evoluÇÃo batimÉtrica da baÍa de guajarÁ, … · os dados foram colocados em planilhas em...

3
EVOLUÇÃO BATIMÉTRICA DA BAÍA DE GUAJARÁ, BELÉM/PA Miranda 1 , A.G.O.; Mendes 2 , A.C. 1Universidade Federal do Pará [email protected] 2 Museu Paraense Emílio Goeldi (Programa de Estudos Costeiros) [email protected] RESUMO A Baía de Guajará tem grande importância econômica dada à concentração das atividades portuárias, transporte e armazenamento de derivados de petróleo. A digitalização e análise multitemporal das cartas náuticas de 1962 e 2003, permitiram definir a dinâmica das modificações morfológicas e batimétricas na Baía de Guajará, como deslocamento de canais, progradação e migração de bancos e as alterações no relevo de fundo, inclusive com definições de setores com assoreamento bastante significativo, os quais se configuram como áreas de risco à navegação e a atividade portuária INTRODUÇÃO A Baía do Guajará margeia a cidade de Belém/PA e recebe a contribuição hídrica e sedimentar de dois importantes sistemas fluviais: rio Guamá e rio Acará. É um corpo hídrico com intenso tráfego de embarcações dos mais variados portes, que concentra, em sua margem direita, o setor portuário e atividades de armazenamento de derivados de petróleo (Terminal Petrolífero de Miramar). Estudos de caracterização batimétrica da Baía de Guajará foram realizados por PINHEIRO (1987), SILVEIRA (1989) e MENDES et al. (2005), porém em nenhum houve abordagem relativa à evolução e dinâmica batimétrica e morfológica. Por se tratar de área extremamente dinâmica, influenciada por mesomarés semidiurnas (4m) e com forte sedimentação em alguns setores, o entendimento da evolução batimétrica e do desenvolvimento da morfologia de fundo da Baía de Guajará tem, neste trabalho, um contributo. A Baía de Guajará está situada entre os paralelos 1º22’S e 1º30’ S e os meridianos 48º 25’W e 48º35’W, com cerca de 30 km de extensão e 4 km de largura, (figura 01). Figura 1 - Localização da área METODOLOGIA As Cartas Náuticas nº. 316 editadas em 1962 e 2003 pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) foram digitalizadas em mesa digitalizadora, mediante a utilização do software SPRING 4.2. Foram digitalizados todos os contornos das bordas (zona de contato entre a água e terra firme) e as curvas de contornos das isolinhas, espaçadas regularmente a 5 metros. Em seguida, os dados gerados, foram exportados para o software Surfer 8.0 para a geração dos grids e elaboração dos mapas de contorno batimétrico e blocos diagrama tridimensionais (Figura 2). Para a análise quantitativa multitemporal das formas de fundo foram estabelecidos como limites as isóbatas de 5 e 10 metros. O dimensionamento foi feito através da mensuração, em quilômetros, dos eixos de maior (longitudinal) e menor (lateral) comprimento. Foram definidos 11 transects batimétricos, perpendiculares ao eixo de maior comprimento da Baía de Guajará. Os dados foram colocados em planilhas em formato .xls. Em seguida, foram exportados e processados no software Grapher 2.0, onde foram gerados gráficos dos perfis batimétricos multitemporais.

Upload: phamkiet

Post on 03-Oct-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

EVOLUÇÃO BATIMÉTRICA DA BAÍA DE GUAJARÁ, BELÉM/PA Miranda1, A.G.O.; Mendes2, A.C.

1Universidade Federal do Pará [email protected]

2 Museu Paraense Emílio Goeldi (Programa de Estudos Costeiros) [email protected]

RESUMO A Baía de Guajará tem grande importância econômica dada à concentração das atividades portuárias, transporte e armazenamento de derivados de petróleo. A digitalização e análise multitemporal das cartas náuticas de 1962 e 2003, permitiram definir a dinâmica das modificações morfológicas e batimétricas na Baía de Guajará, como deslocamento de canais, progradação e migração de bancos e as alterações no relevo de fundo, inclusive com definições de setores com assoreamento bastante significativo, os quais se configuram como áreas de risco à navegação e a atividade portuária INTRODUÇÃO A Baía do Guajará margeia a cidade de Belém/PA e recebe a contribuição hídrica e sedimentar de dois importantes sistemas fluviais: rio Guamá e rio Acará. É um corpo hídrico com intenso tráfego de embarcações dos mais variados portes, que concentra, em sua margem direita, o setor portuário e atividades de armazenamento de derivados de petróleo (Terminal Petrolífero de Miramar). Estudos de caracterização batimétrica da Baía de Guajará foram realizados por PINHEIRO (1987), SILVEIRA (1989) e MENDES et al. (2005), porém em nenhum houve abordagem relativa à evolução e dinâmica batimétrica e morfológica. Por se tratar de área extremamente dinâmica, influenciada por mesomarés semidiurnas (4m) e com forte sedimentação em alguns setores, o entendimento da evolução batimétrica e do desenvolvimento da morfologia de fundo da Baía de Guajará tem, neste trabalho, um contributo. A Baía de Guajará está situada entre os paralelos 1º22’S e 1º30’ S e os meridianos 48º 25’W e 48º35’W, com cerca de 30 km de extensão e 4 km de largura, (figura 01).

Figura 1 - Localização da área

METODOLOGIA As Cartas Náuticas nº. 316 editadas em 1962 e 2003 pela Diretoria de Hidrografia e Navegação (DHN) foram digitalizadas em mesa digitalizadora, mediante a utilização do software SPRING 4.2. Foram digitalizados todos os contornos das bordas (zona de contato entre a água e terra firme) e as curvas de contornos das isolinhas, espaçadas regularmente a 5 metros. Em seguida, os dados gerados, foram exportados para o software Surfer 8.0 para a geração dos grids e elaboração dos mapas de contorno batimétrico e blocos diagrama tridimensionais (Figura 2). Para a análise quantitativa multitemporal das formas de fundo foram estabelecidos como limites as isóbatas de 5 e 10 metros. O dimensionamento foi feito através da mensuração, em quilômetros, dos eixos de maior (longitudinal) e menor (lateral) comprimento. Foram definidos 11 transects batimétricos, perpendiculares ao eixo de maior comprimento da Baía de Guajará. Os dados foram colocados em planilhas em formato .xls. Em seguida, foram exportados e processados no software Grapher 2.0, onde foram gerados gráficos dos perfis batimétricos multitemporais.

Figura 02 - Mapas de contornos batimétricos e blocos diagramas da Baía de Guajará de 1962 e 2003. RESULTADOS E DISCUSSÔES a) SETOR NORTE

Em 1962, as profundidades próximas ao Distrito de Icoaraci (setor que apresentava maior profundidade em toda área da baía) eram em torno de 25m. Em 2003 houve expressivo assoreamento (cerca de 50%), ou seja, as profundidades atingiram cotas em torno de 12m. As isolinhas de 14m e 12m sofreram significativo deslocamento para norte (figura 03).

A área correspondente ao Banco da Ilha da Barra, onde a profundidade máxima registrada na década de 60 era de 6m, experimentou acentuado assoreamento e crescimento para norte (49 m/ano), em direção à desembocadura do Furo do Maguari, conferindo ao banco um novo formato, levemente deslocado para nordeste, também em função do alargamento do Canal da Ilha das Onças (6,75 m/ano) neste setor.

O Canal Oriental (canal de acesso ao Porto de Belém) que em quase toda sua extensão apresentava valores em torno de 7m de profundidade, teve sua cota batimétrica aumentada para 10m, evidenciando o caráter extremamente dinâmico deste setor (figura 03).

Figura 03 - Dinâmica batimétrica no setor norte da Baía de Guajará. b) SETOR SUL Em 1962 foram registradas profundidades que variaram de 2 a 5m no Banco Sul da Cidade, 19m na Depressão da Ponta de Porto Alegre, 1 a 8m na Barra de Guajará-Açú. O canal da Ilha das Onças apresentava, em média, 10 a 11m de profundidade e nos bancos do Meio e da Cidade as profundidades máximas atingiam 4m (figura 04). A carta de 2003 evidencia o caráter de assoreamento para este setor da Baía de Guajará. O Banco Sul da Cidade e a Barra do Guajará-Açú foram às feições morfológicas onde foram constatadas as maiores modificações, seguidas do Canal da Ilha das Onças e dos bancos do Meio e da Cidade.

O Banco Sul da Cidade progradou em direção ao sudoeste e sofreu intenso processo de assoreamento, em torno de 50%, inclusive com aumento da área de exposição subaérea durante a baixamar (figura 04). A Barra de Guajará-Açú sofreu retrogradação provavelmente em decorrência do aumento da contribuição hídrica dos canais da Ilha das Onças e do rio Acará (figura 04). O Canal da Ilha das Onças migrou para oeste e houve aumento das cotas batimétricas, atingindo valores médios na faixa de 16 m e valores máximos superiores a 20 m (figura 04). Os bancos do Meio e da Cidade, que na década de 60 apresentavam-se bem individualizados pelo Canal do Meio, aparentemente fundiram-se em decorrência do forte processo de assoreamento, onde as profundidades mínimas decresceram em torno de 25 a 50%, ou seja, atingindo valores na faixa de 3 a 4 metros (figura 04).

Figura 04 - Esquema ilustrativo da dinâmica batimétrica no setor sul da Baía de Guajará. CONCLUSÃO

Os resultados da análise multitemporal da evolução batimétrica, evidenciaram que nas últimas quatro décadas houve significativas mudanças tanto de ordem morfológica quanto batimétrica.

A Baía de Guajará está passando por intenso processo de assoreamento em alguns setores, onde se destaca aquele referente à desembocadura do Furo do Maguari, que apresentou índices mais alarmantes, se levarmos em consideração que o Porto da SOTAVE está instalado às proximidades. Este acelerado assoreamento é decorrente do crescimento e ou migração do Banco da Ilha da Barra para N-NE, coincidindo com o eixo do canal fluvial. Outros setores com elevado grau de criticidade à navegação de médio e grande porte correspondem aos locais onde estão instalados os bancos do Meio e da Cidade que sofreram acentuada diminuição de profundidade e, finalmente, o setor correspondente ao Banco Sul da Cidade que sofreu progradação lateral e diminuição de cotas batimétricas acentuadas. Morfologicamente, o Banco da Ilha da Barra é a feição deposicional mais proeminente, apresentando um caráter altamente instável nas suas dimensões e configurações. Para os setores críticos de assoreamento é recomendável que sejam estão feitos estudos para a definição das taxas de sedimentação por espectrometria gama (210Pb), obtendo-se, assim, o registro histórico do processo deposicional nesses setores e, conseqüentemente, o prognóstico evolutivo mais preciso. REFERÊNCIAS MENDES, A C; SILVA, C.A; FRAZÃO, E.P.; GREGÓRIO, A.M. S. Analise batimétrica da Baia de

Guajará, Belém /Pa 2005. Workshop do Projeto PIATAM. Manaus/AM. 1 CD-ROM PINHEIRO, R.V.L. Estudo hidrodinâmico e sedimentológico do Estuário Guajará-Belém/PA. Belém, Universidade Federal do Pará, Centro de Geociências, 1987. 164 f. Dissertação (Mestrado em Geologia) - Universidade Federal do Pará, Belém, 1987. SILVEIRA, O F.M. Estudo batimétrico sonográfico do Estuário Guajará, Belém/PA. 98 f. Dissertação (Mestrado em Geologia) - Universidade Federal do Pará, Belém, 1992.