etnomatematica alto do rio negro

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Etnomatemática: sistema de numeração dos povos indígenas do Alto Rio Negro no Estado do Amazonas Rejane Maria Caldas Freitas 1 Maria Auxiliadora de Souza Ruiz 2 Resumo Os diversos sistemas de numeração encontrados nas diferentes etnias das regiões brasileira são identificados como binário, ternário, quinário, decimal, vigesimal e outros. Dentre eles apresentamos pesquisas desenvolvidas por Pozzobon com o sistema de numeração de base cinco dos índios Maku, Oliveira indígena da etnia Tariana ou Talaséri com o sistema numérico de base cinco e de base vinte e, Green com os Tariana e Baniwa com sistema de numeração vigesimal. Muitos sistemas de numéricos são holísticos e outros são analíticos. Mesmo que os indígenas sejam povos ágrafos, é possível fazermos análises de conceitos matemáticos por meio das manifestações culturais e cotidianas. O artigo parte das discussões trabalhadas na dissertação em desenvolvimento, onde pesquisamos sobre os sistemas numéricos dos povos indígenas do alto Rio Negro, região do Estado do Amazonas - Brasil. Palavras-chave: sistemas numéricos; indígenas; Maku; Baniwa; Taliáseri. Introdução No Brasil pesquisadores como Ferreira et al. (2002) identificaram entre os povos indígenas, sistemas numéricos de base um, dois, três, cinco, dez e vinte, demonstrando processos diversos de raciocínio, uns mais holísticos e outros mais analíticos. Os sistemas numéricos são usados pelos diferentes povos como forma de agrupar e contar objetos. Muitas sociedades não-indígenas utilizam símbolos e regras na escrita numérica servindo como forma de sistematização. Um sistema numérico possui sua base que é determinada pelo número de elementos do agrupamento utilizado na contagem. Dificilmente podemos exprimir opiniões sobre os símbolos numéricos indígenas, já que estes não possuem o domínio da escrita, ou seja, são povos ágrafos, que não quer dizer que eles não utilizam sistema numérico. As pesquisas realizadas nas etnias Maku, Tariana ou Taliaséri e Baniwa habitantes do noroeste amazônico 1 Universidade do Estado do Amazonas-UEA. [email protected] . Bolsista da CAPES/SECAD/DEB/INEP Observatório da Educação Escolar Indígena pelo projeto nº 015/2009. 2 Universidade do Estado do Amazonas- UEA. [email protected] . Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação e Ensino de Ciências na Amazônia. (PPEECA), da Escola Normal Superior (ENS).

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estudo etnografico

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  • Etnomatemtica: sistema de numerao dos povos indgenas do Alto

    Rio Negro no Estado do Amazonas

    Rejane Maria Caldas Freitas1

    Maria Auxiliadora de Souza Ruiz2

    Resumo

    Os diversos sistemas de numerao encontrados nas diferentes etnias das regies brasileira so

    identificados como binrio, ternrio, quinrio, decimal, vigesimal e outros. Dentre eles apresentamos

    pesquisas desenvolvidas por Pozzobon com o sistema de numerao de base cinco dos ndios Maku,

    Oliveira indgena da etnia Tariana ou Talasri com o sistema numrico de base cinco e de base vinte e,

    Green com os Tariana e Baniwa com sistema de numerao vigesimal. Muitos sistemas de numricos so

    holsticos e outros so analticos. Mesmo que os indgenas sejam povos grafos, possvel fazermos

    anlises de conceitos matemticos por meio das manifestaes culturais e cotidianas. O artigo parte das

    discusses trabalhadas na dissertao em desenvolvimento, onde pesquisamos sobre os sistemas numricos dos povos indgenas do alto Rio Negro, regio do Estado do Amazonas - Brasil.

    Palavras-chave: sistemas numricos; indgenas; Maku; Baniwa; Taliseri.

    Introduo

    No Brasil pesquisadores como Ferreira et al. (2002) identificaram entre os povos

    indgenas, sistemas numricos de base um, dois, trs, cinco, dez e vinte, demonstrando

    processos diversos de raciocnio, uns mais holsticos e outros mais analticos.

    Os sistemas numricos so usados pelos diferentes povos como forma de agrupar e

    contar objetos. Muitas sociedades no-indgenas utilizam smbolos e regras na escrita

    numrica servindo como forma de sistematizao. Um sistema numrico possui sua

    base que determinada pelo nmero de elementos do agrupamento utilizado na

    contagem. Dificilmente podemos exprimir opinies sobre os smbolos numricos

    indgenas, j que estes no possuem o domnio da escrita, ou seja, so povos grafos,

    que no quer dizer que eles no utilizam sistema numrico. As pesquisas realizadas nas

    etnias Maku, Tariana ou Taliasri e Baniwa habitantes do noroeste amaznico

    1 Universidade do Estado do Amazonas-UEA. [email protected]. Bolsista da

    CAPES/SECAD/DEB/INEP Observatrio da Educao Escolar Indgena pelo projeto n 015/2009.

    2 Universidade do Estado do Amazonas- UEA. [email protected]. Professora do Programa de

    Ps-Graduao em Educao e Ensino de Cincias na Amaznia. (PPEECA), da Escola Normal Superior

    (ENS).

  • apresentam uma matemtica desenvolvida e praticada pelos indgenas de uma

    complexidade que muitas vezes torna-se inaceitvel entre os no-ndios. Ainda que,

    etnias habitando a mesma regio, elas se diferenciam na lngua, no modo de ver o

    mundo, na cosmologia e no sistema de numerao

    Percebemos que os indgenas trabalham a relao matemtica-natureza, em que o

    nmero no representa apenas quantidade, mas considera-se a complexidade do todo e

    da cosmologia. com o propsito de compreender a formao do diversificado sistemas

    numricos em diferentes contextos histricos que buscamos apresentar trabalhos

    desenvolvidos por antroplogos e linguistas junto a etnias do noroeste amaznico.

    Pela dificuldade pesquisadores matemticos que investiguem os sistemas numricos dos

    povos indgenas dessa regio percebemos que, as pesquisas tendem seguir a linha de

    conhecimento do pesquisador atuante, ou seja, linguistas e antroplogos, ento, a

    tendncia a discusso dos termos lingsticos. E, por esse motivo faz-se entender a

    funo dos classificadores numricos para compreendermos a estrutura lingustica dos

    sistemas de numerao.

    No entendimento de Green (2002), classificadores numricos so morfemas fixados na

    raiz do termo numrico, que classificam o elemento o qual o numeral se refere.

    Tambm, podem ser convenientemente organizados de acordo com conceitos

    matemticos, isto , em termos de unidades, conjuntos, fraes, ideias abstratas e sries.

    Os estudos mostraram uma relao recproca entre a Matemtica e a lngua materna. No

    entanto, os conceitos matemticos ainda precisam ser aprofundados. Como estudante de

    Matemtica os questionamentos quanto concepo e sistematizao nos deixam

    inquietos. Por exemplo, como os indgenas organizam os conceitos como sequencia,

    equivalncia, valor posicional, comparaes, ordem, clculo e outros, sendo que tudo o

    que fazem est correlacionado com a natureza e o cosmos?

    Sistemas numricos indgenas dos povos Indgenas do Alto Rio Negro

    Mesmo com a existncia populacional de mais de 30000 mil indgenas e com varincia

    de 25 lnguas no noroeste amaznico, Pozzobon (2002) afirma que todos os povos desta

    regio tm um sistema numrico de base cinco. Ele atribui esta origem base

    pentanumrica devido existncia dos cinco dedos nas mos, ou seja, o nmero cinco

    significaria literalmente uma mo. Suspeita-se que alm da relao anatmica h

    tambm, relao com tons musicais e com os cinco cls originrios conforme a

  • mitologia Tukano e Arawak. Em contramo, Green (2002) mostra uma diversidade

    nessa questo, pois h etnias com sistema de numerao de base dez e de base vinte

    como veremos mais adiante. Em dilogo com o pesquisador e linguista Valteir Martins,

    nos relatou que os indgenas da etnia Maku do grupo lingutico Dow possuem o sistema

    de numerao de base trs diferenciando-os do grupo lingustico Hupda. Este faz parte

    de nossas discusses no trabalho. Portanto, as diferenas nos sistema de numerao

    entre os indgenas variam conforme a necessidade de adequao ao meio social, natural,

    econmico, mtico e sobrenatural em que cada uma se encontra. Ou seja, no existe um

    nico sistema numrico que orienta a diversidade de grupos indgenas existentes no

    mundo. H sim, uma variedade de concepes matemticas criadas pelas sociedades

    indgenas orientadas pela sua realidade.

    Sistema de numerao Maku

    A etnia Maku apresenta seis grupos lingsticos identificados por Pozzobon (2002) e

    Calbazar & Ricardo (2006) diferenciando-os na grafia esto denominados

    respectivamente: Nkak/Nukak, Bara/Kakwa(Bara), Yuhup/Yuhupde, Dw/Dow,

    Nadb/Nadb, Hupd/Hupda(no plural). Este ltimo trata do grupo mais numeroso e

    habitante do interflvio dos rios Papuri, Tiqui e Uaups, como mostra o mapa abaixo.

    Fonte: CABALZAR & RICARDO. Mapa livro -2006

    Os Maku diferenciam-se de outras etnias por habitarem o interior das matas

    distanciando das margens dos rios, por isso so chamados de povos da floresta. As

  • variaes dialetais existente entre os grupos lingusticos Maku servem como

    identificador dos limites territoriais e como fortalecedor de sua identidade tnica. No

    tocante, o antroplogo Pozzobon pesquisou o sistema de numerao indgena do tronco

    lingustico Hupd. O sistema numrico de base cinco est identificado em trs dialetos

    que se apresenta na tabela seguinte pelas letras maiscula D, E e F do alfabeto.

    Tabela: os numerais em trs dialetos da lngua hupd

    DIALETO

    Numeral D E F

    1 hep (yu) ayub ayup

    2 koop koap kaap

    3 hibabp modwap modap

    4 hibabniy babniy babniy

    5 hepdupogn hedapo Hedapo

    Fonte: Pozzobon- 2002

    O numeral 1 (hep (yu), ayub, ayup) deriva do ato de designar um objeto unitrio.

    No numeral 2 (koop, koap e kaap) ap a partcula quantificante tanto que haap quer

    dizer quanto e daap quer dizer tanto, mas para responder a quantidade dizem daap

    e mostram a quantidade com os dedos.

    O numeral 3 (hibabp, modwap, modap) tambm tem possui a partcula quantificante

    ap. E o termo p do dialeto D significa no ter, ou seja, est sem par.

    O numeral 4 (hibabniy, babniy, babniy)o termo niy significa ter. Segundo o autor

    suspeita-se de dois motivos para formao desse numeral. O primeiro a relao

    mitolgica referente ao mito fundador do parentesco, que no tempo da criao da

    humanidade, Kegn Teh, o heroi cultural, fez dois pares de siblings de sexo oposto,

    ocorrendo troca de irms pelos dois homens fundadores de cls implicou na constituio

    de laos familiar. Outro motivo resulta da aliana matrimonial, consequentemente,

    formando a aliana social.

    O numeral 5 (hepdupogn, hedapo, Hedapo) no dialeto D formado pelas partculas

    hep= um + d= plural+ pong= grande. Nos dialetos E e F a formao se d pela

    partcula hep= um + dapo (po)= mo, ou seja, uma mo. Apesar das variaes dialetais

    surgem termos cognatos entre os dialetos D, E e F em alguns nmeros como o caso

    dos numerais 2, 4 e 5. Este ltimo torna interessante a formao, pois, a partcula hep

    est apenas no dialeto D designando uma unidade e nos dialetos E e F aparecem como

    he= um + dapo(po)= uma mo.

  • Entretanto, Moore e Franklin (1979) (apud Diana Green, 2002) inserem a existncia de

    termos numricos que exprimem conceitos aritmticos, por exemplo, na lngua hpda

    (maku), todos os numerais (salvo o termo para o numeral um, ayup) tm sufixo ap

    que designativo dos numerais. Nessa lngua, o termo para o numeral cinco ayup

    deph- ap, uma mo inteira. A diferenciao grfica evidente entre os

    pesquisadores, no tocante, percebemos a necessidade de estudos mais aprofundados da

    morfologia, das relaes numricas com o meio e principalmente dos procedimentos

    mentais do sistema de numerao quanto a agrupamentos, ordenao, contagem,

    conjuntos, sequencias etc. para repensarmos em conceitos matemticos.

    Sistema de numerao Baniwa

    Os indgenas do dialeto Hohdene da lngua Baniwa do rio Iana outra etnia da regio

    do Alto Rio Negro comentada por Green (2002) sobre o sistema de numerao. Ela no

    apresenta a grafia numrica, no entanto, fornece informaes da terminologia numrica.

    O sistema numrico Baniwa vigesimal, ou seja, de base vinte. No entanto, o sistema

    vigesimal dessa lngua quinrio, j que os numerais maiores que cinco so compostos

    com os mesmos cinco termos. Para contagem at dez utilizam a outra mo, ou seja, a

    somatria dos dedos das mos, exemplificando, cinco mais dois (dedos). O numeral dez

    considerado a combinao de cinco mais cinco (mo mais mo). Tanto que o termo

    para cinco significa nossa mo, todos os dedos da mo, ou o fim da mo.

    Na terminologia numrica de algumas lnguas Aruak, o termo para o numeral quatro

    derivado de um verbo. E, especificamente no dialeto hohdene da lngua Baniwa do

    Iana, o numeral quatro, ki-kwa-daka, significa ser suficiente. Ademais, Aikhenvald

    identificou 33 classificadores numricos s nessa etnia e ainda, os termos numricos

    concordam em gnero apenas quando o substantivo considerado ser vivo, isto ,

    animado. (AIKHENVALD, 1994 apud GREEN, 2002).

    Sistema de numerao Tariana ou Taliseri

    Na mesma linha de raciocnio, a etnia Tariana ou Taliseri da famlia lingustica Aruak

    habitantes do mdio Uaups afluente do Rio Negro so identificados entre eles dois

    tipos de sistema numrico, um de base cinco relatado por Giacone (apud Oliveira 2007)

    e o outro de base vinte descrito por Alexandra Aikhenvald (apud Green, 2002).

    As informaes trazidas por Giacone mostram apenas cinco quantificadores e com

    variao grfica para cada numeral. O pesquisador indica os numerais como

  • quantificadores, mas no deixa claro quanto funo de qualificadores, ou seja, se

    existe partculas que variam conforme as caractersticas do objeto. No entanto, Oliveira

    (2007) a partir da elaborao do quadro informativo apresenta exemplos com aplicaes

    do sistema de numerao pentanumrico de Giacone, onde observamos que h

    classificadores numricos implcitos na formao dos termos.

    Tabela 1: Termos numricos na lngua Taliseri conforme Giacone (1962)

    Numeral Termo em Portugus Termo em Taliseri

    1 Um Pita, pite, paada, pakapi

    Uma Paama, pvia, pdapana

    2 Dois Yampa, Yamite

    Duas Iamma, Yamadpana

    3 Trs Madalite, madalidapa, madalidpana,

    madlima, madalipa.

    4 Quatro Kepnipe, kepunipedapana

    5 Cinco Pakapi, penkapi

    10 Dez Yamakapi

    Fonte: OLIVEIRA, 2007, p. 105

    Quando (OLIVEIRA, 2007, p.105) diz, por exemplo, um homem = paita atsiali; um

    dente= paada u; um brao = paakapi uakappada; uma canoa = pvia ita; dois

    homens = yamepa aantcha; (...); duas mulheres = yamana ina, percebemos que os

    numerais possuem uma variao termolgica e que atuam flexionando-se conforme o

    gnero das coisas, alm disso, h uma variao quanto ao tipo de objeto indicado. Desta

    maneira, implicitamente os termos classificatrios se fazem presentes tanto em relao a

    tamanho, seres animados e inanimados, parte, todo etc. Observamos tambm, a falta de

    estudos aprofundados sobre estruturas matemticas ou como so analisados os

    agrupamentos, conjuntos, sequencias, clculos, etc. Vale lembrar, assim como os

    Baniwa, os Taliseri tambm, contam com auxilio dos dedos das mos e dos ps.

    Green (2002) informa que nas pesquisas de Aikhenvald so registrados 27

    classificadores numricos dos Tariana3. Baseado em tais estudos Oliveira (2007)

    complementou com alguns exemplos na terceira coluna do quadro abaixo onde

    aparecem apenas 19 classificadores numricos. Estes so perceptveis quanto aos

    3 GREEN, 2002, p. 265.

  • termos, no so apenas quantificadores, mas tambm qualificadores variando conforme

    as caractersticas do objeto.

    Tabela 2: Classificadores numricos na lngua Taliseri conforme Aikhevald (1994)

    complementado por Oliveira (2007)

    Classificador Glossrio Exemplos

    -ita

    Animado/ no-

    feminino

    Um homem= paita cPi Dois homens= yamaita cPi Um cachorro= paita cnu

    -ma Feminino animado Uma mulher= pama inaru

    Uma professora= pama kabuetama

    - Inanimado Uma mo= pakapi

    Duas mos= yamakapi

    - pi Longo, fino vertical Uma bananeira= pa:pi

    Duas bananiras= yama:pi

    -phi Pequeno, oco Uma panela de barro= pa:surupephi

    Duas panela de barro= yama: surupephi

    -puna Espao Um caminho = pa:hinipu

    Dois caminhos= yama:hinipu

    -da

    Pequeno, redondo

    Um abacaxi= pada mawina

    Dois abacaxis= yamada mawina

    Uma fruta= pada hekuda

    Duas frutas= yamada hekuda

    - na Longo, vertical Uma rvore= pa:na ou pa:hekuna

    Duas rvores= yama:na ou yama: hekuna

    -pa Cncavo horizontal Uma banana= pa:deripa

    Duas bananeiras= yama:deripa

    -i

    Cacho

    Um cacho de aa= pe:i Dois cacho de aa= yame:i

    Um cacho de banana= pe:i deri Dois cacho de banana= yame:i deri

    -phe

    Foliforme

    Uma pena= dinaphe

    Um livro= pa:phe

    Dois livros=yama:phe

    -powa Rio, lquido Um igarap= pa:powa

    Dois igaraps= yama: powa

    -kha

    Curvilinear

    Uma linha de pesca= pa:klekha

    Duas linha de pesca= yama: kulekha

    Um intestino=ihyakha

    -yama

    Buraco

    Um buraco= pa:yama

    Dois buracos= yama:yama

    Uma narina= pa:ithakuyama

    Duas narinas= yama: ithakuyama

    -ku Espao limitado Uma rede= pa:ku ou pa: amaku

    Duas redes= yamaku ou yama:amaku

    -dawhya Canoa Uma canoa= pa:whya ou pa:itawhya

    Duas canoas= yama:whya ou yama:itawhya

    -panisi Casa Uma casa= pa:panisi

    Duas casas= yama:panisi

  • -nai Lago Um lago= pa:nai ou pa:uninai

    Dois lagos= yama:nai ou yama:uninai

    -ithe Pequenas partculas

    (tipo semente)

    Um semente= pa:ithepe

    Dois sementes= yama:ithepe

    Fonte: OLIVEIRA, 2007.

    significativo o fato de que Green (2002) infere que algumas etnias da lngua Aruak

    tm os prprios conceitos quanto ao classificador apropriado para cada item. A lngua

    tariana classifica coisas dobrveis, lugares fechados e lquidos (...), um rio classifica-se

    como lquido, e um caminho como lugar fechado e, papel classificado como

    dobrvel.

    As flexes dos termos numricos variam conforme a lngua, uns concordam com o

    substantivo em gnero, ou nmero, enquanto outros podem qualificar e classificar ou

    indicar posicionamento e direcionamento. De certo que, os termos dos sistemas de base

    dez e vinte demonstram raciocnio analtico e sinttico, pois os numerais so

    relacionados juno progressiva de unidades de valores especficos. (GREEN, 2002)

    Cada lngua indgena tem maneira prpria de classificar e estruturar os termos

    lingsticos. A propsito cada cultura desenvolve o sistema numrico conforme a

    necessidade das atividades cotidianas.

    Em face do que j foi colocado, vale lembrar um fator que implica nas mudanas

    lingusticas dos povos indgenas que o contato com outras lnguas, sejam elas de

    outras etnias ou no-indgenas. Na regio do Rio Negro, por consequencia de contatos

    intertribais e com os no-ndios, dificilmente encontra-se uma sociedade que fale a

    lngua original, de alguma maneira sofreram influncias. Por essa razo, Galvo (1979,

    p.146) infere sobre os Tariano j estarem linguisticamente tucanizado, pois a etnia

    Tukano mais numerosa e dominam toda a regio do rio Uaups.

    Concluso

    Evidentemente, a carncia de pesquisadores matemticos na linha de pesquisa

    Etnomatemtica retorna como desconhecimento sobre os saberes indgenas em meio

    sociedade no-indgena. As pesquisas sobre as etnias Maku, Tariana e Baniwa

    mostraram que a Matemtica est relacionada diretamente com o estudo das lnguas.

    Ento, implica dizer que a matemtica se faz presente nas mais variadas manifestaes

    culturais, sejam elas, na lngua, na construo de objetos, na abstrao, na concepo do

    sistema numrico etc. Essas etnias apresentam sistemas de numerao diferenciados e

  • aplicados ao cotidiano em conformidade a sua necessidade. No pensemos que a

    matemtica indgena se torne simplista porque no tem escrita , ao contrario, por isso

    que se torna complexa, por que envolve o todo, relacionando o indivduo com a

    natureza e o cosmos, mostrando assim a capacidade de abstrao.

    Decerto, as interferncias das lnguas estrangeiras como o Nheengatu (lngua geral) e o

    portugus dificultam a compreenso da lngua primeira. Muitos termos numricos

    registrados pelos antroplogos e linguistas foram identificados sendo de outras

    sociedades. De tal modo, que as estruturas numricas apresentadas se distinguem ou se

    complementam como quantificador e qualificador numrico. No entanto, percebemos a

    falta de aprofundamento das pesquisas nas abordagens de concepes matemticas.

    Diante desses problemas, vemos a necessidade de pesquisas e discusses realizadas por

    pesquisadores matemticos em contextos indgenas. De tudo que sabemos ainda

    pouco diante da grandeza matemtica e das prticas dos grupos indgenas existentes em

    nosso pas.

    REFERENCIAS

    GALVO, Eduardo. Encontro de sociedades: ndios e brancos no Brasil. Rio de

    Janeiro: Paz e Terra, 1979.

    GREEN, Diana. Os diferentes termos numricos das lnguas indgenas do Brasil. In:

    FERREIRA, Mariana K. L. (org.). Ideias matemticas de povos culturalmente

    distintos. So Paulo: Global, 2002.

    _____________. O sistema numrico da lngua palikur. In: FERREIRA, Mariana K. L.

    (org.). Ideias matemticas de povos culturalmente distintos. So Paulo: Global.

    POZZOBON, Jorge. O sistema numrico dos ndios Maku. In: FERREIRA, Mariana K.

    L. (org.). Ideias matemticas de povos culturalmente distintos. So Paulo:

    Global,2002.

    OLIVEIRA, Ado. Etnomatemtica dos Taliseri: medidores de tempo e sistema de

    numerao. 2007. [Dissertao de Mestrado]. Departamento de Cincias Sociais.

    PPGA/UFPE, Recife.

    CABALZAR, Alosio; RICARDO, Carlos A. Povos Indgenas do Rio Negro: uma

    introduo socioambiental do noroeste da Amaznia brasileira. 3 ed. rev. So Paulo:

  • ISA- Instituto Socioambiental; So Gabriel da Cachoeira, AM: FOIRN- Federao das

    Organizaes Indgenas do Rio Negro, 2006.