em "Das ?rjnzip Hoffming" 2 vol. Frankfurt, 1929; "As Utopias", Paz e Terr, ' 1972, "A dialética da esperança", FGV, 1974 e "Integração So­cial: uma abordagem sociolóqica". IBRADES, 1973 (mimeografado) respectivamente.

2 Estas colocações mais filosóficas, usadas por Ernest Bloch, "podem ser trazidas à Socioloçria, não apenas como orientações metodológicas, mas também como visão de realidade". DEMO, Pe­dro in "Integração Social - uma abordagem sociológica" (mimeo grafado) IBRADES, 1973.

92

pode parecer "ú1.ating1vel" apesar de qualquer vicissitude, mas que'

não pára, que caminha e faz também a história caminhar. ~ negativa'

no sentido de oue é absoluta. E não existe realidade social absolu-.L

ta, apesar de nao lhe faltar a garra do irrealizável dentro do rea­

lizado, a atração do possível sobre o factual.

Tanto para a Madre "p", quanto para a Diretora Geral do'

Complexo Escolar, a integração social, quanto mais longínqua lhes '

parecia, mais forças eram mobilizadas ao seu encalço.

Entretanto, a ação da utopia absoluta em termos de inte-'

graçao social é "o6etc.tatc. e vete. -6emptc.e -6u.petc.ado-6 .6eu..6 ptc.ojeto-6 .60-

ciai-6" . 1

A tentativa de integração social no complexo escolar não'·

fugiu a esta regra. Nem por isso, deixou, sequndo os depoimentos e

relatórios, de ter sido válida a experiência, embora todos os acon­

tecimentos induzam a inferir a sua inviabilidade, levando em conta'

a inserção no contexto social; em que se vive.

° terceiro aspecto a ser explorado é pedaqógico e admini~

trativojfinanceiro aue fizeram ressaltar algumas peculiaridades do

trabalho desenvolvido no complexo.

Por se tratar de uma experiência laboratorial, todos os

recursos físicos e técnico-pedagógicos foram facultados. Nenhuma

criança sobre a qual recaisse qualquer suspeita de necessitar de

melhor e maior atendimento quer pelo professorado, SOP ou SOE, foi'

ignorada; estimulos foram dados, sem excluir qualquer delas; as ex­

periências, todas planejadas em função de um currículo elaborado e

reformulado, após levantamento das condições sócio-econômico-cultu­

rais da clientela, mediante amostragem.

1 DEMO, Pedro - Integração Social - op. cito

93

Foi solicitado à Secretaria de Educação, e conseguido um

percentual da carga horária do professorado, destinada a estudos e

planejamentos. 1 Havia Serviço de Orientação Pedagó~ica; Serviço '

de Orientação Educacional (que contou não só com orientadoras edu­

cacionais, mas com psicólogos e por algum tempo com assistentes s~

ciais); Serviço de Recursos Audio-Visuais, Biblioteca, com um ace~

vo razoável de livros e revistas. Foram recrutadas nas Faculdades

de Filosofia do Recife, Faculdade de Educação de Pernambuco (hoje'

CentrD~ de Educação da Universidade Federal de Pernambuco) e Uni-'

versidade Católica, alunos que estagiaram e, sob supervisão dos

próprios serviços existentes no complexo, ofereceram subsldios em

todas as áreas de ensino, Convênios foram realizados com entidades

sócio-culturais, como o curso de llnQuas Anglo-Americano e o Centro

de Comunicações Sociais do Nordeste. Os laboratórios de ciências '

da Faculdade de Filosofia.foram postos à disposição do complexo, e

lá ministradas todas as aulas práticas desta disciplina.

O Convênio foi celebrado também com o Sport Clube do Re­

cife, onde as aulas de educação flsica e esportes eram realizadas.

Assim foram utilizados todos os meios para quantos optassem por

tais estratégias inovadoras de aprendizagem, capazes de possibili­

tar/compensarão deficiências acumuladas. Poder-se-ia afirmar, que'

o corpo docente dos dois colégios do Estado era de boa qualificação.

Na sua quase totalidade, os professores eram portadores de tltulo'

universitário e, após o primeiro ano de experiência, cinco profes­

soras com apenas diploma de curso normal submeteram-se ao vestibu­

lar, motivadas, segundo elas, pela necessidade que experimentaram'

de acompanhar melhor o aumento do nlvel e rltmo de estudo, a aue

eram levadas a enfrentar nó complexo escolar.

1 Se um professor tinha 100 hs/aula no complexo escolar, recebia salário correspondente a 120 hs/aula, corresoondentes às horas destinadas aos estudos e planejamentos. Saliente-se ~e muitos deles davam além disso, ouando o seu contrato atinaia o número máximo de carga horária permitido aos quadros da Secretaria de Educação - 200 horas mensais. Neste caso, ele estaria legal-' mente isento da frequência aos planejamentos. Entretanto, es-' pontaneamente nunca, a não ser acidentalmente, deixaram de es­tar presentes e efetivamente trabalharem •

94

Acrescente-se a isto, o fato da seleção para admissão

no cociplexo, a partir dos primeiros pedidos de transferência de aI

guns professores que, ou não alcançaram o nível pedagóaico requer!

do e preferiram escolas menos exigentes a este respeito, ou mesmo,

pelo fato de terem os sábados livres, o oue não acontecia no com-'

plexo - dia de planejamento das atividades semanais.

Além disso, houve a medida assumida pela Direção Geral '

de concentrar o menor número de professores com a maior caraa horá

ria, permitida pelo governo do Estado. l

Desse modo, contava o complexo escolar com reais possibi

lidades de êxito, levando em conta o aspecto pedagóqico.

Todos os depoimentos dos ex-alunos dos dois colégios do

Estado foram unânimes em afirmar, na entrevista a oue foram solici

tados a prestar em grupo, a "dine.Jte.nç.a do tempo do c.omple.xo paJta '

agoJta". Enquanto um grupo de ex-alunos do Santa Lina disseram aue

".6Ó agoJta, pe.Jtc.e.bemo.6 quanto me.lhoJt pode.Jtlamo.6 te.Jt apJtove.itado da.6

inovaç.õe..6 do c.omple.xo".Z

Conclui-se portanto: houve inteqração física. Houve inte

graçao pedagógica. A integração administrativa sofreu impactos

quer por parte da dinâmica administrativa interna do com~lexo,quer,

em grau menor, por parte da dinâmica or9anizacional, ambas em vis­

ta dos problemas surgidos quanto à integração social.

1 No ano de 1973, com a concentração da carga horária em um núme ro menor de professores, foi possível a grande número deles , ministrar toda a sua disponibilidade (200 horas/aula por mês) , nas unidades componentes do complexo.

2 Na ocasião da pesquisa, 1976, esses alunos já faziam nao mais' no Santa Lina, mas em outro Colégio do mesmo nível social, o 29 grau profissionalizante, onde só aí técnicas já vivenciadas no Complexo, começaram a ser usadas por eles.

95

A impossibil idade de se conseguir a inte~ração social,

pretendida e defendida só por poucos, levou ao término a experiên-'

cia. Aspectos conjunturais? a hipótese estabelecida é 0Ue os fato-'

res reais de extinção do convênio se deveram a nroblemas de outra

o.r.dem. Deveria haver inte<;rração em todos os nIveis. J.. ~ecretaria'

desejava oue isto acontecesse. A Igreja insistentemente a recomenda

va, e as freiras, sob sua influência, se propuseram a realizá-la.

Entretanto, não foi possIvel, a despeito do grande empenho de algu­

mas pessoas, a sua concretização no Complexo Escolar Manoel Leonar­

do.

Foram apontados no inIcio, e após analisados, al9uns dos'

aspectos oue realmente caracterizaram a crise do complexo escolar e

que poderiam constituir-se em fatores explicativos da rescisão do

convênio que acarretaram a extinção da experiência. Nenhum deles,

entretanto, por si só, responderia a uma medida tão drástica, qual'

seja, a de dissolver uma experiência "-<.nê.d-<.ta no BJta.6-<.l", quer em'

termos de se apoiar a implantação de uma lei recém-sancionada, ouer

em termos de invalidar a tentativa de funcionamento conjunto de vá­

rias instituições com caracterIsticas tão peculiares como essas do

complexo.

Até pelo contrário. Os aspectos positivos 0etectados, pod~

riam fazer crer que haveria condições amplamente favoráveis, sobre­

tudo quanto ao aspecto pedagógico, para o sucesso de experiência.

Onde se situaria então, a explicação que determinou a nao

continuidade do complexo?

O depoimento do Arcebispo de Olinda e Recife acena rapida­

mente ao modo de or9anização inerente à sociedade capitalista, (capI

tulo 111) e as considerações çue se sequem parecem situar, com maior

adequação, as razões até aqui não manifestas, para o término da exp~

riência.

CONSIDERACÕES FINAIS

o que se pretendeu (utilizando-se da escola numa socieda­

de~àe classes, em um contexto de mudança sócio-econômica) ao ten-'

tar implantar-se um projeto de integração social entre segmentos '

societários com interesses conflitantes, tornou-se, em termos de

planejamento e administração educacionais, atividade deveras desa­

fiante.

Estudos revelam que tende a nao haver integração social'

entre idéias p~oclamadas e valores alcançados na vida real, espe-'

cialmente, nas sociedades em transição, em rápidolprocesso de

mudanças, por causa das contradições existentes entre um tipo de

sociedade que se aspira e a concretização da realidade que se a­

tinge. Este formalismo, termo criado por Riggs, é definido no tra­

balho de Sander, como a "d.-t.6c.lte.pânc..ia e.n..tlte. a.6 e.x.igênc..ia.6 da .te..i e. .6ua ap.t.ic.ação pltã..t.ic.a na v.ida e..6c.o.talt, ou .6e.ja, o de..6ac.oltdo e.n..tlte.'

a ..te.olt.ia e. pltã..t.ic.ai e.n..tlte. noltma plt e..6c.It.i..ta e. c.o ndu..ta Ite.a.t". 2

 luz da reconstrução histórica da exnelilê~!cia do Com- '

plexo Escolar Manoel Leonardo, desde a sua oriqem, à crise que o

atingiu e à sua extinção, tentamos refletir sobre as causas que'

determinaram a não integração social ali ocorrida. Descrevemos os

mais importantes mecanismos de discriminação havidos por parte das

Irmãs, familias e alunos do Santa Lina. Abordamos o grau de pres-'

1 Esta expressão está sendo usada em termos de Brasil como um todo e não em termos de Nordeste. Diriamos até que, a mudança' não implica em desenvolvimento, necessariamente. A "moderniza­ção" pOr exemplo é uma mudança não qualitativa .

. 2 SANDER, Benno. "Educação Brasileira: Valores Formais e Valores' Reais" Livraria Pioneiras/Fundação Biblioteca Patricia Bildner/ MEC, são Paulo, 1977, p: XXXIII:

97

são exercido também pelas ex-alunas do Colégio e, diante disso, a

rescisão do convênio com a Secretaria de Educação do Estado.

Apresentamos uma outra experiência que vem sendo desenvo~

vida, também no Recife, onde, embora com menor intensidade, atitu­

des discriminatórias vêm ocorrendo e a integração social não se

vem realizando.

Após apresentar a orientação do Estado quanto aos aspec-'

tos abordados e que nos interessam - a equalização de oportunida-'

des educacionais e algumas de suas implicações - levantamos alau-'

mas possíveis respostas que pudessem servir de explicações "il1,te.Jt­

na.6" a extinção do complexo. Concluimos que elas não seriam sufi­

cientes, para justificá-las.

Veremos a~ora, até que ponto a impossibilidade de inte9ra

çao social no Complexo Manoel Leonardo resultou de fatores estrutu

rais da sociedade capitalista no Brasil ou se não será possível a­

tribuir-lhe uma outra característica acidental, embora muito im-'

portante, em termos conjunturais, dessa mesma sociedade. Uma ca­

racterística que, apesar de conjuntural, tem uma qrande persistên­

cia em nossa sociedade e talvez venha ainda existir por longos

anos.

Poderíamos, tentando explicar o que nos revelou a recons­

trução histórica, indagar: não será que essa impossibilidade de

integração social, na escola, em Recife, constitui-se expressão de

um aJteal.6mo da formação social brasileira? Não uma característica

essencial à sociedade capitalista, mas uma "e..6peeie. de. Jte..61duo e..6-

tamentai" da sociedade capitalista? Não seria possível que, em

formações sociais onde as relações sociais capitalistas estejam

mais desenvolvidas, aaui mesmo no Brasil, fosse possível essa es­

pécie de integração social como a pretendi no complexo escolar?

Segundo Hans Freyer

( ••. ) "o plLútelpio e.6tJtutulLai ".60 eiedad e. e.6tam e.n

98

ta.l" deve .6eJL entendido em um .6ildema. c.onc.lC.e to de .6oc.iologia. ( ••• 1 c.omo uma. 6a..óe detelC.mZ na.da. na. hi.6tóJLia. da..ó 60JLma..ó .60c.ia.i.ó de domi7

na.ção, c.omo um elemento na. .óéJLie da..6 e.ótJLutu JLa..6 .6oc.ia.i.6 6unda.menta.i.ó. ( ••• A 6iJLmeza. dõ edi6Zc.io .6oc.ia.l depende de que a..6 6unçõe.ó a.­tJLibuZda..6 a. e.6te.6 gJLUpo.ó, que. c.ha.ma.JLemo.6 "e.ó ta.do.6" ou" e.6 ta.m e nto.6 ", .6 ej a.m v i.6 iv elm ent e T

nec.e.6.óãJLia..6 pa.JLa. o todo, a..6.6im c.omo de que a. 6u.óão entJLe 0.6 aJLUpO.6 e .6ua..6 ta.JLe6a..6 .6oc.ia.i.ó .6eja. niJLme, oJLga.nic.a., c.on.6titutiva. de tJLa.di­çã.o e de 6oJLç.a. educ.a.dOJLa.. ( ••• 11

Segundo o mesmo autor, esta estruturação de sociedade m~

diante "pJLivilégio.6 e.6pec.Z6ic.o.6" e atividades delegadas, têm lu­

gar, certamente, a partir de cima, isto é, é determinada por aqu~

les que detêm o poder e consequentemente o domínio.

t: um processo que tem sua origem no "topo" e alcança a

base da sociedade.

( .•. ) Então, uma sociedade, com efeito, "e.6tJLutUJLa.da. de

c.ima. pa.JLa. ba.ixo", segundo os códigos estamentais, se constitui o

exemplo mais significativo de estrutura social ( ••• ) aue haja "c.on

6oJLma.do a. exi.6tinc.ia. huma.na.".

o Colégio Santa Lina é o mais antigo da cidade do Recife,

o mais tradicional, e frequentado, como foi mencionado no início,

por alunas, filhas de mães, avós e bisvós, herdeiras, todas, de

uma tradição cultural multi-secular, ligada direta ou indiretamen

te, à agro-indústria canavieira, de base latifundiária.

Afirma Juarez Rubens Brandão Lopes, em seu livro: "CJLi-' .óe do BJLa..óil a.JLc.a.ic.o" citando os trabalhos de Aracy Nogueira, que

a

"pJLO pJLieda.d e ó"undiãJLia. ê o 6unda.m ento da. hieJLa.JLquiza.ção' .60c.ia.l".2

1 PEREIRA, Luiz et FO~~CHI. Educação e Sociedade, Companhia E­ditora Nacional. Parte V. Item 4, pp. 213/215.

2 BRANDÃO LOPES, Juarez Rubens. A crise do Brasil arcaico. são' Paulo, Difusão Européia do Livro, 1967 - pp 24-26

99

E, referindo-se à elite dinástica, resume alcrumas de suas

características:

Oh membnoh da elite di~ãhtiea on~gi~am-he da a-'

n~htoenae~a nunal ou eomene~al, POih a agn~eult~ na e o eomê.ne~o uhualme~te

pnê.-ex~hte~teh de pnodução

tem - h e eo eha pela l ealdad e l ee~da . 1

eO~ht~tuem ah 6onmah' I ... } Ehta el~te ma~­

eomum ~ andem ehtabe-

o autor acima citado, aludindo a outros autores, diz que,

no caso da elite dinástica (nas sociedades lideradas por elas) com

o curso da industrialização,

"ah 6nuhtnaç~eh e ah te~h5eh dOh ~OVOh tnabalha­doneh ~~duhtn~a~h tendem a he onga~izan hob o pn~~elpio da eo ~heiê:neia e do eo ~6lito de elah -' heh. Uma tna~hóonmação dnãhtiea da antiga ondem' ê. o bojet~vo da elahhe opená~ia I ... }Z

o autor se refere à distância social existente entre as

classes dinásticas e à dos trabalhadores industriais, dizendo que

o abismo é tão lar~o, os contatos sociais em termos de iaualdade '

tão incomuns, a mobilidade vertical tão rara que os antaaonismos '

tendem a se radicalizar cada vez mais entre os arupos.

Desta maneira, cremos caracterizar bem a primeira causa

da nao integração social do Complexo Hanoel Leonardo atribuindo a

esses ~ehlduoh e.htame.~taih a~ea~eoh da sociedade brasileira, no

nosso caso específico, da reqião nordestina.

1 KERR, DUNLOP, HARBISON e MYERS. Industrialims and Industrial ' Man in Crise do Brasil arcaico. p. 13

2 Op. cito p. 14

1 O O

o processo capitalista no Brasil nao vem sendo tão ace­

lerado a ponto de eliminar traços tão fortes quanto estes. As

classes apresentam características culturais tão diferentes, os

grupos são ainda tão endogâmicos, as fronteiras se mostram tão

distanciadas que no caso do convênio celebrado com o Sport Clube'

do Recife as crianças da classe alta se opuseram a tomar banho na

mesma piscina, porque o alunado do Estado também a ela tivera a­

cesso.

Onde as relações capitalistas no Brasil se desenvolveram

mais rapidamente, esses traços estamentalistas foram se atenuando

também com mais rapidez.

Daríamos ênfase ao vocábulo "Jte..61dllo" porque hoje, real­

mente, outro tipo de clientela frequenta o Colé~io Santa Lina. ~

aquela clientela que mesmo sem ter oriÇfem "aristocrática" conse-'

guiu galgar de tal forma a escala econômica que internalizou háb!

tos, perspectivas, ideais e preconceitos, próprios àgueles resí-'

duos.

Que a sociedade capitalista contém mecanismos necessários

de discriminação social, já é questão tratada por vários autores. l

O problema, e esta é a segunda questão que colocamos, é quanto ao'

modo, quanto à maneira, que essa discriminação se verifica.

Na França de hoje, há duas redes de escolarização. A esco

la é dual. Discrimina as crianças desde a mais tenra idade, quando

elas, segundo sua classe social, são matriculadas ora, na rede pri

mária - profissional que as levará, cedo, à desembocar no mercado'

de trabalho; ou na rede secundária-superior que as fará che~ar por

uma série de mecanismos sofisticados à escada mais elevada do sa­

ber.

I Christian Bandelot, R00er Establet, Milton Schwebel, Pierre

Bourdieu, Jean Claude, Passeron, Luiz Antônio Cunha, Bowles

etc. BIBLIOTECA FUNDAÇAO GETULIO VAF.G.>.;:)

, ,

1 0.1

Já nos Estados Unidos, sociedade capitalista mais adian­

tada deste momento histórico em que vivemos, a escola é única, e

apesar disso, também a discriminação se dá. Apenas, a diferença'

existe no modo como ela se verifica. Os estudantes oriundos da

classe trabalhadora sao discriminados através da avaliação compa­

rativa do desempenho que é sempre diferente, em termos de defici­

ência, em relação às crianças da classe alta. A expulsão da esco­

la dá-se portanto, através dos desempenhos relativos.

As relações sociais capitalistas nao conseguiram desen-'

volver-se de maneira mais profunda, a tal ponto de exercer plena­

mente a sua função de dissimuladora acabada da realidade.

Sendo a escola um sub-sistema de um sistema social glo-'

bal, também nela a discriminação não atingiu ainda, no nosso meio,

o mesmo grau de refinamento, de sutileza, aue já se verifica em

outras formações sociais capitalistas.

Luiz Antonio Cunha, em seu livro Educação e Desenvolvi-'

mento Social no Brasil, tenta configurar uma tipoloqia de três rn~

dos de dissimulação social pela escola na sociedade capitalista.

o tipo I é aquele que existiu desde o inicio das socied~

des capitalistas, até o seu amadurecimento no século XIX,e se ca­

racterizava pela manutenção das escolas que eram frequentadas pe­

las classes médias e dominantes, e umas poucas que atendiam, so-'

bretudo à titulo de caridade, aos filhos das pessoas pertencentes

às classes baixas, órfãos e abandonados. Elas existiram sobretudo

na França e Inglaterra. Os seus objetivos eram diversos de acordo

com as classes atendidas.

o tipo 11 caracteriza aquele sistema escolar que se fez

sob a marca da separação das classes sociais. As escolas destina­

das ã clientela da classe baixa são de qualidade inferior, pelo'

conteúdo do ensino ministrado, diferente portanto das que aten-',

dem ã clientela da classe média e alta, cujo currículo é centra­

do sobretudo em estudos literários básicos, capazes de levá-la à

1 02

Universidade e um dia, ao domínio nas burocracias públicas e priva

das.

o tipo 111 é con~ruente co~ a iceolonia liberal, aberta,

equalizante, estabelecendo corro função precípua (la ec:;cola a de

ser a reclassificadora da clientela, seja qual for a sua orinem so

eia!.

Vejamos como funciona a escola no Brasil e, sobretudo, 1

que explicação encontraríamos nara o Modo de discri~inação no Com­

plexo Escolar r~anoel Leonardo onde n~o foi pos~!vel a intenrac~o '

social alMejada, tendo-se como escudo sobretudo a ic.eolonia oficial

já retratada no ca~ítulo anterior, isto ~, as fun~5es atrihuí~as ~

educação e~ funçio dos seus destinat~rios.

o fato existência de hiatos, entre o ~ue é nroclarado e

na realidade vivenciado, é de~ais evi(lente nara exi"ir ~ai0r~s co­

mentários.

~ educação no Brasil, co~ a lei n9 5.6 Q?, e~ te~~n~ ce

19 grau foi concebida dentrn (lo tino III, isto ~, ~r0~tci2n~0

igualdade de o!,ortuni~.ades para todos, "ratul ta e obri"atóri?

Entretanto, e~ sua nrática cotidiana, ela se intenra,ora'

no t-ipo I, ora no tipo 11, desde que leqi ti!'1a as desirrualda.des,

quer através da duracão de escolaridane, quer ainda, de conteúdos'

progra~áticos deficientes, ou de docentes pouco qualificanos.

o Complexo Escolar !'~é'lnoel Leonardo foi sem dúvida conce­

bido dentro do tipo 111, liberal, aberto, enn:uanto no nordeste, vi

gora UTIa organiza~ão escolar objetiva do tipo lI, ~ais compatível'

COTl' um mor.o de fOrIT'aç'20 sociéll cani. ta.listé'l 0UC n;;n ati.nrT]. U 2 :.nd ~ ,

ur' estárrio I"'ais avanc-,",,(10 de desanvol viManto.

Por isso, a discriminação social nn cnmnlexo escolar as­

SUMiu for~as tão cruas de cornportaJ"'ento soclal e a é'lusênclr! ne 1n­

te~ração deveu-se a mecanismos discriminatórios específicos n~uela

1 03

experiência, nrónria l~()n élsnectos de "resíàuo~ esta!'1enté1is", no'

sentido de barreiras t~o fortes, de ~ronteiT~r, er tcr~os de e5-'

tratos, t~n ~rofundos nue at~ a nr~sença fIsica da clas~e haix2 ,

repelia aos C[ue pertenciaM R classe alta. E porrTue P.Té'l A5 n er:::ífico,

r>assaqeiro, no ~enticlo conjunturé'tl da e"olur:'~0 (le 11'1'\ nTOCeScH") es­

trutural de discriminac~o. Era, se node~oq é'l~~im ~~1é1~, U~ "~O~~~

t.o" da nrónria estrutu!:'é' ~0ciêl c'1e clô.'1se~. E ~o'!"'n~'e eTC' naS~t'00i

rrosseiro, cultural, en~uanto nrecon

ceituoso, estereotinaco.

valores de justi~a e ee irué'tldade, deter~inantes de rutr~ ordc~ ,

encontravé't!"1. iT'1nccllhos ~. ~UR rCé'.l i.Zé1~~o. ('\~ T'rincí~ios (~O ('oncí-'

lia Traticano 11 e da 11 Con ferêncié't reral co E,...,isc0n ac.o T J ;->. tino-" ,

J'rlericano eM f"enellin CO'TIO ta TT'l)ér1 a idcolorTi.a do Est?.do, ex· .... :r0<:;:,a'

atrav~s da lei 5.#592 e de outros dOCUJ'1Antoc., enc0ntr;->réH'1 1 i "li. t:Pc; ,

na nr6nria ~inoridê~c do c?.nitalis~o. ~ socie~é'tce Cônitalist~ ane

sar de acei té'tr es~es vi'!lorc~; n~o os nratica. f"ui to !'"'P1"r's ain r1ô,

onde nersiste~ aquele~ tra~os t;o rarcantcR de UMi'! ~o~ie~?.de esta

mentalizada. Sc e r.!ué'tnr1o, a socieci'!dA canttaltsta SA (1esAnvolver'

mais no Nordeste e as relac5es canitalistRs nro~refire~ Mni~ in­

tensancnte, tornê.re;>-se !"la!s "nuréõ.s", t~lTlez sej<1 nOS'=;Ív?l u~ cor"

nlexo do tipo concebido co~o o ~anoel Leon?y(1o.

Concluindo: é nosr-:~vel C1ue o -I=raC2S:,O C!é'l exnp.r:!.ência

que, se con!";ti tuiu er'l UJ'!'l estudo de ca~o, se de~m ao;; resI(luos c::;·­

tanentais arcaicos nersistentes ainrla no Brn~il. Pelo 0uc vtnos ,

é provável tél.,..,hé~, C"ue haj0 a;.n0.cto::; jR r'u:U:o T'1i"';'-:; T;erJl0.nte::; ('lO

nrohlema entrutural.

E t - t' 1'" 1 ''',.::1'" vocaJ"'los a con!': rU~él0 lT"'l0 orrJ.ca esco élr, J e 0._UIIJJ'

que estabelece conexão entre os v~Ti()s tinos de fnr!"'1élr'()P'S societ;;

ri~s capitalistas e tentn~~~ suncrir uma noc:;~Ivel exnlicar~o co~

base nessa tinolo0ia.

Em suma, a forMa de c1iscriminar.ão ocorricél. no co~nlexo'

"escolé'tr é conjuntural ao de:=;envolvirnento do nroce~so de estrut1i-

1 04

raçao dn canitalis~o, onde a discri~inRr~o ~ neceSq~ri2 e i~~rc~­

cindível à nrÓnri.a exiAtência de UT'I'lél socierélàe CP. cla~r.:;es.

105

ANEXO N9 1

Caro Professor:

Mais uma vez venho apelar para a colaboração e paciên­

cia de vocês.

Trata-se agora de uma "entrevista estruturada escrita"

sobre o Complexo Manoel Leonardo, agora, em função do trabalho '

de Dissertação de Monografia que no momento elaboro, cumprindo '

dispositlvo leqal para obtenção de meu titulo de Mestre.

Quanto mais informações vocês me fornecerem, melhor.

<?rata pela resposta.

Ivoneide Anacleto Porto.

PROFESSORES - ENTREVISTA ESTRUTURADA ESCRIT}\ ..

1. Do ponto de vista profissional como você encarou as ativida-'

des desenvolvidas no Complexo Escolar, quanto:

ao planejamento:

- aos treinamentos?

- ao relacionamento professor/professor?

- ao relacionamento professor/serviços técnicos?

- ao relacionamento professor/Diretor do Coléqio?

- ao relacionamento professor/Diretor Geral?

ao ambiente de trabalho?

Justifique.

2. A orientação metodológica recebida no C. E .rft.. L. favoreceu seu'

desenvolvimento profissional? Aponte fatos.

3. Em caso positivo, a metodolo9ia empre~ada na sala de aula con

tribuiu para maior crescimento do alunado? De que maneira?

4. Em caso negativo você acredita que a metodolo0ia tradicional'

oferece melhores resultados? Explique ror ~e.

5. Na sua opinião a integração pedaqó~ica no Complexo Escolar Ma

noel Leonardo foi realmente alcançada?

como ela se manifestou?

- como nao se manifestou?

6. Se você respondeu positivamente à pergunta anterior:

que fatores facilitaram essa integração?

- que fatores a dificultaram?

106

7. Acha que a integração se fez efetivamente do ponto de vista'

administrativo, com relação a:

- Wanderley de Castro/Santa Lina?

Wanderley de Castro/Cunha Pessoa?

- Cunha Pessoa/Santa Lina?

- Wanderley de Castro/Cunha Pessoa/Santa Lina?

De acordo com o seu julgamento positivo ou neaativo dê a sua'

opinião a respeito.

8. Como você a~ruparia,do ponto de vista social, a~clientela do

Complexo Escolar Hanoel Leonardo?

9. Os ~rupos que você identificou, se inteararam durante a expe­

riência do Complexo?

- Como se manifestou essa inte~ração? Cite fatos.

10. Se você respondeu positivamente à perqunta anterior:

- que fatores facilitaram essa inte~ração?

11. Se você respondeu negativamente:

- que fatores dificultaram essa integração?

12. Você tomou conhecimento de alguma reação das famllias desses

grupos que voce identificou, quanto à inteoração:

- pedagógica,

-administrativa,

- social, entre os alunos dos 3 estabelecimentos de ensino?

- Quais?

~ N E ~ 0 N° 2

Tl' PF.L." 1

T'TI'trp17',.n:ss nEs:st~7')V.~·'[T""?I;: 'In C,')"T>TJT"~n 'P.r::("'TJ:"~ "('\ .. rrr.;--,,1i1"'l "ns rsnp'r'T'n~ nFT"\""""'~Trns. Itens IO.l e 1.2),

2, 3, 4, 5 e 6

F. S P E C I ~ I C ~ r ~ ~ ~ i1 (r ~. r: n () 'D F. ~ C E N T lo. G E !f

--- ---t-----.-------------------. Total dns Prnfcs~ore~ 01"'1 ~n~nlexo

Escolar.

Total dos ~rofesRore5 entr~vista-

dos.

Total dos p~ofessores que reSnon­

dera~ Dositiva~nnte aos it~ns de

caiiter pedag5qico: 1(1.1 e 1.2),

2, 3, 4, 5 e 6.

65

59 90,8

I I _____ L. 52 • _ 88,1

-Q ....

A P f: N O I C E

; I .

~'h-J. t

7 08

A PRÂTICA PEDAGOGICA NO COMPLEXO ESCOLAR MANOEL LEONARDO

1. INTRODUÇÃO

ApÕS haver realizado a reconstrução histórica sobre a in­

tegração social no Cqmplexo Escolar Hanoel Leonardo, será apre -

sentada a prática pedagógica da experiência lá tornada a efeito.

Com o planejamento da Secretaria de Educação dos oito com

plexos escolares, quatro na capital e quatro no interior do Esta

do, foi programado um treinamento específico para os professores

e pessoal técnico administrativo, através da TV Educativa, sobre

a lei n9 5.692. A este treinamento foram incorporados os profe~

sores que formariam o novo complexo, à exceção dos pertencentes

ao Grupo Escolar Wanderley de Castro, à época, ainda sem estar

definitivamente acertada a sua participação no complexo. Poste­

riormente, foi realizado treinamento intensivo pela futura dire­

tora geral do complexo, para estes docentes e pessoal técnico ad

ministrativo até o nível em que se encontravam os que haviam co­

meçado anteriormente.

A altura do capítulo sobre currículo, foi solicitado à Secretaria, a liberação dos professores que comporiam o Complexo

Manoel Leonardo para que pudessem se reunir no Colégio Santa Li­

na, futura sede administrativa do complexo, onde seria elabora­

do o currículo a ser adotado alí.

A escolha do Colégio Santa Lina para a sede do

teve em vista as seguintes variáveis:

complexo

i- localização - com vistas a acessibilida­de, em termos de distância/tempo;

ii- polarização - exame da distribuição das atividades de acordo com a disponibilid~

109

de espacial em função da irradiação das atividades em face da área de influên cia e capacidade de atendimento;

iii- densidade - referente à intensidade de uso numa parcela de espaço e concentra­ção de serviços e atividades;

iv- estrutura viária - fator de acessibili­dade de comunicação pelo deslocamento de alunos, professor.es e demais pessoal do complexo.

2. CURRl:CULO

Para a elaboração curricular, os professores que se divi

diram em áreas de estudo nos trabalhos desenvolvidos no treina­

mento, indicaram os elementos que deveriam elaborá-lo.

1

A metodologia empregada foi a seguinte:

1) foram agrupados os professores com bagagem de experi­ência no trato com criancas e adolescentes na faixa etária dos 7 aos 14 anos; e numa dimensão vertical, e laboraram sob supervisão, da futura diretora geral Õ currículo dos 8 anos de ensino do 19 grau, comportan­do 10 níveis que facilitariam os avanços progressivos daqueles cujo rítmo de aprendizagem fosse, mais acele rado ou portadores de "backgrounds" diferentes; -

2) remanejamento dos grupos, e numa dimensão agora hori-zontal, os professores, por séries, trabalharam na programação das atividades l

No final do 29 semestre foi elaborado um questionário com o objetivo de revisar o currículo tendo em vista, agora obje­tivamente, a população escolar do Complexo Manoel Leonardo, através da identificação da sua situação sócio-econômica ; nível de aspiração dos pais ao que se refiria à educação de seus filhos e aQ funcionamento do Complexo. (anexo)

11 O

Paralelamente, iniciou-se a estruturação dos Serviços Té~

nicos que comporiam o novo sistema escolar: Serviço de Orienta-

ção Pedag5gica, (SOP) Serviço de Orientação Educacional, (SOE)

Serviço de Audiovisual, (SAV) e Biblioteca.

O Serviço de Orientação Pedag5gica significou no Comple­

xo Escolar Manoel Leonardo, uma projeção da Direção Geral em

sua função de "feed-back", com uma dimensão de consciência ped~

g5gica. Sua atuação teve corno objetivo o sub-grupo docente e

sua área de trabalho.

O Serviço de Orientação Educacional cuidou prioritaria -

mente da integração do sub-grupo discente. Alimentou os meca -

nismos pedag5gicos utilizados no Complexo Escolar, colaboran

do para um resultado final de adequação do processo educacional.

o Serviço de Audiovisual, funcionou também corno facilit~

dor do trabalho ensino/aprendizagem e a Bibliote -

ca, estendendo a sua função específica, serviu de

suporte ao sistema de recuperaçao adotado no Complexo.

Já se encontra no corpo desta monografia que foram cele­

bràdos convênios com o Curso Anglo Americano, Sport Clube do Re

cife, Centro de comunicações sociais do Nordeste e informalmen­

te acertado, o uso pelos alunos do complexo dos laborat5rios

da Faculdade de Filosofia do Recife que, de resto diga-se, sem­

pre ocorreu por ocasião das aulas práticas de ciências.

Objetivando oferecer condições para que o professor se

tornasse um facilitador da aprendizagem l do aluno, foi elabora-

1 Entendia-se por "facilitador da aprendizagem" o elemento que propicia condições para que o aluno possa se desenvol -ver corno homem entregue ao estudo; como pessoa em processo capaz de sustentar respostas construtivas, experimentadas ; mutáveis.as mais profundas perplexidades que assediam o homem moderno.

111

da a programaçao do per lodo escolar dividindo-o em 4 unidades

centradas em um tema creral.

Na la. semana de aula foram aplicados testes de sonda­

gem de conhecimentosl elaborados pela equipe de professores, a­

grangendo as diversas áreas de estudo, e cujo objetivo foi deter

minar os nlveis dos alunos para o agrupamento em classe.

A aprendizagem nas 3 primeiras séries se fez através '

de_conteúdos globalizados, onde foram incluldos o desenvolvimen­

to de habilidades,2 hábitos de frequência e formação de atitudes3 ,

o que implica em dizer que as situações ensino/aprendizagem se '

fizeram através de experiências de aprendizagem em situações con

eretas.

Nas 4as. séries, foi adotado um plano piloto: aprendi­

zagem por área de estudo, dadas ainda por professoras polivalen­

tes que se revezaram nas turmas, e constituiu uma transição en7'

tre a professora única das primeiras séries e um número maior de

professores a partir das 5as. séries.

Nas 5as. e 6as. séries, o currlculo foi vivenciado por

áreas de estudo. Caracterizou-se fundamentalmente pela integra-'

ção de conteúdos afins e pelo equillbrio entre as situações de

experiências concretas e de sistematização de conhecimentos, da­

do que o aluno apresenta melhores condições de trabalho e abs-'

tração no plano mental um pouco mais independente já de realiza­

ções concretas. Na área de Ciências foi tentada uma integração ,

entre Ciências biológicas e matemática, porém não foi conseguida.

1 Entendia-se por conhecimento, segundo Benjamim Bloom, os as­pectos pertencentes ao domlnio cognitivo.

2 Por habilidade, ainda sequndo a "Taxionomia de Benjamin Bloom, tudo que se referia ao domlnio psico-motor.

3 Por atitude, segundo o mesmo autor, os aspectos pertencentes' ao domlnio afetivo.

11 2

A"'~Ull~ assup.to~ ~qerM!l ~ex apenas relacionados, o que se veri­

·tj.'9o~ especialmente nas culminâncias das unidades.

As culminâncias nao tiveram nunca um cunho r'ecapitula­

dor. Significaram a integração do que foi aprendido durante o e~

tudo das unidades, através de atividades variadas, como: Exposi­

ção de trabalhos realizados: (duas)l, Grêmio Escolar, Feira de I

Cultura, Gincana Cultural, Festival Junino, Painel Aberto, Feira

de Criatividade.

Um dos itens do Convênio entre a Secretaria de Educa-I

çao e a Congreqação Maria Imaculada, disse respeito às horas re­

servadas ao planejamento: 20% da carga horária do professorado.

Foram essas horas que possibilitaram a função metodológica e que

garantiram a adequação do desempenho curricular em sua abordagem

sistemática, através de meios e instrumentos didáticos de orien­

tação e avaliação.

Foram montados no Complexo Escolar, os sistemas de av~

liação e recuperação. Avaliação ampla, continua e progressiva no

que se referia a conhecimentos, habilidades e atitudes. O cresci

mento do aluno, aferido em termos de conceitos - suficiente e

in~ficiente - correspondiam ao percentual (estabelecido por con

senso do professorado) igualou superior a 65~, respectivamente.

A cada queda de aprendizagem, constatada através de a­

valiações, eram realizadas recuperações aue se apoiavam em técni

cas de trabalhos diversificados.

Eram enviadas para a Biblioteca os alunos de aprendiz~

gero suficiente, com o objetivo de aprofundarem seus estudos, { 2

professoras do SOP eram destacadas para o acompanhamento a fim I

de auxiliarem os alunos nas consultas e manuseio do material bi-

1 A primeira culminância do ano de 1972 e 1973.

773

bliográfico e na sala de aula, os professores davam reforçol aos

necessitados de maiores atenções.

No 29 ano de experiência foi introduzido o sistema de mo­

nitoria. Os próprios alunos que haviam obtido AS (aprendizagem

suficiente) supervisonados pelos professores, ajudavam aos cole­

gas de AI (aprendizagem insuficiente) a superarem suas dificulda

des. Segundo depoimento dos professores e dos próprios alunos ,

foi muito positiva essa experiência quer em termos de aprendiza­

gem quer em termos de atitudes de solidariedade, responsabilida­

de, etc.

A partir dessas primeiras dificuldades,o SOE iniciou o

seu trabalho integrado com os demais Serviços. Qual a causa da

nao aprendizagem? Falta de embasamento, de pré-requisitos? Hal

relacionamento professor/aluno? Bloqueio emocional das crianças?

Carência alimentar? Condições infra-humanas de existência, de

um modo geral? Falta de satisfação ou inadaptação dos professo -

res?

Através de sua equipe interdisciplinar (orientadores, psi

cólogos e assistentes sociais) o SOE atuou sempre, quer realiza!!

do atendimento a alunos, pais, professores e comunidade.

Muito do que foi realizado pelo SOE, tornou-se possivel

mediante a colaboração do Grupo de estagiárias da Faculdade de

Educação de Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), da Facul­

dade de Filosofia do Recife (FAFIRE) e da Universidade Católica

de Pernambuco (UNICAP), pelo fato da Diretora Geral do Complexo

manter relações com estas Instituições de Ensino Superior e ter

aberto o Complexo como campo de estágio, durante os 2 anos de

experiência.

1 Entendia-se corno "reforço", segundo V. Fred Relle, o estimu­lo oferecido para fortalecer a aprendizagem do aluno.

114 3. PLANEJAMENTO DAS UNIDADES

O ano letivo de 1972 teve início com os currículos elabo

rados, conteúdos programáticos delimitados, estratégias sugeri­

das, tema geral e sub-temas de unidades que informariam todas

as atividades do ensino/aprendizagem escolhidos, e a la. unida­

de planejada. Já se havia garantido também junto à Secretaria

de Educação e à congregação Religiosa 20% da carga horária para

planejamento. Isto decorreu em função da necessidade de reci -

clagem constante do professorado uma vez que não foi possível

selecioná-lo para semelhante experiência. Primeiro, por se tra

tar da implantação de uma nova lei de ensinoi segundo, por se

desejar implantar também uma metodologia renovada e atualizada;

terceiro, visando a uma integração pedagógica de 3 unidades em

vários aspectos completamente diferentes. Trabalhou-se com o

pessoal docente já existente nos Colégios, e como em toda parte,

heterogênea, quer quanto à conhecimentos, capacidades, interes-

se, motivações, quer quanto a maior ou menor resistência em

termos de mudanças, etc. Assim as dificuldades também aí se

fizeram sentir agudas. Por esta razão, constituiu ponto muito

importante para a experiência, os Planejamentos das Unidades.

Antes de cada uma delas era feita uma reflexão com o

corpo docente no sentido de se estabelecer

1

de que maneira seria tratado o terna pro­postoi

como situá-lo em termos de experiências;

seria possível partir para uma unidade de trabalho?

Iniciou-se conceituando Unidade de Trabalho 1 • Já se

Entendiã-se por Unidade de Trabalho um conjunto de ativida des didáticas em torno de um tema em um espaço delimitado: no tempo.

11 5

havia estudado a formulação de objetivos de ensino.

E agora se indagava: quais os objetivos de uma unidade

de trabalho, em termos de conhecimentos, habilidades e atitudes?

DebatIa-se a questão. Quais as fases de uma unidade de traba -

lho? Discutia-se então 1) a iniaiação, isto é as etapas da ini­

ciação e as técnicas ou tipos de iniciação; 2) o desenvoZvimen­

to da unidade de trabaZho - o processo - isto é, a vivência e

avaliação das situações e experiências de aprendizagem adequa -

das aos objetivos definidos no planejamento inicial da unidade

e nos re-planejamentos efetuados após a tomada de consciência

do rendimento pessoal de cada aluno e do grupo classe como um

todo, para as necessárias modificações diante das possíveis di­

ficuldades encontradas. Para essa vivência eram sugeridas di­

versas técnicas, como por exemplo, situações-problema, estudo

dirigido individual e em grupo, discussão em pequenos e grandes

grupos, painéis, seminários, pesquisas, relatórios, etc.; 3) a

cuZminânaia, cujo objetivo era integrar o que era aprendido du­

rante o estudo da unidade. Uma revisão ampla e aprofundada

do que havia sido estudado em função do tema em questão e 4) a

avaZiação finaZ, cuja finalidade era verificar em que medida

os objetivos da unidade haviam sido alcançados e cujos resulta­

dos deveriam ser levados em consideração em função do planeja -

mento da unidade seguinte. Eram discutidos ainda os instrumen­

tos a serem usados nas avaliações, assim como, seu modo opera -

cional. O objetivo precípuo nunca era "dar nota" ao aluno, mas

conscientizar professores e alunos de seus crescimentos e de

suas falhas, ou seja, identificar erros e acertos, corrigir ,

complementar e reforçar positivamente o desempenho do binômio -

professor/aluno.

Os planejamentos eram realizados por séries, até às 4as.

e por áreas de estudo e séries, das 5as. em diante l• Eram dis-

1 A equipe de Pastoral que funcionava no Complexo por for2a do Art. 79 da lei 5.692, integrou-se na área de Expressa0 e Comunicação. Houve sempre um esforço de integração dos professores de matemática na área de Ciências, o que rara -mente era conseguido.

11·6

tribuídos entre os professores folhas mimeografadas onde consta

vam nomes, período previsto para a unidade, teaa daquela unida­

de e os seguintes ítens: 1- justificativa; 11- o:Jjetivos: ge

rais e em função de atitudes, habilidades e conhecimentos; 111-

iniciação; 1V-desenvolvimento/atividades/estratégias; V- instru

mentos de avaliação; V1- culminâncias (sugestões) e V11- avalia

ção final.

A equipe do SOP se distribuia entre os grupos de profes­

sores ajudando-os, esclarecendo-os, trabalhando juntos com a

supervisão da Direção Geral do Complexo. Concluído o trabalho,

eram os planejamentos recolhidos e examinados durante a semana

pelo SOP,e não raro, sobretudo no início, submetidos a revisões

profundas. Constituiu-se essa, tarefa árdua para o SOP e a Di­

reção Geral, desde que o professorado estadual possuía anterioE

mente, apenas algumas "horas brancas"l mensais apesar de pos

suir cada colégio de ensino médio coordenadoras pedagógicas, c~

jas funções, no Estado, nunca se constituiram "lideranças peda­

gógicas" mas exclusivamente atividades burocráticas e discipli­

nadoras, como marcação de presenças ou ausências de professores,

e outras atividades meramente administrativas. Com relação ao

ensino primário é depoimento da Diretora do Grupo Escolar Han -

derley de Castro,

1

no meu professorado nunca havia feito um planejamento, nunca havia lidado com pro -blemas mais sérios de educação. Da Secre­taria vinham "sugest~es". Sugest5es de planejamento e até de atividades. Em reu­niões, as professoras tomavam conhecimento dessas sugest5es, cada uma anotava o que se referia à sua série, fazia seu diário de cZasse, entrava em sua sala, dava aula e nada mais que isso. Nunca se exigiu um planejamento da unidade escoZar, ou plane­jamento do professor, da direção da escola,

Horas brancas eram horas livres concedidas pelo Estado des­tinadas para programações e preparação de suas aulas, formu lação e correção de provas, etc.

117

nada. A minha função de Diretora de uma unidade escolar era exclusivamente adminis trativa. Só no Complexo Escolar Manoet Leonarào é que comecei a fazer planejamen­to~ a pensar Educação de uma maneira dife­rente. E não só: foi a partir de Lá que percebi como mesmo na função administrati­va~ eu prestava pouca atenção ao aspecto de reLacionamento inter-pessoal: com os professores~ pessoal administrativo e pes­soal de serviços gerais~ de minha EscoLa. A administração participativa é ainda a melhor maneira de se administrar".

 pergunta: A orientação metodológica recebida no Compl~

xo 1'1anoel Leonardo favoreceu seu desenvolvimento profissional ?

Aponte fatos - uma professora do colégio Cunha Pessoa, respon

deu:

"Sim~ a orientação metodológica que recebi no Comvlexo Manoel Leonardo favoreceu meu desenvolvimento profissional pois me ensi­nou a planejar~ a fazer diagnose das difi­culdades do aluno na aprendizagem~ a ava -Liar as situações ensino-aprendizagem~ a formular objetivos~ a criar atividades compattveis com os ntveis dos alunos peLa observação das suas diferenças individuais". Ainda com respeito a uma outra indagação com relação ao alunado~ respondeu: "a meto dologia util~zada na sala de aula contri = buiu para ~ crescimento dos alunos~ na me­dida em que conscientizou-os dos objetivos do ensino a ele ministrado~ do respeito ao rttmo de aprendizagem individual~ da valorização da pessoa humana~ do desenvoL­vimento do esptrito de crttica e criativi­dade~ do esptrito de fraternidade e do senso comunitário".

Saliente-se mais urna vez que nem todos os professores ti

nham condições de acompanhar esse nível de trabalho e foi have~

do urna seleção natural: alguns pediram após alguns meses de f~

cionamento do Complexo, remoção para outras Unidades de ensino,

e os que se vinham engajar no complexo eram submetidos a um

"teste" escrito de "sondagem", cujo objetivo era levá-las a

refletir sobre sua função de Professor ("a) e a fundamentação

psico-pedagógica de seu trabalho. O teste continha nove ques

tões. Oito, constavam de proposições a serem assinaladas co-

11 8

mo a verdadeira, ou se o (a) candidata discordasse de todas

elas a possibilidade de escrever a sua própria proposição. A

nona, constava de 2 afirmações em que se solicitava uma breve

dissertação constando de reflexão sobre elas.

Do resultado deste teste se inferia as possibilidades ou

não de integração no quadro docente do Complexo Manoel Leonardo

do novo quadro docente do Complexo Manoel Leonardo do novo pro -

fessor.

Por outro lado, procuráva-se aumentar nas Unidades compo­

nentes do Complexo a carga horária daqueles que, integrados nos

objetivos e tendo já demonstrado potencialidades de crescimento,

pudessem concentrar lá seus esforços e interesses dando o horá -

rio integral l• No final da experiincia já era bastante razoável

o número de professores nesta situação.

4. CULMINÂNCIA DE UNIDADES

As unidades estudadas tiveram nos 2 anos da experiência

wna fase que se constituiu ponto alto, tanto para a direção, cor­

po técnico, docentes, alunos e comunidade. Foram as Culninân

cias das Unidades. Ou, pela razão de sendo algo conhecido dos

estudiosos dos planejamentos de ensino nunca haver suscitado

neles maior atenção no sentido de vivincia-Ias, ou, por ter vin­

do ao encontro de uma clientela estudantil numa idade e em Uma

época em que a adesão às mudanças, ao novo, ao que é profundame~

te dinâmico, é por isso mesmo grandemente motivador e calou den­

tro de cada um, como algo capaz de levá-los ao entusiasmo e à

participação.

1 o horário limite no Estado era de 200 horas/aula mensais. Os professores do Complexo Escolar, no final da experiincia, tinham horá rio integral.

\ ---4

, 779

Foi assim que os alunos encararam a la. Culminância e

a partir daí envolveram os professores, 'corpo docente, direção,

famílias, etc. Desde o planejamento da Unidade, pediam-se suge~

tões para a atividade a ser objeto da Culminância. Recolhidas­

as sugestões, e estudadas as possibilidades de execução, tendo

em vista o tema e definição dos objetivos da Unidade, era fixado

com,os Professores o tipo de atividade a ser realizada. Partia-

se então para o seu Planejamento que era realizado por séries

da la. a 4a.,e áreas de estudo, das Sas. em diante.

Os professores estabeleciam:

. .

I- Objetivos - a serem alcançados com aque­la atividade em termos de atitudes a serem assumidas pelos alunos, assim como em termos de habilidades a serem desen­volvidas por eles.

II- Sugestões

- quanto a localf

- material a ser exposto e/ou conteúdo a ser explorado;

- número de equipes integrantes, para o bom desempenho da culminância •.

. S. TREINAMENTO CONTINUADO DE PROFESSORES

Os 2 anos de funcionamento do Complexo Escolar foram ca -

racterizados por um treinamento continuado do professorado, que

como S.O.E. acontecer, ao deixar as bancas escolares, peregrinam

de coiégio a colégio em um trabalho extenuante, cuja jornada se

eleva a 12 quando não mais horas de trabalho, sem disponibilida­

de·de tempo para aprofundar os conhecimentos adquiridos, muito

menos planejar atividades docentes. Os professores do Complexo

Manoel Leonardo não constituiram exceção. Esta, a razão da rei-

\ t !

"-" .. -- _.~

120

vindicação feita e atendida junto à Secretaria de Educação e à

Congregação Maria Imaculada, de um ~ercentual de horas de plan~

jamento incluída na carga horária do professorado do Complexo

Escolar e dos Encontros realizados que significaram momentos

de reflexão e análise das vivências experimentadas, da troca

cornos-colegas e através delas, da busca de novas estragégias

de ação e soluções para os problemas didático-pedagógicos enco~

trados. Para a Direção Geral, era esse um procedimento de suma

importância, por se tratar sobretudo, de uma experiência e

portanto da necessidade de se aquilatar vez por outra a sua

validade, a necessidade de aperfeiçoamento das diretrizes ini­

ciais ou tentativa de novos rumos a encetar. Acresça-se a isso

a necessidade de garantia de uma unidade pedagógica através de

estudos comuns, planejamentos e discussões entre os professores

dos estabelecimentos componentes do Complexo.

Após o treinamento patrocinado pelo Estado e as primei -

ras proposições pedagógicas sugeridas e aprovadas pelo Corpo

Docente (entre elas o tema geral e os sub-temas l das 4 unidades

didáticas 2 , teve início paralelamente às aulas, o treinamen­

to aos sábados, do professorado. Como embasamento teórico-cien

tIfico foram estudados temas como:

1

2

Como formular objetivos de ensino

Sugestões para avaliação de testes

No ano de 1972, o tema geral foi "O homem participante do concerto universal" e os sub-temas que informaram as 4 uni­dades foram:

la. O homem vive em sociedade 2a. O homem e a Sociedade em desenvolvimento 3a. A realidade do homem brasileiro 4a. A nossa atuação no mundo atual

Ficou estabelecido que as atividades de ensino-aprendizagem durante o ano letivo, seriam distribuídos para efeito didá­tico, em quatro unidades possuindo cada uma delas seus obje tivos, conteúdos e estratégias compatibilizados com os te = mas escolhidos.

121

Plano de avaliação do rendimento esco­

lar (I, 11, 111)1

Ficha de avaliação do rendimento esco­

lar

Ficha de avaliação do aluno

SUgestões para o Planejamento da 11

Unidade

Trabalho diversificadol

Caderneta do Professor

Caderneta do Aluno

Ficha individual do Aluno

Plano de recuperaçãol

I Encontro dos professores2

Tendo tudo isso sido vivenciado pelo professorado no'

19 semestre, propôs a equipe do Serviço de Orientação Pedagógi­

ca com a Direção Geral do Complexo, no 29 semestre, refletir

discutir, orientar, agir e avaliar todas as atividades educacio

nais do Complexo Manoel Leonardo em função dos objetivos e me-'

tas educacionais traçados.

A dinâmica operacional deste Serviço no 29 semestre '

de 1972 em função do treinamento de Professores constou de:

1 Os planos de avaliação fazem parte do anexo n9 6, o de tra

balho diversificado e o anexo n9 8 e o plano de recuperaçao

o anexo n9 7.

2 Todos os instrumentos citados, foram elaborados especialmen te em função das atividades no complexo escolar e como eraT

percebido pela equipe, o que sugeria a lei n9 5.692, em termos do ensino de 19 grau.

\ ! _ .. ~

1 22

l-diagnóstico da situação ensino-aprendizagem, através da aná

lise dos questionários aplicados no I Encontro de professo­

res e elaboração e análise de novos questionários aplicados

nas 4as., 5as. e Gas. séries. Nestas duas últimas, foi ava

liado pelos alunos o desempenho dos professores e verifica­

ção do seu nível de aspiração quanto à sua vida pessoal

para replanejamento das aulas que se seguiriam. Além disso,

foram elaborados e analisados questionários de identifica -

ção da situação sócio-econômica da população escolar e ní -

vel de aspiração, agora, dos pais, no que se referia à edu­

cação de seus filhos, além de um outro sobre a identifica -

ção dos aspectos positivos e negativos, respondidos também

pelos pais com relação à estrutura e funcionamento do Com -

plexo Escolar;

2 - planejamento das situações ensino-aprendizagem - quanto .. as

atividades curriculares semanais e às Culminâncias das Uni­

dades, eram pensadas por séries, até as 4as., e áreas de

estudo, das 5as. em diante;

3 - atendimento pelo SOP aos professores individuaZmente ou em

grupo e orientações das situações ensino/aprendizagem.

Visando a esse objetivo, nesse período, foram executados

Treinamentos sobre Técnicas de Sensibilização para criativi

dade, para professores de Comunicação e Expressão das las.,

2as. e 3as. séries; treinamento de técnicas -

socializantes para os professores da ~rea de Estudos Socia­

is; aplicação da técnica de "Estudo dirigido" (anexo n9 15)

para todos os professores com sua fundamentação psico-peda­

gógica, seus objetivos e modo operacional, além de treina -

mento de artes plásticas para os professores das las. sé

ries.

4 - avaliação do ensino/aprendizagem, através da elaboração das

fichas individuais para os alunos das las. às Gas. séries ;

da análise do sistema de avaliação montado no Complexo Esc~

lar Manoel Leonardo a fim de serem identificados os pontos

123

positivos e as falhas do subsistema da escola; da supervisão

na elaboração dos instrumentos de avaliação pelos professores ,

e a mesma sistemática quanto à recuperaçao dos alunos através

do auxílio permanente de 2 supervisores no planejamento e apli­

cação de atividades diversificadas.

No ano de 1973 1, o treinamento continuado do corpo doce~

te foi todo ele montado utilizando-se a metodologia de "Proje -

t08 de ação pedagógica,,2. Permanecia a necessidade de conscien

tizar e instrumentalizar o corpo docente quer em termos de qua­

lificação, quer em termos de efetivação da programação estabele

cida, quer ainda em função da consecução dos objetivos defini -

dos pelo próprio Complexo Escolar. Assim, elaboramos uma "ma -

triz anaZttica" do Serviço de Orientação Pedagógica, dela cons­

tando indicadores, análise dos indicadores, prognósticos,solu -

ções, pessoal necessário, material necessário e os obstáculos

encontrados para cada solução proposta.

As "soZuções" se resumiam na montagem e execução dos

Projetos. Só a la. delas não comportava essa metodologia. To-

1

2

Para o ano de 1973 foram escolhidas como terna geral de to -das as atividades docentes e sub-temas das Unidades, as pr~ posições:

Tema Geral : Para sobreviver como pessoa, o homem preci­sa acima de tudo ser responsável, consciente, criativo e crítico. I • Unidade : Todo homem é responsável por suas ações e ate certo ponto, pelas dos seus semelhantes. 11 Unidade : Atos conscientes são manifestações ineren tes ao ser humano. 111 Unidade : O homem criativo tem condicões de desenvol­ver o seu potencial em benefício próprio e~da sociedade em que vive. IV Unidade : ~ condição para a tomada de decisões lúci -das, refletir com capacidade crítica sobre os acontecimen -tos.

A metodologia "montagem de projeto de a1ão pedagógica" en -contra-se no livro de Josephine Bonochie e outro, EBRASA Brasília, 1970.

124 das as outras se orientaram pelos "Projetos", fazendo-se acomp~

nhar de uma ficha de avaliação e controle. Podemos testemunhar

que pela sua praticidade, simplicidade e clareza, o uso dessa

metodologia facilitou a execução e controle dos fatores de or -

dem pedagógica que interferiram na ação educativa. Dos Proje -

tos constavam os seguintes itens: Objetivos, Metas, Âreas de

atuação, Indicadores, Execução e Avaliação e de sua montagem:

Atividades Técnicas, Cronograma e Recursos: humanos, materiais

e técnicos.

1

-A programaçao do SOP nesse ano comportou 8 Projetos:

- Treinamento continuado de Professores

- Treinamento de professores no período es

.pecial 1; reelaboração curricular e recu­

peração de alunos.

- Seminário sobre o Método Keller (Instru--çao personalizada).

- 111 Encontro de Professores

- Curso de Expressão Corporal

- Seminários sobre Criatividade

- Treinamento de sensibilização de Profes­sores das las. séries.

- Seminário sobre o tema da IV Unidade

Período especial na Lei 5.692 é a programação de reciclagem para os corpos e discente em termos de atualização e recup~ ração, respectivamente.

125

6. ATUAÇÃO DOS SERVIÇOS DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL,

AUDIOVISUAL E BIBLIOTECA

6.1 Serviço de Orientação Educacional

Todas as atividades pedagógicas encontraram respaldo nos

outros serviços técnicos, sobretudo no Serviço de orientação E­

ducacional que atuou não só junto aos alunos e professores corno

também aos pais e a comunidade. Com os primeiros através de:

a) conversas informais, debates em salas de aula e observações, quer em classe, no recreio, nas sessões de expressa0 corporal e em artes;

b) atendimentos individuais e em pequenos grupos;

c) entrevistas;

d) atividades extra-classe, corno em todas as datas festivas comemoradas no Comple xo, desfiles históricos l e culminâncias das 8 Unidades vivenciadas nos 2 anos de experiência.

e) estudo de caso.

Junto aos professores, o SOE funcionou ora atendendo-os,

entrevistando-os ou treinando-os 2, ora intervindo, sempre que

1

2

Em 1972 e 1973 o Complexo participou do desfile histórico patrocinado pela Secretaria de Educação através dos termos "Os quilombos dos Palmares" e "Pregões de Recife", respecti vamente.

Em 1972, o SOE liderou um treinamento em termos de relacio­namento, para os professores que voluntariamente aderiram a esse tipo de trabalho.

126

necessário não só junto a eles corno ã Direção Geral, equipe de

disciplina' e SOPa Com este último· foram estudados encaminha -

mentos de alunos ã psicólógos e professores especializados.

Em 1972 acompanhou o rendimento escolar das 5as. e 6as.

séries. Em 1973, urna estagiária de SOE que pertencen

do ao SO~orientou a classe especial.

Durante todo o funcionamento do Complexo Escolar houve

reuniões sistemáticas de pais. No 19 semestre de 1972 o objeti

vo principal dessas reuniões foi proporcionar a integração

pais/escola e a atualização deles sobre o processo educativo 1e

vado a efeito no Complexo com menta1ização da Lei 5.692 e suas

implicações metodológicas. Durante esse semestre contamos na

equipe do SOE com a presença de 3 assistentes sociais que parti

ciparam do planejamento do Serviço e funcionariam junto

farn!lias no sentido mesmo de trabalharem os conflitos que

-as

sem

dúvida surgiriam em função da junção das diferentes classes so­

ciais participantes do Complexo. Por ausência de sensibilidade

da Secretaria de Educação no entendimento deste problema, ...

apos

trabalharem 6 meses sem terem sido contratadas, corno fora arti­

culado, o Complexo deixou de contar com esses elementos impres­

cindIveis para aplacação do problema da discriminação social

que já se havia desde o inIcio delineado e que na realidade se

configurou a partir do 29 ano de funcionamento da experiência.

A despeito disso, as reuniões de Pais continuaram até o fim

do ano de 1973.

3 O sentido de disciplina no Complexo Escolar pode ser perce­bido através da perspectiva apresentada por wn dos professo res na "entrevista estruturada escrita": "Nosso objetivo -sempre foi dar condições para que nossos alunos desenvolve~ sem suas potencialidades. O desenvolvimento harmonioso dos aspectos pessoal e psico-socia1 foram sempre a nossa meta e pudemos evidenciá-la nas atividades do dia a dia ~ nas do final de cada unidade de trabalho. Demos condi~ões para que nossos alunos desenvolvessem sua capacidade cr1tica, criadora, etc. Trabalhamos em prol de urna auto-discipli -na, e hoje, quando minha realidade em outra escola é dife -rente, acho que na verdade plantamos em cada um de nossos alunos uma semente de questionamento sobre todas as coisas, de definição e vivência do sentido exato da liberdade.

127

Os contatos dos pais dos alunos foram frequentes e reali

zados da seguinte maneira:

- encontros informais com os professores

entrevistas com o SOP

- entrevistas com o SOE

- encontros com a Direção Geral

- reuniões de pais e mestres

As reuniões de pais e mestres eram planejadas pelo SOP ,

contando com a colaboração do SOE e Direção "Geral. Eram estabe

lecidos dias para as reuniões com cada turma. Os assuntos tra­

tados baseavam-se em sondagens feitas sobre temas de interes­

ses dos pais e do Complexo, além de informações sobre a situa -

çao escolar dos alunos.

Durante as reuniões eram previstos momentos de encontros

entre pais e professores de cada classe, para esclarecimentos in

dividuais.

As reuniões sempre tiveram boa participação, sendo bastan

te concorridas.

6.2 Serviço Audiovisual

O serviço audiovisual também elaborou seu planejamento

de atuação no Complexo Escolar, integrando as equipes de SOP e

SOE no sentido de colaborar na facilitação do ensino/aprendiza­

gem através de seus 3 setores: empréstimo, mecanografia e artes

gráficas.

Durante a e~periência do Complexo Escolar,

as seguintes atividades:

desenvolveu

128

inventariou todo o material e equipamen­

tos existentes no Colégio Santa Linai

inventariou todo o material trazido pelo

Grupo Escolar Wanderley de Castroi

funcionou no setor de empréstimo através

da cessão de cartazes, murais, flameló -

grafos, gravuras e ilustrações, diafil -

mes, diapositivos, projetores de filmes,

radiolas, gravadores, retroprojetores

terrnofax 1 , etc.

,

Foi realizada entre os professores a divulgação do mate­

rial existente.

o setor de mecanografia cuidou dos trabalhos mimeografa­

dos e datilografados para os SOP e SOE, tais como planejamen

tos, programações, currículo, Regimento Escolar, proposições di

dáticas endereçadas aos professores, questionários dirigidos

aos pais e professores, fichas de avaliações, estudos dirigidos,

trabalhos para as culminâncias, circulares para pais, relatóri­

os, etc.

o SAV atendeu também às solicitações dos professores

quanto a exercícios, avaliações, leituras informativas, mapas,

guidas de estudo e "passos" do método Keller, etc. assim como

atendimento à equipe de Pastoral que funcionava no Complexo,

nas suas programações estabele"cidas.

1 Grande parte desse material só se pôde dispor através do Convênio celebrado com o CECOSNE e que funcionava em prédio anexo ao do Complexo Escolar. Foi estabelecido com os Pro­fessores um prazo de 48 horas de antecedência na solicita -ção do material requerido, para que fossem compatibilizadas as necessidades do CECOSNE e do Complexo, alem da disponibi lidade do técnico instrumentalizador. -

, ,

-1

I

Para a Secretaria do Complexo, trabalhou na datilografia

de ofIcios, recibos, fichas de matrIcula e transferência.

Através de seu setor de Artes Gráficas, funcionou na

confecção de letreiros e cartazes para a equipe de Pastoral,

confecções de faixas para os desfiles históricos e para o Cen -

tro clvico, máscaras para a peça "0 boi e o burro" encenada no

Natal, além de pintura em fazenda, enfeites e cartazes para di­

vulgação do Natal, máscaras de animais para a la. série, orien­

tação dos alunos das Sas. e 6as. séries sobre planejamento e

confecção de álbuns seriados e ilustrações de jornal, planeja -

mento e execução do material necessário para as culminâncias.

6.3 Biblioteca

Quanto à Biblioteca, foi feita uma solicitação ao Dire -

tor do Departamento de Cultura no sentido de pôr à disposição -

do Complexo Escolar, técnicos que assessorassem as professoras

destacadas para aquele serviço, na orientação e organização da

mesma. O pleito foi atendido e encaminhadas 2 bibliotecárias -

que atuaram e orientaram, de início, a separação dos livros por

assuntos e a sua posterior arrumaçao.

A Biblioteca possula cerca de 4.000 livros incluindo -se

nesse acervo os do Grupo Escolar Wanderley de Castro, identifi­

cáveis pelo carimbo daquele estabelecimento, e também folhetos,

revistas técnicas e publicações periódicas.

o movimento de empréstimo em 1972 só em junho teve iní -

cio, registrando até o dia 6 de dezembro do mesmo ano, 1.030

livros emprestados a alunos, professores, estagiários, técnicos

e orientadores de ensino.

Nesse ano, a frequência registrada, alcançou a média

de 50 consultas diárias, incluindo as realizadas pelos alunos

que para lã eram encaminhados para os trabalhos diversificados

1,3 O

(pesquisa, estudo dirigido, trabalhos em equipe, etc.) dentro do

sistema de recuperação montado no Complexo e orientado como já

foi mencionado anteriormente por 2 professoras inteqrantes do

SOP e destacadas para esse mister.

Até o final da experiência contou-se com a colaboração

das bibliotecárias cedidas pelo Departamento ,de Cultura. Entre-'

tanto, com a rescisão do Convênio, não foi elaborado relatór~o '

das atividades de 1973, razão pela crual não são avresentados'

quantitativos, quer quanto ao número de empréstimos efetuados

quer quanto à frequência média diárra de consultas feitas.

o fato porem da Biblioteca estar em funcionamento des­

de o inicio do ano letivo e a experiência do método Keller, ter­

se-efetivado, sem se prender a livros textos, somos levados a'in

ferir ter alcançado números bastante superiores aos do ano ante­

rior.

A Biblioteca chamou-se Anisio Teixeira, em homenagem ao

ilustre educador brasileiro.

7 • EXPERI~NCIAS EDUCACIONAIS REALIZADAS NO COMPLEXO

7.1. Curso de Expressão Corporal

Nos 2 anos crue durou a experiência foram realizados 4

Encontros de Professores com 2 dias de duração cada um deles e no

fim de cada semestre letivo. O objetivo de cada Encontro era pr~

cipuamente uma análise critica do desempenho de toda a equipe e

a busca solidária de soluções para as dificuldades encontradas.

Dada a dinâmica metodológica desenvolvida no Complexo '

Escolar surgiu a necessidade de serem realizadas experiências ao

curso dos 2 anos de vida do Complexo. Uma delas foi na área'

1 I

J

131 de Expressão e Comunicação. Tendo em vista:

I ) Dar oportunidade às crianças de se expressarem de maneira

criativa utilizando-se de exercitações 'corporais e motiva­

dores de uma auto-revelação gestual, sonora e plástica, e

lI) buscar através de uma auto-experimentaçã~ descobrir novas

formas de expressão na criança que não fossem apenas inte -

lectuais, mas que repousassem fundamentalmente na descober­

ta do próprio corpo como fonte de equilíbrio mental-espa

cial, Efetivou-se através de professores do CECOSNE um trei

namento que foi executado nos turnos da manhã e da tarde

em 10 aulas, uma vez por semana, com a duração de 1 hora

durante o período de agosto a novembro de 1972.

,

Os alunos em número de 25 em cada turma, foram escolhi -

dos aleatoriamente pelas professoras da la. série do 19 grau.

O treinamento se desenvolveu em 2 etapas interligadas.

A experiência demonstrou uma evolução na forma de se

expressar das crianças,que,aos poucos, com base nos exercícios

de flexibilidade e concentração mental apoiados no método iogue,

passaram à elaboração de expressões corporais não verbais, ora

livres, ora sob temas definidos.

1.2 Criação do Centro CíVico

Certos de que a aprendizagem hoje, se faz em percentagem

bem maior fora da sala de aula, foi realizada uma outra experi­

ência, esta, dentro da área de Estudos Sociais: a criação do

Centro CíViCO, onde os alunos tiveram oportunidade de viven­

ciarem atitudes democráticas.

Conscientizados quanto às finalidades do Centro pelos

Professores de Moral e CíVica, eles escolheram seus representa~

tes de turma, compuseram as chapas disputantes e se lançaram

,

em campanha eleitoral que cessou 48 horas antes da realização

das eleições. Foram abertas inscrições, feita a listagem dos

votantes, escolhidos os membros da mesa escrutinadora e a elei

ção foi realizada obedecendo a critérios vigentes nas democra

cias: secreta e livre. A apuração foi realizada, as atas escri­

tas, a multa para os faltosos (que importou em Cr$ 0,50 e rever­

teu já para o Centro Cívico) cobrada, proclamada a chapa vencedo

ra e marcada a posse da la. Diretoria que se realizou em data

pré-fixada.

Uma das primeiras atividades do Centro foi com a assesso­

ria dos professores de Moral e Cívica elaborar o Código de honra

do aluno.

7.3 Método Keller

Uma 3a. experiência significativa realizada no Complexo

Escolar aconteceu no 29 ano de sua existência e visou à introdu­

ção de urna nova metodologia no ensino de 19 grau. O método

Keller 1 , que se constituia ao mesmo tempo urna tentativa de reso!

ver o problema da recuperação, dentro do sistema montado no ano

anterior.

O método Keller ou ensino personalizado, tinha corno prin­

cipal característic~permitir que o aluno pudesse caminhar de

acordo com o seu próprio rítmo. Baseava-se,fundamentalment~ na

teoria do reforço e no respeito às características individuais

do aluno. Os objetivos visados pelo método de instrução person~

lizada eram:

1 O método Keller foi introduzido inicialmente pelo psicólogo F.S. Keller, na Universidade de Brasília, no ensino do 29 grau, após ser adotados em 14 Universidades Americanas.

J 33

melhorar as relações aluno-professor, des

de que havia atendimento pessoal a cada

aluno;

introduzir métodos racionais de trabalho

em educação;

humanizar o·processo de ensino em massa;

- atender a um grande número de alunos sem

prejuízo do rendimento pedagógico.

Para facultar a cada aluno progredir do começo ao fim

do curso no rítmo que lhe era próprio, o conteúdo programático -

do curso era dividido em certo número de "passos,rl. A sala de

aula quase sempre era usada como sala de estudos e a presença

nela não era compulsória nas 7as. séries 2• Os professores eram

mais orientadores dos estudos dos alunos (as). Quando estes se~

tiam domínio sobre o "passo" em estudo, solicitavam ao profes -

sor (a), instrutor (a) de classe, que lhes fossem aplicados o

teste correspondente àquela etapa do programa. Além disso, ha -

via uma entrevista oral sobre o assunto. Caso o aluno não de

monstrasse domínio dos objetivos previstos para aquela etapa

o professor (a) o (a) aconselhava-o (a) a voltar a estudá-lo ,

salientando os pontos mais vulneráveis da sua aprendizagem, sem

que isso importasse em detrimento de seu desempenho. Os passos

eram acompanhados de guias de estudos que continham todas as

instruções. Diversas atividades eram sugeridas como: pesquisas,

discussões, composição de pequenas estórias, exercícios, elabora

ções de esquemas, gráficos, etc. A bibliografia era também

1

2

Os "passos" continham situações de aprendizagem de tal ordem, que o aluno só passaria à unidade seguinte após adquirir domínio satisfatório da unidade em curso.

Supunha-se maior responsabilidade dos alunos das 7as. séries, que escolhiam os lugares que melhor lhes conviessem para .-sos ou em grupos procederem aos seus estudos. Muitos estuda vam no pátio do recreio, em baixo de árvores, em pequenos grupos.

134

anexada ao "guia". Aconselhava-se consultar um dos livros cita

dos, mas qualquer outro sobre o assunto que lhes proporcionasse

maior domínio sobre o conteúdo poderia ser utilizado. Quando

uma boa percentagem da classe já havia passado para o "passo"

seguinte, ocasionalmente, havia palestra, filme ou outra qual -

quer atividade preparada e anunciada préviamente. Nessas oca -

siões eram suscitadas perguntas e debates sobre os assuntos

expostos, quer com os colegas, com os professores (as), quer

ainda com os monitores.

A escolha dos monitores l era feita através da área de

estágio do seu curso e pelo interesse demonstrado pela experiê~

cia. Cabia-lhes providenciar o material de estudo, auxiliar o

professor no atendimento individual- aos alunos, as suas dúvidas,

e, eventualmente, à aplicação de testes. Em qualquer dos casos,

ao seu critério, poderia também recorrer ao professor/em vista

do surgimento de algum questionamento.

o critério de aprovação estava de acordo com o sistema

de avaliação adotado no Complexo Escolar Manoel Leonardo. A

única limitação à evolução da programação que era deixada livre

e determinada pelo desempenho dos alunos, verificava-se nas

culminâncias quando nem todos haviam alcançado o mesmo nível de

aprendizagem.

A frequência de erros de auto-avaliação dos alunos, dirni

nuia ao longo do curso, o que indicava um processo de auto-edu­

cação através desse método. Pelo tempo que uma unidade passava

em sala de aula e pelo número ·de repetições de cada teste da

unidade tornava-se possível uma análise crítica e o aperfeiçoa­

mento da programação.

1 No Complexo Escolar os (as) monitores foram selecionados en tre os (as) estagiários que nos eram enviados (as) pelos Professores das cadeiras de Metodologia da Faculdade de Filosofia do Recife, da Faculdade de Educação e ainda da Universidade Católica, com quem eram mantidos constantes contatos.

1 I

1 3'5

·pessa experiência participaram todos os alunos das 6as .

. sex:ies "B" e "C" do Colégio Cunha Pessoa; todos os alunos da 6a.

série "A" do Grupo Escolar Wanderley de Castro e todos os alunos

da 7a., .série "A" do Colégio Santa Lina. A escolha dessas turmas

deveu-se ao interesse dos professores desses grupos/classe e

à incidência do ensino das mesmas áreas em várias turmas, o que

minimizava o trabalho de planejamento. O estudo do material e

Seminário sobre o Método Keller foi liderado por um casal de

Professores da Universidade da Bahia, onde viviam a mesma exp~

riência e já haviam realizado Seminário idêntico para a UNESCO.

Tomando conhecimento desse fato, a Diretora Geral do Complexo

Escolar entrou em contato com os citados professores em Salvador'

e os convidou para ministrarem ao seu professorado preparação se­

melhante, o que realmente aconteceu.

A respeito dessa experiência : ·'ram realizadas várias

avaliações, inclusive com os alunos ~l~ se estavam submetendo a

ela. Se teria prosseguimento ou não, seria problema a ser discu-'

tido na época do 111 Treinamento do Professorado, em janeiro/'

fevereiro de 1974 o que não chegou a acontecer devido ao fim da

exper iênc ia •

7.4. Desfile Escolar

Uma das atividades que ~erou um clima de interesse e de

-envolvimento de toda a clientela do Complexo, ocorreu durante as

~omemoraçoes do cesquicentenário da Independência do Brasil,quan­

do a Secretaria de Edúcação convocou os estabelecimentos de ensi­

no da Capital, para realizar um desfile Escolar Histórico.

o fato histórico que se optou para apresentar no referi­

do desfile - O quilombo dos Palmares - evidencia o primeiro e mais

significativo passo para a libertação do n~ro escravo em terras'

brasileiras. Foi a mais corajosa tentativa de criar um Estado com

tradições africanas onde a aspiração mais legítima do homem exis­

tisse: a liberdade.

I I

I

r

I

136

Os quilombos, especialmente os dos Palmares, constitui.­

ram na realidade um Estado Negro, onde se sobressalram as capa­

cidades de liderança, administração com a estruturação de uma

economia baseada na agricultura e no comércio, tática ~ilitar ,

espírito comunitário, constituição legislativa, código moral

etc.

,

Foi uma desesperada reação à desagregação cultural que

o africano sofreu com o regime da escravidão".

Acrescente-se a isso o fato de ter acontecido no Nordes­

te e ser o primeiro movimento inspirador dos ideiais que teriam

sua expressão mais alta com a Abolição da Escravatura, a Inde -

pendência do Brasil e a Proclamação da República.

"Pa1.mares permanecerá sempre como um monu­mento à habiZidade inata do Negro brasilei ~o em criar por eZe mesmo, sem auxtliõ ou influências externas, os fatores essen­ciais a uma ordem social. t um caso curio so e instrutivo de fusão da experiência e dos elementos africanos com as imposições do novo meio na formação de um Estado em miniatura, manifestando todos os atributos de uma comunidade civiZizada". Extratdo do livro O negro na civiZização brasileira. A~tu~ Ramos, pág. 69.

Enfocamos o fato em quatro fases:

- a ~eação dos negros face aos maus tratos que lhes eram impingidos;

a República dos Palmares, refúgio dos que bus,cavam uma vida humana;

- a luta defensiva cont~a aqueles que que­~iam levá-los de volta à escravidão;

a figura de Zumbi, "o deus da guerra, o mais poderoso dos gênios, irmão e dono do mar", representando a esperança de todos os homens terem um dia os mesmos di~eitos sem disc~iminação racial, econ; mica, social e religiosa.

Durante o períOdO que antecedeu às comemorações, todos

os alunos do Complexo, através das aulas de Estudos Sociais, e~

tudaram e analisaram o acontecimento histórico da República dos

Palmares, tendo atingido o ápice no Desfile escolar quando

137

"O~ Q.uUombo~ do~ Pa.lma.ILe..6" foi representado alegoricamente.

7.5." Aval"iação- Cooperativa AlUnos-Professores

Um dos trabalhos mais ricos desenvolvido pelo SOP e

SOE, evidenciou-se no que disse respeito ao processo de avalia-'

ção. A forma como transcorria as atividades de ensino-aprendiza­

gem no Complexo, permitiu que fossem realizados encontros de

turmas com seus respectivos professores, onde os alunos avalia-'

vam o desempenho de seus mestres. Estes encontros foram muito

significativos, La medida em que ouebravam a regra da avaliação'

realizada apenas pelo professor, em um clima cooperativo que nao - -

comprometeu o respeito de ambos os la.dos. Nestes momentos, a Di-

reção Geral do Complexo, as equipes do SOP e do SOE funcionaram'

como elemento de apoio, garantindo a harmonia e produtividade de~

tes encontros.

7.6. Classe Especial

~ fato constatado na maioria das nossas escolas, o de'

crianças alcançarem classes adiantadas com 4a e 5a. séries, sem

estarem alfabetizadas, devido a diversos fatores como, inadequa­

ção dos métodos de alfabetização utilizados, situação sócio-eco­

nômica, desajustamento familiar, problemas psicológicos, etc.

No Complexo, observada situação semelhante durante o

ano de 1972 e no inicio de 1973, foi estudada e posta em prática

a possibilidade de criação de uma classe que viesse minimizar as

dificuldades em termos de aprendizaqem encontradas pelos alunos.

Esta classe que objetivava atender às necessidades de '

se dar um treinamento especifico ao referido problema, foi estr~

turada com base nos resultados das avaliações dos alunos em 1973

138

e depoimentos dos professores que com eles lidavam.

A atuação junto a este grupo-classe teve início em maio,

apÓs reuniões com os pais para esclarecimento da situação, ten­

do sido realizado todo um trabalho conjunto entre SOP,SOE e a

professora regente da classe.

Foram programadas e realizadas as seg~intes atividades:

- Avaliação dos alunos quanto a prontidão

para o trabalho escolar.

Investigação~ sistemática da área psico­

motora de cada aluno a fim de se locali­

zar as dificuldades que impediram a

aprendizagem da leitura e da escrita.

- Identificação das causas de

ou baixo rendimento:

• antecedentes hereditários

• distúrbios fisiológicos

• condição sócio-econômica

• constelação familiar

• traumatismos psíqUiCOS

• problemas pedagógicos

• outros fatores

desajustes

- Aplicação da bateria de testes Raven e

sua correlação com o rendimento escolar.

- Entrevista com o aluno

- Entrevista com os professores

- Entrevista com a família

- Registro de observação da professora

- Registro de observação da estagiária

- Levantamento do rendimento escolar

Identificação dos alunos cujas necessida­

des escapavam ao âmbito da competência ou

recursos do Complexo.

) I I

I

739

- Preparação do educando e da fami1ia para

compreender o processo do encaminhamento

que se fizesse necessário.

Trabalhamos com sistema de unidades e os alunos que conse

guira .. vencer as dificuldades de seu nive1J voltaram às suas res -

pectivas classes de origem, sem maiores problemas de adaptação.

Os alunos foram reunidos, em 3 grupos conforme o . seu

grau de aprendizagem, a fim de que houvesse melhores possibi1id~

des individuais. Ao grupo mais lento foi dada ênfase às ativida

des de manipulação do material concreto.

No final de novembro. a classe estava reduzida a apenas

8 alunos que constituiam o grupo mais fraco e que não poderiam

continuar no Complexo em 1974, por não ser objetivo de nenhuma

das suas Unidades atender a esse tipo de aluno, por nao dispor

de condições para dar-lhe o atendimento que sua situação exigir.

Dentre estes alunos, 4 se encontravarn com 14 anos na 3a.

série, portanto, fora da faixa etária. Dois outros,

tendo acompanhamento de psicólogas que as haviam remetido

estavam .. a

Escolas Especializadas e os dois restantes apresentavam baixissi

mo rendimento escolar e percentil intelectual abaixo de 9.

No final do ano, foram convocados, juntamente com a dire­

tora do Grupo Escolar Wanderley de Castro e com a psicóloga, os

pais destes alunos a quem foram explicadas a situação de cada

um e relacionadas as escolas para as quais poderiam ser encami -

nhados.

Nesta reunião, foi mais uma vez confirmada a posição de

que é muito mais fácil para os pais compreenderem a problemática

especial de seu fi~ho, quando fazem parte de um grupo em que

outros pais. têm os mesmos problemas, do que individualmente. In

clusive_ foi observado que o clima criado entre eles, favoreceu

a aceitação dos fatos e a troca de experiências e dificuldades.

1

I l

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I !

I I

t

140

A tônica das conversaS foi sempre de que o mais importante para

uma pessoa é ser feliz e que isto independe dela saber ler e

escrever. Se a pessoa tem dificuldade nesta área deve encon

trar meios favoráveis para explorar as suas outras capacidades.

8. ENCONTRO DE PROFESSORES

Durante os dois anos da experiência foram realizados En­

contros de Professores ocasião em que se refletia sobre os ru -

mos da prática pedagógica que se desenvolvia no Complexo.

Eram abordados problemas educacionais em geral e do Com­

plexo em particular, repensando-se e buscando-se soluções, em

um esforço conjunto e consciente no sentido de um melhor desem­

penho de todos os elementos envolvidos nas situações de ensino.

Estes Encontros eram planejados pela equipe do SOP e a -

presentados à Diretora Geral do Complex~ com a qua~ era discuti

do e analisado.

Nestes momentos, os demais Serviços participavam de acoE

do com as necessidades surgidas, havendo uma total integração.

As dificuldades eram discutidas em conjunto e sugeridas

soluções para cada uma delas, de acordo com as condições pecu -

~iares do Complexo.

Tais Encontros foram os melhores e maiores responsáveis

pelo sentido de integração entre professores, serviços técnicos

e direção.

No último deles, quando já se pressentia a rescisão do

Convênio foi, através da técnica de Psicodrama, realizado o

"juZgamento" do Complexo.

141

A1guns professores representaram o papel de promotores

e o acusaram. Outros, de advogados de defesa e o defenderam.

Um terceiro grupo, o maior deles, diante dos argumentos apresen­

tados - prós e contra a sua continuzação - declararam-se favo­

ráveis ao prosseguimento da experiência. Os grupos foram formados

na ocasião do Psicodrama e exoontaneamente se ofereceram para

representar os papéis.

Momento emocionante foi quando todos formando um só

qrupo se rejubilaram com o resultado a que se havia chegado.

-Apesar disso, um mes apos, tomou-se conhecimento da re-

solução da Congregação, extinguindo o convênio e dando por fim a

experiência.

Observação:

Vo~ Encon~~o~ de P~one~~o~e~ con~ta~ão apena~ a~ p~og~amaçõe~, devido ao volume da~ avalia­ç~e~ e ~~a~amen~o e~ta~l~~ico de cada avalia­çao.

Anexamo~ a Ficha de Avaliação da~ E~tagiã~ia~ do SOE, p~eenchida~ pela Coo~denado~a do SOE' do Complexo e enviada~ ã Unive~~idade ou Fa-' euldade de onde ela~ p~Dvinham.

1 I I , \

I

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