Ética e cidadania

Upload: jossivaldo-morais

Post on 20-Jul-2015

150 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    1/46

    P CEETEPSCentro Estadual de Educar:ao Tecnol6gica Paula SouzaGOVERNO DO ESTADO DE SliDP,lULOCOOnOENADOR/A DE ENSINO TECN/CO CETEC

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    2/46

    PR IM EIRA PARTECarta ao aluno , 31. Etica?! Par que? Para que? : 42. Faca 0 que eu mando Faca oque eu faco 63 F . . (M' - I ., "l . das selvas"? 9azer 0 que qurser: as 1550 nao evana a el as se vas .4. Respeito e bom e eu gosto. E voce? 125. Etica na polftica, sim. Mas no cotidiano de nossa vida, tarnbern! 156. A questao da cidadania 187. Todos os homens sao iguals, Mas iguais a quem? 208.Cidadania: ullla hist6ria de lutas, derrotas e conquistas c 239. Etic3, cidadania e polftica ; 26SECUNDA PA R TEEstudos de caso , 291. 0Aborto 292. 0 C6digo Civil e a disciplinarizacao de nossas vidas 343. 0 Estatuto da Crianca e do Adolescente 394. 0Comportamento 110 Transite 425. Sugestao de trabalho de conclusao de curso: Etica Profissional 44Bibliografia 45

    JUlia Falivene Alves ETICA E C!DADANIAEETEPS CETEC

    ccr'_r:_

    r:-:. _ . ,r-r'. . , .

    r;~-' _ . Icc

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    3/46

    odesenvolvimento demeterie! dideiico adequado a sdiretrizes pedag6gicas. d~ CEfTEPS, bern como a sui!diYl!/gafao.euso:pf}lq~pro'fessiJres e pelos a/unos, e umadj~'n-i~tas'da. Coord~h~(jo'ria do Ensino Tecnico .. , ' ; . '~ ' , . ', . : : ~ ' ~ ( 7 ~ ' i- ' ~ : ~ ; - '; - - " .t . :; , \ ,: . : ~ < -; : ~ ; . \ ~ . - " ' ; '\ ,- " :i : '; . ' "' i - '' -; ;~ \ ,: - ,- : . - ' . : .

    _" ,: ',< _ ., .>: . . ,.-' .,~.~'-/

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    4/46

    Prezado(a) aluno(a),

    Em 1995 - Ana Mundial da Tolerencie - em que se comemorou 0 cinquentenario das NacoesUnidas, foi aprovada uma Declaracao de Princfpios resultante de discussoes em encontros regionaisrealizados em todo 0mundo durante cerca de dois anos.Esta declaracao propos que as exigencias eticas e 0 compromisso permanente com as geracoesfuturas fossem a base de todos as comportamentos humanos nao 56 no campo politico e profissionalcomo tarnbern no cotidiano de cada urn.Nela tarnbem se afirmou a necessidade da divulgacao de inforrnacoes sobre os direitos hurnanos esabre a importancia da justice, da liberdade e da producao de conhecimentos que colaborem para aconsolidacao de urna cultura humanfstica voltada para a paz.o dia 16 de novembro passou a ser considerado 0 Dia fntemacional da Tolersncis e foi neste dia,em 1997, que, coincidentemente, cornecarnos a elaborar este material de apoio para 0Curso de Erica eCidadania das escolas do CEETEPS.Textos, sugestoesde atividade, ilustracoes e indicacoes bibliograficas foram reunidos com 0 objetivode fornecer aos alunos materiais e propostas que os ajudem a refletir sobre situacoes e comportamentos .individuais ou sociaisque coloquem emquestaoprincfpios eticos universais,direitos humanos e de cidadania.A ideia e suscitar debates dernocraticos e estimular a pratica do agir tratando-se coisas como coisase a humanos como humanos, ou, em outras palavras, os prirneiros como meios ou instrumentos e ossegundos como fins.omaterial deve ser usado como ponto de partida das discussoes sabre as questoes levantadas. 0ponto de chegada sera aquele que 0 livre arbftrio do aluno 0 conduzir.Os textos te6ricos forarn redigidos em forma dial6gica, apresentanda-se ao leitor nao 560resultaclode nossas reflexoes mas convidando-o, durante a leitura, a fazer tarnbern as suas.

    No final de cada capitulo sugerimos ativiclades com 0 objetivo de tornar asaulas rnais dinarnicas,a participacao da cJassemais ativa e de que asreflexoes sejam ernbasadasem experiencias rnais concrctas.Depois dos capitulos, propusemos Estudosde Caso, com alguns temas para aprofunclamento dasdiscuss6es. Pode ser que, quando voce estiver usando este material, os temas em evidencia sejamoutros. Nao irnporta. 0que importa e que voce se exercite na pratica da reflexao. trazendo para o seutepettorio opinioes e experiencies cliferentes das suas, e na do debate dernocratico, com respeito aopiniiio cia outro setn descueliticti-te antes cle dar-Ihe a oportuniclade de etgumentecio.Exercitando-se dessa forma, em qualquer situacao nova, voce tera condicoes de pensar criticamentee decidir-se pelo melhor caminho a seguir.Seramuito interessante que voce traga os problemas de etica e cidadania que despertam sua atencaopara discutf-Ios com a sua dasse, aproveitando asaulas que foram inseridasem seu curriculo para iS50.Desejarnos-lhe um bom curso e felicidades.

    A Autora

    [TICA E OOAOAI%\ CEETEPS-CETEC JU lia F aliv en e A lv es

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    5/46

    Etic e uma das palavras que mais temos ouvido no Brasil, nos ultirnos anos. Para ser maisprecisa, do que mais temos ouvido falar e da Falta de Etice, e isso, principalmente, a partir doMovimento de Etica na Polftica pelo impeachment de Collor.

    Mas a Etica (e a falta dela) e tao antiga quanto as mais antigas civilizacoes.No entanto, ainda hoje, quando dela se fala, a primeira coisa em que muitas pessoas

    pensam e em Moral, e, quando se fala em moral, a primeira coisa da qual se lernbram e deimoralidade, atribufda geralmente a coisas do sexo. DaC quase que instantaneamente, vern assuas mentes cenas de nudez e pornografia.

    Se a lguem the dissesse agora que urn seu amigo foi flagrado em atitude imoral 0 que vocepensaria que ele poderia estar fazendo?

    Nao e a toa que, segundo 0 fil6sofo espanhol Fernando 5avater, IIalguns acham que amoral se dedica antes de tudo a julgar 0 que as pessoas fazem com seus genitais. II Mas nao e. - rJ5S0, nao.A imoralidade existe 56 em situacoes em que pessoas prejudicam outras de livre e espontanea

    vontade ou por falta de cuidado, de atencao, ou seja: por irresponsabilidade. 0 que da prazerou causa bem-estar aos envolvidos, nao Ihes causando danos do ponto de vista do respeito avida e a condicao humana, nao deve ser considerado imoral.

    56 que nem todos pensam assim, e voce deve conhecer algumas pessoas extremamentemoralistas que acham que ha mais valor nas coisas que fazemos a contragosto do que nas querealizamos pOI' prazer. Se voce conhece mesmo alguma, sabe muito bern como ela edesagradavel. Naoe por acaso que, por serem "saborosamente ridfculos", em muitas novelasbrasileiras os puritanos sao personagens de destaque .

    Voce se recorda da Perpetua, em Tieta do Agreste? Na vida real, conhece alguern assim?Q U E .M L J L H : . R

    f

    Julia Falivene Alves CEETEPSCETEC

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    6/46

    .~ . lv1 0IR AlL O U ~ j\A OiR A!L?B itiv i ." ilS SO ~ t~Uno Rt lAT~VO.Na verdade, Moral e 0 conjunto c/e va/ores estebelecidos em uma sociedade, relativos aobem e ao mail que norteiam a idei do que cleve ser permitiC/o ou proibiclo em termos cleconcluta e comportamenta humano.Suas regras sao rlgidas, muitas das quais tern origem em ideias e em preconceitos que

    favorecem apenas a determinados grupos e, sendo obeclecidas, garantem que a socieclacleperrnaneca como e.

    Essas regras estabelecem, par exernplo, quais as partes do nosso corpo que podemos aunao exibir; as palavras e assuntos que podemos pronunciar au discutir em publico; com queme em que situacoes podernos tel' relacionamentos arnorosos: em quais condicoes podernosconstituir familia: quais as normas que devem pautar as relacoes de parentesco etc.

    Em uma mesma sociedade pode haver, alem de uma moral que abranja a tad os, outras quese caracterizam como normas de grupos espedficos. Observe a sociedade onde vive e asdiversos grupos que a comp6em. Voce verificara, certamente, a existencia de algumas regrasmarais particulares. Percebeu a relatividade da Moral?

    Se voce pensar em tempos e espacos diferentes, vai verificar variacoes ainda maiores. 0que e moral para alguns povos nao 0e para todos as outros; 0que ja foi imoral para n6s, urndia, nao 0 e mais hoje.

    Quer vel' s6 alguns casas?No infcio do seculo passado, na Europa, 0 cafe era uma bebida conclenada como droga, e

    seria imoral para uma mulher deixar a mostra 0 seu tornozelo. Ainda hoje, em alguns pafsesarabes.. mulheres s6 se apresentam em publico com 0 rosto parcialmente encoberto.Procure se lembrar de outros exemplos.A Etica, ao contrario, nao muda tanto assim com 0 passar do tempo, apesar de estar

    estreitamente I igada a Moral ...2 . A ETnCA V An M A IS A!U~J \A!

    Ela ref/ete sobre os va/ores morais e questions se 0que a socieclade considers bom au maue realmente bam au mau; se as normas e regras de coneluta moral rea/mente fazem bem atodos, e devem ser obedecidas, ou 5e existem apenas porque cotivem a alguns.E sabe como ela faz isso? Levando-nos a raciocinar sobre por que ju Igamos certos

    comportamentos e normas como validos, a partir dos conhecimentos que temos da naturezahurnana e cornparando diferentes interpretacoes e julgamentos que existem sobre os mesmosatos ou posturas.

    Como se ve, enquanto a Moral procura limitar a nossa liberdade de acao - corn regrasseveras, particulares de urn grupo e rnutaveis - a Erica visa a sua arnpliacao, pois nos estimulaa fazer escolhas, tomando por base valores universa ls , racionais e rnais duradouros, como 0respeito a Vida e ao bem-estar humano.

    Podemos dizer, em princfpio, que a ftica esta voltacla para averiguar como podemos vivermelhor em comunidade; como nos podemos dar uma vida boa (... e niio como sermos um boa-vida, como 05 mais "iolgedos" pocleriam pensar).

    Mas 0 que sera que a Etica entende como bom ou 0 mau viver?Pelo que foi dito ate agora fica facil perceber que tanto a Moral quanto a Etica se preocupam

    com 0 cornportarnento humane. Nada rnais justo, portanto, que passemos, agora, a analisa-lo.ETICA [ CIDAIJANIA C E E TE P S- CE TE C jul ia Fal ivene Alves

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    7/46

    Pois bern: lembre-se de tudo 0 que voce fez desde ontern a noite, na hora em que foi paracama, ate agora, no memento em que esta lendo este texto. Pense em cada uma das suas acoese de seus cornportamentos e nas raz6es que 0 levaram a eles.

    Agora enumere-os, anotando-os, sem preocupacoes de cementa-los com alguern. Issoajuda a refletir melhor.

    ATiVIDADESUGERIDA:Assistirao documenhirioNEtica, alguem viupor si!",. . . daTVCULTURA. .... . ...Depois deassistir ao filme, reflitae responda:. .1, Quais forarn os compol1:amentos anal isadosno filme? Liste-os em seu caderno

    para melhor.fixacao e reflexao.2. Oqueha de comum em.todos eles e a faltade eticados .personagensenvolvidos. Baseando-senessa constatacaoe nocapftuloquevoce leu, 0

    que ha de anti-etico emcada urn deles?3. Porque.durante t6doofilllle,aperguntaconstante e:[tical alguem viu paraf? Oqueo diretor quissalientarcom ela? .4. QUill a relacao.que s

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    8/46

    Verifique alguns de seus costumes e reflita sobre os motives por que eles fazern parte dasua rotina. Voce conseguiu diferenciar bern os comportamentos que sao costumes dos que saoobediencia as ordens? Em alguns casos cleve ter side bem cliffcill

    Sabe por que?Porque certas ordens acabam sendo tao interiorizadas que se transformam em costumes enem mais nos lembramos de que, um dia. tivemos medo de clesobedecer a elas ou expectativas

    de serrnos recompensaclos por bom comportamento."Va escovar 0dente, menino, senao nao vai sair com seus amigosJ" - pode ter siclo dito por sua

    mae h a muitos anos atras. P O I ' acaso, hoje, voce se recorda disso toda vez que escova os dentes?Continuando a nossa ref lexao, veremos que, entre tantos comportamentos tidos durante 0

    perfodo analisado, houve, evidentemente, alguns que foram apenas funcionais. Eram 0 unicorneio de se conseguir uma determinada coisa, ou 0 mais facil, vantajoso, menos prejudicial.Em outras palavras, eles existiram em funcao de algo, como, por exemplo, quando voce

    desceu a escada para poeler chegar a rua ao inves de, com 0 rnesmo objetivo, se atirar do 131 2andar (au qualquer outro), onele mora. Foi menos prejudicial a sua saude, nao foi?Voce seguramente se lernbrara de outros comportamentos funcionais. Com tocla a certezaforam muitos.

    No entanto, nem tudo sao ordens, costumes ou funcionalidades. Alguns dos seus atos vocefez involuntariamente, como solucar, espirrar, encolher-se de frio, bocejar, ou salivar quandosentiu 0 aroma do cafe da r n a nh a .

    Esses comportamentos sao naturals. vern de sua natureza animal, enquanto que os outrossao culturais, originados da convivencia humana.

    Mesmo entre os culturais, contudo, muitos nao se originaram de fora e sim de dentro devoce, espontaneamente, por um desejo seu. Sao os caprichos - sem nenhum sentido negativoou positivo para essa palavra. .Sao charnados assirn porque ninguern interferiu neles.

    Voce assobiou enquanto tomava banho? Quando 0espelho ficou ernbacado, por causa daagua quente do chuveiro, desenhou nele um coracao OU uma careta? Quando viu urn carrobem ernpoeirado, escreveu, com 0 declo: "Lave-me, por favor."? Resolveu mudar de caminho56 para passar por aquela pracinha arborizada e agradave l?

    Voce se lembra de outros caprichos? Quais?11 TUIDO DO QUt A GENIlE Iv~A~SCOSTA

    JI~ HvlORAlL,. H..EGA l au !Ef"GORDA"?o que pudemos ver ate agora foi que rnuitas sao as causas de nossos comportamentos ealgumas ate inconscientes. 0 que discutiremos a seguir e que nada nos obriga a nos comportar

    de uma ou outra forma, a nao ser nos casas natura is, e, rnesmo assirn, nern sempre.N6s, humanos, somos livres, 0 que significa que podemos escolher entre 0 que nos convern

    ou nao, decidindo pOI' nossa propria conta. Podemos dizer sim ou nao a uma ordem, costumeou funcionalidade, independentemente do que os outros pensam OLi querem que facamos, depremios ou punicoes.

    Senao, olhe a sua volta: uns passam com 0 sinal fechado ou nao atravessam a pista usando apassarela de pedestre; outros roubam a carteira de alguern: alguns usam roupas extravagantes enem penteiam os cabelos; diversos trombam corn as pessoas sem peelir elesculpas; ha os que mataramalguern: os que preferem subir escadas ao inves de usar 0 elevador: os que vendem gato par lebre;os que se relacionam sexual mente com varias pessoas sem usar preservative ... e muito mais.

    CEETEPS-CETEC Julia Falivens Alves

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    9/46

    Provavelmente voce conseguira ampliar essa l ista de desobediencias com varias outrasque notou nas ultirnas horas. Pois entao pense nos motivos que as geraram e em suasconsequencias para a desobediente e para as outros.

    Pensando em tudo que tern visto, talvez voce ja tenha concluido que uma acao nao e boas6 par ser uma ordem, urn costume, uma funcionalidade ou urn capricho. As vezes, muito aocontrario, ela nos causa, ou a outros, infelicidade ou prejufzo.

    Na verdade, como a Moral e produzida em sociedade, e normal que ela seja 0seu reflexo.Par isso, na nossa, ela reflete preconceitos, privilegios. desigualdades e interesses (particularesou de grupos) que beneficiam alguns e prejudicam outros.

    Para se viver a vida boa, entre humanos, e precise questionar 0 que realmente e born paratodos as humanos, independentemente das dlfercncas mas tarnbem as levando em consideracao:as de sexo, cor, nacionalidade, idade, religiao, preferencia sexual, posicao polftica, filiacao agrernios, condicao social, saude e outras.E preciso lembrar, porern, que diferenca nao e desigualdade e sim particularidade.

    Nao ha regras ou normas que facarn de n6s bons seres humanos, pois nossoscomportamentos variarn de acordo com as circunstancias. 0 meio, 0 momento, a rnotivacao ea conduta de outros seres humanos.

    Por isso, a Etica diz: Nao obedeca simplesmente as ordens e costumes. Questione-os. Naoseja um robo, seja livre! Faca 0 que quiser.

    ATIVIDADE SUGER IDA : .Trabalhar.corn recortesLRecolte, dosjorn~i~tr~vistast folhetos etc.. cenas que demonstrem transgressoesa:a.ordens;b.leis;c. costumes; d. tradicoes: e. funcionalidades; f.modas.

    2.'Cole~as todas em urn cartolina ou cadauma em uma folhade sulfite, formandocomoconjuntoumpequeno album. , "" "

    '3.Deumtftulo,aos'eutrabalho efaca legendas curtas mas significativaspara.cadacena. Procure'sercriativo, crftico, bem humorado, profundo, comunicativo.

    A',C6mente,com,os:seuscolegasto'seu t raba lho eosdelE!s""".. ,', .. ''5'.An.oteemselJcad,~rnoas conclusoes a que chegoutlep6isdess,a atividadee

    """

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    10/46

    Aeonteee que a Etica nao diz apenas "Faca 0 que quiser". Ela eompleta: "mas que seja born"!Para 0 psieanalista alernao Erich Fromm, bam eo que convetti para a bem-estar humanae tneu e a que lhe e nocivo.Embora usando a razao possamos identifiear 0 que e born ou danoso para 0 homem, eprecise que deixemos de lado 0 desejo de levar vantagem em tudo e que 0 sentimento de

    sirnpatia pela felieidade dos homens e de cornpaixao pelas suas desgracas nos oriente sobrecomo nos cornportar.

    Nos nao nascemos humanos. Nos nos tornamos humanos vivendo em humanidade, ouseja, com a ajuda de outros seres humanos, que cuidam de nos enos transmitern cultura. 0que nos faz humanos e viver COIll eles, conversando, sendo seus pareeiros ou rivals. trabalhando,nos divertindo ou brigando com eles, reivinclicando etc. ... etc.Os outros seres humanos, portanto, nos convem.

    Mas, porque sao iguais a nos, eles tanto podem ser os 1105505 melhores amigos quanto ospiores inimigos tarnbern: nos proteger au nos prejudicar; nos hurnanizar au coisificar, usando-nos como simples objetos,

    Oaf a preocupacao da Etica de quetratemos as eoisas como coisas e oshumanos como humanos, para tarnbemsermos par eles tratados como tal.Dar-nos uma vida boa e viver bern

    entre outros seres humanos, e, para queeles nos facarn humanos e preciso quenos os facarnos humanos tarnbern.

    Mas como saber se 0 tratamentoque damos ou recebemos e humano?Voce, com eerteza, tern LIma opiniao.Qual e ?

    De acordo com a Etica, devemos agir nao somente com liberdade mas tarnbern comre spon sab i Iiclade.

    1550 signifiea que devemos nos reconhecer como causadores do mal ou do bem que fizemose de suas consequencias.

    Contudo, admitir a nossa responsabilidade e, as vezes, muito doJorido. Oaf apelarmos para 0fato de nao termos resistido a tentacao porque algurna coisa nos foi extrernarnente irresistfvel.

    Transferirnos, entao, a responsabi lidade para a televisao: a propaganda; urn apetite voraz;aiguma arneaca: a insistencia de urn amigo au amante; a nossa depcndencia a algurn produto:a obediencia a lima autoridade; as nossas fraquezas ou 0 ternperamento etc.

    Enfim, quando nos convern. as vezes preferimos acreditar que sornos eseravos dascircunstancias.E n C A E C IO ilOA N IA C EETE PS -C ETE C julia l-alivene Alves

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    11/46

    A Etica , porern, nos lembra de que devemos levar a serio nossa liberdade porque ela ternefeitos que, depois de produzidos, nao podem mais ser apagados. 0 remorso nada mais e doque a insatisfacao por te-la usado mal e reconhecer que nao temos 0 poder de mudar 0 rumodas coisas ou faze-las voltar ao estado anterior.

    Ser livre nao e nada facil. Por isso tanta gente teme a liberdade, transferindo seu poder dedecisao a outros. Voce concorda ou nao com isso?2. AUTONOMIA: UMA QUALIDADE QUE Sf DESENVOlVE COM 0 TEMPO

    De acordo com Fernando Sater, 11 ninguem recebe de presente a boa vidahumana e ninguemconsegue 0que the convem sem coragem e sem esiorco: por isso, virtude deriva de vir, a iorcviril do guerteito que se imp6e no combate contra a maioria."

    Ninguern nasce etico ou anti-etico. Alias, 56 desenvolvemos nocoes e valores ligados aMoral convivendo com outros humanos e passamos por diversos estagios de moralidadeconforme nossa idade e as relacoes sociais que mantemos durante nosso perfodo dedesenvolvimento ate a maturidade.

    Nos prirneiros an os de nossa infancia nao existe ainda para n6s a moralidade. Dos 3 aos 5anos, conforme 0 caso, as regras cornecarn a ser obedecidas mas elas sao externas a n6s, vernde outros: pais, av6s, babas, irmao mais velhos etc. A moralidade que guia nossos atos nao enossa, e externa. Oaf dizer-se que ela e uma moralidade heter6noma.

    Obedecemos as regras 56 para evitar castigos, pois ainda estamos em uma fase egocentrica,voltados para nos mesmos, sem percepcao dos interesses dos outros.

    A medida que vamos crescendo, na puberdade em geral, cornecamos a reconhecer quetambern as outras pessoas querem ou nao querem coisas, como n6s, e que se nao cedermos emalguns pontos de forma a agrada-las tambern nao teremos sucesso em alcancar 0 que desejamos.Ainda individualistas, agimos, porern, de forma a ser possfvel estabelecer trocas e acordos paraque cada um possa ter os seus interesses atendidos.

    Um pouco mais tarde, quando 0 grupo corneca a ser importante para n6s, passamos a noscomportar segundo regras que aprendemas que irao garantir que as outros confiem em n6s,nos apreciem e ajam conosco camo desejamos que 0 facarn. Nosso agir corneca a demanstrarentao que nossa moralidade nao se pauta mais apenas por criterios individualistas mas tarnberna partir de perspectivas saciais. Enfim, aprendemos a obedecer ao que 0grupo convencionoucomo certo, correto, bam. A moralidade, nesta fase, existe em nfvel convencional, portanto.Estamos na adolescencial

    Quanta mais maduros ficamas, mais nos encaminhamos para uma visao ampliada demundo que extrapola nao 56 os limites do nosso ego mas tarnbern as fronteiras do nosso grupo.Cornecarnos, entao, a reconhecer que necessitamos de muito rnais gente para viver e que

    Julia Falivene Alves CEETEPS-CETEC

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    12/46

    fazemos parte de urna sociedade composta de cliferentes grupos, com caracterfsticas, valores einteresses variados e nem sempre em harmonia uns com outros.

    Vamos aprendendo, enfim, que precisarnos obedecer a certas regras que estao acima dasregras individuais ou de grupos, pois sern eJase imposslveJ viver nessa sociedade maior, Nossosvfnculos sociais nos obrigam, portanto, a respeitar as normas reconhecidas como necessarias asua rnanutencao. Assumimos as regras porque as entendemos e reconhecemos a necessidadede sua existencia e da obediencia a elas, Ja somes adultos.o ultimo e mais aperfeicoado nfvel de moralidacle e aqueJe em que percebemos que haprindpios unive rsa ls que n a o s6 tornam possfve l a vida em sociedacle como, quando saopriorizados, tornam essa vida muito melhor para todos. Passarnos, entao. a valorizar a vida, aliberdade, a justica, a igualdade, a dignidade humana como essenciais para a nossa felieidadee ados outros, e a eleger esses valores como aqueles que irao comandar nossa conduta demodo que cada ser humano seja tratado com todo 0 respeito a sua humanidade.

    Agimos assim porquequeremos, e queremos porque amamos a vida que se pode viver quandose ageassim. Nao sao rnais as leis e convencoes externas que nos obrigam a fazer isso au aquilo:sornos n6s que nos comandamos. Atingimos, enfim, a rna is alta forma de autonomia moral.

    E evidente que nao sao todas as pessoas que atingern esse nivel. As que atingem, pautamsuas vidas, nos rnais diversos setores e em qualquer relaeionamento, sempre de aeordo com osprincfpios eticos universals, com os quais estao comprometidos de livre e espontanea vontadeporque realmente reeonhecem que eles sao bons. Eles foram pOI' elas interiorizados e, por isso,nao ha prernios ou castigos que as facarn se eomportar contrariamente ao que Ihes dita a Etica.o meio em que vivemos influencia muito no desenvolvimento cia nos sa moralidade, masnao e um cleterminante, pois 0 livre arbftrio e caracterfstica humana.

    Por isso e possfvel afirmar que nos tornamos mais ou rnenos eticos, exercitando mais ouexereitando menos a capac idade de anal ise e re f lexao , a von t ade e a Iiberdade com responsabil idade.

    T. Analiseesta materia cia revista Veja, de 14/5/97:BONS E M AUS M ODOSA T IV ID A DE SU G ER ID A : A uto-a na lise

    1I~ J~~~t v& 'k~"' Ir ~ , . ; . ;.~furou fila, jogou lixo na rua, sonegou impasto ou eorrompeu guarda de trtinsito? !f

    muitas pessoas 50% algumas pessoas 40% nenhuma 9% nao ssbe 7% ~.".'.E voce? Cometeu algumas dessas irregulariclades? m l~

    sim 57% tuio 48% niio sabe 1% ,A pesquisa foi feita pela Marketing, Estietegi eComunicecso Institueianal Ltda., 'MCJ, que ouviu 2 000 pessoas em todo pars, no mes de abril de 1997. r l :Responda: Em qual grupo de resposta voce se coloeou, diante das quest6es ~propostas? Como se auto-avalia em relacao ao assunto? ~

    t"C_~; ~~~~\. :.~n?:C"" ........ _ ~~~"":;::::..i :".l. :: f::7..": ;.: .: !:o: ; ;;."7",."",._~ =::1~;:;r~::;t.-:;-~~ 7" _r.:::.,;:.:r.:;~,=,-r.:,t..~ Ii:; ;. .;&: ~tt"-=-~-::~r.,.:~~=~~:::,:.~,"",,,," ......_... j . : :; . .~~.:&

    o brasileiro eostuma achar que vive num pars poucocivilizedo. Poreulpa dosoutros -e claro. 56 que um em cada dais cidediios ouvidos numa pesquisa emtodo a pars aclmite que ja cometeu a/gum tipo de de lito.A enquetetoi inspirac/a numa feitapara a revistafrancesa Le Nouvel Observsteut;em 1994. Na Franc;a,0 resultaclo to i bastante semelhante (em %).Na sua opinitioo brasileiro, em geral, respeita as regras cia boa educeciio?sim 87% niio 11% niio sebe 12%

    Voce eonhece elguetn que j . cometeu alguma dessas irregularidades:

    ETICf> [ eIOADAI~IA CEETEPSCETEC J(i ! i J F~livene Alves

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    13/46

    Embora seja diffcil viver bem e nao haja receitas para isso, ha algumas posturas que podemosadotar se quisermos atingir nfveis mais altos de moralidade e que colocaremos a seguir:1. Tratar 0 outro como seu igual e respeita-lo enquanto diferente.

    lsso significa lembrar-se 0 tempo todo de que ele e seu semelhante, porque tambern ehumane. Semelhante em inteligencia, capacidade de calcular e projetar, paixoes e medos,carencias, sonhos, ideais e fraquezas.

    E reconhecer que, apesar de todas as diferencas que possam existir (de sexo, cor,nacionalidade, idade, reiigitio, preieretici sexual, opc;ao polttice, filiac;ao a gretnios, condiciiosocial, seiide e outras) as sernelhancas sao muito maiores e, portanto, 0 que e born ou mau paravoce e , em geral, bom ou mau paraele. .

    Por tras das aparencias ou detalhes que nos diferenciam, ha algo que nos torna semelhantes,como se f6ssemos feitos de "uma mesma rnassa".

    No entanto, infelizmente, temos verificado que nern sempre, no Brasil e no resto do mundo,as pessoas tern se comportado de forma tolerante em relacao as diferencas,

    Voce ja teve a oportunidade (e infelicidade) de presenciar manifestacoes de racismo audiscrirninacoes sociais de outros tipos? Existe base ou fundamento logico, racional, para eles?Como explica-losi

    Se e necessario que nos lembremos constantemente de que todos os humanos sao feitos damesma massa, ainda que, em alguns cases, certas caracterfsticas nao nos sejam familiares ounao nos agradem, e importante tarnbern que nao nos esquecarnos das diferencas individuals eque as respeitemos. Pelo outro e par nos mesmos.

    Foi por lembrar-se delas que, contrapondo-se aque!e antigo mandamento, escritor BernardShaw dizia: Nem sempre fac;a aos outros 0 que deseja que Ihe fac;am: eles podem ter gostosdiferentes. '

    Ah, quantas decepcoes e mal-entendidos terfamos evitado se tivessernos pensado nissoantes!

    Continuando ...Julia F aliv en e A lv es CEETEPSCETEC

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    14/46

    _'i

    Tratar bern alguern sup6e compreender suas necessidades, carencias e pontos de vista. Ep6r-se em seu lugar: levar em conta seus direitos e compreender suas razoes.E leva-lo a serio, considera-Io tao real COIllO voce mesrno.E adrnitir a possibilidade de ser para 0 outro 0 que 0 outro e para voce.E trocar de lugar com ele, por algum tempo, e pensar em: 0 que seria de mim se eu Fossetrataclo como 0 estou tratando agora?

    Se voce tem um(a) companheiro(a), coloque-se em seu lugar e reflita: Eu sou 0 companheiroou a companheira que eu gostaria de ter?

    Coloque-se tarnbern no lugar de seus pais, filhos, professores, colegas e faca perguntasdesse mesmo tipo.E urn born exercfcio, nao?

    Entao. prossigamos com outro,r o s ] rrt~ 2 rf ~ ss :eS ~ '2 j" r~; G ' g ' , l } ~

    -= ~ 1\(qpJ~lRS ~J)S(~qJ{:~rna~5 ~C{t~i1i~ie!n7.Interesse e uma palavra que vem do latim inter esse, 0 que significa ser ou estar entre verios.Realmente nossos interesses existem entre varies outros interesses de pessoas que convivem

    ou que se relacionam conosco. Alguns se completam e ate 05 reforcarn, mas outros se contrap6eme se confl itarn.

    De uma forma ou de outra precisamos leva-los em conta, principalmente no segundo caso.Se nao puder haver a satisfacao de todos, porque sao conflituosos, e logico que aqueles que

    atenderem melhor ao prindpio de valorizacao cia vida e do bem-estar humane devem prevalecer.Voce se lembra da ultima situacao de conflito de interesses que voce vivenciou? Como foi

    resolvida a questao? Voce a resolveria da mesma forma, se ela ocorresse agora? Por que?"L Trait3Li'o tLH_rt~ '( j comjusticn, uH 'Y es}i{H 1LI.e m.Jo ~ '\ s ;u ,C ',x pe cta tiv a d e 3 ,121 '

    respeitar lo f~~~T12~~E~{~{i}"f~; ; l 'osr~(2~:r~eE~2,~{J;.:lfJf:Sl:alr(;e:nc.~::~se : f} ;us s j~ J j~ uC laL [~ S ,A justica e considerada urna vii-tude, uma boa qualidacle.Ela consiste em tratar 0 outro de acordo com a expectativa que ele tem a respeito de como

    cleve ser tratado, ou seja, com consideracao pelos seus direitos, necessidades, carencias epossibilidades.Quando ele deseja ser trataclo com justica, esta esperando que, ao nos relacionarmos comele, tenhamos as seguintes atitucles: reconhecarnos que ele e um !lOSSO igual; cofoquemo-nosem seu Iugar e levemos em eonta os seus interesses tambern. Em outras palavras, que tenhamosas posturas ja analisadas ate aqu i (1, 2 e 3).

    Alguern ja lhe disse:" Mas isto e uma injustico!" , como reacao a urn seu comportamento?Repense a sua postura naquela ocasiao. Voce foi rnesmo injusto? Ou foi a outro que 0 injusticou.considerando-o dessa forma?

    Posto tudo isso. conclufmos que, para que sejamos eticos, e rnuito importante que, em nossosrelacionamentos com 0 Dutro, pensemos sempre: Como eu me sentiria em seu fugar? Oesejariaser tratado como 0 estou tratando? Oa forma como estou agindo contribuo para sua felicidadeau infeficidade; para sua saude ou doenca: para que ele se sinta segura au ameclrontaclo,valorizado ou diminufdo? Acharia justo que fizesse eomigo 0 que eu Ihe estou fazenclo agora?ETICA t CiD,\D,\NIA CEETEPS-CETEe Ju lia F aliv ene A lv es

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    15/46

    Nem mesmo os criminosos - inclusive os que cometem os crime hediondos - perdem osseus direitos humanos ou podem ser tratados indignamente.

    E por isso que, nos julgamentos, 0 trabalho do promotor e fazer os jurados se colocaremno lugar das vftimas e 0 do advogado de defesa e 0 de faze-los ver as coisas do ponto de vistado reu, dando-se oportunidade aos envolvidos de contarem sua versao dos fatos.

    Lembre-se de um crime que 0 tenha chocado recentemente e tente ve-Io por esses doislados. Como j a disse 0 Caetano, "de perto ninguern e normal".

    If t 1'"I! f , lt.JI& ~Q i~i Vt~ ~~t ~ JF '!I f J~i~~'i{ @6 '"~

    1 1F l'". ;Q I~t~'~ 4 1f f i l' I

    "Democrscie e eu mandar em voce. Oitadura e voce mender em mim." i. Quais 05 cornentarios que voce tem a fazer a respeito das consideracoes ~acima? . ~

    3. Voce tern algum caso real, presenciado ou conhecido atraves da Imprensa, ique poderia ilustrar cada uma dessas frases do Millor? Utilize-os para discutir ~ . f , ;o assunto com seus colegas. [~

    =-=="'"===========" "=~..=-==~

    ATIVIDADE SUGERIDA: Trabalhar com humor1. A ironia e uma maneira bem humorada de se fazer uma crftica seria. Analise,do ponto de vista da Etica, estas afirrnacoes que Millar Fernandes fez emMILLOR OfFINIT/VO: A btblis do caos. Porto Alegre (RS): L&PM,1994. IIMas como trecer os limites da moral? Com teguei Com marcos de cimento?Gelo baiano? Uma saia, a trinta centfmetros do joelho, e imoral? A vinte, epr6pria? Um beijo onde deve ser permitido? Na mao? No pescocoi Na face?Nos labios? Na? No? 56 entre homem e mu!her, ou entre homens, na boca,como na espantosa Uniao Sovieticei" "Usar camisinha e nunca ter que pedir pettltio. r r "Em politica, basta se tel' condicoes de repetir muito uma mentira para elavirar verdade. I' IIMas tenho que reconhecer que existem muitos intelectuais que nos tratam,a n6s, negros, de igua/ para igua/ - 0 que Ihes da um grande sentimento deso!idariedade humana. E !hes permite ir con tar anedotas racistas no primeirobar grii-tino em que preto nao entre." (Beto, personagem de IIOSoriios deNinio", 1978) "As coisas do interesse de todos quase sempre nao interessam a nitiguem. II

    Julia Falivene Alves CEETEPSCETEC EriCA , CIDADANI,\

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    16/46

    "A justic;ae cega - mas quando v e um pobre-diebo par petto baixa a bengala brence tiele." (Mil/or)

    Quando as decis6es nao poclem satisfazera todos, porque ha conflito de interesses,aquelesque atenderem melhor aoprincfpio devalorizacao davida edo bern-estarhumane devem prevaJecer.Por exemplo:Marcos esta "doidinho" para fumar, mas, no mesmo ambiente, ha pessoasque tern interesse

    em que ele nfio 0 faca, pois sao alergicas, ficam nauseadas, detestam 0 cheiro de furnaca ausirnplesrnente tern consciericia das doencas que atingem tarnbern os fumantes passivos.

    ~NI\I6\4N A A A A OI M A G I N A l ! ~

    Fumar cigarros nao e considerado imoral ou ilegal. Se fosse urn "baseado", sirn. Na saranao ha quaJquer aviso ou sfrnbolo de que l I E proibido iumet". Alern disso, sernpre da certoperguntar, com urn sorriso simpatico: "Incomodo?" Mesmo quando as pessoasdizem que sirn,costumam faze-lo de forma simpatica tarnbern, de modo que ...

    CEETEPS-CETEC julia FaJivene Alves

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    17/46

    Em outra sala, semelhante a essa, s6 uma das pessoas nao e fumante e tern as seus motivospara isso; as dernais, no entanto, desejam muito fumar.

    Considerando-se as criterios da Etica: Marcos deve ou nao fumar? E quanta aos fumantesda outra sala?Neste cas 0, nao e nada diffcil perceber quais os interesses que apontam para a vida e quaisos que nao, e, nos dois cases, trata-se da vida dos fumantes e dos nao fumantes tarnbern.

    Consideremos um outro exemplo: 0 da s faxineiras diar is tas , que trabalham em casas defamflia, sem registro em carteirade trabalho, e, conseql.ientemente, sem os direitos trabalhistasassegurados par lei.

    Sabe a que acontece, com elas, em janeiro, quando seus patroes viajam de ferias? Saodispensadas par um rnes, durante 0 qual nada recebem. Em fevereiro, quando as patroes retornamda viagem, elas voltam ao trabalho. Mas, durante 0 rnes anterior, continuaram a ter as mesmasnecessidades de sob reviver de sempre. 56 que nao tiveram como arcar com as despesas.

    Analise esse caso do ponto de vista etico,Viver segundo os princfpios da Etica e importante em todas as dimens6es da nossa vida e

    dos nossos relacionamentos: a familiar, a profissional, a politica etc.Por que?Porque os princfpios partern da Vida e seus objetivos sao reforca-la e torna-Ia mais rica e

    prazerosa para todos.

    1. lODA R E GR A T EM EXCE CA O"Embora tenhamos discutido a questao 0 tempo todo sob 0 ponto de vista do indivfduo,

    precisamos nos lembrar de que, muitas vezes, nossos julgamentos recaem sabre segmentosinteiros da populacao, lnstituicoes, organismos e empresas.

    Comumente falamos e ouvirnos falar da falta de etica da classe pohtica, do Governo, daImprensa, de determinado sindicato, de certas instituicoes educacionais, da Polfcia Militar etc.[trlia F aliv en e A lv es C E E T E P S C E T E C E T I C A E C I D A D A N I A

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    18/46

    E precise lernbrar que em todos as setores da vida social ha pessoas que sao eticas e outrasque nao 0sao, de forma que tocla generalizacao implica em injustica ou improprieclade cornetidaem relacao a muitos i nd iv iduos , seja ela urna generalizacao negativa au mesmo positiva.

    Acredito que, quando todo urn vgrupo" e julgaclo tomando-se como referericia urna parcelade seu mernbros - e, no caso, estarnos nos referinclo a que se caracteriza como anti-etica - r 0motivo pode ser 0 fato de:Q ela ser quantitativamente muito expressiva;G ela ser qualitativamente mais significativa do que as outras, ou seja, ser a cupula dirigente, aI idera nca, ou 0 grupo n:a is notavel:

    '" ela ser alvo de interesse rnaior das rneios de cornunicacao:< I> quem fez a generalizacao ter tido, pessoaJmente, algumas experiencias negativas com ela.

    E precise recordar tambern que ha casas em que a falta de etica provoca rnaior indignacaoporque suas consequencias acabarn afetando urn numero muito grande de pessoas.

    Lembre-se de alguns segmentos que tem sido julgados negativamente do ponto de vista daetica e procure as causas provaveis desse julgamento. Quais seriam elas?

    Oaf a responsabilidade de cada urn de n6s em relacao aos membros dos grupos dos quaisfazemos parte. Dupla responsabilidade, alias: uma, a de nao mancharmos a sua imagem comalgum tipo de comportamento desaconselhavel: outra, a de estarmos sempre atentos para queos outros tarnbern nao 0 facarn.

    Nao podernos deixar de reconhecer que estamos vivendo, no Brasil e em muitos outrosparses tambern, uma grande crise de valores eticos, resu!tante, do meu ponto de vista, doindividualismo e da cornpeticao levados ao extremo, do consumismo e das desigualclades eexcl us5es socia is.E importante, porern, que nao sejamos tao negativistas em relacao a nossa geracao.atribuindo a ela a responsabilidade pela "maier crise de toclos 05 tempos".

    A Hist6ria esta af para nos lembrar que em todas as epocas houve penodos de maior oumenor valorizacao do cornportarnento etico. A grande diferenca. talvez, seja 0 fato de que,hoje, 05 rneios de inforrnacao e comunicacao possibilitam a circulacao mais rapida das notfciase seu conhecimento por urn maior rnirnero de pessoas, espalhadas pOl' todo 0 munclo e, poralgum motivo, as notfcias rnais veiculadas nao sao as mais eclificantes.

    Pelo menos, par falta de provas ao contrario. eo que eu desejo crer. Evoce, como expl icariaa crise etica que vivemos?

    Para terminal', gostaria de transcrever urn pensamento de Montesquieu citado por FernandoSavater, um professor de etica na Espanha, em sell livro Etica para meu {ilho (Sao Paulo: MartinsFontes, 1993), que rnuito me inspirou quando escrevi as capftu!os sobre 0assunto e querecomendo a todos, tanto pela clareza de sua exposicao quanto pelo fato de ser de uma leiturafacil e agradavel.

    Cito 0 pensamento com a esperance de que ele desencadeie LIma bela reflexao sobre Eticae Cidadania em sua vida cotidiana:

    IISe eu soubesse alga que me Fosse util e que tosse prejudicial a minha famflia, expulsti-lo-ia de meu espirito. Se eLIsoubesse alga iiti! a minha farnflia que nao 0 Fosse a minha patr/a,tentaria esquece-lo. Se eLIsoubesse algo uti! a minha patria que Iosse prejudicial a Europa, auque Fosse uti! a Europa e prejudicial ao genera humano, considero-lo-ie um crime, pois sounecessariamente homem, ao passo que sou frances pot mera casualidade. If (Montesquieu)

    CEETEPs~CETEC julia Falivene Alves

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    19/46

    ATIVJDADE SUCERIDA: Responder' '-, .1. Por que sao eonsiderados anti-eticos os seguintes comportamentos?

    a) UmGlndidato.areelei~aousa a grafica do Senado.parafazer sua propaganda,nelaimprimirido calendariospara presenteareconquistar eleitores;b) Urn prefeito, governador, presidente ou outroocupante de cargo politico,

    nomeia parentes para cargos publicos: .-c) Urn governante favorece as condicoes de concorrencia de uma determinada

    em presa , con i a q u aJ te rn i n teresses em c o m u m , em coso de Jic ita ca o p ub li c o. I , ' ,2. Antes de responder a pergunta: Quais as suas conclus6es a respeito da ~

    importi'mciadaimprensa para a forma~ao eticado cidadao?, reflita sobre a I' "seguinte afirrnacaode Betinho e relacione-a com a letra da mCrsica Notfcia. -e"A televisa()iCOmOa imprensa,e uma arma, instrutnento que tanto pode ~

    servir a determinados velores como a outros. Oefeitc} da TV depende do uso ~j~e aSQcieda~efaz(~u_p~~~,_que se'~::~p"~~~tic~dadani~~,- , = JA NOTiclAoNew lark Times nao deu umelinheA sse de Londresnenhuma palavramas, ontem n o Xingu,um Indio se afogoue um guarda~mprinha .se atimunasaguasparasalvar as~a vidaNa mesmahoraurnfavelado da Rocinha ..que tinha seFefilhosarrumou mais um

    Eraud, tnenino loiro de olho azul Ique'tlhhcl sidoabandonado numa avenidaGeniemaGentelinde .

    , Dlavem,Boitefindae m t odQ Iygar. (CelsoViafo~aeVicente Barreto)

    3_ A partirdetudo que voce leu ate agora sobreMoral e Etica, como vocediferencia um comportamento moral de urn cornportarnento etico? Responda,justificandosuas ideiascomum ou mais exernplospraticos tiradosdo cotidiano.

    E dificil encontrar urna definicao de cidadania que seja suficientemente esdarecedora enossatisfaca plenamente. Talvez Cidadania seja, como a Liberdade, "uma palavra que 0sonho humanoalimental e que nao hd ninguetn que explique, e ninguem que nao entenda" (Cecilia Meireles).

    Acontece que ela, tanto quanto a l.iberdade, a Democracia, a Iustica e outros conceitostao usados (e abusados) par nos, e uma construciio histories, e, portanto, se modifica com 0tempo, estando sempre aberta as possibilidades de arnpliacao ou lirnitacao que as transforrnacoessociais trazem consigo.

    Por causa disso, e logico que ela seja reflexo do jogo de interesses de segmentos sociaisdiferentes e dos conflitos entre os que estao ou nao no poder. Portanto, quando alguern defineCidadania, reflete, nessa definicao, nao s6 as condicoes de tempo e lugar onde se encontramas tambern 0seu ponto de vista particular como indivfduo pertencente a determinados grupos.

    JUlia F alivene Alves CEETEPS-CETEC Ene,\ ECiDADANIA

  • 5/17/2018 TICA E CIDADANIA

    20/46

    Como, porern, acho diffcil discorrer sobre alguma coisa sobre a qual nao se tenha umareferencia como ponto de partida, vou iniciar 0 tratamento cia questao da cidadania colocandoo que considero que ela seja, a partir de minhas experiencias, vivencias, conhecimentos eintencoes, ou seja, segundo a minha biografia.

    Cabera a voce, leitor, que, tanto quanta eu, e urn cidadao, concordar com ela ou deladiscordar.Antes, porern, seria born que verificasse quais as ideias que lhe vern a mente sobre 0

    a ssu nto , ta mbe rn a partir de sua p ro pria b io gra fia . Portanto, 0 que significa, para voce, sercidadao?

    Obrigacoes de obedecer e cuidar que obedecam as regras estabelecidas para que a vidaem comum transcorra com harmonia e respeito, segundo osprincipios da liberdade, igualdade,solidariedade e justica - ou seja, da Etica -, com os interesses coletivos predominando sobre 05particulares.

    Vejamos, agora, se estamos de acordo:Penso que Cidadania e uma figac;Jo jurfdico-po/ftica que 0 indivfduo tem com 0 Estado a \.

    que pertence, figac;Jo essa que the garante direitos e impoe obrigecoes. )(\

    Direitos de decidir e influir sobre 05 destinos do Estado e cle tel' a sua condicao humanagarantida e protegida pOl'ele.

    U tiliza ndo, a in da que provisoriamente, 0 sell proprio conceito e 0 par mim enunciadoanteriormente, voce acha que todo brasileiro e considerado e tratado, hoje, como um cidadao?Por que?

    Segundo uma pesquisa feita pela revista Veja, neste mesmo rnes, com osoito reais recebidos 0 cidadao poderia realizar urna 56 dessas 12 opcoes de