evoluÇÃo do sistema bancÁrio em portugal · em 1984, finalmente. o setor bancário é liberado...
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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
EVOLUÇÃO DO SISTEMA BANCÁRIO
EM PORTUGAL
DISSERTAÇÃO APRESENTADA À ESCOLA BRASILEIRA DE
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PARA A OBTENÇÃO DO GRAU
DE MESTRE EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CLÁUDIO MARCOS MACIEL OAc:StLVA
Rio de Janeiro, 1995
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS
ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
CURSO DE MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
E
EVOLUçAo DO SISTEMA BANCÁRIO EM PORTUGAL
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA POR
CLÁUDIO MARCOS MACIEL DA SILVA
APROVADA EM
PELA COMISSÃO EXAMINADORA
ORIENTADOR ACADÊMICO
PROFa. VALÊRIA DE Sb6ZA
MOREIRA DA CUNHA
Agradeço ao orientador, Professor Istvan
Kaznar, a colegas e professores da EBAP e à
Faculdade de Economia do Porto (FEP) , em
especial ao Professor Ricardo Cruz.
SUMÁRIO
lo Introdução 3
D. O Sistema Financeiro em Portugal 5
Caracteristicas do Sistema Financeiro em Portugal 8
ID. Política da União Européia para o Sistema Financeiro 17
Mudanças no Cenário Internacional 17
Rumo a um Espaço Financeiro Europeu 24
As Medidas da União Européia para o Setor Bancário 29
IV. Anos 90: Ajustes Estruturais no Setor Bancário 40
Mudanças na Legislação do Sistema Financeiro 41
O Programa de Reprivatizações 43
A Reprivatização no Setor Bancário 47
Os Grandes Grupos Financeiros 49
Os Grandes Grupos nas Relações Brasil-Portugal 56
v. Índices Financeiros do Setor Bancário em Portugal 60
VI. Conclusão 68
VII. Bibliografia 72
I. 1 NTRODUÇÃO
o presente trabalho tem a intenção de fornecer subsídios sobre a
crescente evolução do sistema bancário em Portugal face à União Européia.
A liberdade de circulação de capitais e a implementação de modelos
referentes à harmonização do setor bancário em toda a comunidade, levou
o governo português a dinamizar o setor, até então controlado em mais
de 800/0 pelo Estado. Entre as mudanças observadas destacam-se o
processo de reprivatizações e de formação de grupos fmanceiros.
O Sistema Financeiro Internacional passou por enormes mudanças
na década de 80. A ocorrência de uma "revolução" nos setores de
informática e comunicações levou à liberalização e desregulamentação
dos sistemas financeiros dos países mais desenvolvidos, propiciando uma
maior competitividade no mercado mundial.
Com o fim das barreiras entre bancos e instituições financeiras não
bancárias, ocasionada pela desregulamentação dos serviços financeiros,
um novo padrão de concorrência surgiu na década de 80. Hoje, as
instituições financeiras movimentam, com enorme facilidade, seus capitais
num slstelna de operação funcionando 24 horas por dia, onde as
transações eletrônicas substituíram o fluxo de notas.
Paralelo a esta tendência, existe no cenário mundial a formação de
blocos econômicos numa perspectiva de governos supranacionais, no
sentido de procurar homogeneizar as regras de mercado nos países
membros. Um processo de integração como o da União Européia torna
se 111aiS importante, dada a pretensão de busca numa união não apenas
3
comercial, mas financeira e monetária.
Deste modo, o trabalho busca identificar as medidas adotadas pelo
Governo de Portugal com relação ao setor bancário e seus agentes internos ./,
na busca de um Espaço Financeiro Europeu. 1--
4
11. O SISTEMA FINANCEIRO EM
PORTUGAL
o sistema financeiro em Portugal é bastante incipiente em comparação
com os seus outros parceiros europeus, não só pelo seu reduzido peso
econômico dentro da União Européia, mas pela ausência de tradição
bancária existente mesmo quando o país disputava uma posição bem
mais avantajada nos séculos passados. O primeiro béU"lcO somente surgiu
em 1821. 1
A relação governo-iniciativa privada desenvolveu-se de forma pendular,
sempre acompanhada das transformações sócio-políticas ocorridas no
país. De acordo com um trabalho apresentado por Calixto (1990), podemos
observar o desenvolvimento do sistema fmanceiro ocorrido em Portugal.
Quadro 1
1ª metade Total 2 Banco de Portugal! >do séc. XIX Banco Com. Porto
fUlDl nenhum 51 todos os bancos do séc. XIX 1910 parei e.! 28 Banco de Portugal
1957 nenhum 17 Banco de Portugal/ bancos coloniais
.1977 total 11 Banco de Portugal
1994 parcial 42 Banco de Portugal
Ao analisarmos o quadro 1 vemos que o sistema financeiro sempre
acompanhou os passos dados pelo regime político em questão, e foi
utilizado como instTIlmento de política econômica, seja por favorecer os
grandes grupos industriais na era salazarista, ou pela manipulação de
5
eficiência em empresas estatais falidas, praticamente no penodo em que
a banca nacionalizada sustentava economicamente estas empresas. O
trtunfo da democracia liberal no país e a inserção na Comunidade
Econômica Européia2 é que permitiu o remodelamento do sistema
financeiro de forn1a competitiva e ideal face aos padrões internacionais,
ainda que tardio.
Os bancos privados apenas tiveram um papel relevante no século XX,
quando foram instrumentos das grandes corporações e conglomerados
industliais, seja em suas atuações em Portugal como em suas colônias
localizadas na África e na Ásia, dominadas até a década de 60. O grupo
Mello, que constituía o poderoso conglomerado industlial da Central Única
Fabril (C.U.F.), dominava os bancos Torta e Açores (IrrA) e Fonsecas e Burnay
(BFB), além de controlar a Império Cia. de Seguros. O Grupo Espírito Santo,
além de possuir um banco próprio, o Banco Espírito Santo Comercial de
I1sboa, representava o Chase Manhattan e tinha ligações com o First National
City Bank, e ainda mais a Cia. de Seguros Tranquilidade, a 2ª maior em
Portugal à época. O grupo Champalinaud (atuante no setor de siderurgia),
controlava o Banco Pinto e Sorto Mayor e a companhia de seguros Mundial
Confiança. E havia, por fim, o Banco Português Atlântico, que era controlado
por um gnlpo de empresários do norte de Portugal.3
Com o fim do Estado Novo, a situação inverte-se com o Estado
assumindo um papel intervencionista no setor financeiro. Dentro de um
processo de nacionalização da economia, de modo a desmantelar e eliminar
os grandes grupos econômicos, o setor bancário foi nacionalizado. Os
bancos que existiam foram fundidos e destinados a atuar de acordo com
as regras e construção da política econômica do governo.
6
Neste periodo. os bancos serviram de instrumento governamental.
concedendo créditos para obtenção da confiança do público. na 1 ª fase
(até 1977), e um posteIior controle do crédito, aliado à manipulação da
taxa de câmbio. beneficiando as exportações e a balança de pagamentos.
As estruturas financeiras foram comprometidas também com o
fmanciamento de empresas por razões políticas e sociais.
Chegava-se ao fim de 1983 com um setor bancário em cIise, dominado
pelo Estado (9 bancos comerciais). com elevado número de instituições
apresentando resultados negativos, que não provisionavam os créditos
duvidosos, em seus balancetes, numa proporção real.
O interesse de Portugal em entrar na então Comunidade Econômica
Européia (hoje União Européia), levou o governo a realizar uma
reformulação na Constituição, permitindo a atuação da iniciativa pIivada
em diversos setores da economia. Quanto ao Sistema Financeiro, este
particularmente foi beneficiado também com a desregulamentação dos
serviços financeiros no mundo inteiro, como um fenômeno setorial surgido
na década de 70.
Em 1984, finalmente. o setor bancário é liberado para a atuação da
in:clativa pri"ID-C,a. A participação do Estado ainda era excessiva, e
representava 90% do setor até 1987.4
A perspectiva de viabilização da Comunidade Européia, com liberdade
de bens, pessoas e seIViços, levou o país a adaptar sua legislação e
reoIientar a sua estratégia dentro do setor financeiro, especificamente o
bancário. O processo de repIivatização de bancos nacionalizados pelo
Estado foi então anunciado, concomitantemente com uma série de
empresas públicas. de modo a reduzir o peso estatal.
7
Quanto ao sistema financeiro, especificamente, foi formada uma
Comissão para elaborar um documento propondo mudanças a serem
realizadas no setor até a data de 1993, vigência do Tratado da União
Européia. Este documento, inspirado no Livro Branco da Comunidade
Européia, denominou -se Livro Branco de Portugal para o Sistema
Financeiro, publicado pelo Ministério das Finanças em 1991.
O Livro Branco para o Sistema Financeiro Português aborda todas as
implicações possíveis para efeitos de liberalização dos serviços financeiros
dentro da Europa, e aponta alguns caminhos a serem tomados. Em linhas
gerais, o Livro Branco propôs uma adaptação dos agentes financeiros às
mudanças no setor, pautadas pela redução da presença do Estado, pela
liberalização das taxas de juros entre as instituições e na condução de
uma política de modo a evitar o controle de um setor por um grupo privado
nacional ou país, de forma a desequilibrar o mercado. J-CARACTERÍSTICAS DO SISTEMA FINANCEIRO EM PORTUGAL
O sistema fmanceiro em Portugal é composto por Instituições de
Crédito, Sociedades Financeiras e Companhias de Seguros. As instituições
bancárias dominam praticamente todo o sistema, pois na maioria das
vezes são acionistas majoritários ou controlam indiretamente as
Sociedades Financeiras e o setor de seguros.
Instituições de Crédito - Regidas pelo Regime Geral das Instituições
de Crédito e Sociedades Financeiras, pelo Decreto-lei nº 29 de 31 de
dezembro de 1992, as instituições de crédito são autorizadas a realizar a
intermediação financeira (captação de depósitos ou outros fundos
8
reembolsáveis e sua aplicação subsequente em ativos fmanceiros) por
conta própria. Classificam-se dentro desta categoria, os bancos comerciais,
a Caixa Geral de Depósitos, os bancos de investimento, as Caixas
Econômicas, Caixas de Crédito Agricola Mútuo, Crédito Predial Português,
sociedades de investirnento, sociedades de locação financeira, sociedades
de "factoring" e "leasing" e sociedades financeiras para aquisições a crédito.
Dentro do modelo proposto pela União Européia, definido pelas suas
diretivas, as instituições de crédito possuem papel de banco universal.
Sociedades Financeiras - grupo de entidades que desenvolvem uma
atividade auxiliar nos mercados financeiros, sendo-lhes vetada a prática
de operações por conta própria. Enquadram-se neste modelo as Sociedades
de Desenvolvimento Regional; Sociedades Financeiras de Corretagem
(Dealers), Sociedades de Capital de Risco; Sociedades Gestoras de
Participações Sociais, de Fundos de Investimento, de Patrimônio; etc.
Companhias de Seguros - grupo de entidades que se destinam a
assunção contratual de riscos individuais através de sua transformação
em riscos coletivos.
o Banco Central é representado pelo Banco de Portugal. Além de ter
o papel de emissor de moeda, o B3J.ICO de Portugal exerce tarnbém a função,
como intermediário das relações monetárias internacionais, de supervisão
e controle das instituições fmanceiras. A sua relação com o governo é
independente, defmida pela sua Lei Orgânica, onde é previsto:
"art. 25 - O Banco pode conceder ao Estado, por via de adequndas operações de crédito, os meios necessários à contra-participação de organismos internacionais cuja atividade principal respeite aos domínios monetário, financeiro e cambial.
9
art. 26 - O Estado pode recorrer a uma conta gratuita aberta no Banco, ctljo saldo devedor não poderá exceder 10% das respectivas receitas correntes cobradas no último ano.
art. 27 - Além dos casos previstos ( ... ) é vedado ao Banco a concessão de crédito ao Estado e a outras pessoas coletivas de direito público, saloo a tomadaJirme de bilhetes do tesouro, em condições acordadas entre o Ministério das Finanças e o Banco e observados os limites legais. "
No âmbito do mercado monetário, a criação de novos produtos
fmanceiros permitiu ao governo que negociasse o financiamento de seus
gastos sem que recorra do crédito bancário, como outrora. Destacam-se
dentre estes produtos os Bilhetes do Tesouro (1985) e os Certificados de
Depósito. A definição pormenorizada destes produtos será descrita, mais
adiante, no desenvolvimento do trabalho.
Os Bancos
No setor bancário, atualmente, existem 42 bancos operando em
Portugal, o que representa um ativo de 153,5 milhões de dólares, 3.336
agências e 61.816 empregados. O setor público apresenta ainda uma
participação grande no mercado, mesmo concluídas as fases de
privatizações. Os Grupos Caixa Geral de Depósitos e Fomento Exterior,
estatais, totalizam cerca de 38% do mercado. É bom lembrar que, em
1987, o setor público somava 900/0 do setor.
Os bancos, de acordo com o artigo 4º da Lei nº 298/92, que regula as
Instituições de Crédito, podem efetuar as seguintes operações:
"a) Recepção de depósitos ou outros fundos reembolsáveis; b) Operações de crédito, incluindo concessão de garantias e outros compromissos, locação financeira e factoring; c) operações de pagamento; d) emissão c gestão dos meios de pagamento, tais como
10
cartões de crédito, cheques de viagem e cartas de crédito; e) transações, por conta própria ou da clientela, sobre instrumentos do mercado monetário e cambial, instrumentos financeiros a prazo e opções e operações sobre divisas ou sobre taxas de juros e valores mobiliários; j) participação em emissões e colocações de valores mobiliários e prestação de serviços correlatos; g) atuação nos mercados interbancários; h) consultoria, guarda, administração e gestão de carteiras de valores mobiliários; i) gestão e consultoria em gestão de carteiras de outros patrimônios; j) consultoria de empresas em matéria de estrutura do capital, de estratégia empresarial e de questões conexas, bem como consultoria e serviços no domínio da fusão e compra de empresas; l) operações sobre pedras e metais preciosos; m) tomada de participaçôes no capital das sociedades; n) comercialização de contratos de seguro; o) prestação de iriformações comerciais; p) aluguel de cofres e guarda de valores; q) outras operações análogas e que a lei lhes não proíba. ..
A composição dos recursos do setor bancário é dada por sua maioria
de clientes, sendo pessoas fisicas ou juridicas, tomadoras ou poupadoras
de crédito.
III Clientes
=:J Fundos Próprios . [J Recursos Inst. Crédito liIl Outros Recursos
[J Créditos a Clientes =:J Aplic. em Títulos O Aplic. r. C. iill Disponibilidades I] Outros
24
04
39
06
19 1 1
Ao analisarmos o quadro 2, vemos que a participação dos clientes na
composição do passivo do sistema bancário está na faixa de 630/0.
Entretanto, este percentual tende a diminuir cada vez mais, uma vez que
com a diversificação das atividades bancárias, outros tipos de
financiamento junto com outras instituições de crédito (principalmente
ligadas aos mercados monetários) vêm ocupando destaque.
Sob o ponto de vista da aplicação de recursos (ativo) do sistema
bancárto, os componentes estão mais distribuídos, sendo que o crédito
concedido aos clientes ocupa uma participação de 39%. A aplicação em
titulos e empréstimos a outras instituições de crédito está na faixa de
240/0 e 19% respectivamente. A composição do ativo ainda se distribui em
disponibilidades (12%) e outras aplicações (incluídas aí as imobilizações,
que significam 30/0 do total).
Os maiores bancos a operar em Portugal são (em US$ milhões):5
, Caixa Geral de Depósitos 27320 2864 272 .. Banco Português Atlântico 15250 913 139 'Banco Totta e Açores 12630 872 139
.• Banco Comercial Português 10987 1110 103 Banco Espírito Santo 12535 726 126 Banco Fomento Exterior 4702 632 77
O Estado ainda detém uma participação importante no setor, controlando
o 1 º e o 6º maiores bancos comerciais. Os bancos recém reprivatizados (2º,
3º e 5º maiores bancos) ocupam também posições estratégicas e apresentam
melhorias em seu desempenho ano após ano, assim como o Banco
Comercial Português, que é o único banco privado criado após a Revolução
dos Cravos que ocupa um destaqut:" ünportante no setor.
1 ?
Entretanto, os bancos portugueses são, a nível europeu, de pequena
dimensão, sendo os seus maiores bancos classificados apenas como
bancos regionais. Este vai ser um importante parâmetro para as
estratégias a serem defmidas pelas instituições, dadas as regras do
Mercado Único de um Espaço Econômico Europeu. De acordo com a
Revista The Banker, a classificação dos bancos portugueses no ranking
mundial ao longo dos anos é:
1-250
251-500
501-790
791-1000
1
O
1
8
1
1
3 4
1
2
5 4
2 3 2 O
3 4 2
O
2
4 1
4
Vemos que apenas 11 bancos situam-se entre os 1000 maiores do
mundo e que nenhum chegou aos 100 primeiros. Entretanto, analisa-se
um crescimento entre os bancos de médio porte em Portugal, visto que,
de apenas 1 banco situado entre os 500 maiores, passou para 6 bancos
em 1994, destacando-se os bancos que passaram pelo processo de
reprivatização em 1989.
Seguros
o setor de seguros é abrangido pelo Decreto-lei n Q 102/94. Os grandes
bancos e as seguradoras francesas são as maiores do mercado. 6 Uma
estratégia adotada na ligação bancos-seguros, como ocorre na França,
tem-se verificado em Portugal, com a utilização das agências bancárias a
vender títulos de seguros. De acordo com a Associação Portuguesa de
Seguros, existem 39 Cias. de Seguros atuando no país. As maiores são: 13
Império Mello 13.0010 Fidelidade CGD 12.6% Tranquilidade Espírito Santo e Credit Agricole 9.4% Mundial Confiança Mundial Confiança 8.7% Bonança Grupo Comercial Português 7.5%
Outras Instituições de Crédito
Sociedade de locação f'manceira - Conhecida também como leasing,
a sua função é a intermediação na cedência temporária de um bem por
parte do proplietárto a um terceiro, nlediante pagamento de uma venda.
Sociedades de factoring - Têm o objetivo de intermediar os créditos
a curto prazo que os fornecedores constituem sobre seus clientes. Trata
se de um instrumento bastante útil para as empresas, principalmente
exportadoras de pequeno e médio porte.
Sociedades Financeiras para aquisições a crédito - Atuam no
financiamento de aquisição a crédito de bens e serviços diretamente
relacionados com as formas de fmanciamento.
Sociedades Financeiras
São empresas que mesmo não sendo classificadas como Instituições
de Crédito estão autolizadas a poder realizar uma ou mais operações
permitidas aos bancos, excetuando-se a realização de depósitos ou fundos
reembolsáveis, o leasing, o factortng e a comercialização de contratos de
seguro. Desempenham funções de intermediários financeiros, geralnlente
na captação de poupanças ou pela prestação de serviços de natureza
financeira e técnica ligada àquelm: flmções. As Sociedades Financeiras 14
existentes em Portugal são, de acordo com o Decreto-lei nº 298/92:
Sociedades Financeiras de Corretagem - Atuam na compra e venda
de valores mobiliários por conta própria ou por conta de terceiros. Atuam
também na intermediação das ofertas públicas de transação, emissão de
obrigações e a concessão de crédito a clientes para a aquisição de valores
mobiliários. São os chamados "dealers".
Sociedades Corretoras - Apesar de também atuarem na compra e venda
de títulos mobilifuios e na intermediação das ofertas públicas de transação,
não podem realizar estas operações por conta própria. Estas sociedades
possuem algumas restrições também quanto a alguns tipos de intermediação
financeira, definidos pelo Código de Mercado de Valores Mobiliários.
Sociedades de Capital de Risco - Atuam na participação temporária
de capital social de empresas, de forma a apoiar e promover o investimento
e inovação tecnológica nos projetos destas. Realizam estudos técnico
econômicos de viabilidade de empresas, de novos projetos de investimento,
nas condições e modalidades do respectivo fmanciamento. Executam
também estudos ou projetos visando a reorganização, concentração ou
qualquer outra forma de racionalização da atividade de empresas em que
t 1-1 rt"-end.am pa lClpaçao.
Sociedades Mediadoras no Mercado Monetário e no Mercado de
Câmbio - Intermediam a participação do público e das instituições não-
bancárias nos mercados monetário e cambial. Estas sociedades não estão
autorizadas a exercer operações ativas e não podem agir por conta própria,
dada sua função de mediadora.
Sociedades Gestoras de Fundos de Investimento - atuam como
'-',1ptadoras de reCllr~()S de diversas poupanças para a formação de um 15
fundo em um determinado investimento (mobiliário ou imobiliário), e são
responsáveis pela sua administração.
Sociedades Emitentes ou Gestoras de Cartões de Crédito - atuam
na administração de cartões de crédito, assim como cartões garantia de
cheque e cartões de débito.
Sociedades Gestoras de Patrimônio - Têm a função de administrar
bens pertencentes a terceiros, assim como de prestação de serviços de
consultoria em matéria de investimento.
Sociedades de Desenvolvimento Regional - Buscam a realização
de investimentos em determinada região através de concessão de créditos
na participação no capital, ou outras formas de incentivo. Muitas destas
sociedades também atuam em operações previstas pela Comunidade
Européia (por intermédio do Quadro Comunitário de Apoio), como estudos
econômicos, prestação de serviços, etc.
Sociedades Administradoras de Compras em Grupo - Consistem
na intermediação de compras feitas por um conjunto de participantes, o
qual as sociedades se responsabilizam desde o recebimento dos fundos
até a liquidação dos bens ou serviços prestados.
Agências de Câmbio - Atuam na realização de operações de compra
e venda de notas ou moedas estrangeiras ou cheques de viagem. Foram
inseridas dentro do Decreto-lei nº 298/92 como Sociedades Financeiras
de modo a obter um controle mais efetivo pelo Banco de Portugal.
Outras sociedades financeiras também atuam em Portugal, embora
com menor grau de relevância. A Empresa Financeira de Gestão e
Desenvolvimento S/A (FINANGESTE) também é classificada como uma
sociedade fmanceira. 16
111. POLíTICA DA U N tÃO
EUROPÉIA PARA O SISTEMA
FINANCEIRO
MUDANÇAS NO CENÁRIO INTERNACIONAL
Para compreender este processo de integração entre sistemas
fmance:iros de diversas nações, é preciso acompanhar as mudanças no
cenário internacional, onde destacam-se 3 pontos: o papel da tecnologia,
os euromercados e os blocos econômicos.
o Papel da Tecnologia
O avanço da tecnologia de informação nas últimas décadas
ultrapassou qualquer tipo de propósito. Dia após dia, surgem novas
sistemas e produtos na área de informática, que otimizam as operações
fmance:iras, sejam interbancárias ou com clientes e particulares.
A indústria das telecomunicações, segundo o pesquisador americano
John Nabbit (l994) é pautada em quatro grandes idéias que levaram a
este rápido avanço no setor:
. combinação de tecnologias - a interação telefone/televisão/
computador, que leva a um aumento da capacidade de comunicação .
. alianças estratégicas - surgimento de inúmeras fusões,joint ventures
e alianças de diversos tipos de forma alucinante, permitindo acelerar a
tecnologia. Elas têm origem a partir de diversas multinacionais do setor.
17
. criação de uma rede local- o avanço do setor leva à busca frequente
de uma rede de telecomunicações global e ininterrupta, permitindo que
todas as pessoas do mundo estejam conectadas umas às outras .
. massificação dos telecomputadores - é necessárto que todo este
processo se complete pela descentralização e individualização da
telecomputação.
Este processo de inovação tecnológica tem permitido alterar
radicalmente a organização e o funcionamento do sistema fmanceiro.
Criaram -se novas técnicas de informatização que agilizam a capacidade
de informações e de operações na atividade. Como exemplos práticos de
sua importância, citamos a utilização de modernos sistemas de
transmissão de dados, os centros financeiros interligados, a atividade
bancárta eletrônica (assim como o desenvolvimento dos seus produtos aí
derivados: os ATM, "home banking", etc.).
Os Euromercados
o franco desenvolvimento dos meios de informática e de comunicação
e o fim do tratado de Bretton Woods (em março de 1973) permitiu o
cescnvo: ... ilnento dos Inercados financeiros e transação em moedas fora
do país de origem, concepção dos Euromercados. O advento dos
Euromercados permitiu a viabilização de inúmeros fluxos vultosos de
capital, podendo citar como exemplo o movimento do capital das
multinacionais, os empréstimos aos países do Terceiro Mundo, os
programas de organização internacionais em escala global, etc.
Os Euromercados serviram bem para escapar das regulamentações e
restrições impostas pelos governos pela TIl' )vln1entação de capitais. Além 18
das operações em moedas, os euromercados atuam nos setores de
concessão de créditos e lançamentos de títulos. O dólar, como moeda
mais aceita mundialmente, é o principal ícone de transação nestes
mercados, sendo denominado eurodólar na efetivação dessas transações.
As transações dos Euromercados reforçam a liquidez internacional,
pela garantia que representam aos agentes econômicos. Isto se dá devido
à grande solidariedade entre os agentes do sistema, por via de sistemas
de compensação, conseguinde inclusive evitar a "quebra" de um banco.
Os Blocos Econômicos
o processo de integração econômica entre as nações não pode ser
considerado como "modismo" ou qualquer tipo de descrição superficial,
por ser um processo irreversível. Ele é mais do que uma resposta ao
processo de globalização da economia, é uma tentativa de coordenar
conjuntamente os problemas existentes na sociedade contemporânea,
caracterizando-se pela busca do bem-estar social, a partir da ação
cooperativa.
Entretanto, este processo realiza-se de forma lenta e negociada passo
a passo. O prirneiro pressuposto é o de que os beneficios sejam maiores
que os custos, dentro de cada Estado envolvido na negociação. Os governos
dos estados-membros, refletindo os agentes econômicos e até mesmo a
população (em muitos casos referindo-se à adesão por meio de plebiscito)
optam e negociam o que, quando e como vai realizar-se o processo de
integração econômica.
As economias de integração seguem várias etapas para a concretização
e aprofundanlento do processo. Dana a experiência inicial da União 19
Européia. estas etapas são caracterizadas por modelos descritos abaixo.
o Zonas de Livre Comércio - os estados-membros eliminam todas as
barreiras comerciais existentes entre si. mas conservam sua liberdade de
determinação de suas políticas frente ao exterior. Visa maiores níveis de
produção dado o crescimento de mercado.
o União Aduaneira - são iguais às Zonas de Livre Comércio. com a
diferença de adotar relações comerciais coml.ms para os países não-membros.
A intenção é um aumento de barganha na mesa de negociações comerciais.
o Mercados Comuns - são Uniões aduaneiras que permitem uma
completa liberdade de fatores através da eliminação de fronteiras entre
capitais. pessoas. serviços e bens no espaço comunitário. Visa
principalmente a redução dos preços dos fatores com a mobilidade
transfronteiriça e a redução dos custos.
o União Econômica - quando os mercados comuns tinham condições
para a unificação das políticas monetárias e fiscais. dentro de um regime
macro-econõmico comum. sustentado pelas autoridades governamentais
dos estados-membros. A moeda única entra nesta fase.
o Integração Econômica Completa ou União Política - quando os
estadoS-lnembros transformam-se em uma só nação. As autoridades
centrais controlam além das políticas macroeconômicas. e também são
responsáveis frente a um parlamento unificado.
O regionalismo e a organização em comunidades vizinhas é sem dÚvida
uma tendência mundial. Existem atualmente diversos blocos e acordos
comerciais. com o agrupamento de diversos países-membros. seja em
qualquer nível de organização. As principais organizações existentes são:
20
· União Européia (UE) - É o agrupamento mais avançado no mundo.
Composto por 15 países, a União Européia surgiu com o Tratado do Carvão
e do Aço entre 6 países, que foi estendido com o passar dos anos a outros
países e aprofundoll seu campo de atuação econôrnico e político. ~Ei.
permite a livre movinlcntação de bens, serviços, pessoas e capitais, e
caminha para a viabilização de uma moeda única.
Acordo de Livre Comércio Norte-Americano (NAFTA) - Composto pelos
Estados Unidos, Canadá e México. Permite uma União alfandegária entre
estes países e prepara o alargamento para outros países da América Latina.
Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) - Composto pelos maiores
países da América do Sul, desempenha um papel de livre-comércio entre
os países-membros. O aprofundamento de suas relações depende de uma
estabilidade macroeconômica.
Quanto à constituição de políticas públicas dentro dos blocos
econômicos, ela deverá obedecer os seguintes pressupostos: ser conduzida
por todos os estados-membros em comum acordo para que não haja
distorção nem favorecimento de alguma região, mesmo que não
intencionalmente; aumentar o número de participantes no processo de
fonnulação e elaboração das políticas, respeitando-se os estados menlbros
e os grupos envolvidos; regulamentar as políticas por via de instrumentos
jurídicos que assegurem o compromisso dos estados-membros de aprová
los; e garantir prazos para que estas políticas sejam executadas.7
As políticas a serem adotadas no campo da economia não devem ser
restritas ou demasiadamente regulamentadas. de modo que não se crie
uma desvantagem frente ao exterior. Também não podem permitir que
distorções levem à falência de uma região frente a uma outra mais
21
competitiva no momento. Este equilíbrio a ser alcançado é a chave para a
condução com sucesso da maximização vinda com a integração econômica.
Os atores na formulação da política pública de integração ainda são
os Estados Nacionais que, representados por seus técnicos, discutem
dentro de um fórum que abrtga a integração, os seus interesses, as relações
de causa-efeito nas medidas a serem adotadas e a negociação de uma
abertura de poder de soberania em prol do objetivo comum, na formação
do bloco econômico. Não se pode deixar de mencionar o papel dos agentes
econômicos privados, tais como exportadores, industriais e outras figuras
na economia ativa que intercedem junto a seus organismos de classe
(sindicatos, associações), tendo os seus interesses localizados face ao
problema que irá gerar a adoção de uma medida de caráter setorial. Veja
a força dos agricultores franceses dentro da União Européia, quanto à
Política Agrícola Comum (PAC) e os subsídios nela envolvidos.
Desta IOllna, podeIl1os assinalar que o prtncípio de uma etapa de
política pública, no que se refere à formulação das medidas, tem que ser
exaustivamente negociado com todos os setores envolvidos, de forma a
garantir o sucesso para ambas as partes. Qualquer desvio, erro ou conflito
não resolvido criado na etapa de formulação pode comprometer toda a
política em questão.
A aprovação das medidas é geralmente feita pelos chefes de governo
das nações envolvidas, por meio de tratados, nos quais eles se
comprometem a, até uma determinada data, adaptar as legislações locais
em prol da vigência do tratado. Os governos têm, de acordo com as suas
necessidades locais, prazos para o cumprimento das metas estabelecidas
no campo jurídico. Com a evolução do processo de integração, o fator
22
desempenho será também analisado, pois quanto maior a integração,
mais as economias dos paises têm de estar integradas ou de certa forma
dentro de padrões que tendem a amenizar a diferença.
Iv1ais uma vez voltando ao caso europeu, a integração foi feita por
etapas a serenl cumpridas, não só pela modificação pura e simples na
legislação, mas tambénl pelo desempenho específico de cada país. Uma
maior prova é o Sistema Monetário Europeu, onde é preciso que o país
esteja dentro de alguns parâmetros alinhavados previamente entre os
representantes, para que não comprometa o projeto.
A interdependência de economias já afirma o caráter de
irreversibilidade do processo de integração econômica. Isto não significa
que um recuo venha a ocorrer em alguma situação de crise mundial, pois
o tema é recente. Porém, o processo deve ser feito negociado e seguro das
intenções das nações envolvidas.
A necessidade de criação de órgãos neutros, supranacionais, ainda é
recente e só existe a experiência européia. Pode ser que, com a evolução
dos outros blocos, haja o desenvolvimento de modelos deste tipo, mas no
estágio de Zonas de Livre Comércio e Uniões Aduaneiras, a ausência destes
A avaliação, a supervisão e o controle são feitos pelos países de origem
ou pelos órgãos comunitários, diferentemente da matéria a ser envolvida
na questão. O controle exercido quanto às ações de política agricola é
efetuado no espaço comunitário, quanto aos subsídios dados aos
agricultores dos países. Entretanto, existem alguns casos, no que se refere
ao Sistema Financeiro, em que a fmalização exercida nos bancos é de
caráter nacional, como o princípio de controle do país rk origem e de
23
reconhecimento mútuo. Isto ocorre dada a multifacetação dos sistemas
europeus, com cada país apresentando uma caractenstica diferente e
legislação também no que diz respeito.
RUMO A UM ESPAÇO FINANCEIRO EUROPEU
A desregulamentação e a modernização dos mercados financeiros
levaram a uma redução do custo dos créditos, e com isto garantem um
acesso mais fácil ao capital. Contudo, este processo poderá favorecer o
desenvolvimento da especulação e causar instabilidade nos mercados. A
necessidade de elaboração de uma política pública para o setor financeiro
é vital para estabelecer uma relação entre o setor e o poder público.
Até as últimas décadas, com a limitada autonomia das políticas
econômicas nacionais em suprimir os efeitos perversos da globalização,
[' "1,.: -- ....,. •. -. ~ .. ,--'
de enfrentar estes problemas conjuntamente. Assim, foi montado um
modelo de integração econômica capaz de dar respostas aos desafios
enfrentados pela economia mundial.
Além das modificações ocorridas no âmbito econômico nos anos 80,
ven;'~::1S um? COilStituiçáo prGgres::.Jiva de Uúl espaço de políticas públicas,
ao nível dos blocos econômicos, pelos países integrantes da União
Européia. A convergência européia para englobar diversos estilos de
políticas públicas abrange a compreensão de três níveis básicos: a
transformação de uma agenda política européia; a constituição de
um espaço comunitário de representação de interesses e a
transformação dos modos de decisão.
24
o processo de integração fmanceira na Europa tem suas oIigens em
meados da década de 60, onde o termo é refeIido pela pIimeira vez no
Programa de Ação da Comunidade. Um modelo de integração mais
estruturado só é elaborado no R!f:latório Werner, nos anos 70. O
documento descrevia os caminhos a serem tomados em um processo
composto em três etapas. Como etapa inicial, o relatóIio propunha uma
realização de uma área de livre circulação entre bens, serviços, pessoas e
capitais. Os estados-membros teIiam que articular uma coordenação entre
políticas nacionais de forma a obter uma congruência entre países,
evitando assim desequilíbIios regionais internos à Comunidade. A partir
desta realização, o próximo caminho seIia o alcance de uma União
Monetária, com unla só moeda. A inviabilização deste projeto na década
de 70 foi dada pela cIise econômica mundial, com a cIise do petróleo, a
falência do tratado de Bretton Woods, e o posteIior fracasso das chamadas
"Serpentes Monetárias" no seio da Europa.
Em 1979, começa a funcionar o Sistema Monetário Europeu (SME) ,
que consiste na instituição de um regime cambial com faixas de vartação
das suas taxas na ordem de ± 2,25%. O Sistema Monetárto Europeu foi
inicialmente composto por oito países (França, Alemanha, Itália, Bélgica.
Holanda, Luxernhurc:o, IrLlJlctl e Dinmn:Lrca) sendo, posteriormente.
ampliado com a entrada da Espanha (1989), Grã-Bretanha (1990) e
Portugal (1992). A cIiação de uma moeda única européia, o ECU (European
Currency Unit), foi outra medida adotada pela Comunidade Européia,
apenas para a realização de contratos.
O Ato Único Europeu. em 1986, revisa os tratados da Comunidade e
torna-se mais objetivo quanto aos seus compromissos: a cIiação de um
25
espaço unificado onde pessoas, capitais, bens e serviços pudessem circular
com verdadeira liberdade, fIxando a realização deste mercado interno
comunitário em 1993. Para o cumprimento deste objetivo, os anos
compreendidos neste espaço foram destinados à implementação de uma
série de medidas que vão desde a harmonização fiscal até as diretivas no
setor de seguros.
O Relatório Delors constituiu um aprofundamento ainda maior
quanto ao processo de integração comunitária. A aprovação do Relatório
significava a transformação da Europa em uma só política, uma só moeda.
Foram estipulados prazos para a construção de uma União Européia. O
Tratado de Maastricht referendou o Relatório Delors, mesmo con1 as
resistências enfrentadas em cada estado-membro (os plebiscitos na
Dinamarca e na França; o euroceticismo britânico). Dentro da construção
da União Econômica Monetária encontram-se diferentes etapas a serem
desenvolvidas e é previsto que os países que consigam cumprir com os
objetivos definidos em uma etapa, gradualmente passem a integrar outras
etapas. É o postulado da "Europa a duas velocidades H polêmico, pois
permite que os países mais adiantados aprofundem logo o processo de
integração, em vez de esperar que os resultados de todos os países que
compõem a União Européta sejam satisfatórios.
A construção da União Econômica e Monetária é subdividida em três
etapas que
membros.
gradativamente buscam a Integração entre os estadO~
26
1ª fase - Até dez/1993
Política Econômica
· reforça a coordenação de políticas nacionais
fortalecimento ela política orçamental e fiscal corrigindo possíveis
desequilíbrios
· Criação de um Conselho Europeu que determina os projetos de interesse
da Política da Comunidade.
Política Monetária
· livre circulação de capitais
· criação de um Comitê de Bancos Centrais
adesão de todos os países da União Européia ao SME, alcançando a
faixa de ± 2,250/0 da variação cambial (não alcançada até hoje)
· controle do crédito do Estado por parte dos bancos centrais e fim do
acesso privilegiado às empresas estatais.
2ª fase -Até 1998
Política Econômica
. centrada no controle orçamentário
. fI - - 1 lt 1 50/- Pod· d <::> ~ -él In açao nao poc e 11 rapassar em ~, 10 a m.v·' la os 0 pmses com
menor subida de preços
. fixa o limite para o déficit orçamentário em 30/0 do PIB, e para a dívida
pública em 60% do PIB
fmanciamento público com recursos em mercados de capitais como
qualquer agente econônlico
27
Política Monetária
· assegurar a independência legal e estatutária para os bancos centrais
· bancos centrais proibidos de conceder crédito a descoberto a organismos
comunitárIos ou entidades públicas nacionais
· criação do Instituto Monetário Europeu, que visa: reforçar a cooperação
entre os bancos centrais e coordenar as respectivas políticas
monetárias; supervisionar o mecanismo cambial do SME e gerir
mecanismos de créditos; e, por fim, gerir o sistema de criação de
ECU's e promover a sua utilização
3ª fase - Até 2002
Política Econômica
. controle ainda maior de déficits orçamentários sob o risco de punição
aos estados-membros
Política Monetária
. irrevogabilidade das taxas de câmbio entre as moedas pelo ECU
criação do Sistema Europeu de Bancos Centrais (SEBC), que irá,
conjuntamente com o Banco Central Europeu, ser responsável
por toàa a coordenação de políticas monetárias dos Estados
membros e pelo controle de preços.
Com estas políticas públicas elaboradas no âmbito da União Européia,
os objetivos finais a serem alcançados são a realização do mercado único e
das novas regras orçamentárias; de uma união monetária baseada em um
Banco Central Europeu; e na constituição de uma moeda européia, capaz de
28
competir com o dólar e o iene. O comportamento dos agentes econômicos
(empresas, sindicatos, consumidores, etc.) será baseado no modo de
implementação por parte, não só da União Européia, como dos estados
nacionais, e sua reação à nova ~strutura con1petitiva a ser elaborada.
Laranjeiro (1994) analisa as vantagens e desvantagens do Sistema
Monetário Europeu sob três aspectos: as vantagens e desvantagens per
manentes, os efeitos transitórios e as perdas de soberania. Evidentemente,
as vantagens trazidas pelo SME são enormes, principalmente advindas
com a redução dos custos com a moeda única e a utilização de economias
de escala. Contudo, é importante observar que é necessário um esforço
por toda a Comunidade, de modo a evitar desequilíbrios regionais. Quanto
aos efeitos transitórios, a questão que o autor levanta é se o conjunto de
variáveis utilizado no período de transição rumo a uma convergência
nominal correspondem a uma convergência real, de qualidade de vida
das pessoas, de forma a não comprometer o processo de integração mais
adiante. Por fim, o conceito de soberania é levantado sobre a perda real
que os estados-membros terão em termos de políticas públicas em prol
da União Européia, que pode transformar-se em um problema em períodos
de dificuldades que cada estado-membro pode atravessar.
As MEDIDAS DA UNIÃO EUROPÉIA PARA O SETOR BANCÁRIO
A necessidade de padronização entre diversos sistemas financeiros
dentro de um Espaço Europeu insere-se nos objetivos da União Européia,
em busca de um mercado único. Com a adoção de diversas medidas
comuns a cada estado-membro, o resultado esperado é defmido por "um
conjunto de inidnfivas que desencadeiam um cOl1junto de relações 2C
f
interativas que produzem os efeitos necessários para a integração da
economia européia".
O Espaço Financeiro Europeu, proposto pelo Relatório Delors e
ratificado pelo Tratado de Maastricht consiste na criação de um mercado
único fundamentado em cinco premissas fundamentais: a liberdade de
estabelecimento de instituições fmanceiras; liberdade de prestação de
serviços; harmonização e reconhecimento mútuo das regulamentações
nacionais; a liberdade de circulação de capitais; e a União Monetária.
Liberdade de Estabelecimen to
O princípio da liberdade de estabelecimento consiste na liberdade de
qualquer instituição financeira européia em instalar -se em outro estado
membro sem necessidade de requerer autoIização às autoridades do estado
acolhedor. Entretanto, existem limitações de legislações locais que possam
atingir as regras de concorrência, de modo a impedir a entrada de um
determinado estabelecimento de uma instituição financeira ou a aquisição
de uma outra instalada no país.
Livre prestação de serviços
A liberdade também é estendida quanto à prestação de serviços por
parte de qualquer instituição de crédito, com sede em algum dos estados
membros, mesmo que não haja nenhuma sucursal ou qualquer outra
dependência. Elas obedecem, porém, as regulamentações e supervisões
aplicadas na sede em que está instalada.
30
Um exemplo, para melhor entender como é o funcionamento desta
premissa, é o fornecimento de um tipo de produto fmanceiro por um
banco espanhol para um residente na França, que poderá usufruir deste
serviço sem que haja uma só sucursal ou filial do banco na França. Porém,
o banco que presta este serviço está sujeito ao controle e regulamentação
do país onde tem sua sede, no caso a Espanha.
Harmonização e reconhecimento mútuo das regulamentações dos estados-membros
Todas as instituições fmanceiras estão sujeitas à regulamentação do
estado-membro onde possui a sua sede, e não de acordo com as legislações
nacionais onde estiverem instaladas. Este procedirriento aplica-se também
às sucursais instaladas em outros países da União Européia. De modo a
evitar que se crie uma concorrência desleal por parte dos estados-membros
que possuam regras mais flexíveis, a União Européia aprovou diretivas e
recomendações que estabeleçam uma harmonização mínima das
regulamentações aplicadas às instituições financeiras.
Liberdade dos movimentos de capitais
Em um processo que desenvolveu -se de forma morosa, a liberação
dos movimentos de capitais foi fmalmente conseguida em 1993, com a
adesão de todos os estados-membros. Apesar de ser um avanço quanto
ao desenvolvimento do sistema financeiro a nível europeu, para os estados
membros foi uma decisão difícil de aprovar, pois acarreta uma perda de
autonomia perante o controle dos movimentos de capitais entre países
da União Européia. A interdependência entre as várta.c;;; políticas monetártas
31
dos estados-membros é clara e necessita ser mantida, visando colaborar
com a estabilidade do sistema, que seria de forma muito mais vulnerável
caso a descongruência de diversas políticas monetáIias se flzesse presente.
União Econômica e Monetária
Por fim, para completar todas as premissas feitas pela União Européia
para a reestruturação do sistema financeiro, o processo de união econômica
e monetária. Todas estas medidas não teriam razão de se implementar se
não houvesse o reforço de coordenação de políticas monetártas e econômicas
de diversos estados-membros em uma só política européia, uma só moeda.
A integração dos sistemas financeiros, além de ser um fenômeno mundial,
também é objeto de aprofundamento dos blocos econômicos.
Estas premissas serviram de suporte para a montagem de um Espaço
Financeiro Europeu. O que foi apresentado pela Comissão das
Comunidades Européias foi transfonnado em legislação comunitária
através de diversas diretivas, recomendações e resoluções. A primeira
vez em que se propôs um Espaço Financeiro foi no Tratado de Roma, que
j t. pl'cv_~a a liberdade de estabelecimento e a livre prestação de serviços
referentes apenas aos movimentos de capitais. A liberalização referente
aos serviços bancáIios e de seguros deveria "efetuar-se de harmonia com
a progressiva liberalização da circulação de capitais". , ~
Em 1973 surge a primeira diretiva referente aos serviços banCáriOS~ que suprimia as restrições à liberdade de estabelecimento e à livre
prestação de serviços. Entretanto, tais medidas estavam restritas apenas
32
à discriminação entre os cidadãos dos estados-membros e os estrangeiros.
Na prática, as medidas se tornaram, em grande parte, inoperantes.
A primeira diretiva sobre coordenação bancária surge de fato em 1977,
com a aprovação das primeiras medidas rumo a um mercado comum no
setor. A diretiva já apontava a premissa do controle no país de origem,
além de estabelecer um sistema de autorização para as instituições
financeiras exercerem sua atividade dentro do espaço da União Européia.
Outros aspectos também importantes na direüva foram a eliminação da
maioria dos obstáculos à liberdade de estabelecimento e a introdução do
princípio básico de cooperação entre as entidades supervisoras de
diferentes estados-membros (criando o Comitê Assessor Bancário).
Em 1983, o Conselho das Comunidades Européias aprova uma cliretiva
relativa à fiscalização dos estabelecimentos de crédito numa base consolidada.
Esta diretiva foi atualizada em 1992, e além de reforçar o sistema de controle
padronizado dentro do espaço europeu, atua também no controle dos grupos
financeiros e suas ramificações dentro e fora da Europa.
O Livro Branco elaborado em 1985 levantou todas as dificuldades
existentes para a concretização do Mercado Único e propôs planos
concretos para o processo de integração européia. Entre as 300 decisões
propostas pelo documento, a parte a que se refere ao sistema financeiro
é a necessidade de uma nova política para o setor em três pilares: a harmo
nização mínima das regulamentações nacionais, o reconhecimento mútuo
e o controle pelo país de origem. O Ato Único Europeu ratificou as propos
tas do Livro Branco e definiu um prazo até 1992 para a supressão de
barreiras técnicas, materiais e fiscais existentes em todo o espaço europeu.
33
A partir daí, foi desenvolvida a segunda diretiva de coordenação
bancária, de modo a adaptar as medidas que o Livro Branco da Comissão
considerava indispensáveis para a criação de um mercado comum dos
serviços bancários. Esta diretiva modificou e complementou a primeira
diretiva de forma mais abrangente, para cumprir com os requisitos
descritos anteriormente (os três pilares da política do Livro Branco). A
segunda diretiva foi aprovada em 1989, composta por seis títulos e vinte
e cinco artigos. Ela aborda diversos temas, como o campo de aplicação, a
harmonização dos aspectos essenciais das regulamentações bancárias, a
aplicação de reconhecimento mútuo e, por fim, a delimitação dos poderes
de execução da comissão.
O critério utilizado para determinar as instituições financeiras que
podem usufruir do espaço financeiro europeu é o da instituição de crédito.
Já na primeira diretiva, a instituição de crédito foi o modelo escolhido,
caracterizando-se como "empresas cifja atividade consiste em receber do
público depósüos ou outros fundos reembolsáveis e em conceder crédüo
por sua própria conta". A segunda diretiva não alterou o conceito de
instituição de crédito, mas ampliou para determinadas instituições
financeiras o princípio do reconhecimento mútuo entre os estados
memhros. As instituições financeiras que não cabern na definição de
instituição de crédito são todas aquelas cuja principal atividade consiste
em tomar participações ou exercer uma ou mais atividades financeiras
listadas pela Diretiva, e que não podem receber depósitos e outros fundos
reembolsáveis. Deste modo, a Comissão Européia evita as possíveis
vantagens comparativas de bancos universais pertencentes a países que
possuam regulamentos lnais flexíveis, em contrapartida daqueles que
34
são inibidos pela legislação local de exercerem o controle direto de
atividades fmanceiras listadas pela diretiva.
A segunda Diretiva contempla a harmonização de regras básicas de
legislação bancária, que contribuem para o funcionamento do espaço
financeiro europeu em condições de pleno funcionamento da liberdade
de estabelecimento e da prestação de serviços pelas instituições de crédito.
A harmonização dos aspectos essenciais das regulamentações bancárias
subdivide-se em três títulos: condições de autorização, relações com países
terceiros e condições de exercício.
Condições de Autorização
- Capital inicial mínimo necessário para a constituição de uma
instituição de crédito: cinco milhões de ECU s; abrindo um precedente
para os estados-membros autorizarem instituições de crédito pertencentes
a categorias particulares (como cooperativas de crédito) mas nunca inferior
a um milhão de ECUs e que seja comunicado à Comissão da União
Européia, para publicação.
- Obrigatoriedade por parte da instituição de crédito em prestar
in[onnações aos estados-nlembros onde possui sua sede, revelando as
identidades dos principais acionistas e o montante de suas participações
desde que sejam iguais ou superiores a 10%.
- Exigência de uma autorização bancária única, ou seja, qualquer
instituição de crédito que esteja autorizada num estado-membro pode
exercer livremente a sua atividade em todos os outros estados-membros
(uma forma de licença bancária européia).
35
Relações com países terceiros
- A necessidade de um tratamento de reciprocidade por parte de países
terceiros cujos bancos atuam na União Européia.
- Informação dos Estados-rnembros perante a Comissão no que diz
respeito às filiais de bancos de países que tenham problemas essenciais
em matéria de bancos com a União Européia.
- A Comissão tem poderes para impedir que uma instituição de crédito
estrangeiro possa usufnlir do mercado comum, se não for cumprido o
princípio de reciprocidade entre algum estado-membro.
Condições de exercício da atividade
- Os fundos próprios não podem ser inferiores ao montante exigido
para o capital inicial, de modo a ajudar os pequenos e médios bancos que
não possuem o mínimo de 5 milhões de ECUs, mas que funcionam
normalmente sem ter problemas.
- Controle dos principais acionistas, que devem informar às
autoridades dos estados-membros a tomada de participação quando seus
direitos de voto ultrapassem ou desçam nos patamares de 200/0, 30% ou
50?-0, e tarnbélTI as instituições de crédito devem prestar informações
anuais sobre a identidade dos principais acionistas.
- Limitação das participações, por parte das instituições de crédito,
em sociedades não-financeiras, correspondente a 150/0 dos fundos próprios
em uma só sociedade, e de 600/0 do total dos fundos em empresas
controladas não financeiras.
- Processo de contabilidade e de supervisão em base consolidada nas
participações no setor f1, i; nceiro 36
- Reforço do sigilo bancário delimitado nas informações intra e extra
comunitárias
- Delegação de responsabilidade ao país de origem da instituição de
crédito na supervisão bancária. É a aplicação do princípio de controle no
país de origem.
A aplicação do reconhecimento mútuo estabelece também o procedimento
a ser adotado no caso de uma sucursal a ser estabelecida em outro estado
rnembro; na livre prestação de seIViços e nas modalidades de exercício dos
poderes residuais das autoridades dos países de acolhimento.
Por fim, a segunda diretiva de coordenação bancária define os poderes
de execução da Comissão da União Européia, a qual àrticulada com o Comitê
Consultivo Bancário, regula a ação do sistema bancárto a nível europeu.
Foram também elaboradas outras diretivas na legislação comunitária,
que complementam a Segunda Diretiva de Coordenação Bancária, na
busca de uma harmonização mínima entre as instituições de crédito
européias e de uma maior flexibilidade na atuação de um mercado interno.
o Diretiva sobre fundos próprios - adotou um conceito comum entre
fundo~~ próprios, subdividindo-se en-: duas categorias: os fundos próprios
de base (capital, reservas, resultados transitados) e fundos próprios
complementares (reservas de reavaliação, confecções de valor, titulos de
duração indeterminada, etc.), não devendo os segundos ultrapassar o
valor dos primeiros, de forma a não comprometer o banco. Diretiva nº
92/16/CEE de 16/03/92.
o Diretiva sobre índice de solvabilidade - O índice de solvabilidade
consiste na relação entre os fundos próprios e o total de elementos do
37
ativo e extrapatrimoniais, ponderados em função do seu grau de risco. A
diretiva flxa um limite mínimo de 80/0, podendo os estados-membros
utilizarem um índice mais elevado para controle. Diretiva nº 89/647/
CEE de 18/12/89.
· Diretiva relativa à supervisão com base consolidada - prevê a
harmonização das práticas de supervisão aplicáveis a instituições de
crédito que detenham participações em outras instituições de crédito ou
financeiras. Diretiva nº 92/30/CEE de 08/04/92.
· Diretiva sobre supervisão e controle de operações de grande
risco das operações de crédito - Fixa um limite de 40% dos fundos
próprios para exposição a um único cliente e/ou grupo econômico, e um
limite de 8000/0 daqueles fundos para o total da exposição da instituição.
Diretiva nº 92/121/CEE de 21/12/92.
· Diretiva relativa aos sistemas de garantia de depósitos - Busca
reforçar a existência dos sistemas de garantia de depósitos nos estados
membros, de modo a aurnentar a confiança dos depositantes. Diretiva nº
94/19/CEE de 30/05/94.
Este conjunto de diretivas procura atingir a cada um dos grupos de
i:ütsresses envolvidos no setor financeiro. Podemos descrever três
principais grupos, os quais desdobram-se em:
Governo - estados-membros e autoridades supranacionais
Entidades Financeiras - bancos e outras instituições de crédito
Clientes - empresas e particulares (grandes e pequenos)
38
Sob o ponto de vista dos governos, a adoção das diretivas trouxe impactos
no fortalecimento dos mecanismos de supervisão e controle dos estados
membros, mesmo com as leis mais flexíveis e menos exigentes no espaço
comunitário. Elas permitem que cada país autOIize uma "licença bancária"
de atuação no espaço europeu com base no reconhecimento mútuo. No plano
da União Européia, as diretivas comunitárias, se não puderam implementar
uma legislação única, conseguiram garantir a harmonização mínima de acesso
à atividade bancária. Além disto, a criação de um banco central europeu e de
um sistema de cooperação entre os estados-membros, previsto no Tratado
da União Européia, já é urna realidade.
Para o setor bancário, o conjunto de diretivas levou a um aumento de
concorrência. A criação de um espaço europeu acelerou o processo de
modernização administrativa e tecnológica dos bancos. Cabe a estes
apenas duas estratégias possíveis a serem adotadas: a primeira, uma
ação defensiva, restringindo-se a operações limitadas à zona de atividade
em que são mais fortes; e a segunda ofensiva, optando por competir num
mercado global, oferecendo todos os serviços possíveis a todo tipo de
clientes. Esta última estratégia levou à ocorrência de diversas fusões entre
instituições financeiras e de acordos de cooperação nos últimos anos.
POl' fira, a criação de urn espaço europeu permitiu para os particulares,
pequenas e médias empresas, um acesso melhor aos novos serviços e
produtos financeiros e variedade de esquemas de financiamento oferecidos
com o aumento da concorrência. Quanto às grandes empresas e corpo
rações, elas já desfrutavam destes serviços com os Euromercados. Por
fim, os clientes foram protegidos por diretivas que garantem a coibição de
cláusulas abusivas nos contratos celebrados pelas instituições de crédito.
39
IV. ANOS 90: AJUSTES
ESTRUTURAIS NO SETOR
BANCÁRIO
A entrada de Portugal na União Européia trouxe ao país um penodo
de crescimento econômico. Incentivado pelos recursos dos fundos comu
nitários, o PIB crescia à média de 5% ao ano, e a taxa inflacionária baixou
de 25% em 1984 para 70/0 em 1994. Em contrapartida, o país tornou-se
praticamente dependente da economia européia, uma vez que a liberdade
de capitais, serviços e bens prevista no Tratado estreitou as relações
comerciais entre a Europa, inibindo as relações com o resto do mundo.
No que se refere ao sistema financeiro, o governo português, mesmo
antes de aderir à União Européia, já tinha aberto o setor à iniciativa
privada e já apontava a sua política de reduzir a capacidade de intervenção
direta dentro do modelo "menor Estado, melhor Estado" e
desregulamentação do setor. No período pós-UE, a política monetária
caracterizou-se pela liberalização das taxas de juros, no fim do controle
ele CI-{:cJÜO às instituições financeiras e numa maior independência do
seu Banco Central, o Banco de Portugal. Para o setor bancário, podemos
analisar três caractensticas que o setor atravessou face às novas diretrizes
da União Européia: uma nova legislação de caráter mais flexível para o
setor, o processo de reprivatizações e o ressurgimento dos grandes grupos
financeiros, com o processo de fusões.
40
MUDANÇAS NA LEGISLAÇÃO DO SISTEMA FINANCEIRO
De fato houve uma mudança significativa ao longo dos últimos 10
anos nas relações entre Estado e o setor bancário. A atuação direta estatal
reduziu-se de forma significativa, muito embora ainda aquém em
comparação com os seus parceiros comunitários. Com a criação do Espaço
Financeiro Europeu, as novas diretivas de coordenação bancária, o estado
reforçou a sua capacidade fiscalizadora de modo a cumprir e obter padrões
mínimos de supervisão para o funcionamento do mercado, garantindo os
agentes econõmicos do sistema. Esta política envolveu a mudança de
diversas leis e decretos que ditavam as regras de mercado.
A formulação de uma política para o Sistema Financeiro foi articulada
por um documento denominado Livro Branco para o Sistema Financeiro,
elaborado por uma comissão representativa de todos os agentes
econômicos que atuam no mercado em Portugal. O documento serviu de
base para as reformulações em diversas legislações que alteraram-se
devido à nova dinâmica do Sistema Financeiro com o Mercado Único.
Uma nova Lei Orgânica para o Banco de Portugal foi aprovada em
1990, na qual estabelece uma certa independência para com o Estado e
reforça a sua função de Bal1co Central asscgura...l1do o equilíbrio monetário
ini:eTno e a solvencia da moeda no exterior. Além disto, o Banco de Portugal
é responsável pelo prefeito funcionamento dos mercados monetário,
financeiro e cambial, e no controle do sistema frnanceiro, sendo cumprida
as exigências comunitárias do mercado único para o sistema financeiro.
Quanto aos mercados monetários foram criados novos títulos nos
últimos 10 anos que diversificaram a forma de captação de recursos do
setor público. Entre os principais títulos, destacam-se:
41
Bilhetes do Tesouro (BT's) - títulos em sessões do Mercado
Interbancário de Títulos visando absorção de liquidez.
Títulos da Dívida Pública da Carteira do Banco de Portugal (TDP's) -
títulos que são utilizados em operações de cedência de liquidez.
Títulos de Intervenção Monetária (TM's)
Títulos de Regularização Monetária (TRM's)
Certificados de Depósito (CD's)
Obrigações do Tesouro (OT's)
Obrigações de Capitalização Automática (OCA's)
Fomento de Investimento Público (FIP's)
Crédito por Leilão ao Investimento Público (CLIP's)
O Regime Geral das Instituições de Crédito foi aprovado pelo Decreto
lei nº 298/82. Ele estabelece as normas do quadro regulamentar do setor
bancário, além de incorporar a legislação comunitária referente ao setor.
Como fora dito no primeiro capítulo, o modelo de banco universal (múltiplo)
foi consagrado pelo Decreto-lei, podendo o banco atuar em diversas
atividades do sistema financeiro. Destaca-se também a criação de um
fundo de garantias de depósitos, cujo objetivo é garantir o reembolso
de depósitos constituídos nas instituições de créditos que nele participem.
A gestão deste fundo é ministrada pelo Banco de Portugal e os recursos
financeiros são oriundos da contribuição obrigatória das instituições de
crédito com sede em Portugal e sucursais de bancos estrangeiros.
42.
Por fim, cabe destacar o Código do Mercado de Valores Mobiliários,
mais conhecido como Lei Sapatero que fIxa regras para as transações
ocorridas entre sociedades anônimas. Esta lei vai ser de vital importância
para a compreensão do processo de reprivatizações, levado pelo Governo,
uma vez que as empresas estatais foram transformadas em sociedades
anônimas antes de serem reprivatizadas.
o PROGRAMA DE REPRIVATIZAÇÕES
No periodo do Estado Novo (1926-74), a economia portuguesa era
fortemente concentrada pelos grandes gnlpos econômicos. Beneficiados
pelo governo, estes grupos controlavam empresas nas mais diversas
atividades, tais como setores industriais, fmanceiros, comerciais. No setor
bancário, esta situação não era diferente: os maiores bancos, na verdade,
faziam parte de ramificações dos grupos econômicos.
Com o fim do Estado Novo assistia-se ao desmonte desta estrutura
econômica. Sob o impacto do periodo da "guerra fria", a guerra colonial e
o enorme fosso social criado pelo antigo modelo da ditadura; a postura
adotada pelos governos seguintes era do fortalecimento do Estado, um
Estado interventor em quase todos os setores da economia. As empresas
dos grandes grupos econômicos foram todas estatizadas.
No periodo 1975-83 o sistema bancário foi reestruturado e adaptado
aos moldes de uma economia estatizada. Uma nova lei orgânica para o
Banco de Portugal foi elaborada, garantindo o controle direto do Estado
na emissão de moeda. Além disso, o processo de nacionalização dos bancos
comerciais e seguradoras foi seguido de um processo de fusão. A atividade
da iniciativa privada no setor bancário foi expressamente proibida pelo
Decreto nº 46/778, onde delimitava a atuação dos setores público e privado
na economia.
o processo de fusão dos bancos nacionalizados foi executado pelo
governo, de forma a centralizar administrativamente o controle destes.
Para contribuir com as diretrizes econômicas do governo, os bancos foram
utilizados para a concessão de créditos de empresas estatais e no finan
ciamento do déficit orçamentário. Chegava-se assim à década de oitenta,
onde o setor bancárto caracterizava-se por um setor dominado pelo Estado,
com elevado número de instituições apresentando condições de exploração
negativas, que não provisionavam a inadimplência do crédito concedido.
A crescente evolução do sistema financeiro internacional e a
perspectiva de integração com a Comunidade Européia já não permitia
ao país uma situação deficitária paTa o setor bancário. Restava ao governo
a alternativa de sanear e reestruturar o setor através da reabertura à
iniciativa privada das atividades fmanceiras. A Lei nº 11/83 determina a
abertura do setor bancário à iniciativa privada, e em 1984 com o Decreto
lei n() ~~1/f~4, surgeln as nonnas reguladoras da constituição de bancos
comerciais pelo setor privado.
Mesmo assim, todas as medidas tomadas em favor da flexibilização à
iniciativa privada e a entrada no poder de um governo de cunho liberal9
não foram suficientes para que o setor estivesse preparado para o processo
de integração com a Comunidade Européia. Aliado a outras medidas como
a liberalização das taxas de juros c a eliminação dos limites de crédito, o
44
processo de reprivatização surge de forma a dinamizar a atividade bancária
de forma competitiva para enfrentar a entrada em vigor das normas
comunitárias que previam a liberdade de estabelecimento e de prestação
de serviços no setor e a livre circulação de capitais no espaço europeu.
Dentro de uma estratégia que também atingia outros setores da
economia, o governo português elaborou um programa de reprivatização
das empresas estatizadas no pós-74. Em 1988, as empresas públicas
puderam ser transformadas em sociedades anônimas e a venda permitida
até em 490/0 das ações. A Revisão Constitucional de 1989, finalmente
abole todos os tipos de restrições ou entraves às reprivatizações.
Em 1990 surge a Lei Quadro de Privatizações, lei nº 11/90, que dita
as regras para o programa de replivatização das empresas. Entre os
objetivos a serem alcançados, o programa inclui: 10
a) modernizar as unidades econômicas e aumentar a sua competitividade
e contlibuir para as estratégias de reestruturação setorial ou empresarial;
b) reforçar a capacidade empresarial nacional;
c) promover a redução do peso do Estado na economia;
d) contribuir para o desenvolvimento do mercado de capitais;
6; possIbilitar uma ampla participação dos cidadãos portugueses na
titularidade do capital das empresas, através de uma adequada dispersão
de capital, dando particular atenção aos trabalhadores das próprias
empresas e aos pequenos subscritores;
f) preservar os interesses patrimoniais do Estado e valorizar os
interesses nacionais;
g) promover a redução do peso da dívida públka na economia.
De modo a viabilizar as operações, a transformação prévia das
empresas públicas em sociedades anônimas é o primeiro passo para
processar a venda de ações representativas do capital social da empresa,
ou o amento da composição. Existem três modalidades previstas pela
Lei-Quadro para a reprivatização: a venda por oferta competitiva (concurso
público aberto, oferta na bolsa de valores ou subscrição pública); a venda
por concurso público destinado a candidatos qualificados, sujeito a
caderno de encargos e lote de ações indivisível; e pela venda direta entre
Estado e comprador. A Lei-Quadro também consagra o direito dos titulares
de dívida pública decorrente das privatizações e assegura uma reserva de
capital aos pequenos investidores trabalhadores e emigrantes. 11
Apesar da opção de modalidades adotada pelo governo ser de oferta
competitiva, envolvendo quarenta e uma das cinquenta operações, a
discussão acerca da venda para grupos majoritários gerou enorme
polêmica. Se por um lado, a formação de acionistas compactos
(denominados "núcleos duros") defende o envolvimento de grupos
empresariais na gestão de empresas privatizadas, da ação dos temíveis
"raiders", por outro aspecto inibe a participação de pequenos e médios
empresários e aumentam a concentração do poder econõmico tão
prejudici8.1 ao sistema. Na prática, os processos que envolveram a formação
de "núcleos duros" foram os que obtiveram maior êxito, e o percentual
por parte dos pequenos investidores e trabalhadores alcançou 11 % do
total do encaixe, resultado que provou que a coexistência é pacífica entre
grandes acionistas e pequenos investidores.
As receitas obtidas com o programa de privatizações, o Estado canaliza
para utilizá-la exclusivanlente para amortização da dívida pública, no
reforço em outras empresas estatais e de pagamento de indenizações a
serem pagos pelas nacionalizações. De acordo com relatório publicado
pelo Associação Industrial Portuense12 , foram utilizados até outubro de
1994 cinquenta operações de reprivatização representando um encaixe
na ordem de 5,8 bilhões de dólares. Só o setor financeiro foi o responsável
por 730/0 do total destes encaixes.
A Reprivatização no Setor Bancário
Em 1987, a participação dos bancos públicos na atividades bancárias
atingia 90% do total de ativos e 930/0 dos depósitos. Em 1993, este
percentual foi reduzido para 31,90/0 dos ativos e 34,1 % dos depósitos. Até
1994 foram reprivatizados nove bancos, sendo que três pertencentes aos
cinco maiores do mercado. Apesar de cumprir com os objetivos traçados
pela Lei-Quadro das Privatizações, não podemos considerar o processo
como um verdadeiro sucesso. A falta de linearidade na condução por
parte do governo com a iniciativa privada, a utilização de favorecimento a
grupos econômicos em detrimento de outros, aliado à reduzida capacidade
do empresariado nacional em absorver os bancos de grande dimensão
foram os aspectos negativos do processo de reprivatização.
O primeiro processo de reprivatização na área bancária foi o Banco
Totta e Açores, que teve 49% de suas ações negociadas pelo valor de 190
milhões de dólares em 1989. No ano seguinte, mais 31% das suas ações
foram vendidas por 149,4 milhões de dólares. O processo, entretanto, foi
prejudicado pelo fato do Banesto, um banco espanhol, burlar as leis
portuguesas, que restringiam o acesso à participação de estrangeiros 13.
Utilizando empresários portugueses, cujas sociedades financeiras eram
controladas indiretamente pelo gTIlpO espanhol, o controle do BTA chegou
a 50%. Das páginas dos noticiários econômicos, o caso chegou às esferas
políticas enfraquecendo não só o programa de reprivatização como todo o
governo, que insistia não assumir o erro na condução do processo.
Finalmente, em 1994, o caso foi resolvido com a venda do banco para o
GTIlpO Mundial Confiança, controlado pelo empresário português Antonio
Champalinaud, numa operação que envolveu também o Banco Pinto
Sotto Mayor. 14
Entretanto, o Banco Espírtto Santo foi o maior sucesso alcançado
pelas privatizações. Em uma operação que resultou em um encaixe na
ordem de bilhões de dólares, o Banco voltou para as mãos da família que
detinha o controle antes das nacionalizações. Outros bancos, embora de
menor porte, foram negociados com sucesso pelo governo, os quais
servirtam de suporte dos grandes bancos: o Crédito Predial Português
(pelo Banco Totta e Açores), a União de Bancos Portugueses (pelo Banco
Português Atlântico), o Banco Fonsecas e Burnay (pelo Banco Português
de Investimento). Foram também reprivatizados os bancos Banif e a
Sociedade Financeira Portuguesa (atual Banco Mello).
O Banco Português do Atlântico, o segundo maior banco comercial
ele Fortugal e o único com sede no norte do país, enfrentou dificuldades
para viabilizar sua passagem para a iniciativa privada. A sua enorme
dimensão não permitiu que durante anos encontrasse compradores
capazes de controlar o banco com maioria estável. O governo português
tentou durante anos uma parceria com empresários do norte do país
(capitaneado pelo GTIlpO Sonal). Esta tentativa, porém, fracassou pois
nenhum deles foi capaz de impedir uma operação de "take-over" pelo
48
Banco Comercial Português 15, melhor estruturado financeiramente,
permitindo em 1915.
o processo de reprivatização dos bancos portugueses com seus altos
e baixos, conseguiu envolver a impressionante cifra de 3 billhões de
dólares, distribuídos desta forma:
Banco Espírito Santo Banco Português do Atlântico Banco Totta e Açores Banco Pinto e Solto Maior Crédito Predial Português BANIF
Sociedade Financeira Portuguesa Banco Fonsecas e Burnay União de Bancos Portugueses
1.000
985,8
339,4
246,8
273,4
33,3
107,4
300,8 160,1
Os GRANDES GRUPOS FINANCEIROS
Evidente que, na existência de um espaço financeiro sem fronteiras,
os bancos de maior dimensão dentro da Europa irão atuar de forma global,
isto é, alargando seus serviços ao alcance em todos os países membros
da União Surop~ia. Ccnn 2.. entrada de Portugal no mercado comum,
comprometendo-se a adaptar as diretivas que visam o livre acesso de
outros bancos europeus, houve uma preocupação enorme por parte não
só dos agentes econômicos como do governo, a correrem fortemente o
risco de serem devastados e varridos do mercado com a atuação destes
bancos, oferecendo serviços em maior qualidade e menor custo para os
clientes (empresas ou particulares tomadores ou poupadores de recursos).
49
Um caso bem claro desta situação foi a forte investida dos bancos
espanhóis no mercado português, que sozinhos chegaram a controlar a
fatia de 15%) do mercado. Com isto, o governo buscou o reforço do poder
de competitividade dos bancos portugueses com a dinamização das regras
existentes (com o fim das taxas de juros e do controle de crédito), com o
programa de reprivatização dos bancos nacionalizados e, por fim,
permitindo a formação de conglomerados fmanceiros coordenados por
bancos portugueses. Desenvolve-se, também, uma estratégia de
internacionalização dos bancos portugueses que, mesmo timidamente,
tentam beneficiar-se com o mercado comum a fim de reforçar suas
atuações, captando recursos e oferecendo serviços aos emigrantes
portugueses espalhados por toda a Europa.
A dimensão dos bancos portugueses com relação ao resto da Europa
ainda é bastante fraca, mesmo com o enorme esforço dos bancos em
melhorar a posição no periodo 89/94.
NQ de Bancos entre os 1000 maiores (TOP 1000 - THE BANKERS)
Alem3J1ha 41 36 Hol3J1da 6 6 Itália 46 34 Portugal 1 6 Esp3J1ha 16 17 Dinamarca 9 4 França 14 16 Grécia 3 4 Grã -Bretanha 17 15 Luxemburgo 2 3
. Bélgica 9 7 Irlanda 2 2
Esta fragilidade real dos bancos portugueses levou o governo, através
do seu poder regulador do mercado e dada sua enorme presença no setor,
a articular a entrada de empresários nacionais capazes de atuarem com 50
força de resistir contra os bancos estrangeiros. Mas, como os empresários
nacionais capazes de absorver os bancos reprivatizados eram poucos, e
dentre estes, um pequeno número tinha interesse em atuar no setor,
restou ao Estado um dilema: ou permitia um setor bancário dominado
por bancos estrangeiros, ou rearticulava grupos tão fortes quanto aqueles
que dominavam a economia portuguesa no periodo do Estado Novo.
Certamente, se não houvesse uma política capaz de estimular a
formação destes grupos nacionais (muitos deles pertencentes a antigos
donos), assistiriamos hoje a uma situação inédita em todo o mundo: um
país soberano que possui um setor bancário dominado por bancos
estrangeiros, inclusive nos bancos comerciais. Por outro lado, a questão
que se levanta é se a volta destes grandes grupos significaria a volta dos
problen1as do antigo regime (como os oligopólios).
A União Européia não só estimulou o processo de internacionalização
dos bancos europeus, como acelerou-o. A formação de um mercado único
levou à opção desta atuação com três objetivos: o sucesso das economias de
escala e alcance buscando uma dimensão maior; o aumento de atenção ao
cliente, seguindo-o em suas operações internacionais, criando novas formas
de distribuição dos produtos, etc; e finalmente o alto poder de transferência
de faLores (capitais, tecnologias) enb:e as insütuições bancárias.
Dada esta tendência de um mercado bancário sem fronteiras, resta
aos bancos adotar duas estratégias: uma atuação defensiva com a busca
da especialização no mercado, e outra ofensiva com a expansão de suas
redes de agências em todo o mundo. A partir daí podemos classificar
quatro tipos de bancos: os bancos eurouniversais, de enormes dimensões
com atuação presente em todo o mundo; bancos superegionais que atuam
51
nos mercados de alguns países; bancos regionais que são significativos
apenas no país de origem e por fim os "niche-banks", bancos
especializados em segmentos de mercado.
Os principais bancos portugueses não podem ser enquadrados com
bancos eurouniversais, tampouco superegionais, pois não possuem
dimensão para tal. Entretanto, observa-se o reforço de suas posições de
bancos regionais ampliando as suas atuações em grupos financeiros,
controlando outras instituições fmanceiras como seguradoras, "leasing",
sociedades financeiras, etc.
O governo atuou de forma a concentrar sua atuação em apenas um
grupo financeiro, reprivatizando os outros bancos em que possuía
participações, e ao mesmo tempo evitava a concentração excessiva no
mercado, não permitindo que determinados grupos se ampliassem de tal
forma a criar um desequilíbrio. Contudo, não conseguiu impedir esta
situação, onde atualmente três grupos dominam 66,10/0 dos ativos,
configurando a maior concentração bancária da história do país.
Distribuição por Dimensão
1995 Nº de bancos 17 5 3 3 3
ativos 3,5% 4,3% 3,4% 23,7% 66,1%
·1989 Nº de bancos 11 5 4 7 2
ativos 1,8% 3,3% 12,51% 45,15% 36,74%
1960 Nº de bancos 9 4 6 1 6
ativos 2,2% 2,5% 18,2% 5,5% 71,5%
Fonte: Boletim da Associação Portuguesa de Bancos
52
Os maiores grupos frnanceiros que atuam em Portugal são:
. Caixa Geral de Depósitos (CGD) - aliada à seguradora Fidelidade, é
o maior grupo em atuação no sistema financeiro português. Único grupo
controlado totalmente pelo Estado, a CGD possui ativos na ordem de 38
bilhões de dólares. É o único grupo com uma estratégia de
internacionalização visível, controlando dois bancos na Espanha (o Banco
de Extremadura e o Banco Luso Espanhol). Dentro de Portugal, a CGD
ainda controla o Banco Nacional Ultramarino (BNU), atuando na área
das pequenas e médias empresas .
. Banco Comercial Português (BCP) - é o banco mais competitivo em
Portugal, graças a um projeto articulado por ex-administradores de bancos
nacionalizados (o seu atual presidente assumiu também o BPA até 1984);
o banco surgiu após a liberação da atividade bancárta à iniciativa privada.
Administrado por estratégias diferenciadas para cada tipo de cliente,
rapidamente alcançou resultados espetaculares, com os melhores índices
de desempenho do setor bancáriu. Tornou-se o primeiro banco português
a ter seus titulos negociados nas grandes praças financeiras do mercado
internacional (Londres e Nova York). Entretanto, o acirramento do mercado
com a União Européia, com os grandes bancos europeus oferecendo
se:cviços nas áreas em que o BCP era mais forte (grandes empresas e
grandes fortunas), fez com que esgotasse o modelo, e forçasse o banco a
adotar medidas em direção ao aumento de dimensão, ampliando-o em
uma força regional.
Além de tentar sem êxito uma participação no controle do Banco
Pinto-Sotto Mayor no início de 1994, o BCP lançou uma operação de
"take-over" hostil sobre 40% das ações do Banco Português do Atlãntico,
")
causando uma reação negativa por parte do governo, que ainda possuía
24,50/0 do capital do BPA. Rejeitada a operação por parte da Comissão de
Valores Mobiliários, sob o argumento de causar uma grande concentração
no mercado, pois o BPA é o segundo banco comercial, o banco só conseguiu
repetir a operação (agora adquirindo 1000/0 do BPA), face as condições que o
governo português abriu ao grupo Mundial Confiança para controlar o Banco
Totta e Açores e o Banco Pinto-Sotto Mayor. Assim, o grupo do Banco
Comercial Português torna-se um grupo de destaque no setor financeiro .
. Grupo Mundial Confiança - é o grupo mais novo do sistema
financeiro, que na verdade é uma rearticulação dos negócios do empresário
Antonio Champalinaud em Portugal, onde possuía posição de destaque
antes da queda do Estado Novo. Em apenas um mês o grupo foi formado
com a seguradora Mundial Confiança, que adquiriu o Banco Pinto-Sotto
Mayor e lançou uma oferta pública de aquisição sobre o Banco Totta e
Açores, ajudado pelo governo português, que inclusive modificou a
legislação do Código de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) para que
a operação se concretizasse, face ao desgaste ocorrido com o processo de
reprivatização do BTA a um grupo espanhol.
Existem também grupos financeiros que, embora com menor
düncnsão, possuem papel importante no setor bancáIio, principalmente
na área dos bancos de investimento .
. Banco de Fomento Exterior - atuando como parceiro na política de
comércio e indústria do governo, o Banco de Fomento Exterior foi previsto
inicialmente para ser o segundo grupo financeiro com controle total do
Estado. O banco, porém, abriu seu capital a parceiros privados que
buscassem estabelecer seus negódos no domínio do comércio exterior e
54
investimento, assumindo um papel de banco de desenvolvimento. O grupo
ainda controla o Banco Borges e Irmão, cujo público-alvo é formado por
pequenos e médios depositantes.
. Grupo Espírito Santo - forrüado com a reprivatização do Banco
Espírito Santo aos seus antigos donos e a Companhia de Seguros
Tranquilidade, o grupo tenta ainda fortalecer-se internamente com o
reforço nos padrões de produtividade e rentabilidade, motivo pelo qual
não partiu para uma estratégia de dimensão maior no mercado, como
fizeram o Banco Comercial Poriuguês e o Mundial-Confiança.
. Grupo Banco Português de Investimento (BPI) - atua no setor
bancário como banco de investimento, em parceria com empresas
privadas, ocupando um papel de destaque neste setor. O grupo BPI reúne
ainda o Banco Fonsecas e Burnay (BFB) , destinado a clientes de pequeno
e médio porte, assim como possui participações minoritárias em três
grandes seguradoras do mercado português .
. Grupo Mello - composto pela antiga sociedade financeira portuguesa
(atual Banco Mello) e pela Companhia de Seguros Império, o Grupo Mello
ainda está longe de ser o que era a sua força antes da queda do Estado
Novo, tendo se especializado COlno uni banco de ulVestilTlento destL"'1.ado
aos clientes do segmento alto e médio alto.
Destacam-se também os Grupos do Banco de Comércio e Indústria,
controlado pelos espanhóis do Banco Santander e do Banco Banif.
Os grandes grupos nas relações Brasil-Portugal
Apesar dos investimentos e das trocas comerciais entre Brasil e
Portugal serem reduzidos em relação às suas economias 16 , a perspectiva
é que a médio e longo prazo evoluam. Mas a antiga premissa de que com
a entrada de Portugal na União Européia, os produtos brasileiros seriam
beneficiados, utilizando Portugal como "porta de entrada" na Europa,
não se concretizou. As relações comerciais para este fim violariam o
Tratado da União Européia, e muitos produtos na pauta das exportações
brasileiras são os mesmos que os portugueses.
Contudo, a conjuntura internacional modificou-se com a entrada de
novos países na União Européia, a abertura político-econômica dos países
do leste europeu e a criação do Mercosul. Como para Portugal ficará mais
dificil captar recursos com a concorrência dos países do leste europeu, a
tendência é que o país diversifique suas relações econômicas até então
restritas à Europa. O Brasil, por outro lado, com o Mercosul (um novo
bloco econômico mundial, no qual o país é líder), desperta o interesse de
vários países europeus em aprofundar suas relações comerciais e de
investimentos. Como a União Européia é o maior investidor direto, credor
e maior parceiro comercial, a busca de uma zona de livre comércio entre
os dois blocos econômicos interessa a ambos num futuro prôximo.
Na década de 80, Portugal apresentou um crescimento de investimento
direto estrangeiro em mais de 2000% desde a sua entrada na União
Européia. Os investimentos brasileiros acompanharam este ritmo,
motivado pela adesão do país e pelo período de crescimento da economia
brasileira após 1986, com o Plano Cruzado.
56
Atualmente, assistimos a um quadro onde as empresas brasileiras
instaladas em Portugal são em geral de porte pequeno e médio, não
aproveitando-se de alianças estratégicas com empresários de Portugal;
porém observam-se associações quando se trata de grandes empresas. I?
o crescimento, via aumento dos investimentos nos dois países, é o
melhor caminho para o aproveitamento das oportunidades, facilidades e
apoios da relação bilateral entre os dois países. Em um encontro realizado
entre empresários portugueses e brasileiros18, foraIll apontadas as maiores
dificuldades no relacionamento entre os agentes econômicos dos dois
países: a instabilidade econômica brasileira, a burocracia do sistema
português, a descoordenação entre políticos e o gabinete português, e
uma grande desconfiança entre os governos atualmente. Quanto aos
aspectos positivos, foram assinalados: a imensa possibilidade da criação
de "joint-ventures", o fator cultural-histórico e o intercâmbio entre os
dois países pertencentes a blocos econôrnicos diferentes com a zona de
livre comércio.
No setor bancário, com o desenvolvimento dos grupos fmanceiros, a
busca de diversificar sua linha de atuação com as atividades internacionais
aumentou, seja por intermédio de sucursaís ou associações com outros
bancos estY"angeiros. As relações do sistema financeiro português com o
exterior ocupam um papel de destaque na composição dos investimentos
diretos em Portugal, sendo responsáveis por 660/0 do total, fruto do processo
de abertura do setor ao exterior e do processo de reprivatizações.
Ainda que de forma bem menor que em outros países da União
Européia, como a Espanha e a França, a atuação dos bancos portugueses
Português Atlântico, no controle do Banco Financial Português pela Caixa
Geral de Depósitos e pelo Banco Inter-Atlântico (onde ainda engloba uma
companhia de seguros), controlado parcialmente pelo Grupo Espírito
Santo, são exemplos da atuação de bancos portugueses no Brasil.
Pelo lado brasileiro, os bancos que atuam em Portugal são: o Banco
do Brasil (com as sucursais em Lisboa e no Porto) e o Banco Itaú, que
através da Sociedade de Investimentos Itaúsa 19 escolheu o país como
base de sua estratégia direcionada para o mercado europeu. Atuando
como captadores de recursos de emigrantes e direcionando seu mercado
para o frnanciamento de empresas de pequeno e médio porte, os bancos
buscam aumentar suas participações neste segmento de mercado.
Hoje, com a reconstituição dos grupos financeiros em Portugal, os
bancos portugueses já possuem dimensões à altura dos maiores bancos
brasileiros. Ao compararmos a dimensão entre os bancos brasileiros e
portugueses temos:
Banco do Brasil 64.907 6.454 389 . Caixa Geral de Depósitos 37.605 2.437 233
Banco Português Atlântico 22.788 950 157
Banco Totta Açores 17.660 841 155
Bradesco 17.020 2.689 369
. Banco Espírito Santo 13.673 792 138 Banco Comercial Português 12.913 1.107 150
<Itaú 12.096 1.959 91 . Bamerindus 9.244 642 82 Banco Fomento Exterior 10.254 671 82
Fonte: Boletim da Associação POli uguesa de Bancos e Hevista Conjuntura Econômica (FGV)
58
A dimensão aproximadamente igual entre os bancos portugueses e
brasileiros permite adotar estratégias de participação cruzadas, onde um
banco é detentor de parte do capital do outro. Com os cruzamentos, os
bancos passam a aproxilnar-se mais e trocar informações para o
desenvolvimento em potencial nos seus mercados.
Outra forma de integração mais branda são as associações entre
bancos. Elas consistem em acordos específicos para cada operação no
mercado bancárto, seja ela troca de tecnologia, prestação de serviços e
até a formação de "joint-ventures" para operações de grande vulto.
Concluindo, a possibilidade de uma integração maior entre os bancos
portugueses e brasileiros de forma considerável só será concretizada pelo
aumento das relações entre as atividades produtivas dos dois países, seja
pelo reforço das trocas comerciais, seja por investimentos diretos ou por
parcerias em "joint-ventures". f
59
~ v. I NDICES
SETOR
FINANCEIROS DO
BANCÁRIO EM PORTUGAL
Uma vez observadas as medidas adotadas pelo governo português na
modernização do mercado monetário, nas reprivatizações, nos processos
de formação de gnlpOS fmanceiros e na nova legislação das instituições
de crédito, vejamos nesta parte como foi o comportamento do setor
bancário frente ao espaço financeiro europeu.
o setor bancário cresceu, no periodo 88-93, num patamar superior
ao crescimento da economia do país e a inflação ocorrida, não só na
composição dos seus ativos, assim como em relação aos crescimentos do
"cash flow" e aos resultados líquidos.
;;:é::';ll.;'. :'r ~~(x:~; ?~:':;~QJ~:::,Tq~Çli:J:~It~lr:t ~pji:jr<~:' ~t~~§··;·:Ça;sh FIoU, ~'::',Re~~i;íqii~~~;i ., , • ,J,.~ ., •• ~., ~. ~ •• __ .~ ~.J __ • ~ • '. ~ _7. ___ ...... ~~. ,.,., ~ ., ~~ •••• _ ~._ ", ~~,J.:) • '.~ _ _ _ _ • _ _~ ~ 7"- • _~
89 12,6 5,5 17,9 39,3 29,8
90 13,4 4,2 13,6 69,2 64,9
91 11,4 2,1 43,2 18,4 18,4
·92 8,9 1,6 16,8 1,8 -9,4
93 6,5 -0,4 19,4 5,2 18,6
Total 6~.9 ]3,6 87,3 167,5 200,0 201,0
Este crescimento, da ordem de 15% ao ano, demonstra que o setor
bancário está conseguindo alcançar os padrões de competitividade da
Comunidade Européia, independente do período de estagnação da
economia portuguesa em dois dos anos analisados no periodo. O setor
bancário está buscando a sua capacidade ótima de atuação em Portugal.
Este desempenho impulsionou o aumento do número de bancos e agências
bancárias a operar no país. 60
N() de Bancos
Agências 27
1609
29
1741 33
1991 35
2702 35
2991
42
3336
55,5
107,3
Os aumentos ocorridos devem-se, de fato, à estratégia dos bancos
europeus em operar em Portugal e no reforço dos maiores bancos em
manter suas posições no mercado, à medida em que aproxima-se o
mercado comum no setor. Os bancos públicos expandiram-se
principalmente nas áreas rurais, onde possuem clientes mais fiéis, ao
contrário dos bancos privados que investiram nos grandes centros
urbanos, por possuírem eficiência na minimização dos custos e
maximização dos proveitos (os bancos privados possuem uma proporção
de créditos vencidos menor que os bancos públicos).
O setor bancário também sofreu mudanças quanto à sua estrutura
patrimonial. Com um mercado maior e mais competitivo, a composição
éüterou-se de forma significativa, tanto nas contas do ativo quanto nas
do passivo.
Ativo DisponibWdadt's 30,7 37,0 16,2 13,7 13,1 11,6
!,-p1i~,~çõe:~ Creditícias /12,8 38,5 54,7 50,7 54,7 57,7
Aplicações em Títulos 16,6 15,2 18,2 27,6 25,0 24,4
.. Imobilizações 2,8 2,8 2,9 3,0 3,1 2,7
.• Out.ras Aplicações 7,1 6,5 8,0 5,0 4,1 3,6
Passivo Recursos cf Client.es, Títulos 75,2 74,3 73,1 72,5 66,8 62,7
. .Recursos cf InsL Crédito 4,9 4,8 9,4 10,1 18,2 23,6
Fundos Próprios 8,1 8,9 10,1 10,5 10,0 9,7
Out.ros Recursos 11,8 12,0 7,4 6,3 5,0 4,0
6 1
Pelo lado do ativo, verifica-se um aumento das aplicações creditícias
da ordem de 42,8% para 57,70/0 neste período, explicado pela política do
governo em abrir os limites das concessões de crédito e pelo aumento da
concorrência, que obriga os bancos a aplicarem mais em detrimento das
disponibilidades e das imobilizações cujas carteiras não geram
rendimentos diretos. Estes fatores também influenciaram no passivo,
uma vez que notamos o crescimento na tomada de recursos com outras
instituições de crédito de 4,90/0 para 23,6% do total.
Ainda com relação à Estrutura Patrimonial, seguem-se agora os índices
de desempenho do setor durante o período de 90-93:
Liquidez reduzida - índice que relaciona a caixa e depósitos nos
Bancos Centrais com o passivo financeiro. A redução do índice nos anos
é a necessidade do banco em aplicarem mais os seus recursos ao invés de
deixá-los parados no ativo disponível.
Estrutura do Ativo - mede o crédito concedido em relação ao ativo.
Serve para dar uma idéia quanto ao risco dos ativos. Como fora dito
antes, o fim do controle da concessão de créditos permitiria um cresci
mento do índice ao longo dos anos. Entretanto, com os períodos de
estagnação na economia portuguesa (92 e 93), esta variação foi sendo
inibida pouco a pouco. 62
Capacidade Creditícia Geral- É a relação entre os créditos concedidos
a clientes e o passivo financeiro, sendo assim a capacidade de concessão
de crédito pelos bancos sobre os recursos captados. Nota-se no quadro
abaixo que a variação no tempo do índice tem relação direta com a
estrutura do ativo.
Estrutura de Recursos - Mede a capacidade de exposição do setor
bancário ao risco de liquidez. O aumento de concorrência do setor
naturalmente levou à queda do índice.
(-- .
Relevância da Dívida Subordinada - Mede o peso do passivo
subordinado no total de fundos próprios, tendo subido com crescente
importância dos titulos de participação sobre os fundos próprios.
Solvabilidade Bruta - É um índice não só adotado por Portugal, mas
utilizado em quase todo o mundo, com objetivo de reforçar
prudencialmente a capacidade de solvabilidade dos bancos. O
crescimento obtido resulta dos bancos que ainda não cumpriram
procurar fortalecer os seus capitais próprios.
* Índice relativo ao antigo cálculo de solvabilidade que foi modificado
ponderadamente seria em torno de 8,5%.
A margem financeira do setor bancrnio evoluiu de forma que, com a
modernização das tecnologias dos serviços apresentados e o controle dos
64
custos, como o controle do número de funcionários, o valor aumenta-se
absolutamente. Entretanto, a concorrência demoliu estes aparentes boX's
resultados, dado que a margem financeira baixou de forma significativ:'.
Ao compararmos a evolução da margem financeira temos:
val.absoluto (em 1.000 contos) 295 392 543 685 700 704 relação cf o ativo total 4,61 5,62 5,88 5,28 4,38 3,75 custos adm. 2,55 2,6 2,6 2,52 2,53 2,38 nº emp. por agência 36 33 30 23 21 19 total de empregados 58394 58132 59162 62752 62469 61816
Quanto às taxas de aplicação e de tomada de recursos, vemos uma queda
ocasionada por dois fatores: por um lado a queda das taxas de juros e da
inflação em Portugal, e por outro o aumento da concorrência,
principalmente de bancos estrangeiros, que entram com taxas mais
competitivas.
'Tx. média aplicações
Tx. média recursos
16,71
10,55 15,99
11,08
15,36 11,50
13,22
9,86
Assim, podemos observar os indicadores que se referem à rentabilidade
do setor bancário.
Rentabilidade Bruta do ativo - relaciona o resultado bnlto com o
ativo líquido.
65
: ';'. 91 . 92: 93. -- . ~ .. , .. .
Rentabilidade Bruta sobre o Capital Próprio - relaciona o resultado
bruto com o capital próprio.
Rentabilidade sobre os capitais próprios - é a relação entre os
resultados líquidos e o capital próprio.
66
Deste modo, concluimos que a entrada de mais bancos no setor
bancário, aliada à situação macroeconômica negativa neste periodo com
a queda do crescimento do PIB, reduziu a rentabilidade do setor nos
últimos anos. Porém, esta rentabilidade poderia ser ainda menor ou
negativa se não houvesse o processo de desregulamentação do setor
bancário, pois os bancos nacionalizados não teriam como suportar os
periodos negativos e a concorrência.
67
VI. CONCLUSÃO
Não se pode definir se de fato o processo de integração econômica foi
um enorme sucesso no âmbito europeu. O que assistimos hoje é um
periodo de transição que só se concretizará com a consolidação da União
Econômica e Monetária. As transformações ocorridas na União Européia
quanto à liberalização dos movimentos de capitais e a implementação de
diretivas referentes à harmonização do setor bancário geraram mudanças
quanto às estratégias dos bancos.
A necessidade de atuarem no Espaço Europeu, com a livre prestação
de serviços e a liberdade de estabelecimento, levou a uma estratégia com
base na dimensão para obtenção de sucesso nas economias de escala,
aumento de atenção ao cliente com novas formas de distribuição de
produtos e serviços e no poder de transferência de recursos a entidades
de outros países. De acordo com Jack Revell "de agora em diante, os
bancos não só serão julgados emju.nção de seu mercado, mas em relação
com todo o mercado da União Européia H•
As diretivas adotadas pela União Européia criaram uma situação
paradoxal, na medida em que, da eliminação das barreiras existentes nos
estados-membros quanto à operação bancária, derivou também um reforço
do controle da solvência dos bancos europeus. O aumento da concorrência
no espaço europeu requer um maior controle quanto às operações
efetuadas, de modo a não criar um clima de instabilidade nos sistemas
financeiros dos países membros.
68
Portugal, um país de dimensões pequenas face à União Européia,
teve que adaptar-se rapidamente às relações de mercado, enquadrado nas
diretivas da Comissão. O governo, que até então dominava quase 80% do
setor bancário, adotou uma política visando a composição de um setor com
maior participação da iniciativa privada, de modo a enfrentar a concorrência
externa. Esta política para o setor 'bancário constitui-se em três pilares:
flexibilização da legislação nacional, o programa de reprivatizações e o processo
de concentração dos grandes grupos financeiros.
As mudanças ocorridas na legislação fmanceira permitiram que os
bancos atuassem com maior flexibilidade nas suas operações e, com a
diversificação do mercado interbancárto, a aplicação em títulos vem sido
reforçada pelos bancos portugueses, que pouco a pouco também
fortalecem suas posições no mercado de capitais.
Quanto ao processo de reprivatizações, podemos afirmar que, apesar
dos problemas ocorridos, o resultado foi satisfatório. O Estado conseguiu
reestruturar o setor com a participação ativa da iniciativa privada.
Entretanto, ela não ocorreu da forma que o governo queria, um mercado
não tão concentrado como encontra-se hoje.
O fortalecimento dos grandes grupos financeiros elevou o setor
bancário como o mais concentrado em toda a história. Esta oligopolização
não pode ser encarada com tanto temor por parte dos clientes, que com a
abertura da livre prestação de serviços de outros bancos europeus,
responderiam rapidamente a Ullla tentativa de desequilibrar os preços
dos serviços bancártos e das taxas de juros. Entretanto, cabe a ressalva
que este jogo da economia de mercado realmente se dará na prática.
69
Por fim, não podemos considerar a situação atual do sistema bancário
como de fato consolidada. A União Monetária e Econômica ainda está na
sua fase de transição e com certeza irá ainda modificar a composição do
sistema bancário. Resta saber se realmente o sistema fmanceiro a nível
da Europa conseguirá representar uma parcela tão significativa quanto a
sua estnltura produtiva dentro do cenário mundial.
70
NOTAS DE RODAPÉ
1 Ver CALIXTO (1990).
2 CEE - Comunidade Econômica Européia, termo modificado para UE (União Européia) após 1994.
3 Ver PINTADO, Miguel (1989).
4 Ver Boletim da Associação Portuguesa de Bancos (1988).
5 Clitérios feitos de acordo com a metodologia adotada no ranking dos bancos da Fundação Getúlio Vargas em junho de 1994.
6 Quanto ãs relações entre bancos e seguradoras, ver artigo do La Banque "Bancassurance" (1994), onde mostra os casos: Caisse d'Espagne (banco) - Muracef (seg.); Crédlt Lyonnais (banco) - Medicale de France (seg.); Crédit Agrlcole (banco) - Pacífica (seg.), entre outros.
7 Ver GANA (1994).
8 A iniciativa privada apenas atuava nos setores parabancários: leasing, sociedade de investimentos, etc.
9 Maioria absoluta do Partido Social-Democrata no parlamento desde 1985.
10 Artigo 3º da Lei nº 11/90.
11 Portugueses residentes no estrangeiro.
12 Elaborado pelos professores Ricardo Cruz e Fernando Freire de Souza, da Universidade do Porto, em novembro de 1994.
13 Regulamento n° 4064/89, mi. 5º, nº 3, alínea?, que reshinge a 25% o controle estrangeiro no programa dos bancos reprivatizados.
14 Reprivatizado em novembro de 1994 por 246,8 milhões de dólares.
15 O BCP só concretizou a operação após a segunda tentativa, em março de 1995.
16 As trocas comerciais não representam 1% do total entre os dois países.
17 Ver NICOLAU, Maria (1994), in. tese de mestrado.
18 "Encontro Empresarial I3rasil-Portugal". Expresso, 28/05/1988.
19 Atualmente Banco Itaú-Europa, formado em outubro de 1994.
71
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