evapotranspiracao do nordeste
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ANÁLISE DO COMPORTAMENTO DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE
REFERÊNCIA NO NORDESTE DO BRASIL EM ANOS DE EL NIÑO E LA
NIÑA
João Hugo Baracuy da Cunha Campos1, Vicente de Paulo Rodrigues da Silva1 &
Adelgicio Farias Belo Filho1
RESUMO
As perdas hídricas pelos processos de evaporação e evapotranspiração, por subtraírem
substancial quantidade de água armazenada em solos vegetados e reservatórios de água,
não podem ser negligenciadas em atividades de planejamento e gerenciamento dos
recursos hídricos. Com o objetivo de analisar o comportamento intra-anual e espacial da
evapotranspiração de referência no Nordeste do Brasil, em anos com condições
climáticas contrastantes, utilizou-se os métodos de FAO/Penman-Monteith e o de
Hargreaves para se estimar a evapotranspiração de referência (ETo) média mensal
durante os anos de El Niño de 1983 e de La Niña de 1985. A evapotranspiração de
referência foi calculada com nas temperaturas máxima e mínima do ar, umidade relativa
do ar, insolação e velocidade do vento. Os resultados deste trabalho evidenciam que nos
anos de ocorrência do evento El Niño a demanda evaporativa no Nordeste do Brasil é
maior do que nos anos de ocorrência do evento La Niña. A maior demanda evaporativa
ocorre na parte central do semi-árido, enquanto a menor demanda ocorre no Sul do
Estado da Bahia.
ABSTRACT
The evaporation and evapotranspiration cannot be neglectful in many planning and
administration activities of the water resources. The objective of the study was analyze
intra-annual and spacial behavior of the reference evapotranspiration in Northeast of
Brazil. The reference evapotranspiration (ETo) values was derived from FAO/Penman-
Monteith and Hargreaves methods in two years with contrasting climatic conditions (El
1 Departamento de Ciências Atmosféricas, Universidade Federal de Campina Grande. Av. Aprígio Veloso, 882, Bodocongó, CEP: 58109-970 Campina Grande – PB, FONE: (0xx83) 310 – 1202. E-mail: [email protected]
Niño and La Niña). The monthly mean wind speed, at 2 m height, maximum and
minimum air temperature, relative humidity and sunshine hours were used to obtain the
reference evapotranspiration. The results show that the demand evaporativa in Northeast
of Brazil is greater in El Niño years than La Niña years. The higher demand evaporativa
is in central semi-arid part while the less demand is located in South of the Bahia State.
INTRODUÇÃO
Em solos com cobertura vegetal e reservatórios de água os processos de
evapotranspiração e evaporação, respectivamente, consomem considerável quantidade
de energia para o transporte vertical de vapor d’água. Esses fluxos não podem ser
negligenciados em inúmeras atividades humanas; e assim, as suas estimativas são
extremamente importantes, principalmente no gerenciamento e planejamento dos
recursos hídricos.
Allen et al. (1989), comparando a evapotranspiração de referência obtida pelos
métodos de Penman, Kimberly-Penman, Penman corrigido e Penman-Monteith, com
medições lisimétricas, observaram que o modelo de Penman-Monteith foi o que melhor
se ajustou às medições diárias e mensais. Por outro lado, de acordo com Belo Filho
(2003), na ausência de dados de insolação, umidade relativa do ar e velocidade do
vento, a estimativa da evapotranspiração de referência pelo método de Penman-
Monteith pode ser substituída com razoável precisão pelo método de Hargreaves.
Segundo Doorenbos e Pruitt (1977) a escolha do métodos para se estimar a
evapotranspiração está condicionada à precisão dos dados climáticos medidos durante
alguns anos. Na avaliação das equações mais comuns para a determinação da
evapotranspiração, realizada pela American Association of Civil Engineers, utilizando-
se dados obtidos em 10 diferentes locais do mundo, foi observado que não existe um
método baseado em dados climáticos que possa ser universalmente adequado em todos
os tipos de climas, principalmente em regiões tropicais e de altas altitudes, que dispense
algum tipo de calibração local ou regional. Por outro lado, reconhecendo a necessidade
de padronizar um único método para representar e definir a evapotranspiração de
referência, em 1990 a FAO (Food and Agricultural Organization) e a ICID
(International Commission on Irrigation and Drainage) reuniram uma comissão de
especialistas para redefinir o conceito e apresentar uma nova metodologia de cálculo da
evapotranspiração de referência (ETo). Como resultado das discussões, foram
introduzidos, na formulação anterior, os valores de 70 sm-1, 23% e 12 cm para
resistência estomática, albedo e altura da cultura, respectivamente, e, finalmente
propuseram o método de Penman-Monteith como o mais adequado para determinar ETo.
A importância do conhecimento da variabilidade espacial da evapotranspiração de
referência tem motivado a realização de várias pesquisas em diferentes regiões do
mundo (Dunn & Mackay, 1995). Outros trabalhos nessa mesma linha de pesquisa são
apresentados mais detalhadamente a seguir. Church et al. (1994) apresentaram mapas de
evapotranspiração e da relação vazão/chuva para o Nordeste dos Estados Unidos. Eles
concluíram que os mapas dessas variáveis podem ser utilizados nas análises dos
recursos hídricos com base em informações regionalizadas para interpolações de
valores. Dalezio et al. (2002), analisando a variabilidade espacial da evapotranspiração
de referência na Grécia, com base em 66 estações meteorológicas e no método de
Penman modificado, adaptado por Doorenbos & Pruitt (1977), observaram que a
diferença de latitude é mais significativa nas flutuações da evapotranspiração do que o
grau de aridez, como esperado inicialmente.
Os fenômenos El Niño e La Niña produzem um sistema de circulação zonal na
linha do equador com efeitos oposto. Alguns estudos evidenciam o relacionamento do
El Niño com as ocorrências de secas e La Niña com chuvas no Nordeste do Brasil
(Aragão, 1986; Guedes & Silva, 1998, Silva et al., 1999). Na região Sul do País os
efeitos são contrário, ou seja, o El Niño provoca chuvas e La Niña provoca secas. O El
Niño de 1983 foi um dos maiores do século passado e produziu desvios negativos de
precipitação pluvial superiores a 800 mm em algumas localidades do Nordeste (Silva et
al., 1999). Em 1985, entretanto, ocorreu o fenômeno La Niña, que provocou chuvas
intensas no Nordeste e secas severas no Sul do Brasil. A ocorrência desses fenômenos
certamente provoca alterações climáticas nos padrões de demanda atmosférica em
qualquer região do mundo. O conhecimento da variabilidade espacial de uma variável
climática que caracteriza o poder evaporativo do ar, tal como a evapotranspiração de
referência, é de grande relevância em várias áreas de conhecimento. Assim, o presente
trabalho tem como objetivo analisar o comportamento intra-anual e a distribuição
espacial da evapotranspiração de referência no Nordeste do Brasil em dois anos com
condições climáticas contrastantes.
MATERIAL E MÉTODOS
Dados utilizados
Neste trabalho foram utilizadas as médias mensais de insolação, velocidade do
vento, umidade relativa do ar e temperaturas máxima e mínima do ar obtidas em 95
estações meteorológicas do Nordeste do Brasil. A Figura 1 exibe a distribuição espacial
das estações meteorológicas analisadas neste estudo. Nas estações meteorológicas que
não dispunham de dados de temperatura do ar, foi utilizado um modelo de estimativa
em função da latitude, longitude, altitude e anomalias de temperatura da superfície do
mar do oceano Atlântico Sul, de acordo com a equação (Silva et al., 2003):
2 2 20 1 2 3 4 5 6 7 8 9 (01)ij ijT a a a a h a a a h a a h a h ATSMλ φ λ φ λφ λ φ= + + + + + + + + +
em que 90 a.......,,.........a são os coeficiente de regressão, λ é longitude, φ é a latitude e h
é a elevação. Os índices i e j indicam, respectivamente, o mês e o ano para o qual se está
estimando a temperatura do ar (Tij). Cavalcanti & Silva (1994) também utilizaram uma
superfície quadrática, expressa apenas em função das coordenadas geográficas, para
determinar as temperaturas médias e extremas no Nordeste do Brasil.
Os dados climáticos foram utilizados no cálculo da evapotranspiração de
referência no Nordeste do Brasil, nos anos típicos de alta e baixa demanda atmosférica,
caracterizados, respectivamente, pelos anos do El Niño de 1983 e do La Niña de 1985.
A análise espacial da ETo foi realizada com base na sua média anual, bem como na
média dos trimestres quentes e frios de cada localidade.
Na estimativa da evapotranspiração de referência foram utilizados os métodos de
FAO/Penman-Monteith e o de Hargreaves, em função da disponibilidade de dados das
localidades analisadas. De acordo com Belo Filho (2003) a evapotranspiração de
referência pode ser estimada com razoável precisão pelo método de Hargreaves, quando
não se dispõe de dados suficientes para obtê-la pelo método FAO/Penman-Monteih. Os
trimestres quentes e frios foram determinados com base no histograma de freqüência de
temperatura do ar de cada localidade. Foram construídos mapas de ETo dos períodos
anuais e dos trimestres quentes e frios, dos anos de El Niño de 1983 e de La Niña de
1985, bem como dos desvios de ETo para os mesmos períodos. Esses desvios
representam a diferença entre a ETo observada no ano em análise e a ETo calculada com
base na média climatológica da temperatura do ar.
Método de Penman/Monteith
O cálculo da evapotranspiração de referência (ETo) pelo modelo FAO/Penman-
Monteith considera a resistência estomática de 70 sm-1, albedo de 23% e a altura da
grama fixada em 0,12 m, e pode ser obtida pela equação (Allen et al., 1994):
(01))34,01(
)(273
900)(408,0
2
2
0U
eeT
UGR
ETasn
++∆
−
+
+−∆=γ
γem que Rn (saldo de radiação) e G (densidade do fluxo de calor no solo) são expressas
em MJm-2dia-1, ∆ é a declinação da curva de saturação do vapor da água (KPa ºC -1) e U2
é a velocidade do vento (média diária) a 2 m acima da superfície do solo (ms -1), T é a
temperatura do ar (ºC), es é a pressão de saturação do vapor (KPa), ea é a pressão real
do vapor (KPa) e γ é o fator psicométrica (MJkg-1).
Método de Hargreaves
Na ausência dos dados de radiação solar, umidade relativa e velocidade do vento,
a ETo (mm/dia) pode ser estimada através da seguinte equação (Hargreaves, 1974):
amed RTTTET 5.0minmax0 ))(8,17( 0023,0 −+=
(02)
em que Tmed, Tmax e Tmin, em 0C, representam, respectivamente, as temperaturas média,
máxima e mínima e Ra a radiação extraterrestre (mm/dia).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os histogramas da evapotranspiração de referência referentes à média anual e aos
trimestres quentes e frios dos anos de 1983 e 1985 são apresentados nas Figuras 2 a 4.
Esses anos foram selecionados porque representam condições climáticas contrastantes
de demanda atmosférica, caracterizadas pelas ocorrências dos fenômenos El Niño e La
Niña.
As médias dos períodos anuais da ETo, bem como dos trimestres quentes e frios,
de todas as 95 estações analisadas foram maiores no anos de 1983 do que em 1985
(Figura 2). Evidentemente, as maiores taxas de evaporação foram encontradas no
trimestre quente (Figura 3), onde observam-se valores de até 7,5 mm/dia, na localidade
de Cabrobó, e as menores taxas foram no trimestre frio, de aproximadamente 2 mm/dia,
na localidade de Guaramiranga (Figura 4). Isso comprova que as perdas hídricas pelos
processos de evaporação e evapotranspiração em anos de El Niño são maiores do que
em nos anos de La Niña, em face da alta demanda atmosférica registrada quando ocorre
aquecimento anômalo nas água do oceano Pacífico equatorial.
As Figuras 5 a 10 exibem as distribuições espaciais da evapotranspiração de
referência nos períodos analisados. Observa-se na Figura 5, que exibe o mapa da média
anual da evapotranspiração de referência do ano de El Niño 1983, um núcleo de
máxima de 5,5 mm/dia, localizado no centro do semi-árido do Nordeste do Brasil. Essa
extensa área compreende o Oeste dos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e
Pernambuco, as regiões centrais dos Estados do Ceará, Piauí e Maranhão.
Entre o centro e litoral do Estado da Bahia encontra-se uma faixa que exibe a
isolinha de 4 mm/dia, correspondendo ao mínimo da ETo no período analisado. Por
outro lado, quando a análise é feita para o trimestre quente do ano de El Niño de 1983
(Figura 6), observa-se que a área de máxima ETo no interior do semi-árido é
consideravelmente ampliada, inclusive atingindo valores de 6,5 mm/dia. Essa área
estende-se, ainda, até o litoral norte do Estado do Ceará. O núcleo de mínima
permanece no Estado da Bahia, entretanto com valor um pouco mais elevado, ou seja,
de 4,5 mm/dia. O mapa da ETo do trimestre frio (Figura 7) também apresenta os valores
máximos no centro do semi-árido, entretanto os núcleos apresentam-se dispersos e
menos intensificados com valores de 5,0 mm/dia. Tal como nas análises anteriores, a
parte central e litoral do Estado da Bahia apresenta os menores valores, com isolinha de
3,0 mm/dia. Essa região, indicada por valores mínimos da ETo, estende-se por todo
litoral leste do Nordeste do Brasil. Os altos valores da ETo nos períodos quente e frio
são atribuídos a alta e baixa demanda evaporativa nesses períodos do ano,
respectivamente. Enquanto que os baixos valores da ETo registrados em algumas
localidades do semi-árido, tal como em Garanhuns, Triunfo, Guarapa, são decorrentes
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
1
23 4 5
6 78 9 1 01 1
1 21 3 1 4 1 5
1 61 7 1 81 92 0 2 12 22 32 4 2 5 2 62 7 2 82 9 3 03 1 3 2 3 33 43 5 3 6 3 7
3 8 3 94 04 1 4 24 3 4 44 54 64 7 4 8 4 95 0 5 1 5 25 3 5 4 5 5
5 6 5 75 8 5 96 0 6 16 2 6 3 6 46 5
6 6 6 76 8 6 9 7 0
7 17 27 3 7 4 7 57 6 7 77 8
7 98 08 1 8 2
8 38 48 5
8 68 7 8 8
8 99 0 9 1
9 29 3
9 4
9 5
Figura 1 - Distribuição espacial das estações meteorológicas do Nordeste do Brasil.
Média Anual
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
6,50
7,00
7,50
8,00
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70 73 76 79 82 85 88 91 94
Estações
ET
o (m
m/d
ia)
1983 1985
Figura 2- Histograma das médias anuais da evapotranspiração de referência nos anos de 1983 (El Niño) e 1985 (La Niña) no Nordeste do Brasil.
Trimestre Quente
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
6,50
7,00
7,50
8,00
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70 73 76 79 82 85 88 91 94
Estações
ET
o (m
m/d
ia)
1983 1985
Figura 3 - Histograma das médias do trimestre quente da evapotranspiração de referência nos anos de 1983 (El Niño) e 1985 (La Niña) no Nordeste do Brasil.
Trimestre Frio
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3,50
4,00
4,50
5,00
5,50
6,00
6,50
7,00
7,50
8,00
1 4 7 10 13 16 19 22 25 28 31 34 37 40 43 46 49 52 55 58 61 64 67 70 73 76 79 82 85 88 91 94
Estações
ET
o (m
m/d
ia)
1983 1985
Figura 4 - Histograma das médias do trimestre frio da evapotranspiração de referência nos anos de 1983 (El Niño) e 1985 (La Niña) no Nordeste do Brasil.
2 . 0
2 . 5
3 . 0
3 . 5
4 . 0
4 . 5
5 . 0
5 . 5
6 . 0
6 . 5
7 . 0
7 . 5
8 . 0
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
Figura 5 - Evapotranspiração de referência no ano de 1983.
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
2 . 0
2 . 5
3 . 0
3 . 5
4 . 0
4 . 5
5 . 0
5 . 5
6 . 0
6 . 5
7 . 0
7 . 5
8 . 0
Figura 6 - Média do trimestre quente da ET0 no ano de 1983.
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
2 . 0
2 . 5
3 . 0
3 . 5
4 . 0
4 . 5
5 . 0
5 . 5
6 . 0
6 . 5
7 . 0
7 . 5
8 . 0
Figura 7 - Média do trimestre frio da ET0 no ano de 1983.
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
2 . 0
2 . 5
3 . 0
3 . 5
4 . 0
4 . 5
5 . 0
5 . 5
6 . 0
6 . 5
7 . 0
7 . 5
8 . 0
Figura 8 - Evapotranspiração de referência no ano de 1985.
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
2 . 0
2 . 5
3 . 0
3 . 5
4 . 0
4 . 5
5 . 0
5 . 5
6 . 0
6 . 5
7 . 0
7 . 5
8 . 0
Figura 9 - Média do trimestre quente da ET0 no ano de 1985.
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
2 . 0
2 . 5
3 . 0
3 . 5
4 . 0
4 . 5
5 . 0
5 . 5
6 . 0
6 . 5
7 . 0
7 . 5
8 . 0
Figura 10 - Média do trimestre frio da ET0 no ano de 1985.do efeito de altitude, haja vista que os modelos utilizados respondem fortemente às variações de
temperatura do ar.
Os mapas da evapotranspiração de referência dos períodos analisados referentes ao ano de La
Niña de 1985 são exibidos nas Figuras 8 a 10. Nesse ano, em face da baixa demanda evaporativa,
em face da alta nebulosidade que provocou bastante chuva nessa região, conforme relatado por
Silva et al. (1999), a média anual da ETo foi bastante inferior a do ano de 1983. Na Figura 8
observa-se núcleos isolados de máximos de evapotranspiração no interior do semi-árido, com valor
de 5,5 mm/dia entre os Estados do Maranhão e Piauí. Observa-se, ainda, extensa área
compreendendo o centro e o litoral do Estado da Bahia com valores mínimos de 3,5 mm/dia. O
mapa da evapotranspiração do trimestre quente (Figura 9), também apresenta núcleos diversificados
de máximos de ETo, com predominância no centro do semi-árido do Nordeste do Brasil, com
valores de 6,0 mm/dia. Nesse caso, mais uma vez o Sudeste do Estado da Bahia caracterizou-se por
apresentar núcleos de mínima (4,0 mm/dia). A distribuição espacial da ETo do trimestre frio (Figura
10), como esperado nesse ano de baixa demanda evaporativa, apresentou-se com valores baixos,
exceto um pequeno núcleo de 5,0 mm/dia localizado entre os Estados do Maranhão e Piauí. Os
menores valores de evapotranspiração foram identificados no Sudeste da Bahia, com valores de 2,5
mm/dia. A recorrência de baixos valores da evapotranspiração naquela faixa são devidos à entrada
de frentes frias nessa área da região Nordeste do Brasil.
As Figuras 11 a 16 exibem os desvios de evapotranspiração de referência. No ano de El Niño
de 1983, conforme o mapa do período anual (Figura 11), os desvios de evapotranspiração foi
positivo praticamente em todo Nordeste do Brasil, apesar de alguns núcleos negativos, bastantes
fracos, localizados no Noroeste do Estado do Maranhão e Sul do Estado da Bahia. O máximo de
desvios positivos ocorreu no centro da região do semi-árido, estendendo-se para o Norte dos
Estados do Ceará e Rio Grande do Norte. Ressalta-se que os desvios positivos de ETo estão
associados à demanda evaporativa superior a média, enquanto os desvios negativos estão associados
a situação inversa. O mapa de desvios da ETo do período quente na região Nordeste do Brasil
(Figura 12) apresenta-se, como no caso do período anual, também com valores positivos em
praticamente toda área de estudo, exceto no caso de alguns núcleos no Sul dos Estados de Piauí e
Bahia. De acordo com a Figura 13 os desvios de evapotranspiração de referência no período frio no
Nordeste do Brasil, durante o ano de El Niño de 1983, também foram positivos em toda área
analisada. Os desvios de isolinhas de ETo de 0,9 mm/dia formam um grande centro de desvios
positivos no interior do semi-árido. No Sudeste do Estado da Bahia ressurge mais uma vez núcleos
negativos de desvios de ETo, bem como na região central do Estado da Paraíba.
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
- 2 . 1
- 1 . 8
- 1 . 5
- 1 . 2
- 0 . 9
- 0 . 6
- 0 . 3
0 . 0
0 . 3
0 . 6
0 . 9
1 . 2
1 . 5
1 . 8
2 . 1
Figura 11 - Mapa dos desvios da ET0 do ano de 1983.
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
- 2 . 1
- 1 . 8
- 1 . 5
- 1 . 2
- 0 . 9
- 0 . 6
- 0 . 3
0 . 0
0 . 3
0 . 6
0 . 9
1 . 2
1 . 5
1 . 8
2 . 1
Figura 12 – Mapa dos desvios da ET0 do trimestre quente do ano de 1983.
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
- 2 . 1
- 1 . 8
- 1 . 5
- 1 . 2
- 0 . 9
- 0 . 6
- 0 . 3
0 . 0
0 . 3
0 . 6
0 . 9
1 . 2
1 . 5
1 . 8
2 . 1
Figura 13 – Mapa dos desvios da ET0 do trimestre frio do ano de 1983.
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
- 2 . 1
- 1 . 8
- 1 . 5
- 1 . 2
- 0 . 9
- 0 . 6
- 0 . 3
0 . 0
0 . 3
0 . 6
0 . 9
1 . 2
1 . 5
1 . 8
2 . 1
Figura 14 – Mapa dos desvios da ET0 do ano de 1985
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
- 2 . 1
- 1 . 8
- 1 . 5
- 1 . 2
- 0 . 9
- 0 . 6
- 0 . 3
0 . 0
0 . 3
0 . 6
0 . 9
1 . 2
1 . 5
1 . 8
2 . 1
Figura 15 – Mapa dos desvios da ET0 do trimestre quente do ano de 1985
4 8 . 0 W 4 6 . 0 W 4 4 . 0 W 4 2 . 0 W 4 0 . 0 W 3 8 . 0 W 3 6 . 0 W
1 8 . 0 S
1 6 . 0 S
1 4 . 0 S
1 2 . 0 S
1 0 . 0 S
8 . 0 S
6 . 0 S
4 . 0 S
2 . 0 S
- 2 . 1
- 1 . 8
- 1 . 5
- 1 . 2
- 0 . 9
- 0 . 6
- 0 . 3
0 . 0
0 . 3
0 . 6
0 . 9
1 . 2
1 . 5
1 . 8
2 . 1
Figura 16 – Mapa dos desvios da ET0 do trimestre frio do ano de 1985.O mapa dos desvios da média anual da evapotranspiração de referência do ano de La Niña de
1985 (Figura 14) indica que nesse período, em praticamente toda área de estudo, a ETo observada
foi inferior à média climatológica, decorrente da baixa demanda atmosférica registrada nesse ano
em toda região. O menor valor encontrado foi interior do semi-árido com a isolinha de -0,9 mm/dia,
bem como de igual valor na divisa dos Estados de Pernambuco e Bahia. Nos trimestres quente
(Figura 15) e frio (Figura 16) os desvios de evapotranspiração foram sistematicamente negativos em
todo Nordeste do Brasil. De acordo com as análises anteriormente efetuadas, observa-se que a
variabilidade espacial de ETo no Nordeste do Brasil está associada aos efeitos da diferença de
latitude e altitude, em face da grande extensão da área e irregularidade do relevo, e, ainda, em
função da variação das condições edafoclimáticas nessa região.
CONCLUSÕES
Os resultados apresentados neste trabalho permitem extrair as seguintes conclusões:
1. Nos anos de ocorrência do evento El Niño a demanda evaporativa no Nordeste do Brasil
é maior o que nos anos de ocorrência do evento La Niña.
2. Os valores baixos de evapotranspiração no Sudeste do Estado da Bahia, em relação aos
registrados no semi-árido do Nordeste do Brasil, podem ser atribuídos à entrada de
frentes frias nessa região.
3. A região de maior demanda evaporativa no Nordeste do Brasil localiza-se numa extensa
área que compreende o Sul dos Estados do Maranhão e Ceará, Oeste do Estado do Rio
Grande do Norte, Oeste dos Estados da Paraíba e de Pernambuco e o Centro do Estado
do Piauí, enquanto a região de menor demanda identificada é no Sul do Estado da Bahia.
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