estudo sobre a organização da produção em área de assentamento
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS
MESTRADO INTERNACIONAL EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO
Dion Márcio Carvaló Monteiro
ESTUDO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO EM ÁREA DE ASSENTAMENTO NO SUDESTE DO PARÁ
Belém 2004
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS MESTRADO INTERNACIONAL EM PLANEJAMENTO DO
DESENVOLVIMENTO
Dion Márcio Carvaló Monteiro
ESTUDO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO EM ÁREA DE ASSENTAMENTO NO SUDESTE DO PARÁ
Dissertação de Mestrado apresentada como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em Planejamento do Desenvolvimento.
Orientador: Prof. Dr. Thomas Peter Hurtienne
Belém 2004
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS AMAZÔNICOS
MESTRADO INTERNACIONAL EM PLANEJAMENTO DO DESENVOLVIMENTO
Dion Márcio Carvaló Monteiro
ESTUDO SOBRE A ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO EM ÁREA DE ASSENTAMENTO NO SUDESTE DO PARÁ
Dissertação de Mestrado apresentada como requisito
parcial para a obtenção do título de Mestre em Planejamento do Desenvolvimento.
Defesa: Belém, PA, 22 de outubro de 2004
Banca Examinadora
Prof. Dr. Thomas Peter Hurtienne NAEA/UFPA, Orientador
Prof. Dr. Francisco de Assis Costa NAEA/UFPA, Examinador Interno
Profª. Drª. Maria José de Souza Barbosa CSE/UFPA, Examinadora Externa
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AGRADECIMENTOS
A todas as pessoas que, compreendendo a importância da organização social e econômica dos trabalhadores rurais para a Amazônia e para o Brasil, apoiaram direta ou indiretamente esta pesquisa.
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MADRUGADA CAMPONESA Madrugada camponesa faz escuro ainda no chão mas é preciso plantar. A noite já foi mais noite, a manhã já vai chegar. Não vale mais a canção feita de medo e arremedo para enganar a solidão. Agora vale a verdade cantada simples e sempre, agora vale a alegria que se constrói dia-a-dia feita de canto e de pão. Breve há de ser (sinto no ar) tempo de trigo maduro vai ser tempo de ceifar. Já se levantam prodígios, chuva azul no milharal, estala em flor e feijão, um leite novo minando no meu longe seringal. Já é quase tempo de amor. Colho um sol que arde no chão, lavro a luz dentro da cana, minha alma em seu pendão. Madrugada camponesa. Faz escuro (já nem tanto) vale a pena trabalhar, faz escuro mas eu canto porque a manhã vai chegar.
Thiago de Mello
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RESUMO O trabalho em questão, desenvolvido em um assentamento de trabalhadores rurais no município de Parauapebas/PA, objetivou: (01) identificar, no assentamento Palmares, os principais problemas decorrentes da implantação de um modelo de reprodução econômica, agroindustrial, estranho à região sudeste do Pará (importado do sul do país); (02) verificar alguns resultados, principalmente econômicos, mas também sociais, decorrentes da atual estrutura de organização da produção existente no referido assentamento e, finalmente; (03) analisar o suposto conflito que há entre o modelo de produção coletiva, proposto pelo MST, e a reprodução econômica individualizada, priorizada pelos agricultores. Foi identificado que os maiores entraves na tentativa de inserção “forçada”, de um modelo econômico que não contemplava as diferenças infra-estruturais e tecnológicas entre estas duas regiões, apresentaram-se na falta de conhecimentos técnicos e administrativos por parte da quase totalidade dos assentados, bem como dos dirigentes da Associação de Produção e Comercialização do Assentamento Palmares. Em relação aos principais resultados econômicos obtidos, verificou-se que as culturas temporárias mais trabalhadas são: arroz, milho e mandioca (comercializada in natura e na forma de farinha), comuns na região. No que se refere ao conflito entre a produção coletiva e a reprodução individualizada, observou-se que a estrutura de organização e gerenciamento dos agricultores precisa ser melhor desenvolvida, para que este modelo econômico coletivo realmente tenha êxito. O trabalho considerou um universo de 517 famílias, oficialmente cadastradas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, sendo abordadas um total de 105 pessoas responsáveis pelas famílias e, como forma de garantir a representatividade do estudo, tendo sido entrevistadas no mínimo uma e no máximo três famílias por cada núcleo de produção. Foram identificados 38 núcleos em funcionamento, quantidade encontrada após levantamento junto à Associação e aos coordenadores destes núcleos, aplicando-se questionário a todos estes dirigentes locais. Como um dos resultados da pesquisa foi verificado que mais de 95% das famílias, vinculadas a algum dos núcleos de produção, trabalham unicamente de forma individualizada e que, quase 50% dos coordenadores de núcleo informaram que não existe, ou existe pouquíssima cooperação entre os componentes das estruturas que dirigem. O estudo indica ainda ser necessário avançar nas investigações aqui apresentadas, principalmente na definição e na construção de modelos econômicos que possam acomodar em seu interior tanto atividades produtivas individuais, quanto coletivas, ou de cooperação no campo. PALAVRAS-CHAVE: Organização da produção, produção coletiva, núcleo de produção, MST, campesinato.
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ABSTRACT
This paper was developed in a rural worker´s site in the town of Parauapebas/PA, and it aimed: (01) identify, at the Palmares site, the main problems caused by the application of an agro-industrial economic reproduction model, what is weird in the southeast of the state of Pará (imported from the south of the country); (02) check some outcomes, mainly economic, but also the social ones that were caused by the current structure of the existing production organization in that site; and finally, (03) analyze the presumed conflict that there is between the collective production model, proposed by the MST*, and the individualized economic one, preferred by the rural workers. It was identified that the main obstacles in the attempt of “forced” insertion of an economic model that did not seem to contemplate the infrastructure and technological differences between these two regions occurred due to the lack of administrative and technical knowledge of most of the workers as well as their chief’s. Regarding the main obtained economic outcomes, it was verified that the main produced cultures were: rice, corn and cassava (being the latter commercialized in natura or in the form of flour), which are common in the region. As far as the collective and individualized production is concerned, it was noted that the structure of organization and management of the workers needs to be better developed so that this collective economic model really succeeds. The research considered a group of 517 families which were officially registered by the National Institute of Colonization and Agro Reform, where 105 family chiefs were interviewed and as a way to guarantee the research representativity. One at least or three families at the most were interviewed in each production nucleus. 38 going on nucleus were identified, which amount was found after counting before the association and nucleus coordinators, a questionnaire was applied to all these local heads. One of the outcomes of the research was: more than 95% of the families that were annexed to one of the production nucleus work in an individualized way and that almost 50% of the nucleus heads informed that there is very little cooperation among their directed structure components. The research also indicates that it is still necessary to advance in the investigations presented here, mainly in the definition and in the building of economic models that are able to accommodate individual productive activities as well as collective or cooperative ones in the country. KEY WORDS: Production organization, collective production, production nucleus, MST, country workers. MST * stands for landless movement (people who do not have a place to live and produce)
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Principais motivos apresentados pelos representantes dos núcleos de famílias
47
Tabela 2 Relação dos núcleos atualmente em funcionamento
56
Tabela 3 Número de famílias por núcleo de produção
58
Tabela 4 Nascimento por unidade da federação
61
Tabela 5 Principal atividade antes da ocupação
62
Tabela 6 Comparação da produção no assentamento
66
Tabela 7 Principais dificuldades nos financiamentos
69
Tabela 8 Relação quantitativa núcleos/famílias
72
Tabela 9 Principais assuntos discutidos nas reuniões
75
Tabela 10 Freqüência de reuniões em Palmares
77
Tabela 11 Expectativas iniciais com o modelo
79
Tabela 12 Principais motivos para o trabalho individual
81
Tabela 13 Problemas em se trabalhar de forma coletiva
83
Tabela 14 Formas de cooperação entre os componentes do núcleo
85
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Parte da agrovila de Palmares
15
Figura 2 Entrevista com filho de assentado em Palmares
17
Figura 3 Alguns veículos danificados pertencentes a Palmares
42
Figura 4 Alguns equipamentos pertencentes à fabrica de laticínios
44
Figura 5 Sede da Aprocpar
50
Figura 6 Típica “casa de farinha” da região
64
Figura 7 Agricultor produzindo farinha em Palmares
65
Figura 8 Família de assentados do PA Palmares
68
Figura 9 Núcleo de família “Filhos da terra”
72
Figura 10 Reunião do núcleo “Filhos da terra”
78
x
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO AO DEBATE .............................................................................. 11
1.1 HISTÓRICO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO PALMARES ................... 11
1.2 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ...................................
16
2 UMA ABORDAGEM TEÓRICA SOBRE A CONCEPÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO CAMPONESA ..............................................
21
2.1 PRESSUPOSTOS E CATEGORIAS IMPORTANTES ...................................... 21
2.2 ALGUMAS CONCEPÇÕES TEÓRICAS ...........................................................
24
3 A CONCEPÇÃO DE REPRODUÇÃO ECONÔMICA INICIAL, IMPORTADA, E OS PRINCIPAIS PROBLEMAS IDENTIFICADOS ..............
32
3.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ........................................... 32
3.2 OS PRINCIPAIS PROBLEMAS APRESENTADOS PELOS ASSENTADOS .. 33
3.3 ALGUMAS ANÁLISES COMPLEMENTARES .................................................
46
4 A ATUAL ESTRUTURA DE ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO, CONCEPÇÕES E ALGUNS RESULTADOS VERIFICADOS ............................
48
4.1 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO MST ............................................... 48
4.2 UM BREVE HISTÓRICO DA CONCEPÇÃO DE COOPERAÇÃO NO MST ... 51
4.3 ALGUNS RESULTADOS ....................................................................................
54
5 O CONFLITO ENTRE A PRODUÇÃO COLETIVA E A REPRODUÇÃO ECONÔMICA INDIVIDUALIZADA ......................................................................
70
5.1 A ATUAL SITUAÇÃO DO MODELO DE ORGANIZAÇÃO COLETIVA IMPLEMENTADO NO ASSENTAMENTO ..............................................................
70
5.2 EXPECTATIVAS E CONSIDERAÇÕES ............................................................
79
6 NOTAS CONCLUSIVAS ....................................................................................... 86
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 93
ANEXOS ...................................................................................................................... 98
11
1 INTRODUÇÃO AO DEBATE
1.1 HISTÓRICO DO PROJETO DE ASSENTAMENTO PALMARES
O último período ditatorial no Brasil (1964-1985) introduziu uma nova fase no que diz
respeito à forma como vão ser pensadas as políticas de integração nacional, principalmente
aquelas que procurarão ligar as regiões Norte e Sul/Sudeste do país, sendo diretamente
vinculada a esta questão a necessidade de se definir um outro modelo de desenvolvimento
agrícola nacional. Desta forma e, como opção, implementa-se um processo deliberado de
grande expansão do capitalismo no campo.
No Pará, mais especificamente nas regiões sul e sudeste do estado, verifica-se que
após a construção da rodovia Belém-Brasília, no final da década de 1950, mas principalmente
depois da abertura da rodovia Transamazônica, em 1970, ocorre um grande crescimento
populacional neste estado, afetando inicialmente a cidade de Marabá e logo em seguida quase
toda a região do entorno.
Este processo de ocupação vai se consolidar na década de 1980, fundamentalmente a
partir da implantação do Projeto Ferro Carajás, no município de Parauapebas, da Estrada de
Ferro Carajás, construção da hidrelétrica de Tucuruí e, em especial, a descoberta do garimpo
de Serra Pelada, na fazenda Macaxeira, atual município de Curionópolis, trazendo pessoas de
todo o Brasil, mas principalmente da região Nordeste, com ênfase para os trabalhadores vindo
do estado do Maranhão.
São nestes mesmos anos de 1980, que o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra (MST) realiza suas primeiras articulações, sendo estas inicialmente por lideranças de
trabalhadores rurais do Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, mais especificamente do Rio
Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Mato Grosso do Sul. Os principais marcos
do surgimento desta organização são o Encontro Regional do Sul, realizado em Medianeira
12
(Paraná), de 09 a 11 de julho de 1982, e o chamado Seminário de Goiânia, realizado dois
meses depois do encontro do Paraná (MORISSAWA, 2001, p.136-137).
A consolidação formal do MST deu-se no 1° Encontro Nacional dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra, ocorrido de 20 a 22 de janeiro de 1984, na cidade de Cascavel, estado do
Paraná, quando participaram trabalhadores rurais dos seguintes estados: Rio Grande do Sul,
Paraná, Santa Catarina, Espírito Santo, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Goiás, Bahia, Pará,
Acre, Rondônia e Roraima. Após a realização deste encontro, já ocorreram quatro congressos
nacionais dos sem terra (1985, 1990, 1995 e 2000).
Pode-se observar que os camponeses paraenses tiveram representação desde os
momentos iniciais do MST, principalmente através de lideranças ligadas aos Sindicatos de
Trabalhadores Rurais (STR) e a Central Única dos Trabalhadores (CUT). Porém, foi somente
em 1990 que o MST/PA fez sua primeira ocupação, mais especificamente no dia 10 de
janeiro, no município de Conceição do Araguaia. Esta ocupação mobilizou algo cerca de cem
famílias, que se fixaram em uma área chamada “Fazenda Ingá”.
As ocupações continuaram nos anos seguintes, bem como a reação dos latifundiários
da região que, juntamente com as polícias Civil e Militar, e até mesmo com a Polícia Federal,
prepararam ações na tentativa de desmobilizar o movimento e acabar com as ocupações que
ocorriam na região. Uma das ações mais rigorosas foi a realizada no dia 17 de junho de 1991,
quando os três níveis policiais apontados anteriormente, em uma operação conjunta, após
terem grampeado o telefone da secretaria do movimento, fecharam todas as saídas da cidade
de Marabá e da quadra onde ficava naquele momento a sede do MST, prendendo sete
lideranças, que foram acusadas de serem “guerrilheiros” (MST, 2003c).
Mesmo estando a organização dos Sem Terra sob grande pressão pelas elites locais, as
ocupações, as manifestações e os processos de formação de base, bem como a estruturação
física do movimento, continuaram nos anos seguintes. 1994 foi definido como um ano
13
importante e que deveria ser pautado por uma massificação no processo de ocupação de toda
área passível desta ação e que não estivesse cumprindo sua “função social”, como define a
Constituição brasileira.
É neste bojo que se inicia a disputa pelo que vai ser futuramente o Projeto de
Assentamento Palmares. Assim, no dia 26 de junho de 1994, contando com aproximadamente
mil e quinhentas famílias (BRITO FILHO, 2004, p.66), os sem terra ocupam uma área que
havia sido cedida pelo Governo Federal à Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) sob o
argumento de que a mesma seria ambientalmente conservada, conhecida como “Cinturão
Verde”. Porém, esta ocupação possuía mais um efeito prático de pressão política do que uma
avaliação concreta, por parte das lideranças do MST, de que as famílias conseguiriam
realmente ficar naquele local.
De fato, alguns dias depois foi expedida ordem judicial para que a área fosse
desocupada, o que foi feito, isto após já ter ocorrido alguns conflitos entre os sem terra e os
policiais da região. Ao chegarem à cidade, os agricultores fizeram uma passeata até a sede da
Prefeitura Municipal de Parauapebas, acampando em uma praça que fica em frente a esta
administração. Alguns dias depois as famílias de sem terra solicitaram transporte para ir até
Marabá, no que foram prontamente atendidas pelo prefeito da época, conhecido como “Chico
das Cortinas”.
Os agricultores chegaram a Marabá no dia 05 de julho, exatamente 09 dias após terem
ocupado a área sob responsabilidade da CVRD, tendo ficado acampados no pátio da sede do
Incra, iniciando-se assim novas negociações que não avançaram muito. Com o impasse, os
sem terra decidiram mudar a tática e enviar alguns representantes a Brasília, para negociar
com a direção nacional do Incra. E, como forma de aumentar a pressão, resolveram também
ocupar a sede do Incra de Marabá, onde ficaram por dois dias. Ao todo foram
aproximadamente cinco meses acampados em Marabá (julho a novembro de 1994).
14
Como nada se resolvia, os camponeses resolveram voltar a Parauapebas, ficando
inicialmente em frente ao portão de entrada da Floresta Nacional de Carajás. Após serem
expulsos deste local pela polícia, vão para a frente da Câmara Municipal de Parauapebas onde
permanecem até o dia 20 de janeiro de 1995, quando se deslocam para uma outra área
(indicada pela prefeitura) nas proximidades da cidade, conhecida como “Zé de Areia”, onde
ficam de janeiro a maio do mesmo ano.
Neste período inicia-se um novo processo de negociações, agora com o Governo
Estadual, representado na época por Almir Gabriel, porém como das outras vezes nada se
resolveu. No dia 14 de maio, quase um ano após terem ocupado a “Cinturão Verde”, os sem
terra resolvem ocupar uma área da Fazenda Rio Branco, a mesma que já havia tido uma parte
comprada pelo Governo Federal para assentar outros camponeses, em 1992.
Desta vez os agricultores estavam totalmente determinados a não sair da terra, o que
pode ser identificado nos versos de Edmar Silva (1998, p. 21), mais conhecido como “poeta”,
assentado de Palmares:
CXXX Todos diziam consigo Agora a coisa se encerra. Na região Parauapebas Vai começar uma guerra De polícia e pistoleiro Contra os coitados dos sem terra CXXXI Quando o dia amanheceu Começou a brincadeira. Escolheram 200 homens Para fazer a trincheira. Era a conquista da terra Ou uma guerra certeira.
Ficaram neste novo acampamento de maio a outubro de 1995, quando decidiram
iniciar uma marcha a pé até Belém, distante aproximadamente 700 km de onde estavam.
Saíram no dia 10 de outubro e quando chegaram em Eldorado do Carajás foram convidados a
formar nova comissão para participar de uma outra reunião com o Incra, novamente em
15
Brasília. Desta vez, finalmente, depois de um ano e quatro meses de luta, os sem terra
conseguiram que fosse desapropriada outra parte da Fazenda Rio Branco, que recebeu o nome
de Assentamento Palmares em homenagem a resistência de Zumbi, líder dos escravos que
fugiam do cativeiro no século XVII e ao Quilombo de Palmares, o maior de todos os que
existiram.
Figura 1 - Parte da agrovila de Palmares Foto: Dion Monteiro, 2004
Após esta desapropriação as famílias passaram para uma outra etapa na construção do
assentamento. Agora a preocupação era como estruturar o local. Assim ficou decidido o
seguinte: Ao contrário de outras experiências acompanhadas pelo MST na região, em
Palmares definiu-se primeiramente pela implantação das infra-estruturas como escola, posto
de saúde, moradias, agroindústria, energia, etc. Posteriormente seriam demarcadas as terras e
definidas que culturas seriam plantadas, por quem e em que quantidade (BRITO FILHO,
2004, p.72).
Em 1997 foi conseguido financiamento do Programa de Crédito Especial para
Reforma Agrária (Procera), sendo adquiridos com este recurso os seguintes equipamentos: 04
16
tratores, 06 caminhões, 01 fábrica de laticínios; 01 fábrica de farinha; 01 usina de arroz,
acompanhada de uma empacotadeira; uma fábrica de ração e ainda diversas unidades de gado
leiteiro; suínos; peixes (alevinos) e aves. Com a instalação de energia elétrica no
assentamento, em 1998, tentou-se por em funcionamento as primeiras indústrias, mais
especificamente a usina de arroz, porém os resultados não foram os esperados. Os motivos
que levaram a estes termos serão melhor explicados no Capítulo 3 deste trabalho.
Cumprida esta etapa, encaminha-se de forma mais intensificada a organização das
famílias em relação ao processo produtivo. É a partir desta questão que se constrói a pergunta
da atual pesquisa, qual seja: O atual modelo de organização da produção implementado pelo
MST no assentamento Palmares tem contribuído concretamente com um incremento na
produção dos agricultores residentes neste local e, principalmente, tem propiciado o
desenvolvimento de relações sociais e econômicas diferenciadas das usualmente identificadas
e praticadas, tanto nas zonas rurais quanto nas zonas urbanas?
1.2 PRESSUPOSTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA
O Projeto de Investimento enviado ao Banco do Brasil em 2002 para captação de
recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (PRONAF),
indicou a existência formal de 517 famílias em Palmares, oficialmente cadastradas perante o
Incra. Desta forma, a pesquisa em questão considerou este número como o universo
populacional de interesse para a observação que será realizada.
Como as famílias, em relação à produção, reúnem-se em núcleos e todos os
financiamentos conseguidos foram aplicados no assentamento tendo estas estruturas como
fundamento organizacional e operacional, definiu-se pela realização de uma amostragem
estratificada da população, tendo como base destes estratos os referidos núcleos de produção
ou núcleos de família, como são conhecidos estes organismos implementados pelo MST.
17
Considerou-se que, mesmo havendo níveis de comportamento e interesses diferentes
de estrato para estrato, dentro do mesmo estrato as compreensões e posicionamentos em
relação à temática em estudo, ou seja, a produção e sua organização, seriam senão idênticas,
mas pelo menos similares. E ainda que, de acordo com a quantidade de famílias pertencentes
a cada núcleo (considerado como um estrato), deveria ser retirada uma quantidade variável
destas famílias para observação. Assim, foi abordada uma quantidade que variava de no
mínimo uma e no máximo três famílias por núcleo do assentamento, considerando todos os
trinta e oito núcleos hoje em funcionamento.
Figura 2 – Entrevista com filho de assentado de Palmares Foto: Gustavo Paixão Filho, 2004
A escolha das famílias que seriam entrevistadas, por núcleo, foi aleatória, fruto de
sorteio realizado que posicionava as famílias em ordem decrescente dentro do núcleo.
Quando o responsável pela família, ou seu representante, não era de forma nenhuma
encontrado, passava-se para a próxima família sorteada, posicionada logo após a anterior,
podendo chegar até a última família do núcleo de produção eventualmente sorteada, o que
neste estudo não ocorreu.
18
O primeiro questionário foi aplicado em 105 famílias do assentamento, através de
seus responsáveis, como observado. Este questionário tinha como principal objetivo a
realização de levantamento de informações a respeito do atual nível de produção das
famílias, participação dos seus responsáveis nos processos de tomada de decisão existentes
no assentamento, questões sobre os financiamentos conseguidos e suas principais
dificuldades, bem como de outras informações gerais.
A definição do tamanho da amostra, anteriormente especificado, baseou-se em
princípios estatísticos que pudessem assegurar a precisão científica dos resultados da
pesquisa. Assim, conceitos como intervalo de confiança (margem de erro) e, nível de
confiança, foram considerados importantes neste processo. Louis Rea e Richard Parker
(2002, p. 123) fazem a seguinte observação a este respeito:
O nível de confiança é o risco de erro que o pesquisador está disposto a aceitar no estudo. Dado os requisitos de tempo, orçamento e a magnitude das conseqüências de se tirar conclusões erradas da amostra, o pesquisador normalmente irá escolher um nível de confiança de 95% (5% de chance de erro) ou 99% (1% de chance de erro). Por outro lado [...] o intervalo de confiança determina o nível de precisão da amostragem que o pesquisador obtém.
A equação geral para o tamanho da amostra, em populações grandes e pequenas, ou
seja, maior e menor que cem mil unidades, apresentada pelos autores anteriormente citados é
a seguinte:
( )( ) ( ) 22
2
Cρ1N0,25ZαN0,25Zαn−+
=
Onde:
n – Tamanho da amostra
Zα – Nível de confiança definido
N – Tamanho da população
Cρ – Intervalo de confiança
19
Os autores indicam ainda valores padronizados para os níveis de confiança mais
usados: 95% (1,96) e 99% (2,575).
Com base nas informações anteriores, verifica-se que a amostra utilizada na pesquisa,
105 famílias, revela um nível de confiança de 95% e um intervalo de confiança de
aproximadamente 8,5%, ou seja, indica que a pesquisa apresenta 95% de segurança que a sua
margem de erro é de aproximadamente 8,5%, para mais ou para menos, em relação aos
resultados encontrados no primeiro questionário aplicado, aquele que se refere mais
especificamente às informações sobre a produção em Palmares.
O segundo questionário foi aplicado em todos os 38 núcleos de produção em
funcionamento, através de seus respectivos coordenadores, ex-coordenadores ou, em último
caso, membros de referência. O objetivo deste instrumento foi coletar informações sócio-
organizacionais referente ao assentamento, como por exemplo: quais as expectativas e
problemas em relação à produção coletiva, qual a forma de trabalho que as famílias preferem
desenvolver, a freqüência das reuniões, a melhor forma para a organização dos núcleos de
produção, etc.
Os coordenadores de núcleo foram escolhidos para serem entrevistados por ocuparem
uma posição estratégica dentro de Palmares. Atuando tanto junto à coordenação geral do
assentamento, ao participarem das reuniões que congregam todos os coordenadores de núcleo
de famílias mais a direção do MST e da Associação de Produção e Comercialização dos
Trabalhadores Rurais do Assentamento Palmares (Aprocpar), quanto junto aos assentados de
base. Podendo desta forma ser um importante elo entre estes dois “grupos” de camponeses, ou
seja, aqueles que estão com alguma tarefa de direção e aqueles que, no momento, não estão
responsáveis por estas atividades, sendo assim o principal elemento impulsionador do
processo de participação democrática dentro do referido assentamento, além de terem
conhecimento sobre todas as discussões e estruturas vigentes.
20
As informações mais específicas foram coletadas tanto na Aprocpar, quanto em
contato com algumas lideranças dos sem terra. Foram consultados relatórios elaborados para
captação de recursos junto aos órgãos financiadores e, também, monografias e dissertações
que tiveram como foco esta área, algumas produzidas nos cursos de graduação, especialização
e mestrado da Universidade Federal do Pará e outras elaboradas por assentados e filhos de
assentados, nos cursos promovidos pelo MST e seus parceiros. Porém, esta consulta
bibliográfica ficou de certa forma limitada, pois mesmo realizando intensa pesquisa nos
acervos das instituições responsáveis pela geração de conhecimentos científicos, identificou-
se ainda uma grande carência de materiais relacionados à organização da produção de
trabalhadores rurais na Região Amazônica e, mais especificamente, no Sul e Sudeste do Pará.
21
2 UMA ABORDAGEM TEÓRICA SOBRE A PRODUÇÃO CAMPONESA
2.1 PRESSUPOSTOS E CATEGORIAS IMPORTANTES
A questão agrária no Brasil, bem como em todo o mundo, sempre apresentou enorme
complexidade, instigando vários e conceituados autores a se debruçarem sobre o tema
procurando desvendar os elementos que determinam suas relações sociais, econômicas,
ambientais, culturais e políticas. Na Amazônia paraense esta questão não é diferente e, devido
às já observadas peculiaridades regionais, torna-se muitas vezes mais incisiva ainda, levando
ao extremo a necessidade de uma profunda acuidade científica interdisciplinar no sentido de
pormenorizar uma reflexão sobre seus pressupostos.
Rosa Acevedo (2002), em trabalho denominado “Conflitos agrários no Pará”, logo no
início da discussão afirma que um dos elementos determinantes, referentes aos conflitos
existentes neste estado, é impulsionado pela aviltante falta de eqüidade no controle dos
recursos naturais, ocasionando o que a autora chama de “relações antagônicas” na estrutura
agrária desta região. Uma das conseqüências desta situação expressa-se no permanente estado
de tensão concretamente observado e nos índices de violência cada vez maiores, fartamente
identificados e registrados por inúmeros pesquisadores e organizações governamentais e não
governamentais.
As ações realizadas nas décadas de 1970 e 1980 (abertura de estradas e grandes
projetos) induziram a uma intensa migração de trabalhadores de outras regiões do Brasil para
o estado do Pará, conforme pontuado na introdução deste trabalho. Esta situação levou a um
recrudescimento dos conflitos no campo, porém também levou ao desenvolvimento dos
movimentos sociais e populares organizados, conforme expressa Acevedo no artigo
anteriormente citado:
Na década de oitenta, fortalece-se a articulação dos sindicatos de trabalhadores rurais, emerge a luta dos seringueiros, a organização do
22
movimento dos posseiros, do Movimento dos Sem Terra, do movimento das quebradeiras de coco, dos atingidos por barragens, de remanescentes de quilombos, como ação de enfrentamento em situações de ameaça e conflitos que se tornaram freqüentes, nas quais o uso da força e a participação da polícia e exército, sob o comando do Estado, estão cada vez mais acentuados (ACEVEDO, 2002, p. 211).
A organização destes movimentos sociais e populares, principalmente de posseiros e
sem terra, fez com que fosse inserido, de forma mais consistente, o debate sobre a agricultura
familiar nesta parte da Amazônia, verificando-se com o passar do tempo, porém, uma certa
modificação na compreensão em relação a esta forma de produção, principalmente com a
inserção de elementos que passavam a se pautar por uma “modernidade” dos agricultores,
fator que se contrapõe aos processos tradicionais, havendo agora uma exigência no que diz
respeito a resultados econômicos mais consistentes, definidos pelas demandas de mercado.
Aqui é importante observar que está sendo considerada como agricultura familiar o tipo de
atividade onde os componentes familiares são responsáveis pela maior parte da força de
trabalho despendida no estabelecimento agrícola e ainda que a propriedade, tanto da terra
quanto dos meios de produção, pertença também ao referido grupo.
Wanderley (1999, p. 21-22) observa que dentro da compreensão sobre agricultura
familiar pode-se abordar outros conceitos. Um destes é o conceito de agricultura camponesa,
outro é a compreensão sobre agricultura de subsistência. Afirma a autora que estes dois
tópicos são em essência diferentes, principalmente quando se observa que o primeiro
(agricultura camponesa) pauta-se pelo entendimento da necessidade da reprodução e
manutenção familiar, produzindo tanto para o consumo interno quanto para a
comercialização, através dos excedentes. Ao contrário, a agricultura de subsistência, como o
próprio nome diz, pauta-se apenas pela ação de sobrevivência imediata dos componentes
familiares, sem sustentar-se em uma proposta em longo prazo.
Lamarche (1997, p. 15), em conhecido estudo que coordenou sobre agricultura
familiar em diversos países do mundo, tendo como uma das participantes Nazaré Wanderley,
23
compondo a equipe que estudou o caso brasileiro, apontava o problema da dificuldade em
definir o que seria exploração familiar. Porém, quanto ao enfoque sobre os elementos que dão
sustentação à unidade de produção agrícola, nos termos propostos, o autor acima especificado
relaciona principalmente a questão da propriedade, do trabalho e, logicamente, da própria
família, corroborando com os elementos anteriormente expostos.
Neste estudo Lamarche afirma que o conceito de exploração familiar é uma noção que
apresenta uma clara ambigüidade e que o conceito de exploração camponesa, trabalhado e
descrito profundamente por Chayanov, está inserido na definição de exploração familiar,
porém que o inverso nem sempre corresponde à verdade, ou seja, nem toda exploração
familiar é camponesa. O referido pesquisador afirma ainda que podem ser considerados os
seguintes modelos agrícolas: modelo familiar, modelo de subsistência e modelo
empreendimento agrícola, sendo este último o padrão almejado pelo explorador francês.
Na Amazônia paraense encontram-se diversos exemplos em relação aos modelos
agrícolas apontados, sendo vários os elementos que contribuem com esta situação. Assim,
pode-se considerar a dimensão geográfica desta região, as diversas origens territoriais da
população que atualmente compõe este estado, a grande diferença econômica que existe entre
as classes sociais aqui representadas, os aspectos culturais fruto da diversidade étnica e de
experiências acumuladas, entre outros elementos aqui não explicitados.
No sul e sudeste do Pará verificam-se algumas experiências referenciais, uma delas é a
explicitada pelo Centro Agroambiental do Tocantins (CAT) e pelo Laboratório Sócio-
agronômico do Tocantins (Lasat), ambos localizados no município de Marabá, realizando
importantes pesquisas na região. Entre os vários trabalhos realizados pelo CAT/Lasat destaca-
se um estudo, específico para o município sede, onde os pesquisadores apontaram “a
capacidade empreendedora dos agricultores “pioneiros” em diversificar os sistemas de
produção e o seu papel ativo de usar a terra ainda disponível na fronteira como “maiores
24
triunfos” para a superação das crises dos seus sistemas de produção” (HURTIENNE, 1999, p.
449).
O atual sistema de reforma agrária, defendido por alguns e questionado por outros
(NAVARRO, 2002), tem feito despontar no Brasil um tipo de campesinato organizado nos
projetos de assentamento implantados pelo Incra. Este “novo” agricultor, surgido deste
processo, que pratica tanto a agricultura camponesa quanto a agricultura de subsistência,
utilizando os conceitos de Wanderley, tenta se organizar de diversas formas, pautado por
diversas orientações, algumas apresentando um caráter mais sistemático e dirigido pelo
trabalho coletivo e outras indicando uma independência total entre cada uma das famílias de
trabalhadores rurais, isto no que diz respeito ao desenvolvimento do processo produtivo.
2.2 ALGUMAS CONCEPÇÕES TEÓRICAS
Abramovay (1998, p. 81) observa que apresentar as concepções que procuraram
explicar o comportamento do campesinato não é uma tarefa fácil, principalmente porque são
várias as compreensões, e um trabalho que busque verdadeiramente abranger todos os
paradigmas existentes precisaria ser especialmente dedicado, em sua íntegra, a esta questão
teórica. Assim, o presente item terá como principal objetivo destacar apenas os pontos iniciais
e centrais de autores importantes neste debate e, suas contribuições ao estudo da organização
social e econômica da agricultura familiar e camponesa.
No campo da discussão sobre a economia agrária, Kautsky foi um dos mais destacados
escritores, produzindo em 1899 “A questão agrária”, um dos mais importantes estudos sobre o
desenvolvimento do capitalismo no campo, utilizando neste trabalho uma abordagem
marxista. Na verdade, Lênin baseou todo o seu estudo sobre esta temática nas idéias de Karl
Kautsky, o que, devido às divergências políticas entre eles, nunca foi assumido pelo dirigente
russo.
25
Por mais que Kautsky não tenha apoiado a revolução bolchevique, tendo inclusive
criticado o que, segundo este autor, considerava ser uma forma de poder totalmente
discricionária por parte deste grupo, suas idéias foram amplamente utilizadas pelos
comunistas, principalmente suas avaliações e propostas para o campo e para os camponeses.
Sua compreensão sobre o tema pode ser claramente percebida na seguinte observação:
Para nós o problema agrário é o mais complicado, mas também o mais importante da revolução. Sua solução exige a colaboração mais intensa entre a cidade e o campo, entre teóricos e práticos. Mas também necessita a mais intensa cooperação dos diversos países do mundo, pois o problema agrário tornou-se internacional desde que a agricultura deixou de ser auto-suficiente para depender da compra de matérias-primas como o adubo e a forragem, importados do mundo inteiro (KAUTSKY, 1981, p. 131).
Inicialmente, a revolução socialista na Rússia teve o apoio dos camponeses,
principalmente quando estes começaram a receber as grandes propriedades que iam sendo
confiscadas pelo Estado. Porém, com a implantação do regime burocrático autoritário, este
apoio foi perdendo força. Além deste fator, outro motivo foi que para manter o grande
“exército vermelho”, necessário à sustentação do regime, os camponeses precisaram produzir
muito mais do que antes, ao mesmo tempo em que consumiam muito menos, sendo assim
forçados a manter, com o excedente de sua produção, tanto o observado exército como os
operários urbanos.
Afirmava este autor que era o Estado quem deveria pensar e encaminhar todas as
situações referentes à temática agrária, tanto no que dizia respeito às questões locais, quanto
no plano internacional. Um bom exemplo estava relacionado à decisão sobre a política, que
deveria ser implementada no país, ligada às importações de produtos primários de outras
nações. Neste sentido, Kautsky avaliava que estas importações deveriam ser amplamente
facilitadas, abrindo as fronteiras para que se pudesse auferir preços menores de compra dos
produtos, sem que isto viesse a prejudicar as nações vendedoras.
26
O Estado deveria dar ao campo a mesma atenção que dava à cidade, de forma
nenhuma se afastando deste. É neste momento que Kautsky faz uma de suas maiores críticas
aos bolcheviques, que acusava de implantar uma inexorável ditadura nas cidades, porém
deixava uma total fragilidade no campo. Implementando uma revolução socialista nas zonas
urbanas, mas permitindo que se iniciasse uma revolução burguesa nas zonas rurais
(KAUTSKY, 1981, p. 130).
Segundo Kautsky, as indústrias deveriam ser implantadas também no campo, porém,
para que isso ocorresse seria necessário haver o que ele chamava de “meios de comunicação”
em bom estado e, em quantidade suficiente. Estes “meios de comunicações” seriam estradas
comuns, telégrafos, estradas de ferro e, tudo aquilo que pudesse garantir um processo de
comunicação e um contato rápido e eficiente. Como na Rússia do início do século XX não
havia esta disponibilidade infra-estrutural, a referida implantação não ocorreu da forma e no
tempo necessário, dificultando mais ainda a situação que já era precária.
Mesmo com esta limitação, o autor afirmava que o desenvolvimento conjuntural
tenderia a demonstrar que a agricultura ficaria, naturalmente, subordinada à indústria,
passando a ser um ramo desta. Quanto aos camponeses, estes desempenhariam
prioritariamente o papel de fornecedores de mão-de-obra para as grandes unidades produtivas.
Porém, em alguns casos, ainda continuariam existindo como camponeses, desempenhando
formas de trabalho acessório como o trabalho agrícola assalariado, normalmente temporário, e
participando de indústrias a domicílio, menos eficientes que a industria urbana, porém
apresentando custos menores com a remuneração de mão-de-obra.
A produção agrícola deveria ser organizada, primeiramente, a partir da apropriação
dos grandes latifúndios pelo Estado, podendo ser repassados para as comunidades agrícolas
cooperativadas. Porém, estes grandes latifúndios de forma nenhuma deveriam ser parcelados,
pois este processo levaria à perda de eficiência econômica, podendo prejudicar também o
27
desenvolvimento da tecnologia agrícola que deveria ser voltada para o fortalecimento e a
garantia das grandes produções, necessárias para sustentar o campo e as cidades.
Em várias passagens de suas obras Kautsky vai se referir à superioridade técnica da
grande produção agrícola, mesmo considerando que em algumas culturas como, por exemplo,
a horticultura, pode haver um equilíbrio produtivo, temporário, entre a grande e a pequena
produção agrícola.
Depois de demonstrar a superioridade técnica da grande produção na agricultura [...], Kautsky se pergunta: “O que pode a pequena produção contrapor às vantagens da grande?” E responde: “Maior esmero e maior diligência do lavrador, o qual, diferentemente do assalariado, trabalha para si mesmo; e também um nível tão baixo de consumo do pequeno agricultor individual, que chega mesmo a ser inferior ao do operário agrícola” (LENIN, 1981, p. 91).
Esta superioridade da grande produção vai ser um dos elementos que vão incentivar os
camponeses a se organizarem em cooperativas, procurando, desta forma, também ter maiores
ganhos de produtividade. Assim, Kautsky observa que as cooperativas formadas por pequenos
agricultores, a partir de suas intenções objetivas e subjetivas, representariam mais uma
passagem ao modo de produção capitalista do que a implantação de uma concepção
coletivista.
Lênin, analisando o livro “A questão agrária”, fez também a seguinte observação a
respeito da dificuldade da implantação de uma produção coletivista pelos camponeses:
O que impede o pequeno produtor (o artesão e o camponês) de passar à produção coletiva é o ínfimo desenvolvimento da solidariedade e da disciplina, seu isolamento, seu “fanatismo de proprietário”, notório não apenas entre os camponeses da Europa Ocidental como também, acrescentaremos, entre os camponeses “comunais” russos [...]. “É absurdo esperar – afirma categoricamente Kautsky – que o camponês passe da sociedade moderna à produção comunal” (LENIN, 1981, p. 92).
Ao ser feita uma análise mais política da situação, verifica-se que uma das
preocupações de Kautsky baseava-se em como demonstrar que o pequeno produtor,
camponês, enquanto proprietário dos meios de produção, não servia ao modelo econômico
28
defendido pela social-democracia, pois não se enquadraria aos pressupostos coletivistas desta
concepção teórica (ABRAMOVAY, 1998, p. 51).
Confrontando-se a avaliação de Kautsky podem-se observar as considerações de
Bernstein (intelectual e político alemão), que afirmava que a cooperação no meio camponês
apontaria para a possibilidade de obterem-se resultados muito mais eficazes que os processos
associativistas verificados nas cidades, e que as pequenas unidades produtivas, em alguns
aspectos, poderiam ter melhor desempenho e trariam maior segurança para seus exploradores
que as grandes fazendas. Em sua obra “Socialismo evolucionário”, Bernstein escreve o
seguinte:
As vantagens da compra cooperativa de sementes, da compra ou arrendamento cooperativo de máquinas agrícolas e outras, e a venda cooperativa de produtos, bem como a possibilidade de crédito em condições acessíveis, não pode salvar camponeses já arruinados, mas são um meio de proteger da ruína milhares e dezenas de milhares de pequenos camponeses e agricultores. Não pode haver dúvida a tal respeito (1997, p. 105).
Chayanov, agrônomo russo, afirmava que os intelectuais (teóricos da economia
moderna) sempre avaliavam os fenômenos pautados por conceitos presentes basicamente na
economia capitalista, e que todas as situações diferenciadas do padrão apresentado pelo
modelo em questão eram consideradas em extinção ou como fator que não tinha mais
nenhuma influência na realidade econômica atual.
Porém, observava o autor, sempre existiu e possivelmente continuará existindo uma
grande quantidade de pessoas, em geral habitantes de regiões distantes dos grandes centros
urbanos, moradores das zonas rurais, que não pautam suas ações por indicadores como
salários, lucros e juros. Envolvendo em suas relações de trabalho outros valores, realmente
incompatíveis com a dinâmica apresentada pelo modo de produção capitalista.
Chayanov e a Escola da Organização da Produção, “[...] reflete antes a convicção de
que é impossível entender a unidade de produção familiar sem que a lógica que preside seu
29
processo de escolha econômica tenha sido destrinchada” (ABRAMOVAY, 1998, p. 80). Esta
é uma das principais teses da teoria defendida pelo intelectual abordado e, na verdade, o ponto
de partida dos conceitos que vão ser construídos e defendidos até a sua prisão em 1930,
efetuada pelo regime stalinista, então vigente na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS).
A coletivização forçada estava provocando grandes mudanças e conflitos entre os
camponeses, forçando a saída de milhões de pessoas do campo para a cidade, sendo estas
obrigadas a abandonar suas pequenas unidades de produção agrícola. Chayanov, juntamente
com outros importantes pensadores da economia agrícola, sabia que neste processo o
campesinato daquele país sofreria, como já estava sofrendo, grandes transformações e que,
sem dúvida alguma, poderia até chegar à extinção.
Uma das estratégias usada por Chayanov baseava-se no incentivo à formação de
cooperativas que pudessem servir, entre outras coisas, como um fator de resistência,
principalmente ao elevar a capacidade produtiva dos agricultores, estimulando sua
modernização potencial. Diferentemente do que pregava Kautsky, o autor em questão não
acreditava que este processo de cooperativização, entre os camponeses, pudesse levar mais
rapidamente ao sistema capitalista, mas sim a permanência da pequena unidade agrícola
enquanto elemento diferenciado e, possível de continuar existindo no modo de produção
socialista.
Abramovay (1998, p. 60) afirma que a “lei básica da existência camponesa” para
Chayanov, pode ser expressa por uma relação de equilíbrio entre trabalho e consumo, o que
está de acordo com o que este segundo autor escreve em sua obra mais importante:
La medida de la autoexploración depende en mayor grado del peso que ejercen sobre el trabajador las necesidades de consumo de su familia. La influencia de las necesidades de consumo se ejerce en este caso con tanta fuerza que en una serie de zonas el trabajador, bajo la presión de crecientes necesidades de consumo, desarrolla su producción en estricta concordancia
30
con el número creciente de consumidores. El volumen de la actividad de la familia depende totalmente del número de consumidores y de ninguna manera del número de trabajadores (CHAYANOV, 1974, p. 81).
Chayanov (1981, p. 136) afirmava que em uma “economia natural”, o principal fator
de mobilização é a necessidade de satisfazer determinados níveis de consumo demandados
pelas famílias. Assim, para cada uma das necessidades destas unidades de produção e
consumo é preciso ser definida uma ação correspondente, ou seja, “para cada necessidade
familiar é necessário prover, em cada unidade econômica, o produto in natura
qualitativamente correspondente”.
Este autor dizia que na unidade econômica familiar, não assalariada, seria impossível
aplicar o cálculo capitalista do lucro, pois ao não existir o elemento salário conseqüentemente
não havia também o item lucro líquido. Neste tipo de empreendimento familiar o produto do
trabalho seria dado pelo produto bruto (conseguido a partir da troca da produção de um ano de
trabalho, no mercado), menos o dispêndio material necessário no transcurso desse ano.
Em relação às dificuldades enfrentadas pelas famílias tendo como motivo a falta de
terra para que todos os componentes possam trabalhar, Chayanov (1974, p. 101) observa:
“Vemos aqui que cuando la tierra es insuficiente y se convierte en un factor mínimo, el
volumen de la actividad agrícola para todos los elementos de la unidad de explotación se
reduce proporcionalmente, en grado variable pero inexorablemente”.
O problema acima apresentado pode ser resolvido de duas formas: a primeira destas é
a partir da incrementação do rendimento dos campesinos por unidade de trabalho,
possibilitando desta forma a compra ou arrendamento de uma nova parcela de terra; a segunda
forma de se resolver esta questão indica que a família pode partir para o desenvolvimento de
atividades rurais não agrícolas, como por exemplo: atividades comerciais e artesanais,
31
complementando assim a renda e garantindo as necessidades de consumo dos componentes da
família.
Chayanov faz ainda um importante questionamento “É possível construir uma teoria
econômica universal?” Ele mesmo responde afirmando que não, pois nenhuma teoria seria
capaz de explicar todos os fenômenos que existem no mundo atual. Afirmando ainda que o
futuro da teoria econômica reside na possibilidade de serem concebidos vários modelos
diferenciados (sistemas teóricos) que possam dar conta tanto de formas contemporâneas
quanto das experiências econômicas anteriores, tanto em relação a sua coexistência, quanto
em relação a sua evolução (CHAYANOV, 1981, p. 163).
32
3 A CONCEPÇÃO DE REPRODUÇÃO ECONÔMICA INICIAL, IMPORTADA, E OS PRINCIPAIS PROBLEMAS IDENTIFICADOS 3.1 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
A falta de uma referência local, principalmente no que diz respeito ao
desenvolvimento de um modelo produtivo agroindustrial baseado na realidade do sul e
sudeste do Pará, paradigma, na verdade, ausente na Amazônia como um todo, levou à
implantação de uma proposta econômica no assentamento Palmares pouco adequada para
aquela região, mostrando assim claramente a importância de ter sido feita, naquele momento,
uma profunda reflexão no que diz respeito a que tipo de padrão adotar, o que não ocorreu.
O referencial das lideranças do referido assentamento, em relação à organização da
produção, eram as experiências em andamento no Espírito Santo, Bahia, Ceará e,
anteriormente, nos estados do Sul do Brasil, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul
(MORISSAWA, 2001, p. 147). Desta forma, os encaminhamentos tomados foram pautados,
na maioria das vezes, pelos aspectos presentes naquelas distintas realidades, como indicado.
Brito Filho (2004, p. 76), ao comentar a situação verificada em Palmares e a influência
das outras experiências nacionais, faz a seguinte observação:
Essa política, apesar de ser orientada para os seis estados, acaba influenciando outros assentamentos de outros estados, com estágios de desenvolvimento diferenciado dos mesmos. Caso exemplar é o do assentamento Palmares, que ao definir primeiro tratar das infra-estruturas, é influenciado pela palavra de ordem que exalta a necessidade da produção e define com recursos de crédito, investir em instalações de máquinas beneficiadoras e de agroindústrias de grande porte, antes mesmo de conhecer a capacidade de produção e da definição do que as famílias iriam produzir nos seus lotes.
Não se avalia necessário aqui desenvolver profundas considerações sobre as distinções
entre as regiões Sul e norte do Brasil. Porém, estas diferenças tornam-se ainda mais gritantes
em algumas situações, sendo o caso das regiões Sul e Sudeste do Pará um ótimo exemplo da
questão aqui apresentada. Estas regiões, como é sabido, carecem de algumas das mais
33
precípuas infra-estruturas para que seja garantido um verdadeiro processo de desenvolvimento
agropecuário familiar ou camponês. Não sendo este o único caso, é claro, mas com toda a
certeza um dos mais explícitos.
Os investimentos em infra-estrutura produtiva no assentamento Palmares, como:
aquisição de uma usina beneficiadora de arroz com empacotadeira, uma fábrica de laticínios,
uma fábrica de farinha, uma fábrica de ração, além do investimento em grandes projetos de
bovinocultura, suinocultura, avicultura e piscicultura, não reverberaram da forma como os
assentados e suas lideranças imaginaram e desejaram. Neste caso, a importação de uma
concepção de reprodução econômica é um dos elementos principais no que diz respeito às
avaliações consideradas. Porém, apesar deste ser um dos sustentáculos das afirmações, de
forma nenhuma pode ser identificado como o único fator. Assim, vários outros elementos são
partícipes desta situação, senão no todo, mas influenciando certamente em parte.
3.2 OS PRINCIPAIS PROBLEMAS APRESENTADOS PELOS ASSENTADOS
Com a intenção de responder a esta questão, foram entrevistados os 38 coordenadores
dos núcleos de produção em funcionamento no assentamento. Na ausência destes
coordenadores, foram entrevistados os ex-coordenadores e, caso nenhum dos anteriores
fossem localizados, abordava-se um dos componentes, representativo para o núcleo. Desta
forma, a pesquisa apresentou alguns elementos que auxiliam na compreensão dos principais
motivos que levaram aos problemas verificados no modelo de produção naquele momento
implantado, baseado nas grandes estruturas, como as agroindústrias e, nos grandes projetos,
fatores anteriormente observados.
A grande maioria das pessoas abordadas referiu-se à falta de conhecimentos
administrativos como a principal causa dos problemas identificados, com 42,11% dos
motivos relatados. Isto quer dizer que 16 dos 38 coordenadores, ex-coordenadores ou
34
membros de núcleo entrevistados citaram este fator como relevante. Esta questão está
relacionada à capacidade dos assentados em gerenciar as suas estruturas organizacionais,
entre elas a própria associação (Aprocpar) enquanto entidade legal, encaminhando questões
relacionadas à administração financeira, de recursos materiais e humanos, questões referentes
aos aspectos burocráticos e tributários, à comercialização dos produtos, entre outros, assim
como as suas próprias estruturas informais, como o funcionamento dos núcleos de família. Na
terceira parte deste capítulo este elemento será aprofundado.
O problema logo a seguir citado foi a falta de formação e conhecimento técnico
para desenvolver as atividades, com 28,95% de todos os motivos observados. Neste caso,
das 38 pessoas entrevistadas, 11 apontaram esta questão como uma das mais relevantes e que
certamente deveriam ser consideradas e, principalmente, avaliadas no desenvolvimento da
pesquisa em curso.
Ainda relacionado a este item, verifica-se que, em alguns casos, faltou inclusive
experiência prática em relação às atividades. Desta forma, independentemente do apoio
técnico, o fato de muitos assentados nunca ter trabalhado, por exemplo, com criação de porco,
peixe ou frango, fez com que algumas medidas equivocadas fossem tomadas, além de outras,
simples, não terem sido contempladas, o que não ocorreria se estas pessoas já tivessem uma
mínima experiência prática com este tipo de ação.
Havia ainda uma certa dificuldade e mesmo desconhecimento em como trabalhar no
sistema coletivo. Esta situação indica a novidade em tal procedimento. Na verdade,
pouquíssimos agricultores e agricultoras assentados já haviam experimentado uma forma de
trabalho coletivo, nos moldes que o MST procura trabalhar. Quando muito estas famílias
praticavam, em suas regiões de origem, formas de cooperação como o mutirão ou a troca de
trabalho, onde uma família trabalhava no lote da outra e, posteriormente, a que recebeu a
ajuda fazia a reposição de trabalho na terra da família que havia lhe ajudado. Esta questão será
35
aprofundada no Capítulo 5 deste trabalho, quando se tratará do conflito entre a produção
coletiva e a reprodução econômica individualizada.
Seria importante ter ocorrido também uma maior fiscalização em relação à aplicação
dos recursos por parte do Governo Federal, através de suas instituições, bem como por parte
do MST nacional, avaliam alguns assentados, ainda referindo-se à falta de formação e
conhecimentos técnicos. Para algumas pessoas, seria necessário que os recursos tivessem um
melhor acompanhamento de sua utilização, no decorrer desta. Avaliam que tanto o Governo
Federal, quanto a direção nacional do MST, falharam ao não dar a atenção que a situação
exigia, em relação ao aspecto abordado. Verifica-se que esta idéia de controle deve-se muito
mais a uma preocupação com o uso tecnicamente correto dos recursos do que a uma possível
apropriação indevida dos mesmos. Sendo então uma precaução no sentido de que fosse
garantida uma melhor aplicação destes.
Faltou também, segundo a ótica de alguns assentados, técnicos mais capacitados para
que o empreendimento fosse bem sucedido, afirmando estes que os técnicos disponíveis não
estavam totalmente preparados para orientar os agricultores, pelo menos não nas necessidades
que agora estes passavam a ter, a partir das grandes estruturas, tanto em relação aos
maquinários quanto no que se refere aos projetos desenvolvidos, em proporções muito
maiores a que todos estavam acostumados.
A falta dessa melhor qualificação, principalmente por parte dos agentes que deveriam
ajudar os demais assentados a implementar suas atividades de forma correta, não pode ser
responsabilizada apenas aos técnicos agrícolas, ou até mesmo aos agrônomos disponíveis
naquele momento, pois não houve nenhuma preparação específica (técnica) para essa nova
etapa, tanto em relação aos meios, quanto em relação à forma de produção. Entende-se que o
melhor caminho, naquele momento, seria o apoio, mesmo que temporário, de uma equipe que
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já estivesse acostumada a trabalhar com estas estruturas agrícolas e pecuárias, além dos
projetos de piscicultura e suinocultura que estavam sendo implementados.
Foi observado por parte destes entrevistados a questão referente ao acompanhamento
técnico por parte do governo, sendo este ponto semelhante ao citado em relação à necessidade
de um acompanhamento dos recursos financeiros, reforçando a preocupação com os
procedimentos que deveriam ser executados, especificamente em relação ao processo
produtivo.
Como no projeto de captação de recursos, elaborado pela associação, estava indicado
que a assistência técnica seria de responsabilidade da Aprocpar1, não houve por parte da
instituição financiadora uma preocupação com esta questão e, nem por parte de nenhuma
outra instituição federal vinculada. Desta forma, devido à associação do assentamento ter tido
dificuldades em ampliar a quantidade de técnicos disponíveis, vários problemas passaram a
ocorrer, sendo estes realmente determinantes.
Complementando este último conjunto de motivos explicitados, composto pelos
argumentos que se referiam à necessidade de uma maior qualificação técnica e um
acompanhamento mais incisivo por parte do governo, verificou-se que faltaram mais técnicos
para ajudar nos projetos, ressaltando agora um aspecto quantitativo e não mais “apenas”
qualitativo como as questões anteriores, prioritariamente, vinham indicando.
Durante o período de implantação e desenvolvimento dos “grandes” projetos
coletivos, bem como em praticamente todo o tempo de existência do assentamento Palmares,
a associação somente teve possibilidade de disponibilizar entre dois e três técnicos agrícolas
ou agrônomos com nível superior para atender a toda a área do assentamento. Esta
quantidade, logicamente, era insuficiente para acompanhar as 409 famílias, divididas em 51
1 O Projeto Consorciado de Investimento e Custeio safra 99/2000, elaborado pela Associação de Produção e Comercialização dos Trabalhadores Rurais do Assentamento Palmares (Aprocpar), no que se refere à assistência técnica, indicava o seguinte: “Será prestada por uma equipe de profissionais vinculada à Aprocpar a qual deverá ser mantida com recursos do programa Pronaf até que o Assentamento seja atendido pelo Projeto Lumiar”.
37
núcleos, que estavam sendo diretamente beneficiadas pelos recursos auferidos naquele
momento.
O levantamento feito no assentamento, junto aos responsáveis pelas famílias de
trabalhadores rurais, indicou que 67,62% dos entrevistados, o equivalente a 71 das 105
famílias abordadas, afirmaram nunca ter recebido assistência técnica durante o período em
que estão em Palmares. Aqui vale salientar que praticamente todos os responsáveis pelas
famílias entrevistados estão no assentamento desde a ocupação da terra.
Informam ainda que apenas por ocasião da elaboração dos projetos de captação de
recursos é que os técnicos da associação visitam os lotes (cujos titulares afirmaram não
receber acompanhamento técnico), porém dizem que somente são visitados aqueles que vão
fazer parte do projeto, isto para verificar se a descrição, no que diz respeito à situação do lote,
feita pelo assentado, corresponde realmente a realidade, garantindo assim a viabilidade do
investimento pleiteado ao banco.
As demais famílias entrevistadas, correspondentes a 32,38%, ou seja, 34 das 105
famílias, afirmaram ter recebido, em média, de 01 a 06 orientações técnicas, isto considerando
todo o período em que estão no assentamento. Algumas afirmaram, porém, nunca ter recebido
assistência técnica no lote, mas tiram suas dúvidas quando vão à Aprocpar ou quando
ocasionalmente encontram algum de seus técnicos .
Entre os entrevistados, 13,16% (05 pessoas) afirmaram que faltou compromisso e
dedicação por parte dos assentados. Porém, para compreender claramente esta questão é
interessante primeiramente entender o que significa o termo: falta de unidade entre os
trabalhadores, observado pelos assentados. Assim, avalia-se que esta afirmação tem um
profundo caráter político, sendo esta “unidade” representada por ações de confiança e
reciprocidade, respeito e consideração, entre todas as pessoas que fazem parte do mesmo
38
espaço comum. A unidade seria então a possibilidade do desenvolvimento de um labor
coletivo, pautado necessária e evidentemente por objetivos únicos.
A não existência desta unidade, enquanto ação, explicita conseqüentemente a ausência
dos valores e compromissos pontuados, os quais poderiam dar suporte para o
desenvolvimento do que pode ser chamado de forças produtivas e relações sociais de
produção solidárias 2 , onde homens e mulheres construiriam relações, equipamentos e
instrumentos unicamente a partir dos interesses e das necessidades coletivas. Como a etapa
vigente não representa a etapa socioeconômica aqui teorizada, a relação quase imediata da
falta de unidade entre os trabalhadores é a falta de compromisso e dedicação por parte dos
assentados, não importando, neste momento, o que se manifesta primeiro.
Não existindo compromisso e, nem tampouco dedicação, a resultante será
evidentemente a não realização das tarefas coletivas pensadas e acordadas pelas pessoas que
deveriam assumi-las. Aqui é importante compreender que as responsabilidades deveriam, a
todo momento, ser compartilhadas, nunca centralizadas. É justamente esta falta de
compromisso com os trabalhos que seriam desenvolvidos, característica presente em uma
grande quantidade dos componentes do assentamento, segundo alguns entrevistados, que
levou a concentração de tarefas nas mãos de poucas pessoas. Porém, é necessário também
afirmar que a compreensão política sobre a necessidade da implementação de um processo
inovador no que diz respeito às relações sociais e de produção, apesar de restrito a um
pequeno número de pessoas, ainda está presente na área do assentamento Palmares.
É justamente esta compreensão que vai fazer com que algumas pessoas, mesmo com
uma série de limitações e dificuldades, tenham tentado garantir os trabalhos que precisavam
ser desenvolvidos para que os investimentos pudessem ser bem sucedidos, resultando em que 2 Parte-se do conceito marxista de forças produtivas, que seria o conjunto de força de trabalho humana, materiais de produção (equipamentos, ferramentas, etc.) e matéria-prima, sendo que a unidade entre estes elementos tende a criar condições para uma expansão cada vez maior da produção gerada. Sandroni (1994, p. 143) observa o seguinte: “Essa expansão opera modificações nas relações de produção e no modo de produção. Assim, a determinado nível de desenvolvimento das forças produtivas correspondem determinadas relações de produção”.
39
poucas pessoas fossem “obrigadas” a assumir muitas tarefas, segundo alguns agricultores,
mostrando-se esta situação altamente prejudicial para o empreendimento como um todo.
Por outro lado, alguns assentados, coordenadores de núcleo de famílias, no total de
07,89% (03 assentados) avaliam que faltou descentralizar mais o poder no assentamento.
Esta ponderação é dirigida especificamente a alguns dirigentes da Aprocpar,
responsabilizados por terem, segundo os entrevistados em questão, deliberadamente
centralizado informações e poderes de decisão, excluindo outros assentados, principalmente
aqueles com os quais possuíam alguma divergência de caráter político.
Esta atitude acabava afastando também muitos outros componentes do assentamento
das atividades produtivas coletivas, pois estes não ficavam satisfeitos e tampouco
concordavam com a situação vigente, piorando ainda mais os problemas que já existiam.
Agravando este fato, verificava-se que a não participação dos assentados nas atividades da
associação acabava limitando mais ainda estas pessoas, impedindo que as mesmas
compreendessem as ações que deveriam ser desenvolvidas, no que diz respeito à produção
coletiva, tendo como resultado a fragilização desta proposta e o fortalecimento da concepção
do trabalho individualizado.
Fazendo coro com esta afirmação, verificou-se a fala de que os dirigentes da
associação não aceitavam as opiniões dos demais. A citação deste coordenador reforça, de
certa maneira, a citação anterior, que se referia à concentração de poder. Afirmou-se também,
ainda neste contexto, que havia falta de responsabilidade dos dirigentes, indicando-se
inclusive a existência de apropriação de recursos financeiros por parte de alguns assentados
ligados à associação. Aqui é importante dizer que estas afirmações foram minoritárias (02
casos), porém mostram claramente a falta de confiança que havia, ou que há, entre algumas
pessoas que compõem a coordenação geral do assentamento Palmares, o que pode ter reflexo
nas demais assentadas e assentados deste local.
40
A análise feita anteriormente, quando se tratou dos aspectos de unidade e
compromisso, já indicava uma situação negativa em relação ao empreendimento,
especialmente ao constatar-se a presença de posturas e atitudes adversas a estes princípios.
Assim, a inclusão de elementos que indicam desconfiança, caracterizados pelas afirmações de
falta de responsabilidade e apropriação dos recursos, complementa a avaliação em questão,
indicando esta situação também como relevantes no que diz respeito aos problemas
enfrentados naquele momento pelos agricultores.
Avançando um pouco mais nas considerações, vê-se que possivelmente ambos os
pontos de vista dos assentados, tanto aquele que indica uma falta de apoio por parte dos
trabalhadores, fazendo com que poucas pessoas tivessem que assumir muitas tarefas, quanto o
que aponta uma centralização das atividades em um pequeno grupo, não devem ser
desconsiderados. Diversas dificuldades, tanto em relação à compreensão no que se refere a
novas relações sociais, quanto em relação ao desempenho técnico, estavam e estão presentes
em todos os componentes do assentamento, assim como em todas as pessoas que hoje estão
submetidas a superestrutura3 definida pelo sistema atualmente vigente.
A falta de capital de giro4 também foi um fator observado pelos entrevistados. Neste
caso, 7,89% dos coordenadores ou membros de núcleo (03 pessoas) apontaram esta situação
como cabal no que diz respeito aos resultados alcançados, sendo os projetos de bovinocultura
leiteira, piscicultura, avicultura e suinocultura, os mais atingidos por esta falta de recursos
imediatos ou em curto prazo.
3 Termo marxista que indica os elementos ideológicos de uma sociedade sejam estes ligados a política, filosofia, moral, ciência, entre outros. Compõe com a infra-estrutura os fatores que vão determinar os rumos concretos que as relações sociais e produtivas vão tomar. Alguns autores fazem uma leitura hierarquizando estes dois fatores, afirmando que a infra-estrutura, também chamada de base, vai determinar os caminhos da superestrutura. Porém, Allan Johnson (1997, p. 26) afirma o seguinte: “Marx argumentava que é impossível compreender inteiramente os aspectos superestruturais das sociedades sem levar em conta a respectiva base. Isto não implica dizer, no entanto, que a base causa ou determina a superestrutura de uma maneira direta, linear. A superestrutura é moldada por forças não econômicas e afeta também a base. Em suma, a relação entre base e superestrutura é simultaneamente complexa e recíproca”. 4 A compreensão de capital de giro, pontuada pelos entrevistados, está de acordo com o conceituado por Paulo Sandroni (1994, p. 41), qual seja: “Parte dos bens de uma empresa representados pelo estoque de produtos e pelo dinheiro disponível (imediatamente e a curto prazo). Também chamado de capital circulante”.
41
A indisponibilidade destes observados recursos pode ser compreendida, em resumo,
como decorrência da própria falta de desenvolvimento das atividades produtivas que, ao não
se realizarem, comprometem a circulação dos ativos financeiros. As conseqüências desta
situação são muitas, podendo-se afirmar que praticamente todas são identificadas quando se
analisa a situação do assentamento Palmares no período em estudo.
Um dos efeitos verificados pode ser, por exemplo, a falta de recursos para a compra de
ração em quantidade e qualidade para aves e peixes, causando uma grave reação em cadeia e
impossibilitando concretamente, principalmente a médio e longo prazo, o desenvolvimento de
outras atividades, seja no contexto da gestão administrativa ou da gestão comercial, levando à
inviabilização do empreendimento.
A falta de capital de giro também pode impedir a simples aquisição de ferramentas de
trabalho, sendo os agricultores obrigados a retirar recursos que deveriam ser destinados a
investimentos ou aquisição de outros bens de consumo, para satisfazer esta necessidade. Este
exemplo é comum no assentamento em questão, os levantamentos mostram que 44,76% das
105 (cento e cinco) famílias entrevistadas, através de seus responsáveis, afirmam possuir no
ano da pesquisa (2004) pelo menos uma ferramenta de trabalho (machado, foice, enxada,
facão, pá, cavador, enxadeco, alavanca, terçado, carrinho de mão, ancinho, etc.) adquirida
com recursos que deveriam ser utilizados em investimentos ou compra de outros bens
diferentes de ferramentas e utensílios de trabalho, contra 55,24% que afirmaram somente
possuir ferramentas adquiridas com recursos próprios.
Situação semelhante e, da mesma forma, presente no assentamento, verifica-se em
relação à falta de condições para adquirir vacinas e remédios para os animais, fato que fica
mais grave quando são considerados os problemas que surgem sem que haja a possibilidade
de previsão, ou seja, aqueles acometimentos que se posicionam independentemente do ciclo
normal de vacinações, situação não tão incomum no meio rural, espaço fortemente
42
influenciado pela ação dos mais diversos microorganismos, muitos destes transmissores das
mais variadas endemias.
O capital circulante também poderia ser utilizado, caso existisse, na aquisição de peças
e serviços destinados a recuperar a frota de veículos do PA Palmares, que hoje se encontra
bastante reduzida, com vários tratores e caminhões quebrados e, conseqüentemente parados,
estando ainda alguns outros funcionando precariamente, necessitando de serviços mecânicos e
troca ou compra de novas unidades de reposição para poder funcionar normalmente. Além de
haver uma grande dificuldade em relação à compra de óleo diesel para atender as máquinas e
equipamentos do assentamento.
Figura 3 - Alguns veículos danificados pertencentes a Palmares Foto: Dion Monteiro, 2004
Foi identificada, em consonância com o exposto anteriormente, a impossibilidade na
recuperação de algumas estruturas como galinheiro, chiqueiro, curral e tanque de piscicultura,
deteriorados, bem como a dificuldade na construção de outras instalações necessárias, mas
que não estavam previstas nos projetos de captação de recursos anteriores, situações
43
limitadoras que poderiam ser superadas caso os referidos ativos financeiros estivessem
disponibilizados.
A falta do capital de giro pode implicar em inúmeras outras dificuldades, além das
questões anteriormente mencionadas, tanto no que diz respeito aos aspectos administrativos,
quanto em relação à inviabilização dos aspectos inerentes ao processo produtivo. Assim, o
assentamento Palmares é um exemplo destacado, pois todas estas situações foram
teoricamente verificadas e empiricamente comprovadas no local.
Pode-se considerar também neste caso, mesmo que indiretamente relacionada à
questão observada, a falta de energia elétrica para o funcionamento das grandes estruturas
adquiridas. A energia elétrica foi instalada na agrovila no ano de 1998, porém não era
suficiente para garantir o funcionamento dos equipamentos devido a todos necessitarem de
uma maior intensidade desta, o que, segundo informações dos próprios assentados, não foi
possível ser fornecida naquele momento.
Neste ponto pode-se verificar que nem mesmo os grupos geradores existentes
conseguiram ser fator de resolução no que diz respeito às dificuldades quanto ao
funcionamento eficaz das usinas e fábricas adquiridas. O principal motivo, desta feita, deveu-
se à falta de condições para manter estes geradores em atividade, tanto por ausência de peças
de reposição, quanto por falta de recursos financeiros para aquisição da grande quantidade de
óleo diesel necessário para a ação destes equipamentos, o que vai ao encontro do ponto
anteriormente citado, a ausência de capital circulante.
Os resultados da investigação mostraram que um outro fator agravado pela falta de
capital de giro foi a falta de uma quantidade de matéria-prima que pudesse viabilizar
economicamente o funcionamento das máquinas adquiridas. Assim, nem a usina de arroz, a
fábrica de laticínios ou a fábrica de farinha, tiveram disponibilizado, respectivamente, o arroz,
44
o leite ou a mandioca, na quantidade que necessitavam para o desenvolvimento do processo
produtivo a qual estavam destinadas.
Um bom exemplo em relação a esta situação é dado pela fábrica de laticínio. O projeto
elaborado pela Cooperativa Mista dos Assentamentos de Reforma Agrária da Região Sul e
Sudeste do Pará (Coomarsp), em março de 2000, indicou que a referida fábrica possuía uma
capacidade produtiva/ano de aproximadamente 752.000 litros de leite, o que daria uma média,
também aproximada, de 3.000 litros/dia para que fosse garantida a viabilidade econômica
deste laticínio, conforme informam os técnicos da referida cooperativa. O levantamento da
produção econômica, que será mais especificamente abordado no próximo capítulo desta
pesquisa, apontou uma coleta média de 2.146 litros por dia no assentamento e, uma produção
total atual estimada, considerando o consumido e o comercializado, de 633.070 litros/ano,,
ainda inferior à quantidade necessária/dia para que a fábrica possa garantir, com segurança, a
sua viabilidade econômica.
Figura 4 - Alguns equipamentos pertencentes à fábrica de laticínios Foto: Dion Monteiro, 2004
45
De fato, esta dificuldade em relação à ausência na disponibilidade de matéria-prima
não é nenhuma novidade, uma vez que problemas semelhantes ocorreram em outros
assentamentos que fazem parte daquela região. Como exemplo, verifica-se a situação do
Assentamento Rio Branco, no município de Parauapebas, possuindo uma fábrica de farinha e
uma máquina beneficiadora de arroz (SILVA, 2000, p. 37) e do Assentamento 17 de Abril,
em Eldorado do Carajás. O primeiro antes vinculado ao MST e o segundo ainda hoje dirigido
por este movimento.
Existe a mesma lógica nas três experiências. As estruturas existentes nestas áreas, ou
seja, fábrica de farinha e usina de arroz (nos três assentamentos citados) e fábrica de laticínios
(no PA Palmares e 17 de Abril) são praticamente idênticas entre si. Tendo sido verificado o
mesmo problema de falta de matéria-prima para funcionamento destas máquinas, com
diferentes intensidades é verdade, mas sempre dificultando, em algum momento, o
desenvolvimento da produção econômica local.
É notório que muitos são os fatores que influenciam no item ora abordado, inclusive a
falta de capital de giro para a aquisição da matéria-prima em falta, mas também os
financiamentos fora do prazo ou inexistentes, a falta de estradas para o deslocamento da
produção e do próprio veículo para transportá-la, os efeitos climáticos e naturais como a seca,
o fogo, ou até mesmo o excesso de chuvas, causam perdas muitas vezes totais, ou quase totais
às plantações, isto se referindo principalmente ao arroz e a mandioca. Quanto ao leite, apesar
deste estar sujeito, teoricamente, a uma quantidade menor de elementos externos,
influenciadores, existem situações que vão ser determinantes no que diz respeito à
impossibilidade de atendimento das necessidades mínimas das estruturas de laticínios,
levando a inviabilidade econômica destas fábricas. Assim, as possíveis doenças no gado
leiteiro e a situação do transporte do produto, tanto em relação às vias quanto em relação aos
46
veículos, impossibilitam o fornecimento desta matéria-prima e conseqüentemente da atividade
produtiva como um todo.
Corroborando o que foi anteriormente explicitado, verificou-se que a falta de apoio
por parte do poder público municipal, ou seja, da Prefeitura de Parauapebas, que pouco
contribuiu, segundo avaliações dos próprios assentados, no que se refere à infra-estrutura,
como por exemplo, na abertura e melhoramento de estradas ou no incentivo ao fornecimento
de energia elétrica para esta localidade, impactou negativamente a possibilidade de que
houvesse um desenvolvimento local.
3.3 ALGUMAS ANÁLISES COMPLEMENTARES
O destaque dado para a falta de formação e conhecimentos técnicos e administrativos,
aparecendo, somados, em 71,06% dos motivos apresentados como negativos, como já foi
referido, mostra a compreensão que vários assentados têm em relação a esta questão. Desta
forma, estas demandas foram consideradas por todos como uma das mais importantes, nesta
nova etapa em que o assentamento se encontra. Porém, é importante que este processo de
formação técnico-administrativo possua elementos diferenciadores dos tradicionalmente
trabalhados, propiciando assim uma possibilidade de superação nas deformações vinculadas a
posturas puramente economicistas, comum nos empreendimentos oriundos do modo de
produção vigente (capitalista).
A contemplação destas necessidades pauta-se certamente no desenvolvimento de
políticas específicas para a gestão de organizações cooperativas e associações de
trabalhadores rurais, pouco ou nada desenvolvidas atualmente, seja por organizações do setor
público ou mesmo pelas organizações sociais que assessoram técnica e politicamente as
entidades dos agricultores.
47
O processo de formação e capacitação dos próprios assentados, neste contexto técnico-
político, orientando-os no exercício de atividades como gerenciamento da infra-estrutura
pertencente ao empreendimento (associação ou cooperativa), manutenção de veículos e
equipamentos, administração de recursos financeiros e materiais, comercialização de
produtos, entre outras atividades inerentes a estas organizações, pode, certamente, promover o
desenvolvimento dos referidos empreendimentos e dos assentamentos a qual os mesmos
estejam vinculados.
Aqui está presente um dos grandes problemas em relação à concepção de reprodução
econômica inicialmente implantada, importada principalmente do sul do Brasil, como já foi
afirmado no início deste capítulo. O desenvolvimento tecnológico e a quantidade de mão- de-
obra qualificada naquela região dão conta destas necessidades, o que não é verdadeiro quando
se considera a região Sudeste do Pará. Além, é claro, da necessidade de disponibilidade de
uma infra-estrutura que não existe nesta região.
A seguir, com o intuito de facilitar a avaliação dos aspectos aqui apresentados,
apresenta-se uma tabela sintética dos motivos explicitados pelos entrevistados, com os
respectivos percentuais, referentes a cada um destes itens.
Tabela 1 -– Principais motivos apresentados pelos representantes dos núcleos de famílias
MOTIVO PRINCIPAL %
Falta de conhecimentos administrativos 42,11
Falta de formação e conhecimentos técnicos para desenvolver as atividades 28,95
Falta de compromisso e dedicação por parte dos assentados 13,16
Faltou descentralizar mais o poder no assentamento 07,89
Faltou capital de giro 07,89 Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
48
4 A ATUAL ESTRUTURA DE ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO, CONCEPÇÕES E ALGUNS RESULTADOS VERIFICADOS
4.1 A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO MST
Para compreender o modelo de organização da produção e, inclusive social, dos
assentamentos originados a partir das ações do MST, especificamente dos que continuam
ligados a este movimento, é necessário conhecer a estrutura organizacional formal interna dos
Sem Terra. Assim, verifica-se que a mesma se configura através de entidades e organismos
que assumem responsabilidades na implementação das formas de organização econômica e
social entre seus membros, sendo estes organismos os seguintes: Confederação das
Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil (Concrab), Associação Nacional de Cooperação
Agrícola (ANCA), Associação Estadual de Cooperação Agrícola (Aesca), Sistema
Cooperativista dos Assentados (SCA), além de várias outras estruturas específicas de cada
região do país. A seguir serão identificadas algumas destas estruturas.
A Concrab foi fundada em 15 de maio de 1992 e, segundo o MST, tem a função de
“articular as demandas e as potencialidades regionais otimizando esforços e recursos em
vistas do desenvolvimento socioeconômico das famílias assentadas” (MST, 2003a).
Esta confederação congrega grupos coletivos, que se organizam em cooperativas de
crédito, de produção agropecuária e de prestação de serviços, associações, etc., procurando
definir ações mais eficazes, considerando um amplo processo relacionado à cadeia produtiva,
bem como ao beneficiamento e a comercialização dos produtos cultivados nos assentamentos
e ainda a assistência técnica.
A Concrab está ligada ao Sistema Cooperativista dos Assentados (SCA), que
corresponde ao setor de produção e comercialização do movimento. Assim:
O SCA cuida dos assuntos da produção, da comercialização, da tecnologia, da agroindústria, do crédito rural e da organização de base nos assentamentos. Estimulando as diferentes formas de cooperação, integrando os assentados familiares, seja na cooperação ao nível da produção, ou da
49
comercialização, ou ainda, na obtenção de crédito ou de melhorias infra-estruturais (MST, 2003a).
O referido sistema é regulamentado por princípios que norteiam todas as ações das
cooperativas, bem como das pessoas ligadas a estas, sendo esses os seguintes: (01) Princípio
da gestão democrática; (02) Neutralidade religiosa, racial e partidária; (03) Mais uma
ferramenta de luta da classe trabalhadora contra o capitalismo; (04) Distribuição de sobras;
(05) Direção coletiva; (06) Organização da base social via núcleos e (07) Massificação da
cooperação entre os assentados (MST, 2003b).
A Associação Nacional de Cooperação Agrícola (ANCA) responde juridicamente pelo
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, tendo como principais objetivos o apoio e o
estímulo ao desenvolvimento da organização social do movimento, desenvolvimento agrícola,
educação, saúde, cultura, direitos sociais e humanos, entre outras atividades. Atua apoiando
também experiências agroecológicas nos assentamentos dos agricultores, bem como
procurando servir de instrumento capaz de fornecer condições reais de desenvolvimento
cultural, buscando propiciar elementos para a elevação da informação e conhecimento dos
assentados. Garante ainda assessoria jurídica no caso de violência contra trabalhadores rurais.
A Associação Estadual de Cooperação Agrícola (AESCA) foi fundada em 10 de
agosto de 1997 e, atua junto a pequenos agricultores e organizações ligadas aos projetos de
reforma agrária, tendo como principal objetivo alcançar o desenvolvimento agrícola e
comunitário, bem como tecnológico, além do progresso econômico e social nas comunidades
atendidas.
Como forma de contribuir com a incrementação do processo produtivo foi criada a
Associação de Produção e Comercialização dos Trabalhadores Rurais do Assentamento
Palmares (Aprocpar), tendo como principal objetivo a discussão sobre o planejamento da
produção e o desenvolvimento de formas alternativas de trabalhar a terra. Sua coordenação é
50
composta pelos seus membros diretores em conjunto com os coordenadores dos núcleos de
família ou de produção do assentamento (APROCPAR, 2002).
Figura 5 – Sede da Aprocpar Foto: Dion Monteiro, 2004
A assistência técnica, que deve ser prestada ao assentamento, fica sob responsabilidade
da Coomarsp, além da implementação de todo o processo de comercialização da produção dos
assentamentos existentes na área de abrangência desta cooperativa. Atualmente verifica-se
que esta entidade está atuando principalmente no Sudeste do Pará, isto se deve à existência de
um maior número de assentamentos, ligados ao MST, nesta região. Observa-se, porém, que
seu desempenho tem sido pouco sentido em Palmares, principalmente no que se refere ao
acompanhamento técnico.
Estas informações, em relação à estrutura de organização do MST, no que diz respeito
aos seus órgãos representativos, é fundamental para o entendimento tanto das tarefas que
devem ser realizadas, pensadas pelo movimento, quanto para saber de quem é a
responsabilidade em cada uma das ações implementadas, isto no que se refere à representação
51
legal, coordenação política, gerenciamento das atividades econômicas, assistência técnica e
demais atos que devem ser executados.
4.2 UM BREVE HISTÓRICO DA CONCEPÇÃO DE COOPERAÇÃO NO MST
O Projeto de Assentamento Palmares, por ser dirigido politicamente pelo Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, tenta implementar uma concepção, em relação à
organização da produção, com uma proposta diferenciada das demais experiências de
assentamentos de trabalhadores rurais não ligados a esta organização. Desta forma, algumas
características são peculiares ao referido assentamento (apesar de não serem exclusividade
deste) e seus fundamentos, os mesmos do movimento em questão, precisam ser
compreendidos, isto antes de serem apresentados alguns resultados em relação ao nível de
produção observado.
Referendando o explicitado, verifica-se que o processo produtivo em organizações
como o MST, como já se sabe, não está apartado dos aspectos sociais e políticos, pois há uma
clara compreensão de que o aspecto econômico precisa estar inserido em um processo mais
amplo de transformação social. Assim, torna-se necessário pensar esta temática
implicitamente relacionada a diversos outros elementos. Porém, esta compreensão nem
sempre esteve clara, nem mesmo para o próprio MST.
No primeiro capítulo deste trabalho foi apresentado o processo histórico do
assentamento, isto no que concerne a ocupação de Palmares, o momento de resistência e,
posteriormente, de estruturação. Neste quarto capítulo será apresentado um breve histórico
sobre o desenvolvimento e a formatação da concepção de cooperação no Movimento dos Sem
Terra, fator determinante no que se refere ao atual estágio da organização da produção no
assentamento Palmares.
52
O suporte para esta apresentação será um dos produtos da pesquisa realizada pela
Concrab, no ano de 1999, intitulada: “Pesquisa sobre a política de cooperação e os
assentamentos do MST”, publicada no Caderno de Cooperação Agrícola n° 08. Esta pesquisa
traçou a trajetória da compreensão do MST em relação à política de cooperação durante 10
anos, ou seja, de 1989 até 1999.
Os estudos indicam que, do período que vai da fundação do MST (1984) até o ano de
1985, influenciados pela doutrina da “Teologia da Libertação”, a compreensão dos militantes
e dirigentes desta organização era no sentido de constituir grandes grupos coletivos,
desenvolver trabalhos na forma de mutirão e criar associações que pudessem dar suporte às
ações de luta pela terra. Esta diretriz ideológica era compreensível, pois, sabe-se, durante
muito tempo, que a única entidade que possuiu autorização legal por parte da ditadura militar
para atuar foi a igreja. Assim, todos os militantes das organizações populares e quase todos
das políticas-partidárias, homens e mulheres, recorriam a esta instituição para desenvolver
suas ações contestatórias, clandestinas ou não.
No período de 1985 a 1989, principalmente como reflexo das orientações e
experiências concretas vivenciadas até aquele momento, ocorre um incremento, quantitativo e
qualitativo, nas associações dirigidas pelo MST nos assentamentos. Outro fator que
impulsionou a elevação deste número de associações foi o direcionamento das políticas
públicas naquele período, principalmente por parte da Empresa de Assistência Técnica e
Extensão Rural (Emater), a partir de suas sedes estaduais.
Porém, explicita a pesquisa da Concrab, os problemas verificados apontam, ainda no
início de 1989, que esta forma de associativismo possuía muitas limitações, indicando que o
MST precisava avançar nas suas discussões e, ações, em relação à política de cooperação nos
assentamentos. Com a eleição de Fernando Collor de Melo à presidência da República
acirraram-se os enfrentamentos com o Governo Federal, levando a necessidade de que se
53
tomassem novas medidas. Assim, foram criados os Núcleos de Base (forma de organização
socioeconômica dentro do assentamento) e as Cooperativas de Produção Agropecuárias
(CPA).
A conjuntura política presente naquele momento leva os Sem Terra a prepararem o
que chamaram de “Plano Nacional do MST”, para um período de 05 anos, indo de 1989 a
1993, quando é definida a criação do Sistema Cooperativista dos Assentados (SCA), bem
como suas linhas políticas. Estas linhas políticas são muito importantes, pois vão ajudar a
compreender alguns encaminhamentos dados pelo MST nos anos seguintes. Desta forma,
serão avaliadas abaixo algumas destas.
As avaliações da Concrab apontam 13 principais linhas políticas que direcionaram o
SCA, naquele momento, sendo algumas destas:
Desenvolver e estimular as formas de cooperação agrícola nos assentamentos, como única forma de aumentar as potencialidades de produção e produtividade [...]; Desenvolver, através da cooperação agrícola, a apropriação da tecnologia disponível, estimulando a mecanização de todas as atividades possíveis e aumentando a escala de produção, de forma adequada à realidade socioeconômica e de recursos naturais do assentamento; Garantir que as centrais de comercialização para compra e venda de produtos de necessidade dos assentamentos, sejam implantados em maior escala possível, para poder competir no mercado; Trabalhar na perspectiva de, nos próximos anos, ter uma empresa nacional para as atividades de comercialização; Estimular, através da cooperação agrícola, a implantação de agroindústriais nos assentamentos para aproveitar nossos produtos e matérias-primas ou recursos naturais disponíveis; Estimular o intercâmbio nacional no campo da cooperação agrícola e troca de experiências (CONCRAB, 1999, p. 07).
Já neste período, início dos anos 90 do século XX, é possível verificar a preocupação
que o Movimento dos Sem Terra passa a ter com o desenvolvimento de suas estruturas
econômicas (cooperativas e associações), procurando construir um conjunto de políticas
internas que propiciassem um incremento nas atividades das mesmas, envolvendo todos os
assentados na criação das necessárias condições materiais e infra-estruturais.
Esta situação vai levar em 1991 a uma compreensão, específica de alguns dirigentes,
de como se daria o desenvolvimento econômico a partir das estruturas citadas, sendo este
54
entendimento mais ou menos o seguinte: (01) primeiramente seria necessário avançar
drasticamente na produção, deixando esta de ser apenas para subsistência dos assentados e
passando a gerar excedentes, ou seja, mercadorias; (02) depois, seria necessário passar da
produção de mercadorias indo para a acumulação de capital; (03) e, finalmente, o capital
acumulado deveria ser investido prioritariamente em produtos agroindustriais (CONCRAB,
1999, p. 11).
Os anos seguintes vão ser pautados por um permanente processo de tensão e conflito
entre os aspectos econômicos e políticos, no que se refere ao papel das cooperativas e, até
mesmo das estruturas de organização interna denominadas núcleos de base, passando estes a
ser, inclusive, confundidos com núcleos de produção. Os documentos elaborados neste
período apresentavam uma grande quantidade de compreensões diferenciadas, mas em vários
se podia verificar uma percepção que identificava o processo de cooperação inexoravelmente
ligado à cooperativa, enquanto estrutura de produção (CARVALHO 1999, p. 30).
4.3 ALGUNS RESULTADOS
É no contexto apresentado anteriormente que o assentamento Palmares vai organizar e
estruturar a sua produção econômica, isto ainda na fase de ocupação da terra (1994),
passando, desta forma, por todo o período de conflitos que a organização dos Sem Terra vivia
naquele momento. Na verdade, a situação dos membros dirigentes e assentados de Palmares
era muito mais difícil, pois, além da distância dos centros de decisão e da falta de
conhecimentos técnicos e administrativos, fatores apontados pelos próprios assentados
entrevistados (Capítulo 3), havia ainda uma grande pressão por parte dos governos federal,
estadual e municipal, além da coação dos fazendeiros da região, descontentes com a situação.
Como é comum nas ocupações realizadas pelo MST, as primeiras estruturas de
organização da produção, entre outras funções, implementadas ainda no acampamento, foram
55
os grupos de famílias. Estes grupos caracterizavam-se por serem constituídos por uma grande
quantidade de componentes, geralmente entre 50 e 60 famílias integrantes, com um
coordenador que ficava responsável por administrar as ações coletivas e fazer a ligação entre
os acampados e a coordenação geral da área ocupada.
Neste tipo de estrutura todos trabalham de forma coletiva, seja roçando a terra,
brocando, fazendo a coivara, capinando, ou cuidando da segurança, saúde e educação no
acampamento. Aqui, a área ainda não está dividida, individualizada, facilitando uma maior
integração entre os acampados, que compreendem ser necessário, naquele momento, garantir
uma forte unidade em direção à conquista da terra.
Posteriormente, já na fase de assentamento, os trabalhadores foram reunidos em
núcleos de família ou núcleos de produção, estruturas menores que variam geralmente de 05 a
15 famílias componentes, sendo estes núcleos ligados diretamente a Aprocpar. O projeto
apresentado ao Banco do Brasil, em 1999, para captação de recursos do Programa Nacional
de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), indicou a existência de 52 núcleos de
produção no assentamento Palmares (APROCPAR, 1999).
A pesquisa realizada nos meses de junho e julho de 2004 apontou a existência de 42
núcleos de produção ou família. Este número foi identificado a partir do Pronaf A/C Custeio
Especial - Safra 2003/2004 (PRONAF, 2003), porém, 04 destes núcleos não estavam em
funcionamento, conforme verificado nas entrevistas realizadas com coordenadores, ex-
coordenadores ou componentes dos núcleos de família, sendo estes os seguintes: Núcleo
Liberal, Vitória III, Estrela Vermelha e Liberdade. Restando, desta forma, 38 núcleos ativos,
apesar de muitos estarem desenvolvendo suas atividades, enquanto organismos coletivos,
precariamente.
56
A seguir serão relacionados os núcleos de produção que foram encontrados com
alguma atividade naquele momento, apontando os componentes entrevistados e a situação de
cada um destes dentro do núcleo:
Tabela 2 - Relação dos núcleos atualmente em funcionamento
NÚCLEO ENTREVISTADO(A) SITUAÇÃO Almirante Raimundo Barbosa da Silva (Samuel) Coordenador do núcleo Alternativa Luzia Maria da Silva Soares (Sônia) Ex-coordenadora do
núcleo Barra do Dia Francisco dos Santos (Chico da Tereza) Coordenador do núcleo Boa Vista Edson Soares de Souza Coordenador do núcleo Bom Jesus José Ribamar de Souza (Macaúba) Coordenador do núcleo Cachoeira José Praça Fontinele (Zé Praça) Coordenador do núcleo Central Pedro Belo dos Santos Coordenador do núcleo Chico Mendes I Mariozam Gomes Araújo Coordenador do núcleo Chico Mendes II Aristel Vitor da Silva Coordenador do núcleo Comando da Terra João Damasceno da Conceição Coordenador do núcleo Estrela Dalva Raimundo Alves de Souza (Curica) Coordenador do núcleo Estrela do Oriente Gleide Nunes de Moraes Coordenador do núcleo Felicidade Joaquim Pereira Barros Coordenador do núcleo Filhos da Terra Domingos David Martins (Domingos) Coordenador do núcleo Força da Mata Antonio Barbosa Santana (Antonio da Nina) Coordenador do núcleo Força da Terra José Domingos Bezerra Costa (Azevedo) Coordenador do núcleo Fruto da Terra Raimundo Nonato Mendes (Baianinho) Coordenador do núcleo Gino Coletivo Luis Carlos de Oliveira Campos Coordenador do núcleo Jerusalém Bento Mário Bandeira da Silva Coordenador do núcleo Livre para Vencer Natanael Freitas (Natan) Coordenador do núcleo Nossa Luta Divino Martins Chaves (Divino) Coordenador do núcleo Nova Canaã Raimundo Pereira Galvão Componente do núcleo Nova Vida Orismildo Felix da Silva (Bombardão) Coordenador do núcleo Novo Progresso Edimar Moreira Silva (Poeta) Coordenador do núcleo Oziel Pereira Graciano Costa Silva (Neguinho Baleado) Coordenador do núcleo Palmares José Máximo de Lima Coordenador do núcleo Palmeiral Raimundo Vieira da Silva (Raimundão) Coordenador do núcleo Pantanal Luis Barbosa do Nascimento (Real) Coordenador do núcleo São Sebastião Nascimento de Melo Coordenador do núcleo Sol Nascente João Fernandes de Oliveira (Tiririca) Coordenador do núcleo Terra Viva Joaquim Ribeiro dos Santos Coordenador do núcleo União José Dalvino Brito (Cabecinha) Coordenador do núcleo União da Fé Francisco Ferreira da Silva (Chico Coordenador) Coordenador do núcleo União do Brasil I Valdivino da Cruz Ex-coordenador do núcleo União do Brasil II Antonio de Jesus Alves Pereira (Índio) Coordenador do núcleo União do Trabalho Milton Alves Teixeira (Irmão Milton) Componente do núcleo Vitória I José Wilson Batista (Wilson) Coordenador do núcleo Vitória II Maria Alvina de Castro Santos Coordenadora do núcleo Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
57
As pessoas entrevistadas, representantes dos núcleos: Alternativa, Nova Canaã, União
do Trabalho e União do Brasil I informaram que seus respectivos núcleos encontram-se
atualmente sem coordenador e, desta forma, funcionando muito precariamente. Todos
afirmaram ser necessário definir um coordenador para estes núcleos de produção,
urgentemente.
A atual pesquisa também apresenta como resultado o seguinte: segundo os
representantes dos núcleos de famílias entrevistados, 346 famílias estão vinculadas a algum
dos núcleos existentes no assentamento. Como oficialmente o assentamento é composto por
517 famílias, isto quer dizer que 171, o que corresponde a 33,08% das famílias existentes em
Palmares, estão atualmente fora destas estruturas básicas do MST, enquanto que 66,92% das
famílias assentadas são consideradas ligadas a um dos núcleos pelos seus coordenadores.
Possivelmente algumas das famílias atualmente desvinculadas destes núcleos faziam parte
daqueles que deixaram de funcionar.
Estes números indicam que a atual estrutura organizativa do assentamento, em relação
à produção, encontra-se deficitária, pois, ao não participar das estruturas que garantem a
discussão e decisão coletiva, ou seja, da reunião de coordenação, através de seus
coordenadores, estas famílias ficam excluídas das informações sobre a gestão econômica
(créditos, prazos de financiamentos, projetos agrícolas, assistência técnica, etc.) e, o que é
pior, ficam excluídas de todos os debates que possam indicar outras ações importantes para o
PA Palmares.
A seguir será apresentada a relação entre os núcleos atualmente em funcionamento e a
quantidade de famílias que fazem parte de cada um destes, segundo os coordenadores, ex-
coordenadores ou componentes dos núcleos entrevistados.
58
Tabela 3 – Número de famílias por núcleo de produção
NÚCLEO N° DE FAMÍLIAS INFORMADO
Almirante 25 Alternativa 09 Barra do Dia 06 Boa Vista 10 Bom Jesus 05 Cachoeira 04 Central 05 Chico Mendes I 05 Chico Mendes II 11 Comando da Terra 10 Estrela Dalva 05 Estrela do Oriente 08 Felicidade 11 Filhos da Terra 05 Força da Mata 10 Força da Terra 06 Fruto da Terra 12 Gino Coletivo 07 Jerusalém 07 Livre para Vencer 04 Nossa Luta 14 Nova Canaã 05 Nova Vida 14 Novo Progresso 07 Oziel Pereira 30 Palmares 08 Palmeiral 07 Pantanal 05 São Sebastião 05 Sol Nascente 15 Terra Viva 05 União 18 União da Fé 13 União do Brasil I 10 União do Brasil II 05 União do Trabalho 08 Vitória I 08 Vitória II 04 Total Geral 346
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
Em essência esta situação é bastante prejudicial ao assentamento como um todo, pois
mais de 33% do total de famílias, que poderiam estar contribuindo (coletivamente) nas
discussões e no desenvolvimento econômico e social deste local, não participam destes
59
momentos. Isto é agravado ainda mais pelo fato das reuniões de coordenação, onde participam
todos os coordenadores de núcleo e a direção da associação, estarem ocorrendo raríssimas
vezes, como será visto no Capítulo 5 deste trabalho.
Verificando-se quais os pontos mais discutidos nas reuniões de núcleo, são obtidas as
seguintes informações: dos 38 representantes entrevistados, 34 (89,47%) informam que nas
reuniões de seu núcleo de família é discutida a questão das ações de governo, ou seja,
créditos, assistência técnica, projetos agropecuários, etc; 30 (78,95%) informam que é
discutida a questão da organização social, tanto do assentamento quanto do próprio núcleo; 27
(71,05%) dizem que é discutida a questão da produção; 25 (65,79%) afirmam que são outras
questões diversas, com ênfase para as atividades do MST, porém são discutidos também
temas como a insegurança no assentamento, a conjuntura nacional, saúde, educação, questões
ambientais, transporte, política partidária e eleitoral, a unidade entre os assentados, etc.
Finalizando, 07 entrevistados (18,42%) informam que discutem em seus núcleos os problemas
individuais, entre os componentes do núcleo ou, até mesmo, dificuldades existentes no
interior das famílias componentes desta estrutura organizativa.
É interessante observar que quase todos os núcleos priorizam as discussões sobre as
questões econômicas, como financiamentos e projetos de captação de recursos, ou sobre a
produção, vários discutem também a questão da organização social do assentamento. Porém
uma quantidade bem menor discute as questões das relações individuais, que muitas vezes
transforma-se em problemas coletivos. Desta forma, somente 07 dos 34 núcleos afirmam
discutir esta temática, mas também foi dito durante a entrevista, pelos demais representantes
de núcleos, que esta prática já foi comum anteriormente no assentamento, onde sempre se
discutia os problemas de relacionamento, tendo ocorrido inclusive várias expulsões de
Palmares por esta questão.
60
Foi verificado que 25 dos 38 entrevistados afirmaram que discutem questões,
diferentes das disponibilizadas no questionário de entrevista, e que destas questões a que mais
aparece é: as atividades do MST, como já observado. Esta resposta é dada por 11
coordenadores, ex-coordenadores ou componentes de núcleo, entendendo-se como atividades
do MST as ações desenvolvidas na região, no estado, ou até mesmo a nível nacional em
relação às ocupações, cursos de formação, seminários, atos públicos, caminhadas, etc.
A quantidade de pessoas que dão esta informação, 11 agricultores, corresponde a
28,95% dos 38 representantes de núcleo entrevistados, percentual bastante reduzido quando
compara-se com o número de responsáveis pelas famílias de assentados que dizem serem
ligados ao MST. Dos 105 assentados entrevistados, 83,81% afirmam participar do
Movimento, ou como simpatizante, militante ou ainda como dirigente, contra apenas 16,19%
que dizem não fazer parte do MST. Verifica-se também que, dos que dizem estar ligados a
organização dos Sem Terra, a maioria diz ser simpatizante, ou seja, 73,86% dos responsáveis
pelas famílias entrevistados, 20,46% afirma ser militante e 5,68% diz ser dirigente do MST.
O total de 71,05% dos responsáveis por núcleos entrevistados que não se referiram a
temáticas como ocupações, caminhadas, atos públicos, cursos de formação do MST, etc., em
suas reuniões, não caracterizam diretamente que estes assuntos não são abordados no
assentamento, porém indicam que o mesmo pode não estar sendo sistematicamente debatido e
apropriado por todos os agricultores da área do assentamento Palmares.
Verificou-se que 56,20% dos entrevistados (59 pessoas) nasceram no estado do
Maranhão, 11,43% (12 pessoas) nasceram no estado do Piauí, 09,52% (10 pessoas) nasceram
no Ceará e 08,57% (09 entrevistados) nasceram no Tocantins. Os demais nasceram nos
estados do Pará, Goiás, Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Mato Grosso e Rio Grande do
Norte, aparecendo estes eventos em percentuais que variavam de 0,95% a 3,81% (Tabela ...).
61
Tabela 4 – Nascimento por unidade da federação
UNIDADE DA FEDERAÇÃO % Maranhão 56,20 Piauí 11,43 Ceará 09,52 Tocantins 08,57 Pará 03,81 Bahia 03,81 Goiás 02,86 Minas Gerais 00,95 Pernambuco 00,95 Mato Grosso 00,95 Rio Grande do Norte 00,95 Total 100,00
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
A maioria dos assentados, segundo as investigações realizadas, é originária do
Nordeste do Brasil, expressando desta forma o conhecido processo migratório em direção a
esta região, iniciado na década de 1970 e prosseguido nos anos seguintes. Apenas 3,81%
nasceram no Pará, a maior parte em cidades localizadas nas regiões Sul e Sudeste deste
estado.
A pesquisa indicou também que 62 pessoas, 59,05% dos chefes de família
entrevistados, estavam exercendo a atividade de agricultor antes de chegar a Palmares, Destes,
alguns trabalhavam como meeiros nas terras de fazendeiros, a quem repassavam a metade da
produção que conseguiam colher, ou em outro pedaço de terra cedido por um conhecido, sem
nada lhes cobrar. Praticamente todos aprenderam esta profissão com os pais ou os avós.
Afirmaram ainda estarem atuando como garimpeiros, antes de ocupar a terra, 16,19%
das 105 pessoas entrevistadas, o que corresponde a 17 assentados. Estes informaram que
estavam trabalhando nos garimpos da redondeza (Serra Pelada, Garimpo da Cutia, etc.),
localizados em Eldorado do Carajás e Marabá, tendo juntado-se ao MST a partir do momento
em que o movimento convidou as famílias para fazer a ocupação, isto ainda em 1994. Porém,
62
mesmo estes que afirmaram estar exercendo a profissão de garimpeiro naquela ocasião, antes
já tinham trabalhado na agricultura, em seu local de origem.
A partir destes dados, pode-se afirmar seguramente que a maioria dos assentados e
assentadas de Palmares já tinha experiência com a agricultura antes de ocupar a terra na qual
este assentamento está hoje localizado. Desmistificando a idéia de que neste local há poucas
pessoas com vocação para a agropecuária e muito mais pessoas com tendências para as
atividades minerais, exauridas na década de 1980, idéia defendida por pesquisas pouco ou
nada científicas.
Disseram cuidar do lar 6,66%, ser vendedor ou comerciante 3,81% e, 14,29% dos
responsáveis pelas famílias entrevistados afirmaram que desenvolviam anteriormente outras
atividades, sendo as mais observadas as seguintes: cozinheira, motorista, pedreiro, pintor,
carpinteiro, mecânico, doméstica, professora, vaqueiro, borracheiro, etc., todas estas com
percentuais pouco representativos, variando aproximadamente entre 1% a 2%.
Tabela 5 – Principal atividade antes da ocupação
ATIVIDADE %
Agricultor(a) 59,05
Garimpeiro(a) 16,19
Cuidava do lar 06,66
Vendedor / Comerciante 03,81
Outras (cozinheira, doméstica, professora, vaqueiro, borracheiro, motorista, pedreiro, pintor, carpinteiro, mecânico, etc.)
14,29
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
Em relação ao nível de produção atualmente existente no assentamento Palmares,
foram feitas levantamentos da quantidade colhida de arroz e de milho; da quantidade
comercializada/consumida (após beneficiamento) de mandioca in natura e da quantidade
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produzida de farinha de mandioca, todas em relação à safra 2002/2003. Foi também
identificada a quantidade de leite bovino consumida/comercializada no ano de 2003.
A pesquisa realizada identificou, como resultado dos questionários aplicados na
amostra definida (105 famílias), uma produção de 186.120kg de arroz
consumidos/comercializados, para a safra em questão. Retirando a média por família e
inferindo para o total de famílias do assentamento (517), obtém-se estimativamente, com 95%
de nível de confiança e margem de erro de aproximadamente 8,5%, como apontado nos
aspectos metodológicos do trabalho, um montante de 916.419kg de arroz/ safra 2002/2003,
consumidos/comercializados em Palmares.
O projeto elaborado pela Coomarsp, em 2000, indicou uma produção de 781.704kg de
arroz para a safra 1997/1998. Isto indica que os valores encontrados para 2002/2003
representam um acréscimo, no que foi consumido e/ou comercializado em relação a esta
cultura, na ordem de aproximadamente 17,23%, o que corresponde a 134.715kg de arroz a
mais, plantados e colhidos no assentamento.
Em relação à quantidade de milho colhida (consumida e/ou comercializada), verificou-
se um total de 147.660kg de milho para a amostra trabalhada. Considerando-se os mesmos
referenciais técnicos estatísticos citados em relação ao arroz, tem-se uma produção para o
assentamento estimada em 727.050kg de milho/ safra 2002/2003. O projeto da Coomarsp
indicou uma produção de milho para a safra de 1997/1998 em torno de 744.480kg, ou seja,
observa-se uma redução na ordem de 2,34%, o que pode ter sido causado por diversos fatores
naturais e infra-estruturais.
Foi informada, pelos entrevistados, que a comercialização e/ou consumo (após
beneficiamento) de mandioca in natura deu-se na quantidade de 68.450kg, em relação às 105
famílias participantes da pesquisa. Verificou-se que esta comercialização, feita principalmente
para atravessadores, é basicamente para a produção de polvilho, um tipo de farinha muito
64
fina, bastante consumida na região. Inferindo-se novamente para o universo das 517 famílias
do assentamento, tem-se um montante de 337.035kg de mandioca in natura, estimativamente
comercializada e/ou consumida na safra 2002/2003.
Figura 6 - Típica “casa de farinha” da região Foto: Dion Monteiro, 2004
O total de farinha de mandioca produzido em Palmares, em relação à amostra
trabalhada, foi de 59.280kg para a safra em questão. Neste contexto e, estimativamente, a
extrapolação para todas as famílias do assentamento indicaria uma produção de 291.883kg. O
projeto elaborado pela Coomarsp apresentou para a safra 1997/1998 uma produção de
aproximadamente 46.560kg de farinha. Os resultados mostram um crescimento próximo de
526,90%, no período entre as safras 1997/1998 e 2002/2003.
Os 337.035kg de mandioca in natura, estimativamente comercializados e/ou
consumidos, após beneficiamento, em Palmares, caso fossem transformados em farinha
comum, produziriam mais 2.247 sacos de 60kg5, o que corresponderia a mais 134.820kg de
5 Os agricultores informam que para produzir um saco com 60kg de farinha de mandioca são necessários aproximadamente, na região, 150kg de mandioca in natura, desta forma, este cálculo é feito dividindo o total de
65
farinha de mandioca no assentamento, elevando a produção total para 426.703kg. O que
certamente daria um importante salto na rentabilidade deste tipo de produção.
Figura 7 – Agricultor produzindo farinha em Palmares Foto: Dion Monteiro, 2004
É importante informar que, neste levantamento, não foi incluída a mandioca que é
vendida “no pé”, modalidade de comercialização onde o agricultor planta, porém não colhe o
que é produzido, vendendo a cultura ainda no local onde ela está plantada, ficando a cargo de
quem comprou a ação de colher a referida plantação. Esta situação ocorre com vários
agricultores da região, podendo assim elevar consideravelmente os números que se referem à
quantidade de mandioca produzida no assentamento Palmares.
Outro produto considerado na pesquisa foi o leite produzido na região. Segundo
informações dos agricultores abordados, componentes da amostra de 105 famílias, são
coletados, consumidos e/ou comercializados, 436 litros de leite por dia no assentamento, o
que corresponderia a 2.146 litros/dia após ser feita inferência para todas as 517 famílias do
assentamento. Este número indica uma produção/ano no total de 633.070 litros, isto ao ser
mandioca, no estado indicado, por 150, obtendo-se como resultado a quantidade de sacos de farinha que seriam produzidos, em média.
66
considerada a informação dos técnicos da Coomarsp que afirmam que as vacas da região
produzem, em média, leite durante 295 dias dos 365 dias que o ano tem.
O projeto “Mercado da região Sudeste do Pará, um desafio de comercialização para as
organizações camponesas”, elaborado pela Coomarsp e, já citado anteriormente, apontou uma
capacidade de produção/ano da fábrica de laticínios existente no assentamento, na ordem de
752.000 litros de leite pasteurizado. Como o processo de pasteurização executado pelo
equipamento existente em Palmares não acarreta grandes perdas ou acúmulos de massa, os
técnicos da referida cooperativa consideraram a quantidade de leite cru necessária no início
deste processo, aproximadamente igual à quantidade de leite pasteurizado que pode ser obtida
no final do mesmo, indicando assim serem também necessários aproximadamente 752.000
litros de leite cru/ano para otimizar o funcionamento do equipamento.
Considerando o que foi exposto até aqui , pode-se observar que a quantidade/ano
atualmente coletada de leite no assentamento, estimada em 633.070 litros, apontada
anteriormente, ainda não garante a total otimização da capacidade produtiva da fábrica de
laticínio em questão, sendo necessário, portanto, haver um incremento na quantidade deste
referido leite coletado, caso haja disposição dos componentes deste projeto de assentamento
em ativar a citada estrutura.
Tabela 6 – Comparação da produção no Assentamento
CULTURA SAFRA 1997/1998 SAFRA 2002/2003 VARIAÇÃO
Arroz 781.704 kg 916.419 kg (+) 17,23%
Milho 744.480 kg 727.050 kg (-) 02,34%
Farinha de mandioca 46.560 kg 291.883 kg (+)526,90%
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
Ao se questionar os agricultores sobre quais as principais dificuldades que eles
enfrentavam para que os financiamentos recebidos fossem bem sucedidos, verificou-se o
67
seguinte: o principal fator apontado, com 47,62% das aplicações feitas, foi o que indica que o
repasse não é feito na data certa. Esta observação se refere à questão do não cumprimento do
calendário agrícola, ou seja, os recursos conseguidos através dos projetos elaborados nunca
são repassados no período certo para que os trabalhos possam ser devidamente garantidos.
Como exemplo, em relação à agricultura, verifica-se: preparar a terra, plantar, limpar a área
plantada e colher. Além disso, os financiamentos são feitos em um espaço de tempo muito
longo entre um e outro recurso repassado.
O segundo ponto apontado, com 19,24% das respostas, afirma que o valor do
financiamento é pequeno, indicando que as necessidades são maiores que os recursos
repassados. Agrava-se esta situação, complementam, em virtude dos prazos para o pagamento
destes financiamentos não serem o suficiente para que se possa ter o retorno financeiro do
investimento feito e o valor das parcelas, que deverão ser pagas, serem elevados para a
realidade dos agricultores, sendo todos estes elementos relacionados ao principal, que é o
observado recurso reduzido.
O terceiro item, com 12,38% das respostas, refere-se à burocracia nos bancos. Este
ponto está relacionado, segundo os trabalhadores, ao excesso de documentação exigida e ao
fato do recurso não vir diretamente para as mãos destes agricultores, recebendo os mesmos
apenas uma “carta de crédito” para comprar nas lojas e fazendas cadastradas, ficando assim
limitados aos preços mais altos das empresas e pessoas que aceitam receber posteriormente do
governo, embutindo desta forma um valor compensatório no preço final do produto vendido.
Reclamam também, ainda neste ponto, dos juros bancários elevados.
O quarto ponto apresentou um índice de 7,62% e relacionou-se aos diversos problemas
administrativos da Associação de Produção e Comercialização dos Trabalhadores Rurais do
Assentamento Palmares (Aprocpar). Dentro deste ponto, afirmam os assentados, estão a
definição dos rumos dos investimentos que deverão ser feitos, principalmente o que se refere
68
a quem é o responsável por definir esta questão; os problemas técnicos verificados na
elaboração do projeto; os descontos financeiros feitos pela Associação no valor principal, que
cada associado recebe; além da falta de esclarecimento sobre as regras do financiamento e, até
mesmo, a falta de pagamento dos financiamentos anteriores por parte de alguns assentados,
afirmando os entrevistados que a falta de controle e ação da Associação contribui com esta
situação negativa.
Um outro ponto, também com 7,62% das 105 opiniões emitidas, refere-se à falta de
assistência técnica e extensão rural no assentamento, influenciando diretamente o sucesso dos
financiamentos. Esta questão já foi inclusive observada no Capítulo 3 deste trabalho, que
falava sobre os motivos do insucesso da primeira experiência de grande produção econômica
vivenciada em Palmares. Também junto a esta questão, foi apontada a falta de pesquisas
técnicas desenvolvidas na região.
Figura 8 - Família de assentados do PA Palmares Foto: Dion Monteiro, 2004
69
Com 2,86% das respostas, foi afirmado que a maior dificuldade está na falta de infra-
estrutura básica para o desenvolvimento das atividades, como energia elétrica nos lotes,
estradas em quantidade e qualidade satisfatórias e veículos disponíveis para o transporte dos
insumos e da produção. Afirmaram que este fator se agrava devido à falta de apoio no
desenvolvimento da produção e, às vezes, uma certa falta de experiência em relação ao
financiado.
Do total de 105 chefes de família entrevistados, o percentual de 2,86%, o que
corresponde a 03 responsáveis pelas famílias, afirmaram que não sabiam responder a esta
pergunta, ou seja, quais as principais dificuldades que eles enfrentavam para que os
financiamentos recebidos fossem bem sucedidos, um número bastante pequeno,
principalmente quando considera-se a grande maioria (97,14%), que tinha alguma opinião a
emitir em relação a este aspecto.
Tabela 7 - Principais dificuldades nos financiamentos
DIFICULDADES %
O repasse não é feito na data certa 47,62
O valor do financiamento é pequeno 19,04
A burocracia nos bancos 12,38
Problemas na administração da associação 07,62
Falta de ATER para os financiamentos 07,62
Falta de infra-estrutura básica 02,86
Não souberam responder 02,86 Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
70
5 O CONFLITO ENTRE A PRODUÇÃO COLETIVA E A REPRODUÇÃO ECONÔMICA INDIVIDUALIZADA
5.1 A ATUAL SITUAÇÃO DO MODELO DE ORGANIZAÇÃO COLETIVA IMPLEMENTADO NO ASSENTAMENTO Este item objetiva apresentar a relação, conflituosa ou não, entre a proposta de
organização coletiva para a produção, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra –
(MST), e a forma de reprodução econômica individualizada, praticada pela maioria dos
agricultores e explicada por algumas teorias que abordam a questão da organização
camponesa, em especial pela Escola da Organização da Produção, de Chayanov. Desta forma,
será resgatado primeiramente e, de maneira resumida, o processo de ocupação da terra a partir
do modo como os agricultores se organizaram, no sentido de desenvolver as suas atividades
produtivas. Sendo, logo em seguida, apresentados os principais resultados obtidos nos
trabalhos desenvolvidos em campo, nesta pesquisa.
Como observado no Capítulo 4 deste trabalho, a organização para o desenvolvimento
da produção, no acampamento, deu-se através dos grupos de famílias, lembrando, constituídos
por um montante que variava de 50 a 60 famílias sem terra. Neste momento inicial, a
separação em lotes individuais ainda não existia, ou seja, toda a área ocupada era coletiva,
inclusive em relação ao espaço destinado à plantação das culturas necessárias para a
subsistência das famílias que lá se encontravam.
No final de 1995 é criado oficialmente o PA Palmares, como explicitado no Capítulo 1.
Assim, já a partir do ano seguinte (1996), aprofundaram-se as discussões em relação à
implantação de uma nova forma de organização do agora assentamento, principalmente no que
diz respeito ao desenvolvimento das atividades produtivas. Estas questões vão continuar sendo
objeto de debate nos anos seguintes, na tentativa de implementar uma forma de organização
que realmente fosse diferenciada das experiências associativistas tradicionais, pautadas em
muitos casos apenas pelos interesses econômicos.
71
Resgatando, o projeto para captação de recursos apresentado ao Banco do Brasil pela
Aprocpar, em outubro de 1999 indica, naquele momento, a existência de 52 núcleos de
produção, verificando-se então uma mudança de nomenclatura na estrutura adotada pelo MST
como forma de dividir as famílias dentro do assentamento. A explicação para isto é que, à
medida que avança o processo em relação à luta e conquista formal da terra, também ocorre a
necessidade de que o modelo de organização adotado seja igualmente ajustado.
Para o MST os grupos de famílias são estruturas iniciais, constituídas logo após o
processo de ocupação, agregando um grande número de famílias, conforme observado
anteriormente, sendo estrategicamente necessário neste momento que, normalmente, é de
grande conflito. Já os núcleos de famílias, também chamados de núcleos de base ou até
mesmo núcleos de produção (quando vistos apenas pelos aspectos econômicos), são
geralmente implementados na fase de assentamento, ou seja, após a conquista formal da terra,
sendo menores que os grupos, isto em relação ao número de famílias que fazem parte de cada
uma destas estruturas (05 a 15 famílias)6.
As entrevistas realizadas com os coordenadores, ex-coordenadores e componentes dos
núcleos mostraram que atualmente estão em funcionamento, de forma precária, 38 núcleos de
produção, totalizando 346 famílias, conforme apresentado no Capítulo 4, contra os 52 que
estavam em atividade em 1999. A seguir serão apresentados alguns elementos no sentido de
mostrar a atual situação destas estruturas em relação ao modelo de organização coletiva.
No capítulo anterior foi pontuado que 33,08% das 517 famílias assentadas oficialmente
em Palmares estão fora das estruturas de organização coletiva para a produção, pois não estão
integradas em nenhum núcleo de produção, nem mesmo formalmente, como acontece com
outras. É importante lembrar que 04 núcleos deixaram de funcionar, mesmo que ainda
apareçam nos últimos projetos elaborados para captação de recursos junto ao Banco do Brasil. 6 Atualmente o MST vem procurando antecipar a implantação destas estruturas (núcleos de famílias), iniciando seu funcionamento ainda no período chamado de pré-assentamento, estágio onde a conquista da terra já está dada, mas formalmente ainda não ocorreu a desapropriação da área pelo Incra.
72
Figura 9 – Núcleo de família “Filhos da terra” Foto: Fabiano Bringel,. 2004
Quanto à composição dos núcleos em funcionamento, foi verificado que 03 estão
abaixo da média em relação à quantidade de famílias por estrutura, funcionando atualmente
com apenas 04. Porém, 03 outros núcleos apresentam uma situação que pode indicar maiores
dificuldades, funcionando com 18, 25 e 30 famílias respectivamente, portanto, principalmente
os dois últimos, possuem uma quantidade bem superior ao limite de 15 famílias indicado pelas
lideranças dos Sem Terra como teto máximo para que um núcleo de produção funcione bem,
garantindo tanto o processo de organização produtiva, quanto de organização política e social
do assentamento.
Tabela 8 – Relação quantitativa núcleos/famílias
NÚCLEOS (quantidade) FAMÍLIAS (quantidade)
03 04
10 05
02 06
73
04 07
04 08
01 09
04 10
02 11
01 12
01 13
02 14
01 15
01 18
01 25
01 30
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
Analisando esta tabela verifica-se que dos 38 núcleos em funcionamento, exatamente
32 (84,21%) possuem entre 05 a 15 famílias componentes, a variação indicada, contra 06
(15,79%) que possuem uma quantidade de famílias diferente do intervalo acima, sendo 03
abaixo e 03 acima deste padrão. Assim, a atual divisão quantitativa de famílias por núcleo não
é um fator que possa afetar a implementação da política pensada pelo MST, em relação à
organização da produção coletiva no assentamento.
Uma outra questão e, bem mais representativa que a anteriormente abordada, refere-se
à forma de desenvolvimento do trabalho utilizada pelos componentes dos núcleos de família
em funcionamento. Desta forma, verificou-se que 37 (97,37%) dos 38 responsáveis por estas
unidades afirmaram que seus núcleos de produção apresentam famílias que trabalham
exclusivamente de forma individualizada, 06 (15,79%) afirmaram que possuem famílias que
desenvolvem trabalho semicoletivo, ou seja, parte coletivo e parte individual e, 01
coordenador de núcleo, o que corresponde a 2,63% do total, afirmou que em seu núcleo
74
existem famílias que trabalham de forma exclusivamente coletiva, compartilhando
integralmente tanto infra-estrutura quanto criações e plantações.
Retirando os núcleos que afirmaram ter em seu interior formas de trabalho coletiva
e/ou semicoletiva, sobram 32 representantes que dizem somente haver trabalho individual
entre as famílias componentes de seus respectivos núcleos de produção. Este número quer
dizer exatamente 84,21% de todos os núcleos atualmente em funcionamento no assentamento
Palmares.
Esta situação fica ainda pior quando consideramos o total de famílias atualmente
ligadas a algum dos núcleos de produção. Desta forma e, segundo as informações dos(as)
coordenadores(as), ex-coordenadores(as) e membros de núcleos entrevistados, das 346
famílias vinculadas, 329 (95,09%) trabalham unicamente de forma individual, 13 (3,75%)
trabalham de forma semicoletiva e 04 (1,16%) trabalham exclusivamente de forma coletiva
em seu núcleo.
Vale aqui observar que não está sendo considerado, nesta análise, as 171 famílias que
não foram incluídas em nenhum dos núcleos entrevistados, o que certamente elevaria o
percentual das famílias que optaram por trabalhar exclusivamente de forma individual. Na
hipótese de todas estas 171 famílias estarem trabalhando individualmente, o que não é difícil
estar acontecendo, a quantidade de famílias que decidiriam por esta sistemática de produção
passaria de 329 para 500, ou seja, 96,71% do total de 517 famílias oficialmente assentadas em
Palmares.
Estes dados são determinantes na análise sobre a atual situação do modelo de
organização coletiva implementado no assentamento. Neste caso, mesmo as famílias
participantes dos núcleos de produção trabalham em sua maioria, mais de 95%, de forma
individual, ou seja, as estruturas não estão conseguindo ser representativas no que diz respeito
à possibilidade de impulsionar um modo de trabalho alternativo, ficando neste momento a
75
seguinte dúvida: é o modelo pensado que é ineficaz ou o mesmo torna-se ineficaz por estar
inoperante?
Como forma de contribuir com esta reflexão, serão apresentados alguns dados sobre a
dinâmica dos núcleos de família, em relação à sistemática de suas reuniões, procurando avaliar
se estas estruturas estão conseguindo funcionar não somente como elementos básicos de
organização do processo produtivo, mas também como instrumentos de decisão, democráticos
e participativos, inclusive nos encaminhamentos das questões sociais e de políticas gerais para
o referido assentamento.
Com base nas informações constantes no Capítulo 4 deste trabalho, construiu-se uma
tabela onde se poderão verificar os principais assuntos discutidos nas reuniões dos núcleos de
famílias no assentamento Palmares. Esta tabela terá como objetivo possibilitar uma avaliação
se o conteúdo discutido permite, a partir de sua diversificação, uma interação com os
problemas vivenciados neste local, dando suporte para que sejam tomadas decisões partindo
de entendimentos coletivos, sendo assim este procedimento uma real alternativa e seus
encaminhamentos conseqüentemente assumidos por todos os componentes do assentamento.
Tabela 9 – Principais assuntos discutidos nas reuniões
ASSUNTO % NÚCLEO
As ações do governo (créditos, prazos, ATEC, projetos, etc.) 89,47
A questão da organização social (do assentamento e do núcleo) 78,95
A questão específica da produção no núcleo 71,05
Questões diversas (saúde, MST, segurança, transporte, política, etc.) 65,79
Os problemas individuais do núcleo (dos componentes e de suas famílias) 18,42 Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
76
A tabela anterior mostra que os núcleos não têm se restringido a apenas um tema em
suas reuniões, abordando desta forma aspectos que vão desde a organização interna do núcleo
e do assentamento, quanto aos assuntos relativos a produção, créditos, assistência técnica e
extensão rural, carência para pagamento dos empréstimos, etc. Passando também por questões
como segurança, violência, drogas, problemas em relação a saúde e meio ambiente, estradas
precárias e até, de maneira mais reduzida, abordando os problemas específicos das famílias
componentes dos núcleos de produção. Desta forma, avalia-se que existe uma dinâmica
positiva no que diz respeito à possibilidade do desenvolvimento de decisões coletivas em
relação às diversas temáticas inerentes as necessidades do PA Palmares.
O projeto elaborado em 1999 pela Aprocpar, em relação às estratégias para o
assentamento, observa o seguinte:
Cada núcleo de família possui um coordenador, sendo que esses coordenadores que são em n°52 reúnem-se pelo menos duas vezes por mês com a diretoria e a assistência técnica a fim de debaterem sobre os problemas de cada um, bem como assuntos de interesse da comunidade e também onde se traçam as estratégias para a organização do assentamento (APROCPAR, 1999).
A orientação dos dirigentes do MST é que os núcleos garantam suas reuniões
individuais conforme as reuniões da coordenação geral do assentamento (formada pelos
coordenadores de núcleo, coordenadores da Aprocpar, direção estadual e direção local do
MST), ou seja, pelo menos duas reuniões por mês. O levantamento realizado no assentamento
apontou, em relação à freqüência de reuniões destes núcleos, a seguinte situação: apenas 07
coordenadores (18,42%) afirmaram que garantem reuniões de acordo com a orientação da
direção do movimento, 13 (34,21%) afirmaram realizar uma reunião por mês e 18 (47,37%)
informam que atualmente realizam reuniões em um intervalo que vai de 01 a 06 vezes por ano.
Juntando-se os casos que ficam fora das orientações da direção dos Sem Terra,
verifica-se então que 31 núcleos de famílias (81,58%) não conseguem garantir duas reuniões
por mês, com seus componentes e, o que é pior, mais de 47% dos 38 núcleos de famílias estão
77
realizando, no máximo, uma reunião a cada dois meses e mais de 30% reúnem-se no máximo
uma vez a cada quatro meses. A Tabela 10 esmiúça esta situação, distinguindo
quantitativamente os núcleos e apontando a freqüência com que estes se reúnem.
Tabela 10 – Freqüência de reuniões em Palmares
NÚCLEOS (QUANT.) REUNIÕES (QUANT.) PERÍODO
02 01 Ano
02 02 Ano
08 03 Ano
01 04 Ano
01 05 Ano
04 06 Ano
13 01 Mês
04 02 Mês
03 01 Semana
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
Quando se consideram apenas os núcleos de produção que conseguem se reunir pelo
menos uma vez por mês, verifica-se que 52,63% conseguem garantir esta média, segundo as
pessoas entrevistadas, o que é pouco considerando que a todo o momento surgem situações
que precisam ser discutidas e encaminhadas coletivamente, justamente para que as decisões
possam ser assumidas por todos, como já foi citado anteriormente.
78
Figura 10 - Reunião do núcleo “Filhos da terra” Foto: Fabiano Bringel, 2004
Existe também uma outra situação no assentamento, que tem influenciado diretamente
no resultado anterior. Nos últimos meses ocorreram pouquíssimas reuniões da coordenação
geral do assentamento, aquela na qual participam todos os coordenadores de núcleo de
produção mais os coordenadores da associação e direção do MST. Tendo estas reuniões
ocorrido aproximadamente entre 03 a 04 vezes no ano de 2004, de forma não sistematizada,
considerando apenas os meses de janeiro a setembro deste ano.
Esta situação demonstra que existe certamente nos núcleos um reflexo do que vem
ocorrendo na coordenação geral do assentamento, que não consegue desenvolver uma
sistemática de encontros, apresentando desta forma uma debilidade no que corresponde a
orientação e ao suporte que precisa ser dado para as estruturas básicas do movimento, os
núcleos de famílias.
Retornando a questão levantada anteriormente (é o modelo pensado que é ineficaz ou o
mesmo torna-se ineficaz por estar inoperante?), verifica-se que, neste momento, não existe
uma ação ou um desempenho efetivo dos organismos do assentamento que possa produzir um
79
efeito permanente em relação ao funcionamento das estruturas base do modelo de organização
coletiva pensado para Palmares. Porém, é necessário afirmar que, apesar deste ser um dos
mais importantes elementos, é apenas um dos fatores responsáveis pelo concreto
funcionamento do modelo em questão, podendo também ser responsabilizado pelo seu não
funcionamento, dependendo do seu desempenho.
5.2 EXPECTATIVAS E CONSIDERAÇÕES
Procurando compreender se houve, no início, algum tipo de resistência à proposta de
organização coletiva para a produção apresentada, foi perguntado aos entrevistados,
representantes de núcleos, o seguinte: Inicialmente, quais eram as suas expectativas em
relação à forma de produção coletiva? O tratamento das respostas obtidas apontou os
elementos pontuados a seguir.
Dos 38 representantes de núcleos abordados, 32 (84,21%) afirmaram que desde o
início acreditaram que trabalhando desta forma tudo poderia dar certo, 05 (13,16%)
observaram que não tinham certeza que utilizando esta forma de trabalho, coletiva, as coisas
dariam certo e apenas 01 atual coordenador de núcleo, o que corresponde a 2,63% das pessoas
entrevistadas, disse que na implantação da proposta era contra. Porém, este mesmo
coordenador que se posicionou contrariamente no início, falou que com o passar do tempo foi
compreendendo a proposta, passando a apoiar a mesma.
Tabela 11 – Expectativas iniciais com o modelo
EXPECTATIVA %
Avaliavam que trabalhando desta forma tudo daria certo 84,21
Não tinham certeza que as coisas dariam certo 13,16
No início era contra 02,63
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
80
Os resultados apresentados deixam claro não ter havido grande resistência dos
entrevistados em relação à proposta de organização coletiva para o desenvolvimento da
produção apresentada e implementada no assentamento Palmares. As observações coletadas
em campo indicam que um dos fatores que mais contribuíram para esta aceitação, pelo menos
por parte dos coordenadores, ex-coordenadores e componentes de núcleos abordados, foi o
bom resultado apresentado pelos grupos de famílias, ainda na fase de acampamento.
Este percentual de aceitação, devido à quantidade de entrevistados (38), não poderá ser
extrapolado para todas as 517 famílias assentadas, porém praticamente todos os que hoje são
representantes de núcleo participaram da ocupação como membros de base do assentamento,
ou seja, com exceção de um agricultor, nenhum dos demais era, naquele momento, direção do
MST, tendo assim o “mesmo nível de compreensão e conhecimento” que todas as demais
pessoas que estavam participando daquela ação, nesta situação.
Os resultados identificados anteriormente, apontando que das 346 famílias vinculadas a
algum dos núcleos de produção, mais de 95% trabalham unicamente de forma individual,
levaram à aplicação de uma outra questão aos representantes de núcleos, sendo esta a seguinte:
Na sua opinião, por que as famílias preferem trabalhar de forma individualizada? Obtendo-se
as respostas abaixo elencadas.
Reunindo em quatro grandes blocos as respostas dos entrevistados, verifica-se que: 11
(28,95%) afirmam que as famílias atualmente preferem trabalhar de forma individualizada
porque ficaram decepcionadas com a situação verificada nos projetos em grupos (grandes
projetos), implementados ainda no início do assentamento (abordados no Capítulo 3 deste
trabalho); outras 11 pessoas (28,95%) disseram que o principal motivo que levou à priorização
do trabalho individual foi que, desta maneira cada família pode trabalhar da forma que quiser e
com o que quiser, ou seja, pode decidir, independentemente de outras famílias, o que fazer
81
com seus bens, bem como com o seu trabalho, facilitando, inclusive, com que sejam
minimizados os possíveis choques culturais no labor, em decorrência das diferentes origens
destes agricultores; 08 representantes (21,05%) apontaram a formação decorrente dos próprios
pais e avós, como o principal fator causador desta evidência, afirmam que isto leva os
trabalhadores a priorizarem as suas próprias atividades econômicas, além de não terem
experiência em relação à forma de trabalho coletiva proposta e, finalmente, mais de 08
coordenadores, ex-coordenadores e membros de núcleos entrevistados, o que corresponde
também a 21,05% dos 38 núcleos, afirmam que os agricultores não depositam confiança nos
demais membros de seus respectivos núcleos, impossibilitando desta forma o desenvolvimento
dos trabalhos coletivos.
Tabela 12 – Principais motivos para o trabalho individual
MOTIVOS %
As pessoas ficaram decepcionadas com a experiência anterior 28,95
Desta maneira cada um pode trabalhar da forma e com o que quiser 28,95
Devido à formação que vem desde os pais e avós 21,05
As pessoas não confiam nos demais membros do núcleo 21,05
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
Verifica-se que a expectativa depositada no modo de trabalho coletivo, no início da
ocupação e do assentamento, foi fortemente impactada pela situação que se seguiu, de
desestruturação destes projetos comuns, levando as perdas já verificadas na piscicultura,
suinocultura, avicultura, bovinocultura, fábrica de arroz, farinha, ração e no laticínio.
Um outro elemento importante, observado nas respostas dos entrevistados, é o que se
refere ao processo histórico de desenvolvimento do agricultor, ou seja, a formação deste para o
trabalho. Assim, observa-se que o direcionamento familiar, que vem desde os seus avós e
bisavós, nunca os preparou para o trabalho em grandes grupos coletivos, no máximo reunindo-
82
se em pequenos grupos comunitários para a realização de rápidos mutirões nas localidades
onde vivem, como abordado no Capítulo 2 desta pesquisa, que trata das bases teóricas do
campesinato.
Foi feita também a seguinte indagação aos abordados: Segundo os componentes do seu
núcleo, quais são os principais problemas em se trabalhar de forma coletiva nos núcleos de
família? Obtendo-se 06 blocos de respostas diferentes, pontuadas a seguir.
Mais da metade dos responsáveis pelos núcleos de produção, 21 (55,26%) afirmaram
que o principal problema em se trabalhar de forma coletiva é que nem todos os componentes
trabalham de forma igual, esclarecem: um pouco devido à própria dinâmica do trabalhador,
que é diferenciada entre eles, um pouco pela própria formação moral destes, pois evidenciam,
nem todos são honestos e responsáveis, além de citarem que em alguns casos há pouca e, às
vezes, nenhuma organização nas atividades desenvolvidas pelos núcleos coletivos.
Um outro grupo de representantes dos núcleos de produção, no total de 09 (23,69%)
cita que nunca se consegue chegar a um consenso em relação ao trabalho que precisa ser
realizado e, muitas vezes, nem mesmo a forma como as atividades deverão ser desenvolvidas,
mesmo depois de demoradas e cansativas discussões. Levando um tempo que poderia ser
utilizado em outras coisas, como cuidar do gado ou trabalhar na preparação da terra para o
plantio. Afirmam também que ocorrem as mesmas dificuldades quando o assunto se refere às
questões sociais do assentamento ou do núcleo.
O montante de 04 entrevistados (10,53%), referem-se à alegação dos componentes de
seus núcleos em relação à dificuldade que estes sentem devido a sempre ter que pedir
autorização ao coletivo para fazer qualquer coisa que não tenha sido decidida anteriormente
nas reuniões. Afirmam que muitas vezes são obrigados a fazer “o que o coletivo quer” e não
verdadeiramente o que eles gostariam de fazer, levando inclusive, observar alguns, a terem
83
dificuldades em saber qual o seu “patrimônio individual”. Aqui é interessante observa que fica
clara a não compreensão dos princípios da produção coletiva, por parte destes assentados.
Registra-se também a referência de 02 entrevistados, 5,26% do total de 38, que dizem
que um dos motivos alegados, em relação a esta questão, é a distância entre os lotes, pois,
alguns chegam a ficar até 15 km separados dos outros lotes do mesmo núcleo; 01 (2,63%)
afirma que falta estrutura e condição financeira para se trabalhar de forma coletiva e 01 único
coordenador informa que os componentes de seu núcleo de produção nunca reclamaram de
nenhuma dificuldade em relação ao trabalho coletivo.
Tabela 13 – Problemas em se trabalhar de forma coletiva
PROBLEMA %
Nem todos trabalham de forma igual 55,26
Nunca se consegue chegar a um consenso no núcleo 23,69
Ter sempre que pedir autorização ao coletivo para fazer qualquer coisa 10,53
A distância entre os lotes 05,26
A falta de estrutura e condição financeira para produzir coletivamente 02,63
Nunca houve reclamação do trabalho coletivo 02,63
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
Foi também feita uma outra pergunta que se apresenta como fundamental para analisar
alguns aspectos profundamente relevantes neste debate, que envolve o modo de produção
coletivo e a reprodução econômica individualizada no assentamento Palmares, sendo esta a
seguinte: Existe alguma forma de cooperação entre os membros de seu núcleo? O objetivo
desta verificação tem como fundamento procurar identificar se, mesmo com uma prática
predominantemente individualizada em relação ao desenvolvimento das atividades produtivas
84
entre as famílias, existe entre estas alguma ação que indique a presença de práticas solidárias e
de cooperação mútua.
Seguindo esta orientação, foi identificado que 52,63% dos entrevistados,
correspondente a 20 pessoas, afirmaram que os componentes de seus respectivos núcleos
praticam formas de cooperação como troca de trabalho e mutirão, tanto no sentido de ajudar
aos demais componentes que possam estar necessitando de alguma contribuição, por motivo
de doença ou quando saem do assentamento para realizar alguma tarefa para o MST, quanto
no sentido de apoio comum no trabalho com as culturas, gado ou demais serviços que se
fazem necessários em seus lotes, sendo retribuído posteriormente por quem recebeu a
colaboração.
Contraditoriamente, 34,21% dos representantes de núcleo abordados, ou seja, 13
responsáveis, afirmaram que em seus núcleos de produção não existe nenhuma forma de
cooperação entre os componentes, seja troca de trabalho ou serviço, mutirão, ou qualquer uma
outra forma de apoio comum. Mesmo nos momentos de plantação ou colheita, os agricultores
vinculados às estruturas aqui observadas preferem, por exemplo, contratar outras pessoas a,
trocar serviço com algum vizinho ou membro do mesmo núcleo de família ou de qualquer
outro núcleo.
Finalizando, 05 coordenadores, ex-coordenadores ou componentes de núcleo
entrevistados, 13,16% do total, citam que este tipo de cooperação ocorre pouco entre os
membros de seus organismos. Segundo estas pessoas, a maioria dos agricultores prefere cobrar
diária a trocar trabalho. Continuam afirmando que quando isso ocorre é em geral, no máximo
entre duas famílias que já possuem alguma afinidade maior, seja por motivo de parentesco ou
antiga amizade.
Ao juntarmos os entrevistados que afirmam não existir nenhum tipo de cooperação
entre os componentes de seus núcleos e os que dizem haver pouquíssima cooperação, temos
85
um montante de 47,37%, o que é muito preocupante, pois mostra que princípios fundamentais
de solidariedade e apoio mútuo estão se perdendo neste assentamento, colocando em risco
todo o processo de construção política feito no sentido de cultivar valores diferenciados
daqueles comumente proliferados (egoísmo, individualismo e competição), elementos, sabe-
se, intrínsecos ao sistema vigente.
Tabela 14 – Formas de cooperação entre os componentes do núcleo
FORMAS %
Os componentes do núcleo trocam trabalho e fazem mutirão 52,63
Não existe nenhuma forma de cooperação entre os membros do núcleo 34,21
Ocorre muito pouco, os membros preferem cobrar diária a trocar trabalho 13,16
Fonte: Elaborada a partir dos dados da pesquisa.
86
6 NOTAS CONCLUSIVAS
No início do Capítulo 3 deste trabalho afirmou-se que Palmares passou por um
processo de importação de um modelo econômico agroindustrial que não se adequava à
realidade local, tanto devido à carência infra-estrutural da Região Amazônica e, em especial
do Sudeste do Pará, quanto em função da falta de conhecimentos técnicos e administrativos
por parte das pessoas que iriam trabalhar com as estruturas e os projetos pensados. Sendo esta
situação um reflexo da ausência de um projeto mais específico para o setor de produção do
próprio MST.
Desde seu surgimento em 1984, até o atual período, o Movimento dos Sem Terra
ainda não conseguiu definir um caminho realmente concreto no que diz respeito ao
desenvolvimento e à organização da produção em seus assentamentos, principalmente
daqueles localizados na Região Amazônica. Várias experiências foram feitas, muitas na
década de 1990, e inúmeras discussões sobre este processo organizativo ocorreram, porém
mesmo as experiências pensadas e implementadas no Sul e Sudeste do Brasil tiveram grandes
dificuldades, e as que lograram sucesso não tinham como ser exportadas na íntegra para
outras regiões, que ficaram, por motivos diversos, sem conseguir avançar nesta situação.
Os documentos disponíveis deixam claro que o movimento passava, naquele
momento, por um debate intenso e que alguns representantes, inclusive de direção do MST,
tendiam a priorizar os fatores econômicos até mesmo em detrimento dos fatores
organizativos, pelo menos é o que se verifica no produto da pesquisa realizada pelos Sem
Terra em 1999 e apresentada neste trabalho. Assim, confundia-se neste momento o processo
de cooperação, que tem um profundo caráter ideológico, com a atividade econômica
cooperativista.
Verifica-se também que a persistência de agricultores, como os identificados em
Palmares, expõe a não realização das previsões marxistas, incorporadas por Kautsky, em
87
relação ao desaparecimento destes agentes econômicos. A realidade tem mostrado que os
camponeses não desapareceram mesmo em países com capitalismo desenvolvido e que a
multiplicação dos assentamentos na região indica, entre outras coisas, uma consolidação das
políticas (corretas ou não) voltadas para estas pequenas unidades produtivas agrícolas, que já
não se pautam mais somente pela simples agricultura de subsistência, estando agora também
inseridas em redes de comercialização.
Chayanov afirmava que não é possível pensar em um modelo único de
desenvolvimento econômico. Desta forma, em um país de dimensões e diferenças tão grandes
como é o caso do Brasil, torna-se necessário aprofundar inexoravelmente os processos de
pesquisa e geração de conhecimento sobre as peculiaridades de cada uma de suas regiões, e
mais, de cada uma das regiões que existem dentro de cada região do Brasil. O estado do Pará
é um exemplo claro desta situação.
A pesquisa mostrou que mais de 28% dos responsáveis pelas famílias, entrevistados,
avaliaram que faltaram conhecimentos técnicos para que os grandes projetos agroindustriais
tivessem resultados econômicos positivos, e mais de 42% afirmaram que a dificuldade de
gerenciamento administrativo dos projetos foi a responsável pelo fracasso desta experiência.
Ao mesmo tempo mais de 67% dos agricultores, chefes de família abordados, disseram que
nunca receberam assistência técnica em seus lotes.
Na região Sudeste do Pará, atendendo ao assentamento em questão, tem-se duas
organizações responsáveis pela assistência técnica, a COOMARSP e a APROCPAR, porém
nenhuma das duas funciona atualmente de forma eficiente em relação a esta questão, sendo
este um claro exemplo das dificuldades que existem também dentro do MST no que diz
respeito à construção de políticas alternativas de assistência técnica rural.
Em relação ao processo organizativo, atualmente mais de 30% das 517 famílias que
estão assentadas em Palmares não estão vinculadas a nenhuma unidade de base do MST, ou
88
seja, a nenhum dos núcleos de produção atualmente em funcionamento. Supõe-se que estas
faziam parte dos núcleos de família que não estão atualmente ativos, observados no Capítulo
4 deste trabalho. O reflexo imediato disto é o aumento na dificuldade em relação ao
desenvolvimento de uma produção pautada em bases coletivas neste assentamento. Porém, ao
ser considerada uma outra informação esta explicação não deve ser vista como definitiva, nem
a mais relevante, pois da quantidade de famílias que os coordenadores de núcleo afirmam
participar de alguma destas unidades, mais de 95%, segundo os próprios responsáveis pelos
núcleos de famílias, dizem desenvolver apenas atividades produtivas de forma
individualizada. Certamente ao considerar as famílias não vinculadas este percentual tende a
subir.
Aqui será repetida, resumidamente, a pergunta feita no Capítulo 5: o modelo é ineficaz
ou inoperante? Quando se verifica que a Coordenação geral do assentamento não vem
conseguindo dar uma direção efetiva para este, fica fácil identificar que atualmente o modelo
não se encontra realmente atuante, o que não quer dizer que ao atuar ele seja eficaz. O mais
provável é que sejam necessários vários ajustes para que o mesmo tenha uma possibilidade de
funcionar com os resultados esperados.
Em relação à produção atual de culturas temporárias no assentamento, considerando a
safra 2002/2003, passados cinco anos da safra tomada como base (1997/1998), verifica-se um
acréscimo consistente somente na produção de farinha de mandioca (526,90%). O milho
apresentou uma queda de 2,34% e o arroz uma alta de 17,23%. Infelizmente neste trabalho
não foi possível fazer uma comparação entre a produção quantitativa deste assentamento com
outros assentamentos da região, o que seria interessante para poder avaliar a situação dos
produtores, porém, verifica-se claramente uma ociosidade existente no que diz respeito à
possibilidade produtiva, pelo menos em relação à terra disponível para plantar. A experiência
89
empírica indicou que poucos assentados chegam a plantar o equivalente a um alqueire, sendo
interessante observar que os lotes possuem em média 05 alqueires ou 25 hectares.
Existe também uma reclamação por parte da maioria dos assentados em relação aos
repasses financeiros para os projetos contemplados. Afirmam estes que um dos maiores
entraves no que diz respeito ao aumento da produção está neste procedimento, que em geral é
feito fora do calendário agrícola. Desta forma, os investimentos são implementados
normalmente com recursos próprios e quando o financiamento chega é utilizado para comprar
outra coisa, muitas vezes gado e outras vezes móveis, eletrodomésticos, remédios, etc.
A fragilidade nos laços políticos verificados atualmente entre a organização MST e
muitos dos assentados, pode ser expressa pelos seguintes dados: mesmo que 83% dos chefes
de família afirmem serem vinculados ao Movimento (a maioria classificando-se como
simpatizante) menos de 30% dos coordenadores de núcleo informam que são discutidas em
suas reuniões questões específicas do MST (ocupações, formação política, atos públicos, etc).
É possível que este processo de afastamento esteja ocorrendo em virtude da existência de uma
grande expansão na quantidade de pessoas que hoje vivem em Palmares, mas também devido
a uma falta de maior formação política e, certamente, de respostas aos anseios dos
agricultores.
Um dado importante e que deve ser usado em um processo de desmistificação da
realidade local é o que informou que quase 60% dos responsáveis pelas famílias afirmaram
que estavam trabalhando na agricultura antes de irem para Palmares, contra aproximadamente
17% que afirmaram ter vindo direto do garimpo, apesar de uma quantidade muito maior de
pessoas deste assentamento ter trabalhado, em algum momento, na extração de ouro nesta
região. Esta situação mostra, ao contrário do que dizem alguns levantamentos, que as
dificuldades vivenciadas no local não se devem à falta de habilidade para trabalhar com a
agricultura ou com a pecuária, mas principalmente deve-se à dificuldade em se trabalhar com
90
o modelo que foi implantado. Outro elemento relevante, e que corrobora com o observado
anteriormente, refere-se à origem dos chefes de família entrevistados, onde quase 80% destes
vieram do Maranhão, Piauí ou Ceará, estados nordestinos com características agrícolas, entre
outras, principalmente em suas regiões interioranas.
Ainda em concordância com a informação sobre a origem e o desenvolvimento das
pessoas que hoje residem em Palmares, verifica-se a resposta da maioria dos entrevistados
quando perguntados sobre quais seriam as maiores dificuldades em se trabalhar de forma
coletiva. Desta maneira, mais de 55% destes lavradores informaram ser o principal
responsável as diferentes formas e ritmos de trabalhos implementados pelos agricultores,
causando insatisfação por parte daqueles que estão acostumados a um ritmo mais intenso, ou
mais compassado. Assim, verifica-se que os sistemas de trabalho devem ser também
considerados por ocasião da divisão das famílias dentro de cada núcleo, procurando adequar a
mesma forma de trabalho à maioria dos componentes da estrutura coletiva.
Ao indagar-se os coordenadores sobre qual seria a melhor forma de organizar os
núcleos de produção, verificou-se que aproximadamente 45% afirmaram ser a melhor forma a
organização por vicinal; em torno de 26% disseram que seria melhor por região, considerando
a divisão territorial que já existe dentro do assentamento; quase 08% disseram que os núcleos
deveriam ser organizados por afinidade familiar ou outra similar; também com o mesmo
percentual afirmou-se que a melhor forma seria organizar por linha de produção;
aproximadamente 05% disseram que seria melhor organizar a partir de pequenas cooperativas
ou associações, inclusive de moradores; outros 05% observaram que poderia ser qualquer
forma de organização, desde que houvesse unidade entre os trabalhadores e, finalmente, em
torno de 03% afirmaram que os núcleos deveriam ficar como estão hoje organizados.
Atualmente existe uma grande preocupação por parte da direção do assentamento
Palmares em relação à situação do processo produtivo, principalmente no que se refere a sua
91
organização. Deste modo, as informações anteriores podem contribuir com uma avaliação
mais aprofundada sobre esta questão. Verifica-se também que a indicação dos agricultores de
que a melhor forma de organizar os núcleos de produção seria por vicinal não apresenta
verdadeiramente uma novidade, pois no início do assentamento os núcleos foram divididos
exatamente desta forma. Porém, a experiência mostrou que após algum tempo, com a
insatisfação de alguns assentados com a situação de seus lotes, que apresentavam mais pasto
ou mais mata (floresta), com pouca ou “exagerada” quantidade de água (em alguns períodos
do ano), ou ainda devido à distância, iniciou-se um processo de troca e, até mesmo de venda
dos lotes, com a intenção de comprar outro que se julgasse mais apropriado. Assim, esta
situação teve como um de seus resultados o distanciamento de agricultores que continuavam
formalmente no mesmo núcleo de produção, porém agora tinham muito mais dificuldade de
se encontrar, justamente por não estarem mais territorialmente próximos, como no início.
Ao ser definida esta situação, reorganizando os núcleos conforme a indicação aqui
apresentada ou outra similar, será necessário serem consideradas medidas que impeçam ou
dificultem a repetição da situação vivenciada anteriormente. Uma alternativa pode ser a que
indica a necessidade que se troque de núcleo de produção ao se trocar de lote, passando a
organizar-se no núcleo correspondente à vicinal onde o camponês for residir.
Completando as considerações, verificou-se uma questão muito preocupante nos dados
da pesquisa. Os coordenadores de núcleo de produção informaram que, aproximadamente,
52% dos membros destas unidades praticam, de forma mais intensa, algum tipo de cooperação
entre si, apesar de que no desenvolvimento das atividades produtivas dos núcleos prefiram
trabalhar de forma individualizada. Um total de mais ou menos 48% dos componentes destes
núcleos de famílias não realiza nenhum tipo, ou quase nenhum tipo de cooperação, seja troca
de trabalho ou serviço, realização de mutirões ou outra destas ações. Verificou-se que em
92
torno de 13% observam que a ocorrência é muito pequena e aproximadamente 35% informam
que não há nenhum tipo de cooperação entre os membros de seus núcleos.
O grande impacto que esta informação causa é justificado pelo seguinte: mesmo se
tendo compreensão da grande dificuldade em se implementar formas coletivas de trabalho,
verificar que, quando se trata de ajuda mútua ou uma simples ação de solidariedade, quase
50% do assentamento não têm isto como uma prática comum, indica um grande problema em
relação a uma série de questões ligadas à construção de novos valores e, conseqüentemente,
de uma nova sociedade, com o desenvolvimento do que poderia ser chamado de relações
sociais de produção solidárias, pautadas por valores diferenciados dos usuais e, base dos
princípios do próprio Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
93
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98
ANEXOS
99
ANEXO 1 – MAPA DE LOCALIZAÇÃO DO PROJETO DO ASSENTAMENTO PALMARES
11
ANEXO 2 - QUESTIONÁRIO DE PESQUISA ÁREA DE ASSENTAMENTO PALMARES
Caso o (a) entrevistado (a) não seja o (a) responsável pela família: Nome:______________________________________________________________________________ Condição: Cônjuge ( ) Primogênito ( ) Outro (especificar) ___________________________________ 1. DADOS GERAIS SOBRE O (A) RESPONSÁVEL PELA FAMÍLIA 1.1. Nome/apelido:_________________________________________________________
________ 1.2. Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) 1.3. Idade: _____anos 1.4. Estado civil: Casado/a( ) Solteiro/a( ) Amigado/a( ) Viúvo/a( ) Divorciado/a( )
Separado/a( ) 1.5. Local de nascimento:
Estado__________Município_____________________________________ 1.6. Quando chegou em Parauapebas: _____________Vindo de
onde:__________________________ 1.7. Profissão(ões) que teve antes de chegar ao assentamento ( )Garimpeiro/a ( )Agricultor/a ( )Vendedor/a ( )Comerciante ( )Outra/s:________________________________________________ 1.8. Associado(a) da APROCPAR ( )Sim Desde_________ ( )Não Por que não?_________________________________________________________________________________ 1.9. É ligado(a) ao MST ( )Sim ( )Simpatizante ( )Militante ( )Dirigente Desde_______ ( )Não Por que não?_______________________________________________________________ 1.10. Participa de outra organização ( )Sim Qual?_________________________________________ desde ________ ( )Não 1.11. Freqüenta as reuniões da APROCPAR, ____ vez(es) por semana/____ vez(es) por mês/____vez(es) por ano e/ou do MST, _____ vez(es) por semana/_____vez(es) por mês/_____vez(es) por ano e/ou do(a) __________________, _____ vez(es) por semana/_____vez(es) por mês/_____vez(es) por ano. 1.12. Exerce(u) cargo na APROCPAR, Qual?_____________ de______até_______ e/ou no MST, Qual? _____________de______até______e/ou na(o)____________ Qual?_____________de______até______. 1.13 – De que núcleo de família faz parte: __________________________________________________ 1.14 – Seu lote fica em que região: ( )Três Voltas – Carote ( )Três Voltas – Aristel ( )Pontilhão ( )Esfria Saco ( )Limão – antes do rio ( )Limão – depois do rio ( )Praças ( )Rio Novo ( )Entorno da vila ( )Roncador ( )Outra:_______________________________________
Entrevistador (a):_____________________________________________ Questionário n°: ___________ Local da entrevista: _________________________________ Data:____________________________
2
2. A FAMÍLIA COMO UNIDADE DE PRODUÇÃO E CONSUMO 2.1. Assumiu o lote no ano de_______, no mês de _________. 2.2. Patrimônio e suprimento no início da exploração (usar moeda da época):
2.3. Composição atual da família (incluir todos que usufruem a produção em
comum).
Condição (*)
Idade (anos)
Se xo
Esco-lari-dade (anos
comple tos)
Uso do trabalho No lote (estimativa
em %) Comunid
ade (Dias/An
o)
Para terceiros:
Casa RoçaPasto
Mata p/quem
nº de
dias
Renda R$
Resp. p/ fam.
(*) Condição: esposo(a),filhos(as), pai, mãe, avós, cunhados(as), primos(as), encostados(as), etc.(numerar repetições 1,2,3) 2.4. Lote(s) no ano da pesquisa
Modalidade de acesso (todos os lotes Área Unid. Ano
acesso Situação jurídica
(tipo de documento)
Em dinheiro próprio (valor): ______________________ Origem: ________________________________
Dinheiro emprestado (valor):______________________ Origem: ________________________________ Animais que possuía (n°/espécie)__________________________________________________________ Utensílios, máquinas e ferramentas:________________________________________________________ Como viveu e trabalhou antes da 1ªcolheita: ________________________________________________
3
disponíveis) Compra Posse antiga reconhecida Ocupação pacífica Ocupação conflituosa Herança Arrendamento Concessão de uso Outras TOTAL a) 1 hectare = 100 x 100 m (10.000 m²) b) 1 tarefa = 25 x 25 braças = 55 x 55 m (3.025 m²) c) 1 alqueire = 5 hectares = 16 linhas (50.000 m²) d) se usar outra unidade, especificar dimensões
a) Título Definitivo (Incra ou Iterpa) b) Licença de Ocupação (Incra) c) Recibo de compra (registrado no cartório?) d) Se for outro tipo, discriminar
2.5.Recebe rendas da Previdência?
Membro da Família
Rendas previdenciárias / mês (em R$)*
Aposentadoria Auxílio gravidez
Auxílio invalidez
Pensão Outra(s)/Qual?
Pai Mãe
* Caso não seja o ano todo, especificar quantas vezes recebeu ou vai receber. Ex: 240x3, 120x6. 2.6.Recebe e/ou dá ajuda financeira?
Ajuda recebida Ajuda dada
De quem
Quanto
Para quem
Quanto
Por vez (R$) Vezes p/ano Por vez (R$) Vezes p/ano
2.7.Contratação de mão-de-obra no último ano agrícola?
Mão-de-obra externa - Tipo de Serviço
Mês(es) Dias trabalhad./mês
Quantas pessoas?
Valor pago por pessoa/forma*
4
* Diária, Quinzena, Mensal, etc.
5
2.8. Bens de consumo durável à disposição do lar (no ano da pesquisa). Item (se tiver + de um, numerar
em outros) Tipo / Estado
(descrição sucinta/breve) Ano
compra/ construção
Valor (R$) na época
Energia elétrica (Rede CELPA) Energia elétrica (Gerador) Água encanada Rádio Televisão Geladeira Aparelho de som Móveis de sala Móveis de quarto Móveis de cozinha Máquina de costura Liquidificador Fogão a gás Fogão a lenha Antena parabólica Carro Motocicleta Bicicleta Máquina de costura Máquina fotográfica Filtro d´água Banheiro de alvenaria Outros
6
2.9. Informações sobre a(s) casa(s) (se tiver outras casas, anotar os mesmos dados no verso da folha): Casa 1 (Ano construção: __________)
Casa 2 (Ano construção: __________)
2.10. Edificações de trabalho (no ano da pesquisa). 2.10.1. Casa de farinha: ano construção: _______; custo de construção (se não souber não insistir): __________
Localização: ( ) no lote; ( ) na agrovila; ( ) na cidade (qual cidade? __________________________) Área construída (frente x fundos): _______m x _______m Quantidade de cômodos: _____________ Parede: ( )Alvenaria; ( )Madeira; ( )Taipa; ( )Palha; ( )outro tipo (discriminar __________________) Piso: ( ) Cimento; ( ) Madeira; ( ) Chão batido; ( ) Terra solta; ( ) outro (______________________) Cobertura: ( )Telha barro; ( )Telha cimento; ( )Brasilit; ( )Cavaco; ( )Palha; ( )outra (___________) Fonte de água: ( ) Poço tubular c/ bomba; ( ) Poço Amazonas (manual); Profundidade ________; ( )Água encanada; ( ) Cacimba; ( ) Igarapé; ( ) Rio Sanitário: ( )porcelana; ( )pedra sanitária; ( )fossa negra; ( )outra privada (___________); ( )não tem
Localização: ( ) no lote; ( ) na agrovila; ( ) na cidade (qual cidade? __________________________) Área construída (frente x fundos): _______m x _______m Quantidade de cômodos: _____________ Parede: ( )Alvenaria; ( )Madeira; ( )Taipa; ( )Palha; ( )outro tipo (discriminar __________________) Piso: ( ) Cimento; ( ) Madeira; ( ) Chão batido; ( ) Terra solta; ( ) outro (______________________) Cobertura: ( )Telha barro; ( )Telha cimento; ( )Brasilit; ( )Cavaco; ( )Palha; ( )outra (___________) Fonte de água: ( ) Poço tubular c/ bomba; ( ) Poço Amazonas (manual); Profundidade ________; ( ) Água encanada; ( ) Cacimba; ( ) Igarapé; ( ) Rio Sanitário: ( )porcelana; ( )pedra sanitária; ( )fossa negra; ( )outra privada (___________); ( )não tem
7
2.10.2. Depósito/Paiol: ano construção: _______; custo de construção (se não souber não insistir): __________
2.10.3. Curral/Cerca: ano construção: _______; custo de construção (se não souber não insistir): __________
Localização: ( )no lote; ( )na agrovila. Propriedade: ( )do agricultor; ( )da comunidade ( )de outro(a) assentado(a) (Paga algo a este(a) assentado(a), o que?:_________________________________) (Preencher quadro abaixo somente se a casa de farinha for de propriedade do agricultor) Área construída (frente x fundos): _______ x _______ m Quantidade de cômodos: ____________ Cobertura: ( )Telha barro; ( )Telha cimento; ( )Brasilit; ( )Cavaco; ( )Palha; ( )outra (___________) Estrutura: ( )alvenaria; ( )madeira de lei; ( )madeira de 2ª; ( )outra (discriminar __________________) Piso: ( )Cimento; ( )Madeira; ( )Chão batido; ( )Terra solta; ( )outro (________________________) Fonte de água: ( )Poço tubular c/ bomba; Profundidade ________; ( )Poço Amazonas (manual); Profundidade ___________; ( ) Água encanada; ( )Cacimba; ( )Igarapé; ( ) Rio
Localização: ( ) no lote; ( ) na agrovila; ( ) na cidade (qual cidade?___________________________) Área construída (frente x fundos): _______ x _______ m Quantidade de cômodos: ____________ Parede: ( )Alvenaria; ( )Madeira; ( )Taipa; ( )Palha; ( )outro tipo (discriminar ___________________) Piso: ( ) Cimento; ( ) Madeira; ( ) Chão batido; ( ) Terra solta; ( ) outro (_____________________) Cobertura: ( )Telha barro; ( )Telha cimento; ( )Brasilit; ( )Cavaco; ( )Palha; ( )outra (__________)
8
* se tiver mais de um curral/cerca, anotar mesmos dados no verso desta folha.
2.10.4. Outra construção: ano construção: _______; custo de construção (se não souber não insistir): _________
2.10.5 Outras benfeitorias (ou observações)____________________________________________________
_______________________________________________________________________________________
Tamanho do curral/cerca (frente x fundos): ______ x _______ m ; Tipo de curral/cerca: ( ) Provisório (cercado de madeira roliça/branca, sem mourões) ( ) Simples (cercado com madeira de lei, com mourões, sem balança) ( ) Completo (madeira de lei, mourões, com divisões e com balança)
Tipo/Uso: _________________________________________ Localização: ____________________ Área construída (frente x fundos): _______ x _______ m Quantidade de cômodos: ____________ Parede: ( )Alvenaria; ( )Madeira; ( )Taipa; ( )Palha; ( )outro tipo (discriminar _________________) Piso: ( ) Cimento; ( ) Madeira; ( ) Chão batido; ( ) Terra solta; ( ) outro (_____________________) Cobertura: ( )Telha barro; ( )Telha cimento; ( )Brasilit; ( )Cavaco; ( )Palha; ( )outra (__________) Fonte de água: ( )Poço tubular c/ bomba; ( )Poço Amazonas (manual); ( )Cacimba; ( ) Igarapé; ( ) Rio Sanitário: ( )porcelana; ( )pedra sanitária; ( )fossa negra; ( )outra privada (_____________); ( )não tem
9
2.11. Equipamentos, ferramentas e utensílios de trabalho (no ano da pesquisa).
Item Qtde Marca/
Modelo
Compra
Ano Financiada por: Preço (R$)
Caminhão Carro de passeio Motocicleta Espingarda Motor Gerador Bicicleta Motoserra Plantadeira manual Tambor p/guardar grão Pulverizador Carrinho de mão Enxada Foice Facão Boi de tração Beneficiadora arroz Beneficiadora pimenta Outros
3. MEIOS DE PRODUÇÃO 3.1. Evolução dos recursos vegetais (se tiver mais de duas capoeiras anotar no verso)
Cobertura vegetal Início da exploração (ano: ) Hoje (ano: )Área Idade Área Idade
Á t t l Mata Área explorada Várzea inundável Capoeira 1 Capoeira 2 Roça Culturas permanentes Pasto sujo (juquira) Pasto limpo Outra ( )
10
3.2. Produção, consumo e comercialização de produtos extrativos no último ano
Produto Produ-ção
Unid. Consumo familiar
Venda Quem comprou? (% do vendido) *
Quantid. Preço/unid Mês/es B C A F O As Madeira Cipó Mel Peixe Borracha Castanha Cupuaçu Andiroba Copaíba Muruci Açaí Lenha Banana Cana
* marcar com X: B = Bodegueiro (pequeno comerciante da comunidade); C = Caminhoneiro (atravessador que vem comprar na comunidade; A = Atacadista (grande comerciante que compra em quantidade na cidade); F = Feira (o agricultor vende na feira direto ao consumidor); O = Organização (cooperativa, caixa agrícola, associação, etc.); As = Assentado (Assentado do próprio PA)
3.3. Possui madeira de valor comercial no lote? Quais/quantas (espécies / n° de árvores)? ____________ ____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________
3.4. Fontes de água para o trabalho no lote:
( ) Rio navegável; ( ) Igarapé perene; ( ) Igarapé seco no verão; ( ) Açude; ( ) Poço; Profundidade ________; Máxima no ano_______ e Mínima no ano __________; ( ) Outra(______________________)
* Esgotou alguma fonte de água ? Qual ? Por quê ? _________________________________________
11
___________________________________________________________________________________
* Qualidade da água: ( ) manteve-se; ( ) melhorou; ( ) piorou ; Por quê ?
_____________________________________________________________________________________
3.5. Criações de animais dentro do(s) estabelecimento(s), autoconsumo e venda (no ano da pesquisa).
Espécie
Próprio De terceiros (n°)
Qtde Financiados Preço unitário
de venda na região
De meia
(Qtde)
Aluguel de pasto Cessão pasto
(Qtde) Ano Por quem Qtde. Valor do aluguel/mês
Bois Vacas Novilhos Novilhas Bezerros Bezerras Cavalos Burros Galinhas Porcos Bodes Colméias
* Preço de venda na região (em R$). 3.6. Tem algum animal fora do lote? ( ) sim; ( ) não; Qual (is), quantos e em que condição ? _____________________________________________________________________________________ 3.7. Culturas nas quais se usa veneno e herbicidas?
CULTURA TIPO DE PRODUTO
QUANT.
UNID. QTAS. VEZES / ANO
12
4. USO DAS TERRAS 4.1. A dinâmica das culturas temporárias (arroz, feijão, milho, mandioca, hortaliças e outras de ciclo curto).
Culturas / Época Ano
plantio
Plantio Colheita % de traba-
lho próprio
Uni-dade Área Uni-
dade Quan-tidade
Traba-lhador (a)/dia
Dias
1.No início da exploração: a) Consórcios b) Culturas solteiras 3.Hoje a) Consórcios b) Culturas solteiras • colocar unidade de medida utilizada pelo agricultor (no caso de hortaliças, anotar
produção semanal ou mensal, e explicar. Se preciso, utilizar o verso desta folha).
4.2 – Trabalho na terra
13
Modo de trabalho manual Cultura Preparo da
área/dia Plantio/dia Limpeza/dia Colheita/dia
Modo de trabalho mecanizado
Cultura Preparo da área/dia
Plantio/dia Limpeza/dia Colheita/dia
4.3. Consumo familiar e comercialização de culturas temporárias no último ano agrícola.
Produto Quant. Unid. Auto- consu-
mo
Venda Quem comprou ?
Quant. Preço p/Uni
Mês (es) B C A F O As
* mesma observação do item 3.2. (Bodegueiro, caminhoneiro, stacadista, feira, organização, assentado) 4.4. Cultivos permanentes existentes atualmente no(s) lote(s).
Culturas perenes E semiperenes
Plantio Erradicação/perda/eliminação
Ano Área Unid. Financiado
Causa Ano N° pés Por
quem Valor (R$)
1.Solteira
14
2.Consórcios
4.5. Criação pecuária existente atualmente no lote
Animais
Quantidade
Área
Tipo de capimFinanciado
Por quem Valor (R$)
4.6. Consumo familiar e comercialização de culturas perenes no último ano agrícola.
Produ-to
Uni-dade
Produ-ção
Auto- consu-
mo
Venda Quem comprou ?
Quant. Preço p/Uni
Mês (es) B C A F O As
* mesma observação do item 3.2. (Bodegueiro, caminhoneiro, atacadista, feira, organização, assentado)
4.7. Consumo familiar e comercialização da pecuária bovina no último ano agrícola.
Produto Uni-dade
Produ-ção
Auto- consu-
mo
Venda Quem comprou ?
Quant. Preço p/Uni
Mês (es) B C A F O As
Leite Queijo
15
Boi Vaca Novilho Novilha Bezerro Bezerra
* mesma observação do item 3.2. (Bodegueiro, caminhoneiro, atacadista, feira, organização, assentado)
4.8. Consumo familiar e comercialização da criação no último ano agrícola.
Produto Uni-dade
Produ-ção
Auto- consu-
mo
Venda Quem comprou ?
Quant. Preço p/Uni
Mês (es) B C A F O As
Frangos Ovos Mel Porco
* mesma observação do item 3.2. (Bodegueiro, caminhoneiro, atacadista, feira, organização, assentado) 5. ACESSO AO CRÉDITO RURAL 5.1. Recebe(eu) algum apoio a fundo perdido?(Incra, projeto de ONG ou Igreja, PDA etc.) sim( ); não( ) Qual?______________________________ 5.2. Que financiamento(s) mais recente(s) recebeu ? Em que ano ? ( ) Procera (ano: _______); ( ) Pronaf (ano:___________); ( ) Outro (ano: ________) Especificar: ________________________ . 5.3. Em qual banco conseguiu este financiamento ? ______________ Agência: ______________; 5.4. Este financiamento foi contratado para que atividades?
Culturas (1) / Criações (2) Área (1) N° de cabeças (2) a) Cult. temporárias (especificar) b) Cult. permanentes (especificar) c) Pecuária (especificar)
16
5.5. Quem lhe apoiou para conseguir este financiamento? ______________________________________ 5.6. Quem foi o avalista do contrato ? _____________________________________________________ 5.7. Quem elaborou o projeto? ___________ Era isso que queria financiar? ( )Sim; ( )Não; Por quê? ___________________________________________________________________________ 5.8. Tinha experiência anterior com a cultura financiada? ( )Sim; ( )Não 5.9. Qual o valor total do financiamento de acordo com a cédula rural? R$ _____________________ 6. APOIOS INSTITUCIONAIS 6.1. Recebe assistência técnica? ( )não, ( )sim; De quem? _______________________________ 6.2. Quantas visitas de assistência técnica foram feitas no seu lote? _____________________________ 6.3. A assistência técnica é: ( )boa; ( )regular; ( )ruim; Por quê? __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
6.4. Utiliza alguma forma de aprendizado técnico ? ( )não; sim, Qual(is)? ( )trabalhando para terceiros; ( )visitando outros projetos; ( )participando de mutirão na Associação; ( )ouvindo programas de rádio; ( )assistindo programas na TV ou Vídeo; ( )lendo revistas técnicas; ( )outras atividades: ___________________________________________________________________ 6.5. Considerando as coisas como estão, o que pretende fazer no futuro? alguma dessas coisas? Erradicar o quê?____________________________________________________________ Plantar o quê?______________________________________________________________ Comprar o quê? _______________________________________________________________________ O que você mais gostaria que mudasse _____________________________________________________ 7. QUESTÕES GERAIS
7.1. O financiamento mudou alguma coisa no seu lote e/ou na sua vida? O quê? ___________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________
7.2. Quais as principais dificuldades que você enfrenta, para o sucesso do financiamento? ____________
__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
17
7.3. Sugestões para melhorar as condições do financiamento: ___________________________________ _____________________________________________________________________________________ ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Observações sobre a entrevista : _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ Início da entrevista: _________h. Encerramento da entrevista: _________ h. Assinatura do entrevistador:______________________________
18
ANEXO 3 - QUESTIONÁRIO DE PESQUISA 2 ÁREA DE ASSENTAMENTO PALMARES
1 – DADOS GERAIS SOBRE O(A) ENTREVISTADO(A) 1.7. Nome/apelido:____________________________________________________ 1.8. Sexo: Masculino ( ) Feminino ( ) 1.9. Idade: _____anos 1.10. Estado civil:Casado(a)( ) Solteiro(a)( ) Amigado(a)( ) Viúvo(a)( ) Divorciado(a)( )
Separado(a)( ) 1.11. Local de nascimento: Estado_________ Município_______________________ 1.12. Quando chegou em Parauapebas: _______Vindo de onde: _________________ 1.7. Profissão(ões) que teve antes de chegar ao assentamento: ( )Garimpeiro/a ( )Agricultor(a) ( )Vendedor(a) ( )Comerciante ( )Outra/s:____________________ 1.8. Associado(a) da APROCPAR ( )Sim Desde_________ ( )Não Por que não: __________________________________________________________________ 1.9. É ligado(a) ao MST? ( )Sim ( )Simpatizante ( )Militante ( )Dirigente Desde_______ ( )Não Por que não:_______________________________________ 1.10. Participa de outra organização? ( )Sim Qual: _____________________ desde ________ ( )Não 1.11. Ocupa atualmente que cargo? ________________________ desde: __________ 2 – INFORMAÇÕES SOBRE A ORGANIZAÇÃO DA PRODUÇÃO 2.1. Inicialmente, quais eram as suas expectativas em relação à forma de produção
coletiva? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.2. Na sua opinião, quais os principais motivos que levaram aos problemas verificados no modelo de produção anteriormente pensado, baseado nas grandes estruturas, como as agroindústrias e, nos grandes projetos? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.3. Quantas famílias fazem parte do seu núcleo? __________. 2.4. Quantas famílias trabalham de forma coletiva, semicoletiva e individualizada no seu
núcleo: Forma coletiva _______, Forma semicoletiva _______ e Forma individualizada _______.
2.5. No seu núcleo, de que forma as famílias mais preferem trabalhar? ( ) Forma coletiva ( ) Forma semicoletiva ( ) Forma individualizada
2.6. Na sua avaliação, porque as famílias preferem trabalhar de forma _________________? __________________________________________________________________________________________________________________________________
Entrevistador (a):_______________________________ Questionário n°: ___________ Local da entrevista:______________________ Data:____________________________
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2.7. Considerando o que houve dos componentes do seu núcleo, quais os principais problemas em se trabalhar de forma coletiva nos núcleos? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.8. Existe alguma forma de cooperação entre os membros do seu núcleo (mutirão, troca de trabalho, etc.)? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.9. Em que mês(es) do ano os componentes do seu núcleo mais trabalham de forma coletiva? Por quê? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________
2.10. Quantas vezes o seu núcleo se reúne?______/semana, ______/mês, ______/ano. 2.11. Nas reuniões de seu núcleo, o que se discute principalmente?
( ) A produção ______% ( ) A organização social ______% ( ) As ações do Governo (Créditos, ATEC, etc.) ______% ( ) Os problemas individuais ______% ( ) Outros: _____________________________________________. ______%
2.12. Na sua opinião, qual seria a melhor forma de organização dos núcleos de produção? ( ) Organizar por vicinal; ( ) Organizar por região; ( ) Organizar por afinidade (religiosa, familiar, tipo de cultura, criação, etc.); ( ) Manter a atual organização dos núcleos; ( ) Outra: ________________________________________________________